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PELAS MÃOS DA CRIMINOlOGIA· Ocontrole penal para além da (des)ilusão

Delineia-se, assim, o deslocamento de um garantismo abstrato,


que segue guiando a Dogmática penal enquanto "Ciência normal';
bem como as práticas dogmáticas no sistema penal, para um garan-
tismo crítico e criminologicamente fundado, que orienta a temati-
zação da "ciência extraordinária'; que resgata e reatualiza, por sua
vez, as próprias promessas da Dogmática penal para a modernidade,
repensando-as sobre a seletividade estigmatizante e a letalidade dos
sistemas penais vigentes. É este garantismo que tem vindo a pensar
e a pautar decisões inéditas no sistema penal, produzindo compen- 3 Politicidade do Direito Penal:
sação e tensão no ritmo-da seletividade estigmatizante e mesmo
da barbárie penal, e derrubando inclusive prisões genocidas; é este
..Do Limite do Poder Penal ao Poder
. ..

garantismo que entreabre um horizonte de esperança (de esperan- Penal sem Limite
tar), seja no sentido da urgente responsabilidade que pesa sobre os
operadores de contenção da violência institucional, seja no sentido
do derradeiro imperativo humanista e societário de invenção de mo-
delos não violentos de controle social. o conceito paradigmático de Direito penal na modernidade é o
de um Direito identificado com a lei (normatividade) e a Ciência Pe-
nal dogmática ou Dogmática penal, racionalizadordo poder punitivo
estatal e assim sacralizado como Direito garantista.

Abrigado na ideologia normativista e liberal, o Direito penal é


invariavelmente definido e tratado na manualística dogmática, até
hoje, como um conjunto de normas que definem crimes e impõem
penas que, vertidas em objeto da construção dogmática, objetivam
racionalizar o poder punitivo estatal. No mesmo movimento em que
o Direito penal aparece como limite normativo e técnico-científico
do poder punitivo, o poder punitivo se converte emjus puniendi, di-
reito estatal de punir.

Produz-se, assim, extraordinária despolitizaçãO e neutralização,


tanto do poder que é visceralmente político (o poder penal do Esta-
do) quanto do Direito (penal), que o instrumentaliza e legitima pela
legalidade. Consegue-se a proeza de apresentar a questão da pena
como não política.

Amalgamado com o conceito normativista e liberal dopoder e do


político, radica-se, a sua vez, na manualística dogmática do Direito
penal, um conceito consensual de sociedade concebida como uma
realidade atomizada, ficticiamente conformada por sujeitos de direi-

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3 Politicidade do Direito Penal: Do Limite do Poder Penal ao Poder Penal sem Limite
PELAS MÃOS DA CRIMINOLOGIA· O controle penal para além da (des)ilusão

De fato, Max Weber289, ao caracterizar o Estado moderno oci-


J livres e iguais (liberdade e igualdade jurídico-formal), para logo
dental, afirmava que a pretensão do monopólio da violência física
seguir ser maniqueistamente dividida entre o bem (os cidadãos,
legítima (legitimada pela legalidade) é o que caracteriza o aspecto
IS homens "médios" e as mulheres "honestas" do Direito penal) e o
especificamente político da dominação numa sociedade territorial-
nal (bandidos e prostitutas), cujo único dissenso, no contrato social
mente demarcada. A pena é o núcleo do exercício do poder, do con-
ssim firmado, transita do conflito interindividual à criminal idade.
trole e do domínio numa sociedade.
Jestasociedade não se visualizam conflitos de classe, étnicos, raciais
ru quaisquer outros, dominações de gênero, preconceitos raciais, as- É plena de.sentido, nessa perspectiva, a conclusão de Juarez Ciri-
imetrias, subordinações ou discriminações; não se visualizam, numa no dos Santos-?", de que:
ialavra, violências que não a violência individual do crime de rua
A teoria da pena coloca o profissional da-justiça penal em contato
:::ontrao patrimônio individual e contra os corpos).
com as estruturas e os mecanismos do poder políticodo Estado,
Essas concepções servem tanto ao normativismo dogmático mais do que qualquerteoria jurídica. Descrever atearia da pena é
[uanto ao positivismo criminológico, tanto ao Direito penal quanto definir o discurso e a prática do poder punitivo, na dupla dimen-
I Criminologia etiológica. Em rigor, não são outros os pressupostos são da ideologia penal.
ubjacentes à clássica concepção de criminal idade de Rafael Garofa-
Com efeito, desde que Estado moderno foi caracterizado pela
J288, ao distinguir, no século XIX e com força secular, entre crimes na-
pretensão de deter o monopólio da violência física, que constitui o
urais e crimes artificiais: uma distinção que irá entrar para a história
aspecto especificamente político da dominação numa sociedade
10 Ocidente capitalista, consolidando a "naturalização" da criminali-
territorialmente delimitada'?'. o sistema penal (normas, Polícia, Mi-
Iade, exceto a criminalidade política, a qual se reconhecia o estatuto
nistério Público, Justiça, prisão, saberes e ideologia etc.), instituciona-
íe uma construção artificial. Com efeito, os denominados crimes po-
lização desta violência, aparece centralizado no Estado. Ainda, desde
íticos serão crimes artificiais ou artifidalmente construídos porque
que a legitimidade desta violência física se refugia no "reino da lei':
:rimes contra o Estado ou a ordem política, dimensão à qual se redu-
isto é, na legalidade, ele aparece também como um sistema jurídico-
:em precisamente os conceitos (liberais) de poder e de político.
-penalmente racionalizado.
No marco do Direito penal esta identificação continua eterniza-
Assim, o Estado moderno, ao mesmo tempo em que encontra na
Ia. É apenas no marco das Criminologias críticas, desenvolvidas com pena um dos seus instrumentos de violência e poder político e de
)ase no paradigma da reação ou controle social, que o conceito do
controle e domínio necessitou formalmente, desde o seu nascimen-
oolítico será submetido a um revision ismo, diga-se de passagem,
to, de discursividades (normas, saberes, ideologias) tão aptas para
»astante tardio. De fato, nascerá daí uma concepção micropolítica e
exercício efetivo deste poder e controle quanto para a s,uajustifica
nacrossocial que reconhecerá finalmente aquilo que desde discipli-
las como a História, a Historiografia, a Teoria política, a Sociologia, a
:conomia política e a Economia política da pena já havia sido reco-
lhecido há quase um século: a politicidade do mecanismo punitivo.

289WEBER, Max. o político e o cientista. Trad. Carlos Grigo Babo. Lisboa: Presença,
1979. p. 17. ARGÜELLO, Katie Silene Cáceres. O {caro da modernidade: direito e po-
'88Segundo a distinção entre delitos "naturais" e "artificiais'; devida a Rafael Garofalo lítica em Max Weber. São Paulo: Acadêmica, 1997.
(Criminologia: estudo sobre o delito e a repressão penal. Tradução por Júlio Matos. 290SANTOS, Juarez Cirino dos. Teoria da pena. Fundamentos políticos e aplicação judi-
São Paulo: Teixeira & Irmãos, 1983), considera-se que apenas os delitos "artificiais" re- cial. Curitiba: ICPClLumen Juris, 2005. v. 1. p. 5.
presentam, excepcionalmente, violações de determinados ordenamentos políticos e 291WEBER, Max. O político e o cientista. Trad. Carlos Grigo Babo. Lisboa: Presença, 1979. p. 17.
econômicos e resultam sancionados em função da consolidação destas estruturas.

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3 Politkiâade do Direito Penal: Do Limite do Poder Penal ao Poder Pena/sem Limite
PELAS MÃOS DA CRIMINOLOGIA • O controle penal para além da (des)ilusão
e

Ora,se o Direito penal, entendido com norma e Dogmática, norma e


ção e legitimação292, e entre os quais o Direito e a Dogmática penal
técnica ou tecnologia, não é apenas discursividade de limite, mas discur-
ocupam um lugar central. sividade e ideologia de programação, operacionalização e legitimação
Contextualizadamente, na síntese Zaffaronf?": do poder punitivo,ele não paira no camarim da história, externamente
ao poder que pune, mas sim é coconstitutivo do poder punitivo e do
o saber jurídico-penal se desenvolveu em torno do exercício do
sistema penal em que este poder se institucionaliza. Portanto, é consti-
poder punitivo no seio da cultura europeia, logo planetarizada com
tutivo da construção social da criminalidade, da criminalização seletiva
o colonialismo, o neocolonialismo e a globalização. O poder puni-
tivo constitui o eixo sobre o qual se hierarquizaram as sociedades e estigmatizante, da distribuição desigual e às vezes genocida que o po-
europeias, e essa corporativização verticalizante foi condição indis- der faz do status social de criminosos (e vítimas), e que a sociedade e o
pensável para a planetarização posterior de seu poder político e Estado brasileiro têm historicamente materializado.
econômico. A matéria com que o direito penal trabalha é, assim, a
Outra inferência dá conta de que há uma histórica violação de díreitos .
essência do poder, no milênio que culmina. Não é de estranhar que
justamente os saberes mais vinculados à essência do poder sejam
humanos da qual o Direito penal declaradarnente'qarantista" coparticipa,
os que mais facilmente sofrem a perda de memória, porque a ar- abrigado na neutralização política, liberal e normativista, segundo a qual
bitrariedade do poder guarda uma relação inversa com a perda da o problema só se torna político quando se está diante de crimes contra o
memória; a amnésia social é o terreno fértil da manipulaçãq de von- Estado,que recebem o nome, propriamente, de crimes políticos.
tades carente de razão crítica.
Ao falar do Direito penal e do político na contemporaneidade, em
Criminologicamente, O Direito penal não será mais concebido tempos de globalização do capitalismo sob a ideologia neoliberal, so-
como uma dimensão externa de racionalização da pena e do poder mos remetidos, ainda, a outra e derradeira questão: a morte de uma
punitivo, mas sim como uma dimensão interna (de programação, forma tradicional de fazer política no espaço público democrático e
operacionalização e autolegitimação) do exercício do poder punitivo pluralista, aquela que passava centralmente pelo Estado e seus meca-
e, portanto, coconstitutivo do controle e do domínio por ele exerci- nismos de representação e decisão política. Estamos diante da fragi-
dos. Restitui-se ao Direito penal e à pena o seu caráter visceralmente Iização e da crise destes mecanismos (legislativo, executivo, sistema
político, a partir - e isto é fundamental - de uma visão unitária do representativo) e da capacidade estatal de resolver problemas pela via
mecanismo punitivo, na qual criação, aplicação e execução da norma democrática e a consequente transformação da política em política-
penal são redefinidas, cada qual com sua especificidade e diferença -espetáculo, com a produção de um repertório de respostas ilusórias
no continuum e na unidade funcional do processo de criminalização, aos problemas, nas quais o Direito penal e a criminalização (primária)
como criminalização primária (criação da lei penal), criminalização ascendem à principal resposta. Estamosdiante da colonização da polí-
secundária (aplicação da lei penal) e estigmatização e construção de tica pelo espetáculo e da colonização da política como espetáculo pela
"carreiras desviadas" (execução penal) etc. Política criminal como espetáculo; diante da criminalização ilimitada
de condutas, problemas e conflitos sociais, com um grave comprome-
timento democrático. A relação entre o Direito penal e o político apa-
292 BUSTOS RAMfREZ, Juan. Estado y control: Ia ideologia dei control y el control de Ia rece, nesta perspectiva, não apenas mais visceral do que nunca, mas
ideologia. In: BERGALLI, Roberto, RAMfREZ, Juan Bustos (Coords.), EI pensamento
criminológico 11.Estado y contrai. Barcelona, Península, p. 11-35,1983. p. 31; CAR-
politicamente perversa, politicamente autoritária.
RASQUILLA, Juan Fernández. Los derechos humanos como barrera de contención y
Q Ocorre que o Direito penal não é mais o limite punitivo do político
criterio autoregulador dei poder punitivo. Nuevo Foro Penal. Bogotá: Themis, n 39,
p. 58-88, jul./set. 1988. p. 78. (visceralmente jurídico) nem se basta com a programação, a opera-
293 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Prólogo de BATISTA, Nilo. Matrizes Ibéricas do sistema pe- cionalização e a legitimação punitiva do político (visceralmente poli-
nal brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia/Freitas Bastos, 2000.
v. L p. 11-12.

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PELAS MÃOS DA CRIMINOLOGIA· Ocontrole penal para além da (des)ilusão 3 Politicidade do Direito Penal: Do Limite do Poder Penal ao Poder Penal sem Limite

tico), mas sim passa a ocupar, ora simbólica ora instrumentalmente, Há mortes em confrontos armados (alguns reais e a maioria si-
o próprio centro do político, que com ele se mimetiza, a ponto de mulada, ou seja, fuzilamentos sem processo). Há mortes por gru-
converter o Estado densamente em Estado penal, num tempo em pos parapoliciais de extermínio em várias regiões. Há mortes por
que a pena, notada mente de prisão, não apenas perdeu a funciona- grupos policiais ou parapoliciais que implicam a eliminação dos
lidade declarada e o sentido, dando vazão ao cenário das "penas per- competidores em atividades ilícitas (disputa por monopólio de
distribuição de tóxicos, jogo, prostituição, áreas de furtos, roubos
didas" (Louk Hulsrnan-?'), mas em grande medida a perdeu porque
domiciliares etc.). Há 'mortes anunciadas' de testemunhas, juizes,
órfã está de todo limite. Se o Direito penal aí subsiste, e só faz se agi-
fiscais, advogados, jornalistas, entre outros. Há mortes de tortu-
gantar com a criação a cada dia de mais leis penais e programações rados que 'não aguentaram' e de outros com que os torturadores
criminalizadoras, e se as penas se desnudam como penas ilimitadas 'passaram do ponto: Há morte> 'exemplares' nas quais se exibe o
(penas arbitrárias e cruéis) no limite genocidas (penas de morte indi- cadáver, às vezes mutilado, ou se. enviam partes do cadáver aos
retas), dentro e fora das masmorras prisionais como penas sem fun- familiares, praticadas por grupos de extermínio pertencentes ao
ções úteis e sem sentido, é porque empírica e criminologicamente pessoal dos órgãos dos sistemas penais. Há mortes por erro ou
demonstrado parece estar, limite da pena, o Direito penal, na melhor negligência, de pessoas alheias a qualquer confi ito. Há mortes do
das hipóteses, não é mais. pessoal dos próprios órgãos do sistema penaLHáaltafrequência
de mortes nos grupos familiares desse pessoal cometidas com as
A conclusão fundamental de Zaffaroni-" nesse sentido é: (a) na mesmas armas cedidas pelos órgãos estatais. Há mortes pelo uso
América Latina o sistema penal não viola unicamente os direitos hu- de armas, cuja posse e aquisição são encontradas permanente-
manos dos criminalizados, mas de seus próprios operadores, dete- mente em circunstâncias que nada têm a ver com motivos dessa
riorando regressivamente os que o manejam ou assim o creem; (b) instigação pública. Há mortes em represália ao descumprimento
de palavras dadas em atividades ilícitas cometidas pelo pessoal
a deslegitimação do sistema penal é não apenas teórica, mas visivel-
desses órgãos do sistema penal. Há mortes violentas em motins
mente empírica, resultante da evidência dos próprios fatos.
carcerários, de presos e de pessoal penitenciário. Há mortes por
A "ética deslegitimante" do Direito penal é a própria morte hu- violência exercida contra presos nas prisões. Há mortes por do-
mana, ou, mais dramaticamente, "a magnitude e notoriedade do fato enças não tratadas nas prisões. Há mortes por taxa altíssima de
morte que caracteriza seu exercício de poder': de forma que implica suicídios entre os criminalizados e entre o pessoal de todos os
órgãos do sistema penal, sejam suicídios manifestos ou incons-
"um genocídio em marcha, em ato'?", pois, como dramaticamente
cientes. Há mortes [...l'
mapeia Zaffaroni?", na geografia do poder punitivo:
A partir dessa perspectiva é que se justifica e se compreende a
294 HULSMAN, Louk; BERNAT DE CELlS, Jacqueline. Penas perdidas: o sistema penal em
função de "salvamento de vidas humanas'; que Zaffaronf''" atribui à
questão. Tradução por Maria Lúcia Karam. Rio de Ja neiro: Luam. 1993. Criminologia, em especial na América Latina:
295 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda de legitimidade do
sistema penal. Tradução por Vânia Romano Pedrosa e Amir Lopez da Conceição. Rio [...] a criminologia não é 'uma cíência, mas o saber - proveniente
de Janeiro: Revan, 1991.p. 143-144. de múltiplos ramos - necessário para instrumentalizar a decisão
296 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. La crítica ai derecho penal y el porvenir de Ia dogmática
política de salvar vidas humanas e diminuir a violência política
jurídica. In: CUESTA, Jose Luis de Ia et 01.(Comp.). Criminologia y derecho penal ao ser-
vicio de Ia persona. Libro-Homenage aI profesor Antonio Berinstaino. San Sebastián:
em nossa região marginal com vistàs a se alcançar, um dia, a su-
Instituto Vasco de Criminologia, 1989. p. 434; ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das pressão dos sistemas penais e sua substituição por formas efeti-
penas perdidas: a perda de legitimidade dosisterna penal. Tradução por Vânia Roma-
no Pedrosa e Amir Lopez da Conceição. Rio de Janeiro: Revan, 1991. p. 38, 67.
297 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda de legitimidade do 298 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda de legitimidade do
sistema penal. Tradução por Vânia Romano Pedrosa e Amir Lopez da Conceição. Rio sistema penal. Tradução por Vânia Romano Pedrosa e Amir Lopez da Conceição. Rio
de Janeiro: Revan, 1991. p. 125. de Janeiro: Revan, 1991. p. 171-172.

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PELAS MÃOS DA CRIMINOLOGIA· O controle penal para além da (des)i1usão

vas de solução de conflitos (se estes necessitarem ser resolvidos,


já que, por um lado, nem todos os conflitos necessitam resolver-
-se e, por outro, não existe sociedade com capacidade de resolver
todos eles.

Parao jurista, demonstrar a politicidade do Direito penal talvez te-


nha sido o legado mais constrangedor da deslegitimação da pena de
prisão e do controle penal moderno, operada pelas Criminoloqias de
base crítica, tanto na academia quanto na empiria (nos fatos), justo
porque confronta, a um só tempo, o mito da neutralidade ideológica 4 Identidade e Funcionalidade do
do Direito penal (dos crimes e das penas) e a sacralizada autoimagem
penalística garantista. .Judiciário: A Colonização da Justiça
Em tempos de poder punitivo nu - de penas perdidas produzin- pelo Controle PenalnºÇªpjtªJi~Inº
do, mais doque estigmatização seletiva, crueldade, torturas e mortes
diretas e indiretas de controlados e controladores -, oDireito penal
Globalizado Neoliberal"?"
está convocado a sair do camarim manualístico da história para revi-
sitar o garantismo abstrato, que segue declarado em murado sono
dogmático, enquanto a violência punitiva vai fazendo suas vítimas. Procuro desenhar, aqui, um horizonte possível para a análise da
identidade e funcionalidade do modelo de Poder Judiciário que
Se a luta contra o arbítrio punitivo parece ser hoje mais impera-
se constitui na "modernidade" eurocêntrica, marcado por exigên-
tiva do que nunca, esta luta passa fundamentalmente pelo revisio-
cias contraditórias de regulação social e emancipação hurnana.ê??
nismo e pela reconstrução do garantismo dogmático abstrato, cujo
exigências estas que se têm resolvido, no capitalismo globalizado
imperativo, a sua vez, é a aceitação da deslegitimação do sistema
neoliberal, excessivamente a favor da regulação, n um movimento
penal e da pena de prisão, a recepção e a interação com o saber cri-
desequilibrado de colonização da justiça pelo controle penal (justiça
minológico crítico acumulado hámais de meio século. Esta interação
vem sendo protaqonizada há tempo, inclusive no Brasil, pelo próprio
Penalismo crítico, entreabrindo o caminho mais profícuo do diálogo 299 Este texto foi originariamente escrito como editorial da Revista Katá/ysis, do Progra-
ma de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina,
criminodogmático e de uma nova relação entre Direito e Dogmática
em volume dedicado à temática "Poder Judiciário, cultura e sociedade'; a saber: AN-
penal e Criminologia, que a democratização do controle penal brasi- DRADIi, Vera Regina Pereira de. A colonização da justiça pela justiça penal: potcn-
leiro está a reivindicar. cialidades e limites do judiciário na era da globalização ncoliberal. Revista Katá/ysis.
Universidade Federal de Santa Catarina. Centro Socioeconômico. Departamento de
Serviço Social. Florianópolis, nQ1, p. 11-14, junho 2006. Posteriormente, foi objeto
das seguintes publicações: ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A colonização da jus-
tiça pela justiça penal: potencialidades e limites do judiciário na era da globalização
neoliberal. Revista de Estudos Criminais. Porto Alegre, Nota Dez, v. XIX, nQ 33, dez.
2009, p. 41-48; ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A colonização da justiça pela jus-
tiça penal: potencialidades e limites do judiciário na era da globalizasão neoliberal.
In: LIMA, Joel Corrêa; CASARA, Rubem R.R(Orgs.). Temas para uma perspectiva crítica
do Direito. Homenagem ao Professor Geraldo Prado. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2010. p. 1.031-1.036.
,ooTomando como base a caracterização ambígua de modernidade esboçada no texto
anterior, ao qual remeto o leitor, especialmente, às páginas de 188 a 191.

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PELAS MÃOS DA (RIMI NOLOGIA • O controle penal para além da (des)ifusão 4 Identidade e Funcionalidade do Judiciário: ..•

penal), definindo os contornos da crise do Judiciário e entreabrindo tutiva de sua matriz. Não é por outra razão que o rosto deste sobe-
com radicalidade o interrogante sobre as responsabilidades institu- rano produziu, para funcionalizá-Io, uma cultura jurídica positivista,
cionais dos atores do controle. de inspiração liberal (formalista e conservadora), cujo subproduto
mais secularizado é um saber, a chamada Dogmática jurídica, disci-
O Poder Judiciário que herdamos é um elemento coconstitutivo
plina esta bifurcada em tantos ramos quantos direitos se criaram e se
da modernidade, de seu desenvolvimento contraditório e, portanto,
criam, e que constitui até hoje a matriz da formação dos operadores
de seus déficits e excessos funcionais, de suas promessas não cum-
jurídicos, produzindo um jurista-tipo (técnico) e um senso comum
pridas e de sua crise (que aparece como uma crise estrutural), ao
jurídico e punitivo que se mantêm e se encontram fortalecidos em
tempo em que constitui um locus de seus sintomas. tempos de globalização neoliberal. É por isso que a lógica estrutural
Qual é, pois, a identidade ou rosto do "Poder Judiciário"que emer- de funcionamento do Judiciário no universo do sistema de justiça é a
o
ge nesse modelo? Emerge rosto de um poder que,sacralizado pela seletividade (a gestão diferencial da justiça), que expressa e reprod uz
teoria da separação dos poderes ·e iristitucionallzado no marco do a desigualdade de classe, a hierarquia de gênero e a discriminação
Estado de direito liberal edo direito estatal {a lóqica mora sua contradição estrutural com a igualdade jurídica (cida-
do Direito), deveria confinar o exercício de sua soberania "à boca que dania); seletividade que o tema do acesso àjustiça apenas tangencia,
pronuncia as palavras da lei"301.Um Poder Judiciário independente e epidermicamente.
autônomo, signo da neutralidade ideológica que, garantindo-lhe a
Essalógica, empiricamente visível na justiça penal, estende-se em
serena condição de árbitro imparcial dos conflitos (interindividuais) e
maior ou menor grau a todo o modelo jurídico moderno. Se a neutra-
a segura aplicação da lei, garantidora dos direitos individuais, replica-
lidade deste "poder" reverteu nas "cinzas de um passado que nunca
va a confortável separação liberal entre poder (o Legislativo) e Direito
exlstiu'?", deixou-nos ele, entre tantas heranças, a força simbólica do
(o Judiciário despolitizado). mito. Imperioso, pois, enfrentar o mito: para além do mito da neutra-
Dessa forma, o Judiciário emerge na modernidade como porta- lidade, o mito da unidade.
dor de um conjunto de promessas ou funções declaradas, vincula-
De fato, se até aqui busquei apreender a unidade funcional do
das ao pilar da emancipação (defesa de interesses e direitos, justiça, Judiciário no universo do sistema de justiça e sua conexão funcional
solução de conflitos) e esta discursividade de um poder a serviço do com a sociedade (seletividade reprodutora de desigualdades), é pre-
homem constitui o horizonte ideológico sob o qual se desenvolve ciso passar agora do Judiciário no singular para oJudiciário no plural;
até hoje a sua legitimação e o horizonte simbólico onde têm sido
é preciso pluralizar este sujeito monumental para reencontrar as jus-
travadas infindáveis lutas pela efetividade dos direitos humanos e da
tiças plurais por meio das quais tanto aquela ambiguidade potencial
cidadania, com um impacto cotidiano sobre vidas humanas que não
quanto aquela unidade funcional se materializam. Primeiramente,
é possível contabilizar. porque o Judiciário não está só: ele integra um sistema de justiça
Mas, não obstante seus potenciais emancipatórios, o Judiciário- por meio do qual exerce a sua funcionalidade a várias mãos formais
-instituição foi desde sempre um braço nobre da regulação social (legislador, Polícia, Ministério Público, advocacia, prisão) e informais
e, portanto, um poder funcionalizado para a reprodução das estru- (escola, família, mídia, mercado de trabalho, religião, medicina, psi-
turas sociais (o capitalismo patriarcal e racista) de suas instituições
e relações sociais, marcado inteiramente pela ambiguidade consti- 302 SOUSA SANTOS,Boaventura de. Da sociologia da ciência à política científica. Revista
Crítica de Ciências Sociais. Coimbra, n" 1, p. 11-56, junho 1978. Coimbra. Disponível
em: <http://br.librosintinta.in/biblioteca/ver·pdf/www.boaventuradesousasantos.
301 MONTESQUIEU,Charles de Secondat. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, pt/ media/ pdfs/Da_socio log ia_ da_ ciencia_a_polit ica_cien tif ca_RC CS 1 .PDF.htx>.
1973. (Coleção Os pensadores, n 21.)
Q Acesso em: 10 jul. 2012.

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PELAS MÃOS DA CRIMINOLOGIA· O controle penal para além da (des)i1usão 4 Identidade e Funcionalidade do Judiciário: ...

quiatria etc.). A seguir, porque essa funcionalidade é exercida sobre de inclusão, a justiça penal é dimensão de exclusão social. São
objetos diferenciados, podendo-se falar, parafraseando Foucault, em processos contraditórios, então, no sentido de que a construção
arquipélagos judiciais: a divisão entre justiças militar e comum, pe- (instrumental e simbólica) da criminalidade pelo sistema de jus-
nal e civil, do trabalho, tributária, eleitoral, da infância e adolescência, tiça penal, incidindo seletiva e de modo estigmatizante sobre a
ambiental, do consumidor etc. pobreza e a exclusão social, preferencialmente a masculina e de
cor (veja-se a clientela da prisão nas sociedades capitalistas, pa-
_ Nenhuma diferenciação, entretanto, ilustra melhor a ambi-
triarcais e racistas), reproduz, impondo-se como obstáculo central
guidade constitutiva do Judiciário e a crescente colonização da
à construção da respectiva cidadania.
emancipação pela regulação do que a referência às funções politi-
camente contraditórias que lhe foram atribuídas, a saber, de ser um A era da globalização do capitalismo, que arrasta consigo a glo-
dos protagonistas da construção social da criminalidade (da crimi- balização dos conflitos e dos riscos, é marcada, sob o domínio le-
nalização) e da construção social da cidadania. Daí resulta seu exer- gitimador da ideologia neoliberal, por um duplo movimento: (a)
cício de poder como justiça, que deve operacionalizar as promessas maximização do poder econômico globalizado versus minimização .
cidadãs potencialmente emancipatórias gravadas na Constituição (seletiva) do poder político nacional e (b) fragilização dos canais tra-
da República e as promessas crim inalizadoras da legislação penal dicionais de mediação política entre Estado e comunidade, ou seja,
que, não deixando de estar contidas no projeto constitucionaÇsão dos atores políticos tradicionais (partidos, parlamento, administra-
abertamente reguladoras. No exercício da primeira função, concor- ção) e do espaço público democrático.
re para distribuir seletivamente crimes e penas: o status negativo
No prolongamento desse movimento e como seu retrato in-
de criminosos e vítimas. No exercício da segunda, concorre para
trassistêmico se desenvolve outro, de reengenharia institucional:
distribuir seletivamente direitos e deveres sociais: o status positi-
o movimento de maximização do Estado penal versus minimiza-
vo de cidadania, Tais funções se antagonizam nos binômios punir
ção do Estado social (a que venho denominando Estado do mal-
versus prover e regulação violenta versus emancipação possível, no
-estar penal). Ao Estado neoliberal mínimo, no campo social e da
limite da regulação (compensação da seletividade c1assista,como
cidadania, passa a corresponder um Estado máximo, onipresente
na justiça do trabalho).
e espetacular, no campo penal. O Estado não apenas se retira da
Dessarte, enquanto a cidadania recoberta pelo direito consti- intervenção na ordem econômica e social, agravando o profundo
tucional é dimensão de luta pela emancipação humana, em cujo déficit de promessas não cumpridas, em cujo centro está o déficit
centro radica(m) oís) sujeito(s) e sua defesa intransigente (exercí- de direitos humanos e cidadania, sobretudo os de terceira geração,
cio de poder emancipatório), a criminalização pela justiça penal mas nesta retirada substitui o modelo de combate à pobreza, típico
(exercício institucionalizado de poder punitivo) é dimensão de do Welfare 5tate, pelo modelo de combate aos pobres e excluídos
controle e regulação social, em cujo centro se radica a reprodução dos benefícios da economia globalizada, um modelo abertamente
de estruturas e de instituições sociais e não a proteção do sujeito, excludente: assim como o poder está nu, o limite da luta de classes
ainda que em nome dele fale e se legitime. Enquanto a cidadania também está. Os déficits de dívida social e de cidadania são am-
é dimensão de construção de direitos e necessidades, a justiça pe- pla e verticalmente compensados com excessos de criminalização;
nal é dimensão de restrição e violação de direitos e necessidades. os déficits de terra, moradias, educação, estradas, ruas, empregos, j

Enquanto a cidadania é dimensão de luta pela afirmação da igual- escolas, creches e hospitais com a multiplicação de prisões; a ins-
dade jurídica e da diferença das subjetividades, a justiça penal é trumentalidade da Constituição, das leis e dos direitos sociais com
dimensão de reprodução da desig ualdade e de desconstrução das o simbolismo da lei penal; a potencialização da cidadania com a
subjetividades. Em definitivo, enquanto a cidadania é dimensão vulnerabilidade à criminalização.

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PELAS MÃOS DA CRIMINOlOGIA· O controle penal para além da (des)ilusão 4 Identidade e Funcionalidade do Judiciário: ...

Estamos, assim, diante de uma autêntica "indústria do contro- humanos e da cidadania sonegados pelos sistemas econômico e po-
le do crime'?", que realizando a passagem do "Estado-providência" lítico. A tradicional onipotência do Poder Judiciário é (re)posta em
para o" Estado-penitência'?" cimenta as bases de um "genocídio em cena, como se ele fosse capaz de operacionalizar aquela justiça total
marcha'; de um "genocídio em ato':3osTrata-sede um movimento de e totalizadora, que significa tudo e nada, e que o poder dramatúrgico
colonização do Estado e da justiça pelo sistema de justiça penal, cuja da mídia retrata a cada entrevista focada na dor: o que você deseja?
consequência direta, possibilitada pela revolução tecnológica, é a Que se faça justiça!
transfiguração da política em política-espetáculo, com o fortaleci-
Estamos diantedo movimento de"judicialização" dos conflitos ou
mento singular da mídia como loeus de controle social e de legitima-
dos problemas sociais no interior do qual o movimento de crimina-
ção do poder. Esta "boca do poder" se encarrega de encenar, entre o
lização (o preferido do poder globalizado) aparece como coloniza-
misto do drama e do espetáculo, uma sociedade comandada pelo
dor intrassistêmico. Esta sobrecarga, que tem sua matriz formal no
banditismo da crirninalidadee ao tornar este "inimigo" cenicamente
Legislativo (hiperinflação legislativa e criminalizadora), ou seja, no
. maior que todos os demais coconstítui e amplifica um imaqinário so-
input do sistema de justiça, potencializa os sintomas e as críticas de
cial amedrontado. Eis aí a engenharia e a cultura do medo.
lhéficlêncláémorosidade da resposta judicial, ou seja, no output do
o Estado, impossibilitado de oferecer soluções instrumentais e sistema, originando, a sua vez, um extraordinário e errático reformis-
democráticas para a conflitividade crescente gerada pelas condi- mo jurídico, sempre em nome das promessas déficitárias, sempre em
ções excludentes do poder econômico globalizado e agravada por busca da "eficiência perdida" (por isso "eficientista"), ai nda que à custa
sua própria ausência, produz um espetáculo continuado de soluções da crescente e aberta negação das garantias individuais: vivemos um
simbólicas, sendo um dos meios preferidos do Estado-espetáculo a tempo de reformas em todos os campos do direito, sob o signo da
produção de leis que prometem mais direitos e mais soluções, nota- sintomatologia da crise do Judiciário, mediante as quais os arquipé-
damente penais, para solucionar o gigante da criminalidade que ele lagos tendem a se bifurcar (penas e medidas alternativas, juizados
próprio cria. especiais cíveis e criminais em níveis federal e estadual, sucessivas
reformas processuais e penitenciárias etc.).
Estamos diante dos fenõmenos de hiperinflação legislativa e de
função simbólica do Direito e do sistema de justiça: um intrincado e A crise do Judiciário enquanto coconstitutiva e sintoma da crise
contraditório mosaico de leis produzidas para não serem cumpridas, estrutural da modernidade estaria configurada pelo seu desenvol-
sem possibilidade de operacionalização pelo próprio Judiciário, mas vimento desequilibrado entre regulação (excessiva) e emancipação
apenas para gerar a ilusão de solução dos problemas. E é justamente (déficitária), desequilíbrio agravado no presente pelo excesso de cri-
nesta espetacular constelação de circunstâncias e vazio de respostas minalização e pela colonização da justiça pela justiça penal, excesso
que se deve buscar compreender a extraordinária sobrecarga de fun- tensionado, a sua vez, por uma também estendida demanda pelo
ções e responsabilidades que tem sido canalizada e transferida ao cumprimento das promessas déficitárias, seja trazendo à cena velhas
Poder Judiciário, talvez um dos atores mais demandados neste início demandas e direitos de efetividade nula ou relativa, seja trazendo à
secular, para que concretize as promessas de realização dos direitos cena necessidades e direitos inéditos, por atores individuais e coleti-
vos, impondo ao Judiciário uma tarefa imensamente superior à sua
intrínseca capacidade.
303 CHRISTIE, Nils. A indústria do controle do delito. A caminho dos GULAGs em estilo
ocidental. Tradução por Luis Leiria. São Paulo: Forense, 1998.
Se o Judiciário atravessa a modernidade profundámente ten-
304 WACQUANT, Lõic. As prisões da miséria. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
305 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda de legitimidade do sionado pelas exigências contraditórias de regulação/emancipação
sistema penal. Tradução por Vânia Romano Pedrosa e Amir Lopez da Conceição. Rio (dilema entre legalidade-segurança e justiça), sua ambiguidade
de Janeiro: Revan, 1991.

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PELAS MÃOS DA (RIM INOLOGIA • O controle penal para além da (destilusão

funcional tem um limite estrutural, além do qual não pode avançar


com a melhor reforma. O problema do Judiciário não é ou não é fun-
damentalmente de velocidade nem quantitativo, mas qualitativo,
relativo às estruturas, às instituições e à cultura da modern idade. O
Judiciário não pode, portanto, reverter os déficits estruturais da mo-
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dernidade, seja compensando as irresponsabilidades genocidas da
economia capitalista e do mercado (violência estrutural), seja se ocu-
pando dos vazios do Estado ou das molecagens de seus funcionários
(violência institucional), ainda quando afinado com a melhor e mais
democrática demanda comunitária, mas também não pode, ele pró-
prio, desresponsabilizar-se.

A problemática da "responsabilidade" emerge, portanto - in-


cluindo a nova mitologia neoliberal da responsabilidade individual
=, no centro das crises da rnodernidade e do Judiciário, que estão
a demandar extraordinário equilíbrio (para o balanço do necessário
POLíTICA
aprendizado sobre o pretérito), ousadia e invenção (que se veem
também, talvez mais do que nunca, neste Judiciário historicamente
ambíguo), capazes de romper com os roteiros envelhecidos e com as
CRIMINAL: CRISE E
promessas de sucesso que reverberam sempre em novos fracassos.
ALTERNATIVAS AO
CONTROLE PENAL

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