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CASO DA COMPANHIA BARCELONA TRACTION LIGHT AND POWER LTDA

(BÉLGICA v. ESPANHA)
(1962-1970)

(EXCEÇÕES PRELIMINARES)
Sentença de 24 de julho de 1964

O Caso da Companhia Barcelona Traction Light and Power Ltda. (Bélgica v. Espanha) foi instituído
através de uma demanda datada de 19 de junho de 1962, na qual o governo belga solicitou a reparação por
danos causados a seus nacionais, acionistas da Companhia Canadense Barcelona Traction, danos estes
cometidos por vários órgãos do Estado espanhol. O governo espanhol levantou quatro exceções preliminares.

A Corte rejeitou a primeira exceção preliminar por 12 votos a 4 e a segunda por 10 votos a 6. Juntou
a terceira exceção ao mérito por 9 votos a 7 e a quarta por 10 votos a 6.

O Presidente Sir Percy Spender e os juízes Spiropoulos, Korestky e Jessup apensaram declarações à
sentença.

O Vice-Presidente Wellington Koo e os juízes Tanaka e Bustamante y Rivero apensaram opiniões


individuais.

Os juízes Morelli e o juiz ad hoc Armand-Ugon, apensaram opiniões dissidentes.

Primeira exceção preliminar

Em sua sentença, a Corte recordou que a Bélgica, em 23 de setembro de 1958, depositou uma
demanda anterior contra a Espanha em relação aos mesmos fatos, e que a Espanha havia então levantado três
exceções preliminares. Em 23 de março de 1961, a demandante, aproveitando-se do direito que lhe fora
conferido pelo artigo 69, parágrafo 2º do Regulamento, informou à Corte que não iria continuar com o
procedimento. Tendo sido recebida a notificação da demandada, notificação esta que não encontrou nenhuma
objeção, a Corte removeu o caso de sua lista em 10 de abril de 1961. Em sua primeira exceção preliminar, a
demandada contestou que esta desistência impossibilitava a demandante de apresentar o presente
procedimento e enunciou cinco argumentos para sustentar sua tese.

A Corte aceitou o primeiro argumento, segundo o qual a desistência é um ato puramente processual,
cujo significado real deve ser procurado nas circunstâncias do caso específico.

Por outro lado, a Corte foi incapaz de aceitar o segundo argumento principalmente porque uma
desistência deve sempre ser considerada como significando uma renúncia a qualquer direito posterior de ação,
a menos que o direito de intentar um novo processo esteja expressamente previsto. Como a notificação de
desistência da demandante não continha nenhuma motivação e estava claramente limitada ao procedimento
instituído pela primeira demanda, a Corte considerou que o ônus de estabelecer que a desistência visava algo
mais do que o término daquele procedimento e era de responsabilidade da demandada.

A demandada, como terceiro argumento, alegou que houve um entendimento entre as partes.
Recordou que os representantes dos interesses privados belgas envolvidos haviam feito uma aproximação
com vistas à abertura de negociações e que os representantes espanhóis haviam imposto, como condição
prévia, a retirada definitiva da reivindicação. De acordo com a demandada, isto significava que a interrupção
poria um fim a qualquer direito de ação posterior, mas a demandante asseverou que não pretendia nada além
do que o término do procedimento corrente à época. A Corte foi incapaz de encontrar qualquer evidência de
tal entendimento como foi alegado pela demandada. A Corte considerou que o problema havia sido
deliberadamente evitado para que as negociações entre os dois países não fossem abaladas. Considerou ainda
que a demandada não expressou qualquer condição quando indicou que não se oporia à interrupção.
O governo da demandada apresentou então um quarto argumento, tendo o caráter de um pedido de
estoppel, em função da demandante ter, com sua conduta e independentemente da existência de qualquer
entendimento, induzido a demandada a um erro acerca do alcance da desistência; senão, a demandada não
teria consentido com a desistência e, portanto, não teria sofrido prejuízo. A Corte não considerou que o
caráter enganoso das declarações belgas tivessem existido e não constatou o que a demandada perderia
concordando em negociar com base em uma simples desistência do processo. Se não tivesse concordado com
a interrupção, o processo prévio teria simplesmente continuado, apesar das negociações oferecerem uma
possibilidade de solucionar definitivamente a disputa. Além disso, se as negociações não fossem bem
sucedidas e o caso começasse outra vez, seria ainda possível apresentar as exceções preliminares que já
haviam sido apresentadas. Certamente a demandante havia construído sua segunda demanda com o
conhecimento prévio da provável natureza da resposta da demandada e teve isso em consideração mas, se o
processo original continuasse, a demandante poderia, do mesmo modo, modificar suas conclusões.

O argumento final era de uma ordem diferente. A demandada alegou que os procedimentos correntes
eram contrários ao espírito do Tratado Hispano-Belga de Conciliação, Solução Judicial e Arbitragem de 19 de
julho de 1927 que, de acordo com a demandante, conferia competência à Corte. Tendo já cumprido os
estágios preliminares previstos no tratado quando do primeiro processo, o tratado não poderia ser invocado
uma segunda vez para levar à Corte as mesmas queixas. A Corte entendeu que os estágios do tratado não
poderiam ser considerados esgotados enquanto o direito de apresentar um novo processo existisse e enquanto
o caso não tivesse sido julgado.

Por estas razões, a Corte rejeitou a primeira exceção preliminar.

Segunda exceção preliminar

Para estabelecer a competência da Corte, a demandante invocou o efeito combinado do artigo 17 (4)
do Tratado de 1927 entre a Bélgica e a Espanha, de acordo com o qual cada uma das partes poderia levar
qualquer disputa de natureza jurídica à Corte Permanente de Justiça Internacional se os outros métodos de
solução previstos no tratado falhassem, com o artigo 37 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, nos
seguintes termos:

"Quando um tratado ou convenção em vigor dispuser que um assunto seja submetido a uma
jurisdição a ser instituída pela Liga das Nações ou à Corte Permanente de Justiça Internacional, tal assunto, no
que diz respeito às partes neste Estatuto, será submetido à Corte Internacional de Justiça".

A título principal, a demandada sustentou que embora o Tratado de 1927 pudesse ainda estar em
vigor, o artigo 17 (4) havia sido revogado em abril de 1946, com a dissolução da Corte Permanente, à qual
esse artigo se referia. A Corte atual não poderia ter substituído a antiga Corte em virtude desse artigo antes da
dissolução, não sendo a Espanha então parte ao Estatuto. Conseqüentemente, o Tratado de 1927 acabou por
não conter nenhuma cláusula jurisdicional válida até que a Espanha fosse admitida nas Nações Unidas e se
tornasse, ipso facto, parte ao Estatuto (dezembro de 1955). Em outras palavras, o artigo 37 aplicava-se
somente aos Estados que haviam se tornado signatários do Estatuto anteriormente à dissolução da Corte
Permanente, e essa dissolução causou a extinção das cláusulas jurisdicionais que previam recurso à Corte
Permanente, a menos que fossem transformadas pelo artigo 37 em cláusulas que determinassem o reenvio
para a Corte atual.

A Corte entendeu que esta linha de raciocínio havia sido primeiramente apresentada por um
demandado após a decisão dada pela Corte em 26 de maio de 1959 no caso referente ao Incidente Aéreo de 27
de Julho de 1955 (Israel v. Bulgária). Mas esse caso relacionava-se com uma declaração unilateral de
aceitação da jurisdição obrigatória da Corte Permanente, e não com um tratado. Assim, não se referia ao
artigo 37 mas ao artigo 36, parágrafo 5º, do Estatuto.

No que concerne ao artigo 37, a Corte recordou que em 1945 seus redatores pretendiam impedir o
maior número possível de cláusulas jurisdicionais de se tornarem inaplicáveis em razão da proeminente
dissolução da Corte Permanente. Era assim difícil supor que eles tenham deliberadamente visado que o evento
cujas conseqüências esse artigo tinha por finalidade remediar pudesse provocar a anulação das cláusulas
jurisdicionais que desejavam salvaguardar.
Somente três condições estavam realmente indicadas no artigo 37: que deveria haver um tratado em
vigor, que este tratado deveria conter uma cláusula prevendo o envio de uma matéria à Corte Permanente e
que a disputa deveria ocorrer entre Estados signatários do Estatuto. No presente caso, a conclusão deveria ser
a de que o Tratado de 1927, estando em vigor e contendo uma cláusula prevendo o envio à Corte Permanente,
e sendo os Estados em disputa partes no Estatuto, a matéria deveria ser encaminhada para a Corte
Internacional Justiça, que seria o foro competente.

Objetou-se que esta opinião conduzia a uma situação na qual a referida cláusula jurisdicional
tornava-se inoperante e então, após um período de tempo, voltava a ser operante. Foi também questionado se
naquelas circunstâncias a demandada verdadeiramente consentiu com a competência da Corte. A Corte
observou que a noção dos direitos e obrigações suspensos mas não extintos era comum. Estados que
assinaram o Estatuto após a dissolução da Corte Permanente deveriam saber que um dos resultados de sua
admissão seria a reativação de determinadas cláusulas jurisdicionais em razão do artigo 37. A posição
contrária mantida pela demandada criaria discriminação entre Estados conforme assinassem o Estatuto antes
ou depois da dissolução da Corte Permanente.

Considerando particularmente o artigo 17 (4), a Corte entendeu que este era parte integrante do
Tratado de 1927. Seria difícil afirmar que a obrigação fundamental de se submeter à solução judicial prevista
neste tratado dependia exclusivamente da existência de um tribunal designado. Se o tribunal deixasse de
existir, a obrigação tornar-se-ia inoperante, mas continuaria substancialmente a existir e poderia ser tornada
novamente aplicável se um novo tribunal fosse instituído pela operação automática de algum outro
instrumento. O artigo 37 do Estatuto tinha precisamente esse efeito. Desta forma, deveria ser lido no tratado,
ao invés de “Corte Permanente de Justiça Internacional", "Corte Internacional de Justiça".

A título subsidiário, a demandada argumentou que se o artigo 37 do Estatuto operava no sentido de


reativar em dezembro de 1955 o artigo 17 (4) do Tratado, uma nova obrigação seria então criada entre as
partes. Mesmo que a obrigação primitiva só se aplicasse às disputas levantadas após a data do Tratado, a nova
obrigação só poderia se aplicar às disputas levantadas após dezembro de 1955. A disputa não estaria assim
coberta, uma vez que era anterior a dezembro de 1955. Na opinião da Corte, quando a obrigação de se
submeter à solução judicial se tornasse novamente aplicável ela somente poderia decidir com base no tratado
que a previa e continuaria a relacionar-se com quaisquer disputas levantadas após a data do tratado.

Por estas razões, a Corte rejeitou a segunda exceção preliminar tanto a título principal quanto a título
subsidiário.

Terceira e quarta exceções preliminares

A terceira e a quarta exceções preliminares da demandada envolviam a questão de saber se a


demanda era admissível. A demandante submeteu pedidos alternativos para que estas exceções, se não
rejeitadas pela Corte, fossem juntadas ao mérito.

Em sua terceira exceção preliminar, a demandada negou a capacidade legal da demandante para
proteger os interesses belgas em nome dos quais havia submetido sua reivindicação. Os atos reclamados
haviam ocorrido não em relação a qualquer pessoa física ou jurídica belga mas em relação à Companhia
Barcelona Traction, uma entidade jurídica registrada no Canadá. O interesse belga relacionava-se a ações
dessa companhia. A demandada argumentou que o direito internacional não reconhece, no que diz respeito a
danos causado por um Estado a uma companhia estrangeira, qualquer proteção diplomática dos acionistas
exercida por outro Estado que não o da Companhia. A demandante contestou esta opinião.

A Corte considerou que a pergunta do jus standi de um governo para proteger os interesses dos
acionistas levantava uma questão anterior de saber qual era a situação jurídica dos interesses do mercado
acionista, como reconhecida pelo direito internacional. Por conseguinte, a demandante invocou
necessariamente direitos que, a seu ver, lhe foram conferidos através de seus nacionais pelas regras do direito
internacional referentes ao tratamento dos estrangeiros. Daí, o entendimento da Corte de que não haver jus
standi seria essencial para considerar que esses direitos não existiam e que a reivindicação era injustificada
quanto ao mérito.

A terceira exceção possuía certos aspectos que lhe conferiam um caráter preliminar, mas que
envolvia um grande número de questões de fato e de direito misturadas em um grau tal que a Corte não
poderia se pronunciar sobre a mesma de forma segura, no estágio atual, até estar de posse de todos os
elementos que pudessem ser importantes para sua decisão. A análise do mérito colocaria, a Corte, assim, em
uma posição melhor para decidir, tendo um conhecimento completo dos fatos.

As considerações anteriores se aplicavam a fortiori à quarta exceção preliminar, na qual a


demandada alegou que não foram completamente esgotados os recursos internos. Esta alegação estava de fato
intrinsecamente relacionada com as acusações de negação de acesso à justiça que constituíam a parte principal
do mérito do caso.

Por estes motivos, a Corte juntou a terceira e a quarta exceções preliminares ao mérito.
(SEGUNDA FASE)
Sentença de 5 de fevereiro de 1970

Em sua sentença na segunda fase do caso referente à Companhia Barcelona Traction Light and
Power Ltda. (nova demanda de 1962) (Bélgica v.Espanha), a Corte rejeitou a reivindicação da Bélgica por 15
votos a 1.

A reivindicação, apresentada à Corte em 19 de junho de 1962, relacionava-se com o pedido de


falência, na Espanha, da companhia Barcelona Traction, uma companhia constituída no Canadá. A finalidade
do pedido da Bélgica era obter reparação pelos danos sofridos por seus nacionais, acionistas da companhia. O
prejuízo teria advindo como resultado de atos contrários ao direito internacional cometidos em desfavor da
companhia por órgãos do Estado espanhol.

A Corte considerou que faltou à Bélgica jus standi para exercer a proteção diplomática dos acionistas
de uma companhia canadense, no que se refere a medidas contra ela empreendidas na Espanha.

Os juízes Petrén e Onyeama apensaram uma declaração comum à sentença; O juiz Lachs apensou
uma declaração. O Presidente Bustamante y Rivero e os juízes Sir Gerald Fitzmaurice, Tanaka, Jessup,
Morelli, Padilla Nervo, Gros e Ammoun apensaram opiniões individuais.

O juiz ad hoc Riphagen apensou uma opinião dissidente.

Histórico do caso (parágrafos 8 a 24 da sentença)

A Companhia Barcelona Traction foi constituída em 1911 em Toronto (Canadá), onde se encontra a
sua sede. Com a finalidade de criar e de desenvolver um sistema de produção e distribuição de energia elétrica
na Catalunha (Espanha), esta companhia formou várias companhias subsidiárias, cujos escritórios foram
registrados no Canadá e na Espanha. Em 1936, as companhias subsidiárias forneciam a maior parte das
necessidades elétricas da Catalunha. De acordo com o governo belga, alguns anos após a Primeira Guerra
Mundial, o capital financeiro da Barcelona Traction foi adquirido em grande parte por nacionais belgas, mas o
governo espanhol argüiu que a nacionalidade belga dos acionistas não estava provada.

A Barcelona Traction emitiu diversas séries de títulos. A maioria dos títulos foi emitida em Libras
Esterlinas e o seu serviço foi assegurado graças às transferências feitas à Barcelona Traction pelas
companhias subsidiárias operantes na Espanha. Em 1936, as transações dos títulos da Barcelona Traction
foram suspensas em razão da Guerra Civil Espanhola. Após esta guerra, as autoridades espanholas de controle
de câmbio recusaram-se a autorizar a transferência da moeda corrente estrangeira necessária para a reativação
das transações dos títulos em Libras Esterlinas. Posteriormente, quando o governo belga se queixou desta
recusa, o governo espanhol afirmou que as transferências não poderiam ser autorizadas a menos que se
provasse que a moeda corrente estrangeira seria usada para reembolsar os débitos oriundos da importação do
capital estrangeiro na Espanha e que isto não foi feito.

Em 1948, três detentores espanhóis de títulos pagáveis em Libras da Barcelona Traction solicitaram à
Corte de Reus (província de Tarragona) que esta fizesse uma declaração julgando a companhia falida, devido
ao não pagamento dos títulos. Em 12 de fevereiro de 1948, um julgamento declarou a companhia falida,
requisitando a apreensão dos recursos da Barcelona Traction e de duas de suas companhias subsidiárias. Por
esta decisão, os principais gerentes das duas companhias foram demitidos e os diretores espanhóis advertidos.
Pouco depois, estas medidas foram estendidas a duas outras companhias subsidiárias. Novas ações das
companhias subsidiárias foram criadas, sendo vendidas em Assembléia Pública em 1952 a uma companhia
recém-formada, Fuerzas Electricas de Cataluña S.A. (Fecsa), que adquiriu assim o controle completo do
empreendimento na Espanha.

O caso foi levado sem sucesso às Cortes espanholas por várias companhias e pessoas. De acordo com
o governo espanhol, 2.736 decisões foram tomadas no caso, 494 julgamentos proferidos por tribunais
inferiores e mais 37 por tribunais superiores antes do caso chegar à Corte Internacional de Justiça. A Corte
considerou que em 1948 a Barcelona Traction, que não havia recebido qualquer notificação judicial dos
processos de falência, e não estava representada perante a Corte de Reus, não apresentou quaisquer recursos
às Cortes espanholas até 18 de junho e, assim, não se impôs contra a decisão de falência dentro do prazo,
previsto na legislação espanhola, de oito dias contados a partir da data de publicação do julgamento.
Entretanto, o governo belga argüiu que a notificação e a publicação não obedeceram relevantes exigências
legais e, portanto, que o tempo limite de oito dias nunca começara a ser contado.

Representações foram feitas ao governo espanhol pelos governos britânico, canadense, americano e
belga entre 1948 e 1949. O governo canadense, por sua vez, interrompeu sua ação em 1955.

Procedimentos perante a Corte e natureza da demanda (parágrafos 1 a 7 e 26 a 31 da sentença)

O governo belga depositou um primeiro requerimento junto à Corte contra o governo espanhol em
1958. Em 1961, solicitou a interrupção do processo, em razão das negociações entre os representantes dos
interesses privados envolvidos, e o caso foi removido da lista geral da Corte. Tendo as negociações falhado, o
governo belga, em 19 de junho de 1962, submeteu à Corte uma nova demanda. Em 1963, o governo espanhol
levantou quatro exceções preliminares a este memorial. Em sua sentença de 24 de julho de 1964, a Corte
rejeitou a primeira e a segunda exceções e juntou a terceira e a quarta ao mérito.

Nos procedimentos escritos e orais subseqüentes as partes forneceram material e informação


abundantes. A Corte observou que a demora incomum do processo devia-se aos longos prazos requeridos
pelas partes para a preparação de suas alegações escritas e a seus repetidos pedidos para prorrogação dos
prazos estipulados. A Corte não entendeu que deveria recusar aqueles pedidos, mas permaneceu convencida
de que era do interesse da autoridade da justiça internacional que os casos fossem decididos sem atrasos
injustificados.

A demanda submetida à Corte pelo governo belga foi apresentada em nome de pessoas físicas e
jurídicas, nacionais belgas e acionistas da Barcelona Traction, uma companhia constituída no Canadá e ali
sediada. O objeto da demanda era a reparação dos danos alegadamente causados a essas pessoas pela conduta,
contrária ao direito internacional, de vários órgãos do Estado espanhol em desfavor dessa Companhia.

A terceira exceção preliminar do governo espanhol, que havia sido juntada ao mérito, referia-se à
incapacidade do governo belga para submeter qualquer reivindicação relativa aos erros cometidos contra uma
companhia canadense, mesmo sendo os acionistas belgas. A quarta exceção preliminar, que também foi
juntada ao mérito, relacionava-se ao fato de que não haviam sido esgotados recursos internos disponíveis na
Espanha.

O caso submetido à Corte englobou principalmente três Estados: Bélgica, Espanha e Canadá, e deste
modo, foi necessário tratar de uma série de problemas decorrentes deste relacionamento triangular.

Qualidade do governo belga para agir (parágrafos. 32 a 101 do julgamento)

Primeiramente a Corte tratou da terceira exceção preliminar, que havia sido juntada ao mérito, onde
se questionou se seria direito da Bélgica exercer a proteção diplomática dos acionistas belgas numa
companhia constituída no Canadá, uma vez que as medidas reivindicadas não se referiam a qualquer nacional
belga, mas à própria Companhia.

A Corte observou que quando um Estado admite em seu território investimentos ou pessoas
estrangeiras ele deve estender-lhes a proteção da lei e assumir obrigações relativas ao tratamento que lhes é
conferido. Mas tais obrigações não são absolutas. Um Estado não pode apresentar uma reivindicação sobre o
descumprimento de uma dessas obrigações sem antes estabelecer seu direito de fazê-lo.

No campo da proteção diplomática, o direito internacional está em contínua evolução e é chamado a


reconhecer instituições de direito interno. No direito interno, a noção de sociedade anônima funda-se em uma
sólida distinção entre os direitos da Companhia e os direitos do acionista. Somente a Companhia, dotada de
personalidade jurídica, pode atuar em relação a matérias de caráter corporativo. Um erro cometido contra a
companhia causa freqüentemente prejuízo a seus acionistas, mas isso não implica que ambos tenham a
titularidade para reivindicar compensação. Sempre que os interesses de um acionista forem prejudicados por
um ato cometido contra a Companhia, cabe a esta tomar as medidas apropriadas. Um ato infringindo somente
os direitos da Companhia, não implica nenhuma responsabilidade dos acionistas mesmo que seus interesses
sejam afetados. Para que a situação seja diferente, a queixa deve visar os direitos próprios do acionista
enquanto tal (não sendo este o presente caso, uma vez que o governo belga tinha, ele próprio, admitido que
não baseara sua reivindicação numa lesão aos direitos próprios dos acionistas).

O direito internacional tem que se referir àquelas regras geralmente aceitas pelos sistemas de direito
interno. Um dano aos interesses do acionista que resulte de uma lesão aos direitos da Companhia é
insuficiente para constituir uma reivindicação. No caso de haver uma questão que envolva um ato ilegal
cometido contra uma Companhia que representa capital estrangeiro, a regra geral do direito internacional
autoriza apenas o Estado nacional da Companhia a exercer a proteção diplomática buscando a reparação.
Nenhuma regra de direito internacional geral expressamente confere tal direito ao Estado nacional do
acionista.

A Corte considerou se não haveria, no caso, circunstâncias especiais às quais a regra geral não se
aplicasse. Duas situações chamaram a sua atenção: a) a Companhia havia deixado de existir, b) o Estado
nacional da Companhia tinha capacidade para agir. No que diz respeito à primeira eventualidade, a Corte
observou que a Barcelona Traction perdeu todos os seus recursos na Espanha, mas estes foram alocados no
Canadá. Por isso, não se poderia argüir que a Companhia havia deixado de existir ou que havia perdido sua
capacidade para exercer atos corporativos. Quanto à segunda eventualidade, não se questionou que a
Companhia havia sido constituída no Canadá e nem que sua sede estatutária ali se encontrava, e sua
nacionalidade canadense é amplamente reconhecida. O governo canadense exerceu a proteção diplomática da
Barcelona Traction por diversos anos. Se em um momento o governo canadense deixou de agir em nome da
Barcelona Traction, de maneira alguma ele perdia sua qualidade para agir, e o governo espanhol não
questionou este direito de proteção. Quaisquer que fossem as razões para a mudança de atitude do governo
canadense, esse fato não poderia constituir uma justificativa para o exercício da proteção diplomática por um
outro governo.

Sustentou-se que um Estado poderia fazer uma reivindicação quando os investimentos de seus
nacionais no exterior, os quais são parte dos recursos econômicos da nação, forem prejudicialmente afetados
pela violação do direito do próprio Estado a que seus nacionais se beneficiem de um certo tratamento. Mas,
nesse caso, tal direito somente poderia resultar de um tratado ou de um Acordo Especial. Entre Bélgica e
Espanha não havia qualquer instrumento desse tipo em vigor.

Também foi estabelecido que, por razões de eqüidade, um Estado deveria ser capaz, em
determinados casos, de agir para proteção de seus nacionais acionistas em uma companhia vítima de uma
violação do direito internacional. A Corte considerou que a adoção da teoria da proteção diplomática dos
acionistas abriria a porta às reivindicações concorrentes por parte de diferentes Estados, o que poderia criar
uma atmosfera de insegurança nas relações econômicas internacionais. Nas circunstâncias particulares do
presente caso, nas quais somente o Estado nacional da Companhia poderia agir, a Corte entendeu que não
deveria ser conferido ao governo belga o jus standi por questões de eqüidade.

A decisão da Corte (parágrafos 102 e 103 da sentença)

A Corte tomou conhecimento da grande quantidade de documentação e de outras evidências


submetidas pelas partes e apreciou completamente a importância dos problemas jurídicos levantados pela
alegação em que se baseava a reivindicação belga, dentre as quais se incluía o cerceamento de defesa da
Companhia por parte de órgãos do Estado espanhol. Entretanto, a posse pelo governo belga de um direito de
proteção era um pré-requisito para o exame de tais problemas. Uma vez que a qualidade deste governo para
agir perante a Corte não foi demonstrada, não caberia a esta se pronunciar sobre qualquer outro aspecto do
caso.

Dessa forma, a Corte rejeitou a reivindicação do governo belga por 15 votos a 1, sendo 12 dos votos
da maioria baseados nas razões acima elencadas.

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