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AVANÇADO DE DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO

Direito do Trabalho – Aula 01


Otavio Amaral Calvet

Fundamentos e formação histórica do Direito do Trabalho.

FUNDAMENTOS DO DIREITO DO TRABALHO

O direito do trabalho é fruto do capitalismo e serviu para retificar distorções econômico-sociais e para civilizar a
relação de poder que sua dinâmica econômica cria no âmbito da sociedade civil, em especial no estabelecimento
e na empresa.

O fundamento de sua criação foi o cenário apresentado com a Revolução Industrial, que trouxe a crescente e
incontrolável exploração desumana do trabalho.

Na verdade, o direito do trabalho fixou controles para esse sistema econômico deflagrado com a Revolução Indus-
trial, buscando eliminar as formas mais perversas de utilização da força de trabalho pela economia.

Afinal, apenas no desenrolar do processo da Revolução Industrial é que a relação de emprego se torna a catego-
ria dominante como modelo de vinculação do trabalhador ao sistema produtivo.

Essa mão de obra utilizada era livre, mas também subordinada, e o empreendedor capitalista usufruía ao máximo
da energia e da inteligência humanas, dando origem a um mecanismo de integração da pessoa ao sistema produ-
tivo dotado de potencialidade máxima no tocante à geração de bens e serviços na sociedade.

Em sendo assim, o Direito do Trabalho, como fruto da sociedade industrial, patrocinado pelo Estado de bem-estar
social, tem como característica fundamental a luta contra as injustiças provocadas pela produção industrial em
massa.

Sua base está voltada para a Justiça Social, que não pode ser apreendida como um preceito abstrato, devendo
ser identificada no lucro, na acumulação de riqueza que o capital obtém à custa de uma mão-de-obra mal remune-
rada.

FORMAÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO TRABALHO

Posicionamento do Direito do Trabalho na História:

O Direito do Trabalho – como qualquer ramo jurídico – constitui um complexo coerente de institutos, princípios e
normas jurídicas, que resulta de um determinado contexto específico.

O núcleo fundamental do Direito do Trabalho é a relação empregatícia, pois sem ela, aquele não existiria. Assim,
é em torno dessa relação jurídica específica que se constrói todo o universo de institutos, princípios e regras ca-
racterísticas a esse específico ramo jurídico.

As relações jurídicas escravistas e servis são incompatíveis com o Direito do Trabalho, pois elas supõem a sujei-
ção pessoal do trabalhador e não a sua subordinação.

Subordinação é conceito que traduz a situação jurídica derivada do contrato de trabalho mediante o qual o empre-
gado se obriga a acolher a direção do empregador sobre o modo de realização da prestação de serviços. A su-
bordinação é enfocada pela ordem jurídica sob um prisma estritamente objetivo, atuando sobre o modo de reali-
zação da prestação pactuada. Não gera um estado de sujeição pessoal (prisma subjetivo) do prestador de serviço
– razão por que supõe e preserva a liberdade do prestador. Já a sujeição é subjetiva, atuando sobre a pessoa do
trabalhador – razão por que supõe e reproduz sua falta de liberdade pessoal.

Apenas a partir de fins da Idade Média e alvorecer da Idade Moderna é que há o rompimento das formas servis de
utilização da força de trabalho com a expulsão do servo das glebas.

Durante a Idade média o trabalho livre era basicamente artesão, de pequenas manufaturas, organizadas nas cor-
porações de ofício (forma de agremiação / junção de trabalhadores que, na verdade, servia para exercer controle
sobre o trabalho). Funcionava da seguinte forma: havia a figura do mestre (conhecia o ofício, tinha a técnica e
muitas vezes as ferramentas de trabalho), que aceitava na corporação o chamado aprendiz (para aprender o ofí-
cio). Com o passar do tempo, o aprendiz deixava tal condição – porque já conhecia o ofício – e passava para a

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condição de companheiro (figura intermediária – já tinha o conhecimento, mas não galgava o posto de mestre por
razões políticas – quanto mais mestre, menos poder!)

Os mestres não queriam que os companheiros se tornassem também mestres, gerando – logicamente – uma
tensão entre mestres e companheiros.

Essa tensão entre mestres e companheiros acabou resultando na chamada “revolta dos companheiros”, que con-
substanciou uma tentativa de alcance, pelos companheiros, do posto de mestre.

Alguns doutrinadores identificam aqui o início do movimento sindical, bem como o início do movimento trabalhista,
mas essa é uma visão muito criticada, porque a “revolta dos companheiros” não tinha o pressuposto de duas clas-
ses antagônicas como temos na área trabalhista hoje. Na verdade, se caracterizava por uma busca pela liberdade
para trabalhar, sem o controle do Mestre.

E esse objetivo – a busca pela liberdade – foi confirmado no decorrer da história, porque após essa fase chega-se
à época da revolução francesa, que foi um marco jurídico para o mundo moderno (proclamação dos princípios
universais de liberdade, igualdade e fraternidade).

A liberdade levou a revolução francesa a acabar com Estado Absolutista criando o Estado Liberal, onde o cidadão
passou a viver livremente, sem a intervenção do Estado.

Daí a afirmação histórica dos direitos fundamentais de primeira dimensão, chamado de liberdade de classe, direito
a liberdade, a vida, a propriedade.

O Estado não podia mais interferir na vida, propriedade e liberdade das pessoas; o poder público não podia mais
oprimir o cidadão (eficácia vertical – Poder Público x cidadão). Por tal motivo os direitos fundamentais de primeira
geração têm uma eficácia negativa preponderante – o que o poder público não pode fazer!

Após a revolução francesa a questão ficou teoricamente bem arranjada: o Estado não interferia nas relações pri-
vadas, as pessoas podiam se relacionar livremente, os contratos poderiam ser estabelecidos sem regra nenhuma,
de acordo com a livre vontade / autonomia da vontade absoluta (a autonomia da vontade teve seu máximo neste
momento histórico).

Como decorrência, nessa época foram extintas as corporações de ofício, porque nessa fase foi proibida qualquer
forma de agremiação de trabalhadores, por ser algo que de alguma forma poderia comprometer a liberdade indivi-
dual.

O modelo do Estado Liberal funcionaria, contudo, se todos tivessem o mesmo status, ou seja, no caso de parida-
de de forças e, como este não era o caso, não tardou para despontar que o que parece ser o máximo da valoriza-
ção do indivíduo, na verdade, acaba sendo uma forma de oprimir o indivíduo mais fraco. E foi na esfera trabalhista
que surgiu a primeira evidência dessa falsa aparência do Estado Liberal, que se transformou num grande opressor
dos mais fracos.

Isso apareceu na história da seguinte forma: após essa fase da revolução francesa, por volta do séc. XVIII, ocor-
reu a primeira revolução industrial e, com isso, uma grande transformação do mundo. Houve a modificação das
bases de produção de riquezas com máquinas para produção em massas, que transformou o agricultor em operá-
rio acarretando o movimento de migração do campo para os pequenos centros que foram sendo urbanizados de
forma bastante desordenada, surgindo os primeiros centros urbanos (até então o meio era basicamente agrário).

Saiba mais: Qual é o pressuposto básico para o surgimento do Direito do Trabalho?

O trabalho subordinado apenas aparece na Revolução Industrial, em que há uma relação de produção com liber-
dade e subordinação, ou seja, o trabalhador é separado dos meios de produção, é juridicamente livre, mas subor-
dinado no âmbito da relação empregatícia ao proprietário desses mesmos meios produtivos.

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O Direito do Trabalho é, pois, um produto cultural do século XIX e das transformações econômico-sociais e políti-
cas dessa época, que colocam a relação de trabalho subordinado como o núcleo do processo produtivo daquela
sociedade.

Não houve manifestação justrabalhista em sociedades anteriores à sociedade industrial contemporânea, já que
nas sociedades feudais e antigas, o trabalho subordinado pode ter surgido apenas como exceção.

Processo de formação de consolidação do Direito do Trabalho:

O Direito do Trabalho surge da combinação de um conjunto de fatores: econômicos, sociais e políticos.

 Do ponto de vista econômico:

São fatores que propiciaram as condições favoráveis ao surgimento do novo ramo jurídico especializado: de um
lado, a utilização da força de trabalho livre, mas subordinada, por meio da relação de emprego; de outro lado, a
circunstância de esse novo sistema produtivo também gerar e desenvolver uma distinta modalidade de organiza-
ção do processo produtivo (a grande indústria – baseada na intensa utilização de máquinas e profunda especiali-
zação e mecanização de tarefas), que suplantou as formas primitivas de organização de produção, consubstanci-
adas no artesanato e na manufatura.

 Do pondo de vista social:

São fatores que propiciaram o surgimento do Direito do Trabalho: a concentração proletária na sociedade euro-
peia e norte-americana em torno das grandes cidades industriais; o surgimento de uma inovadora identificação
profissional entre as grandes massas obreiras, a partir de um mesmo universo de exercício de sua força de traba-
lho – universo consubstanciado no estabelecimento ou na empresa.

 Do ponto de vista político:

As ações desenvolvidas no plano da sociedade civil e do Estado, para fixar preceitos objetivos para a contratação
e gerenciamento da força de trabalho componente do sistema produtivo estruturado, foram fatores que conduzi-
ram ao surgimento do Direito do Trabalho.

No plano da sociedade civil, houve a descoberta pelos trabalhadores da ação coletiva como instrumento de atua-
ção, a chamada consciência coletiva, quer no âmbito político (perante o Estado), quer no âmbito profissional (pe-
rante os empregadores). Tal descoberta tendeu a gerar modalidades novas de normatização jurídica, como os
acordos coletivos e os regulamentos de empresas, por exemplo.

Com esse processo, surgiram movimentos políticos, com forte participação obreira: associacionismo sindical naci-
onal e internacional, o socialismo, o comunismo.

No contexto histórico-social (fatores econômicos, sociais e políticos), o Direito vigorante à época, baseado no Di-
reito Civil, de formação liberal-individualista, não tinha resposta jurídica adequada ao fato novo da relação empre-
gatícia. Afinal, a prática de que “o contrato faz lei entre as partes” colocava o trabalhador em posição inferior numa
negociação com o empregador, e, em face da necessidade, acabava por aceitar todo e qualquer tipo de cláusula
contratual, ficando submetido às condições desumanas e degradantes.

Os segmentos sociais dos trabalhadores passaram então a formular propostas de normatização de caráter coleti-
vo, abrangentes do conjunto dos trabalhadores envolvidos e subordinados e com isso conseguiram contrapor ao
sujeito individual assimilado pelo Direito Civil da época a ideia de sujeito coletivo.

Saiba mais: No campo contratual, qual foi o resultado dessa diferente forma de relação jurídica, a relação de em-
prego? Qual o instituto moderno de Direito Civil correlato a tal característica inerente ao contrato de trabalho?

Fases históricas do Direito do Trabalho:

Os marcos fundamentais no processo de formação e consolidação do Direito do Trabalho foram:

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 Revolução Industrial, em 1775, e Revolução Francesa, em 1789;


 “Manifesto Comunista” de Marx e Engels, em 1848;
 Encíclica católica RerumNovarum, de 1891;
 Primeira Guerra Mundial e seus desdobramentos, como a formação da OIT (1919) e a promulgação da
Constituição Alemã de Weimar (1919);
 Constituição Mexicana (1917).

Essas duas constituições foram pioneiras na inserção em texto constitucional de normas nitidamente trabalhistas,
que seria uma das marcas distintivas do século XX.

Saiba mais: A Revolução Industrial é considerada um marco da história do Direito do Trabalho. Entretanto, quais
foram as bases que permitiram historicamente a deflagração desse ramo do Direito na época da Revolução Indus-
trial?
1
Os autores Granizo e Rothvoss perceberam a existência de quatro fases principais na evolução do Direito do
Trabalho: formação, intensificação, consolidação e autonomia, que serão examinadas a seguir.

Fase de formação (1802-1848): Seu momento inicial foi no Peel´sAct, do início do século XIX, na Inglaterra, que
trata basicamente de normas protetivas de menores.

Fase de intensificação (1848-1890): Teve como marcos iniciais o Manifesto Comunista (1848) e, na França, os
resultados da Revolução de 1848, como a instauração da liberdade de associação e a criação do Ministério do
Trabalho.

Fase de consolidação (1890-1919): Seus marcos iniciais são a Conferência de Berlim (1890), que reconheceu
uma série de direitos trabalhistas, e a Encíclica Católica RerumNovarum (1891), que também fez referência à
necessidade de uma nova postura das classes dirigentes perante a “questão social”.

Fase de autonomia (início em 1919, estendendo-se às décadas posteriores do século XX)): A criação da OIT
(1919) e as Constituições do México (1917) e da Alemanha (1919) são suas fronteiras iniciais.

Contudo, essa periodização de Granizo e Rothvoos não explica a substância do Direito do Trabalho, nem os mo-
delos justrabalhistas aos quais se refere. Desta forma, em busca de uma compreensão mais global, abrangente e
sistemática da experiência justrabalhista, é que uma divisão em fases foi realizada por Mauricio Godinho Delgado,
conforme exposto em seguida.

1ª fase) É a das manifestações incipientes ou esparsas, que vão do início do século XIX (1802), com o Peel´sAct
inglês, até 1848. Esta fase se qualifica pela elaboração de leis dirigidas a reduzir a superexploração empresarial
sobre mulheres e menores. Contudo, o aspecto normativo trabalhista ainda é disperso, sem originar um ramo
jurídico próprio e autônomo, bem como estático, sem a presença significativa de uma dinâmica de construção de
normas com forte indução operária. Afinal, não havia na época uma união operária com capacidade de pressão e
de atuação grupal no contexto das sociedades.

2ª fase) É a da sistematização e consolidação do Direito do Trabalho, que vai de 1848 a 1919, após a Primeira
Guerra Mundial, com a criação da OIT e a promulgação da Constituição de Weimar, ambos eventos ocorridos em
1919. Os marcos iniciais desta fase situam-se no Manifesto Comunista, de 1848, no movimento de massas deno-
minado cartista, na Inglaterra, e ainda, na Revolução de 1848, na França. O ano de 1848 foi de grande relevância
para o Direito do Trabalho, já que em razão do processo de revoluções experimentados é que a pressão coletiva
dos trabalhadores sobre o empresariado e sobre a ordem institucional vigorante ganhou força, de modo a refletir
no universo das condições de contratação da força de trabalho e no universo jurídico mais amplo da sociedade,
aumentando o número de leis trabalhistas e contribuindo para o avanço sistemático das negociações coletivas.
Outro fato importante foi a Conferência de Berlim (1890), que reuniu 14 Estados e significou o primeiro reconhe-
cimento formal e coletivo pelos principais Estados europeus da real necessidade de se regular o mercado de tra-
balho, com a edição de normas trabalhistas diversificadas na realidade de cada país. Por fim, destaca-se ainda

1
GRANIZO, Martin L. e ROTHVOSS, M. Gonzalez. Derecho social. Madrid: Reus, 1935. P.24-27. Citados em DELGADO,
Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho, 12ª edição, São Paulo: LTr, 2013, p. 89-90.

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nesta fase o surgimento da Encíclica RerumNovarum, (1891), documento editado pelo Papa Leão XIII, que traduz
a manifestação oficial da Igreja Católica com respeito à questão social, exigindo do Estado e das classes dirigen-
tes postura mais compreensiva sobre a necessidade de regulação das relações trabalhistas.

3ª fase)É a fase da institucionalização do Direito do Trabalho, que se inicia em 1919 (após a Primeira Guerra
Mundial), avançando ao longo do século XX. Seus marcos são a Constituição de Weimar e a criação da OIT, situ-
ados no ano de 1919, e a Constituição Mexicana de 1917. Nesta fase o Direito do Trabalho se institucionaliza,
oficializa-se, incorporando-se à matriz das ordens jurídicas dos países desenvolvidos democráticos, após longo
período de estruturação, sistematização e consolidação, em que se digladiaram e se adaptaram duas dinâmicas:
as ações coletivas dos trabalhadores e a atuação estatal na elaboração de normas. Seu clímax se deu apenas
nas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial, com o aprofundamento do processo de constitucionalização
do Direito do Trabalho e hegemonia do Estado do Bem Estar Social.

4ª fase) Trata-se da fase de crise e transição do Direito do Trabalho, que abrange o final do século XX. A chama-
da crise do petróleo, entre 1973 e 1974 fez crescer a inflação, acentuando a concorrência entre as empresas e as
taxas de desemprego. Houve também um processo de renovação tecnológica, com a microeletrônica, robotização
e microinformática, que reduziu os postos de trabalho e criou outras formas de trabalho como o teletrabalho e o
escritório em casa (home-office). Ademais, ganha prestígio a reestruturação das empresas através de modelos de
descentralização administrativa, com as terceirizações. Ganhou força na política também o pensamento em prol
da desregulação das políticas sociais e das regras jurídicas limitadoras do mercado econômico. Nesta fase ocorre
então a desregulamentação das regras do Direito do Trabalho e a sua crescente flexibilização.

Saiba mais: Qual a relação dos modelos econômicos conhecidos como taylorismo, fordismo, toyotismo e globali-
zação com o modelo de Direito do Trabalho vigente em cada época?

Origem e evolução do Direito do Trabalho no Brasil:

Como visto anteriormente, a existência do trabalho livre é o pressuposto histórico para o surgimento do trabalho
subordinado, não podendo se falar no ramo jurídico normatizador da relação de emprego sem que tal pressuposto
estivesse presente. Portanto, em sendo o Brasil um país de formação colonial, apenas a contar da extinção da
escravatura, em 1888, é que se pode pesquisar sobre a formação e consolidação histórica do Direito do Trabalho
no Brasil.

Não se quer dizer que antes da Lei Áurea não tivesse existido nenhuma relação de trabalho, indústria, ou regras
jurídicas que tivessem afinidade com o Direito do Trabalho. Trata-se, apenas, de reconhecer que nesse período
não restava espaço significativo para o florescimento das condições viabilizadoras do ramo justrabalhista.

Periodização histórica do Direito do Trabalho brasileiro:

1ª fase)É a das manifestações incipientes ou esparsas, que se estende de 1888 a 1930. A relação empregatícia
se apresenta de modo relevante apenas no segmento agrícola cafeeiro avançado de São Paulo e, principalmente,
na emergente industrialização experimentada na capital paulista e no Distrito Federal (RJ), a par do setor de ser-
viços desses dois maiores centros urbanos do país. São características desse período a presença de um movi-
mento operário sem capacidade de organização e pressão e a inexistência de uma dinâmica legislativa intensa e
contínua por parte do Estado em face da chamada questão social. No Estado brasileiro preponderava uma con-
cepção liberal não intervencionista clássica, inibidora de atuação normativa heterônoma no mercado de trabalho,
e, ainda, uma descentralização política regional, que restringia mais ainda a possibilidade de surgimento de uma
legislação heterônoma federal trabalhista significativa.

2ª fase) Trata-se da fase da institucionalização (ou oficialização) do Direito do Trabalho, cujo marco inicial se deu
em 1930 e foi até o final da ditadura getulista (1945), mantendo seus efeitos até a Constituição de 1988. Em seus
primeiros treze a quinze anos (ou pelo menos até 1943 com a CLT), consubstanciou intensa atividade administra-
tiva e legislativa do Estado, em consonância com o novo padrão de gestão sociopolítica que se instaurou no país
com a derrocada em 1930 da hegemonia exclusivista do segmento agroexportador de café. O Estado intervencio-
nista estendeu sua atuação também à área da questão social. Houve também rigorosa repressão sobre quaisquer
manifestações autonomistas do movimento operário, e, através de uma legislação, um novo modelo de organiza-
ção do sistema justrabalhista, estreitamente controlado pelo Estado. O modelo justrabalhista estruturado reuniu-

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se, anos após, em um único diploma normativo – a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho (decreto-lei nº
5.452, de 1.5.1943).

OBS.: No Brasil se passou da fase de manifestações incipientes e esparsas para a fase de institucionalização do
ramo jurídico trabalhista, sem a essencial maturação político-jurídica propiciada pela fase da sistematização e
consolidação (à diferença dos exemplos europeus mais significativos). Construindo-se essa institucionaliza-
ção/oficialização ao longo de um demorado período político centralizador e autoritário (de 1930 a 1945), o ramo
justrabalhista veio a institucionalizar-se, consequentemente, sob uma matriz corporativa e intensamente autoritá-
ria.

Saiba mais: Qual a principal consequência no modelo trabalhista atual dessa “deficiência” na formação histórica
do Direito do Trabalho no Brasil?

3ª fase)É a fase da crise e transição do Direito do Trabalho, que surgiu com a CRFB/88, com a superação demo-
crática das linhas centrais do antigo modelo autoritário-corporativo, de décadas atrás. Os pontos de avanço de-
mocráticos são claros na CRFB/88, pois se afasta a possibilidade jurídica de intervenção do Estado – através do
Ministério do Trabalho – sobre as entidades sindicais e reconhece-se o processo negocial coletivo autônomo.
Contudo, a CRFB/88 preservará e aprofundará institutos e mecanismos oriundos das bases do velho modelo sin-
dical corporativista. Defende-se a modernização do modelo brasileiro de negociação coletiva, até agora preso a
algumas características corporativistas das quais não conseguiu desvincular-se. As ideias que cresceram são no
sentido de dar maior espaço à autonomia privada coletiva, para que, sem prejuízo da função tutelar reservada à
lei, mostre-se possível maior atuação das organizações sindicais. Para esse fim, a autocomposição entre os inter-
locutores sociais é priorizada para promover enlaces jurídicos com base nos quais regerão as relações de traba-
lho. À falta de norma autocomposta, aplicam-se os dispositivos previstos pela lei. Essa modificação permitirá o
desenvolvimento de um sistema modelado pelos próprios interlocutores sociais, em condições de se aproximar da
realidade multiforme e cambiante sobre a qual atua, o que não foi possível alcançar inteiramente.

A crise e transição do Direito do Trabalho, que despontaram na Europa Ocidental em meados da década de 1970,
fizeram-se se sentir tardiamente no Brasil, ao longo da década de 1990. Fortaleceu-se no país, no âmbito oficial e
nos meios privados de formação de opinião pública, um pensamento estratégico direcionado à total desarticulação
das normas estatais trabalhistas, com a direta e indireta redução dos direitos e garantias laborais.

Histórico legislativo no Brasil:

De 1500 até 1888:

 1830: Foi registrada uma lei que tratou do contrato de trabalho de prestação de serviços dirigida a brasileiros e
estrangeiros.
 1850: Código Comercial, ao tratar das relações de comércio, fazia menção ao armador e seus tripulantes,
tratando também da possibilidade do aviso prévio, da indenização pela rescisão injusta do contrato a termo, da
justa causa, da garantia de salário em caso de acidente de trabalho.
 1871: Lei do Ventre Livre, em que os nascidos do ventre de escrava já não eram mais escravos.
 1873: Há uma norma que dispõe sobre justas causas no contrato de prestação de serviços entre colonos.
 1885: Lei Saraiva Cotegibe libertou os escravos com mais de 60 anos depois que cumprissem mais de três anos
de trabalho espontâneo.
 1888: Lei Áurea libertou os escravos, trazendo uma nova realidade para o Brasil, com o aumento da demanda
no mercado e sem trabalho para todos.

De 1888 a 1943:

 1890: Em 17 de janeiro foi emitido um aviso do Ministro da Agricultura concedendo férias anuais remuneradas
de 15 dias úteis para os ferroviários da Estrada de Ferro Central do Brasil.
 1891: Decreto nº 1.313 proibiu o trabalho do menor de 12 anos em fábricas e fixou a jornada de sete horas para
menores entre 12 e 15 anos do sexo feminino e entre 12 e 14 anos do sexo masculino.
 1903: Primeira lei sobre sindicalização e organização sindical dos rurais (Decreto nº 979/2003).
 1907: Organização sindical dos trabalhadores urbanos (Decreto nº 1.637/2007).

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 1916: Código Civil, que tratou da locação de serviços, sendo parte de suas disposições aplicáveis às relações de
trabalho.
 1919: Criação do instituto do acidente de trabalho.
 1923: Lei Elói Chaves (Lei nº 4.682), que disciplinou a estabilidade dos ferroviários que contassem com 10 anos
ou mais de serviços junto ao mesmo empregador. Mais tarde, esse instituto foi estendido a outras categorias. No
mesmo ano foi criado o Conselho Nacional do Trabalho (Decreto nº 16.027), primeiro embrião da Justiça do
Trabalho.
 1925:Lei nº 4.982/25 estendeu as férias de 15 dias úteis para os trabalhadores de estabelecimentos comerciais,
industriais e bancários.
 1927: Código de Menores (Decreto nº 17.934-A), que proibiu o trabalho noturno e em minas de subsolo e
estabeleceu a idade mínima de 12 para o trabalho.
 1930: Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (Decreto nº 19.443).
 1931: Criação do Departamento Nacional do Trabalho (Decreto Legislativo nº 19.671-A) e regulamentação da
organização sindical (Decreto Legislativo nº 19.770).
 1932: Criação da Comissão Mista e Permanente de Conciliação (Decreto Legislativo nº 21.396) e das Juntas de
Conciliação e Julgamento (Decreto Legislativo nº 22.132). O Decreto nº 21.417-A regulamentou o trabalho da
mulher e o Decreto nº 21.186 fixou jornada de oito horas para o trabalho no comércio, estendida, mais tarde, para
a indústria.
 1935: Lei nº 62 disciplinou a rescisão do contrato, justa causa, aviso prévio e a estabilidade dos empregados da
indústria e do comércio após 10 anos de serviço.
 1936: Lei nº 185 instituiu o salário mínimo.
 1939: Organização da Justiça do Trabalho (Decreto-Lei nº 1.237) e reorganização do Conselho Nacional do
Trabalho (Decreto-Lei nº 1.346).
 1940: Regulamento do Conselho Nacional do Trabalho (Decreto nº 6.597).
 1941: Regulamentação da locação de serviços dos empregados domésticos (Decreto-Lei nº 3.078).
 1943: Compilação da Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei nº 5.452).

Histórico constitucional no Brasil:

Constituição do Império – 1824:

 Limitou-se a assegurar a liberdade de trabalho e extinguiu as Corporações de Ofício.

Constituição de 1891:

 Garantiu aos brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil, a inviolabilidade dos direitos concernentes à
liberdade, à segurança individual e à propriedade.
 Assegurou a liberdade de associação, de forma genérica.

Constituição de 1934:

 Tratou da ordem econômica e social, dispondo que os sindicatos e associações profissionais serão reconhecidos
nos termos da lei.
 Dispôs que a lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições de trabalho na cidade e no
campo, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do país.
 Primeira Constituição brasileira a ter normas específicas de Direito do Trabalho, dispondo sobre:

 Salário mínimo;
 Jornada de 8 horas;
 Férias anuais remuneradas;
 Proibição do trabalho do menor de 14 anos, do trabalho noturno dos menores de 16 anos e do trabalho em
indústrias insalubres a menores e às mulheres;
 Indenização em caso de dispensa sem justa causa;
 Descanso semanal, de preferência aos domingos. Mas, não dispôs sobre sua remuneração, tampouco
estendeu o descanso aos dias santos e feriados;
 Proibiu a discriminação do trabalho por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil;
 Estabeleceu a licença maternidade, sem prejuízo do salário e do emprego;

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 Equiparou aos trabalhadores, para os efeitos de garantias e benefícios sociais, os que exercem profissões
liberais;

 Instituiu a Justiça do Trabalho (ainda fora do Poder Judiciário) para dirimir conflitos entre empregados e
empregadores, esclarecendo que a constituição dos tribunais do trabalho e das comissões de conciliação, deverá
ser paritária, com representantes dos empregados, empregadores e do governo.
 Foi a única a instituir o sistema da pluralidade sindical, mas não chegou a ser regulamentado.

Constituição de 1937:

 Substitui o termo convenção coletiva por contrato coletivo, à semelhança do que ocorria no direito italiano.
 Inovou ao estender o repouso também aos feriados civis e religiosos, mas ainda, sem remuneração.
 Dispôs que o trabalho noturno será retribuído com remuneração superior ao diurno.
 Foi a única que deixou claro que a sucessão trabalhista (mudança de proprietário) não é motivo para rescisão do
contrato de trabalho.
 Ao tratar de isonomia, apenas dispôs que todos são iguais perante a lei. Como não se proibia diferença por
motivo de sexo, como na Constituição anterior, foi editada uma lei que permitiu o pagamento de remuneração
para as mulheres com 10% a menos que o pago aos homens.
 No tocante à licença-maternidade, a garantia era somente ao salário. Omitiu o termo “sem prejuízo do emprego”,
o que permitiu a dispensa da empregada grávida.
 Manteve o elenco de direitos da Constituição anterior e garantiu direitos coletivos como o reconhecimento de
sindicatos, a imposição da contribuição sindical e a unicidade sindical.
 Considerou a greve e o lockout como recursos antissociais.

Constituição de 1946:

 Retomou as diretrizes democráticas de 1934.


 Assegurou o princípio da isonomia de forma mais minuciosa, vedando a diferença salarial por motivos de sexo,
idade, nacionalidade ou estado civil.
 Instituiu a participação do trabalhador nos lucros da empresa.
 O descanso semanal e em feriados passaram a ser remunerados.
 A estabilidade foi estendida ao meio rural.
 O trabalho noturno foi proibido ao menor de 18 anos e não mais ao menor de 16 anos.
 Instituiu a assistência aos desempregados.
 Instituiu a obrigatoriedade do empregador fazer seguro contra acidente do trabalho.
 Reconheceu o direito de greve.
 Integrou a Justiça do Trabalho ao Poder Judiciário (antes era órgão administrativo).

Constituição de 1967 e Emenda Constitucional no. 1 de 1969:

 Passou a prever o FGTS, que havia sido criado pela Lei nº. 5.107/1966.
 Instituiu o salário família.
 Estabeleceu a idade mínima para o trabalho de 12 anos.
 Garantiu a aposentadoria para a mulher, com salário integral, após 30 anos de trabalho.
 Continuou com o pagamento superior ao trabalho noturno em relação ao diurno.
 A greve foi proibida nos serviços públicos e essenciais.

Constituição de 1988:

 Equiparou os trabalhadores urbanos e rurais.


 FGTS, estendido ao rural, passou a ser regra, tal como ocorreu no caso do trabalhador urbano;
 Desapareceu a estabilidade decenária;
 Proteção do empregado contra a despedida arbitrária.
 Salário mínimo nacional.
 Piso salarial.
 O salário continuou irredutível, salvo se houver acordo ou convenção coletiva em contrário.

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 Considerou crime a retenção dolosa do salário.


 A participação dos empregados nos lucros deixou de ter caráter salarial.
 Salário-família assegurado somente às famílias de baixa renda e estendido ao rural.
 Carga horária semanal de trabalho reduzida de 48 horas para 44 horas.
 Aumento do percentual mínimo para pagamento das horas extras: de 20% ou 25% para 50%, sendo facultado o
regime de compensação.
 Ao trabalho executado em turnos ininterruptos de revezamento, jornada limitada em 6 horas, salvo acordo ou
convenção coletiva em contrário.
 Repouso semanal remunerado, a ser usufruído preferencialmente aos domingos. Omissão quanto aos feriados
civis e religiosos.
 Férias acrescidas de 1/3.
 Licença maternidade aumentada para 120 dias. Licença paternidade de 5 dias.
 Aviso-prévio de 30 dias, no mínimo, com previsão de aviso-prévio proporcional.
 Previsão do adicional de penosidade.
 Previsão da proteção contra a automação.
 Prazo prescricional dos créditos trabalhistas dilatado para 5 anos, tanto para o urbano quanto para o rural.
 Proibição de diferença salarial, de exercício de função e critérios de admissão, por motivo de sexo, idade, cor ou
estado civil, inclusive ao portador de deficiência.
 É fixada em 14 anos a idade para o trabalho, ainda assim na condição de aprendiz. Aos menores de 16 anos e
maiores de 14 anos só se permite a celebração de contrato de aprendizagem.
 Equiparação dos trabalhadores avulsos e dos domésticos aos empregados.
 Vedada a interferência estatal na organização dos sindicatos, mas mantida a imposição da cobrança da
contribuição sindical.
 Criação da contribuição confederativa a ser paga pelos associados.
 Mantida a unicidade sindical.
 Previsão da obrigatoriedade da participação dos sindicatos nas negociações coletivas.
 Aposentado com o direito de ser votado, e não apenas de votar nas organizações sindicais.
 Assegurada a estabilidade ao dirigente sindical desde o registro da sua candidatura até um ano após o término
do mandato.
 Direito de greve para o servidor público civil. Vedada a sindicalização e a greve para os militares.

Em suma, o Direito do Trabalho surgiu com o advento da Revolução Industrial, quando se generalizou o trabalho
humano, livre, produtivo e subordinado.

Conforme a periodização do Direito do Trabalho, no mundo ou internamente, já estudadas acima, é possível veri-
ficar que é na fase de crise e transição do Direito do Trabalho que se pode encaixar a Declaração Universal dos
Direitos do Homem.

Saiba mais: Qual a relação da afirmação do Direito do Trabalho com a afirmação histórica dos Direitos Humanos?

Grande parte das normas internacionais diz respeito à proteção e promoção dos direitos da pessoa humana, e
com a Declaração de Universal de 1948 não foi diferente.

A criação das Nações Unidas instaurou o surgimento de uma nova ordem internacional, com propósitos centrais
de manutenção da paz mundial e da segurança internacional, bem como de proteção internacional dos direitos
humanos, entre outros fundamentos.

Por direitos humanos se entendem aqueles direitos inerentes a todo e qualquer ser humano, que visam estabele-
cer um patamar mínimo ético de proteção da dignidade humana.

Diante da conjugação de novas e emergentes preocupações, relacionadas à proteção dos direitos humanos, a
proclamação da Carta das Nações Unidas, no ano de 1945, consolidou, nesse contexto, o movimento de expan-
são internacional dos direitos humanos, a partir do consenso dos Estados membros.

Não obstante a Carta das Nações Unidas determinasse a importância de se promover, defender e respeitar os
direitos humanos e as liberdades fundamentais, introduzindo a universalização dos direitos da pessoa humana,

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não houve em seu texto definição concreta acerca do conteúdo dessas expressões, especialmente do que signifi-
caria “direitos humanos”.

Em razão da fragilidade gerada pela ausência de definição, as próprias Nações Unidas empreenderam esforços
com o nítido escopo de concretizar os conteúdos dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, o que, de
fato, foi positivado com a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948.

Assim, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada em Paris, em 10 de dezembro de 1948, pela
aprovação de 48 dos 56 países representados na sessão, sendo certo que nenhum votou contra, atingindo, desta
forma, a unanimidade. Houve apenas 8 abstenções (África do Sul, Arábia Saudita, Bielo-rússia, Checoslováquia,
Iugoslávia, Polônia, Ucrânia e União Soviética).

Baseada no princípio da dignidade humana, centrando o homem como base de sua normativa, a Declaração Uni-
versal foi gerada como um código de conduta universal a ser seguido pelos Estados, compreendendo um conjunto
de direitos e faculdades sem as quais um ser humano não pode desenvolver sua personalidade física, moral e
intelectual.

Para a Declaração Universal, basta a condição de ser pessoa para que o indivíduo seja titular de direitos, não se
permitindo discriminações. Seu objetivo é delinear uma ordem pública mundial fundada no respeito à dignidade
humana, ao consagrar valores básicos universais, traduzindo a absoluta ruptura com o legado nazista da Segunda
Guerra Mundial, que condicionava a titularidade de direitos à pertinência à determina raça.

Além da universalidade dos direitos humanos, a Declaração Universal de 1948 estabeleceu a indivisibilidade, a
inter-relação e a interdependência de tais direitos, introduzindo uma extraordinária inovação ao conjugar o catálo-
go dos direitos civis e políticos com os dos direitos econômicos, sociais e culturais.

E ainda, à luz da Declaração Universal de 1948, pode-se dizer que os direitos humanos contemporâneos derivam
de três princípios basilares, quais sejam:

1º) o da inviolabilidade da pessoa, que significa que não se podem impor sacrifícios a um indivíduo com a descul-
pa de que tais sacrifícios beneficiarão a terceiros;
2º) o da autonomia da pessoa, pelo qual toda pessoa é livre para realizar qualquer conduta, desde que seus atos
não prejudiquem terceiros;
3º) o da dignidade da pessoa, por meio do qual todos devem ser tratados e julgados de acordo com os seus atos.
Ao conjugar o valor da liberdade com o da igualdade, a Declaração introduz a concepção contemporânea de direi-
tos humanos, concebidos como uma unidade interdependente e indivisível, afastando a equivocada visão da su-
cessão “geracional” dos direitos fundamentais.

Afinal, os direitos fundamentais foram classificados em gerações em sua evolução, conforme se passa a analisar
a seguir.

Os direitos da liberdade estariam agrupados numa primeira categoria, abrangendo os direitos civis e políticos. O
seu titular é o indivíduo e são oponíveis contra o Estado, traduzindo-se como faculdades ou atributos da pessoa
de resistência perante o Estado. Traduzem-se em postulados de abstenção dos governantes, criando obrigações
de não fazer, de não intervir sobre aspectos da vida pessoal de cada indivíduo.

Na segunda categoria estariam os direitos sociais, culturais e econômicos, bem como os direitos coletivos ou de
coletividades. O descaso para com os problemas sociais que foram surgindo com o tempo, associado às pressões
decorrentes da industrialização em marcha, que, conforme já visto, resultou até mesmo no surgimento do Direito
do Trabalho, tornou necessária uma atuação mais ativa por parte do Estado. O ideal absenteísta do Estado liberal
não respondia, satisfatoriamente, às exigências do momento, sendo inevitável a intervenção estatal intensa na
vida da sociedade para assegurar valores essenciais como saúde, educação, trabalho, lazer, assistência social,
etc.

A terceira dimensão corresponde ao direito ao desenvolvimento, ao direito à paz, à livre determinação, explicitan-
do o valor da solidariedade (direitos da fraternidade ou da solidariedade), característico do Estado Democrático e
Social (a partir da segunda metade do século XX), direitos do consumidor, ao meio ambiente equilibrado.

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Hoje em dia fala-se ainda numa quarta dimensão, onde estariam os direitos à democracia, à informação e ao plu-
ralismo e numa quinta dimensão, abrangendo o direito à paz.

O fato é que como uma geração de direitos não substitui a outra, mas com ela interage, melhor falar-se em di-
mensões ou em categorias.

Trata-se, deste modo, da adoção da ideia de cumulação, expansão e fortalecimento dos direitos humanos, com-
plementares em si e em constante interação.

O processo de desenvolvimento dos direitos humanos opera-se em constante cumulação, de forma que os direi-
tos civis e políticos se reduzem a meras normas formais sem a efetividade dos direitos econômicos, sociais e cul-
turais e, do mesmo modo, estes últimos não possuem qualquer significado se carentes da efetividade da liberda-
de, consagrada pelos direitos civis e políticos.

Do mesmo modo, a diferenciação em dimensões, pode assim se apresentar na esfera do Direito do Trabalho:
Direitos de primeira dimensão(nas relações de trabalho) -são todos os direitos civisda pessoa humana afetos ao
ambiente de trabalho. Quando se cogita da indenização por danos morais e estéticos causados ao empregado,
cuida-se, respectivamente, dosdireitos à honrae à imagem, que são direitos humanos de primeira geração. Da
mesma forma, quando o art. 7º, XXII, da CRFB assegura o direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
meio de normas de saúde, higiene e segurança, está protegendo a própriavidado trabalhador.

Direitos de segunda dimensão(nas relações de trabalho) -são basicamente todos os direitos sociais stricto sensu,
previstos no art. 7º da CRFB, que visam a reequilibrara disparidade socioeconômica entre os proprietários dos
meios de produção (empregadores) e os detentores da força de trabalho.

Direitos de terceira dimensão (nas relações de trabalho) – engloba o direito ao meio ambiente do trabalho são e
equilibrado (art. 225, caput, c/c art. 200, VIII, da CRFB). Outros exemplos seriam os direitos e garantias
específicas de idosos, das crianças e dos adolescentes no trabalho (arts. 26 a 28 do Estatuto do Idoso, os arts.
402 a 441 da CLT e os arts. 60 a 69 do ECA), que concernem a interesses difusos e desafiam a legitimidade
processual do Ministério Público.

Direitos de quarta dimensão (nas relações de trabalho) – são mais difíceis de se identificar, podendo ser citadoo
direito das atuais e futuras gerações a que os quadros públicos (cargos, empregos e funções) sejam preenchidos
mediante concursos públicos de provas ou de provas e títulos, de modo isento e plural, preservando a moralidade
e a imparcialidade administrativas.

Saiba mais: Qual o significado de direitos fundamentais específicos e inespecíficos em matéria trabalhista?

BIBLIOGRAFIA

 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 7ª edição. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012.
 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12ª edição. São Paulo: LTr, 2013.
 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2013.
 MENDES, Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 8ª edição. São
Paulo: Saraiva, 2013.
 PIOSEVAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 14ª edição. São Paulo: Saraiva,
2013.
 RODRIGUES PITO, José Augusto. Curso de Direito Individual do Trabalho. Ed. LTr

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