Sunteți pe pagina 1din 3

Património Histórico – o tema de uma alegoria

Património Histórico – o tema de uma alegoria

“Insoportablemente soñé con un exiguo y nítido laberinto: en el centro había un cántaro;


mis manos casi lo tocaban, mis ojos lo veían, pero tan intrincadas y perplejas eran las
curvas que yo sabía que iba a morir antes de alcanzarlo.” (Jorge Luís Borges)

No seu livro “A alegoria do património”, Choay introduz as noções de monumento e


património histórico, sistematiza os conceitos de classificação, conservação e restauração do
património histórico edificado e traça um percurso da sua evolução. Neste regresso arqueológico às
origens, Choay identifica as diversas etapas da “instauração progressiva” do património histórico
edificado, desde a fase antiquisante do Quattrocento à fase de consagração. O seu objectivo é
“colocar o património histórico edificado no centro de uma reflexão acerca do destino das
sociedades actuais”, avaliando “as motivações que as condutas patrimoniais subentendem hoje”. No
texto em análise, extraído do último parágrafo desta obra, a autora sintetiza o seu objectivo último
que transcende a própria arquitectura e se dirige ao Homem e à sua “competência de edificar”
entretanto perdida.
A essência do monumento (do latim monumentum, de recordar, ie., usar a memória), diz-nos
Choay, reside na “sua relação com o tempo vivido e com a memória”. Este sentido foi-se alterando
e hoje, quando se vê um monumento, para além da evocação de um tempo passado, aprecia-se-lhe
também a sua beleza artística e mestria técnica.
Enquanto um monumento é criado a priori, propositadamente comemorativo ou recordatório
de algo, o monumento histórico, por outro lado, é uma definição a posteriori de um vestígio
material do passado. A expressão “monumento histórico” surge pela primeira vez durante a
Revolução Francesa, no final do século XVIII, associada à preocupação de preservação dos
monumentos nacionais, por oposição à onda de vandalismo que assolou então a França, destruindo
os objectos representativos do passado - do clero, monarquia e feudalidade. Mas a preocupação de
conservação já existia no século XV, a que Choay chama fase antiquisante devido à sua limitação
aos edifícios e obras de arte da Antiguidade. Tínhamos então os humanistas e os artistas; dos
primeiros, uma aproximação literária ao monumento histórico, o chamado “efeito Petrarca”, dos
últimos, um interesse nas formas, o “efeito Brunelleschi”. Desde os finais do século XVI até aos
inícios do século XIX, os antiquários prosseguem com o trabalho dos humanistas no levantamento
do espólio da nossa herança cultural patrimonial, e realizam a viagem ritual a Roma, a Cidade, onde
obtêm esboços dos seus monumentos; é o “tempo dos antiquários”. Como esclarece Choay, desta
forma, para além da conservação real do património, procede-se também à sua conservação
iconográfica, através do livro e dos seus esboços ilustrativos de uma realidade. No século XIX, os
antiquários são substituídos pelos historiadores de arte, na sistematização deste saber. A Revolução
Cresceê ncio Ferreira Patrimoó nio Histoó rico e Artíóstico
Aluno nº 1000692 E-Foó lio A
Património Histórico – o tema de uma alegoria

Industrial, por seu lado, com a alteração dramática da paisagem urbana e a introdução de processos
mecanizados, quebra a continuidade temporal com o passado e apela à “consagração do monumento
histórico”. Por fim, actualmente, segundo Poulot, verifica-se uma dissociação entre os conceitos de
identidade e património, não sendo a simples existência do tal passado material garantia da sua
assunção automática como património. Daí o sucesso da teoria que sustenta que o nosso
relacionamento futuro com o património será tão-somente o da apreciação da sua antiguidade,
enquanto uma outra perspectiva filosófica invoca um relacionamento governado pela ética, num
processo de aprendizagem colectiva.1
Mas entre o património e a urbe que o rodeia impõe-se uma relação de equilíbrio, que permita
uma coexistência pacífica, evitando assim o afastamento dos habitantes para a periferia. Há também
que reduzir o impacto duma cultura de massas, cujo expoente é o turismo cultural, que acaba por
pôr em causa o próprio património histórico, num processo lento de destruição e vulgarização.
A história, a memória e o tempo são parcelas da mesma equação que as une aos conceitos de
monumento e património, quais “lieux de mémoire” de Nora. Para Lowenthal, os vestígios
materiais são uma garantia de que houve um passado; apesar de mudos e carecerem de
interpretação, apesar de corrompidos pelo tempo ou pela reconstrução sucessiva, são sempre uma
ponte entre o presente e o passado. Reagimos a estas relíquias pela sua beleza, pelo seu valor
histórico mas sobretudo pelo seu papel de talismãs da continuidade do tempo (Lowental, 2003).
Loew diz-nos que, para Choay, a evolução do conceito de património “resultou em novas
atitudes de conservação, melhoria, modernização e conservação dos edifícios; ela questiona se as
futuras gerações olharão para o seu património como inspiração para a criatividade ou se o
transformarão numa atitude narcisista sobre um passado desejado” (Loew, 1998, p. 4, minha
tradução).
Borges vivia, através da sua escrita, entre espelhos e labirintos, usando estas metáforas como
portas de passagem para uma nova realidade2. Choay utiliza as mesmas metáforas, criando uma
alegoria do património que mais não é que uma verdadeira alegoria do Homem. É recorrente na
arquitectura a comparação do edifício (e por extensão, da cidade) ao corpo humano e Choay não
escapa a essa tradição -“o seu labirinto é o edifício humano por excelência”. O património histórico
é assim o espelho onde o Homem se reflecte, qual “imagem da identidade humana” construída com
os vestígios materiais do passado. É uma atitude narcisista e passiva, de contemplação e “culto de
uma identidade genérica”.
O século XX, em particular a partir dos anos sessenta, assiste ao nascimento do culto e da
inflação do património histórico edificado. Confunde-se a arquitectura pré-industrial com a mais

1
Poulot Dominique, “Le sens du patrimoine : hier et aujourd'hui (note critique)”, in Annales. Économies, Sociétés, Civilisations, 48e
année, N. 6, 1993. pp. 1601-1613. http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/ahess_0395-
2649_1993_num_48_6_279233
2
http://www.hispanista.com.br/revista/Borges%20%20fant%C3%A1stico.pdf
Cresceê ncio Ferreira Patrimoó nio Histoó rico e Artíóstico
Aluno nº 1000692 E-Foó lio A
Património Histórico – o tema de uma alegoria

recente, numa amálgama “que nos leva também a confundir história e memória”, num autêntico
“complexo de Noé”. Nesta “sociedade protética” das novas tecnologias, que retira ao Homem a
necessidade do contacto directo com o mundo natural que o rodeia, perde-se a “competência de
edificar” que lhe é inata, privação oculta pela “cultura do património”. É necessário partir o espelho
do património, para que este perca a sua “memória afectiva” e com ela esmoreça a actual indústria
cultural. Temos de reconciliar-nos com a nossa competência de edificar, com o objectivo, já não da
conservação do património mas antes da “conservação da nossa capacidade de lhe dar continuação e
de o substituir”.
Há que fazer a Viagem através desse labirinto dedáleo que é a nossa competência de edificar
até chegarmos ao espelho do património que iremos então partir e atravessar em direcção a novos
caminhos, onde o Homem, enfim livre das referências de memória e tempo, se encontre de novo a si
mesmo.

Bibliografia
 BRANDI, Cesare, Teoria da restauração, São Paulo, Ateliê Editorial, 2004 http://books.google.com/books?id=BzAlcZ-
fbFcC&printsec=frontcover&dq=cesare+brandi&hl=pt-
PT&ei=bhKJTaCzIMvHswa4qdi5DA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCsQ6AEwAA#v=onepage&q&f=
false
 CHOAY, Françoise, Alegoria do Património, Lisboa, Edições 70, Lda., 2008
 JOKILEHTO, Jukka, A history of architectural conservation, Oxford, Butterworth-Heinemann, 2002
http://books.google.com/books?id=whK2u1IeHbEC&printsec=frontcover&hl=pt-
PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false~
 KERN, Maria L.B., Imagem e conhecimento, São Paulo, EdUSP, 2006 http://books.google.com/books?id=S9ip-
jtpX2UC&printsec=frontcover&hl=pt-PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
 LOEW, Sebastian, Modern architecture in historic cities, London, Routledge, 1998 http://books.google.com/books?
id=F49xwthBQskC&printsec=frontcover&hl=pt-PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
 LOWENTHAL, David, The past is a foreign country, Cambridge, Cambridge University Press, 2003
http://books.google.com/books?id=jMqsAQZmv5IC&printsec=frontcover&dq=the+past+is+a+foreign+country&hl=pt-
PT&ei=yBGJTYTUIMjcsgaD28W3DA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCkQ6AEwAA#v=onepage&q
&f=false
 MURPHY, Kevin D., VIOLLET-LE-DUC, Eugène-Emmanuel, Memory and modernity: Viollet-le-Duc at Vézelay,
Pennsylvania, Penn State Press, 2000 http://books.google.com/books?id=UIvih1eNJ4sC&printsec=frontcover&hl=pt-
PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
 SERAGELDIN, Ismail, SHLUGER, Ephim, MARTIN-BROWN, Joan, Historic cities and sacred sites, Washington, World
Bank Publications, 2001 http://books.google.com/books?id=HU3d8sQH1JgC&printsec=frontcover&hl=pt-
PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false

Webigrafia
http://www.cm-guimaraes.pt/files/1/documentos/470419.pdf
http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/colan_0336-1500_2006_num_147_1_4582?
_Prescripts_Search_tabs1=standard&
http://www.apai.ch/articles/projet.pdf
http://www.nec.ro/fundatia/nec/publications/a_nec1998-1999.pdf
http://www.nitnet.com.br/~rodcury/dissertacao_rparaizo.pdf
http://www.literatura.us/borges/inmortal.html
http://www.oprurb.org/noticias.php?id=10&lg=pt
http://www.estacaoliberdade.com.br/releases/alegoria.htm
http://aeaerestaurateur.fr/IMG/pdf/F._Choay_allegorie_du_patrimoine.pdf

Cresceê ncio Ferreira Patrimoó nio Histoó rico e Artíóstico


Aluno nº 1000692 E-Foó lio A

S-ar putea să vă placă și