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Glossário

Jaime L. Benchimol
Magali Romero Sá
(eds. and orgs.)

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BENCHIMOL, JL., and SÁ, MR., eds. and orgs. Adolpho Lutz: Sumário – Glossário – Índices =
Contents – Glossary – Indexes [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2004. 456 p. Adolpho
Lutz Obra Completa, v.1, Suplement. ISBN 8575410458. Available from SciELO Books
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 39

Glossário
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A
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 41

Ácido carbólico [C6H5OH]: ácido Power e seus colaboradores retiraram a


genericamente conhecido como fenol, casca das sementes, prensaram os
e também como álcool fenílico ou caroços e extraíram deles um óleo que
ácido fênico. Ocorre na forma de foi submetido a procedimentos
cristais incolores que se liquefazem com químicos juntamente com a massa
a adição de água. Funciona como resultante da prensagem das sementes.
escarótico local na forma concentrada, Conseguiram isolar vários compostos,
e como anestésico em soluções de 3 a entre os quais o ácido chalmógrico.
4%. Internamente, é um poderoso Realizaram, também, experiências com
corrosivo (sendo o azeite de oliva sementes das espécies Hydnocarpus
recomendado como antídoto). Usado wightiana e Hydnocarpus anthelmintica
como antisséptico e como desinfetante da mesma ordem da Taraktogenos
para fins médico-sanitários e cirúrgicos. kurzii, e Gynocardia odorata. Das duas
Fontes: Hawley, 1950; Houaiss, 2001; primeiras espécies obtiveram um ácido
Murray, 1910; Stedman, 1979. homólogo inferior, denominado ácido
hidnocarpo, cuja fórmula é C16H28O2. Da
Ácido chalmógrico [C18H32O2]: ácido Gynocardia odorata não conseguiram
graxo não-saturado, de aparência extrair o chamado óleo de chalmugra,
cristalina e incolor, solúvel em álcool, nem tampouco os ácidos chalmógrico e
encontrado entre os produtos de hidnocarpo. (Ver Chalmugra).
hidrólise dos glicerídios do óleo de Fontes: Grant, 1944; Parascandola, 2003;
chalmugra. Em 1904, o químico e Stedman, 1979.
farmacologista Frederick B. Power, à
frente dos Wellcome Chemical Ácido clorídrico [HCl]: cloreto de
Research Laboratories, realizou hidrogênio ou, ainda, ácido muriático:
experiências com sementes de em medicina, é utilizado como cáustico
chalmugra oriundas da espécie e em casos de acloridria (ausência de
Taraktogenos kurzii (posteriormente ácido clorídrico no suco gástrico). Em
denominada Hydnocarpus kurzii). fins do XIX, era muito usado no
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42 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

tratamento de úlceras cutâneas, em do ácido gálico. Tem múltiplas


casos de estomatite resultante do aplicações químicas e medicinais,
tratamento mercurial, em aftas, sendo empregado como antipruriginoso
candidíase, dispepsia, atonia estomacal, e, externamente, no tratamento de
tuberculose e afecções do fígado. psoríase, tinha microspórica e outras
Fontes: Houaiss, 2001; Paulier, 1882; afecções cutâneas.
Stedman, 1979. Fontes: Houaiss, 2001; Stedman, 1979.

Ácido ginocárdico: substância Ácido salicílico [HOC6H4COOH]: ácido


constituída pela mistura de ácidos usado na medicina e nas indústrias de
graxos extraídos por saponificação do fármacos e de corantes. Utilizado
óleo de chalmugra. De aspecto topicamente como agente ceratolítico
cristalino e pastoso, e coloração (descamativo), antisséptico e fungicida.
amarela, é solúvel em álcool, éter, Consta em Murray (1910) que este
clorofórmio, benzina etc. Foi ácido orgânico era também utilizado
empregado no início do século XX no como antipirético.
tratamento da lepra, da psoríase, do
Fontes: Houaiss, 2001; Stedman, 1979.
eczema e do lúpus. Aplicado por meio
de injeções subcutâneas, parecia ser
mais eficiente do que o óleo e mais bem Ácido tânico [C76H52O46]: Ácido
tolerado pelos pacientes. Segundo encontrado em vegetais, especialmente
Cardenal, trata-se de um óleo extraído na casca do carvalho e de outros
da Gynocardia odorata, espécie de membros da família das fagáceas. É
planta pertencente à família das muito usado como mordente em
bixáceas. Hackh, por sua vez, corantes de fotografia e na produção de
apresenta-o como produto da mistura papel, tintas e bebidas. Na medicina, é
dos ácidos do óleo de chalmugra com empregado como adstringente no
ácidos não-saturados extraídos das tratamento de diarréias e queimaduras.
sementes da Gynocardia odorata. Em fins do século XIX, o ácido tânico
Fontes: Cardenal, 1954; Grant, 1944; Littré tinha ampla aceitação como tônico e
& Gilbert, 1908; Parascandola, 2003. adstringente, externa ou internamente.
Neste último caso, destaca-se sua
utilização contra inflamações crônicas
Ácido pícrico [C6H2(NO2)3OH]: também da mucosa bucal ou faríngea e no
conhecido como ácido nitroxântico ou tratamento da angina diftérica, da
ácido carbazótico. Substância cristalina erisipela, das erupções herpéticas
e amarela usada para tratar crônicas e da pitiríase. Em associação
queimaduras, eczemas, erisipelas, com o benjoim, abortava pústulas
prurido e, ainda, como vermífugo. variólicas e atenuava cicatrizes
Empregada também como corante, disformes provocadas pela doença.
agente fixador e explosivo. É uma das Fontes: Houaiss, 2001; Paulier, 1882;
substâncias utilizadas na composição Stedman, 1979.
da coloração de Van Gieson.
(Ver Coloração de Van Gieson). Acrodinia: doença infantil causada
Fontes: Dorland, 1947; Stedman, 1979. quase que exclusivamente pela
intoxicação com o mercúrio, também
Ácido pirogálico [C6H3(OH)3]: o mesmo conhecida como eritredema; eritema
que pirogalol; substância obtida através acrodínico; doença rósea; doença de
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 43

Swift ou dermatopolineurite. Manifesta- empregado, também, como excipiente


se por eritema das extremidades, do de várias preparações farmacêuticas.
tórax e do nariz, polineurite e sintomas Fontes: Houaiss, 2001; Stedman, 1979.
gastrintestinais. Segundo Ferreira (1999),
a acrodinia apresenta fenômenos
Anasarca: patologicamente, é um
circulatórios (hipertensão arterial,
edema generalizado devido à infiltração
taquicardia) e neurológicos
de líquido seroso no tecido celular
(hipomotilidade, dor nas mãos e nos
subcutâneo de todo o organismo.
pés, apatia, fotofobia). Em 1926, era
Segundo D’Elia (1926), este estado
definida como doença caracterizada
pode ter origem num resfriamento, sem
por “formigueiros” dolorosos, causados
doença orgânica constituída,
por cereais e outros alimentos
sobrevindo com freqüência, no decurso
deteriorados (D’Elia).
da erisipela, no período da escamação
Fontes: D’Elia, 1926; Ferreira, 1999; do sarampo e da escarlatina. Aparece
Stedman, 1979.
constantemente na albuminuria, ou
doença de Bright, e no último período
Adenite: inflamação de uma glândula das doenças do coração. Anasarca
ou dos gânglios linfáticos (pequeno também é definida como o resultado de
órgão disposto em cadeias ou massas, doenças que acabam em caquexia e
especialmente no pescoço, axila e que tornam o sangue pobre, debilitando
virilha, que concentra linfócitos e o corpo. A pele torna-se luzidia, quase
acompanha o trajeto de um vaso sempre fria e de cor leitosa. O
linfático). Segundo D’Elia (1926), esta tratamento consistia no uso de
inflamação causava uma diuréticos, sudoríficos, purgativos e
descontinuidade da pele que dava regime lácteo. No campo da veterinária,
passagem a germes infecciosos; estes anasarca é uma doença de cavalos,
penetravam pelos vasos linfáticos e iam geralmente causada por infecção e
ocupar uma glândula, determinando caracterizada por edemas, que são
sua supuração. reabsorvidos na forma subaguda e
Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001. progressivos na forma hiperaguda. A
doença também ocorre em cães,
Ágar: polissacarídeo mucilaginoso, porcos, bois e carneiros.
também conhecido como ágar-ágar ou Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001.
gelose, usado para dar consistência
gelatinosa a meios de cultura de Anastomose: nome dado às
microrganismos. É também utilizado na comunicações entre dois nervos, à
indústria de alimentos, cosméticos, época em que se acreditava serem
farmácia, pilhas secas etc. Substância canais onde circulava um fluido nervo.
derivada da alga vermelha originária Em anatomia geral, usa-se o termo para
das costas tropicais asiática e designar a comunicação natural direta
australiana, especialmente de Java e do ou indireta entre dois vasos sangüíneos,
Sri Lanka. Em fins da década de 1880, o entre dois canais da mesma natureza,
ágar começou a ser importado pela dois nervos ou duas fibras musculares.
Europa, para atender à demanda dos Em patologia, consiste na junção ou
bacteriologistas, que passaram a usá-lo ligação mórbida entre dois espaços ou
como meio para as culturas órgãos normalmente separados.
microbianas. Na década de 1920 era Fontes: Houaiss, 2001; Littré & Gilbert, 1908.
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44 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

Anidrose: ausência ou diminuição do envolvendo Arning foi o exame e


suor. diagnóstico de lepra no sacerdote
Fontes: Houaiss, 2001; Landouzy & Jayle, católico belga Joseph Damien de
1902; Littré & Gilbert, 1908. Veuster, que, no entanto, não quis se
tratar com o médico inglês no Hospital
Arning, Edward Christian: filho de um de Kakaako. Divergências com Walter
mercador alemão estabelecido na M. Gibson, ministro das Relações
Inglaterra, Arning nasceu em Exteriores e presidente do Board of
Manchester, em 9 de junho de 1855. Health do reino do Havaí, levaram
Enviado para Hamburgo com 12 anos Arning a deixar o arquipélago em
de idade, ingressou no Gymnasium meados de 1887. Em Hamburgo, deu
Johanneum, onde permaneceu até prosseguimento às atividades como
1874. Nos dois anos seguintes dermatologista, chegando a tornar-se
freqüentou a Universidade de professor da especialidade na
Heidelberg como estudante de Universidade dessa cidade. Edward
medicina, doutorando-se na Christian Arning faleceu em Munique a
Universidade de Estrasburgo em 1879. 21 de agosto de 1936.
Iniciou a carreira como ginecologista Fontes: Tronca, 2000; www.204.
em Berlim, mas logo passou a se
dedicar à dermatologia e à Asma: segundo Stedman (1979), o
venereologia, tornando-se membro do termo era usado originalmente para
Instituto Dermatológico de Breslau em indicar “respiração difícil”, mas hoje
1881. Dois anos depois, recebeu do designa a asma brônquica, rejeitando-se
Instituto Humboldt, ligado à Academia outros usos, como asma cardíaca, asma
Real Prussiana de Ciência, a renal etc. Refere-se, assim, a uma
incumbência de viajar para o Havaí condição dos pulmões em que há
para realizar estudos sobre a lepra e estreitamento das vias aéreas em virtude
investigações etnográficas que de diferentes graus da contração
redundassem em novos materiais para (espasmo) da musculatura lisa, edema
as coleções da instituição prussiana. da mucosa e muco na luz dos
Arning chegou a Honolulu em 8 de brônquios e bronquíolos, alterações
novembro de 1883, e organizou um essas provocadas pela liberação, no
laboratório no Branch Leper Hospital, decurso de processo alérgico, de
em Kakaako. Dois episódios de grande espasmogênios e substâncias vasoativas
repercussão marcaram sua estada – histamina ou substância de reação
naquele arquipélago. O primeiro foi a anafilática lenta, por exemplo. Ocorrem
experiência realizada com o havaiano crises de dispnéia paroxística sibilante,
Keanu, que teve sua pena de morte acompanhadas de edema e
comutada para prisão perpétua sob a hipersecreção das mucosas das vias
condição de autorizar a inoculação de aéreas, em virtude de súbita contração
material leproso em seu organismo. dos músculos que comandam a
Vinte e cinco meses após a experiência, abertura e fechamento dos brônquios.
em outubro de 1886, apresentou Os acessos são acompanhados de tosse
manchas características da lepra e sensação de constrição, surgindo, em
nodular em todo o corpo, tendo sido geral, à noite, e persistindo horas, às
afetados também os nervos e as vezes dias e semanas. O tipo mais
glândulas linfáticas próximos ao local comum de asma é a bronquial alérgica,
da inoculação. O segundo episódio causada por reação específica a
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 45

substâncias comuns como poeiras, estimulante da respiração, no


pólen, ácaros etc. Os ataques de asma tratamento da asma e da dispnéia
ocorrem muitas vezes depois de cardíaca.
períodos de exercício intenso ou de (Ver Aspidospermina; Quebracho).
tensão emocional, ou associados à Fontes: Cardenal, 1960; Ferreira, 1999;
infecção de nariz e garganta, ou, ainda, Houaiss, 2001; Stedman, 1979.
a uma mudança climática. A maioria
dos asmáticos tem ataques periódicos, o Aspidospermina [C22H30N2O2]: alcalóide
ano inteiro. A asma grave é a mais indólico pentacíclico encontrado em
nociva das alergias respiratórias, e a que plantas do gênero aspidosperma, com
mais incapacita o doente, dificultando a ação vomitiva, irritante e antitérmica.
assiduidade no trabalho. O tratamento (Ver Aspidosperma).
da doença envolve o uso isolado ou Fontes: Cardenal, 1960; Ferreira, 1999;
simultâneo de adrenalina, aminofilina e Stedman, 1979.
efedrina, do HACT (hormônio
adrenocorticotrópico) e de cortisona,
Ateroma: lesão muito comum da fase
nos ataques mais graves. Na fase
avançada da arteriosclerose, formada
crônica, o médico procura identificar os
por uma placa fibrosa e gordurosa
fatores alérgicos e infecciosos para
situada na íntima (tecido que serve de
tornar o paciente menos sensível a eles.
revestimento a uma estrutura
(Ver Asma sintomática).
anatômica). Fonte da época de Lutz
Fontes: D’Elia, 1926; Ferreira, 1999;
(D’Elia, 1926) definia-o como “tumor de
Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss, 2004;
Stedman, 1979. retenção” caracterizado pela obstrução
do canal evacuatório de um folículo
piloso, “com participação das glândulas
Asma sintomática: o mesmo que asma
sebáceas” que deságuam no folículo.
reflexa ou pseudoasma, ocorrendo
Alimentação excessiva e distúrbios
como reflexo em doenças das vísceras,
endócrinos são fatores que podem
do nariz ou de outras partes do corpo.
favorecer o aparecimento do ateroma.
Pode designar qualquer variedade de
Fontes: Cardenal, 1947; D’Elia, 1926;
asma distinta da brônquica (asma
Encyclopædia Britannica, 2001; Larousse,
verdadeira), como asma diabética, 1971; Houaiss, 2001; Stedman, 1979; Wilson
artrítica, herpética, tóxica ou urêmica. & Reeder, 1993; www.86; www.104;
(Ver Asma). www.106; www.142.

Fontes: Cardenal, 1960; Stedman, 1979.


Atropina [C17H23NO3]: fármaco
Aspidosperma: designação comum do alcalóide cristalino extraído de plantas
gênero Aspidosperma, da família das da família das solanáceas (Atropa)
apocináceas, nativas de regiões como, por exemplo, a beladona,
tropicais das Américas, com oitenta empregado como agente obstrutor da
espécies, a maioria da América do Sul, ação fisiológica da acetilcolina
algumas de madeira nobre, muitas com (molécula neurotransmissora que atua
alcalóides e antimicrobianos. Produzem na passagem do impulso nervoso das
madeiras de utilidade industrial, como a células do sistema nervoso para a dos
peroba-rosa e o pau-cetim. músculos), como antispástico e
A casca seca do Aspidosperma dilatador da pupila. Por ser
quebracho blanco contém o princípio extremamente tóxico, só pode ser
ativo do quebracho, empregado como ingerida em doses mínimas, de 0,001 a
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46 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

0,003g, na maior parte das vezes como


sulfato de atropina. Quantidades mais
elevadas podem provocar estado
excitativo conhecido como “delírio
atropínico”, cujos sintomas são
bloqueio do sistema nervoso vegetativo,
agitação do sistema nervoso central
acompanhado de alucinações,
depressão, dificuldade de deglutição,
ressecamento das mucosas, taquicardia
etc., podendo evoluir até o óbito.
Fontes: Cardenal, 1947; Cardenal, 1960;
Larousse, 1971; Houaiss, 2001.

Azevedo Lima, José Jerônimo de:


médico brasileiro nascido em Campos
(RJ), em 1849, e falecido em 1912. Em
1879 ingressou no Hospital dos Lázaros
do Rio de Janeiro, onde chefiou o
serviço clínico por vários anos. Por
sugestão sua, foi criado nessa
instituição, em 1893, um laboratório
para estudos anatomopatológicos e
bacteriológicos relativos à lepra. Após
solicitar aposentadoria, foi substituído
por João Pizarro Gabizo, catedrático de
dermatologia na Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro. Em “A
lepra no Brasil” – trabalho que enviou à
Primeira Conferência Internacional de
Leprologia, realizada em Berlim, em
outubro de 1897, mas que não chegou
a ser publicado em seus anais –,
Azevedo Lima manifestou-se favorável
à tese da contagiosidade da doença a
pessoas sadias em “estado de
receptividade mórbida”.
Fontes: Lello, 1942; Souza Araújo, 1956.
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B
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 47

Bacilos: designação comum de muitas vezes responsáveis pelos


bactérias em forma de cilindro ou estragos de alimentos em conserva.
bastão pertencentes ao gênero Bacillus. Alguns antibióticos utilizados pela
Suas espécies, normalmente móveis, medicina são produzidos a partir desses
são gram-positivas, aeróbicas ou, sob microrganismos como a bacitracina (B.
certas condições, anaeróbicas. subtilis) e a polimixina B (B. polymyxa).
Encontradas em geral na terra e na (Ver Bactéria).
água, não produzem seu próprio Fontes: Encyclopædia Britannica, 2001;
alimento e nutrem-se de outros Houaiss, 2001; Stedman, 1979. See Bacteria.
organismos. Os bacilos têm como uma
de suas principais características a Bactéria: as bactérias fazem parte do
formação de esporos dormentes sob reino Monera, juntamente com as algas
condições ambientais adversas. Tais azuis ou cianofíceas, grupo que
endósporos permanecem viáveis na compreende seres unicelulares e
natureza, principalmente no solo, por procariontes (uma única célula
longos períodos, pois são resistentes ao desprovida de núcleo). Desde a época
calor, a substâncias químicas e à luz do de Adolpho Lutz, eram geralmente
sol. A espécie padrão do gênero divididas em quatro grupos, segundo
Bacillus é o B subtilis. Descrito em 1872 um critério morfológico: em forma de
por Ferdinand Cohn (1828-1898), é o bastão chamavam-se bacilos; em forma
responsável mais comum pela de bastão encurvado, vibriões; de
contaminação de culturas de espiral, espirilos; um tipo especial de
laboratório, sendo encontrado com espirilos eram as espiroquetas; as
freqüência na pele humana. Entre as bactérias arredondadas ganharam o
poucas espécies patogênicas destaca-se nome de cocos. Estas podem estar
o B. anthracis, causador do antraz em agrupadas em colônias: de dois cocos
humanos e animais domésticos. Outras são diplococos; de quatro, tétrade;
espécies, como o Bacillus cereus, são cocos em fileira, chamam-se
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48 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

estreptococos; e dois cocos em forma Doutor em medicina pela Universidade


de chamas de velas unidas pela base e de Berlim, em 1853, de Bary
em direções opostas, pneumococos. notabilizou-se por seus estudos sobre
Atualmente, as bactérias são agrupadas algas, mixomicetos e, sobretudo,
com base em novos critérios: reações fungos, que lhe granjearam o epíteto de
bioquímicas, composição química, fundador da moderna micologia.
estrutura celular e, à luz da biologia Interessado principalmente na
molecular, segundo suas características reprodução, sexualidade, morfologia e
genéticas e imunológicas. Muitas fisiologia dos fungos, afirmou em seu
bactérias causam doenças em plantas, primeiro e prestigiado livro –
no homem e em outros animais. Certas Untersuchungen über Die Brandpilze
bactérias causam grave intoxicação: und die durch sie verursachten
botulismo, quando se ingerem Krankheiten der Pflanzen mit Rücksicht
alimentos mal enlatados ou auf das Getreide und andere
conservados; e a salmonelose, causada Nutzpflanzen (1853) – que esses
pela ingestão de alimentos organismos eram os causadores de
contaminados. Microrganismos de vida muitas doenças de plantas, e não
livre ou parasita, as bactérias também excrescências delas, como se pensava.
são essenciais para o processo de Profundo conhecedor do ciclo e das
decomposição de matéria orgânica no características parasitárias dos fungos,
corpo, no solo e em outros meios. Até o de Bary foi um dos primeiros a estudar a
início do século XX, bactéria era interação parasita-hospedeiro, tendo
praticamente sinônimo de efetuado valiosas pesquisas sobre a
microrganismo, sendo a palavra, requeima da batata, a ferrugem do
portanto, aplicada com freqüência para colmo do trigo, a ferrugem da cevada e
designar qualquer organismo vivente de da aveia. Criador de diversos termos
dimensões microscópicas. A chamada utilizados nos estudos sobre fungos e
“era bacteriológica” inicia-se com Louis líquens – heteróico, esporídio,
Pasteur (1822-1895) e Robert Koch saprófitos, parasitos facultativos,
(1843-1910), mas fontes do início do simbiose etc. –, boa parte da
último quarto do século XIX indicam classificação que desenvolveu
que havia muitas controvérsias a permanece em vigor nas pesquisas dos
respeito da classificação das bactérias, micologistas modernos. De seus poucos
que, no século XX, eram qualificadas estudos acerca das bactérias, resultou a
como grupo de vegetais inferiores ou descoberta do esporo do Bacillus
como pertencentes à família das algas, magaterrium e a comprovação de que
fazendo parte do grupo dos cianobactérias não eram algas, o que
esquizomicetos. contribuiu para que as bactérias fossem
(Ver Esquizomiceto; Fungo). retiradas no reino Fungi. Dedicado ao
Fontes: Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss, magistério, de Bary ensinou botânica
2004; Landouzy & Jayle, 1902; Littré & nas universidades de Tübigen (1854),
Gilbert, 1908; Murray, 1910; www.31;
www.32.
Freiburg (1855-1869), Halle (1867-
1872) e Estrasburgo (1872-1888), tendo
sido o primeiro reitor desta última
Bary, Heinrich Anton de: botânico (1872).
alemão nascido em Frankfurt, em 26 de
Fontes: Encyclopædia Britannica, 2001;
janeiro de 1831, e falecido em Moura, 2002.
Estrasburgo, em 19 de janeiro de 1888.
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 49

Baunscheidtismo: método terapêutico (Ver Esporotricose).


desenvolvido por Karl Baunscheidt Fontes: Stedman, 1979; www.55.
(1809-1874), mecânico e construtor de
carruagens nascido em Endenich, perto
de Bonn. Sua terapêutica consistia na Biermer, Michael Anton: médico
introdução superficial de pequeno feixe alemão (1827-1892) que deu nome à
de agulhas e, em seguida, na fricção das doença de Addison-Biermer, também
áreas espetadas com óleo de cróton ou conhecida como anemia de Addison-
outro irritante. O objetivo era Biermer, anemia de Biermer-Ehrlich,
diagnosticar e curar doenças através da anemia de Hunter-Addison, anemia
erupção cutânea purulenta que essencial de Lebert, anemia perniciosa
melhorava rapidamente. O progressiva, doença de Biermer, anemia
Baunscheidtismo é uma versão bastarda de Biermer e ainda anemia aquílica
da acupuntura, técnica terapêutica macrocítica. A evolução outrora fatal
praticada originalmente por chineses e deu lugar ao prognóstico benigno
japoneses, fundada na correspondência depois do advento da vitamina B12
de certos órgãos com determinadas (cianocobalamina), usada sob a forma
áreas cutâneas. Esses pontos são de injeções intramusculares.
reunidos por linhas imaginárias, os A causa da doença é a insuficiente
meridianos. As indicações da absorção dessa vitamina provocada
acupultura são antes de tudo as pela falta de um fator produzido pela
perturbações funcionais e as diversas mucosa gástrica normal. Acredita-se,
manifestações dolorosas. assim, que resulte de um defeito do
estômago, com atrofia ou associação de
Fontes: Der Grosse, 1952-1960; Larousse,
1971; Stedman, 1979. carência desse fator ‘intrínseco’.
A doença é um tipo de anemia crônica
progressiva que ocorre com maior
Beurmann, Charles Lucien de: médico
freqüência dos cinqüenta anos em
francês (1851-1923) que descreveu a
diante, em adultos e idosos de ambos os
Doença de Beurmann, a forma gomosa
sexos. Manifesta-se através de
disseminada da esporotricose.
dormência e formigamento, fraqueza,
Doutorou-se em Paris e, em 1889,
língua sensível e lisa, tonturas, palidez
tornou-se chefe de serviço do hospital
da pele e das mucosas, anorexia,
de Lourcine, transferindo-se, depois,
diarréia, perda de peso, febre,
para o hospital Saint-Louis, onde
perturbações digestivas e, muitas vezes,
permaneceu até 1916. As numerosas
neurológicas. Os estudos de laboratório
viagens que fez ao exterior, sobretudo à
em geral revelam muita diminuição da
Pérsia, à Índia e ao Japão, deram-lhe a
hematimetria, baixos níveis de
oportunidade para estudar as doenças
hemoglobina, numerosos eritrócitos
ditas exóticas, em particular a lepra e a
macrocíticos, em associação com o
sífilis tropical. Beurmann distinguiu-se,
número predominante de megaloblastos
principalmente, por suas contribuições
e relativamente poucos normoblastos
ao conhecimento da esporotricose,
na medula óssea; a leucometria no
realizadas em colaboração com os
sangue periférico pode ser menor do
discípulos Louis Ramond e Henri
que a normal, com relativa linfocitose e
Gougerot. Publicou com Gougerot, em
neutrófilos multissegmentados. James
1912, Les sporotrichoses (Paris, F.
Scarth Combe (1796-1883) relatou um
Alcan), e, com Gougerot e Vaucher,
caso de anemia perniciosa em 1822.
trabalhos sobre o Mycoderma cutaneum.
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50 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

Outras descrições de casos isolados norte-americana, e o Paracoccidioides


foram realizadas por Sir Thomas brasiliensis, causador da blastomicose
Addison e Hermann Lebert, em 1849, sul-americana.
mas foi Michael Anton Biermer o autor (Ver Blastomicose norte-americana;
de descrição clássica, em 1868-1872. Blastomicose sul-americana).
Paul Ehrlich (1854-1915) distinguiu Fontes: Larousse, 1971; Stedman, 1979.
depois o tipo aplástico de anemia.
Fontes: Larousse, 1971; Stedman, 1979;
Blastomicose: termo que designa várias
www.70.
doenças infecciosas que acometem os
homens e outros animais, produzidas
Bizzozero, Giulio: membro do Instituto pelo desenvolvimento de fungos de
Vienense para a História da Medicina. diversas espécies, entre eles o
Giulio Bizzozero (Varese, 1846 – Turim, Blastomyces dermatidis e o
1901) foi professor de medicina geral na Paracoccidioides brasiliensis.
Universidade de Turim, fazendo desta (Ver Blastomicose européia;
um dos mais importantes centros de Blastomicose norte-americana;
estudos médicos da Europa. Estudaram Blastomicose sul-americana; Micose).
ou trabalharam em seu laboratório
Fontes: Houaiss, 2001; Stedman, 1979.
Edoardo Bassini, cirurgião que
aperfeiçoou a operação para a hérnia
inguinal (operação de Bassini); Carlo Blastomicose européia: nome usado, no
Forlanini, que introduziu o passado, para designar a criptococose.
pneumotórax como tratamento da (Ver Criptococose).
tuberculose pulmonar; e Antonio Carle Fonte: www.17.
e Giorgio Rattone, que demonstraram a
transmissibilidade do tétano. Bizzozero Blastomicose norte-americana: causada
também produziu trabalhos nas áreas pelo fungo Blastomyces dermatitidis,
da histologia e da saúde pública, do caracteriza-se por tumores supurados
controle da malária e da tuberculose. da pele (forma cutânea) e por lesões
Seus trabalhos mais destacados dizem pulmonares, ósseas, do tecido
respeito à descoberta das plaquetas subcutâneo, do fígado, baço e rins
sanguíneas e ao seu papel na (forma sistêmica). É encontrada nos
hemostasia, bem como à identificação homens, em cães e em outros animais.
da medula óssea como o centro de Não é transmissível de pessoa a pessoa.
produção celular. Os esporos do Blastomyces
Fontes: Encyclopædia Britannica, 2001; provavelmente penetram no organismo
Larousse, 1971; www.6; www.14.
através do trato respiratório, quando
inalados.
Blastomicetos: grupo de fungos A doença começa gradualmente com
patogênicos que se desenvolvem como febre, calafrios e sudorese profusa.
os levedos, por gemação. Em meio O indivíduo pode apresentar tosse
artificial, produzem, às vezes, micélio e produtiva ou não, dor torácica e
conídios. No passado, blastomicetos e dificuldade respiratória. A doença é
sacaromicetos eram considerados tratada com antibióticos antifúngicos
sinônimos, mas hoje os primeiros são (anfotericina B) que começam a dar
classificados entre as moniliares. A este resultados em uma semana,
grupo pertence o Blastomyces desaparecendo rapidamente o fungo.
dermatidis, agente da blastomicose
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 51

Sem tratamento, a infecção piora principalmente indivíduos do sexo


lentamente e leva à morte. É comum masculino entre 30 e 60 anos, sendo
nos Estados Unidos, mas raríssima na rara a incidência antes dos 14 anos de
América do Sul. Foi descrita por idade. Tem importância no âmbito da
Thomas Gilchrist em 1894, o que a saúde coletiva por incidir sobre a
torna conhecida, também, como micose população economicamente ativa e por
ou doença de Gilchrist. causar, com freqüência, seqüelas
(Ver Blastomicetos). graves, que impedem a volta ao
Fontes: Larousse, 1971; www.30; www.34; trabalho. Quando não é tratada,
www.58. geralmente evolui para o óbito. Por
muitos anos, prevaleceu o conceito de
Blastomicose sul-americana: causada que a infecção ocorria por implantação
pelo fungo Paracoccidioides do fungo na mucosa oral através de
brasiliensis, também é conhecida como traumas ocasionados pelo hábito de
doença de Lutz ou doença de Lutz- mascar diferentes tipos de vegetais.
Splendore-Almeida. O processo Atualmente, a via inalatória é
inflamatório localiza-se na submucosa, considerada a principal porta de
e apresenta-se na forma de infiltrado entrada da infecção. Em 1908, Adolpho
crônico inespecífico, revelando Lutz publicou observações que
microabscessos e granulomas de células inauguraram os estudos sobre a
epitelióides gigantes. Atinge a traquéia e blastomicose sul-americana, também
o linfonodo. Muitas vezes, ocorrem conhecida como blastomicose brasileira
lesões na mucosa oral, laringe e faringe. ou paracoccidioidomicose. Nesse
As lesões cutâneas resultam de primeiro trabalho, Lutz já separava esta
disseminação hematogênica do fungo, doença daquela descrita por Posadas e
e, em geral, estão relacionadas a Wernicke – a coccidioidomicose.
processo infeccioso de maior gravidade. (Ver Coccidioidomicose).
Estas lesões, de aspecto polimórfico, Fontes: www.3; www.33; www.56.
aparecem na face e em torno de
orifícios naturais do corpo, como boca, Boeck, Carl Wilhelm: Médico
nariz e ânus. Antibióticos associados a norueguês nascido em Kongsberg, em
repouso, dieta hiperprotéica e 15 de dezembro de 1808. Após
hipercalórica com suplementação freqüentar o Christiania Kathedralskole
vitamínica, são importantes para o e o Mollers Institut, estudou medicina
tratamento, ainda que a “cura” total seja na Universidade de Cristiânia,
ainda inalcançável para portadores de graduando-se em 12 de outubro de
paracoccidioidomicose, em razão da 1831. De suas atividades como médico
impossibilidade de erradicar-se o seu e professor, destacam-se os estudos
agente causador. As diferentes sobre doenças de pele e sífilis. Boeck
modalidades terapêuticas apenas inaugurou sua clínica dermatológica em
diminuem a quantidade de fungos no 1850. Dois anos depois, iniciou lá o
organismo, permitindo a recuperação tratamento da lues por meio da
da imunidade celular e restabelecendo sifilização. Desenvolvido por Joseph
o equilíbrio entre parasita e hospedeiro. Alexandre Auzias-Turenne (1812-1870)
A paracoccidioidomicose é uma micose a partir de experiências com animais,
sistêmica autóctone da América Latina. esse método teve no médico norueguês
De caráter endêmico entre as um ardoroso defensor. Consistia,
populações da zona rural, acomete basicamente, em repetidas inoculações
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52 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

com material extraído de lesões vezes, de lesões destrutivas tardias da


cutâneas iniciais provocadas pela sífilis, pele e dos ossos. A doença pode
até que o procedimento não suscitasse destruir a cartilagem do nariz, os ossos e
mais nenhuma reação. No que se refere as juntas, a ponto de tornar inválido o
à lepra, destacam-se as pesquisas paciente. A bouba pode ser curada com
realizadas por Boeck em conjunto com injeções de penicilina. O uso
Daniel Cornelius Danielssen (1815- generalizado dessa droga, desde a
1894), que resultaram no epônimo década de 1950, reduziu
doença de Danielssen-Boeck, uma consideravelmente o número de casos
forma de lepra caracterizada por em todo o mundo. Os espiroquetas da
hiperestesia seguida de anestesia, bouba, parecidos com os que causam a
ulceração, gangrena e mutilação Em sífilis, penetram no corpo através de
fins da década de 1860, Boeck viajou corte ou arranhão na pele, contraindo-
para a América a fim de estudar a se a doença na maioria das vezes pelo
prevalência dessa doença entre os contato com uma pessoa já infectada.
imigrantes noruegueses. Lente em Do ponto de vista morfológico, é
cirurgia, doenças de pele e sífilis na praticamente impossível diferenciar o
Kongelige Frederiks Universitet a partir Treponema pertenue do treponema da
de 1846, foi nomeado professor titular sífilis. Entretanto, ao contrário deste, o
de medicina na mesma instituição em da bouba não afeta o sistema nervoso
1851. Faleceu em Cristiânia (atual Oslo) central ou cardiovascular. Endêmica no
em 10 de dezembro de 1875, um ano início do século XX, a doença atingia
após ter ingressado no departamento de principalmente as regiões tropicais da
pele do Rikshospitalet – Hospital África e das Américas, as ilhas
Nacional de Pesquisas da Noruega. Polinésias, o Ceilão (Sri Lanka), a
(Ver Danielssen, Daniel Cornelius; Malásia e outras partes dos trópicos
Lepra). orientais. Nas regiões onde ocorria de
Fontes: www.230. forma endêmica, tornava-se
freqüentemente epidêmica.
Bolor: nome comum do mofo, (Ver Espiroqueta pertenue).
freqüentemente encontrado nas Fontes: Cardenal, 1947; D’Elia, 1926;
Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss, 2004;
superfícies das matérias orgânicas em Murray, 1910; Stedman, 1979; Veronesi,
geral, proliferando fungos dos gêneros 1982.
Mucor, Penicillium, Aspergilus etc.
(Ver Fungo). Breda, Achille: dermatologista italiano
Fontes: Cardenal, 1960; Stedman, 1979. (1850-1947), foi pupilo de Ferdinand
von Hebra, membro do Instituto
Bouba: também conhecida como buba, Vienense para a História da Medicina e
piã, rupia, botão de Amboína, presidente do Instituto Veneto di
framboesia, micose framboesióide, Scienze, Lettere ed Arti no período de
polipapiloma, granuloma tropical, 1926 a 1928. Estudou a bouba que, por
papiloma zimótico ou, ainda, doença isso, é chamada também de doença de
de Breda. Doença tropical contagiosa Breda.
causada pelo espiroqueta Treponema (Ver Bouba).
pertenue, caracteriza-se por lesões Fontes: Cardenal, 1947; www.14; www.15.
cutâneas seguidas de erupção
granulomatosa generalizada e, por
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 53

Brocq, Louis-Anne-Jean: dermatologista 1918), em Berlim. Em 1904, assumiu a


francês nascido em Laroque-Timbaut no chefia do departamento de
dia 1º de fevereiro de 1856. Concluiu o dermatologia em Urban-Krankenhaus,
curso de medicina em 1878 e recebeu e, a partir de 1906, foi chefe de
o título de doutor no ano de 1892, em dermatologia do hospital Rudolf-
Paris. Prosseguiu seus estudos com Jean Virchow, com 400 leitos destinados a
Alfred Fournier (1832-1915), Jean pacientes com doenças dermatológicas.
Baptiste Emile Vidal (1825-1893) e Essa vasta experiência clínica nutriu a
Ernest Henri Besnier (1831-1909). Em elaboração de numerosos artigos. As
1891, tornou-se médico do Hospício la doenças venéreas foram uma das
Rochefoucauld e, cinco anos mais tarde principais áreas de interesse de
do Hospital Broca, onde, com muito Buschke, sobretudo a sífilis e a
esforço, estabeleceu um departamento gonorréia. Vítima dos nazistas, foi,
de pesquisa dermatológica juntamente com sua esposa,
abundantemente equipado. De 1906 encarcerado no campo de
até sua aposentadoria em 1921, concentração Theresienstadt (Terezín),
trabalhou no Hospital Saint-Louis, no norte da Boêmia, Tchecoslováquia,
instituição em que exerceu intensa onde morreu de inanição em 1943.
atividade como professor. Líder da (Ver Blastomicose européia;
escola dermatológica francesa em seu Criptococose; Cryptococcus
tempo, Brocq foi membro da Academia neoformans).
de Medicina e autor do primeiro tratado Fontes: www.16; www.18.
de dermatologia em idioma francês,
Pratique dermatologique. Emprestou seu Busse, Otto: médico alemão nascido
nome a um grande número de em 1867, em Gühlitz, e falecido em
enfermidades, entre as quais a doença 1922, em Zurique, Suíça. Doutorou-se
de Brocq-Duhring ou Duhring-Brocq e em medicina em Greifswald
a síndrome de Brocq-Pautrier. Faleceu (Alemanha), em 1892. Dez anos depois,
na cidade de Paris em 18 de dezembro nessa mesma cidade, tornou-se
de 1928. assistente do Instituto Patológico, sob a
(Ver Doença de Duhring; Duhring, orientação de Paul Otto Grawitz. Em
Louis Adolphus). 1904, Busse assumiu a chefia do
Fontes: www.123. Departamento de Anatomia Patológica
do Instituto Higiênico existente em
Buschke, Abraham: dermatologista Posen. Tornou-se professor de anatomia
alemão (1868-1943), estudou em patológica em Zurique em 1911. Busse
Breslau, Greisswald e Berlim, é conhecido principalmente por suas
doutorando-se nesta última cidade em investigações sobre fungos patogênicos,
1891. Tornou-se professor titular da tendo publicado Die Hefen als
Universidade Friedrich-Wilhem, em Krankheitserreger (As leveduras como
Berlim, em 1908, e professor fungos patogênicos) em Berlim, em
extraordinário, em 1920, aposentando- 1897. Estudou a blastomicose européia
se em 1933. Foi assistente na clínica que, por isso, é chamada também de
cirúrgica chefiada por Heinrich doença de Busse-Buschke.
Helferich (1851-1945), em Greisswald; (Ver Blastomicose européia;
na clínica dermatológica de Albert Criptococose; Cryptococcus
Neisser (1855-1916), em Breslau; e neoformans).
ainda na de Edmund Lesser (1852- Fontes: www.25; www.55.
54 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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C
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 55

Canaca: natural ou habitante do Havaí. Cancro mole: também conhecido como


Designa também os nativos da Nova cancróide, cancro venéreo simples,
Caledônia e de outras ilhas da úlcera de Ducreyi, úlcera mole, úlcera
Melanésia, no Oceano Pacífico. venérea simples, ou, popularmente,
Fontes: Ferreira, 1999; Houaiss, 2001; como “cavalo”. Trata-se de uma
Webster, 1971. infecção aguda, tipicamente humana e
de transmissão sexual, causada pelo
Cancro duro: lesão típica da sífilis Haemophilus ducreyi, um cocobacilo
primária, caracterizada por ulceração gram-negativo, com as extremidades
dura e indolor, geralmente localizada arredondadas, de difícil crescimento em
na região genital. Constitui a primeira meios de cultura (mesmo em condições
fase da doença, que vai desde o ideais, apenas 65% têm o crescimento
desenvolvimento do cancro até o esperado). Somente em 1900 Fernand
surgimento da erupção. Inicia-se, Bezançon conseguiu cultivar esse
geralmente, cerca de um mês após o microrganismo em meios à base de
contágio e involui espontaneamente em gelose e sangue de coelho. A etiologia
três a cinco semanas. Durante muito do cancro mole foi objeto de intensa
tempo, as manifestações clínicas da disputa até a segunda metade do século
sífilis foram identificadas às da XIX. Enquanto alguns autores
gonorréria. Em 1838, o dermatologista sustentavam sua identidade com o
francês Phillippe Ricord (1800-1889) cancro sifilítico, outros afirmavam tratar-
estabeleceu as diferenças entre elas e se de nova patologia, originada de um
definiu os estágios primário, secundário germe singular. As características
e terciário da sífilis. Também chamado específicas da doença foram
cancro sifilítico ou lesão primária. estabelecidas por Léon Bassereau
(Ver Sífilis). (1810-1887) em Traité des affections de
Fontes: Bier, 1957; Houaiss, 2001; Landouzy la peau symptomatiques de la syphilis
& Jayle, 1902; Littré & Gilbert, 1908; (Tratado das afecções sintomáticas da
Stedman, 1979; Veronesi, 1982; sífilis na pele), e por Phillippe Ricord
Wyngaarden, 1992; www.164.
(1800-1889), em “Lettres sur la syphilis”
(endereçadas ao editor chefe da Union
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56 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

Médicale), ambos publicados em Paris, supuração e fistulização por um único


em 1852. Em 1889, o médico italiano orifício. As primeiras medicações
Augusto Ducrey (1860-1940) isolou o usadas, já na era dos antibióticos, foram
agente causador do cancro mole e as sulfas, depois, as tetraciclinas. O
conseguiu reproduzir no homem a custo é alto em virtude do emprego de
ulceração típica e todos os estágios da medicamentos caros, o que dificulta o
enfermidade. Ainda nesse ano, a tratamento em países pobres, como o
experiência de Ducrey foi reproduzida Brasil.
por Charles Nicolle (1866-1936), em O uso de eritromicina fornecida pelo
macacos. A existência do bacilo foi sistema de saúde pública é uma opção
comprovada também por Primo Ferrari boa para todos os casos da doença. Em
e Mannino De Luca, em 1889, e por razão de sua natureza, os parceiros
Paul Gerson Unna (1850-1929), em sexuais devem ser tratados
1892. A doença ataca principalmente a conjuntamente. Vacinas para cancro
genitália externa, mas pode mole estão em fase de desenvolvimento.
comprometer o ânus e, mais raramente, Considerada a principal doença
os lábios, a boca, a língua e a garganta. sexualmente transmissível antes do
Caracterizada por ulceração advento dos antibióticos, continua a ser
acompanhada de adenite infecciosa e a causa mais comum de úlceras genitais
abscesso ganglionar, a afecção tem nos países em desenvolvimento. Após a
nítido predomínio no sexo masculino, introdução das sulfonamidas houve
mas ocorre também em mulheres. queda vertiginosa de sua incidência,
Contagiosa por inoculação, dissemina- mas voltaram a aumentar os casos
se por meio do pus gerado no local da registrados em certos países a partir do
infecção. De quatro a cinco dias após o final da década de 1960. A doença
coito, surge uma pápula inflamatória permanece endêmica em muitas regiões
que evolui, em dois a três dias, para onde as condições sócio-econômicas
uma ulceração típica bastante dolorosa, são precárias, tendo a prostituição
que pode ser múltipla, mas na maioria importante papel em sua disseminação.
dos casos é única. Embora haja uma (Ver Cancróide; Sífilis).
associação entre cancro mole e sífilis Fontes: Bier, 1957; Brouardel & Gilbert,
em cerca de 10% das úlceras genitais, 1896; Cardenal, 1960; Dorland, 1947;
Houaiss, 2001; Murray, 1910; Stedman,
no caso do cancro mole estas 1979; Veronesi, 1982; Wyngaarden, 1992;
apresentam-se com uma consistência www.78; www.79; www.80; www.175.
não endurecida (mole), bordos
avermelhados e bem definidos, a pique,
Cancróide: que se assemelha ao câncer,
fundo sujo e purulento e odor fétido.
possuindo grau menor de malignidade.
Diferentemente da úlcera sifilítica, o
Termo usado, também, para caracterizar
cancróide não cicatriza
um epitelioma (tumor de natureza
espontaneamente. Não existe teste
epitelial), com tendência ao
sorológico que permita o diagnóstico
endurecimento, também referindo-se a
deste; o diagnóstico se faz clinicamente
neoplasia maligna (por exemplo,
pela identificação da úlcera
carcinoma de célula basal e outros).
característica surgida logo após o
O termo cancróide também é utilizado
contato sexual suspeito. Com o uso
como sinônimo da doença cancro
precoce de antibióticos, não ocorre
mole. (Ver Cancro mole).
progressão da adenopatia, mas em
Fontes: Cardenal, 1960; Houaiss, 2001;
casos não-tratados pode evoluir para Stedman, 1979.
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 57

Caquexia: termo que hoje define o grau difteria e bronquite fétida. É empregado,
extremo de enfraquecimento ou a falta também, a 5%, como desinfetante do
geral de nutrição e o desgaste que ambiente e dos instrumentos cirúrgicos,
ocorrem durante doença crônica ou bem como das mãos do cirurgião. Em
distúrbio emocional. Em Cardenal estado puro, é cáustico e anestésico
(1947), é definido como estado de local. Era usado, ainda, sob a forma de
transtorno constitucional profundo e pomada (a 10%).
progressivo, originado por diversas Fontes: Cardenal, 1960.
causas; e, segundo Murray (1910), o
termo era utilizado para caracterizar Carcinoma: qualquer dos vários tipos
pacientes que sofriam de tumores de neoplasia maligna relacionados ao
malignos ou estados doentios causados tecido epitelial, opondo-se, assim, aos
por sífilis, disenteria e outras doenças sarcomas, tumores cancerosos
crônicas (a malária, por exemplo, na conjuntivos. Em ambos os sexos, ocorre
chamada caquexia palustre). Os principalmente na pele e no intestino
indivíduos nessa condição ficam grosso; no homem, no brônquio,
anêmicos e debilitados; a pele se estômago ou próstata; e na mulher, na
enruga e perde a elasticidade, passando mama e cérvix. Os carcinomas são
a ter uma aparência amarelada; há identificados, histologicamente, pela
perda ou alteração de apetite. A capacidade invasiva e por alterações
Encyclopædia Britannica (2001) indica que indicam anaplasia, isto é, perda da
que, na década de 1990, descobriu-se a polaridade dos núcleos, perda da
eficácia do uso da talidomida no maturação ordenada das células,
tratamento da caquexia em pacientes variação no tamanho e forma delas,
com doenças como Aids, tuberculose e acúmulo de cromatina nos núcleos e
lepra, e que a caquexia seria causada, aumento na reação nuclear/
aparentemente, pela superprodução, citoplasmática. Os carcinomas podem
pelo corpo, de TNF (tumor necrosis ser indiferenciados ou podem se
factor – fator de necrose tumoral), assemelhar a um dos tipos de epitélio
proteína naturamente produzida pelas normal. Tendem a invadir tecidos
células fagocitárias do organismo circundantes, originando metástases.
humano, que podem englobar e destruir
Fontes: Larousse, 1971; Houaiss, 2001;
bactérias, vírus e outras substâncias Stedman, 1979.
estranhas.
Fontes: Cardenal, 1947; Cardenal, 1960;
Dorland, 1947; Encyclopædia Britannica, Cardol: líquido oleoso, amarelado,
2001; Littré & Gilbert, 1908; Murray, 1910. irritante e vesicante, extraído do
pericarpo da castanha do caju, fruto
Carbol sublimado (C2H5OH): composto encontrado em árvores e arbustos da
cristalizado incolor obtido pela espécie Anacardium occidentale. Ao
destilação do breu de carvão. Pela final do século XIX, alguns médicos
adição de 10% de água, converte-se recomendavam seu uso externo em
num líquido claro, de odor peculiar e casos de lepra e úlceras cutâneas
sabor ardente. É um germicida graves. Em uso interno, foi empregado
poderoso, mas muito tóxico. Em como vermífugo, não apresentando
solução a 2,5%, era usado ação vesicante sobre o tubo digestivo.
externamente no tratamento de feridas e Utiliza-se o termo cardol, ainda, para
úlceras; e, internamente, em casos de designar uma substância obtida pela
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58 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

combinação química da solução de Chalmugra: óleo amarelo retirado das


bromo ou hipobromito de sódio com a sementes de Taraktogenos kurzii (família
solução de salol. Também conhecido Bixaceae). Contém os ácidos
como tribromosalol – pó cristalino, chaumógrico, ginocárdico e
incolor, insípido, insolúvel em água, hidnocárpico. Há muitos séculos
dificilmente solúvel em álcool, ácido utilizado no Oriente para o tratamento
acético e clorofórmio –, foi da lepra e de outras doenças de pele, o
preconizado, no passado, como óleo de chalmugra foi incorporado à
antisséptico intestinal, hipnótico, medicina ocidental somente no século
analgésico e hemostático. XIX, quando o médico britânico
Fontes: Cardenal, 1960; Dorland, 1947; Frederic John Mouat, do Medical
Littré & Gilbert, 1908. College Hospital de Calcutá, passou a
empregá-lo (1854). Originalmente, o
Cavacava: nome popular de uma erva óleo era ingerido ou aplicado
da família Piperaceae, cuja designação topicamente nas áreas leprosas do
científica é Piper methysticum. De suas corpo. Embora a administração oral
raízes é preparado um pó com fosse mais eficiente, causava intensas
propriedades afrodisíacas, analgésicas, náuseas nos pacientes. Para diminuir as
anestésicas (local), tranqüilizantes, reações adversas, Isadore Dyer, do
anticonvulsivantes, antidepressivas, Louisiana Leper Home, em Carville,
antiinflamatórias, espasmolíticas, passou a utilizar, em 1901, o óleo de
narcóticas e relaxantes. Proibida em chalmugra em forma de pastilhas.
certos países (por exemplo, a França), é Posteriormente, outros médicos
indicada para estados de agitação, tentaram encapsular a substância ou
angústia, ansiedade, depressão, estresse, mesmo adicionar água para diminuir as
insônia e tensão. O uso da cavacava náuseas, mas não foram bem-sucedidos.
deve ser evitado em caso de mal de Pouco antes, em meados da década de
Parkinson, gravidez e amamentação. 1890, o óleo começou a ser
Também devem evitá-la os usuários de administrado por meio de injeções
antidepressivos, ansiolíticos, intramusculares e subcutâneas. Esse
antipsicóticos ou outras substâncias que método atenuava as náuseas mas era
causem abatimento do sistema nervoso doloroso e produzia fortes reações
central (hipnóticos, sedativos etc.). O locais e febre. Por volta de 1913, Victor
uso prolongado em altas doses pode Heiser e Elidoro Mercado
resultar em inflamações no corpo e nos experimentaram no San Lazaro
olhos. Inicialmente, tem efeito Hospital, em Manila, injeções
estimulante, mas leva a depressão e até hipodérmicas contendo chalmugra e
mesmo à paralisia do sistema uma solução de cânfora e resorcina,
respiratório. Também pode provocar para facilitar a absorção da substância.
graves prejuízos ao fígado. Foi durante Ainda na década de 1910, começaram
muito tempo prescrita para o tratamento a ser utilizados alguns derivados do
da gonorréia, da incontinência, das óleo de chalmugra, como o ácido
vaginites e outras doenças. ginocárdico e os ésteres etílicos. Na
Fontes: www.103; www.131. década de 1940, foram gradualmente
substituídos, mas não sem resistências,
pela sulfona e seus derivados no
tratamento do mal de São Lázaro. A
toxidez desses antibióticos, somada ao
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 59

elevado custo de sua utilização em de Champagne. Considerado o


massa, assegurou, contudo, o uso por precursor da patologia nervosa
mais alguns anos do óleo de chalmugra, moderna, foi o primeiro professor da
até mesmo como complemento das matéria, assumindo em 1872 a cátedra
novas terapias. Em 1953, um comitê de da Faculdade de Medicina da
especialistas da Organização Mundial Universidade de Paris. Foi, também, um
de Saúde deu unânime sanção à dos fundadores de famosa clínica
superioridade das sulfonas no neurológica na França, em La
tratamento da hanseníase, sanção Salpêtrière, hospital assim chamado por
corroborada no Sexto Congresso ter sido inaugurado em local onde antes
Internacional de Lepra, reunido em funcionara o depósito de armamentos e
Madri naquele mesmo ano. Durante o pólvora de Luís XIII. O nome de
século XIX acreditou-se que o óleo de Charcot está ligado a grande número de
chalmugra fosse extraído das sementes descobertas, principalmente na área dos
da Gynocardia odorata. Tal engano estudos do sistema nervoso. Seus
deve-se, provavelmente, aos estudos de experimentos com a hipnose para a
William Roxburgh, cirurgião e investigação da histeria atraiu a suas
naturalista que foi o primeiro (ou um aulas enorme quantidade de alunos.
dos primeiros) a descrever, no Ocidente, Entre os discípulos que se tornaram
o medicamento e seu uso contra a famosos estavam Desiré-Magloire
lepra. No catálogo de plantas que Bourneville, Joseph Jules Babinski,
publicou em 1815, Roxburgh Pierre Marie e Sigmund Freud, o qual
identificou equivocadamente como utilizou as técnicas de hipnose para
sementes de Gynocardia odorata as que investigar as origens psicológicas da
provinham da Kalaw, uma árvore neurose. Charcot interessou-se pela
indicada pelo folclore birmanês e doença de Parkinson, a esclerose lateral
indiano como capaz de curar a lepra. amiotrófica – conhecida como “doença
Somente em 1901 David Prain de Charcot” –, a poliomielite, a tabes;
relacionou sementes do óleo de estabeleceu a diferença entre as
chalmugra vendidas em Calcutá à convulsões histéricas e epiléticas e o
verdadeira espécie, a Taraktogenos papel motor da circunvolução frontal
kurzii. Experiências realizadas por ascendente do cérebro. Jean-Martin
Frederick B Power, em 1904, Charcot foi também vice-presidente da
comprovaram que a Gynocardia Sociedade de Biologia (1860), membro
odorata não produzia o óleo de da Academia de Medicina (1872), da
chalmugra. Os primeiros textos Academia de Ciências (1883) e de
aiurvédicos escritos no sul da Índia várias outras sociedades científicas. A
também associam o chalmugra à partir de 1890, seu estado de saúde
espécie posteriormente denominada deteriorou-se, e Charcot sofreu vários
Hydnocarpus wightiana (família ataques de angina até falecer,
Flacourtiaceae). repentinamente, de edema pulmonar, a
(Ver Ácido chalmógrico; Lepra). 16 de agosto de 1893, em Lac des
Fontes: Grant, 1944; Obregón, 2002; Settons, Nièvre.
Parascandola, 2003; Stedman, 1979. (Ver Cristais de Charcot).
Fontes: D’Elia, 1926; Larousse, 1971;
Larousse, 1998; www.87; www.118.
Charcot, Jean-Martin: médico francês
nascido em Paris a 29 de novembro de
1825, no seio de uma família originária
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60 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

Cloral hidratado ou hidrato de cloral cloridrato de cocaína ganhou o apoio


[Cl3CHO(OH)2]: substância de médicos no final do século XIX e nas
extremamente tóxica e irritativa das primeiras décadas do século XX.
mucosas, empregada na fabricação de Entusiasmado com os estudos de
diclorodifeniltricloretano, inseticida Theodor Aschenbrandt, que descreveu
mais conhecido pela sigla DDT. o reforço, propiciado pela substância,
Descoberta em 1832, é obtida pela da resistência de soldados bávaros em
combinação de cloro com álcool. manobras militares, o jovem
Quando acrescido de água, forma o neurologista Sigmund Freud (1856-
hidrato de cloral, usado como 1939) afirmou que pequenas doses
soporífero. regulares podiam ser bem-sucedidas no
Fontes: www.82; www.88; www.89. tratamento da depressão e da
indigestão. Nesse período, a cocaína foi
Clorose: afecção anêmica que parece comercializada livremente para uso
ser mais comum em mulheres jovens, medicinal, sendo também administrada
evidenciada pela tonalidade amarelo- como tônico, em forma de supositórios
esverdeada da tez e relacionada a e de pastilhas expectorantes.
distúrbios na menstruação ou desânimo Fontes: Turner, 1950; www.7; www.201;
www.232.
geral. Denominada Morbus virginum na
Idade Média (conceito emprestado de
Hipócrates), depois Morbus amatorium Coccidioidomicose: doença causada
e Febris alba virginica. Também por fungos da espécie Coccidioides
conhecida como anemia clorótica, immitis, também conhecida como
cloranemia e cloremia. doença de Posadas, doença de
Fontes: Larousse, 1971; Houaiss, 2001; Posadas-Wernicke, micose de Posadas,
Murray, 1910. doença de Posadas-Rixford, doença de
Wernicke-Posadas, granuloma
Cocainum muriaticum [C17H21NO4HCl]: coccidioidal, doença da Califórnia, ou,
ou cloridrato de cocaína: Composto ainda, reumatismo do deserto, febre do
químico obtido a partir do tratamento deserto, febre de São Joaquim, febre do
da pasta de coca, extraída das folhas da Vale de São Joaquim e febre do vale. É
planta Erythroxylum coca, com ácido causada por partículas de poeira
clorídrico. Apresenta-se em forma de contendo o artroconídio do
cristais incolores ou pó cristalino Coccidioides immitis, fungo que viceja
branco. É solúvel em água e álcool, em regiões dos Estados Unidos
insolúvel em éter, podendo constituir (Arizona, Novo México, oeste do Texas
droga venenosa e causadora de e Vale de São Joaquim, na Califórnia),
dependência. O alcalóide cocaína foi na parte baixa do Deserto de Sonora
isolado pela primeira vez em 1859 pelo (que cobre as áreas do sudoeste do
médico alemão Albert Niemann (1834- Arizona, sudeste da Califórnia, a maior
1861), da Universidade de Göttingen. parte da Baja California e a metade
Somente em 1880, as propriedades oeste do estado de Sonora, no México),
anestésicas da cocaína foram em partes da América Central,
reconhecidas pelo russo Vassili von Argentina, e no noroeste do México.
Anrep, da Universidade de Würzburg. Desastres naturais, como tempestades
Utilizada inicialmente como anestésico de vento e terremotos, contribuem para
local em cirurgias oftalmológicas, o o aparecimento da doença. As áreas
endêmicas estão restritas a regiões
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 61

desérticas ou semi-áridas semelhantes pyogenes: preliminary report”,


ao Nordeste do Brasil, onde alguns Philadelphia Medical Journal, 1900,
casos também têm sido relatados. São n.5, p.1471-2.
mais suscetíveis à doença fazendeiros e (Ver Psorospermose; Blastomicose
trabalhadores que manipulam o solo, e sul-americana).
que têm, assim, maior probabilidade de Fontes: Houaiss, 2001; www.19; www.29;
inalar os esporos do Coccidioides www.34; www.38.
immitis. Grande parte dos indivíduos
com a forma aguda primária não Coccídios: gênero de protozoários que
apresentam sintomas. Quando estes parasitam vertebrados e invertebrados.
ocorrem, podem se manifestar de uma a Atacam o epitélio intestinal, as células
três semanas após a infecção. Alguns sanguíneas e outras células do
indivíduos apresentam o chamado hospedeiro. São seres unicelulares
reumatismo do deserto, uma condição destituídos de organelas especiais de
caracterizada por conjuntivite, artrite e locomoção. Fazem parte do filo dos
eritema noduloso. A doença ocorre sob apicomplexos, uma das subdivisões do
a forma aguda primária, isto é, como reino dos protistas, que reúne outras
infecção pulmonar leve que desaparece espécies parasitas de animais, cujos
sem tratamento, ou sob a forma ciclos de vida incluem estágios de
progressiva, como infecção grave que esporo ou cisto.
se dissemina por todo o corpo (ossos, (Ver Psorospérmios; Psorospermose).
fígado, baço, rins, cérebro e meninges). Fontes: Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss,
Neste caso, é freqüentemente fatal. Os 2004.
indivíduos com a forma progressiva são
tratados com substâncias antimicóticas Cogumelo: corpo de frutificação
(anfotericina B intravenosa ou com relativamente grande de fungos da
fluconazol oral). Não se observou até classe dos Basidiomycetes, fungos
hoje a transmissão do animal para o filamentosos, providos de hifas
homem, nem do homem para o septadas, com reprodução sexuada por
homem. A doença foi diagnosticada, basidiósporos. Esses fungos
inicialmente, na Argentina por Robert pluricelulares, destituídos de clorofila,
Johann Wernicke e Alejandro Posadas, são constituídos de duas partes: a que
em 1892. Esses médicos publicaram fica dentro da terra, o micélio, vive da
trabalhos independentes nos quais matéria em que está imersa e que lhe
descreviam um quadro inicial de fornece alimento; a parte acima da terra,
micose fungóide com psorospérmios. O chamada corpo de frutificação ou
cirurgião Emmet Rixford observou outro basidiocarpo, produz células chamadas
caso da doença, em 1893; novos casos basidiósporos, a partir dos quais
foram registrados na Califórnia em 1894 desenvolvem-se novos seres. O chapéu,
e 1896, isolando-se o fungo a partir do que as pessoas habitualmente chamam
solo das áreas desérticas do Vale de São de cogumelo, é, na realidade, o otalo
Joaquim. O organismo causador da ou estipe que brota do micélio.
doença foi denominando Coccidioides (Ver Esquizomiceto; Fungo; Hifa).
immitis e definitivamente caracterizado Fontes: Houaiss, 2001; Silveira, 1981.
por William Ophüls e H. C. Moffit
(1871-1933) em “A new pathogenic Colódio: líquido pesado e incolor,
mould formely described as a obtido através da dissolução da
protozoan: Coccidioides immitis poroxilina, ou algodão-pólvora, em éter
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62 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

e álcool. Quando estendido sobre uma Condiloma: designação de vários tipos


superfície, esse líquido viscoso forma de lesões, cutâneas ou das mucosas,
uma película protetora depois que sexualmente transmissíveis, causadas
evapora o solvente, o que explica a por vírus e bactérias, entre as quais
expressão “colódio sublimado” destaca-se a pápula úmida e plana da
empregada por Adolpho Lutz. É usado sífilis secundária, também conhecida
como veículo para a aplicação local de como condiloma latum. Tem a forma de
substâncias medicinais, para revestir um tumor benigno arredondado, de
feridas, queimaduras e úlceras de modo uma verruga molusciforme ou de uma
a impedir a ocorrência de infecção, e excrescência papiliforme, ocorrendo,
ainda, como protetor de lâminas, na em geral, no ânus, na vulva ou sobre a
fabricação de tampões impermeáveis ao glande do pênis. Segundo Murray
ar e de filtros especiais para estudos (1910), os condilomas eram comumente
sobre vírus. encontrados em conexão com a
Fontes: Cardenal, 1960; Larousse, 1971; umidade e irritação devidas às
Koogan-Houaiss, 2004; Stedman, 1979. secreções corrosivas, especialmente as
resultantes de infecções venéreas. D’Elia
Coloração: técnica de preparação de (1926) diferenciava os condilomas
cortes microscópicos; consiste em acuminado e plano.
embebê-los em corantes que se fixam Fontes: D’Elia, 1926; Larousse, 1971;
eletivamente em tais ou quais Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss, 2004;
Murray, 1910; Stedman, 1979.
elementos, tornando mais fácil sua
observação. Para os tecidos animais,
emprega-se a hematoxilina, a eosina e o Condroma: tumor benigno ou
azul-de-metileno, a água iodada etc; em crescimento semelhante a um tumor de
bacteriologia, usa-se especialmente a células mesodérmicas que formam a
fucsina amoniacal (método de Gram), cartilagem.
que divide as bactérias em gram- Fontes: Houaiss, 2001; Stedman, 1979.
positivas e gram-negativas, conforme
fixem ou não o corante. (Ver Fucsina; Condurango: designação comum de
Método de Gram). determinadas espécies de plantas
Fontes: Larousse, 1971. trepadeiras nativas das Américas do Sul
e Central. A casca da espécie
Coloração de van Gieson: método de Gonolobus condurango, também
corar preparações histológicas com o conhecida como Marsdenia
mais antigo corante em uso, o de van condurango (família Asclepiadaceae),
Gieson, constituído por 0,05 parte de era utilizada, no passado, no tratamento
fucsina ácida e cem partes de solução de câncer. A espécie de condurango
de ácido pícrico saturado. Em presença nativa do Brasil, pertencente à família
do ácido pícrico, a fucsina ácida cora o das vitáceas (Vitis sulcicaulis) –
tecido colágeno em vermelho intenso, conhecida popularmente como
muito eletivo. O método tem o defeito chupão, cipó-d’água, cipó-mãe-boa,
de dar coloração muito pálida aos mãe-boa – tem caule sarmentoso, seiva
citoplasmas suscetíveis ao ácido pícrico. potável, folhas adstringentes, flores
(Ver Ácido pícrico; Fuscina). esverdeadas e fruto comestível em forma
Fontes: Cardenal, 1947; Fernandes, 1943. de baga ovóide e preta, com semente.
Fontes: Cardenal, 1960; Ferreira, 1999;
Grant, 1944; Houaiss, 2001; Stedman, 1979.
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 63

Cornil, André Víctor: médico e político Criptococose: no passado, conhecida


francês, nascido em Cusset, em 1837, e como blastomicose européia, doença
falecido em Menton, em 1908. de Buschke ou doença de Busse-
Deputado, professor da Faculdade de Buschke; também foi chamada de
Medicina de Paris, é autor de trabalhos torulose porque o agente causador teve
sobre histologia e bacteriologia. Em como sinonímia o nome “torula
1875, relatou o uso de tinturas de histolítica”. Trata-se de uma infecção
anilina para reconhecer os amilóides, aguda, subaguda ou crônica
substância glicoprotéica que ocorre relacionada a uma micose pulmonar,
como depósitos patológicos extra- sistêmica ou meníngea. O agente é o
celulares abaixo do endotélio de Cryptococcus neoformans, levedura
capilares ou sinusóides, nas paredes de encapsulada que existe em toda parte e
arteríolas e em vários órgãos. Com um que, em geral, é inalada. A infecção
método de coloração metacromático, pulmonar primária é freqüentemente
baseado no violeta de metila, Cornil assintomática, e pode permanecer no
pôde reconhecer a natureza pulmão ou desenvolver uma forma
extracelular dessas formações anormais. crônica com lesões em outros órgãos do
Em colaboração com Victor Babes corpo.
(1854-1926), publicou, em 1885, Les A criptococose é considerada uma
bactéries et leur rôle dans l’anatomie et infecção oportunista, pois afeta
l’histologie pathologiques des maladies principalmente indivíduos que sofrem
infectieuses (As bactérias e sua relação de imunossupressão.
com a anatomia e histologia patológica O gênero Cryptococcus compreende
das doenças infecciosas). Com Louis- 37 espécies, mas o maior patógeno
Antoine Ranvier (1835-1922), Cornil humano é o C. neoformans. A literatura
escreveu Manuel d’histologie médica relata poucos casos de
pathologique, um manual de criptococose causados por outras
histopatologia que é considerado um espécies (C. albidus e C. laurentii).
dos marcos da medicina do século XIX. A doença foi descrita pela primeira vez
Fontes: Larousse, 1971; www.26; www.27; em 1893, por Otto Busse e Abraham
www.28.
Buschke, na Alemanha. Na perna
esquerda de uma paciente de 31 anos,
Creosoto: líquido oleoso, volátil, reconheceram, inicialmente, um tumor,
pirogêneo e de odor penetrante, obtido mas ao retirarem pus da lesão óssea, os
pela destilação de alcatrão da madeira dois médicos identificaram o parasito
de algumas espécies vegetais. no exame miscroscópico e em culturas,
Constituído por uma mistura de diversos daí resultando a identificação do
fenóis (principalmente de metilguaiacol, primeiro caso de criptococose.
guaiacol e creosol), é solúvel em água, A doença já foi observada,
álcool, éter ou clorofórmio. Na esporadicamente, em todos os
medicina, foi utilizado como mamíferos domésticos, mas ocorre,
antisséptico, anestésico local e cáustico. sobretudo, em gatos e cães; poucas
Era também usado como expectorante e vezes foi assinalada em eqüinos. Pode
contra a cárie dentária. (Ver Guaiacol). causar o aparecimento de massas
Fontes: Grant, 1944; Houaiss, 2001; Koogan- tumorais de aspecto mucóide, ou lesões
Houaiss, 2004; Stedman, 1979. sem aumento de volume, mas de
consistência gelatinosa em qualquer
parte do organismo, com acentuada
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64 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

preferência pelo cérebro e pelas Cristais de Charcot: coleções de


meninges. Não obstante a criptococose cristalóides octaédricos formadas pela
seja chamada de blastomicose proteína de membrana do eosinófilo,
européia, Rhoda Behnam demonstrou, um granulócito que estabiliza e
em 1934, que é diferente da preserva corantes ácidos e que está
blastomicose. associado a processos defensivos e
(Ver Cryptococcus neoformans). inflamatórios do organismo. São
Fontes: Stedman, 1979; www.17; www.59. encontrados no escarro de indivíduos
com bronquite asmática, nas fezes de
Criptógama: designa originalmente um pacientes com colite ulcerativa e no
dos dois grupos incluídos por Carl von sangue de leucêmicos. Friedrich Albert
Linné 1707-1778) no reino vegetal, o von Zenker (1825-1898) foi o primeiro
qual incluía algas, fungos, musgos e a observar esses cristais em 1851; dois
fetos. Atualmente, não existe mais como anos depois, foram descritos,
grupo sistemático, com a transferência concomitantemente, por Jean-Martin
de seus componentes para outros Charcot e Charles-Philippe Robin
grupos. O termo continua sendo (1821-1885). Em 1872, Ernst Viktor von
utilizado, porém, para designar Leyden (1832-1910) estudou-os, e por
qualquer vegetal que não possui órgão isso são chamados de cristais de
sexual aparente e que se reproduz por Charcot-Leyden. Outras denominações
meio de esporos ou gametas, em vez de são cristais de Charcot-Robin, cristal da
sementes. asma e cristal de Arthus (Nicolas
Maurice Arthus, 1862-1945).
Fontes: Ferreira, 1999; Houaiss, 2001;
www.158. (Ver Charcot, Jean-Martin).
Fontes: D’Elia, 1926; Larousse, 1971;
www.87; www.118.
Crisarobina: mistura de substâncias do
angelim-araroba (Vataireopsis araroba),
Croococáceas: designação comum das
árvore frondosa nativa do Brasil. Ela
algas cianofícias da ordem
produz flores róseas e vagens ovóides, e
Chroococcales. São constituídas por
da casca que reveste sua madeira de
células simples independentes, não
qualidade obtém-se, por trituração, o pó
diferenciadas na base e no ápice.
de araroba. Também conhecida como
Multiplicam-se por divisão celular
extrato de pó de Goa, a crisarobina é
simples, podendo, em seguida,
uma mistura complexa de produtos de
permanecer reunidas em colônias de
redução de ácido crisofânico, emodina
forma característica (laminar, esférica).
e éter monometílico de emodina. Era
Incluem espécies bênticas ou
usada como antissépico e purgante,
planctônicas, algumas aerofíticas, outras
sendo também eficaz no tratamento da
formando parte de líquens.
psoríase, de eczemas e de doenças
Fonte: Joly, 1977; Quer, 1965.
cutâneas, especialmente aquelas de
caráter parasitário, como pitiríase
versicolor, tinha tonsurante e eczema Crudeli, Corrado Tommasi: médico
marginado. italiano nascido na Toscana, em 1834, e
Fontes: Dorland, 1947; Houaiss, 2001; falecido em 1900. Discípulo de Rudolf
Stedman, 1979; www.64. Virchow (1821-1902), Tommasi Crudeli
é conhecido sobretudo como um dos
primeiros citologistas do século XIX,
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 65

fundador de duas faculdades de Buschke e Otto Busse, isolaram o fungo


medicina na Itália, do Instituto Nacional a partir de lesões que tinham a
de Higiene em Roma e de um hospital aparência de um sarcoma. Sanfelice
na Sicília. Foi, também, autor da chamou essa levedura criptógama de
primeira reforma sanitária da Itália Saccharomices neoformans; Busse
unificada. Professor de anatomia denominou-a Saccharomyces hominis.
patológica em Roma, descreveu, em A doença causada pelo fungo seria
1879, juntamente com o bacteriologista chamada de sacaromicose. Em 1895, o
alemão Edwin Klebs, o Bacillus patologista francês Ferdinand Curtis
malariae, microrganismo que descreveu aquele fungo como parasita
encontraram no solo da campanha vegetal pertencente à espécie das
romana e que consideraram o causador leveduras que causavam tumores
da malária. Encontrado em solo úmido macios nos tecidos, alguns deles de
e no ar de baixas altitudes, seria aparência mixomatosa. Curtis deu a
cultivável em gelatina de peixe. De essa levedura encapsulada o nome de
acordo com os dois pesquisadores, a Megalococcus myxoides. Em 1901, o
injeção de solo infectado com tal micologista francês Jean-Paul Vuillemin
microrganismo em coelhos produzia, reclassificou-a no gênero Cryptococcus
nestes, febre malárica e dilatação do (do grego, kryptos: escondido), em
baço, reações distintas daquelas virtude da ausência de endosporos.
notadas em experimentos com solo de (Ver Criptococose; Saccharomyces).
regiões livres de malária. Consta, ainda, Fontes: Stedman, 1979; www.17.
que teriam verificado que humanos
submetidos a uma injeção de cultura
pura do Bacillus malariae desenvolviam
os sintomas característicos da doença.
(Ver Klebs, Edwin).
Fontes: www.127; www.180; www.224;
www.203.

Cryptococcus neoformans: uma das 37


espécies do gênero Cryptococcus, que
se reproduz por brotamento e que não
desenvolve esporos. O Cryptococus
neoformans é um fungo encapsulado,
que mede de 4 a 6 mícrons, envolto por
uma cápsula de polissacarídio, cuja
espessura varia de 1 a 30 mícrons.
Principal agente causador da
criptococose (também conhecida como
blastomicose européia ou torulose),
ataca a pele, os pulmões e,
principalmente, o cérebro e suas
membranas. O C. neoformans foi
primeiramente isolado a partir do suco
de pêssego, na Itália, em 1894, por
Francesco Sanfelice. Quase na mesma
época, dois médicos alemães, Abraham
66 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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D
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 67

Danielssen, Daniel Cornelius: médico Bergen em 13 de julho de 1894.


norueguês nascido em 4 de julho de (Ver Boeck, Carl Wilhelm; Lepra).
1815, em Bergen. Após graduar-se em Fontes: www.231.
medicina pela Universidade de
Cristiânia (hoje, Oslo), em 1839, fez
Dematiacea: família de fungos
estudos de aperfeiçoamento em
imperfeitos, ordem Moniliales, que
fisiologia, química e doenças de pele,
produz conidióforos (hifa em cuja
dando início às investigações sobre a
extremidade se formam esporos) simples.
lepra no St. Jorgens Hospital. Nessa
(Ver Fungo; Hifa).
instituição conheceu Carl Wilhelm
Fontes: Stedman, 1979.
Boeck, em julho de 1840, com quem
passou a trabalhar em colaboração nas
pesquisas sobre a morféia. Com a Dermatomicose: infecção da pele
chancela do governo norueguês, produzida por fungos parasitas.
publicaram em 1847 Om Spedalskhed O mesmo que dermatofitia.
(Sobre a Lepra) obra de referência na Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001.
moderna literatura sobre a doença.
Sogro de Gerhard Armauer Hansen Digitalis: designação comum às ervas
(1841-1912), Danielssen divergiu do do gênero Digitalis, da família das
genro no tocante à transmissão da lepra. escrofulariáceas, com cerca de 19
Da mesma maneira que Boeck, espécies, nativas da Europa e da região
defendia o caráter hereditário da que se estende do Mediterrâneo à Ásia
doença, o que não os impediu de central. Suas flores têm a forma de
investigar outras possibilidades de dedos de luva, dispostos em cachos
transmissão, ao passo que Hansen, o levantados. Daí provêm os nomes
descobridor do bacilo da lepra, foi vulgarmente dados a diversas ervas
decidido defensor de sua desse gênero: dedaleira, erva-dedal,
contagiosidade. Danielssen faleceu em luvas de pastora, luvas-delicadas etc.
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68 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

A espécie mais comum, Digitalis sulfonas e dieta alimentar isenta de


purpúrea, dos terrenos silicosos, tem glúten produz resultados satisfatórios.
flores purpúreas; a dos terrenos Alguns estudiosos consideram a doença
calcários, flores amarelas. As plantas de Duhring como uma variação da
dessa espécie são conhecidas pelo doença celíaca, cujo traço mais
nome “digital”, e o pó feito a partir de evidente é a sensibilidade a aveia,
suas folhas é um tonicardíaco que centeio, cevada, trigo e outros cereais,
diminui o ritmo do coração, regulariza e em todos os seus portadores. Também
reforça suas contrações. Tais conhecida como bolha herpetiforme
propriedades são devidas aos circinada, doença de Brocq-Duhring ou
glicosídeos que contêm (em particular a Duhring-Brocq, dermatite herpetiforme,
digitalina). Da espécie Digitalis lanata dermatite multiforme e hidroa
são extraídos os cardiotônicos digoxina herpetiforme.
e o lanatosídeo C. Os derivados (Ver Brocq, Louis-Anne-Jean; Duhring,
digitálicos são empregados em Louis Adolphus).
terapêutica por via oral (comprimidos, Fontes: Cardenal, 1947; Dorland, 1947;
gotas) ou injetável (intramuscular ou Stedman, 1979; www.92; www.93; www.123;
www.129.
endovenosa). O uso da digitalina em
doenças do coração foi introduzido em
1785 pelo médico britânico William Duhring, Louis Adolphus:
Withering. dermatologista norte-americano nascido
Fontes: Houaiss, 2001; Larousse, 1971; a 23 de dezembro de 1845, na
Koogan-Houaiss, 2004; Stedman, 1979. Filadélfia, graduado e doutorado (1867)
pela Universidade da Pensilvânia. Antes
Diplococo: bactéria em forma de coco de embarcar para a Europa (Paris,
cujos elementos se apresentam unidos Londres e Viena), onde se especializou
em pares. em dermatologia, trabalhou no Hospital
(Ver Bactéria). de Bockley. Em 1871, tornou-se
Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001; professor de doenças de pele na
Landouzy & Jayle, 1902; Littré & Gilbert, Universidade da Pensilvânia. Teve
1908; Stedman, 1979. papel muito importante na descrição da
dermatite herpetiforme (1884) ou
Doença de Duhring: afecção doença de Duhring, também estudada
dermatológica crônica caracterizada por William Tilbury Fox e
por graves lesões pruriginosas e Louis-Anne-Jean Brocq (1888). Morreu
extensas erupções pápulo-vesiculares em 8 de maio de 1913, na Filadélfia.
que atingem principalmente cotovelos, (Ver Brocq, Louis-Anne-Jean; Doença
couro cabeludo, joelhos, nádegas, nuca de Duhring).
e parte superior das costas. Afeta Fontes: Cardenal, 1954; Cardenal, 1960;
Dorland, 1947; Stedman, 1979; www.92;
indistintamente homens e mulheres
www.93; www.122; www.123.
numa proporção de uma a cada cem
mil pessoas, sendo mais comum entre
brancos do que em negros, e pouco
freqüente em asiáticos. A cura
espontânea dificilmente ocorre, à
exceção das crianças. A taxa de
reincidência da enfermidade é bem alta,
mas o tratamento com associação de
voltar ao sumário

E
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 69

Ectima: dermatite de cunho erosivo e inflamatória com formação de crostas,


ulcerativo causada por estreptococos. É seguidas de liquenificação, descamação
mais comum em indivíduos desnutridos e, ocasionalmente, escurecimento do
que sofrem de diabetes ou que se eritema. A hiperpigmentação é pouco
encontram com o sistema imunológico freqüente, mas não raro há sensação de
comprometido. Também ocorre em prurido e queimação. Coloquialmente,
situações precárias de higiene ou como usam-se as expressões dermatose seca
conseqüência de pequenos traumas, ou dermatose escamosa como
apresentando-se na forma de úlceras sinônimos de eczema. À época de
bacterianas únicas ou múltiplas D’Elia, (1926), admitia-se uma origem
cobertas por crostas com localização microbiana para a doença, conquanto
preferencial nas pernas. D’Elia (1926) não se houvesse ainda identificado o
revela que o termo “ectima” era germe produtor; considerava-se, então,
empregado pelos antigos para designar que seu desenvolvimento era
afecções dermatológicas variadas ou favorecido por alteração constitucional
com definição incerta (furúnculo, sarna (linfatismo, escrópulas na infância,
etc.). Murray (1910) e Landouzy & Jayle diátese úrica, e outras “discrasias” na
(1902) já concebiam o termo em seu idade adulta); por estorvos do
significado atual. estômago, do fígado, dos rins, que
Fontes: Cardenal, 1960; D’Elia, 1926; ocasionavam modificações na
Dorland, 1947; Houaiss, 2001; Landouzy & constituição química do sangue e dos
Jayle, 1902; Murray, 1910; Stedman, 1979;
www.94; www.130.
humores; e provavelmente por
“desconcerto” do sistema nervoso. Com
muita freqüência – lê-se, ainda em
Eczema: termo genérico que designa D’Elia (1926) – a doença tinha como
afecção alérgica da pele, aguda ou “causa determinante” a influência de
crônica, caracterizada por eritemas, agentes externos (substâncias químicas
edemas, pápulas, vesículas e reação irritantes, irritações térmicas ou
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70 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

mecânicas, trabalhos insalubres etc.) e Eichstedt, Carl Ferdinand: médico


estorvos locais da circulação (varizes). alemão (1816-1892), reconheceu a
Fontes: D’Elia, 1926; Stedman, 1979. natureza contagiosa da pitiríase
versicolor ao identificar, em 1846, nas
Eczema papuloso: dermatite escamas das lesões dessa doença, o seu
caracterizada por erupção de pápulas agente: um fungo, posteriormente
vermelhas isoladas ou agregadas, com chamado de Microsporum furfur. Essas
intenso prurido. investigações, realizadas na
Universidade de Greifswald, Alemanha,
Fontes: Cardenal, 1960; Stedman, 1979.
tiveram início em 1842 e fazem parte
das primeiras pesquisas micológicas
Edema (ou doença, síndrome) de aplicadas à medicina.
Quincke: enfermidade cutânea que se (Ver Pitiríase vesicular).
desenvolve de forma esporádica ou
Fontes: www.60; www.63.
hereditária e atinge ambos os sexos.
Tem início com o aparecimento
repentino de dor e inchaço na região Empiema: acúmulo de pus em uma
do rosto, língua, pés e órgãos genitais, cavidade qualquer do organismo,
persistindo por dois ou três dias como, por exemplo, a cavidade pleural,
quando, enfim, desaparece. Também a vesícula biliar, o apêndice cecal e o
pode causar fortes dores abdominais e antro maxilar. Quando utilizado sem
até mesmo complicações respiratórias qualificação, refere-se a piotórax (pus
fatais. Marcello Donati foi o primeiro a na cavidade pleural).
descrever esse tipo de edema, em 1586, Fontes: Ferreira, 1999; Houaiss, 2001;
Koogan-Houaiss, 2004; Stedman, 1979.
mas só no século XIX a urticária
edematosa, como a doença também é
conhecida, foi estudada pelo cirurgião e Enfisema pulmonar: doença
dermatologista britânico John Laws caracterizada pelo aumento
Milton (1820-1898). Em 1882, Heinrich permanente do volume dos espaços
Irenaeus Quincke também a descreveu; aéreos localizados além dos
doze anos mais tarde foi estudada por bronquíolos terminais, seja por
Henry Martyn Bannister (1844-1920). dilatação, seja por destruição das
(Ver Quincke, Heinrich Irenaeus). paredes alveolares. A lesão dos
Fontes: Landouzy & Jayle, 1902; Stedman, pequenos sacos aéreos, através de cujas
1979; www.132; www.141. paredes o oxigênio penetra no sangue e
o gás carbônico é liberado, faz com que
Eflorescência: lesão elementar da pele; alguns pacientes tenham a pele
pode ser primária (manchas vasculares, azulada, já que o teor de oxigênio no
pigmentárias, purpúreas, exantemas, sangue se torna menor que o normal. O
pápulas, placas de urticárias, enfisema pode anular até a metade da
tubérculos, gomas, tumorações, capacidade funcional dos pulmões
vesículas, bolhas, pústulas) ou antes que o indivíduo perceba que algo
secundária (erosões, fissuras, rágades, está seriamente alterado em seu
liquenificações, ulcerações, crostas etc.). organismo. Na maioria das vezes, a
doença começa como uma infecção
Fontes: Larousse, 1971.
pulmonar, chamada bronquite crônica,
e é descoberta através de exame
radiográfico do tórax para se ver o
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 71

estado do coração ou dos pulmões. O Entozoários: animais pertencentes à


paciente apresenta, principalmente, classe dos helmintos. Em classificações
dificuldade de expirar. Outros sintomas antigas, táxon que reúne diversos
são resfriados freqüentes, tosse, excesso animais endoparasitas, especialmente
de muco na garganta, indigestão e vermes intestinais, como as tênias,
pouco fôlego. A doença afeta sobretudo triquinas e áscaris.
pessoas do sexo masculino, com 40 Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001; Koogan-
anos de idade ou mais. Houaiss, 2004.
O enfisema ocasiona perda de
elasticidade do tecido pulmonar e Erisipela: também chamada
permanência nos pulmões, depois de mal-do-monte, mal-da-praia, maldita e
cada respiração, de resíduos de dióxido esipra; doença infecciosa em geral
de carbono que intoxicam o organismo causada pelo Streptococcus pyogenes
e roubam espaço ao oxigênio inalado; grupo A, envolvendo, em casos mais
o coração tem de trabalhar mais para graves, outros tipos de bactérias
que uma quantidade suficiente de (Staphylococcus, Pseudomonas). O
oxigênio se incorpore ao sangue, o que, agente etiológico penetra no organismo
em muitos casos, gera uma afecção através de lesões causadas por micose
cardíaca capaz de levar o paciente à nas unhas (onicomicose) ou entre os
morte. O número de afetados entre dedos dos pés (frieira, pé-de-atleta),
fumantes é treze vezes maior que entre arranhões e bolhas na pele, coçadura
não fumantes. A poluição do ar também motivada por picada de inseto etc. A
influi, tendo-se registro de epidemias de bactéria prolifera principalmente nos
enfisema em Londres e nos vales vasos linfáticos da pele, podendo atingir
industriais da Bélgica e da Pensilvânia, o tecido celular subcutâneo. O agente
nos Estados Unidos. A hereditariedade da erisipela foi observado em fins da
também pode ser um fator etiológico, década de 1870 por Luis Pasteur, na
sabendo-se, hoje, que cerca de um França, e Robert Koch, na Alemanha,
quarto dos pacientes apresenta falta de no pus de lesões profundas. Culturas
uma enzima chamada antitripsina alfa, puras foram obtidas em 1883 por
que protege os pulmões contra Friedrich Fehleisen (1854-1924) e, no
infecções. O enfisema não tem cura, ano seguinte, por Anton Julius Friedrich
mas os que começam a se tratar logo Rosenbach (1842-1923) a partir de
que ele se inicia têm vida longa e materiais extraídos de doentes com
razoavelmente ativa. Os recursos da erisipela. Foi a primeira demonstração
medicina para esses casos são de um germe específico a uma infecção
medicamentos, hormônios, bombas cirúrgica. Foi, também, um cirurgião
para introduzir oxigênio sob pressão vienense, Theodor Billroth (1829-1894),
nos pulmões e, em situações extremas, o autor do termo estreptococo.
cirurgia pulmonar. Segundo D’Elia Rosenbach deu à variedade isolada de
(1926), um dos mais ativos remédios lesões supurativas o nome de
utilizados na época para atenuar a Streptococcus pyogenes. A classificação
dificuldade respiratória era o iodureto foi aperfeiçoada em 1903 por Hugo
de potássio (0:50 a 1, por dia) associado Schottmüller, graças à técnica de cultivo
ou não ao arsênico. em placas com ágar e sangue por ele
Fontes: D’Elia, 1926; Ferreira, 1999; desenvolvida. Em estudos realizados a
Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss, 2004. partir de 1918, no Rockefeller Institute
for Medical Research, Rebecca Craighill
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72 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

Lancefield (1895-1981) demonstrou suor seroso depositado na epiderme, no


que o grupo A (S. pyogenes) é tecido conectivo subcutâneo, chegando
específico a enfermidades humanas, e à supuração. O paciente pode
que o grupo B está associado a doenças apresentar perda de apetite, agitação e
neonatais. Demonstrou, também, que a dores nas juntas. O tratamento consiste,
grande variedade de sorotipos no principalmente, no uso da penicilina e
âmbito do primeiro grupo se deve a de sulfas. Fontes mais antigas atribuem a
variações antigênicas de uma proteína doença ao Streptococco erysipelatis,
da parede celular que denominou que D’Elia (1926) qualificava como
proteína M. O Streptococcus pyogenes micrococo facultativamente anaeróbio,
é um dos mais freqüentes patógenos de e que normalmente era encontrado no
humanos. Estima-se que entre 5 a 15% ar, na água e no solo, e ainda sobre a
de indivíduos normais o hospedem, sem pele, na boca e no duodeno. Epidemias
apresentar sinais de doença. Quando a de erisipela, bastante comuns no
bactéria é introduzida em tecidos passado, tornaram-se raras graças aos
vulneráveis, podem ocorrer vários tipos progressos do saneamento e ao advento
de infecção supurativa no trato dos antibióticos. Contudo,
respiratório, na corrente sanguínea e na recentemente, e por razões que ainda
pele, infecções que, à época de estão pouco claras, houve um
Adolpho Lutz, foram responsáveis por ressurgimento de infecções graves por
muitas mortes. Além de ser o principal Streptococcus pyogenes, que às vezes
agente da erisipela, o Streptococcus deixam sérias seqüelas.
pyogenes está relacionado à febre (Ver Estreptococo).
puerperal, à escarlatina, à faringite, à Fontes: D’Elia, 1926; Ferreira, 1999;
tonsilite, ao impetigo, à celulite e a Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss, 2004;
Stedman, 1979.
outras infecções, que podem resultar
em seqüelas pós-estreptocócicas, como
febre reumática e glomerulonefrite Eritema ou dermatite eritematosa:
agudas. Pacientes com insuficiência vermelhidão da pele devida à
venosa crônica ou diminuição do vasodilatação dos capilares cutâneos
número de vasos linfáticos têm conseqüente a diversas causas. Via de
predisposição maior a adquirir a regra, é temporária e desaparece
erisipela, como é o caso de mulheres momentaneamente à pressão do dedo.
submetidas à mastectomia ou Fontes: Ferreira, 1999; Larousse, 1971.
portadoras de linfedema. Surtos
repetidos de erisipela podem causar a Eritema nodoso: inflamação aguda do
elefantíase nostra, com aumento de tecido subcutâneo que acomete
volume do local afetado em virtude de preferencialmente as extremidades
edema duro e persistente, adquirindo a inferiores. Caracteriza-se pela presença
pele aspecto verrucoso. A localização de nódulos dolorosos, profundos e
mais comum da erisipela é na face ou macios, provenientes da exsudação de
no couro cabeludo, mas ela acomete sangue e soro, quase sempre
outras partes do corpo, inclusive as acompanhados de ardência e intenso
meninges, segundo D’Elia (1926). prurido. A doença foi descrita pela
Clinicamente, caracteriza-se por febre primeira vez em 1808 pelo
forte, inflamação da cútis, com calor, dermatologista inglês Robert Willan
vermelhidão e inchação da pele e das (1757-1812). Em 1860, Ferdinand von
glândulas linfáticas vizinhas, abundante Hebra (1816-1880) estabeleceu sua
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 73

especificidade, separando-a das lesões no mundo; seu agente patogênico é


incluídas no grupo do eritema conhecido há pelo 2.500 anos.
multiforme. Também conhecida por Fontes: Houaiss, 2001; www.84; www.91;
eritema tuberculoso ou peliose www.95; www.97; www.98; www.136;
www.157.
reumática.
Fontes: Cardenal, 1947; Ferreira, 1999;
Fitzpatrick, 1971; Larousse, 1971; Houaiss, Escarlatina: patologia infectocontagiosa
2001; Murray, 1910; Stedman, 1979; de caráter epidêmico que se caracteriza
www.169; www.211.
pelo aparecimento de exantema
avermelhado – daí o nome derivado de
Escabiose: no Brasil, o mesmo que escarlate –, de enantema das mucosas,
coruba ou curuba, já-começa, jareré, principalmente na superfície interna das
jereré, pereba, pira ou sarna. bochechas e faringe, além de febre alta
Enfermidade cutânea contagiosa que e escamação generalizada. Causada
atinge homens e animais, nestes pelo Streptococcus scarlatinae, a
provocada por diversos tipos de ácaros doença ocorre em todas as idades e
e, naqueles, pelo Acarus scabei ou requer intervenção terapêutica à base,
Sarcoptes scabiei. Transmitida por hoje, de antibióticos. Seu quadro
contato direto com a pele infectada, por clínico envolve incubação de quatro
relações sexuais ou pelo uso dias, angina e pirexia ao final de 24 a
compartilhado de roupas. O parasita 48 horas, erupção cutânea pelo peito,
macho abre cavidades na pele, e a pescoço e virilha; descamação da pele
fêmea coloca aí seus ovos, que entre o sétimo e o oitavo dia,
eclodem sete a dez dias depois, irrompimento de placas ao longo de
gerando novos parasitas. A escabiose várias semanas e alteração do tecido da
ocorre em homens e mulheres de mucosa bucal. Nos casos mais graves,
qualquer idade, e nem sempre tem há abscessos que se prolongam por
relação com más condições de higiene. muito tempo, e até mesmo reumatismo,
Manifesta-se através de intenso prurido, otite e nefrite. Cardenal (1960) classifica
pápulas, vesículas e ferimentos que se a doença em: “ambulatória”, forma
alastram pela região do abdome, benigna com ausência de febre;
braços, genitais e pernas. Nos animais, “anginosa”, indicada pela exasperação
atinge o abdome, as patas, o peito e as dos sintomas faríngicos; “apirética”,
orelhas, podendo causar perda com evolução benigna dos sintomas
definitiva ou temporária de pêlos iniciais e leve estado febril;
(alopecia). O tratamento da doença é “hemorrágica”, com expelição de
feito por via oral e com aplicações sangue na pele ou na urina; “latente”,
locais, recomendando-se até mesmo o com ausência de erupção cutânea, mas
isolamento do paciente. Além disso, evolução de angina da faringe e
devem ser substituídas diariamente nefropatia; “maligna”, na qual os
todas as roupas, inclusive as de cama e sintomas mais graves se intensificam,
de banho. Existe um tipo de sarna, produzindo grande debilidade física,
chamada “norueguesa”, cujo grau de “nervosa”, forma em que preponderam
infecciosidade é bastante elevado e convulsões e sintomas cerebrais; e,
cujos sintomas são mais graves que o finalmente, “papulosa”, com
normal, com intensa escamação. aparecimento de pápulas. As epidemias
Estima-se que todos os anos surgem 300 de escarlatina são conhecidas desde a
milhões de novos casos de escabiose Antiguidade: foram descritas pela
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74 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

primeira vez por Hipócrates no século 5 British Medical Association, 1905.


a.C. e por Cornelius Celsius no século 1 Através de diversos experimentos,
d.C. Até 1676, quando Thomas Castellani provou que o macaco podia
Sydenham (1624-1689) estabeleceu as ser infectado com material retirado de
características distintivas da pessoas que sofriam de bouba e que
enfemidade, era considerada uma continha a bactéria, especialmente o
variedade de sarampo ou de varíola. sangue da circulação. Demonstrou,
Sua origem estreptocóccica foi também, que quando ela era removida
identificada por Friedrich Loeffler por filtragem, o material se tornava
(1852-1915) e confirmada por Klein em inerte. Por fim, Castellani mostrou que
1886. Em 1923, os microbiologistas era possível detectar antígenos e
norte-americanos Gladys Rowena Dick anticorpos específicos da bouba por
(1881-1963) e George Frederick Dick meio da reação de Bordet-Gengou. A
(1881-1967), em conjunto com bactéria recebeu, posteriormente, outros
Alphonse Dochez (1882-1964), nomes: Spirochaete pertenuis, dado em
comprovaram a etiologia específica da 1912 por Lehman e Neumann;
doença quando a reproduziram Spironema pertenue, nome atribuído
experimentalmente em humanos. por Gross, também em 1912; e
Fontes: Cardenal, 1954; Cardenal, 1960; Spirillum pertenue, de autoria de Macé,
D’Elia, 1926; Larousse, 1971; Houaiss, 2001; em 1913. Atualmente, é conhecida
Schreiber & Mathys, 1991; Stedman, 1979;
www.99; www.100; www.101; www.121;
como Treponema pertenue. Agente
www.5. causador do piã, termo de origem tupi
que significa “pele erguida, tumor”. Os
pacientes com essa doença, também
Escleroma, esclerema ou escleroderma:
chamada de bouba ou framboesia
pequena área anormalmente
tópica, apresentam teste de Wasserman
endurecida e circunscrita, que ocorre
positivo. O treponema é um gênero de
especialmente nos tecidos do nariz e da
bactérias anaeróbias (ordem
laringe, mas também em outras regiões
Spirochaetales) que consiste em células
da pele e da mucosa.
de 3 a 8 mícrons de comprimento, com
Fontes: Cardenal, 1960; Houaiss, 2001;
Stedman, 1979.
espirais agudas, regulares ou irregulares
e sem estrutura protoplasmática óbvia.
Coram-se com dificuldade, exceto com
Espirais de Curschmann: aglomerado
helicóide encontrado no escarro de o corante de Giemsa ou com a
pacientes com bronquite asmática, impregnação pela prata. Algumas
espécies são patogênicas e parasitam o
descrito por Heinrich Curschmann,
médico em Leipzig (1846-1910). homem e outros animais, produzindo
geralmente lesões locais nos tecidos.
Fontes: Cardenal, 1954; Dorland, 1947;
Stedman, 1979. (Ver Bouba).
Fontes: Cardenal, 1960; Stedman, 1979;
www.61; www.62.
Espiroqueta pertenuis (Spirochaeta
pertenuis): microrganismo inicialmente
Esporo: corpúsculo reprodutor de
batizado e descrito por Aldo Castellani
em “On the presence of spirochaetes in fungos e de certas espécies de bactérias.
De estrutura geralmente unicelular e
some cases of parangi (yaws,
uninuclear, os esporos são desprovidos
Framboesia tropica). Preliminary note”,
Journal of the Ceylon Branch of the de embriões, possuindo a capacidade
de germinar em determinadas
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 75

condições e de reproduzir agente um cogumelo que podia viver


assexuadamente os indivíduos de que por longo tempo como saprófito à custa
se originam. Resistentes ao calor e à de vegetais, os quais se tornavam,
dessecação, desenvolvem-se assim, agentes de transmissão. Àquela
diretamente ou após a fusão com outros época, o tratamento da esporotricose
esporos. consistia no uso interno de iodureto de
Fontes: Houaiss, 2001; Ferreira, 1999; potássio ou sódio em altas doses (3 a 5
Landouzy & Jayle, 1902; Littré & Gilbert, gramas por dia) ou, em caso de
1908.
intolerância, em injeções subcutâneas
de preparados iodados, como o óleo
Esporotricose: infecção geralmente iodado, o iodone, a iodo-gelatina etc.
benigna em homens e animais, causada Esse tratamento era coadjuvado pelos
por fungos da espécie Sporothrix amargos, pela antissepsia gástrica e pela
schenckii, na maioria das vezes limitada aplicação de pensos iodados sobre as
à pele e ao tecido subcutâneo, gomas ulceradas. Atualmente, a
podendo disseminar-se para ossos e infecção é tratada com o intraconazol
órgãos internos, especialmente em oral, sendo administrado, também, o
indivíduos imunodeficientes. São iodureto de potássio, apesar de não ser
descritas três formas: uma forma gomosa tão eficaz e de causar efeitos colaterais
disseminada (doença de Beurmann), na maioria dos pacientes.
uma linfagite gomosa (doença de (Ver Beurmann, Charles Lucien de;
Schenck) e uma forma hematógena Schenck, Benjamin R.).
caracterizada pela presença de Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001;
múltiplos abscessos. Espalhada pelo Stedman, 1979; www.34; www.58.
mundo todo, a esporotricose acomete
especialmente fazendeiros, jardineiros, Esporotricose linfagítica gomosa: o
horticultores e outros trabalhadores do mesmo que doença de Schenck.
campo, uma vez que o Sporotrix é (Ver Esporotricose).
encontrado, geralmente, em roseiras, Fonte: Stedman, 1979.
arbustos de uva-espim, musgo esfagno e
outras matérias vegetais. O fungo
Esquizomiceto: nome usado em
penetra no corpo através de ferimentos
sistemas antigos de classificação para
na pele das extremidades ou pelo tubo
designar a divisão do reino vegetal que
gastrintestinal. A lesão cutânea inicial é
abrange todas as bactérias. Em 1857,
característica: nódulo subcutâneo de
por exemplo, Carl Von Nägeli, botânico
consistência elástica, forma esférica e
de Munique, reuniu diversos gêneros de
móvel. Depois que adere à pele, torna-
bactérias no grupo que denominou
se avermelhada e, em seguida preta, por
esquizomicetos, pondo-o junto às
causa da necrose ou morte do tecido.
plantas primitivas incolores, os
Nos dias ou semanas seguintes, a
cogumelos. Em botânica, bactéria é
infecção cutânea dissemina-se através
sinônimo de esquizomiceto. Sob essa
dos vasos linfáticos da mão e do braço
denominação estavam compreendidos
até os linfonodos, formando nódulos e
os vegetais unicelulares desprovidos de
úlceras ao longo do trajeto, podendo
clorofila que se reproduzem por simples
chegar até os pulmões e outros tecidos.
divisão, como as bactérias e as algas
Segundo D’Elia (1926), a doença
azuis (cianófitas). No século XIX, o
começou a ser estudada no início do
termo era objeto de polêmica, no
século XX: considerava-se, então, seu
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76 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

contexto mais amplo das controvérsias A espécie tipo é a Streptococcus


sobre a natureza das bactérias. pyogenes, agente etiológico de várias
(Ver Bactéria; Cogumelo; Fungo). doenças infecciosas, descrita por Anton
Fontes: Benchimol, 1999; Houaiss, 2001; Rosenbach (1842-1923) em 1884.
Stedman, 1979; www.31. Outras espécies patológicas para o
homem são a S. pneumoniae (Klein,
Estafilococo: bactéria de forma 1884; Chester, 1901) causadora da
arredondada e gram-positiva que se pneumonia, e a S. aureus (Rosenbach,
apresenta, geralmente, em aglomerados 1884), agente de endocardites e
irregulares de cocos semelhantes a meningites. Algumas espécies não
cachos de uvas. Potencialmente patogênicas, como a S. lactis (Lister,
patogênicas, são imóveis, aeróbias ou 1873; Lohnis, 1909) e a S. cremoris
anaeróbias e não-formadoras de (Orla-Jensen, 1919), são utilizadas na
esporos. Podem provocar lesões fabricação de manteiga e outros laticínios.
supurativas locais, intoxicações (Ver Bactéria).
alimentares e graves infecções Fontes: Ferreira, 1999; Houaiss, 2001;
Landouzy & Jayle, 1902; Littré & Gilbert,
oportunísticas. São encontradas na pele,
1908; Stedman, 1979; www.168.
nas glândulas cutâneas, nas mucosas
nasais e em produtos alimentares.
(Ver Bactéria). Estricnina [C21H22N2O2]: substância
Fontes: Ferreira, 1999; Houaiss, 2001; isolada pelos químicos franceses Joseph
Landouzy & Jayle, 1902; Littré & Gilbert, Bienaimé Caventou (1795-1877) e
1908; Stedman, 1979.
Pierre Joseph Pelletier (1788-1842), em
1818. É extraída da casca e,
Estenose: estado congênito ou especialmente, das sementes de plantas
adquirido em que é muito menor do do gênero Strychnos, cujas espécies
que devia ser a luz, passagem ou mais perigosas são Strychnos nux-
calibre de um conduto natural ou vomica, Strychnos colubrina, Strychnos
orgânico, como, por exemplo, a uretra minor e Strychnos toxifera. Segundo
ou as válvulas cardíacas. A expressão Stedman (1979), estricnina é um
“estenose diftérica” designava, alcalóide da Strychnos nux-vomica,
provavelmente, essa anomalia apresentado em forma de cristais
observada na laringe, na traquéia e nos incolores de sabor intensamente
brônquios maiores. amargo, quase insolúveis na água.
Fontes: Larousse, 1971; Houaiss, 2001; Tendo como principal característica a
Stedman, 1979. capacidade de estimular o sistema
nervoso central, a estricnina é utilizada
Estreptococo: denominação comum às como estomáquico, antídoto para
bactérias que ocorrem em grupos de tóxicos depressivos e no tratamento de
pequenas esferas associadas em forma miocardite. Sua popularidade
de cadeias. São aeróbias ou terapêutica, contudo, é indesejável, pois
facultativamente anaeróbias, gram- é capaz de produzir envenenamento
positivas, não formadoras de esporos e agudo ou crônico no homem ou em
quase sempre imóveis. Geralmente animais. É utilizada até mesmo como
parasitas de vertebrados, localizam-se rodenticida. No final do século XIX,
especialmente na boca, nas vias Paulier (1882) recomendava a
respiratórias superiores e nos intestinos administração de pequenas doses dos
dos seres humanos e de outros animais. sais de estricnina em forma de pílulas,
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 77

injeções hipodérmicas, pomada,


xarope, pó, tintura e extrato alcoólicos,
para problemas gástricos (dispepsia,
embaraço gástrico, constipação),
afecções do sistema nervoso (paralisias
astênicas, hemiplegia, paraplegia),
cólera, pelagra, febres intermitentes e
outras doenças.
Fontes: Ferreira, 1999; Houaiss, 2001;
Paulier, 1882; Stedman, 1979.

Éter: composto orgânico cuja molécula


é constituída por dois grupamentos
hidrocarbônicos ligados a um mesmo
átomo de oxigênio. É resultante da
combinação de um álcool com um
ácido ou outro álcool, com eliminação
de água. Sob o calor, o ácido sulfúrico
produz, com o álcool, o éter sulfúrico,
também chamado óxido de etila, éter
etílico ou éter comum, cuja fórmula é
(C2H5)2O. Trata-se de um líquido incolor,
de cheiro característico, leve e volátil,
muito inflamável, e que ferve a 34ºC. A
ação paralisante sobre o sistema
nervoso confere-lhe qualidades
anestésicas. O éter inaugurou a
anestesia moderna, juntamente com o
protóxido de nitrogênio, ao ser
empregado nos Estados Unidos, por
volta de 1840, em cirurgias dentárias,
depois na cirurgia geral. Uma vez
inalado, o éter provoca acentuado
relaxamento muscular e permite farta
oxigenação. Seus inconvenientes são a
ação irritante sobre as vias respiratórias
e sobre os rins, e o aumento da tensão
intracraniana, o que o torna
contra-indicado em neurocirurgia. É
usado também como solvente e para
outros fins industriais.
Fontes: Ferreira, 1999; Larousse, 1971;
Koogan-Houaiss, 2004.
78 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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F
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 79

Faradização: terapêutica que utiliza a Favo (favus): infecção micótica do


corrente elétrica como indutor ou couro cabeludo causada pelo
estimulador de nervos e músculos. O Trichophyton schoenleinii, podendo
médico francês Guillaume Benjamin também atingir as unhas e regiões
Amand Duchenne, dito Duchenne de glabras. Caracteriza-se pela formação
Boulogne, é considerado o introdutor de pequenas crostas purulentas
da eletricidade no diagnóstico e semelhantes a favos em cujo centro
tratamento das afecções neurológicas, encontra-se o cabelo parasitado. Os
com a ajuda da qual descreveu e tratou pelos atacados tornam-se quebradiços,
a ataxia locomotora progressiva (tabes), atrofiados e caducos. A melhor
as paralisias musculares progressivas e descrição da doença, reconhecida
outras patologias do sistema nervoso. O desde a Idade Média, foi feita por
termo faradização é derivado de Raymond Sabouraud (1864-1938) em
Michael Faraday, físico e químico inglês 1910.
(1791-1867) que criou a teoria da O agente etiológico foi descoberto pelo
indução eletrostática e descobriu a médico alemão Johann Lukas Schönlein
indução eletromagnética (1831), (1793-1864), em 1839, sendo por isso
lançando as bases para a teoria do batizado por Robert Remak (1815-
eletromagnetismo de James Clerk 1865) como Achorion shoenleinii.
Maxwell (1831-1879). Segundo D’Elia Posteriormente, nova classificação dos
(1926), a corrente elétrica induzida agia fungos extinguiu o gênero Achorion e
de modo especial sobre a reconheceu apenas três categorias:
contratibilidade muscular e a excitação Microsporum, Trichophyton e
nervosa, e dava resultados considerados Epidermophyton. Também chamada
ótimos nas paralisias por lesão central. tinha favosa ou simplesmente favosa.
Fontes: D’Elia, 1926; Ferreira, 1999; Fontes: D’Elia, 1926; Fitzpatrick, 1971;
Larousse, 1971; Houaiss, 2001. Larousse, 1971; Houaiss, 2001; Landouzy &
Jayle, 1902; Littré & Gilbert, 1908;
Stedman, 1979; Veronesi, 1982; Weitzman &
Summerbell, 1995; www.159.
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80 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

Fenacetina [C10H13O2NO2]: amida são patogênicas, enquanto outras são


acética utilizada como analgésico, utilizadas na alimentação e na
antipirético e anti-reumático. Indicada produção de antibióticos. Durante
para combater a febre tifóide, gripe, muito tempo os fungos foram incluídos
pneumonia, tuberculose, o reumatismo no grupo dos vegetais inferiores e, nessa
e diversos tipos de nevralgias. Precisa condição, identificados às bactérias. Em
ser administrada com cuidado pois tem fins do século XIX, os dois termos eram
efeito altamente tóxico sobre os rins. considerados equivalentes, assim como
Fontes: Cardenal, 1960; Houaiss, 2001; as denominações micróbio, germe e
www.125. esquizomiceto. Não obstante essa
classificação, os fungos apresentam um
Framboésia trópica: Ver Bouba. conjunto de características próprias que
permitem sua diferenciação das plantas:
não sintetizam clorofila, não
Fucsina [C20H20CIN3]: variedade de apresentam celulose em sua parede
corante vermelho-de-rosanilina que se celular (exceto alguns fungos aquáticos)
fixa eletivamente em determinados e não armazenam amido como
elementos, facilitando sua observação. substância de reserva. Além disso, sua
É empregada em bacteriologia e parede celular é formada de quitina,
histologia especialmente na forma substância que reveste o corpo dos
amoniacal (método Gram), que divide artrópodes. Em razão dessas e de outras
as bactérias em gram-positivas e gram- diferenças, em 1969 passaram a ser
negativas, conforme a maior ou menor classificados em um reino à parte. O
fixação do corante. Também é usada na Reino Fungi foi constituído em seis
indústria têxtil para tingir couro. divisões, quatro delas de interesse
(Ver Coloração; Método de Gram). médico: Zygomycota, Ascomycota,
Fontes: Dorland, 1947; Houaiss, 2001; Basidiomycota e Deuteromycota. Nos
Stedman, 1979.
últimos anos, a introdução de novos
métodos de análise, particularmente
Fungo: designação comum dos técnicas biotecnológicas, tem
organismos pertencentes ao Reino provocado muitas modificações no
Fungi, heterotróficos, especialmente sistema de classificação dos fungos. A
saprófagos ou parasitas, aclorofilados, e edição do Dictionary of Fungi, de 1995,
cuja nutrição se dá por absorção. obra de referência para os estudiosos no
Crescem em massas irregulares, assunto, considera a existência de três
desprovidas de raízes, caules ou folhas, reinos distintos: Protozoa, no qual se
e reproduzem-se sexuada ou incluem alguns patógenos como, por
assexuadamente. Podem existir como exemplo, espécies dos gêneros
célula única, como no caso das Plasmodiophora e Spongospora;
leveduras, ou formar estrutura Chromista, que contém os fungos
vegetativa multicelular denominada Oomycota; e o reino Fungi
micélio, a qual é constituída de propriamente dito, constituído pelos
filamentos ramificados chamados hifas. chamados fungos verdadeiros. Entre as
Os fungos são encontrados em alterações mais significativas está a
ambientes úmidos ou como parasitas de transferência dos Oomycetos do reino
vegetais, animais e do próprio homem. dos fungos para o reino Chromista.
Os exemplos mais conhecidos são os Segundo os especialistas, os Oomycotas
mofos e cogumelos. Algumas espécies diferem dos fungos verdadeiros em
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 81

relação a várias características


estruturais, bioquímicas, fisiológicas e
moleculares. Outra mudança
importante foi a extinção da classe
Deuteromycetes, formada pelos
chamados fungos imperfeitos (aqueles
cujo estágio sexual não foi identificado).
As recentes modificações na taxonomia
dos fungos ainda são objeto de
polêmica entre os especialistas, e novas
mudanças poderão ser feitas com a
introdução de técnicas de análise mais
avançadas.
(Ver Bactéria; Cogumelo; Hifa).
Fontes: Cardenal, 1960; Dorland, 1947;
Ferreira, 1999; Houaiss, 2001; Koogan-
Houaiss, 2004; Littré & Gilbert, 1908;
Murray, 1910; Stedman, 1979; www.144;
www.145.

Furunculose: abscesso estafilocócico


causado pelo Staphylococcus aureus,
caracterizado pelo surgimento
sincrônico e consecutivo de furúnculos.
Infecção extremamente aguda e
dolorosa, limitada a um folículo
pilossebáceo, que se apresenta como
carnegão na parte central da região
inflamada e desaparece em intervalos
variáveis. Habitualmente, ocorre nas
axilas, nos glúteos e no nariz.
Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001;
www156.
82 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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G
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 83

Gieson, Ira van: histologista e Gougerot, Henri: médico francês (Saint-


bacteriologista de Nova York (1865- Ouen, Seine, 1881 – Paris, 1955),
1913). professor de doenças cutâneas e
(Ver Coloração de van Gieson). sifilíticas no Hospital Saint-Louis, de
Fonte: Stedman, 1979. 1928 a 1952. Autor de importantes
trabalhos sobre micoses cutâneas
Gilchrist, Thomas C.: médico (esporotricose), dermoepidermites
norte-americano (1862-1927). microbianas, alergia, tratamento e
(Ver Blastomicose norte-americana). prevenção da sífilis.
(Ver Esporotricose; Sífilis).
Fonte: Stedman, 1979.
Fonte: Larousse, 1971.

Glossy skin ou atrophoderma


neuriticum: condição decorrente da Guaiacol: substância derivada do
inflamação e lesão dos nervos tróficos, creosoto, que é extraído da faia
na qual a pele, geralmente das mãos, (designação comum às árvores do
apresenta eritemas e assume coloração gênero Fagus e Nothofagus, da família
acinzentada e brilhante. Pode se das fagáceas), usada, em larga medida,
manifestar em associação com a no tratamento da tuberculose pulmonar
alopecia, as fissuras e ulcerações na e como antisséptico local. Alguns de
pele. É conhecida também como pele seus derivados também eram utilizados
brilhante, atrofodermia neurítica ou no tratamento da febre tifóide
atrofia brilhante da pele. (carbonato de guaiacol), do reumatismo
e das afecções intestinais (salicilato de
Fontes: Dorland, 1947; Stedman, 1979;
www.71; www.72. guaiacol). Servia ainda como
expectorante.
(Ver Creosoto).
Fontes: Dorland, 1947; Houaiss, 2001;
Stedman, 1979.
84 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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H
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 85

Hebra, Ferdinand Ritter von: nasceu passou a atribuir grande importância


em Brünn, atual República Tcheca, em aos fatores locais na produção das
7 de setembro de 1816. Formado em doenças cutâneas, afastando-se com
medicina pela Universidade de Viena isso das teorias constitucionalistas
em 1941, tornou-se assistente de Josef sustentadas pela escola francesa.
Skoda (1805-1881), um dos mestres da Negava, assim, a etiologia humoral para
medicina clínica vienense, responsável explicar a causa dessas enfermidades,
pela seção de doenças do tórax no chamando a atenção para o papel
Allgemeines Krankenhaus (Hospital desempenhado pelos microrganismos.
Geral), seção que, curiosamente, Hebra foi aluno de Karl von Rokitansky
abrigava uma enfermaria para doenças (1804-1878), um dos fundadores da
de pele. Hebra dedicou-se inicialmente anatomia patológica moderna, a quem
ao estudo da sarna. Supôs, a princípio, sucedeu na presidência da Wiener
que fosse uma doença sistêmica, porém Akademie der Wissenschften. Aplicou o
logo verificou que era causada por um instrumental desenvolvido por
ácaro. Publicou sua descoberta em Rokintansky aos estudos
Über die Krätze (1844). Realizando dermatológicos, e em 1845 propôs uma
experiências com irritantes, como o nova classificação para as doenças de
óleo de cróton, que, friccionado à pele pele, distribuindo-as em doze categorias
normal, dava lugar a um eczema, Hebra principais. O sistema criado por ele
observou que qualquer processo tornou-se referência entre os
inflamatório podia ser produzido por dermatologistas, e foi utilizado durante
fatores externos, fato que provava a quase um século. Não obstante a
existência de alterações patológicas importância de seus estudos em
específicas à pele, não explicáveis à luz anatomoia patológica, foi na clínica que
da patologia geral. Sem negar a deixou suas maiores contribuições.
existência de doenças sistêmicas, Hebra foi o primeiro a descrever o
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86 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

rinoscleroma (1872), o impetigo Acuminado; Líquen rubro;


herpetiforme (1872), o lichen Rinoscleroma).
acuminatus, o lichen scrofulosorum e o Fontes: Carneiro, 2002; Freedberg, 1999;
prurido batizado com seu nome Olpp, 1932; www.31; www.57.
(prurido de Hebra). Colaborou para
uma melhor caracterização de várias Hektoen, Ludwig: patologista norte-
outras doenças, entre elas o eczema americano, nascido em Westby,
marginatum e diversos tipos de Wisconsin, em 2 de julho de 1863.
xantomas e pênfigos. Também Graduou-se em 1887 pela Faculdade
estabeleceu a natureza da urticária e de Médicos e Cirurgiões de Chicago, da
dos pruridos como doenças internas. Os qual foi professor de 1892 a 1894.
dois trabalhos mais importantes de Também lecionou no Rush Medical
Hebra foram o monumental Atlas der College (1895- 1933), e chefiou o
Hautkrankheiten (Atlas das doenças de Departamento de Patologia da
pele), com estampas de Anton Elfinger, Universidade de Chicago, na qual
e o Lehrbuch der Hautkrankheiten trabalhou de 1901 a 1932. Hektoen foi
(Manual das doenças de pele), o primeiro a produzir culturas
completado pelo húngaro Moritz sanguíneas a partir de pacientes vivos.
Kaposi, obra que consagra sua Sugeriu que a reação à transfusão
reputação e que foi considerada por sanguínea poderia ser evitada caso
muito tempo a Bíblia da dermatologia. doador e receptor tivessem tipos
Numa época em que essa especialidade sanguíneos compatíveis. Dedicou
começava a se constituir, Hebra ajudou muitos anos de pesquisa ao câncer.
a transformar a Universidade de Viena Participou de diversas sociedades
no principal centro de estudos médicas nacionais e internacionais e foi
dermatológicos do mundo. No âmbito editor de periódicos médicos, inclusive
do curso que ministrava na Faculdade o Journal of Infectious Diseases e os
de Medicina, e também em sua clínica, Archives of Pathology. Foi também
surgiu uma nova geração de presidente das sociedades de Medicina
dermatologistas, liderada por médicos (1919-1921) e Patológica de Chicago
igualmente brilhantes, como Moritz (1898-1902). Fundou em 1915 o
Kaposi (1837-1902), seu genro e Instituto de Medicamentos de Chicago,
sucessor na cadeira de dermatologia, cidade em que faleceu em 5 de julho
em Viena; Heinrich Auspitz (1835- de 1951.
1886); Isidor Neumann (1832-1906);
Fontes: www.36; www.146.
Filip Joseph Pick (1834-1910) e Paul
Gerson Unna. Seu filho Hans von
Hebra, também professor de Hérnia crural: o termo hérnia designa
dermatologia, foi um dos fundadores, passagem, parcial ou total, de um ou
juntamente com Oscar Lassar e Unna, mais órgãos ou de formações
do Monatshefte für praktische anatômicas de sua localização normal
Dermatologie, primeiro periódico de para outra anormal através da parede
dermatologia da Alemanha, e, durante da cavidade que o contém, ou através
muito tempo, um dos principais de orifício patológico, ou que se tornou
divulgadores da especialidade no patológico. A hernia crural, também
mundo. Ferdinand Hebra faleceu em conhecida como hérnia femoral, é a
Viena, em 5 de agosto de 1880. protrusão de uma víscera abdominal ou
(Ver Escabiose; Líquen; Líquen pélvica através do canal crural, conduto
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 87

fibroso que, no triângulo de Scarpa, sexuais. O herpes-zóster, comumente


contém os vasos femorais. Ela tende a chamado de cobreiro, é causado pelo
ser pequena e assintomática, ou com mesmo vírus da varicela (catapora), o
sintomas leves até complicar-se em Herpesvirus varicellar. As lesões
virtude de encarceramento ou causadas pelos vírus do herpes secam e
estrangulação. desaparecem em cerca de duas
O tratamento, então, é necessariamente semanas, mas o vírus continua alojado
cirúrgico. Por ser uma afecção acessível nas células nervosas, e pode haver
à palpação, facilmente detectável, os recaída da doença em ocasiões de
conhecimentos sobre hérnias remontam estresse físico ou emocional. Antes de
à Antiguidade. Elas são mencionadas Robert Willan (1757-1812), médico
no papiro de Ebers, 1500 a.C., e inglês considerado um dos fundadores
representadas em terracotas gregas da dermatologia, o termo herpes era
muito antigas. Celso, no primeiro século usado para designar doenças crônicas
depois de Cristo, realizou várias da pele, não contagiosas e hereditárias,
operações de hérnia inguinal. Em 1869, que se distinguiam seja pela pertinácia,
Joseph Lister praticou a primera seja pelo trajeto serpeante sobre a pele,
operação de hérnia estrangulada seja ainda pela sensação de prurido. O
seguindo os princípios antissépticos. As próprio Willan deu o nome de herpes a
bases anatômicas para o uma doença benigna da pele, com
desenvolvimento desse tipo de cirurgia decurso agudo, que se manifestava
foram estabelecidas por Antonio Scarpa através de grupos grandes de vesículas
(1748-1832), Julius Germain Cloquet como grãos de milho ou lentilhas
(1790-1883), Antonio de Gimbernat repletas de um líquido claro. Segundo
(1742-1790), Sir Astley Paston Cooper Willan, a doença nunca acometia
(1768-1841), Franz Kaspar Hesselbach grandes trechos do corpo; localizava-se
(1759-1816) e, sobretudo, Eduardo em determinados pontos e terminava
Bassini (1844-1929). espontaneamente com a cura, deixando
Fontes: Ferreira, 1999; Larousse, 1971; ou não cicatrizes, depois que as
Houaiss, 2001; www.154. vesículas secavam e a crosta caía. Na
década de 1920, esse conceito era
Herpes: do verbo de origem grega geralmente aceito, salvo o modo
herpo: serpentear, arrastar-se diverso de agrupar as várias espécies de
penosamente. Designa, genericamente, herpes. Já se distinguiam, então, a
várias dermatoses inflamatórias herpes facial, labial ou febril; a herpes
causadas por Herpesvirus, genital ou pro-genital e a herpes irídea.
caracterizadas pela erupção de Fontes: Carneiro, 2002; Houaiss, 2001;
vesículas na pele e nas mucosas que, ao Landouzy & Jayle, 1902.
se romperem, provocam dor. Existem
duas espécies de vírus de herpes Herpes tonsurans (herpes tonsurante):
simples: tipos 1 e 2. O tipo 1 produz também conhecida como tínea, tinha,
pequenas vesículas que, em geral, tinha descalvante, tinha tonsurante,
aparecem perto da boca e que são doença de Saint Aignan, serpigem e
chamadas herpes labial ou bolhas de tricofitose da cabeça. A herpes
febre. tonsurante faz parte do grupo de
O tipo 2 está associado a uma doença doenças genericamente conhecidas
sexualmente transmissível que produz como tinha, causadas por fungos
ulcerações dolorosas nos órgãos parasitas e caracterizadas por infecção
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88 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

da pele do couro cabeludo e de seus tinhas é feito com griseofulvina


apêndices. A doença apresenta-se microcristalina, em comprimidos ou
habitualmente sob a forma de áreas suspensão. O tratamento tópico é quase
escamosas de alopecia (perda total ou desnecessário, mas pode auxiliar a cura
parcial de pêlos ou cabelos) com e prevenir infecções durante o
pontos pretos que indicam a quebra das tratamento. Desde o início do século
hastes pilosas; isso é conseqüência de XX, o nome “tinha” passou a designar
afecção da parte intrafolicular dos várias afecções do couro cabeludo:
cabelos, que se rompem no nível de eczema, psoríase, herpes tonsurante etc.
emergência. Resultam, então, placas Atualmente, herpes (que nada tem a ver
circulares, às vezes confluentes, de com a herpes tonsurante) designa
número e tamanho variados, róseas no genericamente várias dermatoses
início, branco-acinzentadas depois, inflamatórias causadas por herpesvirus.
escamosas, raramente pustulentas ou A expressão herpes tonsurans maculous
crostosas. A região pontilhada de tocos et squamosus foi utilizada por Hebra
de cabelos partidos é, às vezes, como denominação da doença hoje
entremeada por tufos de cabelos conhecida como pitiríase rósea.
aparentemente normais, o que dá a (Ver Herpes; Pitiríase circinada
impressão de áreas tonsuradas. Entre os marginada; Microsporum.
gêneros comuns de fungos que causam Fontes: D’Elia, 1926; Freedberg, 1999;
essa infecção destacam-se o Houaiss, 2001; Veronesi, 1982; Wyngaarden,
1992.
Microsporum, o Tricophyton, o
Epidermophyton e o Keratinomyces. As
tinhas tonsurantes são chamadas de Herrick, James Bryan: médico norte-
tricofíticas quando causadas por fungos americano nascido em 1861, em Oak
do gênero Trichophyton, pelas espécies Park, Illinois, e falecido em 1954, em
tonsurans, mentagrophytes ou, mais Chicago. Concluiu seus estudos, em
raramente, violaceum e verrucosum. 1888, na Rush Medical College onde
São microspóricas quando causadas foi professor de 1900 a 1927. Também
pelas espécies canis e gypseum do trabalhou no Cook County Hospital e
gênero Microsporum. A espécie no Presbyterian Hospital de Chicago.
audouini desse gênero, que acomete Iniciou sua prática como clínico geral,
somente humanos, comum nos países mas logo desenvolveu interesse pela
frios e temperados, é encontrada às medicina interna, em particular pelas
vezes nos estados sulinos do Brasil. As doenças cardiovasculares. Herrick foi o
tinhas tonsurantes microspóricas primeiro a descrever a trombose
desaparecem espontaneamente quando coronária, e a identificá-la como a
a criança chega à puberdade, mas as origem de muitos ataques do coração.
tricofíticas, principalmente aquelas Descobriu a anemia falciforme em
produzidas pelo T. violaceum, podem 1910, e realizou importantes estudos
persistir até a idade de quinze a vinte nessa área. Presidente de várias
anos ou mais. O aumento dos ácidos associações médicas, foi premiado com
graxos fungistáticos da secreção a American Medical Association’s
sebácea do couro cabeludo, em Distinguished Cross.
decorrência de modificações Fontes: www.36; www.37; www.38.
endócrinas, explica por que as regiões
acometidas se tornam inabitáveis para Hifa: unidade estrutural do corpo
as espécies em causa. O tratamento das vegetativo, ou micélio, da maioria dos
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 89

fungos, que forma filamentos simples ou


ramificados, divididos ou não por septos
transversais. Em muitos tipos de fungos,
o micélio cresce debaixo da superfície
da matéria da qual eles se nutrem.
(Ver Fungo).
Fontes: Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss,
2004; Silveira, 1981.

Hifomiceto: classe de fungos


imperfeitos encontrados em habitat
aquático ou terrestre, providos de
micélios bem desenvolvidos, entre
os quais se incluem os mofos, alguns
deles patogênicos.
(Ver Fungo).
Fontes: Cardenal, 1960; Houaiss, 2001.

Hirsch, August: médico e historiador da


medicina nascido em Danzig, à época
possessão da Prússia, em 4 de outubro
de 1817. Reconhecido como um dos
grandes nomes da geografia médica,
participou de várias expedições a fim de
estudar, de uma perspectiva global, a
distribuição de diversas doenças, tais
como a peste, o cólera e a meningite
cérebro-espinhal. No estudo sobre o
raquitismo, por exemplo, estabeleceu
sua relação com o clima frio e úmido,
afirmando que a doença inexistiria nos
climas tropical e subtropical. Entre suas
principais obras, destacam-se
Handbuch der historisch-
geographischen Pathologie (1881-1886,
Manual de patologia histórico-
geográfica, 3 volumes), Geschichte der
medizinischen Wissenschaften in
Deutschland (1893, História das
ciências médicas na Alemanha) e
Biographisches Lexikon der
hervorragenden Ärzte aller Zeiten
(1884-1888; 1929-1935, Enciclopédia
biográfica dos ilustres médicos de todos
os tempos, 6 volumes), da qual foi
editor. Faleceu em Berlim, onde foi
professor, no dia 28 de janeiro de 1894.
Fontes: Lello, 1942.
90 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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I
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 91

Ictiose: dermatose hereditária terciária. No século XIX, era também


caracterizada pela hipertrofia da empregado na terapêutica da
camada córnea da pele, o que provoca tuberculose linfática e da asma, entre
o ressecamento da epiderme, que solta outras aplicações. Atualmente, é usado
escamas semelhantes às de peixe. como expectorante e antifúngico, sendo
Desde o final do século XIX, são ministrado em poções, soluções ou
reconhecidas distintas formas de ictiose, xaropes. É também utilizado na
entre elas a icitiose simples, a serpentina fabricação de papéis e reveladores
e a ictiose hystrix. A primeira descrição fotográficos.
da doença foi feita por Robert Willan (Ver Iodo; Sífilis).
(1757-1812), em 1808. Fontes: Lello, 1942; Littré & Gilbert, 1908;
Fontes: D’Elia, 1926; Fitzpatrick, 1971; Paulier, 1882; www.147; www.148.
Houaiss, 2001; Landouzy & Jayle, 1902;
Littré & Gilbert, 1908; Stedman, 1979;
www.211. Iodo: substância química sólida e
cintilante da família dos halógenos, de
Iodeto de potássio (KI): sal branco, número atômico 53, símbolo “I” e
cristalizável em cubos, muito solúvel em configuração eletrônica [Kr]4d105s25p5,
água e álcool, podendo fundir-se que se volatiliza quando aquecida. Foi
quando exposto ao calor. Resulta da descoberto por acaso em 1811 pelo
decomposição do iodeto de ferro pelo químico francês Bernard Courtois
carbonato de potássio, ou do (1777-1838), que cuidava da
aquecimento do iodo com potássio ou fabricação de nitrato de potássio para os
carbonato de potássio. Até o advento exércitos de Napoleão Bonaparte. Seu
dos antibióticos, na década de 1930, processo baseava-se na transformação
quando foi subsituído pela penicilina, o de nitrato de cálcio proveniente de
iodeto de potássio foi largamente depósitos de salitre em nitrato de
utilizado no tratamento da sífilis potássio, a partir da potassa obtida das
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92 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

cinzas de algas marinhas. Ao usar ácido problemas de absorção e fixação do


sulfúrico para extrair as impurezas iodo naquela glândula, induzindo a um
dessas cinzas, Courtois percebeu a funcionamento anormal
presença de tênue fumaça que (hipertireoidismo). Por isso, em regiões
condensava e corroía objetos de cobre. montanhosas da Europa, distantes do
Mais tarde, verificou a formação de um mar, onde a incidência de bócio é
precipitado que dava origem a um gás comum costuma-se adicionar pequena
violeta. Posteriormente, Joseph Louis porção de iodo ao sal de cozinha para
Gay-Lussac (1778-1850) identificou tal suprir essa insuficiência na dieta
substância como novo elemento alimentar. Imprescindível ao
químico, que chamou de iodo, palavra funcionamento metabólico global, o
derivada do grego iodès, que significa iodo influi na composição da tiroxina e
“violeta”. O iodo é amplamente da triiodotiroxina, hormônios da
encontrado na natureza, associado ao glândula tireóide que atuam nas
sódio nos resíduos da água do mar, em funções renais e respiratórias, nos
esponjas e plantas marinhas. Também músculos e ossos, no sistema
está presente na carne dos peixes, em cardiovascular e no sistema nervoso
legumes e frutas (abacaxi, agrião, alho- (termogênese). A falta de iodo na
poró, ameixa e cebola, por exemplo), e infância e adolescência pode
alguns poucos minerais como a laurite e interromper ou retardar o
o iodato de cálcio, retirados desenvolvimento ósseo (raquitismo).
principalmente de depósitos de nitrato Nessa fase, a redução da atividade
chilenos. No homem, o iodo fica tireoidiana também pode provocar
armazenado na glândula tireóide. Sua grave distúrbio físico e intelectual
mais importante utilização em medicina conhecido como cretinismo. Os efeitos
é como antisséptico tópico, conhecido mais amenos do hipotireoidismo são
pelo nome de “tintura de iodo” (iodo a cutâneos (pálpebras inchadas,
2%, com 2,4% de iodeto de sódio em tegumentos ressecados), musculares
álcool, a 50%). É usado internamente (anenergia e cãibras), neuropsíquicos
em casos de escrofulismo (tuberculose (apatia, morosidade de raciocícinio),
linfática), hipertrofia ganglionar, bem como amenorréia, anorexia,
raquitismo, sífilis e problemas nas dispepsia, hipotermia e impotência
membranas mucosas e serosas. Há sexual. A utilização de iodo em
ainda o iodo radioativo (isótopo I 131), medicamentos deve ser bastante
muito eficaz no diagnóstico do câncer cuidadosa, pois seu uso prolongado ou
da tireóide. Outras aplicações do iodo e em doses excessivas causa intoxicação
seus subprodutos são: contraste de (iodismo). As substâncias iodadas para
fotografia, raios X, iodetos alcoólicos, contraste em análises clínicas podem
iodofórmio, óleo para máquinas e, ocasionar rash cutâneo e outras alergias.
ainda, como matéria-prima na Como medida preventiva contra
produção de metais como o háfnio, choques anafiláticos em urografias
silício, titânio e zircônio. As pesquisas intravenosas, deve-se fazer todos os
sobre a ação do iodo no organismo testes necessários de sensibilidade ao
animal tornaram-se particularmente iodo. Vários tipos de fármaco possuem
importantes a partir de 1895, quando se iodo em sua fórmula: antálgicos,
revelou sua relação com a tireóide. Não antiarrítmicos, antiasmáticos, antigota,
demorou muito para se verificar que a anti-hipertensivos, antissépticos
causa do bócio estava relacionada a externos e intestinais,
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 93

bronquiodilatadores etc. (Ver Sífilis;


Tintura de Iodo).
Fontes: Cardenal, 1947; Hawley, 1950;
Houaiss, 2001; Jackson, 1920/1935?; Koogan-
Houaiss, 2004; Paulier, 1882; www.102;
www.109; www.110; www.111; www.112;
www.113; www.114; www.115; www.138.

Iodofórmio [CHl3]: substância em


desuso desenvolvida em 1822 pelo
farmacologista e químico francês
Georges-Simon Serullas (1774-1832), o
iodofórmio apresenta-se sob a forma
cristalizada em palhetas brilhantes
amarelo-enxofre que sofrem
evaporação à temperatura ambiente e
se volatilizam com o vapor. Contém
96% de iodo em sua fórmula, odor
pungente e desagradável. Usado como
anestésico e antisséptico tópico de ação
prolongada, exerce efeito
antimicrobiano em mucosas e reduz a
secreção de lesões. Resultante da
reação do iodo sobre o álcool e algum
metal alcalino, pode ser preparado
como óleo, pasta ou substâncias
hidrossolúveis como a água destilada
ou o soro fisiológico. No passado, foi
bastante utilizado para tratamento
endodôntico de canal, mas foi
progressivamente abandonado pelas
propriedades tóxicas do iodo, pela
alteração na cor do esmalte dos dentes,
por seu cheiro e sabor desagradáveis.
(Ver Iodo).
Fontes: Cardenal, 1947; Hawley, 1950;
Houaiss, 2001; Jackson, 1920/1935?; Koogan-
Houaiss, 2004; Paulier, 1882; www.116;
www.117; www.124; www.177.
94 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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K
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 95

Kaposi, Moritz Kohn: médico húngaro including the exanthemata”, 1866-


nascido em Kaposvár, em 23 de 1880; “Lehrbuch der Hautkrankheiten”,
outubro de 1837. Após diplomar-se 1874-1877). Em 1875, assumiu a
pela Faculdade de Medicina de Viena, cadeira que havia sido ocupada pelo
em 1861, foi nomeado assistente de mestre na Universidade de Viena, e em
Ferdinand von Hebra (1816-1880), 1879 foi nomeado diretor da clínica
famoso dermatologista austríaco, com dermatológica da mesma cidade.
quem trabalhou de 1862 a 1867. Casado com a filha de Hebra, que era
Prolífico escritor, Kaposi deu inúmeras católico, Moritz Kohn, judeu,
contribuições originais à dermatologia, acrescentou o sobrenome Kaposi em
dedicando-se aos aspectos clínico, homenagem a seu lugar de nascimento.
patológico e terapêutico das doenças Dos vários epônimos associados ao
com manifestação cutânea. Teve médico húngaro, destaca-se o sarcoma
especial interesse pelas lesões na pele e de Kaposi, raro tipo de câncer por ele
mucosa causadas pela sífilis, assim descrito em 1872, hoje associado a
como pela etiologia e tratamento dessa muitos casos de Aids. Kaposi faleceu
doença. Realizou estudos sobre a em Viena, a 6 de março de 1902.
dermatitis herpetiformis (primeiramente (Ver Hebra, Ferdinand Ritter von;
descrita por von Hebra), a Líquen; Lúpus Eritematoso).
lymphoderma perniciosa e o lichen Fontes: Encyclopædia Britannica, 2001;
ruber moniliformis, doenças que Larousse, 1971; www.190.
caracterizou como entidades
específicas. Juntamente com Hebra e Kimball, John Hancock: médico norte-
outros dermatologistas, produziu americano nascido em 9 de julho de
descrições do lupus erythematosus da 1832, numa parte do estado de Maine
pele, do rinoscleroma e do rinofima, posteriormente anexada a Bridgton,
além de publicar trabalhos sobre onde veio a falecer em 20 de junho de
dermatologia (“On diseases of the skin, 1902. Graduado em medicina pela
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96 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

Harvard Medical School, em 1857, (Ver Crudeli, Tommasi Corrado).


serviu na Guerra Civil norte-americana Fontes: Encyclopædia Britannica, 2001;
(1861-1865), tendo sido recrutado duas Larousse, 1971; www.165.
vezes como cirurgião do exército da
União. Acompanhado da filha, chegou Koebner, Heinrich: dermatologista
ao Havaí em 11 de junho de 1882. Em alemão (1838-1904), considerado o
outubro desse mesmo ano, foi nomeado fundador da dermatologia clínica
médico do governo norte-americano universitária e pioneiro da dermatologia
para o distrito de Hilo, onde em Breslau (Prússia). Tem seu nome
permaneceu até maio de 1888. associado a um fenômeno por ele
Transferido para Honolulu, ficou descrito em 1872: a reação ou efeito
responsável pelo dispensário da capital isomórfico, também conhecido como
havaiana até janeiro de 1890, quando fenômeno de Koebner, ocorre em certos
se tornou presidente do Conselho de tipos de dermatoses, principalmente a
Saúde do Reino do Havaí. Renunciou psoríase, em resposta a traumas como
ao cargo após nove meses de trabalho, escoriações, queimaduras ou pressão
retornando aos Estados Unidos no sobre a pele, dando origem a lesões
início de 1891. típicas nos locais atingidos.
Fontes: www.193.
Fontes: Stedman, 1979; www.192; www.191;
www.174; www.208.
Klebs, Edwin: médico e bacteriologista
alemão nascido em Koenisberg, em
6 de fevereiro de 1834, e falecido em
Berna, em 23 de outubro de 1913.
Reconhecido por suas observações
originais sobre doenças infecciosas,
apoiadas na bacteriologia, realizou
pesquisas sobre tuberculose, malária,
antraz e sífilis. Em 1879, juntamente
com o médico italiano Tommasi
Crudeli, descreveu o Bacillus malariae,
microrganismo que consideraram o
causador da malária. Klebs notabilizou-
se, principalmente, pela descrição do
bacilo da difteria, em colaboração com
Friedrich August Johannes Löffler, em
1884. Assistente de Rudolf Virchow
(1821-1902) no Instituto de Patologia
de Berlim entre 1861 e 1866, lecionou
anatomia patológica em diversas
universidade européias e, a partir de
1896, no Rush Medical College, em
Chicago, Estados Unidos. Além de
monografias e artigos, publicou um
manual de anatomia patológica (1869-
1876) e um tratado sobre patologia
geral (1887-1889).
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L
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 97

Láudano: nome genérico de estudou na Noruega, Itália e sul da


medicamento à base de ópio, muito França. Foi um dos defensores da
difundido à época de Adolpho Lutz, de transmissão desta última doença por
efeito sedativo, usado em aplicações meio da inoculação de seu agente por
externas e, por vezes, internamente. mosquitos, pois acreditava que a
Sem qualificativo, designa a fórmula epiderme e hipoderme constituíam
criada pelo médico inglês Thomas barreiras à entrada do microrganismo
Sydenham (1624-1689), vinho ou causador da doença, inviabilizando o
tintura de ópio composto de ópio contágio direto através do simples
oficinal (200 g), açafrão (100 g), canela contato. Chefe de Clínica no Hospital
do Ceilão (15 g), cravo da Índia (15 g) e Saint-Louis em 1882, passou a lecionar
vinho de Grenache (1.600 g). dermatologia e sífilis em Lille na
Fontes: Ferreira, 1999; Houaiss, 2001; condição de professeur agrégé a partir
Koogan-Houaiss, 2004; Pinto, 1949. de 1884, sendo nomeado professor da
faculdade no ano seguinte. A doença
de Leloir, também conhecida como
Leloir, Henri Camille Chrysostôme:
lúpus vulgar eritematóide, é uma forma
dermatologista francês nascido em
de tuberculose cutânea que guarda
Tourcoing, em 30 de novembro de
alguma semelhança com o lúpus
1855, e falecido em Paris, em 18 de
eritematoso.
junho de 1896. Estudante nas
(Ver Lepra; Lúpus Tuberculoso).
Faculdades de Medicina em Lille e
Fontes: www.178; www.204.
Paris, doutorou-se nesta última em
1881. É reconhecido principalmente
por suas pesquisas sobre a tuberculose Lepra: hanseníse, elefantíase-dos-
cutânea, as trofodermatoses – gregos, gafa, gafeira, gafo, guarucaia,
dermatoses devidas a problemas de lazeira, macota, macutena, mal,
nutrição da pele – e a lepra, que mal-bruto, mal-de-cuia, mal de Hansen,
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98 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

mal-de-lázaro, mal-de-são-lázaro, mal- ulceradas podem atingir a pele ou


do-sangue, mal-morfético, morféia. No mucosa (sobretudo a nasal) da pessoa
Brasil, a substituição do vocábulo lepra sã e penetrar no organismo através de
por hanseníase foi proposta fendas aí presentes. A infecção pelo
inicialmente na década de 1970, no bacilo, contudo, não implica
Estado de São Paulo, por acreditar-se obrigatoriamente a aquisição da
que isso ajudaria a desfazer o milenar doença, que depende do grau de
estigma imputado ao enfermo. A resistência de cada indivíduo e de
proposta foi oficializada pelo governo peculiaridades do bacilo de Hansen:
federal por meio do Decreto no 76.078, alta infectividade e baixa
de 4 de agosto de 1975, que alterou a patogenicidade, ou seja, capacidade de
denominação da Divisão Nacional de infectar grande número de pessoas, mas
Lepra para Divisão Nacional de de desenvolver-se como doença em
Dermatologia Sanitária, e da Campanha pequeno número de infectados.
Nacional Contra a Lepra para Atualmente, são reconhecidas quatro
Campanha Nacional Contra a formas clínicas da doença:
Hanseníase. Vinte anos depois, por indeterminada, tuberculóide, dimorfa e
meio da Lei no 9.010, de 29 de março virchoviana. Com o objetivo de
de 1995, foi determinada pelo governo simplificar o diagnóstico, a Organização
federal a substituição do termo “lepra” e Mundial de Saúde adotou outra
seus derivados na linguagem classificação que distingue as categorias
empregada nos documentos oficiais da bacilífera (multibacilares) e não-
administração centralizada e bacilífera (paucibacilares). A primeira,
descentralizada da União e dos Estados- responsável pela cadeia de transmissão
membros. Doença infecto-contagiosa quando não tratada, caracteriza-se pela
crônica, curável desde as décadas de presença de grande número de bacilos
1940 e 1950, causada pelo bacilo de no indivíduo infectado. Na segunda
Hansen (Mycobacterium leprae), categoria, o Mycobacterium leprae
microrganismo identificado pelo ocorre de maneira escassa,
médico norueguês Gerhard Henrik apresentando até mesmo resultado
Armauer Hansen (1841-1912) em 1874. negativo para o exame laboratorial. Ao
Manifesta-se por meio de lesões longo dos séculos XIX e XX houve
cutâneas anestésicas e distúrbios várias tentativas de se estabelecer
neuríticos, evoluindo, de acordo com o classificação precisa que desse conta
grau de resistência dos enfermos, seja das diferentes manifestações clínicas da
para a regressão espontânea, seja para o lepra, do ponto de vista clínico,
agravamento progressivo do quadro bacteriológico, imunológico,
clínico, com comprometimento gradual histopatológico e evolutivo. Segundo
dos nervos sensitivos da pele e de François Henri Hallopeau (1842-1919),
troncos nervosos, da mucosa nasal e a diferenciação estabelecida por
orofaringolaríngea, olhos e vísceras. A Robinson, em 1819, entre a lepra
transmissão da doença ainda apresenta tuberculosa e a anestésica teria sido
aspectos obscuros, mas se admite que aceita primeiramente por Daniel
ocorra, sobretudo em condições, Cornelius Danielssen (1815-1894) e
segundo alguns médicos, de contato Carl Wilhelm Boeck (1808-1875), e daí
íntimo e prolongado, por contágio em diante por diversos outros autores.
direto: os bacilos eliminados por meio Admitia-se, ainda, a forma mista, em
de perdigotos, muco nasal e lesões que se manifestavam as duas formas
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 99

descritas por Robinson. Utilizando 12 gotas, diversas vezes ao dia. O licor


parâmetros não muito diferentes dos de de Fowler foi utilizado como tônico e
Robinson, Henri Camille Chrysostôme no tratamento de processos infecciosos
Leloir (1855-1896) distinguia as formas e de afecções cutâneas como o líquen
tegumentar e nervosa; Gerhard Armauer rubro e a psoríase. Até as primeiras
Hansen e Carl August Looft (1863- décadas do século XX, foi também
1943), as formas tuberosa e maculo- empregado no tratamento da leucemia.
anestésica. Adolpho Lutz, em fins da (Ver Líquen rubro).
década de 1880, reconhecia três Fontes: D’Elia, 1926; Littré & Gilbert, 1908;
modalidades de lepra – tuberosa, Paulier, 1882; www.149; www.150;
www.151.
nervosa e maculosa –, e ainda formas
mistas. Paul Gerson Unna (1850-1929)
classificava as manifestações cutâneas Linfa de Koch: líquido estéril extraído
da lepra em dois grupos: lepromas e de uma cultura de bacilos da
neuro-lépridas (erupção cutânea tuberculose e empregado no diagnóstico
consecutiva a uma nevrite devida ao da doença. Também chamada
bacilo de Hansen). Nos anos tuberculina, chegou a ser utilizada, sem
subseqüentes, foram propostos outros sucesso, por Robert Koch (1843-1910)
arranjos e termos para as diversas no tratamento da tuberculose.
manifestações da hanseníase. (Ver Tuberculose).
(Ver Hansen, Gerhard Henrik Armauer; Fontes: Houaiss, 2001; Larousse, 1971;
Mycobacterium leprae). Landouzy & Jayle, 1902; Littré & Gilbert,
1908.
Fontes: Brouardel & Gilbert, 1896; Charcot
& Bouchard, 1899-1905; Claro, 1995; D’Elia,
1926; Ferreira, 1999; Houaiss, 2001; Littré
& Gilbert, 1908; Moreira, 2003; Sarno, 2003; Líquen: em dermatologia, designação
Veronesi, 1982; www.68; www.202. genérica de diversos tipos de
dermatoses caracterizadas por erupções
papulosas mais ou menos pruriginosas,
Levedura ou levedo: fungo ascomicete
com engrossamento e aspereza da pele,
unicelular que produz a fermentação
e com disposição semelhante à dos
alcoólica das soluções açucaradas, ou
líquens que crescem sobre as rochas. O
que faz fermentar a massa do pão. O
uso do termo líquen foi objeto de
gênero mais importante é o
intensa polêmica entre os
Sacaromices. (Ver Fungo).
dermatologistas no século XIX.
Fontes: Koogan-Houaiss, 2004.
Ferdinand von Hebra (1816-1880)
dividiu as doenças assim denominadas
Licor de Fowler, licor arsenical de em dois grupos: o líquen escrofuloso,
Fowler ou, ainda, solução de Fowler: que se desenvolve no tronco, dorso e
remédio concebido pelo médico inglês baixo ventre, sob a forma de pápulas
Thomas Fowler (1736-1801), mais ou menos volumosas, achatadas,
constituído de ácido arsênico, em grupos ou placas, de evolução
carbonato de potássio puro (5 g), água lenta, complicando-se algumas vezes; e
destilada (500 g) e alcoolato de melissa o líquen rubro, com as variedades
composto (15 g). Segundo Littré & acuminado e plano. No líquen
Gilbert (1908), o licor continha o acuminado, incluiu as erupções cujas
centésimo de seu peso em ácido pápulas são cônicas e se estendem por
arsênico, ou 0,01 gramas de ácido por toda a superfície do corpo. No líquen
grama de licor. A posologia era de 2 a plano, reuniu as lesões constituídas de
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100 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

pápulas brilhantes, secas e violáceas, também é conhecida como líquen


em geral muito resistentes e psoriasiforme, doença de Devergie ou
pruriginosas, localizadas especialmente líquen vermelho acuminado. A pitiriasis
no pescoço, antebraço e regiões rubra pilaris é uma enfermidade
inferiores do abdome. Coube a um progressiva e rara da pele, caracterizada
discípulo de Hebra, Moritz Kaposi pela formação difusa de escamas e
(1837-1902), tentar estabelecer alguma eritema (enrijecimento com inflamação
ordem na classificação dos líquens. persistente da pele) no couro cabeludo,
Segundo esse médico húngaro, o líquen nas palmas das mãos e na planta dos
rubro descrito por Hebra, com suas pés. A lesão primária característica é
variantes acuminado e plano, nada uma pápula vermelha pequena, dura,
mais era que o líquen plano em forma de cúpula, de cor rosa e
estabelecido por Erasmus Wilson (1809- vermelha, com um ponto central
1884) em 1869. A definição de Kaposi ceratósico atravessado por um pelo. As
acabou se sobrepondo à de Hebra, e pápulas acabam por se fundir,
um conhecimento mais correto da formando placas alaranjadas,
etiologia dos diversos tipos de líquen eritematosas, grandes e bem
resultou na reclassificação de muitos delimitadas, em meio às quais
deles nas décadas seguintes. observam-se ilhas de pele normal. A
Atualmente, o líquen rubro acuminado causa da doença é desconhecida,
é descrito como pitiríasis rubra pilaris. aventando-se a hipótese de que tenha
Líquen rubro e líquen plano continuam relação com uma falha no metabolismo
a ser considerados sinônimos. de vitamina A. Os tratamentos usados
(Ver Lichen acuminado; Líquen obtuso; com mais freqüência são a
Líquen plano; Líquen rubro). administração oral ou tópica de
Fontes: Cardenal, 1960; D’Elia, 1926; retinóides e de vitamina A. A maioria
Ferreira, 1999; Houaiss, 2001; Murray, dos casos aparece esporadicamente,
1910; Stedman, 1979; www.152; www.153.
mas há casos infantis que podem ter
causa genética. Segundo a Classificação
Líquen acuminado (lichen acuminatus): Internacional das Enfermidades,
também conhecido como líquen de realizada pela Organização Mundial da
Hebra em fontes mais antigas (tais quais Saúde – OMS, líquen plano e líquen
Cardenal, 1947 e D’Elia, 1926), onde acuminado (pitiríasis rubra pilaris) são
era definido como variedade do líquen doenças distintas e classificadas,
rubro. Stedman (1979) considera que portanto, em grupos diferentes.
líquen rubro, líquen acuminado, líquen (Ver Lichen; Líquen plano; Líquen
de Wilson e líquen plano são rubro).
sinônimos, preferindo o uso da última Fontes: Cardenal, 1947; D’Elia, 1926;
expressão para designar a doença Stedman, 1979; www.21; www.22; www.23;
www.24.
caracterizada por erupções de pápulas
achatadas, brilhantes e violáceas sobre
as superfícies flexoras, a genitália Líquen obtuso (lichen obtusus): tipo de
masculina e a mucosa bucal, podendo líquen plano no qual as pápulas são
formar grupos lineares e lesões mais volumosas (e não achatadas) e
hipertrofiadas nas pernas. Segundo menos pruriginosas. Os discos, de cor
outras fontes mais recentes, líquen purpúrea, têm formato redondo ou
acuminado é um dos nomes dados à ovalado, medem de 1 a 2 cm de
pitiriasis rubra pilaris, que, por sua vez, diâmetro, e situam-se geralmente nos
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 101

braços e coxas. (Ver Líquen; Líquen havendo grandes debates acerca de


plano). teorias que postulam a natureza auto-
Fontes: Cardenal, 1947; Stedman, 1979; imune e a psicológica do líquen plano.
www.65; www.66. A expressão lichen ruber planus foi
usada para denotar a cor da lesão, mas
Líquen plano (lichen planus): afecção já caiu em desuso. Em 1869, Erasmus
dermatológica caracterizada pelo Wilson deu o nome de leichen planus à
aparecimento de pequenas manchas dermatose que, provavelmente, já havia
salientes em várias regiões do corpo. As sido descrita por Hebra como leichen
lesões características são elevadas, ruber. Ao menos dois terços dos casos
planas, de cor violácea e com estrias ocorrem entre os 30 e os 60 anos,
esbranquiçadas na superfície, sendo mais comum em mulheres. Há
acompanhadas de muita coceira, em uma grande variedade de terapias
alguns casos desesperadora. Quando as tópicas e sistêmicas para o líquen plano,
lesões regridem, deixam manchas dependendo essas opções da
escuras na pele. O líquen plano pode cronicidade, sintomatologia e variação
manifestar-se de maneiras diferentes, das respostas à dermatose. São
com formação de lesões anulares, considerados benéficos os banhos
lineares, verrucosas (pés e tornozelos), calmantes com aveia, a aplicação de
bolhosas atróficas (deprimidas), sendo o cremes, loções ou ungüentos de
líquen plano eritematoso ou erosivo triancilona ou beta-metasona,
passível de ter evolução maligna. especialmente em combinação com
Entretanto, em geral, a doença é corticóides. (Ver Líquen; Líquen rubro).
benigna, com remissões e exacerbações Fontes: Houaiss, 2001; www.4; www.20.
espontâneas, persistindo, tipicamente,
durante um ou dois anos, podendo Líquen rubro (lichen ruber): termo
seguir curso crônico ou reincidente por utilizado no século XIX, à época em
tempo mais longo. Pode estar associada que Adolpho Lutz iniciou os estudos
apenas a sintomas menores ou causar em dermatologia, para designar o que
desconforto considerável e hoje se denomina líquen plano.
incapacidade. Quando as lesões Segundo D’Elia (1926), havia duas
atingem todo o tegumento, é chamado variedades de líquen rubro: o líquen
de líquen plano generalizado. Nas acuminado e o plano, ambos
mucosas, acometidas em 50% dos pruriginosos. O prognóstico era grave, e
casos, as lesões são esbranquiçadas e a afecção, tenaz e rebelde ao
lembram galhos secos de uma árvore. tratamento, que consistia em dieta
Na boca, a sensação é de ardência e apropriada, na administração de
queimação. Em cerca de 10% dos casos preparações arsenicais (licor de Fowler,
de líquen plano, apenas as mucosas são cacodilatos) e no emprego tópico de
atingidas. É comum que o diagnóstico antissépticos e analgésicos. (Ver Líquen;
primário seja feito por um dentista a Líquen plano; Líquen acuminado).
partir da observação da mucosa bucal, Fontes: D’Elia, 1926; Stedman, 1979.
onde aparecem os sintomas iniciais.
Ainda que seja desconhecida a
etiologia da doença, numerosas Lúpus eritematoso (lupo): também
observações clínicas têm confirmado o chamado de lúpus, lúpus eritematoso
fato de que ocorre sobretudo em sistêmico, lúpus eritematoso
pessoas submetidas a tensão nervosa, disseminado, lupo superficial, uleritema
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102 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

centrífugo, doença de Biett, doença de Hautkrankheiten (Atlas de Doenças de


Cazenave ou eritema centrífugo. Pele, 1856-1876). O período
Doença inflamatória crônica da pele, de neoclássico teve início em 1872,
natureza espectral, caracterizada por quando Moritz Kohn Kaposi,
ulcerações ou manchas, que variam dermatologista húngaro (1837-1902),
conforme o tipo específico. De genro e sucessor do dermatologista
evolução lenta, provoca febre, perda de austríaco Ferdinand von Hebra,
apetite, manifestações articulares e descreveu a natureza sistêmica do
cutâneas, especialmente manchas na lúpus eritematoso, distinguindo dois
face que lembram asas de borboleta, tipos: o discóide e o disseminado.
podendo espalhar-se e atingir outros Kaposi analisou em “Neue Beitrage zur
órgãos. O lúpus é uma enfermidade Keantiss des lupus erythematosus”
auto-imune: o sistema imunológico (Nova contribuição para o
ataca as próprias células e tecidos sãos, conhecimento do lúpus eritematoso,
por razões até hoje desconhecidas. A Archives of dermatology and
doença apresenta três formas principais: syphilology, 1872, v.4, n.36) os vários
na crônica, há apenas lesões cutâneas; sintomas que caracterizavam esta
a forma subaguda caracteriza-se por última forma: nódulos subcutâneos,
lesões cutâneas mais disseminadas e artrite com hipertrofia das juntas
por aspectos clínicos e histológicos mais grandes e pequenas, linfoadenopatia,
agudos que os observados na fase febre, perda de peso, anemia e
discóide crônica; na forma sistêmica ou envolvimento do sistema nervoso
disseminada, há comprometimento de central. Os trabalhos realizados por Sir
estruturas vitais. A doença atinge William Osler (médico canadense,
principalmente mulheres jovens, desde 1849-1919, Oxford), em Baltimore (“On
o final da adolescência até os 30 anos, the visceral manifestations of the
e afeta cada pessoa de forma distinta. erythema group of skin diseases – third
Os estudos sobre o lúpus eritematoso paper”, Sobre as manifestações viscerais
compreendem três períodos. No do grupo eritematoso de doenças de
período clássico, foram realizadas pele, American Journal of Medical
descrições das desordens cutâneas Sciences, 1904, v.127, n.1), e de Josef
características da doença por Thomas Jadassohn (dermatologista alemão,
Bateman (1778-1821), discípulo do 1863-1936), em Viena (“Lupus
dermatologista inglês Robert Willan, no erythematodes” em Mracek F., Ed.,
início do século XIX; por Ferdinand von Handbuch der Hautkrakheiten, Wien:
Hebra e Pierre Louis Alphée Cazenave Alfred Holder, 1904, p.298-404), na
(aluno do dermatologista francês virada do século XIX para o XX,
Laurent Theodore Biett, 1781-1840), consolidaram os conhecimentos sobre
em meados daquele século. As lesões o lúpus disseminado ou sistêmico. O
da forma atualmente denominada lúpus período moderno é inaugurado com a
discóide foram descritas em 1833, por aplicação da imunologia aos estudos
Cazenave, que usou a expressão do lúpus erirematoso e a descoberta,
eritema centrífugo; as lesões faciais com em 1947, das células LE (Lúpus
aspecto de asas de borboleta foram Eritematoso) por R. J. Morton. No ano
estudadas em 1846 por Hebra, autor da seguinte, Malcoln McCallum Hargraves,
primeira publicação ilustrada sobre o médico norte-americano, nascido em
lúpus eritematoso e outras doenças 1903, e seus colaboradores
dermatológicas, o Atlas der reconheceram essas células na medula
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 103

óssea dos pacientes com disseminação Lúpus tuberculoso ou tuberoso:


aguda de lúpus eritematoso, e enfermidade cutânea crônica que se
afirmaram que eram o resultado da caracteriza pelo desenvolvimento de
fagocitose do material nuclear livre. lesões nodulares na face, geralmente ao
Outros avanços importantes no estudo redor do nariz e das orelhas.
do lúpus foram o desenvolvimento de Originalmente, o termo foi utilizado
modelos animais e o reconhecimento para designar qualquer tipo de
do papel da predisposição genética ulceração corrosiva da pele. Em 1808,
para o desenvolvimento da doença. Sua Robert Willan (1757-1812) diferenciou
ocorrência no seio de determinadas o lúpus de outras enfermidades
famílias foi investigada inicialmente por cutâneas, classificando-o como uma
Johann Otto Leonhardt Heubner doença crônica e dando a ele o nome
(médico alemão, 1843-1926), em 1954, de lúpus vulgar, depois chamado
e posteriormente por Frank Cheryl tuberculose cutânea. Em 1851, Pierre
Arnett (professor e chefe de medicina Louis Alphée Cazenave (1795-1877)
interna e diretor da área de descreveu o lúpus eritematoso,
reumatologia na University of Texas distinguindo-o da forma identificada por
Medical School, em Houston), e Willan. Atualmente, o vocábulo lúpus
Lawrence Edward Shulman vem sempre acompanhado do adjetivo
(reumatologista norte-americano, que especifica o tipo.
nascido em 1919), que publicaram (Ver Lúpus Eritematoso).
juntos “Studies in familial systemic lupus Fontes: D’Elia, 1926; Ferreira, 1999;
erythematosus” (Estudos sobre lúpus Houaiss, 2001; Landouzy & Jayle, 1902;
www.182; www.183.
sistêmico familiar, Medicine, 1976, v.55,
n.313). Atualmente, a biologia
molecular vem revolucionando os
conhecimentos sobre a doença, e
espera-se que os estudiosos possam
identificar seus fatores etiológicos. Até o
fim do século XIX, o tratamento do
lúpus consistia no uso da quinina, às
vezes combinada com salicilatos. O
tratamento do lúpus sistêmico foi
revolucionado pela descoberta feita por
Philip Showalter Hench (médico norte-
americano, 1896-1965), em meados do
século XX, de que o hormônio
adrenocorticotrópico e a cortizona
tinham ação eficaz. Atualmente, os
corticosteróides são a base do
tratamento, estando em curso estudos
sobre novos agentes biológicos que
permitam obter a cura do lúpus.
(Ver Lúpus tuberculoso).
Fontes: Houaiss, 2001; Stedman, 1979;
www.1; www.2; www.35; www.67; www.69;
www.73; www.74; www.75; www.76.
104 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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M
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 105

Matterstock, Georg: médico alemão odontológicas, na separação do ouro


nascido em Würzburg, em 12 de de areias auríferas, em lâmpadas
fevereiro de 1847, e falecido nessa fluorescentes etc. O mercúrio e sua
mesma cidade em 30 de maio de 1915. principal fonte de extração, o cinábrio,
Foi livre-docente (1878) e eram conhecidos e utilizados desde
ausserordentlich Professor (professor tempos remotos. Havia extração de
auxiliar) na Faculdade de Medicina da mercúrio nas minas Kwichan, na China,
Universidade de Würzburg (1888). desde 1200 a.C.; os fenícios, 700 anos
Dirigiu a policlínica vinculada a essa antes da era cristã, utilizavam o metal
instituição. para extrair e purificar o ouro. Na Índia
Fontes: www.143. acreditava-se que o mercúrio possuía
propriedades afrodisíacas. Os incas
utilizavam-no como material de pintura,
Mercúrio [Hg]: elemento químico
dando-lhe o nome de llampi. O
metálico e líquido, de número atômico
mercúrio foi empregado pelos egípcios
80, usado para formar compostos com
desde a 18a dinastia faraônica (1600
fins medicinais aos quais se atribuíam, à
a.C.), o que é provado pelo fato de ter
época de Adolpho Lutz, propriedades
sido o metal encontrado em vasilha
anti-sifilíticas e antissépticas, neste
funerária do período. Os gregos e
último caso, em forma de pomada a
romanos usavam o cinábrio em
1-2%. O mercúrio era usado também
pinturas, e alguns de seus mais
como componente de catárticos,
renomados médicos utilizavam-no sob
cremes dentais e produtos anti-
a forma de ungüento. Mercúrio
helmínticos; alguns compostos
designava o metal, o planeta e uma
mercuriais continuam a ser utilizados
divindade (deus do comércio e
hoje, ainda que de forma rara. Além
mensageiro dos deuses do Olimpo);
disso, o mercúrio é empregado em
para evitar confusões, os gregos
termômetros, barômetros, em
chamavam o metal de hidrargiro, que
amálgamas de obturações
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106 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

significava prata líquida. A forma Gram (1853-1938). Empregado no


latinizada era hidrargyrum, prata viva. É estudo dos microrganismos
dessa palavra que provém o símbolo patogênicos, é o método mais utilizado
Hg, assim como os termos hidrargiria, na classificação e identificação das
hidrargirismo, hidrargirose, atualmente bactérias. Baseia-se na maior ou menor
conhecidos como mercurialismo, retenção de certos corantes no interior
intoxicação provocada pela absorção da célula bacteriana em razão da
excessiva do metal. Apesar de ser estrutura e composição química de sua
conhecido e utilizado desde a parede celular. No início do processo,
Antiguidade, até o século XV seu as bactérias são submetidas à coloração
consumo foi escasso, restrito quase que por violeta-de-genciana e em seguida a
exclusivamente à fabricação de tintas e uma solução de lugol. Depois de
à medicina. O consumo crescente do descorados por meio de álcool, os
mercúrio começou quando Bartolomé microrganismos são lavados,
Medina, de Sevilha, estabeleceu, em contracorados com safranina, lavados
1557, um método para amalgamar a frio novamente e secados. Aqueles que
os minerais da prata usando aquele retêm a coloração adquirida são então
metal. No século XVI, Paracelso classificados como gram-positivos,
introduziu seu emprego no tratamento sendo chamados gram-negativos os que
da sífilis; Torricelli utilizou-o no não a conservam.
barômetro, em 1643; e em 1720, (Ver Coloração; Fucsina).
Farenheit utilizou-o na confecção do Fontes: D’Elia, 1926; Dorland, 1947; Nosso
termômetro. O mercúrio serviu à análise Século, 2002; Houaiss, 2001; Landouzy &
Jayle, 1902; Littré & Gilbert, 1908;
de gases nos trabalhos de Priestley, no Stedman, 1979.
final do século XVIII. Segundo
Wyngaarden (1992), atualmente, mais
de sessenta profissões envolvem a Metrite: termo usado em ginecologia
exposição ao mercúrio: manufatura de para designar inflamação uterina,
pesticidas, inseticidas e formicidas; de variando os tipos conforme a parte do
instrumentos contendo mercúrio; órgão afetada: metrites cervicais (colo
fabricação de lâmpadas, luzes de néon, do útero); metrites corpóreas (corpo do
baterias, papel, tintas, corantes, útero), e, ainda, metrites intersticiais e
equipamentos elétricos e jóias; e de parenquimatosas. As primeiras
materiais usados por dentistas. Além da manifestam-se por leucorréia simples ou
exposição ocupacional ou industrial, a pequenas hemorragias, exigindo
intoxicação tem resultado da tratamento local; as outras ocorrem
contaminação inadvertida de cereais sobretudo após os partos ou abortos. As
por pesticidas que contêm o metal, metrites são tratadas eficientemente por
assim como pela ingestão acidental ou meio de antibióticos. Segundo D’Elia
intencional, ou injeção de mercúrio (1926), principiam pela mucosa e se
elementar (ou de compostos à base do estendem a todo o parênquima do
metal). (Ver Sífilis). órgão, dividindo esse autor as diversas
Fontes: Cardenal, 1960; Houaiss, 2001; formas em dois grupos: metrite aguda e
Wyngaarden, 1992; www.77. crônica, sendo o tratamento urgente em
ambos os casos. Também é conhecida
Método de Gram: técnica de coloração como histerite ou uterite.
histológica desenvolvida pelo médico Fontes: D’Elia, 1926; Larousse, 1971;
Houaiss, 2001; Stedman, 1979.
dinamarquês Hans Christian Joachim
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 107

Micose: doença causada por fungos derivados; os mercuriais e os corantes,


que afetam plantas e animais. Entre as especialmente a violeta de genciana
numerosas espécies do Reino Fungi, aquosa a 1-2%. Os ceratolíticos (como
algumas implantam-se em tecidos o ácido salicílico a 2-5%) favorecem a
humanos, lesando-os mais ou menos. ação dos tópicos. Substâncias ativas
Os que têm particular tropismo pela mais modernas são os ácidos
ceratina, proteína fibrosa que constitui o propiônico e undecilênico e seus sais, o
pêlo, a unha e a camada córnea da hexilresorcinol, o tribomoidroxitolueno,
epiderme, proliferam aí, determinando a cloro-iodohidroxiquinoleína, a
reações dermo-epidérmicas. Esses, bromo-salicilcloroanilina, o haloprogin,
chamados por algumas fontes de o clotrimazol, o miconazol, o tolnaftato
ceratófitos, e os dermatófitos são os e o tolciclato. A nistatina e a
agentes das micoses superficiais, que anfotericina B, em solução, suspensão,
envolvem somente a pele e seus creme gel ou pomada, são antibióticos
anexos: a tinha do couro cabeludo e da tópicos largamente empregados. Em
virilha, e e a tinha versicolor, por comprimidos vaginais, óvulos ou
exemplo. Já os fungos microaerófilos ou cremes, a nistatina, a anfotericina B e a
anaeróbios encontram condições de piramicina são úteis no tratamento das
vida na derme e hipoderme, em vulvo-vaginites. Os medicamentos
cavidades e órgãos internos, originando sistêmicos são empregados nas micoses
as micoses profundas ou sistêmicas. profundas e das cavidades, bem como
Contraídas principalmente por inalação, nas dermatofitoses resistentes, extensas,
disseminam-se através da via linfo- dermo-hipodérmicas, foliculares e
hematogênica, atingindo órgãos como ungueais. Usam-se o iodeto de potássio,
pulmões, pele, fígado e sistema nervoso o iodeto de sódio, as sulfas, as sulfonas,
central. Fazem parte desse grupo a o calciferol, o tiabendazol, a
blastomicose, a coccidioidomicose, a clofazimina e a
criptococose e a histoplasmose. A 5-fluorocitisina, bem como os
divisão clássica das micoses em antibióticos: griseofulvina, nistatina,
“superficiais” e “profundas” é didática anfoterenicina B, eritromicina,
mas não pode ser rígida, pois afecções tetraciclinas, cloromicetina e outros
produzidas por leveduras, (Veronesi, 1982). Via de regra, as
predominantemente superficiais, micoses não são transmitidas de homem
determinam às vezes lesões sistêmicas. a homem. O habitat natural de diversos
O quérion e a sicose dermatofítica são patógenos fúngicos é limitado a áreas
exemplos de micoses superficiais com geográficas específicas.
intenso envolvimento dermo- Conseqüentemente, a população
hipodérmico. Por sua vez, micoses residente nessas áreas corre maior risco
profundas podem apresentar de contrair tais “micoses endêmicas”.
manifestações superficiais em seus Alguns fungos são patógenos
estágios iniciais ou evolução. Os oportunistas, propensos a causar
agentes dessas micoses são, então, doenças quando as defesas do
alcançados por tópicos fungistáticos ou hospedeiro encontram-se alteradas. As
fungicidas, com relativa facilidade. Os culturas de fungos e estudos
tópicos clássicos ainda usados hoje são histopatológicos, feitos a partir de
o álcool iodado a 1%; o enxofre e seus líquidos corporais infectados (escarro,
derivados (sulfuretos, hipossulfito de sangue, urina e liquor) e tecidos (pele,
sódio); o ácido benzóico e seus pulmões, fígado, medula óssea e
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108 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

linfonodos) são os principais métodos aeróbias, que ocorrem sozinhas ou aos


para o diagnóstico de micoses. Sua pares, em tétrades, aglomerados, massas
disseminação aumentou com o uso irregulares ou mesmo cadeias. Inclui
crescente de antibióticos, porque estes formas de vida livre, saprófitas, parasitas
matam bactérias que destroem fungos. e patogênicas. (Ver Micrococo).
Os termos doenças fúngicas e micoses Fontes: Houaiss, 2001; Littré & Gilbert,
são sinônimos. 1908; Stedman, 1979; www.160.
Fontes: Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss,
2004; Veronesi, 1982; Wyngaarden, 1992.
Micrococo: designação comum às
bactérias do gênero Micrococcus que
Micose fungóide: chamada, também, de possuem forma de pequenos cocos e
granuloma fungóide, escrofuloderma são gram-positivas. Aeróbicas,
ulcerativo, doença de Alibert, síndrome raramente móveis, são encontradas em
de Alibert-Bazin, fibroma fungóide, alimentos e utilizadas na cura e
granulossarcóide, granulossarcoma e produção de alguns tipos de queijos.
granuloma sarcomatóide. Doença rara, Adolpho Lutz e muitos outros autores
e fatal, caracterizada por reticulose do século XIX usavam o termo “coco”
progressiva e crônica da derme, com como sinônimo de micrococo.
proliferação de elementos celulares (Ver Bactéria).
anormais, necrose de liquefação e Fontes: Houaiss, 2001; Miquel & Cambier,
invasão da epiderme, com a formação 1902.
de espaços claros que contêm células
mononucleares (abscessos de Pautrier). Microsporum: termo de origem grega
Doença mais comum entre as que significa pequena semente. O
linfomatosas que atacam a pele, a Microsporum faz parte dos dermatófitos,
micose fungóide é caracterizada pelo grupo homogêneo de fungos parasitas
desenvolvimento de placas liquenóides da pele e dos pêlos do homem e de
que se convertem em tumores brandos, vários animais que vivem na queratina
vermelhos, dolorosos, com tendência à do estrato córneo, unhas e pêlos e que,
ulceração e expansão. Foi descrita pela com freqüência, provocam reação
primeira por Jean-Louis-Marc Alibert inflamatória na pele, com prurido,
(1768-1837), dermatologista francês, eritema, escamas e vesículas
que, em 1835, batizou-a de micose (Wyngaarden, 1992). Além do
fungóide em razão da aparência dos Microsporum, fazem parte do grupo de
tumores, que lembravam cogumelos, e dermatófitos o Trichophyton e o
não com a intenção de ressaltar uma Epidermophyton. Diversas espécies
etiologia fúngica qualquer. Apesar de pertencentes ao gênero Microsporum
impróprio, o nome é mantido por seus causam a tinha no couro cabeludo,
antecedentes históricos. uma infecção fúngica que envolve,
Fontes: Cardenal, 1947; Houaiss, 2001; primariamente, os pêlos. Esse gênero de
Stedman, 1979; www.59.
fungo é mais comumemte encontrado
em crianças que ainda não atingiram a
Micrococcaceae: família de bactérias, puberdade, quando, em geral, as lesões
da ordem Eubacteriales, cujo gênero desaparecem. O M. audouini é um dos
padrão é o Micrococcus. Compreende causadores da tinha, doença transmitida
espécies de forma arredondada e de criança a criança por objetos de uso
gram-positivas, em geral imóveis e pessoal como toalhas, roupa de cama,
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 109

chapéus etc. (Fitzpatrick, 1971). denominada plasmódio. O plasmódio


Quando a tinha do couro cabeludo tem multiplica-se, dando origem a grande
como causa o M. canis, o agente pode número de esporos, de variadas formas,
fluorescer sob a lâmpada de Wood, freqüentemente encontrados nos meios
mas, para o diagnóstico, fazem-se aqui indicados. Os mixomicetos
exames de preparações com KOH e possuem história taxonômica bastante
culturas para fungos, usando cabelos complexa. Como apresentam
arrancados e escamas provenientes das características comuns a fungos e a
áreas afetadas do couro cabeludo protozoários, já foram classificados
(Wyngaarden, 1992). O M. gypseum, pelos biólogos num ou noutro grupo.
que comumente habita o solo, gera Atualmente, estão incluídos no reino
quadros inflamatórios em gatos e cães Protista. (Ver Fungo).
que, por sua vez, transmitem a doença Fontes: Cardenal, 1960; Dorland, 1947;
ao homem (Fitzpatrick, 1971). Murray Nosso Século, 2002; Encyclopædia
Britannica, 2001; Ferreira, 1999; Houaiss,
(1910) qualificava o Microsporum furfur 2001; Koogan-Houaiss, 2004; Landouzy &
como o fungo causador da tinha Jayle, 1902; Stedman, 1979; www.170;
versicolor, e o M. minutissimum, como www.171; www.172.
o agente do eritrasma, mas Wyngaarden
(1992) atribui esta última doença ao
Molluscum contagiosum: infecção
Corinebacterium.
dermatológica crônica caracterizada
(Ver Herpes tonsurans; Pitiríase
pelo surgimento de vesicopústulas.
circinada marginada).
Causada por um vírus da família
Fontes: Cardenal, 1947; Fitzpatrick, 1971; poxvírus (Molluscipoxvírus Molluscum
Murray, 1910; Wyngaarden, 1992.
contagiosum), ocorre normalmente em
crianças por meio do contato com a
Mixomiceto: grupo de microrganismos pele de outra pessoa contaminada, na
unicelulares, em geral de vida livre, maioria das vezes atingindo as axilas, o
semelhantes a fungos e extremamente braço, o pescoço e o rosto. Nos adultos,
primitivos. De hábito, são encontrados afeta mais a região genital, sendo
em cepos e cascas de árvores, na transmitida sexualmente (é crescente a
madeira em decomposição e no solo incidência na população de indivíduos
úmido. Reproduzem-se por meio de imunodeficientes com Aids. A literatura
esporos propagados pelo vento que, médica apresenta descrições da
depois de germinarem, dão origem a moléstia desde o limiar do século XIX
estruturas filamentosas de natureza por Bateman e pouco depois (1841) por
protéica chamadas flagelos, Henderson e Paterson. Mas foi em 1905
responsáveis pela locomoção do que Juliusberg, Wile e Kingery
microrganismo. Mais tarde, os flagelos conseguiram isolar o molluscum
desprendem-se dos mixomicetos e contagiosum e revelaram sua
unem-se em uma massa gelatinosa transmissibilidade. Também chamado
dotada de movimentos amebóides de condiloma subcutâneo, molusco
lentos. Essas mixamebas, unidas duas a contagioso, molusco epitelial e molusco
duas, formam, em seguida, um zigoto séssil.
(célula formada a partir da fusão dos (Ver Condiloma).
gametas masculino e feminino), o qual Fontes: Cardenal, 1954; Cardenal, 1960;
pode agregar-se com outros para formar D’Elia, 1926; Dorland, 1947; Stedman, 1979;
uma grande massa protoplasmática www.83; www.96; www.107; www.119;
www.139.
multinucleada, sem parede celular,
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110 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

Morfina [C17H19NO3]: um dos mais atribuem a inovação a Armand Seguin,


importantes alcalóides do ópio, usado médico da armada de Napoleão; outras,
em medicina como analgésico, a Friederic Sertuener, farmacêutico de
narcótico, sedativo e ansiolítico. A Hannover, variando as datas entre 1803
morfina faz parte de um grupo de e 1806. Outra inovação médica, a
substâncias derivadas da papoula seringa com agulha hipodérmica criada
(Papaver somniferum), de onde se extrai pelo médico francês Charles Gabriel
também o ópio. Conhecida há mais de Pravaz na década de 1850, facilitou a
cinco mil anos, essa planta já era introdução dessa e de outras drogas no
utilizada pelos sumérios para combater organismo humano. A morfina passou,
insônia e constipação intestinal. Os então, a disputar espaço com o ópio na
gregos usavam o ópio em cultos medicina e na toxicomania. Continuou
religiosos e para dar coragem aos a ser usada para dar alívio físico e
guerreiros durante as batalhas. Galeno e psicológico às pessoas recrutadas para
outros médicos do começo da era cristã as guerras, o que gerou a chamada
prescreviam a substância a vítimas de “doença do soldado”, responsável por
epilepsia, bronquite, asma, pedra nos milhares de dependentes. Na passagem
rins, febre, melancolia, disenteria e do século XIX para o XX, o uso da
outros males. No século XIX, o uso do morfina se havia disseminado a tal
ópio disseminou-se pelas mesmas vias ponto que nos cafés e teatros das
de expansão do comércio mundial. Na grandes cidades era comum ver-se
Grã-Bretanha, a importação da droga homens e mulheres injetarem em si
saltou de 40 toneladas em 1830 para mesmos o “remédio dos deuses”.
127 toneladas em 1860, das quais 34 O vício tornou-se um problema
toneladas foram reexportadas para a sanitário e social grave e levou à
América. Os negociantes ingleses realização de estudos para se obter um
transportavam ópio da Índia para a fármaco com os mesmos efeitos
China, e lá o trocavam por chá e sedas. terapêuticos, mas que não ensejasse a
O consumo cresceu a tal ponto nesse dependência. A Bayer julgou haver
país que, em 1839, o imperador chinês encontrado essa substância em 1874,
Ch’ung Ch’en proibiu a importação do por obra do mesmo farmacêutico que
ópio, condenando a severas penas seus desenvolveu a aspirina, Heinrich
usuários. O império britânico levantou- Dreser: a diacetilmorfina, mais
se em defesa do tráfico da droga, e conhecida como heroína, do alemão
obteve a vitória na chamada Guerra do heroisch, por sua “heróica” capacidade
Ópio (1839-1842), obrigando a China a de subjugar os males. O suposto
ceder-lhes a ilha de Hong Kong, a antídoto, largamente utilizado no
liberar a importação do ópio e a pagar tratamento da tuberculose e de outras
indenização pelas cargas confiscadas doenças, logo se tornou mais um
durante o conflito. Em 1900, metade da veneno a disputar a preferência dos
população adulta masculina da China toxicômanos com o ópio e a morfina.
era viciada em ópio, flagelo que só Mais tarde, foram descobertos outros
terminou em 1949, com a vitória da alcalóides da papoula, como a codeína
revolução que levou Mao Tsé-Tung ao e a tebaína. Durante a Segunda Guerra
poder. No começo do século XIX, foi Mundial, a escassez de morfina levou
extraída a principal substância ativa do um laboratório alemão à descoberta da
ópio, a morfina, nome derivado de metadona, posteriormente usada no
Morfeus, deus do sono. Certa fontes tratamento de adictos à heroína. Em
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 111

1924, o congresso norte-americano organismo enfraquece com o tempo, e


declarou ilegal a importação desta as doses precisam ser aumentadas. É
última droga, e nas duas décadas injetada sob a forma de cloridrato ou
subseqüentes sua produção e seu uso sulfato, e serve para a preparação de
em medicina foram banidos em quase numerosos derivados (diamorfina,
todo o mundo. Opiáceos como a codeína, codetilina, heroína, metopon).
morfina possuem estrutura química O antídoto específico para neutralizar
capaz de se ligar a neurotransmissores os efeitos da morfina é a
denominados endorfinas, associados ao N-alil-normorfina ou nalorfina.
controle da dor e a sensações de prazer, Fontes: Ferreira, 1999; Larousse, 1971;
bem-estar e relaxamento. Ao atingirem Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss, 2004;
Stedman, 1979; www.45; www.41; www.10.
o cérebro, essas drogas deprimem os
centros nervosos responsáveis pela dor
e pela vigília, além das regiões que Mus decumanus (Pallas, 1778):
controlam a respiração, os batimentos denominação antiga da espécie de rato
do coração e a pressão do sangue. vulgarmente conhecida como ratazana.
Interferem no chamado limiar da dor, Segundo Wilson & Reeder (1993), é
que regula a interpretação dos sinais sinônimo de Rattus norvegicus.
dessa natureza recebidos pelo cérebro, Fontes: Wilson & Reeder, 1993.
sem neutralizar outras sensações, o que
explica seu uso como anestésico. À
Mycobacterium leprae: microrganismo
medida que o organismo humano se
causador da lepra descrito pelo médico
torna dependente da droga, a situação
norueguês Gerhard Armauer Hansen
se inverte, e o usuário passa a usá-la
(1841-1912) em 1874. Também
para os transtornos causados pela
chamado bacilo de Hansen, é uma
abstinência: náuseas, vômitos, diarréias,
bactéria aeróbica e álcool-
cãibras musculares, cólicas intestinais,
acidorresistente, em forma de bastonete
lacrimejamento etc. O organismo
reto ou ligeiramente encurvado, e por
desregulado deixa de produzir algumas
vezes ramificado. O gênero
substâncias e produz outras em
Mycobacterium foi proposto por Karl B.
excesso. Os dependentes ficam sujeitos
Lehmann e R. O. Neumann, em 1896,
a danos mais graves: surdez, cegueira,
para caracterizar os agentes da lepra e
inflamação das válvulas cardíacas,
tuberculose. Até hoje não foi possível
necrose das veias, coma e morte.
cultivar o bacilo de Hansen em meios
Apresentando-se em forma de cristais
artificiais, o que explica, em parte, as
insolúveis, de sabor amargo, a morfina
controvérsias sobre o modo de
combinada com ácidos produz sais
transmissão da doença.
solúveis, com teor equivalente a 10%
(Ver Bactéria; Lepra).
de seu peso. Sua ação sobre o sistema
Fontes: Benchimol & Sá, 2003; Bier, 1957;
nervoso central manifesta-se por breve
Encyclopædia Britannica, 2001; Larousse,
período de excitação seguido de 1971; Houaiss, 2001.
depressão, variando a estimulação
conforme as espécies de droga e a
dose. A morfina é usada como
analgésico no tratamento de dores
violentas – espasmos da musculatura
lisa ou algias de cancerosos, por
exemplo – mas sua ação sobre o
112 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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N
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 113

Neisser, Albert Ludwig Siegmund: Universidade de Leipzig, em 1880, foi


dermatologista alemão nascido em nomeado livre-docente dessa mesma
Schwidnitz, Prússia (hoje Swidnica, instituição no ano seguinte. Em 1882,
Polônia), em 22 de janeiro de 1855. assumiu o cargo de ausserordentlicher
Diplomado em Breslau (1877), Neisser Professor (professor auxiliar) de doenças
é conhecido, sobretudo, por seus de pele e venéreas na Faculdade de
estudos bacteriológicos, que lhe Medicina de Breslau, onde se tornou o
renderam a descoberta do agente chefe do departamento de
etiológico da gonorréia (Neisseria dermatologia. Dez anos depois,
gonohoeae), em 1879. Entre suas inaugurou naquela cidade uma clínica
realizações profissionais, se destacam, que ficou internacionalmente
ainda, a descrição do microrganismo da conhecida como centro de pesquisas
lepra (1879-1880), motivo de disputas sobre doenças de pele. Faleceu em
com o médico norueguês Gerhard julho de 1916, em Breslau, Prússia (hoje
Armauer Hansen, e a tentativa de Wroclaw, Polônia).
descobrir o agente etiológico da sífilis e Fontes: Larousse, 1971; www.227.
a sua possível transmissão aos homens
pelos animais. Trabalhou com August
Paul von Wassermann (1866-1925) e Neoplasma: tecido anormal que cresce
Carl Bruck (1879-?) no mediante proliferação celular, mais
desenvolvimento do teste de soro- rapidamente que o normal, mesmo
reação para sífilis, posteriormente depois de haver cessado o estímulo que
conhecido como reação de deu início a esse processo. Os
Wassermann. Em saúde pública, foi neoplasmas são massas distintas de
ativo defensor de melhorias nas tecido que apresentam carência parcial
medidas profiláticas e de mais ou completa de organização estrutural e
educação pública sobre doenças coordenação funcional com o tecido
venéreas. Lente de dermatologia na normal. O termo “tumor”, que
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114 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

literalmente significa “inflamação”, é


utilizado com freqüência como
sinônimo de neoplasma. Pode ser
benigno ou maligno, e é observado em
todos os tecidos: há neoplasmas
fibrosos, linfáticos, vasculares,
cartilaginosos, ósseos, musculares,
nervosos e epiteliais. A probabilidade
da sua ocorrência aumenta com a
idade, e é maior nas mulheres do que
nos homens; o útero, o estômago e o
seio são os mais afetados.
Fontes: D’Elia, 1926; Stedman, 1979.

Nitrato de prata [AgNO3]: na medicina,


foi usado em forma de pílulas no
tratamento da epilepsia, da coréia, do
tabes e da disenteria. Em soluções mais
ou menos diluídas, era aplicado
externamente em casos de blenorragia,
de conjuntivite simples, granulosa e
purulenta e, ainda, como cáustico e
antisséptico. Internamente, era utilizado
em casos de angina do peito,
hemiplegia, diabetes, afecções do tubo
digestivo (gastrite, dispepsia, gastralgia,
cólera), inclusive no expurgo de
vermes.
Fontes: Cardenal, 1960; Paulier, 1882.

Nostocácea: família de algas


cianofíceas caracterizada por células
mais ou menos esféricas, reunidas em
filamentos não ramificados; quando
maduros, estes produzem heterocistos,
terminais ou intercalares, e acinetos.
Muitas espécies produzem mucilagem,
formando massas gelatinosas sobre o
solo úmido ou sobre a água.
Antigamente, o termo possuía acepção
muito mais ampla e chegou a ser
identificado com a ordem das
hormogôneas, na qual atualmente se
insere.
Fontes: Ferreira, 1999; Houaiss, 2001; Joly,
1977; Quer, 1965; www.173.
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O
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 115

Oïdium ou oídios: nome obsoleto de Oïdium lactis: nome obsoleto de um


fungos com características de gênero de fungos muito usados na
oidiomicetos, cuja separação das hifas fermentação de leite para o preparo de
tem como conseqüência a formação de diferentes tipos de queijo. Caracterizado
artrosporos retangulares (um tipo de por nódoas esbranquiçadas que exalam
talosporo). Atualmente conhecido pelo odor típico de mofo. Atualmente
gênero Candida. conhecida como Geotrichum candidum,
(Ver Hifa; Oïdium albicans). esta espécie pode causar lesões nas vias
Fontes: Fortes, 1958?; Jackson, 1920/1935?; alimentar e pulmonar do homem.
Stedman, 1979. Fontes: Dorland, 1947; Fortes, 1958?;
Jackson, 1920/1935?; Stedman, 1979;
www.50; www.120.
Oïdium albicans: nome obsoleto da
Candida albicans ou Monilia albicans.
A cândida é um gênero muito extenso Ophüls, William: nascido em 1871, foi
de fungos com forma de lêvedo, professor de patologia e decano da
freqüentemente encontrados na Stanford University School of Medicine
natureza. Em geral é um fungo saprófito, de 1916 até sua morte, em 27 de abril
mas pode se tornar patogênico, de 1933.
causando uma infecção chamada Fontes: www.90.
candidíase ou monilíase, que ocorre em
virtude da alteração no equilíbrio da Orthopnea: dificuldade respiratória que
flora bacteriana do organismo ou após a obriga o doente a permanecer de pé ou
ingestão de certos antibióticos. Ataca sentado para respirar. Geralmente, está
principalmente a região da boca, a ligada a doenças pulmonares que
orofaringe, a vagina e o trato ocasionam pneumotórax valvular e
gastrintestinal. congestão pleuropulmonar, mas pode
Fontes: Fortes, 1958?; Houaiss, 2001; decorrer, também, de problemas
Jackson, 1920/1935?; Stedman, 1979. cardíacos, tais como a pericardite.
Fontes: Cardenal, 1960; Paulier, 1882.
116 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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P
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 117

Pápula: pequena elevação sólida que se comum, atualmente é mais rara,


forma na pele, sem pus nem serosidade, ocorrendo sobretudo em populações
secando pouco tempo depois. pobres. Sabe-se hoje que a pelagra é
Geralmente cor de rosa, a pápula é provocada pela carência de niacina e
constituída por uma infiltração da vitamina PP na dieta alimentar. Tais
camada superficial ou papilar da derme; substâncias são encontradas na carne
desaparece por descamação, sem fresca, no fermento e em muitos outros
deixar cicatriz. alimentos protéicos. Os indivíduos que
Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001. se alimentam principalmente de milho e
seus derivados têm carência de niacina
Pelagra: termo cujo sentido original era e triptofano, ficando, assim, propensos a
“pele áspera”; designa doença sofrer de pelagra. Conhecida desde a
conhecida também como eritema Antiguidade, a doença foi descrita pela
endêmico; lepra das Astúrias, italiana primeira vez em 1735 por Gasper Cajal,
ou da Lombardia; elefantíase itálica; mas somente em 1912 Casimir Funk
coceira de Santo Inácio; maidismo; mal relacionou a pelagra – bem como o
da rosa, e ainda psiconeurose maídica. beribéri e o escorbuto – à deficiência
Enfermidade caracterizada pelo alimentar. Segundo D’Elia (1926), no
surgimento de placas eritematosas início do século XX, disputaram a
pruriginosas na face, no pescoço e nas primazia pelo menos duas teorias sobre
mãos, placas recobertas por bolhas que a etiologia da pelagra: a que atribuía a
secam e descamam. As manifestações doença ao uso excessivo de milho na
cutâneas estão associadas a distúrbios alimentação e a que considerava a ação
digestivos (língua vermelha, estomatite de um parasita ainda desconhecido. A
aftosa, sinais de gastrite, diarréia, influência nociva do milho continuava
constipação) e distúrbios mentais que a ser admitida por muitos autores na
podem evoluir até a demência. Outrora década de 1920; as habitações
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118 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

insalubres, o trabalho excessivo e a Sauvages era provavelmente um caso


hereditariedade também eram de eritema multiforme, visto que
considerados fatores predisponentes à acompanhado de febre alta contínua e
doença. Em 1920, o médico norte- com duração de aproximadamente
americano Joseph Goldberger (1874- duas semanas.
1929) demonstrou que a pelagra era de A conceituação dada por ele era a de
origem nutricional, e não uma infecção uma erupção bolhosa de curta duração.
ou doença parasitária. Em viagem ao A definição de De Sauvages foi
sul dos Estados Unidos, em 1914, amplamente aceita nos círculos
Goldberger observou internos em médicos de seu tempo, até que, em
asilos, hospitais e orfanatos a fim de 1791, Johann Ernst Wichmann (1740-
verificar como adquiriam a doença. 1802) deu para o pênfigo seu
Verificou que a ausência de triptofano significado presente, qual seja, o de
no regime nutricional dos pacientes uma doença bolhosa crônica. Para as
causava a doença e sugeriu a ingestão erupções de curta duração ele sugeriu o
de leite e ovos como medida de nome febris bullosa. Wichmann foi o
prevenção. Em 1926, Goldberger primeiro a descrever um caso de
descobriu o fator anti-pelagra em pênfigo vulgar comprovadamente
muitos outros alimentos. Estudos diagnosticado. Nos anos seguintes, o
posteriores mostraram que o milho é conceito sofreu várias alterações, muitas
pobre em triptofano, piridoxina e vezes quase não se diferenciando dos
riboflavina, o que explica por que a formulados para outras lesões
pelagra dizimava populações cuja vesiculares. Em 1860, Ferdinand von
alimentação se baseava nesse grão. Hebra (1816-1880) negou a
Seguindo o modelo definido por possibilidade de o pênfigo manifestar-se
Goldberger, atualmente trata-se a sob a forma aguda e restabeleceu a
doença incluindo-se alimentos definição de Wichmann, que prevalece
protéicos na dieta do paciente, e até a época atual. No grupo pênfigo
evitando-se farináceos, principalmente incluem-se diferentes manifestações
derivados do milho. clínicas, com destaque para as formas
Fontes: Cardenal, 1947; Dorland, 1947; vulgar, foliácea e vegetante.
Larousse, 1971; Koogan-Houaiss, 2004; (Ver Pênfigo foliáceo).
Murray, 1910; Stedman, 1979; www.43;
www.44. Fontes: Cardenal, 1960; D’Elia, 1926;
Ferreira, 1999; Larousse, 1971; Houaiss,
2001; Landouzy & Jayle, 1902; Murray,
1910; Stedman, 1979; www.184; www.185;
Pênfigo: designação comum a um www.186; www.187; www.188.
grupo de dermatoses potencialmente
mortais, de causa desconhecida,
caracterizadas pelo aparecimento de Pênfigo foliáceo: forma peculiar de
erupções bolhosas sobre a pele, e que, pênfigo caracterizada por erupção
quando absorvidas, deixam manchas cutânea vesicular acompanhada de
pigmentares fragmentadas. Lesões descamação e com pustulação não
cutâneas em forma de bolhas foram perceptível. As lesões epidérmicas
descritas desde a Antiguidade, mas o superficiais crostosas normalmente
termo pênfigo foi empregado somente aparecem no local das bolhas
em 1760, pelo médico e botâncio rompidas. O pênfigo foliáceo foi
francês Boissier de Sauvages de la Croix descrito por Pierre Louis Alphée
(1706-1767). A doença descrita por De Cazenave (1795-1877) em 1844, sendo
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 119

por isso também chamado doença de por parasitas da família dos


Cazenave. Antes dele, foram descritos pediculídeos, insetos anopluros entre os
dois casos que provavelmente eram a quais se inclui o piolho-do-homem.
mesma enfermidade, o primeiro deles (Ver Pitiríase circinada marginada;
por de la Motte em 1772. Pitiríase vesicular).
(Ver Pênfigo). Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001;
Fontes: Cardenal, 1960; D’Elia, 1926; Murray, 1910.
Ferreira, 1999; Larousse, 1971; Houaiss,
2001; Littré & Gilbert, 1908; Murray, 1910;
Stedman, 1979; www.187; www.188. Pitiríase circinada marginada: também
conhecida como pitiríase rósea, pitiríase
maculosa, pitiríase maculada ou
Peptona: substância solúvel em água, pitiríase rósea de Gibert. A literatura dos
derivada de proteínas animais e vegetais dois séculos anteriores registrou relatos
(carne, leite, soja etc.), obtidas durante o de desordens aparentemente idênticas
processo digestivo gástrico e àquela que o dermatologista francês
pancreático. É muito utilizada no Camille-Melchior Gibert (1797-1866)
cultivo de bactérias. descreveu como pityriasis rosea em seu
Fontes: Cardenal, 1947; Dorland, 1947; Traité Pratique des Maladies de la Peau
Houaiss, 2001; Stedman, 1979; www.105;
www.128. et de la Syphilis, de 1860. Outros
nomes foram dados à doença por
Pierre-François-Olive Rayer (1793-
Periadenite: inflamação de tecidos 1867): erythema annulatum; Ferdinand
próximos a uma glândula, observada, Ritter von Hebra (1816-1880): herpes
sobretudo, como complicação da tonsurans maculous et squamous;
adenite (inflamação dos gânglios Erasmus Wilson (1809-1884): lichen
linfáticos ou de uma glândula). annulatus serpiginosus; Horand:
(Ver Adenite). pitiríase circinada; Alfred Hardy (1811-
Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001; 1893): pitiríase disseminada; Jean
Stedman, 1979.
Baptiste Emile Vidal (1825-1893):
pitiríase circinada e marginada; Pierre-
Pitiríase: designação genérica de Antoine-Ernest Bazin (1807-1878):
dermatoses caracterizadas por eritema e pitiríase rubra e aguda disseminada;
descamação fina. No começo do século Ernest Henri Besnier (1831-1909):
XIX, Robert Willan e outros fundadores pseudoexantema eritodescamativo;
da dermatologia empregavam o termo Robert Willan (1757-1812): roseola
para designar um grupo heterogêneo de annulata; Behrend: roseola furfuracea
doenças de pele cujo denominador herpetiformis; Nicolas e Chapard:
comum era a ocorrência de escamas roseola squamosa. A doença é
esfareladas. Com o tempo, formas leves caracterizada por pápulas e placas
de dermatite passaram a ser designadas escamosas, ovais ou redondas, de
como pitiríase rósea ou de Gibert; ou coloração róseo-bronzeada ou salmão,
ainda rubra pilar; Alba; liquenóide; que surgem com rapidez no tronco, no
pitiríase versicolor, posteriormente pescoço, nos braços e nas pernas,
chamada de tinea versicolor; pitiríase raramente no rosto. Vários aspectos
nigra, nome dado por Hebra à dessa afecção papuloescamosa
pediculose crônica. Em D’Elia (1926), autolimitada são únicos: primeiro, a
pitiríase é definida como dermatose erupção generalizada com freqüência é
produzida, em diversas partes do corpo, precedida, em alguns dias ou uma
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120 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

semana, por uma única lesão maior, Fontes: Anais de Dermatologia, 1998;
Cardenal, 1947; Fitzpatrick, 1971;
chamada “mancha precursora”, “placa
Freedberg, 1999; Houaiss, 2001; Stedman,
mãe” ou “placa mestra”, a qual muitas 1979; Wyngaarden, 1992.
vezes é erroneamente diagnosticada
como dermatofitose. A placa mestra,
presente em 50% a 90% dos casos, Pitiríase vesicular: também conhecida
pode surgir em qualquer lugar, mas em como pitiríase versicolor, tinha
geral ocorre no pescoço ou na parte versicolor, pano, pano branco, tínea
inferior do tronco, atingindo diâmetro versicolor, tinha furfurácea, cromofitose
de alguns centímetros. Segunda ou, ainda, doença de Eichstedt, por
característica singular: as lesões ovais referência ao médico alemão Karl
possuem escamas brancas, Ferdinand Eichstedt (1816-1882). Trata-
incomumente finas, formando um se de uma infecção fúngica superficial
colarete próximo ao bordo das placas. comum causada por fungo saprófita, o
Em terceiro lugar, as lesões seguem as Pityrosporon orbiculare, também
linhas de clivagem da pele, em padrão chamado de Microsporum furfur ou
comparável a uma árvore de Natal. A Malassezia furfur, que vive
afecção involui de modo espontâneo normalmente na pele de indivíduos
em um a dois meses. O prurido pode geneticamente predispostos, geralmente
ser um sintoma marcante. Por vezes, a jovens. A doença é identificada por
pitiríase rósea é precedida por leve lesões ovais escamosas, de coloração
infecção das vias aéreas superiores, e vermelha a castanha ou branca,
sua maior incidência é nos meses de localizadas no pescoço, no tronco, nos
inverno, o que sugere uma etiologia braços e na região cervical. Pode subir
viral. Contudo, a doença não ocorre de para a face ou alastrar-se pelos
forma endêmica e não é transmitida de antebraços, abdome, flancos, nádegas e
modo interpessoal. A maioria dos casos coxas, confluindo em lesões maiores de
acomete crianças e adultos jovens entre bordas irregulares, às vezes muito
10 e 35 anos. As recorrências são raras. extensas. Como sugere o próprio nome
O tratamento da pitiríase rósea é, em “versicolor”, as lesões variam de cor.
geral, desnecessário, embora os Durante os meses de verão, quando a
corticosteróides tópicos e os pele fica exposta à luz ultravioleta, as
anti-histamínicos possam aliviar o lesões mostram-se hipopigmentadas, já
prurido e diminuir o eritema. A luz que a infecção impede a pele afetada
ultravioleta comumente faz regredir a de formar pigmento. O exame da lesão
erupção. Cardenal (1947) apontava com KOH revela formas leveduriformes
como causa da doença um fungo do em brotamento e hifas claviformes.
gênero Microsporum; foram Segundo D’Elia (1926), o tratamento
incriminados também o Staphylococcus consistia em banhos sulfurosos, fricções
albus e espiroquetas, ao passo que com sabão negro, aplicação de loções
outros autores sugeriam uma possível com cloral, de licor de van Swieten e
causa viral, hipótese ainda em estudo tinturas de iodo. Atualmente o
(Freedberg, 1999). Até hoje, não foi tratamento é realizado com cremes,
isolado o agente etiológico da doença, pomadas ou loções de econazol,
considerando-se a pitiríase rósea como miconazol, clotrimazol e ciclopirox,
afecção cutânea de origem aplicadas duas ou três vezes ao dia por
desconhecida. três ou quatro semanas (Wyngaarden,
(Ver Pitiríase; Pitiríase vesicular). 1992). Outra alternativa consiste no
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 121

ensaboamento diário, por três a quatro devida a irritação por substância


semanas, de hipossulfito de sódio a 10- química. Seus sintomas característicos
20%, que é deixado a secar sobre a incluem calafrios, dor no peito, tosse,
pele; ou de sulfureto de selênio a 2,5% catarro, febre alta e dificuldades para
(base de xampu comercial), respirar. Ataca com mais freqüência
diariamente, ou duas a três vezes por pacientes idosos e crianças com menos
semana, agindo durante 15 a 20 de cinco anos. A doença pode surgir
minutos. O álcool salicilato (4%) com repentinamente, em seguida a outras
ácido benzóico (4%) também é útil. O enfermidades ou após uma intervenção
tolnaftato em loção ou creme é um cirúrgica. Os diversos tipos de
tópico ativo. A hipocromia tende a pneumonia são definidos em função de
desaparecer mais rapidamente com a sua localização e da extensão da lesão
exposição à luz solar depois do no tecido pulmonar. Do ponto de vista
tratamento, podendo-se acelerar a anatômico, podem ser classificados
repigmentação mediante como lobar, segmentar, lobular e
fotossensibilizantes locais. intersticial. Quando atinge os dois
(Ver Pitiríase; Pitiríase circinada pulmões, a pneumonia lobular é
marginada). freqüentemente chamada de
Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001; broncopneumonia. A etiologia
Stedman, 1979; Veronesi, 1982; bacteriana da pneumonia foi sustentada
Wyngaarden, 1992.
por Edwin Klebs (1834-1913) em 1875.
Seis anos depois, Louis Pasteur (1822-
Pleurisia: o mesmo que pleuris ou 1895) identificou a bactéria
pleurite. Inflamação aguda ou crônica pneumococcus na saliva de um
da pleura, geralmente de origem paciente com raiva. A associação do
bacteriana. Surge na maioria dos casos pneumococo, ou diplococcus
como conseqüência de pneumonia, pneumoniae, com a pneumonia lobar
tuberculose ou outras doenças foi estabelecida por Talamon em 1883.
infecciosas. Na pleurisia, as duas Albert Fraenkel (1848-1916) e Anton
superfícies da pleura tornam-se secas e Weichseelbaum (1845-1920), em 1886,
ásperas, e entram em atrito. A chamada confirmaram e ampliaram as
pleurisia seca provoca dor intensa, que investigações de Talamon, observando
piora com a tosse e com uma respiração o comportamento do pneumococo em
mais profunda. Na pleurisia com meios de cultura e sua ação patogênica
derrame, o pulmão é comprimido pelo sobre o coelho. Durante muito tempo,
acúmulo de líquido que escorre dos perdurou a idéia de que a pneumonia
vasos sanguíneos para a cavidade era uma doença tipicamente bacteriana,
pleural. Normalmente é acompanhada com evolução e quadro clínico bem
de calafrios, febre, tosse e dispnéia. estabelecido. No entanto, estudos
Fontes: D’Elia, 1926; Ferreira, 1999; realizados a partir da década de 1930
Larousse, 1971; Houaiss, 2001; Koogan- revelaram a existência de casos
Houaiss, 2004. singulares, cuja evolução e
comportamento clínico diferiam do
Pneumonia: inflamação aguda ou padrão estabelecido. Além disso, esses
crônica dos pulmões, potencialmente casos não demonstravam a presença de
fatal e contagiosa, causada por bactérias. Em 1944, Monroe D. Eaton
bactérias, vírus ou fungos, podendo isolou um agente filtrável capaz de
também ser de natureza alérgica ou produzir a pneumonia em ratos e
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122 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

hamsters. A princípio, acreditou-se que Gerson Unna (1850-1929). Era usada


era um vírus, batizado como no tratamento de úlceras varicosas,
pleuropulmonary-like organism – PPLO. sendo a perna coberta por ataduras em
Mais tarde, Chanock o classificou como espiral impregnadas de pomada,
um agente intermediário entre vírus e curativo este que ficou conhecido
bactéria, pertencente ao gênero como “bota de Unna”. Ainda hoje é
Mycoplasma, espécie pneumoniae. utilizada no controle da hipertensão dos
(Ver Pneumonia cruposa). membros inferiores, para auxiliar a
Fontes: D’Elia, 1926; Ferreira, 1999; cicatrização das úlceras venosas.
Koogan-Houaiss, 2004; Stedman, 1979; Algumas fontes definem a bota de Unna
Veronesi, 1982; www.189.
como bandagem impregnada com pasta
de óxido de zinco a 10%, glicerina,
Pneumonia cruposa: doença infecciosa petrolato e agentes antissépticos e
aguda provocada por pneumococos. estimulantes da cicatrização.
Caracteriza-se por febre, dor ao inspirar, (Ver Unna, Paul Gerson).
tosse e escarro ferruginoso ou Fonte: Cardenal, 1960; Larousse, 1971;
sanguinolento. Em geral, perdura por www.51.
nove dias, terminando em crise com
transpiração abundante. Afeta um ou Posadas, Alejandro: parasitologista
mais lobos pulmonares, sendo por isso nascido em Buenos Aires, Argentina,
também chamada de pneumonia lobar. em 22 de dezembro de 1870. Desde
O mesmo que pneumonia crupal, muito jovem, sofreu de doenças
pneumonia aguda; pneumonia pulmonares e reumáticas, o que o
pneumocócica; pneumonia pleural; obrigou a interromper os estudos
pneumonia pleurítica e pneumonia colegiais por três vezes. Ingressou em
fibrinosa. (Ver Pneumonia). 1888 na Faculdade de Medicina, onde
Fontes: D’Elia, 1926; Ferreira, 1999; estudou com o patologista Robert Johan
Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss, 2004; Wernike (1854-1922). No Hospital
Stedman, 1979.
Universitário, em 1891, teve a
oportunidade de examinar um soldado,
Pneumonia simples: pneumonia que Domingo Ezcurra, com lesões nodulares
afeta apenas um dos pulmões. cutâneas recorrentes diagnosticadas
(Ver Pneumonia). como micose fungóide. Em material
Fontes: D’Elia, 1926. extraído dos neoplasmas, Posadas
observou a presença de organismos
esféricos, de parede espessa, que
Pneumotifo: febre tifóide que se inicia
continham pequenas formações
com uma pneumonia, e que evolui por
arredondadas. Por causa dessas
conta própria quando a pneumonia está
características, identificou o
para terminar. (Ver Pneumonia).
microrganismo a um esporozoário,
Fontes: D’Elia, 1926.
conclusão a que chegou também
Wernike. Posadas publicou sua
Pó de Goa: Ver Crisarobina. descoberta, “Un nuevo caso de micosis
fungoidea com psorospermia”, no
periódico Circulo Médico Argentino
Pomada de Unna: pasta de óxido de
(1892, v.15, p.585-97). O termo
zinco, mucilagem de goma e glicerina
psorospermia era uma referência aos
criada pelo dermatologista alemão Paul
organismos conhecidos à época como
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 123

coccídios. Também em 1892, Wernike eletrólise do cloreto de potássio


publicou na Alemanha “Ueber einen dissolvido, é empregada para absorver
Protozoenbefund bei mycosis gás carbônico na fabricação do sabão
fungoides”, no Centralblatt für mole e na remoção de tintas das
Bakteriologie und Parasitenkunde pinturas e, ainda, como reagente
(1892, v.12, p.859-61). Posadas analítico. Fazia parte da composição do
conseguiu reproduzir a enfermidade em pó de Viena, sendo empregado
animais de laboratório, comprovando, externamente para a cauterização de
assim, a presença do parasito. Não cancros e cistos.
chegou, entretanto, a cultivá-lo. A Fontes: Cardenal, 1954; Larousse, 1971;
correta caracterização do Houaiss, 2001; Stedman, 1979.
microrganismo, Coccidiodes immitis,
incluído no grupo dos fungos Pseudotuberculose: conjunto de
ascomicetos, seria estabelecida por doenças de roedores, aves, ovinos e
Ophüls e Moffit em 1900. Diplomado outros animais de sangue quente,
em 1894 com honra e distinção, nesse clínica e anatomicamente semelhantes
mesmo ano Posadas apresentou sua à tuberculose. São caracterizadas por
tese de doutoramento Psorospermiosis formação de granulomas parecidos com
infectante generalizada, depois nódulos tuberculares, devidos a um
chamada doença de Posadas ou bacilo cocóide, no caso de cobaias, ou
coccidioidomicose. Ele acompanhou a a um bacilo difteróide, em
evolução da doença no soldado camundongos e carneiros. No homem,
argentino até o falecimento deste em a pseudotuberculose ocorre raramente,
1897, revelando a necropsia extensas sempre como resultado de infecção por
lesões viscerais. Tendo viajado para a Pasteurella pseudotuberculosis.
Europa em busca de alívio para sua (Ver Tuberculose).
doença pulmonar, Posadas faleceu em Fontes: Houaiss, 2001; Stedman, 1979.
Paris a 21 de novembro de 1902, com
apenas 32 anos de idade. Durante os
oito anos de sua vida profissional Psoríase: dermatose crônica, recorrente
alcançou outros êxitos como docente, e não contagiosa, caracterizada pela
clínico e pesquisador. Realizou a erupção de placas avermelhadas
primeira filmagem de uma operação cobertas de escamas brancas ou
cirúrgica no Hospital de Clínicas de prateadas. As lesões apresentam
Buenos Aires e, juntamente com tamanhos variados e bem delimitados,
Wernike, foi o primeiro a relatar um configurando desde formas localizadas
caso de rhinosporidiosis. e discretas, até formas graves que
(Ver Coccidioidomicose; Coccídios; podem cobrir toda a superfície do
Psorospermose; Wernicke, Robert corpo. Ocorrem sobretudo nos
Johan). cotovelos, joelhos, no couro cabeludo e
Fontes: www.39; www.40; www.205; no tronco. Afecção tipicamente
www.206; www.207. humana, atinge igualmente homens e
mulheres em qualquer idade. Manifesta-
se clinicamente em diferentes tipos,
Potassa cáustica (KOH): o mesmo que
definidos em função da localização e
hidróxido de potássio; sólido branco,
das características das lesões,
solúvel em água e que funde a 360oC.
destacando-se as formas vulgar,
Base forte, muito cáustica, corrói os
palmo-plantar, artropática e
tecidos orgânicos. Preparada por
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124 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

eritrodérmica. A psoríase vulgar é a mais Psorospérmios: segundo Murray (1910),


conhecida, sendo responsável por eram organismos unicelulares
cerca de 90% dos casos. Forma típica pertencentes aos protozoários da ordem
da doença, raramente é pruriginosa e dos Myxosporidia com as seguintes
pode atingir também as unhas. Na propriedades: multiplicam-se por fissão
modalidade palmo-plantar, as lesões e cada um dos organismos assim
localizam-se nas solas dos pés e nas gerados é rodeado por uma camada
palmas das mãos. A pele torna-se firme, formando um esporo que
grossa, seca e freqüentemente apresenta permanece envolvido numa cápsula ou
rachaduras. A psoríase artropática surge cisto; cada esporo pode novamente se
repentinamente, ocasionando dor nas dividir em pequenos corpos que, por
pontas dos dedos das mãos e dos pés fim, desenvolvem-se em indivíduos
ou nas grandes articulações. Em alguns maduros. Considerava-se que o ciclo
casos, pode comprometer as completo de desenvolvimento desses
articulações. A forma eritrodérmica organismos não se limitava ao homem –
apresenta lesões generalizadas por em que causaria a psorospermose –,
quase todo o corpo. Confundida envolvendo outros hospedeiros. Em
durante muito tempo com a lepra, a dicionários mais atuais, psorospérmio é
psoríase foi descrita pela primeira vez definido como parasita diminuto, em
por Robert Willan (1757-1812) em On geral a forma jovem de Gregarinae,
cutaneous diseases (1808). A causa da ordem de protozoários que parasita
doença ainda é desconhecida, mas animais como minhocas, lagostas etc.
admite-se que esteja relacionada à (Ver Psorospermose).
predisposição genética e a fatores como Fontes: Cardenal, 1960; Murray, 1910.
traumas cutâneos (fenômeno de
Koebner), infecções, uso de
Psorospermose: estado mórbido devido
medicamentos e estresse emocional.
a psorospérmios. Segundo Murray
Embora nenhum tratamento leve à cura
(1910), o termo era usado para nomear
permanente, há desaparecimento ou
lesões humanas causadas por certas
sensível regressão das lesões quando
formas de protozoários (Sporozoa) e por
tratadas. A terapêutica depende do
Coccídio que afetava os dutos biliares
quadro clínico apresentado. Em casos
de coelhos. Haviam sido descritos
leves, recomenda-se hidratação da pele
como psorospérmios os agentes da
e exposição ao sol, combinados com o
doença de Darier (karatosis follicularis),
uso tópico de cremes e pomadas à base
da doença de Paget (forma rara de
de cortisona, vitamina D, coltar e
câncer da mama), de certos carcinomas
antralina. Nos casos graves são
e do molluscum contagiosum, doenças
prescritas medicações sistêmicas ou de
com etiologias muito diferentes hoje.
uso oral. Mais recentemente, tem sido
Segundo a mesma fonte, a infecção no
utilizada a laserterapia. A psoríase
homem podia atingir todas as vísceras
também é conhecida como psora ou
em casos rasos, ou apenas o fígado, o
alfos – palavras de origem grega que
trato urinário ou, ainda, a pele,
significam, respectivamente, “sarna” e
manifestando-se, nesta, sob a forma de
“branco”.
lesões nodulares ou vesiculares
(Ver Lepra).
espalhadas. Quando a infecção era
Fontes: D’Elia, 1926; Koogan-Houaiss, 2004;
Stedman, 1979; Wyngaarden, 1992; generalizada, a condição do paciente
www.212; www.213; www.214; www.215; era comparada à triquinose. Os
www.216.
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 125

sintomas incluíam dores nos membros,


vômitos, dor de cabeça, delírio,
sonolência e febre. A morte ocorria,
geralmente, no período de quinze dias
a um mês, passando o paciente por uma
“condição tifóide”. Não havia, então,
nenhum tratamento para a infecção, e o
diagnóstico só poderia ser feito com a
descoberta dos cistos típicos e dos
parasitas. A coccidioidomicose, doença
causada por fungos da espécie
Coccidioides immitis, também
conhecida como doença de Posadas,
foi originalmente descrita por esse
médico argentino, em 1892, como
“nuevo caso de micosis fungoidea con
psorospermia”, aludindo este último
termo à semelhança entre as formas
encontradas naquela micose e nos
protozoários. Em Dorland (1947), ainda
se encontra o verbete psorospermose,
como estado mórbido relacionado à
presença daqueles microrganismos
mixosporídios. Em dicionários médicos
mais recentes, essa condição não é mais
descrita. A doença de Darier, doença
hereditária e rara da pele, ainda tem
como um de seus sinônimos
psorospermosis folicular, mas sem
nenhuma relação com a etiologia,
ainda desconhecida (os estudos
microscópicos sugerem um defeito da
síntese, organização ou maturação do
complexo que controla a
queratinização anormal).
(Ver Psorospérmios).
Fontes: Cardenal, 1960; Dorland, 1947;
Houaiss, 2001; Murray, 1910; Stedman,
1979.
126 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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Q
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 127

Quebracho: designação comum a uma árvore de até 20 metros de altura,


diversas plantas nativas da América do de madeira castanho-avermelhada,
Sul, de diferentes gêneros e famílias, folhas elípticas, panículas muito
cuja madeira, dura e resistente, ramificadas e sâmaras lenhosas.
apresenta alta concentração de tanino, (Ver Quebracho).
substância utilizada no curtimento de Fontes: Ferreira, 1999; Larousse, 1971;
couros. No Brasil, o termo designa Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss, 2004;
Stedman, 1979; www.163.
diversas plantas dos gêneros Schinopsis
e Aspidosperma. O nome quebracho,
também utilizado como sinônimo de Quincke, Heinrich Irenaeus: clínico
quebracho-vermelho, deriva do geral alemão nascido em Frankfurt an
espanhol e significa quebra-machado, der Oder, no dia 26 de agosto de 1842.
numa alusão à rigidez de sua madeira. Mudou-se com a família para Berlim,
(Ver Aspidosperma; Quebracho- onde seu pai fez brilhante carreira
colorado). como médico. Heinrich Quincke
Fontes: Ferreira, 1999; Larousse, 1971; estudou medicina em Würzburg,
Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss, 2004; Heidelberg e Berlim com professores
Stedman, 1979; www.163.
famosos como Albert von Kölliker
(1817-1905), Hermann Helmholtz
Quebracho-colorado: o mesmo que (1821-1894) e Rudolf Virchow (1821-
quebracho-vermelho. Nome comum a 1902). Nesta última cidade obteve seu
árvores do gênero Schinopsis, família doutorado em 1863, e, dois anos mais
Anacardiaceae, cujas características tarde, foi trabalhar em Viena com o
principais são a casca rica em tanino e fisiologista Ernst Wilhelm Ritter von
a madeira dura e avermelhada. A Brücke (1819-1892). Quincke foi
espécie S. lorentzii, encontrada no assistente de outros cientistas muito
Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai, é importantes e cedo ocupou a cátedra
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128 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

de clínica geral em Berna (1870). Desde malária terçã maligna. Cardenal (1960)
1874, passou a se dedicar a apresenta fórmula um pouco diferente
intervenções cirúrgicas de pulmão. da maioria das fontes consultadas
Quatro anos depois, assumiu a cadeira (C20H24N2O2+3H2O), acrescentando que
de clínica geral em Kiel, onde a substância é usada na forma de sais –
permaneceu por trinta anos até bromidrato, cloridrato, fosfato, salicilato,
aposentar-se como professor emérito na sulfato etc. –, incitando o sistema
disciplina. Transferiu-se, então, para nervoso e tornando o pulso mais lento,
Frankfurt am Main e continuou a quando administrado em pequenas
ministrar aulas como professor doses, ou provocando
honorário, falecendo aí em 19 de maio congestionamento cerebral, surdez e
de 1922. Desempenhou papel muito vertigem, se consumido em altas doses.
importante na pesquisa sobre a Há referências de que a substância foi
tuberculose, inventando técnica de descoberta pelos jesuítas na passagem
drenagem do abscesso pulmonar para do século XVI para o XVII, durante a
permitir que os pacientes conseguissem conquista do império inca pela coroa
expectorar. Também investigou espanhola. Os indígenas peruanos usam
mecanismos de controle da temperatura a casca de sua árvore (Cinchona) para
do corpo, desenvolvendo uma teoria curar diversas manifestações febris. Em
acerca do núcleo central responsável 1820, os químicos franceses Joseph-
pelo aquecimento de todo o organismo. Bienaimé Caventou (1795-1877) e
Sua maior contribuição à medicina foi o Pierre-Joseph Pelletier (1788-1842)
uso pioneiro da punção na região conseguiram isolar seu princípio ativo,
lombar para o diagnóstico e tratamento viabilizando a criação da enorme
de enfermidades pulmonares. Fez indústria de produção da quinina, que
importantes observações sobre a foi objeto de grandes disputas durante a
dilatação da artéria hepática (1870). Segunda Guerra Mundial. A resistência
(Ver Edema de Quincke). aos componentes da substância levou à
Fontes: Landouzy & Jayle, 1902; Stedman, adoção de outros fármacos como a
1979; www.108; www.132; www.141. cloroquina e a primacrina no
tratamento da malária.
Quinino ou “sal da quinina” Fontes: Cardenal, 1960; Dorland, 1947;
Houaiss, 2001; Stedman, 1979; www.85.
[C20H24N2O2]: composto alcalóide em
forma de pó branco, inodoro e de gosto
amargo, extraído de arbustos do gênero
Cinchona, utilizado como agente
estomáquico e oxitócico, como
analgésico, antipirético, aromatizante
da água tônica, relaxante muscular,
para combater a fibrilação atrial e no
tratamento da malária. É muito eficiente
nas formas de impaludismo causadas
pelo Plasmodium malariae, Plasmodium
ovale ou no Plasmodium vivax. O
quinino é também empregado na
malária cerebal, na malária produzida
por cepas cloroquinorresistentes do
Plasmodium falciparum e nas crises de
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R
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 129

Rinoscleroma: processo granulomatoso Rixford, Emmet: cirurgião nascido em


crônico que atinge o nariz (ponto de Quebec, Canadá, em 1865, e falecido
partida da infecção), o lábio superior, a nos Estados Unidos em 1938. Graduou-
boca e as vias aéreas superiores. Em se pelo Cooper Medical College, em
geral, começa com o crescimento de São Francisco, em 1891. Tornou-se
nódulos lisos e duros, dolorosos à professor adjunto dessa instituição em
pressão, os quais se difundem para a 1893 e, cinco anos depois, foi
faringe, laringe, traquéia e mesmo para promovido a professor titular. Em 1909,
os brônquios, podendo envolver o tornou-se professor de cirurgia na
meato acústico externo. Stanford University. Rixford foi um dos
Surpreendentemente, o senso do olfato primeiros médicos a observar um caso
fica ileso. A cútis aparece pálida, de coccidioidomicose. Em homenagem
anêmica ou roxa-escura, e rica de redes a esse fato, há um monte com seu nome
vasculares superficiais, privada de pelos na Serra Nevada.
e folículos. Acredita-se que o (Ver Coccidioidomicose).
rinoscleroma deva-se a um bacilo Fonte: www.52.
específico, possivelmente uma
linhagem de Klebsiella rhinoscleromatis,
descrito pelo cirurgião vienense Anton
von Frisch (1848-1917). Segundo D’Elia
(1926), a terapia era cirúrgica e
sintomática, e os resultados somente
passageiros, uma vez que a afecção
apresentava recidiva constantemente.
Atualmente, a estreptomicina é utilizada
com sucesso no tratamento da doença.
Fonte: Cardenal, 1947; D’Elia, 1926;
Houaiss, 2001; Stedman, 1979.
130 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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S
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 131

Saccardo, Píer Andréa: micologista reproduzem-se assexuadamente por


italiano, nascido em Treviso (1845) e brotamento, por divisão transversa ou
falecido em Pádua (1920). Doutorou-se de ambas as maneiras, produzem
em 1867 pela Universidade de Pádua, ascósporos, mas são desprovidos de
na qual se tornou professor de história filamentos de micélio. Um dos membros
natural dois anos depois. Em 1879, desse grupo, o S. neoformans, nome
passou a lecionar botânica e assumiu a antigo do Cryptococcus neoformans, foi
direção dos jardins botânicos da isolado de suco fermentado de pêssego
Universidade. Sua maior contribuição à pelo microbiologista italiano Francesco
micologia foi a publicação do atlas Sanfelice, em 1894, verificando-se,
Sylloge fungorum omnium husque pouco tempo depois, que era o agente
cognitorum (1882-1913), obra coletiva da criptococose no homem. Certas
em 22 volumes que continha a fontes dão sacaromicose como
descrição e o desenho de todos os sinônimo de blastomicose, uma vez que
cogumelos conhecidos até então. os fungos do gênero Sacharomyces
Fontes: Larousse, 1971; www.209; www.210. figuram entre os agentes desse grupo de
enfermidades.
(Ver Criptococcose; Cryptococcus
Saccharomyces: gênero de cogumelos
neoformans; Fungo).
ascomicetos ou leveduras pertencentes
Fontes: Cardenal, 1960; Stedman, 1979.
à família Sacchacaromycetaceae, cujo
tipo é a levedura da cerveja. Leveduras
similares são usadas na produção de Saccharomyces albicans: fungo do
outras bebidas alcóolicas e do pão gênero Saccharomyces, hoje
(Sacharomyces cerevisiae). Os denominado Candida albicans (Monilia
Sacharomyces possuem talo albicans), parasita de animais,
predominantemente unicelular, encontrado em várias localizações do
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132 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

corpo humano, especialmente no trato sexual. Segundo D’Elia (1926), a


gastrintestinal, na orofaringe e em outras expressão “prova do salol” designava o
regiões cutâneo-mucosas. método de exame da função gástrica
Normalmente, as bactérias que residem pela ingestão de um grama de salol e
no intestino impedem a proliferação do investigação da presença de ácido
fungo. Entretanto, se o equilíbrio for salicílico na urina: caso o estômago não
perturbado por antibióticos ou doença, se contraísse muito e o pâncreas
ele se desenvolve e produz a afecção funcionasse normalmente, aparecia
denominada mugget, candidíase ou, tardiamente na urina a reação
ainda, monilíase, caracterizada por produzida pelo ácido salicílico que, em
placas brancas que se espalham por compensação, não reagia à má
dentro da boca e, às vezes, no ânus. atividade pancreática. Também
(Ver Oïdium albicans). denominado éster salicílico do fenol e
Fontes: Cardenal, 1960; D’Elia, 1926; salicilato de fenil.
Stedman, 1979. Fontes: Cardenal, 1960; D’Elia, 1926;
Dorland, 1947; Houaiss, 2001; Landouzy &
Jayle, 1902; Stedman, 1979; www.134;
Salicilato de sódio: o salicilato é um www.135.
éster ou sal proveniente do ácido
salicílico (amônio, bismuto, mercúrio Sarna: Ver Escabiose.
etc.), encontrado na aspirina ou outros
fármacos para combater dor e febre,
antiácidos, antidiarréicos e soluções Schenck, Benjamin R.: cirurgião norte-
para a retirada de calos e verrugas. americano (1873-1920), nascido em
Doses excessivas de salicilato de sódio, Syracuse, Nova York. Graduou-se na
acima de 200 a 500 mg, podem Johns Hopkins Medical School, em
provocar colapsos, convulsões, 1898, e passou a se dedicar à prática
diminuição da capacidade respiratória e ginecológica em Detroit a partir de
da pressão sangüínea, diversos 1903. Foi ginecologista do Harper
distúrbios neurológicos, náuseas, Hospital e professor associado do
sangramento gastrointestinal, Detroit College of Medicine and
sonolência, vômitos, zumbido nos Surgery. Eleito secretário da Sociedade
ouvidos e outros sintomas. O tratamento Médica do Estado em 1906, ocupou
deve incidir principalmente na essa posição até 1919, quando
atenuação ou eliminação do efeito problemas de saúde levaram-no a
ácido do salicilato no organismo. mudar-se para a Califórnia, onde
Fontes: Cardenal, 1960; Houaiss, 2001; faleceu vítima de tuberculose. A ele se
www.157. deve a descoberta da doença de
Schenck, forma linfangítica gomosa da
esporotricose. (Ver Esporotricose).
Salol [C13H10O3]: substância resultante
Fontes: Stedman, 1979; www.12.
da mistura de ácido salicílico com fenol,
empregada como analgésico, anti-
reumático e antipirético. Externamente, Schrön, Otto Carl Gottlieb von: médico
era usada como antisséptico de uso alemão nascido em Hof, na Bavária, em
externo em feridas crônicas (na forma 7 de setembro de 1837. Estudou
de pó aromatizado), e no tratamento da medicina nas Universidades de
gonorréia, infecção bacteriana Erlangen e Munique, e em 1864, após
geralmente transmitida por relação doutorar-se, foi convidado pelo
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 133

professor de Filippi, de Turim, a nas mucosas e de erupções cutâneo-


transferir-se para a Itália e lá executar os maculosas (roséolas sifilíticas) que
preparados e desenhos de anatomia podem se estender por quase todo o
que o haviam notabilizado. Um ano corpo. As lesões aparecem cerca de
depois, tornou-se professor de anatomia dois meses após a infecção. Podem vir
patológica na Universidade de Nápoles, acompanhadas de febre alta, anemia,
cidade onde viria a falecer em 13 de adenopatia generalizada e dores nas
maio de 1917. Schrön tem seu nome articulações. Também regridem
associado a um bacilo acidorresistente espontaneamente com o aumento da
encontrado na tuberculose (bacilo de imunidade. A chamada sífilis terciária
Schrön), e a um pequeno grânulo, de corresponde ao terceiro e último estágio
origem duvidosa, observado na mancha da doença. Caracteriza-se por lesões
germinativa do ovo (grânulo de Schrön). tegumentares iniciadas com o
Fontes: Cardenal, 1960; Dorland, 1947; aparecimento de nodosidades moles
www.228; www.166; www.42. (gomas sifilíticas) disseminadas por todo
o corpo que evoluem para a ulceração,
Sífilis: doença infecciosa de caráter causando danos às vísceras e ao
crônico e sistêmico, em geral aparelho cardiovascular. Em alguns
transmitida por contato sexual e, casos, é comprometido o sistema
raramente, por contaminação feto- nervoso central, com a ocorrência de
placentária (sífilis congênita). É causada tabes dorsal, paralisia progressiva dos
pelo Treponema pallidum, espiroqueta membros ou meningite sifilítica. Mais
que ataca exclusivamente o homem. raramente, há a ocorrência de lesões
Durante muito tempo, foi confundida extrategumentares, que incluem
com a gonorréria e com outras diversas afecções dos olhos e dos ossos.
treponematoses. Em 1838, foi A sífilis terciária manifesta-se entre o
individualizada pelo dermatologista terceiro e o quinto ano após a infecção
francês Phillipe Ricord (1800-1899), em casos não tratados. Nessa fase, as
que caracterizou a evolução clínica da possibilidades de transmissão são
doença em três períodos distintos: bastante reduzidas. A origem geográfica
primário, secundário e terciário. Na fase da sífilis ainda é bastante controversa.
primária, após incubação de duas a três Alguns historiadores consideram que foi
semanas, surge um ferimento superficial introduzida na Europa por marinheiros
que, em poucos dias, evolui para uma espanhóis que haviam regressado do
ulceração resistente e quase indolor continente americano em 1493. Outros,
chamada cancro duro, protossifiloma ao contrário, sustentam que a
ou cancro primário. A lesão é bem enfermidade teria se originado no
delimitada, de superfície lisa e uniforme. próprio continente europeu, mas que
Ocorre geralmente na região genital, é durante muito tempo permanecera
muito contagiosa e quase sempre vem confundida com a lepra. De qualquer
acompanhada de inflamação dos forma, pode-se dizer que a existência
gânglios linfáticos. Regride de modo da sífilis na Europa só foi reconhecida
espontâneo em três a cinco semanas, amplamente após a epidemia que
antes ou após o início da segunda fase atingiu o continente em fins do século
da doença. No período secundário, XV. As incertezas sobre a procedência
ocorre a disseminação da enfermidade da sífilis manifestaram-se até mesmo
através da corrente sanguínea, nas diversas denominações com que a
ocasionando o surgimento de lesões doença ficou conhecida: mal-americano,
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134 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

mal-canadense, mal-gálico, mal- presença da sífilis em pacientes


português, mal-céltico, mal-napolitano, portadores da Aids, casos em que os
mal-francês, mal-germânico e mal- quadros clínicos evoluem mais
escocês, entre outras. A palavra “sífilis” rapidamente e em que os tratamentos
foi utilizada pela primeira vez pelo são menos eficazes. A sífilis é também
médico e poeta italiano Gerolamo conhecida como lues, lues venérea, mal
Fracastoro (1478-1553), no poema venéreo e avariose.
Syphilis sive Morbus Gallicus, que narra (Ver Cancro-duro).
a história de um pastor, Syphilus, Fontes: Bier, 1957; Carrara, 1997; Houaiss,
castigado por terrível mal imposto pelos 2001; Koogan-Houaiss, 2004; Stedman, 1979;
Veronesi, 1982; www.47; www.217;
deuses. Em 1903, Ilia Ilitch Metchnikov www.218; www.219; www.220; www.221;
(1845-1916) e Emile Roux (1853-1933) www.222.
conseguiram reproduzir
experimentalmente a sífilis em macacos
antropóides. O Treponema pallidum foi Solução de Fowler: Ver Licor de Fowler.
descoberto pelos cientistas Fritz Richard
Schaudinn (1871-1906) e Erich Sommer, Baldomero: médico argentino,
Hoffmann (1868-1959) em 1905. No nascido em Buenos Aires a 21 de março
ano seguinte, o bacteriologista alemão de 1857, e falecido na mesma cidade,
August von Wasserman (1860-1925), em 18 de abril de 1918. Filho de mãe
em colaboração com Albert Neisser alemã e pai dinamarquês (famoso
(1855-1916) e Carl Bruck (1879-1944), fabricante de chapéus naquela cidade),
desenvolveu o primeiro método de Sommer doutourou-se em 1874 e
diagnóstico da enfermidade. O efetuou grandes esforços em prol do
mercúrio, associado ou não a banhos conhecimento, da prevenção e cura do
quentes, foi, juntamente com o iodo, mal de Hansen, tanto que leva seu
um dos primeiros tratamentos utilizados nome um dos mais importantes
contra a doença. Posteriormente, a hospitais argentinos dedicados ao
terapêutica experimentou grande tratamento da doença, o Hospital
evolução com a descoberta do Baldomero Sommer, assim batizado por
composto arsenical 606 (salvarsan) por decreto de 11 de julho de 1947. O
Paul Erlich (1854-1915), em 1911. Em médico argentino foi secretário da
1921, os derivados de bismuto foram primeira Conferência Internacional de
introduzidos por Constantin Levaditi Lepra, realizada em Berlim, Alemanha,
(1874-1953) e R. Sazerac. O tratamento em 1897. Participou do Congresso
com antibióticos foi iniciado em 1943. Científico Latino-Americano realizado
Com a difusão da penicilina, a em Montevidéu, no ano seguinte,
incidência da sífilis reduziu-se encarregando-se de redigir as
drasticamente, a ponto de ser deliberações concernentes à lepra. Foi,
considerada, hoje, uma doença de fácil ainda, presidente honorário e promotor
controle. Apesar disso, verificou-se nas da primeira Conferência Nacional sobre
últimas décadas surpreendente a Lepra, em Buenos Aires, em 1906.
crescimento da enfermidade, sobretudo Três anos depois, participou como
entre os adolescentes, fenômeno talvez delegado do governo argentino da
provocado pelo uso inadequado de segunda Conferência Internacional de
medicamentos e pelo surgimento de Lepra, celebrada em Bergen. Sommer é
microrganismos resistentes à penicilina. considerado um dos principais
Outro aspecto a ser considerado é a criadores da “escola dermatológica,
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 135

leprológica e sifilográfica argentina”: Splendore, Alfonso: médico ítalo-


por volta de 1892, implantou e passou brasileiro (Cocenza, Itália, 1871 – São
a reger essa cátedra na Faculdade de Paulo, 1953). Diplomado pela
Ciências Médicas de Buenos Aires. Faculdade de Medicina de Roma
Fundou em 1907 a Sociedad Argentina (1897), trabalhou como assistente de
de Dermatologia, primeira instituição do Angelo Celli, no Instituto de Higiene
gênero na América Latina. Participaria daquela capital. No Brasil, Splendore
como sócio estrangeiro ou trabalhou com Adolpho Lutz no
correspondente das sociedades Instituto Bacteriológico de São Paulo.
dermatológicas de Paris, Berlim, Roma e Ao regressar à Itália para servir no
Rio de Janeiro. Sommer foi, também, exército de seu país, durante a Primeira
chefe de serviço de enfermidades da Guerra Mundial (1914-1918), já havia
pele do Hospital de Niños, fundado em publicado diversas contribuições
Buenos Aires, em 30 de abril de 1875. importantes, entre as quais Toxoplasma
Em 1892, ocupou o mesmo cargo no cuniculi (1910), trabalho pioneiro sobre
Hospital San Roque, atual Ramos Mejía. a toxoplasmose humana; Blastomicose,
Presidiu a Sociedade Médica Argentina esporotricose e relações com processos
em 1897, e em 1912 ingressou na afins, comunicação submetida ao VII
Academia Nacional de Medicina, da Congresso de Dermatologia e Sifiligrafia
qual tornou-se secretário-geral em realizado em Roma (1911);
1918. A saúde pública foi outra área em Toxoplasmose de coelhos, apresentado
que se destacou. Foi Diretor de ao I Congresso de Patologia
Assistência Pública de Buenos Aires e Comparada, em Paris (1912); Una
vocal do Departamento Nacional de Afezzione micótica con localizazione
Higiene. Em meados de 1910, como nella mucosa della bocca, osservata in
conselheiro da municipalidade, Brasile, determinata per fungi
Baldomero Sommer apresentou projeto (Zymonema brasiliense sp.), publicado
de postura concernente à pasteurização no Bulletin de la Société de pathologie
e ao tratamento obrigatório do leite exotique (1912, n.5, p.313-9), uma das
destinado ao consumo dos habitantes pedras fundamentais da descoberta da
da capital, projeto transformado em lei blastomicose sul-americana, também
em dezembro de 1907. Esteve chamada de Doença de Lutz-
envolvido, também, na campanha Splendore-Almeida.
contra os mosquitos iniciada em 1913. (Ver Blastomicose sul-americana).
(Ver Lepra). Fontes: Larousse, 1971; Stedman, 1979.
Fontes: www.13; www.9; www.8; www.266.

Sporotrichum: gênero de fungos


Spina ou espinha ventosa: lesão óssea, imperfeitos, semelhantes aos fungos de
eventualmente observada na levedura, que outrora abrangia o
tuberculose ou no câncer de osso, na Sporotrichum schenckii, agente
qual o osso afetado se dilata em maior causador da esporotricose no homem e
ou menor grau, como se fosse insuflado nos animais. Apenas algumas espécies
por gás. desse gênero são patogênicas, entre
Fontes: D’Elia, 1926; Dorland, 1947; elas S. schenckii, S. beurmanni e S. dori,
Landouzy & Jayle, 1902; Stedman, 1961; agentes, também, da esporotricose.
Stedman, 1979.
(Ver Esporotricose).
Fontes: Cardenal, 1960; Stedman, 1979.
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136 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

Sublimado corrosivo: o mesmo que


cloreto de mercúrio; bicloreto de
mercúrio; percloreto de mercúrio;
cloreto de mercúrio corrosivo. Sal
branco, cristalino, inodoro, tóxico e
cáustico que na década de 1940 ainda
era empregado, internamente, como
anti-sifilíco, na dose de 0,005 a 0,02 g
ao dia em solução, pílulas ou injeções
subcutâenas; e, externamente, como
antisséptico e parasiticida em solução
de 0,25 a 2 por mil. Outra fonte da
mesma época qualificava o sublimado
corrosivo como componente do
método de coloração de van Gieson e
do líquido de Zenker, composto
químico usado na fixação de peças
histológicas. Murray (1910) relatava
casos de envenenamento por
sublimado corrosivo; apesar de haver,
então, discrepâncias de opinião sobre a
qualidade nociva ou inofensiva do
metal mercúrio quando ingerido, esse
autor considerava venenosos seus
compostos solúveis e voláteis, inclusive
os vapores do mercúrio metálico. Em
casos de envenenamento agudo pelo
sublimado corrosivo, o antídoto
recomendado era albumina ou os
albuminóides em qualquer forma
solúvel, aconselhando-se a ingestão o
mais rápido possível de leite e de clara
de ovo. Em razão da poderosa ação
local do veneno no estômago, a
lavagem estomacal era inútil, mas se o
vômito ocorresse naturalmente, um
emético podia ser ministrado. O restante
do tratamento consistia em aliviar a dor
através de opiatos e a sede através de
bebidas demulcentes.
(Ver Sífilis; Coloração de van Gieson).
Fontes: Cardenal, 1947; Fernandes, 1943;
Koogan-Houaiss, 2004; Murray, 1910;
www.11; www.137; www.95.
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T
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 137

Tintura de iodo: solução obtida por lesões nodulares ou abscessos,


meio da diluição do iodo em álcool, em principalmente no cérebro e nas
diversas proporções. Elemento químico meninges, mas também nas juntas,
da família dos halógenos, representado pulmões e tecidos subcutâneos. Miquel
pelo símbolo I e de número atômico 53, & Cambier (1902) definiam tórula como
o iodo, em altas concentrações, é qualquer um dos fungos imperfeitos
venenoso e pode causar sérios danos à que formam ácidos, como por exemplo,
pele e aos tecidos. Diluído em álcool, o cítrico e o láctico.
tem sido utilizado na medicina como (Ver Criptococose; Cryptococcus
antisséptico. Segundo Paulier, em fins neoformans).
do século XIX a tintura de iodo era Fontes: Houaiss, 2001; Miquel & Cambier,
empregada principalmente como 1902; Stedman, 1979.
revulsivo, sendo friccionada ou
aplicada com algodão sobre a pele. Tricosporose ou tricosporíase: infecção
(Ver Iodo). provocada por fungos do gênero
Fontes: Encyclopædia Britannica, 2001; Trichosporon, caracterizando-se pela
Houaiss, 2001; Paulier, 1882; Stedman,
presença de nodosidades nos pêlos e
1979.
cabelos. Também conhecida como
piedra negra e piedra alba ou blanca. A
Tórula: designação obsoleta dada aos primeira, causada pelo fungo Piedraria
fungos do gênero Cryptococcus, da hortai, ataca principalmente os cabelos;
família das criptococáceas, entre os a segunda, bem mais rara, é causada
quais se inclui o Cryptococcus pelo Trichosporon beigelii, atingindo
neoformans, causador da criptococose barba e bigode de homens jovens.
em humanos e animais. A criptococose, Ambas têm relação com condições
antes conhecida por torulose, é uma precárias de higiene, mas a piedra
doença infecciosa caracterizada por negra ocorre em regiões de clima
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138 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

tropical e altos índices pluviométricos, reproduz fora do corpo do homem ou


ao passo que a blanca depende de de outro animal, a não ser em culturas
fatores predisponentes como o diabetes, de laboratório. Pessoas infectadas pelo
a Aids e outras imunodeficiências. bacilo podem não desenvolver a
Fontes: Cardenal, 1960; Littré & Gilbert, doença. Na maioria dos casos, as
1908; Stedman, 1979; www.126. bactérias invasoras são mortas ou
inativadas pelas defesas naturais do
corpo. Via de regra, o indivíduo contrai
Tubérculo: anatomicamente, os
a infecção ao inalar os bacilos que
tubérculos são pequenas estruturas que
flutuam em gotículas de umidade
formam uma saliência arredondada na
dispersas no ar, bacilos lançados aí por
superfície de um órgão, especialmente
um tuberculoso, quando tosse ou
em certos ossos e regiões do cérebro.
espirra. As bactérias também podem
Exemplos são os tubérculos mamilares,
penetrar no organismo através de
quadrigêmeos (no cérebro), o tubérculo
alimentos contaminados, como leite
de Aranzi na parte média das válvulas
tirado de vaca tuberculosa. Em países
sigmóideas da aorta etc.
onde se pasteuriza o leite e se
Patologicamente, para D’Elia (1926),
examinam os animais periodicamente,
tubérculo era o nome comum dado a
tornou-se rara a ocorrência desse tipo
duas alterações mórbidas, uma da pele
de infecção. Os pulmões constituem o
(tubérculo cutâneo), e outra comum a
principal foco do bacilo, mas a
todos os tecidos (tubérculo
tuberculose pode afetar quase todas as
propriamente dito). Tubérculo é
partes do corpo: os gânglios linfáticos
definido, também, como pequeno
localizados na região toracocervical, as
tumor arredondado, característico da
pleuras, as meninges, os ossos e as
tuberculose, que se forma no interior
articulações, a pele, os rins, os órgãos
dos tecidos.
genitais, os olhos e os intestinos podem
Fontes: D’Elia, 1926; Houaiss, 2001; Koogan-
Houaiss, 2004. sediar lesões causadas pelo bacilo de
Koch. Uma das formas da doença, a
“tuberculose cutânea” ou “tuberculose
Tuberculose: também conhecida como vorax” (pois consome rapidamente a
peste branca, é uma das doenças que pele e a cartilagem) também é
maior número de mortes tem causado conhecida como “lúpus vulgar” –
na história da humanidade, categoria nosológica criada por Robert
representando ainda grande ameaça: Willan (1757- 1812) no início do século
estudos contemporâneos mostram que XIX, mas que hoje é reconhecido como
estão infectados quase 2 bilhões de modalidade de tuberculose. A doença
habitantes do planeta, matando a também acomete animais,
tuberculose cerca de três milhões de especialmente os domésticos, como
pessoas por ano. É uma doença bois, porcos e galinhas. Na maioria dos
infectocontagiosa e endêmica casos, desenvolve-se quando as defesas
provocada pelo Mycobacterium naturais do corpo são enfraquecidas por
tuberculosis, ou bacilo de Koch, uma enfermidade ou qualquer outra
microrganismo em forma de bastonete causa. Ao entrarem em contato com o
descoberto em 1882 pelo médico organismo, os germes invasores ativam
alemão Robert Koch. Esse bacilo, as defesas naturais que fazem com que
desprovido de movimento próprio, muitos sejam mortos. Além disso,
precisa de oxigênio para viver e não se células de defesa rodeiam grupos de
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 139

bactérias, formando tubérculos duros pressuposto do tratamento era a cura


no interior dos quais as bactérias espontânea do paciente quando
continuam vivas, porém inativas e submetido a condições adequadas:
inócuas (daí a origem do termo repouso, superalimentação, clima
tuberculose). Às vezes, a doença favorável e isolamento do doente. Em
manifesta-se anos depois da infecção. A 1909, dois pesquisadores do Instituto
primeira invasão dos germes, seguida Pasteur, Albert Calmette (1863-1933) e
da formação de tubérculos, é chamada Camille Guerin (1872-1961),
de infecção primária ou complexo comunicaram o desenvolvimento de
primário, sendo raros os sintomas nesse um bacilo de virulência atenuada que
período. Algumas vezes, porém, há possuía capacidade imunizante contra
febre, náusea e erupções na pele. O a tuberculose. Após uma série de testes,
primeiro sintoma da tuberculose o BCG, primeiro imunizante bacteriano
pulmonar é a tosse prolongada, o que atenuado, passou a ser regularmente
leva muitos pacientes a suporem que utilizado como vacina. Os avanços
contraíram apenas um resfriado científicos verificados nas primeiras
renitente. Em seguida, há considerável décadas do século XX ajudaram a
perda de peso. Em casos graves e superar algumas das crenças até então
adiantados, pode haver hemorragia, aceitas em relação à doença, entre elas,
expelindo o paciente sangue pela boca. seu suposto caráter hereditário e a
A luta entre os bacilos e as defesas do importância do clima para a
corpo prossegue por longo tempo. Se recuperação do doente. Em 1944, a
não for tratado, o paciente torna-se descoberta de um antibiótico, a
gradualmente mais enfermo. Abrem-se estreptomicina, por Selman Waksman
novas cavidades nos pulmões, e os (1888-1973) e colaboradores, abriu
germes espalham-se para outras partes nova perspectiva para o tratamento da
do corpo. Em 1890, Robert Koch (1843- tuberculose. Outro avanço significativo
1910) anunciou a descoberta de um foi a descoberta da isoniazida
extrato glicerinado estéril retirado de (hidrazida do ácido isonicotínico) em
culturas do bacilo da tuberculose, 1951, substância que inibe a
dando a essa substância o nome de proliferação dos bacilos. Com a
tuberculina. Verificou que o produto era comprovação da eficácia dos
extremamente tóxico para os animais antibióticos na cura da tuberculose, o
tuberculosos, e relativamente inócuo tratamento passou a ser feito em
para os animais saudáveis. A princípio, ambulatórios na grande maioria dos
Koch acreditou ter descoberto a cura casos, tornando desnecessária a
para a tuberculose, porém, as internação do paciente. Como
experiências realizadas por ele logo resultado, os sanatórios foram sendo
demonstraram a ineficácia do gradativamente desativados. No
tratamento. Abandonada como método passado, praticava-se a cirurgia nos
terapêutico, a tuberculina passou a ser sanatórios para fazer retrair-se um
utilizada no diagnóstico da doença. pulmão doente, de modo a que ele
Como terapêutica para a tuberculose deixasse de funcionar. Os médicos
prevaleceu, inicialmente, o tratamento ainda optam pela cirurgia em certos
feito em sanatórios, estabelecimentos casos, mas, em vez de provocar o
criados na Europa, na América e em colapso do pulmão, extirpam a parte
outras partes do mundo a partir da afetada. O restante do pulmão continua
segunda metade do século XIX. O a funcionar normalmente. A
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140 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

consolidação da quimioterapia por aumento da densidade demográfica das


meio de antibióticos, juntamente com a povoações humanas. A enfermidade se
adoção de medidas profiláticas e a disseminou a tal ponto pela Europa
simplificação do diagnóstico, provocou, ocidental, que chegou a ser a causa de
a partir das décadas de 1950 e 1960, 25% das mortes. Era pouco freqüente
radical transformação no perfil ou desconhecida na América, tendo
epidemiológico da doença, sido importada por imigrantes europeus.
materializada em acentuado declínio No entanto, há estudos que deduzem
dos índices de mortalidade. Não ter sido ela a causa de algumas mortes
obstante, o uso continuado dos no Peru no período pré-colombiano.
antibióticos, bem como a prescrição de Até o início do século XX, era
terapias inadequadas, ocasionou o praticamente desconhecida na África
surgimento de bacilos resistentes às subsaariana. Em meados do século XX,
drogas. O problema foi em parte a tuberculose não havia alcançado
superado pelo desenvolvimento de ainda Nova Guiné, Papua e Indonésia.
novos quimioterápicos e pelos avanços (Ver Linfa de Koch).
verificados no campo da microbiologia. Fontes: www.49; www.194; www.195;
Visto que a resistência ao bacilo é, em www.196; www.197; www.200.
parte, determinada pelo sistema
imunológico, tornou-se freqüente, nas Tuberculose cutis verrucosa: lesão da
últimas décadas, a associação da pele causada pelo bacilo de Koch que
tuberculose com a Aids. Ultimamente, apresenta superfície verrucosa com uma
verifica-se um número crescente de base inflamatória crônica com
casos de bacilos resistentes. Além da supuração. Também conhecida como
isoniazida e da estreptomicina, as tuberculose verrucosa da pele, lupo
drogas mais utilizadas no tratamento da verrucoso ou papulomatoso, verruga
tuberculose são o etambutol, o ácido tuberculosa e escrofulodermia
paraminossalicílico – PAS e a rifampina. verrucosa.
Apesar da considerável redução de
Fontes: Cardenal, 1960; Stedman, 1979.
casos de tuberculose em muitas nações,
inclusive no Brasil, a doença continua a
ser um grave problema de saúde Tuberculose miliar: tuberculose com
pública nos países em desenvolvimento disseminação generalizada do bacilo
e, principalmente, na África, onde há tuberculoso e produção de diminutos e
grande escassez de medicamentos. A incontáveis pequenos tubérculos em
tuberculose é uma doença muito antiga, diversos órgãos e tecidos.
tendo sido encontradas lesões de (Ver Tuberculose).
etiologia possivelmente tuberculosa em Fontes: Cardenal, 1960; Stedman, 1979.
ossos de múmias egípcias que datam de
3700 a.C. Antes de afetar o homem, foi
Tuberculose miliar aguda ou
uma doença endêmica nos animais do
tuberculose granulosa aguda: uma das
período paleolítico. Acredita-se que o
duas principais formas de tuberculose
agente da tuberculose teve como
humana, caracterizada pela
hospedeiro, inicialmente, o gado
disseminação generalizada do
bovino, sendo o Mycobacterium
Mycobacterium tuberculosis no
tuberculosis uma mutação do
organismo e pela formação de
Mycobacterium bovis, favorecida pelo
minúsculos e incontáveis tubérculos em
convívio do homem com o gado e o
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 141

diversos órgãos e tecidos. Diferencia-se


da forma localizada, que incide num
órgão ou tecido específico (pulmão,
osso, rim etc.).
(Ver Tuberculose).
Fontes: D’Elia, 1926; Ferreira, 1999;
Larousse, 1971; Stedman, 1979.

Tularemia: doença infectocontagiosa


aguda, de moderada gravidade,
provocada pela inoculação ou ingestão
de uma bactéria gram-negativa –
Bacterium tularense, Pasteurella
tularensis ou Francisella tularensis.
Transmite-se ao homem pelo contato
com animais infectados ou por ingestão
de carne contaminada. Pode também
ser veiculada através da picada de
artrópodes infectados, tais como
carrapatos, piolhos, mutucas e
mosquitos. Apresenta uma forma
úlcero-ganglionar, geralmente
localizada na região da picada do
inseto, e uma forma pleuropulmonar.
Seus sintomas característicos são febre,
cefaléia, vômito e adenopatia. Em 1910,
George Walter McCoy (1876-1952)
descobriu a doença em animais
selvagens no condado de Tulare, na
Cafifórnia. Dois anos mais tarde, o
mesmo McCoy, juntamente com
Charles W. Chapin, descreveu o agente
etiológico, denominando-o Bacterium
tularense. Em 1914, a primeira
manifestação humana da enfermidade
foi reconhecida por William Buchanan
Wherry (1874-1936) e B. H. Lamb. Em
homenagem ao médico norte-
americano Edward Francis (1872-1957),
responsável por importantes estudos
sobre a doença, o agente passou a ser
chamado Francisella tularensis.
Fontes: Bier, 1957; Larousse, 1971; Houaiss,
2001; Veronesi, 1982.
142 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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U
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 143

Uffelmann, Julius August Christian: Unna, Paul Gerson: dermatologista


médico alemão nascido em Hannover, alemão nascido em Hamburgo em 8 de
em 1837, e falecido em 1894. Após setembro de 1850. Estudou medicina na
estudar teologia e filologia em Universidade de Heidelberg, na qual
Göttingen, dedicou-se à formação ingressou em 1870, depois em Leipzig
médica. Clínico em Hameln, tornou-se e, por fim, em Estrasburgo, onde se
livre-docente em Rostock a partir de formou, orientado por Waldeyer, em
1876, e ausserordentlicher Professor 1875. Sua tese de doutoramento, Über
(professor auxiliar) três anos depois. die Entwicklung der Haut (Sobre o
Publicou trabalhos sobre diversos temas desenvolvimento da pele), trouxe à luz
e defendeu, no Manual da higiene conhecimentos inteiramente novos
doméstica da criança (1891), a sobre as diferentes partes e os elementos
importância da dieta e da higiene para constitutivos da pele. Para realizar suas
o controle das doenças. observações, Unna utilizou-se do ácido
Fontes: www.181; www.167; www.166. ósmico e de um novo corante, o picro-
carmim, recém descoberto por Ranvier.
Úlcera: lesão aberta, com perda de O trabalho seria parcialmente
substância, em tecido cutâneo ou publicado no Handbuch der speciellen
mucoso, causando desintegração e Pathologie und Therapie em 1883.
necrose. As úlceras tendem a se formar Depois de formado, Unna transferiu-se
em áreas do corpo com má circulação para Viena, onde estudou com
sangüínea. Até uma pequena pancada Ferdinand von Hebra (1816-1880),
nessas partes pode levar a uma Moritz Kaposi (1837-1902) e Heinrich
ulceração. Uma ferida devida a Auspitz (1835-1886). Em 1877,
traumatismo pode tornar-se ulcerada se publicaria com Auspitz dois artigos
ocorrer infecção. sobre a anatomia patológica do cancro
Fontes: Houaiss, 2001; Koogan-Houaiss, sifilítico no Vierteljahresschrift für
2004; Stedman, 1979. Dermatologie & Syphilis. De volta a
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144 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

Hamburgo em 1876, foi contratado criando seus próprios métodos


como médico assistente da seção de histológicos e de coloração de células e
sífilis do Hospital St. Georger, em Engel- tecidos. Em 1891, descobriu as células
Reimers, atividade que passou a plasmáticas e, com o passar do tempo,
conciliar com a prática exercida na verificou que eram componentes
clínica de seu pai em Hamburgo. No fundamentais das infecções crônicas e
início da década de 1880 fundou sua neoplasias infecciosas. Também
própria clínica dedicada às doenças de estabeleceu a diferença entre os
pele. Juntamente com Oskar Lassar e diversos tipos de tecidos adiposos e
Hans Hebra, criou, em 1882, o realizou estudos históricos sobre o
Monatshefte für praktische conceito de eczema. Em 1894,
Dermatologie (hoje chamado publicou a monumental Die
Dermatologische Wochenschrift), histopathologie der Hautkrankheiten
primeiro periódico de dermatologia da (Histopatologia das doenças de pele),
Alemanha e uma das principais obra que consolidou seu prestígio como
referências da especialidade no mundo. um dos mais importantes
A clínica logo se tornou insuficiente dermatologistas do mundo. A partir de
para atender à crescente demanda. 1906, direcionou suas pesquisas
Unna decidiu, então, abandonar a laboratoriais para o campo da química.
clínica geral para se dedicar apenas à Juntamente com Golodetz, esclareceu a
dermatologia. Em 1884, num subúrbio até então imprecisa química das
de Hamburgo, inaugurou um moderno substâncias córneas, de grande
instituto de treinamento dermatológico, importância para a dermatologia.
que passou a ser freqüentado por Pesquisando os processos bioquímicos
estudantes de várias partes do mundo. da pele, descobriu nela o Stratum
O Dermatologikum atraía, também, granulosum. Em 1911, verificou a
médicos de diversas nacionalidades, presença na pele de áreas com excesso
muitos deles considerados pioneiros da de oxigênio (Sauerstofforte) e de regiões
dermatologia em seus países. Um desses que consumiam oxigênio
médicos foi Adolpho Lutz, que chegou (Reduktionsorte). Dois anos depois,
a Hamburgo em março de 1885. Sob a através do método da Chromolyse,
orientação de Unna, o médico suíço- tentou construir uma ponte entre a
brasileiro desenvolveu importante histologia e a química dos tecidos.
trabalho sobre a bacteriologia da lepra e Tendo por base uma série sistemática de
de outras doenças dermatológicas. No testes alternados com solventes
artigo que publicou, em 1886, no químicos e corantes em seções de
Monatshefte für praktische tecido congelado, o novo método tinha
Dermatologie (“Zur Morphologie des por finalidade determinar se o elemento
Mikroorganismus der Lepra“), propôs de tecido a ser examinado era ou não
nova classificação para o dissolvido após ser corado. Em 1928,
microrganismo descoberto por Gerhard publicou Histochemie der Haut, tratado
Armauer Hansen (1841-1912), que Lutz que reúne suas principais conclusões
considerou ser espécie de novo gênero, sobre a química dos tecidos. Além dos
batizado por ele de Coccothrix. Unna trabalhos em dermatopatologia, deixou
trabalhou durante 25 anos na histologia notáveis contribuições no campo da
da lepra, tendo feito importantes dermatologia clínica. Foi autor de
contribuições para a bacteriologia, a estudos fundamentais sobre os
patologia e a terapêutica da doença, impetigos, o grupo dos líquens, as
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 145

doenças das unhas e o grupo dos acadêmicos e que travou candentes


eritemas, por exemplo. Descreveu, disputas com muitos de seus ocupantes,
ainda, uma afecção crônica da pele tornou-se, em 1907, professor titular do
caracterizada pela inflamação das Eppendorf Krankenhaus. Assumiu, no
regiões com grande número de ano seguinte, o cargo de médico-chefe
glândulas sebáceas, especialmente o da instituição e, em 1919, foi nomeado
couro cabeludo e áreas da face e do professor de dermatologia da
tronco. De causa desconhecida, esta foi Universidade de Hamburgo. Além das
batizada como doença de Unna. Suas obras citadas, assinou o capítulo de
contribuições para a terapêutica foram dermatologia do Lehrbuch der
de grande importância. Unna estudou pathologischen Anatomie, de von Orth
detalhadamente o efeito de agentes de (1847-1923), e foi co-editor do
redução sobre a pele, entre eles a Internationaler Atlas seltener
crisarobina, o pirogalol, a resorcina e o Hautkrankheiten (Hamburg & Leipzig,
ictiol. Introduziu o uso de sabões 1889-1899). Faleceu em Hamburgo,
medicinais e recomendou a vítima de gripe, em 29 de janeiro de
cauterização a quente para o 1929.
tratamento de pequenos tumores (Ver Ácido Pirogálico; Coloração;
benignos da pele e de lesões pustulares. Crisarobina; Lepra; Líquen; Pomada de
Desenvolveu a pasta composta de Unna).
óxido de zinco, mucilagem de goma e Fontes: Cardenal, 1960; Larousse, 1971;
glicerina que ficou conhecida como Hollander, 1987; Olpp, 1932; www.51;
www.223.
pomada de Unna, ainda hoje utilizada
no tratamento de úlceras varicosas e
dermatoses pruríticas. Antes mesmo da
introdução dos tratamentos radiativos,
trabalhou na erradicação do lúpus, que
julgava curável. No terreno da
cosmética, defendeu o uso de
ungüentos, pastas e pós devidamente
coloridos para a face e as mãos.
Publicou cerca de 150 artigos sobre
terapêutica e diversas monografias.
Kriegsaphorismen eines Dermatologen
(Aforismos de guerra de um
dermatologista) veio a lume durante a
Primeira Guerra Mundial, com o
objetivo de adestrar os médicos das
forças armadas alemãs no tratamento de
dermatoses comuns. Unna também
escreveu Die allgemeine Therapie der
Haut-krankheiten (Terapia geral das
doenças de pele) e Diagnose und
Behandlung von Hautkrankheiten
durch den praktischen Arzt
(Diagnóstico e tratamento de doenças
de pele pelo clínico geral). Unna, que
sempre desprezou os postos
146 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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V
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 147

Vesuvina: termo originado de Vesúvio, Voltolini, Friedrich E. R.: médico


vulcão italiano. Corante de cor parda alemão nascido em Elsterwerda, em 17
para microscopia, constituído a partir de junho de 1819, e falecido em 10 de
da ação do ácido nitroso sobre a setembro de 1889. É reconhecido
metafenilenediamina. Muito usado em principalmente por suas atividades em
técnicas histológicas em solução otorrinolaringologia, especialidade
aquosa a 1 por 100. Também médica em que se destacou pelo
conhecido como pardo de Bismarck. pioneirismo na utilização da
Fontes: Cardenal, 1960; Larousse, 1971. galvanocáustica em doenças da laringe
e do nariz, pelo aperfeiçoamento da
iluminação do laringoscópio e pela
Vitiligem ou vitiligo: lesão discromatosa
adaptação desse instrumento para uso
da pele, de causa não definida,
como otoscópio. Exerceu atividades
caracterizada por perda localizada da
clínicas em Berlim, Gross-Strehlitz e
pigmentação e pela presença de
Lauenburg; tornou-se médico municipal
manchas brancas de tamanhos variados
em Falkenberg (Oberschlesien), em
e, em geral, de distribuição simétrica. A
1852, e livre-docente de otologia e
pele que circunda as regiões lesionadas
laringologia em Breslau, a partir de
apresenta-se, normalmente,
1862. Seis anos depois assumiu o cargo
hiperpigmentada, e o pêlo das partes
de ausserordentlicher Professor
atingidas é quase sempre branco.
(professor extraordinário) na
Também conhecida por leucodermia
Universidade de Breslau.
adquirida ou leucopatia adquirida.
Fontes: Encyclopædia Britannica, 2001;
Fontes: D’Elia, 1926; Ferreira, 1999; www.176; www.179; www.211; www.199.
Houaiss, 2001; Landouzy & Jayle, 1902;
Littré & Gilbert, 1908; Stedman, 1979.
148 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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W
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 149

Weigert, Karl: patologista alemão hora em solução vermelho-escura de


(1845-1904), desenvolveu a partir de orceína em vinte partes de álcool, cinco
1871 engenhosos métodos de partes de ácido acético e quarenta
coloração para diferentes espécies de partes de água destilada; em seguida,
bactérias, o que contribuiu devia-se lavar e corar o preparado em
enormemente para as investigações solução aquosa de cristal violeta a 1%
microscópicas sobre esses seres. Criou, e, por fim, descorá-lo em álcool a 60%.
também, métodos para a observação da A hematoxilina férrica, solução
mielina, das fibras elásticas, da fibrina e contendo hematoxilina, cloreto férrico e
de outras estruturas orgânicas. Weigert ácido clorídrico, é usada como corante
verificou que uma solução de fucsina, para núcleos de células. Estão em uso
resorcina e cloreto férrico torna as fibras ou apresentam formas aperfeiçoadas
elásticas azul-escuras. A fibrina é corada outras técnicas criadas pelo patologista
em solução de anilina-cristal violeta, em alemão, que dá nome, também, à lei
seguida tratada com solução de iodo- segundo a qual a perda ou destruição
iodeto de potássio e descorada em de uma parte ou um elemento no
anilina oleosa e xilol; a fibrina adquire, mundo orgânico pode resultar em
assim, coloração azul-escuro. Obtém-se superprodução compensadora,
igual resultado com a mielina quando é especialmente nos processos de
corada com o cloreto férrico e a regeneração ou reparo de tecidos e
hematoxilina, adquirindo as porções ossos.
degeneradas uma tonalidade (Ver Coloração; Fucsina).
amarelada. Método mais complexo Fontes: Cardenal, 1960; Fernandes, 1943;
torna azul a neuróglia e os núcleos de Stedman, 1979; www.46.
suas células, usando-se a hematoxilina
cúprica para os tecidos nervosos. Wernicke, Roberto Johann:
Quanto aos actinomicetos, Weigert parasitologista argentino, filho de
recomendava imergi-los durante uma imigrantes alemães, nascido em 1854 e
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150 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

falecido em 1922. Doutorou-se pela Provincial Turkish Bath Company Ltd.


Universidade de Jena, Alemanha, e foi Fundou e dirigiu a cadeira de
professor de patologia da Faculdade de dermatologia no Royal College of
Medicina de Buenos Aires. Juntamente Physicians. Trouxe do Egito para a
com seu aluno Alejandro Posadas capital inglesa o obelisco conhecido
(1870-1902), foi o primeiro a descrever como Agulha de Cleópatra, que ainda
nova moléstia de pele diagnosticada se encontra às margens do Tâmisa, em
inicialmente como micose fungóide Londres. Em 1869, descreveu e nomeou
com psorospérmios e, mais tarde, como o lichen planus, dermatose que
doença de Posadas-Wernicke ou Ferdinand von Hebra provavelmente há
coccidioidomicose. Os dois autores havia identificado como lichen ruber.
publicaram suas descobertas de forma (Ver Líquen plano; Líquen rubro).
independente em 1892. Wernicke em Fontes: Freedberg, 1999; www.53; www.54.
“Ueber einen Protozoenbefund bei
mycosis fungoides”, no Centralblatt für
Wucherer, Otto Eduard Heinrich: filho
Bakteriologie und Parasitenkunde
de mãe holandesa e de um comerciante
(1892, v.12, p.859-61); e Posadas em
alemão, nasceu em 7 de julho de 1820,
“Un nuevo caso de micosis fungoidea
na cidade do Porto, em Portugal, e
com psorospermia”, no periódico
faleceu em 7 de maio de 1873, em
Circulo Médico Argentino (1892, v.15,
Salvador. Com a fixação do pai em
p.585-97). Em 1893, um novo caso da
Salvador, Bahia, Wucherer viveu entre
doença foi observado pelo cirurgião
os seis e sete anos nessa cidade
canadense Emmet Rixford (1865-1938).
brasileira, transferindo-se, então, para a
Novos casos foram registrados na
região alemã de Baden-Wurttemberg.
Califórnia em 1894 e 1896. O
Formou-se em medicina pela
organismo causador da doença foi
universidade de Tübingen. Retornou à
denominando Coccidioides immitis e
Bahia em 1843, e exerceu a clínica em
definitivamente caracterizado por
cidades do Recôncavo Baiano antes de
William Ophüls e H. C. Moffit (1871-
se estabelecer em Salvador, em 1847.
1933) em “A new pathogenic mould
Sintonizado com as discussões e
formely described as a protozoan:
problemas teóricos relacionados à
Coccidioides immitis pyogenes:
topografia e geografia médicas,
preliminary report” (Philadelphia
dedicou-se, juntamente com outros
Medical Journal, 1900, v.5, p.1471-2).
médicos daquela província brasileira –
Também com Posadas, Wernicke foi o
principalmente John Ligertwood
primeiro a relatar um caso de
Paterson (1820-1882) e José Francisco
rhinosporidiosis.
da Silva Lima (1826-1910) –, ao estudo
(Ver Coccidioidomicose; Coccídios;
da tuberculose, lepra e ofidismo, além
Posadas, Alejandro; Psorospermose).
das doenças associadas ao clima
Fontes: www.19; www.29; www.225.
tropical, sobretudo a opilação
(ancilostomíase), o beribéri, a
Wilson, Erasmus: médico inglês (1809- esquistossomose, a filariose e o ainhum.
1884) conhecido por seu trabalhos Publicados na Gazeta Médica da Bahia,
como anatomista e dermatologista. Foi periódico que circulou de 1866 a 1915,
presidente do College of Surgeons e da os estudos de Wucherer e de outros
Biblical Archeology Society, e um dos integrantes de seu grupo acabaram por
primeiros acionistas do London & notabilizá-los, dando origem ao que
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SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 151

posteriormente foi denominado Escola


Tropicalista Baiana.
Fontes: Barreto & Aras, 2003; Edler, 2002;
Larousse, 1971;www.155.
152 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento
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Z
SUMÁRIO – GLOSSÁRIO – ÍNDICES 153

Zambaco, Démétrius Alexandre: suas pesquisas sobre a lepra na Ilha de


descendente de gregos, é também Metilena, na Turquia, defendendo a
conhecido como Dimítrios Zambakós teoria de que a doença não se
pasás ou Zambaco Pacha (em transmitia de pessoa a pessoa. A
português, paxá), referência ao título inexistência de casos entre os quinze
que recebeu do quediva otomano do mil muçulmanos que habitavam a ilha
Egito pelos serviços médicos prestados parecia corroborar suas idéias acerca da
naquele país. Nascido em não-contagiosidade da doença. Na
Constantinopla, na Turquia, em 6 de história da medicina, seu nome é
maio de 1831, naturalizou-se francês associado, ainda, às propostas,
após sua transferência para Paris a fim defendidas em fins do século XIX, de
de estudar na Faculdade de Medicina cauterização e remoção do clitóris para
da capital francesa. Chefe de clínica diminuir a suposta propensão feminina
daquela faculdade e correspondente à masturbação. Entre seus trabalhos
nacional pela Divisão de anatomia e sobre a sexualidade humana, destacam-
fisiologia da Academia de Medicina, foi se Onanisme avec troubles nerveux
autor de vários trabalhos importantes chez deux petites filles (1882) e Les
sobre a lepra, todos publicados em Eunuques d’aujourd’hui et ceux de jadis
Paris: Mémoire sur la lèpre observée à (Paris, 1911). Membro das Academias
Constantinople (1887), Voyages chez de Medicina de São Petersburgo e
les lépreux (1891), Les Lépreux Viena e presidente da Sociedade de
ambulants de Constantinople (1897), La Medicina de Constantinopla, faleceu no
lèpre à travers les siècles et les contrées Cairo em 27 de novembro de 1913.
(1914). Segundo William Tebb, no (Ver Lepra).
Primeiro Congresso Internacional de Fontes: Houaiss, 2001; www.198; www.161;
Dermatologia e Sifilografia, realizado na www.133.
capital da França em agosto de 1889,
Zambaco comunicou os resultados de
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154 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 1 — Suplemento

Ziemssen, Hugo Wilhelm von: médico


alemão nascido em 13 de dezembro de
1829, em Greifswald, e falecido em
Munique, em 21 de janeiro de 1902.
Foi professor de clínica médica da
Universidade de Erlangen, em 1863, e
da Universidade de Munique, no ano
seguinte. Doutorou-se somente em
1880, já como patologista e diretor da
clínica municipal de Munique, com tese
intitulada Sobre a mielina, pigmento e
micrococos do esputo. É reconhecido
pela introdução na medicina alemã dos
métodos de exame e tratamento com
eletricidade, e por seus estudos sobre os
movimentos cardíacos.
Fontes: Der Grosse, 1952-1960; www.229;
www.162; www.167;www.48.

Zoogléia: nome antigo dado a uma


massa de bactérias mantidas agregadas
graças à produção de uma substância
gelatinosa.
(Ver Bactéria).
Fontes: Ferreira, 1999; Houaiss, 2001; Littré
& Gilbert, 1908; Stedman, 1979.

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