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Por Euler de França Belém

em Livros

40 frases impagáveis do Barão de Itararé


Um grande humorista ganhou uma biografia alentada, “Entre Sem Bater — A Vida de
Apparício Torelly, o Barão de Itararé” (Casa da Palavra, 480 páginas), de Cláudio
Figueiredo. Criador do jornal “A Manha”, o Barão ridicularizava ricos, classe média e
pobres. Não perdoava ninguém, sobretudo políticos, donos de jornal e intelectuais.

Ele não era barão, é claro. Mas deu-se o título de nobre e nobre se tornou. O primeiro
nobre do humor no Brasil. Debochava de tudo e de todos e costumava dizer que,
“quando pobre come frango, um dos dois está doente”. Ele é um dos inventores do
contra-politicamente correto.

Há muito que o gaúcho Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (1895-1971)


merecia uma biografia mais detida. Em 2003, o filósofo Leandro Konder lançou “Barão
de Itararé — O Humorista da Democracia” (Brasiliense, 72 páginas). O texto de Konder
é muito bom, mas, como é uma biografia reduzida, não dá conta inteiramente do
personagem, uma espécie de Karl Kraus menos filosófico mas igualmente cáustico.

Quatro depois, o jornalista Mouzar Benedito lançou o opúsculo “Barão de Itararé —


Herói de Três Séculos (Expressão Popular, 104 páginas). É ótimo, como o livrinho de
Konder, mas lacunar. No final, há uma coletânea das melhores máximas do humorista,
que dizia: “O uísque é uma cachaça metida a besta”.
O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.

A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.

Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.

Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.

A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.

Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.

Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.

Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.

O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.

Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.

Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.

De onde menos se espera, daí é que não sai nada.

Quem empresta, adeus.

Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.

O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas
suficientes de que não precisa de dinheiro.

Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.

A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.

Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.

Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.

O fígado faz muito mal à bebida.

O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.

A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.

Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito,
nem rima, mas é profundo…

Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro
você está.
Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!

Devo tanto que, se eu chamar alguém de “meu bem”, o banco toma!

Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…

Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.

As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes,
isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.

O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de
votar no seu candidato.

Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho


único.

Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.

Quem não muda de caminho é trem.

A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de
energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que
confiam nele.

Máximas do Barão de Itararé

Barão de Itararé

De onde menos se espera, daí é que não sai nada.

Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.

Quem empresta, adeus...

Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.

Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.

Quando pobre come frango, um dos dois está doente.

Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.

Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco pobre.

Quem só fala dos grandes, pequeno fica.


Viúva rica, com um olho chora e com o outro se explica.

Depois do governo ge-gê, o Brasil terá um governo ga-gá. ( Ge-gê: apelido


de Getulio Vargas. Ga-gá: referia-se às duas primeiras letras no sobrenome
do novo presidente, Eurico Gaspar Dutra).

Um bom jornalista é um sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do


jornal encher nababescamente a barriga.

Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.

O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim , afinal, o eleitor não terá
vergonha de votar no seu candidato.

Os juros são o perfume do capital.

Urçamento é uma conta que se faz para saveire como debemos aplicaire o dinheiro
que já gastamos.

Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.

O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar


provas suficientes de que não precisa de dinheiro.

A gramática é o inspetor de veículos dos pronomes.

Cobra é um animal careca com ondulação permanente.

Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.

Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.

Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem.

É mais fácil sustentar dez filhos que um vício.

A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados.

Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará


chato como o pai.

O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens


a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si.

Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de
raiva se acontecesse com você.

Mulher moderna calça as botas e bota as calças.

A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.

Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.

Pão, quanto mais quente, mais fresco.


A promissória é uma questão "de...vida". O pagamento é de morte.

A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.

Extraído de "Máximas e Mínimas do Barão de Itararé", Distribuidora Record de


Serviços de Imprensa - Rio de Janeiro, 1985, págs. 27 e 28, coletânea organizada
por Afonso Félix de Souza.

Saiba sobre o autor e sua obra visitando “Biografias”.

Máximas e Mínimas

Barão de Itararé

Deus dá peneira a quem não tem farinha.

Testamento de pobre se escreve na unha.

Tempo é dinheiro. Vamos, então, fazer a experiência de pagar as nossas dívidas


com o tempo.

Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.

O fígado faz muito mal à bebida.

O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.

Com as crianças é necessário ser psicólogo. Quando uma criança chora, é porque
quer balas. Quando não chora, também.

O menino, voltando do colégio, perguntou à mãe:


-- Mamãe, por que é que pagam o ordenado à professora, se somos nós que
fazemos os deveres?

O feio da eleição é se perder.

A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas, em geral, enguiça por
falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os
infelizes que confiam nele.

Com dinheiro à vista toda gente é benquista.

Se você tem dívida, não se preocupe, porque as preocupações não pagam as


dívidas. Nesse caso, o melhor é deixar que o credor se preocupe por você.

Palavras cruzadas são a mais suave forma de loucura.

A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.

O homem cumprimentou o outro, no café.


-- Creio que nós fomos apresentados na casa do Olavo.
-- Não me recordo.
-- Pois tenho certeza. Faz um mês, mais ou menos.
-- Como me reconheceu?
-- Pelo guarda-chuva.
-- Mas nessa época eu não tinha guarda-chuva...
-- Realmente, mas eu tinha...

O homem é um animal que pensa; a mulher, um animal que pensa o contrário. O


homem é uma máquina que fala; a mulher é uma máquina que dá o que falar.

O homem que se vende recebe sempre mais do que vale.

O mal alheio pesa como um cabelo.

A solidez de um negócio se mede pelo seu lucro líquido.

Que faz o peixe, afinal?... Nada.

A sombra do branco é igual a do preto.

O texto acima foi extraído do livro "Máximas e Mínimas do Barão de Itararé",


Editora Record - Rio de Janeiro, 1985, pág. 28 e seguintes, uma coletânea
organizada por Afonso Félix de Sousa.

Saiba sobre o autor e sua obra visitando “Biografias”.

MÁXIMAS DO BARÃO DE ITARARÉ

Aparício Fernando de Brinkerholff Aporelly (1885−1971), o Barão de Itararé, cultivava um


humor fino, cheio de sutilezas e trocadilhos. As suas "máximas", todas publicadas no jornal "A
Manha", podem ser encontradas em um livro obrigatório para aqueles que apreciam o humor:
"O Almanhaque".

O Barão de Itararé protagonizou muitas histórias malucas. Um desses episódios ocorreu na


década de trinta, quando o "Jornal do Povo" (que durou apenas 10 números) publicou a
terceira parte de uma imensa reportagem sobre a Revolta da Chibata − um dos grandes
desastres da história militar brasileira. Descontentes com o texto, um grupo de oficiais da
marinha seqüestrou Aporelly. Depois de espancarem o jornalista, cortaram seus cabelos e o
abandonaram em um beco, só de cuecas (uma humilhação terrível para a época). No dia
seguinte, quando voltou à redação, Aporelly mandou colocar um aviso na porta de sua sala:
"Entre sem bater".
Frases

− "Pobre quando mete a mão no bolso, só tira cinco dedos".

− "De onde menos se espera, daí é que não sai nada".

− "Negociata é um excelente negócio para o qual não fomos convidados".

− "Houve um tempo em que os animais falavam; hoje, eles escrevem".

− "Cão que ladra não morde. Mas não convém facilitar, porque deve haver por aí muito cão
analfabeto que não conhece esse belo provérbio".

− "O homem que se vende recebe sempre mais do que vale".

−"Desgraça de jacaré são essas bolsas de couro".

− "Essa mundo e redondo, mas está ficando muito chato".

− "A conversa prejudica o trabalho. Deixe, portanto, de trabalhar sempre que quiser
conversar".

− "O Estado Novo é o estado a que chegamos".

− "A vida pública é, na verdade, a continuação da privada".

− "Ninguém consegue nada na vida sem dois defeitos: a curiosidade e a insatisfação".

− "Anistia é um ato pelo qual o governo resolve perdoar generosamente as injustiças que ele
mesmo cometeu".

− "A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana".


− "Há algo no ar, além dos aviões de carreira".

− "O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim o eleitor afinal terá vergonha de votar
no seu candidato".

− "Primos e parentes é que sujam a casa".

− "Mais vale um galo no terreiro que dois na testa".

− "Quem empresta, adeus...".

− "Dize−me com quem andas e eu te direi se vou contigo".

− "Só o que bota pobre pra frente é empurrão".

− "As pessoas de bem costumam falar mal dos vagabundos. Mas não é por mal. É por
inveja".

− "Precisa−se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa".

− "Nada mais triste para um moço de caráter bem−formado que se casa por amor, puro e
sincero, e verificar, depois de alguns dias de casado, que sua querida esposa não tem nem a
metade do dinheiro que ele supunha".

− "Com as crianças é necessário ser psicólogo. Quando uma criança chora, é porque quer bala.
Quando não chora, também".

− "Um bom jornalista é o sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do jornal
encher nababescamente a barriga".

− "O mal do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta".

− "Quando uma estrela de Hollywood se vê obrigada a usar o mesmo marido durante dois
anos, é sinal evidente de que ela está em grande decadência".

− "Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades".

− "Quem não tem calos é um desgraçado que desconhece o prazer de tirar os sapatos ao
chegar em casa".

− "Para as mulheres os velhos são de duas categorias: os insuportáveis e os ricos".

− "As mulheres preferem os homens forte e de compleição atlética. São os que melhor lhes
carregam as malas e os móveis nas mudanças".
− "Quem foi mordido de cobra até de minhoca tem medo".

− "A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados".

− "O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro".

− "Basta um frade ruim para dar o que falar a um convento".

− "Palavras cruzadas são a mais suave forma de loucura".

− "A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda".

− "Quando pobre come galinha, um dos dois está doente".

− "O fígado faz muito mal à bebida".

Postado por Raul Arruda Filho às 11:53

O Duque que virou Barão


Teoricamente, os títulos de nobreza são conquistados nos campos de batalha, mas no Brasil
costumavam ser comprados. Havia nobres que nunca combateram. Assim, Apparício Torelly
inventou que havia se destacado na Batalha de Itararé, uma batalha entre gaúchos e paulistas
que não houve em 1931. E, para fazer as fotos que comprovavam sua participação na luta,
vestiu-se de um surrado uniforme da Guerra do Paraguai. A seguir, o nosso herói se
autonomeou Duque de Itararé, fazendo publicar em seu jornal, A Manha, que esse título fazia
justiça "a uma personalidade de excepcional valor que se distinguiu no campo de batalha".

Algum tempo depois, "como prova de modéstia", Apparício se auto-rebaixou para Barão de
Itararé. Não dispensando, porém, "as periódicas injeções de azul de metileno que o faziam
ficar com o sangue azul".

O Brasão do Barão
Apparício criou também um escudo heráldico para a Casa de Itararé. Eis a descrição deste
símbolo segundo o próprio criador:

"Observe o leitor o detalhe do brasão, em filigranas e ornamentações clássicas. No meio da


moldura, dominando o conjunto, em posição de quem perdeu a guerra ou procura alfinetes no
chão, vê-se a efígie do ilustre fidalgo, vigiando a coleção de armas e iguarias que sustentam o
escudo. À esquerda, no plano austral, salienta-se uma vaca sagrada, em atitude arbitrária,
como quem resiste e protesta contra a possibilidade de ser loteada para o açougue e
transformada em bifes de ouro. No lado direito da perna do sinistro Barão, vê-se, guardado
por um punhal tibetano, um saco cheio do produto de honesta economia, advinda do troco de
caixas de fósforos e passagens de bonde que deixou de pagar, fingindo distraído, quando
passava o condutor. Descendo pela esquerda, aparece uma mão solta, que não tem nenhuma
explicação e, a seguir, um cachorro vira-lata, com evidente intenção hidráulica de franco
desacato aos símbolos da nobreza. No centro-esquerda, distingue-se a monografia "BI", usado
nas cuecas e na roupa de cama do fidalgo, quando as tem. Logo abaixo, destaca-se um
jumento franquista e um peixe grande, que não se sabe como conseguiram penetrar na
moldura. À direita, distinguem-se vários objetos de ostensiva significação oculta: um cidadão
de cartola, em pleno processo de desintegração atômica; um frango e uma garrafa, de
destinos suspeitos, e, finalmente, um desconhecido, perto de um pescado, que tanto pode ser
uma baleia engolindo o profeta Jonas, como o deputado Lameira Bittencourt, vomitando um
pirarucu depois do almoço. A parte mais importante do escudo, porém, é o quadrante
esotérico, com seus quatro extensos campos. No primeiro, parece um navio pirata que, se não
for uma homenagem à terra de Churchill, só pode ser explicado à luz da psicanálise, como uma
traição do subconsciente. No segundo, há um pé de meia, coroado de estrelas, formando
falsos cruzeiros, que se vão escondendo no cofre de calcanhar reforçado. No terceiro, ostenta-
se uma galinha morta, com uma bandeirola de livre trânsito dos comandos sanitários. No
quarto campo, um alfanje muçulmano monta guarda a todo escudo. Por fim, no centro,
encimada por uma boa estrela, exibe-se uma cesta de Natal, com frutas do país e salsichas de
Viena, para recordar aos povos que nem só de pão vive o homem, como dizem as Sagradas
Escrituras e é da escrita."

O discurso otimista do Barão

Depois de nove meses preso no navio-prisão Pedro I, na Baía da Guanabara, para onde fora
levado por ter sido um dos membros da proscrita Aliança Nacional Libertadora, o Barão de
Itararé foi transferido para o presídio da rua Frei Caneca. Neste presídio, onde estavam
encarcerados muitos dos participantes da fracassada Intentona Comunista, havia uma forma
de comunicação entre eles. Era a "Radio Libertadora", que só funcionava à noite, depois que
os presos voltavam a seus cubículos e, através das grades, punham-se a gritar uns para os
outros. Assim que o lendário Barão chegou a esse presídio em terra firme, a pedido de todos,
teve que falar na "Rádio Libertadora". Eis o seu discurso:

"Tudo vai bem. Não há motivo para receio. O que nos pode acontecer? Somos postos em
liberdade ou continuamos presos. Se nos soltam, ótimo: é o que desejamos. Se ficamos presos,
deixam-nos com processo ou sem processo. Se não nos processam, ótimo: faltam provas e aí,
cedo ou tarde, nos mandam embora. Se nos processam, seremos julgados, absolvidos ou
condenados. Se nos absolvem, ótimo: nada melhor, esperávamos isso. Se nos condenam, nos
darão uma pena leve ou pena grande. Se for leve, ótimo: descansaremos algum tempo
sustentados pelo governo, depois iremos para a rua. Se for pena grande, seremos anistiados
ou não. Se formos anistiados, ótimo: é como se não tivesse havido condenação. Se não nos
anistiarem, cumpriremos a sentença ou morreremos. Se cumprirmos a sentença, ótimo:
depois voltaremos para casa. Se morrermos, iremos para o céu ou para o inferno. Se formos
para o céu, ótimo: é a suprema aspiração de cada um. Se formos para o inferno, não há porque
nos alarmarmos: é uma desgraça que pode acontecer com qualquer um, preso ou em casa."
120 anos do Barão de Itararé
sab, 31/01/2015 - 08:33

Por Mara L. Baraúna

Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, Aporelly ou Barão de Itararé (Rio Grande,


29 de janeiro de 1895 — Rio de Janeiro, 27 de novembro de 1971)

Aparício era filho de uma índia charrua e de um pai que era um homem truculento e de
poucas palavras.

Nascido numa carruagem, em Rio Grande, interior do Rio Grande do Sul, pois a mãe
decidiu ter o filho na casa dos pais em Pueblo Vergara, no Uruguai, para onde viajou em
uma carruagem num dia muito chuvoso e, em consequencia, uma roda teve o aro
quebrado. O próprio Torelly contou, bem humorado: "Com todo aquele barulho, nada
mais natural que eu me apressasse a sair para ver o que se passava".

Aos dois anos de idade, a mãe, Dona Maria Amélia Brinkerrhoof, se matou desfechando
um tiro de revólver na cabeça, aos 18 anos. Esta seria a primeira das muitas tragédias
com mulheres que enfrentaria.

Depois da orfandade, passa a viver na fazenda do avô, no Uruguai, retornando aos


cuidados do pai, João da Silva Torelly, cinco anos depois.

Aos nove anos foi para o internato Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo,
colégio dirigido por austeros jesuítas alemães. Como aluno, não se saiu mal, mas não
demorou muito a se rebelar contra a rigidez da educação e, claro, fez isso a seu modo:
com humor. Em 1909, aos 14 anos, apesar do ambiente repressivo, escreveu seu
primeiro jornal satírico, Capim Seco, e sofreu sua primeira ameaça de prisão. É que a
matéria de capa era uma gozação com o padre-reitor.
Ingressa no curso de Farmácia, mas se transfere para o de Medicina, em Porto Alegre.
Abandonou o curso no 4ª ano, pois preferia frequentar o Clube dos Caçadores, uma
mistura de cabaré e casa de jogo, mesmo andando sempre na pindaíba. Ao pai de uma
namorada, que o acusou de não ter futuro, disse que futuro ele tinha, o que não tinha era
presente.

Aparício faz uma série de conferências pelo interior quando conhece sua primeira
esposa, Alzira Alves, casamento de pequena duração, mãe de seus filhos Arly, Ady e
Ary.

Por essa época publicou poemas e artigos em diversas revistas e passou a se dedicar
exclusivamente ao jornalismo.

Em 1918, morando em Porto Alegre, cria dois semanários de humor: O Chico e O


Maneca.

Sofreu um derrame em 1918, em suas férias na fazenda de um tio. Em busca de um


clima mais quente que lhe amenizasse a paralisia de um dos lados do corpo, “tomou um
Ita no sul” e chegou ao Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 1925, com cem contos
de réis, que logo tratou de perder no jogo, tendo de ir procurar emprego.

Apresenta-se a Irineu Marinho, diretor de O Globo, e alega ser capaz de fazer de tudo:
"desde varrer o chão até dirigir o jornal, mesmo porque não há muita diferença".

Em 1926, trocou O Globo pelo A Manhã, de Mário Rodrigues, pai de Nelson


Rodrigues, onde tinha uma coluna: “Amanhã tem mais”. No mesmo ano, no dia 13 de
maio, criou o jornal A Manha. O jornal logo virou independente, sob a batuta onisciente
de “Nosso querido diretor”, como Aporelly se referia a si mesmo.

A Manha propôs um tipo de humor mais moderno que o de revistas como Careta, Fon
Fon e Malho, embora tenha recebido suas influências. O jornal circulou até fins de
1935, quando o Barão foi preso por ligações com o Partido Comunista Brasileiro, então
na clandestinidade.

Uma característica que vai apresentar-se recorrente desde então, e que também parodia
a grande imprensa nas entrelinhas de sua sátira, é a relação estabelecida com grandes
personalidades políticas, que passam a incorporar o quadro funcional d’A Manha. A
mais marcante e duradoura destas relações deu-se com Vaz Antão Luís, referência ao
presidente Washington Luís, na primeira fase do jornal. Como redator-chefe d’A
Manha, Vaz Antão era um subordinado do “nosso querido diretor”, mas por acumular
também a função de presidente da República, gerava por vezes uma relação conflituosa,
em meio à qual o periódico também se assumia como “órgão oficial” do governo. Logo,
por meio dos “subordinados”, o proprietário d’A Manha tinha poder de “interferir” na
política nacional.

Historicamente considerado pioneiro em conjugar humor e crítica política, Barão de


Itararé nasce como pseudônimo em 1930. De início denominado Duque de Itararé,
rebaixa o título de nobreza "como prova de modéstia". O nome seguido do epíteto -
"Barão de Itararé, o Brando" - antecipa, aliás, suas características literárias. O artigo e o
substantivo se unem em um cacófato, sugerindo se tratar de um verbo com sentido
escatológico. Já Itararé refere um episódio histórico brasileiro: na cidade de mesmo
nome se dá uma violenta batalha contra os gaúchos que, acompanhando Getúlio Vargas,
subiam ao Rio de Janeiro para tomar o poder. A Revolução aconteceu sem que tenha
sido necessária, contudo, nenhuma luta armada.

Em 1934, com a companhia de Aníbal Machado, Pedro Mota Lima e Osvaldo Costa,
cria o Jornal do Povo. Nos dez dias em que durou, o jornal publica em fascículos a
história de João Cândido, um dos marinheiros da revolta de 1910. Em represália,
Torelly foi sequestrado e espancado por oficiais da marinha alinhados com os
integralistas. Após isso retorna à redação e afixa uma placa na porta: "Entre sem bater".

Participa da fundação da Aliança Nacional Libertadora, e em 9 de dezembro de 1935, é


preso. Depois de um período na Polícia Central e no navio presídio Pedro I, que ficava
ancorado ao largo da Baía de Guanabara (quando deixa crescer a barba, “uma barba 100
de Pedro II cultivada a bordo de Pedro I”, como costumava dizer), é transferido para a
Casa de Detenção, onde ficaria até dezembro do ano seguinte. Lá vai para o Pavilhão
dos Primários onde teria a companhia de Hermes Lima, Eneida de Moraes, Nise da
Silveira e Graciliano Ramos. Durante o Estado Novo (1937 - 1945), é preso sucessivas
vezes, por períodos menos extensos.

Em 1935, morre Zoraide, sua segunda esposa, com que se casou em 1926.

Livre em 1936, já ostentando a volumosa barba que cultivaria até o fim da vida, ele
retomou o jornal por um curto período, até que viesse nova interrupção, ao longo de
todo o Estado Novo (1937- 45). Voltaria em até 1959. Distribuído nacionalmente, era
uma explosão de vendas. O “único quintaferino que sai aos sábados”, segundo Aporelly
“não é uma publicação que sai no dia certo, mas em certos dias...” além do que não
podia “submeter-se às imposições da folhinha”.

Em 1936 casa-se com Juracy, sua terceira esposa, que falece em 1940. Ela foi a mãe de
Amy Torelly.

Foi candidato em 1947, a vereador do Distrito Federal, com o lema "Mais leite! Mais
água! Mas menos água no leite!", sendo eleito com 3.669 votos, o oitavo mais votado
do PCB, que conquistou 18 das 50 cadeiras. Porém em janeiro de 1948 seus vereadores
foram cassados: "um dia é da caça... os outros da cassação", anunciou A Manha. Seu
mandato foi combativo e irreverente. Segundo o então senador Luiz Carlos Prestes, “o
Barão não só fez a Câmara rir, como as lavadeiras e os trabalhadores. As favelas
suspendiam as novelas para ouvir as sessões que eram transmitidas pela rádio”.

Depois que A Manha deixou de circular, o Barão de Itararé, associado ao diagramador e


desenhista paraguaio Andrés Guevara, edita em São Paulo foi viver em São Paulo e ele
lançou trêsAlmanhaques (almanaques de A Manha), com textos tirados das edições do
jornal mais o material que produziu para outras publicações e algum escrito novo.
Foram eles: Almanhaque para 1949, Almanhaque para 1955 - Primeiro Semestre e
Almanhaque para 1955 - Segundo Semestre.

Em 1955, casa-se com sua quarta esposa, Aída Costa, que ateou fogo às vestes na Praia
do Flamengo, em 1965.
No final dos anos 1950, o humorista foi deixando o humor de lado e passou a se
interessar por uma velha paixão, a ciência, e pelo esoterismo. Andou às voltas com
estudos sobre a filosofia hermética, as pirâmides do Antigo Egito e a astrologia, campo
no qual desenvolveu certo “horóscopo biônico”.

Em 1963, viajou para Pequim, a convite do governo chinês, passando por Praga e
Moscou

Seu afastamento da vida pública e o mergulho do país no clima da Guerra Fria podem
ter contribuído para o início da decadência, sua e do seu jornal.

Recluso, encastelou-se ao final da vida num apartamento no bairro carioca de


Laranjeiras, com livros do chão ao teto, como relembra Remy Gorga, Filho, que lá
esteve em 1969. “Parecia que aquelas torres de livros iam nos soterrar a qualquer
momento.”

Em 1971, em 27 de novembro, um sábado, aniversário do levante comunista que


motivara sua prisão nos anos 30, Apporelly morreu dormindo em sua cama, aos 76
anos.

O "herói de dois séculos", como ele se autodenominava, parodiando Garibaldi, "o herói
de dois mundos", chegava assim ao fim, juntamente com uma era.

Mais recentemente, seu espírito crítico influenciou a criação do Centro de Estudos da


Mídia Alternativa Barão de Itararé, lançado em 14 de maio de 2010, no auditório do
Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, que reúne jornalistas progressistas e lutadores
sociais, comprometidos com a democratização da mídia no Brasil.
Fontes:

Barão de Itararé na Enciclopédia Itaú Cultural de Literatura Brasileira -

Barão de Irararé na Wikipédia

Barão de Itararé e A Manha

Barão de Itararé : dois em um, o humorista e o personagem

O barato do Barão, por Cassiano Elek Machado

As comparações do Barão, por Mary Neiva Surdi da Luz

Elementos para uma leitura da obra de Aparício Torelly, o Barão de Itararé: humor,
projeto & design gráfico, por José Mendes André

Entre sem bater : a vida de Apparício Torelly, o "Barão de Itararé”, de Cláudio


Figueiredo.

Ficcionalidade e vestígios do passado: em cena o Barão de Itararé, por Marialva


Barbosa
Humor e política nos anos 30, por Cláudio Figueiredo

Itararé: o Barão de uma batalha inexistente, por Luís Pimentel

A manha – Hemeroteca Digital Brasileira

Um nobre bufão no reino da grande imprensa: a construção do personagem Barão de


Itararé na paródia jornalística do semanário A Manha (1926-1935), por Rodrigo Jacobus
e Cida Golin

As peripécias de um Barão vermelho : 33 anos da morte de Aparício Torelly, por


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