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As lnovatões
lecnoló~icas ea
luta Operária
A FOICE E O ROBÔ:
AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
E A LUTA OPERÁRIA
1990
Direitos desta edição reservados à
Página 7 Artes Gráficas Lida.
Rua Pedroso de Morais, 608/61
São Paulo - Capital
Prefácio xv
Introdução xix
PRIMEIRA PARTE:
A LEI DO VALOR E O PROGRESSO TÉCNICO 1
1- O modelo para uma economia mercantil simples 1
II- O modelo para uma economia mercantil capitalista 7
III- O capitalismo dos monopólios 15
IV- O capitalismo tardio e a era das multinacionais 20
V- Conclusão 28
Notas do Capítulo I / Primeira Parte 29
SEGUNDA PARTE:
A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E O
PROGRESSO TÉCNICO 31
I- As mudanças na organização e no
instrumental do trabalho 31
1) Cooperação 31
2) Divisão do trabalho e manufatura 32
3) A maquinaria e a indústria 33
4) A grande indústria e a
"organização científica do trabalho" 36
II- As particularidades da automação
com base na microeletrôrúca 36
1) A dupla origem da automação
vii
com base na microeletrônica
1.1- A contribuição do taylorismo/fordismo 37 e os ciclos . 79
1.2- As bases técnicas 37 2) As ondas longas da taxa de lucro e os ciclos 81
1. 3- As necessidades do capital e 39 3) As ondas longas e os sistemas tecnolóip.c~s 82
a aplicação da informática à produção v- As ondas longas do desenvolvimento cap1tahsta 84
2) Os produtos da automação 40 J) A polêmica na explicação das ondas longas 84
com base na microeletrônica 2) A explicação marxista das ondas longas 86
Notas do Capítulo I / Segunda Parte 43 3) Uma periodização:
45 as ondas longas na história do capitalismo 89
TERCEIRA PARTE: A ACUMULAÇÃO DE CAPITAL
E A QUEDA TENDENCIAL DA TAXA DE LUCRO 4) As ondas longas e a ação "progressivamente
1- A acumulação de capital e 46 minada" da lei do valor 92
a composição orgânica do capital VI- As ondas longas e as revoluções tecnológicas 93
1) A questão da composição do capital 46 1) As condições sucessivas para
2) O debate sobre a elevação da 47 a eclosão da revolução tecnológica 94
composição orgânica 2) As fases da revolução tecnológica . 95
II- A lei da queda tendencial da taxa de lucro 47 3) Revoluções tecnológicas, sistemas de máqumas
1) A queda da taxa de lucro 50 e organização do processo de trabalho 97
2) Por que tendência? 50 Notas do Capítulo I / Quarta Parte 99
3) As causas contrariantes 51
III- As críticas à lei da queda tendencial 52 CAPÍTULO II: A AÇÃO DAS FOJ{ÇAS
1) Okishio 55 MOTRIZES DO PROGRESSO TECNICO
2) Bresser Pereira 55 NOS PAÍSES DEPENDENTES 101
3) Coriat & Boyer 57 I- A especificidade da acumulação
60 nos países dependentes 101
IV- A lei e a dinâmica cíclica da economia capitalista 61
Notas do Capítulo I / Terceira Parte II- As ondas longas e os países dependentes . 104
65 1) As mudanças na estrutura do mercado mundial 105
QUARTA PARTE: OS CICLOS INDU§TRIAIS, AS 2) Os diferentes patamares tecnológicos
ONDAS LONGAS E AS REVOLUÇOES e a "apropriação" das inovações 112
TECNOLÓGICAS 3) A sofisticação e o dinamismo da
1- As crises periódicas 66 divisão internacional do trabalho 114
II- O ciclo industrial 66 III- O patamar tecnológico internacional e
1) Os esquemas da reprodução do capital 68 os países dependentes 115
e as crises IV- O atraso tecnológico permanente 123
2) Os esquemas da reprodução: 69 V- A dinâmica da dependência renovável 128
um momento transitório de equilíbrio VI- Algumas particularidades da difusão
3) Os ciclos e a variação da reprodução 73 do progresso técnico nos países dependentes 131
III- As fases do ciclo 75 VII- Um ciclo deformado 136
IV- Os ciclos industriais e as ondas longas 76 J) As mudanças na dinâmica cíclica
1) A tendência decrescente da taxa de lucro 78 dos países dependentes 136
viii 2) As alavancas estatais do ciclo 138
IX
3) O ciclo e a dependência 139 3) O complexo eletro-eletrônico 202
4) O atraso tecnológico e os "saltos" no ciclo 141 4) Papel e celulose, petroquímica 203
5) O amortecimento dos efeitos 5) Perspectivas 203
aceleradores e multiplicadores 142 VII- A presença limitada da automação com base na
6) A não gestação de tecnologias e microeletrônica e o atraso reconstatado 205
o que falta no ciclo 144 VIII- Algumas questões sobre as causas da ~fusão dos .
Notas do Capítulo II 146 equipamentos de automação microeletrôrnca no Brasil
208
Notas do Capítulo IV 214
CAPÍTULO III: OS CIC,LOS DO, CAPITALISMO
BRASILEIRO· UMA RAPIDA SINTESE 149 CAPÍTULO V: A CRISE BRASILEIRA NA
I- Os ciclos pós-1930 149 DÉCADA DE 1980, PERSPECTIV A DE UM NQVO
II- As principais mudanças dest.e CICLO DE CRESCIMENTO E A INTRODUÇAO
processo de desenvolvimento 152 DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS 217
III- Qual economia a "onda da microeletrônica" I-A dimensão da crise dos anos 1980 217
vai encontrar? 158 II- A queda dos investimentos no períod? rece~te e o
Notas do Capítulo III 161 crescimento dos gastos com automação mdustnal 223
III- A retomada do crescimento econômico: o debate
CAPÍTULO IV: A PRESENÇA DA AUTOMAÇÃO inter-burguês e as condições para a retomada
COM BASE NA MICROELETRÔNICA NA antes e depois de Collor 231
INDUSTRIA BRASILEIRA 163 1) A ausência de um projeto hegemônico e as
I- Introdução 163 várias visões de representantes das classes
II- A indústria de informática no Brasil 164 dominantes nos anos oitenta 231
III- A indústria microeletrônica 166 !.!-Reis Veloso: por um novo 1974 232
IV- A produção de equipamentos de 1.2- Bresser: a mudança do padrão
automação industrial 177 de investimento 233
1) Controladores lógico programáveis (CLPs) 179 1.3- Simonsen e FGV: privatização e
2) Máquinas-ferramenta com capital estrangeiro 235
controle numérico (MFCN) 181 1.4- A "nova política industrial"
3) Róbôs industriais 184 do governo Samey 237
4)CAD 187 2) O que é possível para o capitalismo brasileiro
5) Controle de processos 189 fazer no atual estágio da fase depressiva
V- Algumas observações sobre o atual estágio da da onda longa? 240
indústria nacional de informática e seu impacto sobre 3) A crise e a presença do movimento operário
difusão dos EAMEs no parque industrial brasileiro J90 na cena política 245
VI- A presença e a distribuição de equipamentos 4) O pós- Collor: o plano, a recessão e
de automação com base na microeletrônica pelo a chamada Integração Competitiva 248
parque produtivo brasileiro 198 4.1- O plano Collor e a correlação de forças 248
1) O complexo têxtil/vestuário/calçados 199 4.2- A preservação do grande capital e
2) O complexo metal/mecânico 200 a amplitude da recessão 250
X XI
4.3- O movimento operário e a recessão 252 III- A necessária articula9ão entre a 304
4.4- Neoliberalismo, hegemonia nas classes luta na empresa e na sociedade 304
dominantes e a discussão da retomada 1) Um novo código de trabalho . 306
do crescimento 254 2) Formação educacional e tecnológica 307
IV - Conclusão: algumas questões sobre um novo 3) A jornada de trabalho .
ciclo e nele a presença das novas tecnologias 258 IV- o contrO1e operán
·o e popular da. econoillla,
Notas do Capítulo V 260 a superação da crise atual ~ um proJeto 309
. od mização tecnológica
de m e . to dos trabalhadores e as
CAPÍTULO VI: OS PRINCIPAIS IMPACTOS DA v- A situação do _mo~:~tação da resposta operária
condições para a 1mp ~ 320
INTRODUÇÃO DAS NOVAS TECNOLOGIAS à automação e à robottzação 323
SOBRE OS TRABALHADORES 261 Notas do Capítulo VII
I- Introdução 261
ODO"BLADE
II- Os impactos específicos a um país dependente
III- Os principais impactos da introdução
das inovações tecnológicas
262
264
CAPÍTUI;? 'J1l: 2Etlttz°fiiE RIOBALD(_) ? 325
RUf~Ec!pit~ como barr~ir~ ao progresso tecnológico
326
1) Aumento de produtividade 264 II- As burocracias e a limitação do
2) Emprego e jornada de trabalho 265
330
progresso tecnológico .co como
3) Mudanças na estrutura ocupacional 273 _ 0 desenvolvimento tecnológi
4) Controle sobre a produção 277 111 333
pressuposto do socialismo
5) Novas políticas de "recursos humanos" 279
6) Condições de trabalho 280
7) Automação e chantagem empresarial
contra o movimento operário 281
8) Capacidade de luta do movimento operário 282
IV- Conclusão 285
Notas do Capítulo VI 288
1
- produtividade do trabalho • trabalho a~strato -
A primeira é sobre o que leva um produtorindividual a lançar mão valor - distribuição do trabalho social
~e _melhoramentos técnicos na sua empresa: é para obter uma produ-
?e.
tivida?e trab:t!ho J?aior, para conseguir produzir mercadorias de No modelo técnico de uma economia mercantil simples, por-
valor mdiv1dual infenor ao de mercado, que ele se habilita a auferir tanto, a produtividade do trabalho afetará as condições da distribuição
superlucros. do trabalho social de uma maneira direta, dl_ferenteme~te do_ qu~ se
_A segunda quest~oé sobre a generalização de melhores condições passará no modelo t~rico de uma economia mercanti1-cap1tahsta,
~~cmcas_ ~ara o ~nJ~to de um ramo de produção, alterando a como veremos a seguu.
pr?du~v1dade mru.s difundida" e, portanto, estabelecendo um novo
equillbno, detenninante de um novo valor de mercado. Estabelecido II· O modelo para uma economia mercantil capitalista
este ~ovo equilíbrio, o iniciador do processo de inovação deixará de
aufenr s~perlucros, na medida em que o valor individual de suas A teoria do valor é uma análise teórica de Ullla sociedade onde se
mercado?as terá se tomado o valor de mercado (ou terá se aproximado pressupõe apenas a existência de um ti pode relações de produção~ntre
~ub~t'.'°cralmentedonovo valor de mercado). pois a sua produtividade pessoas: as relações de produção entre produtore~ de merc~dona~-
mdiv1dual será agora igual à mais difundida. Ao passarmos para a análise de uma economia mercanti1-cap1ta-
Evidentemente que essas observações, importantes para a com- lista, além da relação entre produtores merc'.'°~s, novos press~postos
preensão de elementos da di.:1âmi~a imposta pelas inovações tecnológi- devem ser acrescidos: a relação entre capitalistas e operános e ~
~as, não podei_n nos levar a imagmar um esquema linear, de continua relações entre distintos grupos de capitalistas. Para analisar essas tres
movação técmca a ru:vel individual e posterior(e automático) espraia- dimensões, teremos de passar a uma fonnulaç~o ~ais ~brange~te, a
mento pela economia. Na verdade, há um conjunto de fatores que UJil estágio diferente de abstração: é necessário discutir a teona do
atuarão, pos~ibilitando ou não a quebra de um detenninado equilíbrio
e o ~sta~lec1mento de um novo (o volume da produção, ·a necessidade preço de produção.
E evidentemente, dado o objeto especffico desta pesquisa, deve-
SOC!al, mterações entre o estado da tecnologia que detennina o valor mos ~rguntar pelas relações entre a produtividade do trabalh? e o
e a demanda que pode viabilizar, ou alterações nela etc). preço de produção, entre a produção segun~o me1;1to~es condições
Um bom exemplo desta não-linearidade do progresso técnico está técnicas e a dinâmica mais global _da economia capitalista. .
~xaia_mente na relação entre este e as crises. Isaak Rubin ressalta que Tratamos agora de uma sociedade mercantil onde há um s1_ste~a
... a mtrodução de novos métodos técnicos de produção que reduzem de capitais distribuídos, capitais que se encontram em equilfbno
o_va_Ior_dos produtos ocorre com frequência em condições de crise e
dimmmção de vendas" (10).
dinâmico. Para que a produção de mercadorias tome-~e ~rod~ ão em7
grande escala é necessário que ela assuma a fonna c~p1talista: ... certa
Como veremos adiante, na discussão da dinâmica cíclica da acumulação de capital em mãos de produtores pamculares de merc~-
economia capitalista, o desenvolvimento da produtividade do tra- dorias constitui condição preliminar do modo de produção especi-
balho OCO!'fe ~~s saltos. Aqui, compreendemos a lógica que leva a um
produtor mdiv1dual ~ lançar a mão de inovações tecnológicas para ficamente capitalista" (11).
Na economia mercantil simples, o organizador da produção é o
melh~rar as sua condições na concorrência capitalista. Mais adiante, produtor direto, que é simultaneamente o proprietário d~s meios de
pesquisaremos o que possibilita a generalização de um certo, de um produção (por ora, um instrumental de t~b_alho bastante simples e de
novo p_atamar tecnológico para o conjunto de um ramo (ou parque)
produtivo. Momentos distintos, porém interrelacionados, de um pequeno valor).As alterações ?ª p~odut1v1~ade d? trabalho (e, IX?r·
tanto, no valor das mercadonas) mfluencrará diretamente na dis-
mesmo processo. tribuição de trabalho: o produtor mudará de esfera de produção.levando
Para concluir, resta a apresentação (no esquema de Rubin) das consigo o instrumento de trabalho. A distribuição de trabalho tem um
relações básicas entre os conceitos que desenvolvemos nesta parte:
7
6
caráter básico; a distribuição do instrumento de trabalho tem por sua veJainento da taxa de lucro.
vez, um caráter secundário, derivado. ' A taxa média de lucro é calculada dividindo-se a mais-valia
~a :eonomia me~cantil capitalista, o organizador da produção é global pelo capital global. Assim, há uma extrema unificação da classe
o capitalista e não _mais o produtor direto. O instrumental de trabalho capitalista para a definição dessa taxa, uma expressão da unidade na
terá_ se desenvolv1do, as forças produtivas terão mais valor serão meta de conseguir coletivrunente a maior taxa de exploração possível
C?P1~- _Neste mod_elo, a distribuição de trabalho será regulada pela (e viável) contra a classe operária. Marx exemplifica esse fato com
distr1bwção d~ capital._Será a transferência de capital (e, portanto das afirmação de que a um capitalista que aplica apenas capital constante
forças _Produtivas, .do mstrumental de trabalho) que levará à trans- (será o dono de uma fábrica inteiramente robotizada, algo pouco
ferência_ de trabaJ!1o.. Rubin. lista três diferenças básicas entre a pensável nos tempos de Marx?) o interesse pela taxa global de mais
eco~omia mercantil sunples e a mercantil capitalista: J- diferenças valia será o mesmo de um capitalista que só empregue capital variável.
técrucas (peque~ produção e grande produção); 2- diferanças sociais Essa observação sobre a equalização da taxa de lucro e o es-
(9ue classe organiza a produção) e 3- diferentes motivações (o artesão tabelecimento da taxa média é extremrunente importante para a
VIS~va a sua sobrevivência, o capitalista quer o valorização de seu compreensão das mudanças que o capitalismo virá a sofrerem função
capital). (12) de seu desenvolvimento, como veremos na próxima parte.
Na economia mercantil capitalista o preço de produção cumprirá A equalização da taxa de lucro se dá num processo simultâneo à
a função de um centro de equilíbrio. O preço de produção desempe- formação dos preços de produção, tendo runbos como pressuposto a
nhará na economia capitalista a mesma função que o valor de mercado concorrência entre capitais. "Mediante essa continua emigração e
desempenha no modelo da economia mercantil simples. imigração, numa palavra, mediante sua distribuição entre as diferentes
O que é o preço de produção? esferas, conforme suba ou desça a taxa de lucro, ele (o capital)
_o preço de p~uç~o é igual aos custos de produção mais a taxa ocasiona tal relação entre oferta e procura, que o lucro médio nas
média de lucro ?1ultiplicada pelo capital investido. diversas esferas da produção se toma o mesmo e, por isso, os valores
A taxa média de lucro tem aqui um papel essencial. Os capitalistas se transformrun em preços de produção" (14).
não recu~rarão, ao lado d~s valores_-capital consumidos na produção No capítulo de seu livro que trata da "Transformação da mais-
de determrnadas mercadonas, a mais-valia produzida na sua própria valia em lucro", Rosdolsky apresentará o desenvolvimento do ra-
esfeT? de ~rodução. A alfquota de um capitalista na mais-valia global ciocínio de Marx que desde os Grundrisse (antes mesmo da redação
ser~ idêntica à alfquota que o seu capital representa em relação ao de sua teoria do valor) já levantava essa ausência do retomo da mais-
capital global investido. valia "produzida" por detenninado capitalista para ele próprio. Rosdolsky
. O que det~rmina_ a existência de uma taxa média de lucro e não apresentará uma citação de Marx, onde ele mostra a maneira como a
v~as tax~ difere~ciadas? A concorrência entre capitais e merca- classe capitalista distribuirá a mais valia global, afirmando que os
donas. A li_vre movunentação dos capitais pela economia. Marx dirá capitalistas participarão nela " ... de maneira uniforme, segundo a
que ~.equal1zação d~ taxa de lucro se realizará tanto mais rapidrunente: proporção da magnitude de seu capital em vez de fazê-lo segundo as
1) quanto mais móvel for o capital, isto é, quanto mais facil- mais-valias criadas realmente pelos capitais nos diversos ramos de
mente puder ~er tra_nsferido de uma esfera e de um lugar para outro, e negócios. O lucro maior - procedente do sobretrabalho real dentro do
2) quanto mais rapidamente a força do trabalho puder ser lançada de ramo de produção, isto é, originado na mais valia realmente produzida
uma esfera P:U:ª a outra e de um local de produção para outro" (13). - é rebaixado ao nível médio pela concorrência, enquanto o déficit de
_:"ª~ condições da economia mercantil-capitalista, dada a con- mais-valia em outro rruno de negócio é elevado a este nível médio
C?rrencia entre capitais, não existirão condições para a existência de graças à retirada de capitais do mesmo ... Isto se produz mediante a
diferentes taxas ?e lucro. Ocorrendo essa diferença, iniciar-se-á um relação entre os preços nos diversos rrunos de negócios, os quais em
processo de ~oyimentação do capital, que se transferirá das esferas de um caso caem para abaixo de seu valor e em outro se elevam acima
menor lucratividade para as de maior lucro. o que retoma O ni- do mesmo" (15).
8 9
Comoestáditoaí éamovimentaçãO d .
1
!
que detenninará que ~ distribuição da e_cap:, a s~a di_stribuição, retrições necessárias, paraopi;eço de produção) encerra um superlucro
maneiraenãooutra. Eestadistribuição:ts-y a ~eJa fe11a de uma para os que produzem nas mel,hores condições de cada esfera particu-
da fonnação de um lucro médio. mais-valia é consequência lar da produção. Excetuados~'s casos de crises e superprodução em
Para tanto, é necessário que h · d . geral, isso vale para todos os p ços de mercado, por mais que possam
mercadoriasprodu ·d . ªJª esviosemrelaçãoaovalordas se desviar dos valores de m reado ou dos preços de produção de
tar) esses desvios zV1eJ~ams.o Pi::ço de produção deverá conter (possibili- mercado. Pois o preço de me cado implica que se pague o mesmo
. os isso no quadro abaixo. preço por mercadorias da me~a espécie, embora essas sejam pro-
duzidas em condições individu · s muito diferentes e, por isso, possam
QUADRO! ter preços de custo muito dife entes" (17).
Capitais Embora haja a desigualdje individual entre a mais-valia real-
Valor Mais- Taxa Preços de Desvios dos mente produzida e o lucro apro riado porum detenninado capitalista,
trabalho valia
dos
média de produção preços de haverá uma igualdade entre a ais-valia global produzida e o lucro
lucro dos pro- produção total apropriado pelo conjunto os capitalistas. Assim como, embora
produtos
du.10s com relação haja desvios a nível de produtor;s entre o valor das mercadorias e o
aos valores preço de produção, a soma de t:G'.os valores produzidos se igualará à
I. 80c + 20v 120 20 22%
soma de todos os preços de prddução.
122 +2
II. 70c + 30v 130 30 22% 122
Há a "transferência de m~is-valia" neste processo? Rubin é
III. 60c + 40v - 8
140 40 22% 122
bastante enfático: há a transfetpncia do capital, que possibilitará a
IV. 85c + 15v - 18
115 15 22% 122 +7
equalização da taxa de lucro. A 11/ais-valia não se transfere, não é a sua
V. 95c +5v 105 6 transferência que faz esse nivel~mento da taxa de lucro. Rubin ainda
22% 122 + 17
390c + 110v
ressalva que a noção de "translx\rdamento" do sobretrabalho de uma
610 ll0 ll0% esfera a outra é incorreta, pois estaria baseada na concepção de "valor
610 o
78c + 22v como um objeto material que possui a característica de um líquido".
22 (pg 257).
Estaria essa concepção em desacordo com a citação anterior de
poss~e!t~~i1:~~~ã~ :;c:er 1ue o capitalista V, cujo capital Marx (que fala de uma "distribuição" da mais valia entre capitalistas)?
condições técnicas) obterá um preçi~e ;r~t~to está_ em melhores Na verdade, a solução para aquestão de como se disiribuirá amais
seus produtos, enquanto O capitalista III ( uç o supenor ao valor de valia na medida em que ela é apropriada pelo capitalista de uma dada
empresa, pode ser tentada de uma maneira análoga à do produtor
~:~~ã~~~~i:)0v;;!;0~::~::~~~· co~ ~~:1~:~eªs:~~~~i:; mercantil da economia simples, que produzia em melhores condições
Neste ponto uma · · b técnicas. Lá não havia transferência do valor de uma unidade a outra;
preço de produção e O ~~;~~r~; n:s~;~~bs:repodarelação entre o havia, sim, a criação de possibilidade de que aquele produtor auferisse
quadro acima fica evidente ue a ª 0 e ser fe!la: no um superlucro, ao vender a sua mercadoria ao valor de mercado
melhores condições técnicas ti
s empresas que produzem em
que na economia mercantil rodm yantagens (assim como o produtor
embora a produzisse cm um valor individual bem menor. Esse fato era
compensado por um outro produtor que lançava mercadorias a um
vimos). Na conclusão de se~ ca:f1~~i:~r:l~~res cindições, como já valor individual até mesmo superior ao de mercado.
em lucro médio (cap X vol III) M . rans onnação do lucro Agora, nas condições de uma economia capitalista, com outras
esse ponto de vista·.. ~o d~ ' ai:" msere uma nota onde confinna mediações e maior complexidade, o que há é um processo similar, que
1
de mercado (e tudo·~ que ;it~;imebntov erificou-secomoovalor se dá com o preço de produção. Capitais com composição orgânica
1O so re e1e vale também, com as superior produzem mercadorias com um valor individual menor,
11
r 7
inferior ao preço de produção. Eles, portanto, se habilitam a receber trabalho com a viabilização dos lucros extraordinários. A candidatura
um. supe'.lucro ou um lucro extraordinário. Não há "transferência" de à capacidade de produzir em condições de a~feri~ superlucros (ou
mais-valia, confirmando a. posição de Rubin. Como quem produz lucros extraordinários) é um motor para a dinâmica de progresso
mercad?nas com um valor mdiv1duai superior ao preço de produção técnico existente na sociedade mercantil capitalista.
se candidata a uma perda, essa compensará (em termos soeiais) E, nas condições da soeiedade mercantil capitalista, a int~ução
ganho do produtor e~ melhores condições técnicas, garantindo assim0 de uma inovação tecnológica que dê a um P'.°'1Utor determma.do
~ue a soma do COnJunto das mais-valia gerada pela sociedade seja superlucros, trará outras consequências para o funcionamento econômico
igualada.
geral: a pergunta que se faz é sobre como será ~staurado um novo
. O problema que leva a esta "visão" sobre a transferência de mais- equilíbrio após a desiquilibração causada pela mtrodução de uma
valia é a fo.rma c?mo o problema aparece: j â que não há uma identidade determinada inovação tecnológica. . . . •
entre a mais-valia extorquida por um determinado capitalista e O lucro Há uma formulação feita por EmestMandcl no livro Cap1tahsmo
~ue ele i:::almen.~e auf~.re, já q.ue há uma compensação entre as Tardio que vai nessa linha. Racioeinando com superlucro que a
. sombras . e as. faltas de mais-valia entre diferentes capitais, a introdução de uma inovação tecnológica possi~il_ita, e consta~ando
1mpress~ unediata é a que haja essa transferência. De fato, o que há que mesmo em uma situação de completa mobiltdade de capital o
é um conJunto de fenómenos que se dão no proeesso de formação de nivelainento da taxa de lucro não é imediato, Mandei distinguirá três
preço, no proce~so da transf?rmação do valor em preço de produção, momentos nesse proeesso de "desequilibração" e "reequilibração".
proeesso que é simultâneo à mtensa mobilidade de capital este sim se No primeiro, logo após a introdução da inovação, o inovador obte'.á
tran~ferindo de uma esfera a outra e determinando a taxa de Ju~ro um superlucro: "a mercadoria mais barata, fabric~da com tecnoloipa
média.
mais moderna é inicialmente produzida e vendida ao preço SOCJai
':' formação da taxa de lucro média, como vimos, é de interesse médio de produção e dessa maneira assegura ao possuidor um
colettvo d~ classe capitalista. Mas, ao lado da formação dessa taxa de superlucro". O segundo momento se inicia com a percepção de outros
lucro méd!o, há a preoeupação do capitalita individuai em melhorar as capitalistas desta situação, o que leva a um aumento da produção deste
suas condições para a concorrência intercapitalista. ramo aumentando a sua oferta e causando uma diminuição no preço
. E esta observação tem para nós um grande interesse. Durante a pago' pelo mercado. Já há aí uma queda de lucro extr.aordinário
disc~ssão sobre a equalização da taxa de lucro (Cap. X, Vol III d'O inicialmente auferido. No terceiro momento haverá a migração de
Capital!, Marx afirmará:" ... o interesse especial que um capitalista, capitais para o setor, determinando a generalização do novo patamar
ou o capital de d~terminada esfera da produção, tem na exploração dos tecnológico estabelecido pela inovação recém-introduzida. Quando
trab<:1hadores diretamente empregados por ele está limitado a obter essa inovação passa a ser de uso comum pelo setor produtivo, quando
me<;fiante sobre.trabalh? excepcional ou mediante redução do salári~ uma nova composição orgânica média for estabelecida nesta esfera da
abaixo da média, ou ainda mediante produtividade excepcional do produção (em função desta generalização), haverá uma alteração do
trabalh~ em~regado, um lucro superior ao lucro médio". preço de produção. Aí o preço de produção será inferior ao e.xistente
Mais adiante, Marx insiste que" ... a produtividade específica do antes do espraiainento da inovação pelo ramo. Estabelecido este
trabalho numa ~fera específica ou numa empresa individual, específica "novo equilíbrio" entre os vários ·capitais em concorrência, está
dessa esfera,. só interessa aos capitalistas que participam diretamente definido o novo preço de produção, um preço mais próximo do valor
dei~ na medida em que ela capacita a esfera individual cm face do individual das mercadorias produzidas pelo produtor-inovador que
capital g!obal ou o capitalista em face de sua esfera, a realizar um lucro inicialmente revolucionou o valor no ramo.Terá sido obtido, através
extraordinário" (19).
de uma concorrência intensificada, um novo nivelainento da taxa de
São coloeações cristalinas para a compreensão da simultaneidade lucro. Evidentemente, durante todo esse " ... período intermediário, a
da form.açã? do lucro médio e a busca da realização de lucros inovação técnica permite efetivamente a realização de superlucros"
extraordinános e sobre a relação da elevação da proàutividade do (18).
12
13
Aqui, devemos recolocar uma pergunta, já feita anteriormente, . tre a produtividade do trabalho e a distribuição do trabalho.
quando tratávamos de situação semelhante no modelo de uma eco- direta e~ssa relação causal existe, mas ela é indiret~, pressuIJ?e ~
nomia mercantil simples: o que leva à consolidação de um processo Nesta, . diári O esquema de Rubm é o seguinte.
existência de elos mterme os.
de espraiamento de uma determinada inovação tecnológica, a ponto de
viabilizar o estabelecimento de um novo patamar tecnológico? produtividade do trabalho - trabalho abstrato -
Colocada essa pergunta, é interessante voltar ao Quadro I.1 e valor _ preço de produção -
obsevar uma questão a ela relacionada: a empresa que produz nas distribuição de capital •
piores condições técnicas (em outras palavras, a que emprega mais o
capital variável em relação ao constante) só conseguirá continuar no distribuição de trabalho social
mercado quando a demanda pelas mercadorias do ramo de produção
Outra conclusão importante a ser anotada a ~artir ~as ?iscuss~s
for tal que, superando a oferta, eleve o preço de mercado para acima
do preço de produção. Quando isso não ocorrer, as dificuldades para
que essa empresa continue no mercado serão grandes. Inversamente,
feitas diz respeito a uma dinâmica qu~ a econom1~ cap1:1i;ª
centralização e a concentração de ~apltal. Co~o v1mo~ ) tfrão uma
~:ict!
em uma situação de crise (quando a oferta superar a demanda), o preço melhor condição técnica (os de ma1~rc~r::sii.!~i;~ da :xa de lucro
de mercado será levado a um montante inferior ao preço de produção posição mais vantaJosa na economia. m grau
e, neste caso, a empresa que produz em melhores condições será a que ssibilitaessadinâinica de favorecimento das empresas co~~ ara a
terá melhores possibilidades de sobrevivência. Essa observação é útil : produtividade mais elevado. Daí, estarão ~elhorprepara ida~e de
para a nossa discussão sobre a dinâmica cíclica da economia capita- concorrência capitalista as empresas que u~~reã~e~:~~izaçãodo
:~~:z:~~:~~~~~;~~~ç~on;~~: t~i~~~~~i::Íc~e;~;~~~;~~ad~~:
lista, quando acrescentaremos mais dados para responder à pergunta
colocada.
Sobre a relação entre a produtividade de trabalho e o preço de possibilita o estabelecimento ª ax tá · do desenvolvimento
produção, este é afetado de d\laS maneiras: através da taxa média de roccsso terminará por estabelecer um novo es gio . nto da taxa
lucro ou através dos custos de produção. ~apitalista, onde tanto a concorrência con:io o estati;clec1~ee veremos a
A taxa média de lucro será alterada por mudanças na taxa de mais- média de lucro conhecerão uma nova sltuação. E o q
valia; alterações na produtividade do trabalho do setor produtor dos seguir.
meios de subsistência terão repercussões aí, diminuindo ou aumen-
tando o trabalho pago. III _ o Capitalismo dos monopólios
A taxa média de lucro também será afetada por alterações na
A tendência à centralização e coi:cc~tração de caf~i/J~~~:~~
produtividadedotrabalhoporqueelaimplicaem mudanças na relação
entre o capital constante e o capital variável. pela dinâmica inerente à livre cmcorrenc~ (e ria:1:~ade· uma nova
Quanto aos custos de produção, a produtividade do trabalho os
modificará a partir de alterações de produtividade na esfera produtora ;~~?:;:;: ~~:~~~~r~ªJ~~~~~~~~:. ~~nJoq~gar_ ao ~onopólio
dos meios de produção utilizados no ramo (cai o valor do maquinário
utilizado, por exemplo). f
e\o i;e~r~~º~!! f:~;;i~~i~i~~~c~~:r;~~~~~~~al e descn-
É por influenciar o preço de produção que a produtividade de volvimentJtecnológico é impo~nte: a~a~i~~~~~~~ªi~~~~~;~e~;
trabalho influenciará a distribuição de trabalho na economia mercantil deremos elementos fundamentais que e e . . ntal
capitalista. E como havíamos visto, a distribuição do trabalho será "livre concorrência". o desenvolvimento da téc~~a, ~~:~~~:~nou
1
~~z
consequência da distribuição do capital. Chegamos assim a uma
diferenciação mais completa entre a economia mercantil simples e a ~;r~:b!:· ~~~:!riisd' ~edo1~:~:~~!ai~~ ;l:~!rie~~::c~
economia mercantil capitalista. Naquela, havia uma relação causal estabelecimento de uma unt a e P ·
15
14
isso.limita a lei do valor. Daí a afirmação de Preobrajensky acerca do
uma limitação evidente à concorrência, cria um obstáculo: detentores seu funcionamento: a lei do valor está "bastante minada na própria
de grandes somas de capital (ou grupos e empresas que tenham acesso sociedade burguesa graças ao poderoso desenvolvimento das tendências
a elas) são em número cada vez mais limitado. monopolistas do capitalismo contemporâneo" (22).
A t~cn?l,?gia_ termina assumindo um papel de barreira à "livre Vejamos mais de perto essa atuação "minada" da lei do valor. Na
concorren~ia (é Importante lembrar a citação que apresentamos de discussão do modelo para uma economia mercantil capitalista, de-
Isaak Rubm, a qual associava a vitória da grande produção sobre a monstrou-se como o valor influenciava o preço de produção, que por
pequ~na com o aument_o do progresso técnico). Há outras questões sua vez atuava sobre a distribuição de capitais: a operação da lei do
relacionadas à t':c~ologta que operarão criando barreiras: controle de valor pressupunha um conjunto de elos intermediários. Agora, mais
patente! (~msutuido por uma capacidade de ação jurídica e de do que elos intermediários, uma alteração qualitativa tem lugar: a lei
mt':rferencia Junto ao Estado que os grandes grupos estabelecem com não atua livremente.
mais d':senvoltura),. n~cessidade de formação de mão de obra com De onde vêm as limitações à livre operação da lei do valor? Vimos
determm_adas especializações para lidar com as novas máquinas anteriormente os pressupostos para a sua livre operação; agora,
tecnologias. e gostaríamos de nos debruçar de forma especial sobre uma limitação:
Esta fase do capitalismo, a dos monopólios conhecerá uma nova as barreiras à livre movimentação de capitais. Como foi visto, essa
forma de "<:p':ração" da lei do valor. Quais 'as condições para a livre movimentação era essencial à equalização da taxa de lucro, que
operação mais mtegral da lei do valor? Ela pressupõe a espontaneidade por sua vez era essencial à determinação dos preços de produção
~as.relações de produção (característica encontrável. de uma forma (chegamos a dizer que eram dois momentos de um mesmo processo).
llini:_ad~, é verdade · nas condições do capitalismo da livre con- Com a chegada à fase do capitalismo dos monopólios, alguns pré-
7.orrencia)._ E, Pre~brajensky destaca que para a lei do valor atuar de requisitos passam a ser necessários para que o capital possa atingir
modo m'.11s tot~ é necessário: 1) plena liberdade de circulação de certos setores; em particular, o volume de capital requerido passa a ser
merca~on~ (n?mterior do país como no mercado mundial); 2) que 0 crescente (graças inclusive às exigências colocadas pelo desenvolvimento
operáno seJa hvre vendedor e o capitalista um livre comprador da tecnológico): isto quebra a capacidade da concorrência intercapitalista
força de trabalho enquanto mercadorias; 3) que a ingerência do estado realizar a migração de capitais em direção a setores onde a taxa de lucro
no p~ocesso de produção seja mínima e poucas as empresas de está mais elevada. Por conseguinte, há uma quebra no processo de
propnedade est~tal e 4) que não haja regulamentação dos preços por equalização da taxa de lucro. ·
parte das or~arnzações monopolistas dos próprios empresários (20). Não havendo a livre movimentação de capitais, é dada às grandes
PreobraJe~sky ressalta que "estas condições ideais de liberdade empresas que sustentam a não-entrada de novos capitais no seu setor
de concorr~ncia nunca existiram a escala mundial porque as barreiras a capacidade de determinar (dentro de certas condições) os seus
alfandegánas entre as economias nacionais, a ingerência do Estado no preços. A possibilidade de estabelecer um preço monopolista deter-
proc~ss? ,?e produção ... significavam uma certa llinitação da con- mina o recebimento por esse setor de um lucro suplementar, de um
con:encia .. Esclarece que o período relativamente mais perfeito para superlucro. Como o monopólio e o oligopólio dominam este novo
a ação da lei do valor ~01 a época do capitalismo clássico, que precedeu período da economia, não há mais a equalização da taxa de lucro (pela
a etapa dos monopólios, a etapa imperialista (21). inexistência da livre movimentação de capitais), havendo sim uma
. Com o ?es_en~olvimento das tendências monopolistas do capita- tendência à formação nos setores oligopolizados e monopólicos de
lismo, os pnncipais ramos de produção se vêm invadidos por trustes uma taxa de lucro superior.
oc?rre uma fusão dos trustes mais importantes com o capital bancário' A formação de superlucros ou lucros extraordinários (acima da
~ li'?erdade de concorrência é suprimida porque um truste control~ média) já existia na fase anterior da economia capitalista, mas Labini
mteIT_amente um dete:ininado ramo de produção, ou ela é diminuída anotará uma diferença essencial com relação àquela fase: "existe,
pelo mteresse do capital bancário em evitar "brigas" entre empresas porém, uma diferença essencial entre os dois tipos de lucro: os de
que ele controla ou empresta importantes somas de dinheiro. Tudo 17
16
concorrência são devido , · ,
são, ao contrário devid~a /:os e sã? transitórios; os do oligopólio determinação de preços, cabe apontar que continua válida a consta-
nentes" (23). ' acterfsucas estruturais e são perma- tação de que a soma dos valores produzidos deve ser igual à soma dos
Vários autores avançarã O .d preços obtidos pelas mercadorias vendidas. Também a somadas mais-
duas taxas de lucro· uma do no senu O de formular a existência de valias extorquidas à soma das mais-valias individualmente obtidas
monopolizado Evide te setor monopolizado e outra do setor não pelos empresários. A novidade é a requalificação da distribuição, da
sendo maior d~ que a ~o ~:i~i~:
De onde advém esses lucros po za
~~~a do~etor monopolizado
.º· e. suas expensas.
maneira como ela opera: é aí que o monopólio repercute, introduzindo
novos elementos na fonnação dos preços e na apropriação dos lucros.
essas grandes empresas conse e;traor_dinários, permanentes, que A partir dessas eolocações, podemos compreender a relação
papel da tecnologia na m direm · Aqm, devemos voltar a tratar do extremamente contraditória que os monopólios terão com o progresso
sustentados por con,diçõee ª em que esses superluctos têm de ser tecnológico. Já vimos até onde ele chega a detenninar a existência
s concretas por vant d ..
essas empresas em relação às de . e' . agens a qumdas por mesma do monopólio. Uma vez estabelecido, uma vez criada uma
. mais. omodizLabini "pod diz
que os maiores lucros são devidos a , . fi . : . ' e-se er empresa gigantesca, rica em recursos, é fácil imaginar a facilidade que
empresas. Mas deve-se im . maior e ciencia daquelas ela terá para multiplicar esse- progresso técnico. Recorramos nova-
maior eficiência apoiada d:~~~mente acrescen:arque se trata de uma mente ao estudo do Labini, para clarear este aspecto:" ... a grande
não a 'habilidad , d . ª eSlável em diferentes tecnologias empresa oligopolfstica, considerada individualmente, pode ser (e
. e os empresános que as dirigem" ( 24) '
A capacidade tecnológica d · frequentemente é) tecnicamente mais inovadora do que uma empresa
que habilita a auferir os lucrose ~;tra gr:d; ~mpresa é mn elemento (necessariamente pequena) que opere em concorrência. Na realidade
posição monopólica de um t aor n nos, agora, dada a sua pode fazer até milagres: nos seus laboratórios, pode desenvolver
palavras para atin · ' . - ª orma permanente. Ou, em outras pesquisas de alto nível científico e também pesquisas de grande valor
nível de ~apacitaçfort:rii:â;ic:(;ºP?lic~ (ou oligopólica) um certo prático; com a mais ampla disponibilidade financeira e crédito fácil de
mobilização de capitais acima da ;;~m)pé ~a:m uma capacidade de que dispõe, pode realizar investimentos que pequenas empresas em
Aqui cabe uma e a m spensável. concorrência não teriam a possibilidade de realizar" (25). E esses
capitalismo: a lei do ~j~~na obJervação sobre o valor nessa fase do investimentos devem ser feitos para defender suas posições, pois
termina por determinar . ~tua e uma forma mmada, mas atua. Ela algum invento revolucionário pode chegar a abalar essa posição
(que jamais têm uma lim_1tes concretos para a ação dos monopólios monopólica.
produção em larga ~:~:t;d~~e ieJtuação inteiramen_te arbitária). A No entanto, há um outro lado, originado das especificidades da
pressupõe uma concentração
custo menor. Mas o mon.
l n ? n_ielhores .c?~dições técnicas
. e capitais e poss1b1!1ta um preço de
nova fase. Em primeiro lugar, dada a própria dimensão dos inves-
timentos necessários para viabilizar uma detenninada unidade produ-
acima do valor das me~~ó:o ~ue impus~rpreços irrealistas, muito tiva baseada em uma determinada tecnologia, não é interessante para
20
Industry), um dos mais expressivos agen~es. Sej~ !ealizando inves-
e da dinâmica dos grandes monopólios à escala nacional, mas também timentos em racionalização de setores mdustnais ameaçados ou
pressupõe um patamar de evolução tecnológica para viabilizar-se. As ulneráveis à recessão, organizando a ação das grandes corporações
grandes empresas transnacionais não podem prescindir do planejamento ~32), atuando sobre os processos de t;ansferência d~ tecnologia ~33),
global, ~mado possível, segundo Hymer, pela revolução aeronáutica investindo em pesquisa e desenvolvimento, ou aruculando proJetos
e eletrômca. (30) industriais e tecnológicos d: lo?ga :riaturação. .
Comp~™:do as características essenciais das empresas da atual Talvez a economia capitalista Japonesa represente hoJe, melhor
f'.ase do capitalis~o com aquelas das empresas típicas do período da do que qualquer outra, a articula9ão e~tre as _grandes corporações e.º
livre concorrência, constata-se uma dinâmica de crescente "sociali- Estado típico do capitalismo tardio. Os mve~umentos govemam:ntais
~ação º?jetiva do trabalho". O planejamento atinge agora o nível subsidiando as grandes empresa:- nas pesquisas de alta tecnologia ~ão
mtemac10nal no interior das grandes em presas, o que estàbelece novos atualmente muito mais expressivos no Japão. Segundo um analista
elementos para a ação, ainda mais minada, da lei do valor: atinge um norte-americano citado pela Business Week, enquanto o governo
novo gr~u a contradição ~ntre a anarquia da produção em escala social norte-americano não financia pesquisas de ponta por serem de :1110
e o crescimento do planeJamento no interior de unidades cada vez mais risco o governo japonês investe exatamente por serem excessiva-
:implas. A ponto de exigir, como nunca antes, um razoável grau de ment~ arriscadas para a iniciativa privada (o analista comentava
mtervenção do Estado e o desenvolvimento de várias fonnas de ação investimentos em tecnologias de produção de_ chips). (34)_ .
coordenada e compartilhada entre as grandes corporações e o Estado. Outra característica da nova fase, esta de importante significado
Este novo estágio na relação entre Estado e grandes corporações para o objeto de nossa pesquisa, é a aplicação sistem~tica da <:iência
é uma das características distintivas da presente fase do capitalismo. à produção. O que era um esboço. na etapa ant_enor do sistema
O Es~ado é levado a assu_mir novas funções pelas exigências que a capitalista - a criação de ~aboratón~s ~e pes~uisas nas gran?es
própna evolução da plaruficação no interior das grandes empresas empresas e o início da submissão da c1encia aos mteresses do capital
coloca no sentido do desenvolvimento de uma programação econónúca. _transfonna-se em característica distintiva da nova fase.
O Esll;dodeve_ desenvolver essa programação económica para garantir Mandei ressalta que esse marco não significa, nos períodos
um c!Ima mais seguro para os grandes investimentos típicos deste anteriores a inexistência de invenções cientificamente induzidas ou
período. As empresas precisam de mais segurança para trabalhar com que as in~enções se processassem de uma m~e!ra inteiri:mente
o longo pr~o, prazo de m~turação de seus investimentos principais. independente do capital. M~s é apenas ~ob o cap1talisn:o tardio que
Os m_ecarusmos de garantia estatal ao lucro privado conhecem um " ... a organização sistemática da pesquisa e desenvolvimento como
cr~scimento nessa fase. Subvenções diretas e indiretas ao lucro um negócio específico, organizado numa base_ capitalista - em _outras
pnvado aparecem. E o investimento estatal nos setores estratégicos palavras, o investimento autónomo (em. cap!lal fixo e salár.io dos
toma-se também essencial. trabalhadores) em pesquisa e desenvolvimento - ... se mamfestou
Um exemplo dessa intervenção estatal é encontrado nos Estados plenamente". (35) . ,
u~.~os, ond: a conjun~ur,a c?ada pela política imperialista da "guerra os dados citados por Mandei são mteressantes. O numero de
fna detennmou a existencia de uma corrida annaruentista penna- laboratórios de pesquisa industrial nos Estados Unidos no início da
nente, financiada pelo Estado-comprador de annamentos. Para tanto, Primeira Guerra Mundial era inferior a 100. Em 1920 havia aumen-
vulto~os gastos são realizados, chegando a atingir quase 14% do PNB tado para 200 e em 1960 o número de laboratórios controlados por
amencano na década de 1950 (31). No recente período do governo empresas atingiu o número de 5400.
Reagan, o peso dos gastos militares foi o responsável por boa parte da
recuperação económica conseguida após a recessão de 1980/1. Em relação aos gastos com pesquisa e desenvolvimento há um
Mesmo no Japão a intervenção estatal é chave. Embora não se dê enonne aumento. A tabela abaixo mostra essa evolução para os
através de gast?s militares, a eco_n?mia japonesa teve na ação do Estados Unidos.
Estado, em parucular do MITI (Mimstry of Internacional Trade and
23
22
para as inovações tecnológicas. "O radar, a miniaturização de equi-
TABELA 1
pámentos eletrônicos, o desenvolvimento de novos componentes
Gastos com pesquisa e ~senvolvimento nos Estados Unidos eletrônicos, na verdade mesmo as primeiras aplicações da matemática
(em bilhões de dólares) a problemas de organização econômica - a "pesquisa operacional" -
todos tiveram suas origens nos anos de guerra ou na economia
ANO armamentista". (39)
GASTOS Vistas as características essenciais da presente fase do capita-
lismo, podemos fazer a pergunta sobre onde se localiza agora o motor
1928 00,1 do progresso técnico.
1953 05,0 Em primeiro lugar, radicalizando as características monopólicas
1959 12,0 do período precedente (atingindo a escala mundial), as grandes
1965 empresa multiplicaram a sua capacidade de pesquisa e desenvolvimento.
14,0 Esse são realizados por laboratórios ou departamentos de uma grande
1970 20,7 transnacional ou são desenvolvidos por associações de duas ou mais
1975 23,5 grandes empresas. As repercussões sobre a já citada aceleração da
inovação tecnológica são evidentes. ·
Fonte: O Capitalismo Tardio e RAP, Vol. 4, Fábio Erber Contudo, o crescimento da concentração aguça também o aspecto
limitador ao progresso técnico que os monopólios já demonstravam:
Já O Japão, que em 1975 gastou US$ 5 6 bilh . estão aumentados os elementos que dão condições a esses grandes
t:-n.nvolvimento (36), em 1988 investiu US$ 73,6 ~~~ =~;~~i: grupos para ditar o ritmo das inovações. O controle sobre o capital e
a tecnologia caminha junto com a capacidade de definição das linhas
mestras da pesquisas cientifica e tecnológica: os investimentos em
cresi~~t!e~:v~rim~s~: !~!~~:mam inevitável um razoável pesquisa são definidos segundo os critérios de um pequeno número de
Considerando essa característica\! · ali . capitalistas e diretores, visando responder à busca de maior lucra-
caçãosistemáticadaciênciaàprodução ~~::te smo ta;dio, a apli- tividade. O que nem sempre é a linha mais necessária ao progresso
?ªaceleração da inovação tecnoló<rica ~esta fase~~prea eaceerleasraçraãozõeds cientifico e muitas vezes a menos proveitosa. Estabelece-se uma nova
movação tecnoloó · é "' · ··· a contradição entre o gingantismo dos recursos científicos colocados à
ciência à produção~(~S) um corolário da aplicação sistemática da
disposição da humanidade e o seu desperdício, dada a definição
tism Outra característica distintiva do capitalismo tardio é o armamen- privada da sua utilização. Muitas vezes investe-se muito até mesmo
desa'::e::inte (o ~al nem depois da ofensiva de GQrbachov pelo para planejar a obsolescência e nada para buscar avanços reais. O
A relação entriarece armost~deum arrefecimento significativo). controle do grande capital sobre o desenvolvimento tecnológico
0 impõe limitações e deformações ao ritmo do progresso técnico.
d . progresso técruco e o armamentismo não pode ser
. escon;1derada. ~~dei ressalta que a aceleração da atividade de Em segundo lugar, é desenvolvida a capacidade da intervenção do
:~~:alo esteve mttmamente relacionada com a Segunda Guerra Estado no sentido de impulsionam progresso técnico. Houve, em um
e com o rearmamento do pós-guerra. primeiro momento - durante a Segunda Guerra e nos pós-guerra- uma
tendência predominante desta intervenção ser relacionada com os
desc~~:t:[~::~~ armame?tis(a teve uma relação dupla com as gastos militares, direta ou indiretamente, a ponto da evolução tecnológica
~º~1~:~dt~sas desc~be~~~~g:~:a~~::~º;e:n~~s~:!~n: chegar a ser considerada um -subproduto do armamentismo perma-
o vunento armamenusta começou a criar as pré-condições nente. Situação típica dos EUA e do curto período de sua hegemonia.
24 Hoje, especialmente pelo papel que a economia japonesa cumpre, há
25
também uma política mais direta de articulação entre a ação gover- Analisando o período inicial da dominação docapitalismo_ameri-
namental e a evolução tecnológica, dada a divisão de trabalho finnada
no pós-guerra entre os EUA e o Japão, a qual dispensava o imperia-
ano no sistema imperialista, discutindo algumas caracterísu~as
c se rocessava na "arena da economia mundial", Preobraiens Y
fº
lismo japonês de realizar investimentos significativos no campo ~~:maJa a atenção para o fato do capitalismo americano_ ultrapassa'. os
militar. .. outros capitalismos não somente por seu podeno econômico
Intennediado ou não pelo investimento militar, o Estado passa a uciversal e por seus imensos recursos creditícios sob a fonn_a ~ercan-
cumprir um papel central no desenvolvimento tecnológico. Nova- til e monetária, mas também por sua técnica, por sua p~uu v1dade de
mente veremos uma relação contraditória com este desenvolvimento: rabalho mais elevada". O padrão tecnológico desenvolv1d_o no centro
impulsiona pelos recursos colocados à disposição de pesquisas; mas ~ais dinâmico da economia capitalista impõe-se à economia com~ um
distorce o seu rumo, pelo tipo de prioridade que impõe, seja a militar, todo. Preobrajensky conclui que" ... na realidade, os Esta?os Urud~~
seja a derivada dos interesses das grandes corporações (que incorpora submetem o mundo inteiro principalmente através da Je1 do valor .
as contradições discutidas anterionnente). (42) · li
A grande capacidade de ação dos grandes grupos monopólicos, a Agora, a lei do valor começa a se volt~ contra o c~p1ta smo
presença decisiva do Estado - salvando o lucro privado, praticando americano. Não é por outro motivo o crescimento do _nu"'.ero _dos
políticas anti-crise -, o gigantismo das estruturas financeiras, ca- defensores de medidas protecionistas nos Estados Urudos. a livre
racterísticas centrais do capitalismo tardio, impõem limites à ação da concorrência à escala internacional os ameaça! Essas_m~danças est~o
lei do valor. no centro da definição da presente crise, onde o conflito mtenmpena-
Mas ela está presente. Uma presença deslocada, requalificada. lista tem um papel chave, como veremos adiante.
Para Mandei, como o Estado burguês tardio tem menos influência É verdade que essa passagem da ação da lei do valor p_ar~ a aren~
sobre a empresa multinacional do que tinha sobre os monopólios mundial também tem uma dinâmica de crescente bloqueio. segu'.a
nacionais do período anterior, a arena para a vigência da lei do valor mente a sua ação não é tão livre hoje quanto era no período descnto
se alterou: " ... assim como o crescimento das forças produtivas r Prebrajensky. Apesar de presente e se mo~trar ~1v~, como no
sobrepuja o Estado nacional, também sobrepuja gradualmente o papel :emplo da indústria automobilística, as nações i_mpei:iahstas ~nt~
do Estado no controle do ciclo industrial ... Quanto mais os monopólios acertar ações no plano mundial para conter a dinâmica da cnse.
pensam que se subtraíram à lei do valor em nível nacional, tanto mais melhor demonstração é a atuação relativamente coordenada /~s
tomam-se sujeitos a ela em nível internacional". (40) principais bancos centrais para conter as repercussões do eras e
De fato, atualmente assistimos, por exemplo, a indústria japonesa wall Streetem outubro de 1987. a
de automóveis sucateando nada mais, nada menos, do que a norte- A lei do valor está presente, mas à sombra. Dá moStfll:5 que atu~
americana, exatamente porque produzem em melhores condições mas sofre bloqueios. Tenta o seu retorno, para como ant_es imporco
técnicas, com maior produtividade do trabalho, podendo bancar a crise a sua realidade. Aqui, um ensaio sobre a crise de nosso tempo
preços mais baixos etc. nos chama a atenção para uma característica marcante das muda~?.as
O capitalismo radicaliza, em sua fase tardia, tendências já visua- operadas com a lei do valor que, bloqueada, força o seu ~torno. d..
lizáveis na fase monopólica, quando a internacionalização crescia. impossível retorno, posto que implicaria na autopenal1z~ç!o. o
Preobrajensky já insistia que " ... o desenvolvimento dessas ·ta1 na perda do seu pseudo-controle que exerce sobre sua din~ca.
tendências (as tendências monopolistas) implica inevitavelmente, ~ru~ração da crise, com a onda de inovações e penal1~ações ex1gi?as
apesar da existência fonnal da livre concorrência, a limitação e a para tal não está sequer colocada no horizonte do sistema. A ação
transfonnação ulteriores da ação da lei do valor não mais no interior , sanead~ra' da crise esbarra nos limites impostos pela adaptação-
de economias nacionais isoladas, onde os monopólios já atingiram um resistência do capital monopolista e do Estado, pela sua recusa
alto desenvolvimento, mas na arena da economia mundial em seu persistente à automutilação". (43) .
conjunto". (41) Todas estas transfonnações devem ser compreendidas como
26 27
parte da própria lei do valor, indecifrável sem o seu conteúdo e o seu
movimento didático. Prebrajensky sintetizou isso em sua análise dos Notas do Capítulo I / Primeira Parte
monopólios: " ... a lei do valor está atingindo a etapa de sua própria
transformação e de seu desaparecimento gradual através desta mesma
lei do valor" (44). (!) Rubin, A Teoria Marxista do Valor, pág. 198
Ainda veremos o que há para além da barreira do valor!
(2) Rubin, idem ·
(3) Rubin, idem, pág. 129
V - Conclusão (4) Rubin, idem, pág. 130
(5) Rubin, idem, pág. 145
A discussão da lei do valor em suas várias fases, mostrando os (6) Marx, Karl, O Capital, Vol. !, pág. 46
bloqueios criados pela sua própria dinâmica, buscando suas relações (7) Rubin, idem, pág. 189
com o progresso técnico esclarece qual a vinculação que podemos (8) Marx, Karl, O Capital, Vol. !, pág. 47
fazer entre eles: o progresso técnico orbita, como um satélite, em tomo (9) Rubin, idem, pág. 191
à dinâmica imposta pela lei do.valor. As mudanças dos propulsores do (I0)Rubin, idem, pág. 229
progresso técnico são determinados por transformações na dinâmica (] !)Marx, Karl, O Capital, Vol. l, pág. 725
mais global. O centro dinâmico da economia capitalista é o detonador, (12)Rubin, idem, pág. 244
o impulsionador e o irradiador do progresso técnico. O progresso (13)Marx, Karl, O Capital, Vol. lil pág. 150
técnico leva a marca desse centro, portando inclusive as suas dis- (14)Marx, Karl, idem, Vol. lll, pág. 180
torções e deformações. (15)Marx, Karl, Grundrisse.
As alterações que vimos na economia capitalista, transitando do (16)Rubin, idem, pág. 258
estágio da livre-concorrência entre pequenas empresas até a sua fase (]?)Marx, Karl, O Capital, Vol. Ili pág. 152
tardia, com o monopólio das grandes transnacionais, expressam e (18)Mandel, Emest, O Capitalismo Tardio, pág. 63/64
determinam as transformações na lei do valor. (19)Marx, Karl, O Capital, Vol. Ili, pág. 151
A dinâmica do progresso técnico será imposta por aquilo que (20)Preobrajensky, A Nova Econômica, pág. 171
definiro modo de atuação da lei do valor. Será definida pela resultante (21)Preobrajensky, idem, pág. 172
do conflito entre a lei do valor e o que estiver bloqueando o seu (22)Preobrajensky, idem, pág. 181
funcionamento. (23)Labini, Oligopólio e Progresso Técnico, pág. 66
(24 )Labini, idem, pág. 66
(25)Labini, idem, pág. 155
(26)Hymer, Stephen, Empresas Multinacionais e a
Internacionalização, pág. 71
(27)Hymer, Stephen, idem, pág. 74
(28)Business week, 17 .07 .89
(29)Hymer, Stephen, idem, pág. 95/96
(30)Hymer, Stephen, idem, pág. 71
(3 l)Business week, 11.12.89 . .
(32)Ichiyo, Muto, Class Struglle and Technolog1cal lnnovation,
pág. 11 a 23 .
(33)Freeman e outros, Unemployement and Technical Innovalton,
pág. 173
28 ')Q
SEGUNDA PARTE: A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E
O,PROGRESSO TÉCNICO
1 - Cooperação
É a primeira forma de organização do trabalho sob o capitalismo.
O modo de produção capitalista só começa quando um mesmo capital
emprega um grande número de trabalhadores. "A atuação simultânea
de grande número de trabalhadores, no mesmo local, ou se se quiser,
no mesmo campo de atividade, para produzir a mesma espécie de
mercadoria sob o comando do mesmo capitalista constitui, histórica
e logicamente, o ponto de partida da produção capitalista". (1)
Inicialmente ela não representou, de fato, mais do que o emprego
de um grande número de trabalhadores em um mesmo local: os
31
métodos de trabalho continuavam os mesmos. A mudança que há nas tendências da manufatura em proveito da acumulação capitalista. Um
condições materiais de produção (que Marx chamará de revolução) obstáculo importante era o fato de que " ... a habilidade manual
será a utilização em comum de depósitos, instrumentos, recipientes. constituía o fundamento da manufatura e que o mecanismo coletivo
O custo de uma oficina para 20 pessoas é menor que o de 1Ooficinas que nele operava não possuía nenhuma estrutura material independen-
de 2 pessoas. Há uma economia que decorre da utilização em comum tes dos trabalhadores". A partir disso, " ... lutava o capital constante-
dos meios de produção no processo de trabalho. mente contra a insubordinação do trabalhador ... Por todo o período
É criada uma força produtiva nova, a força coletiva. manufatureiro estendem-se as queixas sobre a falta de disciplina dos
trabalhadores". (3)
A manufatura criou necessidades de produção que entraram em
2 - Divisão de trabalho e manufatura choque com a sua estreita base técnica. A superação desta estreita base
A manufatura é a forma clássica da cooperação baseada na divisão germina a partir de uma de "suas obras mais perfeitas" que foi a oficina
do trabalho. Marx aponta sua dupla origem. para a produção de ferramentas.
Ela se origina da concentração em uma mesma oficina de traba- Essa oficina produzirá máquinas, que eliminarão a necessidade
lhadores de offcios diversos e independentes. Um exemplo é a manu- técnica de fixar um trabalhador especializado a uma operação parcial
fatura de carruagens: ela emprega o costureiro, o serralheiro, o por toda a vida.
coreeiro. Estes, passando a se ocupar exclusivamente da feitura de
carruagens perdem o domínio do antigo oficio em toda a sua extensão. 3 - A maquinaria e a indústria
A manufatura passa de uma combinação de ofícios independentes a Se na manufatura o ponto de partida para revolucionam modo de
um sistema que divide a produção em diversas operações especiali- produção foi a força de trabalho, agora, na indústria, o ponto de partida
zadas. será o instrumental de trabalho.
A manufatura se origina também do emprego em uma mesma O período manufatureiro desenvolveu os primeiros elementos
oficina de trabalhadores de um mesmo ofício. Inicialmente a merca- científicos e técnicos da indústria moderna.
doria era produto de um único arúfice, que executava todo o processo. A máquina da qual parte a revolução industrial substitui o
Ela passará a serum produto social de um conjunto de trabalhadores, trabalhador que maneja uma única ferramenta porum mecanismo que
onde cada um executará ininterruptamente uma única tarefa parcial. ao mesmo tempo opera um certo número de ferramentas idênticas ou
Neste período há o processo de decomposição da atividade do semelhantes àquela, e é acionado poruma única força motriz, qualquer
artesão nas diversas atividades que a compõem. Há um processo de que seja a sua forma.
divisão e subdivisão do trabalho, que determinará um salto na Quando aumenta o tamanho da máquina-ferramenta, a exigência
produtividade do trabalho e uma desvalorização da força de trabalho. de um motor mais possante vai surgindo. A força humana é pequena,
A produtividade dependerá não só da virtuosidade do trabalhador além de ser inconstante. As forças motrizes legadas pelo período
parcial na execução única e dedicada de sua tarefa específica, mas manufatureiro (animais de tração, vento, água) são irregulares ou com
também da perfeição de suas ferramentas. Haverá nesta fase, a partir pequena capacidade de aproveitamento na época (a força hidráulica
da especialização do trabalhador em sua tarefa, um processo de exige mecanismo de transmissão).
diferenciação das ferramentas, adaptadas àquelas tarefas específicas. Só com a segunda máquina a vapor de Watt, a máquina rotativa
Sintetizando esse período, dirá Marx que" ... o período do manu- de ação dupla se encontrou um motor que produzia sua própria força
fatureiro simplifica, aperfeiçoa e diversifica as ferramentas, adap- motriz, consumindo para isso carvão e água, com potência que poderia
tando-as às funções exclusivas especiais do trabalhador parcial. Com ser inteiramente controlada. Utilizável portanto nas cidades, concen-
isso cria uma das condições materiais para a existência da maquinaria trando lá a produção em vez de dispersá-la pelo interior.
que consiste numa combinação de instrumentos simples" (2). Marx sintetiza esse processo em um parágrafo de 'O Capital':
No entanto, vários obstáculos se opunham à plena realização das "Depois que os instrumentos se transformam de ferramentas manuais
32 33
em f~rramentas incoryioradas a um aparelho mecânico, a máquina revolução industrial.
mot~z, .º motor, adqmre uma forma independente, inteiramente livre Dentre as consequências do sistema fabril sobre os trabalhadores,
dos 1t11;1tes da_ força humana ... Uma máquina motriz, um motor, pode três se destacam.
agora 1m~uls10nar ao mesmo tempo muitas máquinas ferramentas. A primeira é a possibilidade do capital apropriar-se de forças de
Com o numero das máquinas-ferramenta impulsionadas ao mesmo trabalho suplementares (incluindo mulheres e crianças), na medida em
tempo, aumenta o tamanho do motor e o mecanismo de transmissão que há um processo de desqualificação do trabalho. Há, assim, um
assume grandes proporções". (4) processo de desvalorização da força de trabalho. . .
A produção mecanizada encontra a sua forma mais desenvolvida A segunda é a possibilidade de prolongamento da Jornada de
no sistema orgânico de máquinas-ferramenta combinadas que rece- trabalho: simplificado o trabalho, diminuíndo o esforço físico ne-
bem t<J??S os seus m_ovimentos de um autómato central e q~e lhes são cessário e incorporadas forças de trabalho suplementares, a extensão
transmitidos IJ?f 11;e10 do mecanismo de transmissão. Surge então, no da jornada de trabalho conhecerá limites menores. Abre-se um período
lugar da máquma isolada, o que Marx chamou de monstro mecânico. de lutas do movimento operário para a fixação dos limites dessa
A revolução no processo de produção de um ramo industrial jornada. . .
acaba se propagando a outros ramos. A terceira é a intensificação do trabalho: a partir do estabeleci-
A mecanização de .fiação toma necessária a mecanização de mento de limites à jornada de trabalho, o capital buscará absorver
tecelagem. Ambas ocasionam a revolução química e mecânica no maior quantidade de força de trabalho. A jornada de trabalho terá os
br~nqueamento, na estampagem, na tinturaria. A revolução da fiação seus poros preenchidos, tomando-se mais densa e compacta: haverá
exige a produção de algodão em escala maior: a descaroçadeira de assim um maior dispêndio de trabalho, obtendo-se uma elevada tensão
algodão aparece. da força de trabalho. Duas maneiras de intensificar o trabalho foram
A revolução na indústria e na agricultura toma necessária uma o aumento da velocidade da máquina e o aumento da maquinaria a ser
~volução nas condições gerais do processo social de produção: o vigiada pelo trabalhador.
siste1!1a de tran~porte é progressivamente adaptado à essas novas Na discussão de maquinaria, da indústria, Marx chama a atenção,
condições, surgmdo os navios a vapor, vias férreas, transatlântico, em vários momentos para a luta de classes, de como esta força a classe
telégrafos etc. capitalista a investir em avanços técnicos para recompor seu controle
A indústria se apodera de seu instrumento característico de sobre o processo de trabalho ou melhorar as suas condições de
p~ução e passa a rroduzirmáquinas com máquinas:" ... só assim ela exploração.
~;ou sua base técmca adequada e ergue-se sobre seus próprios pés". Discutindo a dinâmica da intensificação do trabalho buscada pelo
capital, como reação à pressão pela limitação da extensão da jornada,
. . Desaparece, as~im, a base técnica em que se fundamentava a Marx afirmará que" ... quando a rebeldia crescente da classe trabal-
divisão manufature1ra do trabalho, na medida em que " ... com a hadora forçou o Estado a diminuir coercitivamente o tempo de
ferra_menta que se transfere à máquina segue a virtuosidade desen- trabalho, começando porimpor às fábricas propriamente ditas um dia
volv1d~ pelo trab':1h~dor em seu manejo. A eficácia da ferramenta normal de trabalho, quando portanto se tomou impossível aumentar a
emancipa-se dos limites pessoais da força humana". (6) produção de mais-valia prolongando o dia de trabalho, lançou-se o
f!á _uma alteração no velho sistema de divisão de trabalho: a capital, com plena consciência e com todas as suas forças, à produção
espec1aliza9ão_dei~ará de ser a de manejar uma ferramenta parcial da mais valia relativa, acelerando o desenvolvimento do sistema de
durante a vida mteira e passará a ser a de servir por toda a vida a uma máquinas". (8) . ,,
máquina parcial. "Na manufatura, os trabalhadores são membros de Mais adiante, discutindo "a luta entre o trabalhador e a máquma
um mecanis~o vivo. Na fábrica eles se tomam complementos vivos Marx traz um dado interessanússimo para aniquilar qualquer idéia de
de um mecamsmo morto que existe independente deles". (7) uma técnica neutra, de um desenvolvimento tecnológico que paire
A produtividade do trabalho tem um enorme salto em função da sobre as classes em luta. Segundo ele " ... poder-se-ia escrever toda
34 35
uma história das invenções, feitas a partir de 1830, com um único outra forma de expressar essa inescapável dinâmica da sociedade
propósito de suprir o capital de armas contra as revoltas dos trabal- capitalista.
had~res". (9). E cita a seguir uma série de máquinas e inovações Dentro desta dinâmica geral devemos buscar captar qual a especi-
surgidas em vlftude de greves: máquinas de fiar automática máquina ficidade da evolução das máquinas baseadas no desenvolvimento da
de estampar tecidos, de engomar a urdidura. ' informática: ela eleva a uma potência inédita as possibilidades do
Os avanços na técnica na sociedade capitalista são avanços no desenvolvimento da maquinaria. Esse desenvolvimento toma possível
con~~e capitalista do processo de trabalho, são formas da classe tecnicamente a criação de unidades de produção que dispensam o
capitalista retomar um controle perdido pelo desenvolvimento de trabalho humano: é possível afirmar que não há atividade produtiva
novas formas de luta dos trabalhadores. que não seja tecnicamente substituível por máquinas (é necessário
separar a possibiliodade técnica da viabilidade económica e política da
4 - A ~ande indústria e a "organização científica do trabalho" generalização dessa possibilidade técnica, o que será discutido mais
A partir do desenvolvimento da indústria abre-se uma dinâmica adiante).
de aum_entodas u~dad~s ~e produção, da concentração e centralização Por essa particularidade, deve ser analisada em um item específico
do capital (como Já foi visto): há o surgimento da grande indústria. a aplicação da informática e da microeletrónica às atividades económi-
Cresce o número de trabalhadores colocados em uma mesma cas em geral e à produção em particular.
empre~a. !sto coloca problemas novos para a classe capitalista: a
ger~nci~ científica surgirá do empenho no sentido de aplicar métodos 1-A dupla origem da automação com base na microeletrônica
racionais aos problemas complexos e crescentes do controle do Tal qual todo avanço no desenvolvimento da maquinaria e da
processo de trabalho nas empresas em expansão. organização do trabalho, o salto representado pela automação com
A gerência científica atuará em duas áreas básicas. base na microeletrónica não tem nada de neutra ou linear: é fruto e
A prim~ira é a da organização do processo de produção em si, síntese de complexos e contraditórios processos onde os interesses da
dado? cres=ento de sua complexidade e o avanço da capacidade de acumulação de capital e a presença da luta de classes deixam as suas
planeJar esse processo. A segunda é o do conhecimento do processo marcas.
de trabalho para melhor controlá-lo, visando ampliar a intensidade do A automação com base na microeletrónica é filha de um duplo
trabalho. processo. Por um lado, ela é possibilitada por todo o movimento de
O taylorismo será, também, uma resposta do capital ao cresci- intensificação do trabalho que foi o taylorismo e o fordismo: ele
mento do sindicalismo. (10) possibilitou a organização do trabalho de uma forma tal que era um
:raylor e Ford serão os nomes que melhor representam o desen- pré-requisito fundamental para a aplicação da informática à produção.
volvimento desse processo de controle e intensificação do trabalho Sem esse processo não haveria condições do desenvolvimento da
criando.ª "organização científica do trabalho". Suas principais ca: moderna automação e da robótica. Poroutro lado, os avanços técnicos
ractei:sticas ser~o apresentadas adiante, ao se tratar da contribuição do do pós-guerra eram uma base também indispensável para esse salto:
tarlonsmo/fo:dismo ao desenvolvimento da automação com base na todo um conjunto de inventos estava "à disposição" e era poten-
micro-eletrómca. cialmente aplicável à produção.
44 j 45
. . d I contínuas revoluções nos próprios
TERCEIRA PARTE: A ACUMULAÇÃO DE CAPITAL E A
QUEDA TENDENCIAL DA TAXA DE LUCRO
produção capitalista, da ª pe as .
métodos de produção, pela desvalonza~~ :~J
m revinculada a elas do
e pela necessidade de
capital disponível, peladluta ~~~:~~scala meramentecomo meio
melhoraraproduçãoe eamp , ., '
de manutenção e sob pena de ruma . (1)
1
Aço Alumínio Eletrônica 1
Ferrovias Autom6vel Rob6tica 1
tecelagem Máquina à vapor Eletricidade Telemática
Máquina à vapor
como motor organização Construção naval Bio-Tecnologia 1
sindical Motor à combustão· Energia nuclear 1
(França) 1
2'Guerra 1
Revolução de Mundial 1
1848 (França) 1
V 1
1789
Fim da transição
/is
1850
1900
Expansão
1900
Expanção.
colonial
1945
China
• Importação de trigo lugus/ávia
pré capitalista colonial Leste Europeu
e matérias-primas
- Divisão mun-
dial do trabalho
91
90
4) As ondas longas e a ação "progressivamente minada" da lei ,VI- As ondas longas e as revoluções tecnológicas
do valor .
Após a visualização global das ondas longas e de s':u~ diferentes A relação entre as ondas longas e as revoluções tecnológicas é
períodos, é importante observar a vinculação entre as di~untas ondas praticamente Ullânime. A polêmica existe em tomo do papel das
e as diferentes formas de operação da lei do valor (que fot api:esentada mudanças radicais na tecnologia na deflagração da nova onda (ou
na Parte I deste capítulo - A lei do valor e o progresso técruco).. novo "ciclo Kondratieff'): há várias correntes de interpretação que
A discussão da Parte I buscou apresentar as diferentes maneiras apontam wn completo automatismo no ciclo longo, definindo que a
de atuar da lei do valor acompanhando os períodos indi~ados pelas depressão determina o aparecimento de inovações tecnológica e que
várias ondas longas. Assim, nas duas primeiras ondas, a lei ?perai:á de estas determinam'a superação da depressão e o início da expansão.Na
uma maneira mais livre, na medida em que a economia. é amda nossa discussão sobre as ondas longas e a taxa de lucro buscamos
predominante regida pela "livre-concorrência". Na t':rcem~ ~nda polemizar com as visões "tecnologicamente detenninistas", atribu-
longa, com o avanço do capitalismo em dir~ção à sua fase tmpenalista, indo às revoluções tecnológicas um papel chave, porém, subordinado
a ação dos monopólios minará bastante a lei do valo;. E na quarta onda aos movimentos da causa das ondas longas.
longa, na fase do capitalismo tardio, com a amp~açã? da. ação dos Essa polêmica é extensa e viva, mas não é o nosso objetivo
monopólios (que ganham a característica de multinaetomus), c~m .ª desenvolvê-la aqui. Para os objetivos deste trabalho, é necessário
crescente intervenção do Estado na economia, com a crescente limi- apenas apontar a relação global entre os movimentos longos e as
tação da ação das "forças do mercado", o bloqueio da lei do valor se mudanças radicais e generalizadas da base tecnológica da produção:
desenvolve muito. essas mudanças radicais, as revoluções tecnológicas são indispensáveis
Essa observação é importante para anotar as difemças ~ntre cad~ para a determinação do patamar tecnológico internacional (patamar
onda. Discutimos neste capítulo não só a operação dif:renciada da lei tecnológico que, como veremos no próximo capítulo, se apresentará
do valor (relacionada com estruturas d~ mercado <!iferentes), mas como dado para os países dependentes). As revoluções tecnológicas
também as diferenças relativas à orgaruzação e ao mstrum_ental do estão na origem do estabelecimento dos "novos sistemas tecnológi-
trabalho. No próximo capítulo tentaremos deta~a; as. diferentes cos" que se relacionam com as ondas longas, como vimos no item
articulações do mercado mundial. Cada onda é uruc~, !rrepe~vel. IV.3. Julgaremos perfeitamente possível a integração das contribuições
Adicionando-se os fatores extra-económicos, tão essenc1a1s ~a virada de Freeman com as de Mandei.
da depressão para a expansão, conheceremos também diferentes Como foi visto na periodização das ondas longas, cada onda se
aspectos políticos em cada período. Cada onda tem a sua marca, relaciona com uma revolução tecnológica (com exceção da primeira,
reconhecível, típica. . que se articula com a própria revolução industrial). Essas revoluções
Labini, por exem pio, critica Schumpeter um pouco por isso. Em significam uma profunda mudança da base tecnológica da produção
seu estudo sobre Oligopólio e progresso técnico, ele afinna que capitalista, indicando que se o modo de produção capitalista existe
Schumpeter raciocina muito nas condições d? capitalismo conco;IBn· com a condição de revolucionar pennanentemente a sua base produ-
eia!, onde o empresário inovador atuaria efetivamente ..Nas condições tiva, isto não se dá de uma maneira homogênea: essas revoluções
do capitalismo dos trustes, a coisa não é bem assim: a º?da de também têm seus altos e baixos, sua dinâmica, sua maneira desigual
inovações detonada pelo empresário empreend~dor que é segw?~ por de se processar.
wn enxame de imitadores pode não ocorrer, pois os recursos exigidos Uma revolução tecnológica tem um aspecto global, atingindo-no
para se bancar wn salto tecnológico ~ã? mai?res e m~itas vezes só mínimo - os principais ramos da produção económica e/ou criando
acessíveis a uma grande em presa. Labiru questiona, asstm, a operação novos. As modificações devem atingir as máquinas (tanto as máqui-
do ciclo tal qual apontada por Schumpeter dada a transição~ uma f~se nas motrizes, as de transmissão e as máquinas-ferramentas) ini-
não mais concorrencial do capitalismo. E um rico debate, Ilustrativo cialmente, propagando-se posterionnente aos demais setores da pro-
da especificidade e da particularidade de cada onda longa (48). dução e da atividade económica (transportes, comunicações, serviços
92
etc). . . • . d- modificações nas condições da acumulação de capital, nas
Para que haja essa revolução, é necessáno a eXIsli:ncia de um expectativas de lucro e uma expansão de mercado previsível, que
estoque de inventos ainda não utilizados (mas em condições de ser justifiquem gastos massivos para as inovações radicais;
aplicado na produção): e este estoque não existirá sem progressos na e- efeitos combinados da implementação das inovações radicais,
ciência. Mas, como isso se dá? elevando as taxas de lucro e acelerando o crescimento econômico
(acumulação de capital), que lançam a revolução tecnológica no
1) As condições sucessivas para a eclosão da revolução sentido real do termo" (39).
tecnológica . . Essa síntese precisa a distinção entre a ocorrência da invenção e
Os movimentos da acumulação de capital também intervirão na de sua aplicação à produção (inovação). O trabalho de Mensch (citado
dinâmica da ciência (de uma maneira mais direta na aplicada do que por Mandei) traz interessantes dados sobre outra distinção. Mensch
na básica) e no próprio ritmo das invenções. Há evidências empíricas constatou evidências de "cachos" de inovações básicas ocorrendo
desse movimento (37) e uma extensa discussão da articulação entre as durante os anos de 1820, 1880 e 1930 (durante as ondas depressivas).
ondas longas e as invenções e as inovações. · Os gastos para as primeiras aplicações massivas disso só ocorreriam
Kleinknecht, por exemplo, concluirá um estudo indicando que dez anos depois, após a virada para onda expansiva.
" ... durante os tempos de prosperidade alguns projetos de inovação Uma observação final deve ser feita: a maneira como o estoque de
semi-acabados serão annazenados; nos períodos de crise, poderá &:r invenções será desenvolvido, ficando à disposição do capital para a
interessante reassumir o trabalho nesses projetos porque as alternati- sua aplicação à produção pelas várias fases do capitalismo. Ao se
vas de curto prazo não estão atraentes" e " ... que ?ur~te os períodos discutir a "lei do valor e o progresso técnico", buscou-se apresentar as
de alto risco e incerteza, as firmas podem ser rac10nais, ordenando a alterações que se processam nessa dinâmica. A transição de uma fase
seus departamentos de pesquisa & desenvolvimento iniciar projetos de operação mais livre da lei do valor à outra onde os monopólios e o
de duração mais longa" (40). Estado a bloqueiam fortemente tem alterações importantes na maneira
É uma hipótese razoável a de que durante os períodos de queda na como a própria atividade científica se dá.
taxa de lucro haja incentivo geral para a redução de ~us~os e que, nessa Na fase inicial do capitalismo, as invenções (que abriam espaço
busca, pesquisas seriam incentivadas para descobnre mventar méto- para as novas tecnologias) vinham de uma maneira mais empírica e
dos que façam esses cortes nos custos. Já durante os períodos de pragmática: a experimentação dos artesões somadas a séculos de
prosperidade há a atmosfera para os g:andes inve_stim~ntos que experiências dos cientistas naturais criavam a base para os avanços na
aplicarão os inventos desenvolvidos antenormente. D1~cuundo esses . tecnologia. Numa fase posterior, a contribuição dos artesões é mais
movimentos, Mandei apontará que " ... pode-se co?cluir q~e h~ uma indireta: o trabalho vai ficando mais mecanizado e há a intervenção da
alteração rítmica entre a intensificação das pe~quisas ~ o ~cio das observação experimental dos engenheiros.
inovações básicas (durante a onda longa depresSIva) e~ ID\~ns1ficação Será no período entre as duas guerras que uma tendência histórica
das inovações radicais (durante a onda longa expansiva) (38) .. do capitalismo começou a se realizar integralmente: à da transfor-
Pesquisando a relação entre os cachos de invenções e o non.o mação do trabalho científico em um trabalho diretamente assalariado
longo da acumulação (discutindo o trabalho de Mensch Stalemate m pelo capital, desenvolvendo vínculos diretos entre o progresso cientifico
tecnology), Mandei apresentará uma tentativa de sínte~e do que e a emergência de novas tecnologias.
seriam as condições sucessivas para a revolução tecnológica:
a- propensão para a ciência pura; . 2) As fases da revolução tecnológica
b-uma ruptura importante nas invenções, levando a um :ºnJu~to Uma vez detonada a revolução tecnológica, a dinâmica do
de invenções fundamentais capazes de mudar toda a tecnologia báSica processo de inovações se dará de acordo com uma certa lógica (que é
da produção; motivo, também de um vivo debate).
c- propensão para a inovação radical; Para compreender essa dinâmica, é necessário distinguir as
94 95
i
inovações básicas e inovações de aperfeiçoamento assim como as produtividade do trabalho acima da média poderão auferir superlucros
inovações de produto e as de processo. (rendas tecnológicas), o que será um motor para a própria renovação
As inovações básicas _são as que caract~rizarão uma verd~deira radical da base tecnológica (ver a parte I deste Capítulo, "A lei do valor
revolução tecnológica, as movações que cnam novos ramos mdus- e o P:Ogresso t~ci_uco"). Já a s:gunda fase da revolução tecnológica,
triais, novos produtos, novos processo de produção. As inovações de ?ª
l?Calizada nas ~zinhanças v1r~da da onda de expassiv a para depres-
aperfeiçoamento pressupõem uma base tecnológica dada, sobre a qual siva, se caractenzará pelos mvestírn entos de racionalização e pela vul-
algumas mudanças menores (que não alterem essa base tecnológica) garização das inovações.
se darão. Em geral, elas estarão relacionadas com fases onde a busca Tendo ocorrido um largo processo de generalização da nova base
dos cortes nos custos é uma motivação. técnica, o valor social d~-mercadorias passará a ser detenninado pelas
o esquema de Mensch, embora extremamente det_enninista, empresas que estão utthzando a nova base técnica, o que leva ao
mostra essa sucessão. Nele, durante a depressão a economia se toma desaparecimento das rendas tecnológicas. (43) :
estruturalmente madura para as inovações básicas ocorrerem em
enxames (ou cachos). Após a ocorrência desses exames de inovações _3) Revoluções tecnológicas, sistemas de máquinas e organi-
básicas haverá a difusão das inovações de aperfeiçoamento (que, na zaçao do processo de trabalho
análise de Mensch, levarão a economia para ciclos de crescimento). Já foi vista na parte II deste Capítulo ("A organização do trabalho
Assim que as inovações de aperfeiçoamento são "truncadas" por e o progresso técnico") as mudanças e o relacionamento existente
meras pseudo-invenções, o ciclo de crescimento se descelera (41). entre o instrumental de trabalho e a organização do trabalho. É
Já o estudo de Van Duijn buscará articular os ciclos de inovação necessário agora relacionar essas alterações com as várias fases da
(inovation /ife cyc/es) com as fases da onda longa. Apresentará uma onda longa.
tabela interessante, relacionando a propensão à inovação com as fases Cada revolução tecnológica leva a um detenninado sistema de
da onda:(42) máquinas. Voltando à periodização das várias ondas longas, pode-se
situar 4 sistemas distintos:
Tipo de depressão recuperação prosperidade recessão · a- máquinas à vapor, operadas por operários especializados e
inovação produzidas artesanalmente;
b- máquinas movidas por motor à vapor e produzidas por máqui-
inovação de produto + ++++ ++ + nas (industrialmente);
(novas indústrias) c- linha de montagem, movida por motor elétrico;
inovação de produto +++ +++ + + d- produção de fluxo contínuo, integrado por sistemas semi-
(indústrias existentes) automáticos (viabilizados pela eletrónica).
inovações de processo +++ + ++ ++ Cada sistema de máquinas se articulará com uma detenninada
(indústrias existentes) organização do trabalho: uma vez estabelecido um novo sistema, a
inovações de processo + ++ +++ ++ organização do trablho deverá ser adequada a ele. Uma vez es-
(setores básicos)(*) tabelecida essa nova articulação, acompanhando o ritino cíclico da
dinâmica económica e sua relação com a luta de classes, chegará o
OBS: (*) setores como aço, refino de óleo etc. momento onde o capital tentará reorganizar o processo de trabalho,
buscando fundamentalmente a sua intensificação (uma maneira de
Mande! dividirá a revolução tecnológica em duas fases. Na fazer crescer a taxa de mais-valia).
primeira, a elevação massiva dos investimentos será responsável por ~ur3:1te a fase expansiva da onda longa, ter-se-á a mudança do
ela. Aqui, dada a detenninação do valor social das mercadorias pelas maqumáno: nessa fase - dada a elevação da taxa de lucro - não é tão
finnas de composição orgânica mais baixa, as empresas que têm uma urgente para a burguesia mudar o processo de trabalho para além do
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___.......________
requerido pela a nova base técnica.
Já durante a fase depressiva, com a passagem da predominância Notas do Capítulo I / Quarta Parte
dos fatores que levam à queda da taxa de lucro (inclusive com o
esgotamento dos "su perlucros tecnológicos"), há um grande incentivo (1) Marx e Engels, Manifesto do Partido Comunista (Textos, vol II,
para mudanças profundas no processo de trabalho, conseguindo com pág.26)
a sua intensificação uma contribuição para a elevação da mais-valia. (2) Marx, Teorias da mais-valia, vol III pág.933
Como foi visto na parte II, também, há a necessidade dos capitalistas (3) Mandei, La Crise 1974/82, pág.37 e 214
quebrarem a capacidade de resistência dos trabalhadores com as (4) Estey, John A., Tratado sobre los ciclos economicos, pág.24/5
mudanças no processo de trabalho, na medida em que essa capacidade (5) Mandei, A formação do pensamento econômico de Karl Marx,
deverá ter se desenvolvido muito durante a fase expansiva da onda pág.79/80
(quando o movimento operário terá aprendido a lutar nas novas (6) Marx, O Capital, vol II, pág.194
condições de produção). A generalização das modificações na organi- (7) Mandei, idem, pág.SI
zação do trabalho se dará durante a fase depressiva da onda, embora (8) Rosdolsky, Genesis y estructura de El Capital de Marx, pág 501
durante a fase expansiva sejam realizados os experimentos básicos (9) Marx. idem, pág.528
que darão origem a essa "revolução" na organização do trabalho. (10) idem, pág.499
Evidentemente essa revolução na organização do processo do (11) Rosdolsky, idem, pág.525
trabalho pode abrir espaço para inovações técnicas impo_rtantes, sendo (12) idem, pág.553
uma espécie de base para uína próxima revolução no sistema de (13) idem, pág.553
máquinas. (um exemplo disso é a hlpótese sobre a relação entre o (14) idem, pág.543
taylorismoe a automação micro-eletrónica nas indústrias de produção (15) Marx, idem, pág.178
em série, apresentada na parte II deste capítulo). (16) idem, pág.194
Finalmente, uma rápida observação sobre a questão do emprego. (17) Rosdolsky, idem, pág.554
Freeman observará que" ... no início de uma fase de boom da onda, a (18) Marx, idem, pág.554
ênfase será na rápida expansão de novas capacidades para conseguir (19) Mandei, Tratado de economia marxista, pág.326/335
uma boa porção do mercado: este investimento tem um forte impacto (20) Rosier, Bernard, Les théories des crises économiques, pág.25
positivo na geração de novos empregos. Com o amadurecimentos das (21) citado por Mandei em Capitalismo Tardio, pág.87/8
novas indústrias e da tecnologia, as economias de escala são incenti- (22) Veria, Catherine, Régularités et crises du capitalisme, pág.17
vadas e há uma pressão para mudar para inovações que representem (23) citado por Rosdolsky, op cit, pág.421
economias de custo nos processos tecnológicos. Aumenta a intensi- (24) Rosdolsky, idem, pág.554
dade de capital e o crescimento do emprego diminui ou mesmo pára" (25) Mandei, Explaining the long waves of capitalist development
(49). Segundo o autor, esse padrão se encaixa bem no que se deu no (capítulo 14 da coletânea organizada porC. Freeman, Long Waves in the
período posterior à Segunda Guerra Mundial nos países da Europa world economy, pág.195)
Ocidental e EUA. (26) Na lista podem ser citados: Freeman, Long Waves in the world
economy, 1983; Rosier, Les théories des crises économiqnes (onde são
citados vários encontros e colóquios internacionais sobre o tema); Coriat e
Boyer, num artigo traduzido pela revista do Cebrap.(Novos Estudos nº
12) O Retorno de Schum peter, citarão uma extensa bibliografia
(27) Delbeke, Joe, Recent long-wave theories - a criticai survey, in
Freeman, op cit,pág.1/12
(28) Rosier, Bernard, idem, pág.91
(29) Mandei, Explaining the long waves of capitalist development,
98
pág.198
1
(30) Mandei, idem, pág.198 ,CAPÍTULO Il: ~ AÇÃO DAS FO~ÇAS MOTRIZES DO
(31) Mandei, Long waves of capitalist development, pág.21/2 PROGRESSO TECNICO NOS PAISES DEPENDENTES
(32) Mandei, idem, pág.22/23 e 105
(33) Mandei, O capitalismo tardio, pág.83/4
(34) Veria, idem, pág.17/8
(35) Veria, idem, pág.13 (com ligeiras modificações, especialmente a
que identifica os anos 1973n4 como ponto de virada da quarta onda longa,
colocando assim 1968 como parte da fase expansiva da onda)
(36) Singer, Paul, na Apresentação da edição brasileira de O capital-
ismo tardio, pág.xvii
(37) Freeman, idem, cap. 3, 4, 5 e 6
(38) Mandei, Long waves of capitalist development, pág.40 O Brasil não faz parte do conjunto dos países que detenninam a
(39) Mandei, idem, pág.42 dinâmica do capitalismo mundial, expressa nas ondas longas anali-
(40) Kleinknecht, A, Observations on the schumpeterian swarming sadas no capítulo anterior. Pornão participar deste conjunto, as forças
of innovations , in Freeman, op cit, capág.4, pág.59 motrizes do progresso técnico atuarão aqui de uma fonna específica,
(41) Mensch, G e colaboradores, Changing capital values and the diferenciada em relação à analisada nos países capitalistas avançados.
propensity to innovate, in Freeman, op cit, capág.4, pág.31 Por que há essa diferença, como as ondas longas impõem sua
(42) van Duijin, J, Flutuations in innovatios over time, in Freeman, dinâmica aos países dependentes e, a partir daí, as características
op cit, cap. 3, pág.19 essenciais da relação entre esses países e o patamar tecnológico
(43) Mandei, Long waves of capitalist development, pág. 25/6 e internacional: essas as questões que se busca responderneste capítulo.
57/9
(44) Mandei, idem, pág.43/8 1- A especificidade da acumulação nos países dependentes
(45) Freeman, C. e colaboradores, Unemployment and Technical
Innovation, pág.65 A discussão do capítulo anterior nos mostrou as pennanentes
(46) Freeman, idem, pág.!01
mudanças de liderança no desenvolvimento capitalista mundial. Muitos
(47) idem,pág.124 países antes atrasados chegaram à vanguarda tecnológica em uma fase
(48) Labini, Oligopólio e Progresso Técnico, pág.152/3
posterior. Os processos de industrialização estão longe de serem
(49) Freeman, idem, pág.21 sincrónicos. Conhecemos na história inúmeros casos de industriali-
zações retardatárias de países que mais tarde vieram a conhecer
posições de liderança na ordem internacional: o Japão e a Alemanha
são dois exemplos bem ilustrativos.
O atraso nos processos de industrialização não significa, por-
tanto, uma automática condenação à pennanente ausência de um
seleto clube de países que dão o tom do sistema capitalista mundial.
Nem todo país que se desenvolveu industrialmente com atraso se
transfonnou em país dependente. Mas nenhum país dependente
conseguiu se tomar membro do clube dos mais industrializados, dos
que estabelecem a dinâmica do desenvolvimento industrial.
Uma ilustração interessante do papel da subordinação aos países
100 101
capitalistas centrais na gênese do "subdesenvolvimento" é a com-
paração entre o Japão e a China. Em vastas fases de sua milenar
1 , Ao lado dessa dilapidação, há um contraste decorrente do atraso
do desenvolvimento capitalista nacional e a situação internacional: os
história, a China esteve adiante do Japão, chegando durante a fase final recursos existentes no país conheciam alternativas de aplicação exter-
da Idade Média a ter um "avanço global e decisivo no campo nas, contribuindo para retardar a existência de condições nacionais
tecnológico sobre o ocidente" (1). No entanto, na transição ao capita- para o processo de acumulação capitalista. Tudo isso determinou um
lismo, o Japão, embora sob o impacto da ação das potências ociden- problema para a acumulação de capital: a dificuldade para ser al-
tais, conseguiu preservar a sua independência e se distanciar do sub- cançado um montante de capitais mínimo que viabilizasse a realização
desenvolvimento. Já na China, em meados do século XIX a "expansão de investimentos produtivos.
imperialista européia começou a atacar o comércio e as manufaturas A incipiência e a insuficiência de capitais é, então, uma decorrência
tradicionais chinesas" (2), inicialmente por meios comerciais e depois da situação da espoliação nacional, de dependência económica. O
por meios militares. A derrota militar da China foi um exem pio usado controle direto ou indireto da economia nacional pelas potências
pelo representante americano no Japão para conseguir dos japoneses imperialistas impõe restrições à superação desta incipiência.
concessões em termos de comércio: aqui o contato com o capital O caráter retardatário destes países e sua relação com a insufi-
terminou sendo "negociado". A pressão do imperialismo sobre o ciência da acumulação de capitais não pode ser vista de uma maneira
Japão foi uma das marcas de sua transição ao capitalismo: ela se deu estática. Afinal, o desenvolvimento nos países capitalistas mais
impulsionada por fatores exógenos, que galvanizaram as condições avançados não cessa: muitas vezes um determinado país atinge um
herdadas do período anterior para transformá-las. certo porte de acumulação de capitais em um momento que esse
A diferença essencial está no fato de no caso do Japão a inde- montante já não é mais tão significativo, se comparado com o padrão
pendência ter sido preservada, enquanto na China ela foi quebrada. Por vigente nos países avançados. Quando se atinge, por exemplo, o nível
isso um país conseguiu avançar em termos de desenvolvimento de acumulação típico da fase das pequenas empresas nos países
capitalista e o outro foi condenado ao subdesenvolvimento. Tratando atrasados, já terão os países avançados centralizado e concentrado
do desenvolvimento industrial japonês desde 1868, André Gunder seus capitais em grandes empresas.
Frank o atribui ao "status não colonial e independente do Japão" (4). Essas características estruturais apontam para alguns elementos
Mais adiante n;ssaltará que "a única área importante na Ásia, e centrais para a compreensão do processo de acumulação nos países
certamente na Africa e na América Latina ... (que) ... foi capaz de dependentes: em primeiro lugar é um processo subordinado a uma
empreender um desenvolvimento capitalista próprio foi o Japão" (5). dinâmica exógena, que impõe uma determinada divisão internacional
A causa central da especificidade do processo de acwriulação dos do trabalho e define a inserção das economias nacionais; em segundo
palses "subdesenvolvidos" é o seu passado colonial: esses países l~gar é um processo de acumulação estruturalmente limitado, dada a
financiaram o processo de "acumulação primitiva" dos países cen- dificuldade de superação das debilidades da capacidade nacional de
trais. Para Marx,".,. as descobertas de ouro e de prata na América, o financiamento, no longo prazo, do desenvolvimento económico. e
extermínio, a escravização das populações indígenas, forçadas a industrial.
~rabalhar no interior das minas, o início da conquista e da pilhagem das Em termos da lei do valor, estamos tratando de llliI conjunto de
Indias Orientais e a transformação da África num vasto campo de países que sofrem os impactos das "ondas da lei do valor mundial"
caçada lucrativa são os acontecimentos que marcam os albores da era (expressão usada por Preobrajensky). Assim,. além .de 'portar as
da produção capitalista. Esses processos idílicos são fatores funda- características típicas da sua maneira de operar nos países avançados,
mentais da acumulação primitiva". Mais adiante ele acrescenta que" ... como discutimos no capítulo anterior, ela terá uma característica a
as riquezas apresadas fora da Europa pela pilhagem, escravização e mais nos países dependentes: ela operará de uma maneira "distorcida"
massacre refluíam para a metrópole onde se transformavam em pelo impacto sofrido nas fronteiras de uma economia nacional distinta
capital" (6). Essa dilapidação de recursos nacionais deixou marcas das que geraram a "onda".
históricas nos países dependentes. Até aqui discutimos o processo de inovação tecnológica como
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uma consequência do processo de acumulação, até certo ponto espe-
l m,os multiplos esclarecimentos para a dinâmica da difusão do pro-
lhando as suas características essenciais. Um processo de acumulação gresso técnico nos países dependentes.
dependente com as especificidades aqui apontadas terá também
características similares na dinâmica das inovações. Ao mesmo 1) As mudanças na estrutura do mercado mundial
tempo, a maneira como a lei do valor opera (a partir das suas "ondas Assim como cada onda longa tem uma estrutura de empresas e um
mundiais") também nos indica como o progresso tecnológico se padrão de concorrência típicos, uma base tecnológica predominante e
comportará. Quais são, portanto, as questões centrais para a pesquisa uma forma específica de operação da lei do valor, cada onda conhecerá
da dinâmica do progresso tecnológico nos países dependentes? Em uma forma mais ou menos típica de articulação do mercado mundial,
primeiro lugar, os países dependentes se defrontam com um patamar uma determinada divisão internacional do trabalho. Caracterizá-las
tecnológico internacional dado, definido pelos países capitalistas com precisão é uma questão complexa. O que será tentado aqui é a
avançados. Em segundo - uma decorrência imediata - os países de definição de características essenciais, centrais, de cada fase e a
acumulação dependente conhecem uma realidade de atraso tecnológico percepção das mudanças mais gerais.
permanente. Em terceiro lugar, as forças motrizes do progresso Como já vimos, no início do capitalismo as colónias financiaram,
técnico atuarão de uma forma indireta; mediada, mitigada. E, em pela pilhagem de suas riquezas e matérias primas, a acumulação
quarto lugar, considerando que o progresso técnico se gesta, se cria, primitiva. Para Marx," os diferentes meios propulsores da acumulação
nos países avançados e que apenas se propaga, se difunde, nos países primitiva se repartem numa ordem mais ou menos cronológica por
dependentes, oobjetoda pesquisa será não mais a lógica de sua criação diferentes países, principalmente Espanha, Portugal, Holanda, França
mas sim a lógica de sua difusão. e Inglaterra". Ao falar sobre a colonização holandesa ele considerará
Definidos estes pontos, devemos discutir a partir da dinâmica das a Holanda como a "nação capitalista modelar do século XVII" (7). Há
ondas longas as possíveis interações e articulações que elas es- no período colonial a formação de grandes sociedades comerciais que
tabelecem para a determinação da difusão das inovações tecnológicas monopolizavam o comércio de produtos (e essas sociedades eram
nos países dependentes. poderosas alavancas de concentração de capital) e " ... as colónias
asseguravam mercado às manufaturas em expansão e, graças ao
II- As ondas longas e os países dependentes monopólio, uma acumulação acelerada" (8).
É digno de nota que mesmo neste longo período de gênese da
O capitalismo começou a se desenvolver a partir do preenchimento ordem capitalista houve a ocorrência de "exportação de capitais".
de um pré-requisito essencial: o surgimento do mercado mundial. O Durante o século XVI, por exemplo, Caio Prado Junior fala que" ...
desenvolvimento do sistema impôs mudanças substanciais na estru- somas relativamente grandes foram despendidas nestas primeiras
tura deste mercado, sempre determinadas pela dinâmica das metrópoles. empresas colonizadoras do Brasil. Os donatários, que em regra não
A estrutura do mercado mundial vai se tornando mais complexa, com dispunham de grandes recursos próprios, levantaram fundos tanto em
uma sofisticação crescente da divisão internacional do trabalho. Nesta Portugal como na Holanda ... A perspectiva principal do negócio está
sofisticação da divisão de trabalho, papéis diferentes vão sendo na cultura da cana de açúcar" (9).
atribuídos aos _países coloniais, aos países dependentes. O próprio Assim, ao lado do que era o mais típico desta fase pré-capitalista
subconjunto dos países dependentes se toma mais diferenciado. - a pilhagem das riquezas das colónias - encontramos elementos da
Por outro lado, as ondas longas têm em sua detonação a ocorrência exportação de mercadorias e mesmo de capitais pelas metrópoles.
de revoluções tecnológicas que estabelecem o patamar tecnológico Nas duas primeiras ondas longas (1789-1900), há uma mudança
internacional de cada etapa. Esse patamar é diferente em cada onda e do papel dos países atrasados que passam a ser predominantemente
tem relações também diferentes com os países dependentes. exportadores de matérias-primas e de meios de subsistência. Este
Da discussão da evolução da estrutura do mercado mundial e das papel predominante é compreensível na lógica da acumulação ditada
diferenciações dos vários patamares tecnológicos internacionais trare- pelas grandes metrópoles pois cumprem uma função de baratear
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r
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várias correntes e instituições que têm como campo a economia são que pode ser mais ou menos bem sucedida em razão de fatores
mundial. políticos, sociais e de relação com o próprio imperialismo; existem as
Até mesmo o FMI fará uma divisão rudimentar: identifica os consequências da estagnação em um país dependente (não necessa-
países de "renda média" (Brasil, México e Argentina), às vezes riamente uma regressão) que o leva a se afastar do patamar dos países
tratando-os de "países-não-tão-pobres"; e os países de "baixa renda" centrais dado o avanço nos últimos (o "fosso" aumenta af). Mais
(países da África Sub-Saariana, como o Sudão, Zaire, Kênia) (18). adiante veremos a dinâmica da renovação da dependência. Evidente-
Mandei, avaliando as mudanças dos últimos vinte anos, as mente essa dinâmica só pode ser compreendida a partir da constatação
alterações da inserção dos países atrasados na ordem capitalista das mudanças estruturais que Mandei indica.
internacional, considerará que se tratam de mudanças quantitativas e Nesta linha de raciocínio, Pierre Rousset, discutindo a diversi-
qualitativas, e proporá uma nova subdivisão entre os "países subde- dade das formações sociais do terceiro mundo, proporá uma divisão
senvolvidos": "na categoria geral dos países dominados pelo imperia- mais complexa: um primeiro subconjunto seria composto pelos países
lismo, uma subdivisão deve ser feita entre os países semi-industriali- mais atrasados (que não estariam sequer"maduros"para um processo
zadose os países semi-coloniais no sentido tradicional do termo" (19). de revolução permanente); um segundo composto pelos países depen-
Justificando essa subdivisão, o autor apontará o que mudou e o dentes, agora divididos em duas categorias como proposto por Mandei
que não mudou nesta relação entre esse novo subconjunto e os países (os semi-industrializados e os semi-coloniais clássicos) (21).
imperialistas. Como novidade, indicará o peso preponderante da Partindo de um outro horizonte teórico, em um trabalho do
indústria na atividade económica, o peso do proletariado (urbano e "Centre d'Estudes Prospectives et d'Informations lntemationales",
rural) no conjunto da população economicamente ativa, o significado intitulado Produção e comércio de bens manufaturados: quais
das exportações de produtos industrializados em seu comércio exte- mudanças no mapa mundial, Brigitte Jousselin terá uma visão
rior, uma renda per capita dez vezes maior que a dos países mais próxima, sugerindo que "entre os países do Sul, os modos de inserção
pobres. Entretanto, continua existindo a dominação financeira, a são bem diferenciados e se distinguem três categorias de países"; I) os
dependência tecnológica, as relações subordinadas no plano di- países importadores de produtos manufaturados e que praticaIJlente
plomático e militar, a persistência da questão agrária etc. Na categoria não os exportam: todos os países da OPEP, o Oriente Médio e a Africa
de países semi-industrializados dependentes, Mandei incluirá países do Norte não-OPEP cujas importações dependem das rendas da ex-
como o Brasil, México, Argentinà, Coréia do Sul, Taiwan, SingJlpura portação); 2) países exportadores de matérias primas diferentes do
(como casos transitórios, com uma posição à parte, colocará a Africa petróleo, são países que "melhoram regularmente sua inserção inter-
do Sul, Egito, Índia, os países exportadores de petróleo). nacional, quer dizer, mostram uma capacidade crescente a satisfazer
Debatendo com essa caracterização, o marxista mexicano Sérgio sua demanda interior e começam a exportar produtos manufaturados":
Rodriguez questionará uma formulação de Mandei sobre a irreversi- Austrália, África do Sul, países não-petroleiros da América Latina,
bilidade desta semi-industrialização. Rodriguez diagnosticará uma Ásia; 3) países que são exportadores de produtos manufaturados:
situação de "regressão económica e social no México", e no interior Brasil e os países da Ásia "em rápido desenvolvimento" (22).
de um processo geral de reconversão (que o autor diferencia de Mais do que precisar qual a melhor categorização, o essencial está
modernização), em particular a partir da estratégia das multinacionais, na própria complexidade das questões suscitadas pelas características
verá uma " .. .lenta transformação de um país semi-colonial e semi- centrais do desenvolvimento do mercado mundial imposto durante a
industrializado em um país semi-colonial de fábricas de montagem". sua quarta onda longa: a diversificação dos países dependentes é
De fato, a irreversibilidade não é um dado. A crise atual demons- indiscutível. Percepção global importantíssima para se evitar qualquer
tra a possibilidade de verdadeiros "sucateamentos" de indústrias impressionismo acerca de um desenvolvimento nacional vultoso
nacionais no terceiro mundo. Há uma dinâmica que deve ser melhor possibilitado nesta fase. Ao mesmo tempo, nos fornece uma visão das
pesquisada: existe a pressão interna, das classes dominantes nacionais potencialidades e dos limites do desenvolvimento nos países depen-
no sentido de defenderem as posições industriais conquistadas, pres- dentes, tanto do ponto de vista de sua dinâmica como de sua estrutura.
11 O 111
2) Os diferentes patamares tecnológicos e a "apropriação" tinham um peso maior das inovações de produto (automóveis, tele-
das inovações fones, rádios etc.), elas eram " ... de várias maneiras mais facilmente
Cada onda longa, a partir das revoluções tecnológicas que estão 'apropriáveis': geraram um rápido aumento da produção nos países
em sua detonação, estabelece um patamar tecnológico internacional inovadores, e criaram por todo o mundo novas demandas dadas as
diferente. Isto foi exaustivamente exposto e discutido aqui. Agora mereadorias existentes" (25). Sendo mais "apropriáveis", essas novas
d~ve ser ressaltado que a dinâmica das mudanças não está apenas nos tecnologias se difundiram menos do que as dos Kondratievs preceden-
diferentes patamares; as tecnologias típicas de cada patamar se tes. O aumento do peso do conhecimento científico contido nessas
dif~renciarão quanto às suas possibilidades de difusão, em função das inovações é uma das razões desta maior apropriabilidade.
vanações das respectivas "apropriabilidades". A existência simultânea de tecnologias mais complexas, de maior
Uma determinada tecnologia é "apropriável" porum país inova- "apropriabilidade" e, portanto, demenorfacilidade para se difundir ao
dor quando ele é bem sucedido na manutenção do conhecimento lado das tecnologias antigas (típicas de patamares tecnológicos de
técnico em suas fronteiras, impedindo a sua "livre" difusão pelos ondas passadas), abre condições para um cenário internacional mais
outros países não-inovadores. O grau deste controle mede a dimensão diversificado. E o exposto por Freeman: " ... o crescimento econômico
da "apropriabilidade" de uma dada tecnologia (23). mundial durante a fase ascendente do terceiro Kondratiev foi rápido.
Freeman monta um interessantíssimo quadro histórico a esse A sua causa principal não foi a difusão internacional de algumas das
respeito. Lembrando da "simplicidade" (engenhosa) das tecnologias tecnologias principais do terceiro Kondratiev, mas a crescente inter-
da revolução industrial (associada ao primeiro Kondratiev), mostra dependência da economia internacional com o crescimento das expor-
como a difusão destas tecnologias se deu pela emigração de técnicos tações de matérias-primas e das importações de manufaturados nos
e empresários ingleses (que se estabeleceram inicialmente na Bélgica países periféricos ... ou a tardia difusão de algumas das principais
e na França, mais tarde criando subsidiárias na Alemanha e na Rússia). tecnologias dos dois primeiros Kondratievs em alguns países de
O governo inglês chegou a " ... proibir tanto a emigração de industrialização retardatária" (25).
trabalhadores qualificados como toda exportação de máquinas para Para as tecnologias principais da quarta onda longa, discutiremos
conservar com a indústria britânica o monopólio sobre as novas no capítulo IV as características essenciais da microeletrõnica. Não há
técnicas. Sabe-se que neste mesmo período os industriais franceses, como negar que a "apropriabilidade" cresce na presente onda.
senão os poderes públicos, esforçavam-se para aliciar trabalhadores Analisando os diferentes patamares tecnológicos, é possível
ingleses ou para procurar clandestinamente desenhos das máquinas" deduzir que a dinâmica em relação à sua difusão é a da crescente
(56). "apropriação", é a do crescente controle - pelos países e, acrescente-
Além da simplicidade das novas tecnologias de então, elas eram se, pelas firmas - da inovação, de sua difusão. Isto é devido ao fato do
basicamente "inovações de processo" (tratavam da produção ou do progresso tecnológico estar ainda sendo realizado sob a égide da
t~ansporte de bens já existentes como ferro, têxteis etc.) Daí a concorrência (entre nações e grandes empresas) e não sob o impulso
dificuldade da Inglaterra em se "apropriar" delas. Em uma observação da livre cooperação.
bastante útil para o objeto deste capítulo, Freeman cita um estudo que O acesso dos países dependentes ao patamar tecnológico inter-
mostra q~e aq~elas inovaçõ~s poderiam se difundir para" ... qualquer na~ion~, dada a crescente "apropriabilidade" das tecnologias princi-
país 9ue Já e~ti~esse pr?duz1:1do ferro, têx\eis ou roupas ... - seja ela pais, vai se tornando cada vez mais difícil à medida que as ondas
Suécia ou ~ussia, Brasil, China, Japão ou India. Note-se, por exem- longas se sucedem. As estratégias para ter acesso a elas têm de levar
plo, que a India abriu a sua primeira fábrica têxtil moderna na década esse dado em consideração.
de 1850, e seus primeiros trabalhos modernos com ferro nos anos A "apropriação" das novas tecnologias chegou a um ponto tal que
1870" (24). o domínio e a dependência tecnológica são eficazmente administra-
Na segunda onda longa, a situação foi aproximadamente similar. das: é por essa ótica que devemos iniciar qualquer discussão sobre
Já no terceiro Kondratiev, quando as tecnologias principais "transferência de tecnologia".
112 113
1
Tratando das transfonnações que se processaram na economia longa, por exemplo) e elas são predominantemente passivas, desde um
brasileira desde 1930, quando a indústria passa a ser o setor-chave da ponto de vista dos países dependentes.
economia brasileira, Francisco de Oliveira ressalta que a crise dos Já nas fases descendentes, em particular em suas fases mais
anos 30 do capitalismo mundial poderia levar a economia brasileira agudas, o "interesse" dos países centrais em estimular o desen-
tanto à estagnação (como se deu em muitas economias latino-ameri- volvimento da periferia se rebaixa profundamente, chegando mesmo
canas) como ao crescimento. Esta ocorreu porque " ... existiam con- a passar a ocorrer uma verdadeira inversão no fluxo de capitais (como
dições estruturais, intrínsecas, que poderiam alimentar tanto a acumu- na presente crise da dívida externa dos países do Terceiro Mundo).
lação como a fonnação do niercado interno. É claro que estavam à Discutindo as "brechas" para o desenvolvimento dos países
disposição no mercado mundial as técnicas e os bens de capital dependentes, Stephan Hymer mostra o alívio que a concorrência entre
necessários para que se desse, internamente, o salto em direção à grandes grupos oligopolfsticos pode oferecer a eles e lembra que
industrialização. Mas, o que se quer frisar, é o que os atores atuaram " ... como assinala Gunder Frank em sua análise do desenvolvimento
deliberadamente em busca de ampliação e consolidaçí!o de estruturas do subdesenvolvimento, é, ironicamente, nos períodos de cris_e no
capazes de propiciar crescimento" (32). centro que os países subdesenvolvidos conseguem dar os passos mais
Desde então, a expansão do capitalismo no Brasil já não era mais importantes para superar seu desenvolvimento" (34). Freeman vai
"mero reflexo" das condições imperantes no capitalismo mundial, nessa mesma linha, afinnando que " ... mais do que outro aconteci-
sendo possível à economia nacional crescer mesmo em condições mento, a fase depressiva do terceiro Kondratiev, em particular a
desfavoráveis da conjuntura internacional. Discutindo a aceleração da depressão de 1930, lançou luz nas vantagens cruciais do alcançamento
industrialização nos anos de JK (entre J 956/60), Francisco de Oliveira (catching up), da industrialização e da importação de tecnologia; e os
afinnará que " ... é difícil reconhecer uma estratégia do capitalismo perigos de se apoiar excessivamente na exportação de produtos
internacional em relação à aceleração da industrialização brasileira; primários, isto para todos os países que negligenciaram as opor-
foi nas brechas do policentrismo, com a reemergência dos países do tunidades domésticas de desenvolvimento da manufatura durante a
Mercado Comum Europeu e a do Japão, que a estratégia nacional fase ascendente do terceiro Kondratiev" (35). Ele apontará para vários
encontrou viabilidade" (33). países da América Latina a detonação bem sucedida de processos de
A partir da percepção dos elementos ativos e passivos na dinâmica "substituição de importações" durante esse período.
de aproximação dos países dependentes ao patamar tecnológico Mais adiante, ao discutir a fase descendente da presente onda
internacional, é interessante uma tentativa de situar essa dinâmica em longa e os impactos sobre os países recentemente industrializados
relação às "subidas" e "descidas" das ondas longas. (newly industrialized countries), Freeman retoma aquela linha, dizendo
Nas fases ascendentes das ondas longas, a predominãncia da 1 que para eles" ... a fase descendente do Kondratievpode ser vista como
aproximação dos países dependentes é ditada pelos próprios países
centrais, uma vez que é a sua própria expansão económica que está em
• uma pausa benvinda na taxa de avanço da fronteira tecnológica ou da
fronteira da produtividade, abrindo a possibilidade de que eles ve-
jogo: anote-se aqui as consequências nacionais de um processo de nham no futuro a se tomar membros do seleto grupo dos líderes
exportação de capitais (típico da terceira onda longa) e de instalação tecnológicos e económicos" (36).
de subsidiárias de multinacionais (típico da quarta onda longa), ambos Não nos parece ser tão sim pies a questão, na medida em que ela
com forte incidência na fase ascendente da onda. Afinal, é durante a não é apenas tecnológica e o autor parece subestimar o peso da
sua fase ascendente que a estrutura do mercado mundial é moldada e subordinação nacional e da dependência. A fase descendente apre-
a divisão internacional do trabalho rearranjada. senta tanto a pausa no avanço da fronteira tecnológica como o peso da
Nestas fases das ondas longas, os países dependentes conhecerão dominação imperialista sobre os atrasados: os constrangimentos
todas as "novidades" que o novo período imporá à sua participação na externos ao desenvolvimento nacional chegam ao seu ponto máximo,
economia mundial. É um momento onde há alterações importantes na medida em que os países dependentes são chamados a "contribuir"
(vide as mudanças na produção mundial de ferro, na quarta onda para a superação da crise nos países avançados. Qual é a lógica das
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capitalista mundial pode ser "conquistada" e saltos podem ser dados:
polfticas do FMI senão esta? parece estar aqui a diferença fundamental entre a política de um país
Mas, parece evidente que dada a paralisação (pelo menos tem- como a Coréia do Sul e o Brasil. Lá há uma ação tal que até mesmo
porária) da evolução da fronteira tecnológica, oportunidades se abrem produtos típicos da quarta onda longa já são produzidos pelos co-
para os países dependentes: é um momento de uma possível aproxi- reanos (circuitos integrados) enquanto a paralisia do Brasil é notável
mação mais acelerada do patamar tecnológico internacional, é um (como veremos adiante).
momento de se tirar proveito da agudização dos conflitos inter- Nas fases ascendentes, a inserção passiva no mercado mundial
imperialistas típicos desse período para melhorar posicionamentos não descarta a possibilidade de desenvolvimento à escala nacional nos
nacionais. países dependentes. Contudo, a existência de polfticas articuladas,
Todavia, essa melhora só pode ser consequente a uma mudança ativas, possibilita um melhor aproveitamento da expansão da eco-
radical na postura do país dependente: é o momento onde o processo nomia mundial, um melhor posicionamento nacional para o momento
deve ter a predominância de elementos ativos na busca da inserção da reversão da tendência expansiva.
renovada na economia internacional. Seja para se defender da inten- Já nas fases descendentes da onda, a inserção passiva na divisão
sificação da espoliação nacional, seja para disputar um novo papel na internacional do trabalho pode comprometer as possibilidades de
ordem internacional. Deixados a si mesmos, sem uma política ativa, desenvolvimento nacional. A existência da busca de uma inserção
a tendência maior dos países dependentes é a de sofrer intensamente ativa na ordem mundial é quase um pré-requisito para uma aproxi-
a crise e conhecer uma paralisia no seu processo de desenvolvimento mação do patamar internacional. A combinação de uma política
e aproximação do patamar internacional: a pausa na fronteira tecnológi~ ofensiva, ativa de desenvolvimento nacional com a paralisia do
internacional pode ser acompanhada da pausa na retaguarda. Está aqui avanço da fronteira tecnológica internacional, pode abrir espaço para
a explicação de porque é suicida uma política neoliberal em um país significativas aproximações do patamar internacional. O que pode
dependente durante uma fase descendente de uma onda longa! viabilizar a conquista de posições importantes para uma melhor
É verdade que as fases descendentes das ondas longas são participação no próximo ciclo expansivo.
esclarecedoras quanto às limitações dos países dependentes: na ter-
ceira onda longa, pela queda da demanda por matérias-primas e pelas IV- O atraso tecnológico permanente
dificuldades à exportação de mercadorias; na quarta onda, pelas
repercussões de uma recessão na economia norte-americana sobre os A situação de atraso tecnológico permanente, a que estão sub-
países que intensificaram a sua industrialização com um peso grande metidos os países dependentes no interior da ordem capitalista mun-
para as atividades de exportação em direção ao mercado americano. dial, é uma decorrência das características da "acumulação depen-
Em um ou outro momento, a crise colocou dificuldades aos países dente", capaz de viabilizar aproximações do patamar tecnológico
dependentes. Mas essas crises, as longas depressões abrem "fissuras" internacional mas incapaz de alcançar este mesmo patamar.
no centro que se constituem em uma condição necessária porém não O atraso tecnológico permanente é consequência tanto do fato da
suficiente para mudanças na periferia. gestação do progresso tecnológico determinante do patamar inter-
Uma outra questão é decisiva (e se relaciona com o que sugerimos nacional estar presente entre os países capitalistas avançados, como da
no início desta parte): a complexidade da industrialização, das articu- inexistência de condições para a assimilação do conteúdo da fronteira
lações das classes dominantes locais.jogam um papel decisivo para se tecnológica em cada período. Essa distinção é necessária para não
explorar essa situação (evidentemente isso é uma questão t~~'.11 realizar-se uma confusão com os países retardatários não-dependen-
essencial para uma sociedade dirigida pelos trabalhadores, que 1rucia tes: neles, o atraso tecnológico não é permanente (ou melhor, pode não
a sua transição ao socialismo, condição que multiplicará as chances de ser).
aproveitamento destas brechas). É necessária uma ação política coor- O conceito atraso tecnológico permanente só pode ser com-
denada, a articulação de políticas industriais, tecnológicas, financeiras preendido ao se considerar o seu dinamismo. É impossível uma
para o aproveitamento desta situação. Uma inserção ativa na ordem 123
122
compreensão estática deste conceito. Porque ele trata de realidades em
movi1'.1ento constante, pos~ibilidades amplas de novas posições. Dada exterior: isto nos dá wna pista de algumas mudanças, onde o peso do
a movunentação da fronteira_ tecno!ógica, wna movimentação linear, controle das tecnologias cresce mesmo com a existência de um certo
e tomando-a como refe~ênc1a báSica para este conceito, é possível grau de industrialização no Terceiro Mundo.
entende~ porque wna realidade profundamente transformada, altamente Isto é claramente visível na tabela abaixo.
modenuzada se comparada com o seu próprio passado, será consi-
derada atrasada: o referencial que se estabelece não é o passado de wn TABELA li
determinado país dependente, mas o presente da nação líder da
dinâmica capitalista mundial. Distribuição mundial dos gastos de P&D,
To1'.1em~s um exemplo para os dias de hoje: ao mesmo tempo em produto industrial e exportações - em % - 1973
~ue se 1dentlfica uma mudança considerável em wna economia
retardatária que alcançou um.a maturidade industrial em termos de PAÍSES P&D Prod.lnd. Export.
uma indús~ri~ eletrome~ânica, em que se analisa as profundas impli-
cações socuus, econômtcas e políticas de uma alteração deste porte, Desenvolvidos 97,1 92,4 80,7
estaremos comparando-a com a realidade imposta por um patamar Econ."socialistas" 30,6 24,3 1o, 1
agora fundado na microeletrônica e identificando o atraso que perma- Econ.capitalistas 66,5 68,1 70,6
nece. Muda, mas permanece. Essa dinâmica de alteração e per- Em desenvolvimento 02,9 07,6 19,3
manên~a será discutida no próximo ponto, quando trataremos de um
corolán~ de uma economia em evolução num quadro do atraso Fonte: Extraído de Fábio Erber, Desenvolvimento tecnológico e
tecnológico permanente: a renovação da dependência espécie de intervenção do Estado, Rev. Administração Pública, n.4
"outro lado" da permanência do atraso. '
Os l~ites estruturais da acumulação dependente impedem que os Interessante anotar que há, ainda, uma concentração entre os
países seJam gesta~ores de progresso técnico. A persistência dos países capitalistas avançados: entre os países da OCDE, cinco (EUA,
problemas de financiamento do desenvolvimento económico de médio Alemanha, Japão, França e Reino Unido) respondiam " ...por quase
e lon~o prazo m~tém esse_s limites. O avanço continuado das 90% dos gastos totais de P&D e dos gastos em P&D industrial" (36a).
fronteuas tecnológicas, ampliando as exigências para ser atingido Essa concentração atinge os países dependentes, na medida que
cria wna dinâmica infernal nos países dependentes: sempre estarã~ a existência da tecnologia não significa a sua disponibilidade.
chegando a wn lugar de onde os países centrais já estarão saindo. "Um país subdesenvolvido não se defronta com mercados livres
Como essa evolução não é linear e se expressa também na nos quais possa vender mercadorias, comprar tecnologia e tomar
crescente preocupação com o controle das tecnologias modernas emprestado capital. A reserva básica do conhecimento tecnológico,
(cre~cente~ente "aprop~áveis"), a dependência tecnológica passa a • capital e acesso aos mercados se encontra em um sistema de fusão de
ser, mclus1ve, um dos pilares da dominação imperialista. grandes companlúas privadas fora de seu controle. Para obter o que
.~o decorrer das o~das longas, assistimos a uma progressiva deseja, deve regatear e negociar com estas empresas, assim como com
part:1c1pa9ão d~ conh~c1mento científico na definição do progresso os governos nacionais e as instituições internacionais que as respal-
tecn~lógico. Vunos amda o papel dos gastos em pesquisa e desen- '\, dam" (37): assim Stephan Hymer sintetiza o ponto de partida dos
vo)vunento na fase do capitalismo tardio, participando da "aceleração países atrasados na busca de seu progresso. E como diz Jacques Perrin
da inovação tecpológica". E qual a relação destes gastos com os países em seu pequeno livro sobre transferência de tecnologia: " ... os deten-
d~pe_;1d~ntes? E possível identificar wna brutal concentração desses tores da tecnologia não têm nenhuma vocação para compartilhá-la"
disr_e~dios nos países centrais. Uma concentração que supera a (38).
part1c1pação deles em termos de produção industrial e comércio Dada a realidade do atraso tecnológico e o controle exercido pelos
124 detentores da tecnologia, a questão central passa a ser a transferência
125
de tecnologia. domínio tecnológico ao país hospedeiro está descartada.
As restrições são enormes. Até mesmo proibição de vendas, de O interessante é que até mesmo na relaç~o intra-firma o ~ntrole
exportação de certos produtos existe: é o caso dos supercomputadores, é preservado, realizado através da transferência de uma ca~~cidade de
de alguns tipos de circuitos integrados etc. planejamento suficiente para dar conta das responsabilidades da
Quando é possível a compra de tecnologia, ela não significa subsidiária. É também um padrão de aprendizado limitado, parcial
necessariamente a aquisição de seu controle, do seu domínio. Além (43).
disso, "... o mercado de tecnologia é um mercado difícil. A dominação Quanto às joint-ventures, a manutenção ~o ~ntrol.e não é menor:
que exerce o vendedor é devida, em grande parte, à falta de infor- a maior participação acionáriade setores na':1-omus (pnvados ou ~ão)
mações do comprador sobre o que deve comprar e a que preço. Os não assegura que haja uma mudança da matnz quanto à sua definição
contratos globais de compra de tecnologia reforçam a dominação do de manutenção do controle tecnoló~co. ~ando a~join!-ventures são
vendedor". Esta a conclusão de Jacques Perrin após analisar a ex- firmadas por imposição de uma polfüca nac_ional, a m.atnz ~e chegar
periência brasileira, argelina e sul-coreana de compra de tecnologia a vender mais caro os serviços tecnológicos à fihal, utilizando-se
(39). inclusive da prática de superfaturar esses ser-.:iços (envolven~.º inclu-
Pela legislação brasileira, a compra de tecnologia é dividida em sive assistência técnica etc.). Paulo Bastos Tigre afirma que mesmo
cinco tipos: 1) assistência técnica, 2) licença de fabricação e/ou quando os acionistas locais detêm 51 %, na~a ?arante que e~sta
permissão para utilização de patente, 3) licença para utilização de interesse em promover uma efetiva transferencia de tecnologia a
marcas registradas, 4)serviços de engenharia e 5) elaboração de engenheiros e técnicos locais". Lev~~~· como hi~tese, "que mesmo
projetos (40). a participação majoritária nas subsidiánas estrangeiras das empresas
A transferência de tecnologia via licenciamento tem um aspecto multinacionais não confere necessariamente controle sobre operações,
duplo. Por um lado, quem exporta a tecnologia precisa de desenvolver políticas empresariais e transferência de tecnol_ogia" (~).. . .
junto ao seu freguês a capacidade de utilizá-la, senão pode comprome-. Já quando as joint-ventures são estabelecidas por !IllC'.auva da
ter a própria reputação internacional de uma determinada marca ou própria multinacional (buscando acesso a um mercado apeutoso, ou
produto: " ...assim, o importador de tecnologia deve ser capaz de pelo procurando parceiros que viabilizem sua entrada em certos países) a
menos manufaturar os bens e/ou operar os processos de acordo com situação não parece ser diferente. .
as especificações, seguindo o que o licenciador deve ensinar ao Na verdade, uma análise um pouco detalhada da estrat~gia ~as
licenciado sobre como fazê-los" (41). Por outro lado, o licenciamento multinacionais para os países dependentes demonstrará uma dinânuca
não assegura mais do que um aprendizado parcial ao licenciado, um de transferência de unidades de produção, de unidades de prestação de
tipo de aprendizado que " ...ao mesmo tempo assegura as rendas do serviços que aplicam o conhecimento tecnológico desenvolvido alhures.
licenciador e a continuidade deste relacionamento. Este controle Uma rápida análise dos gastos em pesquisa e de.senyolvimento
técnico é reforçado por medidas legais: quando ela é bem conhecida, realizadas nas subsidiárias será seguramente auto-exphcauva, quando
a tecnologia não é vendida mas alugada -o dono da tecnologia não abre comparada com o padrão de gastos das matrizes. Os gastos com P&D
mão da sua propriedade sobre a tecnologia, apenas permite ao licen- nas subsidiárias é muito baixo.
ciado o seu uso por um determinado período, sob certas condições, A dificuldade do acesso à tecnologia disponível, o preço pago por
sendo que algumas delas podem ser restritivas (proibição de expor- ela, a manutenção do seu controle apesar ~a sua utilização, tudo isso
tações, contrapartida de importações etc.)" (42). contribui para que o atraso tecnológico seJa perm~~n.te.
Outro mecanismo de "transferência de tecnologia" são os inves- o atraso tecnológico toma permanente a possibilidade de deto-
timentos diretos realizados pelo capital estrangeiro, incluindo-se aí as nação de processos de alcançamento nos países dependent~s: esta é a
joint-ventures. Em termos das subsidiárias estrangeiras, o domínio base dos vários saltos que o desenvolvimento das economias depen-
das transnacionais é total: os investimentos são realizados de acordo dentes podem conhecer. Saltos em duplo s~ntido: tanto como um
com os interesses de seu planejamento global, onde a concessão de "surto" de crescimento, como uma não repeução de todos os passos
126 127
anterionnente trilhados pelas economias centrais. em relação à própria situação de dependência: ela se requalificou, se
Apesar de todas as restrições conhecidas pelos países dependen- renovou.
tes, " ... a acumulação é potencializada pelo fato de se dispor, ao nível Toda a modernização que aconteceu não passou de uma reno-
do sistema mundial como um todo, de uma imensa reserva de 'trabalho vação da dependência.
morto' que, sob a fonna de tecnologia, é transferida aos países que Analisando-a mais de perto, fica clara essa caracterização. Um
recém estão se industrializando. Assim, na verdade, o processo de bom exemplo seria o desenvolvimento da siderurgia brasileira: há
reprodução do capital 'queima' várias etapas..." (45). aqui uma verdadeira "evolução da dependência tecnológica" (47).
Essa queima de etapas, esta potencialização da acumulação traz Inicialmente a dependência se evidenciava pelo peso das importações
resultadosquepodemimpressionareconfundirobservadoresdesaten- de produtos siderúrgicos. Posteriormente (a partir dos anos 1930/
tos. Para melhor compreender essa dinâmica é hora de analisar as 1940) há o desenvolvimento da produção interna, com os grandes
mudanças na dependência. complexos se apoiando em tecnologia importada, seja pela aquisição
de equipamentos ou de serviços.
V- A dinâmica da dependência renovável Durante a década de 1970, cresce a produção interna de equi-
pamentos para a indústria siderúrgica, desenvolve-se " ... uma ca-
É o outro lado do atraso tecnológico pennanente. pacidade de absorção das técnicas importadas, que pode chegar até
Ao contrário dos retardatários não-dependentes, os processos de mesmo à emergência de uma certa capacidade interna de criação
alcançamento tecnológico na· periferia têm um limite ·que é a inca- tecnológica em algumas usinas ... e o surgimento de um pequeno grupo
pacidade de atingir o patamar tecnológico internacional. Embora esse de firmas de engenharia .. especializadas em siderurgia Tais fcnômenos
limite não seja atingido, substanciais aproximações deste patamar são revelam uma certa mudança relativa no núcleo central da dependência
realizadas: é este o ponto de partida para compreender a "renovação da tecnológica cujo centro de gravidade iende cada vez mais a se localizar
dependência". na compra de tecnologias 'não-incorporadas' (serviços de engenharia,
Um painel histórico de um capitalismo como o brasileiro é uma assistência técnica etc.) crescentemente sofisticadas, seja diretamente
boa mostra dessa renovação: de um país basicamente agro-exportador para a fabricação de produtos siderúrgicos, seja para a produção de
chega a um país exportador de produtos manufaturados, inclusive equipamentos para a indústria do aço" (48).
bens de capital. A tentação para se diagnosticar um saldo para além do Esse "deslocamento do núcleo central da dependência" apontado
subdesenvolvimento é grande: é o que faz Antônio Barros de Castro. para o caso da siderurgia é uma idéia essencial para a compreensão da
Em seu livro A economia brasileira em marcha forçada, após renovação realizada. Entre importar os produtos e chegar a produzir
analisar os impactos dos grandes investimentos do II Plano Nacional equipamentos para a mesma indústria vai uma ampla mudança. Nela,
de Desenvolvimento - feitos desde 1974 e que influíram no cresci- há o desenvolvimento de capacidades tecnológicas internas. Isto já
mento econômico dos anos de 1984 e 1985 -conclui que " ... o parque havia sido detectado quando da discussão sobre a transferência de
manufatureiro aqui existente não mais cabe -sequer como caso-limite tecnologia via licenciamento: alguma capacidade é adquirida. Con-
- dentro do perímetro do subdesenvolvimento" (46). Na avaliação de tudo, essa capacidade vem relacionada com três questões: 1) ela é uma
Barros de Castro, o Brasil sequer seria o "mais desenvolvido dos capacidade limitada, fruto de um aprendizado parcial; 2) ela expressa
subdesenvolvidos": a barreira da dependência teria sido ultrapassada. uma "sofisticação" da dependência, agora se concentrando mais no
O fundamental nesta discussão é considerar que o salto de controle da tecnologia "em si"; 3) essa capacidade mesmo limitada, é
desenvolvimento econômico que ocorreu significou um maior aca- transferida quando a fronteira tecnológica se movimentou (seja no
bamento na estrutura industrial do país, a sua modernização (com setor em questão, seja pela perda da importância estratégica deste setor
efeitos importantes na ampliação de seu dinamismo e no peso da em detrimento de algum outro mais novo).
'pressão interna' na combinação discutido no item anterior), mas isso Esses comentários extraídos do exemplo da siderurgia são impor-
se deu no contexto da dependência. É verdade que alterações se deram tantes para o debate com a proposição de Antonio Barros de Castro:
128 129
1evolução da produção siderúrgica é crucial para a sua nova caracteri- países recentemente industrializados. Apresentando inúmeros dados
cação do país, dando uma expressiva contribuição ao que ele identifica sobre o domúrio destes países sobre tecnologia (capazes de apresentar
10mo "ganhos de divisas". Ao lado dela, Barros de Castro aponta um adapt.ições em processos e produtos desenvolvidos em outros lugares,
'avantajado núcleo" da economia brasileira, composto pelos setores tudo isso baseado em processos de aprendizagem, acumulativos),
le energia, metalurgia, química e bens de capital, portanto componen- consideram que esses países chegaram a um bom nível tecnológico, e
es essenciais do "parque manufatureiro que não cabe sequer como concluem surgerindo que está emergindo uma nova divisão inter-
:aso-limite no perímetro do subdesenvolvimento". nacional do trabalho, baseada nas capacidades técnicas por eles
Vejamos a indústria de bens de capital: as mudanças não são desenvolvidas (49). Já a teoria da dependência ressalta as limitações
nenos expressivas. Em 1970; a participação dos bens de capital nas da persistência da importação de tecnologia etc.
mportações atingiu 37,7% enquanto em 1982 ela caiu a 16,9%. Na discussão, Fábio Erbcr mostrará como o acento apresentado
~uanto à porcentagem dos bens de capital no total das exportações, ela poruma escola - a IIS - está nas novas capacidades desenvolvidas nos
1obe de apenas4,5% em 1970para 16,5% em 1982. Essa mudança é países periféricos, enquanto a outra escola insiste nos vínculos impos-
>em captada por Barros de Castro. Entretanto, não consegue situar tos por uma tecnologia fundamentalmente importada. Há um· certo ·
:om precisão outras novidades, importantes para a defmição da exagero da primeira escola com relação a este desenvolvimento:
tltrapassagem ou não do limite do subdesenvolvimento: " ... a indústria apesar de grande, ele dificilmente poderia ser considerado suficiente;
,rasileira de bens de capital adquiriu um domínio considerável sobre na escola da dependência, há até mesmo uma certa perplexidade acerca
odo um conjunto de atividades de planejamento e manufatura para do que o sistema capitalista mundial possibilitou à sua periferia em
1ma gama de produtos, baseada na tradição metalúrgica do Brasil e em termos de industrialização. Uma exagera as possibilidades do desen-
irocessos de cópia-e,adaptação. Mas, as evidências disponíveis su- volvimento tecnológico local e a outra as suas limitações. E racioci-
ierem que esta trajetória de desenvolvimento tecnológico é limitada nando a partir da dinâmica cíclica chega a uma interessante conclusão:
: que a indústria brasileira tende a se apoiar em tecnologia importada " ... podemos apontar uma outra similaridade entre eles (os teóricos da
,ara produtos novos e mais complexos" (51). Também aqui na IIS) e os autores da teoria da dependência: se os últimos sofreram por
ndústria de bens de capital há um "deslocamento do núcleo central da não colocar apropriadamente as oportunidades abertas pela fase
lependência". expansiva (boom) do ciclo, os primeiros parecem não ter api;eciado
O movimento é duplo: ao lado da modernização, do maior plenamente as implicações da presente fase de declúrio" (51 ). E como
1cabamento do parque produtivo nacional, há a sofisticação dos se essas formulações trabalhassem apenas com fotos tiradas em certos
necanismosda dependência. Uma rede mais complexaesutil é tecida. pontos da onda longa, perdendo assim o dinamismo e as mudanças que
A não percepção deste "duplo movimento", simultâneo e com- ela encerra: daí a necessidade e a riqueza do conceito da renovação da
>inado, trouxe várias interpretações interessantes do processo vivido dependência. Nos altos e baixos do desenvolvimento tecnológico na
JOrum conjunto de países dependentes como o Brasil, Coréia do Sul, periferia, uma barreira nâo é quebrada: a da dependência. Em todo este
Índia etc., durante a quarta onda longa, quando passaram a ocupar uma processo, há o que muda e o que fica.
JOsição de destaque na nova estratificação criada no "mundo subde- Embora renovada, a dependência permanece.
;envolvido". A partir daí há polêmicas interessantes.
Uma delas é a exposta por Fabio Erber em seu texto para VI- Algumas particularidades da difusão do progresso técnico
liscussãointitulado Technological dependence and learning revis- nos países dependentes
ited: o autor coloca lado a lado as formulações da teoria da de-
,endência e a elaboração intitulada incremental indigenous school
'.escola do aprendizado incremental)- IIS. Esta, analisando os casos de A primeira particularidade está no fato da criação, da gestação do
inúmeras firmas da América Latina, Índia, Coréia, apresenta uma progresso tecnológico se localizar alhures. As forças motrizes do
posição extremamente "otimista" quanto às possibilidades destes progresso são exógenas. Os países dependentes são colocados em
130 131
contato com tecnologias já desenvolvidas, "disponíveis" no mercado patamar para a fronteira tecnológica interna, pode ser realizado a partir
mundial. de um esforço, de uma negociação, determinada por interesses específicos
Uma inovação tecnológica em um país dependente é um novo da acumulação capitalista do país. Ou apenas a partir das estratégias
produto ou novo processo que se difunde dos países avançados para mundiais de empresas multinacionais.
os mais atrasados. O processo de modernização tecnológica nos países Essa fronteira tecnológica interna será estabelecida por algum
dependentes inicia-se saltando várias fases que estão na gênese de uma processo dentre os analisados no tópico sobre o atraso tecnológico
revolução tecnológica: estágios como o de desenvolvimento da ciência permanente: " ... usualmente a partir de empresas estrangeiras, rara-
pura, invenção e inovação estarão ausentes. Distingue-se o processo mente via compra strictu sensu de tecnologia por parte de empresas
frente aos países avançados por começar pela sua difusão. É um nacionais e, mais frequentemente, via licenciamento ou subsidiárias"
processo incompleto. (54).
Ou melhor, o processo de difusão de uma inovação tecnológica Uma vez estabelecida uma nova fronteira tecnológica interna,
num país dependente começa pela obtenção do acesso à tecnologia. estará sendo detonada uma dinâmica endógena de alterações no
Seria difusão se o processo fosse automático e uma vez criada a nova parque produtivo/de serviços do país. Esse parque nunca fica ileso a
tecnologia ela iniciasse o seu curso para eis demais países. A discussão estas alterações. O que pode variar é a dimensão do impacto causado
feita sobre a crescente "apropriabilidade" das tecnologias indica que pela inovação introduzida. Até mesmo a mera compra de um equi-
se nunca foi assim, cada vez o é menos. Os países dependentes se pamento mais sofisticado tem seu impacto: é necessária uma mão-de-
defrontam com uma tecnologia cujo acesso terão de negociar. Acesso, obra capaz de operá-lo, alguns serviços de assistência e manutenção
portanto, sempre retardado. Às vezes, retardado por toda uma onda técnica têm que ser fornecidos, vários serviços auxiliares são requeri-
longa. dos. Um efeito pequeno, mas presente. Muito maior será o impacto da
Feita essa observação sobre a diferença entre a mera difusão e o implantação de uma unidade de produção deste mesmo equipamento
acesso, estamos de acordo com as colocações de Fábio Guimarães, que nacional: todo o maquinário para a sua construção pode ser produzido
buscando distinguir os processos de inovação ocorridos nos países no país, as exigências de formação profissional são muito maiores,
desenvolvidos e nos de industrialização recente, afinna que " .. .naqueles unidades de produção auxiliares poderão ser construídas para fornecer
as etapas schumpeterianas de invenção-inovação e difusão apresen- produtos e componentes necessários etc.
tam-se nessa ordem..." mas nos países de industrialização recente Ao ressaltar as possibilidades de evolução tecnológica existente
" ... as etapas schumpeterianas aparecem em geral alteradas em sua nos países recentemente industrializados, insistindo (com certo exa-
sequência. O processo tem início via de regra pela fase de difusão, gero) nas várias hipóteses de aprendizado e criação de capacidades
quando são introduzidas as inovações na estrutura interna da pro- tecnológicas internas, os teóricos da "escola de aprendizado incre-
dução" (53). mental" (!IS) dão uma contribuição importante ao debate. Alterações
A sequência deste processo será um processo de aprendizado e de da fronteira tecnológica interna têm repercussões: ao ressaltarem esse
inovações secundárias. aspecto, eles têm razão e demonstram um ponto muitas vezes subesti-
A entrada de uma inovação tecnológica será patrocinada pelo mado. Erram ao não precisar os limites desse aprendizado interno e sua
centro dinâmico da economia nacional. É esse centro que determina conformação à divisão internacional de trabalho ditada pelo imperia-
a aproximação máxima que o parque produtivo/de serviços terá com lismo.
o patamar tecnológico internacional: em outras palavras, será aí que A partir da alteração da fronteira tecnológica interna, o processo
se estabelecerá a fronteira tecnológica interna (54). de difusão pela economia nacional também é diferente do que tem
Essa fronteira interna poderá ser definida, como vimos, a partir de lugar nos países capitalistas desenvolvidos.
pressão externa ou de solicitação interna. Num país como o Brasil, há A primeira razão desta diferença está em um fenômeno bastante
uma combinação entre ambos, dada a complexidade da estrutura comum nos países dependentes: há apenas a utilização da nova
econômica. Assim, o acesso a uma tecnologia.estabelecendo um novo tecnologia (não há a sua produção interna). Ela é a consequência das
132 133
progresso técnico.
limitações do processo de acumulação nacional (que não coloca vastos , A compreensão das "marolas" é importante para a discussão da
recursos à disposição do desenvolvimento econômico), da pobreza da dinâmica cíclica das economias dependentes e também para nos
estrutura produtiva do país. Essa limitação do processo de acumulação fornecer elementos para uma política de modernização tecnológica em
deixa marcas profundas na economia e na sociedade. O sistema uma sociedade dirigida pelos trabalhadores: o pequeno vigor da
educacional é um exemplo disso: o seu papel é o de mero formador de propagação do progresso técnico demonstra o tamanho do esforço
uma mão-de-obra mais ou menos especializada, às vezes de formação consciente que deve haver para que ele seja mais intenso.
de alguns "aprendizes" no manuseio de tecnologias mais avançadas Definida a diferença da dinâmica de difusão em relação aos países
que são ou serâo utilizadas no país. E a ausência de formação hegemônicos do capitalismo mundial, é necessário apontar as va-
profissional pode ser um entrave à evolução tecnológica (Freeman, riações nas "marolas" do progresso técnico: elas estâo intimamente
por exemplo, considera que uma das prováveis causas da queda da taxa relacionadas com as altas e baixas do ciclo econômico, da dimensão
de crescimento da Inglaterra durante o terceiro Kondratiev, quando ela dos investimentos globais da economia. Não é possível dissociar a
deixa de ser país líder, é o seu atraso na educação técnica e na difusão das inovações da dinâmica cíclica da economia.
massificação do ensino superior, ao lado da falta de vínculos entre suas Em um momento de expansão econômica, de aplicação e matu-
instituições científicas e a indústria) (55). Particulannente na era da ração de grandes investimentos, dois fenômenos podem se fazer
microeletrônica, não podemos subestimar as deficiêndas da política presentes: 1) o acesso a nova tecnologia disponível no mercado
educacional, científica e tecnológica. internacional, estabelecendo um avanço da fronteira tecnológica
Introduzida uma nova tecnologia, a sua propagação é restrita, a interna; 2) uma certa renovação da base técnica da produção, com as
sua difusão pela economia é contida. Isso contribui para a criação de necessidades de modernização da indústria criando um mercado
verdadeiros "bolsões" de progresso tecnológico, destacados do con- interno para uma produção nacional de inovações (que pode ter um
junto do parque produtivo. Uma característica típica das economias desenvolvimento parcial). Há nessa fase um processo de difusão do
dependentes que se industrializaram será aguçada: a desigualdade, a tipo "novo ciclo", quando a economia conhecerá uma ampliação de
convivência estratificada do "moderno" com o "antigo". sua desigualdade interna e um espraiamento restrito típico da "maro-
Mesmo quando a introdução de uma inovação venha acom- la".
panhada de sua produção interna, a sua propagação, a sua difusão, se Na fase de recessão ou estagnação, a tonalidade das alterações da
dará de uma forma mais limitada. A segunda razão para as diferenças produção se darão no campo da racionalização da produção. No
do padrão de difusão em relação aos países desenvolvidos está na fundamental será uma fase onde máquinas e equipamentos mais
pobreza da base técnica previamente construída, que tomará "mo- modernos poderão participar da racionalização ou repor o que tiver se
dernizável" apenas parte do conjunto do parque produtivo, talvez no desgastado. O mercado para a produção de inovações é mais restrito.
máximo o seu setor mais dinâmico. Nos países dependentes, os fatores O quadro da difusão das inovações será do tipo "pequenos ajustes".
que facilitam a propagação e a difusão do progresso técnico são mais Os elementos chaves para a compreensão da difusão das ino-
débeis do que os que limitam essa mesma propagação. vações tecnológicas serão encontrados na análise da combinação da
Como sintetizar a diferença entre a difusão do progresso técnico dinâmica de aproximação do patamar tecnológico internacional (da
nos países avançados e nos dependentes? Onde as forças motrizes do capacidade nacional de conquistar acesso à tecnologia disponível)
progresso técnico atuam diretamente, a sua propagaçao é feita por com os fluxos e refluxos dos investimentos duranteocicloeconômico.
ondas. Por aqui, onde as forças motrizes atuam indiretamente, de uma Cada ciclo deixa a sua marca na fonnação social dependente, na
forma mediada, sua difusão é mitigada: a forma de sua propagação estrutura do parque industrial. Cada ciclo terá uma fronteira tecnológica
será a marola (uma onda "reflexa", originada pelo movimento de interna delimitada, uma dada difusão para o conjunto da produção. O
outros corpos, sem um dinamismo próprio, com uma amplitude resultado destes ciclos sucessivos, das várias "marolas" do progresso
menor). técnico, será a existência de várias "camadas" de tecnologias de
Ao falar dos países dependentes estamos tratando das marolas do
135
134
:~f;~::~~aj~::nt~~:~~~::i?ilidJde de o início da intro- s6cio-econômica dos países atrasados.
1c~ e U?1ª fase se darem um , Nas duas primeiras ondas longas, a transmissão da dinâmica dos
momento em que a difusão das t
1
ainda nã? tenha se completado. ecno og:ias típicas da fase anterior países centrais era bastante automática. Paul Singer, discutindo os
ciclos de conjuntura nos países subdesenvolvidos afirma ser" ...not6rio
Por isso no Brasil c · . , .
diferenciada ~mo · onvive1!1 rnd uStrj as de produtividade tão que na economia subdesenvolvida, que não adquiriu inteiramente
têxtil de elevada utili~::i~::=~a robotizada e uma indústria características capitalistas, o ciclo de conjuntura é induzido de fora
vivem o robô e a foice como co . ª ores mal remunerados. Con- para dentro" (57). Na sua obra sobre a indústria brasileira, Wilson
A esta desigualdade de nf '!1° mstrume~tos de trabalho. Suzigan precisa essa "indução", quando ao tratar do desenvolvimento
deve ser adicionada a desigual~~~ de m?J~rruzação e p~odutividade, industrial anterior à Primeira Guerra Mundial, mostra que " ... as
dependentes é sem e soei · 0 atraso social dos países indústrias desenvolvidas nesse período eram diretamente afetadas por
cujo sentido é em ~:::;o;;ron~do Jºm a introdução de tecnologias mudanças na política econômica, particularmente na política mo-
problemas sociais em partic':It 0 ~ e mão-de-obra. Os irresolvidos netária, e por crises econômicas e financeiras internacionais, as quais
aproximação d ' aro O emprego, se intensificam a cada eram imediatamente transmitidas á economia interna através de crises
zação neste fin~P~tamar tecnológico. A problemática da moderni- no setor exportador" (58).
impactos da autom:ç~~~ :da longa é bastante preocupante: os À medida que a economia de um país como o Brasil, por exemplo,
expressiva expansão anual da país de desempregados e com uma vai deixando de ser "um mero reflexo do capitalismo mundial" (para
ser minimizados 1 . população econômica ativa não devem usar a expressão de Francisco de Oliveira para a longa fase agrário
pe o movunento operário M · di . . exportadora de nossa economia), o ciclo passa a terum peso maior de
mos as nossas alternativas para u lí . · ais ª. ante, discuure- determinantes internas.
preocupação da moderniz ã ma po ~ca operária que combine a
Afinal a b . aç o tecnológica com o avanço social O ciclo vai passar a expressar tanto os "impactos das ondas
, urgues1a das nações d d · mundiais" como a articulação que as classes dominantes nacionais
planos. epen entes é retr6gada nestes dois
desenvolveram para responder às insuficiências e às incipiências do
processo de acumulação dependente. Como foi visto na parte I deste
Vll- Um ciclo econômico deformado capítulo, o papel do Estado, dos investimentos públicos, para a
superação da acumulação privada nacional, se combinam com uma
Todas as diferenças entre a a ul expressiva presença do capital estrangeiro. O modelo de acumulação
dependentes (base para as distin :m ação nos países avançados e capitalista existente no Brasil desde 1930 se funda na articulação
tecnológica) determinarão a anito s 7ntre os pr~s~s de inovação tripla: pequena participação do capital privado nacional (que vai
Sob o impacto das "ondas. da 1 1. nua també?1 ~Stínta dos ciclos.
ciclos "nacionais" nos paí
deformação.
J do valor mundial se estabelecem os
ses ependentes. Este impacto impõe a sua
crescendo pelas facilidades que encontrará), grande presença do
Estado, importante papel complementar do capital estrangeiro.
Essa articulação possibilita uma dinâmica cada vez menos
"meramente reflexa". O papel do capitalismo internacional persiste
1) As mudanças na dinâmica cíclica dos países dependentes influenciando a dinâmica nacional: é agora uma influência mais
mediada, mas presente e decisiva. A rigor, nenhum país está livre dos
Durante toda a discussão das ondas lon as e o impactos da dinâmica mundial e mesmo das mudanças econômicas
tes, ficou explícita a possibilid d d g. . s países dependen-
entre a dinâmica econômicados a e a ocorrenc1a de descompassos em países centrais (veja-se as repercussões das mudanças nos EUA
Talvez até seja o fenômen países avançados e a dos dependentes. sobre a economia japonesa e vice-versa). A dimensão e a qualidade
mais provável quanto mai~ ~:ssco~um. ~sse descompasso é tanto desta influência sobre os países dependentes é superior, embora o
s6cio-econômica dos países atrasaed ornan o complexa a formação próprio desenvolvimento destes países tenha forçado a sua requalifi-
os. cação. As particularidades da acumulação dependente estarão gra-
136
137
vadas na anatomia de seu ciclo. os investimentos estatais sempre estiveram presentes na criação
das condições de todos os ciclos expansivos da economia ?rasileira
2) As alavancas estatais do ciclo pós-1930: seja investindo na infra-estrutu~, como en~rgia, tr_ans-
A dimensão da inteivenção estatal não é fortuita ou casual: ela é porte, telecomunicações; seja na produção de msumos bás1~s; seJano
un_ia ''.solução nacional'.' às limitações da acumulação capitalista. incentivo à ação do capital privado (nacional ou estrange1~) ª!rav~s
Pnmeuu, porque o descompasso entre a acumulação nos dois conjun- de incentivos, subsídios, estímulos à implantação de mulunac1onais
tos de ~aíses é tal que o ~querido par_a garantir a reprodução ampliada etc. É um Estado inteiramente privatizado. Um dado dem?nstra o
de capital é sempre mais do que o disponível na economia nacional. peso desta participação: em 1979 a fonnação bruta de cap1~l ~xo
Afinal, os países dependentes" ... ingressaram na era industrial quando contou, no Brasil, com uma contribuição do Estado que atmgiu a
~ b?5eS técnicas e fu_ianceiras já eram relativamente complexas, significativa taxa de 43,7% (61).
unplicando grandes dimensões de plantas e elevadas exigências Com todo esse peso no conjunto da economia, é evidente que os
tecnológicas" (59). . investimentos estatais terão uma grande influência em vários pontos
As dificuldades para o financiamento privado do desenvolvimento do ciclo: sua contratação pode contribuir para acentuar uma fase
são enonnes. Foram pouco frutíferos os esforços realizados pelo depressiva, sua reativação pode auxiliar a recuperação do crescimento
Estado para desenvolver em uma economia como a brasileira um económico e a sua aceleração pode exacerbar a fase de auge (62).
sistema financeiro privado capaz de bancarinversões de longo prazo. O peso da inteivenção estatal se expressa em outra cara~te:fstica
Para Maria Conceição Tavares, embora o sistema fmanceiro nacional distintiva das economias dependentes (semelhantes à brasileira): o
tenha desenvolvido as funções de criação de crédito e de intenne- papel de políticas económicas governamentais _na detonação _d_a fase
diação financeira (após a refonna de 1965), não viabilizou a ca- recessiva do ciclo. Analisando a recessão postcnor ao golpe militar de
paci~ade de gerir _e direcionar " ... os volumes de capital-dinheiro 1964, Paul Singer afinna que " ... a depressão, ~m cujo início nós
aglutmado_s no sentido de dar suporte aos movimentos de acumulação entramos, terá fonna diversa da do ciclo clássico. E que o processo não
real, espeCialmente quando se trata de avançar capital para projetos de está sendo desencadeado por um mecanismo coletivo, como o mer-
grande porte e largos prazos de maturação" (60). cado, mas é comandado conscientemente pelos que puxam as alavan-
Ess~ incapacidade de financiamento, além de exigir uma solução cas da política económica" (63). O mesmo se repete agora, com a
como a mteivenção do Estado, influi no perfil do ciclo: esta inca- implantação do Plano Collor: a refonna monetária e os controles
pacidade poderá detenninar a extensão da transição entre uma fase de governamentais sobre a economia têm a clara intenção de impor uma
recessão (ou mesmo uma fase de recuperação económica) para a razoável redução do nível da atividade económica, um~ recessãg
expan_são económica. Aqui, ao contrário do ciclo dos países centrais, necessária. segundo os figurinos do FMI - para debelar a mflação. E
os efeitos "saneadores" da recessão não viabilizarão uma "revoada" de um outro aspecto da "politização" do ciclo: uma decisão política pode,
capitais antes ociosos para a produção, pois eles são débeis, incipien- abruptamente, transfonnar uma estagnação em recessão.
tes. A nova expansão pressupõe a definição dos novos e massivos
investimentos que financiarão o seu deslanchamento: enquanto a 3) O ciclo e a dependência .
economia fica "marcando passo" neste ponto, aguardando tal definição A dependência se renova, já vimos. Essa ren?vação tei:i m-
alonga-se esta parte do ciclo. ' fluência sobre como a inevitável "conta" da subordinação nacional
Ressalte-se que essa definição, especialmente porque é uma será apresentada. . .
definição de uma massa de investimentos estatais, tem uma detenni- Na fase agrária-exportadora das economias subdesenvolvidas ela
nação política: acertos em tomo da política hegemónica no interior das impacta diretamente a economia nacional via o setor exportador: por
classes ?ºminantes são p~e~supostos para viabilizar este relançamento. ali a crise de lá chegava aqui.
Há, assim, uma forte pohuzação das detenninantes do ciclo: alguém À medida que os laços de dependência se sofisticam, a sua relação
deve manejar as alavancas da ação estatal. com o ciclo muda. Da dominação comercial ela passa à dominação
138 139
financeira e tecnológica, mas continua atuando como um "constrangi- µção do dólar repercutiu nas economias que exportavam fundamen-
mento externo" em várias fases do ciclo. talmente para os EUA.
O capital estrangeiro tem um peso importante na solução nacional A dependência "deforma" o ciclo ao impo_r essa brutal ~ans-
para o financiamento da acumulação: é um dos três pilares que a ncia de recursos para o exterior que caractenzou a econor~ua do
sustentam. Seus movimentos são, assim, importantes para o ciclo, ferê . Mundo na década de 1980: a estagnação econôm1ca da
Terceiro · ão do fluxo de
influenciam inclusive os "mecanismos internos" da dinâmica cíclica. década foi fundamentalmente causada ~r essa invers " .
Entre 1947 e 1962 (um período de expansão da economia brasileira), ca itais É um violentíssimo "constrangunento externo. UTIIJ<?St? ao
. ~o f~nômeno certamente desconhecido nos países unpenalistas
o capital estrangeiro tinha o seu aspecto central no " ... fornecimento de
tecnologia, isto é, pela acumulação prévia que podia ser rapidamente fc~rd exceção dos obrigados a pagar as reparações_ de guerra, como a
Alemanha depois da Primeira Guerra, quando env10u algo entre 2 e 3
incorporada". Neste período a contribuição quantitativa era pequena
pois a poupança externa nunca passou a 5% da poupança total (64). '*0
de seu PNB para os países vencedores ... ). .
As consequências da dependência finance1~ vão além da 1m-
.
No ciclo l 967fi3 há uma aceleração do endividamento, fruto de
" ... uma convergência de uma situação de grande liquidez inter- ição de uma recessão ou uma estagnação ao cicl? do paí~ depen-
nacional com a de um ciclo expansivo interno, onde a demanda por ~te: a dilapidação de recursos nacio~ais aguça a rncapac1dade de
crédito em moeda doméstica exercida pelo setor privado crescia a financiamento do crescimento econôm1co e estende a fase de e~tag-
taxas elevadas e onde as características institucionais do sistema nação, contribuindo para adiar a chegada da recuperaçã?. Além disso,
financeiro interno faziam com que parcela crescente dessa demanda dado o papel do capital estrangeiro como fonte de financiamento d~ste
fosse atendida, independentemente do estado das contas externas, por desenvolvimento, a sua fug~ co!1trlbui p~ra a manutenção da_ cn~e,
operações que envolviam a entrada de recursos externos" (65). frustrando até mesmo seus ü1genuos/cfmcos adv?gados ~ac1?na1~,.
Como consequência da mudança da onda longa para depressiva, que responsabilizam a ausência de "abertura ao capital m~!Unac1?nal
noiníciodadécadade 1980ofluxoseinverte: acrisedadívidaexterna la rsistência da crise: este fluxo tem uma determinação rnter-
passa afazer parte do cotidianodos países do terceiro mundo. Calcula- :ci:al e é relativamente indiferente à propaganda e às vantagens
se que nos anos de 1986fi, vários países da América Latina transfe- menores abertas em países do terceiro mundo.
riram às nações credoras de 5 a 6% de seus respectivos PIBs. Apenas
em um ano (1986), o Brasil transferiu nada menos que US$ 12 bilhões. 4) O atraso tecnológico e os "saltos" no ciclo .
. -:" dependência financeira, desenvolvida neste período (e que tem Ao se defrontar com um patamar tecnológico dado, estabelecido,
unplicações sobre o desenvolvimento industrial, ao impor exigências os países dependentes podem conseguir o acesso a algumas tecn?lo-
de contra partidas na importação de determinados equipamentos como .as disponíveis e detonar um processo de alcançamento tecno_lógico.
requisitos para a captação de recursos, dentre outras) apresenta a sua ~sse processo pode ser responsável por outra deformação do c1clo,_ ao
"conta". Impacto duplo sobre o ciclo econômico: em primeiro lugar, possibilitar a obtenção de elevados índices de crescimento econôm1co
ao impor uma sangria de recursos a uma economia que possui uma ou O estabelecimento de um elevado "pico" no ciclo. . .
incapacidade estrutural de financiar o desenvolvimento; em segundo, Francisco de Oliveira justifica essa possibilidade,_ ao_ discutir.ª
por determinar, especialmente via FMI, a implementação de polfµcas · brasilei· ra " pelas suas relações com o cap1tahsmo mais
economia , ··· · ã
econômicas que combinando a restrição do mercado interno com o maduro" ela pode contar com " ... formas concretas de rnvers o que
incentivo às exportações contribui para novas exposições à dinâmica upam previamente trabalho", o que" ... potencializam ~normement:;
econômica imediata dos países centrais. A recuperação econômica : a unidade de inversão (isto é, elevam a relação capital-produto)
dos anos de 1984 e 1985 foi puxada pelo aumento das exportações, o (66). . al
que coloca a economia nacional susceptfvel de sentir imediatamente Discutimos anteriormente o efeito dos processos de cançamento
os efeitos de uma recessão nos EUA, que levará à queda das expor- nas economias "atrasadas". Vimos como nos países depend_ente_s, ele
tações brasileiras, motor daquela recuperação. A própria desvalori- era responsável por aproximações do patamar tecnológico rnter-
141
140
nacional. A expressão dessa aproximação em termos de ciclo é a
obte?ç~ode altas taxas de ci:escimentoem sua fase expansiva. No caso
brasileiro, as taxas de cresetmento foram superiores à média em geral
obtida nos países capitalistas avançados. Af estão os verdadeiros
saltos que a acumulação dependente pode dar. Evidentemente dada a o primeiro éa inexistência de certos equipam~nto! no parqu_e
distância dos países avançados, os saltos - por maiores que sej~ - não nacional (ou pelo atraso do parque ou pela ~fistica~ao d~ eqm-
os alcançam. Esses saltos, viabilizáveis pelo atraso, demonstram a amento): a solução é a importação do que Já está d1spomvel. no
possibilidade de polfticas que sustentem taxas de crescimento estáveis ~ercado mundial. Essa importação quebra o esquema cláss!co,
por largos períodos: há muito para ser percorrido na evolução económica pois os efeitos aceleradores são transferidos para ? exterior,
e social e não deixa de ser um dado importante para situar a necessi- mitigando a sua repercussão sobre a econo.nua n~c1?na_l e re-
baixando o potencial de crescimento do c1clo, d1nunumdo a
dade e a viabilidade de transformações revolucionárias nas sociedades
dependentes! persistência do crescimento sustentado. .
Mesmo quando há a produção interna de bens ~e ~apita!, a
· O processo de alcançamento tecnológico não pode ser isolado de
limitação desta produção é um limite para o e_feito multiplicador: as
algum~ carac~rísticas centrais da acumulação nos países dependen-
tes: a base des_1~~ da econ?mia (a persistência de um quadro de repercussões sobre o conjunto do ciclo ~ parcial. .
A economia brasileira conheceu dms momentos dife~n:es com
acumulação prumtiva financiando o desenvolvimento capitalista), a
super-exploraç~o dos.trabalhadores, inúmeras formas de ampliação da relação a este limite. Para José Serra, até 196_9 ª,Parte pn?c1pal dos
extorsão de mais-valia etc. O resultado da combinação da aplicação efeitos aceleradores" canalizou-se para o extenor' . Já a p~r de 1970,
das tecnologias avançadas com as características da nossa formação a situação muda: "a produção nacional (de ~ns de capital) cresceu
sócio-económica é contraditório, bem representado pelo que ocorreu tanto quanto as importações correspondentes (68).
durante o "milagre brasileiro": a poesia de Caetano Veloso expressa A explicação do porquê deste problema em relação à produção
interna de bens de capital, segundo José Serra, é dada por: 1) elevada
bem essa contradição, ao falar da "força da grana que ergue e destrói
coisas belas" (Caetano fala de São Paulo, uma boa síntese do processo complementariedade entre a produção doméstica e as_im_portaçõe~ de
de "crescimento e pobreza" gerado naquele ciclo). bens de capital; 2) estreiteza do parque PTO?u~or J~ mstal~do, 3)
. . A tecnologia avançada ao ser incorporada fará com que a produ- dificuldades de natureza tecnológica para substttuu~mtas das impor-
tações (contribui para isso a pauta fragmentada das unportações que
tividade dê saltos. Mas essa elevação de produtividade não será não indica a ultrapassagem da escala mfuima de produçã~ de ~án~s
transferida aos trabalhadores; servirá, ao contrário, para ampliar a taxa bens); e4) outros fatores como a maior propensão das m_ultlnacronais
de exploração da força de trabalho, fornecendo excedentes internos a importarem as máquinas e os equipamentos que precrsam (69).
para a acumulação. Como afirma Francisco de Oliveira," ...o diferen- A conclusão neste ponto é a de que" ...se é ver~ad~ qu? a compra
cial entre salário real - produtividade constitui parte do financiamento de equipamentos, v.g., de tecnologia acumulada, gue1ma. etapas de
da acumulação" (67).
acumulação ela também reduz o circuito de realtzação mtema ?º
5) O amortecimento dos efeitos aceleradores e multiplica- capital, 0 q~e tem, entre outras, ~ co~sequência d~ tomar º. efeito
dores multiplicador real da inversão mais ba1~0 que o efeito po~n~:U que
Dada a estreiteza do parque produtivo nacional, a ocorrência de seria gerado no caso de uma realização interna total do capital (70).
uma fase de retomada económica, que no ciclo clássico representa um Essa diferença com relação ao ciclo clássico pode ser melhor
aquecimento da demanda por bens de consumo e repercute na dinâmica visualizada a partir da comparação do peso das indústrias de bens de
geral ampliando a demanda por bens de capital (máquinas e equi- capital nos respectivos parques industriais de países av3?çados e do
pame?t~s P,ªra. as indús:rias de bens de consumo e, depois, para a Brasil. o Brasil, diga-se de passagem, era em 1982 o maior produtor
própna mdustna de eqmpainentos), esbarra em bloqueios e limites. de bens de capital entre os países dependentes.
142
aíses centrais é causa da ausência de várias
TABELA Ili , do ctesem?°!I~d~ nosd~ ciclo nos países desenvolvidos: as etapas de
etapas hoJe J P1ca_s to experimentação inexistirão nos países
Participação da indústria de bens de capital no total do valor criação, desenvo1v1men ,
adicionado pelo conjunto da indústria, para o Brasil e um
número selecionado de países desenvolvidos - 1960 e 1974 - em depe~:~teJ~_caráter inc~mpleto que imF ~~~~~f:t~ta;e~~~
porcentagem vamente a difusão das m;vaç::is:O~ ~ue a favoreça), debilita
cultu~ e de um_a f~rr:;aç ~ar melhoramentos ou pequeno~ ajust_es
País 1960 1974 inclus1veacarac1da e e;:.d alhures Esse impacto negativo dis-
nas tecnologias d~senvodv1 ·asclo caracierizando-se como uma limi-
Estados Unidos 38,1 92,7 tribui-se pelo conJunto o c1 ,
Japão 31,7 48,5 tação de sua dinâmica.
Alemanha 38,2 39,0
França 37,3 39,2
Inglaterra 41, 1 40,5
Itália 29,9 36,5
Brasil 9,2 14,5
Fonte: TauiléJR, La diffusion de l'automation flexible dans un
nouveau pays industriei (71)
(67)idem • op cu
(68)Serra, José op cit
(69)idem '
(70)Oliveira, Francisco de .
(71)!3rber, Fábio, TD! 48 ~~f
(72)1dem, pág. 4 ' ·
e;~
I - Os ciclos
i60
CAPÍTULO IV: A PRESENÇA DA AUTOMAÇÃO COM
BASE NA MICROELETRÔNICA NA INDÚSTRIA
BRASILEIRA
1- Introdução
1
Fonte: Freeman, C., Unemployment and Technical change, pág. 119
Não h~ a menor dúvida acerca da continuidade e do dinamismo do
desenv?lVIIIlento do setoi: até os dias atuais. Num trabalho de 1986,
produzido para um ~rg:1;11si_no de assessoria do governo francês, os 1~1%11~1~1~1~1-1ffl1~1~
autores tratando das mdustrtas de informação dirão que " ...evidente-
Fonte: Business Week, 5/2/90
168
169
Por esse mercado se trava uma disputa acirrada. flexibilizadas.
Apesar dos esforços em contrário, o Japã? desde 1986 está_na
É um setor extremamente sensível às mudanças gerais que estão
frente dos Estados Unidos na produção de chips. O gráfico aba:ixo
se processando na economia mundial: pela situação dessa indústria,
mostra como a produção japonesa passou de apenas 20% em 1979 a
pode-se constatar o declfuio da hegemonia tecnológica americana.
quase 50% em 1988, e como a americana fez o_percurso inverso,
Basta observar a tabela abaixo, onde estão colocadas as seis principais
respectivamente com 60 e 30% do mercado mundial. O ano_de 1985
firmas de semicondutores, segundo o total de vendas de chips em
é O ano do empate (em 41 % da produção) e da mudança da liderança
1986: (11)
mundial.
TABELA XIII GRÁFICO VI
Principais firmas mundiais de semicondutores
Participação na produção mundial de chips
Firma Vendas de chips
(em US$ bilhões)
NEC (Japão)
Hitachi (Japão)
Toshiba (Japão)
Motorola (EUA+Japão)
Texas lnstruments (EUA)
2,6
2,3
2,28
2,02
1,8
60
40
-
- EUA
,,- .
-----
...,,,,,.
!!!!--'..e=-"'"'"-----
l - - - - - - - - - -...-,.....
~ - ---
Philips (Holanda) 1,4 -
_... '1AP'fô'
20
Fonte: Mandei, Emest, La conjoncture
économique au début de 1988 (lmprecor, n. 262) 1•1•11a1m1*1~1a1m1•1•
Fonte: Business Week, 5/2/90 (13)
Como se pode observar, apenas uma companhia é inteiramente
americana na lista.
Para tentar preservar a ameaçada liderança americana no setor, o
governo vetou, em 1986, que a corporação japonesa Fujitsu absor-
vesse o trust Fairchild, do setor de semicondutores. O governo
americano incentivou a fonnação de consórcios entre fabricantes do
país para o desenvolvimento da tecnologia própria.
Boa parte dos esforços dos Estados Unidos nas negociações no
GATT foi no sentido de preservar as suas posições no mercado - tão
importante - de semicondutores. Em julho de 1986 se chegou a um É uma ultrapassagem consistente. O gráfico abai~o mostra co~o
acordo onde os Estados Unidos tentava evitar o dumping japonês. As a produção americana de equipamentos para a fabncação de chips
dificuJdades que os Estados Unidos enfrentam mesmo depois deste também ficou para trás: de 90% do mercado mundial em 1979, os
acordo levaram-à tomada de uma série de medidas protecionistas Estados Unidos caíram a apenas 20% em 1988.
(tomadas em abrtl de 1987 chegando a taxar a importação de alguns
produtos da eletrônicajaponesa em 100%), posterionnente um pouco
171
170
GRÁFICO VII
Japão ultrapassará os Estados Unidos nas vendas mundiais de compu-
Mercado mundial de stepping aligner equipment tadores.
usado na manufatura do chip O ritmo desta indústria é alucinante. Por exemplo, hoje existe
uma linha de pesquisa sobre a utilização de técnicas de impressão dos
100%F:.:.::.-:.--::..-=._-::_------------ circuitos integrados utilizando Raios-X. A IBM planeja gastar apenas
neste projeto US$ 1 bilhão até 1995, quando esta técnica deverá estar
pronta para entrar na produção. Só que a IBM é a única corporação
americana a investir nesse projeto. Enquanto isso, no Japão maisde
uma dúzia de programas de pesquisa sobre a produção de chips com
Raios-X estão em curso. A Business Week acusará a ausência de fi-
nanciamento govemameal como a causa desta debilidade americana:
poucas empresas têm, por si só, a capacidade de bancar projetos de
porte tão grande.
Hoje, à escala mundial, a indústria microeletrônica é um campo
1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 de disputa entre gigantes. Seja pelo aporte de capital que ela requer,
seja pela velocidade das mudanças que ela impõe e sofre. É um dos
Fonte: Business Week, 23.12.89 (1 4) melhores exemplos de uma das principais características do capita-
lismo tardio: a aceleração das inovações tecnológicas. É muito
Essa perda de pos· ã d · . curioso (e deveria ser estimulante para um batalhão de ortodoxos da
indústria tão estratém iç O O p~cipal país imperialista numa
1
, . . .,.ca como a m1croeletrônica tem criado
: em1ca mteressant~ nos Estados Unidos. A revista Business
v1u~~u~:ol:té:ia de capa ~ma questão: "Toe future of Si!icon
W~~: moda neoliberal) ver o setor mais avançado da indústria americana,
até a pouco símbolo do poder tecnológico do capitalismo americano
- o Vale do Silício - pedir proteção do Estado, pedir um novo rela-
cionamento entre a indústria eletrónica e o governo ... para enfrentar
assumido pela rev7s~~::i ª high-tech policy?". O ponto de vista o capital japonês ... e salvar a indústria americana de alta tecnologia ...
do Rea an d a crença na mera ação do mercado da era Esta discussão mostra o ridículo dos que propõem a "abertura ao
das ind~stri~ :nd_e uma política de inte~enção do Estado em defesa capital estrangeiro" como fonna de modernizar uma economia depen-
Silício) O risco ~n~~~~e3'.tatecnologia(concentradasno Vale do dente como a brasileira. Se o mercado está ameaçando sucatear a
. . es a m ustna ser sucateada pela concorrência do
economia americana, o que poderia prometer para a brasileira? Na
~:,ne:~~f:~1et Segund? Andrew Grove, presidente da Inte~ discussão de alternativas, mais adiante, voltaremos à esta questão.
cose~ cada c u ºm:,co~tmuarão a possibilitar avanços tecnológi-
!~e~~::~~~~~;a ~!:~ªa~:~:~~i~~~~~~;r:i~~~r~s1:sc:ii:
computadores quera 'd O O ramo eletrôruco, mclumdo os super-
O mercado brasileiro de circuito integrado é estimado em US$
495 milhões em 1988. Ou seja, 0,8% do mercado mundial.
178
179
'
,,
.
GRÁFICO VIII
, Os CLPs fabricados no Brasil podem ser divididos em dois
Total CLP's instalados por ano subgrupos. No primeiro, os de grande porte: todos são produzidos por
empresas nacionais que utilizam o licenciamento de tecnologia. Estão
1300 aí empresas como a Metal Leve (tecnologia Allen Bradley), Villares
(Hitachi), Maxitec (Siemens), dentre outras. Já no segundo grupo,
1200 estão os CLPs de pequeno e médio porte: estes são usados em
1100 máquinas e processos mais simples e são produzidos com tecnologia
própria, nacional.
1000 Segundo Tauile, os CLPs são um dos equipamentos de auto-
900 .
mação com base na microeletrônica mais difundidos na indústria
brasileira, embora o mercado atingido seja apenas uma pequena
800 .
parcela do potencial. Previa que "... a difusão deverá ampliar-se
700 significativamente na medida em que sejam realizados novos inves-
600 timentos nos setores de insumos básicos (siderurgia, química, ci-
mento, etc.) que constituem o principal mercado para os CLPs(3 l).
500
400 2-Máquinas-ferramenta com controle numérico (MFCN)
Comecemos com uma comparação com dados internacionais, de
300 acordo com a tabela abaixo.
200
TABELA XVIII
100
1971 População de MFCN (segundo país e ano)
1975 1978 1981 1984
PAÍS (ano do dado) QUANTIDADE
Fonte: Tauile, J.R., Automação e ~ompetitividade: uma avaliação
das tendenc,as no Brasil (IEI 111),pág. 8 Estados Unidos (1980) 60.000
Nãodispomosdonúmerod ·d d . Japão (1981) 25.030
e 1987. Pelo faturamen e um ª es vendid~s nos anos de 1986 Alemanha Federal (1978) 10.000
milhões e US$ 34 milhõe to.;pr~sentado, respecuvamente US$ 27 Grã-Bretanha (1978) 8.000
vendas(29). s, J entlfica-se um crescimento de 25 % nas França (1978) 6.000
Jáem 1988 ofaturamento Brasil (1980) 700
um total de 6 17 ·i cresceu 51 ,06%, tendo sido vendidas Argentina (1981) 325
milhões(30). ' m1 ' representando um faturamento de US$ 51,3
Fonte: Tauile,J.R., Automação e competitividade: uma avaliação
O mercado para os CLPs é v 1 .
pelos comandos elétricos u tuoso, mas conunua dominado das tendências no Brasil (!E! 111)
o diferencial de preços e~i~los aparelhos de lógica fixa. A razão é
convencionais: este diferencial ! controladores programáveis e os
0 A primeira máquina foi importada em 1968 pela Ford. Será em
180 naotem tomadoatraenteaopçãoCLP. 1975 que a indústria Romi comercializará uma máquina produzida
nacionalmente (mas com CN importado).
181
rei ~daª tí~o de comparação, é interessante, com dados de 1980
d acionarº. numero de máquinas-ferramenta convencionais instala~ e demonstra a existência de um "gargalo" a uma retomada estável do
as no Brasil (550.000) com o número de MFCN (698) crescimento económico: em julho de 1985 indicava-se a existência de
abaix~;volução do número de MFCN no Brasil é apont~da na tabela um verdadeiro boom no mercado nacional das MFCNs: por exemplo,
uma máquina que normalmente demorava cinco meses para ser
entregue estava então tendo uma demora estimada de 9 a 10 meses. A
TABELA XIX Romi, por exemplo, tinha previsto para 1985 uma produção de 100
MFCNs e em agosto previa que poderia chegar a 150 unidades. Não
N• de MFCNs no Brasil, por origem e ano de instalação podemos dissociar esse boom da conjuntura de recuperação económica
nos anos de 1984 e 1985.
ANO NACIONAIS IMPORTADOS TOTAL A explicação dos empresários para esse boom levanta três aspec-
n• cresc{%) tos. Primeiro, "que com a crise muitos empresários desfizeram-se da
maquinaria obsoleta e agora estão substituindo-a por apenas uma ou
1973
1974
- 33 33 - duas máquinas com controle numérico, capazes de ampliar em cerca
11 24 35 de 20 vezes a produção de uma máquina convencional". Segundo,
1975 2 6, 1
39 41 17, 1 "uma parte surpreendente desses clientes é constituída de pequenas e
1976 8 45 micro-empresas de serviços de usinagem para terceiros: os fabrican-
1977 53 29,3
17 46 63 18,9 tes de maquinaria agrícola do interior de São Paulo são os principais
1978 32 53 clientes desses fundos de quintal". Terceiro, "clientes de maior porte
1979 85 34,9
40 34 74 das MFCNs são a indústria automobilística, auto-peças e vários tipos
1980 62 13,0
32 94 27,0 de indústrias voltadas à exportação"(34).
1981 69 55 A distribuição do parque de MFCNs indicam que em 1980 62%
1982 124 31,9
120 30 150 21,0 dos usuários eram empresas de capital estrangeiro; em 1983 (este dado
1983 150 30 é para o Estado de São Paulo, que tem 74,5% dos usuários do Brasil)
1984 180 20,0
253 53 306 48% dos usuários eram da indústria mecânica, 21 % da indústria de
1985 413 70,0
60 473 54,6 material de transporte, 13% do setor de material elétrico e de comu-
nicação e 10% do setor de metalurgia(35).
Fonte. Stemer, C.E., Ana1s_do II CONAI, SP, 11/85, Com relação à tecnologia para a produção das MFCNs, repete-se
citado por Tauile (IEI 111). o esquema visto para os CLPs: os comandos numéricos mais simples
são feitos com tecnologia nacional (como faz a empresa MCS), mas
Assim, em 1985 atingiu-se um total de 1711 MFCN . ai d os comandos e as MFCNs mais sofisticados são produzidos com
no país Os d d s rnst a as
· ª
em 1986 foram ac
os para a produção nacional de MFCNs · di
d . m cam que
tecnologia licenciada (Romi - Alley Bradley; Maxitec - Siemens;
rescenta_ os 833 urudades no estoque total(32) DIGICON - Mitsubishi).
Em 1987 .tioram vendidas 1018 MFCN · . · Tauile concluirá que o estágio atual da difusão das MFCNs é
mento de US$ 197 8 milhões Já 1988s, atingmdo um fatura- modesto, apontando para uma situação de aprendizado da utilização
passando a US$ 223 5 milhõe . em , o faturam~nto cresce,
cializad~ cai a 742 ~nidades(t3ras o numero de máqurnas comer- da tecnologia e relacionando a sua utilização mais industrial em
setores onde a atividade de exportação exige o cumprimento de
. ta!Assun, no início de 1989 o Brasil tinha quase 4 500 MFCN determinadas exigências técnicas (indústria automobilística, de au-
ms adas. · s
topeças, aeronáutica e de armamentos).
1 82A indústria de MFCNs é sensível às mudanças do clima económico O preço destes equipamentos é considerado por Tauile como o
maior entrave a sua difusão. Enquanto uma máquina-ferramenta
183
TABELA XXI
tradicional custa 20% a mais que o similar importado, umaMFCN tem
o seu preço 3 vezes maior que o similar importado e o CN nacional Mercado Mundial de Robôs
atinge um preço 5 ou 6 vezes maior que o importado(36). (em mil unidades)
Uma avàliação realizada pelo BNDES em 1985 apontava que a
" ... indústria de máquinas tem gargalos de produção em tipos mais 1985 1989
avançados de equipamentos, como os automatizados ou com co- PAÍS 1981
mando numérico, ou ainda computadorizados". Essa avaliação é 36,0 110,4
semelhante aos dos próprios dirigentes da ABlMAQ, que colocavam Japão 8,4 55,2
EUA 3, 6 14,4
que "... a modernização do parque industrial brasileiro passa pela 8,4 26,4
modernização de nossas fábricas de máquinas e equipamentos. Preci- Alemanha Oc. 2,4 9,6
Reino Unido 0,6 2,4
samos reaparelhar-nos e investirem novas tecnologias para podermos 2,4 8,4
corresponder à altura, nos diversos ramos industriais"(37). França 0, 5
Fonte: Computerworld,january 4, 1988.
184
apresentarem projetos de fabricação de robôs (sob o regime de reserva ,mercado nacional de robôs é lenta e aguardava para os próximos4 anos
de mercado): 23 se apresentaram e 16 foram aprovados. uma difusão da "cultura da robótica"(46). .
Estes se dividem entre dois grupos. O primeiro composto pelos Parece evidente o contraste entre a euforia inicial com a robónca
projetos mais sofisticados de robôs multifuncionais ou universais, que nacional e o quadro atual, consolidad? após a ~uc::ssão de frustrações
são projetos com licenciamento de tecnologia no exterior (Villares - de expectativas, as dificuldades técrucas, as limitações de preço e o
Hitachi; Mentat - Siemens; DF Vasconcelos/Prologo - ASEA; MCS/ quadro global de crise económica.
Taunus - Reis). Esses projetos são os adequados para a demanda da
indústria automobilística e mecânica. 4-CAD
O segundo grupo, o dos robôs mais simples, são projetos que os primeiros foram importados no início ~a década de 80.
optaram por um desenvolvimento de tecnologia própria (BCM/ Em 1984 estavam instalados no país 40 sistemas. Em 1985 os
Engemaq, Mixertech, Petersen, Engesa, Zivi, etc.). Tauile ressaltará sistemas de médio e grande porte atingiram um total de 70 e os de
que" ... alguns projetos apresentados por empresas do segundo grupo pequeno porte chegaram a um número entre 50 e 70(47).
são referidos a equipamentos que têm características de manipula- Jáem 1986foramproduzidos40CADsdegrandeporte, 18 CADs
dores de sequência fixa, não programáveis, e que portanto não terminais gráficos e J92 CADs baseados em microcomputadores(48).
poderiam ser classificados rigorosamente como robôs(41). Em 1987 os sistemas CAD/CAM baseados em micro_s venderam
No início de 1988, apenas 3 das 16 empresas aprovadas para a 540 unidades (US$ 20,8 milhões) e os de maiorport: totallzaram US$
produção de robôs haviam efetivamente realizado a entrega de mais de 8,2 milhões (não há a informação do número ~endido). .
uma unidade: a DF Vasconcelos, a Villares e a Ipso(42). Em 1988 os sistemas de menor porte totalizaram 619 urud~des e
A perspectiva de crescimento da robótica nacional, segundo os US$ 20,8 milhões. Já os de grande porte renderam US$ 9,? m;ll_i~es
empresários do setor, depende da expansão de seus principais merca- e significaram a venda de 81 sistemas (embora a expectanva 1rucral
dos: indústria automobilística, indústria mecânica e indústria ele- fosse de 151 unidades colocadas)(49).
trônica. A crise afeta bastante o setor: vimos que em 1987 foram Ainda em t 988 a SEI alterou as regras de impo~ação d~s. CAD
vendidos 28 robôs, mas as projeções indicavam a colocação no de grande porte, com preço FOB acima de US$ 35 mil, perm:nndo a
mercado de 87 unidades. Neste ano, a Villares tinha planejado vender sua liberação sem estar condicionada à apr:sentaç~o ?e pro.ietos de
12 robôs mas até outubro não havia passado de 3 unidades(43). Essa nacionalização. O resultado dessa decisão foi duplo: mume_ras e_mpre-
frustração de expectativas fêz com que a Villares deixasse de apostar sas nacionais fecharam contratos com fabricantes internac1ona1s para
alto em seu projeto de robótica, adiando o seu projeto de robôs de distribuição e comercialização dos sistemas de grande porte (Scopus
grande porte(44). com a Sun, Villares com a IBM, Edisa com a Hewlett Packard ~te.) e
A queda na venda de robôs em 1988 é atribuída ao alto preço dos 0
volume de importações se elevou expressivamente (271 urudades
robôs quando comparados ao custo da mão de obra no Brasil. Para um em t 988 e 534 até novembro de 1989)(50). Essa mudança de regra
técnico da área de automação industrial da General Motors, justifi- deve ser responsável pela quebra nas expectativas de vendas das
cando a não utilização de um único robô na linha de montagem do estações de maior porte no ano passado. .
Monza, "no caso do Brasil, em que o equipamento substitui apenas um A distribuição dos usuários do CAD se dá de uma maneira
homem, a mão de obra ainda é barata e o limite máximo de retorno de semelhante à dos países desenvolvidos: como podemos ~:r na tabela
um investimento é de cinco anos, o produto ainda é inviável". Alguns abaixo os CADs se concentram nas indústrias d~ mate1'.~s de trans-
especialistas consideravam que os usuários em potencial da robótica porte, eletrónica e de máquinas e equipamentos mdustna1s.
ainda estavam em fase de "sondagem". Um usuário de robô citou as
dificuldades que o próprio fabricante teve na instalação do produto,
como um exemplo da falta de domínio sobre a tecnologia(45). Um
superintendente da DF Vasconcelos considerava que a maturação do
186 187
TA BELA XXIII 'Tauile aponta que " ... a utilização de software desenvolvido no
exterior permite reduzir os recursos humanos e materiais e o tempo
Empresas com sistemas de CAD próprios de médio e necessário para colocar os novos produtos no mcrcado"(52).
grande porte por setor de origem (1985) A recente mudança de regras da SEI determina uma segmentação
do mercado entre os CAD de pequeno e médio porte, atendidos por
SETOR N2 DE EMPRESAS % produtos nacionais, e os de grande porte, aberto à importação. Essa
mudança foi justificada pelo Chefe do Departamento de Automação
Máquinas e equipamentos ind. 7 15 Industrial da SEI: "a necessidade de novas regras deve-se ao próprio
Material de Transporte 13 28 avanço tecnológico da área, que propiciou o aumento do desempenho
Eletrônica 10 21 dos grandes equipamentos acompanhado de uma forte redução de
Têxtil 1 2 preços devido à forte competição intcmacional"(53). Na verdade é
Serviços de Engenharia 2 4 uma mudança importante na política de resciva de mercado do setor.
Birô de Informática 2 4 Não há por que não adicionar às explicações dessa mudança a
Instituições de Ens.e Pesquisa 10 21 incapacidade das empresas nacionais cm produzir as estações de
(Públicas e Privadas) trabalho mais avançadas, mesmo com o licenciamento de tecnologia.
Outros 2 4
5-Controle de processos
TOTAL 47 100 São os sistemas necessários ao controle dos processos industriais
nas indústrias de fluxo contínuo (petroquímica, siderúrgica, nuclear,
Fonte: Dados & ldéias, 06/87. papel e celulose, cimentos, não ferrosos etc,), atingindo outros setores
como geração de energia elétrica e telecomunicações
Até 1983 seis empresas estrangeiras comercializavam sistemas Num estudo preparado pela SEI no ano de 1980, concluía-se que
também importados, com a Intergraph e a Computeivision na lide- 70% do mercado de sistemas de controle de processos no Brasil era
rança (sendo responsáveis por mais de 60% das unidades utilizadas). composto por empresas estatais, com destaque para Elctrobrás, Pctro-
Em novembro de 1984, a SEI lançou uma convocatória para que brás, Sidcrbrás, Nuclcbrás e Tclcbrás(54),
a indústria, nacional apresentasse projetos, o que foi feito por 18 Há nesse setor uma dinâmica dupla: 1) nas antigas unidades de
empresas. As empresas estrangeiras só houve a opção de licenciar a produção os controle de processos convencionais são substituídos
sua tecnologia para as empresas nacionais, o que foi feito por pelos digitais; 2) as novas unidades já são construídas com os sistemas
Intergraph, Calma, CDC, Hewlett-Packard; já a Computeivision e a digitais,
Gerber se recusaram a fazer esses licenciamentos(51). Para o departamento de automaçào industrial da SEI, o mercado
Mais uma vez, a divisão dos vários setores da indústria de CAD de controle de processos abrange cerca de 60% do mercado nacional
indica a relação entre produtos mais sofisticados e tecnologia licen- de automação industriaL
ciada e entre produtos mais simples e tecnologia própria. Dado o peso do setor estatal neste mercado, é bastante pcrceptfvel
No setor dos sistemas de grande e médio porte (onde atuam o impacto da perda de capacidade e investimento do Estado sobre o
empresas como Villares, A. Donato, Sisgraph, Compugraf, Multicad ritmo de crescimento do setor.
e Edisa) todas licenciaram tecnologia estrangeira. O Sistema Digital de Controle Distribuído (SDCD) é o principal
No setor dos CAD de pequeno porte, a SEI exigiu que só o equipamento de controle de processo, É um produto de relativa
software pudesse ser desenvolvido no exterior, sendo o hardware sofisticação, Em 1983 a SEI autorizou a 5 empresas a licenciar
obrigatoriamente nacional. No entanto nem todas as empresas que tecnologia para produzi-los: DFV-Prologo (tecnologia Asca-succa),
atuam nesta faixa optaram por desenvolver um software próprio. Elebra (Leets), Ecil (Yokogawa), Unicontrol (Fisher) e Villarcs
188 189
responder de uma fonna razoável a um futuro novo ciclo de inves-
(Hitachi e, em 1987, Honeywell-empresa que é líder mundial na timentos, que ocorrendo em um novo patamar tecnológico requererá
fabricação dos SDCD). Posterionnente, entrou no mercado a COMSIP uma introdução mais ampla dos bens da infonnática no parque
(empresa que tem como acionistas a Norquisa, a COPENE). produtivo?
Em 1985 foram vendidos 9 SDCDs e, em 1987, 64. A resposta é negativa. Esse balanço negativo pesa para difusão
Em 1988 o mercado de SDCDs era estimado em US$ 77 milhões das inovações tecnológicas no parque do país: a pequenez, o atraso e
pela InterBusiness Consultoria (mais da metade do conjunto dos a dependência tecnológica detenninaram, e muito, o porque da baixa
proces~os co:i,únuos e cerca de 32,4% do mercado de automação difusão das inovações no Brasil. Não háem nossa abordagem qualquer
mdustnal estimado pela mesma pesquisa). ilusão na possibilidade de um país ter, por si só, a capacidade de se
Nas estimativas da ABCPAI, em 1989 os SDCDs tiveram um abastecer dos bens de infonnática, quanto mais um país dependente
bom desempenho, alavancado pelas encomendas do setor papel e como o Brasil. Mas, não há a menor dúvida que a inexistência de uma
celulose(56). Até 1991 a Villares deve inaugurar uma nova unidade indústria séria de infonnática impacta negativamente o desenvolvimento
industrial para produzi-los (encaminhou ao CONIN pedido de incen- indusllial no presente estágio do desenvolvimento capitalista. São
tivos fiscais). indispensáveis um domínio mínimo; uma capacidade tecnológica
básica capaz, de pelo menos, viabilizar operações de transferências
V- Algumas observações sobre o estágio atual da indústria efetiva de tecnologia; um conhecimento e uma capacidade de desen-
nacional de informática e seu impacto sobre a difusão dos volver internamente o conjunto do ciclo da tecnologia microele-
EAMEs no parque industrial brasileiro trônica; uma comunidade de pesquisadores, técnicos e mão de obra
com fonnação suficiente para tocar projetos, participar de intercâmbios
Avaliada a indústria de infonnática em geral e os seus subsetores internacionais; e a existência de um parque industrial que diminua um
"microeletrônica" e "produção de equipamentos para a automação pouco a caráter defonnado do ciclo económico do país, facilitando o
industrial", constata-se que: 1) é um setor pequeno; 2) a concentração acesso, a utilização e a difusão das novas tecnologias.
da capacidade produtiva desta indústria é em bens de menor sofisti- No fundamental, esses elementos praticamente inexistem na
cação te~nológica; 3) existe uma segmentação nesta indústria, onde a realidade brasileira.
tecnologia nac)onal está presente apenas em bens mais simples, Não podemos subestimar essa avaliação. O padrão de desen-
~ca;id~ os mfils complexos para a tecnologia importada; 4) esta volvimento imposto pela ascenção da microeletrônica à posição de
mdustna tem um sustentáculo frágil, dada a incapacidade nacional na uma indústria estratégica apresenta uma série de novidades. Não
P:OO~ção. da "matéria prima básica" de todo o setor, que são os podemos raciocinar como se este nosso atual atraso fosse igual ao
cucmtos Integrados. Portanto, o que há é um quadro de carência de atraso dos anos 30: no capítulo II foi visto como as novas tecnologias
atraso e dependência tecnológica. vão tendo uma maior "apropriabilidade" por quem a desenvolveu,
Na área da microeletrônica e da infonnática, a estratégica década como é cada vez mais difícil atingir o domínio dessas tecnologias. O
d~ !980 também foi perdida. Empresários do setor dizem que não, esforço que o país deve fazer hoje para superar seu atraso (atraso que
utilizando-se das taxas de crescimento do setor e comparando-as com ampliou-se na última década) é muito maior do que o feito em outros
as da economia nacional. Embora aquelas tenham sido significativa- ciclos do desenvolvimento económico, quando o padrão tecnológico
mente sup_eriores, não podemos nos apegar apenas aos números, era menos sofisticado.
temos de situá-la dentro de algumas perguntas: Houve investimentos A gravidade da situação presente pode ser sintetizada em um
na área a ponto de capacitar o país a acompanhar a evolução tecnológica dado: o Brasil sequer tem o direito de compraro bem de alta tecnologia
em curso no mundo ? O "fosso tecnológico" diminuiu na última que julgue necessário, há restrições sérias que obstruem esse acesso.
década? O parque industrial construído até o final da década de 70 foi Segundo o secretário geral do Itamaraty, Paulo Tarso Lima" ... hoje
modernizado ? Ou, uma pergunta menos ambiciosa mas não menos nem o governo brasileiro, nem seus institutos de pesquisa, nem a
importante: houve um desenvolvimento do setor que o habilitasse a 191
190
forriori, empresas aqui instaladas podem adquirir um supercomputa- investimentos industriais em automação etc. Ressalte-se um reflexo
dor dos EUA ou no Japão _(os únicos disponíveis), sem se sujeitarem da queda da capacidade de investimento estatal: na área de telecomu-
ao cnvo dos países do fabncante, detentores do poder discriminatório nicações investia-se 1 % do PIB em 1977 e em 1987 aplicou-se apenas
de sustar a ve~da. Nos casos raros em que a operação é autorizada, o 0,5 %. As telecomunicações estão com o sistema congestionado,
gov~mo brasileuo vê-se obrigado a assumir compromissos, por ameaçando entrar em colapso até o final de 1991. Essa crise no setor
escnto, quanto ao uso que será feito do equipamento. E assim como das telecomunicações afetará significativamente a infonnática, uma
o supercomputador, muitos outros bens de alto conteúdo tecnológico vez que a comunicação de dados e a telemática são tendências fortes
têm sua venda ao Brasil ( e a vários países) estritamente controlada" no desenvolvimento do setor. Paulo Roberto Feldman, em um tom
(57). A justificativa para esse controle são os interesses da "segurança alannista, alerta que" o sistema de telecomunicações vai acabar com
mundial"...
a infonnática" (59). Mais do que um alerta, essa discussão acrescenta
. A. Petrobrás adquiriu um IBM 3090 com a condição de ser argumentos sobre a necessidade de um caráter integrado para desen-
penodicamente submetida a uma auditoria sobre o seu uso. Recente- volver a microeletrônica no sentido amplo. E, não esqueçamos, as
mente, o INPE adquiriu um supercomputador da NEC dando a telecomunicações para se desenvolver dependem da microeletrônica
garantia que o utilizaria apenas para suas projeções meter~ológicas. cada vez mais.
Além_ desses obstáculos ao acesso aos bens de alta tecnologia, há Destacamos muito a indústria microeletrônica neste capítulo.
grandes difi_culdad~s nos processos de transferência de tecnologia. Intencionalmente apresentamos muitos dados para comparannos com
Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Administração da USP a situação mundial e insistimos, repetidamente, nas consequências da
mostrou que "as empresas norte-americanas de infonnática do setor de ausência desta indústria. As repercussões sobre o conjunto da indústria
in_fonnática estão dispostas a transferir know-how a parceiros brasi- de infonnática são diretas.
!euos _desde que não se trate de tecnologia estratégica, o retomo do Para comprovar isso basta tomar o exemplo da indústria nacional
mvesumento compense e essa operação não envolva riscos de no de microcomputadores (talvez a maior"estrela" da política de reserva
futuro a companhia brasileira tomar-se forte competidora com base na de mercado, que é extensiva à produção dos mini e supennini): a tão
tecnologia absorvida, como aconteceu com o Japão" (58). falada produção nacional depende da importação de circuitos integra-
Essas duas restrições ao desenvolvimento tecnológico brasileiro dos', como vimos. E esses serão responsáveis por nada menos do que
lanç~ questões que terão de ser respondidas na fonnulação de uma 44,6 % do custo total dos microcomputadores. Na área da automação
polftica de mod~mização tecnológica do nosso parque industrial: J) bancária, tomando-se o exemplo dos tenninais de caixa, esta partici-
como nos relacionar com os países que dominam a tecnologia de pação cai para 41,2 %. (60)
f~nna que ~ssai:no~ abso_rvê-la efetivamente; 2) qual o perfil e a Se a essa dependência de importações no setor onde a produção
dim~nsão d~ mdµstna nacional de infonnática que deve ser desen- é nacional adicionamos a completa incapacidade de produção dos
vol~1da aqm para mmorar essas imposições e pressionar os países computadores de grande porte (onde sequer há uma "tecnologia
~ap1tahstas avançados no sentido de flexibilizarem suas políticas de nacional" de montagem desses computadores) não podemos dci)\arde
impedimento à uma efetiva cooperação tecnológica à escala inter- questionar possíveis reduções na dependência tecnológica. E ne-
nacional?
cessário concordar com uma observação de Peter Evans: " ... obser-
Essas p~rgu~tas deverão ser respondidas no capítulo VII, quando vando-se a combinação da dependência de computadores estrangeiros
estaremos discut1n~o alguns elementos de uma resposta operária ao de grande porte de seu respectivo software de sistema operacional, da
desa:io da automaçao. Agora, devemos passar a discutiroutros pontos dependência da tecnologia importada de silício em todos segmentos
da situação atual da infonnática nacional, buscando debater com do mercado e da aparente necessidade de importar tecnologia dos
aqueles que superestimam as "conquistas" brasileiras no setor. supenninis, o grau em que se 'reduziu' a dependência é, no mínimo,
O quadro atual da crise brasileira afeta a infonnática de várias discuúvel" (61)
fonnas: inexistência de investimento significativos na área, poucos Se passannos para áreas como a da produção de robôs, a Vilares
192
193
como vimos usa um licenciamento simples da técnica " ... o que Essa relação é que coloca a necessidade de discutir (pelo menos
equivale a comprar as máquinas mas sem os seus segredos... Do Japão em linhas gerais) o Plano Nacional de Informática, na medida em que
vieram modelos com a marca Hitachi que aqui são copiados, o que ele é considerado por muitos como o principal motor para a con~tru5ão
para a ciência nacional tem tanto valor como comprar a máquina lá dessa indústria nacional de informática (e para outros é o pnncipal
fora" (62) entrave da modernização tecnológica do país).
E a "ciência nacional" tem contribuições deste quilate na área de O mecanismo de reserva de mercado (o ponto principal e mais
CAD/CAM, SOCO, Comandos Numéricos etc. polêmico do PNI) protege, na verdade, algumas empresas nacionai~ da
O atraso e a dependência presentes na indústria brasileira de concorrência estrangeira. Evidentemente como toda empresa capita-
informática repercutirão para a economia como um todo, pois trata-se lista que se preze, as empresas aqui instaladas e devidamente prote-
do setor sobre o qual se apoia a modernização industrial. Cria-se um gidas pela reserva não deixarão de concorrer entre si. Essa con-
"gargalo" para o processo de desenvolvimento industrial e um corrência se soma a uma característica nacional da acumulação de
"multiplicador do atraso". Uma das confirmações disto foi vista capital que é limitação estrutural da capacidad~ de fi:ianci~ento
quando constatou-se o efeito do alto custo dos equipamentos nacio- privado de empreendimentos vultuosos. E édeste llpo de mvesttmento
nais sobre a difusão das inovações tecnológicas, obstaculizando-as. que a indústria microeletrônica necessita. Segundo Edson Oytz, o
As declarações e os dados empíricos nesta linha são numerosos. investimento para se montar uma fábrica de chips é da ordem de US$
Um gerente geral de uma indústria do ramo microeletrônico calcula 1 bilhão .Conclui daí que na área damicroeletrônica, os investimentos
que "seja qual for a dimensão da automação das linhas fabris, nenhum são muito pesados e que o mercado nacional não suporta (65). .
empresário gastará menos do que US$ 200 mil, mas conforme a Mesmo a fábrica de componentes que a Itausa pretende constnur
complexidade do projeto os investimentos poderão atingir a ordem de não foge a esta caracterização. O BNDES arcará com quase 50 % do
US$ 10 milhões" (63). Esse custo desestimulou muitos investimentos funcionamento: a empresa solicitou ainda a utilização de incentivos
em m?<1ernização no setor de a~topeças. Um industrial por exemplo, fiscais. Tudo isso para construir uma fábrica de uma tecnologia
plane3ou gastaruma certa quantta em um plano de automação mas ao bastante atrasada e que não dá nenhuma segurança na continuidade do
fazer uma consulta sobre quanto teria de investir e constatando que avanço da microeletrônica brasileira para etapas mais sofisticadas,
seria o triplo do previsto, desistiu da idéia. O consultor acusou a como lembrava o professor Antonio Zuffo, da USP.
obsolescência como o principal responsável pelo alto custo: segundo Ao lado dessa limitação, a concorrência vem ao lado da irracio-
ele um supermini brasileiro custa US$ 400 mil e um estrangeiro (mais nalidade e da anarquia na produção... Exemplos: entre as empresas
avançado tecnologicamente) apenas US$ 100 mil. Entre outras.razões nacionais de informática existem 31 fabricantes de interface, 51
porque "... a tecnologia nacional de base de informática não supre fornecedores de micros de 8 bits, 25 de modem assíncrono, mas existe
completamente as necessidades do setor'' e como exemplo cita o custo uma grande carência nas áreas de produção de capacitores e circuitos
de um componente que nos Estados Unidos é de US$ 1 e chega ao integrados. Outro dado bastante revelador: de " ... cada 100 enge-
Brasil por US$ 3 ou 4. (64) nheiros que atuam na área de informática, 70 estão concorrendo entre
O risco para explicação desta situação é cairnum círculo vicioso: si, desenvolvendo o mesmo trabalho em empresas diferentes" (66)
os produtos são caros porque não há demanda suficiente para ampliar Há assim na política nacional de informática umacombinaçãosui
a escala da produção, como não são acessíveis esses produtos eles não generis entre a escassez e o desperdício: os poucos recursos são
permitem o estabelecimento da escala de produção... O mercado aplicados irracionalmente, disputando áreas já "ocupadas" e se ausen-
seguramente não romperá esse círculo, como veremos. tando em áreas desocupadas ... Ao seguir o "mercado" (reservado) e
De qualquer forma, não pode haver margem de dúvida sobre o não um plano que aponte para prioridades e viabilize a concentração
papel facilitador que uma indústria de informática forte e avançada de recursos à escala necessária nem o atraso e nem a dependência são
teria sobre a modernização do parque industrial brasileiro (talvez fosse superados. É curioso que o mesmo Congresso Constituinte que aprova
mais do que isso, um fator estimulador). " o princípio da reserva de mercado derrote uma emend.a apresentada
194 195
pelo PT que propunha "a utilização intensiva do planejamento em acrescentar o lado das grandes corporações ~ulti~acionais. yimos
escala pública e privada" para a expansão, entre outras, "dos aparatos que elas podem simplesmente se negar a licenciar _detennmad~
eletrónicos, da infonnatização... " (67) tecnologias como fonna de pressionar o país por situações mais
A polêmica em tomo da política de infonnática aponta para a favoráveis. Há outras fonnas de ação, ainda.. .
existência de 3 posições distintas: 1- as que apostam na reserva de Se na batalha entre os "gigantes" o capital vai sempre achando
mercado para a ação do empresariado nacional; 2- as que apostam no maneiras de se movimentar (as medidas protecionistas '.°1:°adas pel~s
mercado sem reserva, confiando basicamente na ação do capital Estados unidos são respondidas pela implantação de filiais estran~ei-
imperialista e 3- as que não apostam no mercado (com ou sem reserva) ras no solo americano), certamente em um país como o Brasil a
buscando definir uma política que rompa com a ausência da planifi- realidade dos seus objetivos deve ser mais fácil.
cação económica e com dependência, através da estatização do setor o licenciamento de uma tecnologia não é "grátis"; mas !~bém
da infonnática e do desenvolvimento tecnológico baseado numa significa a entrada de uma mercadoria em um merca?o prmbido: A
transferência efetiva (não imperialista) da tecnologia de ponta (o que realização de joint-ventures e de_ o~tras fo:1°a~ de_ associação de capital
deve estar articulado com uma política industrial económica global, (mesmo com o capital impenalista mmontá?o)_ é uma fonna de
que discutiremos mais adiante, no capítulo VII). influenciar, de uma maneira mais ou menos mdireta, os rumos ~e
Nosso ponto de partida é o de que com ou sem reserva, o mercado empresas nacionais (especialmente porque o controle da tecnologia
não é capaz de conseguir superar o atraso da indústria brasileira no está com a grande corporação). Neste sentido a estratégia da IBM do
setor. A ação livre das forças de mercado imporá a plena realização da Brasil é bastante interessante. Ela pretente, desde 1987, fechar de_ 4 a
~visão internacional do trabalho tal qual ditada pelos centros im peria- 8 associações com empresas nacionais e, através delas prod~ztr o
listas. E nela um setor chave como a eletrónica em geral (com destaque máximo de produtos compatíveis com a sua marca: é um~ maneira de
par~ as_ indústri~s de infonnação, óbvio) não pode fugir a regra: a assegurar de uma maneira um pouco indireta o predomínio da corpo-
mdustrta eletrômca é considerada a indústria mais internacionalizada ração no mercado, na medida em que a sombra de sua marca estará
(a razão trocas sobre produção é a mais elevada de todos os setores "rondando" o país, ficando assim a IBM com " ... a cert~za que as
industriais: mais de 40 % em média) e ela é também a indústria mais empresas brasileiras como a Petrobrás e a Vale do Rio Doce e
multinacionalizada. Ao mesmo tempo, a complexidade da indústria é multinacionais como a Volkswagen se manterão finnes na com~r~ de
tal que nenhuma empresa pode funcionar sem se abastecer no exterior seus produtos caso operem aqui com equipamentos compatíveis .
(nem a IBM ou as finnas japonesas escapam dessa regra de se Nesta polêmica entre as duas variantes de sol~ção de mercado
abastecer fora de seu grupo). "Essas características da indústria parece haver uma divergência fundamentalmente t~ttc~: o probl~m~ é
explicam um grande número de casos onde se assiste a uma verdadeira qual a melhor maneira, qual é o método que o capitalismo brasileiro
decomposição internacional dos processos produtivos: nas diferentes usa para ocuparuma posição mais avançada nas mudanças deco~e~tes
etapas da produção dos diversos produtos eletrónicos pode-se dizer da crise e dos avanços tecnológicos. No final das contas, essa divisão
que muitas vezes os NICs realizam a montagem dos produtos que são internacional do trabalho não é questionada. Todo o progle~a se reduz
bastante intensivos em mão de obra, enquanto aos países desen- a como se inserir de uma maneira mais vantajosa nela. E e_vidente que
volvidos se reservam as etapas mais elaboradas tecnologicamente" para romper com ela é necessário um projeto i:olftico e social· que traz
(68). embutido uma polftica industrial e tecnológic~ · que pa_rta do ques-
Mesmo com a reserva de mercado, essa imposição dificilmente é tionamento radical da presente ordem económica mundial. .
quebrada. Já vimos alguns elementos que demonstram a limitação Há indícios de recuos de vários ferrenhos defensores da polfnca
dessa política: estreiteza da capacidade de financiamento do capital de reserva de mercado. Talvez, após terem tentado oc~par t~os os
nacional, efeitos da concorrência entre as empresas nacionais pelo espaços possíveis ao alcance da capacidade doempre_sanado na~10~al,
mercado, a ausência de planejamento que articule uma polftica passam a uma posição mais "realista" do ponto de vista do cap1tal1sta
industrial com a de desenvolvimento tecnológico etc. É necessário brasileiro. Um exemplo disso é o presidente da ABICOMP, Edson
196 197
Fregni (presidente da Scopus) que diz " ... o que o país não tem
condições de produzir, pode-se importar, licenciar multinacionais
para fazer aqui ou se encontrarum meio-tenno com trabalhos conjun- 1. o complexo têxtil/vesturu:io/c~ç~do_s
tos entre o empresariado nacional e o estrangeiro" (69). Neste complexo a difusão é amda msignificante.
A tônica do governo Collorneste campo será o de favoreceruma No setor têxtil, é mais moderno o setor voltado para a exportaç~o
maior"abertura" ao capital estrangeiro, com um enfraquecimento dos (que responde por 30 % da produção do setor)_. Embora seJa o mais
mecanismos da reserva. No próximo capítulo veremos a limitação de moderno, a utilização das EAME não é cons1dei:ada fundam~ntal,
uma alternativa de cunho neoliberal para gestar uma política de dado inclusive a pequena difusão deles no própno merca?o mter-
evolução tecnológica na era da microeletrônica. nacional O que favorece a introdução da ME é a necess1d~de _de
Identificadas as limitações das duas posições baseadas no mer- melhor qualidade para concorrer no exterior (também CO?t?bm a
cado, é necessário ressaltar a importância da terceira posição nesse busca de mais controle da produção e a elevação da produtiv1da:.
debate, posição muitas vezes pouco presente nas discussões. Contra a introdução dos EAME estão o seu custo elevad~, as_ -
Dada a inseparabilidade da polftica para os setores tecnologi- culdades de importação (na medida em que pou~a~ 1;lAMEs texte1s são
camente de ponta que esta da política industrial gera, a discussão desta fabricados no Brasil), os baixos salários e a poss1bilid~de de concorrer
terceira posição será feita mais adiante, articulada com uma crítica no mercado interno com equipamentos menos sofis_ucados. .
mais geral do modelo de desenvolvimento e industrialização capital- No setor de confecção e vestiário, segundo Tauile, não se previa
ista do país. a curto prazo uma difusão rápida das EAME. Argumenta que co~o
nos países desenvolvidos, a utilização delas se concentrará no dom!:{1º
VI- A presença e a distribuição de equipamentos de automação da gestão da produção e da otimização do corte. Os CADs requen os
com base na microeletrônica pelo parque produtivo brasileiro são simples e podem ser produzidos localmente. O que favorece.ª sua
difusão é a simplificação das tarefas de preparação, econonna de
Os estudos e os levantamentos para identificar de uma fonna mais matéria prima, economia no trabalho qualificado para preparação,
precisa a presença destes equipamentos pelos vários setores indus- maior flexibilidade para lançamento de novos modelos. .
triais do país tem proliferado. Citaremos os que vamos trabalharnesta Em um outro trabalho, Geraldo Assouline tr~tar:1 em c~nJunto a
parte: 1) uma pesquisa da OIT, coordenada por Tauile (IEI-UFRJ), indústria têxtil e vestuário, apontando as consequencias s?fndas pelo
publicada em meados de 1987; 2) uma pesquisa do DIEESE para a setor em consequência de sua.abertura ao mercado mundial. De 1968
caracterização da automação em 14 setores industriais (foi realizada a 1981 a intensidade do trabalho terá aumentado, pass~do de 4 para
uma entrevista com o economista Mário Salerno, um dos coordena- 30 o número de teares supervisionados por um operário (no mesm?
dores deste levantamento); 3) um trabalho do BNDES; 4) um estudo período sofrendo os efeitos combinados da recessão e da mode~:-
da "Interbusiness Consultoria Empresarial" (amplamente citado no zação o número de operários empregados pelo se torno Estado de o
trabalho do BNDES); 5) várias revistas, com dados tópicos. Paulo' passa de 120.000 a 65.000). Ele identificará em algumas
No entanto, o quadro levantado está !onde de ser completo e em resas gastos importantes com a infonnatização: a SP '?1~argat'.15
acabado, ou menos insento de contradições: há uma diversidade de im gortou um CAD em 1984 e o setor de fios e fibras da Rhodia mvestiu
fontes de infonnação, critérios, definições etc. em J982 e 84 um total de US$ 7,3 milhões (70). .
O quadro geral pode ser sintetizado da seguinte fonna, tomando Em meados de 1987, uma empresa (SulfabriJ) estava tennmando
por base o estudo realizado para a OIT (que se centra nos complexos de instalar o seu CAD e outras duas faziam planos para avançar na
têxteis/calçados, metal/mecânico e eletro/eletrônico), sendo comple- automação industrial (Ferreira Guimarães e Teka).
mentado pelos outros levantamentos e concluído por um estudo de Já no setor de calçados, também intensiva em m~o de obra, não
perspectivas setor a setor. há difusão nem de CAD. O que pode ~s.timular a ~ua difusão é a ~usca
de precisão, a possibilidade de flexibi!ldade da hnha de pro~ução ~ a
198 redução dos custos de corte; o que desencoraja é a natureza megu ar
199
do couro que exige o corte manual.
Em 1987 .á ·d ·fi de teste final de veículos, sistemas de controle (em tempo real) dos
setor. Segund~ :~v~~ ;:;isalf~:,!ntere~~e para~ automação no fluxos de produção e estoques intennediários etc. Tauile argumenta
95% de s od
t e,as, a ... Metnxer que dirige
plena ca~=J~ad~ç!o reara o s; couro-calçado está trabilllando em
contrai d m pe os até outubro", estava utilizando
que a indústria (incluindo os fornecedores de autopeças) consegue
"níveis de produção bem próximos do nível internacional da mesma
indústria". Embora a difusão não tenha um nível internacional, já
medido~:~!t~:;ram:ve1s para. máquinas de pintura em couro e atingiu um nível que é significativo. Foram as indústrias pioneiras na
cas e superfície em couro (71).
utilização de robôs e as MFCNs são cada vez mais usadas (espe-
2- O complexo metal-mecânico cialmente na indústria de autopeças para caminhões).
No setor de produçã d á . O aprendizado atual indica que as futuras linhas usarão cada vez
produtor das MFCN é o e m gumas-ferramenta, que além de mais EAMEs e de uma maneira mais eficaz e seletiva. Essa, por sinal,
empresa que em 1985s um dos .pnncipais. usuános,
· encontra-se a tem sido a tática das montadoras, que têm evitado de automatizar
unidades). era a ma10r usuána das MFCNs (com 80 linhas de produtos antigos. A introdução de um novo modelo da
fábrica da Ford (Bairro do Ipiranga, São Paulo-SP), o caminhão
cas) ;:!pe~s ~asémáquinas_-ferramenta tradicionais (eletro-mecâni-
ncia reconhecida mundialmente As . . Cargo, motivou a construção de uma nova linha que criou 300 novos
rasque atuam n~ setor (19 de um total de 102) se :~p::i~~ge,- empregos. Se a linha fosse mais convencional, menos automatizada,
~~r:?;~ dt9~iupoip:~~~tods mais complexos e sofisti~ados e re:o~~
0
teria criado 1.000 novos empregos, segundo a Comissão de Fábrica
(73).
As .empresas consideram ª produção de MFCNs no Brasil
q d - . · Favorece a difusão no setor a qualidade maior, melhor controle da
MFCNs dada I . ue a pro u.çao exige o emprego das produção e maior flexibilidade sobre as linhas. Contra a difusão, opera
a comp ex1dade do prod t fi d
operações difi il . u o, a nnan o que certas o custo dos robôs e o fato das linhas existentes terem um bom nível de
uma MF con1c m_entelpodenam ser executadas repetitivamente por
venc10na . No setor é ainda im rt produtividade
anterior como usuário de uma MF po ante a experiência Já o setor aeronáutico não deve nada às indústrias do mesmo
o uso para aprendizagem é . d. CN para que possa vir a fabricá-la: mercado. Usa MFCN desde a metade da década de 1970 e CAD desde
m 1spensável.
O que favorece a difusão no setor é a aran . . . o início de 80. A necessidade de precisão e qualidade desta indústria
qualidade das peças complexas a flc "bTi d dtia de precisão, a (ela é também exportadora) exige a utilização das novas tecnologias.
(que são rapidamente reconversí~eis). n~i: ade os e9mp:rnent:_is Por seruma indústria do Estado tem facilidades para a importação de
~::::i ~e;.~~~: ;r~~;:i:r~: ~~~~~ra (r:ti~!!s~:~t~ªi;)e;~~~ equipamentos, segundo Tauile, estando assim próximo das fronteiras
tecnológicas internacionais (74). Em 1987 a Embraer planejava
cion~i ~~:aª~~~~~~!:~c~ até 1980 eram usados métodos tradi-
comprar setenta estações gráficas, objetivando a colocação de todo o
projeto de aviões no CAD (o que exigirá pelo menos cem estações).
integração com o merc:di~ os _anos 80 houve o início de uma maior "O tempo gasto com o projeto de aviões é três vezes menor que o
as exporta ões de aut . undi al, au_mentando consideravelmente manual". Para o projeto do AMX foram gastos US$ 5 milhões na
introduçãoçdas EAM~mfvf1s. A relas;ªº entre e~sas exportações e a compra de CADs.
dos robôs de . t s c ara e explicita. Explicando a introdução
Segundo a revista Dados e Idéias para o setor de material de
produção da Vo1km ura e sfioldagem, o gerente de planificação de
swagen a 1nnava que" com . . transportes (automobilística, aeronáutica e naval), as estações de
evitar problemas d b · ·· esse sistema, visamos trabalho CAD/CAN "já se estabeleceram defmitivamente como ferra-
e aca amento na medida ,
exportados" (72). ' que os ve1culos serão mentas indispensáveis" (75).
Háas· · Éimportanteressaltarqueénestecomplexo(naáreademecânica)
.t ds1m uma mtrodução de novas tecnologias· robós MFCN
SIS emas e máquinas de tran rt fl · · · ' s, que os primeiros projetos no sentido de implementação do CIM
spo e ex 1veis, sistemas automatizados
200 aparece: a Massey Perkins destinou US$ 15 milhões para um plano,
201
de um segmento nacional da indústria que adotará como modelo a
que bus~ª:11. integrar os sistemas de CAD com a automação industrial tecnologia digital. Essa "nacionalização" tem sido feita por empresas
que se tn1C1a onde atualmente microcomputadores são usados no resultantes da associação de capital internacional com grupos fi-
controle de comando numérico. A Volkswagen (que já tem 24 robôs) nanceiros do país. Segundo Tauile " ... um grande número de equi-
está usando um sofistic<1do sistema de sincronia de produção, que pamentos de telecomunicações com sistemas digital e/ou com base
avançando na integração dos sistemas caminha também no sentido do ME foi desenvolvido e produzido pela indústria, com rúveis tecnológi-
CIM. cos não muito distintos do internacional" (77). Os problemas são a
. Já na siderurgia os investimentos na informatização são signifi- dependência, a defasagem em termos de custos e a qualidade.
cativos. Ess~ se~or~ considerado um dos mais informatizados do país, Em termos do grau de difusão das EAMEs (que não é alto) nesta
é-~ dos pnnc1pais mercados para os sistemas digitais de controle indústria, eles se concentram em projeto e teste.
~stnbuíd~, .c~mo vimos. A CSN foi a primeira empresa a usar
sistemas digitais de controle de processo computadorizado: em 1972 4- Papel e celulose, petroquímica
~pli:nt~u. "... seu primeiro sistema... para controlar a mistura do; Destaque deve ser dado ao setor papel e celulose e o petroqufmico
pnnc1pais 1nsumos (minério de ferro e carvão) em gusa". Hoje usa 11 No caso de papel e celulose os investimentos para modernização
computadores para transformar o ferro gusa em aço, 50 para a vieram combinados com uma elevação das exportações. A digitali-
produção a quente e 30 para a produção a frio. zação dos processos se dá particularmente no setor celulose (o
Também utilizam informática na produção (ou já estão implan- processo é de produção de um único produto). A difusão das SDCDs
tan~o o controle di~tal de processos) empresas como a USIMINAS, tem se ampliado e a tendência é a manutenção desta propagação (78).
Cos1pa, CST, Aces1ta, Belgo-Mineira, Eluma Mendes Junior Pains Como vimos, a demanda deste setor foi um dos grandes responsáveis
e Dedini. ' ' pela performance do setor de automação industrial em 1989.
A Petrobrás é o maior usuário. nacional de computadores (79).
3) O complexo eletro-eletrônico Utiliza-os desde a pesquisa de subsolo, passando pela construção das
Não usa EAME de maneira significativa por falta de escala. O plataformas de exploração marítima e chegando à informatização dos
levantamento_realizado pela Dados e Idéias vai indicar que no setor processos de refino e produção de combustíveis. A Petrobrás foi a
eletro-eletrômco os gastos com informática se concentram na re- primeira empresa brasileira a utilizar um supercomputador.
taguard~ (c~ntT?le de estoques, administração e finanças etc). No setor petróleo/petroquímica e derivados, 69,9% dos gastos
Na mdustria de computadores as em presas nacionais passaram com automação se destinaram aos SDCDs (80).
entre 79 e 85 d': 23% do mercado para 50%. Tauile considera que o
atr~o tecnológico é pequeno (menor no setor de micros, um pouco 5- Perspectivas
maior quando se trata dos minis e periféricos). No entanto, ele Esta discussão não pode ser isolada da dinâmica económica mais
ressaltará que quanto a projetos e produção, a distância da fronteira geral. Há uma certa tendência destas projeções das empresas de
tecnológica aumenta: os rúveis de automatização são muito baixos. consultoria de superestimar as possibilidades desta difusão, voltamos
Argumenta que são muitos modelos, nada é feito em escala daí a a dizer, consequência imediata da subestimação da crise atual (ou da
impossibilidade de automatizar (76). ' fase de baixa no ciclo económico atual). O certo é que sistematicamente
A partir de 1987, a indústria nacional de informática "por questão essas avaliações têm sido superdimensionadas.
de ~obrevivência" começa a dar passos para alterar a sua produção: Tomado esse cuidado, é interessante observar os resultados
eqmpamento~ de CAD, sistemas de teste de qualidade computadori- encontrados pelo "Estudo Setorial do Mercado Brasileiro de Auto-
zados e máqUIIlas ferramentas começaram a ser usadas. Isso aliado à mação Industrial", contido na próxima tabela. Os dados que ele traz
busca de racionalização da própria produção. são já uma prova desta superestimação de tendência aqui apontada: as
Na indústria de telecomunicações a situação é parecida com a de estimativas para 1988 e 1989 foram desmentidas pela realidade, o que
computadores. Desde 1974 que o governo estimula o desenvolvimento 203
202
foi constatado pela própria empresa autora da projeção.
r 1
,,1 internacional de difusão é mais lenta do que a de outros setores e
indicará um início de difusão no Brasil, onde uma empresa de ponta
TABELA XXIV J tinha realizado investimentos de US$ 6,5 milhões em processos
digitalizados) (81 ). Papel e celulose cai do quinto para? sétim? lugar,
j
Setor usuário 1988 1989 1990 1991 1992 química e produtos derivados se mantém no sexto e a siderurgia sobe
do sétimo ao quinto lugar.
Agroind. 29,02 36,24 53,50 83,09 105,46 Inúmeros setores (petróleo e petroquímica, siderurgia, geração de
Cimento, cer. eletricidade) são diretamente dependentes dos investimentos estatais,
e vidro 6,75 12,13 14,78 19,50 24,80 o que aponta as variações que são passíveis de oco?"er nesta projeção,
Eletroeletrônico 30,52 50,50 58,16 75,36 92,20 para além da própria dinâmica cíclica da econorma.
Geração/dist. A expectativa de pesquisadores do DIEESE é a de que os setores
energia .
11,96
'I
15,08 22,57 35,20 45,06 mais susceptíveis à introdução de novas tecnologias seriam: petróleo/
Metal-mecânico 114,58 153,15 195,79 263,02 445,53 petroquímica, papel e celulose, automobilística, mecânica e, com uma
Papel e cel. 28,19 28,68 40,79 53,30 65,97 sensibilidade menor, têxtil e calçados.
Petrol/petroq. 104,95 129,77 184,77 283,85 352,00
Plástico/bor. 15,27 16,53 19, 16 25,52 44,62
Química/deriv.
VII- A presença limitada da automação com base na
Siderurgia
21,69
18,27
36,94
20, 12
44,76
43,33
59,06
67,72
74,79
86,98
f microeletrônica e o atraso reconstatado
Têxtil e vest. 5,40 11,23 13,84 18,07 22,47
Transporte
Mineração
6,00
7,91
9,00
7,91
13,68
9,45
19,53
12,39
27,57
15,54
1 Da discussão feita se verifica tanto a presença dos EAMEs como
a limitação de sua difusão (que se relaciona com os limites da produção
Metalurgia 6, 12 nacional destes equipamentos).
10,92 15, 14 20, 13 25,83
Não ferrosos
Serv. públicos
7,40
7,58
7,64 13,74 19,72 24,64 f O Brasil durante a fase expansiva da quarta onda longa da história
do capitalismo conheceu um crescimento industrial elevado caracteri-
10,44 17, 14 27,05 35,39
Construção 5,28 10,74
zado pelo completo predomínio das tecnologias típicas da on~a '.onga
14,13 18,48 23,02
Editor./gráfica
Armazenagem
1,74
1, 18
3,52 4,25 5,57 6,95 1 anterior (as eletromecânicas, embora não chegassem a constitmr um
parque industrial completo típico deste período, vide a pequ~na
2,05 2,78 3,73 4,83 dimensão do setor de bens de capital). Mas durante a fase depressiva
Total 429,81 572,59 781,76 1110,29 1523,65
1 da onda, não conseguiu domínio das tecnologias que caracterizam a
presente fase do capitalismo. Seja do ponto de vista qualitativo, seja
-1
Fonte: Interbusiness Consultoria Empresarial - Estudo Setorial do ponto de vista quantitativo, o atraso tecnológico permanece e a
de Mercado Brasileiro de Automação Industrial condição de dependência persiste.
l
~~adorprogramar a sua atividade, garantindo algum tempo ..gara a substitubilidade de qualquer trabalho, o que não deixa de ser uma
ar'' por exemplo. Na nova linha, isso não é mais possível maneira de desmerecer e rebaixar o papel dos trabalhadores na
280 . 281
produção. ~ica no ar como uma ameaça pairando sobre o movimento Como foi visto, o que acontece não é o fim do trabalho humano no
no seu conJunto. 'processo produtivo mas uma mudança na sua utilização, uma nova
É verdade qm: os empresários passam uma visão mais ambígua estratégia de sua submissão ao ritJno imposto pelo capital na empresa.
sobre as tecnologias baseadas na ME: combinam-se tentativas de Assim, nesta disputa secular entre o proletariado e a burguesia
"dourar a pílula" (afirmando erroneamente que as novas tecnologias para desenvolver ou aniquilar a capacidade de defesa e luta é ne-
são usadas p~ melhorar as condições de trabalho, abolindo os cessário compreender quais as especificidades que a aplicação da
empregos J>t:ngosos e_tc) co~ ess~ utilização mais chantagista (apre- microeletrônica à produção traz.
sentam um nuno de difusão irrealista - o que não é um diversionismo Vimos anteriormente o papel mais proeminente que as atividades
exclusivo do empresariado brasileiro...). de manutenção têm nas empresas que começam a utilizar com mlli:s
Esta visão ambígua é parte de uma estratégia de tentativa de peso a microeletrônica: a maior sofisticação e fragilidade das máqui-
imobilização do movimento para responder as questões colocadas nas toma a manutenção indispensável para o bom funcionamento do
pela automação e a robotização. Mas, o elemento central da tática sistema de produção. E o corolário dessa nova situação é o maiorpoder
empresarial parece ser o completo "segredo" da sua utilização. de pressão que os trabalhadores do setor passam a ter sobre a empresa.
. E~se segredo (como veremos, indissociado da política geral de A utilização desse novo poder passa a ser um problema da capacidade
~v~stunentos, sempre desconhecidos do movimento) é um elemento de ação política e sindical: um "ponto fraco" da nova organização do
md!spensável ~ara que os trabalhadores sejam "surpreendidos" com trabalho está identificada.
as movações: isso aumenta uma sensação de se estar à mercê de É o que Ruy Quadros chama de "novos pontos vulneráveis da
acontecimentos fora do controle dos trabalhadores, crescendo uma produção", onde o desempenho da força de traba,lho é inteiramente
certa visão "fatalista". E essa sensação (que não deixa de ser uma crucial para o conjunto do processo produtivo. E uma contradição
sensação de derrota) é um dos ingredientes da tática empresarial. importante de ser captada para evitar o risco de anál!s~s e apreciaç~s
O el~mento seguinte é o completo controle sobre a utilização da impressionistas. "Se a introdução da nova tecnologia implicou maior
tecnolo!?a: o quando,_ c?mo e onde elas serão empregadas não levam subordinação dos trabalhadores de produção às máquinas, contradito-
em ~?ns1deração a ?Pirnão e a posição dos trabalhadores. E esse poder riamente ela introduziu um novo elemento de dependência da pro-
ha_bilita o empresáno_a usar a nova tecnologia para realizar tudo o que dução ao trabalho: os cuidados para o funcionamento interrupto _e
foi apresentado antenormente, buscando em última instância ampliar correto dos equipamentos" (40), argumenta Ruy Quadros para JUSU-
o seu control~ sobre o conjunto do processo de produção de debili- ficar a sua compreensão de manutenção como uma nova área estratégica.
tando a capacrdade de luta e defesa do movimento operário. Interessante que nos depoimentos colhidos pela pesquisa do
Devemos nos perguntar até que ponto isso é realizado JPEA na montadora" A", alguns operários chegaram a afirmar que" ...
~) A capacidade de luta do movimento operário · a automação aumenta o poder de paralisação". Justificava essa otimista
E ~astante difundida a idéia de que à medida que a automação e posição pela maior integração da produção, o que possibilitava parar
a roh?tízação aumenta vai o movimento operário perdendo força e o conjunto da linha apenas segurando um ponto dela.
capacidade de luta. Após a imposição de um funcionamento mais integrado do
Parece qm: as _coisas nem foram_ e nem têm porque serem assim. conjunto da produção nas montadoras do ABC (em outros t~rmos,
Não é a pnmeira vez que o movimento operário se defronta com após à imposição da lógica fordista a praticamente toda a fábnca), o
proce~sos ~em~ernizaçãotecnológica. Marx falavan 'O Capital que movimento da região "inventou" uma nova forma de luta, que
uma his!óna das mvenções poderia ser escrita pela ótica das tentativas explorou exatamente essa característica integrada do sistema: a c~a-
patronais de barrar os movimentos grevistas. Pode ser acrescentado mada "greve pipoca". A cada instante, apenas um setor da fábnca
que o sucesso inicial destas invenções não se sustentou e os movimen- paralisa o seu trabalho (os demais continuam a postos), mas _essa
tos g~evistas continuaram existindo após a primeira, a segunda e a parada localizada afetará a fábrica como um todo. Há ur~a _es~cre de
terceira revoluções tecnológicas. Não há porque ser diferente agora. "rodízio" entre os setores que vão parando, até que as re1vmdicações
282 283
coloca~as sejam atendidas. Evidentemente esse tipo de ação exige um
conhe_cunento apura?º do processo produtivo e um certo grau de ,que primeiro dominar a nova arte de luta colocada por esses novos
orgaruzação no mtenor da fábrica. tennos será vencedor'' (45).
.. ,, M~srno_ º. depoiment? de um chefe entrevistado na montadora Essa fonnulação é muito rica para a compreensão de que a
A V31 relattVJZar o dornfuio patronal e a inacapacitação do movimento introdução de inovações tecnológicas significam a abertura de novas
o~rário. Segu~do ele "... não há relação entre automação e dirni- condições de luta, cujo resultado depende da capacidade dos conten-
nwção da ~apacrdade d_os trabalhadores de organizarem movimentos. dores nestas condições modificadas.
Sempre V31 haver um tipo de mão de obra especializada e consciente A conclusão é a de que não há um detenninisrno tecnológico a
qu~ pode p~ju?icar mais ainda a produção ou paralisá-la. O pessoal estabelecer a capacidade ou incapacidade de luta do movimento. Essa
In31S conscrenttzado é o pessoal mais qualificado" (42) . continua a ser o que sempre foi: um problema político, um problema
. Outro exemplo interessante é o dos bancários. É este o setor o da esfera da ação política e sindical.
rnaJor usuário ?e equipamentos computacionais: a automação bancária Como ponto de partida, o movimento deve ser capaz de responder
avançou consideravelmente. Nem por isso foi eliminada a sua ca- basicamente a duas ordens de questões para não perder sua força: em
pacidade de mobilização: seguramente estão os bancários entre as primeiro lugar, ter a capacidade de identificar os "pontos fracos" ªo
categorias que mais greves fizeram nos últimos três anos. Houve um novo esquema de produção e, em segundo lugar, ser cap?3 de
grande desenvolvimento do setor de processamento de dados que mobilizar politicamente e de integrar no processo de modernização
passo~ a se~ a á~a mais estratégica dos bancos: a mera paralisaçã~ das tecnológica cria.
agêncras_ é mte1rarnente insuficiente para o sucesso da greve. Assim, O processo de modernização tecnológica tem um largo espectro
o envolv~ento do setor passou a se ruma questão chave para o sucesso de impactos e produz inúmeras alterações junto ao processo de
das rno~il!zações. Fato muito bem conhecido pelas forças do aparato produção e trabalho. A tarefa do movimento operário é a de aprender
repressivo que sempre destacam urna parte significativa de seu a atuar nas novas condições de luta, é a de desenvolver criativamente
esquema para cercar e reprimir a greve no Controle de Processamento fonnas da atuação que respondam aos novos desafios colocados pelos
de Dados. capitalistas e seu Estado.
O movimento sindical teve a capacidade de trazer o setor de Afrnal, não é novidade para o movimento socialista a consciência
processamento de dados para as lutas, o que foi fundamental para a de que fazemos história em condições que não somos nós que
manutenção da capacidade de luta. escolhemos.
Discutindo o caso japonês, Muto Ichiyo discordará de urna
colocação de Giovanni Arrighi sobre as novas tecnologias e a força dos IV- Conclusão
trabalh~dores no local ?e trabalho. O autoritaliano fonnula a idéia que
con_i a mtrodução de rnovações tecnológicas os trabalhadores per- Durante todo este capítulo, insistimos que os impactos da auto-
dei:am força no mercado mas ganhariam no local de trabalho. Muto mação e robotização que foram analisados (desemprego, mudanças da
!,chiyo apresentará urna fonnulação distinta, mais dinâmica: para ele estrutura ocupacional, perda de controle do processo de trabalho pelos
... o _novo processo técnico coloca a luta de classes em um nível operários etc) têm sido consequências negativas para o conjunto dos
supen~r, onde a força renovada, a visão e a capacidade organizativa trabalhadores. E que isso é determinado não pela tecnologia em si mas
do capital ~ do trabalho são testadas. Será apenas através da luta de pelo uso que o controle empresarial lhe atribui.
classes In31S elevada que poderá se argumentar sobre a relação entre A questão mais importante é a de quem está controlando a
o poder de barganha no mercado e no local de trabalho. Em outras utilização da tecnologia. E é na questão do controle que deve se centrar
pala~ras, mecanização e nova divisão técnica do trabalho não levam a principal disputa do movimento operário: sem a intervenção cons-
por s1 só a au~ento ou perda de força no local de trabalho. Os novos ciente do movimento operário, o resultado do processo de moderni-
processos técmcos apenas renovam os tennos da luta de classes; o lado zação tecnológica será seguramente muito negativo para o conjunto
284
285
sem entrarnomérito de projetos de educação? Como limitar a luta pela
dos trabalhadores. redução das horas de trabalho a wn ramo de atividade econômica?
Com essa intervenção consciente, gestando wna política eficaz e Numa economia como a brasileira.é necessário que o movimento
abrangente, é _possível que se consiga, pelo menos, diminuir a reper- operário vá mais longe, demostrando claramente a incapacidade da
cussão negativa de alguns impactos e, no máximo, controlar o gestão burguesa em gerar todos os investimentos necessários para o
'-:°njunto do processo, complementando wna utilização que use posi- desenvolvimento industrial e o progresso tecnológico.
tivamente a automação para atender a antigas reivindicações dos Assim, as discussões sobre as diferentes opções de política
trabalhadores. econômica não podem estar ausentes das propostas do movimento.
Assim, à pergunta sobre o balanço final dos impactos das novas Afinal, queremos livrar o país do atraso.
tecnologias, devemos responder com wn condicional. O nosso em- A nossa posição, embasada nas discussões feitas nos capítulos
pe:mo militante deve ser o de armar o movimento de uma força que anteriores, é a de que a gestão burguesa da economia brasileira traz
seja ~apaz de resi:onder os desafios colocados pela automação e a muito pouca modernização tecnológica, introduzindo inovações de
robouzação. E, retirando o controle de sua aplicação dos capitalistas, uma maneira muito restrita e limitada. E o pouco que introduz é feito
não há o que temer. Muito pelo contrário: como veremos adiante, o de uma forma socialmente perversa, em aberto choque com os
avanço tec~ológico é um pressuposto indispensável para a construção interesses dos trabalhodores.
de wna sociedade democrática e socialista. Depende, portanto, de em A nossa proposta é a de que se faça o oposto.
que mãos está o controle do processo. E este é o objeto dos próximos capítulos.
Na discussão dos impactos, é importante anotar que - dado o
~ntrole empresarial - um conjunto de mudanças já estão sendo
implementadas (embora no Brasil ainda com wn caráter bem restrito
e inicial) e continuarão a sê-lo: estas mudanças determinam uma nova
situaç_ã~ que o movimento operário tem de se defrontar. Para atingir
l
1
?S Objetivos qu_e se colocam, para disputar o controle do processo de
mtrodução das movações tecnológicas, os trabalhadores lutarão numa
conjuntura já em mudança e com perspectiva de prosseguir mudando.
Por isso é necessário aprender a lutarem novas condições, a identificar
e a se preparar para atuar em condições modificadas de luta.
Isso tem reflexo tanto na necessidade de desenvolvimento do
mo~~ento operário do ~nto de vista organizativo (é evidente o peso
dec1siv~ que a auto-or~amzação nos locais de trabalho, com a criação
de Comissões de Fábnca, tem para qualquer política minimamente
consequente de resposta aos desafios da modernização tecnológica)
como do ponto de vista político e programático (novas reividicações
se apresentam, maior atenção a aspectos e reivindicações antes
secundarizados).
E dada a abrangência dosim pactos causados pela microeletrônica
na 1;>rodução e ?ºs servi?os, incluindo as suas repercussões para o
co!ljun:o da sociedade, é mdispensável que a resposta do movimento
seja arlículada com uma política global. Uma resposta que exige uma
firme ação a nível do local de trabalho mas que cobra uma articulação
entre essa ação e a que atinja outros níveis fora das empresas. Como
287
286
(26)CUT, idem, pág.3 I . 'tali ta I ta
, (27)Humphrey, J ., Fazend~ ? 1!1ilagre:. c~ntro1e cap1 s e u
Notas do Capítulo VI operária na indústria automobillstica brastle1ra, pág.90
(28)Carvalho, R.Q., idem
(29)Peliano, J.C., idem
(30)Carvalho, R.Q., idem, pág.200
(31)Carvalho, R.Q., idem pág.191 e 211
(32)Carvalho, R.Q., idem, pág.215
{l)Leite, Elenice, Novas tecnologias, emprego e qualificação na· (35)CUT, idem, pág.32
indústria mecânica, SENAI, 06/1985 (36)Carvalho, R.Q., pág.147
(2)Gazeta Mercantil, 22/07/1985 (37)Peliano, J.C., idem
(3)Secretaria Especial de Informática, Comissão Especial sobre Im- (38)Carvalho, R.Q., idem pág.147
pactos na Manufatura, sub-comitê de Impactos sócio-económicos (39)Carvalho, R.Q., idem, pág.149
(4)EM TEMPO; n' 204, 09/1985 (40)Carvalho, R.Q., idem, pág.141
(5)Depoimento de um representante da Comissão de Fábrica da Ford (4l)Peliano, J.C., idem
de São Bernardo do Campo, apresentado durante a sessão "Resposta (42)Peliano, J.C., idem
Sindical" (II' Congresso Nacional sobre Automação Industrial - CONAI - (43)CUT, idem, pág.13
11/1985) (44)CUT, idem, pág.33
(6)Relatório da Comissão Especial para Automação Bancária da SEI, (45)Ichiyo, Muto, idem, pág.31
Sub-comitê sobre impactos sociais e econômicos
(?)Boletim do DIEESE, 03/1983
(8)Gazeta Mercantil, 29/11/84
(9)Conjuntura Econômica, 02/1988
(IO)Declaração de L.C. Belluzo à Gazeta Mercantil, 21/8/85
{l l)Boletim do DIEESE, 03/83
(12)Suzigan, W, Indústria Brasileira: perspectivas de crescimento
acelerado, Rev. Ec. Pol. n' 25, pág.145
{13)Buarque, Sérgio, Impacto da informática sobre o emprego no
Brasil: um enfoque prospectivo in A informática e o Brasil
(14)FIBGE, PNAD 1985
(15)Tauile, J.R., Difusão da automação no Brasil e os efeitos sobre
o emprego: uma resenha da literatura nacional, TDI 109 (IEI-UFRJ),
pág.29
(16)Tauile, J.R., idem, pág.30
(17)Peliano, J.C. e outros, Impactos Econômicos e Sociais da Tecnolo-
gia Microeletrônica ria indústria brasileira (estudo de caso na montadora
"A" de automóveis); IPEA, IPLAN, CNRH
(17a)CUT, A automação e os trabalhadores, Revista do DESEP
(18)Leite, E, idem
. (19)Carvalho, Ruy Quadros, Tecnologia e trabalho industrial: as
implicações sociais da automação microeletrônica na indústria auto-
mobilística, pág.141
(20)Carvalho, R.Q., idem, pág.225
(2l)Leite, E, idem, pág.105
(21a)Leite, E, idem, pág.106
(22)Tauile, J.R., idem, pág.33
(23)Peliano, J.C., idem, pág.129
(24)CUT, idem, pág.31 289
(25)Carvalho, R.Q., pág.149
288
CAPÍTULO VII: ELEMENTOS PARA A ELABORAÇÃO DE
UMA RESPOSTA OPERÁRIA À AUTOMAÇÃO E À
ROBOTIZAÇÃO
:s~
o seu horizonte de luta. e nca, o movl.lilento amplie
:polirtânãcdia, mul_tiplicada da auto-organização
P aç O o honzonte cobra u fun
ganização dos trabalhadores a nível do loc~ ~p7 b!amento da or-
de "co-gestão", tentando conter a dinâmica potencial das comissões
no sentido de transitar das funções de fiscalização para as de controle.
Embora a comissão seja quase pré-requisito de. uma eficaz
política de controle da utilização das novas tecnologias, a sua e-
Afinal, quem irá zel I fi . e ra o. . xistência não assegura esse objetivo: a resistência patronal neste
quem avaliará o setor da e ar pe a s~al1zação de ritmos de trabalho terreno é enorme. Num debate do II CONAl,o representante daFIESP
etc? Sem uma enraizadtg;esa_mrus necessário de ser automatizad~ expressou-se de uma maneira um tanto indignada sobre a proposta de
pacidade de responder a ess!ar:;::it: no l~al do_ trabalho, a ca- Comissões Paritárias para discutir a introdução de novas tecnologias,
nuída. Mesmo se ai . s esta sensivelmente dimi- considerando uma intromissão inteiramente indevida na política de
convenção coletiva ~:~o~qu'.st~ for efetiv~da a nível de uma investimentos da empresa: era como se estivesse afirmado que esse
interior da fábrica ~erá da: aicia e um_a sólida organização no tema é privativo da direção da empresa e de seus acionistas majo-
amplo espaço de manobra utir : erpresános (e à sua gerência) um ritários. O necessário avanço nesse terreno é, também, função de
que foi conquistado pelos trab~hv~ para ;cuperar de o~tra forma o novos avanços na correlação de forças.
conquista de redução de jornada d: ~~- lh mpodexempl?, simples: uma As comissões devem conquistar, enfrentando o poder patronal,
com uma elevação de · . ra ª 0 e ser compensada" tanto o direito à informação (significando a quebra do "segredo
"poros" do trabalho etc~tensidade do trabalho, com a abolição dos empresarial" e tendo acesso à planos de investimento, à contabilidade
As Comissões de Fábricas/E , · · da empresa etc), como o poder de veto (barrando o que não seja
comissão de negociação d mpi:e!a tem nascido a partir de uma avaliado como de interesse dos trabalhadores, que tem por referência
específico de reivindica' ã; um comi.te de greve ou de um processo o programa básico desenvolvido no item anterior): este é o trajeto da
questão tecnológica pod~ ser~o~r~:uz~ção no local de trabalho. A conquista do controle operário.
que justifica a sua cri ão As ~ e:a ª co~o uma questão a mais A importância multiplicada da comissão de fábrica está em
fábricas estão em geralaç re.l . pnmd eITas medidas das comissões de contradição com o pequeno número desse organismos existentes no
• , aciona as com a fi ali
menta de acordos obtidos em se zação de cumpri- Brasil. Segundo o representante do Sindicato dos Metalúrgicos de São
efetivação das conquistas Já a p~cessos de luta, acompanhando a Bernardo do Campo, presente ao já mencionado debate do II CONAI,
patroriaI no interior da fábri qm começam a se contrapor ao poder em novembro de 1985 haviam 30 comissões em indústrias do ABC e
E' ca. este número era o dobro do existente no restante do país. Mesmo
IPLAN~::e:~~~Jo~:t~:;; o levantamento feito pela pesquisa do considerando alguma imprecisão nesse dado, é inegável o atraso do
quistadas após a instalação d se c?nstata alterações concretas con- estágio da auto-organização do movimento no país. Constitui-se, sem
Comissão entrevistados vão r:~~~~;=.s d~ fábdrica. <?s m~m bros da dúvida, um dos principais "calcanhares-de-Aquiles" d.o movimento
chefias intermediárias b mmção a arb!lranedade das operário e popular do país. Portanto, um dos principais limites a uma
nuição das demissões ar~tJ;;_a~s trabal~adores ~a produção, a dimi- política eficaz de resposta ao desafio da automação.
ti
mesmo uma diminuição da rota u~ mdrudor respeito aos operários e até Todas as questões colocadas neste tópico não constituem mais do
receio' da a ã0 fi · vi ª e o emprego. "As chefias 'tem que um ponto de partida da resposta operária. Sintetizadas sob o útulo
~ scalizadora das comissões de fábricas"(6)
As comissões conquistad de disputa pelo controle, esse ponto de partida deve, em primeiro
ã ·
correlação de forças na socie as s o expre_ssão de uma alteração de lugar, ser articulado com a compreensão dos distintos momentos em
de relações de trabalho das e dade e na fá~nca e forçam que a polftica que os impactos das inovações podem ser sentidos (antes, durante ou
Daí a proliferação de polfticampre~as se aJuste à esta nova correlação. depois da sua introdução) ...E, em segundo lugar, ser integrado à uma
298 s mais modernas de controle da força de perspectiva mais geral, a da alternativa social dos trabalhadores.
299
seja em termos de jornada de trabalho, seja em termos salariais.
É o que tentaremos fazer adiante. Pesquisa inclusive das alterações das condições de trabalho para
acompanhar se os padrões de higiene e segurança no trabalho estão
II- O antes, o durante e o depois da introdução das inovações sendoEm respeitados.
tennos de ação político-sindical, é importante buscar a
compreensãO do conjunto do novo processo de produção, estabelecendo,
Essa Jiscussão pretende abord" ros . . a partir daí, contatos com os trabalhadores dos setores automatizados
possível o enfrentamento pel ". distrntos momentos em que é
tecnologias. Dada a realidadec:n:vunento da introdução das novas e informatizados, com o setor de programação e planejamento da
tom~m conhecimento de mudan comum que é a dos trabalhadores . produção e com os setores que ganham mais peso no controle do
sua unplementação há uma tendê ça~ no processo produtivo após a processo de produção como um todo. Também é necessário descobrir
com amodernizaçã~ ao depois de s~~~~ a~ reduzir o enrrentamento os pontos frágeis do processo produtivo, evitando que a capacidade de
é apenas um momento do processo (em~ uçã?, generahzandooque luta seja atingida. Enfim, fazer um reconhecimento geral no novo
Com essa generalização co ra, repita-se, o mais comum) terreno no qual as lutas se darão, nas condições modificadas da luta.
um horizonte mais amplo di:t: um outro risco: o de se perder tod~ Entre a difícil conquista do conhecimento prévio dos planos de
fundo na elaboração de uma polí:_rne~to da 9uestão, deixando de ir modernização e a desfavorável situação de ser colocado perante fatos
. Colocado perante um f1 ca tematíva. consumados, o movimento precisa desenvolver a capacidade de
aguá depois da introdução ato. consumado, o movimento operário descobrir o início de um processo de introdução de inovações: o
v~ráveis. O centro da ação !~ movaç?es nas condições mais desfa-
Pll11;cipal é a ameaça de desem essencialmente defensivo: o inimi o
movimento tem de se tomar suficientemente perspicaz para situarum
momento durante o qual se processa a instalação de inovações.
conjunto atingido é necessári prego. U?Ja reação rápida e forte âo Há várias maneiras de se identificar a detonação desse processo.
condições que contendo a ação~.fu: ev~~ demissões e conquistar
para o movimento se preparar para resa . os empresários, dê fôlego
A primeira delas seria consequência de um movimento suficiente-
mente enraizado em todos os setores da em presa, a ponto de viabilizar
alteração determina. negocrnr as reivindicações que a que os empregados do setor de planejamento forneçam aos organis-
mos do movimento as informações que têm acesso. Evidentemente, a
A partir
proces_so ondeda mobilização
os tópicos do ~os trabalh~dores estabelecerão um empresa tem consciência do papel estratégico desses setores e aplica
do~ sejam arrancados da em p ~ a básico anteriormente discuti- uma política de pessoal fundamentalmente isoladora e cooptadora -
eXIgência de redução da j~:~ ªºdado da garantia de emprego da salários altos, status etc - que dificulta a unidade de todos os
~3:1h3dores deslocados (asseª ~ad~ trabalho, retreinamento dos assalariados de uma dada unidade económica. Há ainda o problema
f
lffiplicará em redução salarial) que esse deslocamento não
caçõesquedotarãoostrabalhado ev~ e~tar um conjunto de reivindi-
que as multinacionais colocam, na medida em que o planejamento das
inovações é realizado na matriz - o que retoma a necessidade do inter-
~terações impostas no p res e mstrumentos para conhecer as nacionalismo. A segunda poderia ser a atenção para arranjos prévios
situação para impedir qu~:i~sorede trabalho e fiscalizar a nova necessários à introdução de novas tecnologias: cursos especiais po-
trabalho e a aceleração de seu . presente uma intensificação do dem ser ministrados para alguns trabalhadores, mudanças prévias nas
exigência central do reconh ~ ntmos. Esse conjunto pressupõe a linhas convencionais. Até mesmo a chegada de máquinas novas
lhadores que assuma esse pa~~entf de um~ comissão de traba- podem fornecer pistas das mudanças por vir. Uma vez identificada a
zadora. e co etora de mformações e fiscali- situação, constatada a existência de um processo de modernização em
curso, todo esforço deve ser feito pelo movimento para impedir e
~ormação,
pesqwsa tem quefiscalização
municiar eron59wsa.
. . tarefas da comissão. Aqui, a bloquear o seu prosseguimento, enquanto não passar pelo crivo das
O
so~re as alterações de produtivid~~n:oddos e?Jpregados com dados reivindicações operárias e pelo veredicto dos trabalhadores da unidade
finição de reivindicações concretas~e mcorporação
_ados unportantes para
desses a de-
ganhos económica atingida. 301
300 '
É uma situação menos desfavorável de luta que a anterior: o . d linha antiga é mais fácil de ser percebida
seguimento do próprio processo de introdução passa a pressupor que °
alterará: automattzan uma ã com o que era
algumas garantias sejam asseguradas. Além disso, é também mais a in~nsificaç~o do trabalhoãbas:}~~~:~:mJ:~~ 1a instalação de
propícia a própria negociação das prioridades de automação da a rotina antenor, comparaç Oq_ . ·tmo Jºá será imposto pelos
uma nova fábrica, onde o ~nmeuo n_
empresa (estão sendo automatizados os postos considerados mais
perigosos pelos trabalhadores?), do tipo de equipamento a ser utili- equipamentos baseados na mi~::r~:!entodestassituações,que
zado (está nos padrões de higiene?), da preparação profissional e . O risco é o do _men?sprezo de interven ão e com a falta de temas
tecnológica de todos (cursos sobre o novo processo produtivo, habili- sesomacomama10rdiflculdad\.11izações bm possível descaso ou
tação básica do novos conhecimentos requeridos), do planejamento da " explosivos" qu_e detonem 1:1° ara O ·ue nos parece a principal
realocação do pessoal deslocado etc. subestimação deixa lcam_po i~v~: ~ovas fibricas ou de novos setores
Finalmente, há o enfrentarnento da questão antes da introdução. questão colocada pe a cnaç . to que elas podem acarretar sobre
A condição preliminar para atingir essa situação é a efetiva conquista em fábricas em expansão:.º imp;c do com que O padrão de fun-
da abolição do segredo empresarial (e/ou estatal). Urna vez quebrado os velhos setores ou fáb_ncas, ç~~~ tecnologicamente se transmita
cionamento dos setor mais avan
o conhecimento exclusivamente patronal e/ou estatal dos planos de
investimentos (que inclui os gastos com novas tecnologias), é possível ao restante. . d s linhas em fábricas antigas que
estabelecer as negociações mais abrangentes entre empresários e No caso da mtr~ução e no;a a-se de assagem, já visto pelo
trabalhadores, possibilitando a reivindicação do conjunto do pro- tem sido um caso nao tão raroBC gé rová~el que elas passem a
grama básico apresentado anteriormente. Até mesmo os prazos e o menos nas montadoras_ do ãA ais ge~al da fábrica. Nessa reorgani-
ritmo da introdução das novas tecnologias pode e deve fazer parte da determinar uma reorgamzaç ? m . 0 ara uebrar antigas
negociações. zação, não é descartado que seJa~~ad~;~J:'.:PuJpon&icia da inter-
É a situação em que os trabalhadores negociarão em condições conquistas dos trabalhadores. . en sa situação a ação pode ser
mais favoráveis.Não há dúvida que é também a situação onde a prática venção do movimenltho doperá~~f~i~ca em expa~são ou pelo sindi-
do direito de veto é mais viável. detonada pelos traba a ores
cato que atua naquel~ base.d a nova fábrica, as coisas são mais
Para pensar o antes da introdução de urna forma mais completa,
colocam-se, aqui, também, situações que distinguem-se do que é a
complexas: pnmeiro, pe
r:
Já no cas? d~ cnaç~~s :ussões que ela estabelece; segundo,
Pamplitude que Otratamento da resposta
mais discutida, da introdução de novas tecnologias em fábricas e
linhas já existentes. Particularmente na conjutura da presente década pelo tipo de instrumento e pe1a
no Brasil, este é o caso predominante, na medida que (como vimos) operária exigirá. . ãode um fábrica moderna,
Em termos de repercussções, a msta1aç di õe de produção "pa-
os investimentos (poucos) têm se concentrado mais na modernização
das linhas de produção antigas do que na expansão das unidades avançada tecnologicamente, abalará as c~~mJ in~ustrial dela pode
produtivas e económicas. Mas não podemos deixar de abordaras duas ctrão" estabelecidas, e pelo menos noelas condições. No limite, as
outras situações: 1) a construção de um novo setor (ou uma nova liooa determinar importantes alterações daq~n iabilizem o funcionamento
de produção) em um fábrica pré-existente e 2) a construção de novas alterações podem ser de ~ai monta que 1 v lo ·camente. Também não
fábricas com uma base produtiva com utilização maior de tecnologias de algumas unidades mais ~efast~~a~ ~:~~s !ançadada nova fábrica
mais modernas e sofisticadas. é de tod_o improvável que ad as~ec~smos de concorrência intercap!·
Essas duas situações diferem da mera introdução de inovações em determme-ponmposição os . u ãodasinovaçõestecnológi-
talista - a aceleração do ntmo de m:rot ç caso a organização e os
linhas pré-existentes pela maneira como, por exemplo, a questão do
emprego virá à tona: nelas não há desemprego mas a redução da cas do conjunto do ramo em queSlaO ..
padrões de funcionamento da nova um P
C::~! segu:.amente se tomarão
ões indiretas e que se
criação de novos empregos (o que toma a questão menos "expressi-
va"). Uma outra diferença é na maneira como ritmo de trabalho se referenc!ais par_a o coniunto ~o \:ºçnoâ~~~afábricaquefuncione
influenciam reciprocamente, a ms 303
302
com um patamar tecnológic ·
junto de um ramo económicoº mais elevado termina afetando o con- alternativo àquela lei de origem fascista.
trabalhadores. 'com repercussões sobre o conjunto dos No período recente, ao conjunto de críticas já levantadas contra
Para poss1'bili' tar um processo d . a CLT deve ser acrescentada a denúncia de seu anacronismo evidente:
disputa pelo controle, os trabalh d e. negociação, fiscalização e não contem um elemento sequer da defesa dos trabalhadores frente à
organizada socialmente ue tuª ores tem que atuar como um força automação.
f
uma ação mais global '~ais ~ ª ara além da fábrica. Trata-se de E esta ausência ainplia o espaço que os empresários têm para
manobrar "livremente", evitando sistematicainente até mesmo a
mecanismos mais gerai~ de reiv~~ asse, qu~ cobra a existência de
segredo empresarial não é um bl caç~o e «;fiscussão. A abolição do discussão de temas correlatos.
esfera que se coloca uma curttro em~mten?ra ~a fábrica. E nesta Porisso a necessidade de acrescentar à agenda do movimento a
é fácil designar a Comissão de~:~t~o. se no mtenorde uma empresa luta por uma conquista social importante que é este novo código de
avaliar os pontos mais necessá . ;ca como uma in_stância capaz de trabalho, alternativa de conjunto à CLT e no interior do qual estará
contrapor a proposta dos trab:i:di/erem automa~zados (podendo toda a temática relacionada à política operária frente à automação e à
mesmoanfveldepafs?Nãohád' .d es à empresanal), quem fará o robotização.
condições de definir;m uma 1fs~~ ~ que os ti:ab~lhadores têm plenas As resistências a um código de trabalho com o conteúdo apontado
atual, são as centrais sindicai ~st~ pnondades. Na situação tiverain uma ainostra no Congresso Constituinte. Nele, as pequenas
informações empresariais e e s n~c1onais que devem receber as conquistas sociais sempre estiveram na corda bainha e mesmo quando
exemplifica de uma mane ·ra ~atais sobre a questão. Isto apenas a Comissão de Sistematização definiu uma forma de garantia de
pensável tratamento global ~a ast~te clara o ~ecessário e indis- emprego, deixava uma porta para as demissões causadas pelo controle
pelo movimento operário ElaqueS J°
t
~a moct_enuzação tecnológica empresarial da introdução das novas tecnologias: entre o que justifi-
nacional de investimentos;, se re aciona diretainente à "política cava a inexistência de garantia de emprego estava o tópico "fato
E esta questão não é separável do tecnológico" (ao lado de outros como "fato económico intrans-
popular sobre a economia brasil . avanço do controle operário e ponível", "infortúnio de empresa" etc). Essa possibilidade da livre
eira. decisão empresarial sobre o uso das tecnologias era, em um item
posterior, contraditada de uma forma bem geral, quando se consi-
ID- A necessária articula -
sociedade çao entreª luta na empresa e na derava como direito dos trabalhadores a "participação nas vantagens
advindas da modernização tecnológicas e da automação". Ao final da
votação desde projeto inicial da constituição, turno no qual os
Está claro que a resposta á . defensores dos interesses empresarias agirain no sentido de dar uma
robotização não pode ser circuns~~: ~a ~o desafio da automação e primeira "peneirada" na carta, sai a "garantia de emprego" (o que toma
delas e requerendo uma multi li~a ã umdades ?e trabalho. Partindo desnecessário a referência ao "fato tecnológico" como causa "legal"
nível, a resposta coloca nova/q ~õo da capacidade de ação nesse para demitir) e a outra referência às novas tecnologias muda para
representain uma intervenção nou.est ~s e cobra_ desdobramento que "proteção em face da automação, na forma da lei". (7)
m enor da sociedade. Após o final dos trabalhos da constituição, haverá o trabalho da
l) Um novo código de trabalho elaboração de toda uma série de leis complementares e ordinárias. Ai
Todo O prograina básico da r . está incluído tudo referente à legislação do trabalho: é previsível que
anterior - a organização por local ~spoS ta operána di~cutido no item a estratégia burguesa não passe de uma incorporação à atual legislação
empresarialeodireitodeveto- con eti~r~balhol a abolição do segredo (a CLT) dos novos Itens aprovados na constituição e promova uma
que deve integrar um novo código~ UI ~me enco_ de reivindicações pequena reforma da antiga legislação. A isto, o movimento deve
CLT e o movimento luta para a 1 ~ tra alho. HoJe, está em vigor a contrapor a exigência de um novo código, elaborado de acordo com os
304 e a oração de um código que seja seus interesses.
305
A luta pelo conteúdo do código de trabalho não é apenas uma luta enfraquecimento e divisão da classe). grama de lutas a rei-
institucional. Se é necessário ocupar o espaço parlamentar que os o mov!ment? ?eve acresce1!-t~:~ seu :~ de acesso de todos à
representantes do movimento operário e popular têm ao seu alcance, vindicação Já tradi_cio:1 iºc!~~excli:~te e elitista do presente
não é possível descuidar do campo fundamental de luta que é o campo educação, denuncian pode es uecer de adicionar o. tema do
da mobilização: os vários tópicos deste código de trabalho têm que sistema. No entanto, não peqrmiteavançartodasasquestões
insistentemente fazer parte das pautas de reivindicações nas con- conteúdo dessa formação, tema que
venções coletivas das várias categorias (a conquista de uma delas cria · colocadas aqui. . d tratamento da questão educacional e da
u'lla referência para a ação de outras) e devem constar da pauta de Essa perspec~va e trêspontosquenãopodemdeixardeser
negociações dos processos nacionais de luta Gá se busca um processo formação tecnológica toca em
de negociação que estabeleça· uma convenção coletiva nacional). abordados.. . alizar essas mudanças pressupõem-se
Em pnme1ro lugar, para re G tos nas escolas com
2) Formação educacional e tecnológica investimentos de envergadura na e~~~i:· p;! a elevação da quali-
O Brasil ainda não alcançou a generalização do ensino de a compra de equipamentos qfe c:ão dos professores e profissionais
primeiro e segundo grau: a educação básica é falha e de baixíssima
qualidade. Para se teruma educação de nível mais elevado énecessário
que se pague por ela, o que exclui parcelas expressivas do acesso à
do ensino que d~vem s:
dade da formação, gastos na orm_tados ara o desempenho da nova
ca~~do luiar, este investimento que não
formação requenda etc. m s dido como investimento no desen-
educação. é pequeno deve se~ compre_en d um aís (não podemos pensar em
À solução desse problema histórico (e estrutural na forma social volvimento :~?nô~ico e soc;al .: .. co~o algo restrito a criação de
do país) é acrescentado o problema colocado pela aplicação da gastos co_m ciê?c~a e tecno o~ ite só é ssfvel utilizar novas
microeletrônica à produção: as mudanças de perfis profissionais têm laboratónos e simil~s). No lim acldade drrnanipulação delas ... E
de ser respondidas no interior de uma proposta de superação geral dos tecnologias_ quando existe_ ~asc~~vas tecnologias, é necessário que
problemas da educação no país. para se ensmar o ~an~se10 a . e ue ha· a centros de pesquisa e
A generalização da microeletrônica não apenas indica novas elas sejam conhecidas. 0 ~ue exig q J ressedomfniopara
profissões e especializações como muda o tipo de formação básica desenvolvimento tecnológico 9ue possam propaga
requerida. Maior capacidade de abstração, um domínio de operações 0 conjunto d~ sistema educaci;:!·geralparaaformaçãoeducacional
um pouco mais complexas de matemática, por exemplo, são requisitos Em te~ceiro !ugar, essa po . ão dos gastos públicos para o setor,
que vão aumentando quando a ênfase da tecnologia passa da hidráulica e tecnológica vai tocar na restnç prioridade orçamentária e que se
e mecânica para a eletro-eletrônica. Há ainda a necessidade de, desde
a formação básica, haver conhecimentos de eletrônica, indispensáveis
exigindo que el~ passe ª s~ i::- 0 0
programa apontado. A questão
viabilize o ~c1on~ento ~tatais deixa de ser estranha ao movimente,
para posterior especialização (ou para, pelo menos, sobreviver num mais geral dos mvesttmentos . dos os recursos a fiscalização de sua
contexto de mudanças tecnológicas dinâmicas). Não pode ser esquecido que deve tê-la em c~n~. ~· d1r:entaçãodas prioridades definidas tem
o aumento do conteúdo da formação básica imposto pela generali- aplicaçãoeo~ntro e atmP: rofessores e profissionais ligados à
zação do uso de computadores na economia: passa a seruma necessi- de ser garanudad (otque e~~~:fo operário e nopular etc).
dade o conhecimento de seu funcionamento, o domínio de uma educação, estu an es, m
linguagem computacional ganha importância na avaliação de currícu-
los etc. 3) A jornada de trabalho d ·ações
É impossível que estas questões sejam tratadas à nível de empre- Reivindicação de presença crescente nas pautéas de ~~; as 40
d ã da jornada de trabalho: a meta a e o·
sas isoladas. Isso é uma solução provisória e utilizadora: apenas uma tem sido are ~ç o COnstituinte essa reivindicação foi rechaça~a.
parcela dos trabalhadores tem acesso à qualificação que o novo horas semanais. Na . d de horas semanais. Prosseguirá,
contexto tecnológico exige (o que não deixa de ser um elemento de tendo sido aprovada a Joma a 44 . 307
306
tas de um outro ponto de
naturalmente, a luta pelas 40 horas. podemos passar a discutir as noss:O P;~P~~tica econõmica (viabili-
É uma reivindicação de duplo significado. Por um lado, é uma vista: co1?o suJ?<:rar o atual gar~nomia~quer)equepolíticaterpara
arma importante e eficaz para combater o desemprego existente, zando os mvesumentos queª ec alavras· é possível conceber um
a
particularmente quando recessão avança.Por outro, é uma arma . .:m ntos? Em outras P
esses mves ...... e ·
· · b
b.d0 s pelas diferentes alternativas ur-
1
indispensável para o enfrentamento da automação: garante que os "cenário" distinto dos conce ário de uma alternativa dos
empregos a serem criados Gá em uma base técnica superior) tenh.am guesas, é possível conceber um cen
um mínimo de incorporação dos ganhos de produtividade que as novas trabalhadores? . desafio da automação não pode ter uma
tecnologias trazem. E abre mais espaço para a defesa da classe frente A resposta operári~ ao inho arando na defesa e deixando
ao que está por vir, generalizando e popularizando uma demanda
central.
f
vocação de ficar no mel? do c~ . a' denúncia dos resultados do
de radicalizar e d~r mais vee:/~\ecnologias não apenas pelo que
O caráter transitório dessa demanda deve ser bem esclarecido. Se controle empresanal sobre as . de que seja feito em favor do
nos períodos de recessão ela impede que os custos da crise recaiam 1
ele faz, mas ta:nbém pelo ~::ieh:;0i:~a própria humanidade. T~ndo
sobre os ombros da classe trabalhadora, nos períodos de prosperidade avançodoconJuntodostra .al produtivo no mundo de hoje, o
ela exige que os ganhos não se traduzam apenas em maiores lucros consciência do que há de potenc; aumentar e se firmar. .
empresariais, mas que sejam também revertidos aos trabalhadores. entusiasmo para mudá-lo~ó pr apontada uma dupla limitação da
A redução da jornada de trabalho deve vir ao lado da conquista do 0
Por todo esse 1;aba o, ~ aíses de ndentes, é atrasada tanto
pleno emprego e, a partir daí, deve se estabelecer uma dinâmica em burguesia: ela: espec1~entenâo p nto de~ista tecnológico. Dada a
quehajainstrumentos nacionais para avaliar a produtividade global da do ponto de vista social como P? é limitado e quando ocorre ele
economia do país, a partir da qual pode ser definida nova redução dependência, o progresso tecnol~!i~ parte da. defesa do movimento
global da jornada semanal. A reivindicação do movimento operário é socialmente injusto. Nossa po . · indicações imediatas,
hoje é a de 40 horas. Havendo um novo ciclo de crescimento 1
mas tem de ir além: devemos aro~:~;! re;vapresentação de uma
econômico no país, essa jornada deverá ser reduzida: a relação que incluindo a luta contra ª re~:~ointeressedomovimentopopular
deve ser estabelecida é entre a elevação da produtividade e a conse- alternativaglobalqueexpresse t país A gestão democrática, ope-
quente redução da jornada. Num país como o Brasil, essa relação é de modernizar tecnologica1:1en e o r ~u rior à burguesa tanto no
inteiramente essencial. rária e po~ar da economia l~egt~~os~ istrdeve estar claro em nosso
Estes três exemplos (código de trabalho, formação profissional e aspecto social como no tecno ·
jornada de trabalho) buscaram trazer mais elementos sobre a ines- projeto.
capável necessidade do movimento relacionar sua resposta dentro da
fábrica com a intervenção no conjunto da sociedade. Insiste-se nisso IV- O controle oper~rti~ ~:::~:;n1~~~:n::~itg1:eração da
para procurar retirar a discussão sobre a tecnologia de uma postura crise atual e um proJe
estritamente defensiva. Afinal, a melhor defesa é o ataque.
Se relacionamos essa discussão com a avaliação que foi feita no . . b asneira levou o país à situação
capítulo VI sobre as perspectivas de superação da atual crise econômica A gestão b~rguesa da econo~~:S:s dominantes para criarem as
(ponto básico para viabilizar uma retomada sustentada dos inves- presente e as dificuldades .das! de cres.cimento econõmico já forain
timentos, os quais usariam de novas tecnologias de uma maneira mais condições para um novo c1c o
concentrada), veremos que o temor maior está na incapacidade da vistas (Cap. VI). . ·ntema na quebra da capacidade de
o peso das dívidas externa e 1 . nta or onde deve se
gestão burguesa de retirar a economia desta crise. E, uma vez
evidenciados os mecanismos de defesa do movimento frente às f
financiamento do crescimento ec~nôm1co apo E ui está o grande
inovações (que podem continuar a serem introduzidas apesar da iniciai uma política que re~erta a s1tu,a?ão atu!~ctas\ão ''intocáveis"
inexistência da superação da crise, aí de uma maneira mais limitada), limitador para qualquer projeto burgues. essas
309
308
!
operário e popular. . .
pelos fonnuladores das várias alternativas de política capitalista. , Para viabilizar esse controle sobre a econom1a, uma i:adical
Quando Collor _faz se~ ~!ano não penaliza o grande capital. Para mudança deve ocorrer na relação entr~ os grand~s grupos pnvados
quebrar com a mtocabilidade dessas dívidas, uma decisão política (nacionais e estrangeiros) e a economia. Até hoJe, deraI? o tom _do
fun~enta! tem d~ ser_ tomada: é necessário confrontar-se com os funcionamento da economia. Por um lado, agem da manerra definida
banquerros mtemacmnrus e nacionais.
por seus interesses específicos, atuando da maneira que melhor
O co~nto com os banqueiros internacionais significa uma cumpra o objetivo de obter os maiores lucros possí~eis. Por ou!ID,
J>?Stu~ distinta em relação ao imperialismo, tanto em tennos de influenciam de várias fonnas a condução da política econ~m1ca,
disposição como de capacidaqe de mobilização popular para sustentar usando-a para também atingir seus objetivos. Para se atiJ:gu uma
~sse ~nfrentamento. Já o confronto com os banqueiros no país é situação onde esses grandes grupos se submetam ao que é de mteresse
lill~ato quand~ se quer resolver o problema da dívida interna: essa da maioria da população, vai uma grande distância. E s:m essa
dívida é que alimenta o poderosíssimo esquema de especulação submissão não é factível o controle popular sobre a economia.
financeira, no qual os bancos privados possuem um papel central (são Para se conquistar esse controle os grandes grupos que atuam em
os bancos os detentores da maior parcela dos títulos dessa dívida). setores estratégicos da economia devem ser esta~zados: a ~tuação
?ataq~~ ao~ problemas das dívidas externa e interna, atendendo desses grupos em setores estratégicos da economia lhes dana con-
a velhas re1vmdicaçii<:s do movimento popular que tem lutado pelo dições de impedir que prioridades definidas pela populaçã? fossem
não p~g~ento da díVJda externa e pela estatização dos bancos barra executadas. A atuação dos grandes grupos, dos monopóh~s nesse
a contmwdade de duas fontes de espoliação dos recursos necessários setores pode lhes pennitir ditar para o restante da econom1a a sua
para o fun:ionamento do crescimento económico: cerca de 5% do PIB
pára de sair do país para pagar o serviço da dívida, algo em tomo de lógica. .
Fora dos setores estratégicos da economia, o que não estiv_er
10% do PIB (a metade da arrecadação tributária) pára de alimentar a estatizado tem de estar em condições de cumprir as de~nições gerais:
especulação financeira.
porisso, devem existir instrumentos capazes de garantir que ~ metas
. De uma maneira bem simples, podemos concluir que os recursos do plano geral da economia sejam cumpridas pel?s grupos pnva_dos.
eXIstem: basta haver a disposição política para enfrentar os que lucram o controle operário da produção tem um pap~l _lillport31:te aqui e a
com a sua dilapidação.
legislação deve ser explícita em relação à possibilidade de m_tervenção
Localizados os recursos que podem constituir uma massa consi- do Estado nas empresas identificadas como descumpndo~as do
der.ável de investimentos, a pergunta que deve ser feita é sobre a sua planejamento geral (ou que estejam escondendo estoques, praticando
aplicação: será como antes, definido de acordo com os interesses dos
preços especulativos etc). . .
gran~es grupas económic?s? O papel chave do investimento estatal no Esses elementos iniciais de uma política de superação da cnse do
Brasil na cnação de_ con?ições para o lucro privado obriga a se fazer ponto de vista do movimento operário e popular significain um gran~e
essa questão. Na históna do capitalismo brasileiro, sempre foram choque com os interesses burgueses. A conquista do controle operáno
usados os recursos públicos para implementar o que era necessário e popular - que já começa a se gestar desde hoje, com a construção de
par~ a ~cumulação do capital (investimentos na infraestrutura, em organismos como as comissões de fábrica, por exemplo- será obra_ de
mdustrtas d~ base,. em ~etores económicos que não apresentavam uma ainpla e profunda mobilização popular, de uma revolução social,
como lucrativos de Imediato ou cuja necessidade de investimento era que derrotando as classes dominantes quebrará o seu aparato estatal,
tal ~ue ~eparasse a capacidade de financiamento dos grupos privados iniciando, entl!o, o processo de transição ao socia1:ismo. . .
nacmnlllS).
A respost_a é óbvia: uma nova fonna deve ser desenvolvida, uma
o ponto de partida para este processo de t~sição ao socialismo
está longe de ser desprezível no caso d? Bras~. O leg~do do desen-
fonna não mais baseada na subordinação aos interesses empresarias volvimento capitalista inclui o parque mdustnal antenonnen~e des-
m":' aos ~a grand~ maio~a da população. O Estado deve ser "despri: crito (Capítulo III e V), que é muito mais avançado do que o existente
vatizado e esses mvestimentos devem estar submetidos ao controle
310 311
na Rússia de 1917· as b . .
. .ti.
Pnm ã · ases nacionais da acumulação soct"a!i Por trás dessas, as indústrias de equipamentos e máquinas para cada
_1 vas s o amplas. A sua dim . sta
sem1-industrializado do país e se e1J};? é consequêncra do caráter uma delas. Um plano desses terá um impacto grande no conjunto de
economia, impulsionando-a adiante, inclusive criando condições para
dependência e do atraso detennin~~o ~~e:1:_spelham a condição da
O peso do setor estatal no im · d . uma política efetiva de pleno emprego. É uma argumentação inteira-
amplitude da base nacion CIO a transição expressará a mente cínica a que tenta obscurecer esse impacto e construir uma
primitiva: para tennos um:n do processo de acumulação socialista hipotética contradição entre desenvolvimento económico e avanços
~ª ª.
setor estatal da economia a :~~e~a, st somarmos ao presente sociais.
No tocante à base técnica das indústrias e das empresas que
gãrandes grupos dos setores estratégic~s ~a e~;~~:%ª Efinancebiro e os
n o tem nada a ver com ual . . · ssao servação realizarão esse conjunto de obras (incluindo a sua retaguarda), não há
construçãodosocialismopeqlonquer 1ddé1a qm~ analise o estágio de porque ela não seja a mais avançada possível. Quanto mais avançada
soct"alismo é um processo di ·umero .d e estatizações· A transiç
· ão ao a base técnica maior a qualidade dos seus produtos e menoro trabalho
lhadores, que garanta O esta ngi ? pelo poder político dos traba- a ser executado. A reijeição que o uso capitalista da teC!lologia
economia. o setor estatal a ser~:i~~~~~~ n~~e? cdontrol~ sobre a estimula não pode ser motivo para não se utilizar o máximo possível
ser o suficiente para aranti CIO a transição deve de novas tecnologias, para não se lutar para a máxima aproximação
inclusive que a dimensã~ do se~oesse ~onrole. Deve ser destacado possível do patamar tecnológico internacional em cada setor. Usar
trabalhadores é uma definição r;~tatiza O e sob controle direto dos técnicas ultrapassadas e maquinário antiquado e obsoleto não ajuda
Ost. poca. tanto assim a construção de uma nova sociedade: devemos reijeitar a
se ores pnvados não deix ã d d ..
processo de acumulação socialist ar ~ : . ar a sua contribuição" ao idéia de um socialismo "de segunda mão".
cobrados têm um so ª pnmltíva. No Brasil, os impostos O que detenninará o peso da utilização das novas tecnologias será
vários subterfügio;par/:s1~~~ ~ob~e as :ipresas, que ainda têm um outro conjunto de variáveis, no interior do qual a capacidade da
O
butária terão que arantir • sco. udanças na política tri- indústria de "ponta" do país e as relações com países mais avançados
sociajista. g , por essa via, recursos para a acumulação tecnologicamente se destacam.
E a partir dessa base que Em uma economia sob o controle do movimento operário e po-
pensada. ª polit:Ica
. .
de mvestimentos deve ser pular, os investimentos para a modernização tecnológica deverão ser
O primeiro ponto dela são · · muito superiores aos atuais. Estará comprovada, então, a denúncia da
enfrentando a situação de misério: ;nv:stimen_tos para a área social, limitada capacidade da gestão burguesa em modernizar o país.
uma outra parte do le ado d . '1.1 s condições de vida (que são Esses investimentos devem começar pela criação de indústrias de
cação passam a serpri;ridade~ cap1tal1smo): habitação, saúde e edu- componentes microeletrónicos: algum domínio na produção dos
plano de obras públicas ue a : r:querendo a elaboração de um grande circuitos integrados tem de ser alcançado. Esse domínio é essencial
essenciais Não há nenh~ma tinJa a ':1eta de superar esses problemas para uma época em que a lógica digital se espalha por todos os setores
na resolução dos problemas sco~t~adição entre a J?roposta de investir da atividade económica. O setor privado da economia brasileira já
crescimento económico e mo~1a1s_ e o estabelecrmento de metas de provou a sua incapacidade de criar esse setor (capítulo V) e parece já
apenas uma inversão na orient~ erruzação tecn?lógica. O que há é ser evidente a necessidade de pesados investimentos estatais para a
de escolas, hospitais laboratJ~odo desenvolvimento. A construção criação dessa indústria. E por ser um setor estratégico da economia, a
tratadarequerocrescb:nentod nos, casas, redes de esgosto e água microeletrónica terá de estar compondo o setor estatal.
e industrial. e outros setores da atividade económica A criação da indústria microeletrónica deve ser o ponto de partida
Esse plano de obras pública · de uma verdadeira política nacional de infonnática, revertendo radi-
presentes indústrias como as s exige ~~e na sua retaguarda est.~jam calmente a lógica atual (ditada pelo mercado, com reserva) que
metálicas,decimento deequip.de matenda1s d: construção, estruti.:ras começa pelo atendimento de um potencial de consumo para micro-
312 ' amentos e saude e de laboratórios etc. computadores. Partindo daí, a lógica atual estabelece requisitos de
313
f
1
. . conhecimento e o manuseio das novas
capacitação tecnológica baixos, (inclusive, a pura "pirataria" é um capacitados a difundir O • tar O progresso do nível inter-
processo comum de aquisição de know-how para a produção de 'tecnologias, a acom~ar ~ ª ia~'::sdecontribuirnoplanejai:i~nto
micros). nacional do se~r (es do o ~~o setor no país e também de paruc1par
Dominar as etapas de produção e planejamentos dos circuitos do desenvolvunento P P . núfica internacional).
integrados é algo mais complexo e exige investimentos diretos na de atividades _de coopera~o ~ecativa elevação de investimentos,P.U:ª
criação da indústria microeletrônica integrados, planejados e não A necesSJdadedes_ta sigm i t enológico é uma consequencia
superpostos. E com a capacidade de produção de componentes 0 desenvolvimento C1enúfico e ~rente à dependência tecnológica
microeletrônicos conquista-se no mínimo a compreensão do que está imediata da mudança da poStur~ economia Quando o horizonte
se passando no setor à escala internacional, que é algo muito mais imposta pela gestão b_urguesa ª ão os · rodutos acabados do
amplo e diverso do que os "Apple" e os PCs da IBM ...E dada a máximo é apenas. ap!lcar na drodukperadvos da divisão inter-
vertiginosa velocidade das inovações nesta área, com a ampliação capitalismo mundial e segu;1 o ~:a a necessidade e o impulso em
acelerada da integração dos circuitos_, a criação desta indústria é, no nacional do trab~ho por ele ur~edto cientifico são pequenos, na
mfuimo, um elemento para evitar um aumento do fosso entre o favor de um efetivo _desenvo v mãodeobracapazdebotarpara
patamartecnológico do país e o internacional. Além disso, é previsível medida em que é suficiente ~aver;~! Com uma postura distinta, que
que os avanços e saltos tecnológicos futuros venham a ter por base a funcionar as "caixas pretas rece i . , a tecnológica o quadro atual
. . í · mo de autonom1 • .
microeletrônica. O desenvolvimento dos supercondutores, por exem- busca aungir ur:i m ru dado Não é possível continuar con-
plo, viabilizará um desenvolvimento espantoso dos circuitos integra- tem de ser radicalm~nte mu · ue indicam uma relação entre
dos. vivendo com esta'.fsucas_ comuoan~o ~os Estados Unidos essa relação
Uma vez criada a indústria microeletrônica, é possível construir- pesquisador~s/habitantes. en~ d r no Japão de 342, na França_chega
se sobre ela outros setores que usam alógicadigital: a própria indústria é de 317 habitantes por pesqmsa O ' · á a 28 00 Não há polfttca de
de computadores (aí estão com maior capacidade de criação, na a 305, no Brasil esse indfce al~antçaàrreal1'dad~ apontada por esses
. ló<Yica que resis a ·
medida em que poderá planejar desde o tipo de circuito a ser usado, autonomia tecno ,,. . d de tecnológica crescente e as maiores
ganhando autonomia frente aos padrões impostos pela produção das números. Dada a comp1exi ª gias têm para serem absorvidas por
1
multinacionais do setor), a indústria de telecomunicações, as indústrias dificuldades que llS novas tecnoé ~om tetamente utópico dominar as
produtoras dos equipamento da automação industrial e dos serviços. países que não dispõem dei~, trônici sem esses investimentos que
A ênfase a ser dada nestes setores dependerá das prioridades definidas tecnologias _de b~e microe e 'dadedeprodução(eestasobserva~~s
pelo planejamento global da economia, mas o fundamental é a e- atingemmu1tomaisdoqueauru t s setores como novos matenais,
xistência da possibilidade de cada uma dessas indústrias lançarem são inteiramente válidas para ou ro
mão da lógica digital (e, portanto, das tecnologias mais avançadas) eletrónica em geral etc), .d te necessidade de investimentos de
sempre que se julgar necessário. A microeletrônica passa a ser parte Em segundo lugar, ~ ev1 ~n e tecnológica (incluindo de nível
do património popular. peso na formação ~ducac1on ros s uisadores). As necessidades
O que se desenha acima é uma política nacional de informática superior' de onde sairão os quad. á e~~o contem piadas no plano de
muito distinta da atual e caótica, onde a anarquia e a falta de de formação educac10nal básica J d he ança social. Para garantir a
planejamento vai determinar um verdadeiro desperdício dos (poucos) obras públicas para a superação ª l;gica a questão da qualidade
recursos do setor (capítulo V). Partindo dos investimentos estatais implementação dessa form~~o teãcn~e passar despercebida. Os
para a criação da indústria microeletrônica e fortalecendo a inter- do ensino e de seu conteu o n o no ca italismo lhes nega: uma
venção estatal no setor, outros elementos devem ser integrados na trabalhadores terão o iu~ -~. ~:~i~~!~nvol vfuiento de especializações
1
política nacional de informática. qualificação geral que a 1 ã é m pressuposto para a conquista da
Em primeiro lugar, investimentos significativos em ciência e diferenciadas. Essa fo~aç O use operária pouco habilitada é um
tecnologia, aumentando o número de pesquisadores e profissionais autonomia tecnológica. uma c1as 315
314
impecilho para o desenvolvimento· d . ·a1 ·
cação combinando-se com a gene ;p ust d · A elevação da qualifi-
trole operário da produção será r I;aç o a auto-gestão e do con-
. ui · uma ,erramenta pod í · Os pontos básicos deste processo de alcançamento planejado
IIllp s10nar o avanço tecnológic L. eros ss1ma para poderiam ser os seguintes: 1) conhecimento efetivo do que está
conhecimento operário da r o. ivres do controle empresarial, o disponível, do que faz parte do patrimônio científico e tecnólógico da
beração da criatividade pa~ ';i~Jão pass;rá a se manifestar na li- humanidade, conhecimento que deve ser estabelecido pelo desen-
técnicas e os métodos de rodu ã var mu anças que aprimorem as volvimento do sistema educacional e pelo estabelecimento de in- ·
0
dos ganhos da produtivigade ç · A :Cguranç.a com a incorporação tercâmbio e cooperação científica internacional; 2) estabelecimento
estímulo indiscutível que so~m pro . do. conJunto da classe é um · de prioridades nacionais do que deve ser assimilado pelo país; 3)-.
reprimido pela ameaç; dos ganho~ d~api:si:i~ é permanentemente criação de mecanismos de efetiva transferência de tecnologia, bus-
pelos empresários contra os trabalh dpr utiv1dade serem utilizados cando romper com as imposições imperialistas da dependência.
Od. aores.
epolillento de um operári 0 d rnd · , . tecnológica, atuação que deve se darem três campos: universidades_ e
muito rico para ex re . ª uSlría automobilística é institutos de pesquisa, organismos internacionais e empresas (contra-
dos trabalhadoretd/~~ant~ a eXJstência dessa contribuição técnica tos com cláusulas mais favoráveis de aquisição e controle de tecnoib-·,
criatividade. Discutindo a ufx;:e c.~m~ ª~ causas da inibição de sua gia); 4) definição de uma estrutura de fonnação (desde pesquisadores·'
ganhar dinheiro com algumas nenci~ os CCQs e a ilusão de se até técnicos e operários especializados) que signifique suporte para o
começa a imaginar coisas e até s:7ee~t ~~ra a empresa " ... então processo de transferência/absorção/criação de tecnologia; 5) polítiC11
trabalho.Aíocaraficaima ·nan . nrm c~çõe~noesquemade de investimento que viabilize a absorção nacional das tecnologias
mais para cá trazer as coisfs .do. -Ah, e se eu tiransto daqui e botar acessadas; 6) desenvolvimento dos institutos de pesquisa pata villl:li- ..• i'
aí! -Aí faz a ;xperiênciae au~:~~ara. perto? Ah, mas deu certo, olha lizar o lado criativo nacional no desenvolvimento tecnológico. ·
está fazendo O trabalho dpe d . quma.Noflill,vocêvaiver,ocara
processo. Vimos lá ~ contribui~~~d:ª a dinâmica capitalista deste automação microeletrônica terão passado a instrumentos de melhoria
para os saltos que os ciclos de dese:s Is processos de alcançamento das condições de trabalho. '
alternativa política dos trabalhadoresv~1~e~to podem conhecer. A No planejamento econômico democrático a meta de modernizar.
tirar todas as consequências favorá . d gin o a nação possibilitará a produção deve estar presente: a reversão de metas imposta pela
agora consciente e Jane. veJS este processo de alcançamento existência do controle operário e popular da economia ampliará
pendência impunha. p Jado, superando as barreiras que a de~
consideravelmente a demanda por todos os tipos de produtos, o que
316 exigirá uma considerável elevação da produção da indústria brasileira.
A pequena dimensão de vários setores e ramos industriais é déter-.
317
minado pela pequenez do mercado interno. Uma melhora nas con- , . ão Por isso ela tem de decidir. O
dições de vida (atacando o problema do desemprego e do arrocho pago pelo conJunto d~ populaç de ser separado da mais ampla
salarial) multiplicará o que é requerido pelo "mercado interno" e o planejamento econôm1c~ não po tativa deve se combinar com a
atendimento dessa demanda imporá a expansão da produção. Assim, democracia: a democracia ~p~~e;os trabalhadores e a construção de
a elevação da produtividade (ou do rendimento do trabalho) será uma generalização da auto-orgamzaç
grande contribuição para atingir os novos objetivos. . seus organismos. . . ca odem dar uma grande con-
Para gerar essa elevação de produtividade, o principal método Os equipamentos ?ª informáu tcrático: é perceptível que um
deverá ser o da aplicação de novas tecnologias à produção. Não há tribuição para esse func1onarnen:o ~en_i de bancos de dados de fácil
justificativa para o uso da intensificação do trabalho como instru- fluxo ágil de informações,_ a ex1stenc(~s etc odem ajudar muito na
mento básico para esse aumento da produtividade, especialmente acesso contendo as esta~sucas ~sen~ da a~inistração do Estado e
quando estão ao alcance do planejamento a utilização de tecnologias transparência e na fiscalização a aç O d
mais sofisticadas. das empresas pelo conjunto dos ~rabalh~e~:~ construído para uma
A priorização da elevação da produtividade a partir da intensifi- Aí estão alguns elementos e um arazãoparanãoconsiderá-lo?
cação do trabalho abre um espaço considerável para o enfrentarnento alternativadostraba~ad?res. Há algum e é uma possibilidade real,
de um projeto libertário e auto-gestionário de socialismo. Não há. E?1 pnme1ro _l~ga:á ~~~~~ituídas no país. O peso da
A transição ao socialismo pressupõe uma sociedade de ampla dadas as condições _mate;1~is J trutura já existentes demonstram o
vida democrática e de participação de massas. Para que o conjunto dos indústria na economia_, a m raes aís ara uma transformação social
trabalhadores participem das definições fundamentais da vida do país indiscutível amadurecimento d~ púlti~a década feitos pelos traba-
e da sua unidade de produção é importante que hajam condições reais radical Os grandes avanços ª CUT demonstram um
· · d t to O PT como a .
de viabilizar essa participação. Uma classe trabalhadora com uma lhadores, constru:n .º an f nna social capaz de capitanear e
carga de trabalho grande e estafante não tem as condições necessárias processo de consutmção de uma o
para dirigira seu estado, para imporo seu controle sobre a economia. dirigir essa mu~ança. dro pintado aqui, em se tratando
A elevação da produtividade baseada numa maior utilização de Mas, terá s1?0 cor-de-rosa o qua rário e ular? No processo de
técnicas modernas abre espaço para o oposto: com a incorporação de uma economia sob o contrte ~peserá a r~~ência da burguesia tal
desses ganhos na redução da jornada de trabalho, o tempo livre obtido estabelecimento desse contr? e,n omuito dojá construído no país? A
é um tempo para a participação na vida política e social, participação que detenninará uma destruição/e. ário de estabelecimento desse
indispensável para a concretização de um projeto democrático e verdade é que o processo rev~ uc10nara evitar ao máximo as perdas
pluralista de transição ao socialismo. controle deve ser capaz o suficiente P.ali ta pnm· itiva É um problema
·d d umulação SOCI s · · d
Assim, sem perder a referência das dificuldades e dos obstáculos do ponto de paru ª. a ac d e terem conta em sua estratégia e
1
que o bloco operáno e popu ar ev
existentes, a meta de articular o crescimento económico e a solução
dos problemas com a máxima modernização tecnológica possfvel tem luta. . coloque essa alternativa: a
de ser claramente afinnada. Além de possível, é necessáno q:e s:iaéca azde fazer. A última
Essa relação apontada entre uma possível elevação da produ- gestão burguesa do país já moS trou ?q _eesta na pão uma década per-
tividade e a ampliação das condições para uma participação mais !
década foi particul~rmcnte gu~tr:u;iÍítica in~tit~cional que o país
elida. A presente cnse econ mie 'd t da necessidade de se por um
ampla dos trabalhadores no processo político (mediada pela redução
da jornada) ganha importância pela necessidade de se garantir um real atravessa é uma nova prova contu en e
funcionamento democrático da sociedade. Em todo este item foram fim à gestão burguesa no país. "dade· por isso é tão importante
indicados inúmeros momentos onde decisões políticas são tomadas, Uma possibilidade e uma net~~ador;s, pelo início da transição
prioridades definidas, recursos aplicados etc. Há sempre opções a luta por uma altemauva dos tra a
diferentes que podem ser tomadas e o custo de sua implementação será ao socialismo.
318
r
iniciar O desenvolvimento de um
V- A situação do movimento e as condições para a é forçado a encarar o desafiode a cralização (ou da difusão mais
· implementação da resposta operária à automação e à know-how para a luta antes a gcn
robotização expressiva) das inovações tccnológicJ:·desenvolvimento capitalista
Em terceiro lugar, 0 proccssie foi a proletarização de tod? um
recente no pais teve uma facet~ 1u rior. Isso estabelece condiç~
Vimos no capítulo V (item V) algumas questões sobre a presença conjunto de profis;-ões de níve_ t~os trabalhadores, dos assalana-
do movimento operário na cena política. Lá foram identificados o · obietivas para a urudade do conJun ondução das lutas em relação à
ascenso e o crescimento da organização independente da classe e os , é · t importante para a c . .
dos, o que mm o . ndições dos empresános imporem
impasses colocados na presente situação. modernização tecnológica. As co rofissionais de planejamento
. A partir daquela caracterização podemos discutir a força e a uma divisão marcada e estável entre os p r esse processo objetivo. No
fi:aqueza do movimento frente ao desafio da introdução das inovações e os da produção fica contran:cstado po "congelada" que em outros
l!lcnológicas. Brasil esta divisão é menos rígid_a :;~n~:pressiva de assalariados dos
Comecemos pelos pontos que contribuem para uma resposta países mais avançados. _A paru~0T é uma mostra desse potencial de
eficaz. chamados setores médios na · ão tecnológica. .
O primeiro deles é o "lucro" que os trabalhadores brasileiros unidade para enfrentar a moderruzaç . ento insistiremos nos dms
J)9dem tirar do atraso do desenvolvimento tecnológico nacional: o Passando às debilidades do movm~ da ~rganização por local de
know-how da luta operária pode chegar e se adaptar à realidade pontos já levantados: a peque~a PJesen~ssidade da alternativa dos
brasileira antes do know-how empresarial. Dada a inevitabilidade da trabalho e a reduzida difusão a ne
difusão das inovações no parque industrial brasileiro e dado o caráter trabalhadores. . al de trabalho, o fortalecimen~o ?º
.retardatário dessa difusão, há tempo para se preparar bem para as lutas Quanto a orgamz~ção por 1oc ári colocou a luta por essa re1vtn-
l
q(ie virão. Basta que o ritmo de amadurecimento do movimento seja setor classista do mov_tm~to º~[gni~cou uma ruptura radical com a
_superior ao da difusão das novas tecnologias. Para tanto, o aprendi- dicação como atual e 1m ata.. não tinham no horizonte o
zado com os erros e os acertos da luta de trabalhadores de outros países · ta e popultsta, que
orientação re fonms d trões no interior das empresas.
mais avançados é indispensável. O internacionalismo se coloca como enfrentamento do sagrado pod:r os pa ram no ABC inicialmente:
uma necessidade prática e concreta. Uma interessante experiência que A partir daí, as primeiras ~nqwsu;5m3t;:~ndi~al dotava-se d: uma
já.se concretiza são alguns encontros de trabalhadores de uma mesma o setor mais avançado o mov do ca ital mais dinanuco no
multinacional, como o da Ford e o da Philips. importante arma para enfr-:ntar o seto~açãcfno local de trabalho foi
. Em segundo lugar, a existência de organizações nacionais dos pais. Como vimos.a conqu1stal.dda o~g;udança na correlação de forÇas
tl"abalhadores permite.tirar proveito da difusão desigual das inovações · · rtante para canso I ar ã nas novas
a mais 1mpo d 197819 e para preparar a atuaç o
na economia do país. Convivem no parque industrial do pais fábricas imposta pelo ascen_so e los patrões com as mudanças do pro-
mais avançadas (com maior proximidade do patamar tecnológico condições de luta, lll\poSt as pe •..
O
internacional) com outras bastante antiquadas. Essa desigualdade abre cesso de trabalho na década de 8.. lítica do movimento poss1bili-
a possibilidade de uma transmissão de experiências e de táticas de Se as mudanças na hegemorua_ po das primeiras comissões de
lqtas dos setores que já entraram em contato com os processos de taram o aparecimento e \ co;1:s~apreocupante. O empenho para
11tilização da microeletrônicà para outros setores que ainda irão fábricas, a pouca propagaç O er ueno.
vivenciar esse enfrentamento. O próprio conta to com o ABC paulista superar essa limitação não~~ s dinicessidade da alternativa dos
já tem um efeito "estimulador" para o conjunto do movimento, que Quanto à pouca consc1encia d litização do movimento, o
, começa a colocar na sua agenda as preocupações com a questão trabalhadores, ela leva ~ uma cert;o :i~onte das lutas ao nível m~s
tecnológica, a acompanhar as lutas que se desenvolvem, a unificar que implica em um reb~xamento di ãmicaondeaslutasisoladastem
uma compreensão das reivindicações a serem conquistadas. O movimento economicista, corporativo e a uma n 321
320
um grande peso. Em outras palavras, o grau de politização do
movimento não é tão elevado quanto as exigências da luta já estão
colocando. Por toda a análise feita anteriormente sobre a profundidade Notas do Capítulo VII
da crise e a incapacidade das várias "alternativas"burguesas em gestar
a sua superação, fica evidente que anão colocação com toda ênfase da
alternativa global dos trabalhadores abre um vazio na luta de classes.
Avançamos muito na campanha Lula em 1989. Mas esse avanço tem
de ser consolidado e ampliado.
A politização do movimento é uma questão essencial para a (l)Depoimentodorepresen~ teONAI do Sindicato
(11/1985)dos Metalúrgicos de São
.
resposta operária à modernização tecnológica. Mesmo para a fase Bernardo do Campo durantt: o II Crabalhadores e as novas tecnolog1as,
"defensiva" da resposta é necessária a extrapolação dos limites da luta (2)Marques,
da coletânia R~sa f-::!aria,
Orgamzaçao, Os t e tecnologia, coord. Lúcia Bruno e
trabalho
sindical ou fabril. Para barrar certo uso das inovações tecnológicas, o
movimento já tem de começar a apontar para outro uso: e esse só é l C!eusa Saccardo
(3)
Marques, Rosa Maria,
. ·d
1
em, P
ág 44
· da . du' stria
. .
automob1lísuca que
completamente visualizável como parte de um projeto alternativo de
sociedade.
(4) · u·1cau·v0 é a postura mdo a aceitar nas negoc,aç
Bastante s1gn · ões
.
desde 1983 vem s1stemaucarn· ente
f C se recusan
alho Ruy de Quadros, Tecno1ogia · e
A ausência dessa consciência cobra novos saltos de qualidade. cláusulas relacionadas à NTs (c . arv '
Eles são necessários para o movimento de trabalhadores do pais, que 9
Trabalho Industrial,
(S)CUT, pág.20?/
Rev. Debate Smd1c ) ai , A automação e os trabalhadores,
vem crescendo nos últimos dez anos e não pode deixar de ter claro que
a sua vocação é a revolução. E ela é a pré-condição básica para a
realização plena da resposta operária à automação. pág.~l)Carvalho, Ruy d~ Quatosi/::~e!gé~~tituição Brasileira
(?)Constituinte, proJetos e · á 203 .
(8)Carvalho, Ruy de Quadros, idem, Pe;;o tecnológico" foi escolhida
(9)A expressão ''preces~ de alc_t~li:1des contidas neste pr~es~o. A
r sintetizar melhor as ".árias pciss1 um dado patamar tecnológico mter-
:pressão pressupõe a existência de O processo de aproximação deste
nacional e uma situação de atraso.r com leto ou não, o resu!ta~o tanto
patamar, uma vez de_tonado, pod;J\ca elmo pode apenas s1gmficar a
pode ser uma atual:zaç~o tecno g internacional de inovaçõe~ e~ um
. tradução do que já e antigo no estoque de alcançamento s1gmfica
i:ís atrasado. Portanto, nem todo proces!~ento é feita por ela passar
~tualização. !' ,?Pção
melhor essa ideia pe}a pal~:r~:r~:;Jição que o catching up process
da dmam1ca
contém.
!
l
322
323
CAPÍTULO Vill: O PESADELO DO "BLADE RUNNER"
OU A CERTEZA DO RIOBALDO ?
1
I- O capital como b ·
arre1ra ao progresso tecnológico à S\la "criação". As prioridades são umas e não outras, os recursos
investidos em cenos programas, o esforço científico visa a resolver
O início deste trabalho (C í ul cenos problemas: tudo definido de acordo com os interesses globais
lismo no permanente revol . ap t o I) ressaltou o papel do capita. da ordem burguesa.
buscando sistematizar as uf wnamento ~a base técnica da produção A mais gritante demonstração do resultado dessa orientação é o
desenvolvimento de forças destrutivas: os investimentos na corrida
Na conclusão, outro~s~~rões bticas feitas sobre o tema. '
~rópri9 capitalismo representa ao~eser a~rdado: o entrave que o armamentista, a utilização militar da energia nuclear. Os gastos dessa
tivas. E uma formulação clássica do senv?lVlffiento das forças produ- corrida não são pequenos. Há, assim, um fenómeno novo que é a
forças produtivas sofrem sob o do í~ar;1smo_o bloqueamento que as acumulação de recursos de destruição. Um balanço do século XX
momento o desenvolvimento d ~ ruo O capital:"... a partirdeceno indicará que, sob o domínio do capital, o peso das forças destrutivas
um obstáculo para O capital· ;: orças produtivas se transforma em tem aumentado a ponto de colocar em risco a própria existência da
t
barreira para o desenvolvi~~! ~to, relação do capital se torna uma
Inerentesàdinâmicaca ºta!~ as orças produtivas do trabalho"
humanidade.
Como vimos, especialmente na revolução tecnológica da última
que o desenvolvimento das ~~r IS!ae con~equência de um conflito e~
338
"O livro.de Eduardo Al-
buquerque "A foice e o
Robô" é um útil e opor·
tuno esforço no sentido
de apontar algumas ques/
tões fundamentais de nos'
so tempo, como o são as
referentes às relações en'
Ire o capital e otrabalho
no campo específico da
produção e apropriação
das novas tecnologias.
Ele deve ser saudado
por seus muitos méritos
e pela postura libertária .
de suâ proposta:'
(Extraído da apresenta-
ção do Pro(foãoiAntônio
de Paula, daFACE · CEDF
PLAR - UFMG)