Sunteți pe pagina 1din 4

10 Demografia Janeiro 2011

Ameaça
futura
Liliana Lavoratti, do Rio de Janeiro

No contexto do acentuado processo de envelhecimento da população brasileira,


especialistas chamam atenção para o que consideram o pano de fundo da “ameaça
demográfica”. Trata-se do encolhimento da população ativa (entre 15 e 59 anos
de idade) em paralelo à ampliação do grupo de idosos (60 anos ou mais).
Em 2050, a população ativa será de 124,5 milhões de pessoas, patamar
semelhante ao atual (123 milhões). O avanço dessa parcela nos últimos 30
anos foi de 2,1% (média anual); será de 1% na próxima década; e cairá para
0,1% ao ano entre 2020 e 2030. Depois encolherá mais ainda. “Na média,
nos próximos 40 anos, a população ativa terá crescimento líquido zero”,
afirma o especialista em finanças públicas e economista do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fabio Giambiagi.

Foto: Creativ Studio Heinemann


Janeiro 2011
Demografia 11

Isso significa que todo o aumento do Produto espaço para expansão da taxa de investimentos
Interno Bruto (PIB) daqui até 2050 terá de vir — apesar de subir neste ano para algo em torno
exclusivamente da produtividade, pois para a ele- de 19% do PIB, ainda é considerada baixa para
vação da renda, não haverá mais alta da renda per sustentar a ampliação de capacidade de produção
capita. “Isso é um desafio e tanto, principalmente das empresas e da economia como um todo sem
levando em conta a deficiência de mão de obra e o pressão inflacionária.
déficit educacional”, afirma o economista. Como Mesmo que a reforma da previdência se mostre
o PIB cresce com a ampliação da renda per capita “desnecessária”, isso não tiraria a importância de
e do número de pessoas, se o total de brasileiros rever as regras que hoje já são “absurdas” e serão
evoluir cada vez menos, no futuro todo o ganho “estapafúrdias” para o perfil do qual o Brasil se
do PIB terá que vir da produtividade. aproxima num futuro não muito distante, passan-
Esse é o pano de fundo da chamada ameaça do de oitava para quinta economia mundial.
demográfica. “Mudança essa para a qual o Brasil Uma dessas regras diz respeito à aposentadoria
precisa se preparar adequadamente”, ressalta das mulheres, que na média
Giambiagi, um dos autores do livro Demografia, se retiram do trabalho aos
a ameaça invisível (Editora Campus), escrito com 51 anos, quando a expecta- A taxa de
Paulo Tafner. tiva de vida (55 a 60 anos)
Em paralelo a esse processo, sobe a impor- tende a ultrapassar os 80 crescimento
tância relativa dos brasileiros com 60 anos ou anos dentro de algum tem-
mais, em relação ao total da população. Hoje po, sublinha Giambiagi.
dos idosos,
em 10%, esse indicador saltará para 30%, em Outro disparate, segundo nos últimos
2050, conforme as projeções oficiais do Institu- o especialista, seria o país
to Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). passar entre 2010 e 2050 cinco anos
A taxa de crescimento dos idosos, nos últimos sem fazer uma nova reforma
cinco anos ao redor de 3,5% ao ano, caminha da previdência e, ainda por ao redor
para 4% nos próximos 10 a 15 anos. “Esse dado cima, o governo manter
de 3,5%
é especialmente importante quando se pensa no a política de reajustes pra-
longo prazo”, observa Giambiagi. ticada nos últimos anos, ao ano,
de concessão de aumento
substancial a dois de cada caminha
Visões distintas
O debate em torno das consequências das trans-
três aposentados. Como dois
terços dos benefícios previ-
para 4% nos
formações na estrutura etária provoca visões denciários pagos pelo Ins- próximos 10
distintas. Para uma vertente, o país não precisa tituto Nacional do Seguro
fazer nada nesse campo, porque o crescimento Social (INSS) são indexados a 15 anos
econômico esperado se encarregará de resolver ao valor do salário mínimo,
todos os efeitos negativos decorrentes dessas os sucessivos aumentos reais concedidos ao míni-
mudanças. Giambiagi faz parte daqueles que têm mo nos governos Fernando Henrique Cardoso e
outro entendimento sobre o tema: “Embora um Lula foram repassados automaticamente a esses
progresso do PIB ao redor de 4,5% ao ano seja beneficiários.
razoável e ajude na solução de vários problemas, A conta é simples: o peso das aposentadorias e
essa taxa de crescimento está longe de ser uma pensões com valor equiparado ao salário mínimo
garantia, especialmente num horizonte de tempo corresponde hoje a 40% do total dos gastos do
mais dilatado”. INSS. “Se o mínimo cresce 5%, isso resulta em
Na avaliação do economista, aprofundar a re- crescimento real de 2% da folha de benefícios
forma da previdência estimularia o dinamismo da previdenciários. Se a isso adicionarmos mais
economia, pela possibilidade de colocar um freio 4% de reajuste aos demais aposentados e pen-
na evolução das despesas correntes do governo sionistas, teremos 6% de aumento de gastos do
federal (com aposentadorias e pensões), abrindo INSS”, calcula.
12 Demografia Janeiro 2011

Governo Dilma
Com a força peculiar de um governo que está co- alteração na legislação vigente deve contemplar um
meçando, mais a ampla base de apoio da situação esquema de transição pra quem está na ativa.
no Congresso Nacional, a presidente Dilma Rous- Para os aposentados, a remuneração é in-
seff (PT) poderá aprovar o que quiser, na avaliação tocável, pois “existem direitos adquiridos que
de Giambiagi. A composição política na Câmara e devem ser respeitados”. O segundo grupo (jovens
no Senado é a mais favorável desde os anos 1980, e crianças) é o que resiste menos porque nessa
prevê. “O novo governo dá a largada com uma fase da vida as pessoas não se preocupam com
base de apoio parlamentar inédita. Desde a Consti- o assunto. Já no terceiro agrupamento, formado
tuição de 1988 não houve um único presidente da por aqueles que estão no caminho — trabalham
República que começou seu e vão em direção da aposentadoria —, entre 40
governo com tanto apoio e 50 anos de idade, está o cerne do problema
Aprofundar parlamentar”, diz. político. “É um grupo heterogêneo, vai do garoto
Isso, porém, também que começou a trabalhar no mês passado até o
a reforma da depende das escolhas po- senhor de 60 que está prestes a se aposentar”,
previdência líticas do mandato 2011- exemplifica Giambiagi.
2014. O mais urgente nes- No livro Demografia, a ameaça invisível, ele
estimularia se debate é tentar dar a e Paulo Tafner defendem uma regra de transição
dimensão do que está em “que trate desigualmente os desiguais”. Ou seja,
o dinamismo jogo, segundo o economis- tratamento diferenciado entre os estágios de quem
da economia, ta do BNDES. “A palavra acaba de começar a vida profissional e quem está
urgência não é adequada prestes a se aposentar. “O discurso de alguns
freando a porque dá a entender que, políticos, de que toda reforma só poderá afetar
se nada for feito, teremos os que vierem a entrar no mercado de trabalho,
evolução consequências catastrófi- embute um conceito absurdo: quem trabalhou
das despesas cas no curto prazo. Não
há nada indicando isso no
apenas um dia adquiriu os mesmos direitos de
quem trabalhou durante 30 anos. Do ponto de
correntes momento”, comenta. vista econômico, isso não faz o menor sentido”,
A defesa de mudanças argumenta o economista.
do governo na Previdência Social está De acordo com a proposta, para os novos seria
associada à ideia da neces- mantido o princípio de aposentadoria por tempo
sidade de um pacto entre gerações. “Se a nossa de contribuição — não mais 35 e sim 40 anos
geração continuar se aposentando aos 51 anos de (homens); e 39 e não mais 30 para as mulheres.
idade, no caso de quem tem tempo de contribui- Nessa nova configuração, haveria uma quase
ção, e daqui a 20 anos o desempenho da economia igualdade de regras.
for menor, vamos deixar para nossos filhos uma Essas alterações seriam acompanhadas de
conta muito pesada”, acrescenta Giambiagi. uma regra de transição, pela qual quem já está
no mercado de trabalho teria de alcançar tempo
de contribuição tão mais próximo da nova regra
Três grupos quanto mais jovem; e tão mais próximo da regra
Trata-se, no fundo, de promover a modificação atual quanto mais perto de se aposentar. “Se al-
dos parâmetros de aposentadoria para um ajuste guém tem um ano apenas de contribuição, teria que
suave ao longo do tempo, defende o especialista: trabalhar quase 40 anos para se aposentar, no caso
“Não diria que isso é urgente, mas no mínimo dos homens. Não chegaria aos 40, mas quase. Em
recomendável”. E, partindo da concepção de que compensação, se tivesse 31 anos de contribuição,
a sociedade se divide em três grandes grupos — ele teria que trabalhar um pouco mais de quatro
aposentados, os jovens e crianças, e quem está no anos a mais, somando 35 anos e alguns meses de
meio do caminho de se aposentar —, a proposta de contribuição”, esclarece o especialista.
Janeiro 2011
Demografia 13

2050

2030
29,8%

2010 18,7%

1980 10,0%
População com 60 anos e mais (%) 1940 6,1%
4,1%
Fonte: IBGE. Em 1940, Censo Populacional. De 1980 a 2050, projeção populacional (Revisão 2008).

Por considerar ser essa uma saída “justa e to- morre. A viúva herda a pensão correspondente
talmente defensável, inclusive por parte da presi- a 100% do benefício durante toda a vida. Ou
dente Dilma”, Giambiagi acredita que a mudança seja, o idoso contribuiu 35 anos e se aposentou
também poderia ser compreendida pela maior por tempo de contribuição, o Estado pagou
parte da população. Segundo ele, é preciso mos- aposentadoria a ele por cerca de 20 anos e pen-
trar as tendências demográficas “inequívocas” e são para a viúva por mais uns 60 anos. “Tem
quais as regras vigentes no resto do mundo. “E alguma coisa errada na legislação e a conta não
sinalizar que o ajuste será suave e gradual para vai fechar. É um caso grotesco que dá uma ideia
afastar o temor de que reforma da previdência de como o país tem sido inepto no tratamento
significa um belo dia mudar radicalmente. Nin- da questão”, comenta.
guém propõe isso”, afirma. Também é preciso O economista concorda com o princípio da
vencer resistências ideológicas e a aversão dos existência da pensão — associada à ideia de
sindicatos, com pouco fundamento nos números solidariedade —, mas afirma que não há razões
da realidade, diz o especialista. para o benefício ser igual ao original. “Uma regra
para futuros benefícios poderia ser reduzir pela
metade o benefício original, mais 25% por filho
Reformas insuficientes menor até dois filhos”, explica.
As duas reformas previdenciárias — nos governos Também propõe a extensão do tempo de
Fernando Henrique e Lula – foram insuficientes, contribuição para quem se aposenta por idade.
na opinião de Giambiagi. Na primeira, foi intro- A elevação gradual vem sendo feita a partir de
duzido o fator previdenciário, mas o problema é 1991 — era de apenas cinco anos — e vai cessar
que na prática as pessoas continuam se aposen- em 2011. Desde 1991, a cada ano a exigência de
tando cedo com perda relevante em relação ao tempo contributivo aumenta seis meses por ano:
valor médio das contribuições. Ao mesmo tempo, foi de cinco anos e seis meses em 1992, de seis
o governo tem de gastar com aposentadorias pre- anos, em 1993, e assim sucessivamente, até com-
coces em comparação com padrões universais. pletar 15 anos em 2011. Para que essa progressão
A última reforma afetou somente as regras seja mantida, basta aprovar uma lei no Congresso
para os servidores públicos, introduzindo a ta- e não uma reforma constitucional, que é sempre
xação dos inativos e idade mínima. Mas ainda mais difícil de votar.
falta regulamentar os fundos de pensão para os “Essa regra de extensão de mais seis meses por
funcionários públicos, proposta esta parada no ano para quem se aposenta por idade é aceita
no Congresso Nacional. pela sociedade brasileira e existiu nos últimos
Para Giambiagi, seria necessário também 20 anos. Não há razão para não se propor uma
discutir outras questões. Uma delas é a regra extensão da regra por mais 20 anos, ou seja, até
das pensões, “a mais generosa do mundo”. Pela 2031, passando o número de anos de contribuição
legislação atual, um senhor de 80 anos, com exigido de quem se aposenta por idade de 15 para
problemas de saúde e abandonado pelos filhos, 25 anos. As circunstâncias demográficas daqui a
contrata um cuidador, geralmente do sexo fe- 20 anos serão muito diferentes das atuais e quem
minino, com cerca de 25 anos de idade. Depois se aposentar por idade em 2031 teria de alcançar
de um tempo, o idoso se apega a essa pessoa e 25 anos de contribuição. Soa inteiramente defen-
casa com ela. Depois de um mês de casado, ele sável”, argumenta.

S-ar putea să vă placă și