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AULA 09
= ESPÉCIES DE CONTRATO =
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Aula 09
Espécies de Contrato
Sumário
Compra e Venda .......................................................................... 03
Troca ou Permuta ....................................................................... 14
Estimatório ................................................................................. 15
Doação ....................................................................................... 16
COMPRA E VENDA
(arts. 481 a 532, CC)
NATUREZA JURÍDICA
• Bilateral ou sinalagmático: cria obrigações para ambos os contratantes, que
serão ao mesmo tempo credores e devedores, uns dos outros.
• Oneroso: ambas as partes auferem vantagens e ônus patrimoniais de suas
prestações.
• Típico: previsto do Código.
• Comutativo: em regra possui objeto certo com equivalência das prestações e
contraprestações. Admite-se, em algumas hipóteses, que seja Aleatório,
quando dependente de um evento incerto.
• Consensual: o contrato de compra e venda é consensual, pois ele se
aperfeiçoa com o simples consenso ou manifestação de vontade dos
contraentes, principalmente no que toca os bens móveis. Pode ter a forma
solene em algumas situações (ex.: escritura pública para a compra de bens
imóveis).
• Translativo do domínio: embora a propriedade só seja transferida com a
tradição (para bens móveis) ou com o registro (para bens imóveis), serve
como título adquirendi, isto é, serve como fato gerador da transmissão da
propriedade. No entanto, o contrato apenas cria a obrigação para a
transferência da coisa.
ELEMENTOS ESSENCIAIS
São elementos dos contratos de compra e venda, além dos comuns a todos
os negócios jurídicos e os contratos: a) coisa; b) preço e c) consentimento. Art.
482, CC: A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita,
desde que as partes acordarem no objeto e no preço. Vejamos cada um deles.
A) COISA OU OBJETO (res) é o objeto da compra e venda. Segundo a
doutrina deve ser corpórea (móveis ou imóveis). Isto porque os bens incorpóreos
(direitos de invenção, de propriedade literária, científica ou artística) somente
poderiam ser objeto de contrato de cessão de direitos.
Características
• Disponibilidade: a coisa deve ser disponível (estar in commercium); as coisas
insuscetíveis de apropriação (indisponibilidade natural), legalmente
inalienáveis (indisponibilidade legal) e gravadas com cláusula de
PROIBIÇÃO DE VENDA
• A lei proíbe que os ascendentes vendam aos descendentes quaisquer bens, sem
que haja o consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do
alienante, salvo se este for casado sob o regime de separação obrigatória de
bens (art. 496, e seu parágrafo único, do CC), sob pena de anulação do ato
(e não nulidade). Isto porque essa venda poderia simular uma doação em
prejuízo dos demais herdeiros. Assim, pergunto: um pai pode vender um imóvel
para um de seus filhos? Resposta: pode, desde que haja o consentimento de
todos os outros filhos e também da esposa do pai, que é o alienante (salvo se
o regime de bens entre ambos for o da separação obrigatória), sob pena de
anulação desta venda. Como esse dispositivo não estabelece prazo para
requerer a anulação, aplica-se o art. 179, CC: “Quando a lei dispuser que
determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação,
será esta de dois anos, a contar da data da conclusão do ato”.
• Pessoa casada (exceto no regime de separação absoluta de bens) não
poderá alienar ou gravar de ônus (ex.: hipotecar) os bens imóveis do seu
domínio sem a autorização do outro cônjuge (art. 1.647, CC). Exige-se a
outorga: a) uxória (a mulher autoriza a venda feita pelo marido); b) marital
(o marido autoriza a venda realizada pela esposa).
• Em regra os consortes não podem fazer contrato entre si em relação aos
bens incluídos na comunhão (nulidade absoluta). Observem que se isto for
realizado no regime da comunhão universal teremos uma venda fictícia, pois
os bens do casal já são comuns e ninguém pode comprar o que já lhe pertence.
No entanto, nos termos do art. 499, CC, é lícita a compra e venda entre
cônjuges em relação aos bens excluídos da comunhão (que estão
relacionados nos arts. 1.659 e 1.668, CC, como por exemplo, os bens que cada
cônjuge possuía ao se casar, os bens de uso pessoal como os instrumentos de
trabalho, etc.).
PROIBIÇÃO DA COMPRA
Não podem ser comprados, ainda que em hasta pública (art. 497, CC):
• Pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados
à sua guarda ou administração. A lei receia que estas pessoas se façam
prevalecer de sua posição especial para lograrem vantagem em detrimento dos
titulares dos bens que guardam ou administram.
• Pelos servidores públicos, os bens da União, dos Estados e dos Municípios, que
estiverem sob sua administração direta ou indireta, aplicando-se a mesma
disposição aos juízes, arbitradores, ou peritos que, de qualquer modo, possam
influir no ato ou no preço da venda.
• Pelos juízes, empregados da Fazenda, secretários de tribunais, escrivães e
outros oficiais da Justiça, os bens ou direitos, sobre os quais se litigam em
tribunal, juízo, ou conselho, no lugar onde esses funcionários servirem ou a que
se estender sua autoridade.
• Pelos leiloeiros e seus prepostos quanto aos bens de cuja venda estejam
encarregados e os corretores das Bolsas quanto aos bens a eles confiados.
• O proprietário de coisa alugada, para vendê-la deverá dar conhecimento do
fato ao inquilino, que terá direito de preferência (veremos isso melhor ainda na
aula de hoje) para adquiri-la em igualdade de condições com terceiros.
• O condômino, enquanto pender o estado de indivisão, não poderá vender a sua
parte a estranho, se o outro condômino a quiser (art. 504, 1a parte, CC). Trata-
se do chamado direito de preferência do condômino sobre a venda de
bem indivisível. O condômino a quem não se der conhecimento da venda,
poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, no
prazo de seis meses. Um condomínio pode ser classificado em: a) pro
indiviso: quando o bem se encontra indiviso (não foi dividido) entre os vários
proprietários, de modo que cada um apenas possui parte ou fração ideal) ou
b) pro diviso: quando apesar de possuírem em condomínio, cada condômino
já tem a sua parte delimitada e determinada. Nesta última hipótese, cada
condômino pode vender sua parte a terceiro sem oferecer aos outros
condôminos. No caso do condomínio ser pro indiviso, e o bem for indivisível,
6) Pacto Comissório
É a cláusula por força da qual se opera a extinção (resolução) dos direitos
contratuais da parte contratante que não cumpre a sua prestação. Era um
TROCA OU PERMUTA
(art. 533, CC)
NATUREZA JURÍDICA
Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, comutativo e translativo de
propriedade (há duas tradições, duas entregas).
OBJETO
O objeto da permuta há de ser dois bens. Se um dos contraentes der
dinheiro ou prestar serviços, não haverá a troca ou permuta. Podem ser trocados
todos os bens que puderem ser vendidos, mesmo sendo de espécies diversas e
valores diferentes. Assim como na compra e venda, gera para cada contratante a
obrigação de transferir para o outro o domínio da coisa objeto de sua prestação.
EFEITOS
A permuta encerra uma dupla venda.
• Cada um dos permutantes pagará metade das despesas da troca, além de
pagar, cada um, o imposto sobre o valor do bem adquirido.
• É anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes,
sem o expresso consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do
alienante; se os valores forem iguais a troca é válida.
CONTRATO ESTIMATÓRIO
(arts. 534 a 537, CC)
EFEITOS
• o consignante não perderá o domínio (a propriedade) da coisa consignada,
até que o consignatário a negocie com terceiros.
• o consignante não poderá dispor da coisa antes de lhe ser restituída ou de
lhe ser comunicada a restituição.
• a coisa consignada não poderá ser objeto de penhora pelos credores do
consignatário, enquanto não for pago integralmente o seu preço.
• o consignatário deverá pagar as despesas de custódia e venda.
• o consignatário não se libertará da obrigação de pagar o preço, se a
restituição da coisa consignada, em sua integridade, se tornar impossível,
ainda que por fato a ele não imputável.
DOAÇÃO
(arts. 538 a 564, CC)
NATUREZA JURÍDICA
Contrato unilateral e gratuito: requer intervenção de duas partes
contratantes. No entanto, apenas o doador assume a obrigação de transferir
bens ao donatário (apenas uma é devedora), não havendo contraprestação por
parte do donatário. A doação é ato de liberalidade. Todavia, pode ser
estipulado um encargo, caso o doador vincule o donatário a determinado
ônus. Ex.: dou-lhe um terreno, desde que você plante determinada cultura, ou
construa uma casa, etc.
Consensual: aperfeiçoa-se com a manifestação de vontade das partes.
Supõe a aceitação: o contrato de doação só se aperfeiçoa com a aceitação do
bem por parte do donatário. Portanto trata-se de um negócio receptício
(quer dizer, exige a manifestação de vontade da outra parte: ou seja, a
aceitação). Referida aceitação pode ser expressa ou tácita. Neste último caso
o doador marca um prazo para que o donatário recuse a doação. Se ele não
se manifestar neste prazo, o silêncio acarreta em aceitação tácita da doação,
desde que seja “pura”: presume-se que ele aceitou a doação. Se a doação for
com encargos, exige-se a forma expressa.
Forma: em regra, trata-se de um contrato solene, pois o art. 541, CC impõe
uma forma que deverá ser respeitada, sob pena de não valer o contrato. É
obrigatória a forma escrita, uma vez que se exige instrumento público ou
particular. Admite-se a forma verbal (seguida de tradição) para os bens móveis
de pequeno valor (é chamada de “doação manual” – art. 541, parágrafo único,
CC). É necessária a forma de escritura pública para imóveis de valor superior
a 30 vezes o maior salário mínimo vigente no País (art. 108, CC), sujeita à
posterior transcrição no Registro Imobiliário.
Ato inter vivos: Não existe doação para após a morte (caso contrário estaríamos
diante de uma cláusula testamentária e não de uma doação).
DOAÇÃO A INCAPAZES
As pessoas que não podem contratar (os incapazes, relativa e
absolutamente) podem aceitar doações puras (isto é, sem encargos art. 543,
CC). A doação feita ao nascituro é válida, desde que aceita pelos pais (art. 542,
CC). Trata-se de caso de ato jurídico sujeito a condição suspensiva, pois a doação
somente se efetivará se houver o nascimento com vida do nascituro. Caso ele
nasça morto (natimorto), o contrato será considerado ineficaz. Igualmente válida
será a doação feita em contemplação de casamento futuro e referente aos filhos
futuros do casal.
ESPÉCIE DE DOAÇÃO
Pura e simples ou típica: é aquela feita por mera liberalidade; quando não
se impõe nenhum ônus, nenhuma restrição ao donatário, que desfrutará
amplamente do bem recebido, sem qualquer limitação.
Condicional: quando surte efeitos somente a partir de determinado
momento ou ao findar uma determinada situação (lembrem-se que condição se
subordina a ocorrência de um acontecimento futuro e incerto). Exemplo: doação
feita subordinando-se a realização de um casamento (chamamos de doação
propter nuptias). Neste caso há uma condição suspensiva: a doação só terá efeito
se o casamento se realizar. A doação também pode ser condicionada aos futuros
filhos do casal (art. 546, CC). Se houver dúvidas sobre o tema, retorne à aula
sobre Fatos e Atos Jurídicos.
A termo: quando contém um termo inicial ou final (lembrem-se que o termo
se subordina à ocorrência de um evento futuro e certo). Ex.: doei um sítio a João,
que terá o direito de usá-lo durante dez anos; após esta data o direito de usar
passará a ser de Antônio.
Contemplativa: ocorre quando a pessoa doa e declara o motivo da doação.
Ex.: doo uma casa a uma fundação séria, em razão dos excelentes trabalhos
prestados com crianças carentes e sabendo que a doação será revertida para
suas finalidades (art. 540, 1ª parte, CC).
Subvenção periódica: o doador estipula rendas ao donatário em
periodicidade (semanal, quinzenal, mensal, etc.). Ao invés de haver apenas um
ato na doação, esta é feita por meio de vários atos, daí ser uma modalidade de
contrato de “trato sucessivo”. Obs.: este tipo de doação extingue com a morte
do doador, salvo se houver previsão no contrato sobre a transferência da
obrigação para os herdeiros (hipótese em que ficará limitada ao valor da
REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO
A doação é um contrato e, como tal, uma vez aperfeiçoado (com a aceitação
do donatário), só pode ser rescindido pela vontade de ambas as partes ou pela
presença de algum vício, gerando nulidade ou anulabilidade (ex.: coação, estado
de perigo, não se respeitar a forma adequada, etc.). Todavia, excepcionalmente a
doação poderá ser revogada por ingratidão do donatário ou por inexecução
do encargo (art. 555, CC). Vejamos.
A) Ingratidão do donatário. Isto ocorrerá se o donatário:
• Atentar contra a vida do doador.
• Cometer alguma ofensa física contra o doador.
• Injuriar ou caluniar o doador.
• Recusar alimentos ao doador, desde que pudesse ministrá-los.
A revogação deve ser pleiteada dentro do prazo decadencial de um ano,
a partir do conhecimento do fato que a autorizar pelo doador, mediante ação
judicial. Trata-se de um direito personalíssimo (art. 560, CC), ou seja, somente
o próprio doador pode revogar uma doação. No entanto, se a ingratidão consistiu
em homicídio doloso contra o doador, a ação caberá aos seus herdeiros (art. 561,
CC). Além disso, nas outras hipóteses, se o doador requereu a revogação
judicialmente e depois faleceu, seus herdeiros podem continuar com a ação.
Não se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade
por ingratidão do donatário (art. 556, CC), sendo nula disposição neste sentido.
A revogação não prejudica os direitos adquiridos de terceiros (art. 563, CC).
Isto é, revogada a doação, os bens voltam ao patrimônio do doador, respeitados,
porém, os direitos dos terceiros. Se o donatário já vendeu um bem, o terceiro não
LOCAÇÃO
OBSERVAÇÕES
01) Essa era a forma que o Código anterior classificava a locação. Pela
disposição atual no Código Civil, a prestação de serviços e a empreitada
não são mais espécies de locação, até porque o legislador as colocou no Código
após o contrato de empréstimo, fazendo questão de separar esses contratos
(prestação de serviços e empreitada) da locação de coisas. E reservou a expressão
“locação” apenas para as coisas.
02) É conveniente também esclarecer que as expressões “locação” e
“arrendamento” são usadas como sinônimas. No entanto, na prática, se costuma
CARACTERÍSTICAS COMUNS
As três modalidades de contrato acima mencionadas apresentam as
seguintes características comuns:
• Cessão temporária do uso e gozo da coisa, sem haver a transmissão da
propriedade.
• Termos usados para a Remuneração:
a) Locação de coisas → aluguel.
b) Prestação de Serviços → salário.
c) Empreitada (locação de obras) → preço.
LOCAÇÃO DE COISAS
(arts. 565 a 578, CC)
NATUREZA JURÍDICA
• Bilateral ou sinalagmático: cria obrigações para ambos os contratantes.
• Oneroso: ambas as partes auferem vantagens e ônus patrimoniais de suas
prestações. Se fosse gratuito, seria um comodato.
• Tipico: previsto do Código Civil.
FORMA E PRAZO
A forma do contrato de locação pode ser qualquer uma, inclusive a verbal,
uma vez que é um contrato consensual.
O prazo é sempre temporário. Poderá até ser vitalício, mas nunca
perpétuo. O prazo pode ser determinado ou indeterminado, dependendo do
que se pactuar no contrato. O Código Civil não estabelece um prazo máximo para
a vigência da locação. Se não for estipulado um prazo exato, ele será
indeterminado. A Lei do Inquilinato (LI) estabelece uma restrição para
contratos celebrados com prazo igual ou superior a 10 anos: depende de
autorização ou vênia conjugal (outorga marital ou uxória), na hipótese de
apenas um dos consortes ser o locador. Se não houver esta vênia, o cônjuge não
estará obrigado a observar o prazo excedente.
ESPÉCIES
De uma forma geral a locação pode ser de:
1) Coisa
a) Móvel: rege-se pelo Código Civil (ex.: locação de um carro).
b) Imóvel: rege-se pelo Código Civil (ex.: locação de um terreno, de uma
garagem autônoma, etc.).
2) Prédios Urbanos (neste caso aplica-se a Lei n° 8.245/91)
a) Residenciais urbanos
b) Não residenciais:
• Comerciais ou industriais urbanos e rústicos (art. 51).
• Hospitais, unidades sanitárias oficiais, asilos, estabelecimentos de
saúde e de ensino autorizados e fiscalizados pelo Poder Público (art.
53).
• Lojistas e empreendedores de shopping center (art. 54).
• Não comerciais urbanos (ex.: prédio para rede de associação).
3) Prédios Rústicos (destinados à atividade rural) neste caso aplica-se o
Dec. 59.566/66 e o Estatuto da Terra.
CARACTERÍSTICAS GERAIS
A locação pode ser fixada por qualquer prazo. Sendo igual ou superior a
dez anos, é necessária a outorga (ou vênia) conjugal (art. 3°, LI).
Havendo prazo determinado, o locador não pode reaver o imóvel. Já o
locatário pode devolvê-lo, desde que pague a multa, caso pactuada, proporcional
ao período de cumprimento do contrato ou, na sua falta, a que for judicialmente
estipulada (art. 4°, 2a parte, LI, com redação dada pela Lei n° 12.112/09).
Entende-se que o caráter da multa é compensatório. Embora a lei use a expressão
“multa”, trata-se, na verdade, de uma prefixação de indenização por perdas e
danos, estimada de acordo com a natureza e o vulto do contrato. Por tal motivo,
não se pode cumular essa multa com eventuais perdas e danos, nos termos do
artigo 413 do Código Civil. Eventual indenização suplementar somente será devida
se o contrato permitir e houver provas de efetivo prejuízo. Não havendo prazo
determinado o locatário poderá rescindir a locação, mediante aviso por escrito
ao locador, com antecedência mínima de 30 dias.
O locatário pode ser exonerado da multa pela resilição antecipada da
locação no caso de transferência do seu local de trabalho, determinada pelo
empregador (art. 4°, parágrafo único, LI). Para ter este direito deve notificar o
locador por escrito, com antecedência mínima de 30 dias, sob pena de incorrer na
multa. Este benefício não se aplica quando o pedido de transferência é de iniciativa
do próprio locatário. É admissível quando a mudança do local de trabalho se dá de
um bairro para outro nos grandes centros urbanos, dada a dificuldade de
locomoção do empregado.
É livre a convenção do preço do aluguel, podendo as partes fixar novo
valor para o aluguel, bem como inserir ou modificar cláusula de reajuste (art. 18,
LI). No entanto é vedada a sua estipulação em moeda estrangeira e a sua
vinculação à variação cambial ou ao salário-mínimo (art. 17 e 85, LI).
GARANTIAS
O locador pode exigir uma das seguintes modalidades de garantia (art. 37,
LI):
a) Caução: O termo vem do latim cautio, que, de modo geral, significa a
cautela que se tem ou que se toma como garantia ou segurança do
cumprimento da obrigação. Pode se referir a bens (caução real) móveis ou
imóveis. Ex.: se o locatário for proprietário de um imóvel em outro Estado,
pode caucioná-lo por meio de uma averbação no Registro de Imóveis,
deixando-o como garantia da locação. No entanto, na prática esta garantia é
em dinheiro, não podendo exceder a três meses de aluguel, efetuada
mediante depósito em caderneta de poupança (art. 38, LI), em nome do
locador e do locatário (conta conjunta), pelo prazo de duração da locação. As
correções monetárias e os juros revertem em favor do inquilino quando
levantados no término da locação.
FIANÇA
Prevista nos artigos 818 e seguintes do Código Civil, fiança (ou caução
fidejussória), é a promessa feita por uma ou mais pessoas (fiadores), de garantir
ou satisfazer a obrigação de um devedor principal (no caso o locatário), se este
não a cumprir, assegurando ao credor (locador) o seu efetivo cumprimento. Pode
ser fiador qualquer pessoa maior que esteja na livre administração de seus bens.
Na locação exige-se que tenha pelo menos um bem imóvel, devidamente quitado.
Como o patrimônio do fiador será exposto à execução do credor caso o locatário
não pague os aluguéis, se o fiador for casado é necessária a outorga conjugal.
Assim, salvo no regime de separação absoluta de bens, nenhum dos
cônjuges pode, sem autorização do outro prestar fiança (art. 1.647, CC). A
falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária, tornará anulável o
ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos
depois de terminada a sociedade conjugal (art. 1.649, CC). Assim, havendo a
arguição da anulabilidade da fiança dada sem o devido consentimento do outro
cônjuge, essa garantia fidejussória será anulada não apenas quanto à metade do
cônjuge que não deu o seu consentimento, e sim por inteiro. É neste sentido o
teor da Súmula 332 do STJ: "A fiança prestada sem autorização de um dos
cônjuges implica a ineficácia total da garantia". Por outro lado, o próprio STJ já
decidiu (REsp n° 1.299.866 – DF. Rel. Min. Luis Felipe Salomão) no sentido de que
“ainda que a união estável esteja formalizada por meio de escritura pública, é
válida a fiança prestada por um dos conviventes sem a autorização do outro”.
A fiança (assim como as demais garantias da locação) se estende até a
efetiva devolução do imóvel, ainda que prorrogada a locação por prazo
indeterminado, salvo disposição contratual em contrário (art. 39, LI, com redação
dada pela Lei n° 12.112/09). No entanto, o fiador pode se eximir da obrigação,
notificando o locador da sua intenção de desoneração. Mesmo assim, ainda ficará
obrigado por todos os efeitos da fiança durante 120 dias após a notificação. Neste
caso o locador pode notificar o locatário para apresentar nova garantia locatícia
no prazo de 30 dias, sob pena de desfazimento da locação (art. 40, inciso X e
parágrafo único, LI, com a redação dada pela Lei n° 12.112/09).
Observação
O contrato de locação somente é rescindido com a efetiva entrega das
chaves do imóvel ao locador, ou sua imissão na posse por ato judicial, sendo
irrelevante a simples desocupação do imóvel. Este ato, por si só, não exonera o
locatário da responsabilidade pelo pagamento dos aluguéis e demais encargos
contratuais.
Cessão locacional
A cessão locacional consiste na transferência a outrem, mediante
alienação, da posição contratual do locatário. O locatário desliga-se do contrato
primitivo, desaparecendo a sua responsabilidade. O cessionário se entenderá com
o locador. A cessão, por importar em transferência de direito pessoal, rege-se
pelas disposições do Código Civil atinentes à cessão de crédito (arts. 286/298,
CC).
Sublocação (arts. 14 a 16)
A Sublocação consiste na concessão do gozo (parcial ou total) da coisa
locada, por parte de um locatário e uma terceira pessoa, que se torna locatária do
locatário, tendo os mesmos direitos e deveres. O locatário primitivo não se
exonera da locação original.
Rescindida ou finda a locação resolvem-se (extinguem-se) as sublocações,
salvo o direito de indenização que possa competir ao sublocatário contra o
sublocador.
Empréstimo
Se o locatário empresta de forma gratuita o imóvel locado a uma terceira
pessoa, mesmo que por breve tempo, ele (o locatário) continua responsável
perante o locador.
EMPRÉSTIMO
(arts. 579 a 592, CC)
COMODATO
(arts. 579 a 585, CC)
NATUREZA JURÍDICA
• Contrato unilateral: é contrato, pois decorre de acordo de vontades; no
entanto é unilateral, pois apenas o comodante assume obrigação: a de
entregar a coisa para uso do comodatário.
• Gratuito: não exige contraprestação do comodatário (caso contrário seria
uma locação). Se o empréstimo for de um apartamento, pode-se
convencionar que o comodatário pague o condomínio, sem que isso
desnature o contrato, pois a onerosidade é inferior à contraprestação
(chamamos isso de comodato modal ou de comodato com encargo).
• Real: o contrato se perfaz com a entrega (tradição) da coisa ao
comodatário (que passará a ter a posse direta da coisa).
• Não solene: não se exige uma forma especial para a celebração do
contrato; pode até ser verbal, mas oriundo de elementos seguros de
existência (não se admite a forma presumida).
• Temporário: o uso da coisa deverá ser temporário, podendo o prazo ser
determinado ou indeterminado. Sendo por prazo indeterminado, a lei
RESTITUIÇÃO DA COISA
Terminado o prazo do comodato por prazo determinado o comodatário há
de devolver a coisa recebida. No caso de comodato sem prazo determinado o
comodatário deve ser notificado para que seja posto fim ao contrato, como a
consequente devolução do bem em um prazo razoável (contado da efetiva
notificação). Não restituída a coisa no prazo acertado, ocorre o esbulho
possessório, ou seja, a “posse” do comodatário passa a ser injusta e de má-fé.
Nesse caso, o comodante deverá utilizar a ação de reintegração de posse.
MORA DO COMODATÁRIO
Não devolvida a coisa ao término do contrato ou após a competente
notificação, o comodatário é constituído em mora. Nesse caso:
• Deverá pagar o aluguel arbitrado pelo comodante.
• Ficará responsável pelos riscos, perda ou deterioração da coisa.
OBRIGAÇÕES DO COMODATÁRIO
• Conservar e guardar a coisa como se fosse sua, pagando as despesas
ordinárias feitas com o uso e gozo da coisa (conta de luz, água, gás,
condomínio, etc.).
• Usá-la de acordo com o contrato ou sua natureza, ou seja, uma casa
residencial deve ser utilizada para moradia e não para a realização de
eventos (salvo estipulação expressa em contrário), sob pena de responder
por perdas e danos. Da mesma forma uma geladeira dada em comodato por
uma empresa de bebidas a um supermercado só poderá ser usada para
armazenar produtos daquela empresa (e não por outros, principalmente da
concorrente).
• Restituir a coisa no final do prazo.
• Pagar aluguel, se constituído em mora.
• Responder pelos danos causados à coisa.
• Não emprestar a coisa a terceiro, nem alugá-la sem autorização.
INDENIZAÇÃO DE BENFEITORIAS
O comodatário é um possuidor de boa-fé (pois há um contrato autorizando
a posse). Se ele realizar benfeitorias na coisa recebida em comodato, no término
do contrato, terá direito à indenização das benfeitorias úteis e necessárias, bem
como a levantar (levar embora) as voluptuárias, se a retirada não danificar o bem.
MÚTUO
(arts. 586 a 592, CC)
PARTES
• Mutuante: é a pessoa que dá por empréstimo.
• Mutuário: é a pessoa que toma emprestado.
DEVOLUÇÃO DO BEM
A coisa a ser devolvida deve ser do mesmo gênero, qualidade e quantidade
da recebida. Não pode ser devolvida coisa diversa ou soma em dinheiro, pois nesse
caso teríamos outro tipo de contrato (troca, compra e venda, etc.).
NATUREZA JURÍDICA
• Contrato unilateral e gratuito (regra): por ser um contrato, requer a
manifestação de duas vontades; é unilateral, pois somente o mutuário
assume obrigações (devolver o empréstimo); é gratuito porque o mutuante
nada recebe do mutuário em troca do empréstimo. No entanto o mútuo pode
MÚTUO FENERATÍCIO
Trata-se do mútuo oneroso, permitido por nossa legislação, pois o Código
Civil prescreve que se presumem devidos juros, (que não poderão exceder a taxa
legal), destinando-se o mútuo a fins econômicos (art. 591, CC). São nulas de
pleno direito as estipulações cujos valores forem superiores às legalmente
permitidas (isto é chamado de usura). O Juiz deverá ajustá-las à medida legal;
mas se já foram pagas deve ordenar a restituição em dobro da quantia paga em
excesso.
A capitalização de juros (a doutrina chama isso de anatocismo, ou seja,
juros sobre juros) foi proibida pela Lei de Usura (Dec. n° 22.262/33), mas nas
operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro
Nacional, é admissível a capitalização com periodicidade inferior a um ano. No
entanto passou-se a utilizar a correção monetária para garantir a integridade do
valor emprestado, isto é, do poder aquisitivo da moeda que será restituído no final
do contrato. Atualmente a correção monetária passou a ser um ajuste do valor do
débito, podendo ser convencionada nos contratos de mútuo, mesmo fora do
sistema financeiro.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
(arts. 593 a 609, CC)
OBJETO
Toda espécie de serviços ou trabalhos (material ou imaterial), desde que
lícito, isto é, não proibido pela lei e pelos bons costumes. Trata-se de uma
obrigação de fazer.
PARTES
• Prestador de serviços (executor, contratado, locador): é o que entrega
sua força de trabalho; compromete-se a prestar certos serviços.
• Tomador (solicitante, contratante, locatário): é o que contrata os serviços
da outra parte; necessita do serviço e o remunera.
NATUREZA JURÍDICA
Trata-se de contrato: bilateral (gera obrigações para ambos os
contratante: prestação de serviço para o prestador e remuneração pra o tomador),
comutativo (prestações conhecidas e equivalentes), oneroso (contraprestações
recíprocas de direitos e vantagens) e consensual (o contrato se aperfeiçoa com
o simples acordo de vontades, independentemente de qualquer materialidade
externa, podendo ser provado por testemunhas, seja qual for seu valor), não
solene (não exige forma especial, mas geralmente é feito por instrumento
particular).
PAGAMENTO
A remuneração é estipulada livremente entre as partes. Se elas não o
fizerem, a remuneração será fixada por arbitramento, segundo o costume do
lugar, o tempo de serviço e a qualidade. A regra é que seja feita em dinheiro,
mas nada impede que parte dela seja em alimentos, vestuário, condução,
moradia, etc. A gratuidade da prestação de serviço é inaceitável. No entanto se o
serviço foi prestado por quem não possuía título de habilitação, o valor cobrado
poderá ser atenuado.
Segundo o art. 597, CC, em regra, a retribuição será paga depois de
prestado o serviço (serviço feito... serviço pago). No entanto, as partes podem
convencionar sistema diferenciado, com antecipação total ou parcial da retribuição
ou mesmo em prestações.
PRAZO
A locação de serviço não pode ser convencionada por mais de quatro
anos (art. 598, CC). Decorrido este prazo, dar-se-á por findo o contrato, ainda
TIPOS DE SERVIÇOS
O contrato deverá determinar o serviço a ser prestado (serviço certo e
específico). Se o contrato não estabelecer o serviço a ser prestado (omissão
contratual), entende-se que o prestador de serviços se obrigou a todo e qualquer
serviço compatível com suas forças e condições, dele não se podendo exigir
obrigação superior a essas limitações pessoais.
RESCISÃO DO CONTRATO
O prestador de serviços, contratado por tempo certo ou por obra
determinada, não pode se ausentar ou rescindir o contrato, sem justa causa, antes
de preenchido o tempo ou concluída a obra. Assim, incabível a rescisão unilateral
do contrato sem que haja um motivo justificado. Se rescindir o contrato sem justa
causa, terá direito à retribuição vencida, mas responderá por perdas e danos. O
mesmo ocorre se for despedido por justa causa.
No entanto, se o prestador for despedido sem justa causa, o tomador será
obrigado a pagar-lhe por inteiro a retribuição vencida e por metade a que lhe
tocaria se concluísse o contrato.
Findo o contrato o prestador tem o direito a exigir da outra parte a
declaração que o contrato está findo (seria uma espécie de quitação). Esse direito
também lhe cabe se ele foi despedido sem justa causa.
SUBSTITUIÇÃO
Caberá ao prestador executar pessoalmente o serviço contratado, não
podendo transferi-lo a outro prestador, em razão da impessoalidade e da
confiança que decorrem da prestação (intuitu personae), exceto se houver
expressa autorização para tanto. Da mesma forma, não pode o tomador exigir que
o prestador preste para um terceiro o serviço contratado.
Aliciamento de executores (art. 608, CC): “A” contratou “B” para prestar-lhe
um determinado serviço durante o prazo de um ano, pela remuneração de 20 mil.
Durante o contrato “C” aliciou “B” para desfazer o contrato com “A” e celebrar
outro consigo mediante o valor de 30 mil. Neste caso, como “A” foi prejudicado,
poderá exigir de “C” (aliciador) indenização referente ao valor de dois anos de
prestação de serviço (40 mil), independentemente da quantidade de serviço que
já foi prestada.
EMPREITADA
(arts. 610 a 626, CC)
PARTES
• Comitente (proprietário da obra, dono da obra, empreitante, empreitador
ou contratante): é o que contrata a obra.
• Empreiteiro (contratado): é o que põe à disposição sua atividade.
NATUREZA JURÍDICA
Trata-se de contrato: bilateral (cria para ambos obrigações recíprocas),
comutativo (prestações equivalentes, podendo-se, desde logo, apreciar tal
equivalência), oneroso (transferência recíproca de direitos e vantagens =
contraprestação), consensual (o contrato de aperfeiçoa com o simples acordo de
vontade das partes, independentemente de tradição) e não solene (não se exige
forma especial; pode até mesmo ser verbal), indivisibilidade (o que se objetiva
é a obra completa, não se permitindo, em regra, a execução fracionada; no
entanto a lei permite em algumas situações que as partes pactuem a realização
da obra por partes – art. 614, CC), execução sucessiva ou continuada
(necessita de certo espaço de tempo para a sua conclusão, dada a própria
estrutura do seu objeto: efetivação de um trabalho para atingir certo resultado).
CLASSIFICAÇÃO DA EMPREITADA
A) QUANTO AO MODO DE FIXAÇÃO DO PREÇO OU REMUNERAÇÃO:
1. Empreitada a preço fixo (ou marché à forfait): a retribuição é estipulada
para a obra inteira, de antemão, em quantia certa e invariável, sem considerar
o fracionamento da atividade. Esta espécie possui uma subdivisão:
a) empreitada a preço fixo absoluto: não admite qualquer alteração na
remuneração, seja qual for o custo da mão de obra ou dos materiais.
b) empreitada a preço fixo relativo: quando permite variação em
decorrência do preço de algum dos componentes da obra, ou de alterações
que já estejam programadas por influência de fatos previsíveis, ainda que
não constatados.
2. Empreitada por medida (ou ad mensuram, ou marché sur dévis): se na
fixação do preço se atender ao fracionamento da obra, considerando-se as
partes em que ela se divide ou a medida. Estipula-se o pagamento por parte
concluída.
3. Empreitada de valor reajustável: se contiver cláusula permissiva de
variação do preço em consequência de aumento ou diminuição valorativa da
mão de obra e dos materiais; possibilita que o preço varie segundo índices
oficiais, procedendo-se à revisão periódica em datas preestabelecidas. Protege-
se o empreiteiro de variações de preços repentinas em períodos de grande
inflação.
4. Empreitada por preço máximo: se estabelecer um limite de valor que não
poderá ser ultrapassado pelo empreiteiro.
5. Empreitada a preço de custo: se o empreiteiro se obrigar a realizar o
trabalho, ficando sob sua responsabilidade o fornecimento dos materiais e o
pagamento da mão de obra, mediante o reembolso do dependido, acrescido do
lucro assegurado.
DIREITOS E DEVERES
A) Direitos do Empreiteiro (contratado)
• Receber a remuneração pactuada.
• Exigir a aceitação da obra concluída.
• Reter a obra para assegurar o recebimento do preço, se cumpriu com seus
deveres.
• Constituir o comitente em mora, consignando judicialmente a obra.
• Ceder o contrato (desde que não seja intuitu personae – personalíssimo) –
trata-se da subempreitada.
• Suspender a obra (nos casos de culpa do dono, dificuldades imprevisíveis,
etc.).
B) Deveres do Empreiteiro
• Executar a obra conforme as determinações contratuais, corrigindo os vícios
e defeitos que a mesma apresentar e entregando-a concluída ao dono.
• Não fazer acréscimos ou mudanças sem necessidade e sem consentimento
do comitente.
• Pagar os materiais que recebeu do comitente, se por negligência ou
imperícia os inutilizar e responder por perdas e danos se suspender a
empreitada sem justa causa.
• Apontar os defeitos nos materiais entregues pelo comitente, que possam
comprometer a execução da obra.
C) Direitos do Comitente (dono da obra)
• Acompanhar a execução da obra e recebê-la concluída, exigindo a
observância do contrato.
• Enjeitar a obra ou pedir o abatimento proporcional do preço.
• Pedir o pagamento dos materiais que forneceu e foram inutilizados por culpa
do empreiteiro.
• Pedir a revisão do contrato se ocorrer diminuição no preço do material ou
da mão de obra superior a um décimo (10%) do preço global convencionado.
D) Deveres do Comitente
• Verificar o que foi feito, pagar a remuneração e receber a obra.
• Não alterar o projeto da obra, sem anuência do seu autor.
RESPONSABILIDADES
• Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções
consideráveis, o empreiteiro de materiais e o de lavor responderão durante
o prazo irredutível de 05 (cinco) anos pela solidez e segurança do
trabalho, tanto em relação aos materiais, como ao solo (art. 618, CC),
exceto quanto a este, se prevenir a tempo o dono da obra.
• Quando o empreiteiro fornece os materiais, correm por sua conta os riscos
até o momento da entrega da obra, não estando o comitente em mora.
Estando em mora, os riscos correrão, por igual, contra as duas partes.
• Quando o empreiteiro só fornece a mão de obra, todos os riscos correrão
por conta do dono, exceto se o empreiteiro tiver culpa.
• Sendo a empreitada unicamente de lavor, se a coisa perecer antes de ser
entregue, sem mora do dono, nem culpa do empreiteiro, este perderá o
salário, a não ser que prove que a perda resultou de defeito dos materiais,
sobre cuja qualidade e quantidade reclamou a tempo.
• O arquiteto ou construtor que, por empreitada, se incumbir de executar uma
obra segundo aceito por quem a encomendou, não terá direito de exigir
acréscimo de preço, ainda que haja aumento de salários ou encarecimento
de materiais, nem ainda que se altere ou aumente a obra em relação à
planta, exceto se alterou por instruções escritas do contratante.
RECEBIMENTO DA OBRA
Concluída a obra de acordo com o ajuste ou o costume do lugar, o dono é
obrigado a recebê-la. No entanto, o dono não é obrigado a receber a obra, se o
empreiteiro:
• Afastou-se das instruções percebidas e dos planos dados.
• Descumpriu regras técnicas previstas para trabalhos da espécie; neste caso,
o empreitante pode receber a obra com abatimento do preço.
RESCISÃO DO CONTRATO
Pode o dono da obra (empreitante) rescindir o contrato de empreitada, sem
pagamento de indenização nas seguintes hipóteses:
• Se ocorrer enfermidade do empreiteiro, ou outra causa que o tome,
deixando-o incapaz de executar a obra contratada.
• Por vício ou procedimento errôneo do empreiteiro.
• Pela não observância do contrato pelo empreiteiro.
Fora desses casos, se o proprietário rescindir o contrato com o empreiteiro,
apesar de começada a execução, indenizará o empreiteiro pelas despesas e
EXTINÇÃO
• Execução da obra (adimplemento da obrigação).
• Morte do empreiteiro (somente se o ajuste foi celebrado intuitu pesonae:
art. 626, CC). Se não for este o caso, os sucessores continuarão sua obra.
Se a morte for do dono da coisa, seus herdeiros assumirão seu lugar até as
forças da herança.
• Resilição unilateral por parte do comitente, que indenizará o empreiteiro das
despesas por ele feitas e do valor da mão de obra, pagando, ainda,, o lucro
razoável que ele poderia ter tido se viesse a concluí-la.
• Distrato (resilição bilateral): ambos os contratantes desatam o vínculo
obrigacional antes do vencimento do prazo convencionado.
• Resolução por inexecução contratual, caso que o inadimplente deverá
ressarcir a outra parte pelas perdas e danos.
• Impossibilidade da prestação (caso fortuito ou força maior).
DEPÓSITO
(arts. 627 a 652, CC)
ELEMENTOS CARACTERIZADORES
• Entrega de coisa móvel corpórea pelo depositante ao depositário.
• Obrigação de custódia.
• Restituição da coisa pelo depositário na ocasião ajustada ou quando
reclamada.
• Temporariedade e gratuidade.
MODALIDADES
1) Voluntário ou Convencional (arts. 627 a 646, CC): resulta de livre acordo
entre as partes. Deve ser feito por escrito, pois a lei só permite sua prova se for
escrito.
2) Necessário (arts. 647 a 652, CC): independe da vontade das partes.
a) Por imposição de lei (legal): feito por desempenho de obrigação legal.
Ex.: depósito de objeto achado; de dívida vencida, na pendência da lide, se vários
credores disputarem o montante; feito pelo administrador dos bens do depositário
que tenha se tornado incapaz, etc.
b) Por ocasião de calamidade (também chamado de depósito miserável).
Ex.: terremoto, incêndio, inundação, naufrágio ou saque, quando o depositante é
obrigado a se socorrer de pessoa que aceita depositar os bens que conseguiu
salvar, etc. Observação: esta modalidade de depósito admite qualquer meio
como prova de sua existência.
c) depósito do hoteleiro ou hospedeiro (art. 649, CC): vamos analisá-lo
mais abaixo adiante de forma mais minuciosa.
PRISÃO DO DEPOSITÁRIO
A prisão civil vem regulada na Constituição Federal de 1988, em seu no
art. 5°, LXVII, que impede, como regra, a prisão do devedor. Mas existem duas
exceções: o inadimplemento inescusável das obrigações alimentares e o
depositário infiel. Assim, o depositário que injustificadamente não restituir a
coisa depositada, ao final do contrato, ou quando solicitada, e desde que não
esteja amparado pelas causas de exclusão da obrigação de restituir (arts. 633 e
634, CC), passa a ser considerado depositário infiel. Estabelece o art. 652, CC
que pode ser decretada a prisão, pelo prazo de até um ano, além de ser obrigado
a indenizar o depositante pelos prejuízos decorrentes de sua infidelidade. Bem...
isso é o que está previsto no Código Civil. Porém... vejamos o item abaixo...
ATENÇÃO!!!
O Supremo Tribunal Federal, em recentes decisões (Recursos
Extraordinários 466.343/SP e 349.703/RS e Habeas Corpus 87.585/TO), estendeu
a proibição de prisão civil por dívida (art. 5°, LXVII, CF) à hipótese de
infidelidade no depósito de bens e, por analogia, também à alienação fiduciária,
revogando a Súmula 619. Explicando melhor o assunto:
A Emenda Constitucional 45/04 tornou os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos equivalentes à norma constitucional,
desde que aprovados pelo Congresso Nacional, pela maioria de dois terços, em
dois turnos de votação (art. 5°, §3°, CF/88). Como o Pacto de São José da Costa
Rica (Convenção Interamericana de Direitos Humanos), que proíbe a prisão civil
MANDATO
(arts. 653 a 692, CC)
PARTES
• Mandante (outorgante): a pessoa que confere os poderes.
• Mandatário (outorgado, procurador): a pessoa que recebe os poderes
outorgados pela outra parte.
NATUREZA JURÍDICA
• Contrato Bilateral: contrato porque são necessárias duas vontades:
além do mandante, o mandatário deve aceitar o mandato, embora este,
como regra, não assine o instrumento. A aceitação pode ser expressa
ou tácita (se resultar do começo da execução, ou seja, se o mandatário
der início a atos de execução, presume que aceitou o mandato). O simples
silêncio não indica aceitação do encargo. É bilateral porque gera efeitos
tanto para o mandante quanto para o mandatário.
• Gratuito ou Remunerado (oneroso): o mandato presume-se gratuito
quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto
corresponder ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão
lucrativa (ex.: o advogado, o despachante, etc.). Se a retribuição não
estiver prevista no contrato o quantum será determinado pelos usos e
costumes locais ou, na sua ausência, por arbitramento judicial.
• Intuitu personae: é celebrado em consideração à idoneidade técnica e
moral do mandatário, predominando a mútua confiança entre os
contratantes (caráter pessoal ou personalíssimo).
• Representatividade: é imprescindível a ideia de representação, que
estabelece um liame obrigacional entre o mandante e a terceira pessoa,
por meio do representante (mandatário). O mandato é uma representação
convencional.
• Revogabilidade: qualquer um dos contratantes poderá por fim ao
contrato sem a anuência do outro ou qualquer justificativa. Resilição
unilateral: a) revogação por parte do mandante; b) renúncia por parte
do mandatário. Há casos de irrevogabilidade, que serão analisados
adiante.
• Forma Livre: não exige forma especial, podendo ser até verbal. É
contrato consensual (depende só da vontade das partes) e não formal
(não tem forma prevista em lei). Todavia, para os atos que exigem
instrumento público ou particular (ex.: compra e venda de bens imóveis
INSTRUMENTO DO MANDATO
O instrumento do mandato escrito é a procuração, que é uma autorização
representativa. É muito comum o aluno confundir Mandato com Procuração. Na
prática, muitas vezes estes termos são usados como sinônimos. Mandato é o nome
do contrato. Já a Procuração é o instrumento do Mandato; é a forma pela qual
o contrato de mandato se instrumentaliza, se materializa, se torna concreto. A
procuração pode ser outorgada por instrumento público ou particular.
A procuração por instrumento público só é exigida em casos especiais
(ex.: para os relativamente incapazes, o cego, o analfabeto, etc.). Fora desses
casos, é lícito outorgar procuração mediante instrumento particular, somente
tendo validade se tiver assinatura do mandante (art. 654, in fine, CC). O
reconhecimento da firma do outorgante no instrumento particular será
condição essencial à sua validade em relação a terceiros (efeito erga omnes),
que poderão exigi-lo (art. 654, §2°, CC). Como a procuração geralmente é
destinada para produzir efeitos perante terceiros, recomenda-se sempre o
reconhecimento de firma.
A procuração deve ser por instrumento público quando dada por um
cônjuge para o outro para: alienar, hipotecar ou gravar de ônus real os bens
imóveis do casal; prestar fiança; fazer doação de bens ou rendimentos comuns,
etc.
ESPÉCIES
O mandato, por ser caracterizado pela ideia de representação, pode ser
classificado em: legal, judicial ou convencional (ad judicia ou ad negotia).
1) Mandato Legal
É o que decorre da lei e dispensa qualquer instrumento. São seus exemplos:
o mandato que os pais têm para representar os filhos menores e administrar-lhes
seus negócios, bem como o dos tutores e curadores em relação aos tutelados e
curatelados. Os sindicatos têm mandado legal para representar seus associados
perante autoridades administrativas e judiciais, etc.
2) Mandato Judicial
É o conferido em virtude de um processo judicial, sendo o mandatário
nomeado pela autoridade judicial, como o Inventariante (que representa o
CLASSIFICAÇÃO DO MANDATO
O contrato de mandato pode ser classificado da seguinte forma:
1) Quanto às relações entre mandante e mandatário
• Oneroso: quando a atividade do mandatário é remunerada; ou seja, se
ele recebe algo para exercer o mandato.
• Gratuito: quando o mandatário exerce o mandato sem remuneração.
2) Quanto à pessoa do procurador
Singular ou simples: quando há apenas um mandatário.
Plural: quando há vários procuradores. Neste caso há uma subclassificação:
a) Conjunto: se os mandatários não puderem agir separadamente.
b) Solidário: se os mandatários puderem agir separadamente e
independentemente da ordem de nomeação (qualquer um pode fazer
qualquer coisa).
c) Fracionário: se a ação de cada mandatário estiver delimitada,
devendo cada qual agir em seu setor.
d) Substitutivo: se um puder agir na falta do outro, mas observando
sempre a ordem de nomeação.
3) Quanto ao modo de manifestação de vontade
• Expresso: específico daquelas hipóteses onde há uma procuração
contendo poderes específicos.
MANDATO AD JUDICIA
O mandato ad judicia também é conhecido como mandato judicial. É o
conferido a Advogado. Para ser Advogado, não basta ser formado em Direito. A
pessoa, para exercer o mandato judicial, deve ser inscrita na Ordem dos
Advogados do Brasil, sob pena de nulidade do ato. Com isso, pode praticar todos
os atos do fórum em geral, excetuados os que exigem poderes especiais. É um
contrato intuitu personae (pessoal, personalíssimo), lastreado na mútua
confiança. É admissível a sua resilição unilateral e será oneroso (há uma
presunção de onerosidade), devendo ser feito por escrito.
A procuração ad judicia, que é instrumento do mandato, pode ser outorgada
por instrumento público ou particular, dependendo da hipótese. Dispensa-se o
instrumento o defensor que foi nomeado pelo Juiz. Ex.: uma pessoa foi presa em
flagrante e será processada criminalmente. Comparece em juízo desacompanhada
de advogado constituído. Neste caso o Juiz deve nomear um advogado dativo ao
réu, sem a necessidade de uma procuração.
SUBSTABELECIMENTO
Em que pese o caráter intuitu personae (pessoal) do contrato de mandato
e sem quebra dessa característica, há a possibilidade do mandatário
substabelecer, não representando esse fato violação de seus
deveres. Substabelecer significa transferir ou conferir a outra pessoa, total
ou parcialmente os poderes que o mandatário recebeu do mandante. Ex.:
“A” (mandante) outorgou poderes para “B” (mandatário) realizar um negócio
perante “C”. Como “B” também não poderá realizar este negócio neste dia,
transferiu os poderes que recebeu para “D”.
PODERES ESPECIAIS
O mandato ad negotia confere poderes para os atos de administração em
geral, e o ad judicia confere poderes para advogado praticar todos os atos do
processo, com exceção dos que exigem poderes especiais. Em determinadas
situações exige-se que a procuração seja minuciosa, dizendo exatamente quais os
seus termos, quais os poderes que está outorgando, quais os limites dos poderes
conferidos. Assim:
A) Exige poderes especiais o mandado ad negotia para: alienar, levantar
dinheiro, hipotecar, dar fiança, casar (art. 1.542, CC), emitir cheque, transigir
(por fim a uma demanda através de um acordo), oferecer queixa-crime, etc.
B) Exige poderes especiais o mandato ad judicia para: receber citação,
receber e dar quitação, confessar, representar testamenteiro, transigir, etc.
OBRIGAÇÕES DO MANDATÁRIO
• Cumprir fielmente o mandato, de modo que se não o cumprir responde por
culpa (em sentido amplo).
• Não substabelecer sem autorização, sob pena de responder pelos prejuízos,
como já visto anteriormente.
• Prestar contas ao mandante, transferindo-lhe as vantagens.
• Representar a procuração com quem tratar.
OBRIGAÇÕES DO MANDANTE
• Assumir as obrigações contraídas nos limites do mandato.
• Reembolsar as despesas decorrentes do mandato (a regra é adiantá-las).
• Pagar a remuneração tratada.
• Cobrir os prejuízos do mandatário.
VÁRIOS MANDATÁRIOS
Se houver mais de dois mandatários nomeados no mesmo instrumento,
qualquer deles poderá exercer os poderes outorgados (salvo se não forem
expressamente declarados conjuntos, nem especificamente designados para atos
diferentes, ou subordinados a atos sucessivos). Se os mandatários forem
declarados conjuntos, todos deverão praticar o ato em conjunto, sob pena de
não produzir efeitos (ressalvada a ocorrência de ratificação, que retroagirá a data
do ato).
EXTINÇÃO DO MANDATO
• Revogação do mandante, que pode ser expressa ou tácita. Ex.: o mandante
assume pessoalmente a realização do negócio.
Observações
1) A Revogação Tácita ocorre quando:
a) O mandante constitui novo mandatário e comunica o anterior. Se ele não
comunicar ao primeiro mandatário, os atos por este praticados não podem ser
considerados excessivos e valem.
b) O mandante assume pessoalmente o negócio.
MANDATO IRREVOGÁVEL
Como vimos, o mandato pode ser revogado a qualquer tempo. No entanto é
irrevogável o mandato quando:
• Assim se convencionar.
• Conferido a sócio, pelo estatuto social.
• For condição de um contrato bilateral
• Em causa própria (veremos melhor essa situação logo abaixo).
COMISSÃO
(arts. 693 a 709, CC)
Natureza Jurídica
Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, consensual e personalíssimo
(intuitu personae: baseado na confiança que se deposita no comissário). Trata-se
de uma intermediação aliada à prestação de serviços.
Responsabilidade
A responsabilidade do comissário vem estabelecida no art. 696, CC: No
desempenho das suas incumbências o comissário é obrigado a agir com cuidado
e diligência, não só para evitar qualquer prejuízo ao comitente, mas ainda para
lhe proporcionar o lucro que razoavelmente se podia esperar do negócio. Parágrafo
único. Responderá o comissário, salvo motivo de força maior, por qualquer
prejuízo que, por ação ou omissão, ocasionar ao comitente.
Comissão del credere
A comissão pode ser simples ou del credere (= da confiança). Esta é uma
modalidade em que o comissário assume a responsabilidade de responder
pela solvência daquele com que vier a contratar no interesse e por conta do
comitente. Assim, nesta hipótese, o comissário responde solidariamente com
as pessoas com quem houver tratado em nome do comitente. Ex.: o comissário
vende o café do comitente e dá prazo para o terceiro pagar. Ocorre que este
terceiro não paga... neste caso o comissário deve pagar ao comitente e depois
executa (processualmente falando) o terceiro. Tendo em vista o maior risco
assumido, o comissário faz jus a uma remuneração bem mais elevada.
AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO
(arts. 710 a 721, CC)
AGÊNCIA
É o contrato pelo qual uma pessoa (agente ou representante comercial), sob
remuneração, mas sem vínculo trabalhista, se obriga em caráter duradouro a
negociar em certo lugar por conta do proponente (art. 710, 1ª parte, CC). O
agente cabe fazer propaganda dos produtos do proponente, conhecer o mercado,
captar clientela, intermediar os negócios, fiscalizar os concorrentes e encaminhar
os pedidos, tudo sob orientação do proponente (art. 712, CC). O agente deve ter
DISTRIBUIÇÃO
Quando o agente tem à sua disposição, a coisa do proponente, o contrato
de agência chama-se de distribuição (art. 710, in fine, CC). O agente (nesse caso
chamado de distribuidor) se obriga a comprar a mercadoria do proponente
(fornecedor, fabricante) regularmente, para ser revendida em determinada região
por ele determinada com exclusividade (ex: as distribuidoras/revendas de
veículos); o fabricante fica obrigado a não vender a mercadoria a outro negociante
na mesma região.
Diferença básica: o agente promove negócios; o distribuidor realiza vendas.
CORRETAGEM
(arts. 722 a 729, CC)
NATUREZA JURÍDICA
Trata-se de contrato bilateral, oneroso, aleatório ou comutativo, consensual,
acessório e impessoal (não personalíssimo). Trata-se de uma obrigação de fazer.
E de resultado (e não de meio), pois não depende do serviço prestado
propriamente, mas em razão do resultado obtido (a venda).
Obrigações. Segundo o art. 723, CC, o corretor é obrigado a executar a
mediação com diligência e prudência, e a prestar ao cliente, espontaneamente,
todas as informações sobre o andamento do negócio. Sob pena de responder por
perdas e danos, o corretor prestará ao cliente todos os esclarecimentos acerca da
segurança ou do risco do negócio, das alterações de valores e de outros fatores
que possam influir nos resultados da incumbência (redação dada pela Lei n°
12.236/2010).
Remuneração. Segundo o art. 725, CC, a remuneração é devida ao corretor
uma vez que tenha conseguido o resultado previsto no contrato de mediação, ou
ainda que este não se efetive em virtude de arrependimento das partes. Além
disso, não havendo prazo determinado, se o dono do negócio dispensar o corretor,
e o negócio se realizar posteriormente, como fruto da sua mediação, a corretagem
lhe será devida.
TRANSPORTE
(arts. 730 a 756, CC)
NATUREZA JURÍDICA
• Bilateral: cria obrigações tanto para o transportador (remover a coisa ou
pessoa de um lugar para o outro), como o passageiro ou expedidor (pagar
o preço ajustado – passagem ou frete).
• Oneroso: há interesse e utilidade para ambas as partes.
• Comutativo: as prestações de ambas as partes já estão certas, não ficando
na dependência de evento incerto (que seria o contrato aleatório).
• Consensual: aperfeiçoa-se pelo mútuo consentimento dos contraentes.
CLASSIFICAÇÃO
1) Quanto ao objeto conduzido
• Transporte de pessoas
• Transporte de coisas
2) Quanto ao meio empregado
• Rodoviário
• Ferroviário
• Marítimo ou Fluvial
• Aéreo
Conhecimento de Transporte
A mercadoria a ser transportada será entregue ao transportador que emitirá,
como prova do recebimento da coisa, um documento designado Conhecimento de
Transporte, Conhecimento de Carga ou Conhecimento de Frete. Esse documento
deverá conter:
• nome comercial da empresa emissora do Conhecimento de Frete (ou seja,
do transportador)
• número de ordem do Conhecimento
• data da emissão do Conhecimento
• nome do remetente e do destinatário
• lugar em que a mercadoria é recebida
• espécie, quantidade e peso da mercadoria
• importância do frete, com a declaração de que é pago ou a pagar
• assinatura da empresa emissora (transportador)
Direitos do Transportador
• reter a mercadoria até receber o frete.
• reajustar o frete se houver variação de consignação.
• receber indenização pelo prejuízo que vier a sofrer, com informação falsa.
TRANSPORTE DE PESSOAS
O contrato de transporte de pessoas é aquele em que o transportador se
obriga a remover uma pessoa e sua bagagem de um local para outro, mediante
remuneração (arts. 734 a 742, CC).
Partes
• Transportador: pessoa que se compromete a fazer o transporte.
• Passageiro: pessoa que se propõe a ser transportada, pagando um certo
preço.
Ambos deverão ser capazes, em se tratando de viagens de longos percursos,
e nelas os passageiros menores serão representados por seus pais. Nos
transportes urbanos, qualquer menor ou incapaz poderá fazer uso dos veículos,
pagando o preço da passagem. Crianças até 12 anos não podem viajar para fora
da comarca onde residem, exceto se estiverem acompanhadas dos pais ou de
responsável, ou devidamente munidas de autorização judicial.
Bilhete
O passageiro adquire um bilhete de passagem, que poderá ser nominativo
ou ao portador, e que dará direito a quem o apresentar de ser transportado. É um
título de legitimação, que atesta a vontade do adquirente de ser transportado de
um lugar para outro, e a do transportador de realizar o transporte. Poderá designar
lugares para os passageiros.
O bilhete de passagem não é indispensável para a efetivação do contrato.
Bagagem
O contrato de transporte de pessoas abrangerá a obrigação de transportar
a bagagem do passageiro ou viajante no próprio compartimento em que viajar ou
em depósitos apropriados dos veículos, mediante despacho, hipótese em que o
Obrigações do Transportador
• transportar o passageiro de um local para outro, no tempo e modo
convencionados.
• efetuar o transporte com cuidado, exatidão e presteza.
• responder pelos danos causados ao viajante, oriundos de desastres não
provocados por força maior ou caso fortuito, ou culpa do passageiro,
pagando uma indenização variável, conforme a natureza ou a extensão do
prejuízo. Deverá, ainda, indenizar pela perda ou avaria de bagagens dos
viajantes.
• responder pelos prejuízos causados aos passageiros em virtude de atraso
dos transportes, na saída ou na chegada, se esse atraso não for motivado
por força maior.
• concluir o transporte contratado, se a viagem se interromper por fato
imprevisível, em outro veículo, à sua custa, correndo também durante a
espera de novo transporte.
Direitos do Transportador
• reter até 5% da importância a ser restituída ao passageiro, a título de multa
compensatória, se ele desistir da viagem.
• reter a bagagem do passageiro para garantir-se do pagamento do preço da
passagem que não tiver sido paga no início do percurso.
• exigir declaração do valor da bagagem a fim de fixar o limite da indenização.
Deveres do Passageiro
• pagar a importância determinada de acordo com a tarifa estabelecida.
• apresentar-se no local de embarque antes da hora marcada para partida,
pois não terá direito a ser reembolsado do preço do bilhete, por não estar
presente no local e no horário fixados, perder a condução, salvo se provar
que outra pessoa foi transportada em seu lugar.
• sujeitar-se às normas estabelecidas pelo condutor.
• não conduzir armas.
Direitos do Passageiro
• exigir o transporte, uma vez apresentado o bilhete de passagem.
• ser transportado com cuidado, presteza e exatidão, do lugar do início de sua
viagem ao local de chegada.
• ocupar o lugar mencionado no bilhete, ou, se o bilhete não mencionar local
certo, ocupar qualquer um do veículo, já que o transportador não poderá
vender bilhetes em número superior aos dos lugares existentes. Em certos
tipos de transportes coletivos, para facilitar o tráfego das pessoas, será
permitido ao condutor transportar um número de pessoas superior ao dos
assentos existentes.
• desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, com direito à
devolução do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que
comprove que outro passageiro foi transportado em seu lugar.
• receber a restituição do valor do bilhete não utilizado se deixar de embarcar
e provar que outro foi transportado em seu lugar.
SEGURO
(arts. 757 a 802, CC)
PARTES
• Segurador: é o que suporta o risco, mediante recebimento do prêmio. A
atividade do segurador é exercida por pessoas jurídicas legalmente
autorizadas pelo governo federal.
• Segurado: é o que tem interesse direto na conservação da pessoa ou coisa,
adquirindo a apólice, mediante uma contribuição periódica e moderada, isto
é, o prêmio, em troca do risco que o segurador assumirá. Deve ter
capacidade civil.
• Beneficiário: é a pessoa física ou jurídica que fará jus à indenização
podendo ser o próprio segurado ou um terceiro.
NATUREZA JURÍDICA
• Contrato Bilateral: gera obrigações para o segurado (pagar o prêmio) e
para o segurador (que assume o risco pelo sinistro).
• Oneroso: traz prestações e contraprestações a ambas as partes.
• Aleatório: por não haver equivalência entre as prestações. Na realidade, a
obrigação do segurado é certa (pagar o prêmio), porém ele não pode
antever, de imediato, se receberá algo em troca de sua prestação. O
segurador assume o risco, ressarcindo o dano sofrido pelo segurado, se o
evento incerto ocorrer. Observem que o evento pode ocorrer ou não! Vamos
tomar como exemplo o seguro de um veículo. Se não ocorrer o sinistro
(acidente com o veículo), o segurador irá receber o prêmio (quantia paga
pelo segurado e que não será devolvida) sem nada desembolsar. Mas se o
sinistro ocorrer, ele deverá pagar uma indenização cujo valor pode ser muito
maior do que o prêmio recebido. Lembrando que o segurador pode mover
ação regressiva contra o causador do dano.
• Formal: a forma escrita é obrigatória; para se provar é necessária a
exibição da apólice ou do bilhete do seguro e, na falta deles, de um
documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.
REQUISITOS
• Segurador só poderá ser entidade devidamente autorizada pelo Governo
Federal para operar no ramo.
• Capacidade civil do segurado.
• O objeto do segurado deve ser lícito e possível (ex.: é nulo o contrato de
seguro de uma operação de contrabando).
• O valor do objeto deve ser determinado.
• O pagamento da seguradora deverá ser equivalente ao valor real do bem ou
de sua reposição.
• O contrato exige forma escrita para ser obrigatório. Esse instrumento
chama-se apólice ou bilhete do seguro.
PRÊMIO
Estabelecido o contrato de seguro, o segurado deve pagar uma contribuição,
periódica e moderada, chamada prêmio, em troca do risco que o segurador
assumirá em caso de incêndio, abalroamento, naufrágio, furto, falência, acidente,
morte, etc.
As partes fixam livremente a taxa do prêmio, tendo-se em vista a duração
do risco, as causas que possa efetivá-lo e o montante da indenização. O prêmio
deve ser líquido e certo.
Observações
1) A apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a declaração dos
elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco.
2) A falta de apólice pode ser suprida pelo registro mediante a comprovação
do pagamento do prêmio.
3) As apólices de acidentes são plurianuais.
4) O seguro pode ser contratado por meio de bilhete de seguro, que é um
instrumento simplificado.
SEGURO DE DANO
É aquele de natureza essencialmente indenizatória. O seguro de dano
protege o patrimônio do segurado (qualquer que seja o bem da pessoa física
ou jurídica: casa, joia, automóvel, etc.), contra incêndio, abalroamento, roubo,
acidente, etc. As cláusulas de cobertura, bem como as de exclusão devem constar
no contrato. Se o sinistro ocorrido não estiver expressamente previsto no contrato,
não haverá indenização.
A garantia prometida não pode ser maior que o valor do interesse
segurado na conclusão do contrato e a indenização não pode ultrapassar o valor
do interesse segurado no momento do sinistro. Ou seja, se eu fiz o seguro de um
carro que vale 20 mil, o limite máximo do seguro são os 20 mil, não se podendo
segurar uma coisa por mais do que ela valha. No entanto, o risco do seguro
compreende todos os prejuízos ocasionados pelos estragos para evitar o
sinistro, minorar o dano, ou salvar a coisa. Mas é importante lembrar que se eu
fiz um seguro do veículo e o mesmo foi roubado com muitos pertences em seu
interior, a seguradora somente irá pagar pelo veículo.
Posso fazer dois seguros sobre a mesma coisa? Pode... mas não
convém. Isso porque o art. 782, CC estabelece que, no caso de um novo seguro
para o mesmo bem, a pessoa deve comunicar por escrito à seguradora inicial, e,
caso haja o sinistro, o valor da indenização (somando os dois seguros) não pode
ultrapassar o valor real do bem.
No seguro de coisas transportadas, a garantia começa no momento em
que o transportador recebe e, termina com a entrega ao destinatário. Não se inclui
na garantia o sinistro provocado por defeito próprio da coisa segurada, não
declarado pelo segurado.
Pode ocorrer a transferência do contrato a terceiro com a alienação ou
cessão do interesse segurado. Se o contrato for nominativo, a transferência só
terá efeito para o segurador, mediante aviso escrito assinado pelo cedente e pelo
cessionário. No caso de apólice ou o bilhete à ordem, o contrato só poderá ser
SEGURO DE PESSOA
É aquele em que tem por objeto a vida ou a integridade física de
determinada pessoa (arts. 789 a 802, CC). Isso porque nossa legislação permite
que a vida humana seja objeto de seguro contra os riscos de morte involuntária.
O seguro não será pago se o segurado vier a falecer de morte voluntária nos dois
primeiros anos de vigência inicial do contrato (ex.: suicídio, duelo, etc.) e no caso
em que o beneficiário foi o assassino do segurado. No entanto, é admissível o
seguro em casos de esportes arriscados, alistamento militar, ato de heroísmo, etc.
O seguro de pessoas garante que o capital segurado seja livremente
estipulado pelo proponente (diferentemente do seguro de dano).
Como a saúde e a vida não tem preço, pode haver diversas contratações
por seguradoras diferentes, independentemente do valor de cada contrato (art.
789, CC), sendo que cada apólice será indenizada.
É nula qualquer transação entre seguradora e beneficiário para que haja
pagamento reduzido do capital segurado (art. 795, CC).
O seguro pode ser feito por pessoa natural ou jurídica em proveito de grupo
que a ela se vincule (art. 801, CC). A apólice de seguro só poderá ser modificada
mediante a expressa anuência de segurados representados por três quartos do
grupo.
SEGURO DE VIDA
No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital
estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança
para efeitos de direito (art. 794, CC), pois não integra o patrimônio do segurado.
O prêmio será conveniado por prazo limitado, ou por toda a vida do segurado.
Para o caso de morte pode ser estipulado um prazo de carência, durante o
qual o segurador não responde pelo sinistro. O segurador é obrigado a devolver
ao beneficiário o montante da reserva já formada.
Uma característica essencial do seguro de vida é a livre escolha dos
beneficiários, que podem ser indicados e substituídos a qualquer tempo pelo
segurado. O segurado pode, inclusive, preterir seus herdeiros em favor de
estranhos (pois não integra a herança). O segurador pode não indicar de imediato
o nome do beneficiário. No entanto se falecer e não foi indicada a pessoa
beneficiária, o capital segurado será pago a metade ao cônjuge não separado
judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado (art. 792, CC).
A instituição do companheiro como beneficiário é válida, se ao tempo do
contrato o segurado era separado judicialmente, ou de fato (art. 793, CC).
Direitos do Segurado
• Receber a indenização e a reparação do dano.
• Não ver aumentado o prêmio, embora agravados os riscos, em razão de fato
alheio à sua vontade.
• Receber reembolso de despesas feitas no interesse da seguradora para
diminuir prejuízos.
• Ser defendido pelo segurado nos casos de responsabilidade civil, cuja
reparação esteja a cargo dela.
Obrigações do Segurador
• Indenizar o segurado quanto aos prejuízos resultantes do risco assumido.
• Aceitar cessão do seguro e pagar a terceiro, havendo a transferência do
contrato.
Direitos do Segurador
• Receber o prêmio durante a vigência do contrato.
• Isentar-se do pagamento da indenização no caso de má-fé do segurado, ou
se este deu à coisa segurada valor superior ao real ou no caso de caducidade
da apólice.
• Responder somente pelos riscos que assumiu.
• Reajustar o prêmio para que este corresponda ao risco assumido.
EXTINÇÃO DO SEGURO
• Decurso do prazo estipulado.
• Distrato: ambos os contratantes concordam em dissolver os vínculos.
• Inadimplemento de obrigação legal.
• Superveniência do risco: o contrato perde o objeto e a seguradora paga o
valor assegurado.
• Cessação do risco.
• Nulidade, tornando o contrato ineficaz.
CONSTITUIÇÃO DE RENDA
(arts. 803 a 813, CC)
NATUREZA JURÍDICA
Trata-se de um contrato muito peculiar, podendo assumir diversos aspectos:
unilateral ou bilateral; gratuito ou oneroso (pode haver uma contraprestação);
comutativo ou aleatório; real (entrega efetiva); temporário (pode até ser vitalícia,
mas é proibida a perpetuidade e não se transmite aos herdeiros do beneficiário).
Modos constitutivos: ato inter vivos (contrato – escritura pública), ato
causa mortis (testamento – o testador deixa a renda de herança) ou por sentença
judicial (o Juiz, em ação de responsabilidade civil condena o réu a prestar
alimentos ao ofendido ou pessoa de sua família).
Extinção: expiração do prazo estipulado em contrato, rescisão contratual,
declaração de ausência do credor, implemento de condição resolutiva e
perecimento ou destruição do imóvel a que a renda estiver vinculada.
JOGO E APOSTA
(arts. 814 a 817, CC)
JOGO
É o contrato aleatório, em que duas ou mais pessoas convencionam entre si
pagar certa soma àquela que conseguir um resultado favorável de um
acontecimento incerto.
APOSTA
É a convenção em que duas ou mais pessoas de opiniões discordantes sobre
qualquer assunto prometem, entre si, pagar certa quantia ou entregar
determinado bem àquela cuja opinião prevalecer em virtude de um evento incerto.
Diferencia-se primordialmente do jogo, pois nela sempre haverá um perdedor e
um ganhador, e o seu cumprimento ou entrega dependerá de ato de terceiro.
Espécies
Embora haja controvérsias, a doutrina costuma distinguir os jogos da
seguinte forma:
Consequências jurídicas
Como vimos, o jogo e aposta não obrigam o pagamento, salvo casos
excepcionais. Mas havendo pagamento, não se pode recobrar a quantia que
voluntariamente se pagou (não há repetição), salvo se foi ganha por dolo, ou se
a pessoa que perdeu (perdente) é menor ou interdito.
Isso tem aplicação em caso de jogos proibidos e tolerados; só se excetuando
os jogos e apostas legalmente permitidas (art. 814, §2°, CC). Também se
excetuam os prêmios oferecidos ou prometidos para o vencedor em competição
de natureza esportiva, intelectual ou artística.
A dívida de jogo ou aposta não pode ser usada para compensação, não pode
ser garantida por ônus real e nem pode haver reforço por meio de cláusula penal
(multa).
FIANÇA
(arts. 818 a 839, CC)
NATUREZA JURÍDICA
• Acessório: não existe a fiança sem que haja um contrato, onde se encontra
a obrigação que está sendo garantida pela fiança. Ex.: José contrata um
mútuo (empréstimo) de dinheiro com um Banco (contrato principal). Pedro,
seu fiador, assume obrigação acessória de quitar a dívida, caso José não
pague (fiança – contrato acessório). Como o acessório segue o principal
(accessorium sequitur principale), se o contrato principal for nulo, nula
também será a fiança (art. 824, CC). No entanto a recíproca não é verdadeira.
Além disso, abrange todos os acessórios da dívida principal (juros, cláusula
penal, despesas judiciais, etc.). Apesar de ser sempre acessória, a fiança pode
ser estipulada em um contrato diverso do garantido ou inserido em uma das
cláusulas do contrato principal. A fiança pode ser de valor inferior da
obrigação principal; no entanto nunca poderá ser superior ao valor do débito
principal, nem ser mais onerosa do que ele, sob pena de ser reduzida ao nível
da dívida afiançada (art. 823, CC).
• Unilateral: gera obrigação apenas para o fiador que se obriga para com o
credor, mas este nenhum compromisso assume em relação àquele. Parte da
doutrina considera a fiança como contrato bilateral imperfeito, uma vez que
paga a dívida pelo fiador, este se sub-roga nos direitos do credor, permitindo-
se a ação regressiva.
• Gratuito: em regra o fiador não recebe remuneração; apenas ajuda o
devedor. No entanto nada obsta que se pactue certa remuneração (isso
é muito comum em contratos bancários, em que os bancos assinam termos
CARACTERÍSTICAS
• Forma escrita: a forma da fiança é obrigatoriamente escrita (art. 819,
CC), por instrumento público ou particular e assinada, não se admitindo a
fiança verbal, ainda que com muitas testemunhas. Fiança não se presume;
trata-se de um contrato solene. Ela pode ser realizada no próprio instrumento
do contrato principal.
• Não admite interpretação extensiva: por ser um contrato benéfico, não
se pode falar em interpretação extensiva, nos termos dos arts. 114 e 819,
CC. O fiador responde apenas por aquilo que efetiva e expressamente se
consignou no instrumento. Se alguma dúvida surgir, interpreta-se
favoravelmente ao fiador. Ex.: se concedida para garantir aluguel, não se
estende a danos causados no prédio por eventual incêndio. Se concedida para
garantir aluguel, não se estende a pagamentos de impostos, etc.
• Não se estende além do tempo convencionado: para prorrogar-se a
fiança, caso o contrato se prorrogue, exige-se disposição expressa a esse
respeito. Costuma-se dizer: “a fiança não se estende de uma coisa para outra,
de uma pessoa para outra, de um tempo para outro”.
• Obrigação Subsidiária: o fiador somente se obrigará pela dívida se o
devedor principal (afiançado) não cumprir a prestação devida. Ou seja, o
credor aciona primeiro o devedor principal. Se este não pagar a dívida,
acionará então o fiador (trata-se do “benefício de ordem”, do qual falaremos
logo adiante). No entanto pode ser pactuada a solidariedade (art. 828, II,
CC). Nesse caso o fiador assume a posição de codevedor (sem desnaturar a
fiança); ou seja, o credor pode acionar tanto o devedor principal como o fiador
ou os dois ao mesmo tempo.
• Vontade: a fiança pode ser estabelecida, ainda que sem consentimento ou
contra a vontade do devedor (art. 820, CC).
• Súmula 214 do Superior Tribunal de Justiça: se houver alguma
modificação ou aditamento no contrato principal e o fiador não foi consultado
para esta alteração, não pode ele ser responsável. Nestes termos é o teor da
SUBSTITUIÇÃO
O credor pode exigir a substituição do fiador se este (art. 826, CC):
• Se tornar insolvente (não tiver bens para responder pela obrigação assumida).
• Se tornar incapaz (foi acometido de alguma doença mental).
Observações
01) Segundo remansosa jurisprudência de nossos Tribunais, a renúncia ao
benefício de ordem pelo fiador enseja a sua responsabilidade solidária
quanto ao adimplemento das obrigações assumidas em contrato de locação; ao
credor (locador) assegura-se exigir o pagamento do débito de qualquer um dos
devedores solidários.
02) O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que havendo cláusula
expressa no contrato de locação de que a responsabilidade do fiador perdura até
a efetiva entrega das chaves do imóvel, objeto da locação, não há que se falar em
desobrigação do mesmo, ainda que o contrato tenha se prorrogado por prazo
indeterminado.
BENEFÍCIO DE DIVISÃO
Havendo mais de um fiador garantindo a mesma obrigação, estes serão
considerados, em regra, solidários entre si (aplicam-se as regras das obrigações
solidárias). Todavia, os fiadores podem, entre si, prever expressamente no
contrato de fiança, que se utilizarão o benefício de divisão, isto é, de que a
obrigação entre eles seja divisível. Assim, cada fiador só responderá pela parte
que, em proporção, lhe couber no pagamento (art. 829 e parágrafo único, CC).
SUB-ROGAÇÃO
O fiador que pagar integralmente a dívida ficará sub-rogado nos direitos do
credor, mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva
cota (art. 831, CC). Recordando: sub-rogar significa estar no lugar de. Sub-
rogação nos direitos do credor significa que o fiador que paga passa a ocupar o
lugar do credor, assumindo-lhe todos seus direitos, inclusive o de executar o
devedor, ou os outros fiadores.
EXTINÇÃO DA FIANÇA
• Por vontade do fiador, quando tiver assinado o contrato de fiança sem
limitação de tempo. Neste caso, a exoneração pode ser por ato amigável
entre o fiador e o credor ou por decisão judicial.
• Pela morte do fiador.
• Por anulação judicial, nos casos de anulabilidade dos atos jurídicos em geral
(falta de legitimação, vícios do ato jurídico, etc.).
• Se, sem o consentimento do fiador, o credor conceder moratória ao devedor.
• Se, por algum fato causado pelo credor, tornar-se impossível a sub-rogação
do fiador nos seus direitos e preferências. Ex.: credor levanta hipoteca que
garante a dívida, sendo que por isso o fiador não pode se sub-rogar no
direito de executar aquela hipoteca.
• Se o credor, em quitação amigável, aceitar do devedor objeto diverso do
que venha a perdê-lo por evicção (perda da coisa em virtude de sentença
judicial e sentença anterior). Ex.: A, credor, aceita do devedor um terreno
para quitar a dívida, em lugar de pagamento em dinheiro (novação). Se A
vier a perder este terreno, mesmo por evicção, o fiador está liberado.
• Se o fiador indicar bens do devedor para serem executados em primeiro
lugar, demorando-se o credor a executá-los, e caindo, posteriormente, o
devedor em insolvência, libera-se o fiador.
AVAL
O aval, a exemplo da fiança, é uma garantia pessoal, em que uma pessoa
(o avalista) obriga-se a pagar a dívida de outrem (o avalizado). O avalista é
Fiança Aval
TRANSAÇÃO
(arts. 840 a 850, CC)
FORMA
A transação é feita por escritura pública, nas obrigações em que a lei o exige,
ou por instrumento particular, nas em que ela o admite; se recair sobre direitos
contestados em juízo, será feita por escritura pública, ou por termo nos autos,
assinado pelos transigentes e homologado pelo juiz.
MODALIDADES
• Judicial: realizada no curso de um processo, recaindo sobre direitos
disputados em juízo.
• Extrajudicial: levada a efeito para se evitar a ação judicial. Pode ser
realizada por instrumento público ou particular, dependendo do que a lei
determina.
É importante observar que o Código atual trata a transação como um
contrato típico ou nominado e não mais como uma forma de pagamento
indireto.
EFEITOS
A transação só aproveita aos que nela intervierem, ainda que diga
respeito a coisa indivisível.
Se for concluída entre o credor e o devedor, desobrigará o fiador. Se for feita
entre um dos credores solidários e o devedor, extingue a obrigação deste para
com os outros credores. Se for feita entre um dos devedores solidários e seu
credor, extingue a dívida em relação aos codevedores.
OBJETO
A transação somente é permitida em relação a direitos patrimoniais de
caráter privado, ou seja, somente pode haver transação quanto a direitos
disponíveis, em que a parte pode dispor. Portanto, não é possível transação em
relação às coisas fora do comércio, como o estado e a capacidade das pessoas,
legitimidade e dissolução do casamento, investigação de paternidade, etc.
Pergunto: Cabe transação referente aos alimentos? Resposta: – Não! Os
alimentos envolvem direitos de personalidade; são indisponíveis não podendo ser
objeto de transação, tanto no caso de alimentos devidos em decorrência de
parentesco, casamento ou união estável (há uma proteção constitucional da
COMPROMISSO
(arts. 851 a 853, CC)
ESPÉCIES
1. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA (pactum de compromittendo – tem um
caráter preventivo): é a promessa de celebrar o compromisso futuramente;
convenção (preliminar) através da qual as partes, em um contrato,
comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir,
relativamente a tal contrato. Exemplo: vou celebrar um contato; ainda não tenho
problema algum neste contrato; mas eu penso: e se surgir algum problema? E eu
mesmo respondo: se surgir o problema nós o resolveremos por meio da
arbitragem. Portanto as partes pactuam isso no próprio contrato, de forma
preventiva. Esta cláusula é autônoma em relação ao contrato. Deve ser
CONTRATO DE SOCIEDADE
(Arts. 981 e seguintes, CC)
NATUREZA JURÍDICA
• Bilateral ou Plurilateral: duas ou mais pessoas se obrigam para a
realização de um benefício comum.
• Oneroso: sócios contraem obrigações recíprocas e adquirem direitos.
• Consensual: basta o consentimento das partes para sua formação (embora
para a formação da sociedade simples se exija contrato escrito, particular
ou público).
• Comutativo (regra): o valor das prestações é fixado possibilitando perceber
as vantagens e ônus que poderão advir.
ELEMENTOS ESSENCIAIS
• Existência de duas ou mais pessoas: como regra geral, as sociedades
empresárias precisam de pelo menos dois sócios, sejam pessoas físicas ou
jurídicas. Todavia, há exceções (ex.: subsidiárias integrais).
• Constituição do capital social: todos os sócios devem contribuir de
alguma forma para a sociedade, seja em dinheiro, bens ou trabalho. Tal é
imprescindível por ser o capital social (a soma das contribuições dos sócios)
o fundo inicial, o patrimônio originário da nova pessoa jurídica, com o qual
será possível o exercício da atividade comercial.
LOCAÇÃO DE COISAS
(arts. 565 a 578, CC e Lei n° 8.245/91, com suas alterações)
Conceito. Locação de Coisas. É o contrato pelo qual uma das partes (locador ou
senhorio) se obriga a ceder à outra (locatário ou inquilino), por tempo determinado ou
não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa remuneração (art. 565, CC). Se
houver mais de um locador ou locatário, presume-se que eles são solidários.
Natureza Jurídica: bilateral, onerosos, típico, comutativo, consensual, não solene, trato
sucessivo.
Elementos: além dos comuns a todos contratos, acrescente-se: coisa, preço e consenso.
Forma: livre. Prazo: sempre temporário (determinado ou indeterminado); superior a 10
anos: outorga conjugal.
Espécies: 1) Coisa: a) móvel: Código Civil; b) imóvel (terrenos, garagens autônomas):
Código Civil. 2) Prédios Urbanos (Lei n° 8.245/91): a) Residenciais urbanos; b) Não
residenciais: comerciais ou industriais urbanos e rústicos (art. 51); hospitais, unidades
sanitárias oficiais, asilos, estabelecimentos de saúde e de ensino autorizados e fiscalizados
pelo Poder Público (art. 53); lojistas e empreendedores de shopping center (art. 54); não
comerciais urbanos (ex.: prédio para rede de associação). 3) Prédios Rústicos
(atividade rural): Dec. 59.566/66 e Estatuto da Terra.
Locação de imóvel urbano: Lei n° 8.245/91 e alterações. Espécies. 1) Residencial:
a) prazo certo igual ou superior a 30 meses; b) prazo indeterminado ou inferior a 30
meses. 2) Não Residencial: a) locação comercial com direito à renovatória; b) outras
locações livres. 3) Locação por Temporada.
Características mais importantes: 1) Havendo prazo determinado, o locador não pode
reaver o imóvel alugado. Já o locatário pode devolvê-lo, desde que pague a multa, caso
pactuada, proporcional ao período de cumprimento do contrato ou, na sua falta, a que for
judicialmente estipulada. 2) O aluguel não pode ser cobrado adiantado, salvo se for por
temporada e nos casos em que foi celebrado sem garantias. 3) Após três anos de vigência
do contrato ou do último acordo cabe ação revisional de aluguel. 4) alienação do imóvel
durante a locação rompe o contrato (denúncia vazia ou imotivada); locatário tem direito
de preferência para adquirir o imóvel em igualdade de condições com terceiros. 5) A ação
do locador para reaver o imóvel é sempre o despejo, que pode ser cumulada com a
cobrança dos alugueis vencidos e acessórios.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
Exercícios Comentados
Fundação Carlos Chagas
78) (FGV – Exame Unificado da OAB – 2013) De acordo com o Código Civil,
opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em nome
deste, praticar atos ou administrar interesses. Daniel outorgou a Heron, por
instrumento público, poderes especiais e expressos, por prazo indeterminado,
para vender sua casa na Rua da Abolição, em Salvador, Bahia. Ocorre que, três
dias depois de lavrada e assinada a procuração, em viagem para um congresso
realizado no exterior, Daniel sofre um acidente automobilístico e vem a falecer,
quando ainda fora do país. Heron, no mesmo dia da morte de Daniel, ignorando o
óbito, vende a casa para Fábio, que a compra, estando ambos de boa-fé. De
acordo com a situação narrada, assinale a afirmativa CORRETA.
(A) a compra e venda é nula, em razão de ter cessado o mandato
automaticamente, com a morte do mandante.
(B) a compra e venda é válida, em relação aos contratantes.
(C) a compra e venda é inválida, em razão de ter o mandato sido celebrado por
prazo indeterminado, quando deveria, no caso, ter termo certo.
(D) a compra e venda é anulável pelos herdeiros de Daniel, que podem escolher
entre corroborar o negócio realizado em nome do mandante falecido, revogá-lo,
ou cobrar indenização do mandatário.
COMENTÁRIOS. De fato, a morte é uma forma de extinção do mandato (art. 682,
II, CC). No entanto, no caso apresentado, como Heron não sabia do óbito de Daniel
e vendeu a casa dele para Fábio, sendo que ambos os contratantes agiram de boa-
fé, contrato de compra e venda é considerado válido. A propósito, dispõe o art.
689, CC: São válidos, a respeito dos contratantes de boa-fé, os atos com estes
ajustados em nome do mandante pelo mandatário, enquanto este ignorar a morte
daquele ou a extinção do mandato, por qualquer outra causa. Gabarito: “B”.
85) (FCC – TJ/GO – Juiz de Direito – 2015) Já muito idosa, porém lúcida,
Vera outorgou mandato para que seu filho José passasse a realizar, em
Exercícios Comentados
CESPE – Certo ou Errado
COMENTÁRIOS
a) Errado. A qualquer momento Alfredo pode revogar o mandato outorgado para
Mário e retomar a negociação da venda para si, inclusive impedindo esta venda.
A revogação é ato do mandante e depende apenas de sua simples vontade e esta
pode se dar a qualquer tempo. A revogação pode ser expressa ou tácita.
Será tácita quando o outorgante pratica pessoalmente os atos para os quais
conferiu poderes ao outorgado ou quando constitui novo outorgado para a prática
destes mesmos atos. O art. 682, CC prevê a revogação como uma das causas da
extinção do mandato.