Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Para o DI, o chefe de Estado, seja ele imperador, rei, Presidente da República ou chefe de
governo é o órgão encarregado das relações internacionais do Estado, cabendo a este Estado
comunicar oficialmente aos demais Estados quem é o indivíduo, que reveste a qualidade de
chefe de Estado.
No Brasil, a Constituição dispõe a respeito no art. 84, VII e VIII. Sendo certa que cabe ao
presidente da república a responsabilidade pela gestão da política exterior e ao parlamento
exercer o controle em matéria internacional. Nas repúblicas parlamentaristas a importância do
Chefe de Estado é dividida com a do chefe de governo. Outra figura de relevância para as
relações internacionais é a do Ministro das Relações Exteriores, geralmente denominado
chanceler na América latina.
Para Celso Mello, as definições que lhe parecem mais adequadas são dadas por Ângelo Piero
Sereni e por Ab-dulah El Erian, os quais, entendem se tratar de associação voluntária de
pessoas internacionais, regulada por normas de Direito Internacional e pelos seus atos
constitutivos, são dotadas de órgãos próprios, por meio dos quais realizam suas finalidades e
são dotadas de personalidade internacional, independentes da personalidade dos Estados-
membros[8].
Desta sorte, que parecer adequado dizer que as Organizações Internacionais não são,
apenas, intergovernamentais, posto que também são pessoas de direitos e deveres na ordem
jurídica internacional. Nesse sentido, a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados entre
Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais de 1986, é
expressa em dizer, em seu artigo 1º, que será ela, aplicável aos tratados entre Organizações
Internacionais e Estados, ou aos tratados entre Organizações Internacionais[10].
As Organizações Internacionais (OIs) são, além disso, constituídas por tratados constitutivos
(Carta Constituinte), e reguladas pelo Direito Internacional. Portanto, não se deve confundir
com Organizações não-governamentais (ONGs), como o Greenpeace, etc., que são
constituídas por iniciativa de entidades ou pessoas de direito interno estatal. Sob a lei, portanto,
de um Estado soberano. A Organização Internacional é uma pessoa internacional tal qual o
Estado. A diferença básica entre as OIs é o Estado é que este possui uma jurisdição ampla,
enquanto as OIs têm jurisdição limitada pelos seus objetivos, conforme sua Carta Constituinte.
O surgimento das Ols na sociedade internacional é relativamente recente, do mesmo modo que
é recente a idéia da cooperação internacional de forma permanente entre os Estados
soberanos. Não há opinião contrária quando se diz que o primeiro aparecimento de uma OI foi
em 1815, quando a Conferência de Viena previu a constituição das comissões fluviais.
Entretanto, as OIs ganharam a sua importância política a partir da Primeira Guerra Mundial.
Após a experiência de cooperação nos rios internacionais, os Estados europeus começaram a
estabelecer uniões administrativas para as áreas administrativa e técnica. O tratado constitutivo
da União Internacional Telegráfica (International Telegraph Union; ITU), que foi celebrado em
Paris, em 17.5.1865, por 20 Estados, foi o começo da cooperação internacional permanente
nessa área.
A experiência desastrosa da Primeira Guerra Mundial fez com que a sociedade internacional
percebesse a necessidade de uma instituição internacional para o controle das atividades
estatais, visando garantir a mantença do sistema interestatal. E, para a solução da parte
defeituosa desse sistema, a sociedade internacional cogitou sobre o estabelecimento de uma
organização internacional universal. O nascimento da Sociedade das Nações – SN - foi
baseado nessa preocupação com a coordenação e controle das atividades dos Estados.
Após a Segunda Guerra Mundial a sociedade internacional criou a Organização das Nações
Unidas (ONU; United Nations; UN), suplantando os defeitos da experiência da SN. A ONU tem
a característica supranacional no seu aspecto político, a qual prevê a possibilidade do uso de
força militar sob o seu comando. Aliás, a ONU criou inúmeros órgãos subsidiários e agências
especializadas (Specialized Agencies; Institutions Spécialisées), incluindo, assim, quase todas
as áreas da sociedade internacional sob os seus cuidados. Além desses organismos, a ONU
controla importantes organismos internacionais, tais como a IAEA e o GATT (OMC). A ONU dá
um exemplo de cooperação internacional entre os Estados e, de fato, promove a cooperação
internacional e regional dos Estados-membros através da formação das Ols, o que acabou por
promover o "boom" da criação das Ols.
Atualmente, existem mais de 1.000 Ols. Essa proliferação de Ols reflete a necessidade
crescente de cooperação internacional entre os Estados para a solução dos problemas
transfronteiriços. Essas Ols podem ser classificadas de várias maneiras: organização universal
e regional; organização de competência limitada e competência geral; e organização de
cooperação e de integração.
(1) Organização universal e regional: Organização universal refere-se à organização que aceita
como membro qualquer país, e possui o âmbito de atuação mundial. O melhor exemplo é a
família da ONU, que inclui a ONU, 16 agências especializadas, a OMC, a IAEA etc. Já a
Organização regional trata das organizações que aceitam como membros os países de uma
região determinada.
(2) Organização de competência limitada e competência geral: Uma outra classificação é a que
classifica as organizações internacionais pela competência delas, uma vez que elas atuam
conforme os objetivos e funções estabelecidos pelo tratado constitutivo. P.ex.,(vide objetivos da
ONU nos art. 1, 2 e 4) o artigo 1 da Carta da ONU visa "(1) manter a paz e a segurança
internacionais (...); (2) desenvolver relações amistosas entre as nações (...); conseguir uma
cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico,
social, cultural ou humanitário (...); e (4) ser um centro destinado a harmonizar a ação das
nações para a consecução desses objetivos comuns". Para realizar todos os seus objetivos, a
ONU se envolve praticamente em todas as áreas da sociedade internacional. Nesse sentido, a
ONU é considerada uma organização internacional de competência geral. A organização
internacional de competência limitada é aquela que tem como objetivos e funções apenas
algumas áreas delimitadas, não importando se ela é uma organização universal ou regional.
P.ex., a OMS é considerada uma organização internacional universal de competência limitada.
Já a OEA é considerada uma organização internacional regional de competência geral.
Come se observa na definição, as Ols são constituídas com base em um tratado multilateral.
Por isso, o direito de tratados forma uma parte importante no estudo sobre o direito das Ols.
Esse tratado multilateral que rege as regras de constituição e operação de uma OI chama-se
tratado constitutivo (constituent treaty; acte constitutif). Um tratado constitutivo de uma OI
contém, em geral, as regras sobre a constituição dos principais órgãos e seus poderes, os
objetivos, os direitos e os deveres dos Estados-membros. Além dessas regras, o tratado
constitutivo prevê, em muitos casos, regra similar as do direito administrativo, processual e
penal, que se acham no sistema nacional.
As práticas dos Estados através das organizações internacionais são uma das provas do
costume internacional. Assim, é possível que as regras contidas nos tratados constitutivos
evoluam em costumes internacionais através das práticas coerentes dos Estados-membros.
Por exemplo, a prática de veto do art. 27(3) da Carta da ONU é uma prova importante nesse
sentido.
Desde a segunda metade do século XlX as Ols vieram a ser criadas pelo sistema de tratado
multilateral. Isso significa que a ratificação é exigida para a entrada em vigor do tratado
constitutivo da OI. A escolha do procedimento de ratificação depende da vontade política e do
objetivo da OI. (P.ex. nas organizações integracionistas, como a UE, e o Mercosul a ratificação
por todos os Estados-membros é uma exigência sine qua non).
O tratado é o único meio para a criação da OI? Ou uma OI existente pode criar, por ato
unilateral, outra OI? Por exemplo, a UE ou o Mercosul poderiam criar uma organização
internacional apenas por um ato unilateral? A resposta é ainda negativa, porque o próprio
conceito de OI prevê um tratado constitutivo celebrado pelos Estados, e não pela OI. Existe a
possibilidade de, no futuro, uma organização supranacional criar uma OI através de ato
unilateral. Entretanto, isso não vale para hoje
O tratado constitutivo, como lei básica da OI, tem, normalmente, um efeito legal superior ao do
tratado normal. (P.ex. o art. 103 da Carta da ONU estipula a superioridade da Carta sobre todos
os outros tratados dos Estados-membros,) dizendo que, "no caso de conflito entre as
obrigações dos membros das Nações Unidas em virtude da presente Carta e as obrigações
resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as obrigações assumidas em
virtude da presente carta".
Aliás, a reserva não é permitida no tratado constitutivo. O Estado deve aceitá-lo integralmente
ou rejeitá-lo, não podendo fazer nenhuma reserva. Já que a Ol é constituída e funciona
conforme o tratado constitutivo, a reserva prejudicaria a igualdade dos Estados-membros,
portanto, não deve mesmo ser permitida. Neste contexto, a alteração do tratado constitutivo é
mais difícil do que a de outros atos decisórios de uma OI. Por exemplo, para a emenda da
Carta da ONU, requerem-se os "votos de 2/3 dos membros da Assembléia Geral e ratificação
por 2/3 dos membros das Nações Unidas, inclusive todos os membros permanentes do CS"
A princípio, a organização internacional prevê a sua existência permanente. Por isso, a maioria
dos tratados constitutivos não especifica o prazo de vigência. Entretanto, em alguns casos
especifica-se o período de existência No caso de dissolução, o tratado constitutivo especifica
esse processo. As regras gerais do Dl sobre o término do tratado podem ser aplicadas
pacificamente junto com o princípio de ab-rogação por actus contrarius.
9.1.4.2. Membros
A princípio, os membros constituintes das Ols são os Estados independentes. Isso porque a
própria definição da OI prevê essa condição, (dizendo "organização intergovernamental").
Entretanto, se o tratado constitutivo prevê ou os Estados-membros convencionam a admissão
de uma entidade não-governamental, isso só é permitido quando não contraria os objetivos e a
finalidade da OI.
(Art. 1(2) do Pacto da SN) Todo Estado, Domínio ou Colônia que se governe livremente e não
esteja designado no Anexo, poderá tornar-se Membro da Sociedade se sua admissão for
aprovada pelos dois terços da Assembléia, contanto que dê garantias efetivas da sua sincera
intenção de observar os seus compromissos internacionais e de que aceita as regras
estabelecidas pela Sociedade no tocante às suas forças e armamentos militares, navais e
aéreos.
O uso de termos legais freqüentemente gera confusão. No caso de Estados e Ols, pela forte
influência da soberania e independência dos Estados, o termo jurisdição é mais preciso do que
competência e capacidade. De fato, personalidade legal refere-se à aptidão, sujeito e
qualificação no DI, enquanto capacidade, competência e jurisdição dizem respeito à
capacidade de exercer os direitos e de contrair as obrigações. O caso das Reparações de
Danos (Reparation for Injuries, 1949) estabeleceu a base legal da discussão desta questão.
I - No caso de um agente das Nações Unidas, no exercício de suas funções, sofrer um dano
em circunstâncias que comprometam a responsabilidade de um Estado, a ONU, como
organização que é. tem a competência de fazer uma denúncia contra o governo responsável
pelo dano, com o fim de obter a reparação devida a respeito do dano causado: a) às Nações
Unidas; b) à vítima ou pessoas consideradas como tal?
II - No caso de uma resposta afirmativa ao ponto I-b, como agirá as Nações Unidas para
conciliar tal direito com os direitos do País do qual a vítima é originária?
Com respeito às questões 1-a e l-b, a Corte estabeleceu uma diferença, destacando o País
responsável como um País membro da ONU ou um País não membro da ONU. A Corte
unanimemente respondeu à questão 1-a afirmativamente. Na questão l-b, a Corte opinou, por
11 votos contra 4, que a Organização tem competência para apresentar uma denúncia
internacional, quer o Pais seja membro ou não das Nações Unidas. Finalmente, sobre o ponto
II, a Corte opinou, por 10 votos contra 5, que, quando as Nações Unidas, como uma
organIzação, apresentarem uma denúncia visando a reparação de danos causados a um
agente seu, as Nações Unidas podem apenas fazer tal baseando sua denúncia em um
conjunto de obrigações a elas devidas. Respeitando-se essa regra, previne-se qualquer tipo de
conflito entre a ação das Nações Unidas e o direito do País-membro. Além disso, essa
conciliação deve depender de certas considerações aplicáveis a cada caso em particular e de
certos acordos que devem ser feitos entre a Organização e os Países.
A Corte chega à conclusão de que a Organização tem a capacidade para exercer a proteção de
seus membros. A situação é comparativamente simples no caso dos Países-membros, pois
estes assumiram várias obrigações relativas à Organização. Mas qual é a situação quando
ocorre uma denúncia contra um País que não é membro da Organização? A Corte é da opinião
de que os membros das Nações Unidas criaram uma entidade possuindo personalidade
internacional objetiva, e não uma personalidade somente reconhecida por eles.
A questão II da Assembléia Geral refere-se à conciliação da ação, pelas Nações Unidas, com
os direitos que possuem as vítimas como cidadãos. Em outras palavras, o que está em
discussão é uma competição de direitos diplomáticos de um lado, e uma proteção funcional de
outro lado. A Corte não pode estabelecer aqui quais dessas duas categorias de proteção
poderá ser a prioritária, e, no caso dos Países-membros, ela destaca o dever destes de prestar
toda a assistência expressa no art. 2 do Código. A Corte acrescenta que o risco da competição
entre a Organização e o País-membro pode ser reduzido ou eliminado, ou por convenção geral,
ou por acordos combinados para cada caso, e ela se referir a casos que já tenham acontecido,
nos quais já se encontrou uma solução prática.
A maioria das Ols estabelece explicitamente a personalidade legal no seu tratado constitutivo
(por exemplo, art. 39 da OIT, art. 210 do trata do da CEE, art. 184 do tratado do EURATOM) ou
pelos tratados especiais ou separados (Convention on the Privíleges and lmmunities ofthe
United Nations, art. 1(3), Protocolo de Ouro Preto do Mercosul, art. 34).
Por exemplo, o Tratado de Assunção, que é tratado constitutivo do Mercosul, não se referiu à
personalidade legal do Mercosul. Apesar disso, o Mercosul foi reconhecida tacitamente como
pessoa internacional, ou seja, como sujeito do DI. Ele podia exercer seus direitos em nome do
Mercosul dentro da finalidade determinada no Tratado de Assunção.
Posteriormente, o Protocolo de Ouro Preto ratificou, no art 34, que O Mercosul terá
personalidade jurídica de Direito internacional". Apesar desse dispositivo, o Mercosul já havia
tido reconhecida a sua personalidade legal internacional. E o art 35 esclareceu a capacidade
legal internacional do Mercosul, dizendo: "O Mercosul poderá. No uso de suas atribuições
praticar todos os atos necessários à realização de seus objetivos, em especial contratar,
adquirir ou alienar bens móveis e imóveis, comparecer em juízo, conservar fundos e fazer
transferências". Entretanto essas competências já foram atribuídas tacitamente para a
realização de seus objetivos O art. 35 determinou posteriormente o limite da competência do
Mercosul, apenas para efeito funcional e declaratório.
O acordo de sede (accord de siège) é um tratado celebrado entre a OI e o Estado sede da OI,
para acertar as questões do local da sede, os direitos, deveres, privilégios e imunidades. No
mesmo contexto, se a OI exerce suas funções em outros Estados além do país de sede, ela
deve acertar as questões relativas por acordos, em geral esporádicos. No caso da ONU, ela
acertou esse problema através de tratado multilateral com os Estados-membros, ou seja,
General Convention on the Privileges and lmmunities of the United Nations (29.2.1946) e a
Convention on the Privileges and lmmunities of the Specialized Agencies ofthe UnitedNations
(1947).
Assim, podemos entender que essa capacidade legal nacional da OI é baseada no direito
nacional de cada Estado. A sua característica é a do poder discricionário do Estado
interessado, sendo que o limite de sua capacidade é determinado pela livre negociação entre o
Estado e a Dl.
Como pessoa jurídica, a 01 exerce seus direitos e deveres através de um órgão representativo,
composto por funcionários internacionais, como secretário-geral ou diretor-geral. No caso da
CEE, a comissão foi um órgão representativo.
Qual lei se aplica no ato contratual da OI com o indivíduo, para as atividades ordinárias da
mesma? Neste caso, deve-se considerar o conteúdo do contrato. Se o conteúdo do contrato é
referente a ato comercial, aplica-se o direito nacional, e, se este é referente a ato administrativo
da Dl, aplica-se o Dl. Desde que a Dl goze dos privilégios e imunidades similares aos do
Estado, como o direito de acesso ao tribunal nacional e à imunidade para recusar a jurisdição
judiciária nacional, a disposição contratual sobre o meio de solução de controvérsias é
necessária quanto ao contrato com a OI. A jurisdição da Dl pode ser explicada de várias
maneiras, sendo que o meio mais fácil seria classificar a jurisdição conforme as competências
do Estado, ou seja, competência legislativa, jurisdicional e executiva.
A competência legislativa refere-se à capacidade de legislar as normas do Dl. A capacidade de
celebrar tratado, de assistir na preparação de tratado multilateral, de adotar atos unilaterais
normativos, são alguns exemplos. O ad. 43da Carta da ONU estabelece o direito ao Conselho
de Segurança de celebrar acordo relacionado à manutenção da paz e da segurança
internacionais.
Existem organizações regionais políticas, e algumas delas atuam interativamente junto com a
ONU, conforme o art. 52 da Carta, em todos os continentes.
Até hoje, as Ols, em sua maioria, são do tipo tradicional, baseando-se principalmente na
cooperação intergovernamental dos Estados que detêm o controle de decision-making e o
financiamento da organização para distinguir o novo tipo de organização internacional
independente criada para a integração dos Estados, emprega-se atualmente o termo
"organização supranacional". Na comunidade regional, a distinção entre organização
internacional tradicional e organização supranacional é muito debatida, mas sem critérios
objetivos e claros. De fato, a transferência da soberania dos Estados-membros para a
organização (internacional) supranacional é muito maior com relação ao escopo e à natureza
dos poderes delegados. Nesse contexto, as seguintes características estão comumente (com
variações) presentes naqueles tipos de organizações supranacionais.
Os órgãos da organização são compostos por pessoas não representantes dos Estados-
membros; os órgãos tomam decisões por voto majoritário, tendo autoridade para adotar atos
vinculantes, sendo que alguns destes têm efeitos legais diretos aos indivíduos e empresas; o
tratado constitutivo e as medidas adotadas pelos órgãos formam a nova ordem legal; o
cumprimento dos Estados-membros com as suas obrigações e a validade dos atos adotados
pelos órgãos da organização estão sujeitos à revisão judicial por corte independente.
De fato, esse critério para a “organização supranacional" foi copia do da experiência da
Comunidade Européia. Suas características foram muito discutidas no meio acadêmico, sendo
considerada como uma entidade "sui generis", considerando-se as características
contemporâneas das organizações intergovernamentais Por isso, atualmente, a União
Européia (termo empregado a partir do Tratado de Maastricht; antes, era denominada
Comunidade Européia) atinge unicamente todos esses ele mentos referentes aos critérios. Os
acordos que estabelecem a União Européia e os direitos secundários criados pelos órgãos da
comunidade formam uma ordem legal independente, que atualmente não encontra facilidades
para a sua inserção na categoria geral do direito internacional tradicional, sendo denominado
direito comunitário europeu.
O papel das Ols é muito importante para o desenvolvimento do sistema legal internacional no
futuro, devido à necessidade de cooperação internacional entre os Estados para a solução dos
problemas transnacionais (Assim, como nós vimos na parte denominada processo legislativo
internacional, as Ols praticamente desempenham, horizontalmente, várias funções
governamentais "ad hoc" na sociedade internacional.
A princípio, as Ols podem atuar dentro dos objetivos e competência outorgados pelo tratado
constitutivo. Fora destes limites, implicaria ultra vires, cujo efeito legal seria o da nulidade do
ato. Entretanto, no caso da ONU, a aplicação da teoria do poder implícito (theory ofimplied
powers) é algo bem flexível. Segundo esta teoria, no seu sentido amplo, os objetivos e funções
da ONU implicam naturalmente a existência de outros poderes, também da ONU, para que
possam ser cumpridos. Nesse sentido, a compreensão dos objetivos e princípios da ONU é
uma tarefa fundamental. A Carta da ONU estabelece quatro objetivos da ONU no artigo 1, nos
seguintes termos:
(1) Manter a paz e segurança internacionais, e para esse fim tomar coletivamente medidas
efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da
paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da Justiça e do direito
internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma
perturbação da paz;
(2) Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de
igualdade de direito e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao
fortalecimento da paz universal;
(4) Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses
objetivos comuns.
Assim, a ONU esclarece que ela é uma OI universal por seus próprios objetivos. Os países
ocidentais entendem que o principal objetivo da ONU consiste em preservar a paz e a
segurança internacionais (1), enquanto os países em desenvolvimento dão mais ênfase ao
"respeito ao princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos" e na
cooperação internacional para "a resolução dos problemas internacionais de caráter
econômico" (§§ 2 e 3).
De qualquer modo, como o art. 2(1) mostra, a ONU é uma forma de confederação baseada no
princípio da igualdade soberana, em vez de governo mundial, para solucionar os problemas de
interesses da sociedade internacional através da cooperação internacional.
9.2.1.2. Princípios (art. 2)
São sete os princípios enumerados pela Carta, os quais os países-membros e a própria ONU
devem cumprir na realização dos objetivos gerais (art. 2):
(1) igualdade soberana dos membros:
(2) boa-fé no cumprimento das obrigações internacionais;
(3) solução dos conflitos por meios pacíficos;
(4) abstenção da ameaça e da força contra a integridade territorial;
(5) assistência à ONU em qualquer ação;
(6) obrigação dos Estados não membros da ONU de cumprir os princípios da ONU;
(7) não-intervenção em assuntos que sejam, essencialmente.
da competência interna dos Estados.
Se observarmos bem, podemos verificar que o princípio de não- intervenção tem uma
característica passiva, diferentemente dos outros seis princípios, no contexto do
desenvolvimento da sociedade internacional. Embora o art. 2 da Carta da ONU declare que,
"baseada no princípio da igualdade soberana de todos os seus membros", a ONU está dirigida
por cinco grandes países, possuidores do direito de veto no CS, detendo, assim, o comando da
ONU.
2.2. Membros
Segundo o art. 3 da Carta, "Os membros originários da ONU serão os Estados que, tendo
participado da Conferência das Nações Unidas sobre a Organização Internacional, realizada
em São Francisco, ou, tendo assinado previamente a Declaração das Nações Unidas, de
01.01.1942, assinarem a presente Carta, e ratificarem, de acordo com o art. 110. Foram 51 os
Estados que participaram da fundação. A admissão de novos membros é regulada pelo art. 4
da Carta:
1. A admissão, como membro das Nações Unidas, fica aberta a todos os Estados amantes da
paz que aceitarem as obrigações, contidas na presente Carta e que, a juízo da Organização,
estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações.
Hoje, quase todos os Estados independentes são membros desta organização universal.
(art 5) Existe certa dificuldade no entendimento dos termos suspensão, expulsão e retirada
voluntária. A Assembléia Geral (AG) poderá suspender o exercício dos direitos e privilégios de
qualquer membro, mediante recomendação do Conselho de Segurança (CS), quando este
encaminhar uma ação preventiva ou coercitiva contra um membro da ONU). Aliás, quando um
Estado-membro viola de forma persistente os princípios da Carta, a AG poderá expulsá-lo,
mediante recomendação do CS (art. 6). Na verdade, estas disposições nunca foram aplicadas
até hoje. Entretanto, há um caso que poderá vir a ser considerado como uma expulsão indireta,
que é o caso da Iugoslávia.
Até setembro de 1999, foram contabilizados 188 Paises em Membros da ONU, com a
admissão de Tonga.
(Caso da Iugoslávia, 1991)1291 A República Federativa da Iugoslávia foi extinta com a sua
cisão em vários Estados independentes, em 1991, o que resultou no nascimento dos Estados
novos: República Federal da Iugoslávia (Sérvia e Montenegro), Bósnia-Herzegovina, Croácia,
Macedônia e Slovênia. Com a exceção do restante da Iugos lávia (Sérvia e Montenegro), todos
os novos Estados receberam o membership da ONU. Eles foram aceitos apesar da não-
solução definitiva das disputas fronteiriças. Entretanto, quando a Macedônia tentou usar como
nome do seu Estado a palavra "Macedônia", a Grécia levantou objeção, já que esse mesmo
nome denomina uma província do norte do seu país. Esse país foi admitido na ONU como o
nome provisório de "The Former Yugoslav Republic of Macedonia" até que a diferença com a
Grécia sela solucionada. A ONU recusou-se a admitir que a República Federal da Iugoslávia,
representada pela Sérvia e por Montenegro, tomasse o lugar da antiga República Federal
Socialista da Iugoslávia. O fundamento da ONU é que a tal RFI não é ainda uma entidade
legal, porque o antigo Estado da Iugoslávia não existe mais e não houve continuidade, O OS e
a AG decidiram que a REI deveria pedir um novo membership.
Com relação à retirada (withdrawal), a Carta silencia. Esta omissão foi deliberada, já que o
direito de retirada reconhecido no Pacto da Sociedade das Nações (SN) enfraqueceu essa
organização, que não suportou a saída de vários membros (art. 1(3) do Pacto da SN). A
questão da retira da registrou apenas um caso até hoje A maioria das outras organizações do
sistema da ONU contém as cláusulas de retirada.
A idéia principal da ONU é que a paz internacional seja mantida através da cooperação entre
os países poderosos, ou seja, eficácia em vez de igualdade (pragmatismo - reconhecimento de
eficácia no lugar da igualdade entre os países-membros). Por isso, o CS tem mais poder do
que a AG, principalmente na área da paz. Os 5 países do CS foram designados sem troca.
Será que essa composição dos poderes já foi mudada durante esses 50 anos? Sim, ex.:
Canadá, Japão, Alemanha. Aliás, esses países participam do Conselho nos importantes
órgãos, automaticamente, ou seja, já havia a intenção desses 5 países de tomar conta de todas
as áreas internacionais.
(1) Composição: O CS é composto por quinze Estados membros, e cada membro do CS tem o
seu representante (art. 23). O art. 23 (1) da Carta designa como membros permanentes do CS
a República da China, a França, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o Reino Unido
da Grã-Bratanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América. Entretanto, não existe
mais a União Soviética, sendo necessária a alteração da Carta.
(Caso Rússia, 1991) A Rússia informou à ONU em 1991 que, com o apoio de 11 membros do
CS (Commonwealth of Independent States), ela continuaria com o membership da União
Soviética em todos os órgãos da ONU. Essa medida tomada pela Federação Russa é
marcante, porque tal medida não encontrou nenhum protesto pelos Estados membros da ONU.
No sentido estritamente legal, neste caso de substituição do membership, a alteração da Carta
da ONU far-se-ia necessária para alterar a composição do A posição da AG e do CS é bem
diferente com relação à Iugoslávia, quando a Sérvia e o Montenegro argumentaram quanto à
sucessão da República Federativa da Iugoslávia.
A AG elege periodicamente dez outros membros da ONU, para o cargo de membros não-
permanentes do CS, tendo especialmente em vista, em primeiro lugar, a contribuição dos
membros das Nações Unidas para a manutenção da paz e da segurança internacionais e para
os outros propósitos da Organização e também a distribuição geográfica eqüitativa" (art. 23
(1)). O mandato do membro não-permanente é de dois anos. Atualmente, dos dez lugares
existentes, cinco lugares são destinados aos países Afro-asiáticos, dois vão para a América
Latina, um para a Europa Oriental e dois para Europa Ocidental e demais países restantes. A
composição do CS não reflete bem o balanço do poder econômico, por isso está sendo
discutida, hoje, a reforma do CS. Entretanto, a discussão limita-se a um pedido de ampliação
dos lugares permanentes, o que encontra uma forte resistência dos próprios membros
permanentes. A Alemanha e o Japão são os países mais interessados a entrar para a lista dos
permanentes, e alguns países em desenvolvimento, tais como o Brasil, a Índia e a Nigéria
exigem os tais lugares. A atual estrutura do CS é a seguinte:
A fim de assegurar pronta e eficaz ação por parte das Nações Unidas, seus membros conferem
ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da paz e da segurança
internacionais. e concordam em que, no cumprimento dos deveres Impostos por essa
responsabilidade, o conselho de Segurança aja em nome deles.
(3) Processo de Votação: cada membro do CS tem direito a um voto. Vide processo de votação
no CS. art. 27da Carta:
Para fazer passar no CS qualquer resolução importante, faz-se necessário o voto afirmativo
de 9 membros do Conselho. Desta forma, se qualquer dos cinco membros permanentes der um
voto negativo (veto), a resolução não passa. Vide 27(3), cada membro permanente do CS tem
direito a veto em questões não processuais.
(4) O efeito do art. 27(3): O veto não se aplica em questões processuais. Então, como se
decide se a questão é processual ou não? Na Conferência de São Francisco, os quatro
poderes (EUA, URSS, UK e China) elaboraram uma lista de certas questões entendi das como
questões processuais (como, por exemplo, as decisões sob os arts. 28 - 32 da Carta, e
questões referentes à agenda) e questões não processuais (como, por exemplo,
recomendações para a solução pacífica das disputas, e as decisões para tomar enforcement
action). No caso de dúvida, a questão preliminar seria a questão não processual. Esse critério
resultou em duplo veto, O membro permanente do OS poderia vetar qualquer tentativa de tratar
a questão como processual, e, em, seguida, vetar qualquer proposta de resolução que trate
dessa questão.
Desde os primeiros anos da ONU, tem- se desenvolvido uma prática consistente de não
considerar as abstenções como vetos, e tal prática veio a ser legalmente reconhecida pela CIJ
no caso Namíbia (1971).
(5) Reforma do CS: Recentemente, a composição do CS, junto com o seu procedimento de
votação, têm sido criticados ardentemente devido à sua inadequação ao mundo moderno. A
questão da representação eqüitativa e do aumento do número de membros do CS tem sido
alegada pelos países não aliados e em desenvolvimento desde 1979. A Alemanha e o Japão
manifestaram o seu interesse pelo lugar permanente. No final de 1993, a AG decidiu
estabelecer o "Open-ended Working Group on the Question of Equitable Representation on and
In crease in fhe Membership ofthe Security Council' ' à vista do interesse pelos membros
permanentes. De fato, a questão da reforma do CS está ligada ao tato de que o CS aumentou
o seu papel na época denominada de post-Co/d War. De fato falta aos países permanentes do
CS transparência no processo de decisões, os quais ainda realizam reuniões secretas.
Praticamente, o CS funciona como se fosse um órgão privativo dos países ocidentais
industrializados, com a liderança dos EUA Esse fato por si só já justifica a necessidade da
reforma do CS.
(1) Orçamento: O orçamento da ONU gera o seu problema crônico. A ONU atualmente
encontra-se endividada, devendo algo em torno de US$ 2,8 bilhões - US$ 1,7 bilhões por
peace-keepíng operations e US$ 1,1 bilhões por orçamento regular. Particularmente, isso se
deve ao aumento das atividades da ONU após a Guerra Fria, com grandes despe sas geradas
pelas operações de manutenção de paz, que não são financiadas pelo orçamento regular.
Para solucionar os conflitos que podem surgir na sociedade internacional, já que a guerra
passou a ser proibida, segundo disposição do art 2°, 3 da Carta da ONU, artigo 2°, "b" da OEA,
a Conferência de Haia de 1899, o Pacto de Bogotá etc, é necessário que os Estados lancem
mãos dos mecanismos que são colocados à disposição pelo Direito.
Meios de solução das controvérsias:
1. Meios diplomáticos
b) Serviços amistosos - São prestados sem aspecto oficial por diplomata designado pelo
governo para que se chegue a um bom termo sem necessidade de maiores movimentações e
sem chamar a atenção da opinião pública. É uma classificação de Husek.
c) Bons Ofícios - É a tentativa amistosa de um terceiro, ou vários Estados, alheios aos conflitos,
no sentido de levar os Estados em litígio a chegarem a um consenso. Ocorre mediante
oferecimento aos litigantes ou por solicitação de um dos envolvidos no conflito. Ex.: o Brasil e a
Inglaterra valeram-se dos bons ofícios de Portugal (1864), na questão relativa à ocupação da
Ilha da Trindade por parte dos Ingleses.
Alguns autores classificam também, os Congressos e Conferências - algumas vezes o litígio diz
respeito a dois Estados com tendência a se generalizar, e por isso, os demais Estados se
reúnem em Congressos e Conferências para propor uma solução. Ex: Conferência de Algeciras
(1906), que evitou a guerra entre a Alemanha e a França por causa do Marrocos.
2. Meios jurisdicionais
A solução judiciária ao contrário da jurisdição arbitral, que conta com dois milênios de história, é
um fenômeno recente na sociedade internacional. A instituição pioneira foi a Corte de Justiça
Centro-Americana instituída em 20.12.1907 entre Costa Rica, El Salvador, Guatemala e
Honduras tendo durado 10 anos. A Corte Internacional de Justiça em Haia é o mais importante
tribunal internacional.
Silva e Accioly informam que a primeira aplicação da comissão de inquérito deu-se durante a
guerra russo-japonesa, em 1904, no conflito surgido entre a Inglaterra e a Rússia, por causa de
um incidente ocorrido no mar do Norte e outro caso relaciona-se ao afundamento do paquete
holandês Tubantia em 1916. Neste caso, a Holanda atribuiu o fato aos alemães que
rechaçaram as informações. Somente em 1921 os governos chegaram a um acordo e
submeteram o caso a uma comissão de inquérito.
Convém ressaltar que embora a conclusão do relatório não seja obrigatória para as partes,
estas se comprometem a não iniciar qualquer atividade bélica enquanto a comissão estiver
exercendo suas atividades.
3. Meios políticos
As soluções proferidas pela Assembléia Geral e pelo Conselho de Segurança das Nações
Unidas podem ser utilizadas como instâncias políticas de solução de conflitos internacionais. A
Carta da ONU faculta o acesso aos litigantes e a terceiros a qualquer dos seus dois órgãos
políticos para tentar compor os conflitos.
Tais órgãos têm competência para investigar e discutir situações conflituosas, expedindo
recomendações a respeito e em caso de ameaças à paz o Conselho tem o poder de agir
preventiva ou corretivamente, valendo-se até mesmo da força militar que os membros das
Nações Unidas mantêm à sua disposição.
4. Meios coercitivos
Dentre os meios coercitivos que são consagrados no direito internacional temos: a retorsão. a
represália, os embargos, o boicote e o rompimento das relações internacionais.
1) Retorsão - é o ato pelo qual um Estado que sofre uma lesão aplica a mesma medida para
seu agressor, ou seja, é a observância da lei de talião aplicada na ordem internacional. O
Estado revida o prejuízo ou dano de maneira idêntica sem utilizar de meios violentos como por
exemplo o aumento das tarifas alfandegárias sobre o produto de determinada procedência, a
interdição de acesso de portos de um Estado aos navios de outro Estado.
A distinção da represália para a retorsão consiste no fato de que aquela se baseia na existência
de uma violação de um direito enquanto que essa é motivada por um ato que o direito não
proíbe ao Estado estrangeiro, mas que causa prejuízo ao Estado que dela lança mão.
5) Rompimento das relações diplomáticas - pode ocorrer a ruptura das relações entre dois
Estados decorrente de uma violação de direitos como também para ser utilizado como
mecanismo de pressão de um Estado sobre outro Estado. Assim, quando não existe mais
diálogo entre as partes, há a entrega dos passaportes ao embaixador do Estado e a solicitação
da retirada de todo o corpo diplomático podendo resultar na guerra.