Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Curso: Direito
Disciplina: Sistema Constitucional Tributário
Profª. Es. Ilza Maria da Silva Facundes
O Direito Tributário classifica-se como ramo do Direito Público, pois: (i) o Estado
é parte na relação jurídica; (ii) a norma tributária traz em si o atributo da coatividade,
não deixando, em regra geral, nenhum espaço para a voluntariedade daqueles que a
ela se subordinam; e, ainda, (iii) o interesse a ser tutelado é o público, com a finalidade
de disciplinar a capitação de receitas tributárias, com vistas à sustentação da máquina
do estatal.
Assim, em regra, figura a desigualdade jurídica em benefício da Fazenda
Pública.
O que é tributo?
Sem uma clara definição deste vocábulo, não é possível determinarmos com
precisão o próprio conceito de Direito tributário.
Cada fonte do Direito possui uma função especial. Geralmente, a doutrina tem a
atividade de conceituar e detalhar a lei. Entretanto, a lei tributária definiu o tributo, em face
da complexidade do assunto e das múltiplas divergências doutrinárias. Tal conceituação
formulada por Rubens Gomes de Souza, encontra-se no artigo 3º do Código Tributário
Nacional.
Como bem visto pelo ilustre professor Hugo de Brito Machado, In "Curso de
Direito Tributário", 17ª ed., Ed. Malheiros Editores, p. 47,48:
"Sabe-se que, em princípio, não é função da lei conceituar. A lei
deve conter uma regra de comportamento. Entretanto, em face de
controvérsias, às vezes deve a lei estabelecer conceitos. Isso
aconteceu com o conceito de tributo, que é atualmente, no Brasil,
legalmente determinado.
4.1 – Conceito de tributo
Assim dispõe o art. 3° - CTN:
2
prestação compulsória;
não é multa;
instituído por meio de lei;
cobrado mediante lançamento.
3
O dispositivo, por si só, não autoriza o pagamento da dívida tributária em
mercadorias, por exemplo. Entende-se que a menção apenas autoriza que o tributo seja
expresso em algo que não seja moeda, como no caso das unidades fiscais usadas para
indexação (UFIR, BTN, OTN, ORTN, etc.). No entanto, são expressões que podem ser
facilmente convertidas novamente em dinheiro, para fins de pagamento. A
impossibilidade, ao nosso ver, do pagamento através de mercadorias, serviços ou outras
utilidades, é expressa no artigo 162 do CTN, que veremos oportunamente.
Assim:
Tributo não é...
facultativo;
voluntário;
contratual.
4
Quando alguém aufere renda, assume a obrigação de pagar o imposto
correspondente. Trata-se neste caso de uma obrigação legal, ou ex lege, porque
decorre diretamente da lei tributária que, por se haver concretizado sua
hipótese de incidência, incidiu e gerou a obrigação tributária, independentemente
da vontade daquele que auferiu a renda.
É exatamente neste ponto que reside a diferença entre tributo e multa. Apesar de
ambos serem receitas derivadas, a multa é por definição, justamente o que o tributo,
também por definição, está proibido de ser: a SANÇÃO, a PENALIDADE POR
UM ATO ILÍCITO.
Esquematicamente tem-se:
TRIBUTO MULTA
• Não possui finalidade sancionatória • É sanção por ato ilícito
5
Não podemos perder de vista que a multa se submete à reserva legal, devendo
está prevista em lei (art. 97, V, CTN). Ademais, aplica-se a multa o princípio constitucional
tributário da vedação do confisco (art. 150, IV, CF), ainda que se reconheça tratar-se a
multa de prestação diversa de tributo.
Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:
V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus
dispositivos, ou para outras infrações nela definidas;
Isso não significa que o tributo não possa ser usado como meio para desestimular
certas atividades consideradas desinteressantes pelo Poder Público. Pode ser reduzido o
interesse em se manter latifúndios pelo aumento progressivo do ITR (Imposto sobre a
propriedade territorial rural) em função do tamanho da área.
Outro ponto que merece destaque são os atos ilícitos, estes atos não estão fora
das hipóteses de cobrança de tributos. Se alguém aufere renda mediante a prática
de atos proibidos, como lenocínio (prática criminosa que consiste em explorar o comércio carnal
ilícito, sob qualquer forma ou aspecto, havendo ou não mediação direta ou intuito de lucro, artigos 227 a
230 do Código Penal. Não se confunde com prostituição), o jogo do bicho e até mesmo o tráfico
de entorpecentes, deve pagar imposto da mesma forma como aquele que obteve seu
sustento pela prática da medicina, da engenharia ou da advocacia.
Alguns entendem que o Estado, ao tributar rendimentos oriundos de atividades
criminosas, estaria se associando ao crime e obtendo, imoralmente, recursos de uma
atividade que ele mesmo proíbe. Entretanto, seria injusto cobrar imposto daquele que
trabalha honestamente e conceder uma verdadeira “imunidade” ao criminoso. Nessa
linha de raciocínio, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar um caso sobre tráfico ilícito
de entorpecentes, entendeu que, antes de ser agressiva à moralidade, a tributação de
tais atividades é decorrência do princípio da isonomia fiscal, de manifesta inspiração
ética (Habeas corpus 77.530-4/RS).
Essa possibilidade é conhecida na doutrina como o Princípio do pecunia non olet (o
dinheiro não cheira), que autoriza a cobrança de tributos, abstraindo-se completamente da
licitude dos atos ou fatos que lhe deram causa. A expressão, hoje tão popular entre
tributaristas, surgiu de uma situação, no mínimo, curiosa.
“Conta a História que, na Roma Antiga, tendo o Imperador Vespasiano instituído um
tributo sobre os mictórios públicos (cloacas), logo foi sugerido, por seu filho Tito, a
extinção da nova exação, em decorrência de sua origem espúria. Convicto, indagou
Vespasiano, empunhando uma moeda: Olet? (Tem cheiro?). Ao que lhe respondeu o
filho: Non olet! (Não tem cheiro!), ficando assim demonstrado que a receita advinda da
tributação não é acompanhada das características do fato tributado.
Claro está que, na sua versão atual, as expressões perderam o conteúdo cínico da
anedota, para se penetrarem de alto sentido ético, ou seja, o de procurar atingir
isonomicamente a capacidade econômica do contribuinte sem preconceitos falsos ou
ingênuos pruridos de sentimentalismo piegas quanto à licitude da atividade que
constitua fato gerador do tributo.
6
d) – instituída em lei: atende o Princípio Constitucional da Legalidade, que
será visto com maiores detalhes em aula específica.
Essa é uma regra sem exceção: o tributo só pode ser criado por lei (complementar
ou ordinária) ou ato normativo de igual força (Medida Provisória). Isso decorre do princípio
democrático: como a lei é aprovada pelos representantes do povo, pode-se dizer, ao
menos, TEORICAMENTE, que o povo só paga os tributos que aceitou pagar.
e) – cobrada mediante atividade administrativa plenamente
vinculada: tal atividade refere-se ao lançamento, cuja definição está no art. 142 do
CTN.
Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo
lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do
fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante
do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade
cabível.
Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob
pena de responsabilidade funcional.
É por esse motivo que a maior parte da doutrina entende não serem os direitos
antidumping tributos (os direitos antidumping têm como objetivo evitar que os produtores nacionais
sejam prejudicados por importações realizadas a preços de dumping, prática esta considerada como desleal
em termos de comércio em acordos internacionais), uma vez que a autoridade administrativa
7
competente, segundo uma análise de conveniência e oportunidade, pode dispensar o
pagamento destes valores.
Isto não significa que toda a atividade administrativa voltada para a administração
de tributos seja do tipo vinculada. A atividade de fiscalização, por exemplo, não o é. Seu
exercício pauta-se pelos Princípios da Moralidade, da Impessoalidade e da Eficiência
(deve-se evitar a realização de fiscalizações, cujo retorno em tributos seja menor que o
gasto público envolvido na atividade).
8
melhoria são vinculados a uma Atividade Estatal diretamente relacionada ao
contribuinte. Já as contribuições especiais e os empréstimos compulsórios não se
caracterizam somente por seu fato gerador (classificação intrínseca), mas, sobretudo e
principalmente, por sua finalidade e a destinação do produto da sua arrecadação,
exteriorizada pela atividade estatal desenvolvida e que se conecta, indiretamente, com
o sujeito passivo. Nesse caso, seria traço característico das contribuições que o
produto de sua arrecadação fosse destinado à atividade estatal, que é seu
pressuposto.
Como vimos, o dever de pagar o tributo não decorre do acontecimento de uma
infração, mas sim da realização do fato gerador. Pois bem, qualquer que seja o tributo,
possuirá um respectivo fato gerador. Ou seja, sua lei instituidora determinará aquele
fato que, uma vez ocorrido, fará com que surta, contra o sujeito passivo (pessoa
devedora), o dever de pagar.
(...)
I - impostos;”(CF)
Art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação
independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao
contribuinte. (CTN)
De efeito, o imposto não significa um tributo contraprestacional, como é o
caso das taxas e da contribuição de melhoria. É chamado de tributo não-vinculado a
qualquer contraprestação estatal. O imposto se assenta no fundamento da
solidariedade social, onde os que têm mais contribuem de forma mais significativa
para o bem de todos, objetivo visado pelo Estado.
Por outro lado, um cidadão que receba um salário de R$678 mensais, não está
sujeito ao IR, por se localizar na faixa de isenção. Provavelmente não possui imóvel
próprio, não sofrendo a incidência direta do IPTU. Possivelmente não possui veículo
algum para lazer de sua família, não estando sujeito ao IPVA. Assim como muito
provavelmente jamais pensou em importar o que quer que seja. No entanto, este
cidadão, na eventualidade de uma enfermidade, irá se socorrer da rede médica oficial,
bem como se utilizará da rede pública de ensino na educação de seus filhos.
Como se demonstrou, outra idéia sem fundamento, e que deve ser, de plano,
deixada de lado, é a de que o pagamento de impostos dá, a favor de quem os paga,
direito a algum tipo de atividade estatal especial e individualizada. O fundamento
jurídico de se dever certo imposto está unicamente na manifestação da riqueza do
contribuinte e aí se encerra. Da mesma maneira, a falha de algum serviço ou atividade
pública não é causa jurídica para que o contribuinte se exima do dever de pagar
imposto.
10
divisão, couberam à União 7 deles, aos Estados-membros e ao Distrito Federal, 3, e,
aos Municípios, 3.
(...)
Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador
idênticos aos que correspondam a imposto, nem ser calculada em função do
capital das empresas. (Redação dada pelo Ato Complementar 34, de 30/01/67)
“É constitucional a Taxa de Fiscalização dos Mercados de Títulos e Valores Mobiliários instituída pela
Lei 7.940/89.”
“O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.”
“É inconstitucional a taxa municipal de conservação de estradas de rodagem cuja base de cálculo seja
idêntica a do Imposto Territorial Rural.”
11
“Sobre o tema da natureza jurídica dessa exação, o Supremo Tribunal Federal firmou jurisprudência no
sentido de se tratar de tributo da espécie taxa (Representação 1.077). Ela resulta da prestação de
serviço público específico e divisível, cuja base de cálculo é o valor da atividade estatal deferida
diretamente ao contribuinte. A taxa judiciária deve, pois, ser proporcional ao custo da atividade do
Estado a que se vincula. E há de ter um limite, sob pena de inviabilizar, à vista do valor cobrado, o
acesso de muitos à Justiça.” (ADI 948, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ 17/03/00)
“Taxa de Conservação e Manutenção das Vias Públicas. Inconstitucionalidade incidental. Acórdão que
declarou a inconstitucionalidade de lei que instituiu a cobrança de Taxa de Conservação e Manutenção
das Vias Públicas, por afronta ao disposto no art. 145, II, da CF. Entendimento firmado pelo STF no
sentido de que a base de cálculo é ‘própria de imposto e não de taxa por serviços específicos e
divisíveis postos à disposição do seu contribuinte’ e ‘não tendo o Município — uma vez que, em matéria
de impostos, a competência é da União — competência para criar tributos outros que não os que a
Constituição lhe atribui, o imposto dissimulado pela taxa é inconstitucional (RE 121.617)’.” (RE 293.536,
Rel. Min. Néri da Silveira, DJ 17/05/02)
“Taxas de lixo e sinistro. (…) Taxas legitimamente instituídas como contraprestação a serviços
essenciais, específicos e divisíveis, referidos ao contribuinte a quem são prestados ou a cuja
disposição são postos, não possuindo base de cálculo própria de imposto.” (RE 233.784, Rel. Min.
Ilmar Galvão, DJ 12/11/99). No mesmo sentido: RE 206.777, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 30/04/99, AI
431.836-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 01/08/03).
12
No sentido de verificar o fiel cumprimento de tais normas, entra em cena a atividade
pública de controle e fiscalização – o poder de polícia.
13
Art. 79. Os serviços públicos a que se refere o art. 77 consideram-se:
I. utilizados pelo contribuinte:
a) efetivamente, quando por ele usufruídos a qualquer título;
14
SERVIÇO ESPECÍFICO: Segundo o Código, o serviço é dito específico quando
possa ser destacado em unidades autônomas de intervenção, de utilidade ou de
necessidade públicas. Em outras palavras, significa dizer que se trata de uma
atividade administrativa cuja finalidade e objeto são plenamente identificáveis.
15
• Taxa de conservação de estradas quando o serviço for prestado diretamente
pelo Poder Público, cuja constitucionalidade está confirmada pela Súmula 348
do STF;
• Taxa de incêndio (TI) cobrada pelos Estados pelo serviço de ataque e
prevenção de incêndio.
Esquematicamente temos:
efetiva
De serviço - utilização
Taxas
potencial
Nossa Constituição não menciona quais são as taxas que cada esfera de
governo poderá instituir. Firma apenas o critério de que competirá a instituição da taxa
àquela esfera de governo que realizar a prestação do serviço. Ou seja, se o serviço é
prestado pela União, a ela caberá a instituição; se o serviço é prestado pelo Estado-
membro, este poderá instituí-lo, e assim sucessivamente.
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes
tributos:
(...)
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas”.
16
“Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou
pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao
custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a
despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para
cada imóvel beneficiado.
Art. 82. A lei relativa à contribuição de melhoria observará os seguintes requisitos
mínimos:
I - publicação prévia dos seguintes elementos:
a) memorial descritivo do projeto;
b) orçamento do custo da obra;
c) determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela contribuição;
d) delimitação da zona beneficiada;
e) determinação do fator de absorção do benefício da valorização para toda a zona ou
para cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas;
II - fixação de prazo não inferior a 30 (trinta) dias, para impugnação pelos interessados,
de qualquer dos elementos referidos no inciso anterior;
III - regulamentação do processo administrativo de instrução e julgamento da
impugnação a que se refere o inciso anterior, sem prejuízo da sua apreciação judicial.
§ 1º A contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelo rateio da parcela do
custo da obra a que se refere a alínea c, do inciso I, pelos imóveis situados na zona
beneficiada em função dos respectivos fatores individuais de valorização.
§ 2º Por ocasião do respectivo lançamento, cada contribuinte deverá ser notificado do
montante da contribuição, da forma e dos prazos de seu pagamento e dos elementos
que integram o respectivo cálculo.
Os contribuintes ou sujeitos passíveis de recolhimento da contribuição de
melhoria são os proprietários dos imóveis valorizados pela obra pública.
O tributo tem como base o custo total da obra,que será rateado entre os
beneficiários na proporção da propriedade, em relação ao total da área objeto da obra
pública.
17
Em face das exigências do art. 82, retrotranscrito (publicação prévia do
memorial descritivo do projeto, orçamento do custo da obra etc.), e pela possibilidade
de impugnação pelos interessados (inciso II) de qualquer dos elementos previamente
publicados (inciso I), a contribuição de melhoria, na prática, raramente é cobrada. Nas
poucas vezes em que se tem tentado cobrá-la, o foi de forma ilegal, isto é, sem atender
aos requisitos mínimos do art. 82.
19
• Para o trabalhador, sua contribuição tem como contrapartida a garantia da
Seguridade Social (assistência médico-hospitalar, aposentadoria etc.). Portanto,
há um serviço público ou efetivamente prestado ou colocado a sua
disposição. Trata-se de tributo vinculado e, portanto, de taxa.
Por seu impacto, é uma espécie de tributo diferente dos definidos no art. 5º do
CTN.
Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria.
Não se enquadra em nenhuma das espécies definidas pelo CTN. Logo, é uma
nova espécie de tributo, que em razão da referibilidade direta ou indireta ao
contribuinte, tem o impacto de imposto ou taxa.
Que pertencem ao gênero tributo não há dúvida.
Notamos, entretanto, na legislação federal, a tendência de referir-se a “tributos
e contribuições sociais” que vem sendo acompanhada pela jurisprudência.
Assim, por esse critério seriam tributos os elencados no CTN (arts. 145 a 162
da CF) e Contribuições Sociais as referentes ao financiamento da Seguridade Social
(art. 195 da CF).
A discussão sobre a natureza jurídica das espécies de tributos é importante,
mas, para o objetivo desta disciplina, não cabe alongá-la pela citação das divergências
na doutrina e na jurisprudência. Para os interessados recomendamos diversas obras
na bibliografia.
1.3.2 Contribuição de Intervenção no Domínio
Econômico (CIDE), art. 149, CF:
Intervenção no Domínio Econômico em razão do descompasso efetivo ou
potencial do mercado. Serve para instrumentalizar a intervenção e dar efetividade às
políticas econômicas. Promovidas através de atos fiscalizatórios sobre tais atividades,
regulando seu fluxo produtivo. Pode ser feito por pessoas jurídicas de direito privado.
A EC nº 42/2003, ampliou seu alcance acrescentando a possibilidade de criação deste
tributo para a importação de produtos e serviços estrangeiros. As duas CIDE’s mais
conhecidas são:
Art. 149...
§ 2º ...
II - incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
CIDE-REMESSAS PARA O EXTERIOR: (Lei nº 10.168/2001,
regulamentada pelo decreto nº 3.949/2001). CIDE-TECNOLOGIA - o empresário
brasileiro que se utiliza de programas de computador (software) importados tem de
recolher Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, conhecida como CIDE
Royalties ou CIDE Tecnologia, com alíquota de 10% incidente sobre os valores
remetidos ao exterior para remuneração desse uso.
CIDE-COMBUSTÍVEL: Lei nº 10.336/2001.
CIDE-AFRMM – Adicional ao frete para renovação da Marinha Mercante.
1.3.3 Contribuição Coorporativa no Interesse das
categorias econômicas e profissionais:
Pode ser profissional, econômica ou de serviço social; contribuição compulsória
20
destinada às entidades privadas (sindicatos, Sesi, Senai, Sebrae, etc.). Este tributo
visa garantir recursos aos órgãos de regulamentação e fiscalização das profissões
regulamentadas. Normalmente tais entidades são “autarquias” como CRA, OAB, CRM,
CRC, entre outros.
Obs. A contribuição sindical, também conhecida como “imposto sindical”, instituída
pela CLT a partir do art. 578, é um TRIBUTO nesta modalidade (contribuição
coorporativa). É obrigatório para todos os trabalhadores, independente de
sindicalização. Já a contribuição confederativa criada pelo inciso IV do art. 8º da CF,
não é TRIBUTO, pois não é obrigatória, devendo ser paga apenas dos filiados aos
sindicatos, pois ela foi criada para financiar a representação sindical confederativa.
4.3.4 Contribuição para o custeio da iluminação pública,
COSIP (art. 149-A):
Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das
respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art.
150, I e III.
Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura de
consumo de energia elétrica.
21
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de
serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;
A notória manobra levada a cabo pelo legislador constituinte derivado foi
percebida e rechaçada pela doutrina.
Caros alunos, dada a profundidade do tema sob enfoque, sugiro a leitura do
artigo do ilustre professor Hugo Machado de Brito, publicado em seu site na internete
(www.hugomachado.adv.br), no qual afirma, de maneira contundente, que “a própria
emenda constitucional pode ser considerada inconstitucional na medida em que
tende a abolir direitos fundamentais dos contribuintes, entre os quais o de serem
tributados dentro dos limites que o Sistema Nacional estabelece. E a lei municipal
que institui uma contribuição simplesmente mudando o nome da antiga taxa é de
inconstitucionalidade flagrante, na medida em que ignora as características da
contribuição como espécie de tributo.”
22
1.4.2 – Tributos indiretos
São os que incidem sobre a produção e a circulação de bens e serviços e são
repassados para o preço, pelo produtor, vendedor ou prestador de serviço.
23
Extrafiscalidade é o termo que designa a característica de um determinado
tributo quando sua finalidade é, principalmente, outra que não a arrecadatória. Como
dito, pode ser uma finalidade econômica (proteção da indústria nacional em face de
mercadorias estrangeiras, controle do consumo, etc.) ou social (adequado
aproveitamento das terras rurais). É o chamado tributo regulador. Exemplos: II, IE, IOF,
IPI (os quatro de finalidade econômica) e ITR (finalidade social).
Cabe aqui ainda tentar explicar a função extrafiscal dos cinco impostos citados
acima (vide CF, art. 153).
O IPI, embora hoje em dia possua uma arrecadação muito expressiva, devido à
industrialização experimentada pelo País nos últimos trinta anos, é inspirado em idéias
essencialmente extrafiscais, se prestando como uma ferramenta nas mãos da União,
no sentido de traçar os rumos da política industrial brasileira, estimulando ou
desestimulando certos setores produtivos, através da tributação.
Por derradeiro, temos a observar que a “rotulagem” feita por nós em relação aos
impostos, se fiscais ou extrafiscais, significa apenas uma constatação daquela
característica que é apenas predominante na estrutura dos mesmos. Ou seja, quando
dizemos que o Imposto de Importação é um tributo extrafiscal, queremos significar que
sua estrutura é primordialmente dirigida à finalidade reguladora da economia; no
entanto, é um imposto que produz alguma arrecadação. Por outro lado, quando
dizemos que o Imposto de Renda, o IPTU e o ICMS são fiscais, isso não quer significar
24
que eles não possam ter, em suas estruturas, regras que visem a promover algum
controle econômico ou social (redistribuição de renda, promoção de adequado
aproveitamento do imóvel urbano, etc.). Vale em resumo dizer, que a fiscalidade ou
extrafiscalidade nos tributos ocorrem, mas não de maneira absoluta.
A expressão real, advém de “res” (coisa, em latim). Imposto real é aquele cuja
legislação desconsidera, em essência, as características da pessoa do contribuinte,
levando em conta, primordialmente, as características objetivas do evento ou bem
envolvido no fenômeno tributário. A quase totalidade dos impostos brasileiros é real.
Ou seja, pouco importa, por exemplo, as características do proprietário do automóvel, o
IPVA leva em conta as características do veículo, e não da pessoa do contribuinte.
Normalmente, pouco importa a qualidade do comerciante, o ICMS é determinado com
base na mercadoria, considerada objetivamente.
Imposto pessoal, por outro lado, é aquele cuja legislação leva também em
consideração as peculiaridades individuais da pessoa do contribuinte. Ou seja, é uma
forma tributária em que há preocupação da legislação com o aspecto subjetivo da
situação atingida pelo tributo. O nosso grande exemplo é o IR, onde são levados em
consideração o montante da renda (aspecto objetivo) mas também as peculiaridades
do contribuinte, como no caso das pessoas físicas, o número de dependentes, as
despesas médicas realizadas, o pagamento de pensão judicial, etc. (aspectos
decididamente subjetivos).
25