Sunteți pe pagina 1din 8

A R T I G O ESPECIAL

bsbm
brasíliamédica A PRECE CURA?
1
CARLOS EDUARDO TOSTA

RESUMO

A prece tem sido utilizada, desde tempos imemoriais, como instrumento


de cura. A crença de que a prece pode beneficiar pessoas
doentes ou necessitadas generalizou-se em todos os povos, indepen-
dentemente da religião, e é aceita até entre praticantes de religiões não-
teístas ou mesmo ateus. Apesar da freqüência com que é utilizada, a
prece só recentemente tem recebido a atenção da comunidade científica.
O primeiro artigo a utilizar um correto delineamento metodológico foi
publicado em 1988 e, desde então, várias investigações têm atribuído à
prece um efeito curativo. A presente revisão tem como objetivo proceder
a uma análise crítica sobre o possível papel da prece como instrumento
de cura ou de preservação da saúde. Conclui-se que, embora se desconhe-
ça como atua, várias evidências parecem indicar que a prece é capaz de
influenciar a cura de doenças, possivelmente por concorrer para a
estabilização de importantes funções do organismo como o sistema imu-
nitário.

PALAVRAS-CHAVE
Prece; cura; cura à distância; cura espiritual; fagocitose.

Desde a mais remota antigui- rada como a principal intervenção


dade, a prece e outros procedi- terapêutica, e a crença de que pos-
mentos não convencionais, como sa beneficiar pessoas doentes ou
o toque, têm sido utilizados no pro- necessitadas é quase generalizada
cesso de cura. A Bíblia contém em todos os povos, independen-
várias passagens em que esses mé- temente da religião e, até entre
todos foram usados com sucesso, praticantes de religiões não-teístas
como para a cura de um leproso ou ateus. Apesar da freqüência
(Mateus 8:1-4; Lucas 4:38-39), com que é utilizada para manter a
de cegos (Mateus 9:27-31), de saúde ou tratar doença, a prece só
epilético (Mateus 17:14-21; Mar- recentemente tem recebido a aten-
cos 9:18-29; Lucas 9:37-42) e ção da comunidade científica. O
mesmo para ressuscitar uma mor- primeiro artigo a utilizar um corre-
ta (Atos 9:36-41). to delineamento metodológico,
publicado em 1988,1 avaliou o
Em algumas sociedades e gru- efeito da prece sobre a recupera-
pos religiosos, a prece é conside- ção de enfermos. Desde então,
1
Faculdade de Medicina,Universidade de Brasília.
Coorespondência: Laboratório de Imunologia Celular, Faculdade de Medicina, Universi-
dade de Brasília. CEP: 70910-100 - Brasília - DF.

38 Brasília Med 2004; 41:38-45


A PRECE CURA?

tem sido publicado um número cres- neuroimagem, mostrou-se que plicar a ação da consciência à dis-
cente de revisões a respeito.2-6 freiras franciscanas e monges bu- tância, como fenômeno não loca-
distas durante prece meditativa lizado no tempo ou no espaço.17,18
O QUE É A PRECE? apresentaram alterações do fluxo Em uma análise sistemática de 832
Segundo o Dicionário Houaiss sangüíneo em determinadas áreas estudos envolvendo a influência da
de Língua Portuguesa, a palavra do cérebro.11 consciência humana sobre sistemas
“prece” se origina do latim prex, microeletrônicos encontraram-se
precis que significa ‘pedidos, sú- A PRECE COMO METENERGIA resultados consistentes e reprodu-
plicas; votos, desejos’. Duas das Os efeitos da prece parecem zíveis.19
formas mais comuns de prece se não ser limitados ao tempo e ao
incluem claramente nesse significa- espaço12,13 e, se decorrer de al- ESTUDOS SOBRE O EFEITO
do: a petição e a intercessão. Na gum tipo de energia, esta não obe- DA PRECE EM SERES HUMANOS
prece do tipo petição aquele que dece às leis da física clássica. De Com base em pesquisa no sis-
ora pede algo para si, ao passo fato, o efeito da prece parece ser tema Medline, usando como pa-
que, na prece por intercessão, o mesmo independentemente se lavras-chave “prayer”, “distant
pede-se algo para outrem. feita próxima à pessoa-alvo ou se healing”, “spiritual healing”, “noetic
o intercessor estiver a milhares de therapy” e “therapeutic touch”,
Como o alvo mais comum das quilômetros de distância.1 Para apresentamos, em ordem crono-
preces é Deus, ou algum ser su- encobrir nossa atual ignorância lógica, dez resumos de artigos so-
perior próximo a Ele, existe a ten- sobre a natureza da prece, criou- bre os efeitos da prece interces-
dência para definir como prece se o neologismo metenergia, com sória em seres humanos em que
“... pedir algo a Deus numa atitu- significado de algo que vai além, foram utilizada metodologia cien-
de reverente” ,7 ou “... qualquer ato que transcende a energia física. tífica e publicados em revistas com
que nos coloca em contato com o corpo de revisores.
transcendente”,8 ou mesmo “...a Existe crescente tendência para
comunicação com o divino em considerar a existência de uma 1. Byrd (1988)1 observou, em es-
nós”.9 Entretanto, temos que ad- interconectividade entre os seres.14,15 tudo duplo-cego, a ação da pre-
mitir que não dispomos (e talvez Erwin Schrödinger, físico e filósofo ce à distância em 393 pacientes
jamais viremos a dispor) de pro- austríaco, assim se manifestou: “Por internados em unidade de tera-
vas de que a prece atue por inter- mais inconcebível que possa pa- pia coronariana, divididos em
médio de Deus. recer ao nosso senso comum, nós dois grupos aleatorizados (com
estamos em todos os demais se- prece ou sem prece). Resulta-
Algumas investigações recentes res, que também estão em nós, de do: os indivíduos do grupo com
têm avaliado as alterações funcio- modo que a vida que cada um de prece desenvolveram menos in-
nais de indivíduos durante a pre- nós vive não é somente uma por- suficiência cardíaca congestiva
ce. Demonstrou-se que a recita- ção da existência total, mas, em e pneumonia, necessitaram de
ção da Ave Maria, no ritmo de seis certo sentido, é o todo”.16 Nesse menos suporte ventilatório e de
vezes por minuto, resultou em me- contexto, não se pode excluir a pos- tratamento com antibióticos e
lhora de alguns aspectos da fun- sibilidade de considerar a prece diuréticos. Não houve diferen-
ção cardíaca, provavelmente em como fenômeno decorrente da ex- ça na mortalidade entre os dois
decorrência da redução do ritmo pansão da consciência (ou da di- grupos nem na duração da per-
respiratório. Os mesmos efeitos mensão do espírito) individual e manência na unidade de terapia
foram obtidos por meio da recita- que atuaria por meio de interco- intensiva ou no hospital. Co-
ção rítmica de mantras.10 Por ou- nexões entre os seres. Várias teo- mentários: trata-se de investiga-
tro lado, utilizando-se técnicas de rias têm sido elaboradas para ex- ção bem delineada e bem

Brasília Med 2004; 41:38-45 39


bsbm
brasíliamédica
CARLOS EDUARDO TOSTA

conduzida, incluindo número re- lhora do humor; não houve di- Resultado: depois de um ano de
presentativo de pacientes. En- ferença nos níveis de linfócitos seguimento, todos os casos
tretanto, dos 29 parâmetros T CD4. Comentário: algumas apresentaram melhora; e a pre-
avaliados, somente em seis hou- inconsistências na análise esta- ce suplementar não causou be-
ve diferença significativa entre tística indicam necessidade de nefícios adicionais. Comentário:
os grupos com prece e sem pre- confirmação dos resultados. a ausência de grupo-controle
ce, todos favoráveis ao primei- enfraquece os resultado. Como
ro grupo. 4. Harris e colaboradores (1999)22 somente a prece com a presen-
investigaram o efeito da prece à ça do interventor causou bene-
2. Walker e colaboradores (1997)20 distância em 990 doentes inter- fício, este pode ter sido conse-
realizaram um estudo prospec- nados em unidade de terapia qüência de efeito placebo ou do
tivo, duplo-cego, incluindo 40 intensiva coronariana por meio próprio curso clínico do proces-
indivíduos submetidos a progra- de estudo duplo-cego, aleatori- so de base, já que os pacientes
ma de tratamento de alcoolis- zado, com dois grupos parale- vinham em uso de medicação
mo, divididos em dois grupos: los, que receberam ou não pre- regularmente.
sem prece e os que recebiam ce. Resultado: o grupo que re-
prece por seis meses. Resulta- cebeu prece (por 28 dias) ob- 6. Aviles e colaboradores (2001)24
do: o grupo que recebeu prece teve melhores índices de evolu- avaliaram o efeito da prece
apresentou maior comprometi- ção na unidade coronariana do intercessória à distância, aplica-
mento com o programa. Entre- que o que não recebeu; não da pelo menos uma vez por se-
tanto, não houve diferença no houve diferença na duração da mana durante 26 semanas, so-
consumo de álcool entre os dois hospitalização entre os dois gru- bre a progressão de doença
grupos. Comentário: trata-se pos. Comentários: em nenhum cardiovascular em 799 casos
de projeto-piloto cujos resulta- dos 35 parâmetros individuais após terem alta de unidade de
dos ainda não foram confir- avaliados houve diferença entre terapia coronariana. As inter-
mados. os dois grupos, o que só ocor- corrências avaliadas foram mor-
reu quando foi utilizado um sis- te, parada cardíaca, re-hospita-
3. Sicher e colaboradores (1998)21 tema de ‘escores’ de evolução lização por doença cardiovas-
avaliaram a eficácia de dois clínica, ainda não validado; tam- cular, revascularização corona-
métodos de cura à distância bém não houve diferenças entre riana ou atendimento em urgên-
(prece e ‘cura psíquica’) em 40 os grupos quando foram utiliza- cia cardiovascular. Resultado:
indivíduos em estado avançado dos os critérios de evolução clí- não houve diferença significante
de síndrome de imunodeficiên- nica utilizados por Byrd (1988)1. na freqüência de intercorrências
cia adquirida (SIDA) por meio entre o grupo de intervenção
de estudo prospectivo, duplo- 5. Matthews e colaboradores (25,6%) e o grupo-controle
cego, aleatorizado e com con- (2000)23 conduziram estudo, (29,3%), nem entre os pacien-
trole. Resultado: o grupo trata- sem grupo-controle, de quaren- tes de alto risco, nem entre os
do apresentou, após seguimen- ta pacientes que apresentaram de baixo risco. Comentário: ar-
to de seis meses, redução signi- artrite reumatóide sob tratamen- tigo com adequado delineamen-
ficativa da freqüência de doen- to medicamentoso. Todos rece- to metódico, mas que seria mais
ças definidoras de SIDA, redu- beram prece intercessória por consistente se houvesse melhor
ção da gravidade do quadro clí- contacto direto com os inter- padronização das condições em
nico, menor freqüência a con- ventores, ao passo que deze- que a prece foi feita e, princi-
sultas médicas e menor duração nove desses receberam também palmente, do número de indiví-
da hospitalização, além da me- prece suplementar à distância. duos para os quais cada inter-

40 Brasília Med 2004; 41:38-45


A PRECE CURA?

cessor orava (‘de 1 a 100, me- to padrão, prece intercessória, menor duração da febre e da
diana de cinco’), maior freqüên- imaginação criativa, relaxamen- permanência no hospital, mas
cia de preces (‘pelo menos uma to e toque terapêutico; trata-se sem diferença da mortalidade em
vez por semana’) e do número de estudo controlado, duplo- relação ao grupo sem prece.
de intercessores por pessoa cego e aleatorizado. Resultado: Comentários: embora a meto-
(‘mediana de um’). não houve diferenças entre os dologia seja cuidadosa, a idéia
grupos em relação aos seis de que a intervenção por meio
7. Cha e colaboradores (2001)25 parâmetros testados; houve uma da prece intercessória possa al-
investigaram o efeito da prece redução de 25% a 30% das terar algo retroativamente pare-
intercessória à distância, durante complicações durante a inter- ce absurda, embora o autor de-
três semanas, sobre a freqüên- venção coronariana nos grupos fenda a não-linearidade do tem-
cia de gravidez em 219 mulhe- tratados com terapias noéticas, po e a não-contenção de Deus
res tratadas com fertilização in em comparação ao grupo com nessa linearidade. Para alguns
vitro por transferência de em- terapia-padrão. O grupo que autores, essa proposta é acei-
brião, por meio de estudo con- apresentou menos complica- tável e justificável, 13 embora
trolado, duplo-cego e aleato- ções foi o que recebeu prece haja quem não veja sentido
rizado. Resultado: o grupo de intercessória à distância. A du- nisso.6
mulheres que receberam prece ração da hospitalização foi me-
apresentou elevadas taxas de nor nos indivíduos submetidos 10. Matthews e colaboradores
gravidez (50% confrontados às terapias noéticas. Comentá- (2001)28 testaram o efeito da
com 26%, P = 0,0013) e de im- rios: a investigação teve deline- prece intercessória, da visua-
plantação do embrião (16,3% amento adequado e, embora lização criativa e da expectati-
confrontados com 8%, P = não tenha demonstrado variação va de alcançar objetivos em
0,0005). Comentário: um dos nos parâmetros avaliados, mos- um grupo de 95 doentes re-
poucos trabalhos que não ava- trou que os tratamentos noéti- nais crônicos submetidos à
liaram o efeito da prece em en- cos, principalmente a prece, re- hemodiálise, aleatoriamente
fermos. Metodologia correta, duziram as complicações asso- alocados em seis grupos de es-
mas não há termos de autoriza- ciadas à intervenção corona- tudo e avaliaram dez parâme-
ção das pacientes para partici- riana e à duração da interna- tros clínicos e dez psicológicos.
par da investigação. ção. A demonstração definiti- Resultado: os indivíduos que
va do efeito das intervenções esperavam receber prece
8. Krucoff e colaboradores (2001)26 avaliadas só será possível com intercessória sentiram-se signi-
avaliaram o efeito de terapias um grupo de estudo quatro ficativamente melhores que
noéticas (não medicamentosa) vezes maior, ou seja, seiscentos aqueles que esperavam rece-
em 150 doentes submetidos a pacientes. ber visualização; nenhum outro
intervenções coronarianas efeito da prece intercessória foi
percutâneas, com seguimento 9. Leibovici (2001)27 investigou o detectado; os efeitos da prece
de seis meses após o procedi- efeito da prece intercessória ‘re- não podem ser diferenciados da
mento e usando-se como parâ- troativa’ em 3.393 indivíduos expectativa de receber a prece.
metros isquemia coronariana, internados quatro a dez anos an- Comentário: o número relativa-
infarto do miocárdio, insuficiên- tes com infecção sanguínea, em mente reduzido de indivíduos
cia cardíaca, necessidade de estudo duplo-cego, aleatorizado investigados em relação ao nú-
revascularização urgente e mor- e com grupo controle. Resulta- mero de parâmetros (20) e o
te. Os pacientes foram distribu- do: o grupo que recebeu retro- número de grupos de estudo
ídos em cinco grupos: tratamen- ativamente a prece apresentou (6) inviabilizaram conclusões.

Brasília Med 2004; 41:38-45 41


bsbm
brasíliamédica
CARLOS EDUARDO TOSTA

Em artigo em preparação, Tos- capacidade de ver e de interpre- que transcendem os limites do


ta e colaboradores 29 avaliaram o tar seu universo. Segundo, porque intelecto, como é o caso da pre-
efeito da prece intercessória à dis- uma parcela considerável do que ce. Porque, apesar disso, se in-
tância, feita diariamente durante conhecemos atualmente provém siste em comprovar sua eficácia
uma semana, para 52 estudantes de conhecimento empírico, ainda como preservadora da saúde e
de medicina sadios sobre a capa- não comprovado pela metodologia indutora de cura por meio do
cidade fagocitária de seus neutró- científica. Por exemplo, a maior método científico? Deve-se re-
filos e monócitos, por meio de es- parte das práticas médicas con- conhecer que, mesmo no meio
tudo aleatorizado, duplo-cego e temporâneas não contam com fun- científico, existe resistência a
controlado. Resultado: a prece re- damentação científica sólida30 por- essa idéia,35-39 em parte porque
duziu a variação da fagocitose de que ou ainda não foram dispostas é quase total, entre os cientistas,
monócitos e neutrófilos tanto na sob o escrutínio da metodologia ci- a descrença em Deus e na di-
análise comparativa entre os gru- entífica ou porque o foram e pro- mensão espiritual do homem.40
pos com prece e sem prece (P = duziram resultados inconclusi- Não se espera, mesmo que a
0,041), quanto na análise feita an- vos .31 Devemos nos lembrar que ciência comprove a total ineficá-
tes da intervenção e depois desta a aspirina, uma das drogas mais uti- cia da prece como adjuvante da
(P = 0,019), sem relação com a lizadas no mundo a partir de 1897, cura, que ela venha a deixar de
variação do nível de estresse. Co- só teve seu mecanismo de ação ser utilizada nos momentos de
mentários: estudo bem delineado, esclarecido em 1971.32 Os 74 angústia e de sofrimento por pes-
indica que a prece pode atuar equi- anos de ignorância sobre seu efei- soas de todos os credos e mes-
librando a função do sistema to não a impediram de funcionar mo por aqueles sem credo.
imunitário. como um dos mais poderosos
analgésicos e antitérmicos conhe- É importante que se continue
A PRECE E A CIÊNCIA cidos. avaliando cientificamente o possí-
Todos os artigos referidos pro- vel efeito benéfico da prece em
curaram avaliar o efeito da prece A homeopatia passou a ser uti- pessoas doentes e, desse modo,
ao utilizar, com grau variável de lizada como método terapêutico há fortalecer a possibilidade de sua
adequação, o método científico. mais de duzentos anos e ainda se utilização pelos profissionais de
Isso porque, em uma sociedade desconhece seu mecanismo de assistência aos doentes. Convém
que cultua a Ciência como a gran- ação, o que não impede que seja lembrar que, embora a prece e
de Deusa, só é considerado como método eficaz no tratamento de outros métodos de cura espiritual
verdadeiro aquilo que a Ciência algumas condições clínicas.33 sejam amplamente utilizados por
consegue comprovar. Mas isso Também desconhecemos o meca- curadores de vários países como
pode constituir falácia. nismo de ação da vacina antiva- Inglaterra41 e Estados Unidos42 e
riólica34 o que não impediu de que apesar de quase metade dos pa-
Em primeiro lugar, porque o ela erradicasse a varíola, em todo cientes internados manifestem-se
método científico, embora seja al- o mundo, em 1978. Ou seja, nem favoráveis a receber prece de seus
tamente poderoso e desejável no todos os fatos são apoiados pela médicos43 e a utilizarem com fre-
sentido de validar dados e infor- metodologia científica. qüência,44,45 existe grande resistên-
mações, é muito limitado em sua cia dos médicos e de outros pro-
capacidade de desvendar todas as Finalmente, a Ciência não é fissionais, em relação à sua utiliza-
verdades da vida e da natureza. capaz de dar respostas a todas ção, em seus pacientes, ou mes-
Além disso, as “verdades científi- as perguntas porque ela está li- mo disposição para tratar de as-
cas” são mutáveis. Mudam à me- mitada às manifestações do in- suntos ligados à espiritualidade ou
dida que o ser humano amplia sua telecto e existem manifestações à religiosidade.46,47

42 Brasília Med 2004; 41:38-45


A PRECE CURA?

AFINAL, A PRECE CURA? do fenômeno é desconhecida? 2. Astin JA, Harkness E, Ernst E. The
efficacy of “distant healing”: a
É inacreditável que até hoje nos qual o efeito da prece sobre os systematic review of randomized trials.
perguntemos se o método mais intercessores? Ann Intern Med 2000 Jun 6; 132(11):
ancestralmente utilizado para a 903-10.
cura – a prece –, de fato, cura. As falhas metodológicas fre- 3. Benor DJ. Spiritual healing. Scien-
Embora o assunto venha desper- qüentes observadas nos artigos tific validation of a healing revolution.
tando um interesse crescente da publicados constituem um dos Healing Research, vol. I, Southfield:
Vision Publications; 2001.
comunidade científica, ainda exis- grandes obstáculos para compro-
tem dúvidas em relação à respos- var o efeito curativo da prece. 4. Townsend M, Kladder V, Ayele H,
ta. Dos onze artigos científicos com Maior rigor metodológico tem sido Mulligan T. Systematic review of clini-
cal trials - examining the effects of
melhor metodologia que analisa- proposto48 e investigações multi- religion on health. South Med J. 2002
mos, sete (64%) mostraram algum cêntricas, com grande número de Dec; 95(12):1429-34.
tipo de efeito da prece, em dois doentes estão atualmente em an- 5. Crawford CC, Sparber AG, Jonas
(18%), nenhum efeito foi demons- damento.49 Além da prece, outras WB. A systematic review of the quality
trado e em outros dois (18%) os técnicas de tratamento mete- of research on hands-on and distant
healing: clinical and laboratory studies.
resultados foram inconclusivos. nergético (exemplo: aposição de Altern Ther Health Med. 2003 May-
Embora não se possa excluir a mãos, toque terapêutico, canaliza- Jun; 9(3 suppl):A96-104.
possibilidade de viés de publica- ção de energia, Reike) têm sido
6. Ernst E. Distant healing – an update
ção, pela tendência de se publi- avaliadas,2,50,51 algumas com resul- of a systematic review. Wien Klin
car com mais freqüência os da- tados muito promissores. Como é Wochenscr. 2003 Apr 30; 115(7-8):
dos positivos que os negativos, provável que o instrumento de to- 241-5.
os resultados disponíveis são dos os processos de cura espiritual 7. Gandhi MK. A roca e o calmo pensar.
promissores e indicam, indubita- seja o mesmo (“metenergia”), uma São Paulo: Editora Palas Athena;
velmente, a necessidade de que avaliação global dos diferentes pro- 1991.

as pesquisas continuem e se cessos seria de grande valia. 8. Dossey L. Prayer is good medicine.
aprofundem. San Francisco: Harper; 1996.
CONCLUSÃO
9. Gandhi MK. Truth is god. Ahmeda-
Muitas perguntas necessitam Quaisquer sejam os resultados bad: Navajivan Publishing House;
de respostas. Quando, quanto e que as pesquisas alcancem, a pre- 1992.
por quanto tempo a prece inter- ce continuará sendo sempre, como
10. Bernardi L, Sleight P, Bandinelli G,
cessória deve ser feita em favor de sempre foi, a voz silenciosa e sa- Cencetti S, Fattorini L, Wdowczyc-
uma pessoa doente? por quantos grada que nos une a todos pela Szulc J, Lagi A. Effect of rosary prayer
on autonomic cardiovascular rhythms:
intercessores? a religião dos inter- transcendência. Por meio da pre- comparative study. BMJ 2001 Dec 22-
cessores e dos que recebem a pre- ce, continuaremos a sentir tanto 29; 323(7327):1446-49.
ce é relevante? a prece feita por nossa pequenez quanto nossa
11. Newberg A, Pourdehnad M, Alavi
parentes e amigos influenciam os grandeza. A pequenez de nos de- A, d’Aquili EG. Cerebral blood flow
resultados dos estudos? a prece pararmos com o Todo, e a gran- during meditative prayer: preliminary
deve ser uniformizada? deve ser deza de nos sentirmos parte desse findings and methodological issues.
Percept Mot Skills. 2003 Oct; 97(2):
direcionada ou não direcionada? Todo. 625-30.
como definir com segurança os
parâmetros a serem avaliados, já 12. Dossey L. As palavras curam. São
REFERÊNCIAS Paulo: Cultrix; 1993.
que os efeitos potenciais da prece
ainda são desconhecidos? ou o 1. Byrd RC. Positive therapeutic effects 13. Olshansky B, Dossey L. Re-
of intercessory prayer in a coronary troactive prayer: a preposterous
número de indivíduos a serem es- care unit population. South Med J 1988 hypothesis? BMJ. 2003 Dec 20; 327
tudados, já que a previsibilidade Jul; 81(7):826-9. (7429):1465-8.

Brasília Med 2004; 41:38-45 43


bsbm
brasíliamédica
CARLOS EDUARDO TOSTA

14. Laszlo E. The interconnected uni- a coronary care unit population: a 34. Sokhin AA, Lebedinskii AP, Frolov
verse: conceptual foundations of trans- randomized controlled trial. Mayo Clin AK, Frolov VK, Sotnik AY, Lysakova VI.
disciplinary unified theory. River Edge: Proc. 2001 Dec; 76(12):1192-1198. The mechanism of group differences
World Scientific Publishing; 1995. in the character of the vaccinal process
25. Cha KY, Wirth DP. Does prayer in- in immunization against natural
15. Capra F. A teia da vida. Cultrix: São fluence the success of in vitro fertili- smallpox. J Hyg Epidemiol Microbiol
Paulo; 1996. zation-embrio transfer? Report of a Immunol. 1977 Apr; 21(3):335-40.
masked, randomized trial. J Reprod
16. Schrödinger, E. My view of the Med. 2001 Sep; 46(9):781-7. 35. Pande, P. Does prayer need
world. Cambridge: Cambridge Univer- testing? Arch Intern Med. 2000 Jun 26;
sity Press; 1967. 26. Krucoff MW, Crater SW, Green CL, 160(12):1873-4.
Maas AC, Seskevich JE, Lane JD,
17. Josephson BD, Pallikara-Viras F. Loeffler KA, Morris K, Bashore TM, 36. Sloan RP, Bagiella E, Powell T.
Biological utilization of quantum nonlo- Koenig HG. Integrative noetic thera- Religion, spirituality, and medicine.
cality. Found Phys. 1991Feb; 21(2): pies as adjuncts to percutaneous inter- Lancet. 1999 Feb 20; 353(9153):
197-207. vention during unstable coronary syn- 664-7.
dromes: monitoring and actualization
18. Goswami A, Reed RE, Goswami of noetic training (MANTRA) feasibility 37. Chibnall JT, Jeral JM, Cerullo MA.
M. O universo autoconsciente. Como pilot. Am Heart J. 2001 Nov; 142 Experiments on distant intercessory
a consciência cria o mundo material. (5):760-9. prayer. Arch Intern Med. 2001 Nov 26;
Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tem- 161(21):2259-36.
pos; 1998. 27. Leibovici L. Effects of remote,
retroactive intercessory prayer on 38. Halperin EC. Should academic
19. Radin DL, Nelson RD. Consciou- outcomes in patients with bloods- medical centers conduct clinical trials
ness-related effects in random physi- tream infection: randomised control- of the efficacy of intercessory prayer?
cal systems. Found Phys. 1989 Nov; led trial. BMJ. 2001 Dec 22-29;323 Acad Med. 2001 Aug; 76(8):791-7.
19(10):1499-534. (7327):100-2.
39. Bishop JP. Prayer, science, and the
20. Walker SR, Tonigan JS, Miller WR, 28. Matthews WJ, Conti JM, Sireci SG. moral life of medicine. Arch Intern Med.
Corner S, Kahlich L. Intercessory pra- The effects of intercessory prayer, 2003 Jun 23; 163(12):1405-8.
yer in the treatment of alcohol abuse positive visualization, and expectancy
and dependence: a pilot investigation. on the well-being of kidney dialysis 40. Larson EJ, Witham L. Leading
Altern Ther Health Med. 1997 Nov; patients. Altern Ther Health Med. 2001 scientists still reject God. Nature. 1998
3(6):79-86. Sep-Oct; 7(5):45-52. Jul 2; 394 (6688):13.

21. Sicher F, Targ E, Moore D, Smith 29. Tosta CE, Arnaut LT, Taíra P, 41. Mills S, Peacock W. Professional
HS. A randomized double-blind study Nascimento P, Medeiros FGD, Muniz organization of complementary and
of the effect of distant healing in a popu- LF, Sala Neto F. The effect of interces- alternative medicine in the United
lation with advanced AIDS – report of sory prayer on phagocytosis by human Kingdom. A report to the Department
a small scale study. West J Med. 1998 neutrophils and monocytes. (em pre- of Health, University of Exeter; 1997.
Dec; 169(6):356-63. paração)
42. Rosa L, Rosa E, Sarner L, Barrett
22. Harris WS, Gowda M, Kolb JW, 30. Grimes DA. Technology follies: the S. A close look at therapeutic touch.
Strychacz CP, Vacek JL, Jones PG, uncritical acceptance of medical inno- JAMA. 1998 Apr 1; 279(13):1005-10.
Forker A, O’Keefe JH, McCallister B. A vations. JAMA. 1993 Volume 16;269
randomized, controlled trial of the ef- (23): 3030-3. 43. King DE, Bushwick B. Beliefs and
fects of remote intercessory prayer on attitudes of hospital inpatients about
outcomes in patients to the coronary 31. Smith R. Where is the wisdom? faith healing and prayer. J Fam Pract.
care unit. Arch Intern Med. 1999 Oct BMJ. 1991 Oct 5; 303(6809):798-9. 1994 Oct; 39(4):349-52.
25; 159(19):2273-8.
32. Vane JR, Botting RM. The me- 44. McClain CS, Rosenfeld B, Breitbart
23. Matthews DA, Marlowe SM, Mac- chanism of action of aspirin. Thromb W. Effect of spiritual well-being on end-
Nutt FS. Effects of intercessory prayer Res. 2003 Jun 15; 110(5-6):255-8. of-life despair in terminally-ill cancer
on patients with rheumatoid arthritis. patients. Lancet. 2003 May 10; 361(9):
South J Med. 2000 Dec; 93(12):1177- 33. Cucherat M, Haugh MC, Gooch M, 1603-7.
86. Boissel JP. Evidence of clinical efficacy
of homeopathy. A meta-analysis of 45. Tatsumura Y, Maskarinec G,
24. Aviles JM, Whelan SE, Hernke DA, clinical trials. HMRAG, Homeopathic Shumay DM, Kakai H. Religious and
Williams BA, Kenny KE, O’Fallon WM, Medicines Research Advisory Group. spiritual resources, CAM, and con-
Kopecky SL. Intercessory prayer and Eur J Clin Pharmacol. 2000 Apr; 56(1): ventional treatment in the lives
cardiovascular disease progression in 27-33. of cancer patients. Altern Ther

44 Brasília Med 2004; 41:38-45


A PRECE CURA?

Health Med. 2003 May-Jun; 9(3): 48. Targ E. Research methodology for 50. Abbot NC, Harkness EF, Ste-
64-71. studies of prayer and distant healing. vinson C, Marshall EP, Conn DA, Ernst
Complement Ther Nurs Mildwifery. E. Spiritual healing as a therapy
46. Ellis M, Vinson D, Ewigman B. 2002 Feb; 8(1):29-41. for chronic pain: a randomized, clini-
Addressing spiritual concerns of cal trial. Pain. 2001 Mar; 91(1-2):
patients: family physicians’ attitudes 49. Dusek JA, Sherwood JB, 79-89.
and practices. J Fam Pract. 1999 Feb; Friedman R, Myers P, Bethea CF,
48(2):105-9. Levitsky S, Hill PC, Jain MJ, 51. Targ EF e Levine EG. The effi-
Kopecky SL, Mueller PS, Lam P, cacy of a mind-body-spirit group for
47. Mueller PS, Plevak DJ, Rummans Benson H, Hibberd PL. Study of women with breast cancer: a ran-
TA. Religious involvement, spirituality, therapeutic effects of intercessory domized controlled trial. Gen Hosp
and medicine: implications for clinical prayer (STEP): study design and Psychiatry. 2002 Jul-Aug; 24(4):
practice. Mayo Clin Proc. 2001 Dec; research methods. Am Heart J. 2002 238-48.
76(12):1225-35. Apr; 143(4):577-84.

Abstract
bsbm
brasíliamédica DOES THE PRAYER CURE?
1
CARLOS EDUARDO TOSTA

Prayer has been used since the methodology. The first paper that indicate that it plays a role as an
beginning of Humanity as a way to examined this effect, using a correct instrument of healing or health
achieve healing. The belief that methodology, appeared in 1988 and, preservation, possibly by sta-
prayer is able to benefit ill-people is since then, several investigations bilizing important functions of the
generalized among followers of have attributed a healing effect to organism as those of the immune
different religious groups and even prayer. In the present review this system.
among atheists. Notwithstanding the subject is submitted to a critical
frequency that prayer is used, only analysis. It is concluded that, KEYWORDS
recently the healing effect of prayer although it is not known as prayer Prayer; healing; distant healing;
has been submitted to scientific acts, several evidences appear to spiritual healing; phagocytosis.

School of Medicine, Universidade de Brasília.


1

REVISTA BRASÍLIA MÉDICA

Se vou falar por dez minutos, gasto uma semana


para preparar o discurso; se por quinze minutos,
três dias; se por meia hora, dois dias;
mas se vou falar por uma hora,
estou pronto. Se vou falar por dez minutos, gasto uma
semana
para preparar o discurso; se por quinze minutos,
três dias; se por meia hora, dois dias;
mas se vou falar por uma hora,
estou pronto.

bsbm
brasíliamédica
(Woodrow Wilson)

Brasília Med 2004; 41:38-45 45

S-ar putea să vă placă și