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COLEçAO PSICOLOGIA E PEDAGOGLA - NOVA SERIE
Obras publicadas:
Bowiby, J. - Apego e Perda, Vol. I - Apego
Bowiby, J. - Apego e Perda, Vol. II - Separação
Bowiby, J. - Apego e Perda, Vol. III - Perda
Bowlby, J. - Cuidados Maternos e Saüde Mental
Bowiby, J. - Formação e Rompimento dos Lagos Afetivos
Mannoni, M. - A Crianca Retardada e a Mae
Dolto, F. - Sexualidade Feminina
BIos, P. - Adolescência
Freinet, C. - Pedagogia do Born Senso
Redi, F. e Wineman, D. - A Crianca Agressiva
Red], F. e Wineman, B. - 0 Tratamento da Crianca Agressiva
Bohoslavsky, R. - Orientacao Vocacional
Benjamin, A. - Entrevista de Ajuda
Gesell, A. .- A Crianca dos 0 aos 5 Anos
Piaget, J. - A Linguagem e o Pensamento da Crianca
Pichon-Rivière, E. - Teoria do Vinculo
Pichon-Rivière, E. - 0 Processo Grupal
Braier, E. - Psicoterapia Breve de Orientacäo Psicanalitica
Rogers, C. - Grupos de Encontro
Rogers, C. - Psicoterapia e Consulta Psicológica
Rogers, C. - Sobre o Poder Pessoal
Rogers, C. - Tornar.se Pessoa
Winnicott, B. W. - Privacão e Delinquencia
Betteiheim, B. - A Fortaleza Vazia
Bleger, J. - Temas de Psicologia
Spitz, R. A. - 0 Prirneiro Ano de Vida
Ocampo, M. L. S. de e col. - 0 Processo Psicodiagnostico e as Técnicas Projetivas
Goldstein, J., Freud, A. e Solnit, A. J. - No Interesse da Crianca?
Gesell, A. - A Crianca dos 5 aos 10 Anos
Gusdorf, C. - Professores Para Que?
Vygotsky, L. S. - Pensamento e Linguagem
Vygotsky, L. S. - A Formaçäo Social da Mente
Fonseca, V. da - Psicomotricidade
Winnicott, B. W. - Os Bebês e Suas Mães
Ortigues, E. e Ortigues, M.-C. - Como se Decide urna Psicoterapia de Crianca
Winnicott, D. W. - Tudo Corneca em Casa
Richter, H. E. - A FamIlia como Paciente
Brazelton, T. B. - Ouvindo uma Crianca
Winnicott, B. W. - 0 Gesto Espontâneo
Pichon-Rivière, E. - Psiquiatria, uma nova Problemática
Winnicott, D. W. - Holding e Interpretaçäo
Brazelton, T. B. - Cuidando da FamIlia em Crise
Cohen, R., e Gitabert, H. - Aprendizagern da Linguagem Escrita antes dos 6 Anos
Rogers, C. - Terapia Centrada no Cliente
Brazelton, T. B. - 0 que todo Bebe Sabe
Stallibrass, A. - A Crianca Autoconfiante
Brazelton, T. B. e Cramer, B. G. - As Primeiras Relaçöes
Próxima publicação:
Gillieron,'E. - lntrodução as Psicoterapias Breves
:1 H
A ENTRE VISTA
DE AJUDA
Alfred Benjamin
TRADUcAO.
URIAS CORREA ARANTES
REVI5AQ
ESTELA DOS SANTOS ABREU
Martins Fontes
São Paulo - /993 ESCOLA SUPERIOR
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AI9233c?
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0 BIBLTOTECA M
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Titulo original: THE HELPING INTERVIEW
Publicado originalmente pot Houghton Mifflin Company, Boston
© Copyright by Alfred Benjamin, 1969
© Copyright by Houghton Mifflin Company, 1974
© Copyright
Livrarja Martins Fontes Editora Ltda., SAO Paulo, 1974
para a presente edicâo
Introducao do editor 11
Prefácjo...................................................... 13
CAPITULO TIM
CoNbIcOEs ................................................17
FMores externos e atmosfera ................................. 18
Asata...................................................18
Interrupcoes ............................................. 20
Fatores internos e atmosfera ................................. 21
Trazer-se a si rnesmo; desejo de ajudar ......................21
Conhecer a si mesmo; confiar nas próprias idéias ............23
Ser honesto, ouvir e absorver ...............................24
Mecanismos de enfrentamento vs. mecanismos de defesa 26
CAPITULO Dols
ESTAGIOS.................................................. 27
Abrindo a primeira entrevista .................................28
Iniciada pelo entrevistado .................................28
Iniciada pelo entrevistador ................................. 31
£xplicaçao de nosso papel ..................................... 32
Emprego de formulários ...................................... 33
0 fator tempo ............................................... 34
Três estágios principais ........................................
37
Abertura ou colocacao do problema ........................37
Desenvolvimento ou exploraçao ............................38
Aprendendo corn as entrevistas passadas .................39
Muitas formas de silèncio .............................43
Exemplos pessoais podem ser embaraçosos ...............46
Encerramento ............................................ 49
a
Estilosde encerramento ................................52
CAPfTULO TRÉS
FILOSOFIA .................................................55
Minha abordagern pessoal .....................................55
Tipo de mudança desejado ....................................56
Comoestirnular a rnudanca ...................................57
Desempenho de urn papel ativo e vital .....................58
Urnailustraçào ......................................61
Dernonstraçao de respeito .................................61
Aceitaçao do entrevistado .................................62
Cornpreensão ............................................65
Trés formas de cornpreensão ..........................65
Ouvir: urn instrurnento essencial ......................68
Sugestão de objetivQs pars. 0 ouvir ......................70
Conseguir empatia ........................................70
Hurnanizar a esséncia .....................................76
CAPITTJLO QIJATRO
CAPfTULO Cncco
APERGUNTA ..............................................87
Questionando a pergunta ......................................87
Perguntas abertas vs. Perguntas fechadas ......................89
Perguntas diretas vs. Perguntas indiretas .......................92
Perguntas duplas .............................................98
Bornbardeio .................................................95
Situacão invertida ............................................97
Perguntas do entrevistado sobre outras pessoas ..............100
Perguntas do entrevistado sobre nós .......................102
Perguntas do entrevistado sobre ele mesmo 103
"Por que" ...................................................104
Reflexoes finals ..............................................111
Como utilizar as perguntas ...............................112
Quando utilizar as perguntas .............................112
CAPITULO SEIS
COMUNI.CAAO .............................................117
Defesas e valores ..............................................117
Autoridade como defesa ..................................121
Resultados de teste como defesa ...........................128
Julgamento como defesa ..................................123
Tratando corn obstáculos .......................................125
0 quanto vocé f ala .......................................125
Interupç5es .............................................126
Respostas ................................................127
Forças e facetas ..........................................128
Urn ütil teste de comunicação .............................128
Quando o entrevistado nao quer falar ...........................129
Preocupaçao consigo mesmo ...................................131
Fornecendo inforrnaçoes que o entrevistado necessita .............132
CAPITULO SETE
CONDIcOEs
A sala
Interrupcöes
As condiçoes externas que podem e devern ser evitadas
i.ncluern interferências e interrupcbes. Neste ponto, sou in-
transigente. A entrevista de ajuda e exigente para ambas as
partes. Do entrevistador exige, entre outras coisas, que se con-
centre o mais completamente possIvel no que está acontecen.do
au, criando desse rnodo a relacão e aumentando a confianca.
As interrupçOes externas so servem para prejudicar. Chama-
das telefonicas, batidas a porta, alguém que quer dar "uma
palavrinha" corn você, secretárias que precisarn de sua assi-
natura "irnediatarnente" nurn documento - tudo isso pode
destruir em segundos aquilo que vocé e o entrevistado tenta-
ram criar nurn tempo consideravel. A entrevista de ajuda não
C sagrada, mas C pessoal e rnerece e necessita o respeito que
desejarnos mostrar ao próprio entrevistado. Ponderado este
fato, encontraremos urn moda de obter a cooperacão necessá-
na de nossos colaboradores.
/
CONDIcOES 21
Nao acho que seja mais facil ser especifico a respeito das
condiçoes internas mais favoraveis a entrevista de ajuda. Con-
tudo, acredito que essas são mais importantes para o entre-
vistado do que todas as condicoes externas reunidas, pois as
internas existem em nós, o entrevistador.
ESTAGIOS
EMPREGO DE FORMULARIOS
0 FATOR TEMPO
Desenvolvimento ou exploracäo
Uma vez que o assunto foi situado e aceito, passa então
a ser examinado, explorado. Entramos assirn na segunda fase:
a exploracäo. 0 corpo principal da entrevista foi alcancado,
e a major parte de nosso tempo seth despendido no exarne
mátuo do assunto, tentando verificar todos os aspectos e U-
rando algumas conclusoes. Nesse momento, quando você po-
derá sentir maior necessidade de ajuda terel que desaponta-lo.
Nao posso lhe dizer o qué falar ou nao falar, o que fazer ou
nao fazer. Talvez você queira consultar alguns dos excelentes
volumes sobre estudos de caso, que apresentarn material sobre
muitas profissoes, e vários enfoques de entrevista. (Veja no
ESTAGIOS 39
Undo, pode ser ütil que vocé the diga o que é e que a exami-
nemos juntos".
Por fim, existern os silêncios brews, pausas curtas, duran-
te as quais o entrevistado pode simplesmente estar procurando
mais ideias e sentimentos para. expressar. Pode ocorrer tarn-
bern que esteja buscando uma maneira de expressá-los,. ou.
talvez, deseje primeiro esciarecer para si mesmo o que pebs a
e sente, antes de continuar. Esse e o ponto em que corn muita
freqüência atrapalhamos seu caminho. Dizernos algurna coisa
importante ou nao - e destrulmos sua cadeia de pensarnentos.
Por essa razão e methor nao apressar, näo interpretar urn
breve silêncio corno uma ordem celeste para agir, mas esperar
urn pouco e preparar-se para o que vier. Geralmente alguma
coisa virá em seguida a esses rapidos "silêncios pensativos".
Então, em vez de atrapaihar, teremos ajudado o entrevistado
a expressar uma idéia corn a qual estava lutando. Não devernos
interrornpê-lo, nern levá-lo a sentir que aqui ele nao pode se
debater corn suas idéias e sentimentOS sern ser logo cortado.
Inevitavelmente, as vezes entrevistador e entrevistado
falaräo ao mesmo tempo, e ambos então recuarão corn pedidos
de desculpa e encorajamentos para que o outro continue. Isso
pode ser embaracoso, e urn pouco de sense de humor pode
ser de utilidade. E dare que parto do pressuposto de que
estarnos interessados em ouvir o entrevistado, e não acredito
que precisarnos falar exatamente naquele mornento. Podemos
intercalar uma rapida observacão: "Desculpe a interrupcão;
prossiga e eu falarei depois". Muitas vezes bastard' apenas
urn sorriso, acornpanhado de urn aceno de encorajamento. Ou:
"Estava tentando imaginar o que você diria em seguida, e
agora perdi a seqi.iência. 0 que você estava dizendo?".
Exemplos pessoais podem ser cinbaracosos. Durante a
entrevista, aflora de vez em quando a tentação de usar urn
exemplo ou experiência pessoal. Em cada circunstância, cabe
a você decidir se cede ou nao a tentacão. Mem todos concor-
darn comigo, rnas acredito que, per diversas razôes, é melhor
não ceder. Minha experiência e exemplo pessoal tern sigriifi-
cado para mirn. Näo estou convencido de que o terão para o
EST4GIOS 47
mundo tern que passar por isso, mais cedo ou mais tarde.
Dépois da tempestade t'ern a bonanca, e amanha cedo vocé
estará se sentindo bern meihor. Urna boa noite de sono sempre
ajuda e, entAo, por que não experimenta?".
Agora, mais dais espectros que pairarn sobre a pano de
fundo de urna entrevista tIpica, mas devem ser deixados de
]ado. 0 prirneiro 6: "Se eu fosse você, faria o seguinte. - ". A
reação do entrevistado: "Simplesmente nao acredito. Se voce
fosse eu, se sentiria tao confuso e inseguro como eu, e seriarnos
dais sern saber o que fazer. Se voce fosse eu, nao diria isso.
Se estivesse em meu lugar, nao saberia a que fazer tanto
quanto eu. Mas se eu fosse você, nunca diria a ninguém 'Se eu
fosse vocé, faria o seguinte. - .' ". E muito meihor dizer direta-
mente: "Acho que sua mellior alternativa no momenta é. .
Ou: "Acho que agora a rne!hor coisa que voce pode fazer
•". Pelo menos isso soa sincero.
0 segundo espectro aguarda apenas urn coup de grace.
Seu nome é: "Sei exatarnente corno vocé se sente". 0 entre-
vistado pensa: "Nao acredito. Como voce pode 'saber' corno
me 'sinto'? Mesmo que saiba, e dal? Nao sente coma eu sirito,
ou jamais pensaria em dizer que sabe". Esse espectro é frio e
distante. Se tiver uma mente, corn certeza nao tern coração
e, portanto, fora corn ele!
Se sincerarnente sentimos corn o entrevistado o que ele
está sentindo, se podernos fazer corn que saiba par meio de
nosso comportamento que estamos sentindo corn ele, tao pro-
ximos quanto podemos, e se somos capazes de demonstrar
isso sem obstruir seu carninho, nao precisarernos dizer nada,
porque ele logo sabera. Compreenderá que jamais saberemos
exatarnente coma ele se sente, mas, enquanto outro ser hurna-
no, estamos fazendo a possivel e demonstrando que estamos
tentando. "Eu sei coma voce se sente" significa, na realidade,
"Eu não sei coma voce se sente e não you fazer nada para
descobrir".
Adiante discutiremos corn mais detaihe as respostas e mdi-
caçöes. No rnornento faremos apenas alguns comentários antes
de analisarmos a encerramento. E passivel que tenha deixado
ESTAGIOS 49
Encerramento
0 estágio trés - encerramento - sob muitos aspectos se
assemeiha ao estágio urn - o contato inicial - embora se
efetue de maneira inversa. Agora precisamos moldar urn final
para o contato e a separação. Nern sernpre o encerramento
e facil. 0 entrevistador iniciante, em particular, talvez não
compreenda como deixar o entrevistado perceber que o tempo
está se esgotando. Talvez receie fazer o entrevistado sentir-se
mandado embora. 0 prOprio entrevistador talvez nao esteja
preparado pan encerrar a sessão. Ambos podem encontrar
dificuldade em se separar.
Muitas coisas devern ser ditas sobre a fase de encerra-
mento da entrevista, mas acredito que haja dois fatores
basicos:
1. Os dois participantes da entrevista devem ter cons-
ciência do fato de que o encerramento está ocorrendo, e
aceitar esse fato, em particular o entrevistador.
2. Durante a fase de encerramento, nenhurn material
novo devera ser ifitroduzido ou discutido de alguma forma;
caso exista material novo, deve-se marcar outra entrevista
para discuti-lo.
50 A ENTRE VISTA DL' AJUDA
men 6nibus - quern sabe quando virá o próximo. Entâo, por que
nAo marcamos urn novo encontro pan quinta-feira a rnesma hora,
e assim discutiremos o assunto da forma como ambos querernos.
Quinta está bern? Então, ate Ia.
CAPITULO TRÉS
FILOSOFIA
DemonstracäO de respeito
0 respeito pebo entrevistado e por seu universo implica
urn interesse sincero por ambos. DemonstramOs esse interesse
62 A ENTRE VISTA DE AJUDA
Aceztaçao do entrevistado
gando, pedindo que pense e sinta como nos ou, pior ainda,
que sinta e pense como acreditamos que deveria estär pen
sando e sentindo.
Quando aceito urna idéia ou seritirnento, estou dizendo
ao entrevistado rnais ou menos o seguinte: "Estou ouvindo
você", ou "Entao e assim que voce ye a coisa". Procuro mos-
trar-ihe o que ele me rnostrou, para que, assim, ele possa exa-
mina-lo, tornar consciência, refletir - fazer o que bern enten-
der - mas, basicarnente, para que 'o feedback Ihe permita
verificar se está expressando seu verdadeiro eu, ou urn eu
que deseja ernendar, rejeitar ou rnodificar. Em outras pala-
vras, tento fornecer ao entrevistado urn feedback que não
seja distorcido pela rninha própria pessoa e personalidade.
Reenvio ao ernissor a comunicação que me transmitiu. Quanto
menos ruIdo houver na devoluçao, mais eu a aceitei. Nada
ha de mirn rnesmo nesse processo, exceto a maneira como
recebi a mensagern e a transmiti de volta. Sou urn ouvinte
fiel, um observador e inforrnante fidedigno. 0 que devolvo
ao entrevistado são "fatos" que ele enunciou. Eles podern ser
altarnerite emocionais ou intelectuais; podem ser claros ou
nao para mirn; podem me parecer "bong" ou "maus" - ou
rnesmo incompreensIveis. Relato o que recebi. Trato o que
ele me disse corn respeito, e trato-o como urn igual, valendo
tanto quanto eu.
Quando Bill exclarna: "Meu professor de rnaternática é urn
perfeito bobo", aceito isso, mostrando4he a opinião desfavo-
ravel que tern de seu professor, para que faca o que quiser
corn essa informacao. Bill pode repeti-la, modificá-la, am-
pliá-la, etc. Talvez seja verdade que posso aceitar rnais pronta-
mente o que Bill me disse se rninha própria opinião coincide
corn a dele, e menos se for contrária; mas isso apenas de-
rnonstra como e realrnente cornplicado e difIcil o ato de aceitar.
Obviarnente p0550 ir alem da simples aceitação. Posso con-
cordar com Bill, ou discordar dele. Aceitando como ele se
sente, posso considerar necessário dizer-lhe como eu me sinto.
Posso recornpensá-lo ou puni-lo, mas se quiser aceitar seus
sentirnentos sobre o professor de matemática, tudo que posso
64 A ENTREVLSTA DPI AJUDA
Corn preensão
A certeza de que foi compreendido é de fato urn aspecto
importante da experiéncia significativa que a entrevistado le-
vará consigo da entrevista de aj uda, se a relacionamento entre
ele e a entrevistador for positivo. E essencial para a processo
de entrevista que a entrevistado seja compreendido, mas exis-
tern diversas maneiras de cornpreensão, e aigurnas ajudam
rnais que outras.
Tres forrnas de corn preensão. Através dos séculos, gran-
des escritores demonstrararn - e rnais recenternente muitos
psicOlogos salientararn - que ha- trés modos aiternativos de
urna pessoa compreender outra. Urn deles é saber "sabre"
cia. Leio sabre ela, ouço outros falarern dela, participo da
discussao sobre cia em reuniOes de equipe - cu sei a respeito
dela. Compreendo-a, por assirn dizer, através dos olhos dos
outros, e nao através dos meus ou dos seus. Trata-se de urna
compreensão rernota, distante da prOpria pessoa.
Tornernos dais exempios simples: sei que Louis sO I ala
frances. E então, quando a encontro, dirijo-me a ele em seu
idioma, e conversarnos. Assim, soube antecipadarnente aigo
sobre ele, agi de acordo e funcionou, Mas nunca é tao simples
assirn. A partir do reiatOrio que rn'e foi entregue, sei que Carol
e urna estudante fraca, e que taivez tenha problemas. Quando
a entrevisto, gradualmente percebo que eia ouve muito mai,
tern vergonha dissa, e tenta desesperadamente ocuitar a fato.
Isso não foi dificil de descobrir, mas sirnpiesrnente irnpiicou
ern desistir da tentativa de saber a respeito de Carol e em co-
meçar a compreendé-la.
66 A ENTRE VISTA DE AJUDA
Conseguir empatia.
Agora uma historinha. Em um dos kibutz de Israel, havia
urn burro. Era urn burro especial, na verdade, corn suas longas
oreihas sedosas e grandes olhos brilhantes; e todas as crianças
O amavam profundamente. Assim, quando, urn dia, ele desa-
FILOSOFL4 71
burro gostaria de ter ido, corno se ele fosse o burro por urn
rnornento. Ele sabia que não era; porérn foi ate lá e o trouxe
de volta. A ernpatia na entrevista de ajuda é similar a ter-.
ceira maneira de cornpreender - compreender corn - já
discutida acirna. 0 entrevistador ernpático tenta, ate onde
for possIvel, sentir a estrutura interna de referenda do entre-
vistado, e tenta ver o mundo através dos olhos deste, corno
se fosse o seu próprio. As palavras "corno se" são cruciais,
pois apesar do entrevistador ser empático, não deve perder de
vista o fato de que permanece ele mesmo. Sabendo o tempo
todo que e diferente do entrevistado, ele tentar sentir a espe-
cificidade do mundo interior de pensarnentos e sentirnentos
do outro, para chegar rnais perto dele, para cornpreender corn
ele ate onde for possIvel.
0 entrevistador ernpático explora corn o entrevistado o
mundo interno de pensarnentos e sentimentos deste, visando
aproximá-lo rnais de seu próprio mundo, de seu próprio eu.
0 entrevistador ernpático preocupa-se tanto corn o eu do entre-
vistado, e quer tanto que este tambern aprenda a preocupar-se,
que está pronto a abandonar ternporariarnente seu próprio
espaço vital, e tentar pensar e agir e sentir corno se 0 espaço
vital do outro fosse o seu próprio. Estando la, pode compreen-
der corn o entrevistado, rnas sornente quando retorna a si
mesrno, ao seu próprio espaço vital, e que ele se torna capaz
de ajudar. Agora ele pode cornpartilhar pensarnentos e senti-
mentos do entrevistado corno se fossern seus, porque os corn-
preende corn ele. 0 entrevistado terá sentido isso. Ele terá
sentido que o entrevistador realrnente se importa corn ele por-
que fez o possivel para cornpreende-lo; agora o entrevistado
precisará das reaçOes do entrevistador ao que encontrou, para
que essa cornpreensão de si rnesrno se tome parte da interação.
Retornernos por urn mornento ao Sr. Crane, aquele que
necessita de urna operação, rnas se recusa a aceita-la. Depois de
várias conversas, o entrevistador cornpreende o que ha na raiz
de sua recusa. Durante a conversa ele tentou pensar e sentir
corno se fosse o Sr. Crane. Sentiu a angüstia do outro ao per-
der urn irrnão rnuito querido, rneses atrás, após urna inter-
FILOSOFIA 73
Humanizar a esséncia
Acredito, corn os existencialistas (Beck, 1966 ver especial-
mente o capitulo de Dreyfus; Buber, 1952; Bugental, 1965;
Jourard, 1964), que o entrevistador deve cornportar-se corno
ser humano na entrevista, expondo sua hurnanidade tanto
quanto possivel. Lie nao deve se comportar nern corno urn
boneco, nern corno urn técnico. Deve deixar de lado qualquer
mascara, fachada ou outro "equipamento profissional", que
crie barreiras entre ele e o entrevistado. Deve dar-se na en-
trevista de ajuda, de uma maneira tao aberta que o entrevis-
tado possa faciirnénte encontra-lo e, através dele, chegar mais
perto de si mesmo e dos outros. 0 entrevistador nao deve
ter medo de revelar-se. Ele quer que o entrevistado se revele,
e que aprenda algurna coisa sobre ele, sendo ajudado dessa
maneira. Lie quer que o entrevistado aprenda corn seu corn-
portarnento que ele, o entrevistado, nao deve se revelar, que
isso e perigoso, indesejávei e inadequado? Se o entrevistador
e frio e distante, pode esperar que o entrevistado se aproxime
e seja caloroso? Quando o entrevistador é cauteioso e cuida-
doso, pode o entrevistado ser aberto? Esse podera sentir-se
iivre para expressar de maneira aberta seüs pensamentos e
sentimentos a aiguém entrincheirado atrás da barricada do
profissionalismo? Se o entrevistador tenta compreender corn
ele seus pensarnentos e sentirnentos, o entrevistado nao terá
F'ILOSOFIA 77
0 REGISTRO DA ENTREVISTA
AN0'rAcOEs
Abordagens diferentes
Sem düvida aiguma, existem tantas maneiras de registrar
uma entrevista quanto entrevistadores. Acredito que, se o
entrevistado consegue reiacionar-se corn o entrevistador, seth
capaz de se relacionar com seu estiio de anotação. 0 reia-
cionamento podera sofrer prejuIzo se a entrevista de ajuda
tiver interferencia do entrevistador ou de seu rnodo de tornar
notas. Se o entrevistador se sente bern consigo rnesrno e com
seu rnétodo, as possibiiidades são de que o entrevistado aceite
rapidarnente a arnbos.
80 A ENTRE VISTA DE AJUDA
Honestidàde essencial
N
0 REGISTI?O DA ENTRE VISTA
83
GRAVAcA0
U
a
CAPA'TULO CINCO
A PERGUNTA
QIJESTIONANDO A PERGUNTA
PERGUNTAS DUPLAS
Etr. Vote acordou na hora corn o despertador ou foi sua mae pie o
charnou?
Eto. Ah. . - Eu ainda consegui pegar 0 trein.
Etr. Você ficou de novo vendo televisão ontem a noite, e deixou sua
licao de casa para depois, ou sua mae o forçou a sentar-se e a
estudar?
Eto. Mamae saiu ontem a noite para ir ao cinema.
Etr. Minhas perguntas o ajudarn e você está aprendendo mais sobre si
mesrno?
Eta. Nao posso dizer realmente.
Etr. Você está se adaptando meihor agora as muletas; e os oculos? Riles
cairam hem?
Eto. Ah, claro.
A PERGUNTA 95
BOMEARDETO
Eto. .Não sei. Acho que papal gostaria que eu o ajudasse !á na fazenda,
se en pudesse... Isto é, se os medicos concordassem...
Etr. Que tipo de fazenda seu pal possui?
Eto. Ptaticaniente tudo, menos gado.
Etr. Ha mats alguma coisa alérn de Comércio e Direito pela qual voci
estaria interessado?
Eto. Bern, en e.ostumava fotografar urn pouco.
Etr. Isso parece interessante. 0 que é que vocé costumava fazer?
sITuAcAo INVERTIDA
aqui continuasse, mas sei que nao vai"; ou ainda "Espero que
voce não me retenha por muito tempo; estou perdendo minha
aula de gin4stica". Se ha sentimentos como esses ocultos sob
as perguntas, apenas prestar a informaçAo indicaria que nao
estamos suficientemente atentos ao que está se passando. Uma
resposta sensivel aos sentimentos ocultos na pergunta poderia
ser a seguinte: "Gostaria de saber como voce está se sentindo
a respeito de nossa conversa de hoje"; ou '.0 tempo parece
voar hoje, mas vamos ter que parar logo mais"; ou "Vocé
deve estar imaginando por quanto tempo you continuar pren-
dendo voce?" 'tue aula está perdendo nesse momento?".
Dessa forma temos obrigacao de fornecer a informacao
solicitada quando for viavel e adequado faze-b, mas devemos
sempre estar atentos a possibilidade de haver algo alias e
além da pergunta que mereça ser captado. Nao estou falando
de interrogatório, como nesse exemplo seguinte (o que acho
do interrogatório não e mais segredo agora): "São nove e trinta
e chico. Já the disse que horas são; agora, porque não me di7
o que realmente queria perguntar. Vamos, nao tenha medo,
nao you morde-lo".
E sobretudo corn essas solicitaçoes incisivas de infor-
rnação que precisamos manter nosso "terceiro ouvido" funclo-
nando, pois, mesmo fazendo ostensivamente uma pergunta, o
entrevistado pode estar comunicando uma outra coisa. Lem-
bro-me de uma vez em pie perguntaram meu nome durante
a entrevista. Disse meu nome, pensando que o entrevistado
deveria saber qual era. Acrescentei isso, e me interroguei em
voz alta se ele teria algurna suscetibilidade em relação ao meu
nome. Ele tinha - e muito forte - e a entrevista começou.
Nao tenho a intenção de criar urn bicho de sete cabeças. Pode
nao haver nada por detrás da pergunta do entrevistado, mas
vale a pena examiná-la corn sensibilidade pois talvez haja
Quando o entrevistado nos mterroga mais especifica-
mente em alguma das trés areas mencionadas, crew que a
abordagem deve ser a mesma responder todas as vezes de
modo a ajudar o entrevistado, e ser sensivel e honesto quando
respondemos a pergunta, e tambem quando não a respon-
100 A ENTRE VISTA DE AJUDA
Etr. Rem, nfso posso dizer, que gosto muito. Acho quo estou tentando
fazer a mesma coisa que você, isto é, continuar levando as coisas
da meihor maneira possivel. Estou vivendo corn isso ha mais tempo,
o portanto talvez seja mais ffscil. Sabe, você nunca chegou a falar
realrnente de seus sentimentos em relacao a cegueira, nern mesrno
em relaçao a outras coisas, desde quo começamos nossas conversas.
Eu estava pensaindo que talvez o gelo esteja começando a derreter-se
urn pouco.
A PERGUNTA
103
dele, que nao tenho certeza de ter me saido bern no que tentei
fazer - oferecer uma abordagem que considero ütil. Creio
que voces descobrirão suas próprias saIdas, o que quer que
decidam fazer corn o que expus acima.
"POR QUE?"
algurna coisa a ver corn aquela mao. Ele pensou que havia
superado isso. Sabia que o sr. Gates pensava que ele havia
superado aquilo. Ele tomara o metro ate o local. Havia dito
muitas vezes a si mesmo que dessa vez iria ate o fim. F então
sentiu aquela mao em seu bolso - ou meihor, a falta dela -
e antes de saber onde se encontrava, viu-se de Volta para
casa mais uma vez. Permaneceu calado, confuso, envergo-
nhado. So mais tarde foi que cornpreendeu realmente tudo
isso; so muito mais tarde pode perceber e Verbalizar como
havia se sentido. Agora odiava a si rnesmo, e ao sr. Gates,
que se tornava cada vez mais impaciente. Joe finalmente saiu
corn uma resposta: "Não consegui encontrar o lugar". 0 sr.
Gates replicou: "Vocé nao conseguiu encontrar o lugar...
depois de todas as explicaçoes! Bern, hoje apareceu mais uma
oportunidade. E bern prOximo de sua casa. Tenho certeza de
que voce podera fazer o trabaiho. Vocé quer tentar?". 0 sr.
Gates havia se acalmado. He tinha recebido a resposta.
"Por que nao tornou as pliulas que lhe receitei? Mao ihe
disse como era irnportante para vocé torna-las?". A sra. Bell se
esforcava muito para não chorar. Sabia que o rnédico estava
bern intencionado. Tarnbem sabia como ele era ocupado, e
quanto tempo levaria se tentasse contar-lhe o porquê. Tam-
bern sabia exatamente porque. Mao sabia se estava certa ou
não, mas não se preocupava corn isso. Sabia que não se
preocupava em ficar boa noVarnente. Na realidade, obtinha
mais atençOes corno doente. Sabia rnuita coisa - sobre seus
filhos e os filhos deles, e do rnodo como a tinham leVado para
aquela casa. F. sobre a casa... ela tarnbern sabia bastante
sobre isso. Mas o medico queria saber por que ela nao estava
tornando aquelas pIlula.s, e então ela pensou rapido: "Vou
torna-las de agora em diante, doutor, vai Ver". 0 medico ficou
satisfeito. Sorriu, estendeu-lhe a mao e a leVou ate a porta do
consultOrio. Ele realrnente não queria saber porque. Aperias
queria que ela tomasse o remédio. Gostava da Veiha senhora,
rnas estava muito ocupado para perder seu tempo.
"Por que vocé se saiu tao mal no vestibular, urn rapaz
brilhante como vocé?" Jack respondeu: "Realmente näo sei,
110 A ENTRE VISTA DE AJUDA
REFLEXOES FINAlS
COMUNIcAçA0
DEFESAS E VALORES
Interrupçöes
Respostas
/
128 A ENTRE VISTA Dlii AJUDA
Forças e facetas
Qualquer tópico discutido em, uma entrevista de ajuda
apresenta geralmente várias facetas. Ajudo o entrevistado a
ver, discutir e aceitar o major námero possIvel dessas facetas.
Quando uma ação está sendo considerada, é cornurn que certas
forcas empurrem o entrevistado num sentido, e outras em
sentido contrário. Essas forcas antagônicas podem dar-se ao
mesmo tenipo Estou ajudando o entrevistado a explorar todas
as direcOes, ou meu comportamento o impede de faze-b?
Coloco obstaculos ao curso de sua exploracão do próprio espa-
ço vital e campo perceptivo? Não conseguimos responder
sempre a essas perguntas dificeis; mas, pebo fato de coloca-las,
podemos remover as barreiras a comunicacão.
voce se sinta hem, mas nos prirneiros dias não seth muibo
confortável.
Eto. La na fábrica eles sabern que estive no hospital X?
Etr. Que eu saiba nao. Esthu tentando imaginar como vocé se sente a
eSse respeito.
Eth. Se eu precisar durante as férias, posso entrar em contato corn vocé?
Etr. NEW, não é possivel, mas a Srta. C. estará a disposiçAo, durante
minha auséncia. Vocé quer que eu va e descanse, mas tainbém quer
me ter o inais perto possivel.
RESPOSTAS E INDICAOES
1•
140 A ENTRE VISTA DE AJUDA
Silencio
JA discuti o silencio em outro contexto. Se volto a tratar
disso é porque pode ser urna resposta, embora tal fato seja
frequentemente considerado sem importância. A respost4 é
nao-verbal, naturalmente; mas pode expressar muito. Urn ges-
to da pafte do entrevistador pode comunicar: "Sim, estou ao
seu lado, prossiga", ou "Estou esperando porque percebo que
voce não terminou" ou, ainda, "Vocé já falou isso antes; estou
começando a me aborrecer". Nossos gestos tém muito signi-
ficado; da mesma forma que nossos olbares e a maneira como
nos mexetnos em nossa cadeira. Da mesma forma que as
palavras, a silencio tambëm tern significado. Através dele,
entrevistador e entrevistado podem estar se aproxirnando
mais urn do: outro, partilhando. algurna coisa;. ou o silencio
pode mostrar-ihes como realmente e profundo o abismo que
os separa. 0 silencio pode dar mais enfase a urn desentendi-
mento. Pode ser neutro, ou conter muita empatia. Pode ser
O resultado de confusao. Pode comunicar: "Realmente, ter-
minamos, mas ainda nao admitimos isso". Coma resposta
deliberada, o silêncio implica que o entrevistador decidiu não
dizer nada, considerando isso como a coisa mais ütil que pode
oferecer no momento. Decidiu não interferir verbalmente,
mas está dentro da entrevista, e sua presença é sentida pelo
entrevistado. E como se o entrevistador estivesse dizendo:
"Você sabe que estou escutando. Creio que a meihor maneira
pela qual posso ser ütil a voce agora é me mantendo em si-
lêncio. Nao estou corn medo do silencio porque sinto que é
isso que vocé deseja". Muitas vezes seus gestos cornunicarão
isto bastante clararnente ao entrevistado.
A menos que o entrevistador pise terreno firme, deve cvi-
tar silencios extensos; um minuto de silencio significativo 6
RESPOSTAS E INDICAçOES 141
"Ahn-han"
e
Essa urna resposta verbal. Embora nao seja urna pala-
vra, é claramente urn sorn ernitido. E geralmente considerada
como indicador de abertura da parte do entrevistador, expres-
sando: "Prossiga, estou corn vocé; estou escutando e acorn-
panhando voce"'. Entretanto, seu uso não é assirn tao restrito.
Através de urn "ahn-han" o entrevistador pode, em vez disso,
indicar aprovação do que o entrevistado está dizendo, ou de
como dc está se saindo na situação. Pode dizer ao entrevis-
tado que o entrevistador gosta do que ele está fazendo e, por-
tanto, encorajá-lo a continuar naquela direcao. 0 "ahn-han"
pode tarnbérn, algurnas vezes, sugerir crItica, como Sc estivesse
dizendo: "Entao, é assirn que vocé se sente!" ou "Entao, é isso
que voce está pensando!". Em outras situaçöes, pode implicar
julgarnento pendente, como se o entrevistador estivesse di-
zendo: "Bern, varnos ver o que você vai acrescentar; quero
esperar urn pouco".
As possibilidades são as mais variadas. "C'est le ton qui
fall la rnusique". Isto e valido para todas as respostas e mdi-
caçOes, incluindo o "ahn-han". Talvez queirarnos ter mais
consciência de como usarnos o "ahfi-han", isto é, se 0 usarnos,
e estudar como o entrevistado o interpreta. Nos trechos se-
guintes, ele assume diversos significados:
Eto. Não sel o que seria meihor pan mim; fico judo de lá para cá e não
consigo me decidir.
Etr. Alm-han.
142 A ENTREVISTA DE AJUDA
Eto. Não gosto do modo como esta agenda funciona. Vocês prornetem
urn monte de coisas, mas são apenas palavras, corn nada por trás
delas.
Etr. Ahn-han.
Eto. Se minha mae pelo menos parasse de ficar atrás de nun, tudo seria
rnuito born. Ela nào fica ern ciMa do rneu irmão, apenas em cima
de mirn.
Etr. Ahn-han.
No prirneiro exemplo, o entrevistador pretendeu ser aber-
to, para deixar o entrevistado explorar sua própria indecisao.
No segundo, sentiu a desaprovaçao da crItica expressada. No
ultimo, quis esperar e ver o que se seguiria. Agora, observe-
OS os seguintes exemplos. Quando a entrevistadora analisou
seus sentirnentos, concluiu que, no prirneiro exemplo, sentiu
aprovacão e, no segundo, desaprovacão. Não fica evidente
corno os entrcvistados a interpretararn.
Eto. No més passado segui sua sugestão, e funcionou. Sal-me muité
meihor corn o orçamento, e bebi rnuito rnenos.
Etr. Ahn-han.
Eto. Experirnentet o apareiho contra surdez - tentei realmente - mas
não me acosturno corn ele. For isso trouxe-o de volta; talvez sirva
pan outra pessoa.
Etr. Ahn-han.
Outras respostas poderiam ter sido usadas, mas isso é
fugir da questão: outras respostds sempre podem ser usadas.
0 "ahn-han" parece cauteloso da parte do entrevistador, mas
não implica necessariarnente que ele se recuse a comprorne-
ter-se. Isso pode acontecer mais tarde. Enquanto isso, deseja
fazer saber ao entrevistado, ernitindo esse sorn, que está pre-
parado para continuar escutando. Embora seja aparenternente
urn sorn de não-julgarnento, o "ahn-han" possui muitas nuan-
ces das quais o entrevistador pode estar consciente, e que o
entrevistado percebe correta ou incorretarnente. Pode ser di-
ficil acreditar que urn pequeno "ahn-han" tenha uma faixa
tao arnpla de significados e interpretacöes; entretanto, uma
leitura atenta e cuidadosa de entrevistas mostrará que e isto 0
que realmente acontece.
RESPOSTAS E INDICAçOES
143
Repetiçao
Agora, finalmente, o entrevistador fala. Utiliza paJavras
reais, porém as palavras do entrevistado. A repetiçao pode set
feita de várias formas, mas o fundamento é o mesmo: servir
de eco, permitir ao entrevistado ouvir o que ele disse, partindo
do pressuposto de que isto pode ajuda-lo, encorajá-lo a con-
tinuar falando, exarninando, observando corn mais profundi-
dade. Ouando o entrevistador ernprega a repetição, seu próprio
campo perceptivo não entra de forma alguma no quadro, ou
penetra muito superficialrnente. A repetição comunica ao
entrevistado: "Estou escutando vocé muito atentamente, tao
atentamente, de fato, que posso repetir o que vocé disse. Estou
fazendo isto agora porque pode ajudar você a se ouvir através
de mim. Estou repetindo o que voce disse, para que possa ab-
sorvé-lo e considerar o seu impacto, se tiver algurn, em você.
Por enquanto, estou fora disso."
A repetição pode ser efetuada de quatro formas basicas:
1. Repetiçao exata do que foi dito, sem nem rnesrno tro-
car o pronome empregado pelo entrevistado:
Eto. Senti-me corn frio e desamparado.
Etr. Senti-me corn frio e desamparado.
2. Repetiçao exata, mudando apenas o pronome:
Eto. Senti-me corn frio e desamparado.
Etr. Você se sentiu corn frio e desamparado.
Elucidação
A elucidacao é comurnente entendida como esclarecimen-
tos do entrevistador áo entrevistado sobre o que este ultimo
disse ou tentou dizer. Ha um outro lado a rnoeda, mas oh-
RESPOSTAS E INDICAcOES 145
Ref letir
InterpretacãO
Agora, finalmente, o esquema de referência do entrevis-
tador e colocado em jogo. Em todas as respostas ate agora
ele nao se expressou. Se falou alguma coisa, restringiu-Se a
verbalizar o que o entrevistado falou ou sentiu. Esta lirnita-
ção do eu e constrangedora para muitos entrevistadores. Lies
desejam impressionar o entrevistado corn seu estilo pessoal.
Manter-se calado, dizer "ahn-han", repetir o que foi dito, ou
refletir o tom de sentimento do entrevistado nä.o é o bastante
para eles; e para alguns, e absolutamente incompatIVel. Pes-
soalmente, gosto dessas respostas ciassicas, não-diretivas, e es-
tou convencido de que os entrevi.stados as consideram üteis
quando o entrevistador sente-se a vontade corn elas, e não as
emprega merarnente como técnica Na minha opinião, o major
mérito dessas respostas e que elas são - são obrigadas, a ser
- centradas no entrevistado. Utilizando-as, respondernos a
ele. E o seu esquema de referenda interno que é extrernamen-
I te importante.
Neste ponto da nossa discussão, a enfase se desloca. 0
esquema de referenda do entrevistador entra em jogo e, a
medida que a discussão avanca, assume gradualmente o pri-
meiro piano Carninhamos devagar, mas corn seguranca, de
respostas para indicacOes. Estamos carninhando para o pros-
cênio. 0 perigo e obvio - assumirmos o controle as custas
do entrevistado; representarmos no iugar deie. Podemos ter-
minar gostando tanto deste papel que nao percebernos que o
deixarnos de lado; que o colocamos na platéia, pot assim di-
zer; que fizernos do sujeito-entrevistado urn objetoespectad0r.
/
/
150 A ENTRE VISTA DE AJUDA
Explicacao
Uma explicacao é uma afirmaçao descritiva. Pode incluir
aspectos avaliativos de linguagem - quer sejam entendidos
como tal ou nao - que podern ser percebidos pelo entrevis-
tado. 0 entrevistador pode utilizar a explicaçao como uma
ind!caçao - na estruturaçao da entrevista, por exemplo - ou
como uma resposta a afirmaçoes e perguntas do entrevistado.
Como tern caráter descritivo, a explicaçao deve ser em torn
neutro. Ela diz que é assim que as coisas são. Irnplica que
devernos aceitar a rnaneira como são as coisas e comportar-
rno-nos de acordo. Ela tende a ser impessoal. Iogica, positiva.
Nern todos os entrevjstadores ernpregam a explicação corn
a mesrna intensidade. Alguns hesitarn em usa-la, ate que o
entrevistado esteja preparado para assimilá-la, qundo e rnui-
tas vezes supérflua. Outros entrevistadores acharn que a ex-
plicaçao neutra pode ajudar o entrevistado a aproximar-se da
realidade ou perrnanecer dentro de seus lirnites. Tendo dado
uma explicaçao, alguns adotarn como prática verificar se o
152 A ENTRE VISTA DE A4JUDA
Etr. Tudo que acontece dentro desta sala fica sornente aqul, ate onde
me diz respeito. Aqui você pode sentir-se livre Para dizer o que
quiser, da forma corno quiser. Tentarei ajuda-lo a compreender e
a decidir em que direçao vocé quer ir.
Etr. Possuimos dois programas em nosso centro de reabilitaçao. Urn é
Para os que dormem aqui; o outro destina-se aos que preferem ir
Para casa todas as tardes. 0 prirneiro prograrna é mais longo,
porque temos mais tempo disponIvel. 0 outro é menos intensivo, mas
dá possibilidade as pessoas de estarem corn sun farnilias a noite...
Etr. Não sou o direthr. Son o orientador da escola, mas o sr. G. me
pediu Para vir ter corn voce'. Solicitaçoes como a sua são encami-
nhadas Para mim porque tenho mais tempo disponivel que o
diretor. Espero que nao se incomode de discuti-las comigo. Natural-
mente, deverei passar so sr. G. qualquer decisao a que chegarmos.
Etr. Receio não ter sido muito claro. 0 medico vai ye-b, mas sornente
depois de terrnos Os resultados de seus exames. Ele está ocupado,
mas nao indiferente. E nao poderia ajuda-lo sern saber o que
dizem os exames. Logo que tivermos Os resultados, rnarearei urns
consults Para você.
Etr. Admito ser verdade. Em classe, realrnente perco a paciência as vezes.
Temos quarenta alunos, e all você é urn dos quarenta. Mas agora
tenho tempo apenas Para você, e não acho que you perder a
paciència. Realrnente quero saber o que aconteceu em casa na noite
passada - não porque seja intrornetido, mas porque gostaria de
ajudar, se puder. Compreendo que tudo corneçou quando...
EXPLICAcAO DE COMPORTAMENTO
EXPLICAcAO DE CATJSAS
Eto. Son geralmente bastante pontual, mas agora que você chamon a
atenção, percebo que tenho chegado atrasado a quase todas as
nossas entrevistas. Nao consigo entender. 0 que você acha?
Etr. Quando pessoas pontuais chegam atrasadas várias vezes em seguida,
a explicaçao pode ser que elas não tern muita pressa pars, vir. E]as
podem querer e so mesmo tempo nAo querer. 0 querer e o não querer
podem estar em conflito internamente, resultando no atraso. Pode
haver ontra explicaçao, mas o que você acha dessa em relaqão
a vocé?
Eto. . . . Quero que me diga porqne sinto medo de você.
Etr. Bern, vocé indicou várias vezes que eu leznbro sua mae e, me
recordo, vocé as vezes sentia medo dela.
Eto. E porqne son cego que as pessoas me tratam assim - sentindo pens,
de rnim e rnantendo-se a distancia. Foi isso que o instrutor de
viagem disse que fizeram, e você não pods negá-lo.
Etr. Nao, não posso negar que ser cego é dnro pars, você, mas realmente
sinto que a causa de sen problerna nAo 6 tanto sua cegueira, mas
154 A ENTRE VISTA DE AJUDA
comb vocé convive corn ela; como você pensa e sente pelo fate de
ser cego. Esta é a verdadeira causa, na minha opiniao.
Eto. Está hem, von contar: vocé me odeia por causa da minha pele
escura - porque son negro e você é branco.
Etr. AlA onde realmente me conheço, isto não é verdade. As vezes, real-
mente, deixo de gostar de você, mas per uma razão inteirarnente
diversa: porque siinto que vocé não está me tratando como urn
igual. Você assume uma atitude superior, desafiante e hostil. Vocé
guarda bern escondido o que está por baixo disso tudo, mas quando
realmente se revela, me agrada muito. Entao, sabe, rejeito sua
explicaçao. Vejo-a como uma defesa. Vocé precisa demonstrar
hostilidade para rnim porque deve achar que sou hostil a vocé.
Quanto a mirn...
Encorajamento
Acredito que quase tudo 4ue fazemos na entrevista de aju-
da é para encorajar o entrevistado, de uma maneira ou de ou-
tra Nossa atitude, nossa abordagem, nossas respostas - tudo
visa apoia-lo e fortalecé-lo em seus esforcos para procurar urn
caminho significativo e que vaiha a pena para ele Desejamos
auxiliá-lo para que chegue mais próximo da reahdade e de
seu próprio cu, para que ele possa explorar sua situação pre-
sente e determinar suas metas futuras Mosso mais leve "ahn
-han" visa impeli-lo para a frente, dizendo-ihe "E isso mesmo
I
Afirmacao-reafirmacao
Usamos a afirmaçao ou reafirrnaçao corno uma indicacao
para dizer ao entrevistado, ern palavras, que acreditarnos em
sua capacidade de agir e superar obstaculos, enfrentar corn
êxito sua situação. Corn efeito, estarnos tambern mostran•
do-Ihe que podernos ver mais longe do que ele; que ele pode,
corn segurança, depositar ern nos sua confianca; que depende
dele agir, mas que precisa de urna pequena palmadinha nas
costas para ajudá-lo ern sua trajetória. Assirn, rnostrarnos que
ele precisa de urna influencia externa para mante-lo ern rnovi-
mento ou fazer corn que de a partida e que isto nos podernos
oferecer. Os exernplos seguintes variarn da rafirmaçao bran-
da a expressamente aberta:
Eto. Não posso enfrentá-lo.
A essa afirrnacao, diferentes entrevistadores podem re-
plicar:
Etr. Voce nao tentou; não den ser tao ruim assim come você pensa.
Etr. Mao estou tao certo de que vocé não possa; prefiro achar que
você pode.
Etr. Você nao pode? Essa é a opinião de urna pessoa; outra pessoa pensa
de outra forma.
Etr. Claro que você pode. Mao posse ir corn você, mas estarei presente
espirituairnente.
Etr. E difIcil, en sei; mas você pode e você deve.
Eto. . . . Realmente nâo sei se virel novamente.
Etr. Bern, depende de você, mas ache que você devia. Você se saiu muith
bern hoje, e da próxirna vez tenho certeza de que se sairá muito
meihor.
Eto. Nunca von conseguir urn emprego - corn a aparência que tenho.
158 A ENTRE VISTA DE AJUDA
Etr. Calma, rneu jovern. Roma näo. foi construlda em urn dia. Apenas
corneçamos a explorar as possibilidades, e você já quer pendurar as
chuteiras. Vejamos agora...
Eto. (soluçando) E simplesmente horrIvel!
Etr. Eu sei... Tern sido bastante dificil ir... Tente parar de chorar
agora. Você se sentirá muito meihor arnanhã, e o mundo ihe
pa.recerá mais belo.
Eto. Ela me odeia, eu tenho provas.
Etr. Agora pare corn isso; sua mae realmente ama você. Ela rnesrna me
disse isso. Ela faz tudo para ser boa para vocé, e sei que você
pier se esforçar para ser boa para ela. Eu Ihe garanto que tudo
vai dar certo se todos nos reunirmos. Ela está querendo e eu
tarnbérn. Vocé vai ver...
Eto. Minhas pernas vão ficar boas, nab e? Elas tern que ficar. Se nAo
ficarem, you me rnatar!
Etr. Agora, apenas relaxe. Tudo sairá bern. Os medicos estão fazendo
tudo que podern, e você sabe que a medicina hoje pode fazer
rnilagres. Vocé vai ficar boa. Tenho certeza que sim. Quanto a...
Bern, sei que voce não falou sério. Tudo vai sair bern..
Muitas vezes, a reafirrnacao dura, enfatizando a consciên-
cia, chega quase ao moralismo. Pode sugerir descrédito tam-
bern - como se o entrevistador estivesse dizendo: "Você pos-
sivelmente nao poderia" ou "Nao posso acreditar que voce' o
faria". Estas indicacOes seräo discutidas mais adiante.
Sugestao
A sugestão é uma forma branda de conseiho. Sua riqueza
de linguagem tende a ser experimental e vaga. Nela o entre-
vistador apresenta uma possfvel linha de ação. A sugestão nao
exige submissao nem ameaça o entrevistado corn rejeicao,
caso não a siga ate o firn. Estou falando da verdadeira suges-
tao, naturalmente, e não da ordern dissirnulada. A sugestão
dá ao entrevistado as opiniOes consideradas do entrevistador,
mas deixa-o livre para aceitar, recusar ou propor idéias suas.
Na verdade, sua finalidade pode ser estimular o entrevistado
a pensar e planejar por si mesmo. Ouando esta ë a intençäo
sincera do entrevistador, a sugestão comunica: "Acho que mi-
nha idéia 6 boa, e pode funcionar. Depende de vocé, natural-
RES?OEjTAS E INDICAcOES
159
Aconseihamento
1)
162 A ENTRE VISTA DE AJUDA
Eto. Ah, não. Você •vai me dizer, e eu direi a ele; e e meihor ele
me escutar se souber o que é born para ele.
termos de sua limitaçâo, isto deve dar certo - e vocé podia ganhar
a vida corn aquilo que você gosta de fazer co.mo passatempo. Talvez
qucira pensar mais urn pouco sobre isso. PodIamos discutir isto
quando vocé vier na próxirna semana. Se você pensar em &Iguma
outra coisa, poderiamos também discutir.
Pressao
coma era dificil para vocé fazer trabaiho de casa corn thdas as
crianças em volta. Quanta a você estudar na casa do Bob, isso
ajudaria a ele também. Você sabe que ele so consegue se concentrar
tarcie da noite, e dessa forma vocês dais podein beneficiar-se.
Eto. Bern, eu realmente nunca tentei.
Etr. Por que não tenta, e ye corno funciona? Você podia tarnbém pedir a
sua mae, e me informar se a compreendi corretamente ou nao. Se
vocé tentar isto esta semana, podermos conversar sabre o assunto
na prOxima. Vocé acha que vai tentar?
Eto. Se miinha mae concordar, von tentar.
Etr. Realmente acho que voce deve. Ate a próxiina semana!
Moralismo
0 moralismo é uma mistura de aconseiharnento e pressão,
corn uma significacao a mais. Quando o entrevistador simples-
mente aconseiha e persuade, baseia-se em seu próprio ju1ga
rnento. Para ele, pelo menos, isso e suficiente. Quando em-
prega 0 moralismo, entretanto, recorre a novas armas; traz
para a ação uma rnunição mais poderosa. Dispöe dessas for-
gas contra o entrevistado para faze--lo "ver a luz". As ptincipais
armas que o entrevistador escoihe são essas duas que o entre-
vistado sente major dificuldade em combater: a consciência -
a sua própria, a do entrevistador ou a de Todo Mundo; a mo-
ral - aquelas sagradas normas sociais a que ninguém, em sã
consciência, pode se opor ou mesmo questionar.
F?ESPOSTAS E INDICA GOES
Etr. Ajudar seu pal por umas duas horaS a tarde realmente mao e uma
coin terrivel. Sua irma cuida de todo o serviçô de casa, e vocé
quer fazer a sua pane, tenho certeza. Sel que è duro não brincar
corn os outros meninos, mas você se sentirá muito meihor se cumprir
sua parte nas tarefas. A vida mao é semre urn mar de rosas; e,
creia-me, muitos garotos dao mais duro do que vocé. Pela alma de
sua mae morta, voce vai querer fazer o esforço.
Eto. (silêncio... lágrimas... silénclo).
Etr. Vocé devia ter me falado quando pensou em desistir do emprego. Näo
é tao fácil encontrar empregos, e outras pessoas gastaram tempo
e energia para encontrar esse pan vocé. Qualquer outra pessoa em
seu lugar ficaria feliz em ter...
Eto. NAo, nao ficariam. So por que tenho uma incapacidade mao signi-
fica que tenho pie agi.ientar todo aquele lixo. Devia ter The contado.
Talvez algum bobo possa ficar, mas eu mao posso, mao you ficar.
Etr. Vocé deve aprender a viver corn sua deficléncia. Os trabaihos que
vocé pode fazer são difIceis de encontrar. De qualquer forma, não
podia ser tAo ruim como você diz.
Eto. Era sim, mas eu mAo devia ter Ihe falado. Sinto muito sobre isso.
Etr. Lamentar não adianta.
Eto. 0 que vocé quer que eu faça, me ajoelhe a seus pés? Se mAo tern
outro emprego 6 sO dizer.
RESPOSTAS E IND1CAçOss 173
Etr. Nao, nao tenho, neste exato mornento; a, de qusiquer forma, pri-
meiro tenho qua considerar aqueles que estAo querendo fazer urn
esforço real, telefone para mim no proximo més, esta bern'
Concorddncia-discordância
Aqui, o entrevistador comunica ao entrevistado se, em sua
opinião, ele está certo ou errado. Tendo obtido suficientes
informaçoes do entrevistado, bern corno de outras fontes
quando necessário, e dependendo fortemente de sua própria
experiência e formaçao, ele declara sua posição. Admitindo
que seu julgarnento 6 correto, quer naturalrnente que o entre-
176 A ENTRE VISTA DE AJUDA
Apitvacdo-desaprovaçào
Esta e serneihante a concordanci a. Entretan-
a-discordânci
to, não é a questäo de certo e errado que está envolvida, mas
a de born ou rnau. 0 entrevistador expressa urn juigamento de
valor quando, a partir de sou esquerna de referéncia, isso pa-
rece apropriado. Manifesta aprovação ou desaprovacao do
comportarnento, pianos pretendidos ou concepção de vida do
entrevistado.
RE.SPOSTAS E INDICACOES 177
Oposzçao e critica
Tanto a oposição como a critica foram abertas ou impli-
citarnente expressas em algurnas das indicacoes e respbstas
precedentes de parte do entrevistador. Ouan4o o entrevistador
se opãe, está dizendo não a urn curso deL ação pretendido.
Quando ele cntica, expressa scm ambiguidade sua insatisfacao
corn a "ma" conduta, ou ação "errada" do entrevistado; 0 en-
trevistador, de sua posição vantajosa, está certo dc que esta
oposição ou crItica é bern fundarnentada.
Eta Gostaria que todos vocés parassem de ficar em cirna de
Etr. Não gosto de seu torn de voz. E não estou ern dma: de vote, corno
vocé diz. Você tern sido rude desde que chegou aqui, mu tenho
178 A ENTRE VISTA DE AJUDA
Descredito
0 descredito Mo implica necessariamente que o entrevis-
tador suspeite que o entrevistado está mentindo. Supoe, na
realidade, que a percepçäo do entrevistado de urna situação
dada é incorreta ou distorcida, e que o entrevistador, de sua
posição, pode detectar e apresentar uma visao nao distorcida
e mais objetiva. Na utilizacao de indicacoes e respostas de
descredito, o entrevistador pode muito bern pretender enco-
rajar o entrevistado, mostrando-ihe - inclusive corn o empre-
go do sarcasrno, se necessário - que as coisas nao podern ser
tao ruins corno ele descreve. 0 entrevistador está convencido
de que pode interpretar o ponto em discussao mais correta-
mente do que o entrevistado, e- dessa forma ajuda-lo a cami-
nhar ern urn sentido que sua percepção distorcida agora torna
dificil, senão impossivel, perceber. Em resurno, o entrevista-
dor inforrna a seu parceiro que pode avaliar a situação de for-
ma mais correta e corn mais autoridade, e que o entrevistado
faria bern em ser orientado por ele. Por exernplo:
Etr. Vocé, nunca?
Eto. Ma chama todo mundo, mas a mim, nunca, estou lhe dizendo!
RESPOSTAS P2 INDICAQOES
Etr. Simplesmente nao posso acreditar. Além de tudo, vocé esta na sala
de aula, como todos os outros. Simplesmente não faz o menor scm-
tic!o a forma como você ye isso.
Eto. ...E eu não fechei os olhos a noite toda, doutor.
Etr. A enfermeira de piantao me disse que você dormiu profundamente
por aigum tempo. Talvez você tenha dormido de cihos abertos.
Eto. Para os outros, sim, mas para mim, nunca uma palavra arnável.
Etr. Oiha1 Tom, simplesmente mao posso acreditar nisso. Vocé so se
lembra das repreensöes e esquece os elogios. Sua mae falou real-
mente de sua sensibilic!ade a crIticas, e que vocé parece considerar
os elogios como necessários. Taivez se vocé fizesse uma lista apenas
por uma semana, obteria urn quadro diferente do que realmente
acontece em •sua casa.
Ridicularizacao
Em intenção, ridicularizaf está relacionado corn desacre.-
ditar; porém a indicaçao ou re.sposta é mais dura, mais sar-
cástica. Aqui, o entrevistador instrui condescendentemente o
entrevistado corn a finalidade de dernonstrar como ele e suas
percepçOes são absurdas. A ridicularizacao é uma forma de
provocacão, destinada a confundir o entrevistado, fazendo-o
comportar-se "sensivelmente" como "outras pessoas" - coma
o entrevistador. 0 entrevistador assegura ao entrevistado que
tambérn ele avahará a situação pelo mesmo prisma, uma vez
que se livre destas noçöes absurdas e percepçOes ridiculas E
como se o entrevistador estivesse dizendo "Sun, estou delibe-
radamente fazendo pouco de vocé, para que seja capaz de Ii-
bertar-se de suas tolas concepcOes e agir de uma forma bené-
fica para vocé mesmo. Mas vocé so pode consegiiir isto se
começar a ver a realidade da forma como a vejo". Comparem
os dialogos seguintes em termos de intenção e personalidade
do entrevistador:
Eto. Pensei em voitar a trabaihar o dia todo,..
Etr. Exjerimentou sua habilidade em percepção extra-sensorial... Pen-
sou que a loja viria exatamente para dentro da sua casa, não foi?
Eto. Simplesmente não consegui ir ate cia e pedir desculpas.
Etr. Ah, claro que mao, cia poderia ter comido você.
Eto. Você me den tantos remOdios que mao me lembro de tomá-ios.
RM A ENTREV1STA DE A.JUDA
Etr. Acho que you ter de Ihe telefonar de hora em hors para lembrar-Ihe
quals os que deve tornar.
Eto. Nio pude fazer a carninhada ontem porque choveu a major parte
do tempo.
Etr. Conipreendo. Você teria derretido; e se urn dia conseguir urn em-
prego, vai esperar que venham apanhi-lo de taxi quando estiver
chovendo.
Eto. Nbo deu pars, avisar a vocé que não o faria na sernapa passada.
Etr. Claro! Os telefones estavarn corn defeito, e o correio nao funciona
nesta cidade.
Contradicdo
"Não é assim. E de outra forma. E assim". E isso que
o entrevistador está afirmando ou deixando impilcito quando
utiliza a contradicao como indicacao ou resposta. Está dizendo
"não", "errado", "mau" ao que o entrevistado expressou. Ele
está seguro de seus motivos e faz corn que o entrevistado saiba
e sinta isto. Mao ha qualquer düvida poisIvel, nem duas ma-
neiras de ver as coisas. Ek pretende orientar o entrevistado
Para o rumo "certo". Inclusive contradiz os sentimentos ex-
pressos do entrevistado quando estes são "maus" ou "desorien-
tados". Por exemplo:
Eto Sinto urn calor insuportavel aqui dentro
Etr. Nbo é posalvel; todas as jandas estAo completarnente abertas.
Eto. Eu realniente o arno e quero casar corn ele.
Etr. Vocé pier casar corn ele por causa do dinheiro e da posiçào social
que ele ocupa. Vocé pode enganar a vocé mesma, rnas a mini nào.
Eto. 56 hI débeis mentais aqui nests escola, e cu quero sair desta
porcaria o mais rápido possIvel.
Etr. Esta nAo e unia escola de crianças retardadas. Na realidade, a
rnaioria das crianças são tao inteligentes, e talvez ate mais que
Voce.
Eto. Sou tao feliz "andando por a?', conic vocé chain.
Etr. Sei que nbc é. Você esti apenas adotando a saida mais fácil. E
urn infeliz e solitirio. Ninguérn poderia ser feliz vivendo da ma
neira corno vocé vive.
RESPOSTAS E INDICAçOES 181
Negaçdo e rejeição
Repreensao
Quando repreende, o entrevistador interpreta e avalia as
i.déias, sentimentcs e açôes do entrevistado. Tendo compreen-
dido estes de forma satisfatoria, reage negativarnente em re-
lacão a eles. "Isto nAo é a maneira de pensar, sentir ou agir",
adverte. 0 entrevistado precisa se corrigir; e na esperança
de que urn debate verbal resolverá o problerna, começa a falar
sem demora:
Eto. Pensel que o trabaiho nao fosse pan a próxima sernana.
Etr. Nâo sel quem leu a você esta idéia. Todo mundo parece ter en-
tendido. E meihor vocé pensar menos e escutar mais. Ainda ha
tempo pan prepará-lo, portanto comece a trabaihar.
Eto. Sel que eles são meus pals, mas nao Os sinto como tal.
Etr. Voeê não sente que eles são seus pals? Como vocé diz tolices.
Discutimos isso exaustivamente, e você mesmo disse que sabe que
eles são. Sel que tern sido dificil; mas agora já passou, e é meihor
você controlar estes seus sentimentos antes que eles 0 controlem.
RESPOSTAS E JNDICAç6E5 183
Ameaça
Ordem
Aqui o entrevistador ordena francarnente ao entrevistado
para que siga suas instruçOes. Age corn base nos pressupostos
anteriormente rnencionados, e talvez corn o acréscimo do se-
guinte: o entrevistado precisa ser conduzido por uma mao fir-
me, e ele, o entrevistador, está meihor qualifi.cado para exe-
cutar essa tarefa.
Eto. . elas sirnplesrnente vierarn... Nao posso controlar minhas
lágrimas.
Etr. Claro que pode. Tents compor-se: enxugue os olhos e assoe o mariz.
Temos muita coisa para conversar.
Etr. Pare de hear brincando corn o cabelo; desvia muito a atencão.
Eto. Não posso jogar bola hoje. Minha mao...
Etr. Entire logo naquele carnpo. Eu estarei lá, e quero ver você lam-
çando corno nunca o fez em sua vida.
Eto. Preciso muito ver você hoje.
Etr. Você chegou corn urn atraso de urna hora para o nosso ültirno corn-
prornisso tarnbérn. Agora, saia, por favor. Estou muito ocupado,
corno pode ver. Espere lá fora, e eu lhe direi rnais tarde quando
posso ye-b.
Eto. Realrnente nao sei se devia...
Etr. Entre naquele avião, e quamdo tudo tiver passado, venha ver-me
movarnente. Não quero v6-lo ate que tenha dado urna boa chance
a essa coisa. Sei que você pode fazer isso, tarnbém. Boa sortie!
RESPOSTAS E INDICAçOES 185
Puflição
Humor
DESPEDIDA
/
A ENTRE ViSTA DE AJUDA
188
firn, a rnudança implica urn trabaiho scm fin que cada urn
deve realizar dentro de si mesmo.
Nossa opiniao sobre a entrevista de ajuda tambern nao
permanece. estática. Ela tambérn muda a medida que expert.
mentamos e descobrimos mais sobre como nossd comporta-
mento afeta o dos outros. A medida que reflito sobre o que
escrevi, verifico que nao fui tao descritivo como tive a intenção
de ser. TaIve2 meus próprios vaibres tenharn se interposto
rnuitas vezes. Posso apenas repetir, uma vez mais, que minha
intenção foi a de estirnular o pensamento e, possivelmente, a
rnudança; mas a direçao que esse pensamento e essa mudança
tomam deve ser de sua escoiha.
Quando estamos entrevistando, somos deixados corn o que
sornos. Nao temos livros, nern notas de aulas, nern alguem ao
nosso lado nos assistindo. Estamos sozinhos corn a pessoa que
veio procurar nossa ajuda. Qual a meihor forma de ajuda-la?
Denfrontar-nos-emos corn os mesmos problemas básicos scm-
pre que enfrentamos uma entrevista pela prirneira vez. São
eles, em resumo:
1. Devemos nos permitir ernergir como seres humanos autên-
ticos, ou nos esconder atrás do nosso papel, posição,
autoridade?
2. Devemos realrnente tentar escutar o entrevistado corn
todos os nossos sentidos?
3. Devemos tentar compreender corn ele - corn empatia e
aprovação?
4. Devemos interpretar para ele seu comportamento ern
termos de seu esquerna de referenda, do nosso ou do da
sociedade?
5. Devemos avaliar seUs pensarnentos, sentimentos e açOes,
e se o fizerrnos, ern terrnos de quais valores: dele, nossos,
da sociedade?
6. Devemos apoiá-lo, encoraja-lo, pressioná-lo, de modo que,
apoiando-se em nos, possa talvez ser capaz, urn dia, de
apoiar-se ern sua própria forca?
190 A ENTRE VISTA DE AJUDA
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
(Os livro.s referidos no texto são precedidos por urn asterisco. Os
comentarios que acompanharn algumas das referências são de
A. Benjamin.)
McGraw-Hill, 1939.
Williamson, B. G. How to Counsel Students. McGraw-Hill, 1950.
Williamson, B. G. Counseling Adolescents.
0 autor tende para o enfoque autoritário. Ambos os traba-
lhos merecern ser conhecidos.