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RESUMO: Para o ensaio SPT, sem alterar a metodologia tradicional, Ranzini (1988) propôs
adicionar-se a medição do torque (T) necessário para romper a adesão e/ou atrito solo-amostrador
buscando obter-se mais um parâmetro desse ensaio. Esse torque, obtido logo após a cravação do
amostrador, apresenta duas aplicações: uma é ser mais refinado do que o índice de penetração
dinâmica (NSPT) para caracterizar o solo, e a outra é um parâmetro que pode ser utilizado para o
cálculo da parcela de aderência e/ou atrito lateral de estacas, através de equações empíricas. Este
artigo apresenta resultados do ensaio SPT com medida de torque (SPT-T) para depósitos de solos
sedimentares e residuais da região da Grande Vitória, ES. A análise de resultados dos ensaios SPT-
T busca um maior conhecimento das características do subsolo da região. A sondagem SPT-T não
afeta de maneira significativa a produtividade da sondagem SPT e nem provoca custo adicional
representativo à obra. Outra vantagem observada nesta pesquisa foi uma melhoria na qualidade da
sondagem à percussão em si. Como a medida do torque pode ser usada para aferição do ensaio SPT
tradicional, é possível que isto tenha levado o sondador a realizar toda a sondagem mais
cuidadosamente. Finalmente, são apresentadas tentativas de correlações entre NSPT e T para os solos
ensaiados.
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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
atrito lateral de estacas, através de equações areias com compacidades relativas variáveis e
empíricas. argilas marinhas muito moles.
Este artigo apresenta resultados do ensaio 3 SONDAGEM SPT-T
SPT com medida de torque (SPT-T) para
depósitos de solos sedimentares e residuais da A sondagem a percussão do tipo SPT (Standard
região da Grande Vitória, ES. A análise de Penetration Test), normalizada pela NBR 6484
resultados dos ensaios SPT-T busca um maior ABNT, é um ensaio com a medida do índice de
conhecimento das características do subsolo da resistência à penetração dinâmica a cada metro,
região. São também apresentadas neste trabalho denominado NSPT (número de golpes
tentativas de correlações entre NSPT e T para os necessários para cravar os últimos 300mm do
solos ensaiados. amostrador padrão). Segundo Moraes (2008)
estima-se que no Ocidente, o ensaio é utilizado
2 ASPECTOS GEOLÓGICOS DA em 90% das obras e no Brasil em praticamente
REGIÃO DA GRANDE VITÓRIA, ES 100%. A sondagem divide-se em duas partes
distintas: uma de perfuração, revestida ou não, e
Castello e Polido (1986) observaram que outra de amostreamento/ensaio. A perfuração
embora a Grande Vitória, ES, ocupe uma região até atingir-se o nível d’água é feita por meio de
constituída, predominantemente, de solos trado manual e daí em diante por meio de
sedimentares de origem marinha, a região circulação de água (lavagem) ou lama
possui uma topografia acidentada e escarpada bentonítica acionada por bomba d’água
com freqüentes afloramentos de rochas motorizada (De Mello 1971).
graníticas ou gnáissicas e morros que Ranzini (1988) propôs o ensaio SPT-T, que
funcionam como um escudo impedindo a ação consiste basicamente na execução do ensaio
homogênea de agentes marinhos e/ou agentes SPT, e, logo após terminada a cravação do
aluviais permitindo assim o desenvolvimento, amostrador, é realizada a medição do torque
quase lado a lado (às vezes até se confundindo) necessário a se aplicar no conjunto haste-
de perfis de solo sob as mais variadas amostrador, com auxílio de um torquímetro,
condições. para romper a adesão entre o solo e o
Castello e Polido (1986) dividiram a região amostrador, permitindo a medição do atrito
de Vitória em “domínios” geotécnicos, cujas lateral. O torque assim obtido é o torque
características principais são apresentadas máximo (TMÁX).
através de perfis geotécnicos típicos de diversos A vantagem em se medir o torque é que ele
bairros, baseados em investigações com ensaios provavelmente não será afetado pela maioria
de campo (SPT e CPT) e ensaios de laboratório. das conhecidas fontes de erros do valor
Destaca-se na geologia local o fato de que os tradicional do SPT. Obtém um valor da tensão
sedimentos marinhos de baixada comumente lateral do amostrador SPT que é mais confiável
constituem sopé de morros, com ocorrência de do que o próprio NSPT e, por um custo adicional
camadas de argilas vermelhas ou variegadas, muito pequeno (Soares 1999, Peixoto 2001). No
tipicamente coluviais, entremeadas nas camadas entanto, não elimina os erros decorrentes de
de solos sedimentares, assim como matacões e amolgamento do solo natural causados, por
blocos de rochas e também transições abruptas exemplo, na fase de perfuração.
de argila mole para rocha sã que ocaionalmente Com o ensaio SPT-T pode-se ainda obter o
apresenta mergulhos acentuados (> 45°). Torque residual (TRES). Depois de obtido TMÁX
Na região da Grande Vitória (ES) observa-se continua-se girando o amostrador até que a
que o perfil geotécnico característico é formado leitura se mantenha constante, quando, então,
por rocha ou solo residual situado 20 a 30 faz-se a medida do TRES. Peixoto (2001) sugere
metros de profundidade, enquanto o restante que, usualmente, duas voltas são necessárias
trata-se de solo marinho formado a partir de para obtenção do valor, e apesar da velocidade
transgressões e regressões, com camadas de de execução do giro não influenciar no valor do
TRES, recomenda-se girar o amostrador em
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sondagem: NSPT01, NSPT02 e NSPT03. A Figura 3 areia fina com mica 7.7m
medianamente compacta w = 38,33%
mostra os resultados de torque máximo TMÁX e w = 17,58% areia fina e média marrom
medianamente compacta
8.9m
areia fina siltosa cinza
torque residual TRES para os respectivos furos de w = 36,95% com mariscos fofa
10.6m
sondagem versus a profundidade. argila marinha cinza
As Figuras 02 e 03 mostram que os valores muito mole w = 29,68%
20.7m
26.9m
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(Min/Máx)
(Min/Máx)
TMÁX/NSPT
TRES/NSPT
Camadas
(médio)
Tipo de
TMÁX
TRES
NSPT
Solo
5ª 7 13,5
9,2 1,86
1,2 194, 1996a.
** 8 14,3 3 ALONSO, U.R. Estacas Hélice Contínua com
areia
7ª 1,22
argila
5 7,1 4,1 2
1,17 0,49 MECHANICS AND FOUNDATION
2/21 4,1 1 0,4
8ª 1,11
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ENGINEERING, V. Proceedings... ISSMGE. Buenos
11 9,2 5,1
Aires. Vol 1, p 367-376. 1975.
Residual
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