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I. Contexto Histórico:
No séc XIII, os mercadores formaram as corporações de ofício. Assim, eles criaram regras paralelas
as do Estado - Direito civil, como as de composição de interesses (mediação), os bancos
(compensações de moeda – Depósitos de moeda em troca de litteris cambi, que era entregue ao
banqueiro correspondente, que entregava o valor correspondente que foi depositado), a nota
promissória, duplicata... (instrumentos que originaram o Direito cambial).
Napoleão tentou incorporar os institutos comerciais no Código Civil, porém foi inviável, uma vez
que o sistema mercantil criou técnicas que o Direito Civil não conseguia se adequar.
Surgem, na França, o Código Comercial e o Código Civil, pois o sistema mercantil não foi criado
para ser massificado. Com isso, essa corrente foi adotada pelo Brasil em 1850.
Em 1850, os títulos de crédito foram previstos na legislação brasileira (Código Comercial)
O Código Comercial criou uma dicotomia, que não existe mais desde o CC/02, entre contratos de
natureza mercantil e civil.
“Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto
neste Código.”
Em matéria cambial, se houver lei específica, aplica-se a norma específica. Assim, se a regra
específica for omissa, aplica-se o CC/02. Isso demonstra o paralelismo existente entre a realidade
cível e a cambial.
III. Conceito de Crédito:
O crédito (do latim, credere =confiança) significa conferir àquele que porta o instrumento a
confiança. Assim, o sistema jurídico confere ao credor uma possibilidade de aceitar o instrumento,
pois o Direito tomará as providências, caso o devedor não cumpra voluntariamente a satisfação do
credor.
(Ex: A legislação prevê ao indivíduo, que recebeu um cheque emitido por outra pessoa, a assunção
da posição de credor, e ao segundo, a posição de devedor)
Atualmente, a confiança provêm do Estado, que interfere neste tipo de relação jurídica, por meio
de medidas conferidas ao credor a serem tomadas contra devedor, se este não cumprir a obrigação
cambial.
Existem medidas:
a) Judiciais: trata-se de tutela executiva (satisfativa, expropriatória) prevista no art. 784 do CPC.
Ou seja, é um rol taxativo de títulos executivos extrajudiciais, que são instrumentos que disparam
a execução contra o patrimônio do devedor em caso de inadimplência, dentre os quais estão os
títulos de crédito no inciso I (a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata e o cheque).
b) Extrajudiciais: Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência, seja de pessoa
física ou jurídica, e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de
dívida. Somente o Tabelião e seus prepostos designados podem lavrar o protesto.
O protesto, basicamente, se destina a duas finalidades: a primeira é de provar publicamente o
atraso do devedor, assim é criado, no mercado, uma retração a esse indivíduo, ou seja, é um
mecanismo destinado a isolar o devedor; a segunda função do protesto é resguardar o direito de
crédito.
Obs.: Debênture, apesar de ser título executivo extrajudicial, não é título de crédito, mas sim um
mútuo entre a S/A e o particular que não faça parte da sociedade.
b) Contrato: se for verbal, não serve à execução. Se escrito, só servirá à execução se for realizado
conforme determina os seguintes incisos do art. 784 do CPC:
II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas.
c) Título de Crédito: são exequíveis (art. 784, I do CPC), sendo somente necessária a assinatura
do devedor para serem executados.
II. Negociabilidade: é a possibilidade dos instrumentos serem objetos de negócio jurídico.
a) Sentença Condenatória: Não há possibilidade de negociar os créditos inseridos na sentença.
b) Contrato: O contrato não pode, em si, ser objeto de negociação, mas poderão ser os créditos
e débitos nele inseridos. Ou seja, os direitos são negociáveis,
c) Título de Crédito: A negociação é atributo dos títulos de crédito. Os títulos de crédito podem
ser objeto de negócio jurídico (ex: compra e venda). Com isso, o título é pago a quem estiver com
ele, assim a mera disponibilidade do título permite a execução.
Ex: Entrega de cheques ao banco pela empresa que os recebeu do cliente, que adianta o montante
abatido àquele a título de antecipação. Essa atividade é denominada como desconto bancário, em
que a administração do título é realizada pela instituição bancária, assim ele não se torna titular do
título.
• Mercantilidade:
Como se aplica a regra jurídica de natureza cambial?
Somente se houver omissão de matéria extravagante, será aplicado o CC/02
“Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto
neste Código.”
Ou seja, esse artigo estabelece quem a fonte primária sempre será a fonte extravagante, e a fonte
subsidiária, o CC/02.
Com isso, segue a lista das legislações específicas que regulam os títulos de crédito:
• Natureza Jurídica:
Os títulos de crédito são bens móveis, assim são transmitidos com a tradição, assim como é
suscetível à aplicação dos Direitos Reais (Art. 1225 do CC/02).
Ex: “Art. 1.395. Quando o usufruto recai em títulos de crédito, o usufrutuário tem direito a perceber
os frutos e a cobrar as respectivas dívidas.”
“Art. 1.458. O penhor, que recai sobre título de crédito, constitui-se mediante instrumento público
ou particular ou endosso pignoratício, com a tradição do título ao credor...”
Portanto, são possíveis as seguintes hipóteses
I. A transferência da propriedade ou da posse dos títulos de crédito.
Ex: Art. 8º do Dec 2044/1908 “O endosso transmite a propriedade da letra de câmbio.”
II. A eventual alienação dos títulos de crédito não depende de vênia conjugal, uma vez que é bem
móvel.
III. Os títulos de crédito estão sujeitos às ações reivindicatórias e as possessórias.
• Formalismo:
O formalismo é a requisitação documental. Serve para identificar um instrumento cambial.
Os títulos de crédito gozam de certo rigor legal para conferir segurança jurídica ao instrumento, ou
seja, para que aqueles que se envolvam numa relação cambial tenham segurança jurídica, uma
vez que o acesso a relação cambial é específico, e não presumido (generalizado), logo necessita
de uma fonte própria.
O rigor legal pode ser quanto:
1) A Apresentação visual.
(Ex: Cheque, duplicata, Warrant)
2) Ao teor, isto é, as informações ali inseridas (expressões utilizadas na sua construção), conforme
os ditames legais, pois são estabelecidas em lei (Com isso, a lei não exige uma apresentação visual
pré-definida).
(Ex: Nota promissória, com a exigência da expressão, cláusulas específicas, data de vencimento...;
Letra de câmbio)
• Quesibilidade:
O CC/02 define o local de pagamento (domicílio), que poderá ser o do:
1) Credor: Obrigação portável
2) Devedor: Obrigação quesível, que é a regra (Art. 327 do CC/02).
Assim, em regra, o local de pagamento dos títulos de crédito é do domicílio do devedor, pois é
obrigação quesível, a qual orienta na definição do foro competente da ação de execução.
Os antigos portadores do título de crédito também são considerados devedores, assim a execução
pode ser proposta no domicílio (foro) de qualquer um deles, até mesmo nos juizados especiais
cíveis (Art. 3º e 4º da lei 9.099/95).
I. Pro Solvendo:
Significa “para pagamento”, ou seja, para que o cumprimento da prestação ocorra futuramente.
Nesse caso, o título de crédito ainda não servirá como instrumento de pagamento, uma vez que é
necessário aguardar o seu vencimento para que o pagamento se concretize.
Sempre há uma relação fundamental/ primária/ subjacente para que haja a emissão no título.
Exemplo:
Contrato de Compra e Venda, que é sinalagmático, bilateral (duas prestações distintas),
comutativo, objeto definido.
O devedor deve pagar o preço, portanto emite o título para representar o pagamento.
Nesse sentido, cria-se a obrigação cambial, que é nova relação jurídica (vínculo) entre as mesmas
partes, paralelamente à obrigação civil.
Desse modo, a obrigação cambial não deriva da obrigação civil, assim o título de crédito se
apresenta em relação autônoma.
A relação cambial tem natureza unilateral, pois é ordem de pagamento ao credor, ou seja, o
instrumento não representa uma contraprestação, mas sim uma prestação direcionada ao credor,
independente do motivo pelo qual foi emitido.
Portanto, as mesmas partes vinculam-se por fontes obrigacionais distintas: a civil (contrato
celebrado) e a cambial (título de crédito emitido).
É importante salientar que não há novação no que diz respeito ao título pro solvendo, pois as
pessoas vinculam-se a relações distintas, ou seja, não há extinção da obrigação anterior.
OBS.: Novação é mecanismo anômalo de extinção da obrigação, que provoca essa extinção em
decorrência da constituição de outra relação obrigacional, ou seja, resolve-se a obrigação sem que
o pacto originário seja cumprido. Logo, a novação substitui a obrigação, sendo necessário que haja:
• a obrigação substituída: é a obrigação que deverá ser extinta
• a obrigação substituidora: é a obrigação que será constituída
• Animus novandi: elemento intencional, o qual reconhece que as partes pretenderam a novação.
Quando na emissão do título não há a pretensão de novar, consiste em título pro solvendo.
Por tudo isso, conclui-se que:
Se a obrigação cambial (o valor) for satisfeita, a obrigação contratual também será.
Se a obrigação cambial for descumprida, nenhuma das duas prestações serão adimplidas
(contratual e cambial), logo o credor possuirá opções para exigir o cumprimento da prestação,
mediante os seguintes mecanismos de tutela:
1) Propor uma ação de execução, em razão da não satisfação do título de crédito.
2) Utilizar medidas protetivas do contrato, mediante o ajuizamento da ação de execução (se o
contrato possuir características do título executivo), ou da ação indenizatória, ou da ação de
resolução contratual, em razão da inexecução voluntária (devolução do bem, com a devida
indenização).
I. Pro Soluto:
É caracterizado o título Pro Soluto, quando há pretensão de novar na emissão do título de crédito.
É importante salientar que sempre há uma relação obrigacional anterior que ensejou a emissão do
título, para representar o cumprimento da prestação financeira. Com isso, após a emissão do título,
há a predominância da relação cambial sobre a relação cível, que será extinta e substituída por
aquela.
Exemplo:
Contrato de aluguel, cujo objeto é a posse direta do imóvel. Por isso, em caso de inadimplência do
locatário , se a pretensão do credor seja a de reaver, rapidamente, a posse do imóvel, poderá
ocorrer a seguinte conciliação: Parcelamento da dívida em 6 cheques pós-datados e, em troca, a
desocupação do imóvel em 30 dias, com a entrega das chaves do imóvel e a emissão do recibo da
entrega das chaves, que provoca a extinção do contrato de locação. Sendo assim, como a posse
do bem foi devolvida com a emissão do recibo, não há a possibilidade do locador reaver o imóvel
em decorrência de uma ação de despejo, pois o objeto do contrato pereceu.
Assim, a relação contratual findou-se, permanecendo as mesmas partes vinculadas, porém com a
natureza do vínculo modificada, uma vez que o título de crédito os une, ou seja, a relação de
natureza cambial substituiu a de natureza cível. Nota-se que a desocupação do imóvel representou
o ânimo de novar.
Se houver o descumprimento do pagamento no título de crédito, há possibilidade de ser proposta
ação de execução.
Dessa maneira, o animus novandi deverá ser inequívoco (Art. 361 do CC), isto é, não é presumido,
pois a sua existência é notável, podendo ser:
• Expresso: Expressão no contrato ou no título de crédito;
• Tácito: Acata a solicitação, mediante o comportamento, isto é, atitudes e declarações nas quais
se perceba o ânimo de novar.
A novação é, logo, a exceção, pois, se houver qualquer elemento que fragilize a novação (não ser
clara), ela será desintegrada.
Princípios Cambiais
• Noção de Princípio:
É um tipo de regra que é inserida no ordenamento jurídico, a qual traz um valor. Consiste numa
diretriz, uma verdade fundante, em que outras regras cabem nela.
As normas positivada são manifestações do princípio, ou seja, são o reconhecimento da diretriz
para que haja coerência no ordenamento jurídico. Se a norma não segue os princípios será
incoerente e prejudicial.
Os princípios possuem aplicabilidade em qualquer contexto, pois são gerais e abstratos.
• Princípio da Cartularidade:
Cartula significa pequeno pedaço de papel, isto é, escrito sem grande formalismo.
Assim, consiste na necessidade da materialização do instrumento (existência e originalidade do
título de crédito) para que o Direito seja exercido. Logo, no plano extrajudicial, para que alguém
possa exigir de outra pessoa o cumprimento da prestação baseada num título de crédito, deve
possuir o título original, e não outro meio de prova, para que haja fundamento legal à exigência do
crédito. (Art. 223, parágrafo único do CC/02).
Desse modo, para vincular alguém a uma obrigação cambial ou para vincular alguém a uma
execução baseada no título de crédito, é imprescindível possuir o título de crédito.
Por isso, é fundamental a apresentação do original, como técnica de segurança, para exigir o
pagamento, visto que o título circula, além do fato de que fotocópia poderia ser utilizada como meio
de fraude. Portanto, o devedor não é obrigado a pagar a quem não apresenta o instrumento cambial
(Exemplo: O mesmo indivíduo utilizar-se do título mais de uma vez, obrigando o emissor a pagar
em dobro).
Vale salientar que a apresentação do instrumento na forma física não decorre de uma norma
jurídica, mas sim do princípio da cartularidade.
Além disso, esse princípio orienta que, à medida que o devedor efetua o pagamento, o título lhe
deve ser devolvido, como consequência natural do pagamento e representação da quitação da
obrigação. Logo, a posse do título nas mãos de quem o originou acarreta a presunção de que a
obrigação foi satisfeita e altera a natureza do instrumento cambial, isto é, não é mais título
executivo, mas sim o recibo do pagamento, pois a obrigação cambal foi extinta
Art. 887. do CC “O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele
contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.”
• Princípio da Literalidade:
É a qualificação/ quantificação da extensão dos direitos inseridos nos títulos de crédito em números,
símbolos e letras. Assim, consiste tanto na delimitação do direito (de quem recebe o título) e do
dever (de quem emite), como na transferência para o papel dos dimensionamentos, do que se
pretende com a relação obrigacional.
(Ex: Emissão de cheque cruzado: o beneficiário não poderá sacá-lo no caixa em espécie, deverá
depositá-lo em alguma conta bancária).
Nada no título de crédito é presumido, pois tudo deve ser estabelecido, por expresso, no título. Com
isso, para que seja estabelecido o vínculo da parte, isso deverá estar , por expresso, no título, não
sendo possível dimensionar uma obrigação cambial por contrato.
Ex: Para que seja viabilizada, a transferência do título de crédito deve vir expressa no título,
mediante o endosso, que é ato jurídico lançado no título de crédito, consistindo numa expressão
“Pague-se a ...”, que transfere a propriedade do instrumento.
• Princípio da Autonomia:
É definido pela ideia de que as posteriores relações cambiais que surgirem com a circulação do
título de crédito regem-se por si mesmas, uma vez que este instrumento torna-se autônomo.
O título de crédito está sujeito a dois momentos: saque e circulação.
Assim, quando o título de crédito circula, há a incidência do princípio da autonomia.
Caso o título de crédito, ao ser emitido, permanecer somente com o 1º credor e não for transferido
para mais ninguém, o princípio da autonomia não será aplicado. No entanto, se for transferido,
especialmente pela modalidade endosso, haverá incidência do princípio da autonomia.
A expressão autonomia é genérica e demarca três manifestações (momentos): Abstração,
Independência das obrigações e Inoponibilidade.
O título de crédito passa por dois movimentos:
Movimento Ascendente: está relacionado a constituição do crédito, isto é, título de crédito criado
e transferido/endossado. Neste movimento, há a apresentação da abstração e da independência.
Movimento Descendente: está relacionado a fase de execução, ou seja, é o quando há o
vencimento do título de crédito. Neste movimento, há a apresentação da inoponibilidade. À medida
que o título vence e o portador, que tem o instrumento, requer providência judiciais para obter o
crédito representado no título, a inoponibilidade apresenta-se.
I. Abstração:
Consiste no momento em que a relação cambial desvincula-se da relação originária/ fundamental.
À medida que o título de crédito é transferido, este se desvincula da relação originária, e novas
relação são constituídas, logo essas novas relação cambiais não se contaminam por qualquer vício
da relação que foi motivo da emissão do título.
Ex: Emissão de título de crédito pro solvendo, em razão de contrato de compra e venda.
(Alienante = credor; Adquirente = devedor).
No primeiro momento, o título de crédito continua referindo-se as mesmas partes. Todavia, ao
alienante transferir o título de crédito a um 2º credor (se o título de crédito foi transferido, a relação
cambial também foi), a relação cambial sofre um desvio, ocorrendo o fenômeno da abstração, uma
vez que a relação cambial desvinculou-se da relação fundamental. Logo, o título de crédito não
será mais visto como o instrumento que foi emitido em decorrência de um episódio, mas sim como
o título de crédito em si.
Sendo assim, a relação entre o adquirente e o 2º credor é cambial, pois se baseia exclusivamente
no título de crédito. Com isso, o 2º credor não toma conhecimento dos motivos que levaram a
emissão do título, possuindo o instrumento que garante a possibilidade de realizar a execução
contra o devedor, a fim de satisfazer o crédito.
Vale salientar que essa relação cambial não se contamina por qualquer vício da relação anterior.
Ex: Cheque que foi emitido para pagar 100 caixas de mercadoria. À medida que o cheque circula
e há a incidência da abstração (desvincula-se da relação originária), o cheque não poderá ser
sustado caso o 1º credor não envie as mercadorias que foram contratadas (a prestação não foi
cumprida), porque prejudicará outra pessoa que recebeu o título de crédito e que não possui vínculo
com a relação fundamental.
Caso o contrato não seja cumprido, não poderá o indivíduo utilizar-se de recursos cambiais, pois
não foi o título de crédito que foi afetado, mas sim o contrato. Logo poderá haver a resolução do
contrato, a solução em perdas e danos, isto é, envolvendo somente a relação contratual do
alienante e do adquirente, assim jamais a sustação do título de crédito que abstraiu (já transferido)
será o mecanismo correto, pois é prática ilícita, caracterizada por ser uma variação de estelionato.
Portanto, independentemente da natureza da relação fundamental, a transmissão do título de
crédito o torna independente. Caso dentro da relação fundamental haja um defeito, ainda sim a
abstração produz efeitos.
Ex: C1 emitiu o título de crédito para C2, em virtude de dívida de jogo. No momento do saque, o
título de crédito é oponível, pois a dívida de jogo não é exigível, logo não poderá exigir esse crédito.
Todavia, se C2 transmitir o título para C3, este possui o direito de receber o instrumento cambial e
exigir o crédito.
À proporção que o título de crédito é transferido, aponta-se para quem esteja em posse do título.
As relações cambais anteriores são identificadas no título, podendo ser rastreadas.
Com isso, à medida que o título de crédito for transmitido pelo endosso, ele será renovado, uma
vez que a independência das obrigações retém as impurezas da relação anterior, logo o título não
carregará as derivações (vícios e defeitos) da relação anterior. Assim, a transmissão produz efeito
para quem recebeu o instrumento cambial.
Ainda que o ato seja praticado por incapaz, o novo personagem que recebe o título de crédito
constitui uma nova obrigação, não contaminada com a relação anterior. Vale salientar que o
incapaz ficará afastado da obrigação, ou seja, não lhe poderá ser exigido o crédito, contudo, em
decorrência da independência, não impede que quem emitiu o crédito cumpra a prestação, o que
significa que não será descaracterizada a obrigação representada no título de crédito. Assim, a
independência das obrigações valida a transmissão do título de crédito.
Se o título de crédito for emitido por incapaz, o título permanecerá válido, porém o portador do título
não poderá exigir o crédito dele, assim essa questão deverá ser resolvida contratualmente.
Entretanto, cambialmente, embora o portador não possa executar o devedor, poderá executar todos
os personagens anteriores, pois as demais obrigações continuam a produzir efeitos.
Com base no artigo acima referido, não é possível o portador exigir o crédito do incapaz, pois ele
não possui condições de assumir a obrigação, porém poderá buscar a execução do título de crédito
dos personagens anteriores, que são solidariamente responsáveis, conforme o Art. 47 do
mencionado decreto, podendo ser chamados simultaneamente ou em separado, sendo necessário
verificar a disponibilidade patrimonial de cada um para tanto. Em suma, o exequente poderá propor
a ação de execução contra quaisquer dos devedores anteriores.
Decreto 57663/66: “Art. 47 - Os sacadores, aceitantes, endossantes ou
avalistas de uma letra são todos solidariamente responsáveis para com o
portador. O portador tem o direito de acionar todas estas pessoas
individualmente, sem estar adstrito a observar a ordem por que elas se
obrigaram. O mesmo direito possui qualquer dos signatários de uma letra
quando a tenha pago. A ação intentada contra um dos co-obrigados não
impede acionar os outros, mesmo os posteriores aquele que foi acionado
em primeiro lugar.
É necessário salientar a previsão do Art. 917 do CPC, que prevê um mecanismo de defesa ao
executado: a oponibilidade, mediante a interposição dos embargos à execução, que é
correlacionado com a contestação (processo de conhecimento).
“Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:
[...]
VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo
de conhecimento.”
Ou seja, essa previsão consiste em técnica de oposição à execução que possibilita resistir a
pretensão do exequente por vícios na relação. Contudo, esse dispositivo legal somente se aplica a
instrumentos executivos de natureza civil, e não cambial, uma vez que há uma outra previsão legal
que fragiliza esse artigo do CPC e que será analisada a seguir.
Decreto 57663/66: “Art. 17: As pessoas acionadas em virtude de uma
letra não podem opor ao portador as exceções fundadas sobre as
relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores,
a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido
conscientemente em detrimento do devedor.”
Portanto, o referido artigo consagra o princípio da inoponibilidade das exceções, o qual consiste
num atributo da autonomia que restringe os argumentos do executado e que somente possui
aplicação se a execução for cambial, ou seja, quando a execução vier apontada por título de crédito.
Assim, o portador não pode se opor a relação cambial atual, com base em vícios relacionados as
outras relações anteriores.
(Ex: C3, embora tenha recebido o título do incapaz, não exige o título deste, mas sim de outro
personagem que, de forma abstrata, compreende que terá que realizar o pagamento a quem
apresentar o título – princípio da cartularidade).
Por tudo isso, a defesa do executado, em âmbito cambial, é mais restrita que a defesa do executado
em âmbito civil.
• Quanto à transferência:
O título de crédito, ao entrar em circulação, poderá sair da posse do beneficiário das seguintes
maneiras:
1) Ao portador: é o título de crédito que, para a realização da transferência, não há identificação
do novo beneficiário, que é o seu destinatário, ou seja, a pessoa em favor de quem é entregue o
título de crédito. São bens móveis, logo são transferidos por meio da tradição.
Ex: Cheques de até R$ 99,00. Se uma pessoa quiser antecipar o valor (desconto bancário), é
preciso somente a transmissão, mediante a tradição, porém deverá identificar-se no instrumento.
2) Nominativos/ Nominais: é o título de crédito caracterizado pela identificação do novo
beneficiário. Embora a tradição seja útil, não é suficiente, uma vez que é fundamental o endosso
para que haja a transmissão da propriedade do título de crédito.
Ex: Letra de câmbio, nota promissória e cheques de valor igual ou maior que R$ 100,00.
Por exemplo, “A” entrega a “B” o título de crédito, no qual este se identifica. Caso “B” apenas
tradicione o cheque a “C”, não será suficiente a concretização da transmissão, uma vez que, para
que “C” transmita o título de crédito ao banco, deverá comprovar a sua titularidade.
O Endosso é ato jurídico praticado em título de crédito, que goza de formalismo, sendo realizado
no verso. Esse ato poderá se apresentar nas seguintes modalidades:
I. Completo: apresenta identificações, expressões (“endosso”, “pague-se”) e a assinatura por
quem tem legitimidade para transmitir o título de crédito.
Os títulos de crédito apresentam a cadeia de endosso, que identifica a sequência de transferências.
II. Simples: traduz-se apenas pela assinatura do endossante no verso do título, assim os
beneficiários não são identificados.
Decreto 57663/66: “Art. 13 - O endosso deve ser escrito na letra ou numa
folha ligada a esta (anexo). Deve ser assinado pelo endossante. O
endosso pode não designar o beneficiário, ou consistir simplesmente na
assinatura do endossante (endosso em branco). Neste último caso, o
endosso, para ser valido, deve ser escrito no verso da letra ou na folha
anexa.”
Títulos de Espécie
• Letra de Câmbio e Nota Promissória:
1) Legislação aplicável:
O CC/02 tem normas de programação, mas não de utilização, assim essa legislação teve a
pretensão de regular o sistema obrigacional.
Porém, o art. 903 reconhece que é fonte supletiva dos títulos de crédito, assim deve-se usar,
primeiramente, a fonte extravagante: Dec 2044/1908, como fonte supletiva, e Dec 57663/66, como
fonte primária.
A Convenção Genebrina uniformizou, em nível internacional, a legislação sobre letra de câmbio e
nota promissória.
2) Suporte de emissão:
A relação extracambial é formada por prestações, do devedor e do credor, que compõem a
obrigação.
A relação cambial representa, portanto, a prestação de pagar mediante um instrumento cambial.
Ela é composta pelo subscritor e pelo beneficiário.
A NP representa a prestação de pagar.
A LC, por ser ordem de pagamento, envolve as funções do beneficiário, sacado e sacador. A
siituação extracambial que autoriza a emissão, isto é, o fundamento da LC é a representação de
duas relações obrigacionais, criando situações de economia.
Beneficiário: quem possui o crédito (quem recebe o título de crédito)
Sacado: quem paga
Sacador: quem emite o título de crédito
O Aceite será o elo entre os indivíduos que não possuiam ligação, de modo a criar a obrigação
cambial. Não há aceite na NP, uma vez que, no ato de emissão da promissória, o devedor já
assume de imediato a dívida (não existe o sacado; é uma promessa de pagamento).
3) Requisitos:
A LC e a NP são instrumentos de modelo não vinculado, assim não há padronização visual, mas
sim de informação, de modo que deverá haver uma identificação com a previsão legal para a
produção de efeitos.
I. Requisitos essenciais:
Se não contiver, será ineficaz o título de crédito. (Ex: Assinatura)
II. Requisitos não essenciais:
Se não contiver, será continuará válido.
OBS.: Ineficácia X Nulidade
Ineficácia consiste no defeito quanto a produção dos efeitos, que são imaturos, pois não tem
executividade. Desse modo, só poderá ser meio de prova, servindo ao processo de conhecimento.
Já a nulidade consiste no efeito de existência, de sorte que também não produzirá efeitos.
Decreto 57663/66: “Art. 1º - A letra contém:
1 - A palavra "letra" inserta no próprio texto do título é expressa na língua
empregada para a redação desse título;
2 - O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;
3 - O nome daquele que deve pagar (sacado);
4 - A época do pagamento;
5 - A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;
6 - O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga;
7 - A indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada;
8 - A assinatura de quem passa a letra (sacador).”
4) Assinatura:
É a grafia do nome que é feita de próprio punho logo é manifestação da personlidade.
Em relação ao indivíduo, a exigência de assinatura é a análise da sua capacidade, pois trata-se de
manifestação da vontade, a qual exige que o indivíduo seja capaz.
Dessa maneira, somente maiores de 18 anos e emancipados podem assinar.
Vale ressaltar que o capaz poderá nomear mandatário para emitir título de crédito em seu nome,
contanto que haja procuração, assinada pelo mandante, com poderes especiais (expressão “p/p”).
Quanto a PJ, é necessário que haja legitimidade, mediante a assinatura do administrador, caso
haja permissivo contratual.
Aceite
• Noção e Cabimento:
É ato de natureza cambial que é praticado pelo sacado, que o vincula a obrigação cambial que,
anteriormente, só estava vinculada o sacador. (Art. 21 a 29 do Decreto 57663/66)
É cabível na ordem de pagamento.
Nesse sentido, aumentam-se as garantias ao beneficiário para que alcance o seu crédito, pois,
antes do aceite, só havia a possibilidade de alcançar o sacador. Assim, o beneficiário terá maior
probabilidade de alcançar a satisfação do crédito.
Além disso, também é ato constitutivo, pois atribui ao beneficiário um novo Direito, e ao sacado,
um dever de cumprir com a obrigação cambial, que, até então, era inexistente. Ou seja, o aceite
insere o sacado na qualidade de aceitante, e o beneficiário, na qualidade de legitimado para
avançar sobre aquele.
Ademais, é ato de concordância do sacado, ou seja, é manifestação de vontade deste, de modo
que este realize o pagamento ao beneficiário.
Também, é ato jurídico que deve ser composto por agente capaz, objeto lícito e determinada forma
para que seja válido. Além disso, necessita ser legítimo, pois o único indivíduo que pode aceitar o
título é o sacado, ou seja, o aceite é ato privativo do sacado.
Somente é cabível na LC e na duplicata. O cheque não admite o aceite.
OBS.: A relação entre o sacado (devedor) e o sacador (credor) é extracambial, os quais transferem
suas obrigações para o título de crédito. No entanto, o sacado e o beneficiário não possuem
nenhum vínculo extracambial, ou seja, não possuíam qualquer vínculo antes do título de crédito.
• Aceitação da Letra de Câmbio (Características e Consequências):
O aceite ocorre entre a emissão e o vencimento do título de crédito.
“Art. 21 - A letra pode ser apresentada, até o vencimento, ao aceite do
sacado, no seu domicílio, pelo portador ou até por um simples detentor.”
Durante o prazo de apresentação, o beneficiário deve apresentar o título de crédito ao sacado, que
poderá concordar ou não. Se ele aceitar, estará assumindo a responsabilidade de pagar no
vencimento (pagamento futuro, e não na hora da apresentação).
Para que o aceite seja caracterizado, será necessário a: (alternativamente)
I. Mera assinatura (lado esquerdo, no anverso da LC).
II. Declaração de vontade + Assinatura do sacado (Ex: “aceito”, “concordo”, “pagarei”...).
Com isso, só é possível que o aceite seja por expresso.
Nesse sentido, o sacado transforma-se em aceitante perante o aceite, uma vez que se torna
devedor direito e principal da obrigação cambial.
Logo, caso o aceitante pagar o título de crédito após o vencimento, a obrigação extingue-se, uma
vez que ele era o devedor principal, sendo assim todos os envolvidos estarão desobrigados.
a) Devedor principal: provoca o seguinte efeito: ao realizar o pagamento, o título extingue-se,
desvinculando os devedores indiretos.
b) Devedor direto: deve-se apresentar o título de crédito ao aceitante, primeiramente, de modo
extrajudicial. Caso ele não pague, é possível alcançar os demais, pois são devedores indiretos.
Assim, trata-se de benefício de ordem.
Decreto 57663/66 “Art. 28. O sacado obriga-se pelo aceite pagar a letra
a data do vencimento. Na falta de pagamento, o portador, mesmo no caso
de ser ele o sacador, tem contra o aceitante um direito de ação resultante
da letra [...]”
“Art. 24 - O sacado pode pedir que a letra lhe seja apresentada uma
segunda vez no dia seguinte ao da primeira apresentação. Os
interessados somente podem ser admitidos a pretender que não foi dada
satisfação a este pedido no caso de ele figurar no protesto. O portador
não é obrigado a deixar nas mãos do aceitante a letra apresentada ao
aceite.”
Após lavrado o termo de protesto, o beneficiário poderá alcançar o patrimônio dos devedores, isto
é, será possível ajuizar a ação de execução contra os devedores, antes mesmo do vencimento do
título de crédito, pois trata-se de hipótese de antecipação da exigibilidade do pagamento.
“Art. 43 - O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação
contra os endossantes, sacador e outros co-obrigados:
No vencimento, se o pagamento não foi efetuado.
Mesmo antes do vencimento:
1 - Se houve recusa total ou parcial de aceite; [...]”
Assim, o valor rejeitado (pelo sacado) deverá ser satisfeito pelo sacador, pois é o garantidor da não
aceitação ou do não pagamento do título de crédito pelo aceitante.
“Art. 9º - O sacador é garante tanto da aceitação como do pagamento de
letra.
O sacador pode exonerar-se da garantia da aceitação; toda e qualquer
cláusula pela qual ele se exonera da garantia do pagamento considera-se
como não escrita.”
Portanto, nessa hipótese, será necessário o protesto para o ajuizamento da ação executiva, que
poderá ser interposta antes do vencimento, pois também é situação que permite a antecipação da
exigibilidade do pagamento.
Além disso, é mais vantajoso que a execução seja interposta( pelo detentor do título) em face do
sacador, pois será baseada no valor integral da obrigação cambial, e não no valor limitado pelo
sacado, de sorte que, posteriormente, o sacador poderá executar o sacado sobre a quantia que
este aceitou pagar.
Entretanto, é possível que a execução seja proposta em face do aceitante limitado. Assim, o
detentor do título daria quitação, mas continuaria com o título (é exceção ao princípio da
cartularidade) e, posterioriomente, avançaria sobre o sacador.
• Aceite positivo da Duplicata:
A Duplicata é causal, pois depende de uma prestação de serviço ou de um contrato de compra e
venda.
Na compra e venda, existe o empresário que adquire as mercadorias, e outro empresário que as
vende.
1) Aceite por expresso:
Diante dessa negociação mercantil, o vendedor emite a duplicata ao adquirente (sacado), para que
tome ciência, assine a duplicata e devolva o título ao vendedor (sacador). Assim, nessa hipótese,
o aceite será expresso.
1) Aceite tácito:
Caso a duplicata não for recebida pelo adquirente, desde o vendedor demonstre que as
mercadorias foram devidamente entregues e recebidas pelo adquirente, a duplicata, embora não
aceita, produzirá os efeitos do aceite.
(ex: poderá estar no banco, em razão de antecipação de crédito),
A comprovação da entrega das mercadorias faz-se por meio da nota fiscal fatura.
Assim, o sacado será obrigado ao pagamento do título, ainda que não haja a sua assinatura na
duplicata.
• Rejeição da Duplicata:
O aceite negativo na duplicata só existe na modalidade expressa, que se dá por intermédio das
causas previstas no artigo abaixo.
Lei 5474/68 “Art . 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a
duplicata por motivo de: