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Informativo 616-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
 Contratos de franquia dos Correios celebrados sem licitação.

PLANO DIRETOR
 MPF não possui legitimidade para ajuizar ACP contra Município pedindo que sejam realizadas audiências públicas
antes do envio do projeto de Lei do Plano Diretor.

DIREITO CIVIL
CONTRATO DE SEGURO
 Seguradora não é obrigada a conceder indenização por invalidez total pelo simples fato de o segurado estar
recebendo aposentadoria por invalidez do INSS.

USUCAPIÃO
 Ausência de citação dos confinantes gera nulidade relativa.

UNIÃO ESTÁVEL
 Partilha de prêmio da loteria mesmo que se trata de relacionamento regulado pelo regime da separação obrigatória
(art. 1.641, II, do CC).

DIREITO DO CONSUMIDOR
FATO DO PRODUTO
 Para ocorrer danos morais em função do encontro de corpo estranho em alimento industrializado, é necessária a
sua ingestão?

FATO DO SERVIÇO
 Prazo prescricional para ação de indenização em caso de furto de joia empenhada.

CLÁUSULAS ABUSIVAS
 Para que haja compartilhamento de dados do consumidor é necessária a sua autorização expressa.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL


TABELIONATO DE PROTESTO
 Não cabem danos morais se houve protesto de cheque prescrito, mas cuja dívida ainda poderia ser cobrada por
outros meios

DIREITO EMPRESARIAL
PROTESTO
 Não cabem danos morais se houve protesto de cheque prescrito, mas cuja dívida ainda poderia ser cobrada por
outros meios.

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1


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SOCIEDADES
 Quórum para exclusão judicial do sócio majoritário não inclui as suas quotas.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


EXECUÇÃO
 Requisitos para a impenhorabilidade da pequena propriedade rural.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


COISA JULGADA
 Havendo duas sentenças condenatórias envolvendo fatos idênticos, qual delas deverá prevalecer?

DIREITO ADMINISTRATIVO

CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
Contratos de franquia dos Correios celebrados sem licitação

Apenas concursos federais!


Os contratos das Agências de Correios Franqueadas em vigor em 27 de novembro de 2007 que
não sejam precedidos de licitação possuem eficácia até que as novas avenças sejam firmadas,
ainda que descumprido o prazo estabelecido pelo art. 7º, parágrafo único, da Lei nº
11.668/2008.
STJ. 1ª Turma. AREsp 613.239-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 07/11/2017 (Info 616).

Franquia dos Correios


Os serviços dos Correios podem ser prestados em duas formas nas agências:
a) Agência própria dos Correios: quando o serviço é explorado diretamente pela empresa pública, na
forma de agência própria;
b) Agência franqueada: quando a exploração do serviço é feita por meio de particulares que assinam um
contrato de franquia com os Correios.
Dessa forma, a chamada “Franquia Postal” ocorre quando é outorgada a uma pessoa jurídica de direito
privado a execução de atividades auxiliares ao serviço postal.

Para que a pessoa seja um franqueado dos Correios, é necessário vencer uma licitação?
Em regra, sim.

Lei nº 11.668/2008
O exercício da atividade de franquia postal é atualmente disciplinado pela Lei nº 11.668/2008, fruto da
MP 403, publicada em 27 de novembro de 2007.
Antes de 27/11/2007, data da MP que foi convertida na Lei nº 11.668/2007, diversos contratos de franquia
foram celebrados sem prévia licitação, ou seja, particulares receberam outorgas de franquia postal mesmo
sem terem participado de licitação.
A Lei nº 11.668/2008 determinou que essa situação deveria ser regularizada com a assinatura de novos
contratos após a realização de licitação. A Lei previu, no entanto, que, enquanto não for feita a referida
regularização, os contratos anteriores à MP continuam produzindo efeitos. Veja a redação do art. 7º da
Lei nº 11.668/2008:

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Art. 7º Até que entrem em vigor os contratos de franquia postal celebrados de acordo com o
estabelecido nesta Lei, continuarão com eficácia aqueles firmados com as Agências de Correios
Franqueadas que estiverem em vigor em 27 de novembro de 2007.
Parágrafo único. A ECT deverá concluir as contratações a que se refere este artigo até 30 de
setembro de 2012. (Redação dada pela Lei nº 12.400, de 2011).

Como se vê o prazo do parágrafo único do art. 7º já se esgotou. Apesar disso, continuam existindo
contratos que não foram regularizados. Qual é a situação desses contratos?
Eles continuam produzindo efeitos. O STJ decidiu que, mesmo ultrapassado esse prazo do art. 7º,
parágrafo único, da Lei nº 11.668/2008, enquanto não houver a regularização, tais contratos continuam
produzindo efeitos:
Os contratos das Agências de Correios Franqueadas em vigor em 27 de novembro de 2007 que não sejam
precedidos de licitação possuem eficácia até que as novas avenças sejam firmadas, ainda que
descumprido o prazo estabelecido pelo art. 7º, parágrafo único, da Lei nº 11.668/2008.
STJ. 1ª Turma. AREsp 613.239-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 07/11/2017 (Info 616).

Em homenagem ao princípio da continuidade dos serviços públicos, enquanto não houver a assinatura de
novos contratos de franquia, os antigos deverão continuar produzindo efeitos mesmo que tenham sido
firmados sem licitação.
Não se trata de perpetuar os contratos sem licitação, mas sim de respeitar a continuidade dos serviços
públicos até que novos ajustes sejam firmados.

O Decreto nº 6.639/2008 determinou a extinção automática de todos os contratos de franquia firmados


sem prévia licitação após o prazo do art. 7º, parágrafo único, da Lei nº 11.668/2008, mesmo que ainda
não tenham sido celebrados novos pactos. Essa previsão é válida?
NÃO. O STJ entendeu que essa previsão do Decreto é ilegal porque a Lei nº 11.668/2008 conferiu um prazo
para a realização de novos contratos, mas não determinou a extinção automática dos anteriores, exigindo
que eles permaneçam eficazes até que novos ajustes sejam firmados. Logo, o Decreto disse mais do que
a Lei e violou o princípio da continuidade dos serviços públicos.

PLANO DIRETOR
MPF não possui legitimidade para ajuizar ACP contra Município pedindo que sejam
realizadas audiências públicas antes do envio do projeto de Lei do Plano Diretor

Importante!!!
O Ministério Público Federal é parte ilegítima para ajuizar ação civil pública que visa à
anulação da tramitação de Projeto de Lei do Plano Diretor de município, ao argumento da falta
de participação popular nos respectivos trabalhos legislativos.
No caso concreto, o MPF ajuizou ACP contra o Município de Florianópolis e a União
argumentando que o Poder Executivo Municipal teria encaminhado à Câmara de Vereadores
o projeto de Lei do Plano Diretor da cidade sem a realização das necessárias audiências
públicas, o que violaria o Estatuto da Cidade. O STJ entendeu que a legitimidade para essa
demanda seria do Ministério Público estadual (e não do MPF).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.687.821-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 07/11/2017 (Info 616).

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3


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Imagine a seguinte situação hipotética:


O Procurador da República (Ministério Público Federal) ajuizou ação civil pública contra o Município de
Florianópolis e a União, sob o argumento de que o Poder Executivo Municipal teria encaminhado à Câmara
de Vereadores o projeto de Lei do Plano Diretor da cidade sem a realização de audiências públicas, o que
violaria a garantia da efetiva participação popular no procedimento, conforme exige a Lei nº 10.257/2001
(Estatuto da Cidade):
Art. 40 (...)
§ 4º No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os
Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão:
I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações
representativas dos vários segmentos da comunidade;

Na ação, o MPF alega que a União possui o dever legal de zelar pela obediência ao Estatuto da Cidade e
que, apesar disso, simplesmente negligenciou de suas funções, sendo, portanto, omissa.
Em virtude disso, o Parquet federal formulou os seguintes pedidos:
a) o trancamento da tramitação do projeto de lei e a sua devolução ao Poder Executivo municipal;
b) a determinação para que o Município realize as referidas audiências públicas antes de encaminhar
novamente o projeto;
c) a condenação da União a orientar e fiscalizar o estrito cumprimento do Estatuto da Cidade durante o
processo de elaboração do Plano Diretor.

Contestação do Município
O Município alegou, dentre outros argumentos, que o Ministério Público Federal é parte ilegítima para
ajuizar a presente demanda, porque a pretensão veiculada diz respeito a assunto de interesse local, não
havendo afronta a bem, direito ou interesse da União.

O STJ concordou com a tese do Município?


SIM.
O que o MPF pretende, na verdade, é impor uma conduta aos Poderes Executivo e Legislativo do Município.
Dessa forma, tal atividade está relacionada com as atribuições do Ministério Público estadual, conforme se
observa pelo art. 27 da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional dos Ministérios Públicos dos Estados):
Art. 27. Cabe ao Ministério Público exercer a defesa dos direitos assegurados nas Constituições
Federal e Estadual, sempre que se cuidar de garantir-lhe o respeito:
I - pelos poderes estaduais ou municipais;
II - pelos órgãos da Administração Pública Estadual ou Municipal, direta ou indireta;
III - pelos concessionários e permissionários de serviço público estadual ou municipal;
IV - por entidades que exerçam outra função delegada do Estado ou do Município ou executem
serviço de relevância pública.

Algumas questões relacionadas com o Plano Diretor, como é o caso da disciplina do uso do solo urbano,
podem ter impacto no meio ambiente, o que poderia legitimar o Ministério Público Federal para a
demanda. Ocorre que não é essa a pretensão específica do MPF. A causa de pedir da ação proposta pelo
MPF diz respeito, exclusivamente, à suposta inobservância das audiências públicas, não havendo,
portanto, um pedido voltado especificamente para a tutela direta do meio ambiente.
A presença da União no polo passivo não tem o condão de conferir legitimidade ao MPF porque essa
inclusão foi indevida, devendo o ente federal ser excluído da lide, já que não cabe à União definir o
conteúdo de Planos Diretores, uma vez que, por determinação legal e constitucional, a matéria é de
exclusiva competência municipal.

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4


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Se a União atuasse na forma como pretende o MPF haveria, na verdade, uma violação aos princípios da
legalidade e da autonomia dos entes federados.

Em suma:
O Ministério Público Federal é parte ILEGÍTIMA para ajuizar ação civil pública que visa à anulação da
tramitação de Projeto de Lei do Plano Diretor de município, ao argumento da falta de participação
popular nos respectivos trabalhos legislativos.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.687.821-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 07/11/2017 (Info 616).

DIREITO CIVIL

CONTRATO DE SEGURO
Seguradora não é obrigada a conceder indenização por invalidez total pelo simples fato de o
segurado estar recebendo aposentadoria por invalidez do INSS

Atenção! Juiz de Direito e DPE


A aposentadoria por invalidez permanente concedida pelo INSS não confere ao segurado o
direito automático de receber indenização de seguro contratado com empresa privada, sendo
imprescindível a realização de perícia médica para atestar o grau de incapacidade e o correto
enquadramento na cobertura contratada.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.508.190-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 08/11/2017 (Info 616).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João fez um seguro de vida no qual estava previsto que ele teria direito de receber R$ 100 mil em caso de
invalidez parcial e R$ 300 mil na hipótese de invalidez total.
Determinado dia, ele sofreu um acidente de carro passeando com a família.
João era gerente de uma loja e, nesta condição, era segurado obrigatório do INSS (regime geral de
previdência social).
Em virtude do acidente, a perícia do INSS concluiu que ele ficou inválido de forma total e permanente para
o trabalho, razão pela qual lhe foi concedida aposentadoria por invalidez.

Ação contra a seguradora


Após a recusa do pagamento na via extrajudicial, João ajuizou ação de indenização contra a seguradora
pedindo o pagamento da indenização por invalidez total.
A ré, na contestação, pediu realização de prova pericial.
O magistrado, contudo, negou o pedido proferindo julgamento antecipado da lide sob o argumento de
que o fato de o autor estar recebendo aposentadoria por invalidez já era prova suficiente da procedência
do pedido.

Agiu corretamente o magistrado, segundo o STJ? A concessão de aposentadoria por invalidez pelo INSS
é prova suficiente para obrigar a seguradora a pagar a indenização securitária?
NÃO.
O reconhecimento por parte do órgão previdenciário oficial (INSS) de que o segurado tem direito de se
aposentar por invalidez não desobriga este segurado de ter que provar, perante a seguradora, que está
inválido para fins de recebimento do seguro.

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5


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O fato de o segurado (autor) ter sido aposentado pelo INSS por invalidez permanente não confere a ele o
direito automático de receber indenização de seguro contratado com empresa privada, sendo
imprescindível a realização de perícia médica para atestar o grau de incapacidade e o correto
enquadramento na cobertura contratada.
A concessão de aposentadoria por invalidez pelo INSS não gera uma presunção absoluta da incapacidade
total do segurado, não podendo, dessa forma, vincular ou obrigar as seguradoras privadas.
A autarquia previdenciária afere apenas a incapacidade profissional ou laborativa, de modo que a
aposentadoria por invalidez não é apta a demonstrar a ocorrência de riscos securitários diversos, como as
incapacidades parcial, temporária ou funcional. Em outras palavras, os critérios utilizados pelo INSS para
a concessão do benefício são distintos daqueles utilizados pela seguradora para apurar a incapacidade
garantida na apólice contratada, devendo ser permitida a realização de perícia médica específica para não
haver o cerceamento de defesa.
Consoante o art. 5º, parágrafo único, da Circular SUSEP nº 302/2005, a aposentadoria por invalidez
concedida por instituições oficiais de previdência, ou assemelhadas, não caracteriza, por si só, o estado de
invalidez permanente nos seguros de pessoas (Cobertura de Invalidez Permanente por Acidente - IPA,
Cobertura de Invalidez Laborativa Permanente Total por Doença - ILPD e Cobertura de Invalidez Funcional
Permanente Total por Doença - IFPD), devendo a comprovação se dar por meio de declaração médica.

Em suma:
A aposentadoria por invalidez permanente concedida pelo INSS não confere ao segurado o direito
automático de receber indenização de seguro contratado com empresa privada, sendo imprescindível a
realização de perícia médica para atestar o grau de incapacidade e o correto enquadramento na
cobertura contratada.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.508.190-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 08/11/2017 (Info 616).

USUCAPIÃO
Ausência de citação dos confinantes gera nulidade relativa

Importante!!!
Ao propor uma ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos confinantes, ou seja,
dos vizinhos que fazem fronteira com o imóvel que ele almeja.
E o que acontece caso não haja a citação dos confinantes? Haverá nulidade absoluta do
processo?
Não. Apesar de amplamente recomendável, a falta de citação dos confinantes não acarretará,
por si, ou seja, obrigatoriamente, a nulidade da sentença que declara a usucapião. Não há que
se falar em nulidade absoluta, no caso.
A ausência de citação dos confinantes e respectivos cônjuges na ação de usucapião é
considerada hipótese de nulidade relativa, somente gerando a nulidade do processo caso se
constate o efetivo prejuízo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.432.579-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/10/2017 (Info 616).

Usucapião
Usucapião é...
- um instituto jurídico por meio do qual a pessoa que fica na posse de um bem (móvel ou imóvel)
- por determinados anos
- agindo como se fosse dono

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6


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- adquire a propriedade deste bem ou outros direitos reais a ele relacionados (exs: usufruto, servidão)
- desde que cumpridos os requisitos legais.

Ação de usucapião
O CPC/1973 trazia, em seus arts. 941 a 945, um procedimento especial para a ação de usucapião.
O CPC/2015 não previu procedimento especial para a ação de usucapião, de forma que a usucapião judicial
deverá seguir o procedimento comum.

Em uma ação de usucapião, o autor deve pedir a citação de quem? Quem deve ser citado?
• o indivíduo em nome do qual se encontra registrado o imóvel, ou seja, o “proprietário” do imóvel,
segundo o cartório de registro de imóveis;
• os proprietários ou possuidores dos imóveis confinantes, ou seja, os vizinhos que fazem fronteira com o
imóvel que se almeja na ação. Em se tratando de casa, em geral, são três confinantes: o vizinho da
esquerda, o da direita e o vizinho de trás;
• a citação, por edital, de eventuais interessados (art. 259, I, do CPC/2015).

Obs: mesmo que o indivíduo (autor da ação) não esteja mais na posse do imóvel, ainda assim ele poderá
ter direito à usucapião desde que tenha preenchidos todos os requisitos para a constituição do direito
antes de perder a posse. Neste caso, o autor deverá pedir a citação também do atual possuidor do imóvel.
Conforme explica Marcus Vinicius Rios Gonçalves:
“Não é preciso que o autor da ação tenha posse atual do bem. A ação de usucapião visa a declarar
a propriedade em favor de alguém que, por ter permanecido na coisa com posse animus domini,
contínua, ininterrupta, pacífica e pública, pelo tempo exigido por lei. Pode ocorrer que o possuidor
tenha permanecido todo o tempo necessário, e tenha -se tornado proprietário, mas que tenha
perdido a posse, logo depois. Isso não o impede de pedir a declaração de propriedade em seu favor.
A única ressalva é que ele deve incluir — no polo passivo — o atual possuidor. É o que resulta da
Súmula 263 do STF: “O possuidor deve ser citado pessoalmente para a ação de usucapião”. O
possuidor a que a súmula se refere é o que tem a posse atual da coisa. Ele deve ser citado na ação
ajuizada pelo usucapiente, que perdeu posteriormente a posse.” (Direito Processual Civil
esquematizado. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 796).

Além disso, o autor deverá requerer a manifestação dos representantes da Fazenda Pública da União, do
Estado/DF e do Município.

Ao propor uma ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos confinantes, ou seja, dos
vizinhos que fazem fronteira com o imóvel que ele almeja?
SIM. Isso foi dito acima. Perguntei de novo apenas para ter certeza que você entendeu. Essa exigência é
antiga. Em 1964, o STF aprovou uma súmula falando isso. Confira:
Súmula 391-STF: O confinante certo deve ser citado pessoalmente para a ação de usucapião.

Em 1973, foi editado o antigo CPC e ele trouxe, em seu art. 942, a previsão de que o autor da ação de
usucapião deveria requerer “a citação daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel usucapiendo,
bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais interessados”.

(...) Em regra, seja qual for o procedimento a ser adotado na ação de usucapião - ordinário, sumário ou
especial -, é de extrema relevância a citação do titular do registro, assim como dos confinantes e
confrontantes do imóvel usucapiendo. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1275559/ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 07/06/2016.

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No CPC/2015 existe previsão expressa de citação dos confinantes?


SIM. Essa obrigatoriedade encontra-se no art. 246, § 3º do CPC/2015 e pode ser assim resumida:
• Regra: na ação de usucapião de imóvel, os confinantes serão citados pessoalmente.
• Exceção: quando a ação de usucapião tiver por objeto unidade autônoma de prédio em condomínio, tal
citação é dispensada.

Por que os confinantes têm que ser citados na ação de usucapião? Qual é a razão de o CPC trazer essa
exigência?
Por duas razões:
1) os confinantes podem trazer informações úteis ao deslinde do processo;
2) a depender do caso concreto, o confinante pode ter que defender os limites de sua propriedade. Ex: o
autor afirma que a fazenda objeto da usucapião termina depois do córrego; o confinante contesta essa
alegação e comprova que a área do córrego já está dentro de sua propriedade.

Como explica Fábio Caldas de Araújo:


“Os confinantes atuam diretamente na avaliação das confrontações traçadas pelo requerente garantindo
a integridade de suas respectivas propriedades. E de forma indireta atuam como testemunha do
prescribente, delimitando o espaço geográfico em que o mesmo assenta sua posse ad usucapionem.
(ARAÚJO, Fábio Caldas de. Usucapião. São Paulo: Malheiros, 2013, p. 454).
Dessa forma, o principal objetivo da citação dos confinantes é o de evitar que eles sofram prejuízos, razão
pela qual é indispensável a sua citação.

E o que acontece caso não haja a citação dos confinantes? Haverá nulidade absoluta do processo?
NÃO.
Apesar de amplamente recomendável, a falta de citação dos confinantes não acarretará, por si, ou seja,
obrigatoriamente, a nulidade da sentença que declara a usucapião. Não há que se falar em nulidade
absoluta, no caso.
Como já dito, o principal intento da citação dos confinantes do imóvel usucapiendo é o de delimitar a
área usucapienda, evitando, assim, eventual invasão indevida dos terrenos vizinhos.
Assim, apesar da relevância da participação dos confinantes (e respectivos cônjuges) na ação de
usucapião, o que se conclui é que a ausência de citação dos referidos confinantes gera apenas nulidade
relativa, de forma que somente invalidará a sentença caso fique demonstrado efetivo prejuízo ao
confinante não citado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.432.579-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/10/2017 (Info 616).

Veja importante lição doutrinária nesse sentido:


“Caso qualquer dos confrontantes deixe de ser citado pessoalmente, a sentença que ferir interesses seus,
que seriam defendidos na ação de usucapião, é, a nosso ver, inexistente, por falta de um pressuposto
processual de existência do processo, como também o seria caso não fosse publicado o edital previsto no
art. 942, II, do CPC.
Porém, se, apesar da falta de citação de um dos confrontantes, a sentença a ele não disser respeito, ou
seja, a área usucapienda em nada afete sua área de domínio, posse ou qualquer outro interesse, não será
caso de inexistência ou nulidade ou ineficácia da sentença, pois este não tem, neste caso, no processo,
interesse de réu, de parte, fato que só se pode constatar ao final da ação. Daí a necessidade, por
precaução, da citação de todos. Trata-se, pois, de necessariedade secundum eventum litis.” (PINTO,
Nelson Luiz. Ação de usucapião. São Paulo: RT, 1991, p. 82-83)

E o que acontece caso não haja a citação do proprietário do imóvel (e seu cônjuge)?
Neste caso, o vício é mais grave. A sentença de usucapião proferida sem a citação do proprietário e seu
cônjuge será considerada absolutamente ineficaz, inutiliter data, tratando-se de nulidade insanável.

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UNIÃO ESTÁVEL
Partilha de prêmio da loteria mesmo que se trate de relacionamento
regulado pelo regime da separação obrigatória (art. 1.641, II, do CC)

Atenção! Concursos estaduais


Se a pessoa inicia uma união estável possuindo mais de 70 anos, o regime patrimonial que irá
regular essa relação é o da separação obrigatória de bens (art. 1.641, II, do CC).
Apesar disso, se, durante essa relação, um dos companheiros ganhar na loteria, o valor do prêmio
integra a massa de bens comuns do casal (art. 1.660, II, do CC), de forma que pertence a ambos.
Assim, havendo dissolução da união estável, o valor desse prêmio deverá ser partilhado
igualmente entre os consortes.
Em suma, o prêmio de loteria, recebido por ex-companheiro septuagenário durante a relação
de união estável, deve ser objeto de meação entre o casal em caso de dissolução do
relacionamento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.689.152-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/10/2017 (Info 616).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Em 2012, João, 70 anos de idade, passou a viver em união estável com Carla.
Em 2015, João ganhou R$ 2 milhões na MegaSena.
Alguns dias depois, João decidiu terminar o relacionamento.
Em razão disso, Carla ajuizou ação de reconhecimento e dissolução de união estável pedindo o pagamento
de pensão alimentícia e a partilha dos bens, dentre os quais o prêmio da loteria.
João alegou que não tinha que dividir o patrimônio considerando que, quando a união estável teve início,
ele possuía mais de 70 anos de idade, de forma que o regime patrimonial que regulou a relação dos dois
foi o regime legal da separação obrigatória de bens, previsto no art. 1.641, II, do Código Civil:
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos;

Ao maior de 70 anos é imposto o regime de separação obrigatória de bens. O objetivo do legislador foi o
de proteger o idoso e seus herdeiros de casamentos realizados por interesse estritamente econômico.
Trata-se de “prudência legislativa em favor das pessoas e de suas famílias, considerando a idade dos
nubentes. É de lembrar que, conforme os anos passam, a idade avançada acarreta maiores carências
afetivas e, portanto, maiores riscos corre aquele que tem mais de setenta anos de sujeitar-se a um
casamento em que o outro nubente tenha em vista somente vantagens financeiras, ou seja, em que os
atrativos matrimoniais sejam pautados em fortuna e não no afeto” (MONTEIRO, Washington de Barros.
Curso de direito civil: direito de família. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 295).

Essa regra do art. 1.641, II, do CC fala em “casamento”. É possível estendê-la também para a união
estável?
SIM. O STJ possui alguns julgados afirmando que essa regra específica do casamento deve ser estendida à
união estável. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 646.259/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
22/06/2010.

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Havendo dissolução de união estável regida pelo regime da separação obrigatória de bens (art. 1.641,
II, do CC), como deve ser feita a partilha dos bens?
Deverão ser partilhados apenas os bens adquiridos onerosamente na constância da união estável, e desde
que comprovado o esforço comum na sua aquisição (STJ. 2ª Seção. EREsp 1171820/PR, Rel. Min. Raul
Araújo, julgado em 26/08/2015).
Desse modo, em nosso exemplo, Carla terá direito à meação dos bens adquiridos durante a união estável,
desde que comprovado o esforço comum.

E quanto ao prêmio da loteria, ela terá direito?


SIM. Segundo o Código Civil, a loteria ingressa na comunhão sob a rubrica de “bens adquiridos por fato
eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior”. Veja:
Art. 1.660. Entram na comunhão:
(...)
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior;

“Os bens adquiridos por fato eventual, ou seja, a título gratuito e não esperado, também integram a massa
de bens comuns, mesmo não havendo o consórcio de esforço comum dos nubentes para tal aquisição,
sendo, neste caso, responsável o fator sorte.” (TEPEDINO, Gustavo. Código civil interpretado conforme a
Constituição da República. Vol. IV, Rio de Janeiro: Renovar, 2014, p. 306)

“O inciso II trata dos bens adquiridos por fato eventual. Nesse caso, não se leva em consideração se houve
concurso de trabalho ou despesa anterior de qualquer cônjuge. São exemplos os bens havidos por aluvião
(art. 1.250), por descoberta (art. 1.233), os tesouros (art. 1.264), a aposta e a loteria”. (SILVA, Regina
Beatriz Tavares da. Código Civil Comentado. 6ª ed., São Paulo: Saraiva. p. 1.810).

Mas João era maior de 70 anos... Mesmo assim, o prêmio da loteria irá ser objeto de partilha?
SIM. O STJ apontou quatro razões:
1) Trata-se de bem comum, que ingressa no patrimônio do casal, independentemente da aferição do
esforço de cada um, pouco importando se houve ou não despesa do outro consorte. A própria redação do
dispositivo afirma, expressamente, que “os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de
trabalho ou despesa anterior”, são comuns.

2) Foi o próprio legislador quem estabeleceu a referida comunicabilidade.

3) A comunicabilidade é a regra, que admite exceções, a depender do regime de bens, sendo que aquele
de separação legal do septuagenário é diverso do regime de separação convencional, tendo recebido
mitigação reconhecida pela jurisprudência do STF e do STJ, sendo, em verdade, uma mescla de regimes.

4) A partilha dos referidos ganhos com a loteria não ofende o objetivo da lei, já que o prêmio foi ganho
durante a relação, não havendo falar em matrimônio (união estável) realizado por interesse. A pessoa não
sabia que ele iria ganhar o prêmio.

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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DIREITO DO CONSUMIDOR

FATO DO PRODUTO
Para ocorrer indenização por danos morais em função do encontro de corpo estranho
em alimento industrializado, é necessária a sua ingestão?

Tema polêmico!
Para ocorrer a indenização por danos morais em função do encontro de corpo estranho em
alimento industrializado, é necessária a sua ingestão?
A jurisprudência é dividida sobre o tema:
• Ausente a ingestão do produto considerado impróprio para o consumo em virtude da
presença de corpo estranho, não se configura o dano moral indenizável. Nesse sentido: STJ. 4ª
Turma. AgRg no AREsp 489.030/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/04/2015.
• A aquisição de produto de gênero alimentício contendo em seu interior corpo estranho,
expondo o consumidor à risco concreto de lesão à sua saúde e segurança, ainda que não ocorra
a ingestão de seu conteúdo, dá direito à compensação por dano moral, dada a ofensa ao direito
fundamental à alimentação adequada, corolário do princípio da dignidade da pessoa humana.
O simples ato de “levar à boca” o alimento industrializado com corpo estranho gera dano
moral in re ipsa, independentemente de sua ingestão. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp
1.644.405-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/11/2017 (Info 616).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.644.405-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/11/2017 (Info 616).

Ao observar o inteiro teor dos julgados e os casos examinados, percebe-se a seguinte distinção:
• Se o consumidor encontra o corpo estranho sem ter comido nada do produto: não cabe danos morais.
• Se o consumidor encontra o corpo estranho após ter comido parte do produto: cabe danos morais,
mesmo que ele não tenha ingerido o corpo estranho.
Vale ressaltar, contudo, que essa diferenciação não consta de forma expressa nos julgados. Trata-se
de uma constatação pessoal, razão pela qual deve-se ter cautela em afirmar isso nos concursos
públicos. Para fins de prova, é importante ficar com a redação literal das ementas, conforme exposto
acima.

Imagine a seguinte situação hipotética:


João comprou um pacote de biscoito recheado, sabor morango.
Por volta do terceiro biscoito, ao mastigar o produto, João encontrou uma aliança no recheio, cuspindo-a
antes de engolir.
Diante disso, ajuizou ação de indenização por danos morais contra a fabricante do produto.
A fabricante alegou, dentre outros argumentos, que não houve dano moral, considerando que João não
engoliu o corpo estranho. Logo, do evento não advieram consequências significativas.

Para ocorrer a indenização por danos morais em função do encontro de corpo estranho em alimento
industrializado, é necessária a sua ingestão? Para configurar dano moral é necessário que o consumidor
ENGULA o objeto estranho presente no alimento?
A jurisprudência é dividida sobre o tema:
SIM NÃO
Ausente a ingestão do produto considerado A aquisição de produto de gênero alimentício
impróprio para o consumo em virtude da presença contendo em seu interior corpo estranho,
expondo o consumidor a risco concreto de lesão à

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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de corpo estranho, não se configura o dano moral sua saúde e segurança, ainda que não ocorra a
indenizável. ingestão de seu conteúdo, dá direito à
Não há dano moral na hipótese de aquisição de compensação por dano moral, dada a ofensa ao
gênero alimentício com corpo estranho no interior direito fundamental à alimentação adequada,
da embalagem se não ocorre a ingestão do corolário do princípio da dignidade da pessoa
produto considerado impróprio para consumo, humana.
visto que referida situação não configura O simples ato de “levar à boca” o alimento
desrespeito à dignidade da pessoa humana, industrializado com corpo estranho gera dano
desprezo à saúde pública ou mesmo descaso para moral in re ipsa, independentemente de sua
com a segurança alimentar. ingestão.
A ausência de ingestão de produto impróprio para A disponibilização de produto considerado
o consumo configura, em regra, hipótese de mero impróprio para consumo em virtude da presença
dissabor vivenciado pelo consumidor, o que afasta de objeto estranho no seu interior afeta a
eventual pretensão indenizatória decorrente de segurança que rege as relações consumeristas na
alegado dano moral. medida que expõe o consumidor a risco de lesão à
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1597890/SP, Rel. sua saúde e segurança e, portanto, dá direito à
Min. Moura Ribeiro, julgado em 27/09/2016. compensação por dano moral.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 489.030/SP, Rel. STJ. 3ª Turma. REsp 1644405/RS, Rel. Min. Nancy
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/04/2015. Andrighi, julgado em 09/11/2017.
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1380274/SC, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 10/05/2016.

Observação:
Ao observar o inteiro teor dos julgados e os casos examinados, percebe-se a seguinte distinção:
• Se o consumidor encontra o corpo estranho sem ter comido nada do produto: não cabem danos morais.
• Se o consumidor encontra o corpo estranho após ter comido parte do produto: cabem danos morais,
mesmo que ele não tenha ingerido o corpo estranho. Por isso, no caso do biscoito, caberiam danos morais.

Vale ressaltar, contudo, que essa diferenciação não consta de forma expressa nos julgados. Trata-se,
contudo, de uma constatação pessoal, razão pela qual deve-se ter cautela em afirmar isso nos concursos
públicos. Para fins de prova, é importante ficar com a redação literal das ementas, conforme exposta no
quadro acima.

FATO DO SERVIÇO
Prazo prescricional para ação de indenização em caso de furto de joia empenhada

A parte celebrou contrato de mútuo com a instituição financeira e deu uma joia em penhor
como garantia do débito.
Ocorre que a joia foi furtada de dentro do banco.
Diante disso, o devedor (mutuário) terá que pleitear indenização pelos prejuízos sofridos com
o furto, sendo de 5 anos o prazo prescricional para essa ação de ressarcimento.
O furto das joias, objeto do penhor, constitui falha do serviço prestado pela instituição
financeira, devendo incidir o prazo prescricional de 5 anos para a ação de indenização,
conforme previsto no art. 27 do CDC.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.369.579-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/10/2017 (Info 616).

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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Penhor
Penhor é o direito real pelo qual o devedor ou terceiro transfere ao credor, em garantia do débito, a posse
de uma coisa móvel. Em outras palavras, a pessoa toma um empréstimo e, como garantia de que irá pagar
a dívida, transfere para o credor um objeto de valor.
A coisa dada em penhor é “empenhada” ou “apenhada”.
Não se pode confundir penhor (garantia real) com penhora (ato do processo de execução).

Penhor de joias
A Caixa Econômica Federal oferece uma forma de conferir empréstimo de modo mais ágil e sem
burocracia. Trata-se do empréstimo com penhor.
A pessoa interessada em obter um empréstimo procura a CEF e obtém o valor, oferecendo, como garantia,
um bem de valor de seu patrimônio, normalmente uma joia, uma pedra preciosa, um relógio etc.
Quando a pessoa paga o empréstimo, recebe de volta o bem empenhado.
Se o mutuário não quitar o empréstimo, a coisa apenhada é leiloada para pagar a dívida.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


Pedro, precisando de dinheiro, resolve tomar um empréstimo na CEF e, como garantia, entrega o seu anel
de formatura.
No contrato assinado, havia uma cláusula que estabelecia que, em caso de roubo, furto ou extravio da joia
empenhada, a CEF deveria pagar ao mutuário, a título de danos materiais e morais, o valor máximo de 1,5
vezes da quantia pela qual foi avaliado o bem. Ex: se o bem tivesse sido avaliado em R$ 10 mil, a CEF
pagaria no máximo 15 mil reais de indenização.
Uma semana após Pedro dar o bem em garantia, houve um furto na agência da CEF e levaram o anel, que
estava guardado em um cofre.

A CEF deverá indenizar Pedro por esse furto?


SIM. O furto ocorrido deve ser entendido como fortuito interno, inerente à atividade explorada pelo
banco. Assim, a instituição financeira é responsável por furtos ou mesmo roubos em seus cofres (REsp
1.250.997/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 5/2/2013).

Essa cláusula que limita o valor da indenização é válida?


NÃO. O STJ entende que essa cláusula é nula:
Em contrato de penhor firmado por consumidor com instituição financeira, é nula a cláusula que limite o
valor da indenização na hipótese de eventual furto, roubo ou extravio do bem empenhado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.155.395-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 1º/10/2013 (Info 529).

O que fazer, então, no caso concreto?


A parte prejudicada deverá ingressar com ação de indenização contra a CEF cobrando o valor que entende
como justo a título de indenização.
Deve-se salientar que, além dos danos materiais, a CEF deverá ser condenada a pagar também danos
morais, uma vez que o consumidor que decide pelo penhor assim o faz pretendendo receber o bem de
volta, e, para tanto, confia que o mutuante o guardará pelo prazo ajustado. Se a coisa empenhada fosse
para o proprietário um bem qualquer, sem nenhum valor sentimental, provavelmente o consumidor
optaria pela venda da joia, e, certamente, obteria um valor maior.
Dessa forma, em geral, a coisa empenhada tem um grande valor sentimental para o devedor.

Qual é o prazo prescricional para o ajuizamento dessa ação de indenização?


5 anos, nos termos do art. 27 do CDC:

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13


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Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do
produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a
partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

Em suma:
A parte celebrou contrato de mútuo com a instituição financeira e deu uma joia em penhor como
garantia do débito.
Ocorre que a joia foi furtada de dentro do banco.
Diante disso, o devedor (mutuário) terá que pleitear indenização pelos prejuízos sofridos com o furto,
sendo de 5 anos o prazo prescricional para essa ação de ressarcimento.
O furto das joias, objeto do penhor, constitui falha do serviço prestado pela instituição financeira,
devendo incidir o prazo prescricional de 5 anos para a ação de indenização, conforme previsto no art.
27 do CDC.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.369.579-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/10/2017 (Info 616).

CLÁUSULAS ABUSIVAS
Para que haja compartilhamento de dados do consumidor, é necessária a sua autorização expressa

É abusiva e ilegal cláusula prevista em contrato de prestação de serviços de cartão de crédito


que autoriza o banco contratante a compartilhar dados dos consumidores com outras
entidades financeiras ou mantenedoras de cadastros positivos e negativos de consumidores,
sem que seja dada opção de discordar daquele compartilhamento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.348.532-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/10/2017 (Info 616).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Nos contratos de cartão de crédito que o banco “HSTT” celebra com seus clientes, há uma cláusula
autorizando que a instituição financeira repasse os dados dos consumidores para outros bancos e para
instituições mantenedoras de cadastros de créditos (SERASA, SPC etc).
Veja a redação da referida cláusula:
“O Titular desde já autoriza que as instituições do HSTT, no país ou no exterior, tenham acesso a todos os
seus dados cadastrais e obtenham informações pessoais pertinentes a transações realizadas em qualquer
delas, com a finalidade de agilizar e facilitar operações ativas, passivos e de prestação de serviços, nos
mercados financeiros, de capitais, de câmbio, de seguros e de consumo e bem assim efetuem troca de
informações a seu respeito com sistemas positivos e negativos de crédito externos, junto a entidades que
procedam registros de informações e restrições de crédito.”

ACP
Determinada associação de defesa do consumidor ingressou com ação civil pública contra o banco
alegando que não existe, no contrato, possibilidade de o consumidor recusar esse compartilhamento.
Em outras palavras, a associação afirmou que essa cláusula poderia até existir, mas o consumidor deveria
ter um campo no qual pudesse escolher SIM ou NÃO, ou seja, ele deveria ter a opção de autorizar ou não
o compartilhamento das informações.

A tese da associação foi acolhida pelo STJ?


SIM.
É abusiva e ilegal cláusula prevista em contrato de prestação de serviços de cartão de crédito que
autoriza o banco contratante a compartilhar dados dos consumidores com outras entidades financeiras
Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14
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ou mantenedoras de cadastros positivos e negativos de consumidores, sem que seja dada opção de
discordar daquele compartilhamento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.348.532-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/10/2017 (Info 616).

A cláusula prevista em contrato de serviço de cartão de crédito que impõe a anuência com o
compartilhamento de dados pessoais do consumidor é abusiva por deixar de atender a dois princípios
importantes da relação de consumo: transparência e confiança.
Essa cláusula expõe indevidamente o consumidor, tornando-o ainda mais vulnerável, sem que haja a
opção de ele negar essa exposição.
Com efeito, a partir da exposição de seus dados financeiros, abre-se possibilidade para intromissões
diversas na vida do consumidor. Conhecem-se seus hábitos, monitoram-se a maneira de viver e a forma
de efetuar despesas. Por isso, tal compartilhamento somente é possível se houver uma autorização real e
espontânea por parte do cliente.
Considera-se essa cláusula abusiva também porque ela se mostra prescindível (dispensável) à execução
do serviço contratado, qual seja obtenção de crédito por meio de cartão. Em outras palavras, o
compartilhamento dos dados do cliente não tem relação com o serviço oferecido pelo banco. O banco não
precisa fazer esse compartilhamento para poder oferecer o serviço de cartão de crédito.
Assim, deve-se assegurar ao tomador de crédito a prerrogativa de permitir ou não o compartilhamento
de seus dados. Dessa forma, sem a autorização do cliente, nenhuma instituição financeira pode acessar
seus dados no sistema.
Por fim, a Lei nº 12.414/2011 dispõe que o compartilhamento de informação de adimplemento só é
permitido se autorizado expressamente pelo cadastrado, por meio de assinatura em instrumento
específico ou em cláusula apartada.

DIREITO NOTARIAL
E REGISTRAL

TABELIONATO DE PROTESTO
Não cabem danos morais se houve protesto de cheque prescrito,
mas cuja dívida ainda poderia ser cobrada por outros meios

O protesto irregular de cheque prescrito não caracteriza abalo de crédito apto a ensejar danos
morais ao devedor, se ainda remanescer ao credor vias alternativas para a cobrança da dívida
consubstanciada no título.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.772-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/11/2017 (Info 616).

Veja comentários em Direito Empresarial.

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15


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DIREITO EMPRESARIAL

PROTESTO
Não cabem danos morais se houve protesto de cheque prescrito,
mas cuja dívida ainda poderia ser cobrada por outros meios

Atenção! Juiz de Direito!


O protesto irregular de cheque prescrito não caracteriza abalo de crédito apto a ensejar danos
morais ao devedor, se ainda remanescer ao credor vias alternativas para a cobrança da dívida
consubstanciada no título.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.772-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/11/2017 (Info 616).

O que é o cheque?
O cheque é...
- uma ordem de pagamento à vista
- que é dada pelo emitente do cheque
- em favor do indivíduo que consta como beneficiário no cheque (ou seu portador)
- ordem essa que deve ser cumprida por um banco
- que tem a obrigação de pagar a quantia escrita na cártula
- em razão de o emitente do cheque ter fundos (dinheiro) depositados naquela instituição financeira.

“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que seu criador não promete efetuar pessoalmente
o pagamento, mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento. Esse terceiro deverá ser um banco,
no qual o criador do cheque deverá ter fundos disponíveis. À luz desses fundos, o banco efetuará o
pagamento das ordens que lhe forem sendo apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará exigível sempre
no momento em que for apresentado ao sacado (vencimento sempre à vista).” (TOMAZETTE, Marlon.
Curso de Direito Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).

Personagens
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja, aquele que tem o
direito de receber o valor escrito no cheque.

Título executivo
O cheque é título executivo extrajudicial (art. 784, I, do CPC 2015). Assim, se não for pago, o portador do
cheque poderá ajuizar ação de execução contra o emitente e eventuais codevedores (endossantes,
avalistas). Essa ação de execução é conhecida como “ação cambial”.

O que é o chamado “prazo de apresentação do cheque”?


É o prazo de que dispõe o portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de receber o valor
determinado na cártula.
Ex: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O prazo de apresentação é o tempo que Eduardo
tem para levar o cheque ao banco e receber o valor.
O prazo de apresentação começa a ser contado da data da emissão do cheque.

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16


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De quanto é o prazo de apresentação?


30 dias 60 dias
Se o cheque é da mesma praça do pagamento Se o cheque for de praça diferente
(município onde foi assinado é o município da (município onde foi assinado é diferente do
agência pagadora). município da agência pagadora).
O prazo será de 30 dias se o local da emissão do O prazo será de 60 dias se o local da emissão do
cheque (preenchido pelo emitente) for o mesmo cheque (preenchido pelo emitente) for diferente
lugar do pagamento (local da agência pagadora do lugar do pagamento (local da agência pagadora
impressa no cheque). Nesse caso, diz-se que o impressa no cheque). Nesse caso, diz-se que o
cheque é da mesma praça (mesmo município). cheque é de outra praça.
Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo
(SP), o emitente datou e assinou São Paulo (SP) (SP), o emitente datou e assinou Manaus (AM)
como local da emissão. como local da emissão.

Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá pagamento?
SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado para pagamento ao
sacado, desde que não esteja prescrito.

Então para que serve esse prazo de apresentação?


A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução do cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento dentro do
prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o direito de executar os
codevedores. Poderá continuar executando o emitente do cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o
cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa de pagamento
perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de
apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei n.
7.357/85).

Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque?


6 meses, contados do fim do prazo de apresentação do cheque. Atente-se que o prazo prescricional
somente se inicia quando termina o prazo de apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao banco
sacado. Logo, os seis meses iniciam-se com o fim do prazo de 30 dias (mesma praça) ou com o término do
prazo de 60 dias (se de praças diferentes).

Mesmo estando o cheque prescrito, ainda assim será possível a sua cobrança?
SIM. Com o fim do prazo de prescrição, o beneficiário não poderá mais executar o cheque. Diz-se que o
cheque perdeu sua força executiva. No entanto, mesmo assim o beneficiário poderá cobrar o valor desse
cheque por outros meios, quais sejam:
1) Ação de enriquecimento sem causa (“ação de locupletamento”): prevista no art. 61 da Lei do Cheque
(Lei nº 7.357/85). Essa ação tem o prazo de 2 anos, contados do dia em que se consumar a prescrição da
ação executiva.
2) Ação de cobrança (ação causal): prevista no art. 62 da Lei do Cheque. O prazo é de 5 anos, nos termos
do art. 206, § 5º, I, CC.
3) Ação monitória.

Desse modo, estando o cheque prescrito (sem força executiva), ele poderá ser cobrado do emitente por
meio de ação monitória?

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17


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SIM. O beneficiário do cheque poderá ajuizar uma ação monitória para cobrar do emitente o valor
consignado na cártula. Existe até uma súmula que menciona isso: Súmula 299-STJ: É admissível a ação
monitória fundada em cheque prescrito.

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:


João emitiu um cheque em favor da empresa “ABC”.
A empresa tentou efetuar o saque da quantia, mas não havia fundos disponíveis.
1 ano depois, ou seja, quando o cheque já estava prescrito, a empresa “ABC” levou este título para
protesto.
João ingressou, então, com ação declaratória de nulidade de protesto de título c/c pedido de indenização
por danos morais contra a empresa “ABC” alegando que ela levou a protesto um cheque prescrito.

O que é um protesto de título?


Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade de provar a
inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito ou de outros documentos
de dívida.

É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo de apresentação?
SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente depois do prazo de apresentação, desde
que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de execução.

Mas o art. 48 da Lei n. 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o prazo de
apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de
pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação.” E agora?
Calma. O STJ afirma que a exigência imposta no art. 48 de que o protesto ocorra antes de expirado o prazo
de apresentação do cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele feito contra os coobrigados,
para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título.
Em outras palavras, o art. 48 da Lei nº 7.357/85 trata apenas da possibilidade de cobrança dos eventuais
devedores indiretos (coobrigados), mas não do devedor principal (emitente).
O protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de apresentação, desde que o cheque
ainda não esteja prescrito.

Relembrando:
 Prazo de apresentação do cheque: 30 dias, se ele for da mesma praça do pagamento ou 60 dias, se for
de praça diferente.
 Prazo prescricional para a execução do cheque: 6 meses, contados a partir do momento em que
termina o prazo de apresentação do cheque.

O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de regresso deve ocorrer
antes de expirado o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do chamado protesto
necessário.
O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do prazo de apresentação,
desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

O STJ fixou a seguinte tese sob a sistemática de recurso repetitivo:


Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque com a indicação
do emitente como devedor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/4/2016 (recurso repetitivo)
(Info 584).

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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Voltando ao nosso exemplo, o juiz deverá determinar o cancelamento do protesto?


SIM. Em nosso exemplo, o protesto foi indevido considerando que realizado com a indicação do emitente
como devedor, mas feito após o prazo prescricional do cheque.

E quanto aos danos morais? João (devedor) deverá ser indenizado por danos morais?
NÃO. Isso porque o cheque, apesar de estar prescrito, ainda poderia ser cobrado por outros meios.
No âmbito do protesto irregular de título de crédito, o reconhecimento do dano moral está diretamente
relacionado com a ideia do abalo de crédito causado pela publicidade do ato notarial que, naturalmente,
faz associar ao devedor a pecha de “mau pagador” perante a praça.
Se houve um protesto irregular (porque o cheque está prescrito), mas existem ainda outras vias
alternativas para a cobrança da dívida, entende-se que esse protesto indevido não gerou um abalo no
crédito do devedor, considerando que o emitente do título permanece na condição de devedor, estando,
de fato, impontual no pagamento.
Com efeito, aquele que, efetivamente, insere-se na condição de devedor, estando em atraso no
pagamento de dívida regularmente por si assumida, passível de cobrança por meios outros que não a
execução, não pode se sentir moralmente ofendido pelo protesto, mesmo sendo ele extemporâneo.
No caso concreto, mesmo estando o cheque prescrito, a empresa ainda tinha, à sua disposição, três ações
judiciais possíveis. Assim, embora indevido o protesto, João permanecia na condição de devedor
inadimplente, razão pela qual não está caracterizado abalo de crédito apto a ensejar a caracterização de
dano moral indenizável.

Em suma:
O protesto irregular de cheque prescrito não caracteriza abalo de crédito apto a ensejar danos morais
ao devedor, se ainda remanescer ao credor vias alternativas para a cobrança da dívida consubstanciada
no título.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.772-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/11/2017 (Info 616).

SOCIEDADES
Quórum para exclusão judicial do sócio majoritário não inclui as suas quotas

Atenção! Juiz de Direito!


A exclusão judicial do sócio majoritário nas sociedades limitadas é disciplinada pelo art. 1.030
do Código Civil:
Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído
judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no
cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.
O que significa essa expressão “mediante iniciativa da maioria dos demais sócios” prevista no
art. 1.030 do CC? No cálculo dessa maioria deve-se incluir as quotas do sócio “acusado”?
Não. A lei é explícita ao falar em maioria dos demais sócios. Consideram-se apenas as quotas
dos demais sócios, excluídas aquelas pertencentes ao sócio que se pretende excluir. Isso
porque o art. 1.030 é a oportunidade que a legislação confere aos sócios minoritários de
excluírem o sócio majoritário.
Assim, o quorum deliberativo para exclusão judicial do sócio majoritário por falta grave no
cumprimento de suas obrigações deve levar em conta a maioria do capital social de sociedade
limitada, excluindo-se do cálculo o sócio que se pretende jubilar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.653.421-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/10/2017 (Info 616).

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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Dissolução de uma sociedade:


A dissolução de uma sociedade pode ser:
a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.
b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade


Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua existindo. A
isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada
Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito
de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte
daquela sociedade.
Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social,
continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário


Outra hipótese de dissolução parcial de sociedade é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio
sai do quadro societário, não por vontade própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele
é expulso.
Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirmando que é possível
a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social. Veja:
Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos sócios, representativa de
mais da metade do capital social, entender que um ou mais sócios estão pondo em risco a
continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade, poderá excluí-los da
sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que prevista neste a exclusão por justa
causa.
Parágrafo único. A exclusão somente poderá ser determinada em reunião ou assembleia
especialmente convocada para esse fim, ciente o acusado em tempo hábil para permitir seu
comparecimento e o exercício do direito de defesa.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchimento dos
seguintes requisitos:
1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável
gravidade;
2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs:
se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso
deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);
3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;
4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita
em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;
5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando
se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem representar mais da metade do capital social).

Vale ressaltar, mais uma vez, que é necessária a existência de uma justa causa para excluir o sócio. O
simples argumento de que houve a quebra da affectio societatis não é motivo suficiente para expulsar um
sócio que não queira sair.

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20


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Outra observação importante é que o sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele
terá direito ao recebimento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do
CPC/2015.

Exclusão do sócio majoritário


Se o sócio que se pretende excluir da sociedade tiver a maioria do capital social, não se conseguirá exclui-
lo extrajudicialmente. Isso porque não se terá uma deliberação da maioria dos sócios (maioria do capital
social). Logo, o requisito 5 acima explicado não será obtido.
Diante disso, para a exclusão do sócio majoritário, será necessária a propositura de uma ação judicial,
conforme prevê o art. 1.030 do Código Civil:
Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído
judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento
de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.
Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado falido, ou aquele
cuja quota tenha sido liquidada nos termos do parágrafo único do art. 1.026.

O que significa essa expressão “mediante iniciativa da maioria dos demais sócios” prevista no art. 1.030
do CC? No cálculo dessa maioria deve-se incluir as quotas do sócio “acusado”?
Claro que não. A lei é explícita ao falar em maioria dos demais sócios.
Consideram-se apenas as quotas dos demais sócios, excluídas aquelas pertencentes ao sócio que se
pretende excluir. Isso porque o art. 1.030 é a oportunidade que a legislação confere aos sócios minoritários
de excluírem o sócio majoritário. Se as quotas do sócio majoritário fossem incluídas no cálculo, ele nunca
poderia ser excluído porque sempre deteria a maioria.
Veja o que diz Arnold Wald acerca desse dispositivo:
“O artigo 1.030 traz outra inovação no que diz respeito ao poder da minoria. Isto porque, de
acordo com a redação do artigo, 'pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da
maioria dos demais sócios’. Ou seja, a maioria será computada excluindo-se do cálculo o sócio que
se pretende jubilar. Se o sócio a ser excluído detém a maioria do capital social da sociedade, a sua
exclusão poderá, em tese, se dar por decisão dos sócios restantes, ou seja, por decisão dos sócios
minoritários.” (Comentários ao novo código civil. v. XIV: livro II, do direito de empresa,
Coordenador: Sálvio de Figueiredo Teixeira, 2ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 217)

Exemplo:
Determinada sociedade limitada é formada por quatro sócios: João (possui 60% do capital social), Pedro
(detém 20%), Augusto (goza de 10%) e Ricardo (também 10%).
João está descumprindo suas obrigações sociais e colocando em risco a continuidade da sociedade.
Pedro e Augusto querem excluir João da sociedade. Ricardo não concorda e defende a permanência.
Pedro e Augusto possuem menos da metade do capital social. Logo, não conseguirão a exclusão
extrajudicial do sócio João, nos termos do art. 1.085 do CC. Contudo, poderão deliberar pelo ajuizamento
de ação pedindo a exclusão judicial do sócio majoritário, conforme autoriza o art. 1.030 do CC.
Neste caso, Pedro e Augusto, ao decidirem pleitear a exclusão judicial de João, terão atendido o quórum
exigido pelo art. 1.030. Isso porque a maioria será contada a partir da participação dos 40%, isto é, o
restante dos demais sócios, uma vez excluída a participação daquele que se quer que seja excluído.

Existe, inclusive, um enunciado doutrinário aprovado na III Jornada de Direito Civil do CJF/STJ espelhando
esse entendimento:
Enunciado nº 216: O quorum de deliberação previsto no art. 1.004, parágrafo único, e no art. 1.030 é de
maioria absoluta do capital representado pelas quotas dos demais sócios, consoante a regra geral fixada
no art. 999 para as deliberações na sociedade simples.

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


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O STJ reafirmou essa forma de cálculo e decidiu que:


O quórum deliberativo para exclusão judicial do sócio majoritário por falta grave no cumprimento de
suas obrigações deve levar em conta a maioria do capital social de sociedade limitada, excluindo-se do
cálculo o sócio que se pretende jubilar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.653.421-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/10/2017 (Info 616).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

EXECUÇÃO
Requisitos para a impenhorabilidade da pequena propriedade rural

Importante!!!
A pequena propriedade rural é impenhorável (art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC)
mesmo que a dívida executada não seja oriunda da atividade produtiva do imóvel.
De igual modo, a pequena propriedade rural é impenhorável mesmo que o imóvel não sirva
de moradia ao executado e à sua família.
Desse modo, para que o imóvel rural seja impenhorável, nos termos do art. 5º, XXVI, da CF/88
e do art. 833, VIII, do CPC, é necessário que cumpra apenas dois requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e
2) seja trabalhado pela família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.591.298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/11/2017 (Info 616).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O filho de João resolveu fazer faculdade na capital.
Para custear as despesas, João tomou um empréstimo bancário e, como garantia do pagamento, assinou
nota promissória no valor de R$ 20 mil.
O devedor não efetuou o pagamento na data do vencimento, razão pela qual o banco ingressou com
execução de título extrajudicial, tendo sido penhorada uma chácara (imóvel rural) que está em nome de
João.
O executado alegou que o imóvel em questão é impenhorável, considerando que se trata de pequena
propriedade rural onde pratica agricultura juntamente com a mulher e os filhos.
Invocou, para tanto, o art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC, que estabelecem:
CF88. Art. 5º (...)
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não
será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva,
dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

CPC/Art. 833. São impenhoráveis:


VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família;

Teses do exequente
O banco refutou a tese de João apresentando dois argumentos:
1) a dívida foi contraída para interesses particulares (e não para promover a atividade produtiva
desenvolvida no imóvel). Logo, como o débito não tem relação com o imóvel, não gera a sua
impenhorabilidade;

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


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2) João e a sua família não moram na chácara que foi penhorada. Eles residem em uma casa alugada, que
fica na vila a alguns minutos do imóvel rural. Dessa forma, incidiria a hipótese do art. 4º, § 2º, da Lei nº
8.009/90:
Art. 4º (...)
§ 2º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a impenhorabilidade restringir-se-
á à sede de moradia, com os respectivos bens móveis, e, nos casos do art. 5º, inciso XXVI, da
Constituição, à área limitada como pequena propriedade rural.

A primeira tese do exequente foi aceita pelo STJ?


NÃO.
A pequena propriedade rural é impenhorável (art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC) mesmo
que a dívida executada não seja oriunda da atividade produtiva do imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.591.298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/11/2017 (Info 616).

Mas o art. 5º, XXVI, da CF/88 fala que “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva (...)”. Essa parte grifada não exige que os débitos sejam relacionados com as
atividades desenvolvidas no imóvel rural?
NÃO. O STJ afirma que essa interpretação literal não pode ser feita, já que isso:
• não garantiria a máxima efetividade que deve ser dada ao mandamento constitucional;
• conferiria proteção deficiente ao direito fundamental tutelado.

A correta interpretação do dispositivo é, portanto, a seguinte: a CF/88 não permite a penhora da pequena
propriedade rural mesmo que o devedor tenha dado o imóvel em garantia de dívidas contraídas para
assegurar a sua atividade produtiva. Logo, com mais razão, esse imóvel também é impenhorável com
relação a débitos de outra natureza, ou seja, não necessariamente relacionados com a atividade produtiva
da propriedade rural.
Essa interpretação do art. 5º, XXVI, da CF/88 foi adotada pelo legislador infraconstitucional, tanto que o
CPC/1973 e o CPC/2015 não exigem, para conferir a impenhorabilidade, que os débitos sejam oriundos da
atividade produtiva do imóvel.
Conclui-se, portanto, que, nos termos dos arts. 5º, XXVII, c/c o art. 649, VIII, do CPC/1973 (art. 833, VIII,
do CPC/2015), a proteção da impenhorabilidade da pequena propriedade rural trabalhada pela entidade
familiar, como direito fundamental que é, não se restringe às dividas relacionadas à atividade produtiva.

A segunda tese do exequente foi aceita pelo STJ?


Também NÃO.
A pequena propriedade rural é impenhorável, nos termos do art. 5º, XXVI, da CF/88 e do art. 833, VIII,
do CPC, mesmo que o imóvel não sirva de moradia ao executado e à sua família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.591.298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/11/2017 (Info 616).

Impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC não é o mesmo que a impenhorabilidade do bem de família rural
Tanto a impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC como a impenhorabilidade do bem de família rural
estão relacionadas com o princípio da dignidade da pessoa humana, garantindo-se ao executado a
preservação de um patrimônio mínimo, do qual lhe seja possível extrair condições dignas de subsistência.
Apesar disso, são institutos diferentes com fundamentos diferentes:
• impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC: tem por objetivo assegurar o direito, também fundamental,
de acesso aos meios geradores de renda, no caso, o imóvel rural, de onde a família do trabalhador rural,
por meio do labor agrícola, obtém seu sustento;

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


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• impenhorabilidade do bem de família rural: destina-se a garantir o direito fundamental à moradia.


O art. 4º, § 2º, da Lei nº 8.009/90 trata sobre bem de família rural (e não sobre a impenhorabilidade da
pequena propriedade rural).

Requisitos
Desse modo, para que o imóvel rural seja impenhorável, nos termos do art. 5º, XXVI, da CF/88 e do art.
833, VIII, do CPC, é necessário que cumpra apenas dois requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e
2) seja trabalhado pela família.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COISA JULGADA
Havendo duas sentenças condenatórias envolvendo
fatos idênticos, qual delas deverá prevalecer?

Importante!!!
Diante do trânsito em julgado de duas sentenças condenatórias contra o mesmo condenado,
por fatos idênticos, deve prevalecer a condenação mais favorável ao réu.
Não importa qual processo tenha iniciado antes ou em qual deles tenha ocorrido primeiro o
trânsito em julgado. O que irá prevalecer é a condenação que foi mais favorável ao réu.
STJ. 6ª Turma. HC 281.101-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 03/10/2017 (Info 616).
Obs: a 1ª Turma do STF possui um precedente em sentido contrário:
Os institutos da litispendência e da coisa julgada direcionam à insubsistência do segundo
processo e da segunda sentença proferida, sendo imprópria a prevalência do que seja mais
favorável ao acusado.
STF. 1ª Turma. HC 101131, Rel. Min. Luiz Fux, Rel p/ Acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
25/10/2011.

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi denunciado pela prática do crime de roubo, tendo sido condenado a 7 anos de reclusão. Isso foi
em março/2015. Como não houve recurso, a sentença transitou em julgado. Imaginemos que este foi o
processo 111/2015.
Ocorre que, por um equívoco, em outubro/2015, João foi denunciado novamente pelos mesmos fatos.
O processo tramitou à sua revelia, tendo ele sido condenado, neste segundo processo, a uma pena de 5
anos de reclusão. Houve o trânsito em julgado. Suponhamos que este foi o processo 222/2015.
Em suma, João foi denunciado e condenado duas vezes em razão do mesmo fato delituoso.
A absurda situação foi descoberta e o Ministério Público pugnou pela anulação do segundo processo
(processo 222/2015) considerando que, quando a sentença foi prolatada, já havia coisa julgada em relação
ao primeiro feito (processo 111/2015).
Assim, a segunda sentença seria nula de pleno direito em virtude da ofensa à coisa julgada.

A tese do Ministério Público foi acolhida pelo STJ? Havendo duas sentenças condenatórias envolvendo
fatos idênticos, deverá ser anulada a segunda delas?
Não. A tese do MP não foi acolhida. Havendo duas sentenças condenatórias envolvendo fatos idênticos, a
segunda delas não será necessariamente aquela a ser anulada.

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


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Diante do trânsito em julgado de duas sentenças condenatórias contra o mesmo réu, por fatos idênticos,
deve prevalecer o critério mais favorável em detrimento do critério temporal (de precedência). Isso em
homenagem aos princípios do favor rei e favor libertatis.

Em suma:
Diante do trânsito em julgado de duas sentenças condenatórias contra o mesmo condenado, por fatos
idênticos, deve prevalecer a condenação mais favorável ao réu.
Não importa qual processo tenha iniciado antes ou em qual deles tenha ocorrido primeiro o trânsito em
julgado. O que irá prevalecer é a condenação que foi mais favorável ao réu.
STJ. 6ª Turma. HC 281.101-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 03/10/2017 (Info 616).

E se essa duplicidade de condenações tivesse sido descoberta antes do trânsito em julgado? Ex:
tramitam duas ações penais contra o acusado referentes aos mesmos fatos; nas duas, o réu foi
condenado, mas ainda não houve trânsito em julgado. O que fazer nesta situação?
O STJ possui precedente dizendo que deverá prevalecer a primeira ação penal ajuizada, sendo anulada a
ação penal ajuizada por último. Nesse sentido:
(...) 2. No caso, observa-se que a mesma conduta de tráfico e associação para o tráfico de drogas foi
imputada ao ora recorrente em duas ações penais que tramitaram perante o mesmo juízo, donde se infere
a ocorrência dupla condenação pelo mesmo fato.
3. Embora o Código de Processo Penal seja silente, a litispendência se observa a partir do ajuizamento da
ação, devendo, portanto, ser anulada a condenação decorrente da ação penal ajuizada por último. (...)
STJ. 6ª Turma. RHC 36.812/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 14/11/2017.

O que o STF pensa a respeito?


NÃO. Existe um precedente antigo da 1ª Turma do STF em sentido contrário, ou seja, sustentando que,
em caso de dupla sentença transitada em julgado, deverá ser anulada a segunda, prevalecendo a primeira.
Isso porque o segundo processo nasceu de forma indevida considerando que já existia o primeiro. Logo, a
instauração do segundo processo violou a litispendência (se o primeiro feito ainda estava em curso) ou a
coisa julgada (se o primeiro processo já havia encerrado). Confira a ementa:
Os institutos da litispendência e da coisa julgada direcionam à insubsistência do segundo processo e da
segunda sentença proferida, sendo imprópria a prevalência do que seja mais favorável ao acusado.
STF. 1ª Turma. HC 101131, Rel. Min. Luiz Fux, Rel p/ Acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 25/10/2011.

Em provas de concurso deve-se ficar atento para a redação do enunciado (se este fala em “segundo o
entendimento do STJ...”). Por ser mais recente, é provável que seja exigido o julgado do STJ.

EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:


1) O Ministério Público Federal é parte ilegítima para ajuizar ação civil pública que visa à anulação da
tramitação de Projeto de Lei do Plano Diretor de município, ao argumento da falta de participação
popular nos respectivos trabalhos legislativos. ( )
2) A aposentadoria por invalidez permanente concedida pelo INSS não confere ao segurado o direito
automático de receber indenização de seguro contratado com empresa privada, sendo imprescindível a
realização de perícia médica para atestar o grau de incapacidade e o correto enquadramento na
cobertura contratada. ( )

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25


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3) A ausência de citação dos confinantes e respectivos cônjuges na ação de usucapião é considerada


hipótese de nulidade relativa, somente gerando a nulidade do processo caso se constate o efetivo
prejuízo. ( )
4) (PGM-Goiânia 2015) A usucapião é uma modalidade de aquisição da propriedade de bens móveis ou
imóveis mediante o exercício da posse, nos prazos fixados em lei. Em relação à usucapião de imóveis, o
litisconsórcio entre a pessoa cujo nome se encontra registrado o imóvel e os proprietários dos imóveis
confinantes é classificado como passivo, necessário e unitário. ( )
5) O furto das joias, objeto do penhor, constitui falha do serviço prestado pela instituição financeira,
devendo incidir o prazo prescricional de 3 anos para a ação de indenização. ( )
6) É abusiva e ilegal cláusula prevista em contrato de prestação de serviços de cartão de crédito que autoriza
o banco contratante a compartilhar dados dos consumidores com outras entidades financeiras ou
mantenedoras de cadastros positivos e negativos de consumidores, sem que seja dada opção de
discordar daquele compartilhamento. ( )
7) O protesto irregular de cheque prescrito não caracteriza abalo de crédito apto a ensejar danos morais ao
devedor, se ainda remanescer ao credor vias alternativas para a cobrança da dívida consubstanciada no
título. ( )
8) O quorum deliberativo para exclusão judicial do sócio majoritário por falta grave no cumprimento de
suas obrigações deve levar em conta a maioria do capital social de sociedade limitada, excluindo-se do
cálculo o sócio que se pretende jubilar. ( )
9) A pequena propriedade rural é impenhorável (art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC) mesmo
que a dívida executada não seja oriunda da atividade produtiva do imóvel e ainda que o imóvel não sirva
de moradia ao executado e à sua família. ( )
10) A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto
de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os
meios de financiar o seu desenvolvimento. ( )

Gabarito
1. C 2. C 3. C 4. E 5. E 6. C 7. C 8. C 9. C 10. C

Informativo 616-STJ (17/01/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26

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