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BIOGRAFIA

Teresa Malatian

A biografia – descrição da vida de uma pessoa, estudo da vida, relato da vida -


nunca esteve ausente das reflexões historiográficas ou das práticas profissionais dos
historiadores. Já na Antiguidade, despertava a desconfiança de autores como
Tucídides e Políbio, que lhe atribuíam o estatuto de território sujeito à exaltação
tendenciosa de um indivíduo, grupo de indivíduos ou causa. Entre a biografia e a
História, construiu-se um abismo de insegurança e fragilidade diante do problema da
verdade da narrativa. À primeira se reservava o estudo dos indivíduos, enquanto à
segunda cabia o relato dos acontecimentos coletivos . Plutarco construiu um modelo
do gênero ao traçar as Vidas paralelas para evidenciar as virtudes dos homens de
ação que agiam de modo correto “no interior de duas civilizações idealizadas, a da
Grécia e a de Roma”, tentando com isso escrever uma História moral estruturada em
personalidades exemplares. Suetônio buscou tornar os escritos biográficos mais
confiáveis, mediante desmistificação e recusa do elogio na Vida dos doze Césares.
Construíram-se desde essa época referências importantes para um gênero que nunca
cessou de ser cultivado, ainda que atravessando altos e baixos na sua aceitação e
viradas em sua concepção.
Na primeira metade do século XIX Carlyle serviu-se da biografia para
questionar a linearidade da narrativa factual. Para dar à História volume e
profundidade, utilizou o herói como meio de expressão do fluxo caótico e aleatório da
vida e do acesso ao universal e, com esse intuito, produziu estudos notáveis como A
Vida de John Sterling e a biografia de Cromwell. O herói individual foi por ele
encarregado de exprimir sua época no território de afrontamento entre
personalidades heróicas, cada uma com sua função profética enquanto encarnação
das forças do Espírito, entendidas como religião, “o fator principal na vida do homem”.
O herói demiurgo seria capaz de dar sentido à história e forjar o destino. Em sua obra
de referência e exaltação do idealismo, Os heróis e o culto dos heróis, atribuiu aos
indivíduos excepcionais um papel na História da humanidade, confundindo-a com a
dos “grandes homens que trabalharam a terra: eles foram os condutores, os
modeladores, os padrões e, num largo sentido, os criadores de tudo o que a massa
geral dos homens procurou fazer ou atingir” (Carlyle, 1963, p. 9).
Duas posturas teórico-metodológicas viriam abalar tais convicções: de um lado,
Michelet colocou no primeiro plano da reflexão histórica os valores coletivos,
expressos pelo povo, deixando aos indivíduos o papel de representantes de paixões
coletivas; de outro, Marx situou no centro da História as classes sociais e reduziu
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drasticamente o papel dos indivíduos no discurso histórico, ainda que se ocupasse


dele pontualmente, como em O 18 Brumário de Luís Bonaparte.
Taine e Renan percorreram o século do nacionalismo preocupados com a
concepção do grande homem como produto da raça, do meio, do momento; o homem-
partícula, o átomo social que tributou ao romantismo a mudança de sentido da
biografia. A tensão entre indivíduo e sociedade expressa na biografia visava
encontrar no destino individual a força do contexto geográfico, cultural, histórico,
social.
Ainda que os historiadores metódicos - Monod, Langlois, Seignobos, H.Berr-
criticassem os historiadores românticos e sua imagem do herói como exterior à massa
humana, que realizava os desígnios da Providência e do progresso, o século XIX
continuou campo fértil para os estudos biográficos. A biografia constituía um
passatempo de homens cultivados, literatura prestigiosa de acadêmicos, praticada por
políticos, advogados, notáveis e letrados em geral, mesmo sem alcançar estatuto de
cientificidade.
Além disso, biografias foram inseridas em estudos mais generalizantes.
Jaurès, ao escrever a História da Revolução Francesa, deu primazia às formas
sociais, mas não desmereceu as personalidades individuais e suas relações com os
movimentos de fundo provocados pelas condições de produção e troca. Sua história
pretendia ser materialista como queria Marx, lírica como fizera Michelet e heróica
como praticara Plutarco.
Neste percurso historiográfico, os Annales ocuparam uma posição central pois
aos autores reunidos em torno da revista são atribuídas diversas negações: da
narrativa, do indivíduo e da política. Inegável que desde Fèbvre e Bloch a história se
tornou território das massas, dos grande movimentos econômicos e sociais. No
entanto, o grupo fundador da nova Historiografia não chegou a realizar uma virada
antibiográfica, ainda que reconhecesse as dificuldades do gênero.
Fèbvre apontou os problemas, perigos e tentações da biografia porém
escreveu Um destino, Martinho Lutero e A religião de Rabelais. Sua contribuição aos
estudos biográficos consistiu em esclarecer trajetórias individuais, rompendo porém
com a concepção de heróis super-homens, em análise centrada na utensilagem
mental específica de um período e de um grupo de homens. Nesta obra, explicitou
sua concepção do gênero na perspectiva renovadora que logo seria veiculada pelos
Annales HES: trata de um personagem excepcional, fato que poderia implicar um juízo
de valor, se o biógrafo enveredasse pelos conflitos religiosos. Pelo contrário, adotou a
perspectiva da compreensão, em exemplar lição de método, com a pretensão de
desenhar a curva de um destino que foi simples mas trágico; marcar com precisão os
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poucos pontos verdadeiramente importantes por que passou; mostrar como, sob a
pressão de que circunstâncias, o seu entusiasmo inicial teve de enfraquecer e inflectir
o traçado primitivo; por assim, a respeito de um homem de uma singular vitalidade,
esse problema das relações do indivíduo e da coletividade, da iniciativa pessoal e da
necessidade social que é, talvez, o problema capital da história (Prefácio à 1ª
edição,1945, p.11). A vida de Lutero nesta biografia não se desenvolve até sua morte
mas foi fechado em 1525, quando ocorreu o que Fèbvre denominou “recuo sobre si”,
“retirada” ou “refúgio em si mesmo”, conforme as diversas traduções possíveis da
palavra repli.
Hoje, oitenta anos decorridos , o debate ainda incide sobre as mesmas
questões metodológicas: a necessidade de escolhas na trajetória de vida , para a
composição do relato biográfico, como e quando iniciá-lo, o período a ser trabalhado
como relevante .
Marc Bloch igualmente se manteve próximo do gênero ao estudar Filipe II e o
franco-condado , pois ali abriu novos caminhos para a biografia ao se ocupar do papel
dos indivíduos, ainda que inserido no quadro das estruturas agrárias da sociedade
feudal. Em Apologie pour l’Histoire chegou mesmo a defender o papel dos indivíduos
na história como necessário e em L’étrange défaite refletiu sobre o papel do
testemunho, revelando-se assim um dos primeiros a preconizar o abandono do
estudo das personalidades de exceção e sua substituição pelas personagens
secundárias, consideradas mais reveladoras de uma época ou de um meio.
Não houve entre os Annalistas da primeira geração ruptura com o gênero
biográfico mas sim um ajuste da abordagem ao novo campo teórico e metodológico
que se abria para a temporalidade ampla, o econômico e o social. Recusaram os
exageros laudatórios do século XIX e buscaram adequar a biografia a paradigmas
historiográficos voltados para uma História objetiva , as mentalidades, os atores
coletivos, que no entanto reservavam um espaço e um protagonismo aos sujeitos
individuais.
Na geração seguinte, a de Braudel, a desconfiança em relação à história do
indivíduo foi o contraponto da postura que privilegiou as estruturas e a temporalidade
longa. Mesmo assim, seu estudo sobre o mundo mediterrâneo comportou a dimensão
individual da atuação de Felipe II como o espaço biográfico reservado à duração curta,
do evento, da história que se desenrola em velocidade maior que a das estruturas e
conjunturas.
Com os avanços da historiografia de base marxista e do estruturalismo na
universidade, o gênero biográfico teve seu espaço encolhido após a Segunda Guerra
Mundial. A ênfase na história serial só fez aprofundar nas décadas de 1960 e 1970 a
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perda de espaço pelo indivíduo para os sujeitos coletivos. Foi o apogeu da


desclassificação da biografia.
A reação veio dos questionamentos decorrentes da crise do marxismo, do
estruturalismo e de inovações em direção à revalorização do indivíduo na história. Era
preciso responder às críticas que incidiam sobre o gênero em sua excessiva
valorização da personalidade e do desempenho do sujeito individual, sobre o perigo do
falseamento das perspectivas e a heroicização dos indivíduos. Outra crítica relevante
consistia na acusação de a História de vida pressupor noções mal definidas de
coerência, continuidade do eu, identidade. Em resposta, Chartier foi um dos raros
teóricos a lembrar que sociedade, classe e mentalidade, que tendiam a substituir os
indivíduos na análise, eram freqüentemente tratados pela historiografia como heróis
individuais, com as mesmas ilusões de reconstituição e inteligibilidade linear.
O gênero continuou sendo praticado, porém desvestido de glórias universitárias
até que a reação, nas décadas de 1980 e 1990, acompanhou o florescimento da
História narrativa e da valorização do indivíduo, que encontrou novamente espaço
emergindo das estruturas e das classes sociais. Bloch, Fèbvre e Michelet foram
revisitados em busca de inspiração. Um dos resultados dessa virada ocorreu na
História do movimento operário com o dicionário biográfico de Jean Maitron, onde
militantes obscuros chamaram a atenção dos historiadores. A História dos “de baixo”
acompanhou também o desenvolvimento da História Oral, centrada na construção de
trajetórias individuais nas chamadas histórias de vida.
Os historiadores formados na tradição dos Annales produziram obras de peso
como Duby em Guilherme o marechal e Le Goff, em São Luís . Com eles a biografia
ganhou prestígio na historiografia universitária. Em lugar da linearidade factual da
curta duração centrada na cronologia do tempo curto da vida do indivíduo, a tendência
passou a ser o estabelecimento de relações com o contexto econômico, político,
social, cultural, no qual se insere uma vida e esclarecedora de trajetórias num
campo de possibilidades de escolhas e de exploração abertas à ação individual.
A menor ênfase na história quantitativa e serial com seus ciclos e
movimentos demográficos, o “retorno” do político reabilitado juntamente com o da
curta duração do evento e da narrativa possibilitaram um novo interesse pela escrita
de si, pela vida cotidiana, dos costumes, dos homens comuns, mas também para o
indivíduo e seu papel na História, em confronto com a sociedade, que coloca para o
historiador a questão da liberdade, as relações entre fenônemos coletivos e
estratégias e comportamentos individuais, traduzidos em escolhas que não são
inapelavelmente marcadas pela sociedade.
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Em suma a chamada crise dos paradigmas marcou o conhecimento histórico


nas últimas duas décadas ao questionar estruturas e relações , recuperando os
sujeitos individuais, estudos de caso e a micro-história. Mais descritiva e narrativa que
analítica, enfocando o homem mais que as circunstâncias, incorporando aportes da
literatura, a historiografia reabriu espaço para a biografia.
A força do retorno do gênero biográfico veio dos questionamentos sobre como
distinguir o indivíduo na sociedade, na qual as análises até então mais validadas o
diluíram. A tentativa de redução da concepção “hipersocializada do homem” , tal como
praticada pelo marxismo e pelo estruturalismo, enveredou também pela análise
psicológica centrada na subjetividade e pela afirmação da autonomia do indivíduo na
sociedade. Até mesmo as descobertas da genética tem sido chamadas para explicar
os jogos entre indivíduo e sociedade, entre o hereditário e o adquirido, entre
patrimônio genético e a vida socialmente construída.
A construção de biografias pelo historiador coloca em questão direcionamentos
e limites a serem observados desde a escolha do personagem, pautada por sua
atuação ou qualidades suscetíveis de estabelecer identificações projetivas
importantes com os leitores. Trata-se de cultivar um gênero que comporta em primeiro
lugar, a sedução pelo personagem por sua vida de alguma maneira considerada
excepcional e digna de ser o centro de um estudo, por revelar aspectos ainda não
abordados pela historiografia voltada para o macro ou por permitir a visualização da
tensão entre indivíduo e sociedade. Biografar indivíduos vivos ou não? Qual o grau de
exaustão do “eu” que a biografia comporta? Como biografar sem criar “tipos”? Como
biografar sem sucumbir aos elogios ou julgamentos? Como tratar a questão ética, que
independentemente das ameaças no âmbito da justiça, deve ser levada em conta
quando o historiador se apropria da memória do biografado, expondo seus segredos,
suas mazelas, suas contradições?
É difícil eludir a forma narrativa e cronológica, que permite acompanhar a
trajetória do personagem e estabelecer “marcos temporais entre acontecimentos e
história individual”. Constitui portanto característica da biografia a narrativa que deve
levar em conta o recorte temporal da história de uma vida. Tal constatação não implica
o uso exclusivo do método discursivo, factual, centrado na existência individual, mas
deve ser combinado a outros, especialmente na transdisciplinaridade, visando uma
história analítica e compreensiva.
Considerada por muitos historiadores como uma arte, a biografia exige do
pesquisador um cuidado que de resto não se distancia daquele devido a qualquer
outro tipo de discurso histórico e característico da disciplina histórica: a compreensão,
a aproximação do personagem até a impregnação a ponto de saturação, ideal para
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que se possa escrever sobre ele, o trabalho crítico sobre testemunhos diferentes e
contraditórios para que se amplie o enfoque analítico e se possa alcançar tanto
aspectos desconhecidos de sua vida como ultrapassar sua opacidade para seus
contemporâneos e mais próximos.
Entre histórias de vida individuais e prosopografias (notícias biográficas
individuais que se confrontam para que mediante amostras se possam estabelecer
tipos, salientar traços comuns), o gênero se mantém próximo da literatura e por isto
mesmo a solicitar atenção redobrada do historiador. Da literatura, tem sido
incorporadas técnicas e recursos estilísticos como o flasback, inclusão de detalhes
pitorescos e da vida cotidiana, estilo cuidado, narrativa fluída, num diálogo com o
hipotético leitor, inspirado também pelo jornalismo. Nem é de se desprezar a prática de
deixar fluir a consciência do escritor na caracterização do personagem visando a
produção de um efeito de realidade . Aos historiadores, cabe o desafio de
eliminar a mescla entre biografia e romance, de estabelecer referências documentais e
empíricas seguras.
A prosopografia ou biografia coletiva tem sido praticada na historiografia
contemporânea como recurso para “definir uma população a partir de um ou vários
critérios e estabelecer, a partir dela, um questionário biográfico cujos diferentes
critérios e variáveis servirão à descrição de sua dinâmica social, privada, pública, ou
esmo cultural, ideológica ou política, segundo a população e o questionamento em
análise” (Charle, 2006). Inicialmente aplicado ao estudo das elites, o método
prosopográfico tem sido bastante frutífero também em estudos de personagens
retirados do anonimato para esclarecer dinâmicas entre grupos, classes sociais, redes
de sociabilidade. Neste sentido, o trabalho inovador de João J.Reis centrado na
construção de biografias coletivas de escravos e ex-escravos a partir da vida do liberto
Domingos Sodré ilumina o mundo social em que se moveram os personagens, suas
experiências e práticas culturais em meio às estruturas e instituições do mundo
escravista do Brasil no Segundo Reinado.
A biografia tem ocupado espaço crescente no cenário editorial breasileiro e não
só pelas traduções publicadas. Personalidades políticas, artísticas e midiáticas
fornecem inesgotável fonte para estudos realizados tanto por historiadores quanto por
jornalistas e escritores em geral, assim prolongando direcionamentos memorialísticos
de publicação de diários, autobiografias e correspondências. O público se torna cada
vez mais amplo e pronto a consumir histórias de vida romanceadas, escritas com
técnicas ficionais como diálogos imaginários. Personagens consagrados tem sido
biografados na esteira de efemérides e estudos abalizados passam por reedições
consagradoras de antigos e novos heróis .
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Referências
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CPDOC, n.21, 1998.
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FERREIRA, Marieta De Moraes; AMADO, Janaína (Org.) Usos e abusos da História
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LEJEUNE, Philippe. Le pacte autobiographique. Paris: Seuil, 1975.
LEVILLAIN, Philippe. Os protagonistas: da biografia. In: RÉMOND, René (Org.) Por
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MAITRON, Jean. Le mouvement anarchiste em France. Paris: Gallimard, 1992.
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SCHMIDT, Benito Bisso. Construindo biografias. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n.
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