E s p a n h o l • F r a n c ê s • I n g l ê s • I t a l i a n o • P o r t u g u ê s

Um antigo quadro
de honra
Como os cristãos
devem tratar os
animais nas pesquisas?
Cristianismo
congênito

3
Vo l u m e 2 6
REPRESENTANTES REGIONAIS
DIVISÃO SUL-AFRICANA E DO OCEANO
ÍNDICO
P. O. Box 4583 Rietvalleirand 0174, ÁFRICA DO
CONTEÚDO
SUL
Ella Kamwendo kamwendoe@sid.adventist.org ARTIGOS
Busi Khumalo khumalob@sid.adventist.org
DIVISÃO AFRICANA CENTRO-OCIDEN- 5 Um antigo quadro de honra
TAL Quando Deus coloca uma pessoa no quadro de honra dos justos,
22 Boîte Postale 1764, Abidjan 22, COSTA DO reconhece uma vida de plena confiança nEle e em Sua Palavra, não
MARFIM
Chiemela Ikonne cikonne@wad-adventist.org importa o que venha a acontecer.
N. John Enang njenang@wad-adventist.org Jo Ann Davidson

9 Como os cristãos devem tratar os animais

DIVISÃO AFRICANA CENTRO-ORIENTAL
P.O. Box 14756, 00800-Westlands, Nairobi,
QUÊNIA
Andrew Mutero muteroa@ecd.adventist.org nas pesquisas?
Mwagulilo Mwakalonge mwakalongem@ecd. Ao fazermos pesquisas científicas, não devemos nos esquecer de
adventist.org
até onde vai o domínio da nossa mordomia, a fim de evitarmos
DIVISÃO NORTE-ASIÁTICA DO PACÍFICO procedimentos que causem dor e sofrimento aos animais. Podemos e
P.O. Box 43, Koyang Ilsan 411-600, COREIA
Chek Yat Phoon cyphoon@nsdadventist.org devemos aspirar a um maior nível de responsabilidade para com Deus e
Nak Hyujg Kim youth@nsdadventist.org os demais seres por Ele criados.
DIVISÃO SUL-ASIÁTICA DO PACÍFICO Mark F. Carr
P.O. Box 040, 4118 Silang, Cavite, FILIPINAS
Lawrence Domingo ldomingo@ssd.org
Jobbie Yabut jyabut@ssd.org 13 Cristianismo congênito
Se a sua experiência religiosa é árida e improdutiva; se você está se
DIVISÃO EURO-ASIÁTICA esforçando para manter a aparência de adventista, mas não tem o
Krasnoyarskaya Street 3, 107589 Moscou, FED.
RUSSA poder do adventismo em sua vida; se procura trabalhar para o Senhor,
Vladimir Tkachuk vtkachuk@esd-sda.ru mas ainda assim sente um vazio internamente, como se a sua trajetória
Kasap Gennady kgennady@esd-sad.ru
no cristianismo e no adventismo tivesse sido predeterminada por uma
DIVISÃO INTERAMERICANA
P.O. Box 830518, Miami, FL 33283-0518, EUA herança genealógica, este artigo é para você – nele encontrará a cura
Gamaliel Florez gflorez@interamerica.org para o seu cristianismo.
Benjamín Carballo carballobe@interamerica.org
David Kim
DIVISÃO INTEREUROPEIA
Schosshaldenstrasse 17, 3006 Berna, SUÍÇA
Barna Magyarosi barna.magyarosi@eud.adventist.
org
Stephan Sigg stephan.sigg@eud.adventist.org
DIVISÃO NORTE-AMERICANA
SEÇÕES
12501 Old Columbia Pike, Silver Spring, MD
20904-6600, EUA 3 EDITORIAL 23 LOGOS
Larry Blackmer larry.blackmer@nad.adventist.org Unidos para a missão Perdida e depois achada
James Black james.black@nad.adventist.org Lisa M. Beardsley-Hardy John Wesley Taylor V
Gary Councell gary.councell@nad.adventist.org e Miriam Louise Taylor
DIVISÃO DO PACÍFICO SUL
Locked Bag 2014, Wahroonga, N.S.W. 2076, 18 PERFIL 27 PRIMEIRA PESSOA
AUSTRÁLIA Nathalie Walther “Aquietai-vos e sabei…”
Malcom Coulson mcoulson@adventist.org.au Entrevista feita por Joy Devaraj
Nick Kross nkross@adventist.org.au Lorena Mayer
30 PARA SUA INFORMAÇÃO
DIVISÃO SUL-AMERICANA
Caixa Postal 02600, Brasília, 70279-970 DF,
22 LIVROS Universidades
BRASIL
Divinas maravillas: Evidencias de
Edgard Luz edgard.luz@adventistas.org.br diseño y planificación [Maravilhas 34 Conselhos inspirados para os
Areli Barbosa areli.barbosa@adventistas.org.br Divinas: Evidências de projeto e jovens
DIVISÃO SUL-ASIÁTICA
planejamento] Ellen White
P.O. Box 2, HCF Hosur, 635 110 Tamil Nadu, Gerald E. Vyhmeister
ÍNDIA Revisado por Silvia Schimpf-
Nageshwara Rao gnageshwarrao@sud-adventist. Torreblanca
org
Lionel Lyngdoh lyngdoh@sud-adventist.org
DIVISÃO TRANSEUROPEIA
119 St. Peter’s St., St. Albans, Herts, AL13EY,
INGLATERRA
Daniel Duda dduda@ted-adventist.org
Paul Tompkins ptompkins@ted-adventist.org

2 DIÁLOGO 26 • 3 2014
EDITORIAL
Esta revista internacional de fé, pensamento e
Unidos para a missão ação é publicada três vezes ao ano, em quatro
edições paralelas (espanhol, francês, inglês
e português), sob o patrocínio da Comissão
de Apoio a Universitários e Profissionais
Adventistas (Caupa), organismo da Associação
Geral dos Adventistas do Sétimo Dia.
Volume 26, Número 3
Copyright © 2014 pela Caupa.
Todos os direitos reservados.
Isso acontece em todos os quinquênios. Antes de vir trabalhar na Associação Geral,
nunca tinha usado essa palavra, nem mesmo em um jogo de caça-palavras. Um colega Diálogo afirma as crenças fundamentais da
Igreja Adventista do Sétimo Dia e apoia a
me disse, com uma certa ironia, que o processo certamente deve ter a direção do sua missão. Os pontos de vista publicados
Espírito Santo, tendo em vista que os líderes mundiais da igreja são eleitos sem levar na revista, entretanto, representam o
em conta sua folha de serviço ou currículo que possuem. Mas não é tão simples pensamento independente dos autores.
como parece. Representando cerca de 18,5 milhões de membros da igreja em 2015, Equipe Editorial
aproximadamente 2.600 delegados provenientes de 216 nacionalidades diferentes, Editora-chefe: Lisa M. Beardsley-Hardy
dentre os 237 países e territórios reconhecidos pela Organização das Nações Unidas, Editor: John M. Fowler, John W. Taylor V
Assistente Editorial: Susana Schulz
estiveram reunidos em San Antonio, no Texas, entre os dias 2 a 11 de julho de 2015. Edições Internacionais: Susana Schulz
Juntos, eles confirmaram a fé praticada pela igreja e sua missão, assistiram à apre- Secretários editoriais internacionais:
sentação dos relatórios das 13 divisões mundiais, elegeram a liderança global para Susana Schulz (Espanhol)
o próximo quinquênio e votaram as alterações a serem feitas nos regulamentos, nas Monique Lemay (Francês)
Roberto Iannò (Italiano)
crenças fundamentais e no Manual da Igreja. Tudo isso e muito mais ocorreu no Karina Carnassale Deana (Português)
prazo de dez dias de reuniões. Diagramador: Glen Milam
Não posso deixar de refletir sobre os acontecimentos da sessão realizada em Correspondência Editorial
Atlanta, na Geórgia. Nessa assembleia, fui eleita a primeira mulher a ocupar o cargo Diálogo
de diretora do Departamento de Educação da Associação Geral na história da igreja. 12501 Old Columbia Pike
Ninguém poderia receber essa indicação com maior surpresa do que eu. Momentos Silver Spring, MD 20904-6600; EUA.
Telefone 301 680-5060
depois da eleição, um colega disse com grande entusiasmo: “Você é o homem certo Fax 301 622-9627
para esse trabalho!” – logo depois, acabamos rindo muito do que ele disse. E-mail schulzs@gc.adventist.org
Mas foi um momento de grande seriedade aquele em que compareci perante a Comissão (CAUPA)
comissão de nomeações para explicar o que o Departamento de Educação precisaria Presidente: Armando Miranda
fazer e que qualificações deveriam ter os associados do Departamento. Em vez de Vice-Presidentes: Lisa M. Beardsley-Hardy,
procurar representar o Campo mundial, a ênfase era sobre a capacidade de servir à Gilbert Cangy, Gary R. Councell
Secretário: Jiwan S. Moon
igreja em todo o mundo. As qualificações incluíam experiência em duas ou mais áreas, Vogais: Mario Ceballos, Lyndelle Chiomenti,
proficiência no idioma, um doutorado e o conhecimento do conteúdo acadêmico. Ganoune Diop, Falvo Fowler, Hudson
Discursos (incluindo o meu) foram feitos através dos microfones, acerca de um Kibuuka, Linda Koh, Kathleen Kuntaraf,
candidato ou de outro. A seguir, pude ver as barras dos gráficos aparecendo na tela, de Faith-Ann McGarrell, Derek Morris, Álvaro
Ordoñez, Ronald Pickell, Eliann Reinhardt, Roy
acordo com os vários nomes apresentados, à medida que os membros da comissão de Ryan, Susana Schulz, John W. Taylor, Clinton
nomeações davam seu voto eletronicamente. Entrei em contato com cada candidato, Wahlen, Thomas Wetmore.
e só após o consentimento individual é que os delegados mundiais podiam tomar Correspondência sobre circulação
a decisão final. Em Atlanta, os votos em plenário eram feitos por meio de cartões Deve ser dirigida ao Representante Regional
amarelos brilhantes. Nunca vou me esquecer da grande quantidade de cartões amarelos da Caupa na região em que reside o leitor.
que eram erguidos enquanto os delegados votavam. Os nomes e endereços desses representantes
encontram-se na p. 2.
A assembleia da Associação Geral é como uma reunião campal, mas algo de grande
magnitude: as melhores músicas de todo o mundo, sermões inspiradores, trajes nacio- Assinaturas US$13.00 por ano (três
números, via aérea). Ver cupom na p. 6 para
nais coloridos, reuniões alegres realizadas em dezenas de línguas, orações pronuncia- mais detalhes.
das em outras tantas, exposições educacionais e de entretenimento, além da maior
Website: http://dialogue.adventist.org
Escola Sabatina e culto de adoração que podemos presenciar debaixo do Céu. Mas o
que mais me impressiona é a forma como votamos os assuntos relacionados à igreja: A DIÁLOGO recebe correspondências de
leitores de 120 países ao redor do mundo.
os regulamentos que coordenam o nosso trabalho, doutrinas, assuntos de peso e a
eleição da liderança e de seus associados para o próximo quinquênio, visando à reali-

DIÁLOGO 26 • 3 2014 3
zação de um trabalho em nível global.
Ellen White escreveu: “Deus ordenou
que os representantes de Sua igreja de
todas as partes da Terra, quando reu-
nidos numa Assembleia Geral, devam
ter autoridade. O erro que alguns estão
em perigo de cometer, é dar à opinião
e ao juízo de uma só pessoa, ou de um
pequeno grupo de pessoas, a plena medi-
da de autoridade e influência de que
Deus revestiu Sua igreja, no juízo e voz
da Associação Geral reunida para fazer
planos para a prosperidade e progresso
de Sua obra” (Testemunhos Seletos, v. 3, p.
408).
Por mais de 150 anos, essas reuniões
especiais têm servido para manter uma
denominação global, crescente e multi-
nacional, bem como suas igrejas, escolas,
hospitais, instituições e membros cada
vez mais unidos para a missão.
Caso tenha ou não participado pes-
soalmente, assistido pela internet ou pela
televisão, você deve procurar estar a par
das decisões tomadas nesta Assembleia
da Associação Geral (2015.gcsession.
Escreva-nos!
Recebemos seus comentários, críticas e
perguntas, mas, por favor, limite suas cartas
a 200 palavras. Escreva para:
DIALOGUE LETTERS
12501 Old Columbia Pike
Silver Spring MD 20904 - EUA.
FAX 301 622 9627
E-MAIL schulzs@gc.adventist.org
As cartas selecionadas para publicação
podem vir a ser editadas para maior
clareza ou por necessidade de espaço.
4 DIÁLOGO 26 • 3 2014
org). Meu apelo a você é que ore para
que o Espírito Santo verdadeiramente
dirija todas as deliberações que foram
tomadas, a fim de que a igreja se man-
tenha unida e animada para cumprir
a missão, e que a nossa esperança em
Cristo seja confirmada. Que o tema
desta assembleia global seja a nossa espe-
rança e oração para os dias que estão à
nossa frente: “LEVANTE-SE! BRILHE!
JESUS ESTÁ VOLTANDO!”
— Lisa M. Beardsley-Hardy, Editora
Lisa M. Beardsley-Hardy (PhD pela
Universidade do Havaí, Manoa)
é diretora do Departamento de
Educação da Associação Geral dos
Adventistas do Sétimo Dia, em
Silver Spring, Maryland, USA. E-mail:
beardsleyl@gc.adventist.org.
Igreja Adventista
do Sétimo Dia
no Mundo
(Dados Estatísticos de 31 de dezembro de 2014)
• Países e Regiões do Mundo onde a Igreja Adventista
do Sétimo Dia está estabelecida: 216
(São 237 países reconhecidos pela Organização das Nações Unidas.)
• Idiomas utilizados nas publicações adventistas e na
transmissão da mensagem falada: 947
• Igrejas e grupos: 148.023
• Total de membros da Igreja: 18.479.257
Um antigo quadro de honra
Jo Ann Davidson
Estamos vivendo numa era em que
os heróis são idolatrados. Os museus
enaltecem quase todos os esportes.
Memoriais procuram imortalizar músi-
cas e estrelas de cinema. Presidentes
constroem bibliotecas para deixar o
registro de seu período de governo. O
Guinness Book of World Records destaca
pessoas que alcançaram realizações
incomuns. Até mesmo os Correios, em
ocasiões especiais, emitem selos em
homenagem a certas personalidades
importantes. Os seres humanos idola-
tram seus heróis!
Curiosamente, Deus também tem
Seus heróis e imortalizou alguns deles
em Sua Palavra. Quando pensamos em
heróis bíblicos, Hebreus 11 logo nos
vem à mente. No entanto, podemos
encontrar um quadro de honra, bem
anterior a esse, no Antigo Testamento.
Em Ezequiel 14, Deus chama a aten-
ção para três pessoas, e faz isso por
quatro vezes em um único capítulo.
Ele diz a Ezequiel: “Filho do homem,
quando uma terra pecar contra Mim,
se rebelando gravemente […] ainda
que estivessem no meio dela estes três
homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua
justiça livrariam apenas as suas almas”
(Ezequiel 14:13, 14; ver também v. 16,
18, 20).
Por que Deus destacou esses três
homens nesse antigo “quadro de
honra”? Por que Abraão não foi incluí-
do – esse homem que foi chamado o
“amigo” de Deus (2 Crônicas 20:7)
DIÁLOGO 26 • 3 2014
Quando Deus coloca uma pessoa no
quadro de honra dos justos, reconhece
uma vida de plena confiança nEle e em
Sua Palavra, não importa o que venha a
acontecer.
e que teve seu coração quebrantado
quando Deus ordenou que Lhe sacri-
ficasse o filho que tanto amava? Davi
também não é mencionado – e era
aquele a quem Deus chamou de “um
homem segundo o Seu coração” (1
Samuel 13:14). E quanto a Moisés, que
recebeu o Decálogo da própria mão
de Deus e com Ele falava face a face
(Deuteronômio 34:10)? Há também
Elias, com sua incrível demonstração
de coragem no Monte Carmelo (1 Reis
18).
Ao ponderar sobre essa passagem de
Ezequiel, cheguei à conclusão de que
existem algumas situações especiais
na vida de Noé, Jó e Daniel que são
importantes para nós hoje. Vamos
considerar cada um deles brevemente.
O caso de Noé
A primeira coisa de que nos lembra-
mos é que Deus ordenou a Noé que
construísse uma enorme embarcação,
em terra seca, por causa de um dilúvio
que estava prestes a cair sobre a Terra.
Aparentemente, Noé não parou para
refletir sobre o que as pessoas pen-
sariam dele. Em vez disso, acreditou
sinceramente no que Deus lhe disse e
começou a trabalhar.
Uma das primeiras descrições que
aparecem no registro bíblico é que
Noé era justo. Ele “era homem justo
e íntegro [irrepreensível] entre os seus
contemporâneos” e “andava com Deus”
(Gênesis 6: 9). Para Noé, não era uma
tarefa fácil. Ele viveu em meio a uma
geração extremamente perversa: “Viu
o Senhor que a maldade do homem se
havia multiplicado na Terra e que era
continuamente mau todo o desígnio do
seu coração […] A Terra estava corrom-
pida à vista de Deus e cheia de violên-
cia” (Gênesis 6: 5, 11 – Ver v. 1-12).
A linguagem enfática desses versícu-
los sugere que o mundo antediluviano
iria reagir negativamente ao que Noé
estava fazendo. De fato, Ellen White
nos informa que as pessoas zombavam
de Noé. Ridicularizavam a ideia de
que iria chover. O aviso do Céu para
Noé parecia não fazer sentido, à luz do
que eles pensavam que entendiam do
mundo natural. Até mesmo os filósofos
e cientistas da época argumentavam
que era impossível a Terra ser destruí-
da pela água: “As ameaças de Deus”,
diziam eles “têm por fim intimidar, e
nunca se cumprirão. Não necessitais
de estar alarmados. Tal acontecimen-
to como a destruição do mundo por
Deus, que o fez, e o castigo dos seres
que Ele criou, nunca sucederá. Estai
em paz; não temais. Noé é um fanático
extravagante.”1
Se Noé tivesse sido como alguns
cristãos de nossos dias, que insistem
que só necessitamos saber que “Deus
é amor” e que tudo o que precisamos
fazer é “amar o Senhor”, a arca nunca
teria sido construída. Mesmo diante de
intensa ridicularização, encontramos
Noé proclamando uma mensagem de
5
 juízo iminente. Nós o encontramos Como a experiência de Noé pode ser O aspecto mais importante, porém,
demonstrando verdadeira fé – uma fé comparada à nossa hoje? Ellen White é que Deus exalta a justiça de Noé qua-
obediente. Pelo que ele fez, demonstrou sugere que há algumas correlações dire- tro vezes nas Escrituras: em Gênesis,
crer em Deus, apesar de nunca ter visto tas: “No tempo de Noé, declaravam Ezequiel, Hebreus e na segunda carta
chuva em sua vida. os filósofos que era impossível ser o de Pedro. Noé foi um homem justo, que
Noé, no entanto, não era um arro- mundo destruído pela água; da mesma viveu em uma sociedade secular total-
gante pregador do juízo que estava para forma, existem hoje estudiosos da ciên- mente corrupta.
vir. Ellen White observa: “Quando cia que se esforçam para provar que o
a última mensagem de Noé foi dada mundo não pode ser destruído pelo O caso de Jó
àquela era degenerada, enquanto se fogo, ou seja, que isto seria incoerente A experiência vivida por Jó envolve
punha ele diante do povo dando com as leis da natureza […]. Mas Noé várias questões. Sua fidelidade em meio
sua advertência, deram-lhe as costas permanecia semelhante a uma rocha ao sofrimento talvez seja a primeira coisa
para ridicularizá-lo. Tinham ouvido em meio à tempestade. Rodeado pelo que nos vem à mente. A dura realidade
as orações de Noé, as quais dia após desdém e ridículo popular, distinguia- do sofrimento injusto é muitas vezes
dia ascendiam em seu favor, e com o se por sua santa integridade e fidelidade apresentada como um argumento para
coração que deles se compadecia apre- inabalável.”3 a descrença. No entanto, nenhum outro
sentou-lhes a sua última mensagem.”2 Observe os paralelos distintos entre livro na Bíblia aborda o sofrimento de
Sim, os antediluvianos consideraram as questões enfrentadas por Noé e as forma tão pungente como o livro de Jó.
Noé um insano, mas, por 120 anos, ele questões que nós enfrentamos hoje: Era um homem justo e temente a
manteve a construção da arca de acordo (1) anunciam os juízos de Deus a um Deus, que vivia uma vida respeitável,
com as instruções dadas por Deus. Noé mundo resistentemente pecaminoso, e feliz e próspera, e subitamente é mer-
levou a sério a ordem divina. E assim, (2) anunciam os juízos diante de filó- gulhado na miséria absoluta; perdeu os
não nos causa surpresa encontrar Noé sofos que insistem que Deus é amoroso, filhos e todos os seus bens. Além disso,
não só em Ezequiel 14, mas também que realmente nunca irá punir, e de logo, fica coberto de dolorosos furún-
no Novo Testamento (Hebreus 11:7; 2 cientistas evolucionistas que negam a culos, da cabeça aos pés. Até a própria
Pedro 2:4, 5). existência de um Deus Criador. esposa lhe disse: “amaldiçoe a Deus, e
morra!” (Jó 2: 9). O que Jó fará? Qual
será sua resposta ao desafio que Satanás
lança contra Deus?
Sabemos que Jó era um homem
Assine justo. O Senhor declarou isso duas
vezes no início do livro (Jó 1:8; 2:3).
Diálogo No entanto, sem ter conhecimento
dessa avaliação divina e em meio a
Você quer ser um pensador e não meramente um refletor do pensamento de outras pessoas? A
DIÁLOGO continuará a desafiá-lo a pensar criticamente, como um cristão. Fique em contato com
intenso sofrimento, ele expressa sua
o melhor da ação e do pensamento adventista ao redor do mundo. Assine DIÁLOGO. profunda fé em Deus: “Eu sei que o
meu Redentor vive, e que no fim se
Assinatura anual (3 exemplares – via aérea): US$13.00 levantará sobre a Terra. E depois que
Números atrasados: US$4.00 cada. o meu corpo estiver destruído e sem
Gostaria de assinar DIÁLOGO em o Inglês o Francês o Português o Espanhol carne, verei a Deus” (Jó 19:25, 26).
Edições Iniciem minha assinatura com a próxima edição. Há outras questões, além do sofri-
Gostaria de receber estes números anteriores: Vol.______. Nº ______. mento, que não devemos esquecer. Jó
Pagamento Estou juntando um cheque internacional ou ordem de pagamento. não era da “linha da aliança”, embora
Meu Mastercard ou VISA é: _____________________________ os detalhes mencionados de sua vida
Data de validade: ________________________
provavelmente o coloquem no tempo
Por favor, preencha: dos patriarcas.4 Isso indicaria que Jó
Nome ___________________________________________________________ era um “gentio digno”. No Antigo
Endereço ___________________________________________________________ Testamento, observamos que Deus tem
___________________________________________________________ o cuidado de registrar dois grupos dife-
Remeta os dados para: DIALOGUE Subscriptions, Linda Torske rentes de pessoas: (1) os participantes
12501 Old Columbia Pike; Silver Spring, MD 20904-6600; EUA. da aliança no Pentateuco e (2) a exis-
FAX 301 622 9627 tência de crentes fiéis fora da aliança
E-mail torskel@gc.adventist.org abraâmica, como no livro de Jó.

6 DIÁLOGO 26 • 3 2014
 Nós também achamos surpreendente a
evidência de que Deus, desde os registros
iniciais da História, queria que os dois
lados do grande conflito ficassem clara-
mente delineados. O conflito cósmico
entre Cristo e Satanás não foi um desen-
volvimento tardio na mente dos israelitas.
Deus incluiu o registro da vida de Jó no
mais antigo livro das Escrituras para que
o papel contraditório de Satanás ficasse
nitidamente retratado desde o início.
Por que essas questões são importan-
tes? Jó era uma pessoa profundamente
espiritual – ele oferecia sacrifícios regular-
mente para si e sua família; era sensível
às necessidades dos pobres; era procura-
do pelos conselhos sábios que dava. No
entanto, estava fora da aliança de Abraão,
por meio da qual viria o Messias prome-
tido.
Esse é um ponto significativo. Como
adventistas do sétimo dia, podemos
compreender, pelo estudo das profecias
bíblicas, que somos chamados a pro-
clamar a última mensagem de juízo e
salvação enviada por Deus a um mundo
agonizante. O livro de Jó, no entanto,
nos lembra de um fator essencial que
deve acompanhar nossa compreensão
sobre o que, quem somos e onde esta-
mos na história da Terra.
É verdade que Deus nos chamou
para uma missão importante. No
entanto, a história de Jó nos mostra que
o Senhor também tem filhos fiéis fora
da linhagem do remanescente. Embora
Deus tenha escolhido Abraão para ser
o “Pai das Nações”, três vezes Ele disse
algo a respeito de Jó que jamais disse
sobre qualquer um dos patriarcas: que
Jó “é íntegro e justo; […] homem que
teme a Deus e evita o mal” (Jó 1:1, 8;
2:3). A vida de Jó é um testemunho
de que a esfera de influência de Deus
é muito maior do que podemos imagi-
nar!
Talvez devamos manter sempre claro
em nossa mente que, pelo testemunho
da vida nobre de Jó, Deus sempre
teve seguidores devotos dentro e fora
do remanescente. Não devemos ser
tão limitados e presunçosos, a ponto
de pensar que só nós somos o “povo
DIÁLOGO 26 • 3 2014
peculiar” de Deus. O próprio Jesus
comentou a fé que foi demonstrada por
um centurião romano: “Não encontrei
em Israel ninguém com tamanha fé”
(Mateus 8:10).
Embora estejamos plenamente corretos
quanto ao nosso papel na história da
salvação, os quatro capítulos do discurso
feito por Deus a Jó e seus amigos – Seu
discurso mais longo nas Escrituras – nos
fazem lembrar de que o envolvimento de
Deus na história humana é muito mais
extenso e complexo do que podemos
compreender. Deus, de fato, instrui Jó
a respeito do plano que Ele tem – um
plano a ser revelado em toda a criação,
um plano infinitamente maior do que a
mente humana pode compreender ple-
namente. Nós, assim como ocorreu com
Jó, precisamos ser lembrados de que há
muita coisa no mundo criado por Deus
que escapa à nossa análise e compreensão.
As declarações feitas por Deus condena-
ram Jó, e devem nos condenar também,
no que diz respeito às limitações da sabe-
doria humana.
Deus tem um plano para este mundo.
Nem tudo se transformou em um caos
como parece, mesmo quando coisas
ruins acontecem a pessoas boas. Além
disso, por mais importante que seja a
missão da Igreja Adventista do Sétimo
Dia neste tempo em que vivemos, nós
não somos as únicas pessoas que Deus
ama. As Escrituras se encerram, de
fato, com uma das declarações finais de
Deus referindo-Se àqueles que estavam
dentro da Babilônia caída como “povo
Meu” (Ap 18:2, 4).
O caso de Daniel
Os adventistas do sétimo dia, com
razão, estudam as profecias de Daniel.
Em Ezequiel 14, Deus louva a justiça
de Daniel. O que há na vida desse
homem que Deus tanto exalta? Em
Daniel 1, encontramos o retrato de
uma vida de temperança e integridade
– embora Daniel fosse apenas um ado-
lescente e, além de tudo, um prisioneiro
de guerra na Babilônia. Mais tarde,
vemos que Ele continuava mantendo
firme a sua fé em Deus, mesmo em
face de um decreto de morte. Ellen
White nos relata que Daniel foi “dura-
mente provado” e que, embora “estives-
se cercado de desconfiança e suspeita,
[…] nunca se desviou do princípio.
Manteve alegre e serena confiança em
Deus.”5
Ao mesmo tempo, não há nenhuma
evidência de que Daniel demonstrava
arrogância e desprezo para com a reli-
gião pagã que encontrou em Babilônia,
nem assumiu, casualmente, que sua
fé israelita era apenas uma das várias
possibilidades que podiam levar uma
pessoa a Deus e que realmente não
importava a ele qual religião a pessoa
escolhesse. O registro coerente da vida
de Daniel nega essa perspectiva. Daniel
sabia exatamente onde seus pés estavam
firmados. Reverenciava o Deus do Céu
e mantinha fielmente a sua adoração
de maneira distinta em meio a grandes
dificuldades. Na verdade, quando foi
chamado perante o rei que o tinha
feito prisioneiro e destruído o seu país,
Daniel não hesitou em reconhecer o
Deus do Céu como sua fonte de sabe-
doria. E ele fez isso mais de uma vez,
mesmo com o risco da própria vida.
Quando foi emitido o decreto de
morte que atingiu Daniel, ele foi para
o seu quarto, abriu a janela e orou. O
texto deixa claro que Daniel não esta-
va orando em meio a uma rotina sem
sentido, nem era aquela oração o seu
último recurso. Não, ele “fez o que cos-
tumava fazer: três vezes por dia ele se
ajoelhava e orava” (Daniel 6:10, 13).
Ao ajoelhar-se diante de sua janela
aberta para orar, Daniel demonstrou
uma coragem heroica. Ele preferiu se
submeter à sentença de morte, em vez
de quebrar a sua comunhão com Deus.
Como hábil político do alto escalão do
reino da Pérsia, Daniel não era ignoran-
te quanto ao que estava acontecendo:
“Embora soubesse muito bem quais as
consequências de sua fidelidade a Deus,
seu espírito não vacilou. Ante os que
estavam tramando a sua ruína, ele não
permitira sequer a aparência de que sua
ligação com o Céu estava interrompi-
da.”6
7
 Não é de admirar que Deus escolhes-
se Daniel de forma tão impressionante.
Em três ocasiões diferentes, quando
o anjo Gabriel é enviado do Céu em
resposta às suas orações para que pudes-
se entender as visões, observe como
Gabriel expressa a afeição do Céu: na
primeira vez, ele diz: “Você é muito
amado”, e depois afirma: “Daniel, você
é muito amado”; “você, que é muito
amado” (Danieln 9:23; 10:11, 18-19).
Daniel é a única pessoa nas Escrituras
que foi tão marcantemente confirmada
pelo Céu. Somente o Messias recebeu
várias expressões divinas de afeto, como
a que ocorreu por ocasião de Seu batis-
mo e, depois, em Sua transfiguração,
quando o Pai proclamou do Céu: “Este
é o Meu Filho amado!” (Mateus 3:17;
17:5).
Por que esses três?
Por meio do profeta Ezequiel, Deus
chamou a atenção para Noé, Jó e
Daniel. Por que Deus tinha Noé em
tão alta estima? Poderia ser por causa
de sua fidelidade sem reservas, em
meio ao ceticismo predominante de seu
tempo? Seria por sua integridade diante
da zombaria científica e filosófica do
mandamento divino? Ele confrontou,
assim como enfrentamos hoje, uma
forma generalizada de materialismo,
cuja realidade é definida e circunscri-
ta pelo que o pensamento humano é
capaz de imaginar, e que ocorre em
nossos dias. Noé, porém, entendeu o
invisível mundo infinito, e isso moldou
sua fé e obediência. Ele seguiu expli-
citamente os mandamentos de Deus,
anunciando os Seus juízos sobre o peca-
do, ao construir um grande barco em
terra seca, sem nunca ter visto chuva.
Por que Jó? Jó andou com Deus uma
via tortuosa. No entanto, mesmo diante
das perplexidades, sofrimento e dor,
encontramos Jó declarando inabalável
fé em seu Redentor. Além disso, a sua
vida é também um retrato notável dos
“ramos enxertados” que Deus promete
para a videira verdadeira; e nós ficamos
maravilhados com a qualidade desses
enxertos!
8 DIÁLOGO 26 • 3 2014
E então, por que Daniel? Nós, que
somos desafiados pelo Novo Testamento
Babilônico, somos chamados a manter
os mesmos elevados padrões em nossos
hábitos pessoais com relação ao que
bebemos, ao que comemos e a como
somos levados a viver um estilo de vida
mais simples. Vez por outra, alguns
adventistas do sétimo dia alardeiam
que esses padrões de estilo de vida não
são tão importantes. O testemunho
singular de Daniel e seus resultados na
luxuosa corte da Babilônia dão teste-
munho da importância da fidelidade.
Ellen White também destaca a vida
de oração de Daniel: “Se nós, como um
povo, orássemos como Daniel e lutásse-
mos como ele lutou, humilhando nosso
coração perante Deus, haveríamos de
presenciar tão notáveis respostas às nos-
sas petições quanto as que foram conce-
didas a Daniel.”7 Quando consideramos
a inabalável vida de oração de Daniel e
sua determinação em glorificar ao Deus
do Céu na principal corte pagã de sua
época e nos lembramos de que ele esta-
va disposto a enfrentar a execução para
não comprometer sua fé, não é difícil
entendermos por que Deus, por meio
do profeta Ezequiel, propositadamente
chama a atenção para a justiça desse fiel
servo Seu.
Noé, Jó e Daniel – cada um deles
enfrentou um desafio distinto que exi-
giu um profundo nível de fé:
Fé na Palavra de Deus em meio ao
ceticismo vigente.
Fé em Deus em meio e apesar do
sofrimento extremo.
Fé em Deus numa situação de plura-
lismo sofisticado, optando por aceitar
a morte, a ter que desonrar o nome de
Deus.
Essas são, na verdade, as próprias
questões que Ellen White, no livro O
Grande Conflito, indica que teremos
que enfrentar quando o mundo se
encontrar em seu julgamento final.
Deus, por intermédio de Ezequiel,
revela Sua consideração para com esses
três “dignitários” do Antigo Testamento
quatro vezes em um só capítulo! Quando
Deus fala, podemos crer nEle. “As
palavras do Senhor são puras, são como
prata purificada num forno, sete vezes
refinada” (Salmo 12:6). Em toda a
Escritura, Deus nos chama à justiça.
Por meio do profeta Amós, Ele insiste:
“Corra a retidão como um rio, a justiça
como um ribeiro perene” (Amós 5:24).
O salmista acrescenta: “Pois o Senhor
é justo e ama a justiça; os retos verão
a Sua face” (Salmo 11:7). Através do
profeta Ezequiel, Deus elogia Noé, Jó e
Daniel por sua retidão. Assim, podemos
começar a compreender o que significa
para Deus chamar atenção para esses
três exemplos de vida, pois, uma vida
justa significa confiar em Deus e em
Sua Palavra, não importa o que venha a
acontecer.
Jo Ann Davidson (PhD pela
Trinity Evangelical Divinity School,
Deerfield, Illinois) é profes-
sora de Teologia Sistemática no
Seminário Adventista Teológico da
Universidade Andrews, em Berrien
Springs, no Michigan, USA.
E-mail: jad@andrews.edu.
REFERÊNCIAS
1. Ellen White, Patriarcas e Profetas, p. 97.
2. ___, Cristo Triunfante (Tatuí, SP, Casa
Publicadora Brasileira, 2002), p. 55,
Manuscrito 86, 1886.
3. ____, Patriarcas e Profetas, p. 103, 96.
4. Tais como: (1) Os tipos dos rebanhos de
animais que ele possui são como os descritos
por Abraão e os demais patriarcas em Gênesis.
(2) Os sacrifícios oferecidos por Jó correspon-
dem aos dos patriarcas. (3) Não há menção
do Êxodo no livro de Jó, o qual, após a sua
ocorrência, é mencionado por quase todos
os outros escritores bíblicos. (4) Ellen White
afirma que Moisés escreveu o livro de Jó
enquanto estava em Midiã (Educação, p. 159).
5. White, Testemunhos para a Igreja, v. 4, p.
368.
6. ___, Profetas e Reis(Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 1992), p. 542.
7 ___, Santificação (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, ), p. 47.
Como os cristãos devem tratar os
animais nas pesquisas?
Mark F. Carr
Uma das questões mais contestadas e
que ainda perduram, quanto à manei-
ra em que nos relacionamos com o
meio ambiente, é o uso de animais em
pesquisas. Muitos adventistas do sétimo
dia, principalmente os que trabalham
em instituições educacionais e de saúde,
estão envolvidos na pesquisa animal.
Quando devidamente regulamentada
por órgãos credenciados, essa forma
de pesquisa é justificável. No entanto,
vou apresentar algumas propostas que
irão incentivar os adventistas e outros
cristãos a não participarem de pesquisas
que causem dor e sofrimento aos ani-
mais.
A utilização de animais
em pesquisas
Os argumentos que prevalecem a
favor do uso de animais em progra-
mas de pesquisas tendem a uma ou
outra forma de utilitarismo. Dentro de
uma estrutura utilitária, há três regras
importantes: Reposição, Redução e
Refinamento (três "Rs)". Estabelecidas
com a publicação de The Principles of
Humane Experimental Technique [Os
Princípios da Técnica Experimental
Humana], escrita por W.M.S Russell
e R.L. Burch, em 1959, esses três “Rs”
DIÁLOGO 26 • 3 2014
Ao fazermos pesquisas científicas, não
devemos nos esquecer de até onde vai
o domínio da nossa mordomia, a fim de
evitarmos procedimentos que causem
dor e sofrimento aos animais. Podemos
e devemos aspirar a um maior nível de
responsabilidade para com Deus e com
os demais seres por Ele criados.
apresentam um quadro conceitual
para a lógica utilitarista moralmente
responsável.1 Simplificando: se existem
alternativas para o uso de animais, o
pesquisador deve substituí-los. Portanto,
deve ser feito um maior esforço para
reduzir o número de animais em uso.
Finalmente, os pesquisadores devem
refinar sua técnica experimental, de
modo a evitar qualquer dor desnecessá-
ria aos animais envolvidos.
Os argumentos que prevalecem
contra o uso de animais em pesquisas
centralizam-se no princípio dos direitos
dos animais, e o ponto fundamental
desses direitos é evitar a dor e o sofri-
mento. Sem tornar este artigo uma
discussão sobre os direitos dos animais,
é importante reconhecer a presença e
a força dessa linha de raciocínio sobre
a ética das pesquisas com animais.
Seguindo a definição básica dos direitos
humanos que qualquer pessoa tem,
simplesmente por ser um ser humano,2
uma definição dos direitos dos animais
traria em si um determinado conjun-
to de formas de proteção e liberdade
para todos os animais (animais não
humanos, para ser mais preciso).3 Se
optarmos por seguir essa linha, então
devemos especificar até onde vão os
direitos dos animais e em que situações
esses direitos se harmonizam ou não
com os direitos humanos.4
Como a pesquisa com animais é
conduzida – A principal preocupação
aqui é a pesquisa laboratorial a que os
animais são submetidos, causando-lhes
dor e sofrimento. Essa forma de pesqui-
sa deve ser moralmente justificada, e
normalmente segue a legislação nacio-
nal, sendo conduzida cada vez mais por
meio de grupos de supervisão interna-
cionais. A mais importante agência de
supervisão internacional nessa área é a
Associação Internacional de Avaliação
e Acreditação de Cuidado de Animais
em Laboratório (AAALAC, pela sigla
em inglês).
Os documentos que orientam a
supervisão e gestão da pesquisa atual
com animais abrangem uma vasta
gama de publicações e regulamentos.
Os detalhes são surpreendentes, e no
mínimo tão rigorosos – senão mais –
que os que estão relacionados com os
protocolos de pesquisas em humanos.
O que podemos extrair desses docu-
mentos, com relação à maneira em que
os adventistas podem, com responsa-
bilidade, participar das pesquisas com
animais nas instituições de ensino e de
9
saúde, que são tão vitais para a vida da
igreja em todo o mundo?
Princípios que merecem ser defen-
didos – Três níveis de regulamentos
e de supervisão devem ser mantidos,
se quisermos participar das pesquisas
com animais de maneira moralmente
responsável.5
1. Institucional – Todas as pesquisas
moralmente responsáveis devem ser
monitoradas e regulamentadas pelas
instituições onde elas são realizadas.
Considerando o lado negativo, e den-
tro do contexto específico da Igreja
Adventista, nenhum pesquisador /
professor em uma instituição educaci-
onal adventista do sétimo dia deve se
envolver no exercício da pesquisa / aula
sem uma supervisão institucional dire-
ta. Essa supervisão deve ser incentivada,
apoiada e mantida pela instituição /
escola.
2. Local – A supervisão instituci-
onal deve incluir o cumprimento de
quaisquer leis governamentais locais
relevantes. Essas leis podem variar
muito entre os países nos quais a igreja
mantém suas instituições de ensino.
Independentemente das variações, a
legislação local deve ser seguida. Por
exemplo, a vivissecção (a dissecação de
animais vivos) é proibida na Inglaterra,
mas não nos Estados Unidos.
3. Internacional – A acreditação
própria, independente e em nível inter-
nacional, oferecida pela AAALAC,
deve ser buscada, alcançada e mantida
por todas as instituições educacionais
adventistas do sétimo dia envolvidas em
pesquisas com animais. A AAALAC
atribui padrão-ouro a todo e qualquer
esforço feito para apresentar provas
de pesquisas com animais que sejam
potencialmente causadoras de dor e
sofrimento.
Embora essas três regras funda-
mentais possam fornecer orientações
práticas quanto à ética nas pesquisas
com animais, elas não podem e não
estabelecem uma orientação conceitual
aceitável para a Igreja Adventista. Os
problemas conceituais associados à
pesquisa animal giram em torno das
10
questões de moralidade apresentadas
nas Escrituras, na teologia e nos ensina-
mentos da igreja.
Três propostas
Como forma de incentivar a igreja a
avançar nessa área, apresento a seguir
três propostas:
1ª Proposta: Estabelecer o consen-
so de que para toda a criação não
humana há um estatuto moral – A
pesquisa de laboratório que venha a
causar dor e a morte de animais deve
ser moralmente justificada.6 Esse fato
reconhece que existe algum valor moral
inerente à vida animal, não humana,
criada por Deus.7
O status ou valor moral é um termo
usado na ética para nos ajudar a con-
ceituar “quem ou o que é tão valioso
que deve ser tratado com atenção
especial”.8 Quando me refiro aqui ao
status moral, é necessário levar em
conta o nosso senso intuitivo, nutrido
e comandado, pois o tema ao qual me
refiro é moralmente importante. Digo
que é intuitivo porque, como criação de
Deus, feitos à Sua imagem, temos um
sentido intuitivo (quando seguimos a
Sua vontade) de que as outras áreas de
Sua criação são moralmente importan-
tes. É nutrido porque levamos a sério as
Escrituras em nossa vida pessoal, fami-
liar e congregacional, e elas nos ensi-
nam que Deus cuida de Sua criação. Se
Deus cuida de Sua criação, então nós
também devemos cuidar dela. Dever
implica em obrigação ou status moral.
Digo também que é comandado por-
que fomos designados por Deus para
exercer um papel e responsabilidade
específicos dentro de Sua criação, como
mordomos, para valorizar (valor moral)
outras áreas de Sua criação. O peso da
responsabilidade aqui é nosso, e isso
significa que devemos tratar o restante
da criação como o próprio Deus a trata.
O lado negativo é que, se maltra-
tarmos qualquer um dos seres de Sua
criação (um dos que Ele nos disse que
por ele somos responsáveis [Gn 1:
26-28]), estaremos nos envolvendo em
um erro moral, cometendo um pecado.
Por exemplo: há muito pouco ou quase
nenhum debate sobre as implicações
morais do trituramento de rochas
para fazer brita. Mas esmagar crânios
de animais vivos, a fim de estudar o
traumatismo craniano para o bem do
ser humano, é uma atividade moral
completamente diferente, e nós a reco-
nhecemos como tal. Se não a reconhe-
cemos, somos moralmente retardados
e não refletimos adequadamente a
imagem de Deus no que diz respeito à
Sua criação.
As relevantes declarações da Igreja
Adventista sobre o status moral são
apresentadas de duas formas dife-
rentes: nas Vinte e Oito Doutrinas
Fundamentais e nas declarações oficiais
da Associação Geral dos Adventistas do
Sétimo Dia. A Doutrina Fundamental
número seis, intitulada “A Criação”,
afirma que a humanidade, feita à
imagem de Deus, representava “a
obra-prima da Criação”. Fazendo eco
às palavras de Gênesis 1:26 (NVI), a
declaração é uma afirmação de que aos
seres humanos foi “dado o domínio
sobre o mundo” e a nós foi atribuída “a
responsabilidade de cuidar dele”9 De
acordo com a doutrina interpretada e
publicada em Nisto Cremos, temos duas
citações a esse respeito: uma afirma que
“recebemos de Deus a incumbência de
preservar o ambiente”; a outra obser-
va: “Sendo a vida um dom de Deus,
devemos manifestar por ela o maior
respeito; mais que isto, temos a respon-
sabilidade moral de preservá-la.”10
2ª Proposta: Reavaliar a teologia
da mordomia – Vista através da lente
da ética teológica, o que está em jogo
na descrição da criação no livro de
Gênesis é a nossa própria identidade, o
nosso papel e o nosso lugar na criação
de Deus como um todo. Há duas com-
parações essenciais para uma interpre-
tação bíblica e, portanto, adventista, do
nosso papel na ordem criada por Deus,
ou seja, no domínio e na mordomia.
Tendo domínio – Os seres humanos
falharam no decorrer da história, ao
interpretar restritivamente a palavra
domínio no sentido de que poderiam
DIÁLOGO 26 • 3 2014
ser dominadores, usuários, compradores
e abusadores do restante da criação que
Deus declarou ser boa. Seguindo a ideia
do domínio na sociedade cristã ociden-
tal, o restante da criação só tinha valor
se beneficiasse a humanidade.11
A maneira como os seres humanos
se relacionam com os demais seres
criados por Deus é revelada por meio
de suas crenças e em seu modo de agir.
Quando alguma coisa (por exemplo,
um caracol) tem um valor intrínseco,
tem valor em si mesmo. Isso é verdade,
simplesmente porque Deus o criou.
Deus não precisa nos dar a ordem para
valorizar o caracol. O caracol tem valor
porque Deus o fez. Os que defendem
esse ponto de vista normalmente argu-
mentam que toda a criação de Deus
tem valor moral intrínseco. Aqueles que
mantêm um ponto de vista diferente
atribuem valor porque decidem fazê-lo
ou porque Deus ordena. Ou seja, não
existe um valor intrínseco no caracol.
Ao contrário: ele adquire valor apenas
quando damos valor a ele (porque Deus
nos disse ou porque apreciamos o que o
caracol faz para nós).
Naturalmente, pode-se tomar uma
posição sobre o valor intrínseco /
extrínseco do restante da criação de
Deus numa escala muito complexa.12
Em ambos os extremos de uma escala
de valores estão as duas seguintes posi-
ções:
Todas as coisas – todas da criação não
humana de Deus – são intrinsecamente
valiosas (têm status moral) porque Ele
criou cada uma e declarou que eram
boas. O valor aqui é essencial na pró-
pria entidade.
Todas as coisas – todas da criação não
humana de Deus – são extrinsecamente
valiosas (têm status moral) porque
beneficiam a humanidade. Quer seja
uma pedra ou um gorila, todo o res-
tante da criação somente tem valor se
contribui para melhorar a vida huma-
na. O valor aqui é instrumental para a
humanidade.
No contexto da minha ética teológi-
ca, devo assumir a posição de que todas
as coisas que Deus criou possuem seu
DIÁLOGO 26 • 3 2014
status moral – pelo menos de algum
tipo. Qualquer forma de status moral
impõe uma obrigação moral sobre mim
como mordomo responsável pela cria-
ção de Deus.
Sendo um mordomo responsável – A
responsabilidade que Deus atribui à
humanidade é uma questão moral.
Temos a responsabilidade moral de
nos envolver em um papel gerencial
dentro da criação. Esse papel gerencial
é melhor compreendido no âmbito
teológico do princípio da mordomia.
Mordomia, argumenta Bauckham, é a
“vocação de cuidar responsavelmente
das outras criaturas”.13
Meu ponto de vista é de que devemos
entender a figura do domínio sob a luz
da figura da mordomia e da responsa-
bilidade. Assim como Bauckham, gos-
taria de observar que “a relação huma-
na com o restante da criação, segundo
o propósito de Deus e de acordo com
as informações bíblicas, […] não pode
ser facilmente resumida em um único
termo como o de mordomia”.14 O
documento expositivo das crenças fun-
damentais adventistas combina tanto
as metáforas em sua referência, como a
responsabilidade de Adão e Eva: “Era
sua responsabilidade governar graci-
osamente sobre o mundo, refletindo
a imagem do beneficente governo de
Deus sobre todo o universo.” Além
disso, o documento apela para man-
termos a visão de que “como seres
humanos, devemos agir à semelhança
de Deus, pois fomos criados à Sua
semelhança. Embora sejamos humanos,
e não divinos, devemos refletir o nosso
Criador, dentro de nossos limites, sob
todas as formas possíveis”.15
Três declarações oficiais da Igreja
Adventista do Sétimo Dia são relevan-
tes para o nosso papel como mordo-
mos da criação de Deus, citadas aqui
em ordem cronológica: “Cuidando
da Criação – Uma Declaração sobre
o Meio Ambiente”, “Declaração do
Meio Ambiente”, e “Declaração sobre
o Gerenciamento do Meio Ambiente”.16
“Cuidando da Criação – Uma
Declaração sobre o Meio Ambiente”
é a única relacionada explicitamente
aos animais. Refere-se à vida selvagem
sendo devastada como resultado da
desobediência humana para com Deus.
Aprecio profundamente essas decla-
rações e penso estarem entre as mais
eloquentes já feitas pela igreja. A não
ser por essas declarações, não houve
nenhum esforço para a elaboração de
uma ética de responsabilidade voltada
para o meio ambiente, de forma geral,
ou para com os animais, em particular.
No entanto, a igreja tem nos exortado
a respeitar a criação, a manter a restri-
ção em nossa relação com o uso dos
recursos da Terra, reavaliando o que
realmente precisamos e confirmando a
dignidade da vida criada.17
3ª Proposta: Conduzir a pesquisa
médica para além do uso de animais
vivos – Como utilizamos animais em
laboratórios e em pesquisas médicas,
devemos fazê-lo com o pleno reconhe-
cimento das duas propostas anteriores,
a saber: que esses animais têm um
status moral intrínseco e que somos
moralmente responsáveis por eles como
mordomos de Deus. É bastante claro
que a realização de pesquisas em ani-
mais tem valor instrumental ou extrín-
seco, tanto para os humanos como para
os animais. Nós nos beneficiamos gran-
demente com essas pesquisas, assim
como o próprio mundo animal.
Mesmo à luz dessa mais pragmá-
tica realidade, a moral intrínseca da
importância dos animais faz com que
nos mantenhamos longe da pesquisa
que lhes cause dor e sofrimento. Nos
casos em que a investigação adventista
é certificada pelo AAALAC, podemos
ter a certeza de que estamos mantendo
padrões elevados. Mas níveis elevados
podem levar a um tipo de status quo
que não deve ser aceito por nós como
mordomos de Deus. O que deve nos
motivar é uma abordagem mais idealis-
ta, que nos convida a alcançar padrões
mais elevados. Se, de fato, somos
exortados a tratar os animais como o
próprio Deus os trata, fazemos bem em
encontrar alternativas.
Outros modelos de pesquisa devem
11
ser desenvolvidos como forma de incen-
tivo para a descontinuação do dano
a que esses animais estão expostos. A
abordagem dos "3Rs" para minimizar
a dor e o sofrimento (Reduzir, Refinar,
Repor) é coerente com essa afirmação.
Quando levados ao seu extremo lógico,
os "3Rs" nos afastam completamente
do uso de animais em protocolos de
ensino e pesquisas que causam dor
e sofrimento. O Guide for the Care
and Use of Laboratory Animals [Guia
para o Cuidado e Uso de Animais
em Laboratório], um dos três recur-
sos primários utilizados pela própria
AAALAC, descreve a substituição a ser
feita, da seguinte forma:
“A reposição refere-se a métodos
que evitem o uso de animais. O termo
inclui substituições absolutas (isto é,
substituir os animais por sistemas ina-
nimados, como programas de computa-
dor), bem como as substituições relati-
vas, isto é, substituir animais, tais como
os vertebrados, por aqueles que estão
mais abaixo na escala filogenética”.18
De acordo com o Guia, existem duas
grandes categorias de alternativas: os
procedimentos in vitro, literalmente,
“em vidro”, estão lentamente subs-
tituindo muitos processos de teste e
experimentação com animais. Além
disso, também estão fazendo algum
progresso nos experimentos em silicone,
ou em modelagem, através de progra-
mas de computador.19 Duas simples
ilustrações podem enfatizar o fato de
que buscar alternativas é viável. Em pri-
meiro lugar, a tendência, ao longo dos
últimos 20 anos, na qual as empresas
fabricantes de perfumes e cosméticos
têm encontrado alternativas para o
teste de seus produtos em animais.20
Em segundo lugar, quantos de nós não
nos lembramos do tempo em que, para
fazer o teste de gravidez, era necessário
matar uma coelha? 21 O teste que já foi
considerado uma alternativa (usar uma
tira que mede os níveis hormonais na
urina) é hoje considerado uma prática
padrão.22
A questão é que, embora atualmente
possamos achar justificável causar dor e
12
sofrimento em animais de laboratório,
mesmo utilizando as melhores práticas
possíveis e métodos de fiscalização,
não temos que concordar com isso a
longo prazo. Podemos e devemos fazer
o nosso melhor para promover uma
gestão mais adequada desse domínio
de nossa mordomia, de modo a evitar-
mos procedimentos que causam dor
e sofrimento aos animais. Podemos e
devemos aspirar a um maior nível de
responsabilidade para com Deus e com
os demais seres por Ele criados.
Resumo
Os adventistas do sétimo dia em todo
o mundo, que trabalham em pesquisas
com animais ou com o uso de animais
na educação e utilizam métodos que
causem dor e sofrimento, enfrentam
uma questão ética. Há diretrizes rígidas
que devem ser seguidas, a fim de se
envolverem nessas atividades de manei-
ra moralmente adequada. Além dessas
orientações práticas, faríamos bem em
pensar claramente sobre as convicções
teológicas e bíblicas dos adventistas no
que diz respeito aos animais e ao nosso
relacionamento com eles. A igreja tem
algumas doutrinas e declarações que
podem servir para promovermos uma
reflexão mais cuidadosa sobre o nosso
papel como mordomos da criação de
Deus. É nossa responsabilidade agora
fazermos todo esforço possível para
avançar nessa direção.23
Mark F. Carr (PhD pela Universidade
da Virgínia), ex-professor de
Ética e codiretor do Centro de
Bioética Cristã da Universidade de
Loma Linda, na Califórnia, é atu-
almente diretor regional de Ética
de Providence Health e Services,
no Alaska. É pastor ordenado e
foi diretor do Ministério Jovem.
Possui vários artigos profissionais,
além dos livros: Life Philosophy and
Moral Issues, Passionate Deliberation:
Emotion, Temperance, and the Care
Ethic in Clinical Moral Deliberation,
Lovangelism: Love Makes Evangelism
Work.
E-mail: markfcarr53@gmail.com.
Este artigo foi brevemente conden-
sado de sua versão original, publicada
por Stephen Dunbar, L. James Gibson
e Humberto M. Rasi, em Entrusted:
Cristians and Environmental Care (Loma
Linda, Califórnia: Adventus – Publishers
International University, de 2013). Usado
com permissão.
REFERÊNCIAS
1. W. Russell e R. Burch, eds. The Principles of
Humane Experimental Technique (London:
Methuen Press, 1959).
2. Ver James Nickel, “Human Rights,” in
Encyclopedia of Ethics, 2a ed., eds. Lawrence
Becker and Charlotte Becker (New York:
Routledge Press, 2001), p. 796-800.
3. A Encyclopedia of Ethics (ver item 2, acima)
apresenta um artigo intitulado, não como
“Animal Rights”, mas como “Animals,
Treatment of.” Eis uma importante citação
quanto à afirmação e desenvolvimento da ideia
sobre os direitos dos animais extraída desse
artigo: “Quando Mill escreve que todos os
grandes movimentos passam por três etapas:
ridículo, discussão e aceitação, aqueles que
participam ativamente do movimento em favor
dos direitos dos animais esperam compreen-
sivelmente que ele fale de maneira profética
sobre sua causa.” (Torn Regan, “Animals,
Treatment of”, p. 73).
4. A seguir está uma breve amostragem das mais
importantes e/ou mais recentes publicações do
pensamento cristão e da teologia, referentes aos
direitos dos animais: D. Atkinson, “Rights,
Animal,” New Dictionary of Christian Ethics
and Pastoral Theology, eds. D. Atkinson and
D. Field (Downers Grove, Illinois: InterVarsity
Press, 1995), 745-747; R. Bauckham, Living
with Other Creatures: Green Exegesis and
Theology (Baylor, Texas: Baylor University
Press, 2011); R. Young, Is God a Vegetarian?
Christianity, Vegetarianism, and Animal Rights,
foreword by C. Adams (Chicago, Illinois:
Open Court, 1999); A. Linzey, Why Animal
Suffering Matters: Philosophy, Theology, and
Practical Ethics (New York: Oxford University
Press, 2009); A. Linzey, Christianity and the
Rights of Animals (Chicago, Illinois: Crossroad
Publishing Co., 1987); N. Phelps, The
Dominion of Love: Animal Rights According to
the Bible (New York: Lantern Books, 2002);
S. Webb, On God and Dogs: A Christian
Theology of Compassion for Animals, prefácio
de A. Linzey (New York: Oxford University
Press, 2002); Tony Sargent, Animal Right
and Wrongs: A Biblical Perspective (London:
Hodder & Stoughton Religious, 1996); J.
Hyland, God’s Covenant with Animals: A
(Continua na página 29.)
DIÁLOGO 26 • 3 2014
Cristianismo congênito
David Kim
Sou filho de imigrantes coreanos,
irmão mais velho, marido, pai, ex-violon-
celista profissional e executivo. Embora
cada uma dessas definições sobre minha
identidade seja importante e decisiva, o
fato mais relevante e mais marcante em
minha vida é que, pela graça de Deus,
sou sobrevivente de uma doença crônica
e mortal.
Milhões ao redor do mundo têm essa
doença. Ela se encontra nas famílias e é
passada de geração em geração. É uma
assassina silenciosa. Não existe nenhuma
cura conhecida para essa condição sem
que seja permitida uma intervenção mila-
grosa do próprio Deus.
Eu sou um sobrevivente do “cristianis-
mo congênito”.
Diagnóstico
O cristianismo congênito é uma con-
dição espiritual que, em alguns aspectos,
assemelha-se ao cristianismo verdadeiro,
mas, em sua essência, é um cristianismo
superficial – falta nele uma autêntica
relação salvífica com Cristo. Talvez você
já tenha visto anteriormente essa doença
mortal em sua igreja, em sua família ou
em sua própria vida. Permita-me compar-
DIÁLOGO 26 • 3 2014
Se a sua experiência religiosa é árida e
improdutiva; se você está se esforçando para
manter a aparência de adventista, mas não tem
o poder do adventismo em sua vida; se procura
trabalhar para o Senhor, mas ainda assim sente
um vazio internamente, como se a sua trajetória
no cristianismo e no adventismo tivesse sido
predeterminada por uma herança genealógica,
este artigo é para você – nele encontrará a cura
para o seu cristianismo congênito.
tilhar uma lista não exaustiva de sintomas
em que qualquer um deles pode ser um
marcador para essa condição:
Você evita falar a respeito de sua fé na
escola ou no trabalho porque não quer
explicar no que acredita ou porque sente
vergonha dela.
Já ouviu falar que temos crenças
bíblicas distintas com relação à morte, ao
inferno e ao santuário, mas não as conhe-
ce mais profundamente ou não sabe por
que são importantes.
Ouve as pessoas falarem a respeito do
“Espírito de Profecia”, mas tem dúvidas
sobre esse assunto (mesmo porque, na
verdade, nunca procurou ler nenhum
desses livros).
Aqueles animais descritos no estudo
sobre as profecias lhe parecem realmente
estranhos e você não tem a menor noção
do que significam.
Você acha que a megaigreja no final da
rua, ou até mesmo aquela congregação
independente do outro lado da cidade,
seriam muito mais agradáveis de frequen-
tar, mas se sente um pouco culpado por
pensar assim.
Você vai à igreja quase toda semana
porque quer que seus filhos estejam em
contato com a vida espiritual, embora
não se ache, pessoalmente, uma pessoa
fervorosa.
Esses são apenas alguns dos sintomas,
no entanto, podem dar uma ideia do que
estamos falando. Algum desses itens cita-
dos lhe soa familiar? Bem, eu tenho uma
boa notícia e uma obviamente má.
A má notícia é que, em primeiro lugar,
se o cristianismo congênito não for
tratado, leva à morte eterna em 100%
dos casos. Em segundo lugar, a doença
é transmitida, mas a cura não. Você não
pode ser salvo pela fé que seus pais têm,
nem de qualquer outra pessoa. Em tercei-
ro lugar, você deve decidir de forma posi-
tiva para ser curado. Não vai melhorar
por conta própria.
Essa é a má notícia. Gostaria saber qual
é a boa notícia? Primeiro, a boa notícia é
que o cristianismo congênito tem cura,
e eu sou uma prova viva disso. Posso
testemunhar que fui curado pelo amor
de Jesus e o poder do evangelho eterno; e
se Deus pode salvar um miserável como
eu, Ele certamente pode salvar qualquer
pessoa. Em segundo lugar, não é tarde
demais. Mesmo que você esteja sofrendo
do mal-estar morno e pútrido do cristi-
13
anismo congênito por anos e até mesmo
por décadas, Deus ainda pode alcançá-lo
de Seu trono de graça, tocar o seu cora-
ção e transformar um coração de pedra
em um coração de carne. Eu sei que Ele
pode fazer isso porque fez isso por mim.
Primeiros sintomas
Minha história começou há três gera-
ções passadas, no início de 1900, quando
meu bisavô se tornou o segundo pastor
adventista ordenado na Coreia. Seu filho,
meu avô, também se dedicou ao ministé-
rio pastoral e se tornou o primeiro coreano
nativo a servir como presidente da União-
Associação Coreana. Seu filho, meu pai,
não entrou no ministério, mas estudou em
escolas adventistas até entrar na faculdade
de medicina, onde obteve a pontuação
mais alta em todo o país nos exames
nacionais para a área médica, e sempre
guardando o sábado, mesmo em um país
onde é necessário frequentar as aulas aos
sábados.
É aí que eu entro, pois tinha apenas
quatro meses quando meus pais vieram
para os Estados Unidos com duas malas
e um bebê; assim, meu pai poderia pros-
seguir com sua residência médica em
Boston. Então, como faço parte de uma
geração e meia de imigrantes coreano-a-
mericanos, sou também da quarta gera-
ção de adventistas do sétimo dia. Embora
muitas bênçãos na igreja venham através
de sua história, essa herança espiritual
traz consigo uma predisposição para o
cristianismo congênito.
Minha mais antiga lembrança espiri-
tual remonta a quando eu tinha apenas
quatro anos. Eu descia as escadas bem
cedo no domingo de manhã e ficava
vendo televisão enquanto meus pais dor-
miam. Não demorou muito para eu per-
ceber que quase todos os canais transmi-
tiam apenas programas religiosos, e isso
me deixou totalmente perplexo. Mesmo
nessa tenra idade, eu sabia que o sétimo
dia era o sábado.
Isso continuou por algum tempo até
que finalmente decidi perguntar à minha
mãe o que estava acontecendo. Lembro-
me perfeitamente de que fui até a cozi-
nha onde ela estava trabalhando e lhe
14
perguntei: “Por que todas essas pessoas
estão indo à igreja no domingo? Elas não
sabem que o sétimo dia é o sábado?”
Bem, antes de dizer o que aconteceu a
seguir, devo confessar que minha mãe é
uma mulher fervorosa. Ela é uma guer-
reira da oração, é obreira bíblica e uma
plantadora de igrejas na comunidade de
imigrantes coreanos. Agradeço ao Senhor
por sua fidelidade, mas, naquela época,
ela não tinha muito conhecimento espi-
ritual.
Depois que perguntei a ela por que
aquelas pessoas estavam indo à igreja
no domingo, ela respondeu algo que na
verdade queria dizer: “Eu não sei…”, e
não disse mais nada. Saí dali totalmente
confuso e com um “nó” na cabeça.
Um dos principais fatores de risco para
o cristianismo congênito é a confusão.
Desde os primeiros anos, eu vivia confuso
e não recebia instruções claras em casa.
É por isso que o Senhor nos aconselha:
“Que todas estas palavras que hoje lhe
ordeno estejam em seu coração. Ensine-as
com persistência a seus filhos. Converse
sobre elas quando estiver sentado em
casa, quando estiver andando pelo cami-
nho, quando se deitar e quando se levan-
tar” (Deuteronômio 6: 6, 7).1
Essa é uma instrução bíblica para todos
os tempos! Se deixar seus filhos confusos,
aumentará o risco de adquirirem o cristi-
anismo congênito. Você pode achar que
eles são ainda muito novos para entender
ou se importar com essa questão, mas
eles estão prestando mais atenção do que
pode imaginar, e você tem a oportuni-
dade de dar a eles uma forte vacina de
conhecimentos bíblicos apropriada para
a idade que têm, ou deixá-los perigosa-
mente vulneráveis nas areias movediças
da confusão.
O quadro se agrava
Os anos seguintes da minha infância e
adolescência podem ser vistos como um
caso clássico de cristianismo congênito
progressivo. Na sexta série, fui tirado da
escola adventista por duas razões: primeiro
foram as excessivas demonstrações de afeto
dos alunos do ensino médio no colégio
ao lado; estavam no ponto em que meus
pais já não se sentiam confortáveis com os
filhos na quarta e sexta séries frequentando
a escola. A segunda razão foi que o ensino
acadêmico não era tão desafiador quanto
eu precisava. Eu estava ficando entediado
na sala de aula.
Assim, a partir da sexta série até o
ensino médio, passei a frequentar escolas
públicas, o que foi ótimo academicamen-
te, porém, minha fé era continuamente
assaltada por todos os lados. O ataque
veio de maneira mais especifica através do
currículo, das atividades extracurriculares
e pela pressão dos colegas.
Em primeiro lugar, foi o currículo.
Era 100% secular e humanista. Da
biologia à literatura inglesa, fui exposto
a toda forma de cosmovisão em que o
humanismo era exaltado e Deus, desen-
tronizado.
Agora, não me interpretem mal. Para
testemunhar ao mundo ao nosso redor,
precisamos falar a mesma língua e enten-
der a cultura local. No entanto, uma
exposição prolongada a essas cosmovisões
pode ser perigosa, caso não estejamos
bem fundamentados na realidade da
existência de Deus e na verdade apresen-
tada em Sua Palavra. Pela contemplação,
somos transformados, e se tudo o que
você vê é Darwin, Kant, Rousseau e
Richard Dawkins, sem se deter para
contemplar Moisés, Daniel, Paulo, João
e Jesus, vai se transformando de acordo
com esses modelos! No mínimo, está se
preparando para entrar em confusão e,
mais provavelmente, acabará em apostasia
total, até mesmo no ateísmo.
Esse era o currículo escolar, mas, além
do currículo, eu tinha as atividades extra-
curriculares. Quer fossem esportes, artes
ou trabalhos acadêmicos, tudo parecia
entrar em conflito com o sábado. Lutei
muito contra esses conflitos porque meu
coração não convertido tinha muito a
realizar no âmbito secular e eu acreditava
que meu sucesso dependia do reconheci-
mento do mundo.
No meu caso, eu estava obtendo
sucesso como violoncelista. Era um dos
melhores do estado da Califórnia e esta-
va pensando em seguir carreira com o
violoncelo. Uma parte fundamental para
DIÁLOGO 26 • 3 2014
se estabelecer um histórico na música é
o circuito de competição, mas, vez após
vez, tive que recusar minha participação
por causa do sábado. Era uma luta angus-
tiante em minha mente de adolescente, e
essa luta foi agravada pelo fato de alguns
colegas adventistas não verem a questão
como algo de grande importância.
A terceira força a ameaçar a minha
fé durante meus anos de formação foi a
pressão dos colegas. Ao iniciar a sexta série,
por meio deles, estive em contato com
várias formas de obscenidades e maldades
que, infelizmente, considerávamos parte
normal do crescimento. No ônibus esco-
lar, nas festas do pijama, em excursões da
escola, no refeitório, através dos meios de
comunicação populares e por vários outros
meios, Satanás estava lá para me ensinar
como as coisas são prazerosas, desejáveis e
necessárias para manter a posição social,
para a realização emocional, satisfação pes-
soal e, finalmente, a felicidade.
Claro, há exceções. Mas, para cada
pessoa que consegue lidar com a pressão
dos colegas e sai ilesa, um número incal-
culável delas vê, ouve, toca, prova, cheira,
lida com imagens, com a mídia e as dro-
gas, passando por inúmeras experiências
que deixam profundas cicatrizes mentais,
emocionais, e até mesmo físicas, que irão
persegui-la para o resto da vida.
Pode ser que alguns de vocês que estão
lendo este artigo saibam exatamente do
que estou falando. Na verdade, Satanás
pode se infiltrar em seu pensamento e
empurrá-lo para um ponto em que deseje
que Deus nem mesmo exista! Pois, se Ele
existe e é tão santo e perfeito, como está
escrito na Bíblia, você certamente está
destinado à perdição eterna.
Foi com essa mentalidade que eu segui
claudicante em meu caminho até o ensi-
no médio. Toda essa mágoa, vergonha
e emoções conflitantes estavam escon-
didas por trás de uma fachada de notas
perfeitas, elogios relacionados à música
e à admissão em escolas mundialmente
reconhecidas, como a Universidade de
Stanford e a Escola de Música Eastman.
Eu estava seguindo o mundo e vivendo
extremamente bem, de acordo com seus
padrões, mas, ao mesmo tempo, vivia de
DIÁLOGO 26 • 3 2014
maneira incoerente em relação a Deus,
ressentido com Sua Igreja e espiritual-
mente sem base para me apoiar – à deriva
em um mar de mundanidade e secula-
rismo.
A condição se torna alarmante
Contra esse pano de fundo, fui para
Eastman e, como qualquer calouro, esta-
va procurando o sentido de pertencer e de
afiliação. Um dos lugares em que procu-
rei alimentar minha fé foi na comunidade
religiosa local, a InterVarsity Christian
Fellowship. Claro, não havia um grupo
adventista em nenhum lugar do campus,
mas isso não importava para mim, por-
que, a não ser pela guarda do sábado, não
via diferença alguma.
Nunca vou me esquecer do primei-
ro estudo bíblico de que participei na
InterVarsity. Havia cerca de dez pessoas,
e foi dirigido por um senhor idoso por
nome Drew. Ele tocava trompa francesa.
Cada um de nós nos apresentamos ao
grupo dando o nome, de onde viemos,
o que estávamos estudando e o conheci-
mento espiritual que tínhamos.
Quando chegou a minha vez, este foi o
diálogo que se seguiu:
Eu: Oi, meu nome é David Kim. Sou
de San Luis Obispo, na Califórnia. Estou
aqui estudando violoncelo e sou adventis-
ta do sétimo dia.
Drew: Adventista do Sétimo Dia, hã?
Por que você é adventista?
Eu: Bem, minha família é adventista
e eu cresci como adventista. Mas, além
disso, acho que a Bíblia é muito clara
sobre o sétimo dia ser o sábado.
Drew: Hummm... Bem, e o que você
me diz sobre Colossenses 2:16?
Eu: O que diz Colossenses 2:16?
Drew: Vamos procurar e ler o verso
juntos.
Eu: O.K. “Portanto, não permitam que
ninguém os julgue pelo que vocês comem
ou bebem, ou com relação a alguma fes-
tividade religiosa ou à celebração das luas
novas ou dos dias de sábado… ,”
Drew: Certo. Então, por estarem tão
concentrados em guardar o sábado, vocês
estão sendo apenas legalistas. Jesus nos
libertou da lei.
Jamais vou esquecer aquele momento.
Eu me senti envergonhado ao ler essas
palavras. Nunca tinha visto aquele verso
em minha vida e não tinha a mínima
ideia do que dizer. Você poderia pensar
que alguém que cresceu na igreja devia
saber a diferença entre os sábados cerimo-
niais e o sábado do quarto mandamento.
Mas eu não aprendi nada a respeito disso
antes, e naquele momento me senti con-
fuso, traído e humilhado.
Nunca mais voltei àquele estudo bíbli-
co. Parei de ir à igreja. Meu cristianismo
congênito havia se metastasiado. Embora
nunca tenha abandonado a crença na exis-
tência de Deus, não tinha ideia de quem
Ele era, no que devia acreditar, ou qual era
a igreja certa. Eu estava espiritualmente
desorientado e fora da igreja completa-
mente.
Os catorze anos seguintes foram uma
confusão. A minha busca pelo sucesso
no mundo era intensa, e eu estava con-
seguindo. Durante esse período, obtive
o bacharelado e o mestrado em violon-
celo, com honras e bolsas de estudo nas
melhores escolas de música. Pude me
apresentar em alguns dos mais prestigia-
dos espaços musicais ao redor do mundo,
com maestros e orquestras famosos.
Obtive mestrado em um dos principais
programas e trabalhei em várias das mais
prestigiadas empresas. Casei-me com
minha linda esposa e tive dois filhos pre-
ciosos. Sentia como se tivesse alcançado
o sonho americano. Minha casa não era
rodeada por uma cerca branquinha, mas
tinha piscina com aquecimento solar.
Com o passar dos anos, no entanto, o
Senhor me atraiu de volta para a igreja.
Ali, conheci e me casei com minha espo-
sa quando ambos vivíamos em Chicago.
Eu era ancião quando nos mudamos para
a Califórnia, mas meu coração ainda não
era convertido. Continuava tão confuso
como sempre sobre a nossa mensagem.
Minha teologia e estilo de vida ainda
estavam muito confusos.
Ah, sim, “o exterior do copo” estava
limpo, mas, por dentro, “cheio de ganân-
cia e cobiça”. Eu era como um “sepulcro
caiado, que parece bonito por fora”, mas
por dentro estava “cheio de ossos e de
15
todo tipo de imundície”. Por fora eu era
como os que “parecem justos ao povo”,
mas por dentro “estão cheios de hipocrisia
e de maldade” (Mateus 23: 25-28).
Esse período da minha vida foi mar-
cado por uma intensa ambivalência com
relação a Deus, ao adventismo e ao cris-
tianismo. Tudo quanto eu poderia dizer
era que os adventistas do sétimo dia eram
os evangélicos que iam à igreja no sába-
do. Eu tinha aceitado o sábado, desejava
guardar o quarto mandamento, mas esta-
va dando a ele uma mentalidade legalista.
Além de tudo isso, eu tinha sido diag-
nosticado com um problema degenera-
tivo ósseo em ambos os quadris e tinha
passado por múltiplas cirurgias, mas sem
sucesso. Durante dez anos, andei com a
ajuda de muletas, bengalas, e com muita
dor. (Hoje não tenho mais esse proble-
ma. Louvado seja o Senhor!) Mas, na
época, tudo o que eu sabia dizer era que
Deus estava me deixando sofrer sozinho
naquela condição e que eu estava irado
com Ele.
Então eu me concentrei na busca do
sucesso material, embora o chamasse
de “preocupação com a família” porque
soava melhor. Não fazia minhas devo-
ções pessoais. Não estudava a Bíblia.
Realizávamos o culto familiar ocasio-
nalmente, mas isso só acontecia quando
chegava cedo em casa e as crianças ainda
estavam acordadas, o que era raro. Eu era
orgulhoso, ganancioso e ambicioso com
relação às coisas materiais. Deus e a igreja
eram algo que eu achava importante
cultivar em meus filhos, – apenas para o
caso de ser tudo verdade – mas eu mesmo
estava zangado com Deus e dominado
pelas coisas do mundo.
O caminho para a recuperação
No entanto, Deus ainda estava tentan-
do me alcançar. Em alguns momentos,
na igreja, quando ouvia uma música, um
testemunho ou um sermão, meu coração
era tocado, e meus olhos se enchiam de
lágrimas. Mas eu os secava o mais dis-
creta e rapidamente possível, esperando
que ninguém percebesse o que tinha
acontecido.
Nesses momentos, eu sabia que o
16
Espírito Santo estava tentando me alcan-
çar, mas me recusava a ceder aos Seus
apelos. Ainda era muito orgulhoso, estava
bastante irritado, consumido pelo mundo
e não conhecia a Deus, muito menos
confiava nEle. Não entendia a Bíblia nem
a mensagem nela apresentada. Não fazi-
am qualquer sentido para mim. Eu era
congenitamente cristão, mas meu coração
não era convertido.
Foi nesse contexto espiritual que, sen-
tado em uma reunião do conselho da
igreja, no início de 2008, discutíamos a
possibilidade de realizar o nosso primei-
ro seminário profético depois de mais
de uma década. O pastor enfatizava a
necessidade de cada membro participar e
apoiar as reuniões.
Lembro-me de pensar que ir à igreja
cinco noites por semana, durante cinco
semanas, para ouvir a pregação seria
uma tortura. Talvez nos finais de sema-
na, mas eu estava simplesmente muito
ocupado no trabalho para ir à igreja nos
outros dias. Quem tinha tempo para
isso? Ficaria feliz em preencher um che-
que para apoiar o esforço, mas não iria
participar de maneira alguma daquele
seminário.
Mal sabia eu que Deus tinha outros
planos para mim. Chegou novembro e,
em vez de estar ocupado com o trabalho,
recebi o comunicado de que deveria pro-
curar um novo emprego. Foi um choque
total, mas eu, assim como muitos outros,
fomos pegos pelos efeitos da crise finan-
ceira global. A boa notícia era que eu
tinha então bastante tempo para assistir
às reuniões.
Agradeço a Deus por aquela oportu-
nidade de ouvir toda a mensagem do
evangelho de forma sistemática. Como
o evangelista desdobrou a mensagem
passo a passo, noite após noite, eu vi, pela
primeira vez, que havia lógica, coerência
e confiabilidade na Bíblia e na mensagem
do evangelho. Pela primeira vez tam-
bém, pude abandonar todos os clichês
e pressupostos vinculados à nossa fé e
entendi que a Bíblia é verdadeiramente
confiável. Comecei a entender por que o
todo-poderoso e amoroso Deus permite
o sofrimento e o mal por algum tempo.
Comecei a compreender a “física” da sal-
vação: por que Jesus teve que morrer e o
que isso tem a ver comigo. Entendi como
Deus nos mostrou, por meio de Sua pala-
vra profética, tudo o que precisamos saber
para chegar com segurança até a Segunda
Vinda de Cristo e ir mais além ainda,
se tão somente a lermos. Eu vi que todo
“fazer” ou “não fazer”, comumente asso-
ciados às ordens de Deus, à Sua lei, e até
mesmo as orientações dadas na mensa-
gem de saúde, Ele pede que obedeçamos
não porque é exigente ou arbitrário, mas
porque está nos preparando para uma
realidade futura, quando vamos viver
diretamente em Sua presença por toda
a eternidade, e isso é o que nós mesmos
escolheríamos, se pudéssemos ver tudo
como Ele vê.
Pela primeira vez, Deus foi real para
mim, porque, pela primeira vez Ele fez
sentido em minha vida, perfeitamente.
Nunca vou esquecer como me senti,
sentado ali, ao lado do corredor, olhando
para o PowerPoint e percebendo como
a profecia das 70 semanas, de Daniel 9,
previa exatamente o início do ministério
de Cristo no “15º ano de Tibério César”.
De imediato, dois pensamentos vieram
à minha mente. O primeiro foi: “Uau!
Isso é incrível! É realmente verdade!” E o
segundo veio como uma advertência: “É
melhor eu fazer algo sobre isso!”
Minha vida nunca mais foi a mesma.
O Senhor me colocou no caminho da
recuperação, e eu não olhei para trás!
Vida restaurada
No mês seguinte, foi realizada a GYC2,
em San Jose, na Califórnia, e aproveitei
a oportunidade para ser guia de ônibus
local onde o evangelismo era realizado.
Foi um pequeno passo, mas um grande
negócio para mim, pois nunca tinha
participado de qualquer evangelismo em
toda a minha vida. Pensei que consegui-
ria lidar com isso, desde que não tivesse
que descer do ônibus e bater em alguma
porta.
Sobrevivi intacto a essa experiência.
Então, comecei a procurar outras opor-
tunidades para testemunhar e fazer
treinamento. Participei de um seminá-
DIÁLOGO 26 • 3 2014
rio, o “AFCOE to Go”, onde aprendi
a dar estudos bíblicos pessoalmente.
Acompanhei os obreiros bíblicos da
minha igreja para darem seguimento ao
estudo da Bíblia dirigido pela GYC.
Sobre a procura de trabalho, Deus foi
fiel. Em meio à pior crise no mercado
de trabalho em uma geração, Ele me
proporcionou não somente uma, mas seis
excelentes oportunidades, uma das quais
me levou para a região de Filadélfia, onde
moro hoje.
Iniciar em um novo emprego, em um
novo lugar, há pouco mais de quatro
anos, é quase como se Deus tivesse me
dado a oportunidade de recomeçar a
vida com uma folha limpa. Propus em
meu coração ser fiel a Deus em todos os
aspectos da minha vida e exercer minha
fé de maneira genuína em tudo o que
faço, todos os dias.
Isso tem feito toda a diferença. Permita-
me descrever algumas das diferenças
que já percebi em minha vida, não para
exaltar a mim mesmo, mas para lhe dar
exemplos concretos do que pode se tornar
alguém que tem sua vida transformada.
Tenho uma vida devocional regular, com
uma profundidade e consistência que
nunca tive antes. Estou orando, em parti-
cular, mais do que nunca. Quando sofria
de cristianismo congênito, costumava
lutar para orar não mais do que alguns
minutos de cada vez. Como a minha
caminhada com o Senhor se aprofundou,
Ele me fez aumentar o tempo de oração
para cerca de 30 minutos ou mais a cada
manhã, e oro sem cessar durante todo o
dia, nas reuniões e com pessoas que cru-
zam minha vida a todo momento.
O Senhor está me ensinando a louvá-
Lo como fez Davi nos salmos. Ele está
me ensinando a orar por outras pessoas.
Também me dá coragem para conversar
sobre temas espirituais com todos ao meu
redor. Ele me ensinou como fazer a abor-
dagem nessas conversas de uma forma
bastante natural, a identificar interesses
e sementes da mensagem a serem plan-
tadas. Normalmente, tenho conseguido
uma dúzia ou mais de boas conversas
espirituais com pessoas da minha esfera
de influência, a cada semana.
DIÁLOGO 26 • 3 2014
Algumas dessas conversas espirituais
transformaram-se em estudos bíblicos
pessoais. Ao longo dos últimos anos,
o Senhor me deu a oportunidade de
estudar com pessoas de vários contextos
espirituais e educacionais, como os ateus,
agnósticos, budistas, evangélicos, douto-
res, mestres, advogados e outros.
O Senhor também mudou a minha
vida familiar. Eu costumava sair correndo
logo pela manhã, antes de as crianças
acordarem e tropeçar pela porta à noite
quando elas já estavam dormindo. Hoje,
nós nos reunimos para a oração em famí-
lia todas as manhãs e para o culto à noite.
Deus é tão misericordioso e bom! Sou
muito grato a Ele por ter tomado o meu
coração enquanto meus filhos eram bem
novos ainda. Por Sua graça, meu cristia-
nismo congênito vai parar em mim, não
será transmitido.
De maneira nenhuma posso dizer que
sou perfeito, mas sou muito diferente do
que era antes. Pela graça de Deus, vou ser
ainda mais semelhante a Jesus dia a dia,
de fé em fé, de glória em glória!
O Senhor está usando até mesmo os
meus talentos musicais de maneira com-
pletamente nova. No meu cristianismo
congênito, a música era um meio que eu
usava para me exaltar, para alimentar o
meu ego. E isso me fazia sentir aborrecido
no sábado. Considerava um fardo ter que
tocar uma música especial na igreja e me
sentia desprestigiado. Quando atendia a
um pedido, eu tocava uma peça musical
clássica para demonstrar melhor toda a
minha habilidade.
Nos últimos anos, porém, o Senhor
tem me ensinado a tocar para a Sua
glória, e não para a minha exaltação. A
culminação desse processo tem sido o
meu envolvimento em um projeto de
gravação maravilhoso, denominado The
Lamb Wins [A Vitória do Cordeiro]. É
uma jornada musical épica através do
livro de Apocalipse. As músicas levam o
ouvinte, capítulo por capítulo, versículo
por versículo, a repassar todo o livro. É
textualmente rico, teologicamente pode-
roso, culturalmente relevante e eminen-
temente digno de ser ouvido.3 The Lamb
Wins é o esforço musical mais gratificante
de que já participei, porque Deus redimiu
também os meus talentos musicais, tiran-
do-os da minha autoexaltação carnal para
a Sua glorificação.
Agora sou apenas um membro leigo
que cresceu na igreja. Minha história
talvez não seja tão incomum, mas é com
ousadia que lhe faço estas perguntas:
Você está sofrendo do mal do cristianis-
mo congênito? É a sua experiência reli-
giosa árida e estéril? Você está mantendo
as aparências, ocupado no serviço do
Senhor, mas ao mesmo tempo se sente
vazio internamente? Está passando pela
experiência do “filho mais velho”, descrita
por Jesus na parábola do filho pródigo?
Você sente como se a sua jornada no cris-
tianismo e no adventismo fosse pré-deter-
minada por uma herança genealógica
que lhe foi passada por seus pais e avós?
Ou talvez tenha abraçado a fé mais tarde,
mas perdeu o seu primeiro amor?
Tenho boas notícias para você! Essa é
a sua oportunidade – na verdade, uma
obrigação – de fazer sua própria decisão
por Jesus, de fazer sua própria decisão
por um reavivamento pessoal. A esco-
lha é sua! A cura está totalmente à sua
disposição. Jesus quer destruir o cristia-
nismo congênito que corre em suas veias
e substituí-lo por Seu sangue remidor.
David Kim (Mestre em Música pela
Northwestern University e MBA,
pela Stanford University) é execu-
tivo empresarial do Vanguard Group.
E-mail: kim.david@yahoo.com. 
REFERÊNCIAS
1. As referências bíblicas foram extraídas da Nova
Versão Internacional.
2. GYC –Generation of Youth for Christ [Geração
de Jovens para Cristo].
3. Se quiser saber mais sobre esse projeto, acesse:
www.thelambwins.com.
17
PERFIL
Nathalie Walther
Diálogo com uma enfermeira suíça
Entrevista feita por Lorena Mayer

Escolher uma carreira pode se tornar,

por vezes, uma busca desanimadora.
Não foi assim com Nathalie Walther.
Sua vocação estava clara desde os
primeiros anos de idade, o que é
possível acontecer também com outros
enfermeiros. Seu desejo de ajudar e
conscientizar as pessoas a respeito do
grande legado que lhes foi confiado pelo
Criador foi o que guiou – e continua
guiando – suas escolhas e suas ativida-
des. Ela vive uma vida com propósito,
em um tempo em que o propósito na
vida pode ser um raro produto de con-
sumo.
Walther mantém uma forte fé em
seu Deus e Criador. Ela procura par-
tilhar a esperança com os pacientes,
com a família de cada um deles e com
seus colegas. Procura também inspirar
o amor ao serviço em seus filhos e em
outros jovens de sua igreja.
Walther nasceu em Friburgo, na
Suíça, e cresceu apreciando a bela
paisagem de sua terra natal. Embora
tenha verdadeiro prazer por viver ao
ar livre, escolheu se tornar enfermeira
e trabalhar dentro de quatro paredes,
deixando de lado a beleza de sua terra
distante dos olhos para se concentrar
no alívio do sofrimento e da dor nos
hospitais. Formou-se na Faculdade
de Enfermagem de Genebra e, algum
tempo depois, obteve sua certifica-
ção em cuidados paliativos. Trabalhou
no famoso Hospital Universitário
de Genebra e no Fribourg Cantonal
Hospital. Atualmente, trabalha meio
período em um hospital particular.
Nathalie é casada com Nicolas
Walther, que desde 2009 é o diretor
geral da Clínica La Lignière, um hospital
adventista de renome em Gland, na
Suíça. O casal tem dois filhos: Emma, de
12 anos, e Arnaud, de 13. São membros
ativos na igreja adventista local, onde
ela se dedica às atividades da Escola
Sabatina dos jovens e participa de proje-
tos sociais adventistas e de saúde.
n O que a motivou a ser enfermeira?
Tanto quanto eu me lembro, sempre
quis ser enfermeira. Três pessoas na
minha vida tiveram forte influência
sobre essa decisão: minha mãe, minha
avó e um menino por nome Philippe.
Durante toda a sua vida, minha mãe
manteve um forte sentimento com rela-

18 DIÁLOGO 26 • 3 2014
ção ao bem-estar social; estava sempre
disposta a ajudar os outros. Minha avó
também. Ela possuía, perto de nossa
casa, um lar para idosos, e eu gostava de
passar longas horas jogando com as pes-
soas de lá. Para mim, era muito natural
cuidar deles, e eu achava divertido eles
cuidarem de mim.
n E esse menino chamado Philippe?
Quando eu estava com um ano de
idade, meus pais trouxeram o Philippe
para casa. Ele tinha quatro anos e era
portador de problemas mentais graves.
Era um garoto que precisava de ajuda e
de uma família, pois a mãe dele também
era deficiente e não podia cuidar do
filho. Ele foi uma combinação perfeita
para o imenso amor de minha mãe.
Assim, eu cresci com o Philippe, sempre
o ajudando e me divertindo com ele.
Minhas experiências em casa desperta-
ram esse sonho de me tornar missionária
e ir para a África, a fim de ajudar a
imensa quantidade de crianças pequenas
com barrigas enormes, que sofrem de
desnutrição.
n O seu sonho se tornou realidade?
Não, na verdade, não. Acabei ficando
na Suíça. Nós cuidamos de Philippe por
muitos anos. Ele precisava de nós em
todos os sentidos: tinha crises de epi-
lepsia, precisou aprender as rotinas mais
básicas da vida e seu comportamento
social era por vezes inesperado. Foi um
trabalho de tempo integral para toda a
família, e todos nós contribuíamos para
que isso se tornasse viável.
n Você ensinou e se doou muito ao
Philippe. Aprendeu alguma coisa com ele?
Sem dúvida. Aprendemos a não ter
vergonha de estar com aqueles que são
diferentes. Lembro-me de que, quando
éramos adolescentes, costumávamos
ir à cidade com um dos meus irmãos.
Como o Fhilippe não se comportava
normalmente e dizia todo tipo de coisas
estranhas, tivemos que nos acostumar a
agir como adultos que cuidam de uma
criança com problemas. Confesso que
isso nem sempre foi fácil, mas, no final,
DIÁLOGO 26 • 3 2014
realmente não nos preocupávamos com
o que as pessoas diziam.
n Ele ainda faz parte da sua família?
Em certo sentido, sim. Ele morou
com meus pais cerca de 30 anos, até
que não foi mais possível cuidarem dele.
Agora ele está em um lar para defici-
entes, mas ainda estamos em contato,
todos nós: meus pais, meus irmãos e eu,
e nossas próprias famílias também. Mas
sempre que ele dificulta as coisas para
seus cuidadores, um telefonema para a
minha mãe faz maravilhas. Isso o acal-
ma e ele fica “normal” novamente. Isto
é, até a próxima crise.
n Houve alguém, depois, em sua vida, que
lhe serviu de modelo na área da cura e da
saúde?
Penso que não. Mas me lembro de
um grupo de enfermeiros que conheci
bem de perto. Tive um problema de
saúde aos dez anos, e durante dois anos
eles iam a minha casa para me aplicar
injeções. Depois que eles saíam, eu ia até
o lixo e tirava as agulhas e seringas que
eles tinham usado, pegava meus ursi-
nhos de pelúcia e brincava de dar injeção
neles. Eu gostava muito de brincar de
enfermeira com eles.
n A sua vocação parece ir além da área
médica. Como você vive hoje, agora que é
casada, tem dois filhos adolescentes e tra-
balha como enfermeira?
Com a ajuda do meu marido, tento
inspirar em nossos filhos o amor e o
serviço aos outros. Tenho dito a eles,
desde pequenos, que não estamos aqui
para viver apenas para nós mesmos.
Recebemos muito, temos que dar muito.
Na verdade, procuro transmitir a eles o
que minha mãe me ensinou. Ela costu-
mava me dizer que tínhamos boa saúde,
uma boa família, uma casa e muitas
outras bênçãos. Então, se quiséssemos
ser coerentes com nossa fé cristã e em
nosso relacionamento com Deus, tínha-
mos a responsabilidade de compartilhar.
Por exemplo, desde que eles eram peque-
nos, já costumávamos preparar caixas de
presentes de Natal para a ADRA, pois
vários funcionários vão a outros países
para visitar orfanatos. Eu lhes dizia que
não iria comprar brinquedos para colo-
carem nas caixas; eles mesmos tinham
que escolher um brinquedo de que gos-
tavam para doá-lo. Assim eles faziam. E
eu acho que aprenderam a ser sensíveis
às necessidades dos outros. Percebi que
isso poderia ser aprendido. Se você não
se sente inclinado a ajudar outros, pode
aprender. Não é preciso fazer algo gran-
de. É necessário apenas estar disponível
e disposto a fazer o que está ao seu
alcance.
n Um dia você se tornou uma profissional
nessa área e começou a trabalhar como
enfermeira. Onde foi que você começou?
Fiquei extremamente feliz ao ter-
minar meus estudos para, finalmente,
começar a trabalhar como enfermeira.
Meu primeiro trabalho foi no Hospital
Universitário de Genebra. Tal era a
minha paixão pela enfermagem que,
sempre que estava de férias, sentia sau-
dades e queria voltar para o hospital.
Tenho boas recordações desses anos
em Genebra. Mas, depois, nos muda-
mos para Friburgo e me ofereceram
um emprego no Fribourg Cantonal
Hospital, em uma unidade especializada
no tratamento de ouvido, nariz e gar-
ganta. Lá eu tive que aprender algumas
coisas a respeito da vida e da morte.
n O que aconteceu?
Tive que enfrentar pacientes com
câncer e tratamentos que, a meu ver,
naquele momento, deixava-os incapazes
de fazerem algumas coisas básicas, como
comer ou respirar normalmente. Na
verdade, não conseguia entender por-
que tantos procedimentos tinham que
ser feitos em pacientes que estavam tão
fracos e doentes. Eu ficava até mesmo
com raiva dos médicos e dos outros
enfermeiros. Pensava que seria melhor
poupar o paciente dos tratamentos “des-
trutivos” e deixá-lo viver o final de sua
vida com mais dignidade. Mas, então,
aprendi a respeito dos cuidados paliati-
vos e percebi que quando a pessoa está
lutando contra uma doença mortal, há
19
um instinto dentro dela que a estimula
a querer fazer todo o possível para adiar
a morte. Ela quer tentar todos os tra-
tamentos possíveis, custe o que custar.
Aprendi que a pessoa saudável e o doen-
te terminal têm prioridades muito dife-
rentes. E eu precisava respeitar isso.

n Podemos ver que a formação em cuida-

dos paliativos trouxe uma nova perspectiva
para sua vida. Você se lembra de algum
caso em particular que marcou o seu tra-
balho diário?
Após a cirurgia, costumávamos
acompanhar os pacientes de volta para o
quarto e tínhamos o cuidado de passar
toda a manhã com eles para verificar
se tudo estava bem tecnicamente, mas
também para levar a eles o conforto
pessoal. Lembro-me de um senhor que
estava entubado e me olhava com pro-
funda angústia. Estava muito assustado.
Segurei a mão dele, sorri e conversei
com ele tentando acalmá-lo. De repente,
numa reação totalmente involuntária,
esse paciente tossiu, e uma grande quan-
tidade de muco saiu do tubo, caindo
direto na manga do meu jaleco. Ele
sabia que não podia fazer nada, mas
eu podia ver o sentimento de culpa em
seu semblante. Logo depois, olhou para
mim como se estivesse dizendo: “Olha o n Trabalhar com pessoas com câncer e apenas o que têm que fazer e não dão
que foi que eu fiz! Sinto muito.” O que presenciar a morte quase todos os dias pode nada de si mesmos.
eu deveria fazer? A cena não era nada ser extremamente desgastante para a equipe
agradável, mas consegui me controlar e médica envolvida. Como você lida com n Como a sua fé em Deus a ajuda a lidar
não reagi limpando a secreção imediata- isso? com isso?
mente. Apenas sorri e continuei ao lado De fato. Se você não tem algum tipo Sem Deus, a vida em qualquer
dele. Pude então perceber o quanto ele de apoio, simplesmente não pode fazer dimensão se torna vazia. Muitas orações
ficou aliviado. isso. Para mim, o apoio e incentivos diá- são elevadas a cada dia enquanto trato
rios de meu marido têm sido fundamen- dos pacientes. Lembro-me de uma vez
n E sobre as famílias de pacientes termi- tais. Ele ouve as minhas histórias cada em que estava atendendo um senhor
nais? dia e cuida das crianças o máximo que de 40 anos com tumor maligno. Nós
Quando há um membro da família pode. Mesmo trabalhando em tempo sabíamos que ele ia morrer em breve,
com doença terminal, a dinâmica de integral, nunca me passou a impressão mas ninguém ousou falar com ele sobre
toda família é modificada. Tenho inú- de que o incomodo. Meus filhos já estão isso. Um dia, ele me olhou nos olhos e
meras oportunidades de falar com os crescidos e fazem de tudo nesse sentido perguntou claramente: “Eu vou morrer,
familiares. Fica um tanto difícil me lem- para que eu me sinta amada e apoiada. não é verdade?” Fiquei surpresa. O que
brar especificamente de alguma conversa Alguns de meus colegas não têm qual- poderia lhe dizer que fizesse sentido
que tive. Mas, mais uma vez, a formação quer apoio em casa, ou moram sozinhos. naquela hora? Então orei: “Deus, conce-
em cuidados paliativos me ajudou a ver Com isso, não conseguiram permanecer da-me as palavras certas, por favor!” De
as coisas de outro ponto de vista e ser por muito tempo em unidades oncoló- alguma forma, tive a ideia de retornar a
mais útil para eles. gicas ou de cuidados paliativos, e outros pergunta para ele. “O que você acha?”
procuram se proteger a ponto de fazerem Ele mesmo deu a resposta: “Sim, eu sei

20 DIÁLOGO 26 • 3 2014
que vou morrer.” Isso me deu a opor-
tunidade de ter uma conversa muito
profunda com ele a respeito da vida, da
morte e da esperança que temos.
n Você conversa com os pacientes, com as
famílias e, certamente, com seus colegas
também para ajudá-los a lidar com o pro-
blema. Fale-nos sobre isso.
Diariamente, vejo colegas que preci-
sam ser animados. Quando estava traba-
lhando no Hospital da Universidade de
Genebra, havia uma enfermeira bastante
jovem, que praticava esportes. Ela cui-
dava de um adolescente de 17 anos com
tumor no joelho. Na verdade, ela se via
naquele rapaz e não conseguia supor-
tar aquela montanha-russa emocional.
Então, nós conversávamos muito com
ela e tentávamos encontrar maneiras de
fazê-la superar a sua dificuldade. No
ministério da enfermagem, compartilhar
e apoiar-se mutuamente como profissio-
nais da saúde torna-se uma grande fonte
de força e ajuda.
n Atualmente, você está trabalhando
numa clínica particular, por meio período.
Você sente falta de trabalhar como enfer-
meira em tempo integral?
Às vezes sinto falta. Mas é importan-
te para mim concentrar-me em nossas
necessidades como família. Acho que é
um verdadeiro privilégio poder traba-
lhar meio período, não muito longe de
casa, continuar mantendo o ritmo em
minha profissão e, ao mesmo tempo,
estar disponível para a família. Aprecio
a oportunidade que tenho de preparar
refeições saudáveis para eles, fazer as
coisas juntos e estar lá para me dedicar
aos meus filhos que ainda precisam de
mim.
n Você continua envolvida em outras
atividades relacionadas à saúde, agora que
tem mais tempo disponível?
Tenho paixão por estimular e promo-
ver os cuidados com a saúde. Grandes
oportunidades me foram dadas para
contribuir com as atividades de pro-
moção da saúde organizadas pela Igreja
Adventista. Em 2013, participei de uma
DIÁLOGO 26 • 3 2014
exposição de saúde na sede das Nações
Unidas, em Genebra. Cerca de 600
pessoas que trabalham no Palais des
Nations vieram até nós e fizeram exa-
mes físicos e psicológicos. De início, nos
olhavam com um certo ceticismo, mas,
depois que fizeram seus exames e obti-
veram os resultados, diziam aos amigos
para virem fazer também. Foi um prazer
torná-los, quem sabe, um pouco mais
conscientes sobre o que poderiam fazer
para melhorar sua saúde.
n Como uma exposição de saúde pode
impactar de maneira concreta a vida dos
participantes?
Algo que as pessoas percebem ser
muito útil e interessante é que, no final
dos exames médicos, é dada a elas a
idade biológica que possuem. Essa idade
pode ser bem diferente da idade cronoló-
gica, dependendo dos hábitos de dormir,
de comer e de exercícios. Não cultivar
os hábitos corretos vai resultar numa
idade biológica mais elevada, e vice-
versa. Essa percepção as torna cientes
de certas mudanças que precisam fazer
em seu estilo de vida. De certa forma,
uma exposição de saúde serve como um
agente de mudança. Obriga as pessoas
a levarem a saúde mais a sério e assim
garantirem uma melhor qualidade de
vida.
n Você repetiria a experiência?
Atualmente, estou ajudando na
organização de outra exposição de
saúde, desta vez no Alto Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados,
também em Genebra. Espero que essa
também seja uma grande experiência.
Houve ainda outras exposições de saúde
de que participei, como a da École
Hôtelière de Lausanne e a da cidade de
Gland. Em todos os lugares, as pessoas
ficam muito animadas em ter-nos de
volta. Recebemos alguns outros convites,
e certamente teremos mais oportunida-
des.
n Você é muito ativa em sua igreja. Quais
são suas atividades preferidas?
Somos membros da Igreja Adventista
de Friburgo, uma pequena congrega-
ção, mas cheia de vida e de projetos.
Atualmente, sou professora da Escola
Sabatina para os jovens. Tenho a confi-
ança de que Deus vai me usar, a fim de
me tornar uma influência positiva para
eles, e assim fazê-los se aproximar cada
vez mais da Sua Palavra e de Sua missão.
E, claro, sempre que há projetos sociais,
particularmente os ligados à ADRA e
projetos de saúde, lá estou eu. A vida da
igreja é sempre cheia de emoções para
nós!
n Que mensagem você gostaria de deixar
para os leitores da Diálogo, particularmente
àqueles que estão estudando para se tornar
enfermeiros e enfermeiras?
Eu sempre digo que a enfermagem é
a profissão mais maravilhosa do mundo.
Você tem a oportunidade de estar perto
das pessoas em seus momentos de maior
vulnerabilidade, quando desejam dizer
ou compartilhar algo. Na verdade,
acaba recebendo mais do que dá. Isso
é o que me enche de propósito e desejo
de ir trabalhar todos os dias. O que é
fascinante na enfermagem é que existem
muitos tipos de trabalhos possíveis, de
acordo com os próprios interesses, e que
podem corresponder aos diferentes tipos
de personalidade. Se você não gosta de
trabalho técnico, pode fazer um traba-
lho relacional. Pode ser um enfermeiro
circulante ou um instrumentador. Pode
também fazer serviço social nas ruas.
Há espaço para muitos tipos de pessoas.
Essa é uma profissão extremamente
gratificante. E não é necessário dizer
que também é uma combinação perfeita
para um adventista do sétimo dia!
Lorena Mayer (MA em
Comunicação International pela
University of Southern Queensland,
na Austrália) escreve de Berna,
Suíça, onde trabalha para uma agên-
cia especializada das Nações Unidas.
E-mail: lofimay@gmail.com.
21
LIVROS
Divinas maravillas: Evidencias
de diseño y planificación
[Maravilhas Divinas:
Evidências de projeto e
planejamento],
por Gerald E. Vyhmeister (Buenos Aires,
Argentina: Asociación Casa Editora
Sudamericana, 2012; 224 páginas;
brochura).
Revisado por Silvia Schimpf-
Torreblanca
Gerald Vyhmeister tem PhD em biologia e é formado tam-
bém em EdD. Dedicou todos os seus anos de trabalho lecio-
nando ciências nas escolas adventistas do Chile, Peru, Jamaica
e Ruanda. Nesse livro, ele combina habilmente o conheci-
mento que possui a respeito da natureza com o seu talento
para o ensino, apresentando uma grande revisão de temas
essenciais em ciências naturais, sob uma perspectiva que está
claramente de acordo com os ensinamentos bíblicos.
Divinas Maravillas nos apresenta uma linha comum em
todo o texto – uma descrição das várias maravilhas do poder
criador de Deus. Qualquer associação panteísta é prontamen-
te descartada, uma vez que essas maravilhas não são divinas
em si mesmas, porém, como o próprio título as define, são
evidências de que houve um projeto e um planejamento.
Assim, cada capítulo nos revela Deus, claramente, como o
Arquiteto-Mestre.
As maravilhas discutidas foram agrupadas em cinco gran-
des seções: Maravilhas nas Origens, Maravilhas Geológicas,
Maravilhas Invisíveis em Ação, Maravilhas Biológicas e
Maravilhas do Corpo Humano. O livro nos conduz a um
passeio, em ritmo acelerado, através de várias áreas em que
podemos ver as obras de um sábio Criador, de forma clara e
definitiva.
Na primeira seção, “Maravilhas nas Origens”, após introdu-
zir o dilema da evolução versus criação e os limites da ciência,
o autor discute a origem da vida, as maravilhas das células
e do genoma, a origem dos seres humanos e o debate sobre
como a variedade atual de organismos apareceram. O segun-
do agrupamento tópico também apresenta problemas relaci-
onados às origens, mas, nesse caso, a partir do ponto de vista
geológico. Vyhmeister aborda temas como a idade da Terra, o
dilúvio, restos fósseis, geleiras, desertos, vulcões e terremotos.
A terceira seção, “Maravilhas Invisíveis em Ação”, discute
uma combinação de vários assuntos: a origem bíblica da
semana, temas relacionados com a física e a química, como a
energia, a tensão superficial e a flutuabilidade, além de outros
assuntos de interesse, tais como os métodos de caça de ani-
22
mais e o processo do envelhecimento. Nesses dois últimos – a
alimentação através da caça e a senescência humana – deve-
ríamos perguntar ao autor se essas são verdadeiramente mara-
vilhas projetadas pelo Criador ou duas das consequências do
pecado.
Embora a primeira e a última seções estejam relacionadas à
biologia, é a quarta seção que o autor intitula especificamente
de “Maravilhas Biológicas”. Ele explica então os processos
biológicos, como a polinização, os instintos, a regeneração,
as defesas dos seres vivos em um ambiente hostil, os relógios
biológicos e o voo dos pássaros.
O autor termina descrevendo as maravilhas do corpo
humano, como os órgãos relacionados aos sentidos e ao funci-
onamento dos sistemas digestivo, excretor, esquelético, circu-
latório, nervoso, respiratório, muscular e reprodutivo.
Além de ser um livro voltado para o público em geral, pois
é realmente de fácil leitura tanto para jovens como adultos,
também pode ser usado como livro didático de apoio às aulas
de ciências, especialmente no ensino médio. De acordo com
sua intenção original, e talvez para evitar que o livro pareça
apenas um manual acadêmico, o autor não inclui notas de
rodapé para apoiar suas afirmações, embora uma ampla e útil
bibliografia forneça orientação ao leitor para que possa obter
maior assistência e leitura.
Devemos salientar ainda que Vyhmeister contribui com um
material de grande utilidade para uso em um tempo como
este em que vivemos, quando a evolução aparece – de forma
explícita ou implícita – em praticamente todos os livros cientí-
ficos. Assim, esse trabalho traz uma contribuição significativa
para a compreensão das maravilhas da vida ao nosso redor,
sob a perspectiva criacionista. Como cientista, com uma cos-
movisão bíblica e cristã, o autor faz também uma contribui-
ção valiosa para a integração da fé e da aprendizagem para a
nossa compreensão das maravilhas ao nosso redor sem ter que
questionar nossa fé no Deus de toda a criação.
Esse livro é também algo belo para se ter nas mãos. É
impresso em papel cuchê brilhante, da melhor qualidade,
com muitas fotos e ilustrações coloridas. Estudantes, pro-
fessores, pais e pastores vão encontrar beleza, ordem e fácil
compreensão entre suas capas, tendo ao mesmo tempo a
oportunidade de apreciar mais uma vez a maior de todas as
maravilhas: o Deus criador.
Silvia Schimpf-Torreblanca tem mestrado em ciências
e EdD pela Inter American University of Puerto Rico,
campus San German, com foco na área de currículo e
ensino. Ela escreve diretamente do Seminário Teológico
Interamericano Adventista do Sétimo Dia (SETAI, pela
sigla em inglês), em Porto Rico, onde leciona Ciência e
Religião. E-mail: sschimpf@uaa.edu.
DIÁLOGO 26 • 3 2014
LOGOS
Perdida e depois achada
John Wesley Taylor V e Miriam Louise Taylor
“Veja como Ele Se relaciona com os
publicanos e pecadores, criaturas vis.
Essa escória da Terra!”
Os rabinos ensinavam que o pecador
deve se arrepender diante de Deus e estar
disposto a amá-Lo, ou até devotar-Lhe
toda a atenção. E os fariseus se vanglori-
avam dizendo: “Há grande regozijo no
Céu quando aqueles que provocam a
Deus perecem na Terra!”
Então Jesus contou-lhes uma história
sobre a graça e o perdão, uma parábola
que ilustra o desejo do Pai de que nin-
guém pereça. É uma crônica do amor de
Deus para aqueles que sabem que estão
perdidos, mas não conseguem achar o
caminho de volta.
A perda
Eu me lembro daquele dia, já quase
no final do verão. As pastagens nas pla-
nícies estavam secas e havia poucos luga-
res onde se podia encontrar água. É por
isso que nosso Pastor nos levou para as
terras mais altas, a fim de acamparmos
em um dos prados das montanhas.
DIÁLOGO 26 • 3 2014
Quando abracei Minha pobre ovelhinha,
parecia que Meu coração ia explodir – de
angústia por causa da dor que ela estava
sentindo, e também de alegria porque a
procura não tinha sido em vão.
Na verdade, esse dia começou como
qualquer outro dia de verão, calmo e
brilhante. Eu me sentia segura e feliz no
rebanho. Realmente, não tinha falta de
nada. Naquela tarde, no entanto… Não
sei o que deu em mim, mas comecei
a achar que já podia ser independente
e autossuficiente, capaz de cuidar da
minha própria vida. Tudo ao meu redor
parecia tão fascinante! Achava um tédio
ter que sempre acompanhar o Pastor
aonde Ele ia, em vez de poder explorar
e experimentar o mundo cativante à
minha volta.
É verdade, no começo, não me arris-
cava a ir muito longe. Somente até onde
me assustasse com alguma coisa e então
pudesse voltar rapidamente.
Entretanto, depois de algum tempo,
fiquei mais ousada. Afinal, nada de mal
me aconteceu. Talvez fosse capaz de
cuidar de mim mesma. Talvez a vida
fosse mais emocionante se eu fizesse as
minhas próprias escolhas, se me arris-
casse mais vezes! Talvez houvesse ainda
melhores pastagens além daquelas…
Então, calmamente, me afastei do
Pastor e fugi. Não acho que qualquer
uma das outras ovelhas tivesse perce-
bido que eu não estava mais junto do
rebanho – pelo menos, nenhuma delas
deu o alarme.
No início, tudo parecia maravilhoso.
A grama nunca tinha sido tão saborosa.
As flores nunca pareceram ter cores tão
vivas. Sentia-me cheia de coragem, livre
e muito esperta.
Comecei a escalar uma das monta-
nhas que tinha sonhado em subir para
explorar algum dia. Imaginei o que seria
ficar sobre aquele pico mais alto, acima
de todas as demais ovelhas! Como iriam
me invejar!
Foi lá naquela montanha que os
meus problemas começaram. Não!…
Realmente, foi lá que comecei a perce-
ber que estava em apuros. Meus pro-
blemas começaram quando abandonei o
meu Pastor.
Na verdade, posso dizer que foi até
antes disso; foi quando me convenci de
que poderia fazer tudo sozinha. Mas
23
foi lá naquela montanha, onde o Pastor
nunca tinha nos levado, que comecei a
perceber que a coisa era séria.
Havia pouca pastagem na encosta e
a montanha estava coberta por arbus-
tos cheios de espinhos. Comecei a ter
um sentimento de vazio por dentro.
Meu estômago já roncava de fome. De
repente, vi algo: uma touceira de grama,
bem ali no meio dos arbustos. Nunca
tinha sentido um desejo tão grande por
alguma coisa. Eu tinha que conseguir ir
até lá. Com muito esforço, consegui pas-
sar por baixo dos galhos e dos espinhos
para alcançá-la.
O primeiro bocado foi delicioso!
Parecia ser a melhor grama que já havia
comido, mas, assim que a engoli, come-
cei a sentir um gosto tão amargo que
me dava náuseas. Logo me arrependi
de ter entrado naquele lugar e decidi
que era melhor sair logo dali. Mas quan-
do tentei voltar, descobri que estava
enfrentando um problema ainda maior.
O arbusto era uma sarça da montanha,
cheia de espinhos, fazendo-me ficar
presa entre eles.
Quanto mais eu me mexia e lutava
para escapar, mais os espinhos se enfi-
avam em minha lã e se enterravam em
minha pele. Por fim, acabei entrando em
pânico e, num grande ímpeto, empurrei
os galhos e consegui escapar. Mas acabei
deixando vários tufos de lã para trás, e
ainda carreguei comigo uma porção de
espinhos que penetraram profundamen-
te no meu corpo. Logo percebi algo de
cor vermelha e brilhante manchando
minha branca lã em vários lugares. Meu
lindo casaco de lã… Como fui tola!
Acho que foi aí que tive o primeiro
pensamento de que realmente deveria
voltar e ir ao encontro do meu Pastor,
mas durou apenas um momento. No
minuto seguinte, avistei aquela monta-
nha novamente, e o cume parecia muito
mais perto agora! Eu tinha que ver a
vista lá de cima. Quantas histórias teria
para contar depois!
Assim, continuei subindo. Naquela
altitude, havia muito menos vegetação,
e eu não tinha encontrado água já por
várias horas. Minha garganta estava quei-
24
mando, minha língua parecia uma lixa e
meu estômago estava doendo terrivel-
mente, talvez por causa daquele capim
amargo que comi.
O que começou a me preocupar,
no entanto, foi que o Sol já estava se
pondo, e um vento frio e cortante
começou a soprar. Como logo ficou
escuro, comecei a me sentir muito sozi-
nha e vulnerável. Todas as minhas visões
de grandeza desapareceram no ar rare-
feito da montanha.
De repente, ouvi o grito de um animal
selvagem, um som aterrorizante como
jamais tinha ouvido antes. Um calafrio
percorreu todo o meu corpo. Fiquei
congelada! Mal podia respirar.
O grito novamente cortou a noite,
mas, desta vez parecia ainda mais perto.
Entrei em pânico e comecei a correr.
Minhas pernas tremiam incontrolavel-
mente. Eu estava desesperada – tinha
que encontrar o meu Pastor!
Nem sei para que lado eu corri. Não
conseguia ver nada e, sinceramente, não
tinha a menor ideia de qual caminho
seguir.
Totalmente sem rumo, me embrenhei
na escuridão. De repente, percebi que
meus pés não mais tocavam o chão.
Senti que estava caindo, batendo nas
rochas e raízes, escorregando, escorre-
gando, rolando morro abaixo, até que
finalmente fui parar no fundo de um
desfiladeiro.
Que agonia! Todos os meus ossos e
juntas doíam, e parecia que minha cabe-
ça estava aberta. Não tenho certeza,
mas acho que devo ter desmaiado por
alguns instantes.
Quando recuperei a consciência,
percebi que estava deitada na lama, no
fundo do precipício. Era um lodo visco-
so, malcheiroso – simplesmente horrível.
Tentei me levantar, mas uma dor aguda
subiu pela minha perna esquerda. Estava
torcida, dobrada para trás de maneira
estranha. E como latejava!
Ao olhar para toda aquela escuridão,
percebi que, mesmo que estivesse bem,
era literalmente impossível subir e sair
do buraco onde eu tinha caído. As
paredes do desfiladeiro eram íngremes
e estavam se desmoronando; dentro
dele, as pedras eram grandes e difíceis
de escalar.
Nunca me senti tão mal – tão depri-
mida, tão sozinha. Como queria estar
em segurança dentro do aprisco nova-
mente… Como gostaria de voltar a
fazer parte do rebanho… Por que eu
tinha sido tão tola!…
A procura
Eu amo Minhas ovelhas. Eu as amo
porque elas são Minhas. Conheço cada
uma pelo nome.
Lembro-Me daquela tarde em que
descobri que estava faltando uma delas.
Como Eu sabia? Eu as contei. Embora
seja verdade que um pastor conta seu
rebanho todas as noites quando as ove-
lhas entram no curral, mesmo durante o
dia, a todo momento Eu as fico contan-
do. Se uma tempestade ou animal selva-
gem nos surpreende, é comum alguma
ovelha fugir e entrar em pânico diante de
algo inesperado.
Naquela tarde, embora tudo estivesse
bastante calmo, senti como se algo esti-
vesse errado, como se estivesse faltando
uma das ovelhas. Rapidamente, contei
outra vez o rebanho e, realmente, parecia
que uma ovelha não estava lá. Depois de
as contar mais uma vez, tive a certeza de
que uma das Minhas ovelhas havia se
afastado. Uma estava perdida!
Eu estava preocupado e ansioso. Você
deve saber que as ovelhas são as mais vul-
neráveis e indefesas de todas as criaturas.
As ovelhas não possuem nenhum meio
natural de proteção contra os ataques de
um inimigo.
Você também deve saber que uma
ovelha perdida não consegue encontrar
o caminho de volta para o redil. Ela
vagueia da montanha à ravina, incapaz
de encontrar o rebanho novamente. Se
não for resgatada, ela vai perambular
até morrer, talvez ficar presa nos abro-
lhos, caída em um buraco ou presa na
fenda de uma rocha. Sim, uma ovelha
que ninguém vai ao seu encalço, jamais
retorna. Então, levei Meu rebanho para o
curral, onde estaria a salvo. No horizon-
te, nuvens escuras estavam se formando.
DIÁLOGO 26 • 3 2014
Parecia que uma tempestade nos atingiria
dentro de algumas horas. Além disso, já
era tarde. A noite caía rapidamente.
A toda pressa, deixei uma mensagem
para Meus amigos e vizinhos dizendo
que tinha saído para procurar a ovelha
perdida. Não tive tempo para comer ou
descansar. Como poderia Me assentar
para comer, deixando Minha pobre ove-
lha à mercê de algum animal selvagem?
Como poderia Me deitar e descansar
enquanto Minha ovelha vagava sem
rumo na escuridão?
Fechei a porta do curral e saí em busca
da Minha pobre ovelha perdida. Eu não
tinha certeza, mas imaginava que talvez
essa ovelhinha tivesse subido uma das
montanhas que havia por perto. Isso
geralmente acontece quando uma ovelha
se perde.
Então cruzei o alto da colina, um
lugar ermo, desolado e varrido pelo
vento, e comecei a subir a íngreme encos-
ta procurando-a pelos emaranhados dos
arbustos. Arrastei-Me barranco acima,
escalei grandes rochas, olhei por cima
dos precipícios, deslizei-Me sobre rochas
e paredões de pedra. Em quase cada
passo que dava, Eu chamava a Minha
ovelha pelo nome, mas não houve res-
posta.
A noite caiu trazendo uma densa escu-
ridão. A tempestade que Eu tinha visto
no horizonte começou a castigar a região.
Relâmpagos faiscavam das nuvens revol-
tas e cruzavam o céu. Trovões rugiam
pelas gargantas dos desfiladeiros. Um
vento gelado e hostil varria os picos das
montanhas e chicoteava toda árida pai-
sagem. A fúria de uma chuva congelante
caía pesadamente.
À medida que a tempestade se tornava
mais e mais intensa, Eu ficava ainda
mais ansioso e com medo. Uma ovelha
exposta aos elementos da natureza, sob
tais condições, pode acabar morrendo
em pouco tempo. Eu tinha que dar tudo
de Mim para encontrar a Minha ove-
lha… antes que fosse tarde demais.
Estava tão determinado a encontrá-la
que quase não percebia o quanto estava
exausto, faminto, e congelado até os
ossos. Quase não sentia os espinhos que
DIÁLOGO 26 • 3 2014
roçavam meus tornozelos por onde eu
passava, nem as pedras ásperas que corta-
vam Minhas mãos. Quase não percebia
que estava tremendo convulsivamente
por causa do aguaceiro que caía e por ter
que atravessar a pé os riachos que corri-
am da montanha.
Já não me importava a dor, o que
Eu queria mesmo era encontrar logo a
Minha ovelha perdida.
O encontro
Quando desabou a tempestade, achei
que era o começo do fim. Aquele lado
do desfiladeiro onde eu estava deitada
começou a encher de água. Estava muito
gelada, e logo encharcou toda a minha
lã. Sentia muito frio e comecei a tremer
descontroladamente.
A tempestade ficou mais violenta. Os
raios eram aterrorizantes. Os trovões
me deixavam paralisada de medo. Cada
vez que um deles ribombava por perto,
eu estremecia em pânico.
De repente, um relâmpago explo-
diu numa pedra à beira do penhasco.
Eu recuei aterrorizada e desejei estar
morta. Nunca antes me senti tão apa-
vorada.
Como se fosse quase um sonho,
comecei a pensar no meu Pastor. Onde
estaria Ele agora? O que estaria fazen-
do? Estaria tentando acalmar alguns
cordeiros, levando-os em seus braços,
como sempre fazia quando uma tempes-
tade se aproximava?
Será que Ele tinha percebido que eu
não estava lá? O que estaria pensando
de mim? Talvez Ele dissesse suspirando:
“Bem, vou deixá-la sozinha lá fora, se
é o que ela quer. Estou contente com
as 99, que são o bastante para Mim.” A
verdade é que eu não era um carneiro
de raça, nem um cordeiro premiado –
apenas uma ovelha comum como tantas
outras.
Talvez Ele tivesse pensado em me
procurar. Mas diria: “Bem, já tenho
problemas demais. Quando ela voltar,
Eu abro o portão e a deixo entrar. O
melhor é não sair para procurá-la numa
noite como esta.”
Se ao menos não fosse tão tarde
quando eu me afastei, talvez Ele tivesse
pelo menos tentado me encontrar. Se
eu não tivesse me afastado para muito
longe do aprisco… Se eu não tivesse
caído neste precipício tão distante… Se
eu apenas…
Parecia quase impossível encontrar a
Minha ovelha perdida. Estive procuran-
do por ela quase toda a noite. No entan-
to, o que Me fez sentir um nó na gargan-
ta foi pensar que, quando finalmente a
encontrasse, poderia ser tarde demais.
Enfim, Eu não devia perder as espe-
ranças; tinha que encontrá-la. Chamei-a
novamente, e continuei chamando-a
incessantemente, mas as Minhas palavras
pareciam se perder no vento e em meio à
escuridão.
Nessa hora, eu tinha me resigna-
do, achando que ia morrer, e não ia
demorar muito. Tinha perdido toda a
sensibilidade em meu corpo e também a
vontade de viver.
Estava prestes a ficar inconsciente
quando me pareceu ter ouvido a Sua
voz… Era como se meu Pastor esti-
vesse me chamando. Que sonho terno
e encantador, mas não… não… não
estava sonhando. Foi aí que O ouvi mais
uma vez. Realmente era a voz do meu
Pastor! Ele estava me chamando. Esse
era o meu nome!
Eu não sei de onde tirei forças, mas
soltei um balido. Estava muito fraco e
acabou se desvanecendo rapidamente na
escuridão.
Ao mesmo tempo, comecei a me sen-
tir envergonhada. E se o meu Pastor me
encontrasse nessa condição miserável,
nesse estado terrível – caída nesse ato-
leiro, desobediente, culpada, suja. Ficaria
ali, olhando para mim, condenando-me
e me censurando? Iria me repreender
asperamente, querendo saber o que eu
tinha feito para me perder? Eu já sabia
disso. Ele ficaria olhando para mim, pro-
ferindo palavras duras de reprovação e
crítica? Bem, Ele teria todo o direito de
fazê-lo, mas eu achava que não consegui-
ria suportá-las. Isso seria mais doloroso
do que tudo o que eu tinha passado até
25
ali. Então, baixei a cabeça e fiquei em
silêncio. Seria melhor que Ele nunca
tivesse me encontrado, que Ele nunca
mais me tivesse visto…
Quando ouvi aquele fraco balido de
desespero, senti Meu coração palpitar!
Minha ovelhinha ainda estava viva. A
Minha ovelha precisava de Mim. Mas
Minha alegria durou pouco. Não havia
muito tempo mais. Na verdade, não
consegui ouvir mais nada depois.
Com muita ansiedade, corri na
direção de onde tinha vindo o balido.
Tropeçando em meio à escuridão, che-
guei à beira de um precipício cheio de
pedras. Será que ela estaria em algum
lugar lá embaixo?
Quase sem pensar, comecei a deslizar
pela ribanceira até o fundo do precipí-
cio.
As pedras rolando do outro lado
eram um sinal de que alguém estava
descendo rapidamente pelo barranco.
Eu não sei como, mas sentia que só
poderia ser o meu Pastor.
Por um momento, tive o impulso de
fugir para tentar escapar de Sua pre-
sença, mas depois parei. Fugir do meu
Pastor foi o que me causou toda essa
tragédia. Se Ele tinha vindo de tão
longe para me procurar, talvez ainda
me amasse.
Consegui deixar escapar mais um
pequeno balido, e imediatamente per-
cebi que Ele estava ali, bem perto de
mim. Ele Se abaixou, ajoelhou-Se ao
meu lado. Tomou-me em Seus braços
e me afagou, roçando Seu rosto em
minha lã.
Ele não me repreendeu. Ele não me
condenou. Ele nem sequer falou de
toda a ansiedade e dor que eu tinha
Lhe causado. Ele apenas me tomou
ternamente em Seus braços, apertou-
me gostoso junto ao Seu coração, e
o calor de Sua própria vida me fez
reviver.
A celebração
Quando Eu abracei Minha pobre
ovelhinha, parecia que Meu coração
26
ia explodir – de angústia por causa da
dor que ela estava sentindo, e de ale-
gria porque a procura não tinha sido
em vão.
Com cuidado, saímos do desfiladei-
ro e fomos para casa. Já estava quase
amanhecendo. Logo o Sol iria despon-
tar no horizonte.
Eu estava tão emocionado, tão agra-
decido por não ter voltado sozinho
para casa que toda a Minha alegria
se revelou em expressões de louvor e
ações de graças. Ia feliz, cantando ao
longo de todo o caminho: “Alegrem-
se! Alegrem-se! Porque achei Minha
ovelha perdida!”
À medida que nos aproximávamos
de casa, chamei Meus amigos e vizi-
nhos: “Venham! Alegrem-se comigo e
comemorem! A Minha ovelha estava
quase morta, mas agora reviveu; ela
estava perdida, mas agora foi encon-
trada!”
Meu coração também estava explo-
dindo em angústia por causa da dor
e da tristeza que eu tinha causado
a Ele, mas também de alegria por
ter o Pastor que eu tenho. Quando
os pastores vizinhos saíram de suas
cabanas para se alegrarem com o meu
Pastor, olhei para Suas mãos feridas e
ainda sangrando, cheias de cicatrizes.
Meu coração se encheu de amor por
Ele, algo impossível de descrever. Um
amor que não podia mais se conter
dentro de mim.
Como eu gostaria que você tivesse
um Pastor como o meu!
Nota: Este é um relato feito dentro
do contexto da vida de um pastor de
ovelhas dos tempos bíblicos. Baseia-se
na parábola da ovelha perdida, contada
por Cristo, conforme está registrada em
Mateus 18:12, 13 e em Lucas 15:1-7.
Assim como a parábola representa, na
verdade, as pessoas que estão perdidas e
que são achadas, esta história é contada
na primeira pessoa, sob a perspectiva
daqueles que estão envolvidos no relato,
utilizando a metáfora de Cristo como
sendo o Pastor das ovelhas. – Os editores.
Lições da perda:
1. Uma ovelha perdida não pode se sal-
var por si mesma.
2. Ovelhas perdidas perecerão, a menos
que alguém vá atrás delas para procurá-las
e trazê-las de volta ao redil.
3. Uma ovelha perdida foi o suficiente
para que Jesus começasse a busca.
Lições da busca:
1. Os problemas e a ansiedade causadas
por uma ovelha errante não diminui o
valor dessa ovelha.
2. A procura de uma ovelha perdida
deve ser feita pessoalmente, com sacrifício.
3. A eficácia da salvação não consiste
em nossa busca por Deus, mas em Sua
busca por nós.
Lições do encontro:
1. A procura não para até que a ovelha
seja encontrada e trazida de volta ao redil.
2. Algumas pessoas têm a ideia de que
quando um filho de Deus cai, Deus sente
repulsa por ele, fica farto e furioso. Isto
simplesmente não é assim.
3. Deus não exige: “Você tem que agir
corretamente primeiro.” Simplesmente
nos pede para deixar que Ele Se aproxime
de nós.
Lições da celebração:
1. Deus Se alegra em nos fazer o bem.
2. A alegria da salvação deve ser com-
partilhada.
3. Não podemos ser felizes sem Jesus, e
Ele, em Seu grande amor, não fica satisfeito
sem nos ter ao Seu lado.
John Wesley Taylor V (PhD
pela Universidade Andrews
e EdD, pela Universidade da
Virgínia) é diretor associado do
Departamento de Educação da
Associação Geral dos Adventistas
do Sétimo Dia e um dos edi-
tores da revista Diálogo. Miriam
Louise Taylor é assistente execu-
tiva para a área da Secretaria
da Associação Geral. E-mail:
JohnWesleyTaylorV@gmail.com.
DIÁLOGO 26 • 3 2014
PRIMEIRA PESSOA
“Aquietai-vos e sabei…”
Joy Devaraj
Sundari parou para olhar as águas do
Rio Thamiravaruni que jorravam debai-
xo da ponte, ao sul de Tamil Nadu,
na Índia. Ela não estava admirando a
bela coreografia dos peixes que iam e
vinham de todas as direções, nadando
nas águas que corriam lá embaixo, nem
observava os pescadores em seus peque-
nos botes, tentando avidamente ganhar
o pão de cada dia. Com uma filha de
dois anos de idade à cintura e um filho
de quatro anos que segurava firmemente
pela mão, não lhe saía da mente a vida
de outra mulher que viveu há muito
tempo no passado e que clamava em
grande tristeza e sofrimento: “O Todo-
Poderoso tornou minha vida muito
amarga!” (Ruth 1:20).*
Sundari sentia que sua taça de amar-
gura havia se enchido e estava trans-
bordando. Casada aos 18 anos, mãe de
dois filhos lindos, ela agora estava viúva
com apenas 23 – à mercê da maldição
da pobreza e tendo que encarar os anos
áridos que tinha à sua frente. Mesmo
antes que as lágrimas se secassem, ela se
tornou objeto de escárnio, abuso e des-
prezo. Não por parte de estranhos – dos
quais a pessoa pode se afastar – mas da
DIÁLOGO 26 • 3 2014
Como as palavras do Salmo 46
resgataram uma jovem mãe da morte
e a fizeram ressurgir da vergonha e do
abuso para uma vida plena de realizações,
tornando-se uma joia para a glória de
Deus – Uma história verdadeira!
família, tanto os mais próximos como
os mais afastados. Seu marido tinha lhe
deixado uma casa grande e outras pro-
priedades, mas lhe foram todas tiradas,
devido à ganância daqueles que alega-
vam conhecê-lo há mais tempo do que
ela. “Conhecer há mais tempo” parecia
mais importante que o laço edênico que
uniu ambos os corações pelo casamento.
Como um coração se foi, o outro neces-
sitava de um lugar para morar. Pelo
menos essa é a definição de “família” no
sentido bíblico. Mas, para todos os seus
parentes, tanto próximos como mais
distantes, ela deixou de ser reconhecida
como pessoa e passou a ser um objeto
estranho de carne e sangue apenas.
Foi assim que Sundari se tornou
objeto de abuso. Ela não tinha ninguém
para defendê-la, para protegê-la de ser
atacada, verbal e fisicamente. Sua casa,
terras e dinheiro lhe foram tirados. Sua
dignidade foi ultrajada. Suas esperanças
foram esmagadas. Os poucos objetos
pessoais que possuía foram empacota-
dos e jogados para fora junto com ela.
Ser expulsa de uma bela casa e ir parar
numa choupana de palha foi o que
finalmente despedaçou o seu coração.
Sem ter para onde ir, nem ninguém para
se apoiar e duas crianças para cuidar,
ela decidiu sair e caminhar até a ponte
sobre o rio.
Sundari olhou para baixo – "Pela
última vez…" – pensou ela. Refletiu
por um momento e murmurou para si
mesma: “Saltar lá para baixo é melhor
do que viver sendo abusada por todos.”
De repente, essa intenção se transfor-
mou em uma pergunta que calou em
sua mente, ao apertar com força os dois
pequenos presentes que o amor lhe
tinha concedido: “Saltar ou não sal-
tar?” E então, como que do nada, uma
lembrança trouxe nova esperança ao
seu coração, ao se lembrar da promessa
que havia aprendido quando criança
e a utilizava para enfrentar todos os
desafios – quaisquer que fossem – em
seus 23 anos de vida. A promessa era tão
antiga quanto a humanidade, mas tão
atual como o Espírito que a colocou em
primeiro lugar: “Aquietai-vos e sabei que
Eu sou Deus” (Salmo 46:10).
Sopre o vento, caia a tempestade…
Faça chuva ou faça sol. Quer sinta tris-
teza ou alegria… Sob abuso ou deses-
perança… Seja o ódio vindo de pessoas
27
mais próximas ou se surgir um raio de
esperança, mesmo que venha e logo se
vá como o orvalho da manhã, não vou
desistir! Sundari pensou no fardo que
tinha para carregar e sentiu como se
Deus estivesse tocando seus ombros e
sussurrando bem no fundo de seu cora-
ção: “Aquiete-se e saiba que Eu sou o
seu Deus!”
Sundari apertou ainda mais seus
filhos junto de si, deu as costas para o
rio e caminhou firmemente de volta
para a aldeia. Com casa ou sem casa,
com amor ou com ódio, para o que der
e vier, ela sabia que uma coisa era certa:
Deus existe! Assim, pela fé, agarrou-se
à promessa: “Tudo é possível àquele que
crê” (Marcos 9:23).
Ela aprendeu a se aquietar, a estar
em paz consigo mesma. Aprendeu o
que significa ter fé em Deus. Decidiu
viver pela fé e a viver para seus filhos.
Daquele momento em diante, trabalhou
arduamente, aceitando qualquer traba-
lho que aparecia em seu caminho – nos
campos de arroz, em casas ou em plan-
tações de banana. Trabalhava seis dias
por semana, descansava no sábado, e sua
esperança se reavivava ao contemplar
os quatro olhinhos brilhantes de seus
filhos. Naqueles pequenos olhos, ela via
a plenitude de si mesma, a realização
de seus sonhos, o sorriso de seu mari-
do e, acima de tudo, o plano de Deus
para eles. Se trabalhar era o caminho a
seguir, a confiança em Deus era a luz
que a guiava; assim, manter a esperança
no coração de seus filhos era a sua mais
ardente motivação.
Sundari tem hoje 68 anos. Seus filhos e
netos a chamam de bem-aventurada. Eles
também partilham do mesmo funda-
mento colocado por ela para uma vida
de realizações: “Aquietai-vos e sabei que
Eu sou Deus.”
Eu sei que essa história é verdadeira,
pois sou a filha de Sundari. Ela supor-
tou toda tristeza, toda dor de coração
e desistiu do pensamento daquele salto
fatal nas águas geladas do rio para dar
a meu irmão e a mim a oportunidade
de conhecermos a vida, de termos uma
28
educação adventista e, mais do que
isso, de experimentarmos nós mesmos a
promessa que a sustentou durante toda
a sua vida de agruras. Como resultado,
seu verso favorito se tornou a base da
minha fé.
O que aprendi com tudo isso?
Em primeiro lugar, aquietar-me – o
Salmo 46 fala de terríveis terremotos,
mares agitados, montes em ruínas,
reinos em fúria, seres humanos cheios
de terror. Em tudo e através de tudo,
em cada ruído e falta de segurança que
caracteriza o curso da humanidade, há
uma inamovível e permanente garan-
tia: “Deus é o nosso refúgio e a nossa
fortaleza” (Salmo 46:1). Para os desabri-
gados, Ele é a casa. Para os que vivem
atormentados pelo medo e sendo abusa-
dos, Ele é o refúgio certo. Para os fracos
e perseguidos, Ele é a força. Para aqueles
que estão em uma ponte sobre águas
turbulentas, Ele estende a Sua mão, Seu
amoroso abraço e vigilante cuidado.
Assim, aquiete-se. Isso não significa
“ficar inativo”. Significa sim, parar de
lutar – parar de lutar consigo mesmo,
por si mesmo, ou dentro de si mesmo.
Uma das grandes tentações da vida é a
força do “eu”: Eu posso fazer isso… Eu
posso resolver qualquer problema… Eu
tenho a solução de que preciso. Embora
a autoconfiança seja uma virtude pela
qual se deve lutar, ela, por si só, não é
suficiente para fazer-nos passar pelas
perturbações e tempestades que enfren-
tamos na vida. No final, há uma ponte
sobre as águas turbulentas. Antes de
chegarmos a esse momento de perigo,
é bom sabermos e aceitarmos que, com
Deus, todas as impossibilidades se
transformam em possibilidades. Então,
entregue tudo nas mãos de Deus, pois
Ele é o nosso “auxílio sempre presente
na adversidade” e, “por isso, não temere-
mos” (v. 1, 2).
“Aquietai-vos” também nos faz lem-
brar a grande tempestade que ocorreu
no Mar da Galileia, ameaçando virar
o barco em que os discípulos viajavam,
enquanto Jesus dormia, exausto, depois
de um longo dia de ensinamentos e
curas. Os discípulos, já em pânico, acor-
daram Jesus e perguntaram se Ele não
Se importava com o perigo que estava
se aproximando. A resposta de Jesus foi
repreender o vento e o mar: “Aquiete-se!
Acalme-se!” (Marcos 4:39). A ordem do
Criador, “Aquiete-se”, significa simples-
mente: “Silêncio!”
A resposta ao pânico humano ainda
é o silêncio – e ouvir – ouvir a voz de
Deus. Quantas vezes Lhe pedimos tudo
o que desejamos, mas não paramos para
ouvir ou não nos aquietamos! O ato
de aquietar-se acaba se tornando mais
do que um desafio no mundo agitado
em que vivemos. O mundo nos induz a
viver sempre ocupados. Deus pede que
nos aquietemos para podermos ouvir
Sua voz mansa e suave e saibamos que,
além das tempestades da vida, há o des-
canso e a paz que só Ele pode dar.
Junto com o pânico e o medo, pen-
samentos ansiosos nos afligem. Disse
alguém que, em média, 50 mil pen-
samentos povoam nossa mente cada
dia. Esses pensamentos nem sempre
são agradáveis, e você conhece alguns
deles: Eu não posso acreditar que errei…
Não consigo fazer isso, é muito difícil…
Eu sou um fracasso… Eu sou uma frau-
de… Estou muito velho… Sou muito
jovem… Ele não é bom… – e tantos
outros. Temos que aprender a dizer aos
nossos pensamentos ansiosos e cheios
de temor que fiquem em silêncio, que
se aquietem. Uma forma de calar nossos
pensamentos negativos é nos unirmos
ao salmista em meditação silenciosa e
repetirmos a nós mesmos o que Deus
nos diz: “Aquietai-vos… e sabei que Eu
sou Deus.”
Em segundo lugar, saber – A res-
posta do salmista à ansiedade humana,
à preocupação e ao desejo de entender
por que coisas ruins acontecem a pes-
soas boas é saber que Deus existe e que
Ele fará o melhor, ao passarmos pelo
sofrimento. Isso é o que minha mãe
experimentou. Ela se deparou com a
morte súbita do esposo, enfrentou abuso
e sofrimento por parte daqueles que
deveriam ter sido a fonte de sua força e
se defrontou com um futuro sombrio e
incerto. Embora não conhecesse o seu
DIÁLOGO 26 • 3 2014
futuro, ela sabia que o Senhor a segurava
nas palmas das Suas eternas mãos.
O conhecimento de Deus, do qual
fala o salmista, não é um conhecimento
teórico. O conhecimento de Deus não é
história, não é filosofia, não é geografia
e nem mesmo teologia. É um conhe-
cimento pessoal, vivencial e prático.
Como Jó, precisamos exclamar: “Eu sei
que o meu Redentor vive” (Jó 19:25),
e estar em sintonia com a vontade e os
caminhos de Deus. Só então podere-
mos dizer que Ele está no meio de nós
e, assim como a cidade de Deus, o Seu
santo lugar, a nossa confiança “não será
abalada” (Salmo 46:5).
Em terceiro lugar, “Aquietai-vos e
sabei que Eu sou Deus…” – O último
refúgio e defesa para um cristão ferido
é experimentar Aquele que diz: “Eu sou
Deus.” Ele é um Deus pessoal. Conhece
você pelo nome. Sabe onde você mora.
Quer viver dentro de você (Apocalipse
3:20). O Senhor quer ser a presença e o
poder que controla a sua vida. Só então
Ele poderá mudar o curso de sua exis-
tência – tirar você da beira da destruição
para levá-lo ao alto do monte e fazê-lo
viver a alegria de saber quem é Deus.
Sundari significa bela. Essa beleza
uma vez foi ameaçada, aviltada, esmaga-
da e quase arremessada nas correntezas
de um caudaloso rio. Mas as palavras
do Salmo 46: 9 resgataram Sundari da
morte e a fizeram ressurgir da vergonha
e do abuso para uma vida plena de rea-
lizações, partindo do nada e se tornando
uma joia para a glória de Deus – junta-
mente com seus filhos. Quantas maravi-
lhas Deus tem feito!
Joy Devaraj (Mestre em Enfermagem
pela Grand Canyon University) é
vice-diretora da área de Enfermagem
no Sanctuary at Holy Cross, em
Silver Spring, Maryland, USA. E-mail:
joynewbegin@gmail.com.
*Todas as passagens bíblicas foram extraídas da
Nova Versão Internacional.
DIÁLOGO 26 • 3 2014
Como os cristãos
devem tratar os ani-
mais...
(Continuação da página 12.)
Biblical Basis for the Humane Treatment of All
Creatures (New York: Lantern Books, 2000); e
D. Yarri, The Ethics of Animal Experimentation:
A Critical Analysis and Constructive Christian
Proposal (New York: Oxford University Press,
2005, ver especialmente o capítulo quatro em
“Animal Rights”).
5. Essa proposta assume responsabilidade pessoal
por parte do pesquisador.
6. Eu incluiria aqui a instrução de rotina no
currículo das aulas de biologia que utiliza
animais vivos. Em outras palavras, toda vivi-
secção atualmente permitida em nosso sistema
educacional deve ser detida.
7. Isso não quer dizer que os animais sejam ou
não sejam considerados criaturas morais.
Parte dessa obrigação nos leva a reconhecer
o valor, o valor moral, de outros seres criados
por Deus.
8. J. Walters, PhD, usou essa frase em seu artigo
“Moral Status” na Encyclopedia of Bioethics.
Ele observa também que, embora o estatuto
moral não seja um conceito novo, seu uso téc-
nico surgiu em parte por meio de um debate
público sobre o valor ou status do embrião
humano. Não há nenhuma ligação com o
movimento dos direitos dos animais ou com
qualquer campo ideológico em particular.
Trata-se de uma ferramenta que ajuda cada
um de nós a classificar quem ou o quê é mais
valioso para nós e por quê. Como Walters
observa, podemos jogar seixos da praia na
água, “mas com as pessoas que estão tomando
banho naquela mesma praia é totalmente
diferente. Jogar despropositadamente uma
delas na mesma água constitui um ato imoral
e condenável.” É usar o estatuto moral como
uma forma de enquadrar as razões, porque
isso é algo corriqueiro na ética. Ver J. Walters,
“Moral Status,” Encyclopedia of Bioethics,
3rd ed., ed. S. Post (New York: Macmillan
Reference, 2004), 1855-1864.
9. “Creation” disponível em http://www.adven-
tist.org/beliefs/fundamental/index.html.
10. Nisto Cremos: As 28 Crenças Fundamentais da
Igreja Adventista do Sétimo Dia (Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2008), p. 87, 95,
96.
11. Ver E. Fortin, “The Bible Made Me Do It:
Christianity, Science, and the Environment,”
Review of Politics 57 (Spring 1995) 2:197-223
para uma análise da história do cristianismo e
meio ambiente. Ver também G. Tucker, “Rain
on a Land Where No One Lives: The Hebrew
Bible on the Environment”, Journal of Biblical
Literature 116 (1997) 1:3-17.
12. R. Bauckham, The Bible and Ecology:
Rediscovering the Community of Creation
(Waco, Texas: Baylor University Press, 2010),
p. 37.
13. Ibid., Prefácio.
14. Ibid., p. 33, 34.
15. Nisto Cremos, p. 110.
16. “Caring for Creation – A Statement on the
Environment”, disponível em http://adven-
tist.org/beliefs/statements/main-stat5.html;
“Statement on the Environment”, disponível
em http://adventist.org/beliefs/statements/
main-stat9.html; “Statement on Stewardship
of the Environment”, disponível em Dhttp://
adventist.org/beliefs/statements/main-stat
10.html. Textos em português disponíveis em:
http://centrowhite.org.br/o-cuidado-com-a-
criacao-uma-declaracao-sobre-o-meio-ambi-
ente/. http://centrowhite.org.br/declaracao-
sobre-o-meio-ambiente/. http://centrowhite.
org.br/declaracao-sobre-a-mordomia-do-mei-
o-ambiente/.
17. Essas citações aparecem em ambos “Statement
on the Environment”, disponível em http://
adventist.org/beliefs/statements/main-stat9.
html e “Statement on Stewardship of the
Environment”, disponível em http://adventist.
org/beliefs/statements/main-statlO.html.
18. Guide for the Care and Use of Laboratory
Animals (NRC 2011), 5 (PDF, 32).
Disponível em http://www.aaalac.org/resour-
ces/Guide_2011.pdf.
19. Por exemplo, há uma revista inteiramente
dedicada à biologia molecular, acessada via
internet ISB In Silico Biology: An International
Journal on Computational Molecular Biology,
http://www.bioinfo.de/isb.
20. The European Union’s Office of Consumer
Affairs emitiu uma diretriz que proíbe as
empresas de cosméticos testarem seus produ-
tos em animais. http://ec.europa.eu/consu-
mers/scctors/cosmetics/documents/directive/
indexen.htm). Available at http://eur-lex.euro-
pa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CON-
SLEG: 1976L0768: 2010030 l:en:PDF.
21. Embora a referência comum a esse teste cite a
morte de coelhas como resultado dos testes de
gravidez, isso somente ocorreu nas primeiras
versões do teste, na década de 1920. De acor-
do com os 3Rs, mais tarde, com o aperfeiço-
amento do teste, foi simplesmente permitido
o exame dos ovários das coelhas para ver se
a urina da mulher tinha ou não efeito men-
surável sobre eles. Ver http://diiopes.com/
pregnant/rabbit.asp.
22. Ver Carl Howard, “Yes, Dad, There are
Alternatives”, AV Magazine, a publication
of the American Anti-Vivisection Society,
Spring, 2005. Disponível em http://caat.
jhsph.edu/publications/Arliclcs/aavs.html.
23. Meu apreço a David Wolf, DVM, PhD, vete-
rinário-chefe da Universidade de Loma Linda.
Ele foi de grande ajuda no meu esforço por
entender as pesquisas sobre animais. Também
agradeço a Stacey Butler, da Faculdade de
Medicina, classe de 2014, por oferecer-me crí-
ticas úteis na versão inicial deste trabalho.
29
PARA SUA INFORMAÇÃO
Universidades
A Igreja Adventista do Sétimo Dia
opera uma rede internacional de facul-
dades e universidades que oferecem
programas acadêmicos e profissionais
em muitas áreas. A lista a seguir inclui
os estabelecimentos de ensino universi-
tário já credenciados.
ANGOLA
Seminario Adventista do Bongo
Localização: Huambo
Contato: jorgal44@yahoo.com
ARGENTINA
Instituto Superior Adventista de
Misiones
Localização: Leandro N. Alem, Misiones
Contato: informes@isam.edu.ar
www.isam.edu.ar
Universidad Adventista del Plata
Localização: Libertador San Martín,
Entre Rios
Contato: informes@uap.edu.ar
www.uap.edu.ar
AUSTRÁLIA
Avondale College of Higher
Education
Localização: Cooranbong, N.S. Wales
Contato: www.avondale.edu.au
ÁUSTRIA
Seminar Schloss Bogenhofen
Localização: Peter am Hart
Contato: office@bogenhofen.at
www.bogenhofen.at
BANGLADESH
Bangladesh Adventist Seminary and
College
Localização: Gowalbathan, Gazipur
Contato: bascollege@gmail.com
www.bascollege-bdg.org
BOLÍVIA
Universidad Adventista de Bolivia
Localização: Vinto, Cochabamba
Contato: www.uab.edu.bo
30
BOTSUANA
Kanye Seventh-day Adventist
College of Nursing
Localização: Kanye
Contato: sdacollege@botsnet.bw
BRASIL
Faculdade Adventista da Amazônia
Localização: Benavides, Pará
Contato: faama@unb.org.br
www.faama.edu.br
Centro Universitário Adventista de
São Paulo
Localização: Campus Engº. Coelho, SP
Contato: faleconosco-ec@unasp.edu.br
www.unasp-ec.edu.br
Localização: Campus Hortolândia, SP
Contato: faleconosco-ht@unasp.edu.br
www.iasp.br
Localização: Campus São Paulo, SP
Contato: faleconosco-sp@unasp.edu.br
www.unasp-sp.edu.br
Faculdade Adventista de Minas Gerais
Localização: Lavras, Minas Gerais
Contato: fadminas@fadminas.org.br
www.fadminas.org.br
Faculdade Adventista da Bahia
Localização: Cachoeira, Bahia
Contato: www.iaene.br
Faculdade Adventista Paranaense
Localização: Ivatuba, Paraná
Contato: iap@iap.org.br
www.iap.org.br
BULGÁRIA
Theological College “Stephan
Konstantinov”
Localização: Sofia
Contato: info@sdabg-college.org
www.sdabg-college.org
REPÚBLICA DOS CAMARÕES
Université Adventiste Cosendai
Localização: Nanga Eboko
Contato: www.uacosendai-edu.net
CANADÁ
Canadian University College
Localização: Lacombe, Alberta
Contato: admissions@cauc.ca
www.cauc.ca
CHILE
Universidad Adventista de Chile
Localização: Chillán
Contato: informaciones@unach.cl
www.unach.cl
COLÔMBIA
Corporación Universitaria
Adventista
Localização: Medelin
Contato: www.unac.edu.co
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA
DO CONGO
Université Adventiste de Lukanga
Localização: Lubero, Butembo
Contato: uniluk1996@yahoo.fr
www.uniluk.org
COSTA RICA
Universidad Adventista de
Centroamérica
Localização: Alajuela
Contato: admisiones@unadeca.net
www.unadeca.net
CROÁCIA
Adventisticko Teolosko Visoko
Uciliste
Localização: Marusevec
Contato: atvu@atvu.org
www.atvu.org
REPÚBLICA TCHECA
Teologicky Seminar CASD
Localização: Sazava
Contato: tscasd@tscasd.cz
www.tscasd.cz
CUBA
Seminario Teológico Adventista de
Cuba
Localização: Santiago de las Vegas
Contato: setac@enet.cu
DIÁLOGO 26 • 3 2014
REPÚBLICA DOMINICANA
Universidad Adventista Dominicana
Localização: Sonador, Bonao
Contato: info@unad.edu.do
www.unad.edu.do
EQUADOR
Instituto Tecnológico Superior
Adventista del Ecuador
Localização: Sto Domingo de los
Tsachilas
Contato: www.itsae.edu.ec
INGLATERRA
Newbold College of Higher Education
Localização: Bracknell, Berkshire
Contato: admissions@newbold.ac.uk
www.newbold.ac.uk
ETIÓPIA
Ethiopia Adventist College
Localização: Kuyera
Contato: www.eac.edu.et
FIJI
Fulton College
Localização: Tailevu
Contato: info@fulton.ac.fj
www.fulton.ac.fj
FRANÇA
Campus Adventiste du Salève
Localização: Collonges-sous-Salève,
Haute Savoie
Contato: info@campusadventiste.edu
www.campusadventiste.edu
ALEMANHA
Theologische Hochschule Friedensau
Localização: Moeckern-Friedensau
Contato: hochschule@thh-friedensau.de
www.thh-friedensau.de
GANA
Valley View University
Localização: Accra
Contato: info@vvu.edu.gh
www.vvu.edu.gh
HAITI
Université Adventiste d’Haïti
Localização: Porto Príncipe
Contato: www.unah.edu.ht
DIÁLOGO 26 • 3 2014
HONG KONG
Hong Kong Adventist College
Localização: Hong Kong
Contato: www.hkac.edu
HUNGRIA
Adventista Teologiai Foiskola
Localização: Pécel, Budapeste
Contato: atf@adventista.hu
www.atf.adventista.hu
ÍNDIA
Flaiz Adventist College
Localização: Narsapur, Andhra Pradesh
Contato: flaizcollege@yahoo.com
www.flaiz.net
Lowry Adventist College
Localização: Doorvani Nagar, Bangalore
Contato: lowrymcollege@gmail.com
www.lowryinstitutions.org
METAS of Seventh-day Adventist
College
Localização: Surat, Gujarat
Contato: www.metasofsda.in
Northeast Adventist College
Localização: Jowai, Meghalaya
Contato: www.neacollege.com
Roorkee Adventist College
Localização: Roorkee, Uttarakhand
Contato: sdaicr@sancharnet.in
Spicer Adventist University
Localização: Pune, Maharashtra
Contato: www.spiceradventistuniversity.
org
Vellore Adventist College of Education
Localização: Otteri, Vellore
Contato: www.sdaschoolvellore.com
INDONÉSIA
Universitas Advent Indonesia
Localização: Bandung, Java
Contato: registrar@unai.edu
www.unai.edu
Universitas Klabat
Localização: Airmadidi Bawah,
Sulawesi do Norte
Contato: www.unklab.ac.id
Surya Nusantara Adventist College
Localização: Kota Pematang Siantar,
Sumatra
Contato: www.suryanusantara.ac.id
ITÁLIA
Istituto Avventista di Cultura Biblica
Villa Aurora
Localização: Florença
Contato: info@villaaurora.it
www.villaaurora.it
JAMAICA
Northern Caribbean University
Localização: Mandeville
Contato : info@ncu.edu.jm
www.ncu.edu.jm
JAPÃO
Saniku Gakuin College
Localização: Otaki-machi, Chiba
Contato: info@saniku.ac.jp
www.saniku.ac.jp
QUÊNIA
Adventist University of Africa
Localização: Ongata Rongai, Nairobi
Contato: info@aua.ac.ke
www.aua.ac.ke
University of Eastern Africa Baraton
Localização : Eldoret
Contato: information@ueab.ac.ke
www.ueab.a.ke
COREIA
Sahmyook Bogeon Daehakgyo
Localização: Dongdaemun-ku, Seul
Contato: resources@shu.ac.kr
Samhmyook Daehakgyo
Localização: Nowon-gu, Seul
Contato: general@syu.ac.kr
www.syu.ac.kr
LÍBANO
Middle East University
Localização: Sabtieh, Beirute
Contato: meu@meu.edu.lb
www.meu.edu.lb
31
LESOTO
Maluti School of Nursing
Localização: Mapoteng
Contato: www.maluti-adventist-hospi-
tal.org
MADAGASCAR
Université Adventiste Zurcher
Localização: Sambaina, Antsirabe
Contato: uaz@moov.mg
www.uaz.adventisthost.org
MALAWI
Malawi Adventist University
Localização: Ntcheu
Contato: registrar@mau.ac.mw
www.mau.ac.mw
MALÁSIA
Penang Adventist College of Nursing
Localização: Penang
Contato: info@pah.com.my
www.pah.com.my
MÉXICO
Universidad Linda Vista
Localização: Solistahuacan, Chiapas
Contato: info@ulv.edu.mx
www.ulv.edu.mx
Universidad de Montemorelos
Localização: Montemorelos, Nuevo
León
Contato: promocio@um.edu.mx
www.um.edu.mx
Universidad de Navojoa
Localização: Navojoa, Sonora
Contato: promyrec@unav.edu.mx
www.unav.edu.mx
MOÇAMBIQUE
Seminario Adventista do Sétimo Dia
de Moçambique
Localização: Beira
Contato: mozambiqueunion@gmail.
com
MIANMAR
Myanmar Union Adventist Seminary
Localização: Myaungmya
Contato: muas@myanmar.com.mm
32
NIGÉRIA
Babcock University
Localização: Ilisan-Remo, Ogun
Contato: registrar@babcockuni.edu.ng
www.babcockuni.edu.ng
PAQUISTÃO
Pakistan Adventist Seminary and
College
Localização: Farooqabad Mandi,
Sheikhupura
Contato: www.pasc.edu.pk
PAPUA-NOVA GUINÉ
Pacific Adventist University
Localização: Koiari Park, Port Moresby
Contato: admin@pau.ac.pg
www.pau.ac.pg
Sonoma Adventist College
Localização: Kokopo, Ilha Nova Grã-
Bretanha
Contato: Isako.Esekia@pau.ac.org
PARAGUAI
Universidad Adventista del Paraguay
Localização: Assunção
Contato: informes@unapy.edu.py
www.unapy.edu.py
PERU
Universidad Peruana Unión
Localização: Campus Ñaña, Lima
Contato: www.upeu.edu.pe
Localização: Campus Juliaca
Contato: www.upeu.edu.pe
Localização: Campus Tarapoto
Contato: www.upeu.edu.pe
FILIPINAS
Adventist International Institute of
Advanced Studies
Localização: Silang, Cavite
Contato: www.aiias.edu
Adventist University of the
Philippines
Localização: Silang, Cavite
Contato: admissions@aup.edu.ph
www.aup.edu.ph
Central Philippine Adventist College
Localização: Murcia, Negros Ocidental
Contato: www.cpac.edu.ph
Manila Adventist College
Localização: Pasay City, Manila
Contato: mamc@mamc-sma.org
Mindanao Sanitarium and Hospital
College
Localização: Iligan City, Mindanau
Contato: mshcnet@yahoo.com
Mountain View College
Localização: Valencia City, Mindanau
Contato: mvcinfo@mvc.edu.ph
www.mvc.edu.ph
Naga View Adventist College
Localização: Naga City, Bicol
Contato: nagaviewpres@hotmail.com
Northern Luzon Adventist College
Localização: Sison, Pangasinan
Contato: info@nlac.edu.ph
www.nlac.edu.ph
South Philippine Adventist College
Localização: Matanao, Mindanau
Contato: info@spaconline.org
www.spaconline.org
POLÔNIA
Wyzsza Szkola Teologiczno-
Humanistyczna
Localização: Podkowa Lesna
Contato: wsth@wsth.pl
www.wsth.pl
ROMÊNIA
Institutul Teologic Adventist
Localização: Cernica, Ilfov
Contato: secretariat@institutadventist.ro
www.institutadventist.ro
RÚSSIA
Zaokskaya Adventistkaya
Akademiya i Institut
Localização: Zaoksky, Tula
Contato: zau@zau.ru
DIÁLOGO 26 • 3 2014
RUANDA
Adventist University of Central Africa
Localização: Kigali
Contato: info@auca.ac.rw
www.auca.ac.rw
SÉRVIA
Teoloski Fakultet Beograd
Localização: Belgrado
Contato: tfbg@sezampro.rs
www.tfv.edu.rs
ÁFRICA DO SUL
Helderberg College
Localização: Cidade do Cabo
Contato: www.hbc.ac.za
ESPANHA
Seminario Adventista Español
Localização: Sagunto, Valencia
Contato: info@esdes.eu
www.esdes.eu
TAIWAN
San Yu Chi Du Shue Yuan
Localização: Yu Chi, Município de
Nantou
Contato: www.sdatac.org.tw
TANZÂNIA
The University of Arusha
Localização: Ngongongare, Distrito de
Arumeru
Contato: info@universityofarusha.ac.tz
www.universityofarusha.ac.tz
UCRÂNIA
Ukrayinskyi Adventystkyi Tsentr
Vyschoyi
Localização: Bucha, Kiev
Contato: www.ugi.edu.ua
www.seminary-sda.org
ESTADOS UNIDOS
E PORTO RICO
Adventist University of Health
Sciences
Localização: Orlando, Flórida
Contato: www.adu.edu
Andrews University
Localização: Berrien Springs, Michigan
Contato: enroll@andrews.edu
www.andrews.edu
Kettering College
Localização: Kettering, Ohio
Contato: information@kc.edu
www.kc.edu
La Sierra University
Localização: Riverside, Califórnia
Contato: www.lasierra.edu
Loma Linda University
Localização: Loma Linda, Califórnia
Contato: www.llu.edu
Oakwood University
Localização: Huntsville, Alabama
Contato: www.oakwood.edu
Universidad Adventista de las
Antillas
Localização: Mayagüez, Porto Rico
Contato: admissions@uaa.edu
www.uaa.edu
Walla Walla University
Localização: College Place, Washington
Contato: info@wallawalla.edu
www.wallawalla.edu
Washington Adventist University
Localização: Takoma Park, Maryland
Contato: www.wau.edu
VENEZUELA
Instituto Universitario Adventista de
Venezuela
Localização: Nirgua, Yaracuy
Contato: www.iunav.com
ZÂMBIA
Rusangu University
Localização: Monze
Contato: zauvc@hotmail.com
www.rusangu-university.edu.zm
ZIMBÁBUE
Solusi University
Localização: Bulawayo
Contato: info@solusi.ac.zw
www.solusi.ac.zw

TAILÂNDIA Pacific Union College

Asia-Pacific International University
Localização: Muak Lek, Saraburi
Contato: www.apiu.edu
TRINIDAD E TOBAGO
University of the Southern
Caribbean
Localização: St. Joseph, Porto de
Espanha
Contato: www.usc.edu.tt
UGANDA
Bugema University
Localização: Zirobwe Rd., Kampala
Contato: www.bugemauniv.ac.ug
Localização: Angwin, Califórnia
Contato :www.puc.edu
Southern Adventist University
Localização: Collegedale, Tennessee
Contato: www.southern.edu
Southwestern Adventist University
Localização: Keene, Texas
Contato: enroll@swau.edu
www.swau.edu
Union College
Localização: Lincoln, Nebraska
Contato: ucinfo@ucollege.edu
www.ucollege.edu

DIÁLOGO 26 • 3 2014 33
Conselhos inspirados para os jovens
Ellen White
Enquanto vivemos neste mundo
devemos ser a mão ajudadora de Deus.
Paulo declarou: “Vós sois lavoura de
Deus e edifício de Deus” (1 Coríntios
3:9). Devemos cooperar com Deus em
toda medida que Ele deseja executar.
Estamos nós cumprindo o eterno desíg-
nio de Deus? Estamos buscando dia a
dia ter a mente de Cristo e fazer Sua
vontade em palavras e obras?
“Então romperá a tua luz como a
alva, e a tua cura apressadamente bro-
tará, e a tua justiça irá adiante da tua
face, e a glória do Senhor será a tua
retaguarda” (Isaías 58:8).
Demos graças ao Senhor por esta
certeza. Fiquemos sempre numa posi-
ção em que o Senhor Deus do Céu nos
possa favorecer. Consideremos que é
nosso alto privilégio estar em ligação
com Deus – servir-Lhe de mão ajuda-
dora.
No grande plano de Deus para
redenção da raça perdida, Ele Se colo-
cou na necessidade de empregar os
instrumentos humanos como Sua mão
ajudadora. Ele precisa ter uma mão
ajudadora para atingir a humanidade.
Precisa ter a cooperação dos que hão de
ser ativos, prontos a ver oportunidades,
prontos a discernir o que precisa ser
feito por seus semelhantes.
“Glorificai pois a Deus no vosso
corpo, e no vosso espírito, os quais
pertencem a Deus” (1 Coríntios 6:20).
Aquilo que considerais como vosso é
de Deus. Cuidai de Sua propriedade.
[...] Que satisfação pode alguém ter
34
em diminuir gradualmente as facul-
dades do corpo e da mente mediante
condescendências egoístas de qualquer
espécie?
Deus deu a todo ser humano um
cérebro. Deseja que ele seja usado para
glória Sua.[...] Cumpre-nos educar e
exercitar toda faculdade da mente e
do corpo - o mecanismo humano que
Cristo adquiriu - de maneira a poder-
mos pô-lo no melhor uso possível.
Devemos fazer tudo quanto pudermos
para fortalecer essas faculdades; pois
Deus Se agrada de que nos tornemos
mais e mais eficientes colaboradores
Seus.
Experiência Individual
Na idade de dezessete anos, quando
todos os meus amigos me consideravam
uma inválida para a vida em resultado
de rude acidente que sofri na infância,
um visitante celeste veio e me falou,
dizendo: “Tenho uma mensagem para
dares.” “Ora”, pensei, “há certamen-
te um grande engano em qualquer
parte.” Novamente foram proferidas as
palavras: “Tenho uma mensagem para
dares. Escreve para o povo aquilo que
eu te der.” Até então minha mão trê-
mula não havia sido capaz de escrever
uma linha. Respondi: “Não posso fazê-
lo; não posso fazê-lo.” “Escreve! escre-
ve!” foram as palavras proferidas outra
vez. Tomei papel e pena, e comecei a
escrever; e quanto tenho escrito desde
então, é impossível calcular. A força, o
poder, era de Deus.
Desde aquele tempo, os livros que
tenho escrito têm sido publicados em
muitas, muitas línguas, e têm ido a
todas as partes da Terra. [...] Ao Senhor
seja todo louvor.
Vontade de progredir
Se cada um avaliasse a responsabili-
dade que tem diante de Deus por sua
influência pessoal, de maneira alguma
seria um ocioso, mas cultivaria suas
aptidões e exercitaria cada faculdade, a
fim de poder servir Àquele que o com-
prou com o próprio sangue.
Os jovens, especialmente, devem sen-
tir que lhes cumpre exercitar a mente, e
aproveitar toda oportunidade de se tor-
nar inteligentes, para oferecerem serviço
aceitável Àquele que por eles deu Sua
preciosa vida. E ninguém cometa o erro
de se considerar tão bem educado que
não tenha mais necessidade de estudar
livros ou a Natureza.
Devemos aprender a estimar devida-
mente as faculdades com que Deus nos
dotou. Se um jovem tem de começar
no primeiro lance da escada, não se
deve desanimar, mas assentar subir
lance após lance.
Digo-vos aquilo que sei, para vosso
encorajamento e conforto. Ponhamo-
nos todos na devida relação para com
Deus. [...] Moldar o caráter. Empregai
toda capacidade, todo nervo, todo mús-
culo, pensamento e ação para a glória
de Deus. Vereis então, como nunca o
fizestes, indo adiante de vós a salvação
de Deus.
DIÁLOGO 26 • 3 2014
A verdadeira sabedoria
Rapazes e moças podem obter a mais
elevada educação, e ainda ser igno-
rantes dos primeiros princípios que os
tornariam súditos do reino de Deus. O
saber humano não pode habilitar nin-
guém para o reino celeste. Os súditos
do reino de Cristo não se tornam tais
por formas e cerimônias, ou por lon-
gos estudos de livros. “E a vida eterna
é esta: que Te conheçam a Ti só, por
único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo,
a quem enviaste” (João 17:3).
As Escrituras do Antigo e do Novo
Testamentos devem ser diariamente
estudadas. O conhecimento de Deus e
Sua sabedoria advêm ao estudante que
aprende constantemente o que respeita
a Seus caminhos e obras. A Bíblia deve
ser nossa luz, nosso educador. Quando
a juventude aprender a crer que Deus
envia o orvalho, a chuva e a luz solar do
céu, fazendo com que a vegetação flo-
resça; quando compreender que todas
as bênçãos dEle provêm, e que Lhe
são devidas ações de graças e louvores,
aprenderão a reconhecer a Deus em
todos os seus caminhos e a se desem-
penharem fielmente de seus deveres
dia a dia; Deus estará em todos os seus
pensamentos.
Ensinados por Deus
Os jovens não se tornarão mental-
mente fracos ou ineficientes por se
consagrarem ao serviço de Deus. Para
muitos, educação significa conhecimen-
to de livros; mas “o temor do Senhor
é o princípio da sabedoria” (Salmos
111:10). A mais tenra criança que ame
e tema a Deus é maior aos Seus olhos
que o mais talentoso e douto que negli-
gencia a questão da salvação pessoal. A
juventude que consagra o coração e a
vida a Deus, está-se pondo em ligação
com a Fonte de toda sabedoria e exce-
lência.
Se os jovens aprenderem tão-somente
do Mestre celestial, como fez Daniel,
saberão por si mesmos que o temor
do Senhor é, na verdade, o princípio
da sabedoria. Havendo posto assim
um firme fundamento podem, como
DIÁLOGO 26 • 3 2014
Daniel, tirar de todo privilégio e opor- Caso aproveitem da melhor maneira o
tunidade o melhor proveito, e elevar-se conhecimento que possuem, [...] Deus
a qualquer altura nas realizações inte- lhes abrirá veios de sabedoria, e deles se
lectuais. Consagrados a Deus, e tendo poderá dizer, como outrora acerca dos
a proteção de Sua graça e a vivifica- filhos dos hebreus: Deus lhes deu sabe-
dora influência de Seu Santo Espírito, doria e entendimento.
manifestarão mais profundo poder
intelectual. [...] Unicamente por meio Neste artigo foram usados parágrafos
da pesquisa das Escrituras pode esse extraídos dos seguintes livros de Ellen
conhecimento ser atingido. G. White:
# Mensagens Escolhidas, v. 1, capítulo
Uma norma elevada 11.
Muitos dos que são classificados para # Mensagens aos Jovens, capítulos
fazer um trabalho excelente obtêm 55-57.
pouco porque pouco empreendem.
Muitos atravessam a vida como se não
tivessem nenhum grande objetivo,
nenhum ideal a atingir. Uma das razões
por que tal sucede é avaliarem-se abai-
xo de seu valor real. Cristo pagou um
infinito preço por nós, e deseja que nos
mantenhamos à altura do preço que
custamos.
Não vos contenteis em atingir um
ideal baixo. Não somos o que podería-
mos ser e o que Deus quer que sejamos.
Deus nos concedeu faculdades de raci-
ocínio, não para que fiquem inativas
ou sejam pervertidas por ocupações
terrenas e sórdidas, mas para que sejam
desenvolvidas ao máximo, refinadas,
santificadas, enobrecidas e empregadas
no avanço dos interesses do Seu reino.
Nunca penseis que já aprendestes o
suficiente, e que podeis afrouxar agora
Assinatura
vossos esforços. O espírito cultivado é gratuita para
a medida do homem. Vossa educação
deve continuar através da vida inteira;
a biblioteca de
deveis aprender todos os dias, e pôr em sua faculdade ou
prática os conhecimentos adquiridos.
Lembrai-vos que em qualquer posi- universidade!
ção em que servirdes estais revelando
Deseja ver a Diálogo disponível na
motivos, desenvolvendo o caráter. Seja biblioteca de sua faculdade ou universi-
qual for vosso trabalho, fazei-o com dade, de modo que seus amigos possam
exatidão, com diligência; vencei a incli- ter acesso à revista? Procure o bibliote-
nação de procurar uma ocupação fácil. cário e sugira que solicite uma assinatura
Conquanto uma boa educação, se ali- gratuita, usando papel timbrado da
ada à consagração naquele que a possui, instituição. Cuidaremos do restante! As
seja grande benefício, os que não têm cartas devem ser endereçadas a: Dialogue
o privilégio de adquirir elevado grau Editor-in-Chief; 12501 Old Columbia
de cultura intelectual não precisam Pike; Silver Spring, MD 20904-6600;
pensar que não lhes seja possível pro- EUA.
gredir na vida intelectual e espiritual.
35
E s p a n h o l • F r a n c ê s • I n g l ê s • I t a l i a n o • P o r t u g u ê s

A lgumas coisas nunca mudam – assim como

a missão e o foco da Diálogo. Mas outras coisas são
transformadas e ampliadas – é o que acontece com os
novos caminhos para você ter acesso à revista. Além da
versão impressa, a Diálogo está disponível on-line,
no seguinte endereço: dialogue.adventist.org.
No site da Diálogo, você terá a oportunidade de ler
todos os artigos, desde a primeira edição até a mais
recente. Além disso, poderá ler os artigos em qualquer
um dos quatro idiomas em que a Diálogo é publicada.
Espalhe essa boa notícia aos seus amigos e colegas para
que todos tenham acesso a esta revista. Queremos que a
Diálogo esteja disponível a todas as pessoas e em todos
os lugares!

dialogue.adventist.org.

36 DIÁLOGO 26 • 3 2014