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06/04/2018
Um mês após publicarmos nossa visão a respeito do fenômeno digital – plataformas digitais,
conectividade e rede –, continuamos pensando e pesquisando sobre o tema.
Aos que eventualmente não leram a publicação “Pensando fora da caixa”, recomendamos a leitura.
O que chama atenção é que a consciência dos riscos é significativamente superior à nossa capacidade
de visualizar as oportunidades. Por exemplo, nos EUA, no início do século 20, aproximadamente 35% de
todos os empregos eram rurais. Naquela época, provavelmente diríamos que esse segmento deixaria de
existir. E, de fato, metade de tal fatia desapareceu com o tempo, e, portanto, concluiríamos que haveria
uma tendência de desemprego em massa. No entanto, a destruição das vagas rurais foi compensada por
criações de novos postos de trabalho. Empregos profissionais em áreas técnicas passaram a representar
em média 25% do total (partindo de menos de 5% no início daquele período), o que resultou em maiores
níveis de renda e novos hábitos de consumo (desejos, necessidades, etc.), criando novas ofertas e
oportunidades de produtos e serviços na economia.
Por exemplo, como resultado do desejo de melhor tratamento aos animais de estimação, surgiu a
indústria pet. Assim como o setor de cosméticos iniciou-se da busca por melhorias estéticas e de
autoestima, e assim vai.
Fonte: BCA
Ouvindo os calls de resultados das empresas referentes ao último trimestre do ano e em reuniões com
as equipes de gestão, as palavras “digitalização” e/ou “disruptivo” nunca estiveram tão presentes.
Fonte: Bloomberg
“To be amazoned” refere-se ao risco de a Amazon invadir seu modelo de negócio ou indústria.
Obviamente, o mercado reage de acordo aos comentários, fatos e rumores a respeito.
Abaixo vemos, ao longo dos últimos anos, as quedas percentuais de algumas indústrias após anúncios
da Amazon.
Fonte: Bloomberg
Olhando para o Brasil, vemos nitidamente as empresas cada vez mais se dedicando ao tema.
O e-commerce, por exemplo, que há uma década era algo absurdamente inovador, já é uma ferramenta
padrão em praticamente todos os mercados.
Indústrias financeiras, educação, saúde, logística, varejo, etc. De uma forma ou de outra, todos vêm
gastando tempo e recurso de forma relevante.
Igualmente em nossas análises, passamos horas e mais horas buscando entender as diferentes
dinâmicas e impactos em cada setor, o posicionamento e a capacidade de reação das empresas e
segmentos que cobrimos, na incansável busca de clarear esse universo aos assinantes do Vacas
Leiteiras.
FINANCEIROS
Impacto direto, apesar da questão regulatória. Se plataformas entrarem no setor? Lá fora, a Amazon já
possui parceria com banco J.P. Morgan;
Back end também afetado: integração e consolidação de sistemas;
Repartição na cadeia de valor;
Inteligência Artificial (AI): modalidade de crédito instantâneo para crédito pré-aprovado, de acordo com o
comportamento e localização do usuário, avaliados por meio do smartphone (bid data: redes sociais pode
informar, por exemplo, gostos e interesses). O Serasa já tem score de crédito; entrou aqui (já teve parcer
com a Coca p aralatas personalizadas).
Serasa também tem investindo em Fintechs (marketplaces de crédito); Serasa Chancela o tomador de
crédito.
Seguradoras podem se beneficiar com a IA (Inteligência Artificial) realizando melhores previsões de padrõ
e tendências, utilizando os dados para cálculo de prêmios.
VAREJO (MALLS)
Nos shopping centers, as melhorias na experiência de compra (serviços, amenidades, mix, segurança, etc
devem combater e-commerce;
Os shoppings de nicho — luxo, ultra — ou em regiões de tráfego adensado — estarão mais blindados;
No varejo, impacto sobre o across the board: omnichannel, check out online, espelhos projetores, acesso
peças in e out store (fisico e online), amostras, aumento de produtividade — menor tempo de espera na lo
etc.;
No marketplace, moda não funciona, as commodities perfurmam melhor. Preço baseado em: TV,
posicionamento para moda, fashion/marca é a chave para sucesso.
CONSUMO
O consumidor tem duas vezes mais chance de repetir compra. Bens básicos com recorrência de consumo
Tendência chega até o físico para melhorar a experiência de compra do usuário: minicentros de distribuiçã
e omnichannel. Exemplos: Amazon adquiriu a rede Whole Foods Market; Alibaba x Sun Art; parceria entr
Casino e Amazon;
Mercado muito grande e escalável.
LOGÍSTICA
Apesar dos gargalos logísticos, infraestrutura pode ser um dos beneficiários. Quem ganha com uma empre
de chocolate entregando um pacote do doce na casa do cliente? O transportador e/ou a indústria;
Devolução de mercadorias, drop-offs, retirada na loja e compra online. Bens duráveis, de grande variedad
de produtos, etc.
FARMA
Setor mais difícil atacar: medicamentos vendidos por prescrição, necessidade do consumidor de sair da lo
com o remédio na mão, idosos gostam da experiência de compra;
Além disso, tem uma cadeia complexa: muitos intermediários e contratos de LP, pagamentos e reembolso
regulação e licenças; (quais drogas são cobertas pelas operadoras? Mudança.
Alvo deve ser no B2B (business to business): suprimentos médicos, reagentes, próteses, etc;
Pode começar com balão de ensaio. Ex.: lentes de contato;
Custos de transporte é baixo, dado o pouco peso dos produtos, o que pode ser uma ameaça ao setor;
Em 1999, a Amazon comprou a Drugstore.com, que, mais tarde, foi adquiria pela rede Walgreens.
HEALTHCARE
Medicina diagnóstica com AI: automação, Internet das Coisas, melhora da capacidade de previsão, anális
precisão nos resultados, etc.;
Medicina de precisão (genômica) já é uma realidade. Uso dos dados para utilizar medicina de forma
individual;
Acesso remoto para exames diagnósticos de imagem (ressonância, etc) e monitoramento a distância (hom
care);
Reduz ineficiências e aumenta a transparência na cadeia de valor.
Fonte: Empiricus
Apesar de as empresas estarem mais e mais inseridas no tema, estar envolvido somente não é sinônimo
de sucesso, infelizmente.
À parte de empresas que acabaram sendo vítimas do fenômeno e ficaram pelo caminho ao longo dos
últimos anos (um exemplo recente é a Toys"R"Us, que afetou a potencial oferta pública das ações da
brasileira PBKids, culminando em seu cancelamento. Sem falar das famosas Kodak, Blockbuster, entre
outras), companhias bilionárias e referências, como General Electric, Nike, Walmart, Procter & Gamble,
Lego, que vêm tentando (ou tentaram) se transformar há anos, sem o devido sucesso, de se tornar (ou
ao menos se rotular como) digitais.
Recentemente, a Nike reduziu pela metade sua unidade digital, descontinuando investimentos como
Nike+ FuelBand Activity Tracker (aquelas pulseiras de acompanhamento para atividades físicas).
Outro exemplo é o da dinamarquesa Lego, que encerrou o seu programa virtual, o LDD LEGO.
Em meados de 2012, a P&G anunciou que seria a empresa mais digital do planeta, algo que consumiu
significativos volumes de recursos e, como sabemos, está longe de acontecer.
É importante ressaltar que essas empresas tinham os insights, feedbacks dos consumidores, da mídia,
equipes de gestão experiente e com recursos.
E a história continua se repetindo, mais ainda nos dias de hoje. Acontece no e-commerce, Internet das
Coisas (IOT), Big Data, nas interfaces da cadeia de suprimentos, etc.
Inicialmente, conforme mencionamos na publicação “Pensando fora da caixa”, alguns setores são mais
ou menos “digitalizáveis”, seja pela natureza do negócio em si, seja pelo ambiente externo.
Uma visão realista e consciente do management se torna mais que necessária, mesmo com a pressão do
mercado, da mídia e dos consultores aliada à tentação de embarcar por embarcar no mundo digital e
descobrir a salvação de todos os problemas, principalmente quando as coisas vão mal.
Dito isso, em nossa visão, o assunto vai além de se ter simplesmente o “foco” no mundo digital.
A transformação é um processo permanente e que exige adaptações. Ela não se encontra disponível à
venda e não é um item que se anexa à empresa. É um elemento com profundas ramificações e
multifaces, que vai muito além dos termos tecnológicos.
Investimentos integrados são necessários sob o ponto de vista de treinamento, projeto, infraestrutura,
comunicação, pessoas, entre outros. Monitoramento constante e eventuais correções e processos
flexíveis são fundamentais no meio do caminho, idealmente, vindo do topo da organização.
Além disso, a calibragem e disciplina dos investimentos é um fator determinante, tanto em termos
financeiros (montante de reais investidos) quanto em atenção (estar de olho no “novo” e esquecer do
“velho” que, no fim do dia, paga as contas).
Mas, olhando através do prisma da inovação digital, a racionalidade pode ser perdida, tornando-se
desafiador distinguir os investimentos necessários e estruturais de longo prazo dos modismos
momentâneos. Para tanto, é primordial um profundo entendimento e trabalho de pesquisa
proprietária.
Reconhecer a causa traz consigo admitir o erro perante o mercado, um sinal de fracasso. Acontece de
forma recorrente casos de empresas que ao longo dos anos cresceram de maneira não planejada e os
acúmulos de pequenas inadequações se tornam uma grande dor de cabeça estrutural que perdura por
mais tempo do que o previsto.
No mundo digital, realizar um diagnóstico completo pode demorar mais do que o que mercado almeja.
Porém, quando bem executado, traz amplos benefícios.
Empresas que, no passado, fizeram tal análise e desembolsaram os dolorosos (e não rentáveis) ciclos de
investimento iniciais durante o processo de transição digital se destacam entre os maiores sucessos de
hoje.
Ao invés do entrar e sair subitamente, um progresso equilibrado e gradual rumo à transformação evita
erros crassos, que podem custar a existência de uma organização.
A digitalização é uma das grandes vantagens competitivas do mercado atual. Entre as recompensas,
poderíamos destacar: crescimento, custos, inovação, produtividade e escalabilidade, capacidade de
resposta, cultura corporativa, marca e interação.
Com o fim da temporada de resultados referentes ao último trimestre do ano passado e do ano 2017
fechado, parte significativa das empresas que possuímos em carteira já anunciaram (e as ações ficaram
ex) até o momento.
Para o ano, vemos a carteira consolidada como um yield médio estimado ao redor de 6%.
Todas as nossas 13 posições em aberto, ficaram ou estão ex-proventos, conforme ilustramos a seguir.
MDIA* = ex na última semana de 2017, pagamento será realizado este mês, em 27/04/18.
Um abraço,
Sergio Oba
Links recomendados
1. Glossário
2. Histórico de dividendos
4. Manual do Vacas
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Editor-analista, CNPI
David Har-Zahav
Editor-assistente
Mariana Orlandi
Editora-assistente
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