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RELATO DE PESQUISA

Assistência ao surdo
na área de saúde
como fator de

Assistência ao surdo na área de saúde


inclusão social

como fator de inclusão social

ASSISTANCE TO THE DEAF IN THE HEALTH AREA AS A FACTOR OF SOCIAL INCLUSION

ASISTENCIA AL SORDO EN EL ÁREA DE SALUD COMO FACTOR DE INCLUSIÓN SOCIAL

Neuma Chaveiro1, Maria Alves Barbosa2

RESUMO ABSTRACT RESUMEN 1 Fonoaudióloga especialista


Este estudo objetivou discutir a The purposes of this article are to En este estudio se tuvo como em linguagem pelo
Conselho Federal de
assistência ao surdo na área de discuss the assistance to deaf objetivo discutir la asistencia al Fonoaudiologia.
saúde como fator de inclusão people in the health area as a factor sordo en el área de salud como Fonoaudióloga do Centro
of social inclusion; to investigate factor de inclusión social; inves- Estadual de Apoio ao
social; investigar junto aos surdos Deficiente do Estado de
como se estabelece o vínculo com with the deaf how the link with tigar junto a los sordos, cómo se Goiás (CEAD). Intérprete
os profissionais da saúde; veri- health workers is established; and establece el vínculo con los profe- da Língua Brasileira de
Sinais (LIBRAS).
ficar percepções dos surdos quan- to verify the deaf people’s per- sionales de salud; verificar las neumachaveiro@ig.com.br
to à presença de intérpretes de ception of the presence of sign percepciones de los sordos en 2 Professora Doutora da
língua de sinais, quando recebem language interpreters when they cuanto a la presencia de intér- Faculdade de Enfermagem
da Universidade Federal
assistência à saúde. Pesquisa get health assistance. This is a pretes del idioma de señales de Goiás (UFG).Doutora
descritivo-analítica, com abor- descriptive and analytical survey cuando recibe asistencia a la em Enfermagem pela
dagem qualitativa realizada em with a qualitative approach carried salud. Investigación descriptivo- Universidade de São Paulo
– USP. Diretora e adminis-
uma escola especial em Goiânia. out at a special school in Goiânia. analítica, con abordaje cualitativo tradora da Faculdade de
A amostra constou de 20 alunos The sample was comprised of 20 realizada en una escuela especial Enfermagem da UFG.
surdos e a entrevista semi- deaf students, and semi-structured en Goiânia. La muestra constó de
estruturada foi utilizada para interviews were used to collect the 20 alumnos sordos y la entrevista
coletar os dados. Constatou-se que data. It was verified that the link semi-estructurada se utilizó para
o vínculo é estabelecido quando is established when health workers recolectar los datos. Se constató
os profissionais conseguem comu- are able to communicate with the que el vínculo se establece cuando
nicar-se com os surdos; a inclusão deaf. The inclusion of the deaf in los profesionales consiguen
do surdo nos serviços de saúde the health services is an evidence comunicarse con los sordos; la
evidencia dificuldades de comu- of difficulties in communication. inclusión del sordo en los servi-
nicação. Concluiu-se que a relação It was concluded that the pro- cios de salud evidencia dificul-
profissional cliente precisa ser fessional-client relationship must tades de comunicación. Se con-
melhorada; que o vínculo ocorre be improved, that the link occurs cluyó que la relación profesional-
quando o cliente se sente compre- when the client feels himself/ cliente requiere ser mejorada; que
endido e que a presença do intér- herself understood, and that the el vínculo ocurre cuando el cliente
prete melhora, mas não contribui presence of an interpreter se siente comprendido y que la
totalmente para a inclusão social improves but is not enough to presencia del intérprete mejora,
do surdo. ensure the inclusion of the deaf. mas no contribuye totalmente a
la inclusión del sordo.

DESCRITORES KEY WORDS DESCRIPTORES


Pessoas com insuficiência Hearing impaired persons. Personas con deficiencia
auditiva. Professional-patient relations. auditiva.
Relações profissional-paciente. Sign language. Relaciones profesional-paciente.

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Linguagem de sinais. Delivery of health care. Lenguaje de signos.
Prestação de cuidados de saúde. Prestación de atención de salud.

Recebido: 17/03/2005 Rev Esc Enferm USP


Aprovado: 27/07/2005 2005; 39(4):417-22.
INTRODUÇÃO ma eficaz é possível reconhecer as percepções de
Neuma Chaveiro
Maria Alves Barbosa dor ou prazer expressas pelo outro, por meio de as-
A inclusão social referente ao atendimento aos pectos verbais e não-verbais da comunicação(3-4).
portadores de necessidades especiais, nos servi-
A comunicação não-verbal é de extrema impor-
ços da área de saúde, estabelece-se como fator es-
tância no atendimento aos pacientes e permite a
sencial de qualidade dos serviços prestados, en-
excelência do cuidar em saúde, o profissional
quanto que a falta de comunicação inviabiliza um
que a reconhece adequadamente remete significa-
atendimento humanizado. A comunicação com os
do aos sinais não verbais potencializando suas
surdos surge como um desafio aos profissionais
interações(3).
que lhes prestam assistência à saúde.
Como são compartilhadas as experiências de
Compreender o processo de inclusão social que
atendimento dos surdos? A sua linguagem não-ver-
é proposto hoje à sociedade exige conhecimento da
bal é compreendida pelos profissionais da saúde?
história sobre como foram tratadas as pessoas com
O vínculo estabelecido é suficiente para garantir
deficiências, explicitada em quatro momentos dis-
uma assistência humanizada? Necessário faz-se
tintos, a saber: exclusão, segregação, integração e
ouvir a comunidade surda sobre essas questões.
inclusão.
Os surdos apresentam uma perda auditiva, pro-
No período compreendido entre o final do sécu-
blema de ordem sensorial, o que dificulta sua comu-
lo XIX até a década de 1940, a sociedade vivenciou
nicação pelas línguas orais, determinando a neces-
a política da exclusão e segregação. Na exclusão os
sidade de recorrer a um outro canal para se expres-
deficientes eram considerados inválidos, inúteis,
sar, a língua de sinais(5).
chegando, em algumas culturas, ao extermínio. Já
no século XX a fase da segregação se instaura, cri- As línguas de sinais são de modalidade vísuo-
aram-se grandes instituições para abrigá-los, em re- espacial ou espaço-visual, pois o sistema de sig-
gime de internato, um progresso da humanidade, nos compartilhados é recebido pelos olhos e sua
visando apenas ao bem-estar da pessoa com defici- produção realizada pelas mãos. As línguas de si-
ência, período eminentemente assistencial(1). nais são reconhecidas enquanto línguas pela lin-
güística, que lhes atribui o conceito de línguas na-
O movimento da integração ocorreu nas déca-
turais ou como um sistema lingüístico legítimo e
das de 1950 a 1980 contra a política de segregação,
não as considera como problema do surdo ou como
induzindo as pessoas com deficiência ao máximo
patologia da linguagem(6).
esforço para reverter o quadro e conseguir sua adap-
tação ao meio social. Em caso de êxito seriam inte- As línguas de sinais estão presentes nos cinco
gradas, ao contrário, continuariam à margem da continentes, mas não são universais, cada uma tem
sociedade(1). sua própria estrutura gramatical, sendo que com as
línguas de sinais é possível expressar qualquer con-
A fase de inclusão surgiu na década de 1980 e
ceito complexo, sutil ou abstrato. Elas possuem es-
está em plena discussão nos dias atuais. Surge a
truturas próprias que independem das línguas orais-
concepção de que a família e a sociedade devem
auditivas(7). As línguas de sinais são um sistema
adaptar-se às necessidades de todas as pessoas,
lingüístico altamente estruturado e tão complexo
sejam elas deficientes ou não. A imagem da pessoa
como as línguas faladas, estruturando-se neurolo-
com deficiência é de alguém que possa desenvolver
gicamente nas mesmas áreas cerebrais das línguas
e exercer sua cidadania, com autonomia e liberdade,
orais(8).
numa sociedade na qual ela tem direitos e sobre a
qual ele tem deveres(2). De acordo com o Ministério da Educação do
Brasil:
Conviver no universo das pessoas com defici-
ência envolve uma mudança de paradigmas. Para os As garantias individuais do surdo e o pleno exer-
surdos, as mudanças acontecem quando são acei- cício da cidadania alcançaram respaldo
tos e respeitados em suas diferenças e contar com a institucional decisivo com a Lei Federal nº 10.436,
presença de intérpretes da Língua Brasileira de Si- de 24 de abril de 2002, em que é reconhecido o
nais (LIBRAS), no atendimento aos surdos é exem- estatuto da Língua Brasileira de Sinais como lín-
gua oficial da comunidade surda, com implica-

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plo de valorização das diversidades.
ções para sua divulgação e ensino, para o aces-
O valor fundamental da linguagem está na rela- so bilíngüe à informação em ambientes
ção em que as pessoas se fazem entender umas às institucionais e para a capacitação dos profissi-
Rev Esc Enferm USP onais que trabalham com os surdos(9).
2005; 39(4):417-22. outras. Quando compartilha-se experiências de for-
Cabe agora às instituições públicas e à socieda- OBJETIVOS
Assistência ao surdo
de de modo geral proporcionar meios para que a na área de saúde
inclusão social possa verdadeiramente acontecer. como fator de
- Discutir a assistência ao surdo na área de saú- inclusão social
Ressalta-se, aqui, a importância do Art. 3º da Lei de como fator de inclusão social;
Federal nº 10.436/02, descrito a seguir:
- Investigar, junto aos surdos, como se estabe-
As instituições públicas e empresas concessio- lece o vínculo com os profissionais quando neces-
nárias de serviços públicos de assistência à saú- sitam de atendimento na área de saúde;
de devem garantir atendimento e tratamento ade-
quado aos portadores de deficiência auditiva, de - Verificar percepções dos surdos quanto à pre-
acordo com as normas legais em vigor(9). sença de intérpretes de Língua de Sinais, quando
A linguagem é um instrumento de poder e aos recebe assistência à saúde.
surdos não pode ser negado o direito de usufruir os
benefícios de uma língua, portanto, aceitar a dife- MÉTODO
rença do surdo e conviver com a diversidade huma-
na é um desafio proposto à sociedade, incluindo o Este estudo de natureza descritivo-analítica, com
adequado atendimento na área da saúde para os abordagem qualitativa, foi desenvolvido na Escola
surdos, diante de suas necessidades. Especial Elysio Campos, que mantêm convênio com
a Associação de Surdos de Goiânia.
A barreira de comunicação é verificada na
interação entre surdos - profissionais de saúde, A pesquisa foi desenvolvida no início de 2004.
portanto, torna-se indispensável que ambos encon- A amostra estudada constou de 20 alunos surdos,
trem formas de interagirem-se para garantir uma as- com idade acima de 18 anos. O instrumento utiliza-
sistência de melhor qualidade(4). do para a coleta de dados foi uma entrevista, con-
tendo questões que abordavam aspectos do aten-
A jornalista Claúdia Werneck ressalta que a vio- dimento ao surdo na área de saúde, como: o vínculo
lação dos direitos de pessoas com deficiência é estabelecido com profissionais; as dificuldades de
maior do que podemos imaginar. Ao receber um gru- comunicação; fatos positivos e negativos relativos
po de alunos de medicina para entrevista sobre in- à assistência à saúde; a presença do intérprete de
clusão, um dos universitários relatou o seguinte fato: LIBRAS no atendimento, explicitando suas dúvi-
Havia, na ala de queimados do hospital público
das e percepções.
em que ele atuava, um homem bastante machu-
As questões foram explicadas e traduzidas em
cado, que praticamente não se queixava de dor,
LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais - a cada indi-
o que chamava a atenção de médicos, enfermei-
ros e atendentes. Ele não recebia visitas de fami-
víduo, e no decorrer da coleta surgiram outros da-
liares, amigos, era muito solitário. As anotações dos. Vale ressaltar que estes dados surgiram do pró-
em seu prontuário no que se referia a analgési- prio interesse dos surdos entrevistados, sem inter-
cos eram raríssimas, fato não compatível com ferência das autoras.
seu estado. Até que um médico resolveu escla-
recer este mistério e descobriu que este pacien- A técnica utilizada para análise de dados foi
te era surdo, não-oralizado, e sentia muita dor, análise de conteúdos, tipo análise temática, que
sim, só não conseguia expressar isso, por que,
consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’
imobilizado por causa das queimaduras, não
que compõem a comunicação e cuja presença
mexia as mãos nem outras partes de seu
corpo(10). ou freqüência de aparição podem significar algu-
ma coisa para o objetivo analítico escolhido(11).
Ser cidadão brasileiro, vivenciar a mesma cultu-
ra das pessoas ouvintes não garante aos surdos O trabalho foi desenvolvido posteriormente à
atendimento igualitário na área da saúde, uma bar- aprovação de seu projeto no Comitê de Ética em
reira é imposta aos surdos e profissionais por não Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das
compartilharem uma mesma linguagem. Clínicas da Universidade Federal de Goiás, atenden-
do à resolução 196/96 da Comissão Nacional de Éti-
Uma proposta de atendimento inclusivo na área ca em Pesquisa – CONEP.
da saúde envolve, portanto, um sistema que identi-

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fique-se com princípios humanistas e cujos profis-
sionais tenham um perfil que seja compatível com
esses princípios.
Rev Esc Enferm USP
2005; 39(4):417-22.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os profissionais da saúde precisam aprender
Neuma Chaveiro
LIBRAS nos seus cursos de graduação. S18
Maria Alves Barbosa
Os resultados obtidos pela pesquisa promove- Se souberem LIBRAS como a ginecologista e os
ram uma série de conhecimentos sobre a assistên- enfermeiros tudo será mais fácil. S2
cia ao surdo na área da saúde, na visão dos própri-
os surdos. Por que, então, não se preparar? Para aceitar-
mos o surdo precisamos aceitar sua língua, sua
No intuito de não alterar e desfigurar o discurso forma de comunicar e entrosar-se com o mundo.
dos surdos optou-se por reproduzi-los na ínte- Cabe aos profissionais da saúde, às faculdades o
gra, traçando paralelamente análise e discussão importantíssimo papel de prepararem-se para essa
dos resultados, estabelecendo comentários e realidade.
considerações.
Não foram encontradas referências mostrando
Fala-se, cada vez mais, em inclusão das pessoas a existência, na grade curricular dos cursos superi-
com deficiência na sociedade. Percebeu-se que elas or de enfermagem, de disciplina que contemple as
não precisam “preparar-se” para a escola, o traba- condições de saúde dos deficientes, seus direitos e
lho ou o lazer, mas a sociedade deve adaptar-se para necessidades, o que possibilitaria um atendimento
atender às suas necessidades, trazer para dentro do humanizado aos surdos(13).
sistema os grupos de “excluídos” e, paralelamente,
melhorar a qualidade de vida de todos. Pelo fato dos surdos muitas vezes não terem
problema visual, a escrita poderia ser uma alternati-
No presente estudo, em relação à assistência ao va, mas a realidade não é assim, para eles o portu-
surdo na área de saúde como fator de inclusão soci- guês é a segunda língua, e como qualquer língua
al os resultados foram: estrangeira, é difícil seu aprendizado. Deste modo,
um dos grandes desafios na área de educação é a
Agora está tudo melhor, uma surda minha amiga sua alfabetização. Portanto, a escrita como aponta-
deu-me um cartão de uma médica ginecologista
da por alguns surdos na pesquisa não é o caminho
que sabe LIBRAS, tudo ficou mais fácil e muito
ideal para eficácia do atendimento.
melhor, a comunicação foi estabelecida, não te-
nho mais dúvidas. (S2) Escrever apenas não resolve os problemas, é
necessário que eles expliquem. (S4)
Temos hoje um grande desafio: como cada indi-
víduo e profissional pode contribuir para a imple- Pensam que sabemos bem o português, e que só
mentação de uma sociedade inclusiva que saiba pela escrita revolveria tudo, mas não é assim. (S3)
conviver com as diversidades? Não importa que ati-
vidade profissional uma pessoa irá exercer, em dife- O direito à saúde é um bem fundamental, no
rentes situações ela deverá lidar com pessoas que entanto, para os surdos, esse direito parece não
têm deficiência: pacientes, alunos, leitores, funcio- estar sendo resguardado. Os depoimentos eviden-
nários, amigos, professores(12). ciam dificuldades de comunicação com os profissi-
onais da saúde, relatadas em 100% dos entrevista-
A necessidade dos surdos serem compreendi- dos (20 sujeitos).
dos pelos profissionais de saúde, torna-se visível
nos seus relatos: Em relação ao vínculo estabelecido com os pro-
fissionais da saúde os resultados foram:
Tive dengue e o médico não explicou. Sei que
Eu já estive doente e não fui ao médico, porque
tive porquê aqui na escola a professora falou
tive medo de não ser compreendida, tive que
que dengue dá febre, dor, mas eu não sabia que
esperar mais ou menos cinco dias para minha
doença era. (S17)
mãe chegar e ir comigo. (S4)
Tenho dificuldades. É muito difícil a comunicação
Quando precisava ir ao médico pedia para minha
com os profissionais da saúde. (S10)
irmã escrever o que eu estava sentindo, mostra-
va para o médico e ele me dava a receita. O
As pesquisas que abordam o uso da LIBRAS médico não explicava nada, eu ficava com mui-
pelos profissionais da saúde são poucas. Observa- tas duvidas, eles não entendem nossa vida. (S10)
se que o comportamento não verbal impede um vín-

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Rev Esc Enferm USP
culo efetivo entre cliente e profissional, portanto,
em sua formação é essencial o aprendizado da LI-
BRAS(4) como sugerem também os surdos neste
O bloqueio de comunicação entre surdos e pro-
fissionais da saúde instaura-se como um dos gran-
des obstáculos da comunidade surda, quando pro-
2005; 39(4):417-22. estudo. cura serviços de saúde. O indivíduo surdo precisa
ser assistido de forma global, respeitadas suas cren- Na hora de fazer a ficha é difícil, quando a secre-
Assistência ao surdo
ças, seus valores e diferenças(13). tária chama pelo nome é difícil. Bom é quando na área de saúde
chama pelo “placar” com números. (S1) como fator de
O profissional que norteia seu trabalho com uma inclusão social

práxis na assistência que valoriza a qualidade do As dificuldades começam com a secretária, não
consigo explicar porque estou ali. (S9)
cuidado em saúde, foi explicitado também nos de-
poimentos dos surdos. A falta de intérpretes de LIBRAS constitui-se
Encontrei uma médica ginecologista que não sabe
uma barreira nas instituições de saúde do Brasil, o
LIBRAS, mas tem paciência, explica, escreve, que torna ainda mais complicada a vida das pesso-
mostra figuras, ela é muito boa. (S14) as com surdez que procuram atendimento ou que
solicitam ajuda nestas instituições(12).
Quando era criança, o médico não deixava fazer
sinais, mandava ficar com a mão parada, tinha Não se concebe instituições que não ofereçam
que falar. Mas, agora melhorou muito, no consul- ao surdo, intérpretes e profissionais capazes de co-
tório posso usar LIBRAS. (S16) municarem-se com eles, da mesma forma que não se
concebe instituições que não tenham rampas ou ele-
As dificuldades de comunicação podem se tor- vadores. Não adaptar às necessidades dos grupos
nar uma barreira ao sucesso do atendimento. Mui- minoritários é um fator de exclusão social.
tas vezes com grandes dificuldades, os surdos con-
seguem apenas descrever seus sintomas, caracteri- Em relação a percepção dos surdos quanto a
zados então como objeto da prática de saúde(4). presença dos intérpretes de LIBRAS os resultados
foram:
Refletir sobre os entraves causados por um diá-
logo ineficiente poderá evitar desordens mais com- Com ele fica mais fácil, mas é preciso ter confi-
plexas como o fato ocorrido com um dos sujeitos. ança no intérprete. (S10)

Tive apendicite (...). Meu esposo também é sur- Precisa de mais intérpretes, que possam acom-
do, (...). No primeiro hospital que fui deram-me panhar os surdos, mas não por piedade. (S14)
remédio e falaram que podia voltar para casa
que não era nada sério. A dor só aumentava, Na coleta de dados observou-se que os surdos
procuramos outro hospital, não conseguiram nos valorizam a presença do intérprete, mas com algu-
entender, aplicaram uma injeção (...). Já não su- mas ressalvas: a confiança, o tempo disponível, o
portava de tanta dor, foi quando chegou em casa constrangimento de se expor frente ao intérprete,
nossos amigos, um casal de surdos, eles tinham sentimentos de piedade, enfim...
carro, fomos buscar uma sobrinha minha, ouvin-
te, para ir junto ao hospital, só assim recebi aten- É difícil depender da boa vontade e do tempo dos
dimento. Fui operada, o apêndice supurou. Fiquei intérpretes, por isso vou sozinho. (S13)
internada 9 dias, ninguém pôde ficar comigo, es-
Tinha vergonha de expor algumas coisas na fren-
tava sozinha, os profissionais do hospital não
te do intérprete. (S5)
sabiam conversar comigo, passei mal, chorei,
tudo sozinha. (S3)
Observamos a dificuldade de encontrar intérprete
Este relato mostra que ainda vivenciamos a ex- para uma assistência em saúde, ficando a responsa-
clusão na assistência à saúde oferecida aos surdos, bilidade sobre a família do surdo.
uma “sociedade para todos” que valorize a diversi- Preciso ir sempre com um parente, irmão ou mãe,
dade, está a desejar. mas eles não sabem LIBRAS. É difícil. (S1)

A força da legislação não tem sido suficiente Eu tenho uma filha que hoje é intérprete, mas
para atingir a sociedade brasileira no que se refere à antes tudo foi muito difícil. Para os outros surdos
inclusão. Avançamos, mas ainda continuamos pen- que não têm a mesma sorte que eu é difícil. (S19)
sando e agindo no âmbito do conceito da integração,
as pessoas precisam estar prontas para conviver A presença do intérprete de LIBRAS para sur-
nos sistemas sociais(1). dos é essencial, mas não prepara o profissional para
uma inclusão efetiva. No dia em que o tradutor falta,
A boa ou má interação é claramente percebida não está disponível para acompanhar os surdos, ou
quando os surdos procuram atendimento à saúde,

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mesmo até quando se faz presente, pode dificultar a
as imposições para adaptarem-se ao sistema são interação: paciente-profissional da saúde, embora a
grandes, e, não conseguindo, estão absolutamente contratação do profissional intérprete seja correta,
exclusos. As dificuldades têm início na sala de ressente-se a ausência de uma reflexão mais apro- Rev Esc Enferm USP
espera. fundada sobre a diversidade, porque reduz o seu 2005; 39(4):417-22.
alcance ao limite de providência pontual, des- dar em saúde. O bloqueio de comunicação prejudi-
Neuma Chaveiro
Maria Alves Barbosa contextualizada de uma verdadeira perspectiva da ca o vinculo entre profissionais da saúde e surdos,
inclusão(12). comprometendo o atendimento.

A comunicação é indicativo de qualidade de Imagina-se que a presença do intérprete soluci-


vida, portanto, quando os profissionais sabem co- onaria todos os problemas de comunicação, entre-
municarem-se com os surdos, promovem uma as- tanto, verifica-se que nem sempre é assim que ocor-
sistência na área de saúde humanizada e focalizada re. A atuação do intérprete melhora, mas não contri-
no contexto de uma sociedade inclusiva. bui totalmente para a inclusão do surdo.

Diante desse panorama a realização deste estu-


CONCLUSÃO
do foi importante e oportuna. As percepções dos
surdos em relação aos atendimentos no sistema de
Na sociedade atual preconiza-se a convivência saúde, constituem-se de dados imprescindíveis para
com as diferenças. Várias medidas são adotadas nas sua inclusão social, respeitando e valorizando as di-
instâncias Federal, Estaduais e Municipais, asse- ferenças, melhorando conseqüentemente a qualida-
guradas pela Constituição Brasileira, tentando ga- de da assistência em saúde.
rantir a inclusão das pessoas com surdez no cotidi-
ano familiar, coletivo e institucional. Aos profissio- A discussão da assistência à saúde, como fator
nais da saúde torna-se indispensável buscar novos de inclusão social, não se encerra neste estudo,
paradigmas que facilitem promover uma assistência mas sinaliza para a necessidade de novas pesqui-
à saúde de qualidade e humanizada. sas que sensibilizem e esclareçam os profissionais
da saúde para bem atender à comunidade surda.
A relação profissional da saúde e cliente surdo
precisa ser melhorada, porque para os surdos o aten- Responder às dificuldades dos surdos quando
dimento digno é atingido quando são compreendi- procuram atendimento à saúde é dever de todos
dos em suas necessidades, efetivando assim a in- profissionais comprometidos em colaborar na cons-
clusão na saúde. trução de uma sociedade inclusiva.
A comunicação estabelecida com os surdos, ins-
taura-se como um dos grandes obstáculos do cui-

REFERÊNCIAS

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