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ISBN 8 5 - 3 5 2 - 1 4 4 8 - 8
Edição original: ISBN 0 5 2 1 5 3 4 0 X X
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
L245p
2,ed. Landes, David S., 1924-
Prometeu desacorrentado: transformação tecnológica e
desenvolvimento industrial na Europa ocidental, desde 1750
até os dias de hoje / David S. Landes; tradução de Marisa Motta.
- 2. ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2 0 0 5
il.
04-3349. C D D - 338.094
C P U - 3 3 8 . 1 (4)
0 5 06 0 7 0 8 09 5 4 3 2 1
•
CAPÍTULO 2
A Revolução Industrial
na Inglaterra
c
V Y ^N o século X V I I I , u m a série de i n v e n ç õ e s t r a n s f o r m o u a indústria de algodão
na Inglaterra e d e u o r i g e m a u m n o v o m o d o de p r o d u ç ã o - o sistema fabril.
,. ( r D u r a n t e esses anos, o u t r o s ramos da indústria realizaram progressos c o m p a r á -
Ve
is e, j u n t o s , a p o i a n d o - s e m u t u a m e n t e , possibilitaram n o v o s benefícios,
^ rc n u m a perspectiva cada vez mais ampla. A q u a n t i d a d e e a variedade dessas i n o -
t^ vações quase inviabiliza sua e n u m e r a ç ã o , mas é possível agrupá-las sob três
princípios: a substituição da habilidade e d o esforço h u m a n o pelas m á q u i n a s -
^ r á p i d a s , constantes, precisas e incansáveis; a substituição de fontes animadas de
en
e r g i a p o r f o n t e s inanimadas, e m especial a i n t r o d u ç ã o de m á q u i n a s para
c o n v e r t e r o calor e m trabalho, p r o p o r c i o n a n d o ao h o m e m acesso a u m s u p r i -
m e n t o n o v o e p r a t i c a m e n t e ilimitado de energia; e o uso de matérias-primas
novas e m u i t o mais a b u n d a n t e s , s o b r e t u d o a substituição de substâncias v e g e -
, ^ i s o u animais p o r m i n e r a i s /
^Esses aperfeiçoamentos, q u e constituíram a R e v o l u ç ã o Industrial, geraram
S ^ u m a u m e n t o sem precedentes na produtividade e, p o r conseguinte, u m a eleva-
y Ção substancial da renda per capita. A l é m disso, esse crescimento foi a u -
to
\ y "~ s u stentado, ao passo q u e e m épocas anteriores, a melhoria das condições de
vx vida, o u seja, de sobrevivência, sempre f o r a m acompanhadas p o r u m cresci-
mer
V " o d e m o g r á f i c o que, p o r fim, consumia os lucros obtidos. Nesse m o m e n t o ,
Primeira vez na história, tanto a e c o n o m i a c o m o o saber evoluíram c o m ra-
1(
/ v P iez suficiente para p r o d u z i r u m fluxo c o n t í n u o de investimentos e inovações
\ J t tecnológicas; u m fluxo q u e elevou para além dos limites visíveis o m a r c o das es-
tiniativas positivas de Malthus^ Desse m o d o , a R e v o l u ç ã o Industrial i n a u g u r o u
Uma era
r n o v a e promissora. Ainda t r a n s f o r m o u o equilíbrio de p o d e r d e n t r o das
na
X. Çoes, entre elas e as demais civilizações, r e v o l u c i o n o u a o r d e m social e m o d i -
1Cou a
maneira de pensar d o h o m e m , assim c o m o sua ação prática.
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y/y
° / v
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\
progressos p o d e r i a m ter s u p e r a d o a tenaz resistência dos trabalhadores à m e c a -
nização.
y
^ . / A s origens d o interesse empresarial pelas máquinas e pela p r o d u ç ã o fabril ^ „ J i j
ser buscadas na crescente inadequação dos antigos m o d o s de p r o d u ç ã o , v^ f
y t f _?nraizada e m contradições internas que, p o r sua vez, eram agravadas p o r forças ^ ^
««emas. ' v*
E n t r e esses sistemas pré-fabris de organização, os mais antigos f o r a m as ofici-
nas artesanais independentes, e m q u e u m mestre era, e m geral, assistido p o r u m
° u mais artífices o u aprendizes. Mas, já n o século XIII, essa i n d e p e n d ê n c i a p e r -
deu-se e m muitas áreas e o artesão passou a d e p e n d e r d o comerciante q u e f o r n e -
cia sua matéria-prima e vendia seu p r o d u t o . Essa subordinação d o p r o d u t o r ao
intermediário (ou, c o m m e n o s freqüência, dos p r o d u t o r e s fracos aos fortes) foi
uma conseqüência d o crescimento d o m e r c a d o . Antes, o artesão trabalhava para
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^ Jt
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São essas pessoas que respondem pelo grosso de vosso consumo; é para elas que
vossos mercados ficam abertos até mais tarde nas noites de sábado; porque, nor-
malmente, recebem tarde seu salário semanal (...). E m uma palavra, elas são a vida
de todo nosso comércio, em toda sua multidão: seus números não são centenas
ou milhares ou centenas de milhares, mas milhões; é por sua multidão, penso,
que todas as rodas do comércio são acionadas, a indústria e a produção da terra e
do mar, finalizadas, depuradas e adequadas aos mercados externos; é pela largueza
de seus rendimentos que eles são sustentados e pela grandeza de seu número que
se mantém o país inteiro; com seus salários, eles estão aptos a viver na fartura, e é
por seu estilo de vida dispendioso, generoso e livre que o consumo interno é al-
çado a tamanho volume tanto da nossa produção quanto da externa/
i
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V.
y '' fim da década de 1760 mas foi acentuada e persistiu até a década de 1790. 2 1
D a v i d Eversley m o s t r o u - s e contrário à aceitação simplista das exportações
^ c o m o o principal setor da e c o n o m i a e m processo de revolução: observando o
\/tV^ peso e a relativa estabilidade da d e m a n d a interna, ele afirma q u e só a existência
v i desse tipo de m e r c a d o confiável justificou e permitiu a acumulação de capital na
J y indústria. 2 2 P o r o u t r o lado ( c o m o e m muitas questões históricas, é lícito discutir
os prós e os contras), essa variabilidade das exportações constituiu, sem dúvida,
u m estímulo à m u d a n ç a e ao crescimento industriais. N ã o se trata apenas de q u e
o a u m e n t o marginal das vendas muitas vezes traduz a diferença e n t r e lucros e
perdas; o c o r r e q u e os surtos de d e m a n d a ultramarina i m p u s e r a m cargas abruptas
e rígidas ao sistema p r o d u t i v o , i m p i n g i r a m u m a situação de custos r a p i d a m e n t e
V»
crescentes às empresas e ampliaram o incentivo à transformação tecnológica. A
c" - ^ partir d o fim d o século X V I I I , os fluxos de i n v e s t i m e n t o p a r e c e r a m suceder-se
, . v ' aos a u m e n t o s das vendas n o e x t e r i o r . 2 !
A
r
D e qualquer m o d o , essa demanda crescente continha as sementes da dificul-
dade. T o d a forma de organização industrial traz e m seu âmago oportunidades de
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v p r o d u ç ã o esclarece o aspecto de d e m a n d a p o r i n o v a ç õ e s tecnológicas, ela n ã o
basta para explicar o aspecto da oferta, o u seja, as c o n d i ç õ e s q u e possibilitaram
J . c o n c e p ç ã o de n o v o s m é t o d o s e sua a d o ç ã o pela indústria. U m fato, c o n t u d o ,
é e v i d e n t e : se a G r ã - B r e t a n h a era o país q u e sentia mais p r o f u n d a m e n t e a i n a -
^ d e q u a ç ã o d o sistema e m vigor, ela n ã o era o ú n i c o . O s grandes c e n t r o s c o n t i -
(P nentais t a m b é m sofriam c o m a escassez de m ã o - d e - o b r a e c o m os abusos da i n -
dústria d o m i c i l i a r . C o m o j á m e n c i o n a d o , os tecelões e os industriais c o m e r -
ciantes da N o r m a n d i a , Verviers, R e n â n i a e Saxônia e r a m o b r i g a d o s a p r o c u r a r
o fio
para tecelagem e m lugares cada vez mais distantes, muitas vezes e n f r e n -
t a n d o , nos países p r o d u t o r e s , leis q u e p r o i b i a m sua e x p o r t a ç ã o para os c o n c o r -
rentes. T a m p o u c o foi essa a p r i m e i r a vez na história e m q u e a d e m a n d a p r e s -
sionou i n t e n s a m e n t e a capacidade de fabricação artesanal e domiciliar: na Itália
e na Flandres medievais, dificuldades análogas h a v i a m surgido, sem p r o v o c a r
u m a r e v o l u ç ã o industrial.
^ O p r o b l e m a p o d e ser analisado sob dois aspectos: as condições q u e regeram
i n v e n ç ã o dos mecanismos p o u p a d o r e s de m ã o - d e - o b r a e as q u e d e t e r m i n a r a m
.y" a a d b ç ã o desses mecanismos e sua difusão na indústria.
- / c m relação ao p r i m e i r o e n f o q u e , parece claro, e m b o r a difícil de d e m o n s -
trá-lo, q u e existia na Inglaterra d o século X V I I I u m nível de qualificação técnica
mais elevado e u m interesse m a i o r pelas máquinas e " e n g e n h o c a s " d o q u e e m
qualquer o u t r o país da E u r o p a ^ I s s o n ã o d e v e ser c o n f u n d i d o c o m o c o n h e c i -
m e n t o científico; apesar de alguns esforços para relacionar a R e v o l u ç ã o I n d u s -
trial à revolução científica dos séculos X V I e X V I I , esse elo parece ter sido e x -
t r e m a m e n t e difuso: ambas refletiram u m interesse m a i o r pelos f e n ô m e n o s n a t u -
rais e materiais e u m a aplicação mais sistemática da investigação empíricaJtMa
verdade, o a u m e n t o dos c o n h e c i m e n t o s científicos d e c o r r e u e m grande parte
das p r e o c u p a ç õ e s e conquistas da tecnologia; h o u v e u m fluxo m u i t o m e n o r de
idéias o u m é t o d o s n o sentido inverso e isso persistiria n o século X I X . 3 2 ' '
/ T u d o isso torna ainda mais misteriosa a questão da aptidão mecânica inglesa.
^ d e p o i m e n t o dos observadores c o n t e m p o r â n e o s a esse respeito é a m b í g u o : al-
t^f guns consideravam os ingleses criativos, além de artesãos s u m a m e n t e talentosos;
°Utros os
encaravam c o m o simples imitadores inteligentes; n ã o há indícios, a n -
tes das grandes inovações d o século X V I I I , de qualquer reservatório e x c e p c i o -
nal de talentos nessa esfera. S e m dúvida, havia os construtores de m o i n h o s , os
J ^ ° j o e i r o s , os marceneiros e outros artesãos cuja experiência de c o n s t r u ç ã o e
. engenhosidade os capacitava a serem os mecânicos de u m a n o v a era. Mas a
_Inglaterra n ã o era o ú n i c o país d o t a d o de tais artesãos, e apesar disso e m n e n h u m
outro l u g a r e n c o n t r a m o s essa safra de invenções//
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A Revolução Industrial na Inglaterra
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larga escala, contratantes de trabalho domiciliar q u e tiveram u m a experiência
direta na indústria, e até p e q u e n o s p r o d u t o r e s i n d e p e n d e n t e s c o m u m a p o u p a n -
ça suficiente para modificar seus m é t o d o s e expandir seu negócio. Assim, dos
110 cotonificios f u n d a d o s nas Midlands n o p e r í o d o de 1769 a 1800, 62 f o r a m
fundados p o r negociantes de artigos de malha, tecidos e linhas, e fabricantes
provenientes de outros distritos ou de outros ramos da indústria têxtil. 4 1 Essa
a c u m u l a ç ã o prévia de riqueza e experiência foi u m fator f u n d a m e n t a l na rápida
adoção das inovações tecnológicas - c o m o a c o n t e c e u nas indústrias siderúrgica
e q u í m i c a / A g o r a fechamos o círculo: as invenções surgiram, e m parte, p o r q u e o
crescimento e a prosperidade da indústria tornaram-nas imperativos; e o cresci-
m e n t o e a prosperidade da indústria c o n t r i b u í r a m para possibilitar sua utilização
p r e c o c e e a m p l a m e n t e disseminada.
/ T o d a essa a r g u m e n t a ç ã o serve para enfatizar u m a premissa importante: n ã o
V^Y» o capital, p o r si só, q u e possibilitou o rápido progresso da Inglaterra. O di-
\v nheiro, sozinho, poderia não ter feito nada; na verdade, nesse aspecto, os e m -
^ presários d o c o n t i n e n t e , que muitas vezes p o d i a m contar c o m subsídios diretos
ou privilégios monopolistas advindos d o Estado, estavam e m m e l h o r situação
Çiue seus pares ingleses. O q u e distinguiu a indústria britânica, c o m o já m e n c i o -
namos várias vezes, foi u m a excepcional sensibilidade e receptividade às o p o r t u -
nidades pecuniárias. Tratava-se de u m p o v o fascinado pela riqueza e p e l o c o -
mércio, coletiva e i n d i v i d u a l m e n t e /
A razão dessa inclinação pessoal m e r e c e u m a pesquisa. C o m certeza, esse f e -
n ô m e n o estava estreitamente relacionado, c o m o causa e efeito, c o m a já assina-
lada abertura da sociedade; e esta, p o r sua vez, estava ligada à posição e ao caráter
^peculiares da aristocracia.
V 7 M Inglaterra n ã o tinha nobreza, n o sentido dos outros países europeus. H a -
via u m c o n j u n t o de pares, c o m p o s t o de u m p e q u e n o n ú m e r o de pessoas p o r t a -
doras de títulos de nobreza, cuja prerrogativa essencial e quase única era a possi-
bilidade de se sentar na Câmara dos Lordes. Seus filhos eram plebeus. Muitas v e -
zes, de fato, recebiam títulos de cortesia e m sinal de sua o r i g e m elevada, mas n ã o
diferiam, e m sua c o n d i ç ã o civil, dos outros ingleses. M e s m o os Pares d o R e i n o
tinham apenas os mais m o d e s t o s privilégios: o de serem julgados p o r nobres
c o m o eles e m processos criminais, p o r e x e m p l o , o u o direito de acesso direto ao
soberano. N ã o gozavam de imunidades fiscais.
Abaixo da nobreza situava-se a p e q u e n a aristocracia, o u a chamada fidalguia
rural - u m g r u p o a m o r f o , sem definição o u posição legal, q u e n ã o tinha e q u i v a -
entes n o c o n t i n e n t e . Seus limites e r a m indistintos e suas classes t i n h a m u m a
c
° n s t i t u i ç ã o frouxa e h e t e r o g ê n e a . Alguns p e q u e n o s aristocratas e r a m de ascen-
dência n o b r e ; outros haviam feito fortuna n o c o m é r c i o , nas profissões liberais
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L
uJ tí S '
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ção das propriedades, a eliminação das áreas sem cultivo, a escolha e a rotação
mais produtivas das culturas, a r e p r o d u ç ã o seletiva de rebanhos, m e l h o r d r e n a -
gem fertilização, e o cultivo mais intensivo. Ainda é controvertida a rapidez
c o m q u e essas novas técnicas difundiram-se o u a presteza c o m q u e se seguiram
às demarcações. Mas, é evidente, que tanto a divisão territorial q u a n t o as m e l h o -
rias subseqüentes e m sua utilização custaram dinheiro: n o início, para despesas
legais, estradas, valas e cercas; e, p o r fim, para construções, e q u i p a m e n t o s , d r e -
n a g e m e matérias-primas. Infelizmente, n ã o dispomos de n ú m e r o s relativos à
área afetada, mas as estatísticas parciais disponíveis - a demarcação de áreas culti-
váveis e n ã o cultiváveis p o r decreto parlamentar, p o r e x e m p l o - sugerem que,
de 1760 a 1815, a Inglaterra d e m a r c o u milhões de acres, n u m a redistribuição
c u j o custo inicial foi de mais de p o r acre e c u j o custo adicional se situou e n -
tre £ 5 e £ 2 5 p o r acre, d e p e n d e n d o d o estado original d o solo e da natureza de
sua utilização. 7 0 Esses investimentos f o r a m compensadores, c o m o m o s t r a m o
a u m e n t o da p r o d u ç ã o e dos aluguéis das terras unificadas. Mas é b e m possível
que, nas primeiras décadas de demarcação intensa, o u seja, e x a t a m e n t e nos anos
q u e t a m b é m assistiram ao nascimento da indústria m o d e r n a , a lavoura inglesa
estivesse r e c e b e n d o tanto capital q u a n t o fornecia; ao passo q u e n o p e r í o d o de
1790 a 1814, q u a n d o os preços dos alimentos subiram a níveis recordes, o fluxo
líquido dos recursos p r o v a v e l m e n t e dirigiu-se para a terra. A grande c o n t r i b u i -
ção da agricultura para a industrialização o c o r r e u depois de 1815, q u a n d o tanto
a delimitação territorial q u a n t o a abertura de terras marginais t o r n a r a m - s e mais
lentas, e os proprietários e arrendatários c o l h e r a m os frutos dos esforços p r e c e -
dentes. C o n t u d o , m e s m o nessa época, esses lucros d e p e n d i a m da p r o t e ç ã o
c o n t r a o m i l h o estrangeiro e, p o r t a n t o , n ã o f o r a m u m acréscimo l í q u i d o à
p o u p a n ç a gerada pela e c o n o m i a . A o c o n t r á r i o , eles e r a m o b t i d o s à custa de
u m a certa alocação e q u i v o c a d a dos recursos e, p o r mais a b u n d a n t e s e c o m p e n -
sadores q u e fossem, talvez t e n h a m sido inferiores ao q u e a terra teria p r o p o r c i o -
n a d o e m c o n d i ç õ e s mais competitivas. A i n d a assim, foi graças às d e m a r c a ç õ e s
e ao q u e é, às vezes, c h a m a d o de " R e v o l u ç ã o A g r í c o l a " q u e a Inglaterra resis-
tiu, c o m o o fez o " e s t a d o estacionário" de R i c a r d o , ao ciclo d o c r e s c i m e n t o e
da a c u m u l a ç ã o , e m q u e a pressão p o p u l a c i o n a l sobre a oferta de a l i m e n t o s e l e -
vara o custo da subsistência e, p o r t a n t o , dos salários, de m o d o q u e os industriais
n ã o mais c o n s e g u i a m ter lucros e a riqueza da n a ç ã o escoava, c o m o u m alu-
guel, para os proprietários da terra.
O m e s m o p a d r ã o p a r e c e ter p r e v a l e c i d o e m o u t r o s países e m p r o c e s s o de
industrialização, e m b o r a seja arriscado fazer c o m p a r a ç õ e s precisas e n t r e as
estimativas a p r o x i m a d a s d e f o r m a ç ã o d e capital a t u a l m e n t e disponíveis. N o
q u e c o n c e r n e à França, t e m o s os resultados e x p e r i m e n t a i s d o g r u p o de p e s -
quisa d e J e a n M a r c z e w s k i , d o Institut de S c i e n c e É c o n o m i q u e A p p l i q u é e ,
q u e p r o p õ e u m a taxa l í q u i d a m é d i a e x t r e m a m e n t e baixa para a F r a n ç a d e 3 %
d o p r o d u t o i n t e r n o l í q u i d o , até os anos d o i m p u l s o f e r r o v i á r i o da década de
1840, q u a n d o ela se eleva para 8%; só n o S e g u n d o I m p é r i o , c o m u m a c o n s -
t r u ç ã o a i n d a m a i o r d e ferrovias e extensas m e l h o r i a s u r b a n a s , é q u e a p r o p o r -
ção a u m e n t a para 12,1%. 7 5
Q u a n t o à A l e m a n h a , infelizmente, não dispomos de n ú m e r o s relativos ao
p e r í o d o anterior à década de 1850. Nessa ocasião, a mineração, a indústria pesa-
da e a r e d e ferroviária estavam todas e m rápida expansão; m e s m o assim, a taxa de
f o r m a ç ã o líquida de capital nas décadas decorridas de 1850 a 1870 foi, e m m é -
dia, inferior a 10%. 7 6
y - / E m geral, há boas razões para crer que, até m u i t o r e c e n t e m e n t e , os e c o n o -
^ mistas e historiadores da e c o n o m i a t e n d e r a m a exagerar a importância da f o r m a -
ção d e capital c o m o m o t o r d o crescimento e c o n ô m i c o . As pesquisas mais r e -
\ r centes m o s t r a m q u e o a u m e n t o de capital responde apenas p o r u m a p e q u e n a
>V fração dos a u m e n t o s do p r o d u t o agregado; na verdade, o insuino d o c o n j u n t o
' de fatores tradicionais da p r o d u ç ã o - terra, m ã o - d e - o b r a e capital - d e s e m p e n h a
• j
u m papel minoritário n o processo geral. 7 7 D e o n d e viriam esses a u m e n t o s , e n -
tão? Eles p a r e c e m derivar da qualidade dos insumos - da m a i o r p r o d u t i v i d a d e da
nova tecnologia e das qualificações e c o n h e c i m e n t o s superiores de empresários
e trabalhadores. E nesse p o n t o , mais u m a vez, c o m o vimos, a Inglaterra da R e -
volução Industrial foi especialmente favorecida/
VV* ^ i n o v a ç õ e s tecnológicas são apenas u m a parte da história. Persiste a ques-
tão de saber o p o r q u ê d o seu efeito.//Uma o r d e m institucional é u m sistema
r' t r e m a m e n t e c o m p l e x o e elástico; n e m t u d o p o d e ser c o n v u l s i o n a d o . Apenas
m u d a n ç a s de u m a certa qualidade e alcance teriam c o n s e g u i d o transformar o
m o d o de p r o d u ç ã o e dar início a u m processo a u t o - s u s t e n t a d o de desenvolvi-
mento econômico.
A fabricação de quase todos os p r o d u t o s têxteis p o d e ser d e c o m p o s t a e m
q u a t r o etapas principais: preparação, na qual o material é separado, lavado e
p e n t e a d o , para q u e as fibras estendam-se e m sentido paralelo; fiação, e m q u e as
fibras soltas são estiradas e torcidas de m o d o a f o r m a r u m fio; tecelagem, e m q u e
parte dos fios é estendida ao c o m p r i d o (a urdidura) e a outra parte (a trama) c o r -
re transversalmente p o r cima e p o r baixo dos fios longitudinais, para f o r m a r o
tecido; p o r fim, o a c a b a m e n t o , q u e varia consideravelmente c o n f o r m e a n a t u r e -
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duzir até 15 vezes mais do que o artesão doméstico. 8 3 Àquela altura, a meta pa-
recia consistir m e n o s e m acelerar a máquina do que e m simplificar sua operação,
para q u e u m a só pessoa pudesse manejar mais unidades ao m e s m o t e m p o : e m
1833, u m j o v e m c o m u m assistente de 12 anos era capaz de operar quatro teares
e produzir o equivalente a 20 vezes a produção de u m trabalhador manual. 8 4 /
/fesas cifras são u m produto de impressões, e não de uma coleta padronizada
de informações. N o entanto, transmitem uma imagem geral da defasagem cres-
J" cente entre a máquina e o h o m e m , u m descompasso refletido nas estatísticas, t a m -
v. b é m aproximadas, dos teares mecânicos e m funcionamento na Grã-Bretanha:
v 2.400 e m 1813, 14.150 e m 1820, 55.500 em 1829, 100.000 e m 1833 e 250.000
e m meados do século. 8 5 E m contraste, o n ú m e r o de tecelões e m teares manuais
declinou, embora e m u m ritmo que demonstrava a obstinação e a tenacidade de
^ / h o m e n s que não estavam dispostos a trocar sua independência pela disciplina mais
b e m remunerada das o f i c i n a s / N a década de 1810, seu n ú m e r o elevou-se para
cerca de 250 mil e manteve-se nesse patamar por mais uma década, embora os sa-
lários houvessem caído mais de 50%; em 1830, esses últimos atingiram u m m í n i -
m o , aparentemente irredutível, de aproximadamente 6 shillings por semana. As
duas décadas seguintes viram o desgaste reduzir os tecelões - apesar do recruta-
m e n t o de imigrantes irlandeses, cujo nível de subsistência era ainda mais baixo do
que o dos artesãos ingleses - a u m remanescente de 40.000. É provável que m u i -
tos, senão a maioria deles, fossem empregados apenas e m horário parcial, perma-
n e c e n d o c o m o mão-de-obra de reserva para a eventualidade de uma demanda in-
c o m u m . U m a dúzia de anos depois restavam, talvez, uns 3 mil.
Persiste u m aspecto a ser sublinhado sobre o padrão de desafio e resposta. A
proeminência das invenções na fiação e na tecelagem tendeu a obscurecer a i m -
portância desse princípio e m todos os estágios da fabricação têxtil. E m particu-
lar, teria sido impensável mecanizar a fiação sem acelerar de forma correspon-
4ente os processos preliminares de lavagem, cardagem e preparação da mecha.
O século XVIII assistiu, portanto, ao desenvolvimento de t o d o u m c o m p l e x o
vr de máquinas pré-fiação, ligadas, e m combinações racionalmente calculadas, ao
' / ^filatório c o n t í n u o e à fiadeira automática; era c o m u m os primeiros construtores
' de equipamentos v e n d e r e m seus produtos e m conjuntos, o u "jogos", que
/ , abrangiam as várias etapas da fabricação, desde a fibra bruta até o fio. O s proces-
sos d e
/ acabamento t a m b é m foram transformados: já não era viável alvejar os te-
cidos e m grandes terrenos ao ar livre, pois a quantidade produzida era maior do
q u e as terras disponíveis. A resposta estava n o uso de agentes químicos: muitas
vezes, n o início, ácido sulfúrico; a partir da década de 1790, o cloro. D o mesmo
m o d o , a estamparia c o m cilindros foi introduzida e m Londres, n o lugar da es-
tamparia c o m blocos, e m 1783; o processo de cilindros era c o n h e c i d o há algum
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dio) p o r m e i o d o ácido sulfúrico (cuja utilidade foi assim muitas vezes multipli-
cada), e o subseqüente a q u e c i m e n t o da pasta de sal n u m a mistura c o m carvão
mineral e c a r b o n a t o de cálcio (geralmente sob a f o r m a de calcário), para p r o d u -
zir soda cáustica e resíduos.
O s p r o d u t o r e s ingleses que, sem dúvida, t i n h a m c o n h e c i m e n t o do processo
de Leblanc n o fim d o século X V I I I , d e m o r a r a m a adotá-lo; a fabricação e m lar-
ga escala só c o m e ç o u e m 1823. O s estudiosos c o s t u m a m atribuir essa d e m o r a
aos efeitos d o i m p o s t o sobre o sal; mais i m p o r t a n t e do que isso, p r o v a v e l m e n t e ,
era o acesso c o n t í n u o da Inglaterra às fontes vegetais tradicionais, associado ao
conservadorismo dos usuários de álcali, que relutaram e m substituí-lo pelo p r o -
d u t o sintético m e s m o depois que James Muspratt o t o r n o u disponível a u m p r e -
ço favorável. 1 1 5 E m contraste, a França, que ficou desprovida da barrilha espa-
n h o l a d u r a n t e as guerras napoleônicas, iniciara a fabricação comercial e m 1808
e, após u m a década, produzia 10 mil a 15 mil toneladas da soda de Leblanc p o r
ano. 1 1 6 U m a vez superada a resistência inicial, a p r o d u ç ã o britânica de álcali sin-
tético teve u m a u m e n t o espetacular, passando das poucas centenas de toneladas
de 1820 para quase 140 mil toneladas e m 1852. (A p r o d u ç ã o francesa, nessa últi-
ma data, talvez fosse de 45 mil toneladas). Esse a u m e n t o foi a c o m p a n h a d o p o r
u m a queda acentuada n o preço da soda; os cristais, p o r e x e m p l o , passaram d o
p r e ç o m á x i m o de £ 5 9 p o r tonelada durante a guerra para £ 3 6 . 1 0 p o u c o antes
d o s u r g i m e n t o de Leblanc, e para £ 5 . 1 0 e m m e a d o s d o século.
/ E m v i r t u d e da importância de grandes v o l u m e s de matérias-primas na i n -
V dústria química - e r a m necessárias dez a 12 toneladas de ingredientes para fabri-
c a r u m a tonelada de soda - , a indústria teve u m a localização b e m definida prati-
" c a m e n t e desde o início. O s três centros principais eram a área de Glasgow e as
margens d o Mersey e do T y n e . O primeiro orientou-se, a princípio, para a i n -
dústria têxtil local. Sua situação e m termos de recursos não era tão sólida q u a n t o
a dos outros dois locais, e sua importância contínua foi u m t r i b u t o à criatividade
técnica e à energia comercial da firma de T e n n a n t . Essa empresa construiu sua
f o r t u n a c o m base n o p ó b r a n q u e a d o r e, a partir dele, ramificou-se para a fabrica-
ção de ácidos, álcalis, fertilizantes e p r o d u t o s correlatos. N o c ô m p u t o geral, foi a
m a i o r p r o d u t o r a química d o m u n d o nas décadas de 1830 e 1840, e suas instala-
ções gigantescas e m St. R o l l o x , c o m sua altíssima c h a m i n é de 139 m e t r o s para
dispersar os vapores tóxicos m u i t o acima da zona rural, c o m p u n h a m a m a i o r fa-
brica química d o m u n d o .
A região de M e r s e y era favorecida pela disponibilidade de carvão, de u m
lado, e de sal, d o o u t r o , além de u m a rede de excelentes vias navegáveis e da
p r o x i m i d a d e d o m a i o r m e r c a d o têxtil d o m u n d o . Seu principal p r o d u t o era a
soda cáustica, cuja acessibilidade p r o m o v e u a m a n u f a t u r a correlata de sabão: e m
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e s t a v a m c o n v e n c i d a s , e m razão das m a r a v i l h o s a s i n v e n ç õ e s da c i ê n c i a e da t e c -
nologia, pela massa e variedade crescentes dos b e n s materiais, pela v e l o c i d a d e d e
l o c o m o ç ã o cada v e z m a i o r e p e l o c o n f o r t o das atividades cotidianas, q u e esta-
v a m v i v e n d o n o m e l h o r dos m u n d o s possíveis, e mais, e m u m m u n d o q u e m e -
l h o r a v a a c a d a d i a . P a r a esses i n g l e s e s , a c i ê n c i a e r a a n o v a r e v e l a ç ã o ; e a R e v o l u -
ção Industrial foi a prova e a justificativa da religião d o progresso,
O s " p o b r e s " e " t r a b a l h a d o r e s " , s o b r e t u d o os g r u p o s marginalizados ou
o p r i m i d o s pela indústria m e c a n i z a d a , p o u c o diziam, m a s t i n h a m s e m d ú v i d a ,
outra opinião.
NOTAS
. t
1
• O critério de adequação seria, para os propósitos deste livro, os custos marginais. A elevação
ac
e n t u a d a dos custos unitários de u m ou mais fatores da p r o d u ç ã o , sob condições de a u m e n t o
de demanda, implicaria u m a o p o r t u n i d a d e e u m incentivo para o progresso tecnológico.
2- E m sua discussão sobre a m u d a n ç a da indústria urbana para a rural, P. M a n t o u x e m The
Industrial Revolution in the Eighteenth Century (Londres, 1928), p. 6 4 - 6 , assinala q u e o sistema
de contratação era o resultado da decadência d o q u e ele descreve c o m o " m a n u f a t u r a d o -
méstica", o u seja, a indústria domiciliar dispersa, c o m o a e n c o n t r a d a e m Yorkshire. C o m
freqüência, c o m o observamos, esse fato era verdadeiro, mas ainda mais f r e q ü e n t e , p r o v a v e l -
mente, a contratação fosse o p r o d u t o da iniciativa comercial b u s c a n d o novas fontes de
m ã o - d e - o b r a e i n t r o d u z i n d o a população rural n o circuito comercial.
3
- H . L. Gray, " T h e P r o d u c t i o n and E x p o r t a t i o n o f English W o l l e n s in t h e F o u r t e e n t h
C e n t u r y " , English Historical Review, X X X I X (1924), 32.
4
- p - D e a n e , " T h e O u t p u t o f t h e British W o l l e n Industry in the E i g h t e e n t h C e n t u r y " , J .
Econ. Hist. X V I I (1957), 220. Essas cifras são derivadas de pressupostos feitos sobre i n f o r m a -
ções da época e, p o r t a n t o , são dados a p r o x i m a d o s . Mas é essa tendência q u e nos interessa
a
qui. A esse respeito, c o m p a r a r o c r e s c i m e n t o mais lento da região de V e r v i e r s - H o d i m o n t
Perto de Liège, u m dos centros de fabricação de lã mais e m p r e e n d e d o r e s d o c o n t i n e n t e . P.
Lebrun, L'industrie de la laine à Verviers pendant le XVIUe et le début du XIXe siècle (Liège,
l948
) . p. 5 1 8 - 1 9 . O b s e r v a r t a m b é m a diferença e n t r e a p r o d u ç ã o de Y o r h s h i r e (esses dados
quantitativos são citados e m : T. S. Ashton, An Economir History of England: the Eighteenth
Century (Londres, 1955), p. 2 4 9 - 5 0 ) e a região de Verviers.
^ J H . C l a p h a m , " T h e T r a n s f o m i a t i o n o f t h e W o r s t e d Industry f r o m N o r f o l k to the W e s t
R i d i n g " , Econ.J. X X (1910), 203. Eric M . Sigsworth, Black Dyke Mills: a History: with Intro-
^ct0>y Chapters on the Development ofthe World Industry in the Nineteenth Century (Liverpool:
n
»versity Press, 1958), p. 17, reitera esse p o n t o de vista.
Para u
p' m a estimativa diferente, mas de certa f o r m a c o n d i z e n t e desse c r e s c i m e n t o , ver:
yllls
b D e a n e e W . A. C o l e , British Economic Growth 1688-1959: Trends and Structure ( C a m -
2^
d
g e , 1962), p. 5, n 2 3. Nesse m e s m o p e r í o d o , a p o p u l a ç ã o da França cresceu de cerca de
Para 27,5 milhões. E. Levasseur, La Population fiançaise. 3 vols.; Paris, 1889, I, 2 0 1 - 6 ,
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17. G . D . R a m s a y , English Overseas Trade during the Centuries ofEmergence (Londres, 1957), p-
247.
18. J . U . N e f a r g u m e n t o u e m diversos artigos q u e a adoção d o c o m b u s t í v e l m i n e r a l d e u u m
g r a n d e i m p u l s o à p r o d u ç ã o d e " q u a n t i d a d e e utilidade, mais d o q u e a elegância". V e r , inter
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1955), p. 205. Essa interpretação parece p ô r o carro diante dos bois. E m v i r t u d e de o traba-
l h a d o r preferir esse tipo de lazer e p o d e r usufruí-lo trabalhando a r d u a m e n t e d u r a n t e dois ou
três dias, esse esquema esporádico foi adotado; e não p o r q u e gostasse de trabalhar até esgotar
seus limites p o r alguns dias e precisasse de u m fim de semana p r o l o n g a d o para descansar. Essa
última premissa eqüivale a dizer q u e os alunos descansam d u r a n t e os três primeiros meses d o
p e r í o d o letivo d e v i d o ao "esforço i n t e n s o " q u e precisam fazer para os exames finais.
29. Travis, Notes...ofTopmorden and District (1896), p. 56, citado p o r W a d s w o r t h e M a n n ,
Cotton Trade, p. 399.
30. A. W . Coats, " C h a n g i n g Attitudes to L a b o u r in the M i d - E i g h t e e n t h C e n t u r y " , Econ.
Hist. Rev. 2 â série XI (1958), 4 6 - 8 .
31. Esse é f a m o s o t e s t e m u n h o de A r t h u r Y o u n g extraído de seu Six Months Tour Through the
North of England (4 vols.; Londres, 1770), III, 2 4 8 - 9 . Cf. Edgar S. Furniss, Tlie Position ofthe
Laborer in a System of Nationalism ( N e w H a v e n , 1920), p. 9 8 - 1 0 5 .
33. V e r a c o m p a r a ç ã o de Gabriel Jars de Sheffield, a indústria ainda era cerceada pelo sistema
das guildas e m 1 7 6 4 - 5 (embora o crescimento de determinadas indústrias tenha r o m p i d o es-
ses laços), e B i r m i n g h a m , o n d e qualquer h o m e m podia estabelecer-se e m qualquer n e g ó c i o ,
e n o m á x i m o 20% dos trabalhadores haviam realizado a d e q u a d a m e n t e seu aprendizado.
"Essa multiplicidade de negócios gerou t a m a n h a c o m p e t i ç ã o q u e cada fabricante o c u p a -
va-se sem cessar de inventar n o v o s meios de reduzir os custos da m ã o - d e - o b r a e, c o m isso,
a u m e n t a r seus lucros. Isso foi levado a tal p o n t o q u e parece impensável q u e a p r o d u ç ã o de
f e r r a g e m pudesse ser tão barata e m o u t r o lugar c o m o e m B i r m i n g h a m . " Chevalier, "La mis-
sion de Gabriel Jars", Trans. Newcomen Soe. X X V I ( 1 9 4 7 / 8 e 1 9 4 8 / 9 ) , 63.
34. É o caso de P e t e r E w a r t , filho de u m clérigo escocês; u m de seus irmãos foi ministro da
corte prussiana, o u t r o , m é d i c o , e o terceiro, sócio de J o h n Gladstone n o c o m é r c i o de Liver-
pool. D a d o seu talento e m mecânica, ele foi aprendiz de J o h n R e n n i e na construção de m o i -
n h o s . W . C . H e n r y , " A Biographical N o t e o f the Late P e t e r E w a r t , E s q . " . Memoirs ofthe
Litterary and Philosophical Society of Manchester, 2 a série, VII (1846). O u o de J a m e s W a t t , pai
d o f a m o s o i n v e n t o r : filho de u m professor de matemática, dignitário e tesoureiro da igreja
presbiteriana e m Cartsdyke (Escócia), foi aprendiz de u m m a r c e n e i r o e c o n s t r u t o r naval.
Seu i r m ã o f o r m o u - s e e m matemática e topografia. S. Smiles, Lives ofBoulton and Watt ( L o n -
dres, 1865), p. 8 1 - 3 . O u Charles T e n n a n t , filho de u m fazendeiro e " f e i t o r d o c o n d e de
G l e n c a i r n " , q u e foi aprendiz de u m tecelão. E. W . D . T e n n a n t , " T h e Early H i s t o r y o f t h e
St. R o l l o x C h e m i c a l W o r k s " , Chemistry and Industry, l 2 de n o v e m b r o de 1947, p. 667. N ã o
havia t a m b é m n e n h u m a desonra e m casar-se c o m u m artesão. V e r a genealogia da família
P i l k i n g t o n n o século X V I I I e início d o século X I X , e m T . C . Barker, Pilkington Brothers and
Glass Industry (Londres, 1960), p. 2 0 - 3 0 .
36. W m . Fairbairn, Treatise on Mills and Millwork (2 a ed.; 2 vols.; Londres, 1864).
37. Diversos autores enfatizaram o efeito i n c e n t i v a d o r das leis d e patentes, p o r é m , incli-
n o - m e a duvidar de sua importância. Esse tipo de p r o t e ç ã o n ã o era n o v o ; a base d o sistema
fora lançada pelo Estatuto dos M o n o p ó l i o s de 1624. N o p e r í o d o considerado aqui, o custo e
a dificuldade da o b t e n ç ã o de patentes a u m e n t a v a m sistematicamente. C f . W i t t B o w d e n ,
Industrial Society in England Towards the End ofthe Eighteenth Century ( N o v a Y o r k , 1925), p.
2 6 - 3 0 . A o m e s m o t e m p o , havia boas razões para d u v i d a r da eficácia das patentes contra c o n -
correntes obstinados, c o m o descobriram c o m pesar i n ú m e r o s inventores, e m u i t o s e m p r e s á -
rios confiavam mais n o sigilo d o q u e na lei.
C h a p m a n , The Early Factory Masters: The Transition to the Factory System in the Middlands Tex-
tile Industry ( N e w t o n A b b o t , 1967), p. 78.
42. C i t a d o p o r H . J. H a b a k k u k , " D a n i e l Finch, 2 n d Earl o f N o t t i n g h a m : His H o u s e and
Estate", e m J. H. Plumb (ed.), Studies in Social History: A Tribute to G. M. Trevelyan (Londres,
N o v a Y o r k e T o r o n t o , 1955), p. 156.
43. Isso dependia m u i t o da necessidade e da oportunidade. N a Escócia, a aristocracia rural era
p o b r e e tinha poucos direitos de preferência. A Igreja Anglicana lhe estava fechada; a perspec-
tiva de engajar-se nas batalhas da Inglaterra era p o u c o atraente; o comércio exterior e as colô-
nias ofereciam poucos empregos, até u m período b e m longo d o século. O s mais intelectuali-
zados p o d i a m preparar-se c o m o advogados, mas eram m u i t o poucos. Assim, muitos buscavam
seu sustento c o m o comerciantes, ou melhor, c o m o "mercadores". C o m o sublinhou H e n r y
G . G r a h a m e m seu estudo clássico, "...naquela época, o filho de u m cavaleiro julgava tão n a -
tural entrar n o c o m é r c i o q u a n t o era, para u m negociante rico, ascender socialmente além de
seus limites". The Social Life of Scotland in the Eighteenth Century, 4 a ed. (Londres, 1950), p. 33.
49. A. G o o d w i n (ed.), The European Nobility in the Eighteenth Century (Londres, 1953), p. 4.
50. Y o u n g , Traveis, I, 207.
51. C o n r a d Gill, Merchants and Mariners ofthe Eighteenth Century. Londres, 1961, p. 138.
52. Esse c o s t u m e era c o m u m tanto n o c o n t i n e n t e q u a n t o na Inglaterra. Mas as alianças entre
as classes são c o m u n s a todas as sociedades, exceto as de castas rígidas. O teste v e r d a d e i r o não
é a u n i ã o , mas seu resultado: quantas grandes famílias, nessas circunstâncias, gostariam de c o -
n h e c e r seus n o v o s parentes após o casamento?
59. Ashton, Iroti and Steel in the Industrial Revolution (2 a ed.; M a n c h e s t e r , 1951), cap. IX:
" T h e Ironmasters."
60- David C . M c C l e l l a n d , The Achieving Society (Princeton, 1961). Essa proposição foi c u i -
dadosamente examinada p o r M . W . Flinn, "Social T h e o r y and the Industrial R e v o l u t i o n " ,
em T o m B u r n s e S.B. Saul eds., Social Tlieory and Social Change (Londres, 1967), p. 9 - 3 2 .
Flinn e n c o n t r a diferenças significativas e n t r e os hábitos d e criação dos filhos das seitas dissi-
dentes: pelos critérios de M c C l e l l a n d , algumas eram m u i t o m e n o s voltadas para o inculca-
m e n t o da "necessidade de realização" d o q u e outras. Flinn julga as práticas dos metodistas
fracas, a q u e m M c C l e l l a n d atribui muita importância, e elogia os primeiros quacres e c o n -
gregacionistas. N a análise geral, ele t e n d e a conferir u m certo peso à tese de M c C l e l l a n d .
61
• Cf. a pesquisa d e E v e r e t t H a g e n , On the Theory of Social Change ( H o m e w o o d III., 1962),
P- 3 0 5 - 8 , baseada e m h o m e n s citados n o p e q u e n o clássico de Ashton sobre a R e v o l u ç ã o
Industrial.
6
2- O hcus classicus é Earl Hamilton, " P r o f i t Inflation a n d t h e Industnal R e v o l u t i o n " , Quart.
J- Econ. LVI (1941-42), p. 2 5 7 - 7 0 . V e r t a m b é m seu artigo anterior, " A m e r i c a n T r e a s u r e
a
° d the R i s e o f Capitalism, 1 5 0 0 - 1 7 0 0 " , Economica, IX, 1929, p. 3 3 8 - 5 7 , e sua resposta às
é t i c a s de J o h n U . N e f , " P n c e s and P r o g r e s s " J . Econ. Hist., X I I (1952), 3 2 5 - 4 9 .
63
- Ver a excelente análise desse problema e m David Felix, "Profit Inflation and Industrial
G
r o w t h : the Historie R e c o r d and Contemporary Analogies", Quart. J. Econ. L X X (1956),
P- 441-63. D e v e - s e observar que a maioria da elevação de preços da segunda metade d o sé-
cu
' o XVIII ocorreu na década de 1790. Felix afirma que essa expansão dos lucros foi resul-
ta
° t e de uma produtividade maior, e não de uma combinação de inflação de preços e queda
do
nível salarial. Isso é evidente: as indústrias que promoviam os progressos tecnológicos
ma
i s rápidos foram justamente aquelas cujos preços caíram e cujos salários nominais dos tra-
t a d o r e s (ou salários reais, nesse sentido) elevaram-se durante a maior parte desse período
(1760-1830). O s operadores dos filatórios mecânicos eram u m grupo privilegiado. A l é m
disso, existem consideráveis indícios diretos de que as margens de lucro dessas indústrias não
Ementaram a l o n g o prazo, mas, sim, atingiram u m pico c o m a introdução das inovações
PROMETEU DESACORRENTADO ELSEVIER
124
86. A m e l h o r fonte sobre essa questão é Eric Sigsworth, Black Dyke Mills: a History ofthe Wool
Manufacture in Englandfrom the Earliest Times (Londres, 1857). O u t r o m o t i v o para a mecaniza-
A Revolução Industrial na Inglaterra 127
ELSEVIER
ção mais lenta na fabricação da lã, comparada à d o estame, era o custo relativamente elevado
da matéria-prima. As cifras referentes a 1772 mostram q u e a lã e m rama respondia p o r 1 / 3 d o
valor d o p r o d u t o acabado n o r a m o de tecidos e por apenas 1 / 6 n o de estame. Portanto, a par-
ticipação da m ã o - d e - o b r a era m u i t o maior nesse último, e a e c o n o m i a potencial oferecida
pelo uso de equipamentos mecânicos eqüivalia a u m a p r o p o r ç ã o correspondente maior d o
preço total. Cf. D e a n e , " T h e O u t p u t of the British W o o l e n Industry", p. 215.
87. Treatise on Mills and Millworks Industries, 2 a ed. 2 vols. (Londres, 1864-5), II, p. 187 e 195.
88. H . H e a t o n , The Yorkshire Woollen and Worsted Industries ( O x f o r d : C l a r e n d o n , 1920), p.
357; Pari. Papers, 1857, sessão I, X I V , 180. Esse ú l t i m o refere-se ao c o n d a d o de Yorkshire
c o m o u m t o d o ; a grande maioria, c o n t u d o , encontrava-se n o W e s t R i d i n g .
107. Para cifras sobre o c o n s u m o de carvão e u m a discussão acerca das dificuldades estatísti-
cas envolvidas nesse processo, ver W . Stanley Jevons, The Coal Question (Londres, 1906), p-
145-9; t a m b é m C o n r a d Matschoss, Die Entwicklung der Dampfmaschine (2 vols.; B e r l i m ,
1908), I, 5 0 6 - 7 .
J
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133. Daniel D e f o e , Tour thro' the Whole Island of Great Britain, ed G D H Cole- 2 vols.
(Londres, 1927), p. 108.