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Introdução

A primeira das marcas dos acontecimentos se encontra calcada em uma


discussão que pode colocar toda a reflexão deste trabalho em xeque: a literatura e a
existência histórica dos rumores que nela são relatados. E o motivo disso é claro, para
além das evidências materiais, as arqueológicas, que atestam o contexto da alimentação
(fome e desnutrição através dos ossos), da organização militar (acampamentos) e do
abastecimento (naufrágios), aquilo que temos como base para sustentar a existência e a
dinâmica social dos rumores somente pode ser extraído de obras de cunho estritamente
literário. Rumores e literatura, portanto, estão ligados e se colocam como um primeiro
entrave para o desenvolvimento de nossa hipótese central. E, sobre este tipo de material,
a literatura clássica, não é preciso linhas muito extensas para justificarmos todo o
ceticismo que pode ocorrer de uma análise que se proponha a lidar com elementos
retóricos, sempre marcada por questões que envolvem a sua fidelidade como fontes
confiáveis para um estudo histórico e, neste caso, social (FELDHERR, 2009;
GUNDERSON, 2009).
Esta abordagem posta em prática pode ilustrada pelas reflexões contidas na obra
de Philip Hardie, intitulada Rumour and Renown: Representations of 'Fama' in Western
Literature. Nesta obra, o autor apresenta uma reflexão bem centrada em estudar a
aplicação da fama e do rumor na literatura ocidental através da ótica de que esse emprego
nada mais era do que uma estratégia retórica para dar mais fama (importância, ressonância
e até veracidade) ao próprio discurso. No caso, por exemplo, do capítulo sétimo, onde
analisa historiadores como Tito Lívio e Tácito, Hardie procura analisar a fama como uma
forma de dar veracidade (facta) aquilo que estava sendo narrado, mas também, como no
caso dos Anais, como uma forma de dizer que os rumores e a fama (entendida aqui como
reputação) eram sempre manipulados para servir as necessidades do princeps (HARDIE,
2012, pp. 273 - 229). Isso dentro de um ambiente, de complôs, fofocas e muito medo.
Outro exemplo interessante, e que vai ao encontro da passagem do Canto IV de Virgílio,
já mencionada, é como Hardie observa a descrição monstruosa da fama, ou do rumor,
antes de falar sobre o relacionamento de Eneias com Dido. Para ele, essa criatura
personificada serviria para criar o enredo, uma trama que seria travada pelo protagonista
ao longo de todo o Canto IV (Idem, pp. 78 - 125).
Da mesma forma, em outra análise que recai sobre uma das fontes principais de
nossa pesquisa, a Farsália de Lucano, feita por Martin Dinter, em seu livro intitulado
Anatomizing Civil Wars: studies on Lucan’s Epic Technic, o que podemos observar é que
esse mesmo processo de ceticismo quanto ao rumor como um fato social continua a valer.
No caso desta proposta do pesquisador mencionado, o seu objetivo com a fama é a de
apenas observá-la como uma poderosa ferramenta empregada por um bom orador para
dar mais vivacidade e até mesmo importância para sua própria poesia. Ou seja, o rumor
sobre a reputação (fama), para Dinter, é algo que irá guiar os personagens da trama de
Lucano para além do destino pessoal, como a tradição épica de Homero ou de Virgílio
procurou seguir. César e Pompeu possuem fama e querem fama, afinal, ela vence
batalhas. E, da mesma forma, Lucano também quer atingir a fama e também é guiado por
ela (DINTER, 2012, pp. 50 – 88).
Visto estes grandes problemas iniciais de nossa pesquisa, nos concentraremos na
discussão sobre como podemos entender o rumor dentro de uma dinâmica histórica e
social, para além da simples menção literária, retórica e, portanto, fictícia1. Haja vista que
o rumor enquanto uma ferramenta importante para o abastecimento logístico terá que
demonstrar certos padrões sociais que podemos controlar dentro de um modelo de análise
sociológica e também antropológica, ou seja, do comportamento humano. Para tanto, é o
nosso objetivo aqui o de esquematizar a atuação desse objeto histórico dentro de um
quadro pelo qual as ações dos agentes representados na literatura clássica possam
interagir socialmente com os rumores dentro de um ambiente de guerra real. Como o fato
de que as cidades e os agentes, representados nessas mesmas fontes, terem promovido
algumas ações relacionadas diretamente com informações que receberam ao longo da
guerra, como o ato de estocarem alimentos ou cercar as cidades no claro intuito de
defenderem seus viveres de um inimigo que teve a sua chegada antecipada por um rumor.
Isto é, ao tomarmos o rumor como uma notícia, das muitas que circulavam
durante um conflito bélico, e como uma daquelas que possivelmente circulariam em um
ambiente de informação orais, a ação social de auxílio das cidades e de seus habitantes
poderá ser entendida como uma alternativa ao ceticismo retórico, já que demonstrará uma
relação social para além do textual. Todavia, para que essas ideias possam ser aplicadas
de forma heurística, será preciso, antes de mais nada, voltar ao debate retórico no intuito
de observar como os próprios antigos, em seu contexto de produção literária, observavam
o papel desses rumores dentro da própria realidade textual e social. Para tanto, será
imprescindível ter em mente como que a observação social empírica desse fenômeno

1
Tal como entendida pelos autores supracitados.
pode contribuir para a construção desse objeto como histórico, verificável e como
pertencente ao contexto de abastecimento militar em uma guerra. Sendo assim, convém
retirarmos o rumor da literatura e colocá-lo de vez no campo de batalha.

Rumor: do campo da literatura para o campo de batalha.

“Eu vejo guerras, guerras


horríveis, e o Tibre espumando
com muito sangue”.
(Verg. Aen.
6,86,87)

“Correu sangue fraterno nos


primevos muros”2.
(Luc
.
1,95)

É preciso confessar que, quando menino, o autor deste trabalho nunca foi um
adepto de círculos literários e nem de leituras públicas de poesia. Principalmente, aquelas
escritas e proclamadas bem antes da sociedade em que vivia. De certo, isso de dava
porque, como criança, realmente nunca tinha compreendido que o ato de fazer um texto
ou um discurso era algo muito mais complexo do que simplesmente olhar para um papel
ou para uma tela de computador e dizer as palavras que com certeza viriam à mente. Na
verdade, essa compreensão pode ser justificada por sua pequena pretensão de outrora em
ler romances históricos que o colocasse diretamente no mundo romano, seja através da
narrativa das inúmeras batalhas e de seus generais, ou até mesmo as que se prendessem
em personagens cotidianos, como os “exóticos” gladiadores e as mulheres que
desafiavam uma sociedade que pouco dava espaço para elas. Era uma leitura infantil de
um mundo desconhecido e que muito interessava.
Mas, com o passar da idade, a compreensão sobre “um outro” mundo, o das
palavras escritas e faladas, que antes acompanhava as pacas ambições nesse campo
restrito ao lazer, começou a mudar e a se ampliar. Talvez o maior culpado dessa nova
visão sobre esse mundo, e há de confessar que também o do autor, seja algo muito
conhecido por todos: a literatura greco-romana e seus mais diversos e ricos gêneros
discursivos. Os mesmos que ficaram cada vez mais ricos, quando foram estudados através
dos manuais discursivos que nos foram legados pelos antigos. A saber, a Retórica, de
Aristóteles, o Sobre o Orador, de Cícero, Educação Oratória, de Quintiliano, o Diálogo

2
Tradução de Brunno V. G. Vieira.
dos Oradores, de Tácito, Como se deve escrever a História, de Luciano de Samósata,
mas, principalmente, Retórica a Herênio, um manual retórico atribuído a Cicero.
Fazemos aqui uma breve referência a esta obra:

Quoniam igitur docilem, benivolum, attentum “Visto, então, que desejamos ter um ouvinte dócil,
auditorem habere volumus, quo modo quidque benevolente e atento, explicaremos o que se pode
effici possit, aperiemus. Dociles auditores habere fazer e de que modo. Poderemos fazer dóceis os
poterimus, si summam causae breviter exponemus ouvintes se expusermos brevemente a súmula da
et si attentos eos faciemus; nam docilis est, qui causa e se os tornarmos atentos, pois é dócil aquele
attente vult audire. Attentos habebimus, si que deseja ouvir atentamente. Teremos ouvintes
pollicebimur nos de rebus magnis, novis, inusitatis atentos se prometermos falar da matéria importante,
verba facturos aut de iis, quae ad rem publicam nova e extraordinária ou que diz respeito à
pertineant, aut ad eos ipsos, qui audient, aut ad República, ou aos próprios ouvintes, ou ao culto dos
deorum inmortalium religionem; et si rogabimus, deuses imortais; se pedirmos que ouçam
ut attente audiant; et si numero exponemus res, atentamente e se enumerarmos o que vamos dizer.
quibus de rebus dicturi sumus. Benivolos auditores Podemos tornar os ouvintes benevolentes de quatro
facere quattuor modis possumus: ab nostra, ab maneiras: baseados em nossa pessoa, na de nossos
adversariorum nostrorum, ab auditorum persona, adversários, na dos ouvintes e na própria matéria”
et ab rebus ipsis. ([Cic.] Rhet. 1,7,8).3

Transformar o ouvinte em dócil e benevolente. As palavras de fato têm uma


função muito maior do que apenas estarem lá, pois elas dialogam com o principal objetivo
de uma obra: convencer alguém de que aquilo deve ser levado em consideração. Afinal,
um texto não é só aquilo que você escreve, mas é algo feito também para quem você
escreve4. E para isso, é preciso que um orador, que neste caso pode ser um poeta, um
historiador e até mesmo um general contando suas façanhas, se embrenhe entre mais
diversos exercícios de execução discursiva visando convencer, entreter e ensinar uma
plateia. Aliás, esta última era a principal característica esperada de qualquer discurso,
mesmo quando a elocução e o seu conteúdo eram frutos de uma ficção (fabula). Era
preciso saber como convencer:

Itaque hilaria mera sint, etsi timeo istos “E, assim, que venham as piadas! Se bem que eu
scolasticos ne me rideant. Viderint: narrabo tenha medo de que esses tais retóricos me
tamen, quid enim mihi aufert, qui ridet? satius est ridicularizem. Eles sentirão prazer nisso, mas,
rideri quam derideri. mesmo assim, contarei a história, pois o que me
importa se eles riem? É melhor ser fonte de alegria
(...) do que de escárnio.
(...)
Deinde ut respexi ad comitem, ille exuit se et omnia Logo depois, quando olhei para meu companheiro,
vestimenta secundum viam posuit. Mihi anima in ele tinha se despido e colocado todas as suas roupas
naso esse; stabam tanquam mortuus. At ille à beira do caminho. Meu coração quase saiu pela
circumminxit vestimenta sua, et subito lupus factus boca; eu estava imóvel, tal como um morto. Mas

3
Tradução de Ana Paula Celestino Faria e Adriana Seabra.
4
“Três são os elementos, como disse anteriormente, de todo o meu método oratório: um é cativar os
homens, outro, instruí-los, o terceiro, incitá-los” (Cic. De or. 2,128) - tres sunt res, ut ante dixi: una
conciliandorum hominum, altera docendorum, tertia concitandorum. Tradução de Adriano Scatolin.
est. Nolite me iocari putare; ut mentiar, nullius ele mijou em volta de suas roupas e, de repente,
patrimonium tanti facio. transformou-se em um lobo. Não pensem que eu
estou brincando, nem toda a fortuna do mundo
(...) faria com que eu mentisse.
(...)
Melissa mea mirari coepit, quod tam sero Minha Melissa estranhou que eu tivesse ido lá tão
ambularem, et: 'Si ante, inquit, venisses, saltem tarde e disse: Se você tivesse cegado antes, pelo
nobis adiutasses; lupus enim villam intravit et menos teria nos ajudado; um lobo entrou aqui em
omnia pecora tanquam lanius sanguinem illis cassa e todas as cabeças de gado ele sangrou, como
misit. Nec tamen derisit, etiamsi fugit; senius enim se fosse um açougueiro. Mas ele não ficou
noster lancea collum eius traiecit'. zombando de nós não, mesmo que tenha fugido,
pois nosso escravo atravessou o pescoço dele com
(...) uma lança.
(...)
Vt vero domum veni, iacebat miles meus in lecto “Porém quando em cheguei à casa dele, meu
tanquam bovis, et collum illius medicus curabat. soldado jazia em uma cama, como um boi, e um
Intellexi illum versipellem esse, nec postea cum illo médico cuidava de seu pescoço. Eu compreendi
panem gustare potui, non si me occidisses. que ele era um lobisomem e, depois disso, não
Viderint quid de hoc alii exopinissent; ego si consegui comer um pedaço de pão na casa dele,
mentior, genios vestros iratos habeam. nem se ele me quisesse matar por causa disso. Cada
um que faça a sua avaliação sobre esta história; se
eu estou mentindo, quero que os gênios protetores
(...) de todos vocês se voltem contra mim”.
(...)
Attonitis admiratione universis: "Salvo, inquit, tuo “Enquanto todos estavam paralisados pelo espanto,
sermone, Trimalchio, si qua fides est, ut mihi pili Trimalquião disse: “Eu dou crédito à sua palavra,
inhorruerunt, quia scio Niceronem nihil nugarum se alguém duvida que haja verdade no que você me
narrare. contou, pois eu fiquei todo arrepiado, porque sei
que Nicorete não fica contando lorotas por aí”
(Petron. Sat. 61,4; 62,5,6; 62,11,13,14; 63,1 ss)5.

Esse processo, também conhecido e apresentado por Antônio Martinez de


Rezende como o momento do silêncio6, era composto de inúmeros exemplae e tópoi que
poderiam ser imitados (imitatio) não só para escrever melhor, mas também para aprender
técnicas que atuavam diretamente no seu receptor (Quint. Inst. 10,2,2)7. Ou seja, através
de exemplos práticos que ensinassem como mover o ouvinte para determinada ação
(mouere), como o ato de dar fé (fides), tal como exposto anteriormente por Trimalquião.
Era, portanto, um ato racional e muito científico (ratio/scientia) que exigia muito estudo
e muita reflexão por parte daquele que estava juntando palavras em um discurso, já que a
observação empírica dos sujeitos e das situações cotidianas também era necessária (Aris.
Reth. 1,1359b a 1,1360a). O orador antigo, portanto, se organizava com base em um
conjunto de princípios teóricos, de normas de conduta e de finalidades claramente
objetivas (REZENDE, 2010, p. 23). E, em um mundo oral, que é muito diferente daquele

5
Tradução de Sandra Braga Bianchet, grifos do autor.
6
Sobre o momento do silêncio, o autor se apoia na recomendação de Quintiliano: (Inst, 10,7,29) – “É
preciso escrever, sempre que for possível, mas quando não é preciso meditar”. (REZENDE, 2010, p. 104).
7
“Além disso, consta, como ordem natural da vida de cada um, que queiramos fazer, nós mesmos, tudo
aquilo que aprovamos nos outros” - Atque omnis vitae ratio sic constat, ut quae probamus in aliis facere
ipsi velimus – Tradução de Antônio Martinez Rezende.
onde a leitura e a aquisição de obras impressas é a lei, essa relação assumia a seguinte
importância na organização de uma elocução: visualização, entendimento e memória. É
preciso gravar um sentimento naquele que ouve a sua história ou estória.

Cum igitur accepta causa et genere cognito rem “Uma vez, então, que tomei conhecimento do
tractare coepi, nihil prius constituo, quam quid sit gênero da causa aceita e comecei a tratar o caso,
illud, quo mihi sit referenda omnis illa oratio, quae estabeleço, antes de qualquer outra coisa, o ponto
sit propria quaestionis et iudici; deinde illa duo a que devo referir todo o meu discurso, a fim de
diligentissime considero, quorum alterum que seja apropriado à questão e ao julgamento; em
commendationem habet nostram aut eorum, quos seguida, considero com o maior cuidado possível
defendimus, alterum est accommodatum ad eorum dois pontos: um deles apresenta nossa
animos, apud quos dicimus, ad id, quod volumus, recomendação ou a daqueles que defendemos; o
commovendos. outro é apropriado para influenciar os ânimos
daqueles perante os quais discursamos tendo em
vista o que queremos” (Cic. De or. 2,114)8.

Uma das estratégias empregadas para prender a atenção do ouvinte era colocada
em prática através da exposição de elementos textuais que atuassem fornecendo uma
imagem real e dinâmica sobre aquilo que estava sendo proclamado9. A exemplo do rumor
que, conforme vimos até o momento, poderia assumir essa característica visual de
construção do “ambiente da guerra”, marcado pelo medo e pelas incertezas do boca-a-
boca que amplia e distorce todas as informações aonde chega (Luc. 1, 469-489). Dessa
forma, seguindo à risca a recomendação de Tácito, o rumor enquanto tal serviria para a
elaboração de um discurso tão bem trabalhado e formulado que deleitaria a visão e os
olhos dos ouvintes (Tac. Dial. 22)10, principalmente porque vincularia a importância de
se narrar assuntos grandiosos como os da guerra com a vividez proporcionada pelas
ornamentações e licenças poéticas. E todo mundo na antiguidade se deliciava com poetas!

Est enim finitimus oratori poeta, numeris astrictior “De fato, o poeta está muito próximo do orador:
paulo, verborum autem licentia liberior, multis um pouco mais limitado pelo metro, mais livre,
vero ornandi generibus socius ac paene par; in hoc porém, em virtude da licença no uso das palavras,
quidem certe prope idem, nullis ut terminis colega quase igual nos gêneros de ornamentos,
circumscribat aut definiat ius suum, quo minus ei certamente quase idênticos num ponto: não
liceat eadem illa facultate et copia vagari qua circunscrever ou redigir por quaisquer limites o seu
velit. direito, sem que lhes seja permitido vagar à
vontade pelo uso daquela mesma faculdade e
copiosidade” (Cic. De or. 1,70)11.

8
Tradução de Adriano Scatolin, grifo do autor.
9
Ante oculos ponendi – “colocar diante dos olhos” ([Cic.] Rhet. 1, 7,8). Tradução de Ygor Klain Belchior.
10
Sed etiam quod visum et oculos delectet.
11
Tradução de Adriano Scatolin, grifo do autor.
Fruto da educação antiga, esse processo retórico era feito basicamente através
de dois mecanismos discursivos: a enargeia e a ékphrasis.12 Tal como a enargeia (ou
evidentia), a ékphrasis tinha a função de colocar diante dos olhos dos ouvintes as palavras
que eram proferidas pelo orador - (Retórica a Herênio, IV, 59) – gerando, assim, um efeito
de “visibilidade” (demonstração) do discurso proferido. Dessa maneira, a ékphrasis
aparecia então com uma dupla condição: como o objetivo das narrativas historiográficas
e como geradora da enargeia, ou seja, do “efeito de verdade”, de que as coisas
aconteceram daquela maneira ou que elas poderiam ter acontecido daquela forma, como
rumores em uma guerra.
No caso da leitura e da poesia sobre as guerras civis, nada melhor do que
ambientar o ouvinte em uma cidade sitiada em seus muros sagrados, com seus templos
profanados e saqueados, e com o seu rio, que também era uma divindade, se enchendo de
sangue de fratricídios. Ou seja,

Demonstratio est, cum ita verbis res exprimitur, ut “Na demonstração exprimimos um acontecimento
geri negotium et res ante oculos esse videatur (...) com palavras tais que as ações possam parecer
Haec exornatio plurimum prodest in amplificanda estar transcorrendo e as coisas pareçam estar
et conmiseranda re huiusmodi diante dos olhos (...) Esse ornamento é muito útil
enarrationibus. Statuit enim rem totam et prope para amplificar e apelar à misericórdia, pois, com
ponit ante oculos. uma narrativa desse tipo, expõe todo o ocorrido e
coloca-o como que diante dos olhos” ([Cic.] Rhet.
4,68,69 ss).

Assim, voltando ao ambiente da guerra, com o seu mundo cheio de sangue, suor
e lágrimas. Basta pensar no horror que Virgílio deu ao sentimento de sua elocução quando
afirmou que o Tibre estava cheio de sangue, o sangue fraterno. O mesmo que jorrava por
dentro dos muros da cidade a qual Lucano demonstra uma preocupação enorme: era a
capital e lá romanos matavam romanos com ajuda de bárbaros recrutados. E olha que os
estrangeiros nem conheciam qual era a face do imperador. A podridão dos corpos
recheados de putrefação em todas as esquinas. Vermes, abutres, o cheiro de carne
marcada pelo ferro. Carne irmã! As pessoas perguntam nas ruas, onde estão as cabeças
para esses corpos? Deuses. Que imagem! A morte está aí e ela anda lado a lado com as
informações e com as notícias sobre aquilo que estava acontecendo ou que tinha
acontecido. Com isso tudo desenhado, o orador insere rumores que chegam e anunciam
que bárbaros inimigos estão a caminho e vão profanar os nossos templos em busca de

12
GINZBURG, Carlo. “Ekphrasis e citação”. In: A micro-história e outros ensaios. Tradução de António
Narino. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, pp. 215-232; GINZBURG, Carlo. Relações de força:
História, Retórica e Prova. Tradução de Jônatas Batista Neto. São Paulo: Companhia das letras, 2002.
ouro – “ó fome de ouro! As leis, desprezadas, perecem todas sem distinção” (Luc. 3,118-
120). Sobre isso, acreditamos que nem é preciso comentar que a besta de olhos e penas,
tal como descrita por Virgílio no canto IV, não assustaria ao gritar pelas cidades as
inverdades em um ambiente que já não é dos mais simples.
Portanto, a fama e o rumor podem ser, sim, tomados como elementos discursivos
fortes e assustadores e que vão atingir a fides dos ouvintes ao ambientá-los naquilo que
se esperava de uma guerra e do sentimento que ela provocava em seus espectadores. E o
caso das guerras civis romanas não é a exceção. A morte, o perigo e a presença dos
rumores, portanto, são lugares comuns em uma guerra antiga e que devem ser levados em
consideração, pois aumentavam e davam cor a um sentimento conhecido por todos e
esperado por todos da plateia: guerra é perigo e incertezas. Afinal, para que tudo aquilo
fosse visto aos olhos de todos, era necessário que ao menos aquilo que estava sendo
narrado fosse tido como verossímil (provável).

Ad consilium autem de re publica dandum caput “Já para se dar um conselho a respeito de política,
est nosse rem publicam; ad dicendum vero o ponto principal é conhecer a política; para
probabiliter nosse mores civitatis, qui quia crebro discursar com verossimilhança, conhecer os
mutantur, genus quoque orationis est saepe costumes da cidade; uma vez que eles mudam com
mutandum; et quamquam una fere vis est frequência, muitas vezes também é preciso mudar
eloquentiae, tamen quia summa dignitas est o gênero de discurso. E embora a força da
populi, gravissima causa rei publicae, maximi eloquência seja quase uma só, no entanto, pelo fato
motus multitudinis, genus quoque dicendi grandius de ser muito elevada a dignidade do povo,
quoddam et inlustrius esse adhibendum videtur; importantíssima a causa da república, máximos os
maximaque pars orationis admovenda est ad movimentos da multidão, parece que é preciso
animorum motus non numquam aut cohortatione empregar também um gênero de discurso mais
aut commemoratione aliqua aut in spem aut in elevado e mais ilustre; e a maior parte do discurso
metum aut ad cupiditatem aut ad gloriam deve ser empregada tendo em vista as paixões dos
concitandos, saepe etiam a temeritate, iracundia, ânimos, por vezes, por meio de uma exortação ou
spe, iniuria, invidia, crudelitate revocandos. de uma rememoração, para incitá-los à esperança,
ao medo, ao desejo ou à glória, muitas outras,
ainda, para afastá-los do desatino, da cólera, da
esperança, da injúria, da inveja, da crueldade”
(Cic. De or. 2,114)13.

Ver o perigo e esperar algo dele, se prevenir e se informar, mas também criar o
perigo e mobilizar a ação desejada pelo discurso. O observador das ações humanas no
passado e no presente, o orador, tenta dessa forma agir sobre os agentes outrora
observados. O ambiente é a pólis, é a urbs, é a cidade e seu centro: os homens políticos.
É uma dinâmica até certo ponto complexa e racional que a nosso ver necessita de um
orador com bom conhecimento sobre a experiência humana, seja através de sua história
ou da memória construída a respeito dela. Ou seja, algo bem próximo ao que o rector

13
Tradução de Adriano Scatolin.
Quintiliano, em sua Educação Oratória, descreve quando afirma que “a história, por sua
vez pode também alimentar o orador, como se fosse por uma qualidade de seiva ricamente
nutritiva e saborosa” (Quint. Inst. 10,1,31,1)14. A história nutre aquele que irá para uma
batalha de palavras com fatos e com comportamentos que tiveram lugar no passado. Ela
o deixa mais forte!
Mas seria só isso? O quão difícil era para um orador, neste caso um historiador,
ornamentar uma guerra civil? Fazer sentir o perigo de ter a sua cidade sitiada por tropas
romanas compostas por “bárbaros”? Seria essa ornamentação apenas recurso literário?
Apenas para dar veracidade? Seria apenas uma licença dada aos poetas? Enfim,
acreditamos que estas são perguntas importantes e necessárias para trazermos nosso
objeto para outro campo que até então foi pouco abordado: a história. E, para tal, nada
melhor do que deixar um grande historiador responder nossas inquietações. Citamos as
palavras de Tácito contidas em seu proêmio sobre a narrativa dos acontecimentos das
guerras civis de 69 d.C.:

Opus adgredior opimum casibus, atrox proeliis, “Estou entrando na história de um período rico em
discors seditionibus, ipsa etiam pace saevum. desastres, assustado em suas guerras, dilacerado
quattuor principes ferro interempti: trina bella por conflitos civis, e até mesmo na paz cheio de
civilia, plura externa ac plerumque permixta horrores. Quatro imperadores pereceram pela
espada. Houve três guerras civis, mais que contra
os inimigos estrangeiros, embora havia também
muitas vezes guerras que tinham os dois caracteres
ao mesmo tempo” (Tac. Hist. 1,2,1)15.

Nessa matéria rica em desventuras não cabe ao orador um exercício que exija a
aplicação de grandes técnicas retóricas e nem muitos ornamentos. Tácito justifica isso ao
afirmar que o período por si só já seria de grande valia para conquistar a atenção dos
ouvintes, e que a instabilidade à qual estavam sujeitas aquelas pessoas que vivenciaram
três guerras civis, servia para captar a benevolência de sua plateia por diversas vias:
através da amplitude dos fatos e da importância atribuída aos exemplos narrados. Nesse
intuito, nada melhor ao bom orador do que recorrer à verossimilhança das ações humanas,
do comportamento humano, e das vicissitudes que derivaram da interação entre eles, sem
nenhum tipo de ornamento falseador. Tal como a crítica feita por Cícero aos commentarii
escritos por Júlio César:

14
Historia quoque alere oratorem quodam uberi iucundoque suco potest.
15
Tradução de Ygor Klain Belchior.
Tum Brutus: orationes quidem eius mihi “Bruto, então: Sim, seus discursos me agradam
vehementer probantur. compluris autem legi; muito. Li, porém só alguns; e ele também escreveu
atque etiam commentarios quosdam scripsit rerum alguns comentários sobre os seus feitos. - São
suarum. realmente louváveis, acrescentei. Com efeito são
desnudos, simples e elegantes, como se fosse
retirada a veste de todo ornamento do discurso”
(Cic. Brut. 75, 262)16.

Nesse sentido, o que podemos apontar em matéria discursiva, principalmente em


se tratando de discursos sobre as guerras civis romanas, é que presente (ação sublime de
um discurso), passado (a experiência humana que ambienta esse discurso) e o futuro (ação
provocada pelo discurso)17, estão muito presentes e atuantes nas fontes que lidam com os
acontecimentos – que eram muito importantes – das guerras civis. É algo parecido com
“eu vejo porque já vi, ou pelo menos, imagino que poderia ser assim ou se passado desta
maneira, afinal, estive lá ou sempre me contaram que foi dessa forma”. O que queremos
dizer com isso é que o rumor, portanto, longe de ser apenas um elemento falseador, pode
também ser entendido como um elemento literário embasado em uma experiência
histórica e sociológica reais. Isto é, eles estão ali porque tiveram o seu lugar, a sua
importância e são, portanto, esperados quando falamos em guerra.
Mas como provar isso? Basta olharmos para o mesmo ambiente narrativo de uma
guerra civil. Nele, as ações passadas e os comportamentos conhecidos por experiências
sociais prévias são muito importantes quando um orador vai escrever sobre assuntos que
têm o seu lugar no passado e são muito importantes para a memória de sua comunidade.
E aqui não falamos mais apenas de imitação retórica ou de todo aquele exercício textual
acima referido, mas de uma outra forma de sentir a experiência social daqueles que se
encontram representados na trama civil. Pensemos mais ou menos assim: Qual é o
comportamento deles? Ou, ao menos, qual era o comportamento esperado por uma
audiência presente sobre aqueles do passado? O que você faria? Claro, se você fosse um
romano do século I. Pois, a experiência social aqui, e parte daquilo que chamamos de
“marcas do acontecimento”, é muito importante e somente se revela dessa maneira. Isso
fica evidente na seguinte passagem de Lucano, quando o poeta se refere aos sentimentos
que os idosos traziam das guerras civis entre Mário e Sila:

simul partesque ducesque, “fere a um tempo dois chefes


dum nondum meruere, feri. tantone nouorum e os partidos rivais, enquanto o não merecem.
prouentu scelerum quaerunt uter imperet urbi? Com tanta profusão de crimes jamais vistos

16
Tradução de Olavo Vinícius Barbosa de Almeida.
17
Traduzido para o latim como delectare (deleitar), docere (ensinar) e mouere (mobilizar para uma ação).
uix tanti fuerat ciuilia bella mouere ambos disputam quem na urbe imperará?
ut neuter.' talis pietas peritura querellas Guerras civis mover só tinha um valor
egerit. at miseros angit sua cura parentes, se contra os dois. Assim caduca a piedade
oderuntque grauis uiuacia fata reclamou. Mas os pais dor própria lhes tocava,
senectae a tarda hora fatal os idosos odeiam,
seruatosque iterum bellis ciuilibus annos. à outra proscrição civil sobreviventes
atque aliquis magno quaerens exempla timori Um deles relembrando as fontes de seu pânico
'non alios' inquit 'motus tum fata parabant ´Não outros transes’, diz, ‘os fados preparavam
cum post Teutonicos uictor Libycosque triumphos quando Líbios e Teutões já vencedor,
exul limosa Marius caput abdidit ulua. Mário, no exílio, abrigo teve em limbo”
(Luc. 2,59 - 70)18.

A passagem de Lucano, extraída da obra Farsália, publicada em 65 d. C., sob o


governo de Nero, talvez seja extraordinária para amarrarmos o nosso raciocínio até aqui.
Sobre o poema em questão, é classificado como pertencente ao gênero épico e composto
por dez livros que descrevem a disputa entre César contra Pompeu e o Senado. É,
portanto, uma obra de um período bem posterior àquele que narra, pois se encontra
publicada no governo de Nero, mas que lida com um período anterior, a Republica. Nela,
dentro da temporalidade Republicana citada, temos outra reflexão sobre eventos ainda
mais prévios e que muito se assemelham ao momento a qual ela está ambientada. Com
isso em mente, em uma nova leitura é possível perceber o emprego de uma memória
(passado) de como a guerra civil era avassaladora, o que resultava no fato de que os
personagens já sabiam como os mesmos mecanismos de combates, de proteção e de busca
por informações funcionavam, pois continuavam a ser os mesmos.
Esse fato também gerou até expectativas futuras, as pessoas sabiam o que ia
acontecer porque já tinham passado por isso. Os sobreviventes estavam tentando
sobreviver a outra guerra. Dessa forma, eram aptos a até mesmo interpretar ou antever
certos tipos de rumores e se preparavam de antemão para aquilo que estava por vir.
Portanto, estamos falando de uma memória e de uma experiência social anterior à própria
elaboração do discurso. Além disso, é de se esperar que o colorido e a memória deixada
pela poesia de Lucano, poucos anos antes de outro conflito, tenha tido ao menos um
pequeno lugar nos acontecimentos das guerras civis de 69 d.C. Pois, recapitulando, a
guerra entre Mário e Sila está presente nas guerras entre César e Pompeu, ao mesmo
tempo em que estas são utilizadas pelo orador para atuar no presente e também no futuro
de sua audiência, isso lá em 65 d.C. Mais uma vez nos encontramos com a atuação entre
passado, presente e futuro de um discurso oratório e assim fechamos a discussão sobre a

18
Tradução de Brunno V. G. Vieira.
importância de se pensar aquilo que encontramos nessas narrativas como evidências
históricas.
Além disso, como anterior ao processo de elaboração do discurso, a guerra civil
possui uma história e um mecanismo que pode ser atestado pelo passado e pelas ações
humanas no presente, inclusive em sua forma narrativa. Isso também pode ser justificado
demonstrando que, como um mecanismo literário, também poderia ser empregada, e
assim o foi, como uma metáfora para descrever e até mesmo ampliar com conflitos
políticos entre a elite da capital durante o Principado. Um bom exemplo disso pode ser
extraído de Tácito quando, em Anais. IV, 17, 3, no contexto de uma conspiração contra
Tibério, onde Agripina “lhe afirmava estar já Roma dividida em partidos como nos
tempos das guerras civis”19.
Desta forma, pensando dentro dos moldes daquilo que discutimos até o
momento, é preciso atentar que conflitos muitas vezes menores, como aquelas picuinhas
entre Senadores, narradas por um historiador, passariam a ostentar uma dimensão muito
maior (amplificatio) e assumiriam toda uma dinâmica do seu funcionamento (evidentia):
como duas factiones conflitantes em guerra civil. E aí vem a memória os acontecimentos
de Mário e Sila, César e Pompeu, Antônio e Augusto e o ano dos quatro imperadores.
Literatura e sociedade, portanto, se encontram a todo o momento e, ao lermos todas as
fontes desta pesquisa sob esse novo viés da própria retórica, é possível estudar os
acontecimentos narrados, dentre elas a situação das províncias, os medos em Roma, e,
principalmente, os rumores como objetos históricos que possuem um mecanismo de ação
que também pode ser encontrado e atestado. Afinal, a guerra civil e o seu cotidiano de
rumores não são apenas textos e letras coloridas de um discurso. Eles aconteceram dessa
maneira! Como este exemplo trazido de César:

Quae civitates commodius suam rem publicam “Aqueles Estados que consideram organizar as
administrare existimantur, habent legibus coisas públicas mais judiciosamente, têm prescrito
sanctum, si quis quid de re publica a finitimis por leis que qualquer pessoa que tenha aprendido
rumore aut fama acceperit, uti ad magistratum algo importante para a comunidade com os seus
deferat neve cum quo alio communicet, quod saepe vizinhos, seja pelo rumor ou pela fama, deverá
homines temerarios atque imperitos falsis transmiti-lo ao magistrado, e não comunicá-lo a
rumoribus terreri et ad facinus impelli et de qualquer outro comum, pois os homens
summis rebus consilium capere cognitum imprudentes e inexperientes foram por muitas
est. 3 Magistratus quae visa sunt occultant vezes alarmados com falsos rumores e assim foram
quaeque esse ex usu iudicaverunt multitudini impelidos a cometer crimes e medidas precipitadas
produnt. De re publica nisi per concilium loqui non em assuntos da mais alta importância. É da função
conceditur do Magistrado esconder as coisas que necessitam

19
Instabat quippe Seianus incusabatque diductam civitatem ut civili bello: esse qui se partium Agrippinae
vocent.
ser mantidas desconhecidas da multidão. Não é
lícito falar sobre a comunidade, exceto em
assembleia” (Caes. BG. 6, 20)20.

Esta passagem de César foi trazida para este trabalho justamente por apresentar
elementos muito importantes para a nossa análise. Em uma guerra, as palavras são muito
importantes, já que a busca por informações é intensa. Os exércitos se movem e
necessitam de apoio, de suprimentos e de água. As cidades se fecham. Deliberam. Qual
candidato apoiaremos? Nos rendemos ou defendemos? Quanto de suprimento temos?
Quanto aguentaremos? Já, as informações são restritas, são colocadas apenas no nível de
rumores. Porém, estes têm pouca amplitude, já que são colhidos em comunidades
vizinhas ou são internos a própria comunidade de origem. Quem escolherá a informação
certa? Pois, se não fiscalizados pelas autoridades, podem atingir níveis alarmantes. E,
dentro de uma guerra, com toda aquela retórica descritiva de seu clima de tensão, medo
e instabilidade, uma convulsão interna contra as autoridades ou qualquer pânico que
atrapalhe as defesas e as vigias, todos podem ser funestos.
Sendo assim, é preciso dizer que para além do sangue, da fome e do fratricídio
outro elemento é muito importante para compreendermos uma guerra na antiguidade: a
comunicação. E por falar nisso, o que temos também nesse cenário é a concordância com
aquilo que foi desenhado até o momento, pois falamos de um mundo onde a informação
de primeira mão também era importante para a guerra e ela se encontra presente a todo o
momento. Seja na forma de cartas escritas (litterae scriptae), relatórios oficiais (nuntius),
pequenos recados escritos em cera (tabellae), editos (edita), rumores (fama/ rumor),
objetos de guerra que eram arremessados com notícias (glande scriptum misit), bandeiras
e assovios (signos), dentre outros. Tudo isso feito pelos “atores” dos eventos, os
mensageiros oficiais (legati), por tabellariis, espiões (speculatoribus), através de
fugitivos (fugitivis), desertores (perfugis), comerciantes (negotiatores), soldados (milites)
e toda uma gama de pessoas que circulavam nos locais de informação que também
compunham as “marcas” desse mundo rural e oral, do boca-a-boca.
Em suma, a retórica pode ser reveladora para além de sua realidade textual, já
que descreve essas comoções e esses eventos de uma forma bem detalhista, quase que no
nível sociológico e psicológico dos personagens envolvidos. Assim, o ato de correr para
um templo, inquirir comerciantes e viajantes, buscar informações no Campo de Marte, se

20
Tradução de Ygor Klain Belchior.
proteger e deliberar, demonstram algo que é muito importante para nosso modelo: a ação
social. E ela, como forma de responder aos problemas de abastecimento, terá que chegar
a dois resultados distintos que também são atestados pelas fontes para as cidades
(civitates/ oppida): elas fechavam as portas – praeclusae/claudere portas (Caes. BC.
2,20) - ou abriam elas - portas aperire (Caes. BC. 3,81) - para os exércitos em campanha.
E esse ato somente acontecia após longa deliberação dos próprios cidadãos que poderiam
expulsar até mesmo a guarnição interna (praesidium) ao optarem a dar apoio a outro
candidato (Caes. BC. 3,11). O que temos, portanto, é que a comunidade dava a palavra
final e também deixava para decidir até o último minuto (Caes. BC. 1, 22;23;74). Será
que temos como provar que o rumor se encaixava nesse ambiente e nessas decisões?

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