Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
(cap. 1. eletrostática)
universidade de coimbra
2016
2
Conteúdo
1 Eletrostática 5
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.1 A lei de Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.1.2 Distribuições de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2 Vectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2.1 Produto escalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.2.2 Produto vectorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 Sistemas de coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3.1 Coordenadas retangulares: (x, y, z) . . . . . . . . . . . 14
1.3.2 Coordenadas cilı́ndricas: (̺, ϕ, z) . . . . . . . . . . . . 15
1.3.3 Coordenadas esféricas: (r, ϑ, ϕ) . . . . . . . . . . . . . 16
1.4 Operadores diferenciais vectoriais . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4.1 O gradiente de uma função . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.4.2 A divergência de um campo vectorial . . . . . . . . . . 21
1.4.3 O rotacional de um campo vectorial . . . . . . . . . . . 24
1.4.4 O Laplaciano de um campo . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.4.5 Considerações adicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.5 O campo eletrostático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.5.1 Divergência do campo eletrostático . . . . . . . . . . . 31
1.5.2 Rotacional do campo eletrostático − o potencial . . . . 34
1.5.3 Distribuições de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.5.4 Superfı́cies de fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.5.5 Energia eletrostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.5.6 O dipolo elétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
1.5.7 Momento dipolar de uma distribuição contı́nua de cargas 49
1.5.8 O potencial e o campo de um dipolo elétrico ideal . . . 50
1.5.9 Expansão multipolar do potencial . . . . . . . . . . . . 52
3
4 CONTEÚDO
Eletrostática
1.1 Introdução
É sabido que as cargas elétricas interagem entre si, ainda que estejam afas-
tadas umas das outras. A ação à distância entre corpos que não estão em
contacto era já uma dificuldade referida pelo próprio Isaac Newton acerca da
força de atração gravitacional entre dois corpos distantes. Pois não é deveras
estranho que corpos que estão afastados e sem qualquer contacto exerçam
um sobre o outro uma força?!
Esta dificuldade conceptual fundamental deu origem à ideia de campo.
Nesta descrição, uma carga elétrica cria algo em todo o espaço em seu re-
dor, a que chamamos campo - uma carga elétrica estática cria um campo
eletrostático. Se outra estiver carga colocada algures num ponto afastado
interage então com esse campo e fica assim sujeita a uma força. A interação
deixa pois de ser à distância para passar a ser uma interação local da carga
com o campo que exista na sua vizinhança imediata.
Um campo medeia portanto a interação entre os dois corpos (cargas)
que estão afastados um do outro, descrevendo-a como um efeito local entre
qualquer desses corpos e o campo na respetiva vizinhança.
Mas, como adiante veremos, o campo é mais que um mero edifı́cio con-
ceptual, tem mesmo existência real; tem energia e pode ser perturbado e
essas perturbações propagam-se através do espaço como ondas imateriais,
c j. pinto da cunha, eletromagnetismo /eletrostática, universidade de coimbra, 2016.
5
6 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
E
E1 (r)
E2 r’ q2 F2
r E1 (r2)
q1 r2
F1
1
De facto, é mesmo “ver”, pois, como dissemos acima, a perturbação de um campo
imaterial propaga-se à velocidade da luz.
1.1. INTRODUÇÃO 7
+ +
+ q1 −
q2
a) b)
Figura 1.2: O campo eletrostático é em cada ponto a soma dos campos criados
por cada uma das cargas (ver eq. 1.2). Um campo vectorial é convenientemente
representado pelas chamadas linhas de campo - estas linhas são tangentes aos
vectores do campo em cada ponto e dão-nos uma representação mental da estrutura
do campo em causa. As linhas de campo divergem sempre das cargas positivas e
convergem para as cargas negativas (ou para o infinito). a) Linhas de campo (e
vectores) do campo criado por duas cargas positivas: q1 e q2 = q41 , e b) campo de
duas cargas de sinal oposto, q1 e q2 = − q41 .
1.2 Vectores
Os vectores permitem escrever de forma compacta e conveniente campos vec-
toriais e as interações que tenham carácter direcional. Importa pois discutir
10 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
y y
qi dq
r"
i r"
r’i r Ei r’ r dE
O O
x x
z z
a) b)
3
X
a·b= ai b i
i=1
4
A notação varia: {ê1 , ê2 , ê3 } ≡ {êx , êy , êz } ≡ {x̂, ŷ, ẑ} ≡ {ı̂, ̂, k̂}.
12 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
a
θ a
b θ b⊥ b
a⊥
a . b = b a ⊥ = a b⊥ a b
e⊥
a) b)
já que êi · êj = δij . Ou seja, o produto escalar dos dois vectores é igual à
soma dos produtos das componentes respetivas.
e^3 e^2
y
e^
1
(x,y,z) dl
dz
dx
dy
r dτ
z^ y dy
x^ y^
x
Figura 1.6: Coordenadas cartesianas, (x, y, z) e respetivos versores, (x̂, ŷ, ẑ).
dz
z z
z^ dl dz
ϕ
^
ρ
^ dρ ρdϕ
r dτ
r
ϕ
^ y dϕ
ϕ y
ρ ϕ ρdϕ
ρ
ρ^
x x dρ
(os volumes não são representados pela letra V para não se confundir com o
potencial).
z z
r^ dr dϕ
ρ
ϕ
^ dl dr
^
θ r dθ ρdϕ
r
θ r θ r dθ
dθ dτ
ϕ ϕ
^ y dϕ y
ϕ ρ ρd ϕ
x x
Figura 1.8: Coordenadas esféricas, (r, ϑ, ϕ) e respetivos versores, (r̂, ϑ̂, ϕ̂). Note
que ̺ = r sin ϑ e que os três versores mudam de direção de um ponto para outro.
√ 2
r̂ = sin ϑ cos ϕ x̂ + sin ϑ sin ϕ ŷ + cos ϑ ẑ
2 2
r = x +y +z
θ = acos zr e
ϑ̂ = cos ϑ cos ϕ x̂ + cos ϑ sin ϕ ŷ − sin ϑ ẑ
ϕ = atan xy
ϕ̂ = − sin ϕ x̂ + cos ϕ ŷ
(1.13)
P
Um vector a escreve-se neste sistema de referência como a = i ai êi ,
onde ai são as componentes dadas pelas projeções de a na base vectorial,
ar = a · r̂; aϑ = a · ϑ̂; aϕ = a · ϕ̂
5
Nota importante: Infelizmente, na matemática é costume usar os sı́mbolos ϑ e ϕ ao
contrário da fı́sica e engenharia, porque na matemática se lista primeiro o ângulo azimutal,
antes do polar. É pois necessário ter cuidado ao consultar bibliografia diversa!
1.4. OPERADORES DIFERENCIAIS VECTORIAIS 17
ds = r2 sin ϑ dϑ dϕ (1.14)
dτ = r2 sin ϑ dr dϑ dϕ
f(x,y)
11111111dfy
00000000
y
00000000
11111111
00000000
11111111dfx
df=dfx+ df y
000000000000
111111111111
00000000
11111111
000000000000
111111111111dfx dy
O
000000000000
111111111111
dx x
Figura 1.9: A diferencial de uma função, f (x, y). Se x → x + dx ⇒ f → f + δx f ;
se y → y + dy ⇒ f → f + δy f ; então quando (x, y) → (x + dx, y + dy), f → f + df
e, portanto, df = δx f + δy f ≈ ∂x f dx + ∂y f dy.
∂f ∂f ∂f
df = dx + dy + dz (1.15)
∂x ∂y ∂z
onde ∂f∂x
representa a derivada parcial da função em ordem à variável x (i.e.,
quando varia x mas se mantêm constantes as restantes variáveis). Ou seja,
a variação da função pode-se escrever como a soma das variações parciais,
quando se varia isoladamente cada uma das coordenadas em sequência (ver
fig. 1.9).
Considerando que um elemento infinitesimal de linha tem nestas coorde-
nadas a forma, dℓ = dx x̂ + dy ŷ + dz ẑ, e comparando-a com a forma de df
1.4. OPERADORES DIFERENCIAIS VECTORIAIS 19
em que
∂f ∂f ∂f
∇f = x̂ + ŷ + ẑ
∂x ∂y ∂z
Esta quantidade é o chamado gradiente da função, ou gradf ≡ ∇f . O
sı́mbolo ∇, (chama-se nabla), representa pois um operador diferencial vecto-
rial, da forma7 ,
def ∂ ∂ ∂
∇= x̂ + ŷ + ẑ (1.17)
∂x ∂y ∂z
cuja operação sobre uma função (regular), f , nos dá o gradiente dessa função
em cada ponto,
∂f ∂f ∂f
∇f = x̂ + ŷ + ẑ (1.18)
∂x ∂y ∂z
Mas qual é afinal o significado e que interpretação tem grad f ≡ ∇f ?
Como se disse acima, se dr → r +dℓ então df → f +df . Porém, a quantidade
df depende em geral da direção de dℓ (ver fig. 1.10). A derivada, df dℓ
, segundo
uma certa direção/sentido, ℓ̂, é igual à projeção do gradiente nessa direção e
sentido, já que sendo dℓ = dℓℓ̂, a eq. 1.16 fica,
df
= (∇f ) · ℓ̂
dℓ
f
40
f 30
f
dl
20
10
Figura 1.10: Uma função escalar, f , pode ser representada por curvas de igual
valor ou de nı́vel. O gradiente de uma função f , grad f ≡ ∇f , é igual à máxima
derivada direcional da função em cada ponto; i.e., em cada ponto, aponta na
direção e sentido em que f cresce mais depressa, i.e., na perpendicular às linhas
(ou superfı́cies) de equivalor da função, em cada ponto.
Teorema do gradiente
Resulta da equação 1.16 que o integral de uma função entre dois pontos
quaisquer, a e b, é
Z b Z b
df = f (b) − f (a) = (∇f ) · dℓ (1.19)
a a
n^
θ ds⊥
E
E θ E
E ds
ds⊥ ds
a) b)
onde x′ ≈ x̄ ≈ x + dx 2
; y ′ ≈ ȳ ≈ y + dy
2
; e z ′ ≈ z̄ ≈ z + dz
2
são posições
(inter)médias no volume considerado. Considerando a expansão em série de
Taylor, em relação a (x, y, x), de cada uma das componentes, tem-se, por
exemplo, Ey (y + dy) ≈ Ey (y) + ∂y Ey dy, etc... Ou seja, obtém-se,
dΦ = (∂x Ex + ∂y Ey + ∂z Ez ) dx dy dz = ∇ · E dτ (1.20)
∇ · E = ∂x Ex + ∂y Ey + ∂z Ez (1.21)
Teorema de Gauss-Ostrogradsky
Considere-se um volume qualquer, finito, τ , constituı́do por elementos in-
finitesimais de volume, dτ , que justapostos perfazem o volume completo (ver
fig. 1.13). A normal à superfı́cie (fechada) que delimita dτ aponta para fora
em todas as suas microfaces. As microfaces entre dois elementos de volume
contı́guos têm por isso normal n̂ ou −n̂, consoante se referiram a um ele-
mento de volume ou ao outro. O fluxo do campo que sai de um elemento
1.4. OPERADORES DIFERENCIAIS VECTORIAIS 23
E(x,y,z)
dz
y
dx
x dy
de volume, dτj , através de uma dessas faces é exatamente o que entra por
essa mesma face no elemento de volume seguinte, dτk . Esses dois fluxos são
portanto simétricos, e quando se somam anulam-se mutuamente, porquanto
dsj = −dsk (ver fig. 1.13). Isto verifica-se em todas as microfaces de con-
tacto.
A soma de todos os fluxos do campo através de todos os elementos de
volume, dτ , é efetivamente a soma de todos os fluxos elementares através de
todas as microfaces de todos os elementos do volume. Como os elementos
de fluxo através de microfaces internas se anulam mutuamente, ficam ape-
nas os fluxos que saem através das microfaces exteriores, que compõem a
superfı́cie, S, do volume considerado. Consequentemente, a soma dos fluxos
infinitesimais através de todos os elementos dτ de um volume qualquer, τ ,
fica reduzida ao fluxo através da superfı́cie desse volume. Isto é,
Z I
dΦ = E · ds , com ds = ds n̂
S
ds
111
000 11
00
E
000
111 00
11
00
11
ds
000
111 00
11
000
111 00
11
000
111
dsj
00
11
ds 000
111 00
11
dτ 000
111
dsk
00
11
E
000
111 00
11
S τ
000
111 00
11
000
111
ds
a) b)
Figura 1.13: A soma de todos os fluxos através das superfı́cies de todos os ele-
mentos de um volume é igual ao fluxo do campo através da superfı́cie que delimita
esse volume; b) os fluxos através de elementos de superfı́cie que separam elemen-
tos de volume contı́guos anulam-se todos mutuamente, pois o fluxo que sai de
um elemento de volume τj por uma microface, dsj , entra no elemento contı́guo,
τk , pela mesma microface. Com efeito, o primeiro é dΦj = E · dsj e o outro é
dΦk = E · dsk = −dΦj , sendo nula a sua soma.
E b
dl dl
dl
E E
a
E(x,y,z)
^z ^
^y n
^x
−dy y
dx −dx
x dy
Teorema de Stokes
Seja S uma superfı́cie qualquer, aberta, constituı́da por elementos infinitesi-
mais, ds, que justapostos perfazem completamente a superfı́cie. Considerem-
1.4. OPERADORES DIFERENCIAIS VECTORIAIS 27
d lj dlk
C
b)
pois neste caso os versores {êi } não mudam de um ponto para outro - são
constantes. Ou seja, em coordenadas cartesianas retangulares o Laplaciano
de um campo vectorial é o vector cujas componentes são os Laplacianos
das componentes desse campo. Todavia, isso é falso noutros sistemas de
coordenadas curvilı́neas, e.g. em coordenadas esféricas, porque as direções
dos respetivos versores variam de ponto para ponto e é necessário derivá-los
também ao aplicar o Laplaciano.
Pode-se mostrar que, em geral, o Laplaciano de um campo vectorial é
dado por,
∇2 E = ∇(∇ · E) − ∇ × (∇ × E) (1.32)
sendo esta igualdade válida em qualquer sistema de coordenadas, (ver
apêndice A). Note-se portanto que, em geral, o Laplaciano de um campo
1.4. OPERADORES DIFERENCIAIS VECTORIAIS 29
G G G G
a) b) c) d)
ds
Ei
ds
z ds⊥
r
r"
i
O
r’i τ
x S
qi
y
Por conseguinte, o fluxo do campo E que sai através de toda uma superfı́cie
fechada (imaginária), S, que encerra um conjunto de N cargas, é
I N
1 X
E · ds = qi (1.34)
S ǫ0 i=1
ou seja, é proporcional apenas às cargas que estão dentro da superfı́cie.
Outras cargas localizadas fora da superfı́cie S não contam para o fluxo do
campo que a atravessa. Se existirem criam campo certamente, mas a sua
contribuição para o fluxo total em S é nula. Esta é a lei de Gauss da elet-
rostática.
Lei de Gauss da eletrostática. O fluxo do campo elétrico que sai através
de uma superfı́cie imaginária, fechada, arbitrária, é igual à soma das cargas
que estão dentro dessa superfı́cie a dividir pela permitividade do meio em que
se insere.
A lei de Gauss permite calcular o campo eletrostático de forma muito ex-
pedita em casos com elevada simetria, em que se possa perceber a priori que
o campo não depende de alguma variável ou tem determinada direção. Nesse
caso pode-se escolher uma superfı́cie conveniente sobre a qual o campo não
varie, podendo então extrair-se o campo para fora do integral de superfı́cie,
e calculá-lo trivialmente.
Todavia, o interesse da equação de Gauss está sobretudo no seu grande
alcance teórico, por se tratar de uma equação mais geral que a lei de Coulomb
de que partimos, a qual só é válida no caso estritamente estático.
e portanto, consequentemente,
Z
ρ
∇·E− dτ = 0 , (1.37)
τ ǫ0
ii) a forma diferencial, (eq. 1.38), que relaciona, em cada ponto do espaço,
a divergência do campo com a densidade de cargas nesse ponto.
Ambas as formas anteriores descrevem porém a mesma lei fı́sica - são versões
da mesma lei - pois uma decorre da outra e vice-versa.
Esta dualidade entre equações diferenciais e integrais do campo encontra-
se também noutras leis do campo eletromagnético, as quais podem apresentar
quer a forma de uma equação diferencial local ou a forma de uma equação
integral sobre uma região finita.
34 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
O potencial eletrostático
Visto que ∇ × E = 0 e, visto que o gradiente de qualquer função escalar,
f , é sempre irrotacional, ∇ × (∇f ) = 0, (eq. 1.33), então todo o campo
eletrostático pode ser escrito na forma,
E = −∇V (1.43)
∇2 V = 0 (1.47)
1 Z ρ(r ′ ) ′′ ′
1 Z ′ 1
E(r) = r̂ dτ = ρ(r ) −∇ dτ ′ (1.48)
4πǫ0 τ r′′ 2 4πǫ0 τ r′′
14
A equação de Laplace aparece no tratado de Mecânica Celeste de Laplace sobre o
campo gravitacional, em 1799. Poisson generalizou esta equação em 1813, tendo obtido a
que ficou conhecida como equação de Poisson.
15 2 3
No sistema SI de unidades tem-se pois λ [C/m], σ [C/m ] e ρ [C/m ].
38 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
r dE
Ei
r dE
ri r dE σ dτ
dl ds
ρ
qi
a) b) c) d)
já que16
1 r̂′′
= − ∇ (1.49)
r′′ r′′ 2
note-se que r e r ′ são variáveis independentes. Por conseguinte, tem-se
efetivamente E = −∇V , com
1 Z ρ(r ′ )
V (r) = dτ ′ + const. arbitrária (1.50)
4πǫ0 τ |r − r ′ |
Ou seja, o potencial de uma distribuição de cargas também pode ser es-
crito como uma sobreposição dos potenciais coulombianos associados a
cada elemento de carga, dq = ρdτ . A constante é determinada fixando
o potencial num ponto. Mas se as cargas não tiverem extensão infinita,
(limr′ →∞ ρ(r′ ) = 0), pode-se absorver a constante fazendo V (∞) = 0, como
se disse.
No caso mais geral, em que haja cargas no volume e também na superfı́cie,
o campo é evidentemente,
1 Z ρ(r ′ ) ′′ ′ 1 Z σ(r ′ ) ′′ ′
E(r) = r̂ dτ + r̂ ds (1.51)
4πǫ0 τ r′′ 2 4πǫ0 S r′′ 2
16
Em coordenadas cartesianas, r − r ′ = (x − x′ )x̂ + (y − y ′ )ŷ + (z − z ′ )ẑ, portanto
!
1 1 1 1
∇ = ∂x p x̂ + ∂y ŷ + ∂z ẑ
|r − r |
′ ′ 2 ′ 2
(x − x ) + (y − y ) + (z − z ) ′ 2 ··· ···
−3/2
1 r−r′
= − [(x − x′ ) x̂ + (y − y ′ ) ŷ + (z − z ′ ) ẑ] = − 3
··· |r − r ′ |
′′
Ou seja, ∇ r1′′ = − rr̂′′ 2 .
1.5. O CAMPO ELETROSTÁTICO 39
1 Z ρ(r ′ ) ′ 1 Z σ(r ′ ) ′
V (r) = dτ + ds + const. arbitrária (1.52)
4πǫ0 τ r′′ 4πǫ0 S r′′
O teorema de Helmholtz garante que estas duas equações são suficientes para
calcular E, de forma única. Todavia, percebe-se que esta descrição não está
completa, pois falta nas equações anteriores qualquer referência ao efeito
devido a distribuições superficiais de cargas. Isto sugere que em superfı́cies
nas quais haja cargas superficiais17 , as relações 1.53 não funcionam: - ou
estão incompletas ou são insuficientes. Com efeito, o teorema de Helmholtz
presume que a função é regular em todo o espaço, mas isso não se verifica
em superfı́cies carregadas.
Seja, por hipótese, uma superfı́cie Ψ na qual existe uma distribuição
superficial de cargas, σ (ver fig. 1.20). Suponha-se, por hipótese, que o
campo elétrico é descontı́nuo ao longo de toda essa superfı́cie. Nesse caso,
as equações diferenciais, eqs. 1.53, não se aplicam nos pontos da superfı́cie
Ψ, pois as derivadas de E são aı́ infinitas. Todavia, as equações integrais
do campo são válidas, pois nada obsta a que pontos da superfı́cie Ψ estejam
englobados nos respetivos integrais. Isto é, nessa região,
I P
q
E · ds = (1.54)
I
S ǫ0
E · dℓ = 0 (1.55)
C
+ +++ E+ E+
++ E_
σ ++++
ds ^n
+ ++ Ψ E_
S
+++ ^n σ
+ h l
ds +++
+
+ h
+ ++
+
+ ++
++
Ψ
Ua − Ub = q(Va − Vb ) (1.61)
Há pois uma relação simples entre a diferença de potencial e a diferença de energia poten-
cial.
1.5. O CAMPO ELETROSTÁTICO 43
qi
F1 q1
rik qk
r1 q
2
ri
r2 F2 rk
O O
a) b)
N N
1 X qi qk X
Uk = = Uik (1.64)
4πǫ0 i=1 rik i=1
i6=k i6=k
De facto, como o volume abarca todo o espaço até infinito, e como, por
definição, o infinito é equidistante de qualquer ponto, então S é de facto uma
esfera de raio infinito. Ou seja, vista a partir do infinito qualquer distribuição
de cargas tem a dimensão de um ponto e, nesse limite assimptótico em que
r → ∞, o campo é E ∼ 4πǫ10 r2 , e o potencial é V ∼ 4πǫ10 r . Consequentemente,
I Z Z
π 2π 1 2 1
lim EV ds ∼ r→∞
lim 3
r sin θ dθ dφ = r→∞
lim = 0
r→∞ S 0 0 r r
Conclui pois que Z
ǫ0 2
U=
E dτ (1.67)
τ 2
Esta equação diz-nos que a energia eletrostática está distribuı́da pelo espaço
com uma densidade de energia eletrostática, uE = dU dτ
,
ǫ0 2
uE = E (1.68)
2
19
P
Como se está a ver, U 6= k Uk , pois a distribuição altera-se a cada carga que se
afaste para infinito. Após ter saı́do uma carga a energia libertada com a retirada de uma
outra carga é menor do que Uk , que é calculada quando ainda lá estão as cargas todas.
1.5. O CAMPO ELETROSTÁTICO 45
Isto é, o campo eletrostático tem energia − a energia está onde houver campo,
distribuı́da com uma densidade que é proporcional ao quadrado do campo
em cada ponto.
O facto de a energia variar quadraticamente com o campo tem a con-
sequência de que se a carga duplicar em todos os pontos, o campo duplica em
todo o espaço, mas a energia quadruplica. Isto é, o princı́pio de sobreposição
não se aplica à energia eletrostática, relativamente às cargas.
Vemos assim que, relativamente à energia de um sistema de cargas, se
podem ter duas perspectivas: a de que se trata de energia potencial das
cargas e a de que se trata de energia do próprio campo. Porém, no contexto
da eletrodinâmica constata-se que os campos têm efetivamente energia e que
há propagação de energia numa onda eletromagnética.
20
Ademais, como é possı́vel que a eq. 1.68 seja sempre positiva se é uma consequência
direta das eqs. 1.66 e 1.65 e estas não são necessariamente positivas?
Na verdade, analisámos em (§ 1.5.5) a energia de interação entre duas cargas pontuais
positivas, q1 e q2 , que se repelem, sendo nesse caso U > 0. Porém, se essas cargas fossem
uma positiva e a outra negativa, e.g., se q1 < 0 e q2 > 0, então U < 0. Essas cargas mover-
se-iam então uma em direção à outra, tornando incontornável a questão dos infinitos da
teoria. Nesse caso,
R 0 qo1 qtrabalho da forçaR elétrica realizado durante a aproximação das cargas
1 1 0 q1 q2
seria w = 4πǫ0 r0 r2 r̂12 · dℓ = 4πǫ
2
0 r0 r122 dr12 = ∞. Todavia, é evidente que a energia
12
que se liberta quando q1 e q2 se encontram não é infinita! Essa energia, sabemo-lo, é igual
à variação de energia potencial do sistema das duas cargas, ∆U = Uf − Ui , entre o inı́cio
e o fim do processo. Porém, assim que as cargas se encontrem, ficamos apenas com uma
carga (se |q1 | = |q2 | fica carga nenhuma), carga essa que, deste ponto de vista clássico, tem
energia de interação nula por não ter com quem interagir, i.e., Uf = 0. Por consequência, a
energia libertada no processo é ∆U = −Ui , finita e positiva. Nesta acepção a contradição
a que se aludiu é afinal aparente.
1.5. O CAMPO ELETROSTÁTICO 47
b
F+
c + q
E a
+ q θ r+
O
l
r− θ
p a’ c’ E
q
q F b’
a) b)
Isto é,
τ =p×E (1.69)
21
A rotação do dipolo depende contudo de este poder trocar energia com a vizinhança.
Este aspecto é muito relevante à escala atómica, nomeadamente em sistemas de ressonância
magnética nuclear (RMN).
22
Note-se que este campo é alheio ao dipolo, i.e., o campo E não é devido às cargas
desse dipolo.
48 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
+ +
+ + ++ + + +
+ + +
+
l
r+
r−
O
Isto é, se a carga total da distribuição for nula, então o respetivo momento
dipolar não está referido a nenhum sistema de referência particular24 .
O potencial
O dipolo da fig. 1.24 cria à sua volta um campo eletrostático de Coulomb, que
se pode obter convenientemente a partir do respetivo potencial. O potencial
em cada ponto é, (ver eq. 1.50),
!
1 q q
V (r) = ′′
− ′′
(1.74)
4πǫ0 r+ r−
z êr
r"
+
V( r) êθ
+q r
r’+ r"
_
θ
y
r’_
x
−q
′
Na aproximação de dipolo ideal tem-se, rr ≪ 1; podemos por isso de-
sprezar o termo quadrático e aproximar a raiz quadrada aos primeiros termos
da série de Taylor, (1 ∓ x)−1/2 ≈ 1 ± x2 , com x ≪ 1. Nestas condições,
!
′
1 1 r±
′′
≈ 1 ± cos θ (1.76)
r± r r
e portanto,
′
q 2r+ cos θ
V (r) =
4πǫ0 r r
ou seja,
1 p · r̂
V (r) = , para r ≫ 1 (1.77)
4πǫ0 r2
Conclui-se portanto que o potencial eletrostático de um dipolo decresce com
∼ r12 , ou seja, muito mais depressa que o potencial de uma carga pontual,
que diminui com ∼ 1r ).
O campo
O campo devido a um dipolo elétrico pode ser calculado pela soma vectorial
dos campos de cada uma das cargas. Contudo, é mais simples calculá-lo a
partir do potencial, através da relação E = −∇V .
Assim, calculando o campo E em coordenadas esféricas, a partir da
eq. 1.77 obtêm-se as seguintes componentes,
2p cos θ
Er = −∂r V =
4πǫ0 r3
52 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
1 p sin θ
Eθ = − ∂θ V =
r 4πǫ0 r3
1
Eϕ = − ∂ϕ V = 0
r sin θ
isto é,
p
E(r, θ) = 2 cos θ r̂ + sin θ θ̂ (1.78)
4πǫ0 r3
O campo eletrostático criado por um dipolo elétrico ideal decresce portanto
com o cubo da distância, ∼ r13 , i.e., muito mais depressa que o campo de
uma carga pontual.
Linhas do campo
Esta é uma boa oportunidade para calcular analiticamente as linhas de campo
de um dipolo ideal, dado pela eq. 1.78, e que estão representadas na fig. 1.25.
As linhas de campo são, como se disse no inı́cio, linhas tangentes a E em
cada ponto. Por conseguinte, cada elemento de linha de campo, dℓ, é tal que
E × dℓ = 0, em cada ponto. No caso vertente, dℓ = dr r̂ + rdθ θ̂ e, portanto,
dr
fazendo explicitamente o produto vectorial, conclui-se que rdθ = 2sin
cos θ
θ
, ou
dr
seja, r = 2cotan θ dθ. Integrando esta expressão obtém-se a famı́lia de
curvas que representam as linhas de campo,
r(θ) = κ sin2 θ
Isto é, há uma série perturbativa que produz um efeito que é equivalente à
distribuição das cargas, em pontos afastados da distribuição.
1.5. O CAMPO ELETROSTÁTICO 53
E
θ r
a) b)
P0 (x) = 1
P1 (x) = x
P2 (x) = 12 (3x2 − 1)
P3 (x) = 21 (5x3 − 3x)
P4 (x) = 81 (35x4 − 30x2 + 3)
P5 (x) = 18 (63x5 − 70x3 + 15x)
...
Estes coeficientes surgem amiúde na solução da parte angular da equação diferencial de
Laplace em coordenadas esféricas.
1.6. CAMPOS ELÉTRICOS NA MATÉRIA 55
111
000
000
111
000
111
000
111
= +
+ + −
+ + +
−−
+
+
+
+ − + − +
+ + +
−
+ + −−
−−
+
+ ...
−
− + − + +
1.6.1 Condutores
Os materiais condutores são meios que contêm cargas livres. Trata-se de
eletrões fracamente ligados às nuvens eletrónicas, que efetivamente não per-
tencem a nenhum átomo em particular, mas ao coletivo e que, por isso, se
podem mover mais ou menos livremente através do material.27 Para o que
nos interessa, consideraremos que os materiais condutores são ideais, no
sentido em que constituem reservatórios inesgotáveis de cargas livres.28
Estudaremos por ora apenas condutores em equilı́brio eletrostático, i.e.,
já em condições estacionárias, após todas as cargas estarem paradas, em
equilı́brio estático (estado este que se atinge nos bons condutores em apenas
∼ 10−18 s).
27
No caso de fluidos condutores, eletrólitos ou plasmas, as cargas livres incluem também
iões que se podem difundir através do meio.
28
A aproximação de condutor ideal assenta no facto de o número de eletrões livres de
um condutor ser muito grande. Com efeito, 1 grama ∼ 1 mole ≃ 6.022 × 1023 átomos. O
número de eletrões livres numa amostra de material condutor é assim uma fração de um
número da ordem de 1023 eletrões por grama, pois só uma fração dos eletrões são eletrões
livres; p.ex., o cobre tem ∼ 0.85 × 1023 eletrões livres por cm3 . Este é um número tão
verdadeiramente gigantesco que justifica a razoabilidade da aproximação de condutor ideal
(por comparação, a idade do Universo é só ∼ 1010 anos!).
1.6. CAMPOS ELÉTRICOS NA MATÉRIA 57
i) E = 0 em todo o volume;
Cavidades
O campo elétrico também é nulo no volume de uma cavidade de um condutor
se o condutor estiver em equilı́brio eletrostático e a cavidade não contiver
quaisquer cargas. De facto, se houvesse campo dentro da cavidade ele teria
que ser criado por cargas localizadas à superfı́cie dessa cavidade, já que no
condutor propriamente dito não há campo eletrostático e portanto cargas,
como vimos. As linhas desse campo teriam então que começar em cargas
positivas e terminar em cargas negativas da superfı́cie da dita cavidade, (ver
fig. 1.27). O integral de caminho do campo feito ao longo de uma dessas
linhas de campo seria necessariamente ou positivo ou negativo, consoante o
caminho fosse no sentido do campo ou no sentido contrário. Em todo o caso,
seria definitivamente não nulo, já que dℓ k E em todos os pontos do percurso
saltar − este é o chamado efeito termoiónico, muito usado nos tubos de raios catódicos
de televisões e osciloscópios da geração anterior. Também se extraem cargas da superfı́cie
projetando luz sobre ela, dando às cargas superficiais energia suficiente para que possam
deixar a superfı́cie. Este efeito fotoelétrico foi descoberto por H. Hertz em 1887 e está na
base dos dispositivos CCD dos equipamentos de imagem e vı́deo do presente.
1.6. CAMPOS ELÉTRICOS NA MATÉRIA 59
R
e, portanto, seria Va − Vb = C E · dℓ 6= 0. Porém, isto é absurdo porque
contradiz o facto de o condutor ter que ser equipotencial, e portanto Va = Vb .
Consequentemente, não pode haver nem campo na cavidade, nem cargas à
sua superfı́cie:
Teorema. O campo eletrostático é nulo dentro de qualquer cavidade sem
cargas de um condutor em equilı́brio eletrostático.
Cargas induzidas
Se a cavidade do condutor contiver cargas, essas cargas criam um campo no
interior dessa cavidade e induzem cargas induzidas na superfı́cie da mesma.
Porém, o campo eletrostático continuará sendo nulo em todo o volume do
condutor propriamente dito, como antes. Aplicando a lei de Gauss a uma
superfı́cie arbitrária imaginária, que envolva totalmente a cavidade, conclui-
se imediatamente que a soma das cargas induzidas presentes na parede da
cavidade é necessariamente simétrica da carga total que exista no seu interior
(ver fig. 1.27).
Se este condutor estiver neutro, isso significa que haverá uma quantidade
de cargas igual à da cavidade, distribuı́da na parede exterior do condutor.
Estas cargas superficiais são induzidas pelas cargas que estão dentro da cavi-
dade, e só existem porque elas lá estão.30 Ou seja, apesar do campo ser
nulo no interior do condutor, a presença de cargas na cavidade origina in-
diretamente um campo na região exterior ao condutor, que é criado pela
distribuição das cargas induzidas localizadas na sua superfı́cie. Todavia, essa
distribuição superficial é independente da forma da distribuição de cargas no
interior da cavidade. Isto é, a distribuição de carga na superfı́cie exterior
do condutor é a mesma que ele teria se não tivesse nenhuma cavidade, mas
estivesse carregado com a mesma carga total que há na cavidade (pois só há
uma solução para as mesmas condições de fronteira do campo E, cf. teorema
da unicidade, § 1.7).
Por outro lado, como o campo no exterior da cavidade, em pleno condu-
tor, é sempre nulo, independentemente de qual seja o campo no espaço fora
desse condutor, isso significa que o volume da cavidade está eletricamente
isolado do exterior. Nenhuma variação do campo exterior se sente na cavi-
dade (pelo menos variações que tenham frequências abaixo de GHz). Um
30
Se o condutor não estiver neutro mas tiver uma certa carga, então na superfı́cie exte-
rior estarão distribuı́das essa carga, mais as cargas induzidas (indiretamente) a partir da
cavidade.
60 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
1111111111111111
0000000000000000
0000000000000000
1111111111111111
E=0
− − −
0000000000000000
1111111111111111
b +q
0000000000000000
1111111111111111 −
0000000000000000
1111111111111111
− − E
0000000000000000
1111111111111111
−
0000000000000000
1111111111111111
a −
0000000000000000
1111111111111111
0000000000000000
1111111111111111
S
Figura 1.27: Condutor ideal em equilı́brio eletrostático, com uma cavidade sem
cargas. Se o condutor estiver carregado as cargas estarão à superfı́cie. No interior
do condutor propriamente dito nem há cargas nem há campo. Se o condutor
estiver carregado as cargas estarão à superfı́cie. O campo eletrostático à superfı́cie
do condutor tem sempre a direção da normal em cada ponto.
Dentro de qualquer cavidade sem cargas o campo também é nulo, pois de contrário
teria que haver carga na superfı́cie da cavidade e isso faria com que o integral de cir-
culação de E num contorno C que atravesse a cavidade não fosse necessariamente
nulo.
q1 q2
S +++
+ +
+ +
+ E=0 + E
++
E=0 ++ + +E
+
+ + ++
+
E
E
Figura 1.28: Cargas induzidas entre dois condutores quaisquer. b) cargas induzi-
das por uma carga pontual na superfı́cie de uma esfera condutora.
1 Z σ(r ′ )ds′
V (r) =
4πǫ0 S |r − r ′ |
N
X
Vj = ajk qk , com j = 1, 2, . . . , N (1.82)
k=1
Isto é, as cargas também se podem escrever como uma combinação linear dos
potenciais dos condutores presentes. Os coeficientes cjk dependem apenas
das caracterı́sticas do sistema de condutores, nomeadamente da geometria
de cada um e das suas posições relativas. Os coeficientes cjj são capaci-
dades relativa, enquanto que cjk (j 6= k)são os coeficientes de indução (ver
fig. 1.29).32
P P
A energia do sistema é , U = 12 j qj Vj = 12 jk cjk Vj Vk e portanto cjk =
ckj .
32
Note-se que cjj > 0, pois se um condutor tiver qj > 0 ⇒ Vj > 0. Mas cjk < 0 se
j 6= k, pois qj induz cargas de sinal contrário no condutor k, sendo pois negativa a energia
de ligação entre eles, Ujk = qj Vk < 0. Considerando a eq. 1.83,
O condensador
Um condensador é um sistema de dois condutores com cargas simétricas, +q
e −q. Escrevendo explicitamente as equações 1.83 temos, neste caso,
(
q1 = q = c11 V1 + c12 V2
(1.84)
q2 = −q = c21 V1 + c22 V2
Resolvendo para V1 e V2 e depois subtraindo, conclui-se que
c11 + c22 + 2c12 q
V1 − V2 = 2
q= (1.85)
c11 c22 − c12 C
A constante C é a capacidade do condensador, e é sempre positiva (já que
cjj > 0 e cjk < cjj , j 6= k, como é evidente). No Sistema Internacional de
unidades a capacidade é medida em farad (F). Os condensadores correntes
têm capacidades tı́picas da ordem de µF, (uma capacidade de 1F é enorme).
Mas em anos recentes têm vindo a ser desenvolvidos super condensadores
com capacidades extremamente elevadas.
A energia armazenada num condensador é (ver eq. 1.65)33
1X 1 C
U= qj Vj = q(V1 − V2 ) = (V1 − V2 )2 (1.86)
2 j 2 2
33
Veja-se que se a carga do condensador
Rq variar dq, a energia varia dU = dq(V1 − V2 ).
Como (V1 − V2 ) = Cq , portanto U = 0 Cq dq = 21 C(V1 − V2 )2 .
64 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
V2
V1 C12
V2
C23
V1
C2
8
C13
C V
1 3
8
V3
C3
8
V=0 V=0
a) b)
análise completa desta questão requer uma discussão das soluções da equação
de Laplace, mas pode-se discutir aproximadamente recorrendo a argumentos
simples.
Seja uma esfera condutora de raio R, isolada, em cuja superfı́cie há uma
distribuição uniforme de cargas, σ. O potencial desta esfera é
σ4πR2 1 σR
V = = (1.88)
4πǫ0 R ǫ0
Considere-se agora um condutor com uma forma genérica, como o da
fig. 1.30. O raio de curvatura da superfı́cie varia de um ponto para outro, (a
curvatura é o inverso do raio). O campo eletrostático junto à superfı́cie pode
obter-se das condições de fronteira do campo, n̂ · (E + − E − ) = ǫσ0 . Visto
que o campo em pontos do condutor é nulo, então em pontos imediatamente
exteriores à superfı́cie, o campo é
σ
E= (1.89)
ǫ0
Ou seja, para um ponto limite, imediatamente na vizinhança da superfı́cie,
esta aparece como se fora um plano infinito carregado34 , com densidade su-
perficial, σ. Combinando as eqs. 1.88 e 1.89 conclui-se assim que E ≈ VR ,
onde R é o raio de curvatura local. O potencial do condutor é constante em
todo o condutor, mas o campo à superfı́cie é maior em pontos da superfı́cie
com elevada curvatura (com R pequeno), onde σ é também mais elevada.
34
O campo criado por um condutor plano infinito, com densidade de carga superficial,
σ, é E = ǫσ0 .
66 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
E
E=0
V= const. E
Eapl E
− − − − −
− +
apl − −
− −− +
− −− − − −
− − − − − −
− + − + −
−
−− − + − − − +
− − − −−
− − − − − − +
−
− − − − − −
−
− − + −
− − −− − − +
Eapl − − − − E apl
a) b) c)
estilete muito afilado que passeia rente por sobre a superfı́cie, mas sem lhe
tocar, dá-nos uma imagem da superfı́cie que permite “ver” a presença dos
átomos.
O efeito de pontas também pode ser problemático, podendo provocar
descargas indesejáveis em equipamentos elétricos, nomeadamente em pontos
com tensões elevadas. É por isso de toda a conveniência que os pontos de
solda dos circuitos fiquem bem arredondados, sem os apêndices pontiagudos
caracterı́sticos das soldaduras mal executadas.
1.6.2 Dielétricos
Quando um material não condutor é sujeito a um campo elétrico exterior,
as nuvens eletrónicas dos átomos e moléculas desse material deslocam-se no
sentido contrário ao campo, e como consequência a posição média das cargas
positivas (os núcleos) deixa de coincidir com posição média das nuvem de
eletrões de cada átomo ou molécula. Isto significa que se formam pequenos
dipolos no seio do material, induzidos pelo campo externo aplicado (ver
fig. 1.31).35 A densidade dipolar correspondente mede a polarização do ma-
terial e é geralmente proporcional ao campo aplicado.
35
Se o campo for suficientemente intenso pode mesmo dar-se a ionização das moléculas,
a disrupção do meio e a subsequente descarga elétrica. Esse valor do campo designa-
se por rigidez dielétrica (ou campo de disrupção), e é uma propriedade macroscópica
caracterı́stica de cada material. Os valores tı́picos da rigidez dos materiais são da ordem
de ∼ 107 V/m (cerca de 100 kV/cm).
68 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
Porém, há também materiais que têm na sua constituição moléculas que
são espontaneamente polares, em que os centros geométricos das nuvens de
eletrões e das cargas positivas dos núcleos atómicos de cada molécula não
coincidem; estas moléculas têm a priori um certo momento dipolar, que não
é induzido por um campo externo (e.g., a molécula da água é polar). Sem
campo aplicado estes dipolos orientam-se aleatoriamente; porém, se lhes for
aplicado um campo externo eles orientar-se-ão tendencialmente no sentido
desse campo.36 Este alinhamento é geralmente proporcional ao campo apli-
cado, pois, como vimos, o binário sobre cada dipolo é diretamente propor-
cional ao campo a que é sujeito.
Existem ainda materiais sólidos iónicos, cuja rede cristalina tem iões,
como os cristais de cloreto de sódio, NaCl. Estes materiais não apresentam
polarização espontânea porque os dipolos vizinhos se cancelam mutuamente.
Todavia, um campo exterior pode distorcer ligeiramente a rede cristalina,
induzindo a polarização desse meio.
Em todos os casos referidos, a polarização do meio é geralmente propor-
cional ao campo elétrico aplicado e surge por causa dele, ou induzida por ele.
Isso significa que cada dipolo per se é efetivamente proporcional ao campo,
p = αE, onde α é a polarizabilidade do material. Num material podem co-
existir os três tipos de polarização acima referidos, sendo α, de facto, a soma
das polarizabilidades presentes.
Estudaremos apenas materiais lineares, homogéneos e isotrópicos (também
designados como do tipo A).37 Os dielétricos reais não são tão simples, mas
esta aproximação é suficiente para a maioria das aplicações. Ademais, quando
assim não for a análise ainda se baseia nos mesmos conceitos que aqui discu-
timos.
Uma classe de materiais dielétricos que convém referir é a dos eletretos,
que são materiais com polarização permanente, uma espécie de “magnetes
elétricos” com múltiplas aplicações, mas que não discutiremos.
36
Devido à agitação térmica, os dipolos orientam-se apenas tendencialmente na direção
do campo. A probabilidade de um dipolo fazer um ângulo θ com o campo segue uma
distribuição de Boltzmann, f = e−U/kT = epE cos θ/kT , onde k é a constante de Boltzmann
e U = −p · E é a energia dipolar (§ 1.5.6). Por conseguinte, este tipo de polarização de-
pendente fortemente da temperatura. É um fenómeno semelhante ao do paramagnetismo.
37
Consideramos apenas o caso em que α é constante. Mais geralmente porém, a pro-
porcionalidade) pode não ser estritamente linear, sendo p = αE + βE 2 + γE 3 + · · ·. Se
o material não for homogéneo, α, β, γ, . . . variam com a posição; se o material for
anisotrópico, α, β, γ, . . . são matrizes, e os seus elementos correlacionam as diferentes
direções.
1.6. CAMPOS ELÉTRICOS NA MATÉRIA 69
Campos em dielétricos
A polarização do meio está, como vimos, associada e decorre de pequenos
deslocamentos locais de pares de cargas. Estes deslocamentos são locais,
surgem como reação ao campo aplicado e desaparecem quando este deixar
de existir. As cargas de que aqui falamos são pois “cargas ligadas” ou de
polarização, que não se confundem com as “cargas livres”. Diferentemente
das cargas livres, as cargas de polarização não se podem pôr ou tirar do
material, pois fazem parte dos átomos e moléculas seus constituintes, nem se
movem livremente através dele.38 Assim, nos meios dielétricos tem-se
campo E −→ densidade dipolar −→ cargas de polarização.
Suponha-se que um material dielétrico é colocado numa região do espaço
onde já existe um campo, E. Dentro do material formam-se/alinham-se
dipolos elementares a que correspondem cargas de polarização, quer na su-
perfı́cie quer eventualmente no volume. Estas cargas criam um campo E ′′
que se opõe ao campo E em cada ponto (ver fig. 1.32). Por consequência, o
campo dentro de um material polarizado é E ′ = E + E ′′ , e por isso é sempre
menor que o campo exterior aplicado, i.e.,
E ′ = E + E ′′ , com Ê ′′ = −Ê ⇒ |E ′ | < |E|
A formação/orientação de dipolos elétricos no corpo do material vai-se
traduzir no surgimento de cargas nas superfı́cies fronteira do material (ver
fig. 1.32). À escala macroscópica as cargas dos dipolos espalhadas pelo vol-
ume compensam-se umas às outras; se o campo for uniforme e o material for
homogéneo, a carga de polarização média efetiva é mesmo nula em todo o vol-
ume do dielétrico. Mas o alinhamento dipolar faz surgir cargas de polarização
à superfı́cie, com sinais opostos de cada lado do dielétrico relativamente ao
sentido do campo.
Se o campo não for uniforme, a polarização será mais significativa onde o
campo for mais intenso, sendo de esperar que as cargas de polarização estejam
desigualmente distribuı́das pelo volume. Nesse caso haverá uma distribuição
volumétrica de cargas de polarização no volume do dielétrico.
38
Como é óbvio, as cargas de polarização existem sempre aos pares (é da sua natureza) e
a soma de todas elas é sempre nula. As outras, as cargas livres, são aquelas que não estão
ligadas. Todavia, apesar de livres podem não se poder mover livremente se a condutividade
do material for muito pequena. Por exemplo, podem ser implantadas cargas livres dentro
de um dielétrico não condutor, as quais ficarão presas no seu interior (as memórias flash
baseiam-se nisso). Mas isso não as torna cargas de polarização, evidentemente.
70 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
E − +
− − p + +
d E’
− E" +
− +− +− +− +
dp dp
− E’ +
− − +
dp +
E− E" E
− +
Polarização
A polarização P é, por definição, a densidade dipolar em cada ponto,
dp
P = (1.90)
dτ
isto é, é o número de dipolos por unidade de volume.39 O campo P é pois
uma quantidade macroscópica que mede a polarização do meio.
Seja a superfı́cie de um dielétrico polarizado, cuja polarização é P . Nessa
superfı́cie há, por hipótese, uma densidade superficial de cargas de polar-
ização, σp . Do lado de fora é o vazio (ver fig. 1.33). Do lado de dentro, junto
à superfı́cie, cada elemento de volume, dτ = dxds cos θ, tem uma carga de
polarização dq e um momento dipolar infinitesimal, dp = dq dx P̂ . Ou seja,
dado que
dp dqdxP̂
P = =
dτ dxds cos θ
e como n̂ · P̂ = cos θ, então, por conseguinte,
σp = n̂ · P (1.91)
σp +
++
+++
+
− +++ ^
n
−− + θ
dq − +++ ds
− dp
ds −− ++
P
ds
dx ++ dx
Ψ
Figura 1.33: Cargas de polarização numa superfı́cie Ψ entre um meio dielétrico e
o vazio. O vector ds = n̂ ds é normal à superfı́cie.
Como se disse, sempre que o campo não seja uniforme dentro do dielétrico,
podem também existir cargas de polarização no volume, já que, do ponto
de vista macroscópico, as cargas dos dipolos vizinhos podem não se anular
mutuamente em pontos do volume. Seja pois um volume τ , delimitado por
uma superfı́cie S, numa região onde o campo E (e a polarização) não é
uniforme e onde haverá por hipótese uma distribuição volumétrica de cargas
de polarização, ρp (ver fig. 1.34). Como é evidente, a soma de todas as cargas
de polarização do dielétrico, localizadas nas superfı́cies e no volume, é sempre
necessariamente nula. Assim,
I Z
σp ds + ρp dτ = 0 (1.92)
S τ
Esta igualdade verifica-se qualquer que seja o volume, τ , sendo portanto uma
identidade, da qual se conclui que
∇ · P = −ρp (1.95)
72 CAPÍTULO 1. ELETROSTÁTICA
P P
τ
Esta equação diz-nos que as fontes do campo P , das quais esse campo di-
verge, são as cargas negativas de polarização. É natural que assim seja, pois
qualquer momento dipolar elementar é um vector que aponta no sentido da
carga negativa para a carga positiva desse dipolo.
O campo de polarização, P , é evidentemente um campo descontı́nuo na
fronteira do dielétrico (ver fig. 1.33). Se dois dielétricos diferentes forem pos-
tos em contacto, a priori serão diferentes as polarizações de cada lado dessa
interface e P deverá ter aı́ uma eventual descontinuidade. Nessa superfı́cie de
contacto surgirão também, por certo, cargas de polarização, com densidade
superficial σp . É pois necessário analisar as condições de fronteira do campo
P , também nessa circunstância.
Aplicando a lei de Gauss ao campo P num volume τ que inclua parte da
superfı́cie de contacto entre dois meios diferentes, no limite em que o volume
colapsa sobre essa superfı́cie, tem-se (ver fig. 1.35),
I Z
lim P · ds = lim ∇ · P dτ
h→∞ S h→∞ τ
Z
(P + − P − ) · ds = − lim ρp dτ = −σp S
h→∞ τ
P = ǫ0 χ E E (1.97)
P=0
ds
P
P C h
D = ǫ0 E + P = ǫ0 (1 + χE ) E = ǫ0 Ke E = ǫE (1.102)
| {z }
Ke ≥1
41
O campo D não tem portanto o mesmo carácter que o campo eletrostático. Este
último tem ∇ × E = 0 e pode por isso ser associado a um potencial através da relação
E = −∇V , independentemente do meio considerado. Porém, nenhum dos campos, D ou
P , pode ser associado a um potencial, pois, como se disse, geralmente ∇×D = ∇×P 6= 0,
(i.e., não são campos conservativos).
1.6. CAMPOS ELÉTRICOS NA MATÉRIA 75
n^
−
σp n^ −
+ − +
R
− +− +− + − +− +
θ −
+ Eloc − +
− Emac
Emac + n^
+ − +
−
+ −
+
− P
E n^
σp ds cos θ
dE ′′ = êk + dE⊥′′ ê⊥ (1.109)
4πǫ0 R2
χE E mac Z π
′′ χE
E = dθ cos2 θ sin θ = E mac
2 0 3
σ ++
++ 0000
1111
+
+ + n^
0000
1111 E"
0000
1111
ds
++
0000
1111
+ ++
+ + n^
0000
1111
E" + +
E+
++ E
+
Figura 1.37: A pressão eletrostática sobre uma superfı́cie com cargas. O elemento
de superfı́cie ds tem cargas dq = σ ds as quais criam, por hipótese, um campo
infinitesimal dE ′′ .
dp
P = = np = nαEloc ; mas por outro lado, P = ǫ0 χE Emac
dτ
Ou seja, como ǫr = χE + 1, considerando a eq. 1.110, então
3ǫ0 ǫr − 1
α= (1.111)
n ǫr + 2
Esta expressão relaciona as propriedades macroscópicas com as propriedades locais mi-
croscópicas de um material dielétrico e é conhecida como relação de Claussius-Mossoti.
1.6. CAMPOS ELÉTRICOS NA MATÉRIA 79
V(r )
r τ
S
O
Figura 1.38: A equação de Poisson tem solução única, que é função exclusiva das
cargas que existirem no volume e do valor do potencial sobre toda a superfı́cie, S,
que o envolve.
potencial de 1000 V, é f = 21.96 Pa, o que dá uma força de repulsão entre
os dois hemisférios de apenas F ≈ 1.4 µN.
Podem também ser importantes as tensões mecânicas no seio de meios
dielétricos, mormente se o gradiente do campo for elevado.
Isto é,
2 ρ
∇ V 1 = − ǫ0
∇2 V2 = − ǫρ0
V1 ) S = V2 ) S
Fazendo a diferença V3 = V1 − V2 , vem que
(
∇2 V 3 = 0
V 3 )S = 0
Demonstração: A forçaR que atua sobre um corpo, que por hipótese está
suspenso no vazio, é F = τ ρ′ Edτ , onde ρ′ é a distribuição de cargas
R ′
do corpo
(só será repelido se estiver carregado; neste caso a carga é Q = τ ρ dτ ), e E
é o campo eletrostático criado pela distribuição de cargas que supostamente
suporta o corpo.
As forças entre as cargas do corpo são forças internas que não contribuem
para a força externa que o suspende (de contrário qualquer corpo carregado
levitava sozinho!).
No vazio, ∇ · E = 0 e consequentemente ∇ · F = 0, pois as cargas estão,
por hipótese, fixas em posições estáticas. Por conseguinte, considerando a
relação entre a força e a energia potencial eletrostática, F = −∇U , conclui-se
que ∇2 U = 0, em qualquer ponto.
Se o corpo pudesse ser suspenso num ponto de equilı́brio estável, então
a função de energia potencial teria um mı́nimo nesse ponto, e todas as se-
gundas derivadas da função U seriam necessariamente positivas nesse ponto.
Isto é, se esse ponto estável existisse haveria então pelo menos um ponto
1.9. TEOREMA DE EARNSHAWN⋆ 85
onde ∇2 U > 0. Como esse ponto não existe, então o equilı́brio de forças elet-
rostáticas não tem nenhum mı́nimo estável. Não se pode portanto suspender
um corpo apenas com base nas forças eletrostáticas. Está demonstrado o
teorema.
Ou seja, não é possı́vel fazer levitar um corpo só com cargas estáticas.
A força, F , até pode simétrica da força gravı́tica, mas o equilı́brio é sempre
instável, e rompe-se à menor flutuação. Nem vale a pena tentar; é inglório
lutar contra um teorema!47
47
O teorema de Earnshawn também se aplica ao campo magnetostático, pelo que não
é possı́vel a levitação magnética apenas com recurso a magnetes permanentes. De facto,
como adiante se verá, a energia potencial de um dipolo magnético, m, numa região com
campo magnético, B, é U = −m·B. Consequentemente, ∇U = −(m·∇)B e ∇2 U = −(m·
∇)(∇·B) = 0. Mas, o campo magnetostático satisfaz a equação de Gauss, ∇·B = 0 e, por
isso, não há qualquer ponto de equilı́brio estável que permita ter levitação magnética. Tal
só será possı́vel variando m ou B, de modo a criar dinamicamente um mı́nimo de energia
potencial. Isso permite a um diamagnete levitar, especialmente os supercondutores, porque
o efeito de repulsão é dinâmico, como à frente veremos. Quanto ao mais, para ter levitação
é mesmo necessário operar um sistema de eletromagnetes retroalimentado com controle
fino da posição.