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Gestão Pedagógica
Especialização em
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
Gestão Pedagógica
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado,
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
Política, Planejamento e
mento das regiões do Ceará.
Gestão Educacional
1ª edição
Fortaleza - Ceará
2015
Apresentação...................................................................................................... 5
Parte 1 – Política educacional no Brasil: a escola como foco
da ação de intervenção do Estado.................................................................. 7
Capítulo 1 – A política educacional como uma ação de intervenção
do Estado............................................................................................................. 9
1. O sentido da educação...................................................................................... 9
2. Breve panorama histórico da educação no Brasil ........................................ 11
Capítulo 2 – A escola como foco de política educacional.........................21
1. A política educacional como expressão da política social............................21
2. A relação escola-estado-sociedade: primeiras ..............................................24
aproximações.......................................................................................................24
Parte 2 – Neoliberalismo, Reforma do Estado e educação.......................31
Capítulo 3 – Neoliberalismo: apontamentos históricos e
primeiras aproximações..................................................................................33
1. Crises capitalistas: encontro com os limites históricos
ou soluções econômicas?...................................................................................34
2. A resposta neoliberal à crise capitalista..........................................................39
Capítulo 4 – Reforma do Estado e Educação..............................................45
1. A Reforma do Estado como subproduto da crise estrutural..........................46
2. A educação como uma variável econômica..................................................49
Parte 3 – Gestão democrática: princípios e mecanismos.........................57
Capítulo 5 – A gestão democrática como articulação possível
entre sistema de ensino e sociedade............................................................59
1. Concepções de gestão....................................................................................60
2. Elementos constitutivos da Gestão Democrática..........................................62
Capítulo 6 – Planejamento como intencionalidade humana
e suas manifestações conceituais................................................................69
1. O planejamento como intencionalidade da ação humana............................70
2. Modos de condução do planejamento na educação....................................71
Dados do Autor.................................................................................................78
Apresentação
A disciplina Política, Planejamento e Gestão Educacional se constitui um com-
ponente curricular do Curso de Especialização em Gestão Pedagógica da
Escola Básica. Sua finalidade concorre para o estudo e aprofundamento de
questões relevantes do complexo educacional, especialmente as que se coa-
dunam com a relação escola-estado-sociedade.
No decorrer deste livro teremos a oportunidade de compreender os
aspectos mais essenciais da Política, do Planejamento e da Gestão Educa-
cionais mediados por uma atitude reflexiva diante de três unidades: Política
Educacional o Brasil: a escola como foco da ação de intervenção do Estado;
Neoliberalismo, reforma do estado e educação; Gestão Democrática: princí-
pios e mecanismos.
Na primeira unidade trataremos da especificidade da ação educativa
escolarizada em sua articulação permanente com os outros modos de educa-
ção existentes, e de como o Estado Brasileiro se empenha, ao longo da his-
tória, na oferta de um serviço educacional de qualidade. Buscaremos, ainda,
compreender em que medida a escola tem se constituído o lócus da política
estatal para a educação, sempre situada no contexto das políticas sociais.
A segunda unidade possibilita compreender o surgimento de crises ao
longo do desenvolvimento histórico do capitalismo, localizando as explicações
e soluções econômicas ao referido processo. Nesse contexto, situamos histo-
ricamente os principais elementos da doutrina neoliberal como uma das saídas
apresentadas, em um contexto de Reforma do Estado. Por fim, esta unidade
trará algumas reflexões que indicam, na visão dos organismos financeiros in-
ternacionais e a educação como estratégica variável econômica. As metas
assumidas pelo Estado Brasileiro na Conferência Mundial de Educação para
Todos revelam sua inserção nesse quadro de reordenamento da educação.
A terceira e última unidade deste livro trata de dois pontos centrais em
toda a reflexão aqui anunciada, a gestão democrática e o planejamento edu-
cacional. Pretende-se inicialmente, compreender a natureza e especificidade
da educação diante das novas exigências sociais apresentadas à escola do
século XXI, identificando as principais concepções de gestão presentes na
prática pedagógica e escolar. Em seguida, tentaremos perceber os elementos
constitutivos da gestão democrática e sua força pedagógica no combate aos
determinismos sociais. Por fim, a análise se dará em torno das diferentes ma-
nifestações da atividade de planejamento no âmbito da educação, atentando
para a identificação das principais orientações filosófico-políticas do planeja-
mento da atividade educativa.
Esperamos que as referências apresentadas neste livro, articuladas à for-
mação de cada um possam alimentar o estudo aqui anunciado e ajudá-los a
pensar na relação educação e sociedade, pano de fundo para nossas questões.
O autor
Capítulo
Parte 1
Política educacional no Brasil:
a escola como foco da ação
de intervenção do Estado
Capítulo 1
A política educacional
como uma ação
de intervenção do Estado
Objetivos
l Refletir acerca da especificidade da ação educativa escolarizada.
l Reconhecer os processos de rupturas que caracterizam a oferta de educa-
ção por parte do Estado no Brasil.
Introdução
Neste capítulo, referente à caracterização da política educacional como cam-
po de ação do Estado, pretende-se indicar elementos importantes à própria
compreensão do termo educação e de como, ao longo da história, o Estado
vem conferindo certo grau de importância à oferta desse serviço. A descrição
de um breve panorama histórico da educação no Brasil deverá revelar os di-
versos momentos de rupturas, continuidade e descontinuidade das decisões
do Poder Público em relação à educação. Nesse sentido, veremos como a
evolução ocorrida no campo da legislação constitui-se testemunho histórico 1
O termo polissemia vem do
do aqui se anuncia. grego: poli - "muitos"; sema
- "significados". Utiliza-se
quando um vocábulo possui
1. O sentido da educação mais de um significado. Um
exemplo prático de vocábulo
A polissemia1 do termo educação exige, antes de qualquer incursão sobre os polissêmico é ‘LETRA’,
fenômenos referentes à sua constituição e funcionamento, uma exposição, que pode apresentar três
significados: (1) um dos sinais
ainda que abreviada, acerca do sentido que aqui se toma. gráficos do alfabeto; (2) o
Brandão (1995) faz uma análise dos diversos momentos da história da texto de uma canção; (3) um
educação no Brasil e encerra o texto com a ideia de que: título de crédito.
10
ALMEIDA, E. R.
2
Os jesuítas exerceram o fato de que o primeiro documento de política educacional que vigorou no
forte influência em nossa Brasil foram os “Regimentos” de D. João III.
educação, sobre a
sociedade, especialmente O referido documento teve como objetivo principal apresentar orienta-
na burguesia, que foi ções às ações do primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza, que
formada em suas escolas. aqui chegou em 1549. Vale salientar, ao lado do governador enviado pela co-
Eles introduziram, no
período colonial, uma
roa chegaram os primeiros padres e irmãos jesuítas2, chefiados por Manuel
concepção de educação da Nóbrega (SAVIANI, 2008).
que contribuiu para o Nesse sentido:
fortalecimento das estruturas
de poder hierarquizadas
e de privilégios para um A vinda dos jesuítas, em 1549, proporcionava assim a expansão da Fé e do
pequeno grupo. Incutiram a Império, reunindo mercadores e evangelizadores sob a mesma empresa,
ideia de exploração de uma
tal como Antônio Vieira irá se referir posteriormente na obra História do Fu-
classe sobre a outra e a
escravidão, como caminho turo. Com sua política de instrução – uma escola, uma igreja – edificaram
normal e necessário para templos e colégios nas mais diversas regiões da colônia, constituindo um
o desenvolvimento. Enfim, sistema de educação e expandindo sua pedagogia através do uso do teatro,
a educação tinha o papel da música e das danças, “multiplicando seus recursos para atingir à inteli-
de ajudar a perpetuar as gência das crianças e encontrar-lhes o caminho do coração” (AZEVEDO,
desigualdades sociais e de
apud CANCILIER, 2011).
classe (QUEIROZ e MOITA,
2007).
Fundamentos sócio- O início de qualquer iniciativa com vistas à organização escolar no Bra-
filosóficos da educação/ sil foi marcado, portanto, pela ação privada e religiosa da catequese jesuítica,
Cecília Telma Alves Pontes
na qual o Estado depositava os interesses do colonizador. Ou seja, as pri-
de Queiroz, Filomena Maria
Gonçalves da Silva Cordeiro meiras iniciativas de ação do Estado no campo da política educacional estão
Moita.– Campina Grande; organicamente atreladas à proposta colonizadora de Portugal. Nesse sentido,
Natal: UEPB/UFRN, 2007. a manutenção dos colégios jesuíticos no Brasil passou a contar, a partir da
Em: http://www.ead.uepb.
segunda metade do século XVI, com financiamento direto do Estado visto que
edu.br/ava/ arquivos/cursos/
geografia/fundamentos_ “Em 1564, a Coroa portuguesa adotou o plano da redízima, pelo qual dez por
socio_filosoficos_da_ cento de todos os impostos arrecadados da colônia brasileira passaram a ser
educacao/Fasciculo_05.pdf destinados à manutenção dos colégios” (SAVIANI, 2008). Nesse sentido, se
por um lado se costuma apontar o ensino jesuítico como público, visto que se
deu sob o financiamento de recursos públicos, vale ressaltar que:
4
Continuação.
Tratava-se de adaptar a
educação a diretrizes que,
notadamente a partir daí se Saiba Mais
definiam tanto no campo
político quanto no educacional História da Crise de 29: contexto histórico
(SHIROMA, 2000, p, 18) Durante a Primeira Guerra Mundial, a economia norte-americana estava em pleno
desenvolvimento. As indústrias dos EUA produziam e exportavam em grandes quanti-
dades, principalmente, para os países europeus. Após a guerra o quadro não mudou,
pois os países europeus estavam voltados para a reconstrução das indústrias e cidades,
necessitando manter suas importações, principalmente dos EUA. A situação começou
a mudar no final da década de 1920. Reconstruídas, as nações europeias diminuíram
drasticamente a importação de produtos industrializados e agrícolas dos Estados Unidos.
Com a diminuição das exportações para a Europa, as indústrias norte-americanas come-
çaram a aumentar os estoques de produtos, pois já não conseguiam mais vender como
antes. Grande parte destas empresas possuíam ações na Bolsa de Valores de Nova York
e milhões de norte-americanos tinham investimentos nestas ações.
Em outubro de 1929, percebendo a desvalorizando das ações de muitas empresas,
houve uma correria de investidores que pretendiam vender suas ações. O efeito foi
devastador, pois as ações se desvalorizaram fortemente em poucos dias. Pessoas muito
ricas, passaram da noite para o dia, para a classe pobre. O número de falências de em-
presas foi enorme e o desemprego atingiu quase 30% dos trabalhadores. A crise, tam-
bém conhecida como “A Grande Depressão”, foi a maior de toda a história dos Estados
Unidos. Como nesta época, diversos países do mundo mantinham relações comerciais
com os EUA, a crise acabou se espalhando por quase todos os continentes.
A crise de 1929 afetou também o Brasil. Os Estados Unidos eram o maior comprador
do café brasileiro. Com a crise, a importação deste produto diminuiu muito e os preços
do café brasileiro caíram. Para que não houvesse uma desvalorização excessiva, o go-
verno brasileiro comprou e queimou toneladas de café. Desta forma, diminuiu a oferta,
conseguindo manter o preço do principal produto brasileiro da época. Por outro lado,
este fato trouxe algo positivo para a economia brasileira. Com a crise do café, muitos ca-
feicultores começaram a investir no setor industrial, alavancando a indústria brasileira.
A solução para a crise surgiu apenas no ano de 1933. No governo de Franklin Delano
Roosevelt, foi colocado em prática o plano conhecido como New Deal. De acordo com
o plano econômico, o governo norte-americano passou a controlar os preços e a pro-
dução das indústrias e das fazendas. Com isto, o governo conseguiu controlar a inflação
e evitar a formação de estoques. Fez parte do plano também o grande investimento
em obras públicas (estradas, aeroportos, ferrovias, energia elétrica etc), conseguindo
diminuir significativamente o desemprego. O programa foi tão bem sucedido que no
começo da década de 1940 a economia norte-americana já estava funcionando normal-
mente. (Em: http://www.suapesquisa.com/pesquisa/crise_1929.htm)
Saiba Mais
A Era Vargas
A Era Vargas é o período da história do Brasil entre 1930 e 1945, quando o país estava
sob a liderança de Getúlio Dornelles Vargas e que compreende a Segunda e a Terceira
República (Estado Novo) Essa época foi um divisor de águas na história brasileira, por
causa das inúmeras alterações que Vargas fez no país, tanto sociais quanto econômicas.
Em 1937, Getúlio dá um golpe de Estado e implantação uma ditadura, também co-
nhecida como Estado Novo, que vigeu até 1945. Jornais foram censurados e obriga-
dos a defender a ditadura.
Mais sobre História do Brasil
Na dúvida?
•• O que foi a revolução constitucionalista de 1932?
•• Ainda existe a carta que Getúlio Vargas deixou ao se suicidar?
Não houve nenhum tipo de entrave, por parte dos movimentos populares, à ins-
talação do novo regime. Isso se deve, em parte, à total desarticulação da sociedade já
nos anos anteriores do governo Vargas, quando um regime ditatorial e corporativista
se instalava no Brasil. Para coibir a ampla mobilização popular que ocorreu nos anos
1930, culminando com a Revolta Comunista de novembro de 1935, o Congresso Na-
cional decretou o estado de sítio e o governo pôde reprimir todas as manifestações
consideradas subversivas: jornais e revistas foram fechados ou censurados, greves e
paralisações foram proibidas, centenas de pessoas foram presas e militantes foram
expulsos dos sindicatos.
A polícia foi o agente principal dessa repressão e o estado de sítio vigorou até
1945. O governo Vargas também investiu em propaganda e os meios de comunica-
ção foram coagidos a defender o regime. A legislação trabalhista foi responsável pela
transformação dos sindicatos autônomos em órgãos atrelados ao governo, já que, de
acordo com ela, somente teriam direito aos benefícios sociais os trabalhadores cujos
5
Consistiu de uma série de
sindicatos fossem oficiais. Por fim, há que se considerar o impacto na opinião pública acordos produzidos, nos
da apresentação do Plano Cohen, um documento supostamente elaborado por co- anos 1960, entre o Ministério
munistas e que daria ensejo a uma nova insurreição. da Educação brasileiro
Para o governo, ele foi a prova de que, mesmo com todos os esforços repressivos, o pe- (MEC) e a United States
rigo comunista continuava vivo - anos mais tarde, descobriu-se que o documento era falso. Agency for International
Fonte: Revista Online Nova Escola - http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica- Development (USAID).
pedagogica/como-populacao-brasileira-reagiu-implantacao-ditadura-getulio-var- Visavam estabelecer
gas-1937-602494.shtml convênios de assistência
técnica e cooperação
financeira à educação
Entretanto, uma nova ruptura rumo ao retrocesso educacional5, se desenha brasileira. Os MEC-USAID
com a legislação do regime militar, condensada na Constituição de 1967 e Emenda inseriam-se num contexto
histórico fortemente marcado
de 1969. Há um completo desastre na oferta educacional brasileira nesse período gra-
pelo tecnicismo educacional
ças, principalmente, à exclusão da vinculação orçamentária e, consequentemente, à da teoria do capital humano,
redução no orçamento “de 9,6% em 1965, para 4,31% em 1975”. A Lei 5692/1971, isto é, pela concepção de
que reformou os ensinos de 1º e 2º graus, instituiu, na esteira desse processo, a real educação como pressuposto
do desenvolvimento
educação para o trabalho.
econômico.
18
ALMEIDA, E. R.
6
As politicas educacionais O movimento democrático do Brasil nas décadas de 1980 e 1990 apresenta-se
concebidas nas últimas com muitas mudanças, especialmente no que tange à legislação vinculada à educa-
décadas do século XX e em
ção expressa pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei 9394/19962 6.
desenvolvimento nesse início
doséculo XXI devem ser
compreendidas no âmbito das
As mudanças na legislação brasileira coincidem com transformações am-
transformações econômicas,
plas, decorrentes do processo de reordenamento mundial mais conhecido
geopolíticas culturais em
curso no mundo capitalista como globalização7, a partir do qual se intensificaram as demandas por edu-
contemporâneo. As reformas cação. A situação ocorre simultaneamente ao processo de redemocratiza-
educativas implementadas ção do país, quando crescem as reinvindicações participativas, por parte de
atualmente, na maioria dos diversos atores sociais. Tais circunstâncias geram pressões, por formas de
países da América Latina,
operacionalização mais abertas e eficazes, de política e de gestão educa-
são decorrentes, portanto, do
cional (VIEIRA, 2008, p. 35).
processo de reestruturação
pelo qual passa o capitalismo
mundial sob a égide dos
princípios do neoliberalismo
(NETO, 2007, p. 13)
Síntese do capítulo
7
A globalização é um Neste primeiro capítulo pudemos caracterizar a partir das contribuições de
dos processos de
Carlos Rodrigues Brandão, em seu clássico livro O que é educação, os diver-
aprofundamento internacional
da integração econômica, sos tipos ou formas que constitui o sentido da educação. Vimos que, mesmo
social, cultural, política, que articulada às formas não escolarizadas, a educação formal se estrutura sobre
teria sido impulsionado pelo parâmetros definidos pelo Estado. Ao final do capítulo, foi possível perceber
barateamento dos meios de
como, ao longo da história, o Poder Público brasileiro vem imprimindo suas
transporte e comunicação
dos países no final do século políticas no sentido de equacionar a oferta educacional com a demanda social.
XX e início do século XXI.
O termo globalização tem
estado em uso crescente
desde meados da década
de 1980 e, especialmente, a Atividades de avaliação
partir de meados da década
de 1990. Em 2000, o Fundo 1. Conforme leitura comente o conceito de Dermeval Saviani a respeito de
Monetário Internacional (FMI)
identificou quatro aspectos
Política educacional.
básicos da globalização: 2. Com base no texto “O avesso do consenso” estabeleça uma relação entre
comércio e transações a iniciativa privada e o papel do Estado.
financeiras, movimentos de
capital e de investimento,
migração e movimento de O avesso do consenso
pessoas e a disseminação de
Apesar do empenho dos governos em construir consensos, não há como ocultar o
conhecimento. Além disso, os
descontentamento da maioria dos educadores em torno dessa politica, tanto em re-
desafios ambientais, como a
lação aos objetivos anunciados- e aos velados -, quanto às estratégias e à forma com
mudança climática, poluição
que vem sendo implementada.
do ar e excesso de pesca
O terreno da crítica à politica educacional brasileira dessa década é pantanoso.
do oceano estão ligadas à
Uma das razões, já discutidas, encontra-se na apropriação mutiladora de demandas
globalização.
Política e Planejamento Educacional 19
do projeto tecido na década de 1980, que lhe conferiu uma inicial legitimidade. To- 7
Fonte: Wikipedia, 2014
davia, seu caráter movediço deve-se também ao fato de que a retórica do governo http://pt.wikipedia.org/
encerra estreita semelhança em sua estrutura, com os discursos elaborados por téc- wiki/Globaliza%C3%A7
nicos de organismos multilaterais, empresários, intelectuais, entre outros. Ao longo %C3%A3o
da década de 1990, esses segmentos articularam e propuseram princípios para a re-
forma educacional que, somados à apropriação referida, favorecem um sentimento
de familiaridade ao projeto governista. Resguardados esses condicionantes, é impor-
tante verificar como foi construído o arcabouço de sua sustentação politica.
O ponto de partida dos propositores da politica assenta-se sobre o diagnóstico
da crise. Constroem um cenário obscuro com as estatísticas de fracasso escolar e de
analfabetismo funcional e comparam-nas com dados internacionais para concluir que
o deteriorado quando educacional brasileiro deve-se não à falta de recursos, mas à
ineficiência em sua gestão. Por meio de um discurso prescritivo justificam a necessi-
dade de mudanças em função da centralidade da educação e do conhecimento para
a realização, em nosso território, da chamada sociedade da informação. Destacando
o gap tecnológico que separa o Brasil dos países desenvolvidos, lançam mão da noção
de atraso para sugerir a necessidade de modificações que coloquem o país em linha
com o estado da tecnologia em voga (SHIROMA, 2000, p, 111).
Saiba Mais
Leituras
MOURA, Laercio Dias de. A Educação Católica no Brasil. São Paulo: Edito-
ra Loyola. SP, 2000.
A maioria das pessoas não conhece as atividades da Igreja em prol da educa-
ção no Brasil. O livro defende a importância da educação integral e de qualida-
de e no direito que a Igreja Católica tem de atuar, com toda a liberdade e apoio
do Estado, no campo da educação, domínio fundamental para o trabalho de
evangelização e de promoção da liberdade e da dignidade da pessoa humana.
VIDAL, Diana Gonçalves e HILSDORF, Maria Lúcia Spedo. Tópicas em História
da Educação. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001.
Os ensaios aqui reunidos são atravessados pela crítica de uma visão unitária
e evolucionista da história, abordando a escolarização sob diferentes matizes.
Além das organizadoras do volume, autores como Maria Lúcia Pallares-Burke,
João Adolfo Hansen e Andréa Daher, entre outros, examinam experiências
educacionais diversas, abrangendo um largo período de tempo: a cultura es-
colar jesuítica no Brasil Colônia e suas estratégias retóricas, o ensino nas pro-
víncias de São Paulo e Minas Gerais durante o século XIX e inícios do século
XX, a socialização da criança pela escola, o histórico da chamada instrução
20
ALMEIDA, E. R.
Sites
Linha do tempo da História da Educação no Brasil – Vídeo. Duração: 10m
e 33s. Ano: 2011
Vídeo aprensentado em seminário sobre História da Educação. Conta a historia
da educação no Brasil atraves de uma linha de tempo, contudo, é importante
estar atento às informações para analisá-las e reconstruí-las ao final do vídeo.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VoTX8_pPrQE
A Breve historia da educação no Brasil – Vídeo. Duração: 04m e 55s. Ano: 2010
Resumo: Apresenta de forma breve como se formou a educação no Brasil
indicando pontos relevantes para uma discussão a seguir.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1Br8cV_e6bY
Referências
BRANDÃO. Carlos R. O que é educação, 33ª Ed. Brasiliense. São Paulo, 1995.
Cancilier, João A. A interferência do regime militar e religiosa no processo Pe-
dagógico do grupo escolar Elpidio Barbosa. UNOESC. Santa Catarina, 2011.
CERVI, Rejane de Medeiros. Padrão estrutural do sistema de ensino no
Brasil. Curitiba: Editora IBPEX., 2005.
LIBANEO, José. C.; OLIVEIRA, João F. de. TOSCHI, Mirza S. Educação
escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2007.
NETO, Antonio Cabral & Rodriguez Jorge. Pontos e contrapontos da polí-
tica educacional: uma leitura contextualizada de iniciativas governamentais.
Brasília: Liber Livro, 2007.
RIBEIRO, M. L. Ribeiro. História da educação brasileira. Campinas, SP: Au-
tores Associados, 2003.
SAVIANI, Dermeval. Política educacional brasileira: limites e perspectivas. Re-
vista de Educação PUC-Campinas, Campinas, n. 24, p. 7-16, junho 2008.
SHIROMA, Eneida Oto. A reforma como política educacional dos anos 1990.
In: SHIROMA, Eneida Oto; MORAIS, Maria Célia M de; EVANGELISTA, Olin-
da. Política educacional. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
Capítulo 2
A escola como foco de
política educacional
Objetivos
l Compreender a escola como foco de política educacional, sempre situada
no bojo das políticas sociais.
l Compreender a relação educação-estado-sociedade, nos últimos anos do
século XX e início do século XXI, no Brasil.
Introdução
O presente capítulo pretende situar a política educacional no bojo das políti-
cas sociais, visto que a escola enquanto bem público se articula permanen-
temente com as demandas econômicas e sociais. Será possível perceber de
que modo a LDB 9394/1996, ratificando os termos da Constituição de 1988,
abre um espaço de relativa autonomia à escola no que concerne à definição
e operacionalização de sua proposta pedagógica.
Saiba Mais
A sociedade do conehcimento
A ‘Sociedade do Conhecimento’ é compreendida como aquela na qual o conheci-
mento é o principal fator estratégico de riqueza e poder, tanto para as organizações
quanto para os países. Nesta sociedade, a inovação tecnológica ou novo conhecimento,
passa a ser um fator importante para a produtividade e para o desenvolvimento eco-
nômico dos países.
A ‘Sociedade de Conhecimento’ surge posterior à sociedade industrial moderna,
na qual as matérias-primas e o capital eram considerados como o principal
fator de produção. Esta nova sociedade é impulsionada também por contínuas
mudanças, algumas tecnológicas como a internet e outras econômico-sociais
como a globalização.
Os termos Sociedade da Informação’ e ‘Sociedade do Conhecimento’ são por vezes
usados com o mesmo significado. Mas ‘Sociedade de informação’ pode ter uma defini-
ção que não envolve a vertente econômica pelo menos se abordada dum ponto de vista
apenas formal: “uma sociedade integrada por complexas redes de comunicação que ra-
pidamente desenvolvem e trocam informação”. Neste sentido, a ‘Sociedade do Conhe-
cimento’ seria o motor econômico de uma determinada comunidade ou comunidades
e a ‘Sociedade da Informação’ o veículo que potencializa a partilha dessa informação.
Fonte: http://www.portais.ws/?page= art_det&ida=657
Síntese do capítulo
Neste capítulo, buscamos compreender em que medida a escola se constitui
foco da política educacional e ainda como o espaço de autonomia destinado
à escola revela a predominância dos princípios de gestão democrática adota-
dos pelo Estado brasileiro. Em um primeiro momento, apresentamos os ele-
mentos básicos da interdependência entre política educacional e política so-
cial e, em seguida, tratamos da relação escola-estado-sociedade pelo prisma
da autonomia. Verificou-se que o processo de descentralização na tomada de
decisões referentes à gestão configura uma tentativa de delegar à escola, ins-
tituição responsável diretamente pela prestação dos serviços educacionais, a
execução de tarefas que antes pertenciam integralmente ao Estado.
Atividades de avaliação
1. Considerando o texto de Libâneo “A educação escolar no contexto das
transformações da sociedade contemporânea” estabeleça uma relação en-
tre a escola e o contexto das transformações da sociedade contemporânea
e aponte os impactos destas transformações para a estrutura e funciona-
mento da escola.
2. De acordo com as leituras feitas neste capítulo, em que sentido podemos afir-
mar que a escola é o ponto de partida e de chegada da política educacional?
Leituras
GENTILI, P. A & SILVA, T. T da (org). (1996). Neoliberalismo, qualidade to-
tal e educação: Visões Críticas. 4. Ed. Petrópolis, Vozes. Analisa a retomada
neoliberal na sociedade, e, de modo particular, na educação. O objetivo é
identificar e tornar visível o processo pelo qual o discurso neoliberal produz
e cria uma realidade que acaba por tornar impossível pensar e nomear outra
realidade. Os educadores precisam se posicionar diante do atual contexto.
OLIVEIRA, Dalila Andrade. Reformas educacionais na América Latina e os
trabalhadores docentes. Autêntica, 2013.
Este livro é resultado de um seminário organizado em Belo Horizonte, em
2002, sobre as reformas educacionais na América Latina e suas repercus-
sões sobre os trabalhadores, mas também consequência de um movimento
maior que foi tomando corpo em torno desse tema nos últimos anos. Um mo-
vimento que fez surgir em fins de 1999 – e durante a primeira reunião do GT
“Educação, Trabalho e Exclusão Social”, do Conselho Latino-Americano de
Ciências Sociais – CLACSO, realizada na cidade do Rio de Janeiro.
Sites
www.fundescola.org.br
Resumo: Fundo de Fortalecimento da Escola (FUNDESCOLA) é um progra-
ma oriundo de um acordo de financiamento entre o Banco Mundial (BM) e o
MEC, desenvolvido em parceria com as secretarias estaduais e municipais
de Educação dos estados envolvidos. A missão do programa é o desenvolvi-
mento da gestão escolar, com vistas à melhoria da qualidade das escolas do
ensino fundamental e à permanência das crianças nas escolas públicas, nas
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (Oliveira, Fonseca e Toschi, 2005).
Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 90, p. 127-147, Jan./Abr. 2005. Disponível
em <http://www.cedes.unicamp.br>
Política e Planejamento Educacional 29
www.edutabrasil/inep.gov.br
Resumo: O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação
(MEC), cuja missão é promover estudos, pesquisas e avaliações sobre o Sis-
tema Educacional Brasileiro com o objetivo de subsidiar a formulação e imple-
mentação de políticas públicas para a área educacional a partir de parâmetros
de qualidade e eqüidade, bem como produzir informações claras e confiáveis
aos gestores, pesquisadores, educadores e público em geral.
Fonte: http://portal.inep.gov.br/conheca-o-inep
www.cenpec.org.br
Resumo: O Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária (CENPEC) é uma organização da sociedade civil, sem fins lu-
crativos, criada em 1987. Tem como objetivo o desenvolvimento de ações
voltadas à melhoria da qualidade da educação pública e à participação no
aprimoramento da política social. As ações do Cenpec têm como foco a esco-
la pública, os espaços educativos de caráter público e as políticas e iniciativas
destinadas ao enfrentamento das desigualdades.
Fonte: http://www.cenpec.org.br/quemsomos
Referências
ABICALIL, Carlos Augusto. A educação no contexto atual: reflexões sobre o
ensino de primeiro e segundo grau. Educação em Revista, Revista do Sinte-
go, Goiânia, 1996.
ASSMANN, Hugo. Pedagogia da qualidade em debate. Educação e Socie-
dade. Campinas, n° 46, p. 476-502.
BIZERRA, M. da Conceição. A política educacional: do gabinete ao chão da
escola. R. Paran. Desenv. N. 97. Curitiba, 1999.
30
ALMEIDA, E. R.
Introdução 9
O neoliberalismo é um
produto do liberalismo
Neste capítulo da segunda unidade pretendemos apresentar alguns aponta- econômico neoclássico.
mentos históricos que indicam o contexto de surgimento do neoliberalismo9, a O termo foi cunhado em
partir das crises capitalistas. Se no curso de desenvolvimento do capitalismo 1938 no encontro do
o surgimento de crises é recorrente, ocorrem em proporção direta explicações Colloque Walter Lippmann
pelo sociólogo alemão
e possíveis soluções econômicas às referidas crises. É nesse contexto que e economista Alexander
o neoliberalismo se apresenta como uma doutrina econômica capaz de atuar Rüstow. Fonte: http://
nos diversos setores da sociedade, inclusive na educação. pt.wikipedia.org/wiki/
Neoliberalismo
34
ALMEIDA, E. R.
Saiba Mais
Neoliberalismo de mercado
É a denominação de uma corrente doutrinária do liberalismo que se opõe ao social-
-liberalismo e/ou novo liberalismo (modelo econômico Keynesiano) e retoma algu-
mas das posições do liberalismo clássico e do liberalismo conservador, preconizando
a minimização do Estado, a economia com plena liberação das forças de mercado e a
liberdade de iniciativa econômica.
O termo neoliberalismo surgiu nas décadas de 1930/1940, no contexto da reces-
são iniciada com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, e da segunda Guerra Mun-
dial (1939 - 1945). Reapareceu como programa de governo em meados da década de
1970, na Inglaterra (governo Thatcher), e no inicio da década de 1980, nos Estados
Unidos (governo Reagan). Seu ressurgimento deveu-se à crise do modelo econômico
Keynesiano de Estado de bem-estar social ou Estado de serviços. Tal modelo tornara-
-se hegemônico a partir do término da Segunda Guerra Mundial, defendendo a in-
tervenção do Estado na economia com a finalidade de gerar democracia, soberania,
pleno emprego, justiça social, igualdade de oportunidade e a construção de uma ética
comunitária solidária.
Desde os governos de Thatcher e Reagan, as ideias e propostas do neoliberalismo de
mercado passaram a influenciar a politica econômica mundial, em razão, sobretudo, de
sua adoção e imposição pelos organismos financeiros internacionais, como o FMI e o Bird.
As principais características do neoliberalismo da segunda metade do século XX são:
• Desregulamentação estatal e privatização de bens e serviços
• Abertura externa
• Liberação de preços
• Prevalência da iniciativa privada
• Redução das despesas e do déficit públicos
• Flexibilização das relações trabalhistas e desformalização e informalização nos mer-
cados de trabalho
• Corte de gastos sociais, eliminando programa e reduzindo benefícios
• Supressão dos direitos sociais
• Programa de descentralização com incentivo aos processos de privatização
• Cobrança dos serviços públicos e remercantilização dos benefícios sociais
• Arrocho salarial/queda do salário real.
Saiba Mais
Reformas e reformas
A Reforma Protestante foi apenas uma das inúmeras reformas religiosas ocorridas após
a Idade Média e que tinham como base, além do cunho religioso, a insatisfação com as
atitudes da Igreja Católica e seu distanciamento com relação aos princípios primordiais.
Durante a Idade Média a Igreja Católica se tornou muito mais poderosa, interferin-
do nas decisões políticas e juntando altas somas em dinheiro e terras apoiada pelo
sistema feudalista. Desta forma, ela se distanciava de seus ensinamentos e caía em
contradição, chegando mesmo a vender indulgências (o que seria o motivo direto da
contestação de Martinho Lutero, que deflagrou a Reforma Protestante propriamente
dita), ou seja, a Igreja pregava que qualquer cristão poderia comprar o perdão por
seus pecados.
Outros fatores que contribuíram para a ocorrência das Reformas foi o fato de que
a Igreja condenava abertamente a acumulação de capitais (embora ela mesma o fi-
zesse). Logo, a burguesia ascendente necessitava de uma religião que a redimisse dos
pecados da acumulação de dinheiro.
Junto a isso havia o fato de que o sistema feudal estava agora dando lugar às Mo-
narquias nacionais que começam a despertar na população o sentimento de pertenci-
mento e colocam a Nação e o rei acima dos poderes da Igreja. Desta forma, Martinho
Lutero, monge agostiniano da região da saxônia, deflagrou a Reforma Protestante ao
discordar publicamente da prática de venda de indulgências pelo Papa Leão X.
A Revolução Gloriosa é o nome dado pelo movimento ocorrido na Inglaterra en-
tre 1688 e 1689 no qual o rei Jaime II foi destituído do trono britânico. Chamada por
vezes de “Revolução sem sangue”, pela forma deveras pacífica com que ocorreu, ela
36
ALMEIDA, E. R.
imperativos comerciais do mercado, visto que o ato de compra e venda das Antigo Regime, os grupos
sociais estavam divididos
mercadorias requeria certa igualdade entre compradores e vendedores. em três estamentos: clero,
Essa igualdade, porém, não se tratava de um tipo social, mas meramen- nobreza e terceiro estado.
te jurídica entre os indivíduos. Através desse processo, todos passariam à Cada estamento tinha um
condição de cidadãos que, mesmo em diferentes situações econômicas, se estatuto jurídico próprio,
que assegurava direitos
igualariam perante a lei.
e obrigações a seus
Outro elemento que não possui a menor importância para a efetivação componentes.
do ato comercial é a própria convicção religiosa dos indivíduos. Se, no feuda-
lismo, a exclusividade de credo fazia parte da própria base de estruturação
social, a burguesia, com o desenvolvimento do capitalismo, levanta a bandeira
da tolerância como um fator não só de realização, mas, principalmente de
expansão comercial. A capacidade econômica dos indivíduos suplantaria sua
condição de judeu, cristão, ateu...
Da mesma forma, a liberdade surge como uma condição à realização do
mercado comercial. Nessa perspectiva, os homens precisam estar livres para
realização de negócios, e a luta contra a escravidão foi a manifestação histó-
rica do desejo de uma sociedade que passava a necessitar de homens livres
e com salários. A propriedade privada surge, então, como uma consequência
direta dessa liberdade, pois garante ao proprietário de bens e capitais o direito
de, legalmente, dispor e usar livremente do que lhe pertence. De um modo ge-
ral, os valores ora proclamados corroboram com as aspirações da famosa fra-
se popular gritada nas ruas pelos revolucionários franceses de 1789 (“Liberda-
de, Igualdade, Fraternidade”), mas que foi desfrutada apenas pela burguesia.
De um modo geral, todo esse processo inicial de expansão da produ-
ção capitalista parecia ser uma superação definitiva dos limites e restrições
objetivas existentes nos modos de produção anteriores para a acumulação
e consequentemente o aumento do lucro. Essa forma de sociabilidade inau-
gura na história um período fantástico de valorização do próprio capital, em
que “a riqueza aparece como uma imensa coleção de mercadorias”, das
quais se despreza sua relação de satisfação com as necessidades huma-
nas como objetivo final e sua produção, passa a ser determinada pela pos-
sibilidade ou não de lucro.
...no sistema capitalista, as mercadorias não são produzidas para uso, mas
para troca – com lucro. Em nossa sociedade os minérios são extraídos da
terra, as plantações são colhidas, os homens encontram trabalho, as rodas
da indústria se movimentam e as mercadorias são compradas e vendidas,
somente quando os donos dos meios de produção – a classe capitalista –
vêem uma oportunidade de lucro (...) no sistema capitalista a produção só
ocorre quando promete lucro. (HUBERMAN, 1986, p. 236-237).
38
ALMEIDA, E. R.
Síntese do capítulo
O capítulo apresenta o surgimento do capitalismo na história humana como uma
sociabilidade capaz de por fim à era das necessidades. Ao longo do processo
histórico, esse sistema, que promoveu uma reviravolta na forma de o homem se
relacionar com a natureza e com os outros homens, ao contrário, de tempos em
tempos deixa de cumprir sua promessa de lucro sem limite e passa por um perí-
odo de crise, onde se depara com um de seus limites objetivos que é o da super-
produção. Na tentativa de emitir respostas aos processos de crise, muitas doutri-
nas econômicas com maior ou menor repercussão acabam ocupando, por algum
tempo, o centro dos debates e encaminhamentos políticos. O neoliberalismo se
estrutura, na esteira desse processo, sobre a disciplina fiscal, reforma de estado,
privatização, abertura comercial e desregulamentação dos direitos trabalhistas.
Atividades de avaliação
1. Leia o texto abaixo e estabeleça uma relação entre o papel da iniciativa
privada e o papel do Estado neoliberal no que diz respeito à escola.
Leituras
BLOCH, Marc. A Sociedade Feudal. Título original: La societé Féodal. Editions
Albin Michel, Paris Tradução de Emanuel Lourenço Godinho Revisão de Edições
70. Reservados os direitos para todos os países de Língua Portuguesa. Digita-
lizado e Formatado Por: Uther Pendragon & Dayse Duarte. SP: 1982. Disponivel
em: http://portalconservador.com/ livros/Marc-Bloch-A-Sociedade-Feudal.pdf
Esta obra de referência obrigatória é um clássico para quem queira conhecer
a essência da sociedade feudal, como ela funcionou e evoluiu. Aborda o pe-
ríodo que vai de meados do séc. IX até as primeira décadas do século XIII,
num quadro geográfico que abrange a Europa ocidental e central. O autor
apresenta o meio e as condições de vida, os laços de sangue, a vassalidade
e o feudo, as classes, a dependência das classes inferiores, o governo dos
homens e a feudaliadde como tipo social. Ao mesmo tempo avalia o papel da
Igreja, da realeza, da força burguesa, da cidade, da comuna.
NASCIMENTO, Maria Isabel Moura (org). Instituições escolares no Brasil.
Campinas: Autores Associados, 2007.
Sites
Portal do Estudante. Blog destinado aos alunos do ensino médio, professo-
res e a todos que desejam compartilhar informações e aprendizado. Encon-
tram-se disponibilizadas vídeo-aulas grátis.
Disponível em: http://portaldoestudante.wordpress.com/
Diferença entre Liberalismo e Neoliberalismo – video. Duração: 14m e 17s.
Ano: 2013
44
ALMEIDA, E. R.
Referências
ANTUNES, R. Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a nega-
ção do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2003.
BELL, Daniel. O Advento da Sociedade Pós-Industrial. Ed. Cultrix. São Paulo, 1973.
BOURDIEU, Pierre. Contrafogos: Táticas para enfrentar a invasão neoliberal.
Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
FRIGOTTO, Gaudênio. Educação e a crise do capitalismo real. São Paulo:
Cortez, 1995.
HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: LCT,
1986. 21ª ed.
MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. (Primeiro manuscrito).
Lisboa: Edições 70, LDA, 1993.
____________ O Capital. Volume I – Livro Primeiro. São Paulo: Nova Cultu-
ral, 1996.
REZK, Antônio. A Revolução Tecnológica e os Novos Paradigmas da So-
ciedade. IPSO. Belo Horizonte, 1994.
SCHAFF, Adam. A Sociedade Informática. Ed. Brasiliense. São Paulo, 1990.
SANTOS, Marlene S. O. Educação e Poder Local. Cuiabá: Entrelinhas, 1997.
Toffler, Alvin. A Terceira Onda. 22ª edição. Ed. Record. Rio de Janeiro, 1997.
Capítulo 4
Reforma do Estado
e Educação
Objetivos
l Compreender em que medida as ações propostas pelo Banco Mundial ca-
15
As reformas educacionais
levadas a efeito em diversos
racterizam a educação como estratégica variável econômica. países da Europa e da
l Explicitar as principais metas assumidas pelo Estado Brasileiro na Conferên- América nas décadas de
cia Mundial de Educação para Todos. 1980 e 1990 apresentam
pontos em comum, tais como
a gestão da educação, o
As políticas têm sido centradas muito mais em reformas externas do que no financiamento, o currículo,
a avaliação e a formação
provimento daquelas condições imprescindíveis à atuação nas escolas e
e profissionalização dos
salas de aula. Esse distanciamento das questões mais concretas da sala de
professores. Formação
aula e do trabalho direto dos professores é um forte indício de desatenção, e profissionalização dos
do desapreço, com os aspectos pedagógico-didáticos por onde, efetiva- professores. Análises
mente, seriam asseguradas as condições de qualidade de ensino, já que é mais pontuais mostram
na ponta do sistema de ensino, nas escolas e nas salas de aula, que as coi- características peculiares
que, historicamente,
sas efetivamente acontecem, é lá que sabemos o que os alunos aprendem,
marcaram as políticas
como aprendem e o que fazem com o que aprendem (José Carlos Libâneo)
da educação básica e
da educação superior no
Introdução Brasil, tais como a questão
da centralização e da
O presente capítulo pretende expor o conteúdo geral da Reforma do Estado descentralização. As relações
entre o público e o privado,
brasileiro, marcada por uma série de amplas reformas institucionais iniciadas entre a quantidade e a
ao final dos anos de 1980. Este processo se deu, segundo a hipótese aqui qualidade. No contexto atual,
levantada, pela necessidade de adequação do Estado brasileiro às condições isso pode ser observado nos
do novo padrão de acumulação capitalista. Do mesmo modo, pretende-se inúmeros deslocamentos
de prioridades, resultantes
aqui, situar a relevância do complexo educacional15 no referido processo, visto de nova forma de pensar
que passa a ser tratada como área estratégica da nova economia mundial, a sociedade, o Estado e
capitaneada pelos organismos financeiros internacionais, especialmente o a gestão da educação
Banco Mundial. (GRACINDO, 1997).
46
ALMEIDA, E. R.
... a escola é vista como empresa que monta e organiza insumos educa-
cionais e produz recursos humanos com um certo nível de aprendizado.
Pretende-se que o faça, como qualquer empresa submetida à concorrên-
cia, ao menor custo possível. Para definir políticas, o modelo sugere realizar
um estudo empírico dos “insumos escolares” e de seus custos, relacionan-
do suas variações às do nível de aprendizagem alcançado (CORAGGIO,
2009, p. 107).
devem pagar pelo que recebem, não serão gerados comportamentos con-
siderados perversos do ponto de vista do mercado (como o fato de confiar
em que o Estado redistribuirá recursos para garantir a todos a defesa dos
direitos sociais estabelecidos na Constituição política de cada país).
3. O Banco sabe que é conveniente que os estabelecimentos educacionais
sejam avaliados por seus resultados em termos do aprendizado dos alunos,
e por sua eficiência em termos de custo por diplomado. O Banco também
sabe que, para incentivar as inovações e a eficiência, deverão ser introdu-
zidos mecanismos de concorrência por recursos públicos que reproduzam
a concorrência no mercado por recursos privados.
4. Se nos deslocarmos ao estabelecimento escolar e, no seu interior, para as
salas de aula, o Banco também sabe que algumas regras devem ser aplica-
das em todos os lugares: um tempo maior de dedicação dos professores ao
ensino, maior oferta de livros didáticos, maior concentração naquelas maté-
rias que fornecem as habilidades consideradas básicas para o aprendizado
futuro e, talvez, para as necessidades do desenvolvimento nacional: língua,
ciências (associadas à resolução de problemas), matemática.
5. O Banco sabe que para aumentar a eficiência interna é preciso cobrir den-
tro do próprio sistema escolar certos déficits que afetam o aprendizado:
educação pré-escolar, programas de saúde e nutrição dirigidos à “fome de
curto prazo” (“curto prazo” parece significar “durante o período das aulas”
e portanto se recomenda, para o turno matutino, oferecer café da manhã,
mas não almoço).
6. O Banco sabe que é preciso capacitar o corpo docente, mas mediante
programas paliativos em serviço (se possível, a distância), porque não é
eficiente investir mais na sua formação prévia. Sabe também que, reduzir
a menos de 40-50 o número de alunos por professor ou aumentar o salário
dos professores não contribui de forma eficiente para a melhoria do apren-
dizado (Banco Mundial, 1995, apud CORAGGIO, 2009).
Semelhante ao que ocorreu em outros países da América Latina, o do-
cumento que orienta toda a Reforma da Educação Básica no Brasil é resulta-
do da Conferência Mundial sobre Educação para Todos ocorrida em 1990, em
Jomtien, na Tailândia. A referida Conferência, que contou com a participação
de mais de 150 países, lançou um novo paradigma quanto ao tratamento das
questões educacionais no mundo inteiro, sob a regência da Organização das
Nações Unidas (ONU), através de alguns de seus principais organismos, den-
tre os quais se destaca o Banco Mundial. Tratou-se da Declaração mundial
sobre educação para todos e do Plano de ação para satisfazer as necessida-
des básicas de aprendizagens.
Política e Planejamento Educacional 51
Síntese do capítulo
Neste capítulo, expomos o conteúdo geral da Reforma do Estado brasilei-
ro, situando-a historicamente na esteira do processo de reestruturação eco-
nômica. Vimos em que medida, o Brasil, nesse contexto de reforma, adotou
estratégias no sentido de efetivar a implementação dos compromissos as-
sumidos na Conferência Mundial de Educação para Todos e reafirmados no
Plano Decenal de Educação para Todos e, de certo modo, no conjunto de leis
educacionais edificado a partir de 1990. Vale destacar, alguns dos prismas
educacionais da reforma brasileira: Erradicar o analfabetismo; Universalizar a
educação fundamental; Eliminar a evasão e a repetência escolar; Descentra-
lização administrativa e financeira; Priorizar a educação fundamental; Dividir a
responsabilidade entre Estado e sociedade, através de parcerias com empre-
sas, comunidade e municipalização do ensino fundamental; Avaliação de de-
sempenho do(a) professor(a) e institucional; Desenvolver o ensino à distância
e reestruturar a carreira docente;
Atividades de avaliação
2. Comente os seis aspectos da aprendizagem básica relacionadas ao “tra-
balhador flexível” como parte das orientações do Banco Mundial para a
educação brasileira.
Leituras
BOURDIEU, Pierre. Contrafogos: Táticas para enfrentar a invasão neolibe-
ral. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. O so-
ciólogo Pierre Bourdieu reuniu neste livro artigos, discursos e entrevistas que
retratam de suas ideias e propostas. O autor investe aqui contra o mercado
livre, a ditadura da mídia, o FMI, além de responder a críticos e a desafetos.
Seja discursando a favor de grevistas ou esclarecendo sua postura diante da
dominação dos meios de comunicação, Bourdieu mostra aqui a indignação
de seu pensamento.
FRIGOTTO, Gaudênio. Educação e a crise do capitalismo real. São Paulo:
Cortez, 1995. Este livro, de alguma forma, é a continuação mais eloquente de
‘A Produtividade da Escola Improdutiva’, texto que ainda hoje é de consulta
obrigatória para aqueles que desenvolvem pesquisas na área de Educação e
Trabalho. Ajuda-nos a pensar que é possível renascer das cinzas, que é pos-
sível e necessário lutar por um mundo mais justo e igualitário. Simplesmente
porque a história ainda não terminou.
Sites
www.presidencia.gov.br/legislação
O portal da Legislação do Governo Federal dar acesso a: Constituição, Leis
Ordinárias, Leis Complementares, Códigos, Estatutos, Medidas Provisórias,
Decretos, Decretos não numerados, Decretos-Leis, Leis Delegadas, Mensa-
gens de veto total, PEC - Propostas de Emenda à Constituição, Projetos de
Lei, Pareceres da AGU e muito mais no que se refere a tema Legislação.
www.histedbr.fae.unicamp.br
Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil”
Faculdade de Educação da Unicamp define-se pelo amplo campo de inves-
tigação no qual a temática da educação é trabalhada desde a História, com
os métodos e teorias próprios e característicos dessa área do conhecimento.
A denominação “História, Sociedade e Educação” se vincula a um entendi-
mento que remete ao historiador – aquele que exercita a História com seus
Política e Planejamento Educacional 55
Referências
ANTUNES, R. Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a nega-
ção do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2003.
CORAGGIO, J. Luis. Propostas do Banco Mundial para a educação: senti-
do oculto ou problemas de concepção? In.___TOMMASI, L. de.; WARDE,
M. JORGE.; HADDAD, S. (organizadores). O banco Mundial e as políticas
educacionais. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2009.
DOURADO, L. F.; CATANI, A. M.; OLIVEIRA, J. F. de. Transformações recen-
tes e debates atuais no campo da educação superior no Brasil. In: ________
(org.) Política e gestão da educação superior: transformações recentes e
debates atuais. São Paulo: Xamã. 2003.
FERNANDES NETO, E. O fracasso dos planos neoliberais na educação bra-
sileira. In: COSTA, A.; FERNANDES NETO.; SOUZA, G. A proletarização do
professor: neoliberalismo na educação. Editora Instituto José Luís e Rosa
Sundermann. São Paulo, 2009.
FRIGOTTO, G. Educação e a Crise do Capitalismo Real. São Paulo: Cortez
Editora, 1996.
LEHER, R. Da Ideologia do Desenvolvimento à Ideologia da Globalização: A
Educação como estratégia do Banco Mundial para o “Alívio” da Pobreza. Tese
de Doutorado. USP. São Paulo, 1998.
56
ALMEIDA, E. R.
Introdução
Neste capítulo pretende-se clarificar, diante do novo capitalismo, a natureza
e especificidade da educação que perde seu caráter de transmissão de co-
nhecimento para, agora desenvolver a capacidade de produzi-los e utilizá-los.
Apresentamos, ainda que de forma panorâmica, as concepções de gestão de
maior repercussão no cenário educacional brasileiro e, por fim, apontamos
para a Gestão Democrática como o caminho possível de consecução das
novas demandas socialmente apresentadas à escola.
60
ALMEIDA, E. R.
1. Concepções de gestão
Para Libâneo (2008) a gestão deve ser entendida como ação de mobilização
dos meios e procedimentos com vistas à consecução dos objetivos educacio-
nais. Há, nesse sentido, várias concepções e modalidades de gestão, a saber:
centralizada, colegiada, participativa, co-gestão. Para o autor, as modalidades
de gestão derivam, necessariamente, de concepções anteriores acerca das fi-
nalidades sociais e políticas da educação em sua articulação com a sociedade.
Note-se que em seu Inciso VI, o referido artigo define a gestão demo-
crática como um valor público, e aponta ao mesmo tempo para a legislação
específica, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (n° 9394/1996).
A LDB, por seu turno, reafirma a gestão democrática como princípio do ensino
público (“Gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da legis-
lação dos sistemas de ensino”. Art. 3º, Inciso VIII).
Nos inícios dos anos oitentas do século XX, a ditadura militar começou a dar
os primeiros sinais de seu esgotamento e o relativo relaxamento da censura
e da repressão abriu espaço para as primeiras manifestações mais explíci-
tas da resistência democrática. Em 1985, o país completou seu «processo
de redemocratização» e, no bojo da mobilização mais geral, desenvolveu-
-se, quase que imediatamente, um amplo movimento social voltado para a
formulação da segunda LDB da História da Educação Brasileira. Na atmos-
fera democrática de resgate das estruturas institucionais da nação, no con-
texto da Assembleia Nacional Constituinte, toda a comunidade educacional
brasileira participou das discussões sobre o projeto da nova LDB, durante
quatro anos, em debates e consultas que foram organizados por todo o país.
Foi um longo processo, mas o entusiasmo era geral, porque, pela primeira
vez na história do país, os educadores deixavam de ser meros executores
e passavam a ser sujeitos da formulação de políticas em sua própria área.
Finalmente, depois de muitos encontros, conferências e eventos congêne-
res, a sociedade brasileira chegou a um projeto de lei que, apesar de suas
contradições, refletia as ideias e projeções que ela sonhara (p. 111).
Entretanto, a lei, por si mesma não resolve a questão das mudanças de-
mocráticas na organização escolar. Torna-se, portanto, imprescindível a
participação dos envolvidos no processo educacional, por meio da efetiva-
ção de canais de participação na tomada de decisões e na execução das
propostas encaminhadas para atender às necessidades da escola, assegu-
rando-se, assim, a autonomia didático-pedagógico-administrativa (RAMOS,
2003, p. 23).
gestão escolar, restrita, em parte, à área de atuação das escolas deve estabe-
lecer uma relação dialética de múltiplas interferências.
Adotar a perspectiva democrática como prisma fundamental da ação
educativa em sentido macro ou micro, requer, para Cury (1997), assumir a
postura do diálogo e do pensamento coletivo. Trata-se de um processo de
extensão da cidadania em geral a uma espécie de cidadania educacional.
Ainda conforme o autor, há três elementos constitutivos da operacionalização
da gestão democrática, a saber: criação de conselhos deliberativos, eleição
para diretores e construção coletiva do projeto político-pedagógico.
Cunha (apud Silva, 2009) adverte que:
19
Os quatro pilares da sociais. Estas tendências estão provocando impactos muito significativos
Educação são conceitos de na sociedade, bastante afastados dos prognósticos otimistas de inícios da
fundamento da educação década dos anos 90 (TEDESCEO, 2012, p. 13).
baseados no Relatório para
a UNESCO da Comissão
Internacional sobre Para Tedesco a dificuldade não está no sentido de transforma a educa-
Educação para o Século XXI, ção desde o ponto de vista de seus modelos de organização e gestão, mas
coordenada por Jacques está no fato dos novos modelos de gestão educacional não terem a força de
Delors.
No relatório editado sob a
romperem com o determinismo social, que se manifesta nos processos de ex-
forma do livro: "Educação: clusão social, concentração de renda, etc. Esta situação coloca a dimensão
Um Tesouro a Descobrir"de internacional, a globalização com todas as suas características em pauta no
1999 e reeditado pela Editora que se refere à política educacional.
Cortez (tendo parte da 7ª
edição, de 2012, servindo Partindo da hipótese segundo a qual as economias e as sociedades in-
como base para uma das tensivas em conhecimentos e produtoras de ideias são mais injustas, Tedesco
modificações deste tema aponta para a necessidade de se atentar para os dois grandes objetivos da
), a discussão dos "quatro
pilares" ocupa todo o quarto
educação definidos pelos organismos internacionais: aprender a viver juntos e
capítulo, onde se propõe aprender a aprender19. Estes dois objetivos nos ajudam a pensar na educação
uma educação direcionada numa perspectiva internacional.
para os quatro tipos
fundamentais de educação:
aprender a conhecer Diante do novo capitalismo a solidariedade que se exige hoje no que se re-
(adquirir instrumentos de da fere ao objetivo do aprender a viver juntos, passa pela solidariedade vista
compreensão), aprender a numa perspectiva reflexiva, consciente que deve ser assumida em graus
fazer (para poder agir sobre
muito mais altos de voluntarismo do que no passado. Para o autor, diante do
o meio envolvente), aprender
a viver juntos (cooperação contexto do individualismo antissocial e do contexto do fundamentalismo au-
com os outros em todas toritário, o aprender a viver juntos é um objetivo de aprendizagem, um objetivo
as atividades humana), e da política educacional. Nesta perspectiva o trabalho pedagógico, o trabalho
finalmente aprender a ser do professor é fundamental, sendo a escola o ambiente onde se aprender o
(conceito principal que integra respeito ao diferente, a resolução de conflitos através do diálogo e do acordo.
todos os anteriores). Estas
A função da escola seria cobrir os déficits de experiências de socialização da
quatro vias do saber, na
verdade, constituem apenas sociedade: “A escola pode e deve responder à demanda social de compen-
uma, dado que existem sação dos déficits de experiências de socialização democrática que existem
pontos de interligação entre na sociedade (TEDESCEO, 2012, p. 22).
elas., eleitos como os quatro
pilares fundamentais da
A educação, em sua dimensão institucional e na dimensão do processo
educação.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/ de ensino, deve efetivar-se de forma a contribuir para o objetivo do aprender
wiki/Quatro _Pilares_da_ a viver juntos:
Educa%C3%A7%C3%A3o
Adentramos o século XXI, assim, com uma agenda que acumula problemas
do passado e do presente, anunciando outros, dos tempos que começamos
a enfrentar. Mais grave ainda, não estamos promovendo uma gestão para o
sucesso escolar de nossas crianças e jovens (...). Enquanto em determina-
das áreas do conhecimento sobram professores com formação, em outras
faltam. Os salários são baixos e a motivação, poucas vezes, elevada. O
inventário de dificuldades poderia ir além, mas não cabe aqui aprofundá-las
senão referi-las no sentido de explicar os desafios que permanecem. Estes,
de fato são muitos. Enfrentá-los demanda coragem política e técnica o que,
nem sempre, tem sido ingrediente da gestão pública... Em pleno século XXI
vigora no país uma concepção de gestão pública, centrada em políticas de
Governo e não em políticas de Estado (VIEIRA, 2008, p. 47-48).
Síntese do capítulo
Neste capítulo, podemos conhecer os elementos fundamentais de diferentes
concepções de gestão, a saber: a técnico-científica; a autogestionária; a inter-
pretativa; a democrático-participativa. Situamos a gestão democrática como
a forma mais adequada às novas condições históricas e sociais colocadas
à escola do século XXI. Seguindo a análise de Tedesco, procurou-se indicar
que, de certa forma, a gestão democrática se coaduna com a necessidade
de superação dos determinismos sociais, tão comuns à prática pedagógica.
66
ALMEIDA, E. R.
Atividades de avaliação
1. A partir do texto complementar, comente “como o contexto concreto e real das
interações sociais marcadas por conflitos deve ser considerado pela escola”.
Cultura escolar
A concepção critica da cultura escolar se articula sobre a ideia de que a escola é um
lugar de luta entre os interesses em competição onde se negocia continuamente a re-
alidade, significados e valores da vida escolar. As políticas culturais das escolas costu-
mam ser muito complexas, entre outras coisas, porque distintos grupos podem levar
à organização bagagens culturais distintas que podem originar sérios conflitos sobre
ideologia e tecnologia; neste sentido, a pratica educativa de uma escola, sua definição
de pedagogia e currículo, avaliação e disciplina, é resultado das politicas culturais que
caracterizam cada escola em particular.
Essas culturas internas à escola, resultado de suas politicas culturais, não são inde-
pendentes do contexto sociopolítico em que se situam, mas derivam e contribuem à
divisão de classe, gênero, raça, idade, próprios da sociedade mais ampla. As culturas
internas das escolas se relacionam com as da sociedade mais ampla (ESCUDERO e
GONZÁLEZ, 1994, p. 91).
Leituras
HORA, Dinair Leal da. Gestão democrática na escola: artes e ofícios da par-
ticipação coletiva. Campinas: Papirus, 1994. Coleção Magistério: formação e
Trabalho Pedagógico.
O tema desse livro é o processo de democratização das relações adminis-
trativas no interior da escola e sua articulação com a comunidade. Além da
análise e das constatações da autora, encontramos a importante contribuição
que um trabalho localizado pode trazer ao desenvolvimento geral dos estudos
de administração escolar.
Política e Planejamento Educacional 67
Sites
O princípio da gestão democrática na educação – vídeo. Duração: 27m e
21s. Ano: 2012
Programa Salto para o Futuro que expõe. Série: Gestão democrática da Edu-
cação – O principio da Gestão Democratica na Educação/ Programa 1.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HVAo2b5YWEE
Educação e democracia 1 – vídeo. Duração: 28m e 30s. Ano: 2013
Filósofos Paulo Ghiraldelli e Francielle Chies conversam sobre educação e
democracia com a filósofa Olgária Matos.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OuAnWS1vGZ8
Referências
CUNHA, L. Antônio. A educação na nova Constituição. Revista da Ande, v. 6,
n. 12. São Paulo, 1987.
CURY, C. R. Jamil. O Conselho Nacional de Educação e a Gestão Democrá-
tica. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade (Org.). Gestão democrática da educação:
desafios contemporâneos. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 199-206.
ESCUDERO, Juan M & GONZÁLEZ, María T. Professores y escuela: hacia
uma reonversíon de los centros y la función docente? Madrid: Ediciones Pe-
dagógicas, 1994.
LIBÂNEO, J. Carlos. Educação escolar: políticas, estrutura e organização.
Cortez (Coleção Docência em Formação). São Paulo, 2008.
RAMOS, A. M. Pinheiro. Gestão de recursos financeiros na escola. Ed.
UECE. Fortaleza, 2003.
68
ALMEIDA, E. R.
Introdução
Neste capitulo discutiremos sobre aspectos relacionados ao planejamento
como ação humana e atividade imprescindível ao processo educativo. Apro-
fundaremos as diversas dimensões do planejamento do processo educativo,
levando em consideração as especificidades da área e a contribuição de pen-
sadores sobre o tema.
70
ALMEIDA, E. R.
20
Entende-se por 1. O planejamento como intencionalidade da ação humana20
planejamento um processo
de previsão de necessidade Em determinado momento histórico, o conjunto da humanidade vivia sob a
e racionalização de emprego perspectiva do nomadismo. Uma vez organizados em grupos, se estabele-
dos meios materiais e
ciam em um determinado lugar que lhes oferecessem condições objetivas de
dos recursos humanos
disponíveis, a fim de alcançar sobrevivência e ali se afixavam por um período de tempo relativo à quantidade
objetivos concretos, em e qualidade dos meios encontrados.
prazos determinados e em
Com a descoberta das sementes e o consequente desenvolvimento da
etapas definidas, a partir do
conhecimento e avaliação agricultura, grande parte dessas sociedades nômade foi livrando-se dessa de-
científica da situação original terminação, pois passaram elas próprias, a criarem suas condições de sobre-
(MARTINEZ; OLIVEIRA, vivência mesmo em lugares não tão privilegiados pela natureza. Desta forma,
1977, p. 11).
o sentido de humanização não se estabelece naturalmente, mas é resultado
da ação consciente e planejada de satisfação das necessidades.
A relação entre o homem e a natureza, portanto, salta da condição de
simples consumo dos objetos de satisfação das necessidades humanas para
a produção consciente dessa satisfação. Esse processo significa a transfor-
mação da natureza ao mesmo passo que ocorre a transformação do próprio
ser humano.
A atividade consciente e orientada do homem sobre a natureza passa
a ser, então, o que vai lhe diferenciar dos outros animais e ainda distinguir a
sua atividade daquela realizada por esses animais. Toda ação humana sobre
a natureza é dotada de prévia ideação, ou seja, o homem projeta na mente o
resultado final do seu trabalho.
O que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente
sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo de
trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imagina-
ção do trabalhador (MARX, 1996).
Não pode ser uma ação qualquer, mas sim uma ação que conduza a re-
sultados satisfatórios para o ser humano, dentro de uma perspectiva de to-
talidade, ou seja, levando em conta o máximo possível das determinações
reconhecíveis dessa ação. O que significa que temos por obrigação bus-
car o máximo possível de compreensão das determinações de nossa ação
para que possamos propor fins e meios os mais sadios para o ser humano,
Política e Planejamento Educacional 71
Síntese do capítulo
Neste capítulo, partimos da concepção de homem enquanto ser de consciência,
marcado fundamentalmente pela ação consciente e orientada para um determi-
nado fim, capaz de planejar. No processo de planejamento torna-se possível a
articulação das finalidades com os meios em todos os aspectos da vida huma-
na, especialmente na atividade educacional. Apontamos as diferentes manifes-
tações do planejamento na educação: Planejamento educacional, Planejamento
Curricular e Planejamento de Ensino. Caracterizamos, ainda, as principais con-
cepções de orientação da atividade de planejamento: Planejamento Normativo
Tradicional; Planejamento Estratégico; Planejamento Participativo.
Política e Planejamento Educacional 75
Atividades de avaliação
1. Com base no texto estudado, faça uma relação entre os quatro tipos de
planejamento estabelecendo as diferenças entre eles.
2. Considerando a definição abaixo a definição de planejamento da UNESCO,
destaque os aspectos mais importantes que caracterizam o planejamento:
Leituras
GADOTTI, Moacir. Educação e poder. São Paulo: Cortez, 1984. O livro re-
úne textos e documentos que permitem entender a educação como prática
do conflito. Para Gadotti, a Pedagogia do Conflito não constitui uma teoria,
tal qual aquelas citadas na nossa breve introdução, mas, sim, uma prática
pedagógica que procura desocultar o conflito reinante no mundo capitalista
mediante o exercício de uma filosofia crítica.
DELGADO, Evaldo Inácio (Org.). Políticas educacionais em crise e a prática do-
cente, Editora da Ulbra. A obra versa justamente sobre temas relacionados exclu-
sivamente às políticas educacionais em vigência e explicita o resultado de pes-
quisas realizadas conforme as diretrizes adotadas pelo Ministério da Educação.
Constitui-se em fonte de consulta para acadêmicos, professores de cursos de
licenciaturas, profissionais e autoridades envolvidas com o processo educacional.
FERREIRA, Naura S. C (Org.). Gestão democrática da educação: atuais
tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 1998. Este livro oferece a
contribuição de seis autores que escrevem capítulos sobre investigações no
âmbito da gestão democrática da educação. Visa participar do debate sobre
as questões cadentes da educação na contemporaneidade, prioritariamente
das políticas de formação.
76
ALMEIDA, E. R.
Sites
www.presidência.gov.br/legislação
O portal da Legislação do Governo Federal dar acesso a: Constituição, Leis
Ordinárias, Leis Complementares, Códigos, Estatutos, Medidas Provisórias,
Decretos, Decretos não numerados, Decretos-Leis, Leis Delegadas, Mensa-
gens de veto total, PEC - Propostas de Emenda à Constituição, Projetos de
Lei, Pareceres da AGU e muito mais no que se refere a tema Legislação.
www.histedbr.fae.unicamp.br
O grupo de estudos e pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil”
Faculdade de Educação da Unicamp define-se pelo amplo campo de inves-
tigação no qual a temática da educação é trabalhada desde a História, com
os métodos e teorias próprios e característicos dessa área do conhecimento.
A denominação “História, Sociedade e Educação” se vincula a um entendi-
mento que remete ao historiador - aquele que exercita a História com seus
métodos, teorias e instrumentais - a tarefa de dedicar-se, entre outros objetos
e problemas de investigação, à educação que, por sua vez, não é mera abs-
tração, mas é social, geográfica e historicamente determinada.
O planejamento na prática pedagógica – Educação – vídeo. Duração: 27m
e 20s. Ano: 2012
Vídes educativo da Letra Viva explorando o conceito de planejamento escolar
e dando exemplos praticos.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NjM6G4Q9UI0
Referências
ARDUINI, Juvenal. Homem libertação. São Paulo: Paulinas, 1975.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado
Federal, 1988.
_______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96. Brasí-
lia: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2002.
CUNHA, Luiz Antônio. Educação, Estado e democracia no Brasil. São Pau-
lo: Cortez, 1991.
CASTRO, Antônio Barros de. A experiência brasileira de planejamento. In. HA-
DDAD, Paulo Roberto e EDLER, Paulo Soares (orgs.) Seminário Estado e
planejamento: os sonhos e a realidade.
Política e Planejamento Educacional 77
Dados do autor
Emanoel Rodrigues Almeida: Mestre em Educação Brasileira pelo Pro-
grama de Pós-Graduação da UFC, Linha de Pesquisa: Marxismo, Educação e
Luta de Classes. Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Metodis-
ta de São Paulo (2001), graduação em Teologia pela Universidade Metodista
de São Paulo (2010) e Especialização em Aconselhamento pela Universida-
de Metodista de São Paulo (2008). Coordenador Pedagógico da Universida-
de Metodista de São Paulo, polo EAD em Fortaleza. Professor Substituto da
Universidade Estadual do Ceará na área de Política, Planejamento e Gestão
Educacional. Professor Pesquisador UAB/UECE.
Especialização em
Gestão Pedagógica
Especialização em
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
Gestão Pedagógica
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado,
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
Política, Planejamento e
mento das regiões do Ceará.
Gestão Educacional
Especialização Especialização
em EaD em Gestão
Pedagógica