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em Livros
Ele não era barão, é claro. Mas deu-se o título de nobre e nobre se tornou. O primeiro
nobre do humor no Brasil. Debochava de tudo e de todos e costumava dizer que,
“quando pobre come frango, um dos dois está doente”. Ele é um dos inventores do
contra-politicamente correto.
A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.
Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.
Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas
suficientes de que não precisa de dinheiro.
Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito,
nem rima, mas é profundo…
Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro
você está.
Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!
As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes,
isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.
O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de
votar no seu candidato.
A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de
energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que
confiam nele.
Barão de Itararé
Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim , afinal, o eleitor não terá
vergonha de votar no seu candidato.
Urçamento é uma conta que se faz para saveire como debemos aplicaire o dinheiro
que já gastamos.
Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de
raiva se acontecesse com você.
Máximas e Mínimas
Barão de Itararé
Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
Com as crianças é necessário ser psicólogo. Quando uma criança chora, é porque
quer balas. Quando não chora, também.
A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas, em geral, enguiça por
falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os
infelizes que confiam nele.
− "Cão que ladra não morde. Mas não convém facilitar, porque deve haver por aí muito cão
analfabeto que não conhece esse belo provérbio".
− "A conversa prejudica o trabalho. Deixe, portanto, de trabalhar sempre que quiser
conversar".
− "Anistia é um ato pelo qual o governo resolve perdoar generosamente as injustiças que ele
mesmo cometeu".
− "O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim o eleitor afinal terá vergonha de votar
no seu candidato".
− "As pessoas de bem costumam falar mal dos vagabundos. Mas não é por mal. É por
inveja".
− "Precisa−se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa".
− "Nada mais triste para um moço de caráter bem−formado que se casa por amor, puro e
sincero, e verificar, depois de alguns dias de casado, que sua querida esposa não tem nem a
metade do dinheiro que ele supunha".
− "Com as crianças é necessário ser psicólogo. Quando uma criança chora, é porque quer bala.
Quando não chora, também".
− "Um bom jornalista é o sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do jornal
encher nababescamente a barriga".
− "Quando uma estrela de Hollywood se vê obrigada a usar o mesmo marido durante dois
anos, é sinal evidente de que ela está em grande decadência".
− "Quem não tem calos é um desgraçado que desconhece o prazer de tirar os sapatos ao
chegar em casa".
− "As mulheres preferem os homens forte e de compleição atlética. São os que melhor lhes
carregam as malas e os móveis nas mudanças".
− "Quem foi mordido de cobra até de minhoca tem medo".
Algum tempo depois, "como prova de modéstia", Apparício se auto-rebaixou para Barão de
Itararé. Não dispensando, porém, "as periódicas injeções de azul de metileno que o faziam
ficar com o sangue azul".
O Brasão do Barão
Apparício criou também um escudo heráldico para a Casa de Itararé. Eis a descrição deste
símbolo segundo o próprio criador:
Depois de nove meses preso no navio-prisão Pedro I, na Baía da Guanabara, para onde fora
levado por ter sido um dos membros da proscrita Aliança Nacional Libertadora, o Barão de
Itararé foi transferido para o presídio da rua Frei Caneca. Neste presídio, onde estavam
encarcerados muitos dos participantes da fracassada Intentona Comunista, havia uma forma
de comunicação entre eles. Era a "Radio Libertadora", que só funcionava à noite, depois que
os presos voltavam a seus cubículos e, através das grades, punham-se a gritar uns para os
outros. Assim que o lendário Barão chegou a esse presídio em terra firme, a pedido de todos,
teve que falar na "Rádio Libertadora". Eis o seu discurso:
"Tudo vai bem. Não há motivo para receio. O que nos pode acontecer? Somos postos em
liberdade ou continuamos presos. Se nos soltam, ótimo: é o que desejamos. Se ficamos presos,
deixam-nos com processo ou sem processo. Se não nos processam, ótimo: faltam provas e aí,
cedo ou tarde, nos mandam embora. Se nos processam, seremos julgados, absolvidos ou
condenados. Se nos absolvem, ótimo: nada melhor, esperávamos isso. Se nos condenam, nos
darão uma pena leve ou pena grande. Se for leve, ótimo: descansaremos algum tempo
sustentados pelo governo, depois iremos para a rua. Se for pena grande, seremos anistiados
ou não. Se formos anistiados, ótimo: é como se não tivesse havido condenação. Se não nos
anistiarem, cumpriremos a sentença ou morreremos. Se cumprirmos a sentença, ótimo:
depois voltaremos para casa. Se morrermos, iremos para o céu ou para o inferno. Se formos
para o céu, ótimo: é a suprema aspiração de cada um. Se formos para o inferno, não há porque
nos alarmarmos: é uma desgraça que pode acontecer com qualquer um, preso ou em casa."
120 anos do Barão de Itararé
sab, 31/01/2015 - 08:33
Aparício era filho de uma índia charrua e de um pai que era um homem truculento e de
poucas palavras.
Nascido numa carruagem, em Rio Grande, interior do Rio Grande do Sul, pois a mãe
decidiu ter o filho na casa dos pais em Pueblo Vergara, no Uruguai, para onde viajou em
uma carruagem num dia muito chuvoso e, em consequencia, uma roda teve o aro
quebrado. O próprio Torelly contou, bem humorado: "Com todo aquele barulho, nada
mais natural que eu me apressasse a sair para ver o que se passava".
Aos dois anos de idade, a mãe, Dona Maria Amélia Brinkerrhoof, se matou desfechando
um tiro de revólver na cabeça, aos 18 anos. Esta seria a primeira das muitas tragédias
com mulheres que enfrentaria.
Aos nove anos foi para o internato Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo,
colégio dirigido por austeros jesuítas alemães. Como aluno, não se saiu mal, mas não
demorou muito a se rebelar contra a rigidez da educação e, claro, fez isso a seu modo:
com humor. Em 1909, aos 14 anos, apesar do ambiente repressivo, escreveu seu
primeiro jornal satírico, Capim Seco, e sofreu sua primeira ameaça de prisão. É que a
matéria de capa era uma gozação com o padre-reitor.
Ingressa no curso de Farmácia, mas se transfere para o de Medicina, em Porto Alegre.
Abandonou o curso no 4ª ano, pois preferia frequentar o Clube dos Caçadores, uma
mistura de cabaré e casa de jogo, mesmo andando sempre na pindaíba. Ao pai de uma
namorada, que o acusou de não ter futuro, disse que futuro ele tinha, o que não tinha era
presente.
Aparício faz uma série de conferências pelo interior quando conhece sua primeira
esposa, Alzira Alves, casamento de pequena duração, mãe de seus filhos Arly, Ady e
Ary.
Por essa época publicou poemas e artigos em diversas revistas e passou a se dedicar
exclusivamente ao jornalismo.
Apresenta-se a Irineu Marinho, diretor de O Globo, e alega ser capaz de fazer de tudo:
"desde varrer o chão até dirigir o jornal, mesmo porque não há muita diferença".
A Manha propôs um tipo de humor mais moderno que o de revistas como Careta, Fon
Fon e Malho, embora tenha recebido suas influências. O jornal circulou até fins de
1935, quando o Barão foi preso por ligações com o Partido Comunista Brasileiro, então
na clandestinidade.
Uma característica que vai apresentar-se recorrente desde então, e que também parodia
a grande imprensa nas entrelinhas de sua sátira, é a relação estabelecida com grandes
personalidades políticas, que passam a incorporar o quadro funcional d’A Manha. A
mais marcante e duradoura destas relações deu-se com Vaz Antão Luís, referência ao
presidente Washington Luís, na primeira fase do jornal. Como redator-chefe d’A
Manha, Vaz Antão era um subordinado do “nosso querido diretor”, mas por acumular
também a função de presidente da República, gerava por vezes uma relação conflituosa,
em meio à qual o periódico também se assumia como “órgão oficial” do governo. Logo,
por meio dos “subordinados”, o proprietário d’A Manha tinha poder de “interferir” na
política nacional.
Em 1934, com a companhia de Aníbal Machado, Pedro Mota Lima e Osvaldo Costa,
cria o Jornal do Povo. Nos dez dias em que durou, o jornal publica em fascículos a
história de João Cândido, um dos marinheiros da revolta de 1910. Em represália,
Torelly foi sequestrado e espancado por oficiais da marinha alinhados com os
integralistas. Após isso retorna à redação e afixa uma placa na porta: "Entre sem bater".
Em 1935, morre Zoraide, sua segunda esposa, com que se casou em 1926.
Livre em 1936, já ostentando a volumosa barba que cultivaria até o fim da vida, ele
retomou o jornal por um curto período, até que viesse nova interrupção, ao longo de
todo o Estado Novo (1937- 45). Voltaria em até 1959. Distribuído nacionalmente, era
uma explosão de vendas. O “único quintaferino que sai aos sábados”, segundo Aporelly
“não é uma publicação que sai no dia certo, mas em certos dias...” além do que não
podia “submeter-se às imposições da folhinha”.
Em 1936 casa-se com Juracy, sua terceira esposa, que falece em 1940. Ela foi a mãe de
Amy Torelly.
Foi candidato em 1947, a vereador do Distrito Federal, com o lema "Mais leite! Mais
água! Mas menos água no leite!", sendo eleito com 3.669 votos, o oitavo mais votado
do PCB, que conquistou 18 das 50 cadeiras. Porém em janeiro de 1948 seus vereadores
foram cassados: "um dia é da caça... os outros da cassação", anunciou A Manha. Seu
mandato foi combativo e irreverente. Segundo o então senador Luiz Carlos Prestes, “o
Barão não só fez a Câmara rir, como as lavadeiras e os trabalhadores. As favelas
suspendiam as novelas para ouvir as sessões que eram transmitidas pela rádio”.
Em 1955, casa-se com sua quarta esposa, Aída Costa, que ateou fogo às vestes na Praia
do Flamengo, em 1965.
No final dos anos 1950, o humorista foi deixando o humor de lado e passou a se
interessar por uma velha paixão, a ciência, e pelo esoterismo. Andou às voltas com
estudos sobre a filosofia hermética, as pirâmides do Antigo Egito e a astrologia, campo
no qual desenvolveu certo “horóscopo biônico”.
Em 1963, viajou para Pequim, a convite do governo chinês, passando por Praga e
Moscou
Seu afastamento da vida pública e o mergulho do país no clima da Guerra Fria podem
ter contribuído para o início da decadência, sua e do seu jornal.
O "herói de dois séculos", como ele se autodenominava, parodiando Garibaldi, "o herói
de dois mundos", chegava assim ao fim, juntamente com uma era.
Elementos para uma leitura da obra de Aparício Torelly, o Barão de Itararé: humor,
projeto & design gráfico, por José Mendes André