Raoul Vaneigem

Nada é sagrado
Notas

 Cotidiano
“Decifrar o mundo pela lente da vida cotidiana. Um conhecimento
só me interessa na medida em que me permite viver melhor.” (p.94)

 Epígrafe
“Não é o sintoma que deve ser condenado, é nossa pouca pressa
em erradicar as condições que propagam o prurido, o abscesso, a
peste. Mais que cuidar em esmagar o infame, vale apoiar o desejo
de viver melhor – isto é, mais humanamente”. (p.31)

 Liberdade de expressão e espírito de comércio

“Originada do livre intercâmbio e da livre circulação de bens e de
pessoas, a liberdade de expressão está hoje ameaçada pelo espírito
de comércio que presidiu seu nascimento. O que ontem a abria hoje
a aprisiona, à medida que o círculo do lucro se fecha sobre o
mundo”.(p.18)

 Liberdade de expressão e estilo

“A liberdade de expressão tem a faculdade de conferir valor
poético às palavras. Ela não se confundiria com o niilismo
induzido pelo fetichismo do dinheiro e cujo princípio, ‘tudo é
permitido desde que dê resultado’, ressalta a fatuidade das
palavras, despoja-as de sua importância, de sua recusa de
convencer do que quer que seja, fora do sistema de rentabilidade
que as faz trabalhar.”(p.26)
 Tolerância com opiniões e intolerância com a babárie
“A absoluta tolerância com todas as opiniões deve ter por
fundamento a intolerância absoluta com todas as barbáries. (...)”.
(...) O direito de tudo dizer, de tudo escrever, de tudo pensar, de
tudo ver e ouvir decorre de uma exigência prévia, segundo a qual
não existe nem direito nem liberdade de matar, de torturar, de
maltratar, de oprimir, de constranger, de privar de alimento, de
explorar.” (p.20)

 Verdade e ficção
“Verdade alguma merece que alguém se ajoelhe perante ela. Todo
ser humano tem o direito de criticar e de contradizer o que parece
mais certo ou seja transmitido como uma evidência cientificamente
estabelecida. As mais loucas especulações, as asserções mais
delirantes semeiam, a sua maneira, o campo de verdades futuras e
impedem que as verdades de uma época sejam erigidas em
autoridade absoluta.
Há na ficção mais desenfreada, na mentira mais espantosa uma
fagulha de vida capaz de reanimar todos os fogos do possível. A
florescência de excentricidades lembra que o centro da vida está
em toda parte e se abre sobre uma infinita diversidade de
escolhas”. (p.38)