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Exame de Ordem

Direito Empresarial
Prof. Guilherme Martins

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ÍNDICE

Unidade I 4

Unidade II 13

Unidade III 35

Unidade IV 44

Unidade V 72

Unidade VI 92

Unidade VII 117

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1. INTRODUÇÃO

Você, candidato ao XXII EXAME DE ORDEM DA OAB, deve ter se perguntado por algumas vezes o
porquê de estudar DIREITO EMPRESARIAL para sua preparação de prova. Ora, a resposta imediata – e até
mesmo a mais óbvia – é o fato de que o conteúdo desta disciplina é exigido pelo Exame e também
corresponde uma parcela considerável de questões, integrando, como regra, cerca de 05 (cinc) questões
da prova.
Entretanto colega, você futuro profissional da advocacia, também deve ter em mente o objetivo
mediato do estudo do Direito Empresarial, que constitui uma das áreas de grande ascensão no mercado
profissional!
Então meu amigo e minha amiga, coloque isso em sua cabeça desde já, pois esse pensamento,
além de lhe conferir uma completa formação profissional, também o auxiliará na hora da prova!
Sem mais delongas, vamos aos estudos!!!

MAS...POR ONDE COMEÇAR?

Pessoal, a melhor maneira de iniciarmos nossa preparação é conhecer a organização didática da


disciplina para ter seu diagnóstico.
O Direito Empresarial, em homenagem ao seu princípio da fragmentariedade, é composto pelos
seguintes sub-ramos:

 TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL (TEORIA GERAL DA EMPRESA)


 DIREITO SOCIETÁRIO
 DIREITO CAMBIÁRIO (TÍTULOS DE CRÉDITO)
 RECUPERAÇÃO EMPRESARIAL
 CONTRATOS MERCANTIS
 PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Eu sei, pode ser que tenha um bom tempo que estudou essas matérias, ou mesmo porque está
muito sem tempo. Bom, nesse caso o melhor caminho para você que tem dificuldade em Direito
Empresarial é focar na LEGISLAÇÃO SECA, em especial as disposições previstas no Código Civil.
Fazendo um levantamento das últimas provas, podemos elencar os temas que mais caíram da
seguinte forma:

CONTEÚDOS QUE MAIS APARECEM

1º DIREITO SOCIETÁRIO (02)


2º RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS (02 A 01)
4º TEORIA GERAL DA EMPRESA (01)
5º TÍTULOS DE CRÉDITO (01)
6º PROPRIEDADE INDUSTRIAL (01)

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7º CONTRATOS MERCANTIS (01)

Tendo em vista esses dados, podemos aferir que os artigos mais importantes1 tem sido estes para
sua prova:

• Empresário individual
Artigo 1150 do CC, artigo 44 do CC, artigo 18A da Lei Complementar 123/2006, artigo 968 do CC.

• Registro
Artigo 1166 do CC, artigo 32 da Lei 8934/94, artigos 1190 e 1191 do CC.

• Estabelecimento
Artigos 1142/1148 do CC.

• EIRELI Empresa Individual de Responsabilidade Limitada


Artigo 980A do CC e artigo 50 do CC.

• Propriedade Industrial
Artigos 8/18 da Lei 9.279/96, artigo 68/71 da Lei 9.279/96, artigos 122/126 da Lei 9.279/96.

• Sociedades
Artigo 982 parágrafo único do CC, artigo 1150 e 998 do CC, artigos 986/990 do CC, artigos 991/996
do CC, artigo 1031 do CC, artigos 1052/1087 do CC, artigo 1055 §1º do CC, artigo 1055 §1º do CC, artigo
1052 do CC, artigo 50 do CC, artigo 1058 e artigo 1004 do CC, 1060/seguintes do CC e 1010/1018 do CC.

• Títulos de crédito
Artigo 17 do Decreto 57.663/66, artigos 11 a 20 do Decreto 57.663/66, artigo 294 e 296 do CC
artigos 30 a 32 do Decreto 57.663/66, artigo 202 inciso III do CC, artigos 75 e 76 do Decreto 57.663/66,
artigo 32 da Lei 7.357/85, artigo 59 da Lei 7.357/85.

• Falência
Artigo 1º da Lei 11.101/05, artigo 2º da Lei 11.101/05, artigo 94 incisos I, II e III da Lei 11.101/05,
artigo 97 da Lei 11.101/05, artigo 99 da Lei 11.101/05, artigo 105 da Lei 11.101/05, artigo 986 do CC,
artigo 3º da Lei 11.101/05, artigo 21 da Lei 11.101/05, artigo 26 da Lei 11.101/05, artigo 35 da Lei
11.101/05, artigo 82 da Lei 11.101/05, artigo 76 da Lei 11.101/05, artigo 84 inciso I da Lei 11.101/05.

Então, pegue a legislação, uma caneta e seu caderno e VAMOS LÁ!

UNIDADE I – TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL

1
FONTE: Principais Artigos exigidos na 1ª Fase da OAB. Disponível em
http://www.provadaordem.com.br/blog/post/141-principais-artigos-exigidos-na-1-fase-do-exame-de-
ordem/. Acessado em 10/01/2017

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1.1 Origem e Evolução histórica

O surgimento do direito comercial relaciona-se à ascensão da classe burguesa, originando-se da necessidade


dos comerciantes da Idade Média possuírem um conjunto de normas para disciplinar a atividade
profissional por eles desenvolvida. Reunidos em corporações de ofício, os comerciantes criaram o direito
comercial com base nos usos e costumes comerciais difundidos pelos povos que se dedicaram à atividade
comercial, dentre os quais destacam-se os gregos e os fenícios.
O direito comercial aparece na Idade Média com um caráter eminentemente subjetivista, já que destinado a
disciplinar as atividades profissionais dos comerciantes, caracterizando-se, no início, como um direito
corporativista e fechado, restrito àqueles matriculados nas corporações de mercadores.
O direito comercial nasce, assim, como um direito especial, autônomo em relação ao direito civil, o que
lhe permitiu alcançar autonomia jurídica, possuindo uma extensão própria, além de princípios e métodos
característicos.
O prestígio e a importância das corporações começaram a enfraquecer com o mercantilismo, que fortaleceu
o Estado e afastou das corporações de mercadores a elaboração das normas comerciais e sua respectiva
aplicação pelos cônsules, que eram os juízes eleitos pelos comerciantes nas corporações para decidir os
conflitos de natureza comercial.
Com o Código Comercial francês de 1807 o direito comercial passou a ser baseado na prática de atos de
comércio enumerados na lei segundo critérios históricos, deixando de ser aplicado somente aos
comerciantes matriculados nas corporações. Assim, para se qualificar como comerciante e submeter-se ao
direito comercial, bastaria a prática habitual de atos de comércio. Essa objetivação do direito comercial
atendia aos princípios difundidos pela Revolução Francesa em 1789.
Em consonância com o desenvolvimento das atividades econômicas e de acordo com a tendência de
crescimento do direito comercial, surgiu na Itália uma teoria que substituiu a teoria francesa, superou os
seus defeitos e ampliou o campo de abrangência do direito comercial, alcançando atividades econômicas
até então consideradas civis em razão do seu gênero. Essa teoria, denominada de teoria jurídica da
empresa, foi inserida no Código Civil italiano de 1942, que ficou conhecido por ter realizado a unificação
legislativa do direito privado na Itália.
A teoria da empresa afasta o direito comercial da prática de atos de comércio para incluir no seu núcleo a
empresa, ou seja, a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços.
Com a teoria da empresa, não importa o gênero da atividade econômica desenvolvida, desde que seja
desenvolvida de forma organizada, em que o empresário reúna capital, trabalho, matéria-prima e tecnologia
para a produção e circulação de riquezas. (teoria subjetiva moderna)
 1ª FASE: O primeiro período, do Séc. XII ao Séc. XVIII, denominado de período subjetivo
corporativista ou período subjetivo do comerciante, tem como núcleo do direito comercial a figura
do COMERCIANTE MATRICULADO NA CORPORAÇÃO.
 2ª FASE: O segundo período, compreendido entre o Séc. XVIII e o Séc. XX, inicia-se com o Código
de Comércio Napoleônico de 1807 e tem como núcleo os atos de comércio.
 3ª FASE: O terceiro e atual período de evolução histórica do direito comercial inicia-se com o
Código Civil italiano de 1942 e tem como núcleo a empresa, compreendendo o Séc. XX até nossos
dias.

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1.2 Autonomia

Mesmo com a unificação legislativa do direito privado (civil e comercial), não houve o desaparecimento da
autonomia jurídica do direito comercial, tendo em vista que este ramo do direito privado possui institutos,
regras e princípios jurídicos próprios. O direito empresarial aparece como um ramo do direito privado
destinado a regular o exercício da empresa por empresário ou sociedades empresárias.
Além disso, não se pode confundir autonomia formal com autonomia cientifica. Autonomia formal decorre
da existência de um corpo legislativo diferenciado, já a autonomia cientifica de um ramo do direito decorre
de vários outros aspectos: existência de um objeto único ou de objetos relacionados de regulação, existência
de princípios e institutos próprios, método interpretativo diferenciado.
Cientificamente, apenas há alteração na parte geral do direito comercial, que passa a ser direito empresarial,
mantendo-se suas divisões internas inalteradas. Portanto, não se pode dizer que o direito comercial perdeu
sua autonomia jurídica por causa do novo Código Civil pelo simples fato de ter havido alterações legislativas
de tópicos específicos regulados, sendo que a maior parte do seu objeto de regulação (falência e concordata,
títulos de créditos, marcas e patentes, direito societário, registro de empresas etc.), continua vivo e sem
alteração sob o prisma científico.
Ademais, existem ainda atividades econômicas de caráter civil às quais se aplicam as regras civis comuns, e
não as disposições próprias dos empresários. Isso dependerá da forma como atividade será prestada,
excluindo-se determinadas atividades por força de lei [cooperativa, sociedade de advogados, profissional
liberal, atividade agrícola].

1.3 Fontes e objeto do direito empresarial

Para Rubens Requião, fontes do direito comercial são o modo pelo qual surgem as normas jurídicas de
natureza comercial, constituindo um direito especial.

As FONTES PRIMÁRIAS do direito empresarial são:


- A Constituição Federal
- O Código Civil: que trata das sociedades simples, ltda. etc.
- O Código Comercial: segunda parte, que trata do direito marítimo
- Leis especiais, tais como: a lei de falências (Lei 11.101/2005), lei das sociedades anônimas (lei nº 6.404/76 e
alterações da 10.303/01); lei das duplicatas (lei nº 5.474/68); lei da propriedade industrial (lei nº 9.279 /96)
etc.
- Decreto nº 2044/1908 – letra de cambio e NP;
- Os tratados internacionais (Decretos 57.595/1966 – Lei Uniforme em matéria de cheques; 57.663/1966 –
lei uniforme em matéria de LC e NP) IMPORTANTE: Os decretos trazem as leis uniformes em seus ANEXOS.

As FONTES SECUNDÁRIAS do direito empresarial são:

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- os usos e costumes: a lei não distingue o uso do costume, mas boa parte da doutrina entende que o uso é
estabelecido por convenção das partes (prática uniforme, constante e por certo tempo e exercido de boa-
fé), enquanto o costume é mais imperativo (regra subsidiária às normas).
Pode ser dividido em usos comerciais propriamente ditos (é generalizado, equivale à lei e obriga as partes) e
o uso convencional (interpretativo ou de fato / advém da vontade das partes, ainda que tacitamente e
demanda prova).
- A doutrina, a jurisprudência, analogia, princípios gerais do direito, a lei civil (excetuada a hipótese acima),
tratados e convenções internacionais (parâmetro).

1.4 Características

A) SIMPLICIDADE OU INFORMALIDADE: O Direito Comercial é menos formalista que o Direito Civil, até
mesmo em atenção à maior celeridade própria das relações comerciais. Ex.: fiança e o aval.
B) COSMOPOLITISMO: Consiste em um ramo do Direito Privado de envergadura internacional; característica
que somente agora outros ramos do direito começam a adquirir em face da globalização dos mercados e
unificação legislativa dos países de blocos econômicos.
C) ONEROSIDADE: Em regra, todo ato mercantil é oneroso. A onerosidade é regra e deve ser presumida; no
direito civil, a gratuidade é constante (ex.: o mandato).
D) INDIVIDUALISMO: As regras do Direito Comercial inspiram-se em acentuado individualismo, porque o
lucro está diretamente vinculado ao interesse individual, contudo sofrem intervenção do Estado.
E) ELASTICIDADE: O direito comercial é muito mais renovador e dinâmico que os demais ramos do direito,
tendo forte influência dos usos e costumes comerciais.
F) FRAGMENTARIEDADE: para ROCCO é um sistema completo, mas formado por diversas normas esparsas
que deixam muitas lacunas.

1.5 Objeto do direito empresarial

O Direito Empresarial é o conjunto de normas jurídicas disciplinadoras da atividade empresarial.


Comerciantes e empresários são considerados agentes econômicos fundamentais, pois geram empregos,
tributos, além da produção e circulação de certos bens essenciais à sociedade. Portanto, gozam de alguns
privilégios, exemplo: produção de provas em seu favor por meio de livros comerciais regularmente
escriturados, falência (menos gravosa que a insolvência civil) etc.

1.6 Direito empresarial no Brasil

1.6.1 Empresa

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Modernamente, conceitua-se empresa como uma atividade econômica organizada, para a produção ou
circulação de bens ou serviços, exercida profissionalmente pelo empresário, por meio de um
estabelecimento empresarial. São características dessa atividade:
a) econômica: finalidade lucrativa
b) organizada: organização dos fatores de produção (capital + força de trabalho + matéria-prima + tecnologia).
Haverá organização empresarial quando a atividade-fim for exercida com a colaboração de terceiros.
c) profissionalidade ou habitualidade: reiteração da atividade, não se caracterizando quando esta for exercida
em caráter eventual.

Enunciado 28 da I Jornada de Direito Comercial – Em razão do profissionalismo com que os empresários


devem exercer sua atividade, os contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da lesão fundada
na experiência.

d) produção ou circulação de bens ou serviços – Exemplos:


✓ Produção de bens – fábrica de bens
✓ Produção de serviços – Prestador de serviços: banco;
✓ Circulação de bens – loja de roupa;
✓ Circulação de serviços: agência de turismo exerce circulação de serviços de transporte aéreo e hospedagem.
Enunciado 54 do CJF – Art. 966: é caracterizador do elemento empresa a declaração da atividade-fim, assim
como a prática de atos empresariais.
A empresa pode ser desenvolvida por pessoas físicas ou por pessoas jurídicas. Se quem exerce a atividade
empresarial é pessoa física ou natural, será considerado empresário individual. Se quem o faz é pessoa
jurídica, será uma sociedade empresária e não empresarial (correspondente a sociedade de empresários). O
adjetivo empresário conota ser a própria sociedade (e não seus sócios) a titular da atividade econômica.
Enunciado 53 do CJF – Art. 966: deve-se levar em consideração o princípio da função social na interpretação
das normas relativas à empresa, a despeito da falta de referência expressa.

1.6.1.1 Teoria da empresa e seus perfis

Segundo o autor italiano Alberto Asquini, a empresa é um fenômeno poliédrico, ou seja, com diversas
facetas, podendo ser visualizadas sob diversos perfis:
a) Perfil objetivo:empresa é um estabelecimento ou patrimônio aziendal, um conjunto de bens corpóreos e
incorpóreos reunidos pelo empresário, para o desenvolvimento de uma atividade econômica.
b) Perfil subjetivo: empresa é o empresário, sujeito que organiza e desenvolve atividade econômica.
c) Perfil Corporativo: é considerada uma instituição, na medida em que reúne pessoas – empresários e seus
empregados – com propósitos comuns. Segundo Fábio Ulhôa, este perfil constitui uma ficção, “pois a ideia
de identidade de propósitos a reunir na empresa proletários e capitalista apenas existe em ideologias
populistas de direita, ou totalitárias (como a fascista, que dominava a Itália na época)”.
d) Perfil funcional:uma atividade econômica organizada, para a produção e circulação de bens ou serviços,
que se faz por meio de um estabelecimento e por vontade do empresário.

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Pelo CC 2002, a empresa é conceituada segundo o perfil funcional, ou seja, como atividade desenvolvida
pelo empresário através da exploração do seu estabelecimento com o auxílio ou não de prepostos.
Enquadraria-se, portanto, na categoria do fato jurídico.

ATENÇÃO!!
Existe uma outra teoria que tenta explicar a natureza jurídica da empresa. A teoria da firma (de Ronald
Coase), também chamada de FEIXE DE CONTRATOS diverge da visão institucional de empresa posta por
Asquini, já que aquele vê as entidades como conjunto de contratos, que visam a reduzir os custos da
produção e organizá-los, tão somente.

1.7 Conceito de empresário

Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção
ou a circulação de bens ou de serviços. (art. 966 do Novo Código Civil)
Estão excluídos o profissional liberal, o artista e outros que exerçam atividade predominantemente
intelectual, do conceito de empresário, ainda que tenham o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo
se adotarem estrutura empresarial (i.e., a força de trabalho intelectual seja elemento da empresa).
OBS1.: Consultório Médico – FÁBIO ULHÔA entende que dependerá da forma de organização, podendo ser
caracterizado como sociedade empresária; VINÍCIUS GONTIJO tem opinião diversa, entendendo que
sociedade médica em nenhuma hipótese poderá ser enquadrada como empresária por não se compatibilizar
com a ética comercial.
OBS2: O STJ adotou a teoria de FABIO ULHÔA em julgado de 2011 (ADRESP 200702610344/julho de 2010),
de relatoria do Ministro Luiz Fux.
A questão possui relevância no tocante à definição do sujeito passivo da incidência do ISS, tendo o STJ se
posicionado no sentido da configuração de atividade empresarial aquela desenvolvida por profissionais
liberais por meio de complexa organização estrutural.
OBS.: Caso a atividade intelectual seja apenas a atividade-meio da sociedade, esta poderá ser enquadrada
como empresária (Ex.: médico pesquisador na UFMG – atividade intelectual - área-fim; médico pesquisador
na BAYER – atividade intelectual - área meio, a sociedade é empresária – Enunciados 194 e 195 do CJF)
Antes de iniciar sua atividade, o empresário individual e a sociedade empresária devem, obrigatoriamente,
registrar-se no órgão competente, que é a Junta Comercial da respectiva sede da empresa, obtendo o
Número de Identificação do Registro de Empresas (NIRE). Contudo, a sua inscrição no Registro de
Empresas não é requisito para a caracterização de comerciante e sim da sua regularidade. O registro possui
um caráter declaratório. A sua ausência não pode servir de escudo para se furtar aos deveres decorrentes
do exercício da atividade empresarial Neste sentido, pode se aplicar, analogicamente, a previsão contida no
art. 973 do CC/02:
CC/02, Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer,
responderá pelas obrigações contraídas.
Enunciado 199 do CJF – Art. 967: A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador
de sua regularidade, e não da sua caracterização.

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O empresário rural e o pequeno empresário sujeitam-se a regime registral próprio e simplificado, (art. 970),
sendo que, no caso de empresário rural, o seu registro é facultativo. Estão dispensados também da
obrigação geral dos empresários de escrituração dos livros comerciais (Art. 1179 do CC/02)
CC/02, Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as
formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao
empresário sujeito a registro.
CC/02, Art. 1179 (omissis), § 2o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se
refere o art. 970. [Vide Enunciado n.º 235 do CJF]
Enunciado 200 do CJF – Art. 970: É possível a qualquer empresário individual, em situação regular, solicitar
seu enquadramento como microempresário ou empresário de pequeno porte, observadas as exigências e
restrições legais.
Enunciado 201 do CJF – Arts. 971 e 984:O empresário rural e a sociedade empresária rural, inscritos no
registro público de empresas mercantis, estão sujeitos à falência.
Enunciado 202 da III Jornada de Direito Civil - O registro do empresário ou sociedade rural na Junta
Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial. É inaplicável
esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção.

1.8 Junta comercial – registro

O Serviço do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins é exercido em todo o território
nacional, de maneira uniforme, pelo Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (Sinrem). A
disciplina dos órgãos que o compõem, bem como o do sistema registral, está disciplinada na Lei n.º
8.934/94, que é a Lei do Registro de Empresas.
Merece destaque o fato de que com a criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa pela Lei n.
12.792/2013, de 28/03/2013, foi editado o Decreto n. 8.001/2013 extinguindo o Departamento Nacional de
Registro do Comércio (DNRC), ligado ao Ministério da Indústria e Comércio, e criando o Departamento de
Registro Empresarial e Integração (DREI), subordinando-o à nova Secretaria.
O Sinrem é integrado pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI – Antigo DNRC),
vinculado à Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República, e pelas Juntas
Comerciais, órgãos locais responsáveis pelo registro de Empresários individuais, sociedades empresárias e
cooperativas. (LRE, art. 3º). As funções do DREI estão previstas no art. 4º da LRE, podendo assim serem
sintetizadas:
a) supervisão e coordenação, no plano técnico, dos órgãos de registro. Funciona também como segunda
instância administrativa;
b) expedição de normas e diretrizes gerais relativas ao registro;
c) solução de dúvidas e controvérsias oriundas do registro
Embora tenha sido investido nas funções de órgão central disciplinador, fiscalizador e supervisor do registro
de empresas, o DREI não dispõe de instrumentos de intervenção nas Juntas comerciais, caso não adotem
suas diretrizes ou deixem de acatar recomendações de correção. A lei estabelece, apenas, que o DREI pode
representar às autoridades competentes (o Governador do Estado, O Ministério Público Estadual e outros).

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As Juntas Comerciais são órgãos estaduais submetidos, no âmbito técnico, ao DREI, e no âmbito
administrativo e financeiro, ao Governo Estadual (exceção a situada no Distrito Federal, pois se submete
técnica e administrativamente ao DREI). Há uma Junta Comercial em cada Estado do País, com sede na
capital e jurisdição na área de circunscrição territorial respectiva. São responsáveis pelo registro das
empresas.
Quanto à competência para apreciar as questões que envolvem as juntas comerciais, o STJ tem decidido
(STJ, REsp 678.405/RJ; CC90338/RO; CC 31.357/MG; CC 37.386/PR):
a) Competência da Justiça Federal: somente nos casos em que: i) se discute a regularidade dos atos e
registros praticados pela Junta Comercial; e ii) nos mandados de segurança impetrados contra seu
presidente, por aplicação do artigo 109, VIII, da Constituição Federal, em razão de sua atuação delegada (as
juntas efetuam o registro do comércio por delegação federal).
b) Competência da Justiça Estadual: i) quando particulares litigam acerca de registros de alterações
societárias perante a Junta Comercial, posto que uma eventual decisão judicial de anulação dos registros
societários pode produzir apenas efeitos secundários para a Junta Comercial do Estado, fato que obviamente
não revela questão afeta à validade do ato administrativo e que, portanto, afastaria o interesse da
Administração; ii) causas em que se discute anulação de registros por fraude; iii) abstenção de uso de nome
comercial; iv) se apenas por via reflexa será atingido o registro da Junta Comercial, não há interesse da
União, e por isso a competência será do juízo estadual, como, por exemplo, discussão sobre nome comercial,
sobre idoneidade de documentos usados em alteração contratual, sobre o direito de preferência de sócio.
Atenção: Conforme o STJ, em matéria criminal, no que tange aos delitos de falsidade ideológica que afetem
exclusivamente a junta comercial, sem lesão direta a bens, interesses ou serviços da União, a competência é
da justiça estadual. (STJ, CC 130.516/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 26/02/2014, DJe 05/03/2014).

1.8.1 Atos de registro

O ordenamento dos atos do registro de empresa, previsto nas disposições da Lei n. 8.934/94 é muito simples
e compreende três atos [art. 32 da LRE]:
I. Matrícula: a matrícula se refere aos agentes auxiliares do comércio. Assim, são matriculados nas Juntas
Comerciais, sob a supervisão e segundo as normas do Departamento Nacional do Registro do Comércio os
leiloeiros, tradutores públicos, administradores de armazéns-gerais, trapicheiros (responsáveis por armazéns
gerais de menor porte destinados à importação e exportação), entre outros. A matrícula é uma condição
para que eles possam exercer tais atividades paracomerciais.
II. Arquivamento: correspondem, por sua vez, ao registro dos empresários individuais, sociedades
empresárias e cooperativas. Enquanto não registrados seus atos constitutivos, as sociedades empresárias
não adquirem personalidade jurídica. Os atos de arquivamento abrangem contratos ou estatutos sociais das
sociedades empresárias, atos constitutivos da empresa dos empresários individuais, bem como futuras
alterações contratuais, dissoluções ou extinção da atividade empresarial. Essas mudanças e demais
observações relativas às empresas serão averbadas à margem do registro. A averbação é uma espécie de
arquivamento e corresponde à anotação de nova situação contratual feita à margem do registro originário.
Em relação à cooperativa, a previsão no art. 32. II, a da Lei 8.934/94 não restou derrogada pela atribuição da
natureza de sociedade simples por força de disposição legal (CC/02, art. 982, PU: Independentemente de seu
objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa).

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Enunciado 69 do CJF – Art. 1.093: as sociedades cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição nas
juntas comerciais.
CC/02, Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas
Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples, ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o
qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de
sociedade empresária.
III. Autenticação: refere-se aos instrumentos de escrituração, ou seja, aos livros comerciais. A autenticação é
condição de regularidade dos referidos documentos. Assim, um livro comercial, deve ser levado à Junta
Comercial para autenticação, e neste ato terá todos os requisitos que devem ser observados na escrituração,
fiscalizados.
No momento da apresentação dos documentos necessários para o registro da empresa, a Junta Comercial
deverá ater-se apenas aos aspectos formais exigidos por lei para o respectivo registro [legalidade
extrínseca do ato]. Não serão registradas empresas cujos documentos não obedecerem às prescrições
legais, ou que contenham matéria contrária aos bons costumes, à ordem pública, bem como os que colidam
com o respectivo estatuto ou contrato social originário não modificado anteriormente. Assim, se a maioria
dos sócios de uma sociedade limitada resolver expulsar um minoritário que está concorrendo com a própria
sociedade, não caberá à Junta verificar se é verdadeiro ou não o fato ensejador da expulsão.
É considerada inativa a firma individual ou a sociedade empresária que, durante dez anos consecutivos, não
arquivar nenhuma alteração contratual ou não comunicar à Junta Comercial que se encontra em
atividade. Como efeito, tem-se que, se for considerada inativa pela Junta Comercial, terá seu registro
cancelado (artigo 60 da LRE).
As Juntas Comerciais adotam dois regimes decisórios distintos: colegiado ou singular. Nos atos de
arquivamento relativos às sociedades anônimas e consórcios de empresas, e, ainda, de transformações,
fusões, cisões e incorporações sociais, a Junta segue o regime de decisão colegiada. Em se tratando de
matrículas, autenticações ou atos de arquivamento de outros tipos societários, as Juntas adotam o regime
de decisão singular, feito pelo Presidente da Junta ou por um vogal por ele designado.

1.9 Capacidade

Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem
legalmente impedidos. (art. 972).
É importante diferenciar a capacidade para ser empresário da capacidade para ser sócio de sociedade
empresária.
Se uma pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário vier a exercê-la, responderá
pelas obrigações contraídas. (art. 973)
O relativamente incapaz que vier a estabelecer economia própria se torna capaz, seja desenvolvendo uma
atividade civil ou comercial, pela existência de uma relação de emprego. Nunca é demais lembrar que esta
hipótese de aquisição de capacidade independe de provimento judicial – o estabelecimento comercial com
economia própria suplanta a incapacidade (presume-se que, neste caso, o menor já tenha se ambientado
com a ética comercial, estando apto a realizar todos os atos da vida civil) - (art. 5º, PU, III do CC/02)

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Excetuada a hipótese anterior, ao incapaz somente é permitida a continuação de um negócio empresarial


já existente. É necessária prévia autorização judicial a ser obtido através de procedimento de jurisdição
voluntária (arts. 1103 a 1112 do CPC) ouvido o Ministério Público (Arts. 82 e 1105 do CPC), sendo nomeado
gerente, se o representante ou assistente não puder exercer a atividade de empresário. Ao contrário das
demais empresas ou firmas individuais, há uma limitação da responsabilidade quanto ao patrimônio do
menor, ficando limitado os resultados da empresa aos bens afetados na sua exploração (art. 974, § 2º do
CC/02) .
Em determinadas hipóteses o direito obstaculiza o acesso ao exercício da empresa a determinadas pessoas
que, a princípio, eram capazes para tal. Os proibidos de comerciar são plenamente capazes para a prática de
atos empresariais, mas a lei entendeu por bem impedi-los de exercê-los. Trata-se de hipótese de ausência de
legitimação ou legitimação sob o enfoque negativo.2
Estão impedidos de exercer a atividade empresária:
- Deputados e Senadores (CF/88, Art. 54, II, a) – é absoluta
- Magistrados (LC 35/79, art. 36, I) e Membros do Ministério Público (CF/88, Art. 128, II, c)
- Servidores públicos civil (Lei 8.112/90, Art. 117, X) e militar na ativa (Lei 6.880/80, art. 29)
Em relação aos servidores públicos, a proibição não é absoluta, podendo participar de sociedade, como
sócio cotista, acionista ou comanditário, desde que não ocupe cargo de administração, de controle, e
desde que não seja majoritário. A eventual participação na sociedade empresária gera o impedimento do
Juiz e membro do Ministério Público de atuar em processos em que a sociedade seja parte (Arts. 134, VI e
138 do CPC; Art. 254, VI e Art. 258 do CPP – aqui tratada como hipótese de suspeição).
Se os cônjuges forem casados sob o regime da comunhão universal de bens ou separação obrigatória
(legal) de bens, não poderão constituir sociedade entre si. Nada impede que cada um seja titular de
empresa individual ou sócio de uma sociedade empresária. O legislador criou uma presunção absoluta de
fraude, principalmente no caso de separação obrigatória de bens para que não houvesse confusão
patrimonial. CONTRA:
Enunciado 204 do CJF – Art. 977: A proibição de sociedade entre pessoas casadas sob o regime da
comunhão universal ou da separação obrigatória só atinge as sociedades constituídas após a vigência do
Código Civil de 2002. [Aplicação do ato jurídico perfeito]
- Falido não reabilitado – diversamente das outras hipóteses, a proibição ao falido não diz respeito à ética
comercial.
- Pessoa que esteja condenada pela prática de crime cuja pena vede o acesso à atividade mercantil; (Lei
8.934/94, Art. 35, II). Afora a condenação por crime falimentar (Lei 11.105/05, Art. 181), não há previsão
específica, podendo ser aplicado o Art. 1011, § 1º do CC/02 (referente ao impedimento do administrador).

2
Age de modo negativo quando a lei por disposição cogente declara a inabilitação de certas pessoas para a
prática de certos atos devido a alguma situação irremovível em que elas se acham, ou quando mantém o
impedimento durante a persistência de determinadas situações especiais, caracterizando-se, na primeira
hipótese, de ilegitimação absoluta ou inalterável pela vontade dos agentes e, na segunda hipótese, a da
ilegitimidade relativa.

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1.10 EIRELI

Trata-se da figura da “empresa individual de responsabilidade limitada”, por meio da Lei 12.441/2011.
Como nova espécie de pessoa jurídica incluída no rol do art. 44 do CC, a EIRELI tem personalidade distinta da
pessoa que concentra a totalidade de seu capital. Personalidade essa que faz plenamente compreensível a
opção do legislador em limitar a responsabilidade pelo pagamento de dívidas contraídas em nome dessa
empresa ao capital integralizado, cujo valor mínimo foi fixado em 100 (cem) salários mínimos.
Por fim, eis uma polêmica suscitada tão logo veio a lume a lei instituidora da “EIRELI”: prestigiosa corrente
doutrinária, retratada no Enunciado n. 468 da V Jornada de Direito Civil, e que conta atualmente com o
apoio do Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC), preconiza somente poder figurar, como
titular da totalidade do capital de uma “EIRELI”, pessoa natural.

Enunciado 62 (aprovado em 27/02/2015, na II Jornada de Direito Comercial - CJF): “O produtor rural, nas
condições mencionadas do art. 971 do CCB, pode constituir EIRELI.”

UNIDADE II – DIREITO CAMBIÁRIO

2.1 Títulos de crédito

Título de crédito é um documento abstrato e cartular que representa o crédito, permitindo maior circulação
deste. Estão tratados junto com o Direito das Obrigações no artigo 887 e seguintes do NCC. Representam
obrigações de natureza pecuniária. Não se confundem com a própria obrigação. As obrigações
representadas em um título de crédito ou têm origem extracambial, como é o caso das originadas de
contratos, ou têm origem exclusivamente cambial, como na obrigação do avalista.
Documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele contido ou mencionado (Vivante).
CC/02, art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele
contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.
Fases do Direito Cambiário: (quatro)
Período Italiano – até 1650: mercadores das cidades italianas / necessidade de operar com moedas
diferentes em praças diversas (letras de câmbio);
Período francês: (1650 até 1848): surge o endosso / a letra de câmbio deixou de ser instrumento de
pagamento para instrumento de crédito.
Período Germânico: (1848=1930): codificadas as normas disciplinadoras da cambial, separando-as das
normas de direito comum / proteção especial ao terceiro adquirente de boa-fé, como forma de garantir a
circulação do título.
Período Uniforme: aprovação, em 1930, das leis uniformes genebrinas sobre letras de câmbio e notas
promissórias, e, em 1931, sobre cheques.

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2.1.1.1 Normatização

O CC/02 não está valendo para:letra de câmbio,nota promissória, cheque e duplicata, porque o artigo 903
dispõe que estão ressalvadas as leis especiais. Ou seja, o Código Civil não revogou as legislações anteriores,
sendo que cada título específico permanece com seu regulamento especial. As regras do CC/02 são
supletivas às leis especiais.
Em resumo, pode-se dizer que as normas relativas aos títulos de crédito trazidas no CC/02 só serão utilizadas
há hipótese em que não venham a contrariar a lei especial, e em particular os tratados internacionais que
disciplinam a matéria (Marcelo Bertoldi), especialmente a lei uniforme de Genebra, traduzida no Decreto
57.663/66.
2.1.1.2 Princípios do direito cambiário

A. CARTULARIDADE (ou documentalidade ou da incorporação) (cártula = documento = título)


De acordo com o Princípio da Cartularidade, a obrigação deve estar representada por um documento
cartular, ou seja, um papel que especifica a obrigação. O exercício dos direitos representados por um título
de crédito pressupõe sua posse. Quem não se encontra com o título em sua posse, não se presume credor.
O princípio da cartularidade é garantia de que o sujeito que postula a satisfação do crédito é mesmo o seu
titular (É uma garantia de que o credor não negociou o seu crédito.). Cópias autênticas não conferem a
mesma garantia.
Implicações: a) a posse do título pelo devedor presume o pagamento; b) só é possível o protesto mediante
apresentação do título; c) só é possível a execução mediante apresentação do título.
OBS.: mais recentemente, algumas exceções ao princípio da cartularidade: Art. 889, §3º - O título poderá ser
emitido a partir dos caracteres criados em computadoroumeio técnico equivalente e que constem da
escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.

B. LITERALIDADE
Toda e qualquer obrigação só é válida se estiver escrita na cártula. Somente produzem efeitos jurídico-
cambiais os atos lançados no próprio título de crédito. A quitação deve estar representada por título. Atos
documentados em instrumentos apartados, ainda que válidos e eficazes entre os sujeitos diretamente
envolvidos (ex. aval concedido fora do título poderá ser tido como fiança), não produzirão efeitos perante o
portador do título, mas vigoram entre os signatários originais como qualquer obrigação civil.
OBS.: a quitação da duplicata pode ser dada em documento em separado.

C. AUTONOMIA
De acordo com o Princípio da Autonomia das relações cambiárias, cada relação jurídica existente no título
é autônoma em relação a outra. Por consequência, quando um único título representa mais de uma
obrigação (do emitente, do avalista, do endossante e outros) a eventual invalidade de qualquer delas não
prejudica as demais.
O princípio da autonomia desdobra-se em dois sub-princípios:

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i) Abstração – O título de crédito se desvincula da relação causal-base que lhe deu origem quando posto
em circulação. Se houve algum vício na causa que originou o título (ex: contrato de compra e venda
declarado nulo), não haverá prejuízo às obrigações nele constantes. A abstração somente se verifica
quando o título circula para um terceiro de boa-fé, que não tem ciência do defeito existente no negócio
que originou o título.
OBS1.: As relações causal e cartular não se confundem, embora coexistam harmonicamente porque a
criação do título de crédito não implica novação no que se refere à relação causal, vez que esta não se
extingue. A relação causal enseja uma ação extracambiária, ao passo que a relação cartular enseja uma ação
cambiária.
OBS2.: todos os títulos são autônomos. Mas alguns títulos não são classificados como abstratos:
determinados títulos de crédito podem resultar de qualquer causa, mas dela se libertam após a sua criação,
o que não ocorre com os títulos causais (duplicata), que, embora circulem, mantêm vínculo com a causa
que os gerou.
ii) Inoponibilidade de Exceções a Terceiros de Boa-fé (art. 17 da Lei Uniforme e art. 916 do CC)
O executado em virtude de um título de crédito não pode alegar matéria de defesa estranha à sua relação
direta com o exequente, salvo, provando a má-fé dele. Ou seja, não pode lhe opor exceções pessoais (que
tinha contra o antigo credor), salvo se o terceiro for adquirente de má-fé. Se o título não circular, ele está
preso à relação causal. Mas pode ser oposto o vício formal. Possui natureza processual.

2.1.1.3 Classificação dos títulos de crédito

a) Quanto ao Modelo:
- Livres: cujo formato não segue um rigor absoluto. Ex.: nota promissória no caderno.
- Vinculados: além dos requisitos, existe padronização (padrão normativamente estabelecido). Ex.: cheque,
duplicata.
b) Quanto à Estrutura:
- Ordem de Pagamento: ordem dada por uma pessoa (sacador) para que outro (sacado) pague ao
beneficiário (tomador). Ex.: letra de câmbio.
- Promessa de Pagamento: relação direta entre o emitente e o beneficiário. Ex.: nota promissória.
c) Quanto à hipótese de emissão:
Todo título advirá sempre de um negócio jurídico, contudo haverá títulos em que esse negócio precisa ser
comprovado para que o título tenha existência válida. E é partir dessa ideia que surgem os títulos causais e
não causais:
- Causal: somente pode ser emitido para documentar determinadas operações. Ex: duplicata (prestação de
serviço e compra e venda).
- Não-Causal (ou abstratos): pode ser emitido por qualquer causa, em qualquer tipo de negócio. Ex.: cheque,
nota promissória.
d) Quanto à Circulação:
Todo título é feito para circular, mas a forma de circulação varia de título para título:

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- Ao Portador: são os títulos nos quais não consta o nome do beneficiário do direito nele incorporado. É
transmitido por mera tradição. Quem estiver portando a cártula e a apresentar ao devedor será o legítimo
credor.
- Nominal: consta o nome do beneficiário. Pode apresentar-se sob a modalidade à ordem (passíveis de
serem transferidos por endosso) ou não à ordem (transmitidos somente por cessão comum civil de crédito –
nesse caso o cedente se obriga apenas com o cessionário, não em relação aos posteriores possuidores do
título).
- Nominativo (art. 921, CC): “É título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro
do emitente”.

2.2 Letra de câmbio

É um título de crédito clássico e comporta todas as características dos títulos de crédito. É mais utilizada em
negócios internacionais (comércio exterior) e no Brasil é substituída pela duplicata. Está prevista no Decreto
57663/66 (Lei Uniforme de Genebra). O anexo I está em vigor, sendo que o anexo II estabelece as reservas
do que não vige no Brasil, devendo ser aplicado o Decreto 2.044/1908.

2.2.1.1 Legislação aplicável – Decreto n. 57.663/66 – Lei Uniforme de Genebra

2.2.1.2 Conceito

Ordem dada, por escrito, a uma pessoa, para que pague a um beneficiário indicado, ou à ordem deste, uma
determinada importância em dinheiro. Ou seja, é um título de crédito por meio do qual uma pessoa
(sacador) declara que certa pessoa (sacado) pagará a certa pessoa (tomador ou beneficiário) uma quantia
certa, num determinado local ou data.

2.2.1.3 Elementos pessoais

a) SACADOR - eminente da letra de câmbio / quem dá a ordem de pagamento;


b) SACADO - quem recebe a ordem de pagamento;
c)TOMADOR - o beneficiário da ordem de pagamento.
É possível que sacador e tomador sejam a mesma pessoa.
É possível que sacador e sacado sejam a mesma pessoa (nesse caso, a letra de câmbio acaba tendo as
mesmas funções de uma nota promissória, conforme art. 3º da Lei Uniforme).
É possível até que sacador, sacado e tomador sejam a mesma pessoa (Marcelo Bertoldi).

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2.2.1.4 Requisitos da letra de câmbio

- Título de modelo livre.


- Quanto ao aspecto material, a letra de câmbio deve ser feita em papel; a forma mais comum são
formulários já prontos, em que basta preencher espaços vazios com as informações indicadas.
- Requisitos extrínsecos: são aqueles relativos à formalidade do título em si. Eventuais falhas quanto a tais
requisitos podem ser alegadas e opostas por qualquer devedor contra qualquer credor. Ex: falsidade da
cártula; adulteração, etc.
- Requisitos intrínsecos: são aqueles relativos à obrigação contida na letra de câmbio. São os exigidos pelo
direito para a validade de qualquer negócio jurídico. Referem-se à capacidade das partes, ao consentimento,
ao objeto e à causa da obrigação.
- Requisito essenciais: o art. 1º do Anexo I do Decreto n. 57.663/66 traz os elementos que deve conter a
letra de câmbio, sem os quais, o título não produzirá efeitos como tal.
2.2.2 Saque

É a criação da letra de câmbio. Vincula apenas o sacador (emitente).

2.2.3 Aceite

Na época do saque, o ato ainda não vincula o sacado, vincula somente o sacador. O aceite é o ato que
vincula o sacado. É o ato formal segundo o qual o sacado se obriga a efetuar, no vencimento, o pagamento
da ordem que lhe é dada (art. 28). O aceite é formalizado com a assinatura do sacado no título (art.25).
Quando o sacado aceita pagar, ele passa a ser o devedor principal, denominado de aceitante, de modo que
o sacador continua sendo devedor, mas não o principal.
O aceite na letra de câmbio é facultativo, porém irretratável, sendo que a sua recusa gera o vencimento
antecipado do título, podendo o tomador exigir do sacador o seu pronto pagamento.
Pode ainda haver a recusa parcial, que ocorre quando o sacado aceita a letra parcialmente, podendo ser
limitativo (do valor constante do título) ou modificativo (aceita pagar, mas modifica alguns requisitos).
Nestes casos, o aceitante se vincula ao pagamento do título nos exatos termos de seu aceite, mas se opera
o vencimento antecipado da letra de câmbio, que poderá, por isto, ser cobrada de imediato do sacador. A
única diferença entre a recusa total e a recusa parcial, pois, relaciona-se à posição assumida pelo sacado, eis
que no primeiro caso, ele não assume obrigação cambial nenhuma.
A recusa do aceite deve ser comprovada pelo protesto do título (art.14). À vista do protesto por falta de
aceite, vencendo-se antecipadamente a letra, caberá ao portador o direito de ação executiva contra o
emitente da letra e os demais obrigados (endossantes e avalistas).
Entretanto, pode o sacador se prevenir quanto ao vencimento antecipado da letra: colocando no título a
cláusula não aceitável (cláusula non acceptable: art. 22 da Lei Uniforme), que impõe ao tomador a obrigação
de só procurar o sacado para o aceite na data do vencimento. Existe ainda uma pequena variante da cláusula
não aceitável, por meio da qual a letra pode ser apresentada para aceite antes do seu vencimento, mas
somente após uma certa data fixada pelo sacador.

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O ato de submeter a letra ao reconhecimento do sacado chama-se apresentação. Se o sacado reconhecê-


la, assinando a letra, torna-se aceitante, obrigado principal pelo pagamento.
A Lei Uniforme admite o cancelamento do aceite, antes da restituição da letra, o que é considerado, então,
aceite recusado.
É inconstitucional a prisão prevista no artigo 885 do Código de Processo Civil, onde se determina a citada
medida para os casos de recusa na entrega da letra.
Prorrogação do prazo de apresentação para aceite – a decadência ou perda de certos direitos cambiários
decorrem da não apresentação ou da tardia apresentação da letra. A Lei Uniforme admite, assim, que,
havendo caso fortuito ou força maior, possa ser prorrogado o prazo de apresentação para aceite. Cessado o
caso fortuito ou força maior, o portador deve apresentar sem demora a letra para aceite, ou para
pagamento.
2.2.4 Formas de vencimento da letra de câmbio (art. 33)

a) à vista: vence na apresentação, que poderá ser feita dentro do prazo de um ano, contado da emissão do
título.
b) a dia certo: no dia que consta no título, que já está ali fixado.
c) a tempo certo da data (DO SAQUE): a data do vencimento será contada a partir do saque (emissão)
d) a tempo certo da vista (DO ACEITE): o vencimento ocorre em um prazo previamente indicado no título a
contar do aceite.

2.2.5 Endosso

O endosso é o ato pelo qual o credor de um título de crédito com cláusula à ordem transmite o direito ao
valor constante do título a outra pessoa, sendo acompanhado da tradição da cártula.
“A transferência do título de crédito implica a de todos os direitos que lhe são inerentes” (Art. 893 CC).
Endossante – aquele que transfere por endosso.
Endossatário – aquele que recebe o título por endosso.
Em regra, enquanto o endossatário se torna novo credor da letra de câmbio, o endossante passa a ser um de
seus codevedores. Entretanto, se não for intuito do endossante assumir a responsabilidade pelo pagamento
do título, e com isso concordar o endossatário, operar-se-á a exoneração da responsabilidade pela
CLÁUSULA “SEM GARANTIA” (que apenas o endosso admite).
O art. 914 do CC traz redação que isenta (em regra) o endossante de garantir o pagamento do título. Vale
repisar que esse dispositivo só é aplicável aos títulos de crédito não regulados e, portanto, não é aplicável à
letra de câmbio.

2.2.5.1.1 Formalidade e Efeitos do Endosso

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O endosso deve sempre constar do título (cartularidade - art. 13, Lei Uniforme). Pode ser feito no verso ou
no anverso no título. No verso, basta a simples assinatura do endossante. No anverso, ele será completo
quando contiver a assinatura do endossante e uma declaração de que se trata de um endosso. Não é
possível lavrar o endosso em documento à parte ou concedê-lo por meio de instrumento público.
O endosso deve ser puro e simples. Considera-se como não escrita no endosso qualquer condição a que se
subordine o endossante (art. 12 da LU).
É vedado o endosso parcial ou limitado, ou seja, aquele que diga respeito apenas a parte do valor constante
do título (art. 8º, § 3º, do Decreto n. 2.044/1908).
O endosso pode ser em preto (indicando a pessoa a quem é transferido o título) ou em branco (não
indicando a pessoa a quem é transferido o título). Com o endosso em branco, o título passa a ser ao
portador, circulando pela simples tradição.
Endosso próprio – transfere a titularidade do crédito e o exercício de seus direitos, bem como obriga o
endossante na qualidade de coobrigado.
Súmula 475 do STJ: Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por
endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu
direito de regresso contra os endossantes e avalistas.
Endosso impróprio – não transfere a titularidade do crédito, mas apenas possibilita ao detentor o exercício
de seus direitos. O endossatário, no endosso impróprio, pode exercer todos os direitos emergentes da letra
de câmbio, exceto o de transferir a titularidade do crédito, que remanesce nas mãos do endossante-
mandante ou caucionário.
São espécies de endosso impróprio:
a) Endosso-caução (endosso-penhor, ou endosso-pignoratício) – títulos de crédito dados em garantia a
outro negócio. Não há a transferência do crédito. Trata-se de garantia. “Pague-se em garantia”. Este
somente é utilizado nos títulos a prazo (excluindo, portanto, o cheque, que consiste em ordem de
pagamento à vista).
b) Endosso-mandato (endosso por procuração) – quando o credor transfere para outra pessoa só o poder
de receber em seu nome: “Pague-se por procuração”; o mandatário somente vai receber o valor e passar
para o credor.
Súmula 476 do STJ: O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos
decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário.
Responsabilidade do endossante – na letra de câmbio, o endossante é responsável pelo aceite e
pagamento do título, salvo se registrar que endosso é sem garantia – art. 15, da Lei Uniforme. O endosso
vincula o endossante ao pagamento do título de crédito; existe uma solidariedade cambial, que consiste no
fato de quem paga poder cobrar tudo do devedor principal.
O protesto é ato necessário para garantir o direito de regresso contra os endossantes e seus avalistas.
Endosso X Cessão de Crédito. Ambos se caracterizam como atos transmissores da titularidade de crédito,
havendo, entretanto inúmeras diferenças:

ENDOSSO CESSÃO DE CRÉDITO

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Instituto de direito cambiário Instituto de direito civil

É ato unilateral É negócio jurídico, portanto, bilateral (formada pelo


acordo de vontades das partes).

Só é admitido mediante assinatura e declaração apostas Pode ser feita da mesma forma que qualquer outro
no título contrato

Confere direitos autônomos ao seu beneficiário Confere direitos derivados (os mesmos direitos de
(direitos novos em relação aos anteriores) quem cedeu)

Em regra, o endossante responde pela exigência do Em regra, o cedente responderá apenas pela
crédito e pelo pagamento do título existência do crédito

Vigora o princípio da inoponibilidade das exceções Admite que o devedor oponha contra o cessionário
exceções que tinha contra o cedente (CC, art. 294)

Não pode ser parcial Pode ser parcial

Cláusula “não à ordem”: A letra de câmbio, mesmo que não envolva expressamente a cláusula à ordem, é
transmissível por via de endosso. Isso significa que a letra de câmbio tem implícita a cláusula “à ordem”.
Para que o título não circule sob as regras do direito cambiário, é necessária a inclusão expressa da cláusula
“não à ordem”, que proíbe o endosso, mas não impede a transmissão do direito contido no título por meio
de cessão civil de crédito. Havendo a transferência da letra, estarão ausentes os efeitos cambiais naturais do
endosso em relação àquele que inseriu a cláusula “não à ordem”. Podem inserir a cláusula não à ordem: o
sacador ou o endossante.
Endosso tardio ou póstumo: É o endosso dado após o vencimento do título. Em regra, o endosso tardio tem
os mesmos efeitos do endosso comum (dado antes do vencimento do título). Todavia, produzirá os efeitos
de uma cessão ordinária de crédito quando for posterior ao protesto por falta de pagamento; ou quando
dado depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto.
O endosso que não contém data – presume-se dado antes do protesto do título. Mas, essa presunção é
relativa, admitindo prova em contrário.

2.2.6 Aval
Aval é a declaração cambiária decorrente de uma manifestação unilateral de vontade, pela qual uma
pessoa, natural ou jurídica (avalista), assume obrigação cambiária autônoma e incondicional de garantir,
total ou parcialmente, no vencimento, o pagamento do título nas condições nele estabelecidas.
Características:
a) Equivalência – o avalista é obrigado nos mesmos termos que o avalizado (exceto se o aval for parcial).
Não há benefício de ordem e pode ser acionado isoladamente.
b)Autonomia – a obrigação do avalista independe da obrigação do avalizado. Mesmo que a relação do
avalizado seja nula, a do avalista permanece.

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Aval total x Aval parcial


Aval pode ser total ou parcial (art. 30 da Lei Uniforme). O art. 897 do CC, parágrafo único, veda o aval
parcial para os títulos de crédito sem legislação específica.
Aval em branco x Aval em preto
Aval em preto: identifica o avalizado.
Aval em branco: quando não identificado o avalizado do título. Neste caso, o avalista está garantindo
aquele que criou o título de crédito (o sacador). O aval em branco é presumidamente realizado em favor do
sacador.
Aval antecipado x aval posterior
Aval antecipado: o aval pode anteceder o aceite ou o endosso, ainda não lançados no título. A respeito do
aval aposto antes do aceite, cumpre salientar que a recusa total ou parcial do aceite nenhuma influência
exercerá sobre a responsabilidade do avalista, que assumiu a obrigação de garantir o pagamento do título.
Já no caso do aval antes do endosso: se este não se realizar, nenhuma obrigação se originará para o avalista
do endossante.
Aval posterior: Discute-se a possibilidade de o aval ser ou não válido quando lançado após o vencimento.
Para alguns seria inválido por não haver expressa previsão legal admitindo-o, como ocorre com o endosso
(art. 20 da Lei Uniforme). Para outros seria válido exatamente por aplicação analógica ao dispositivo
mencionado que admite o endosso após o vencimento. O tema atualmente encontra-se pacificado em
decorrência da regra contida no art. 900 do Código Civil, que expressamente declara: “o aval posterior ao
vencimento produz os mesmos efeitos do anteriormente dado”.Esse dispositivo tem plena aplicação na
medida em que não há regra expressa em sentido contrário em lei especial, na hipótese, a Lei Uniforme.
Não gera, porém, efeito o aval dado após o protesto ou após o decurso do prazo para fazê-lo. Com efeito, o
Código Civil só concedeu eficácia ao aval após o vencimento.

Aval SUCESSIVO x Aval SIMULTÂNEO:


Aval Simultâneo: é aquele dado em conjunto, por duas ou mais pessoas, em relação a uma mesma
obrigação. Se um dos avalistas simultâneos pagar o título, este poderá exigir do avalizado, o montante
integral da obrigação, ou, dos demais avalistas simultâneos, a proporção de seus avais.
Aval Sucessivo: ocorre quando a obrigação de um avalista é garantida também por aval. Quer dizer:
alguém avaliza um avalista. Nesse caso tem estar expresso que o aval é a favor de outro avalista, senão o
aval será simultâneo.
Existe subsidiariedade nas obrigações – Primeiro executa-se o patrimônio do 1o avalista (que recebeu aval
em sucessão de outro). Somente depois, executa-se o patrimônio do seu avalista sucessivo.
Súmula do STF: Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos.
AVAL X FIANÇA

AVAL FIANÇA

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Só pode ser dado em título de crédito Só pode ser dada em contrato.


O avalista só fica responsável por aquilo que está Assim como não há aval em contrato, não há fiança
previsto expressamente no título de crédito, e não no em título de crédito.
eventual contrato de mútuo.
OBS: se o aval é feito, eventualmente, num instrumento
separado do título, não será válido como aval, porque
não respeita o princípio da literalidade. Poderá ter
valor, no máximo como uma fiança. (SANTA CRUZ)

O aval é autônomo A fiança é acessória.


A obrigação do avalista persiste mesmo com a nulidade A nulidade da obrigação do afiançado abrange a
da obrigação do avalizado. obrigação do fiador.
Em caso de morte, incapacidade ou falência do
avalizado, o avalista continua responsável.

O aval não possui benefício de ordem A fiança tem benefício de ordem

Não era necessária autorização do cônjuge. Era exigida autorização do cônjuge.


Com o novo CC/2002, exige essa autorização, exceto se No CC/ 2002, essa autorização é exigida, exceto se
houver regime de separação absoluta de bens (art. houver regime de separação absoluta de bens.
1647, III, CC)

JURISPRUDÊNCIA

Súmula 26 do STJ: O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas
obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário.

2.2.7 Pagamento

A letra de câmbio é uma obrigação querable por natureza, pois o devedor, no dia do vencimento, não sabe
nas mãos de quem e onde se encontra o título. O portador do título (credor) deve ir ao devedor apresentar
o título para pagamento.
A Lei Uniforme dispõe que a letra deve ser apresentada para pagamento no dia do vencimento ou em um
dos dois dias subsequentes. O Brasil, todavia, usou da reserva, razão pela qual, em relação às letras pagáveis
em seu território, deverá o portador fazer a apresentação no próprio dia do vencimento.
Efeitos da não-apresentação – O portador que não apresentar a letra para pagamento, seja qual for a
modalidade de prazo de vencimento, na época determinada, perde, em consequência, o direito de regresso
contra o sacador, endossadores e respectivos avalistas. Expirado o prazo de apresentação para pagamento,
o portador somente terá direito de ação contra o aceitante (e respectivo avalista).
O portador não pode recusar o pagamento que se lhe queira efetuar, seja total ou parcial, se for oferecido
no dia do vencimento (no direito civil, o credor pode recusar o pagamento parcial). Art. 902, § 1°, CC: no

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vencimento, não pode o credor recusar pagamento, ainda que parcial. O pagamento antecipado, seja total
ou parcial, pode ser recusado.
Art. 902 CC: não é o credor obrigado a receber o pagamento antes do vencimento do título, e aquele que o
paga, antes do vencimento, fica responsável pela validade do pagamento. Assim é porque pode ocorrer que
o título tenha sido extraviado, e se encontre na posse ilegítima do portador.
O credor pode fazer uma oposição ao pagamento, nos casos em que o título estiver na posse ilegítima de
outra pessoa. Esta oposição deve ser dirigida ao devedor por carta registrada.
Verificação dos endossos – Aquele que paga a letra é obrigado a verificar a regularidade da sucessão dos
endossos, mas não a assinatura dos endossantes. A cadeia de endossos em preto deve estar perfeita, com
as assinaturas dos endossantes se encadeando, um a um.
Lugar do pagamento – Na falta de menção no título, prevalece o lugar que constar ao lado do nome do
sacado.

2.2.8 Protesto cambial

2.2.8.1.1 Modalidades de protesto:

- Protesto Judicial – é modalidade especial de protesto tratada no CPC.


- Protesto Extrajudicial ou Cambial – é tratado no direito cambiário.

2.2.8.1.2 Definição

Assim, o protesto cambial é ato público, formal e solene, realizado por tabelião, destinado a servir de prova
de que o credor se desonerou da obrigação de apresentar o título ao devedor para aceite ou para
pagamento e de que o mesmo se encontra inadimplente.
O protesto cambial não cria direitos, sendo simples meio de prova para o exercício do direito cambiário,
como acentua Pontes de Miranda e uma forma de coerção para que o devedor cumpra sua obrigação sem
que seja necessária ação judicial.
Súmula 153 do STF: “simples protesto cambiário não interrompe a prescrição”. Sem eficácia, pois, o art.
202, III, do CC, que determina que o protesto cambiário interrompe a prescrição.
Juros (artigo 48 da Lei Uniforme) – contam-se desde a data do vencimento, à taxa de 6%. Há quem defenda,
porém, que eles se contam apenas a partir do protesto, sob o argumento de que o devedor não sabe quem é
o portador do título.
Já em relação aos prazos para protesto, a disciplina é diferente para cada um dos tipos:
a) protesto por falta de pagamento – como o Brasil se valeu do seu direito de reserva, não adotou a regra
da Lei Uniforme. Assim, o dia da apresentação do título é o do vencimento. Se houver recusa, a letra deve
ser entregue ao oficial de protesto no primeiro dia útil seguinte;

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b) protesto por falta de aceite – não houve reserva. Assim, se o devedor pede que a letra lhe seja
apresentada uma segunda vez no dia seguinte ao da primeira apresentação, tendo esta sido feita no último
dia do prazo, pode fazer-se o protesto ainda no dia seguinte.

2.2.11.4.1 Procedimento do protesto

1) o credor (ou outra pessoa que esteja portando o documento) leva o título até o tabelionato de protesto e
faz a apresentação, pedindo que haja o protesto e informando que os dados e endereço do devedor;
2) o tabelião de protesto examina os caracteres formais do título;
3) se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto devedor no endereço
apresentado pelo credor (art. 14 da lei de Protesto);
4) a intimação é realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague ou providencie a sustação
do protesto antes de ele ser lavrado;
5) após a intimação, poderão ocorrer quatro situações: (i) o devedor paga (art. 19); (ii) o apresentante
desiste do protesto e retira o título (art. 16); (iii) o protesto é sustado judicialmente (art. 17); (iv) o devedor
fica inerte ou não consegue sustar o protesto.
6) Se ocorrer as situações (i), (ii) ou (iii), o título não será protestado;
7) Se ocorrer a situação (iv), o título será protestado (será lavrado e registrado o protesto).

Responsabilidade pela baixa após o pagamento: depois do título ter sido protestado, caso o devedor efetue
a quitação da dívida, a responsabilidade por promover o cancelamento do protesto não é do credor, mas sim
do devedor ou de qualquer outro interessado.
Cancelamento de protesto: STJ 2015 (Info 562): A prescrição da pretensão executória de título cambial não
enseja o cancelamento automático de anterior protesto regularmente lavrado e registrado. Note-se que, de
acordo com o art. 1º da Lei 9.492/1997, o “Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a
inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida”.
Portanto, o protesto não se prende imediatamente à exequibilidade do título ou de outro documento de
dívida, mas sim à inadimplência e ao descumprimento da obrigação representada nestes papéis. Ora, a
inadimplência e o descumprimento não desaparecem com a mera prescrição do título executivo não
quitado. Ao contrário, permanecem, em princípio. Então, não pode ser o protesto cancelado simplesmente
em função da inaptidão do título prescrito para ser objeto de ação de execução.
Sustação do protesto – Cuida-se de construção jurisprudencial, tendo sido positivada com a Lei 9.492/97,
para evitar o abuso do direito de certos credores, que usam o protesto para oprimir e coagir o devedor a
pagar a dívida.
Protesto extrajudicial de certidão de dívida ativa (CDA) – STJ
O art. 1º da Lei n. 9.497 permite que seja realizado protesto não apenas sobre títulos como também com
relação a outros documentos de dívida (documento de dívida é todo e qualquer meio de prova escrita que
comprove a existência de uma obrigação líquida, certa e exigível). Passou-se a discutir a possibilidade de
protestar certidão de dívida ativa da Fazenda Pública.De início, o STJ afirmou que não haveria interesse
jurídico em realizar o protesto da CDA considerando que, por ser título executivo, é possível o ajuizamento,

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desde logo, da execução fiscal (STJ, AgRg no Ag 1316190/PR, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 1ª Turma, DJe
25.05.2011). Com a superveniência da Lei n. 12.767/2012, incluindo parágrafo único ao art. 1º da Lei n.
9.492/97, com o seguinte teor “Incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas”,
passou a existir expressa previsão legal do protesto de CDA. No final de 2013, o STJ, alterando sua antiga
posição, passou a entender que é possível o protesto da certidão de dívida ativa (CDA).

2.2.12 Ação cambial

É, no direito brasileiro, uma ação executiva típica.


O portador pode acionar qualquer obrigado, sem estar adstrito à ordem, ou pode mover a ação contra
todos, citando-os solidariamente. Porém, para que possa exigir o pagamento dos demais obrigados pelo
título (endossantes e avalistas), deverá comprovar o inadimplemento do devedor principal, o que se faz pelo
protesto.
O prazo para o protesto é decadencial; o da ação, prescricional.
Prescrição da ação cambial (Letra de Câmbio):
a) contra o aceitante – prescreve em 3 anos a contar do vencimento;
b) do portador contra os endossantes e contra o sacador – prescreve em 1 ano, a contar do protesto feito
em tempo útil, ou da data do vencimento, se fora aposta a cláusula “sem protesto”;
c) dos endossantes contra os outros e contra o sacador – prescreve em 6 meses, a contar do dia em que o
endossante pagou a letra ou, se for o caso, do dia em que ele foi acionado. Nesse caso, trata-se do exercício
do direito de regresso.
O art. 71 da LU esclarece que a interrupção da prescrição somente se opera em relação à pessoa para quem
a interrupção foi feita. Logo, se interrompida contra um dos coobrigados, não se estende aos demais.
Ação de enriquecimento ilícito (ação de in rem verso) – o próprio artigo 15 do Anexo II da Convenção de
Genebra facultou aos países signatários a previsão da citada ação. Baseia-se na equidade, e não no direito
creditório, que já está prescrito. A sua causa de pedir não é a existência do crédito (que já prescreveu), mas
o locupletamento ilícito. Segundo o § 3° do art. 206 do CC, o prazo é de 3 anos.

2.2.13 Ressaque

Ressacar é sacar outra vez. Possui idêntica natureza do saque primitivo, com os mesmos requisitos essenciais
(tanto que dispensa até novo aceite do sacado, sendo suficiente o do título original). Na verdade, é novo
saque que substitui ação regressiva.
Previsto no art. 37 do Decreto nº 2.044/08, permitindo ao portador de uma letra que a tenha pago,
devidamente protestada, e não prescrita, proceder à emissão de um novo título, com a finalidade de
substituir a ação regressiva contra os demais co-responsáveis.
Se algum obrigado indireto pagar a letra, poderá demandar os demais de dois modos:
a) via ação regressiva;

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b) emitindo uma nova letra, que será a cópia fiel da primitiva, junto da qual deve seguir.

2.3 Nota promissória


2.3.11 Legislação aplicável – Decreto n. 57.663/66 – Lei Uniforme de Genebra

2.3.12 Conceito
A nota promissória é um título de crédito emitido pelo devedor, sob a forma de PROMESSA direta e
unilateral de pagamento (e não uma ordem de pagamento), a determinada pessoa, de quantia
determinada, à vista ou a prazo, nas condições dela constantes, efetuada, em caráter solene, pelo
promitente-­­devedor ao promissário-­­credor.
Como se trata de promessa de pagamento, e não de ordem de pagamento, o devedor já está se obrigando
diretamente ao pagamento. NÃO HÁ SACADO E NÃO HÁ ACEITE.
Já decidiu o STJ que não são absolutos os princípios da abstração e da autonomia quando a cambial é
emitida em garantia de negócio subjacente. Por óbvio, essa situação não altera a natureza de título
executivo da nota (nem de cambial). A situação se agrava quando a nota está vinculada a contrato de
abertura de crédito, caso em que o título se torna ilíquido.
Súmula 258 do STJ: A nota promissória vincula a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em
razão da iliquidez do título que a originou.
Isso significa que, se o credor primitivo (que é o banco) transferir essa nota promissória para terceiro, aquilo
que poderia ser alegado para o credor primitivo também pode ser alegado contra o terceiro, em sede de
embargos (ex: valor dos juros, saldo devedor, comissão de permanência, etc). Afasta-se a não-oponibilidade,
subprincípio da autonomia.
Na nota promissória, diferentemente do que ocorre com a letra de câmbio, não há que se falar em saque,
mas em emissão do título.

2.3.13 Elementos pessoais

EMITENTE ou SUBSCRITOR – aquele que faz a promessa de pagamento;


BENEFICIÁRIO – o favorecido na promessa de pagamento.

2.3.14 Requisitos

Para ser considerada válida, a NP deve conter requisitos essenciais (art. 75 da LU):
- denominação “nota promissória”;
- promessa solene e direta de pagar certa quantia;
- nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga;
- indicação da data de emissão da nota promissória;

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- assinatura do emitente.
A LU considera requisitos não essenciais (art. 76):
- data de vencimento do título (na sua ausência o título é pagável à vista);
- lugar de pagamento da nota promissória (quando o título não especificar o lugar de seu pagamento, deve
ser considerado como tal o lugar de sua emissão);
- lugar de emissão;

2.3.15 Aplicação das regras da letra de câmbio

Endosso: Somente o titular do crédito pode endossar, ou seja, o credor ou beneficiário. Quem endossa é o
endossante, quem recebe é endossatário. O novo credor pode cobrar de todos os anteriores, até do
endossante, que não é o devedor principal, mas também é devedor.
Aval: quem presta o aval é o avalista, quem é garantido é o avalizado. Os dois são equiparados, pois,
respondem da mesma forma, não há benefício de ordem; ou seja, tanto um, quanto outro pode ser cobrado
indistintamente. Somente o devedor pode ser avalizado, na NP são devedores: o emitente e os endossantes.
As duas obrigações são distintas, mesmo que haja nulidade na relação jurídica do avalizado em relação ao
credor, não implicará na nulidade da obrigação do avalista; são obrigações autônomas. As exceções pessoais
do avalizado, também não alcançam o avalista.
O aval pode ser total ou parcial.
2.3.16 Vencimento e pagamento

Há entendimento doutrinário no sentido de que a nota promissória não poderia ser dada a certo termo da
vista (já que não há aceite).
Na falta de pagamento da nota promissória, o credor poderá promover o protesto do título. Observe que, na
nota promissória, não há protesto por falta de aceite, somente por falta de pagamento.
Prazos prescricionais da nota promissória são os mesmos da letra de câmbio, com a única diferença a de
que no lugar do aceitante entra o eminente e é retirada a figura do sacado.
a) 03 anos contra o devedor principal, o emitente e seu avalista, a partir do vencimento da promissória.
b) 01 ano contra endossantes e seus avalistas, contado do protesto.
c) 06 meses para regresso entre endossante, contados de quando foi efetuado o pagamento.
Súmula 504 do STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória
sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.

2.3.17 NP Pro Soluto x NP Pro Solvendo

NP Pro Soluto é a nota em pagamento. Quando você faz a tradição (entrega), a tradição faz a novação.
Quando entrego a NP estou provocando a quitação da obrigação que a originou. Ex.: compra e venda de

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imóvel. Se não pago a NP, a construtora vai poder fazer a rescisão do contrato. Quando entrego a NP, quitei
a compra e venda, não é possível rescindir. A construtora só terá à disposição a execução.
NP Pro Solvendo é a nota para pagamento. A entrega do título não provoca a quitação da obrigação, que
somente se opera com o pagamento do título. Se eu não pagar a NP no vencimento, a construtora pode
ajuizar ação de execução, mas também pode optar pela rescisão do contrato, porque o contrato não está
quitado.

2.4 Duplicata
A doutrina aponta que a duplicata é título de crédito concebido pelo direito brasileiro, que nasceu como
instrumento de política fiscal e se consolidou em razão do pouquíssimo uso da letra de câmbio na praxe
comercial nacional.
A duplicata é um título de crédito causal e à ordem, extraído pelo vendedor ou prestador de serviços, que
visa documentar o saque fundado sobre crédito decorrente de compra e venda mercantil ou prestação de
serviços, que tem como pressuposto a extração de uma fatura.
Ela é uma ordem de pagamento sempre vinculada ao contrato de compra e venda mercantil ou de
prestação de serviços.
Segundo disposição legal, toda vez que há uma compra e venda mercantil ou uma prestação de serviços, é
obrigatória a emissão de fatura. Do crédito representado na fatura, poderá ser extraída uma duplicada. A
emissão da duplicada não é obrigatória (podem ser emitidos outros títulos de crédito).
Além disso, conforme previsão legal, uma duplicata só pode corresponder a uma única fatura (artigo 2°, §
2°, da Lei). É possível haver várias duplicadas para uma fatura só, mas não o contrário.
OBS: A duplicata praticamente não é emitida, sendo substituída pelo boleto bancário.
A jurisprudência não aceita a emissão de nova duplicata apenas para correção monetária e juros de mora.

2.4.11 Legislação aplicável

Lei nº. 5.474/68 (alterada pelo D.L. nº. 436/69)

2.4.12 Características

Título de crédito que emerge de uma compra e venda mercantil ou prestação de serviço.
Ordem de pagamento.
Título causal.
Título de modelo vinculado.

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2.4.13 Elementos pessoais

a) SACADOR - quem dá a ordem de pagamento/aquele que vende a mercadoria ou presta serviço;


b) SACADO - quem recebe a ordem de pagamento/aquele que compra a mercadoria ou serviço;
c) TOMADOR/BENEFICIÁRIO
As posições de sacador e tomador/beneficiário recaem sobre a mesma pessoa.

2.4.14 A duplicata e o princípio da cartularidade

O regramento da duplicata em alguns momentos não age em observância ao princípio da cartularidade.


Após a emissão da duplicata pelo sacador/vendedor, ela deve ser remetida para o sacado/comprador para o
lançamento do aceite. Veja as regras no art. 6o e seguintes da Lei das Duplicatas.
Em caso de perda ou extravio da duplicata, poderá o sacador/vendedor emitir triplicata para substituí-la.
ATENÇÃO! Em caso de furto ou roubo, não há emissão da triplicata, mas sim cancelamento do título (art.
23 da Lei das Duplicatas: “A perda ou extravio da duplicata obrigará o vendedor a extrair triplicata, que terá
os mesmos efeitos e requisitos e obedecerá às mesmas formalidades daquela”).
Em caso de retenção da duplicata pelo sacado/comprador, poderá ser protestado o título por simples
indicações do portador do título.

2.4.15 Aceite ou recusa do aceite

A DUPLICATA É ÚNICO TÍTULO EM QUE O ACEITE É OBRIGATÓRIO, na medida em que o beneficiário é o


próprio sacador. Excepcionalmente, admite-se a recusa do aceite (arts. 8o e 21 - rol taxativo):
a) em caso de avaria, não recebimento da mercadoria ou não prestação do serviço;
b) em caso de vício/defeito de quantidade ou qualidade do produto ou serviço;
c) divergências quanto a prazo, preço e condições de pagamento.
Se a duplicata não for à vista, o sacador, após sua emissão, deverá fazer a remessa da duplicata ao sacado,
no prazo de 30 dias, para que ele dê o aceite. O sacado, por sua vez, ao receber a duplicata, terá prazo de 10
dias para devolver a duplicata ao sacador com o devido aceite, ou com as razões da sua recusa.
Em função do seu caráter obrigatório, o aceite da duplicata mercantil pode ser discriminado em três
categorias:
a) aceite ordinário – aquele em que o sacado lança sua assinatura no título;
b) aceite por comunicação– aquele em que o sacado retém o título e expressa o aceite em
carta/comunicado apartado;
c) aceite por presunção– caracteriza aceite presumido quando o sacado/comprador recebe a mercadoria e
não reclama e quando o título é protestado, sem que haja obstáculo – art. 15 da Lei das Duplicatas.

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Princípio do suprimento do aceite – Ainda que não haja aceite, o título pode ser utilizado para ação
executiva (constitui título executivo, portanto) nas seguintes hipóteses legais:
a) quando o sacado, recebendo a duplicata, a retém com o consentimento do credor, tendo comunicado por
escrito que a aceitou e a reteve (esta comunicação seria o título executivo);
b) quando a duplicata ou triplicata não aceita, mas protestada, vem acompanhada de qualquer documento
comprobatório da remessa ou da entrega da mercadoria (artigo 15). O título executivo seria a duplicada
acompanhada da prova da remessa ou entrega da mercadoria;
c) quando a duplicata ou triplicata não é aceita nem devolvida, mas o protesto (por falta de aceite ou de
devolução) é tirado mediante indicações do credor, o qual deve provar que o devedor recebeu o título. O
título executivo seria o instrumento do protesto tirado mediante indicações, acompanhado da prova de
remessa ou entrega da mercadoria.
Observe-se que há um abrandamento do princípio da cartularidade.
Se a duplicata não é aceita, mas o credor não dispõe de prova da remessa ou entrega da mercadoria,
deverá mover ação de cobrança (ação de rito ordinário; não poderá se valer de ação executiva).
2.4.16 Endosso

Admite o endosso (valem as mesmas regras da letra de câmbio). HáImpossibilidade de inserir a cláusula “não
a ordem” desde a origem. O 1º endossante será o vendedor da operação que originou o título.

OBS: A pessoa que está obrigada a pagar o título de crédito poderá invocar exceções pessoais que tenha
contra o beneficiário original para evitar o pagamento mesmo que este título tenha circulado e já se
encontre nas mãos de terceiro? A pessoa, para não pagar, pode alegar que o negócio subjacente não
aconteceu?
• Regra: NÃO. Se o título circulou e se encontra nas mãos de terceiro de boa-fé, este poderá cobrar o
valor do devedor. O devedor, por seu turno, não poderá invocar contra o portador exceções pessoais que
tenha e que estejam relacionadas com o beneficiário original.
• Exceção: Factoring. Se o título tiver sido cedido para uma empresa de factoring: SIM. Na operação
de factoring, há verdadeira cessão de crédito, e não mero endosso, razão pela qual fica autorizada a
discussão da causa debendi, conforme prevê o art. 294 do CC. A faturizadora (factoring) não pode ser
equiparada a um terceiro de boa-fé porque ela tem uma relação mais profunda com a faturizada, devendo
fazer uma análise do crédito que lhe está sendo transferido.

2.4.17 Aval

Também se aplicam, em geral, as disposições referentes à letra de câmbio.


Aval parcial: é possível o aval parcial? Há duas correntes na doutrina: (i) não é possível. Como a Lei n.
5.474/68, que trata da duplicata é omissa a respeito, utiliza-se a regra geral do Código Civil, que no art. 897,
parágrafo único, diz ser vedado o aval parcial. (ii) é possível. Mesmo não havendo disposição expressa a
respeito na Lei n. 5.474/68, que trata da duplicata. Referida lei a Lei n. 5.474/68, em seu art. 25, determina
que sejam aplicados à duplicata e à triplicata, no que couber, os dispositivos da legislação sobre emissão,

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circulação e pagamento das Letras de Câmbio, e a Lei Uniforme admite aval parcial. (Não encontrei julgados
do STJ a respeito).

2.4.18 Vencimento

A duplicata somente pode ser à vista ou com data certa, não se admitindo duplicata a certo termo de vista
ou a certo termo de data.

2.4.19 Protesto da duplicata

A duplicata aceita expressamente, como é título executivo perfeito e acabado, pode ser executada sem
exigência de maiores formalidades (basta a apresentação do título). No entanto, se não houve aceite, a
execução da duplicata segue regra diferente: além da apresentação do título, são necessários o protesto e
o comprovante de entrega das mercadorias (art. 15, II).
Súmula 248 do STJ: comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita, mas protestada, é título
hábil para instruir pedido de falência.
O protesto da duplicata tem a mesma finalidade que dos outros títulos de crédito, ou seja, poder cobrar os
demais co-obrigados.
A Lei da duplicata trata de 3 espécies de protesto:
a) por falta de aceite: para a recusa do aceite, o sacado deve justificar com uma das hipóteses legais. Se não
fizer isso, é possível o protesto.
b) por falta de devolução: se a duplicada, enviada ao sacado para aceite, não for devolvida no prazo de 10
dias, cabe o protesto por indicações. Esse protesto excepciona o princípio da cartularidade, já que o credor
não está na posse do título retido.
c) por falta de pagamento.

Protesto por Indicação (art. 13, parágrafo 1o da Lei das Duplicatas): O protesto da duplicata pode ser
solicitado sem que o sacador a tenha em mãos. Se a duplicata foi remetida para aceite e não foi devolvida,
poderá haver protesto mediante simples indicações dos dados do título (retirados do livro de emissão de
duplicatas – obrigatório para os empresários que emitem tais títulos) ao Cartório de Protestos.
Para garantir o direito de regresso contra os endossantes e seus avalistas, o protesto deve ser feito até 30
dias após o vencimento do título. – art. 13, par. 4o Lei das Duplicatas.
Depois do vencimento do título, só cabe protesto por falta de pagamento.
INF. 506. O protesto de duplicata será tirado na praça de pagamento constante no título, a teor do § 3º do
art. 13 da Lei n. 5.474/1968. Não é no domicílio do devedor da obrigação cambiária que deve ser tirado o
protesto, mas sim na praça de pagamento constante no título. (REsp 1.015.152-RS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 9/10/2012).

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2.4.20 Execução da duplicata (art.15)

Título Executivo
1) duplicata aceita, protestada ou não.
2) duplicata não aceita (triplicata ou por indicação) + protesto + documento de comprovação da entrega da
mercadoria – recusa justificada.

2.4.21 Prescrição

Contra o devedor principal e seus avalistas – 3 anos.


Contra os codevedores e seus avalistas ou entre os codevedores – 1 ano.

2.4.22 Duplicata virtual

As duplicatas virtuais são emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica. O banco, por
sua vez, faz a cobrança mediante expedição de simples aviso ao devedor (boleto bancário). O STJ considera
válida a duplicata virtual.

2.5 Cheque
Cheque é uma ordem de pagamento à vista, incondicional, dada ao sacado (que é um banco ou instituição
assemelhada), em favor próprio ou de terceiro, em razão de provisão que o emitente possui junto ele,
proveniente de contrato de depósito bancário ou de abertura de crédito. .
Segundo o STJ, a autonomia do cheque, embora presumida, não é absoluta, permitindo-se em situação
excepcionais que o devedor discuta a causa debendi. No REsp 111.154, entendeu-se que, se o cheque foi
dado em garantia, deve ser admitida a investigação da causa debendi. No REsp 434.433, permitiu-se a
investigação da causa subjacente e o esvaziamento do título pré-datado em poder de empresa de factoring,
que o recebeu por endosso, em razão da prática de ilícito pelo vendedor de mercadoria não entregue.

2.5.11 Legislação aplicável

Está disciplinado pela lei 7.357/85. Referida lei, no entanto, respeitou as normas da Lei Uniforme (Decreto
nº 57.595, de 7 de janeiro de 1966); seu escopo foi apenas de assegurar uma redação mais condizente com
as peculiaridades da legislação interna e de melhor harmonizar certos dispositivos a outros existentes na
praxe doméstica.

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2.5.12 Elementos pessoais

EMITENTE ou SACADOR – aquele que dá a ordem de pagamento;


SACADO – aquele que recebe a ordem de pagamento – o banco.
BENEFICIÁRIO ou TOMADOR– o favorecido da ordem de pagamento;

2.5.13 Requisitos

De acordo com o art. 1º da Lei do Cheque, são requisitos essenciais do título:


- a expressão “cheque”;
- uma ordem incondicional de pagamento de quantia determinada (havendo divergência, prevalece o valor
mencionado por extenso);
- o nome da instituição financeira contra quem foi emitido;
- a data do saque;
- o lugar do saque ou a menção de um lugar junto ao nome do emitente;
- a assinatura do próprio emitente.

2.5.14 Tipos de cheque

Cheque Cruzado – Recebe na frente (anverso) dois traços paralelos e transversais. O cruzamento do cheque
faz com que ele só possa ser pago a um banco, para tanto deverá ser depositado em uma conta. Há
cruzamento em branco (quando não se indica em que banco deve ser depositado) e em preto (quando,
entre os traços, é feita indicação do banco em que deve ser depositado). – art. 44 da Lei do Cheque.
Cheque Para Ser Levado Em Conta – Quando o emitente proíbe o pagamento do título em dinheiro exigindo
que seja depositado em conta. Não tem utilização atualmente, pois o cheque cruzado é mais conhecido e
atende ao mesmo objetivo. – art. 46 da Lei do Cheque.
Cheque Administrativo – É o emitido pelo banco. Será necessariamente nominal. É usado em casos em que
se quer ter certeza de que tem fundos. – art. 9o, III da Lei do Cheque.
Cheque Visado – Aquele em que o banco, a pedido do emitente, declara no verso a existência de fundos.
Cabe ao banco reservar o valor, na conta do emitente, em benefício do portador legitimado, durante o
prazo de apresentação, para que não sirva ao pagamento de outro cheque. – art. 7o Lei do Cheque.
Visto – Aposto pelo sacado, obriga-o a debitar à conta do emitente a quantia indicada no cheque e a
reservá-la em benefício do portador legitimado, durante o prazo de apresentação, sem que fiquem
exonerados o emitente, endossante e demais coobrigados. Visto não é aceite.

2.5.15 Prazo para apresentação do cheque – Art. 33 da Lei do Cheque

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É o prazo de que dispõe o portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado a fim de receber o valor
determinado na cártula. São eles:
- 30 dias: mesma praça (se o local da emissão do cheque, preenchido pelo emitente, for o mesmo lugar do
pagamento/local agência pagadora).
- 60 dias: praças diversas (se o local da emissão do cheque, preenchido pelo emitente, for diferente do local
do pagamento/local da agência pagadora.
Mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque PODE SER apresentado para pagamento ao
sacado, DESDE QUE NÃO esteja prescrito.
A doutrina aponta três finalidades para o prazo de apresentação:
i) o fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução do cheque.
ii) só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento dentro do prazo
legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o direito de executar os codevedores.
Súmula 600 do STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o
cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
iii) o portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa de pagamento
perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de
apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei n.
7.347/85)
OBS.:Protesto – não é necessário para cobrar de coobrigados, bastando o carimbo do banco de que o
cheque não tinha fundos (art. 47, II). Se o cheque, por falta de fundos, voltar por duas vezes, não podem
mais ser emitidos cheques e o nome do emitente vai para o rol dos emitentes de cheques sem fundos.
Atualmente, a principal finalidade do protesto é a interrupção do prazo prescricional (art. 202, III, do CC).

2.5.16 Sustação do cheque

Objetiva impedir a liquidação do cheque pelo banco sacado. É gênero, que possui duas espécies:
Revogação ou Contra-ordem – art. 35 da Lei do Cheque: Ato exclusivo do emitente. Somente pode ser
manifestada após o fim do prazo de apresentação. Deverá o emitente apresentar as razões motivadoras do
ato.
Sustação ou Oposição – art. 36 da Lei do Cheque: Ato de emitente ou portador legitimado. Pode ser
manifestada mesmo durante o prazo de apresentação. Deverá apresentar relevante razão de direito. Não
cabe ao banco analisar a relevância da razão invocada para a oposição(por isto, é totalmente descabida a
exigência, feita pelos bancos, de que o emitente apresente boletim de ocorrência policial).
DESAPOSSAMENTO – o artigo 24 da Lei do Cheque esclarece que desapossado alguém de um cheque, o
novo portador legitimado não está obrigado a restituí-lo, se não o adquiriu de má-fé.

2.5.17 Aceite

Não admite aceite.

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2.5.18 Endosso

Todas as informações já trazidas sobre o endosso são aplicáveis aqui (ele é presumido, salvo cláusula não à
ordem), com apenas um detalhe. Antigamente, um cheque só admitia um endosso, sendo os demais
endossos considerados nulos (cuidava-­­se do chamado motivo ou aliena 36). Atualmente, com o fim da
CPMF (motivo pelo qual era limitado o endosso), não há mais limite de endosso para o cheque.
Obs.1: o cheque não admite o endosso-caução.
Obs.2: a lei impõe ao banco o dever legal de verificar a regularidade da série de endossos, aí incluída a
legitimidade dos endossantes.

2.5.19 Aval

No que se refere ao aval, tudo visto na letra de câmbio se aplica ao cheque.


O aval no cheque pode ser parcial ou total (art. 29 da Lei n. 7357/85)
O aval somente continua enquanto o título ainda é cambial; caso o título deixe de ser obrigação cambial, o
aval não mais vale (ex.: o título prescrito faz com que o título deixe de ser cambial, gerando a perda de efeito
do aval).
Súmula 299 do STJ: é admissível ação monitória fundada em cheque prescrito.

2.5.20 Pagamento

Pagamento parcial: segundo o artigo 38, parágrafo único da lei, diz que “o portador não pode recusar
pagamento parcial...”;
Se 2 ou + cheques são apresentados para pagamento simultaneamente (não havendo fundo disponível
para ambos), qual o banco deve pagar? Art. 40:
a) terão preferência os cheques de emissão mais antiga;
b) se forem de mesma data, o de número inferior.

2.5.21 Prescrição

Devedor principal e respectivo Coobrigados e respectivos avalistas Direito de regresso entre


avalista coobrigados

6 meses, contados do fim do prazo 6 meses contados do protesto 6 meses, contados do pagamento
de apresentação de quando é demandado

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OBS1: o prazo prescricional inicia-se com o fim do prazo da apresentação. Há entendimento jurisprudencial
no sentido de que a prescrição se inicial a partir do dia da apresentação, qualquer que seja o motivo da
inadimplência.
Segundo o STJ, a pós-datação de cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de prescrição
do título. Deve-se ressaltar que o prazo de apresentação deve ser contado da data de emissão (isto é,
aquela regularmente consignada na cártula, oposta no espaço reservado para a data). Isso porque conferir
eficácia à referida pactuação extracartular em relação aos prazos de apresentação e de prescrição
descaracterizaria o cheque como rodem de pagamento à vista. Além disso, configuraria infringência ao
disposto no art. 192 do CC, que dispõe que os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das
partes. Ademais, violaria os princípios cambiários da abstração e da literalidade. (INF 528/STJ).
OBS2: Os juros de mora sobre a importância de cheque não pago contam-se da primeira apresentação
pelo portador â instituição financeira, e não da citação do sacador. (art. 52, II, da Lei do Cheque e INF
532/STJ).

2.5.22 Ações cabíveis

Execução: dentro do prazo prescricional, o cheque é título executivo extrajudicial;


Ação de “enriquecimento sem causa”ou “locupletamento indevido”: está prevista no art. 61 da Lei de
Cheque; é ação cambial, ou seja, nela o cheque conserva suas características intrínsecas de título de crédito,
como a autonomia e a inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé; segue o rito ordinário; é
uma ação de conhecimento e somente pode ser ajuizada depois de prescrito o cheque. Ela somente é
cabível no prazo de 2 anos após a consumação da prescrição.
Ação monitória (para qualquer título de crédito prescrito) – Súmula 299 do STJ: “É admissível a ação
monitória fundada em cheque prescrito”. Na ação monitória não se irá discutir a causa debendi, ou seja, a
causa que deu origem à emissão do título de crédito. Segundo o STJ, é desnecessária a demonstração da
causa de sua emissão (causa debendi), cabendo ao réu o ônus de provar, se quiser, a inexistência do
débito.
STJ 2015 / Súmula 531: Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é
dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.
O cheque prescrito é considerado um instrumento particular que representa uma obrigação líquida. Logo,
o prazo prescricional para ajuizar ação monitória de cheque prescrito é de 5 anos, conforme art. 206, § 5º,
I, do CC (INF. 506/STJ).
Súmula 503 do STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força
executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula.
Ação de cobrança: ultrapassado o prazo para a ação de locupletamento, o cheque ainda pode ser cobrado,
desde que comprovado o seu não-pagamento, mediante ação de cobrança, na qual caberá ao portador
provar a relação causal que originou o título (art. 62 da Lei do Cheque). Neste caso, a ação deixa de ser
cambial.
JURISPRUDÊNCIA IMPORTANTE:

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CONTA CONJUNTA: segundo o STJ, na conta conjunta há solidariedade ativa, no sentido de que ambos
podem movimentar a conta, mas não há solidariedade passiva. A responsabilidade passiva é do emitente do
cheque. (Resp. 336.632/ES, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JÚNIOR, DJ. 31.03.2003).
CHEQUE PÓS-DATADO: para o direito empresarial, a “pós-datação” é considerada como não escrita. Dispõe
o art. 32 da Lei n. 7.347/85, “o cheque é pagável à vista. Considera-se não-escrita qualquer menção em
contrário”.É possível o protesto e a execução imediata. No âmbito do direito civil, contudo, a apresentação,
o protesto ou a execução antecipada do cheque pós-datado viola a boa-fé objetiva, cansando dano moral.
Súmula 370 do STJ: “Caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado”.O dano é
presumido (in rem ipsa), dispensando comprovação.
CHEQUE DEVOLVIDO POR MOTIVO ERRADO: É cabível indenização por danos morais pela instituição
financeira quando o cheque apresentado fora do prazo legal e já prescrito é devolvido sob o argumento de
insuficiência de fundos (INF. 507/STJ)
RESPONSABILIDADE DE NOTIFICAÇÃO PELA INCLUSÃO NO CCF: O Banco do Brasil, na condição de gestor do
Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a responsabilidade de notificar previamente
o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva para as ações de
reparação de danos diante da ausência de prévia comunicação. (INF. 568/STJ).
PROTESTO DE CHEQUE NÃO PRESCRITO: É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o EMITENTE
depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de
execução.

UNIDADE III – ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL E INSTITUTOS


COMPLEMENTARES

3.1 Estabelecimento Empresarial

Considera-se estabelecimento o conjunto de bens, materiais ou imateriais, que o empresário (gênero) se


utiliza no exercício da atividade.
O estabelecimento não é pessoa (empresário ou sociedade empresária), nem se confunde com a atividade
(empresa), sendo uma universalidade de fato que integra o patrimônio do empresário”. (Marlon Tomazette)
Abrange:
i. Bens corpóreos – sede da empresa, terrenos, maquinário utilizado etc;
ii. Bens incorpóreos – bens industriais (patentes de invenção, modelo de utilidade, desenho industrial,
marca empresarial), nome empresarial, título do estabelecimento e o ponto comercial;
O estabelecimento não se confunde com o patrimônio do empresário ou sociedade empresária, já que o
patrimônio consiste na soma de todos os bens dotados de expressão econômica.
Tal conjunto de bens, enquanto articulado para o exercício da atividade empresária, possui um sobrevalor
(valor econômico) em relação à soma dos valores individuais dos bens que o compõem. Essa valorização é
denominada aviamento, que significa, em síntese, a aptidão que um determinado estabelecimento possui
para gerar lucros ao exercente da empresa. O aviamento não se confunde nem integra o estabelecimento. É

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antes uma qualidade do que um elemento. Não há como realizar negócio jurídico somente com o
aviamento, separado do estabelecimento. Fábio Ulhôa prefere utilizar a expressão “fundo de comércio” ao
invés de aviamento.
Dentro do estudo do aviamento, convém mencionar o instituto da clientela. Quanto maior o número de
clientes, maior será o aviamento. A clientela, para a maioria da doutrina brasileira, não é considerada um
bem integrante do estabelecimento empresarial, possuindo a natureza, segundo Vera Helena de Mello
Franco, “de uma situação de fato, decorrente dos fatores de aviamento”. Não confundir clientela com
freguesia. Enquanto aquela traz a ideia de um conjunto de pessoas que mantém com a sociedade
empresária relação jurídicas constantes, a freguesia consiste naquele núcleo de pessoas com caráter
passageiro, transeunte, que somente adquire os produtos ou serviços em virtude de passagem efêmera
pelas proximidades do estabelecimento.
O empresário ou a sociedade empresária pode ter mais de um estabelecimento. O mais importante será a
sede, ao passo que os demais serão sucursais ou filiais, sendo que ambos deverão estar inscritos na Junta
Comercial (Arts. 969 e 1000 do CC/02).
É importante destacar que a sede do estabelecimento pode ser penhorada, conforme Súmula 451 do STJ.

3.1.1 Ponto Comercial

É o local físico em que foi fixado o estabelecimento. O ponto comercial, elemento incorpóreo do
estabelecimento, é juridicamente protegido porque também é dotado de valor econômico.
Com o desenvolvimento do comércio eletrônico via Internet surgiu o estabelecimento virtual em que não
importa o ponto comercial, mas o nome do domínio, que é o seu endereço eletrônico.
- Proteção ao Ponto Empresarial:
O direito protege esse importante elemento do estabelecimento empresarial, quando este é locado. É o que
Fábio Ulhoa chama de “direito de inerência ao ponto”. A Lei de Locações de Imóveis Urbanos atual, Lei n.
8.245/91, manteve esta proteção.
A ação renovatória garante ao proprietário o direito de renovar o contrato de locação empresarial, mesmo
contra a vontade do locador, desde que presentes certos requisitos.
A. Requisitos necessários para o direito à renovação compulsória da locação:
1. contrato escrito (art. 51, I);
2. contrato com prazo determinado (art. 51, I);
3. prazo de no mínimo 5 anos ININTERRUPTOS (art. 51, II);
4. exploração da mesma atividade por no mínimo 3 anos - formação do ponto empresarial (art. 51, III).
B. Legitimados Ativos na Ação Renovatória:
1. o empresário locatário (art. 51, caput);
2. os cessionários, sucessores ou sublocatários (totais e parciais) (51, par. 1º);
3. o sócio, se seu contrato autorizar a utilização pela sociedade (art. 51, par. 2º);
4. sócio sobrevivente de sociedade dissolvida (art. 51, par. 3º);

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5. indústrias e sociedades civis com fins lucrativos (art. 51, par. 4º).
C. Prazo para propositura da ação renovatória: de 1 ano a 6 meses antes do término do contrato. Trata-se
de prazo decadencial.
D. Exceções de retomada/casos que permitem ao locador a retomada, ainda que atendidos todos os
requisitos acima:
1. obras determinadas pelo Poder Público (art. 52, I);
2. reforma que valorize o imóvel (art. 52, I);
3. uso próprio (art. 52, II);
4. transferência de fundo de comércio existente há mais de um ano, sendo sócio majoritário o locador,
ascendente, descendente ou cônjuge (art. 52, II);
5. proposta inferior ao valor de mercado (art. 72, II);
6. proposta melhor de terceiro (art. 72, III);
O locador deve pagar indenização ao locatário pela perda do ponto nos seguintes casos:
a) se a renovação não ocorrer por proposta melhor de terceiro;
b) se o motivo da não renovação não se concretizar em 3 meses.

3.1.2 Título do Estabelecimento

É o nome e/ou símbolo dado ao estabelecimento para identificá-lo e não se confunde com o nome
empresarial adotado pelo empresário individual ou pela sociedade empresária. Não é, necessariamente,
composto pelos mesmos elementos presentes, seja no nome empresarial, seja na marca de produtos ou
serviços produzidos ou fornecidos pela empresa.

3.1.3 Alienação do Estabelecimento Empresarial

Os bens integrantes do estabelecimento podem ser objeto de relação jurídica própria (CC/02, Art. 90, PU) 3
ou o próprio estabelecimento ser objeto de relação unitária. O contrato de compra e venda de
estabelecimento denomina-se trespasse, que nada mais é do que a alienação do estabelecimento
empresarial.
Embora com efeitos econômicos idênticos, na medida em que são meios de transferência da empresa, o
trespasse não se confunde com a cessão de quotas sociais de sociedade limitada ou a alienação de
controle da sociedade anônima. No trespasse:
i. “o objeto da venda é o complexo de bens corpóreos e incorpóreos, envolvidos com a exploração de uma
atividade empresarial”
ii. poderá ocorrer ou não a sucessão empresarial

3
Existe vedação quanto ao nome empresarial, que não pode ser objeto de alienação.

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Na cessão de quotas sociais de sociedade limitada ou a alienação de controle da sociedade anônima:


i. “o objeto da venda é a participação societária”, contudo não se alterará o titular da atividade, que
continua a ser a sociedade empresária.
ii. haverá sucessão empresarial
Dessa forma, pode ser celebrado um contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto, ou o
arrendamento de estabelecimento. Para que esse contrato produza efeitos perante terceiros, deverá ser
averbado na Junta Comercial junto ao registro da empresa e publicado na imprensa oficial (Art. 1.144 do
CC/02).
O contrato tem que ser escrito para ser averbado na Junta Comercial.
Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o passivo relacionado ao estabelecimento vendido
[isso ocorrerá se a sociedade possuir mais de um estabelecimento e continuar na exploração da empresa],
a eficácia do contrato ficará na dependência do pagamento de todos os credores ou do consentimento
destes, que pode ser expresso ou tácito, em 30 dias a partir de sua notificação (judicial ou extrajudicial). Não
cumprida esta formalidade, poderá o adquirente perder o estabelecimento em favor dos credores, caso o
alienante venha a ter sua falência decretada. A Lei 11.101/05 estabelece que são ineficazes em relação a
massa falida a venda de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os
credores.
O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde
que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de
um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento
(CC/02, Art. 1.146.). Exceções Importantes:
a) Débitos Trabalhistas (art. 10 e 448, CLT) - Independente de previsão contratual, o adquirente é sucessor
do alienante em relação às suas obrigações trabalhistas e fiscais ligadas ao estabelecimento. O empregado
terá a opção de demandar contra o alienante ou contra o adquirente do estabelecimento.
b) Débitos Tributários – São regras estabelecidas pelo art. 133 do Código Tributário Nacional:
- Se o alienante deixar de explorar qualquer atividade econômica nos seis meses seguintes à alienação e se o
adquirente continuar a explorar a mesma atividade, a responsabilidade do adquirente é direta (integral). O
fisco pode cobrar do adquirente todas as dívidas tributárias do alienante relacionadas ao estabelecimento;
- Se o alienante continua a explorar qualquer atividade econômica nos seis meses seguintes à alienação e se
o adquirente continuar a explorar a mesma atividade, a responsabilidade do adquirente é subsidiária. A
responsabilidade do adquirente somente emergirá quando ficar caracterizada a falência ou insolvência do
alienante.
OBS. A sucessão tributária somente se caracteriza se o adquirente continuar explorando, no local, idêntica
atividade econômica do alienante. Se alterar o ramo de atividade do estabelecimento, não responde mais
pelas dívidas fiscais do alienante.
OBS: Quando se tratar de compra de estabelecimento realizada no processo de falência ou recuperação
judicial, o adquirente não responde pela falência ou pelas dívidas tributárias, trabalhistas ou decorrentes de
acidente de trabalho, conforme consta no art. 141, II, da Lei n. 11.101/05.
Conforme já afirmado, a princípio, o adquirente do estabelecimento poderá responder apenas pelas dívidas
conhecidas e devidamente contabilizadas. Devem prevalecer os princípios da boa-fé e da vedação ao
locupletamento ilícito. E, no caso de a dívida não ter sido contabilizada pelo alienante ou de
descumprimento das formalidades exigidas, qual a solução?

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O adquirente poderá ser responsabilizado diretamente pelos credores do antigo dono do estabelecimento,
tendo o direito de regresso contra o alienante por dívidas por eles pagas e não incluídas no contrato de
trespasse nos termos do art. 1.146 do CC/02.
Destaque-se que o contrato de trespasse não garante a clientela, mas gera, salvo estipulação em contrário, a
sub-rogação automática do adquirente nos contratos estipulados para a exploração do estabelecimento, se
não tiverem caráter pessoal (art. 1148, CC/02).
Exceção importante à sub-rogação é o contrato de locação, conforme explicitado no Enunciado 234 da III
Jornada de Direito Civil: Quando do trespasse do estabelecimento empresarial, o contrato de locação do
respectivo ponto não se transmite automaticamente ao adquirente.

3.1.4 Cláusula de Não-Restabelecimento.

Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao
adquirente, nos cinco anos subsequentes à transferência (art. 1147 do CC/02). Essa regra também se aplica
ao arrendamento ou usufruto. A abrangência territorial é verificada no caso concreto, aplicando-se a
cláusula sempre que se verificar restabelecimento que configure um desvio desleal de clientela.
Enunciado 490 do CJF: A ampliação do prazo de 5 (cinco) anos de proibição de concorrência pelo alienante
ao adquirente do estabelecimento, ainda que convencionada no exercício da autonomia da vontade, pode
ser revista judicialmente, se abusiva.
Informativo 554 – STJ: É abusiva a vigência, por prazo indeterminado, da cláusula de “não restabelecimento”
(art. 1.147 do CC), também denominada “cláusula de não concorrência”. REsp 680.815-PR, Rel. Min. Raul
Araújo, julgado em 20/3/2014, DJe 3/2/2015.

3.2 Nome Empresarial


O nome empresarial é o nome do empresário, usado por ele para apresentar-se perante terceiros nas suas
relações. O nome empresarial não se confunde com o título do estabelecimento nem com a
marca(identifica o produto ou serviço fornecido pela empresa)conferida a produtos ou serviços produzidos
ou fornecidos pela empresa.
A depender do tipo societário adotado, o nome empresarial pode ser: firma ou denominação. Equipara-se
ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das sociedades simples, associações
e fundações.
O empresário identifica-se, obrigatoriamente, por meio de firma. Esta será constituída por seu nome civil,
completo ou abreviado, podendo, facultativamente, ser seguida da designação mais precisa de sua pessoa
ou gênero da atividade empresarial por ele exercida. Não se confunde com o nome civil.
Se a sociedade possuir sócios com responsabilidade ilimitada pelas obrigações sociais, adotará como nome
empresarial a firma, na qual somente poderão figurar os nomes dos referidos sócios, seja de um deles, de
alguns ou de todos.
Se a firma não for composta pelo nome de todos esses sócios, deverá ser seguida da expressão “e
companhia” ou sua abreviatura “& Cia”. Não pode ser usado no início para não confundir com sociedade
anônima.

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Se um sócio que não integrar a firma praticar um ato de gestão ficará solidariamente obrigado.
No caso das sociedades limitadas, poderá adotar firma ou denominação, ambas trazendo a palavra
“limitada” ou sua abreviatura ”Ltda.”. A ausência da palavra “limitada” determina a responsabilidade
solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou denominação da sociedade (§ 3º
do art. 1158 do CC/02). Em se tratando de denominação, a sociedade pode utilizar um nome de fantasia,
mas o ramo da atividade deverá necessariamente estar presente.
A mesma opção é estendida às sociedades em comandita por ações, que também podem adotar firma ou
denominação. Ambas devem ser acrescidas da expressão “comandita por ações” ou sua abreviatura “C/A”
(Art. 1161 do CC/02).
As sociedades anônimas, por sua vez, constituem o único tipo societário que, necessariamente, deve adotar
denominação como nome empresarial, inclusive constando o objeto social. As denominações das sociedades
anônimas devem vir integradas pelas expressões “sociedade anônima” ou “companhia”, ou abreviadamente
como “S.A” ou “Cia”. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja
concorrido para o bom êxito da formação da empresa. Não se aplicam essas regras as sociedades já
existentes, em razão de se tratar de direito inerente à sua personalidade (Enunciado 73 do CJF). O termo
“sociedade anônima” ou sua abreviatura pode vir no início, meio ou fim da denominação. O termo
“companhia” ou sua abreviatura não pode ser usado no fim (art. 3º da LSA).
A sociedade em conta de participação não pode ter firma ou denominação (Art. 1162 do CC/02), uma vez
que possui natureza secreta. Não possui personalidade jurídica.
As cooperativas adotam denominação seguida da palavra “cooperativa” (Art. 1159 do CC/02).
Em se tratando de “microempresário” ou de “empresa de pequeno porte”, deverá ser acrescido ao nome
empresarial essas expressões ou as abreviaturas (Art. 72 da LC 123/06). É facultativa a inclusão do objeto
empresarial. Recapitulando:

Firma Denominação

Nome empresarial adotado pelos empresários Nome Empresarial adotado pelas sociedades anônimas
individuais (firma individual) e pelas sociedades (firma (S.A) e, opcionalmente, pelas sociedades limitadas
social ou razão social) simples, em nome coletivo (N/C), (Ltda.) e sociedades em comanditas por ações (C/A).
em comandita simples (C/S) e, opcionalmente, pelas
sociedades limitadas (Ltda.) e sociedades em
comandita por ações (C/A).

Composta pelo nome civil do empresário individual, ou Composta por elemento fantasia ou nome de sócio (que
dos sócios que respondem ilimitadamente pelas funcionará como expressão fantasia – S.A),
obrigações sociais. Não precisa trazer o ramo da necessariamente acompanhada do ramo da atividade.
atividade.

Funciona como a própria assinatura do empresário Serve apenas para identificação daquele que atua pela
individual ou do representante legal da sociedade. sociedade. Não é também sua assinatura.

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3.2.1 Proteção ao nome empresarial.

A proteção do nome empresarial decorre do exercício regular da atividade empresarial. Para tanto, é
necessário a inscrição ou registro do empresário individual ou do ato constitutivo da sociedade empresária
na Junta Comercial. Essa proteção assegura exclusividade no uso do nome comercial nos limites do
respectivo Estado, contudo se admite a sua extensão desde que registrado nas demais Juntas Comerciais do
País (Dec. 1800/96, Art. 61, § 2º).
O nome empresarial atenderá aos princípios da veracidade e da novidade e identificará, quando assim o
exigir a lei, o tipo jurídico da sociedade. Não poderá haver colidência por identidade ou semelhança do
nome empresarial com outro já protegido.
Por conta da veracidade, o nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser
conservado na firma social. Exceção: Sociedade anônima, porque, ainda que conste o nome do fundador,
acionista ou pessoa, será tratado como denominação.
O nome empresarial não pode ser objeto de alienação. Contudo o art. 1.164 do CC, par. único, consagra uma
exceção: O adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode, se o contrato o permitir, usar o nome
do alienante, precedido do seu próprio, com a qualificação de sucessor.
A prioridade no registro possibilita o uso exclusivo do nome empresarial, podendo o empresário impedir
que outros utilizem nome idêntico ou semelhante ao seu. Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para
anular a inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato. Se a denominação for
idêntica ou semelhante a de companhia já existente, assistirá à prejudicada o direito de requerer a
modificação, por via administrativa (artigo 97) ou em juízo, e demandar as perdas e danos resultantes.
O empresário perderá a proteção ao nome empresarial:
a) Expirado o prazo de vigência da sociedade por tempo determinado (Decreto 1800/96, Art. 61, § 3º): Não
poderá haver averbação na Junta Comercial, sendo que a prorrogação do seu prazo de vigência que deverá
ocorrer antes do seu vencimento. O Art. 1033, I do CC/02 prescreve que a sociedade se prorrogará por
tempo indeterminado, mas funcionará como sociedade em comum (art. 986 do CC/02)
b) A ausência de arquivamento no período de dez anos consecutivos, salvo comunicação à Junta
Comercial. Na ausência dessa comunicação, a empresa mercantil será considerada inativa, promovendo a
junta comercial o cancelamento do registro, com a perda automática da proteção ao nome empresarial. A
empresa mercantil deverá ser notificada previamente pela junta comercial, mediante comunicação direta ou
por edital, para os fins deste artigo. A junta comercial fará comunicação do cancelamento às autoridades
arrecadadoras, no prazo de até dez dias. A reativação da empresa obedecerá aos mesmos procedimentos
requeridos para sua constituição.
CC/02, Art. 1.168. A inscrição do nome empresarial será cancelada, a requerimento de qualquer interessado,
quando cessar o exercício da atividade para que foi adotado, ou quando ultimar-se a liquidação da sociedade
que o inscreveu.
Enunciado 7 da I Jornada de Direito Comercial - O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial
como bem incorpóreo para todos os fins de direito.
Enunciado 1 da I Jornada de Direito Comercial - Decisão judicial que considera ser o nome empresarial
violador do direito de marca não implica a anulação do respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira
os efeitos, preservado o direito de o empresário alterá-lo.

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Enunciado 2 da I Jornada de Direito Comercial - A vedação de registro de marca que reproduza ou imite
elemento característico ou diferenciador de nome empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou
associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser interpretada restritivamente e em consonância com o
art. 1.166 do Código Civil4.
Enunciado 491 da V Jornada de Direito Civil - A proteção ao nome empresarial, limitada ao Estado-Membro
para efeito meramente administrativo, estende-se a todo o território nacional por força do art. 5º, XXIX, da
Constituição da República5 e do art. 8º da Convenção Unionista de Paris6.

3.3 Prepostos

Para o desenvolvimento da empresa, conta-se com pessoas que desempenham a mão-de-obra (fator de
produção). Podem ser contratados pela empresa sob o regime trabalhista ou como profissionais autônomos
para atividades específicas. São denominados prepostos.
Os prepostos, nos interesses da empresa, celebram contratos com terceiros, o que leva à responsabilidade
desta última pelos atos que aqueles realizarem, praticados nos seus estabelecimentos, desde que relativos
à atividade da empresa, ainda que não expressamente autorizados por escrito, “salvo se provado serem
conhecidas da pessoa que tratou com o gerente.”.
Quando os atos forem praticados fora do estabelecimento, só obrigarão os preponentes se autorizados por
escrito. Devem exercer a atividade pessoalmente, não se podendo fazer substituir sem autorização do
preponente (empresário ou sociedade empresária), sob pena de responder pessoalmente pelos atos do
substituto e pelas obrigações por ele contraídas (art. 1169, CC/02).
Na relação de preposição existe a representação. Na representação, alguém recebe poderes de outrem para,
em seu nome, praticar atos no seu interesse. A representação voluntária não se limita ao contrato de
mandato.
Salvo autorização expressa, os prepostos não podem concorrer com o preponente sob pena de responder
civilmente perante o preponente e cometer o crime de concorrência desleal (art. 195, Lei 9.279/96).
A regra estabelecida pela lei civil é a de que, se os prepostos agiram com culpa no desempenho de suas
funções, o empresário preponente responderá diretamente pelas obrigações irregulares pactuadas ou danos
causados, mas terá ação de regresso contra eles.
Por outro lado, se os prepostos agiram com dolo, responderão solidariamente com a empresa pelos danos
que causarem a terceiros.

4
Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas
averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado.
Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território nacional, se registrado na
forma da lei especial.
5
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização,
bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a
outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e
econômico do País;
6
Art. 8º: “o nome empresarial será protegido em todos os países da União sem obrigação de depósito
ou de registro, quer faça ou não parte de uma marca de fábrica ou de comércio”.

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3.3.1 Gerente

Considera-se gerente o preposto permanente no exercício da empresa, na sede desta, ou em sucursal, filial
ou agência. Quando a lei não exigir poderes especiais, considera-se o gerente autorizado a praticar todos os
atos necessários ao exercício dos poderes que lhe foram outorgados. A sua nomeação não é obrigatória, já
que a sua função pode ser exercida pelo próprio empresário. O gerente pode estar em juízo em nome do
preponente pelas obrigações resultantes do exercício da sua função (Art. 1176 do CC/02).
Na falta de estipulação diversa, consideram-se solidários os poderes conferidos a dois ou mais gerentes.
CC/02, Art. 1.174. As limitações contidas na outorga de poderes, para serem opostas a terceiros, dependem
do arquivamento e averbação do instrumento no Registro Público de Empresas Mercantis, salvo se provado
serem conhecidas da pessoa que tratou com o gerente.
Parágrafo único. Para o mesmo efeito e com idêntica ressalva, deve a modificação ou revogação do mandato
ser arquivada e averbada no Registro Público de Empresas Mercantis.

3.3.2 Contabilista

É o profissional em ciências contábeis responsável por toda a escrituração dos livros do empresário. Deve ser
inscrito no órgão competente e estar legalmente habilitado. A atuação de contabilista é obrigatória, mas a
lei dispensa a sua presença se na localidade não houver profissional da área (CC/02, Art. 1.182) ou se tratar
de pequeno empresário dispensado do dever de escrituração (CC/02, Art. 1179 (omissis), § 2º).

3.4 Escrituração

LIVROS EMPRESARIAIS:
I. OBRIGATÓRIOS
a) Comuns – Independem da atividade exercida ou do tipo societário. O único exemplo é o Livro Diário.
b) Especiais – específicos para cada atividade ou tipo societário. Exs: Livro de Registro de Duplicatas, Livro de
Atas das Assembleias Gerais,
II. FACULTATIVOS – Servem para aprimorar o sistema e controle da atividade empresarial. Exs: Livro Contas-
Correntes, Livro de Caixa. Não há sanções pela não-escrituração de livros facultativos.
O empresário e a sociedade empresária possuem o dever comum de escriturar e conservar os livros
comerciais, juntamente com a correspondência e demais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não
ocorrer a prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados. São obrigados também a levantar
anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. É dispensado dessas exigências o pequeno
empresário a que se refere o art. 970 do CC.
Os administradores são obrigados a prestar aos sócios contas justificadas de sua administração, e
apresentar-lhes o inventário anualmente, bem como o balanço patrimonial e o de resultado econômico.

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De acordo com o art. 1.182 do CC/02, a escrituração deve ficar a cargo de um contabilista (vide preposto),
salvo se nenhum houver na localidade.
O art. 1180 do CC/02 prescreve a obrigatoriedade do livro Diário, que pode ser substituído por fichas, nos
caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. A adoção das fichas não dispensa o uso do livro apropriado
para o lançamento do balanço patrimonial e o resultado econômico (PU do Art. 1180 do CC/02). Há
também livros fiscais e trabalhistas.
OBS: Levantar balanço anual (artigo 1179) não quer dizer que sejam obrigados a publicar, mas somente
levantar. As S/As são obrigadas a publicar. As S/As que distribuem lucros semestralmente e as Instituições
Financeiras devem levantar balanço semestralmente.
Se o empresário ou sociedade empresária preferir o sistema de fichas, substituirão o Livro Diário pelo Livro
Balancetes Diários e Balanços, observados os mesmos requisitos daquele (art. 1185 do CC/02). Esse livro
deverá trazer a posição diária de cada uma das contas ou títulos contábeis, pelo respectivo saldo, em forma
de balancetes diários; bem como o balanço patrimonial e o de resultado econômico, no encerramento do
exercício social (art. 1186 do CC/02)
Os livros, antes de serem utilizados, devem necessariamente ser autenticados pela Junta Comercial (Art.
1181 do CC/02). Somente podem ser autenticados os livros do empresário regular. (PU do art. 1181 do
CC/02)
Os livros e fichas dos empresários e sociedades provam contra as pessoas a que pertencem, e, em seu
favor, quando, escriturados sem vício extrínseco ou intrínseco, forem confirmados por outros subsídios. A
prova resultante dos livros e fichas não é bastante nos casos em que a lei exige escritura pública, ou escrito
particular revestido de requisitos especiais, e pode ser ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão
dos lançamentos.
Os requisitos intrínsecos da escrituração são observados quando ela é feita em idioma e moeda corrente
nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem
entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens.
Já os requisitos extrínsecos, concernentes a sua segurança, diz respeito a sua autenticação pela Junta
Comercial. Quando devidamente escriturados, terão valor probatório em uma ação ordinária de
conhecimento [o que abrange a utilização da ação monitória], pois não são executáveis.

UNIDADE IV – DIREITO SOCIETÁRIO

4.1 Conceito de sociedade

A pessoa jurídica é verdadeira “unidade de pessoas naturais ou patrimônios que visa à consecução de certos
fins, reconhecida essa unidade como sujeito de direitos e obrigações”7. Segundo o art. 44 do Código Civil, são
pessoas jurídicas de direito privado as fundações, as associações, as sociedades, as organizações religiosas,
os partidos políticos e as empresas individuais de responsabilidade limitada. A sociedade, portanto, é

7
DINIZ. Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 206.

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espécie de pessoa jurídica que visa à realização de atividade econômica, com intuito de lucro e sua
distribuição entre os sócios.
As sociedades podem ser simples (atividade civil), ou empresárias (exercício da empresa), estando a
diferença entre ambas no modo de exploração de seu objeto social. Se essa exploração for feita mediante a
organização dos fatores de produção (capital, insumos, mão-de-obra e tecnologia) será empresária. Se feita
sem essa organização, será considerada simples.
Existem duas exceções a essa regra. As sociedades anônimas, que são sempre empresárias, independente
do objeto e as cooperativas, que serão sempre sociedades simples (Art. 982, parágrafo único do CC/02).
As sociedades empresárias podem adotar um dos seguintes tipos:
1) Sociedade em nome coletivo – N/C
2) Sociedade em comandita simples - C/S
3) Sociedade limitada – Ltda.
4) Sociedade anônima - S.A
5) Sociedade em comandita por ações - C/A
As três primeiras foram plenamente tratadas pelo novo Código Civil. As sociedades anônimas e em
comandita por ações estão disciplinadas na Lei 6.404/76, sendo a última (comandita por ações), também
com algumas regras impostas pelo Código Civil (Arts. 1090 a 1092 do CC/02).Somente será admitida a
constituição de sociedade empresária de acordo com uma das cinco espécies acima descritas (Art. 983, 1ª
parte do CC/02).
A sociedade simples pode ou não adotar um daqueles modelos societários, exceto da sociedade por ações.
Se não o fizer, submeter-se-á às regras que lhe são próprias (sociedade simples pura), previstas também no
Código Civil, nos arts. 997 a 1.038 (Art. 983, 2ª parte do CC/02). A opção pelo tipo empresarial não afasta a
natureza simples da sociedade (Enunciado 57 do CJF).

Requisitos da Sociedade:

- DE EXISTÊNCIA: Affectio Societatis e Pluralidade de Sócios, com exceção da Empresa Individual de


Responsabilidade Limitada – EIRELI, unipessoal.
- DE VALIDADE: requisitos de validade do negócio jurídico (agente capaz, etc., art. 104 do Código Civil),
contribuição dos sócios na formação do capital social e participação nos resultados sociais (lucros/prejuízos).

4.2 Personalidade jurídica

O ordenamento jurídico atribui personalidade e, por consequência, capacidade para firmar relações jurídicas
e praticar atos da vida civil às pessoas jurídicas, observando-se a separação patrimonial dos sócios e
sociedade, ocorrendo:
1) Titularidade obrigacional – a sociedade passa, em nome próprio, a celebrar negócios jurídicos (direitos e
obrigações);

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2) Titularidade patrimonial – passa a possuir patrimônio próprio (o sócio, geralmente, contribui na formação
do capital social e, em razão disso, passa a possuir uma participação na sociedade).
3) Titularidade processual – possibilidade de ser parte e capacidade processual para estar em juízo.

4.2.1 Teoria da desconsideração da personalidade jurídica no CC/02

Um dos elementos fundamentais do direito societário é a autonomia patrimonial das pessoas jurídicas e a
limitação da responsabilidade. Contudo, a personalidade jurídica não constitui um direito absoluto, sendo
contida pela teoria da fraude contra credores e pela teoria do abuso de direito.
A teoria da desconsideração está positivada no CDC, na Legislação Ambiental, na Lei de Concorrência e no
CC/02 (artigo 50), sendo tratada de maneira diversa dependendo da natureza jurídica da responsabilização.
Alias:
O CC/02 estabelece dois pressupostos para aplicação da teoria (Concepção objetivista da teoria):
a) Desvio da finalidade (abuso de direito da forma);
b) Confusão patrimonial (como forma de exteriorização da fraude, já que a fraude é muito difícil de comprovar;
há confusão patrimonial entre os bens da sociedade e os dos sócios).

4.2.1.1 Abuso da personalidade jurídica e a teoria maior da desconsideração

Concepção clássica: só admite a superação do ente legal quando constatado o uso abusivo da pessoa
jurídica.
Concepção subjetivista da teoria maior: tradicionalmente, o abuso da personalidade jurídica que admite sua
desconsideração só se caracterizava quando houvesse a prova efetiva da fraude, ou seja, da atuação dolosa,
maliciosa dos sócios em detrimento dos credores da sociedade.
Concepção objetivista da teoria maior: surgiu em razão da dificuldade da prova da fraude. Para essa
concepção, o abuso pode ser comprovado através da análise de dados objetivos, como o desvio de
finalidade e a confusão patrimonial. O Código Civil de 2002 adota essa concepção, sendo desnecessário
comprovar o dolo específico do sócio ou administrador que cometera o ato abusivo.

4.2.1.2 Teoria Maior e Teoria Menor

Teoria Maior: admite a desconsideração da PJ somente quando houver desvio de finalidade ou


comprovação de confusão patrimonial.
Teoria Menor: desconsidera-se a PJ quando houver, tão somente, ocorrência de prejuízo ao credor.

4.3 Classificação das sociedades

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De Pessoas – interessam os atributos pessoais dos sócios. A alienação societária é restringida, dependendo
do consentimento dos demais sócios para que terceiro ingresse na sociedade, ou seja, os demais sócios
podem barrar a entrada de um terceiro estranho à sociedade. No caso de falecimento do sócio, o herdeiro
não ingressa diretamente sem autorização dos sócios.
De Capital – somente se considera a contribuição financeira para o ingresso no quadro de sócios da
sociedade. É livre o ingresso de terceiros estranhos ao quadro social (S.A ou Comandita por ações) ou sócios
(Ltda.), interessando que eles efetivamente contribuam para a formação do capital pela integralização de
ações ou cotas.

Sociedade em COMANDITA POR AÇÕES


CAPITAL
Sociedade ANÔNIMA

Sociedade EM NOME COLETIVO


OBS: a
Sociedade EM COMANDITA SIMPLES
PESSOAS
Sociedade SIMPLES (não é empresária)

Sociedade DE CAPITAL E INDÚSTRIA (não existe mais)

Sociedade LIMITADA (contrato social) PESSOAS OU CAPITAL

jurisprudência vem admitindo a penhora de cotas de sociedade limitada, apontando que a pessoalidade do
vínculo é assegurada pelo direito de preferência na aquisição/remição dessas cotas (AgRg no Ag 1164746/SP,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 29/09/2009, DJe 26/10/2009)
OBS.: A sociedade limitada será de pessoas ou de capital dependendo do contrato social. Se ele dispuser que
assume a forma subsidiária de SA, será de capital; se assume de sociedade simples, será de pessoas.
Contratual – são constituídas através de um contrato social. O capital social da sociedade é dividido em
cotas e o seu titular é denominado sócio. Existe maior liberdade na vontade das partes e há maior
discricionariedade na elaboração das cláusulas.
Institucional – são constituídas por um estatuto social. As relações são entre os sócios e a sociedade, não
havendo relação deles entre si. Qualquer interessado, desejando ingressar na sociedade, adere ao estatuto.
O capital social está dividido em ações e o seu titular é denominado acionista. O estatuto está adstrito à lei.

SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES


INSTITUCIONAL
SOCIEDADE ANÔNIMA

SOCIEDADE EM NOME COLETIVO CONTRATUAL

SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES CONTRATUAL

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SOCIEDADE SIMPLES CONTRATUAL

SOCIEDADE LIMITADA (sempre) CONTRATUAL

Quanto à responsabilidade dos sócios, a sociedade pode ser:


Responsabilidade limitada – ao aporte financeiro que o sócio subscreveu na sociedade, ou seja, somente
pelo valor que se obrigou (subsidiária e limitada).
Responsabilidade mista – Existem sócios que respondem ilimitadamente e outros de forma limitada (limite
previsto no contrato ou no estatuto social).
Responsabilidade ilimitada – o patrimônio dos sócios responde subsidiariamente, mas de forma ilimitada
pelas obrigações sociais.
Mesmo nas sociedades com responsabilidade mista ou ilimitada, essa responsabilidade será sempre
subsidiária em razão do benefício de ordem previsto no art. 1024 do CC/02. Primeiro deve-se esgotar
(exaurir) o patrimônio da sociedade para só então atingir o patrimônio pessoal do sócio. Nas sociedades não
personificadas, a responsabilidade dos sócios será direta, solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais
nos termos do art. 990 do CC/02.

SOCIEDADE EM COMANDITA POR Responsabilidade mista


AÇÕES

SOCIEDADE ANÔNIMA Responsabilidade limitada

SOCIEDADE EM NOME COLETIVO Responsabilidade ilimitada

SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES Responsabilidade mista

SOCIEDADE LIMITADA Responsabilidade limitada


(há solidariedade)

SOCIEDADE SIMPLES Pode ser pactuado no contrato: nenhuma ou


ilimitada.

4.4 Sociedades personificadas e não personificadas

O Código Civil divide as sociedades em dois grandes grupos: em um deles, tratou das sociedades
personificadas; no outro, das sociedades não personificadas.

4.4.1 Sociedades não-personificadas

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4.4.1.1 Sociedade em comum (artigos 986 e 990)

A sociedade em comum, segundo o art. 986 do CC, constitui-se na sociedade que ainda não inscreveu seus
atos constitutivos no órgão competente. Note-se que na sociedade de fato, não há instrumento escrito de
constituição, enquanto na sociedade irregular há um contrato escrito, mas que não está registrado na Junta
Comercial.
Segundo André Luiz Ramos, a sociedade em comum é, na verdade, uma expressão que designa a sociedade
contratual que está na fase de constituição, ou seja, praticando os atos preparatórios ao registro.
Prova da existência da sociedade em comum: Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente
por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.
Responsabilidade dos sócios na sociedade em comum: como regra geral do direito societário, os bens
particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os
bens sociais. Todavia, na sociedade em comum, a responsabilidades dos sócios é subsidiária, mas ilimitada,
enquanto o sócio que contratou pela sociedade possui responsabilidade ilimitada e direta (art. 990).
Patrimônio: os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em
comum. Na verdade, por não ser pessoa jurídica, não existe patrimônio próprio, sendo este formado pelos
bens e direitos dos sócios. O que o código fez, portanto, foi estabelecer uma especialização patrimonial, ou
melhor, umpatrimônio de afetação (Enunciado 210 CJF).

4.4.1.2 Sociedade em conta de participação

Marcas características: despersonalização e a natureza secreta (ato constitutivo não precisa ser levado a
registro na Junta Comercial). Esta espécie de sociedade não tem necessariamente capital social, liquidando-
se pela via da prestação de contas judicial e não por ação de dissolução de sociedade, não possuindo nome
empresarial. A eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade
jurídica à sociedade (993 CC).
Sócios: Há o sócio ostensivo e sócio participante. A atividade constitutiva do objeto social é exercida
unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade,
participando os demais dos resultados correspondentes. Mas, se os sócios participantes, em determinada
negociação, “aparecerem” perante terceiros, ou seja, se atuarem em certo negócio social firmado pelo sócio
ostensivo, responderão solidariamente com este pela negociação. Sendo o sócio ostensivo quem, na
verdade, exerce a atividade que constitui o objeto social, sua falência acarreta a dissolução da sociedade e a
liquidação da respectiva cota, cujo saldo constituirá crédito quirografário (art. 994, § 2º, CC), a ser habilitado
no processo falimentar. Se quem falir for o sócio participante, o contrato social fica sujeito às normas que
regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido (art. 994, § 3º, CC).
Formalidades: informal, provando-se por todos os meios de direito (art. 992, CC).
Patrimônio: O sócio ostensivo responde com seu patrimônio pessoal ou com o patrimônio especial do art.
994, CC? Vera Franco acredita que o sócio ostensivo não obriga seu patrimônio na gestão da conta de
participação, salvo se esta vier a se tornar insolvente. Já André Luiz Ramos, a conta de participação só existe
entre os sócios, sendo que os terceiros não são credores da sociedade, mas do sócio ostensivo, com que
contrataram.

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Salvo estipulação em contrário, o sócio ostensivo não pode admitir novo sócio sem o consentimento
expresso dos demais.
Aplica-se à sociedade em conta de participação, subsidiariamente e no que com ela for compatível, o
disposto para a sociedade simples, regendo-se sua liquidação pelas normas relativas à prestação de contas
judicial.

O exemplo mais comum de sociedade em conta de participação é o apart hotel.

4.4.2 Sociedades personificadas

4.4.2.1.1 Sociedades simples

Suas regras são aplicadas subsidiariamente às sociedades empresárias. Trata-se de uma sociedade de
pessoas8.
Será constituída por contrato escrito particular ou público que será registrado no órgão competente, que é o
cartório de registro de pessoas jurídicas (artigos 997 e 998, CC). Independentemente de ter sido feito o ato
constitutivo por instrumento público ou particular, as alterações contratuais ou estatutárias poderão ser
efetivadas por instrumento particular (art. 539 da Lei 8.934/94).
As cláusulas necessárias para constituição da sociedade simples estão previstas no art. 997 do CC/02, além
de outras estipuladas pelos contratantes: III - capital da sociedade; IV - a quota de cada sócio no capital
social, e o modo de realizá-la; VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus
poderes e atribuições; VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VIII - se os sócios
respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; etc. É ineficaz em relação a terceiros
qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato.
CAPITAL SOCIAL: Os sócios podem contribuir para a formação do capital social com bens, direitos e
serviços(art. 997, CC).
O sócio, cuja contribuição consista em serviços, não pode, salvo disposição em contrário, empregar-se em
atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído. A contribuição do
sócio exclusivamente em prestação de serviços é permitida nas sociedades cooperativas (art. 1.094, I, CC) e
nas sociedades simples propriamente ditas (art. 983, 2ª parte). Quando se tratar de sócio que contribui com
serviço, não poderá haver penhora das verbas descritas no art. 1026, CC, se de caráter alimentar.

8
CC/02, Art. 1.002. O sócio não pode ser substituído no exercício das suas funções, sem o consentimento dos
demais sócios, expresso em modificação do contrato social.
Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente modificação do contrato social com o
consentimento dos demais sócios, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade.
Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, responde o cedente
solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.
9
Lei 8.934/94, Art. 53. As alterações contratuais ou estatutárias poderão ser efetivadas por escritura pública ou
particular, independentemente da forma adotada no ato constitutivo.

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O sócio que, a título de quota social, transmitir domínio, posse ou uso, responde pela evicção; e pela
solvência do devedor, aquele que transferir crédito.
NOME EMPRESARIAL: Sociedade simples pode adotar FIRMA ou DENOMINAÇÃO SOCIAL.
ADMINISTRAÇÃO: por pessoas naturais, sócias ou não. Em regra, as atividades dos administradores regem-
se pelas normas atinentes ao mandato (art. 1011, § 2º do CC/02), pelos deveres que lhe são próprios (dever
de diligência – art. 1011 do CC/02, lealdade – arts. 1017 e 1013 do CC/02, prestação de contas – art. 1020
do CC/02, pessoalidade – art. 1018 do CC/02), além de outros previstos no contrato social.
O administrador que, sem consentimento escrito dos sócios, aplicar créditos ou bens sociais em proveito
próprio ou de terceiros, terá de restituí-los à sociedade, ou pagar o equivalente, com todos os lucros
resultantes, e, se houver prejuízo, por ele também responderá. Fica sujeito às sanções o administrador que,
tendo em qualquer operação interesse contrário ao da sociedade, tome parte na correspondente
deliberação. Também responde por perdas e danos perante a sociedade o administrador que realizar
operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria. .
Ao administrador é vedado fazer-se substituir no exercício de suas funções, sendo-lhe facultado, nos limites
de seus poderes, constituir mandatários da sociedade, especificados no instrumento os atos e operações
que poderão praticar.
Nada dispondo o contrato social, a administração da sociedade compete separadamente a cada um dos
sócios (art. 1013, caput do CC/02). Neste caso, cada um dos sócios pode impugnar operação pretendida por
outro, cabendo a decisão aos sócios, por maioria de votos (art. 1013, § 1º do CC/02). O administrador pode
praticar todos os atos pertinentes à gestão da empresa (ato de administração), excetuada a oneração ou a
venda de bens imóveis que depende do que a maioria dos sócios decidir, salvo quando constituir objeto
social da sociedade.
Pode o contrato social estabelecer que a administração da sociedade seja feita pelos sócios em conjunto nos
termos do art. 1010 ou que certas decisões sejam tomadas em conjunto pelos sócios (Art. 1014 do CC/02)
Pode constar no contrato social cláusula de investidura irrevogável ao administrador sócio, “salvo justa
causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios” (art. 1019 do CC/02). Ou, pode ser
nomeado por instrumento em separado, averbando-se no registro da sociedade, sob pena de responder
pessoal e solidariamente com a sociedade pelos atos praticados antes da averbação (Art. 1012 do CC/02).
Administrador que seja sócio ou não e nomeado em ato separado pode ser destituído a qualquer tempo
(artigo 1019, parágrafo único).

TEORIA ULTRA VIRES (art. 1015, CC/02): Por essa teoria, se o administrador celebra contrato assumindo
obrigações, em nome da sociedade, em operações evidentemente estranhas ao seu objeto social, presume-
se que houve excesso de poderes. Porém, existem ressalvas: (a) o ato ultra vires não produz efeito apenas
em relação à sociedade; (b) sem embargo, a sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-
lo; (c) o Código Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo os poderes implícitos dos
administradores para realizar negócios acessórios ou conexos ao objeto social, os quais não constituem
operações evidentemente estranhas aos negócios da sociedade; (d) não se aplicao art. 1.015 às sociedades
por ações, em virtude da existência de regra especial de responsabilidade dos administradores (art. 158, II,
Lei n. 6.404/76) (Enunciado 219).
*De acordo com o art. 1015, o excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros
se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou

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averbada no registro próprio da sociedade; II - provando-se que era conhecida do terceiro; III -tratando-se
de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade (teoria ultra vires).
*Atendendo as críticas contra a teoria ultra vires, o direito brasileiro vem adotando a teoria da
aparência,segundo a qual se o ato tiver aparência de validade, mesmo que o administrador tenha
exorbitado de seus poderes, ele será válido e a sociedade responderá perante os credores, sendo-lhe
reservado o direito de regresso contra o administrador que exorbitou os poderes. Segundo o STJ, apesar de
o subscritor do negócio jurídico não possuir poderes estatutários para tanto, a circunstância de comportar-se
no exercício das suas atribuições (decorrente de permissão da pessoa jurídica), atrai a responsabilidade da
pessoa jurídica (REsp 887.277).

TEORIA DA APARÊNCIA TEORIA “ULTRA VIRES”

Excesso de poder com aparência de legalidade. Excesso de poderes por parte do administrador. Prática
de operação evidentemente estranha aos negócios da
sociedade.

Responsabilidade da sociedade que passa a ter ação Responsabilidade direta do administrador (parágrafo
regressiva contra o administrador (Segurança Jurídica) único do artigo 1015 prevê as hipóteses de cabimento
dessa responsabilidade).

Os administradores têm responsabilidade pessoal e solidária perante sociedade e terceiros quando agirem
com culpa no desempenho de suas funções (Art. 1016 do CC/02). O administrador poderá ainda ser
pessoalmente e ilimitadamente responsável pelos atos praticados com dolo. Por outro lado, se for probo,
não tendo agido com dolo ou culpa, não poderá ser prejudicado por eventual ato prejudicial à sociedade.
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E NAS PERDAS: a cláusula que exclua o(s) sócio(s) de participar dos lucros e das
perdas é NULA (artigo 1008, CC). Nula será a cláusula, não o contrato.
RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS: Segundo Ricardo Negrão, o sócio na sociedade simples responde pela
integralização de sua cota e, ainda, subsidiariamente ao patrimônio social, pelo valor que exceder a dívida
social, na medida de sua participação nas perdas sociais, nos termos do que dispõe o art. 1023 do CC.
Enunciado 479 da Jornada de Direito Civil do STJ: Art. 997, VII: Na sociedade simples pura (art. 983, parte
final, do CC/2002), a responsabilidade dos sócios depende de previsão contratual. Em caso de omissão, será
ilimitada e subsidiária, conforme o disposto nos arts. 1.023 e 1.024 do CC/2002.
CESSÃO DE COTAS: pode ser total ou parcial, mas deve ser feita com anuência dos demais sócios (a
sociedade simples pura é de pessoas, na qual existe uma forte affectio societatis entre os sócios), sob pena
de não surtir efeitos perante os terceiros e a sociedade; mesmo com a anuência dos demais sócios, o
cedente responde solidariamente com o cessionário pelo prazo de 02 anos. Note-se que o registro também é
requisito de validade da cessão.
DIREITOS E DEVERES GERAIS DOS SÓCIOS (variam de acordo com o tipo societário):
Deveres dos sócios:
a) integralizar o capital social subscrito, à vista ou a prazo, conforme estipulado em contrato social ou
estatuto social (Art. 1004 do CC/02);

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O sócio remisso (que não integralizou sua parte do capital no prazo estabelecido) será notificado e no prazo
de 30 dias deve cumprir sua obrigação contribuindo para o capital social, sob pena de responsabilizar-se pelo
dano emergente da mora (artigo 1004). Os demais sócios podem exigir do remisso: a) indenização pela
mora; b) sua exclusão da sociedade, com ressarcimento do que ele integralizou; ou c) redução da quota ao
montante já realizado (PU do artigo 1004 do CC/02). Nos casos a) e b) acima, o capital social sofrerá redução,
salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota (§ 1°, artigo 1031 CC);
b) participar dos resultados negativos da empresa, arcando com sua responsabilidade subsidiária limitada ou
ilimitada, de acordo com o previsto no contrato;
c) ter lealdade para com a sociedade, abstendo-se de interesses em conflito (Art. 1010, § 3 º do CC/02).
d) obedecer ao contrato social.
Direitos dos sócios:
a) participar dos lucros da sociedade;
b) fiscalizar a administração e a escrituração;
c) retirar-se da sociedade nas condições estipuladas no contrato;
d) exigir a prestação de contas dos administradores (art. 1020 do CC/02);
e) votar nas deliberações da sociedade segundo a sua participação societária;
f) preferência na subscrição de cotas.
QUÓRUM DA TOMADA DE DECISÕES: maioria absoluta.
QUÓRUM PARA ALTERAÇÃO CONTRATUAL
Matéria indicada no art. 997 (cláusulas contratuais): dependem do consentimento de todos os sócios;
Demais cláusulas: podem ser decididas por maioria absoluta10 de votos, se o contrato não determinar a
necessidade de deliberação unânime.
Falta grave no cumprimento de suas funções sociais ou por incapacidade superveniente e exclusão de sócio
remisso: maioria absoluta (Enunciado 216, CJF).
RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO AO SÓCIO – pode ser chamada de dissolução parcial, ou seja, não
há extinção da sociedade, mas, apenas saída de sócios. O artigo 1029 elenca os casos de resolução; existem
sociedades com prazo determinado e outras com prazo indeterminado:
Indeterminado – o sócio pode sair a qualquer tempo, necessitando notificar com antecedência mínima de
60 dias, aos demais sócios.
Determinado – como existe prazo mínimo especificado, o sócio somente poderá sair antes do prazo, se
comprovar judicialmente a justa causa.
O contrato e a lei podem estabelecer outras formas de saída. Nos 30 dias seguintes à saída do sócio, podem
os demais optar pela dissolução da sociedade.
O artigo 1031 do Código Civil dispõe que quando um sócio sai da sociedade, receberá o valor da cota com
base na situação patrimonial à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado, salvo se
houver estipulação contratual em contrário. O pagamento deverá ser efetuado em dinheiro, no prazo de 90

10
Maioria absoluta significa a maioria absoluta do capital (§1°, art. 1010 do CC/02).

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(noventa) dias subsequentes à saída; ao acordo e ao contrato está reservado o direito de estipulação de
outras regras para o pagamento relacionadas a bens e prazos (§2°, artigo 1031, CC).
DISSOLUÇÃO – pode ser judicial (os sócios não concordam com a dissolução ou em uma das hipóteses do
artigo 1034) ou extrajudicialmente (artigo 1033).
a) Judicialmente – a sociedade pode ser dissolvida judicialmente a requerimento de qualquer dos
sócios quando:
Anulada a sua constituição;
Exaurido o fim social ou verificada a sua inexequibilidade.
b) Extrajudicialmente (artigo 1033):
Vencido o prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em
liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;
Concurso unânime dos sócios;
Deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado;
A falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180 dias;
A extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

4.4.2.1.2 Sociedade em nome coletivo

É sociedade com responsabilidade solidária, ilimitada e subsidiária (primeiro a sociedade e depois os sócios).
Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade respondendo todos os sócios, solidária e
ilimitadamente, pelas obrigações sociais.
Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por
unanimidade em convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade (parágrafo único do artigo 1039).
O nome empresarial é a razão ou firma social (artigo 1041).
A administração da sociedade compete exclusivamente aos sócios, sendo o uso da firma, nos limites do
contrato, privativo dos que tenham os necessários poderes (artigo 1042). Qualquer sócio pode ser gerente
ou administrador. A fonte subsidiária é a sociedade simples, mesmo se ela for empresária.
O quórum de deliberação é o mesmo da sociedade simples. A sociedade se dissolve pelas causas previstas no
art. 1033 do CC/02 (= a sociedade simples) e, se for empresária, também pela declaração de falência (art.
1044 do CC/02).

4.4.2.1.3 Sociedade em comandita simples

Foi o primeiro tipo societário que trouxe responsabilidade mista para os sócios. Existem 02 tipos de sócios
(artigo 1045):
COMANDITADO – somente pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.
Somente esse tipo pode ser administrador e integrar a firma ou razão social da sociedade.

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COMANDITÁRIO – obrigados somente pelo valor de sua quota. Pode ser pessoa física ou jurídica. Não pode
praticar atos de gestão (art. 1047, PU do CC/02) e nem dar nome à sociedade, sob pena de a sua
responsabilidade tornar-se ilimitada (Art. 1157, PU do CC/02). Pode fiscalizar a sociedade, participar nas
deliberações e ser constituído procurador da sociedade para negócio determinado e com poderes especiais.
Morrendo sócio comanditário, a sociedade continuará com os seus sucessores, que designarão quem os
representará, salvo disposição em contrário no contrato social (Art. 1050 do CC/02)
OBS.: Sempre a responsabilidade dos sócios será subsidiária em relação à responsabilidade da sociedade.
Pode optar por firma ou denominação.
Art. 1051, PU do CC/02: Na falta de sócio comanditado, os comanditários nomearão administrador
provisório para praticar, durante o período referido no inciso II [180 dias] e sem assumir a condição de sócio,
os atos de administração.
Aplicam-se subsidiariamente as normas da sociedade em nome coletivo, se esta for omissa, as normas
referentes à sociedade simples. (Art. 1046 c/c o Art. 1040 do CC/02)

4.4.2.1.4 Sociedade em comandita por ações

Está prevista no CC/02 (artigo 1090 a 1092 do CC/02) e na Lei de Sociedade por ações (LSA, Arts. 280 a 284),
sendo que os dispositivos legais são compatíveis entre si. É uma sociedade de capital, regida por estatuto
(institucional) e de responsabilidade mista. O seu capital está dividido em ações, regendo-se
subsidiariamente pelas normas relativas à sociedade anônima (Art. 1090 do CC/02 e Art. 280 da LSA). Pode
adotar como nome empresarial tanto a firma composta somente pelo nome dos diretores quanto
denominação indicativa do objeto social acompanhada da expressão “Comandita por ações”, por extenso ou
abreviadamente “C/A”.
Possuem dois tipos de SÓCIOS de acordo com a sua RESPONSABILIDADE:
Acionista – responsabilidade limitada ao preço da emissão das ações subscritas. Não pode ser
administrador.
Diretor – responsável pela administração da sociedade, respondendo de forma ilimitada e subsidiariamente.
Se houver mais de um, serão solidariamente responsáveis pelas obrigações sociais (Art. 1091, §1° do CC/02).
Terceiro não pode ser administrador.
Os diretores devem ser nomeados no estatuto social, sem limitação de tempo, e só podem ser destituídos de
seus cargos por voto de, no mínimo, 2/3 do capital social. Destituído ou exonerado, o diretor continua, por 2
anos, responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração. (Art. 1091, §§ 3° e 4°do CC/02).
Ao contrário da sociedade anônima, “A assembleia geral não pode, sem o consentimento dos diretores,
mudar o objeto essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração, aumentar ou diminuir o capital
social, criar debêntures, ou partes beneficiárias.”(Art. 1092 do CC/02). Isto é, não pode agravar a situação
do diretor.

4.4.2.1.5 Sociedade cooperativa

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É a pessoa jurídica criada por pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços
para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum e sem objetivo de lucro (art. 3º da Lei n.
5.764/71). Admite-se a contribuição do sócio exclusivamente em prestação de serviços (Enunciado 206 do
CJF).
São sociedades simples[por força de lei] sujeitas à inscrição nas juntas comerciais. (Lei 8.934/94, Art. 32).
Nada obstante a sua natureza de sociedade simples, pode ser sócia de qualquer tipo societário e
desenvolver atividade empresarial.
Não se submetem, entretanto, ao regime de falência, mas ao de dissolução voluntária ou judicial e ao de
insolvência civil (REQUIÃO, Rubens. Curso, vol. 1, 27ª ed.)
Cuida-se de uma sociedade de pessoas nos termos do Art. 1.094º, IV do CC/02.
As cooperativas adotam denominação seguida da palavra “cooperativa” (Art. 1159 do CC/02).
A cooperativa está prevista no Arts. 1093 a 1096 do CC/02, sem prejuízo da regulamentação em legislação
especial (Atualmente, Lei 5.764/71). No que for omissa (tanto no Capítulo Específico como na Lei 5.764/71)
11
e desde que compatível com sua natureza, aplica-se a legislação da sociedade simples (Art. 1.094).
Uma característica interessante é, independentemente de sua participação ou não no capital da cooperativa,
cada sócio tem direito a um só voto nas deliberações sociais (Art. 1094, VI do CC/02). Esta regra é
específica deste tipo de sociedade, pois na sociedade simples a votação é tomada com base na participação
no capital social.
A responsabilidade dos sócios pode ser limitada ou ilimitada (art. 1095).
Outro traço importante dessa espécie de sociedade é de que não há relação de emprego entre o cooperado
e a cooperativa, bem como entre o cooperado e o contratante dos serviços da cooperativa, mesmo no caso
da cooperativa de prestação de serviços.

4.4.2.1.6 Sociedades coligadas

Quando uma sociedade possui participação societária em uma outra dá-se o nome de sociedades coligadas
(gênero) que podem abranger relação de controladas, filiadas ou coligadas e simples participação. As
sociedades podem manter ligações entre si sem que uma delas seja matriz e a outra filial.
CAPÍTULO VIII – Das Sociedades Coligadas
CC/02, Art. 1.097. Consideram-se coligadas as sociedades que, em suas relações de capital, são controladas,
filiadas, ou de simples participação, na forma dos artigos seguintes.
Art. 1.098. É controlada:
I - a sociedade de cujo capital outra sociedade possua a maioria dos votos nas deliberações dos quotistas ou
da assembleia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores;
II - a sociedade cujo controle, referido no inciso antecedente, esteja em poder de outra, mediante ações ou
quotas possuídas por sociedades ou sociedades por esta já controladas.

11
A lei especial que versa sobre cooperativas é enorme (dispõe de mais de 100 artigos), razão pela qual o
atualizador do resumo preferiu pinçar os seus aspectos gerais contidos no Código Civil.

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Art. 1.099. Diz-se coligada ou filiada a sociedade de cujo capital outra sociedade participa com dez por cento
ou mais, do capital da outra, sem controlá-la.
Art. 1.100. É de simples participação a sociedade de cujo capital outra sociedade possua menos de dez por
cento do capital com direito de voto.
Art. 1.101. Salvo disposição especial de lei, a sociedade não pode participar de outra, que seja sua sócia, por
montante superior, segundo o balanço, ao das próprias reservas, excluída a reserva legal.
Parágrafo único. Aprovado o balanço em que se verifique ter sido excedido esse limite, a sociedade não
poderá exercer o direito de voto correspondente às ações ou quotas em excesso, as quais devem ser
alienadas nos cento e oitenta dias seguintes àquela aprovação.
Estas regras não se aplicam a sociedade anônimas e comandita por ações (ambas sociedades institucionais)
que são regidas por normas especiais previstas na Lei 6404/76.
Os conceitos de sociedade controlada e coligada são idênticos àqueles previstos na LSA.

4.5 Sociedade Limitada

A sociedade limitada representa, com certeza, o tipo societário mais utilizado na praxe comercial brasileira
(pequenos e médios empreendedores), correspondendo a aproximadamente mais de 90% dos registros de
sociedade no Brasil.

Trata-se de uma sociedade contratual, constituída por um contrato social, dividido em cotas, contando com
duas características marcantes:
i) a contratualidade (é a vontade societária que decide a maioria das questões que interessam aos sócios);
ii) a limitação da responsabilidade dos sócios.
No caso das sociedades limitadas, poderá adotar firma ou denominação, ambas trazendo a palavra
“limitada” ou sua abreviatura “Ltda.” A sua ausência determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos
administradores que a utilizarem (§ 3º do art. 1158 do CC/02). Em se tratando de denominação, a sociedade
pode se utilizar um nome fantasia, mas o ramo da atividade deverá necessariamente estar presente.
Atualmente, a sociedade limitada é um modelo societário empresarial típico, regulado por um capítulo
próprio do Código Civil (arts. 1.052 a 1.087). O Código Civil, seguindo a linha do artigo 18 da antiga Lei das
Limitadas, trouxe regra específica permitindo que os sócios adotem, por expressa disposição constante do
contrato social, a Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/1976 – LSA) como diploma de regência supletiva
da sociedade limitada (art. 1.053, parágrafo único).

4.5.1 Constituição

A sociedade limitada é constituída por um contrato social (contrato plurilateral – Tullio Ascarelli – figura
contratual sui generis).
I. Requisitos comuns de validade do contrato:

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a) Agente capaz (Pode um impedido ou um incapaz fazer parte da sociedade limitada, a despeito do que
dispõe o art. 972 do Código Civil? A resposta é afirmativa. Já destacamos mais de uma vez que sócio não é
empresário, razão pela qual a regra do art. 972 tem como destinatário o empresário individual).
b) Objeto lícito
c) Forma legal
II. Requisitos especiais (específicos):
a) Contribuição dos sócios (artigo 1055): o capital social é dividido em quotas (cotas). As quotas podem ser
iguais ou desiguais, podendo ter valores diferentes. Essas cotas podem ser integralizadas com bens, dinheiro
ou créditos, vedada a contribuição por meio de prestação de serviços (artigo 1055, § 2º). Na sociedade
limitada não se admite o chamado sócio de indústria, que contribui apenas com a sua força de trabalho (art.
1.055, § 2.°, do Código Civil).
b) Distribuição dos lucros: é nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros
e das perdas.
III. Pressupostos de existência:
a) Pluralidade de sócios: a sociedade limitada pode ser unipessoal? Na sua constituição, a sociedade
limitada, não pode ser unipessoal. Contudo, depois de constituída, é possível a unipessoalidade, que pode
durar o máximo de 180 dias. Lembrar da EIRELI e a responsabilidade limitada (novo tipo societário).
É admitida a sociedade marital, exceto se o regime de bens for o de comunhão universal ou de separação
obrigatória. Se os sócios-cônjuges são casados no regime de comunhão universal ou separação obrigatória, a
responsabilidade deles será ilimitada. Esse impedimento somente surgiu com o CC-02. Segundo o Parecer n.
125/03 do DNRC, as sociedades maritais anteriormente existentes, contraídas entre cônjuges sob os regimes
atualmente sujeitos ao impedimento, devem permanecer como estão, em razão do ato jurídico perfeito e do
direito adquirido.
b)Affectio societatis: consiste na disposição dos sócios em formar e manter a sociedade uns com os outros.

4.5.2 Características

Atualmente, não se pode mais afirmar categoricamente que toda sociedade limitada é uma sociedade de
pessoas. A doutrina contemporânea defende que sociedades limitadas podem assumir feição capitalista,
da mesma forma que sociedades anônimas podem assumir feição personalista. Assim, em cada caso deve-
se analisar atentamente o contrato social da sociedade limitada para aferir se ela ostenta feição capitalista
(vínculo intuitu pecuniae) ou feição personalista (vínculo intuitu personae).

RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS (artigo 1052) – a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas
cotas, mas todos respondem solidariamente para integralização do capital social (total do capital social
subscrito e não integralizado).
OBS: A responsabilidade dos sócios é subsidiária e todos possuem responsabilidade limitada.
No que toca à dívida tributária, nos atos praticados com excesso de poderes ou infração à lei, dispõe o CTN
que ficará pessoalmente responsável o administrador (e não os sócios).

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O artigo 1055, § 1º, estabelece que o cotista pode integralizar as cotas com bens, em valores por ele
atribuído. Durante o prazo de até 05 anos após a integralização, o cotista será responsável pela estimativa
que ele fez sobre os bens. Essa responsabilidade é solidária entre todos os cotistas, pois, eles aceitaram a
integralização dos bens pela estimativa feita pelo cotista que se utilizou da integralização de capital por meio
de bens.
Pelo artigo 1053, a sociedade limitada rege-se pelas regras do CC/02 e subsidiariamente pelas normas da
SOCIEDADE SIMPLES. No parágrafo único, está previsto que é permitido ao contrato social prever a regência
supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima.

4.5.3 Capital social (artigo 1055)

É dividido em quotas (cotas), que podem ser iguais ou desiguais, inclusive com valores diferentes,
integralizadas por dinheiro ou bens, vedada a prestação de serviços (artigo 1055, § 2º).
Cada sócio deve subscrever uma parte do capital, ficando, consequentemente, responsável pela sua
respectiva integralização. Portanto, todos os sócios têm o dever de subscrição e integralização de quotas,
isto é, todos os sócios têm o dever de adquirir quotas da sociedade e de pagar por essas respectivas quotas,
contribuindo para a formação do capital social, ainda que essa contribuição seja ínfima.

4.5.4 Cessão de quotas (artigo 1057)

É uma novidade. Desde que o contrato seja omisso, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a
quem seja sócio, independentemente, da audiência dos outros, ou a estranho, senão houver oposição de
titulares de mais de ¼ do capital social.
a) Para outro sócio – independe de anuência dos demais.
b) Para não sócio – depende da anuência de 75% do capital social, pelo menos.
O contrato pode tratar isso de forma distinta, estabelecendo mais ou menos requisitos para a cessão de
quotas. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros, inclusive para fins do artigo 1003 (sociedade
simples), a partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.
Aquele que se retira da sociedade permanece responsável, perante a sociedade e perante terceiros, pelo
prazo de 2 anos e o sócio admitido não se exime das dívidas anteriores da sociedade.
O sócio que não integralizar o que subscreveu torna-se remisso (artigo 1058), podendo ter suas quotas
tomadas pelos demais sócios ou transferidas a terceiros. Ainda, pode o sócio ser executado, excluí-lo (artigo
1004), ou ter sua participação reduzida ao “quantum” foi pago.

4.5.5 ADMINISTRAÇÃO (artigo 1060 e seguintes)

Segundo o artigo 1060 CC, o administrador pode ser nomeado no contrato ou em ato separado, podendo ou
não ser sócio.
Presentação x Representação

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O presentante não age em nome de outra pessoa, na medida em que ele próprio é quem pratica o ato. Essa
situação ocorre comumente com a pessoa jurídica que, por ser uma entidade imaginária (teoria da realidade
técnica), pertencente ao mundo das idéias, se corporifica por meio de seus órgãos que a presentam.
Se o administrador for nomeado no contrato social e tratar-se de sócio, seus poderes são irrevogáveis,
salvo justa causa, reconhecida judicialmente.
Se, por outro lado, o administrador foi nomeado em contrato social, mas tratar-se de não sócio, seus
poderes são revogáveis.
Se for nomeado em ato separado, pouco importa se é sócio ou não sócio: seus poderes são revogáveis.
Vale também para a sociedade limitada a afirmação de que ela não pode ser administrada por pessoa
jurídica, em razão de o art. 997, inciso VI, do Código Civil fazer uso da expressão pessoas naturais para se
referir aos administradores.
Os administradores podem ser destituídos na forma do artigo 1063, que estabelece que o exercício do cargo
de administrador cessa pela destituição, a qualquer tempo, do titular, ou pelo término do prazo se, fixado no
contrato ou em ato separado, não houver recondução.
A atividade do administrador é personalíssima, não podendo outrem exercer suas funções.
Nos termos do art. 1.013 do CC, na omissão do contrato – e não havendo ato em separado – a administração
compete separadamente a cada um dos sócios.
A princípio, é a pessoa jurídica que responde pelos atos do administrador, salvo se o administrador agir com
dolo ou culpa no desempenho das suas funções, respondendo solidariamente perante a sociedade e
terceiros (art. 1.016).

TEORIA ULTRA VIRES

4.5.6 Direitos e deveres dos sócios

DEVERES DOS SÓCIOS:


a) Dever de integralização do capital social
b) Dever de lealdade ➔ Deve colaborar com o desenvolvimento da sociedade, abstendo-se de atos
prejudiciais.
DIREITOS DOS SÓCIOS
a) Participação nos lucros sociais
b) Participação nas deliberações sociais
- Direito de retirada (ou de recesso):
I. Sociedade de prazo determinado ➔ O sócio pode retirar-se se provar justa causa, judicialmente.
II. Sociedade de prazo indeterminado ➔ O sócio pode sair da sociedade livremente, sem a necessidade de
justa causa. Neste caso, basta que aquele que queira se retirar notifique os demais sócios, no prazo de 60
dias.

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c) Direito de fiscalização: a sociedade limitada pode instituir um CONSELHO FISCAL.É órgão de EXISTÊNCIA
facultativa. Caso ele não exista, a assembleia irá desempenhar suas atividades.
A sua composição será de 03 membros e respectivos suplentes que podem ou não serem sócios (artigo
1066). É assegurado aos sócios minoritários, que representem pelo menos 1/5 do capital social, o direito de
eleger, separadamente, um dos membros do conselho fiscal e os respectivos suplentes (artigo 1066, § 2º).
As suas atribuições estão previstas no artigo 1069, além de outras atribuições determinadas na lei ou no
contrato social.
d) Direito de preferência (art. 1.081 do CC): até trinta dias após a deliberação, terão os sócios preferência
para participar do aumento, na proporção das quotas de que sejam titulares. Os sócios também poderão
ceder o direito de preferência na subscrição de cotas. Essa cessão será livre para os demais sócios, e, para
terceiros, somente poderá ser feita se não houver a oposição de mais de ¼ do capital social.

4.5.7 Responsabilidade dos sócios


Segundo dispõe o art. 1.052 do Código Civil, “na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é
restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”.
Pode-se afirmar, inicialmente, que a responsabilidade dos sócios por dívidas da sociedade é sempre
subsidiária.
Por fim, merece destaque o fato de que os sócios de uma sociedade limitada são solidariamente
responsáveis pela integralização do capital social, razão pela qual pode o credor da sociedade – uma vez
exaurido o patrimônio da pessoa jurídica e verificada a não integralização total do capital social – executar
qualquer dos sócios quotistas, ainda que um deles já tenha integralizado a parte que lhe cabe.

4.5.8 Deliberações dos sócios

Em regra, as decisões mais corriqueiras, as decisões menores da sociedade limitada são tomadas
unipessoalmente por aqueles que têm poderes para administrar a sociedade, ou seja, pelo(s)
administrador(es). No entanto, aquelas decisões mais complexas – como, por exemplo, a relativa à alteração
do contrato social ou a referente à fusão com outra sociedade – exigem uma deliberação colegiada.
Podem ser tomadas por reunião ou por assembleia, conforme previsto no contrato social. Se o número de
sócios for superior a dez, é obrigatório que as decisões sejam tomadas em assembleia. Se a limitada possuir
até 10 sócios, suas deliberações poderão ser tomadas em reunião (art. 1072 caput e § 1º ou assembleia. O
contrato deve prever o rito da reunião, sob pena de serem aplicadas as normas referentes à assembleia
(arts. 1.072, § 6º, e 1.079).
As reuniões ou assembleias poderão ser convocadas por sócio, extraordinariamente, quando os
administradores retardarem a convocação, por mais de 60 dias, nos casos previstos em lei ou no contrato,
ou pelos titulares de mais de 1/5 do capital, quando não atendido no prazo de 8 dias, pedido de convocação
fundamentado, com a indicação das matérias a serem tratadas; ou pelo Conselho Fiscal, se houver, caso a
diretoria retarde por mais de 30 dias sua convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e
urgentes ( art. 1.073).
Dispensa-se a assembleia e a reunião tornam-se dispensáveis, na forma do artigo 1072, § 3º, quando todos
os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria que seria objeto delas.

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As deliberações tomadas em reunião ou assembleia, as quais estejam em conformidade com a lei e o


estatuto, vinculam todos os sócios, não importa se dissidentes das decisões tomadas ou ausentes.
Se forem tomadas deliberações infringentes do contrato social ou da lei, responderão ilimitadamente pelas
obrigações decorrentes aqueles que expressamente as aprovaram (art. 1.080).
As competências para deliberação dos sócios estão previstas no artigo 1071, além de outras matérias
indicadas na lei ou no contrato
Para a assembleia começar é necessário um “quorum” mínimo de instalação (artigo 1074):
I. Em primeira convocação – 3/4 do capital
II. Em segunda convocação – qualquer número
Existem, ainda, os “quoruns de deliberação”, que estão previstos no artigo 1076, para aprovação das
matérias constantes no artigo 1071: 3/4 do capital para: aprovar modificação do contrato e; fusão,
incorporação, dissolução, cisão (Enunciado 227 do CJF) ou cessação de estado de liquidação.
a) + 50% do capital social (maioria absoluta):
I. Designação dos administradores, quando feita em ato separado.
II. Destituição dos administradores.
III. Modo de remuneração dos administradores, quando não estabelecido no contrato.
IV. Pedido de concordata (A nova lei de falências suprimiu a concordata, estabelecendo a recuperação
judicial e extrajudicial).
b) + 50% dos presentes (maioria simples) – nos demais casos previstos em lei ou no contrato, se não
exigirem maioria mais elevada.
I. Aprovação das contas da administração.
II. Nomeação e destituição dos liquidantes.
III. Destituição de administrador: sócio (designado em ato separado) e NÃO-SÓCIO (designado no contrato
ou em ato separado).
c) Admissão de administradores não sócios:
UNANIMIDADE – se o capital social não estiver todo integralizado.
2/3 – se o capital social estiver todo integralizado
d) Destituição de sócio nomeado administrador no contrato – 2/3 do capital social.
e) Dissolução da sociedade, se por prazo determinado - unanimidade
Dispõe o § 1º do art. 1.074 que “o sócio poderá ser representado na assembleia por outro sócio, ou por
advogado, mediante outorga de mandato com especificações dos atos autorizados, devendo o instrumento
ser levado a registro, juntamente com a ata”. Não se admite, outrossim, que nenhum sócio, por si ou
representado por mandatário, vote matéria em assembleia que lhe diga respeito diretamente.
Os sócios deverão reunir-se em assembleia, pelo menos uma vez ao ano, nos 4 meses seguintes ao término
do exercício social.

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4.5.9 Modificação de capital social:

O capital social poderá ser aumentado ou reduzido, observadas as prescrições legais e as do contrato social.
O aumento somente será possível após a integralização total do capital social, alterando-se o contrato e
averbando-se na Junta Comercial (art. 1.081).
Em caso de aumento, os sócios terão direito de preferência na subscrição de novas cotas, de modo que
possam manter a participação societária que possuíam anteriormente. Esses sócios terão um prazo de 30
dias, a contar da deliberação, para o exercício dessa preferência, que será na proporção da sua participação
no capital social.
Os sócios também poderão ceder o direito de preferência na subscrição de cotas. Essa cessão será livre para
os demais sócios, e, para terceiros, somente poderá ser feita se não houver a oposição de mais de ¼ do
capital social.
O capital social também pode ser reduzido (artigo 1082), tanto antes quanto depois da integralização do
capital social. Essa redução só se dará depois de total integralização, quando houver perdas irreparáveis ou
quando o capital estiver estipulado em valor superior ao objeto da sociedade.
Também ocorrerá redução no caso de retirada de um dos sócios, salvo se os demais suprirem o valor das
cotas (art. 1.031, § 1º). O CC/02 não prevê a possibilidade de a sociedade limitada adquirir as próprias cotas,
tornando-se sócia dela mesma, para que não ocorra diminuição de seu capital social. Contudo, essa
possibilidade existe na Lei das Sociedades Anônimas.
Também na hipótese de diminuição do capital social, ocorrerá a modificação do contrato social, que deverá
ser aprovado em assembleia e averbado na Junta Comercial.
Na redução do capital social em virtude de perdas irreparáveis haverá diminuição proporcional do valor
nominal da cota dos sócios (art. 1.083).

4.5.10 Conselho Fiscal


Ponto interessante e também inovador do Código Civil acerca das sociedades limitadas foi o relativo à
possibilidade de ditas sociedades instituírem conselho fiscal.
Trata-se, é bom destacar, de mera faculdade, a qual só tem sido exercida pelas sociedades limitadas
maiores. Em sociedades limitadas pequenas, com poucos sócios, a existência de conselho fiscal é totalmente
desnecessária.

4.5.11 Dissolução da sociedade


Pode ser total ou parcial. A dissolução parcial ocorre quando um ou mais sócios saem da sociedade, porém
ela é mantida, em razão do princípio da PRESERVAÇÃO DA EMPRESA.

I. CASOS DE DISSOLUÇÃO PARCIAL


i. Falecimento do sócio (arts. 1.027, 1.028 e 1.032, CC);
Tratando-se de sociedade de pessoa, o herdeiro poderá ingressar na sociedade se tiver autorização dos
demais sócios. Em se tratando de sociedade de capital, o ingresso será livre.

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ii. Falência do sócio


iii. Direito de retirada
iv. Exclusão do sócio
a) Sócio remisso (art. 1.004)
b)Falta grave ou incapacidade superveniente (art. 1.030, CC): a exclusão por incapacidade superveniente
do sócio se dá nos casos de sociedades de pessoa.
OBS: No pedido de dissolução parcial de sociedade limitada, a alegação de quebra da affectio societatis não
é suficiente para a exclusão de sócios (REsp 1.129.222, j. 28.06.2011).
c) Exclusão do sócio minoritário (art. 1.085, CC) ➔ Exclusão extrajudicial.
O sócio minoritário pode ser excluído da sociedade, por simples alteração contratual desde que:
- Pratique atos de inegável gravidade
- O contrato social preveja a exclusão por justa causa
- Seja feita simples alteração do contrato social
- Haja assembleia ou reunião especialmente convocada para este fim, ciente o minoritário em tempo hábil
para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa.

II. CASOS DE DISSOLUÇÃO TOTAL


i. Vontade dos sócios:
a) Sociedade com prazo determinado ➔ Consenso unânime
b) Sociedade de prazo indeterminado ➔ Maioria absoluta
ii. Decurso do prazo (tratando-se de sociedade com prazo determinado) ➔ chegado o fim do prazo, se a
sociedade ou os sócios não providenciarem a dissolução, haverá prorrogação por prazo indeterminado.
iii. Falência da sociedade
iv. Unipessoalidade por mais de 180 dias (art. 1.033, IV)
v.Extinção de autorização de funcionamento (art. 1.033, V) ➔ Perdendo-se a autorização para
funcionamento, a sociedade tem o prazo de 30 dias para proceder à dissolução. Se os administradores não o
tiverem feito no prazo, o MP promoverá a liquidação judicial da sociedade.
vi. Anulação do ato constitutivo
vii. Exaurimento/inexequibilidade do objeto social
A dissolução pode ser:
a) ATO (DISSOLUÇÃO “STRICTO SENSU”) – a primeira medida do processo como todo, que consiste na
proposição da dissolução (pedido e de acordo com o entendimento, a liquidação).
b) PROCEDIMENTO (DISSOLUÇÃO “LATO SENSU” – engloba todo o procedimento de dissolução). Com a
liquidação (arrecadar os bens e pagar os credores; levantamento de ativo para pagamento do passivo).
Nessa fase, serão nomeados liquidantes e a sociedade ganha, em seu nome, a expressão: “em liquidação”.
Depois haverá a partilha entre os sócios.

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4.6 Sociedade anônima


As sociedades anônimas são espécies de sociedades estatutárias, “institucionais”. Constituem-se, assim, por
meio de um estatuto social e seu capital está dividido em frações denominadas ações. Cada sócio é titular de
determinado número de ações, sendo chamado de acionista.
Está regulamentada pela Lei 6.404/76, aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições do Código Civil. A
LSA sofreu algumas alterações em sua redação que incorporou os ideais de governança corporativa, que cria
padrões de gestão das companhias, para harmonizar as relações entre controladores e minoritários, dar
mais segurança aos investidores do mercado de capitais. A transparência e a prestação de contas confiável
são suas principais marcas.
Ela é sempre empresária por força lei, independentemente do seu objeto social. Elas serão sempre
sociedades de capital.
[GOVERNANÇA CORPORATIVA] Trata-se, basicamente, de um movimento que visa a estabelecer padrões de
gestão para os negócios explorados em sociedade, centrados, fundamentalmente, na (i) transparência, na
(ii) equidade no tratamento entre os acionistas (majoritários e minoritários) e na (iii) prestação de contas
confiável (accountabillity).

4.6.1 Nome empresarial

As sociedades anônimas devem adotar denominação como nome empresarial, devendo conter na
denominação o objeto social. As denominações das sociedades anônimas devem vir integradas pelas
expressões “sociedade anônima” ou “companhia”, ou abreviadamente como “S.A” ou “Cia”. O termo
“sociedade anônima” ou sua abreviatura pode vir no início, meio ou fim da denominação. O termo
“companhia” ou sua abreviatura não pode ser usado no fim (art. 3º da LSA).
OBS: Permite-se que na denominação conste o nome do fundador, acionista ou pessoa que tenha concorrido
para o bom êxito da formação da empresa.

4.6.2 Responsabilidade dos sócios


Uma das principais características das sociedades anônimas é a limitação da responsabilidade dos sócios.
Art. 1º da LSA: a companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade
dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas (regra repetida
pelo art. 1.088 do CC/02).
Pode-se dizer até que a responsabilidade limitada dos acionistas de uma S/A é ainda “mais limitada” do que
a responsabilidade limitada dos quotistas de uma sociedade limitada. Afinal, vimos que estes, além de
responderem pela respectiva integralização das quotas que subscreveram, são solidariamente responsáveis
pela integralização total do capital social, conforme dispõe o art. 1.052 do Código Civil. Os acionistas, por sua
vez, respondem tão somente pela integralização de suas ações, não havendo, para eles, a previsão de
responsabilidade solidária quanto à integralização de todo o capital social.

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4.6.3 Tipos de sociedades anônimas:

A) ABERTA – negocia seus valores mobiliários no mercado de capitais (formado pela bolsa de valores e pelo
Mercado de balcão), necessitando de prévia autorização e registro perante a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM).
I. Bolsa de valores ➔ São entidades privadas constituídas sob a forma de associações civis ou sociedades
anônimas, tendo por membros corretoras de valores mobiliários de uma mesma base territorial, autorizada
pela CVM.
II. Mercado de balcão ➔ O mercado de balcão consiste nas operações realizadas fora da bolsa de valores,
quando, por exemplo, se adquire ações junto a uma instituição financeira ou uma sociedade corretora.
III. Mercado primário ➔ É aquele que se estabelece entre a companhia emissora do título/valor mobiliário e
o investidor. Só há aqui mercado de balcão.
IV. Mercado secundário ➔ Por outro lado, se um indivíduo já é investidor e vende seu valor mobiliário a
outro investidor, trata-se de mercado secundário. Na Bolsa de Valores só se realizam operações de compra e
venda de valores mobiliários, ou seja, a bolsa só atua no mercado de capitais secundário.

B) FECHADA – aquelas que não negociam seus valores mobiliários no mercado de capitais.

4.6.4 Constituição de uma sociedade anônima

Poderá ser de duas modalidades:


I. por subscrição pública: impõe-se para as sociedades abertas;
II. por subscrição particular: aplica-se às sociedades anônimas que não oferecerão ao público suas ações.

4.6.4.1 Requisitos preliminares para a constituição de uma Sociedade anônima,


independentemente da modalidade de constituição:

I. Pluralidade de sócios: subscrição de pelo menos duas pessoas, de todas as ações em que se divide o seu
capital social. A subscrição é irretratável.
A Sociedade Anônima poderá ser unipessoal em casos excepcionais:
a) Empresa Pública.
b) Subsidiária integral (art. 251, LSA: É um tipo de sociedade anônima constituída mediante escritura
pública, tendo como único acionista sociedade nacional)
II. Realização, como entrada, em dinheiro, de 10%, no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas.
Nas instituições financeiras essa porcentagem é de 50%.
III. O fundador terá 5 dias, contados do recebimento das quantias, em nome do subscritor e a favor da
sociedade, para fazer o depósito no estabelecimento bancário autorizado pela CVM.

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IV. Arquivamento do estatuto social da empresa na Junta comercial e publicação pela imprensa de seus atos
constitutivos;
V. Transferência para a companhia, por transcrição no registro público competente, dos bens com que o
subscritor tenha contribuído para a formação do capital social.

4.6.4.2 Constituição propriamente dita

A) CIA ABERTA
A constituição da CIA aberta é chamada subscrição pública ou sucessiva:
Pois bem, as companhias abertas se constituem por meio de subscrição pública de ações. Nessa modalidade
de constituição, exigem-se algumas formalidades específicas, tais como (i) o registro prévio na Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), (ii) a colocação das ações à disposição dos investidores interessados; e (iii) a
realização de assembleia inicial de fundação.
A subscrição somente poderá ser efetuada com a intermediação de instituição financeira. Veja-se, portanto,
que o fundador de uma companhia aberta deverá necessariamente contratar os serviços de uma empresa
especializada para constituí-la. Trata-se do chamado serviços de underwriting. Caberá a essa empresa
contratada não apenas colocar as ações junto aos investidores – etapa seguinte do procedimento
constitutivo da companhia – mas também cuidar de uma série de documentos a serem apresentados à CVM,
assinando-os.

B) CIA FECHADA
Em se tratando de constituição de companhias fechadas, o procedimento é bem mais simplificado, uma vez
que é realizado por meio de subscrição particular, sem a captação de recursos junto a investidores no
mercado de capitais.
Podem ser adotadas duas modalidades de constituição: (i) a realização de assembleia dos subscritores ou (ii)
a lavratura de escritura pública em cartório.

4.6.5 Capital Social

Pode-se definir o capital social, grosso modo, como o montante das contribuições dos sócios para a
sociedade.
Cumpre destacar que, na sistemática da legislação acionária brasileira, admite-se a emissão de ações sem
valor nominal, bem como a possibilidade de emissão de ações com preço superior ao seu valor nominal,
razão pela qual o capital social da companhia nem sempre corresponderá, exatamente, à soma das
contribuições dos sócios pelas ações subscritas.
No que se refere à formação do capital, dispõe a LSA, em seu art. 7.°, que “o capital social poderá ser
formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em
dinheiro”.

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Nesse ponto, é importante fazer outra observação sobre o capital social, relativa à diferença existente entre
o capital social subscrito e o capital social integralizado (ou realizado).

4.6.6 Valores mobiliários (títulos emitidos) pelas sociedades anônimas:

A ação é o principal valor mobiliário emitido pela companhia. Trata-se de valor mobiliário que representa
parcela do capital social, conferindo ao seu titular o status de sócio, o chamado acionista. As ações são
consideradas bens móveis para os efeitos legais.
Possui 4 espécies de valor:
i. Valor nominal – O valor nominal da ação é alcançado por meio de uma simples operação aritmética:
divide-se o capital social total da S/A – calculado em moeda corrente – pelo número total de ações por ela
emitidas e tem-se, com precisão, o valor nominal de cada uma delas.
ii. Valor ou preço de emissão – é o pago pelo subscritor da ação (fixado pelos fundadores na constituição da
empresa). Além das operações de compra e venda de ações, realizadas no mercado de capitais secundário e
nas quais se observa o valor de negociação, há também as operações de emissão e subscrição de novas
ações, as quais, conforme já estudado anteriormente, se desenvolvem no âmbito do mercado de
capitais primário.
iii. Valores de mercado – valor da negociação. Viu-se que as operações de compra e venda de ações são
travadas no chamado mercado de capitais secundário, no qual os acionistas alienam suas ações a
investidores interessados, cobrando nessas transações um valor de negociação, que oscila conforme o
momento econômico pelo qual passa a companhia.
iv. Valor patrimonial – valor da ação em relação ao patrimônio. Patrimônio ÷ número de ações. Será pago
em caso de dissolução total ou parcial da sociedade.

De acordo com a forma de transferência para outros acionistas ou para terceiros, as ações podem ser:
a) Nominativas: As ações nominativas são aquelas que se transferem mediante registro levado a efeito em
livro específico escriturado pela S/A para tal finalidade (trata-se do livro Registro de ações nominativas,
mencionado no art. 31 da LSA). A transferência de uma ação nominativa, portanto, é ato formal que exige
certa solenidade, consistente no comparecimento do vendedor e do comprador – ou de seus representantes
– à companhia para assinatura do livro de “transferência das ações nominativas” (art. 31, § 1.°, da LSA).
b) Escriturais: As ações escriturais, ao contrário das ações nominativas, não possuem certificado – na
verdade elas sequer se materializam num documento, sendo incorpóreas – nem exigem muita solenidade
para a sua transferência.

As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens conferidas aos seus titulares poderão ser:
a) Ordinárias: conferem aos acionistas os direitos comuns, como o direito a voto e de participação nos
lucros. Dentre os direitos conferidos aos ordinarialistas está o direito de voto, o qual, ao contrário do que se
possa pensar, não constitui um direito essencial de qualquer acionista (vide art. 109 da LSA).

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b) Preferenciais: conferem aos acionistas certas vantagens, que podem consistir em: I – em prioridade na
distribuição de dividendo, fixo ou mínimo; II – em prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem
ele; ou III – na acumulação das preferências e vantagens de que tratam os incisos I e II.
- Golden share: são ações especiais titularizadas pelo ente desestatizante, sem direito de voto, mas com o
poder especial de veto às deliberações da assembleia geral. Permitiu-se que o Estado alienasse o controle
das companhias em que detinha maioria do capital votante, mas conservasse ações preferenciais especiais
(golden share) conferindo-lhe direito de veto em determinadas deliberações.
c) gozo ou fruição: são aquelas distribuídas aos acionistas titulares de ações ordinárias ou preferenciais em
substituição dessas ações que já foram amortizadas. A amortização consiste na distribuição aos acionistas, a
título de antecipação e sem redução do capital social, da quantia a que teriam direito em caso de liquidação
da companhia.

II. DEBÊNTURES – Valores mobiliários que conferem a seus titulares direito de crédito contra a companhia.
São títulos emitidos pela S/A a fim de levantar capital, como se fosse um empréstimo feito para a Sociedade
(captação de recursos). É título executivo extrajudicial.
As debêntures podem ser, tais como as ações, nominativas e escriturais, bem como conversíveis em ações.
A partir da Lei 12.431/11, não há o limite do valor do capital social para a emissão de debênture.

III. PARTES BENEFICIÁRIAS - são títulos que conferem aos seus titulares um direito de crédito eventual
contra a companhia, isto é, depende de o resultado da companhia, no respectivo exercício social, ter sido
positivo, pois do contrário não haverá lucros a serem partilhados. Somente as companhias fechadas podem
emitir partes beneficiárias.

IV. BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO – assegura ao seu titular o direito de preferência na subscrição de novas ações.
Perceba-se que o bônus não confere aos seus titulares a ação, mas apenas um direito de preferência na sua
subscrição, razão pela qual o investidor, na hora de exercer esse direito, terá de pagar, obviamente, o preço
de emissão da ação.

V. COMMERCIAL PAPER – Os commercial papers são espécies de notas promissórias e servem para a
captação de recursos no mercado de capitais, que serão restituídos aos investidores em curto prazo.
Diferente das demais espécies de valores mobiliários descritas acima, os commercial paper não estão
disciplinados na Lei 6404/76, mas pela Instrução n. 134/90 da Comissão de Valores Mobiliários.

4.6.7 Órgãos da companhia

A LSA adotou o modelo dualista de administração para as sociedades anônimas, dividindo sua administração,
pois, entre dois órgãos (conselho de administração e diretoria)

São órgãos principais das sociedades anônimas:

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A) ASSEMBLEIAS – são órgãos de deliberação colegiados. Reúnem todos os acionistas que tenham ou não
direito a voto. Relembre-se de que nem todos os acionistas de uma companhia possuem direito de voto,
mas todos eles podem comparecer às assembleias. Afinal, ainda que determinados sócios não tenham
direito de votar nas deliberações, eles possuem o chamado direito de voz, que lhes permite discutir as
matérias em debate antes de a decisão ser tomada. É o que prevê expressamente o parágrafo único do art.
125: “os acionistas sem direito de voto podem comparecer à assembleia-geral e discutir a matéria submetida
à deliberação”.
B) CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO – Órgão de deliberação colegiada a quem compete fixar a orientação
geral dos negócios da companhia e fiscalizar a gestão dos diretores. Se compõe por, no mínimo, 3 membros,
acionistas, eleitos pela AGE e por ela destituíveis a qualquer tempo, com mandato de no máximo 3 anos,
permitida a reeleição. Somente é obrigatório nas sociedades anônimas abertas, nas de capital autorizado
(têm autorização de aumento de capital no estatuto, sem necessidade de assembleia para deliberação) e nas
sociedades de economia mista.
C) DIRETORIA – órgão realmente incumbido de desempenhar, de maneira efetiva, a gestão dos negócios
sociais. Assim, os diretores são os verdadeiros executivos da sociedade anônima, sendo responsáveis pela
sua direção e pela sua representação legal (art. 138, § 1.° da LSA). É obrigatória em todas as sociedades
anônimas. Os diretores podem ou não ser acionistas, exigindo a lei que se trate de pessoa residente no país
e que sejam pessoas naturais. Ela é composta por dois ou mais diretores, eleitos e destituíveis a qualquer
tempo pelo Conselho de Administração, ou se, inexistente, pela assembleia geral, com mandato nunca
superior a 3 anos, permitida a reeleição.
D) CONSELHO FISCAL – órgão interno de fiscalização da gestão da administração da companhia e de
assessoramento da assembleia-geral. De fato, a lei afirma que toda companhia terá um conselho fiscal, mas
que cabe ao estatuto dispor sobre o seu funcionamento, e este pode estabelecer, por exemplo, que o
mesmo não funcione de modo permanente, mas apenas em determinados exercício sociais. Será composto
de, no mínimo, 3 (três) e, no máximo, 5 (cinco) membros, e suplentes em igual número.

4.6.8 Direitos e deveres dos acionistas

Segundo disposto no art. 106 da LSA: “o acionista é obrigado a realizar, nas condições previstas no estatuto
ou no boletim de subscrição, a prestação correspondente às ações subscritas ou adquiridas”.
Dever de integralizar as ações subscritas, sob pena de tornar-se acionista REMISSO, com a consequência de
ser executado ou ter suas ações negociadas em bolsa. O título executivo judicial pode ser: Boletim de
Subscrição ou Aviso de Chamada de Capital.
Direitos podem ser:
ESSENCIAIS (não podem ser retirados do acionista)
NÃO-ESSENCIAIS (direito de voto é dessa natureza, tanto que existem ações sem esse direito garantido).

a. ESSENCIAIS:
Tais direitos essenciais estão arrolados nos incisos do art. 109 da LSA: I – participar dos lucros sociais; II –
participar do acervo da companhia, em caso de liquidação; III – fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a

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gestão dos negócios sociais; IV – preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em
ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o disposto nos artigos 171 e 172;
V – retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta lei”.

4.6.9 Administradores da sociedade anônima

No que diz respeito às normas comuns aplicáveis aos conselheiros e diretores da companhia, isto é, aos seus
administradores, ressalta a importância das regras relativas aos seus deveres e responsabilidades, razão pela
qual as analisaremos em tópicos específicos. Dentre os deveres específicos regulados expressamente na lei
do anonimato, destacam-se, por exemplo, o dever de diligência, o dever de lealdade, o dever de
informação.
Dentre esses deveres de lealdade, perceba-se que a legislação acionária brasileira dá destaque ao dever de
sigilo acerca de informações relevantes sobre os negócios da sociedade, sobretudo quando se trata de
companhia aberta.
O grande objetivo da legislação acionária, nesses casos acima analisados, é evitar a prática do chamado
insider trading, que consiste, grosso modo, no uso de informações internas e/ou sigilosas para obtenção de
vantagem, delito previsto no art. 27-D da Lei 6.385/1976: “Utilizar informação relevante ainda não divulgada
ao mercado, de que tenha conhecimento e da qual deva manter sigilo, capaz de propiciar, para si ou para
outrem, vantagem indevida, mediante negociação, em nome próprio ou de terceiro, com valores
mobiliários.”
No que tange à reponsabilidade dos administradores, ressalte-se que é a própria companhia quem responde
pelos atos de gestão dos conselheiros e diretores. Caberá a ela, no máximo, exigir reparação civil de danos
eventualmente causados por atos dos administradores que (i) tenham agido com culpa ou dolo ou que (ii)
violem o estatuto ou a lei.

4.6.10 Acionista controlador


Com efeito, é muito comum, além de ser extremamente importante, que a sociedade anônima possua sócios
com os mais variados perfis, cada um com objetivos e interesses distintos em relação à companhia. Atenta a
esse dado da realidade, a doutrina costuma classificar os acionistas, segundo os seus interesses, em
empreendedores e investidores. Os empreendedores são aqueles que possuem interesse na gestão dos
negócios da sociedade, por isso são titulares, em regra, de ações ordinárias com direito de voto. Os
investidores, por sua vez, têm interesse apenas num bom retorno para o capital que investem na
companhia, e são subdivididos em rendeiros, quando pensam em longo prazo, e especuladores, quando
visam apenas a ganhos imediatos. Em regra, os investidores – rendeiros ou especuladores – possuem ações
preferenciais sem direito de voto.
Dentro dessa perspectiva, pode-se concluir que é entre os acionistas com direito de voto, em regra os
acionistas empreendedores, que se estabelecem as maiores batalhas pelo poder de controle da companhia.
É nessa categoria de acionistas, pois, que se formarão os controladores da sociedade.
Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por
acordo de voto, ou sob controle comum, que: a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo
permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a maioria dos

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administradores da companhia; e b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o
funcionamento dos órgãos da companhia”.

4.6.11 Acordo de acionistas


Outro tema extremamente relevante no que se refere às relações entre os sócios de uma companhia é o
chamado acordo de acionistas, que alguns autores também chamam de contrato parassocial, e que está
disciplinado no art. 118 da LSA, com a redação alterada pela Lei 10.303/2001: “os acordos de acionistas,
sobre a compra e venda de suas ações, preferência para adquiri-las, exercício do direito a voto, ou do poder
de controle deverão ser observados pela companhia quando arquivados na sua sede”.
Nesses casos, se o acordo for arquivado na sede da sociedade anônima, os seus termos deverão ser
respeitados, podendo o interessado, inclusive, requerer a execução judicial do que foi acordado.

4.6.12 Dissolução, liquidação e extinção das sociedades institucionais:

A dissolução poderá ocorrer:


I. De pleno direito: ocorrerá nas seguintes hipóteses: a) término do prazo de duração; b) em qualquer caso
específico previsto no estatuto; c) por deliberação da assembleia geral; d) pela existência de um único
acionista, verificada em AGO, se no mínimo de dois não for reconstituído até à do ano seguinte; e) e pela
extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar.
II. Por decisão judicial: ocorrerá quando: a) for anulada a sua constituição em ação proposta por qualquer
acionista; b) for provado que não poderá alcançar o seu objetivo em ação proposta por acionistas que
representem 5% ou mais do capital social; c) for decretada a falência, na forma da respectiva lei.
III. Por decisão da autoridade administrativa competente: ocorrerá nos casos e na forma prevista em lei
especial, tal como na falta de autorização devida para a negociação de ações no mercado de capitais.
Após a dissolução terá início a liquidação, que poderá ser extrajudicial (competindo à assembleia geral
deliberar o seu modo e nomear o liquidante) ou judicial. A companhia dissolvida conserva a sua
personalidade jurídica até a sua extinção, para que possa ser efetuada a liquidação. O liquidante tem os
mesmos deveres e responsabilidades do administrador.

4.7 Operações societárias = transformação, incorporação, fusão e cisão das


sociedades.

Operações societárias são mutações no tipo ou na estrutura da sociedade empresária. Compreendem a


transformação, incorporação, fusão e cisão.
Se essas operações envolverem uma sociedade institucional (anônima ou comandita por ações) seguem a
disciplina prevista na LSA (arts. 220 a 234). Do contrário, aplicam-se as regras previstas no Código Civil.
Embora prevista no Título do Capítulo X do CC/02 (“Da Transformação, da incorporação, da fusão e da cisão
das sociedades), a cisão não foi regulada expressamente, aplicando-se a disciplina prevista na Lei 6.404/76.

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a) TRANSFORMAÇÃO – ocorre quando há mudança de tipo societário, ou seja, de uma S/A para LTDA
ou vice-versa. Também há transformação caso haja alteração de aberta para fechada ou vice-versa. Não
ocorre a dissolução ou liquidação da sociedade (extinção), já que permanece a mesma pessoa jurídica,
porém, submetida ao regime do novo tipo adotado. Não há qualquer prejuízo ao direito dos sócios. Em
regra, depende do consentimento de todos os sócios, salvo se for previsto no ato constitutivo, caso em que
o sócio dissidente terá o direito de retirada ou recesso da sociedade. A falência da sociedade transformada
somente produzirá efeitos em relação aos sócios que, no tipo anterior, a eles estariam sujeitos, se o pedirem
os titulares de créditos anteriores à transformação, e somente a estes beneficiará.

b) INCORPORAÇÃO –uma ou mais sociedades desaparecem para integrar uma sociedade que já existe,
vale dizer, uma sociedade (incorporada) é absorvida pela outra (incorporadora). Se houver concentração de
mercado, haverá apreciação do CADE (art. 36, §2º 12.529/1112).
CC/02, Art. 1.117. A deliberação dos sócios da sociedade incorporada deverá aprovar as bases da operação e
o projeto de reforma do ato constitutivo.
§ 1o A sociedade que houver de ser incorporada tomará conhecimento desse ato, e, se o aprovar, autorizará
os administradores a praticar o necessário à incorporação, inclusive a subscrição em bens pelo valor da
diferença que se verificar entre o ativo e o passivo.
§ 2o A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora compreenderá a nomeação dos peritos para a
avaliação do patrimônio líquido da sociedade, que tenha de ser incorporada.
CC/02, Art. 1.118. Aprovados os atos da incorporação, a incorporadora declarará extinta a incorporada, e
promoverá a respectiva averbação no registro próprio.
c) FUSÃO – ocorre quando duas ou mais sociedades se fundem para formar uma NOVA sociedade, que
a ela sucederá em direitos e obrigações. Se gerar concentração de mercado, haverá apreciação de CADE
(Vide Enunciado 232 do CJF)
CC/02, Art. 1.120. A fusão será decidida, na forma estabelecida para os respectivos tipos, pelas sociedades
que pretendam unir-se.
§ 1oEm reunião ou assembleia dos sócios de cada sociedade, deliberada a fusão e aprovado o projeto do ato
constitutivo da nova sociedade, bem como o plano de distribuição do capital social, serão nomeados os
peritos para a avaliação do patrimônio da sociedade.
§ 2o Apresentados os laudos, os administradores convocarão reunião ou assembleia dos sócios para tomar
conhecimento deles, decidindo sobre a constituição definitiva da nova sociedade.
§ 3o É vedado aos sócios votar o laudo de avaliação do patrimônio da sociedade de que façam parte.
CC/02, Art. 1.121. Constituída a nova sociedade, aos administradores incumbe fazer inscrever, no registro
próprio da sede, os atos relativos à fusão.
d) CISÃO – operação pela qual a sociedade transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais
sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, podendo ocorrer ou não a sua extinção. Se for total,
a sociedade desaparece formando duas ou mais sociedades. Se for parcial, a sociedade continua existindo,
mas, parte dela ou se incorpora à outra sociedade que já existe ou forma uma nova sociedade.

12
Presume-se posição dominante sempre que uma empresa ou grupo de empresas for capaz de alterar
unilateral ou coordenadamente as condições de mercado ou quando controlar 20% (vinte por cento) ou mais
do mercado relevante, podendo este percentual ser alterado pelo Cade para setores específicos da economia.

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Lei 6.494/76, Art. 233. Na cisão com extinção da companhia cindida, as sociedades que absorverem parcelas
do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da companhia extinta. A companhia cindida
que subsistir e as que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações
da primeira anteriores à cisão.
Parágrafo único. O ato de cisão parcial poderá estipular que as sociedades que absorverem parcelas do
patrimônio da companhia cindida serão responsáveis apenas pelas obrigações que lhes forem transferidas,
sem solidariedade entre si ou com a companhia cindida, mas, nesse caso, qualquer credor anterior poderá se
opor à estipulação, em relação ao seu crédito, desde que notifique a sociedade no prazo de 90 (noventa)
dias a contar da data da publicação dos atos da cisão.
Como estas três últimas operações societárias podem prejudicar os direitos dos credores, o art. 1122 do
CC/02 assegura aos credores o direito de pedir a anulação destes atos no prazo de até 90 dias. Trata-se de
um prazo decadencial. Caso a sociedade deposite o seu valor (consignação em pagamento) ou garanta a sua
execução, fica obstada a pretensão anulatória, prosseguindo a ação de cobrança, pois a sociedade pode
reputar a dívida indevida.
Sendo ilíquida a dívida, a sociedade poderá garantir-lhe a execução, suspendendo-se o processo de
anulação.
Ocorrendo, no prazo deste artigo, a falência da sociedade incorporadora, da sociedade nova ou da cindida,
qualquer credor anterior terá direito a pedir a separação dos patrimônios, para o fim de serem os créditos
pagos pelos bens das respectivas massas. Observação: nas sociedades regidas pela Lei n. 6404/76, o prazo
para a anulação dessas operações societárias é de 60 dias.

UNIDADE V – RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

5.1 Direito falimentar

As principais finalidades do processo de falência são: (i) realização do concurso de credores; (ii) saneamento
do meio empresarial; e (iii) proteção do crédito público e, por consequência, da economia nacional.
Princípio da par condicio creditorum – os credores do devedor que não possui condições de saldar
integralmente todas as suas obrigações devem receber do direito um tratamento parificado, dando-se aos
que integram uma mesma categoriaiguais chances de efetivação de seus créditos.

5.2 Pressupostos da falência

- pressuposto material subjetivo: qualidade de empresário


- pressuposto material objetivo: insolvência jurídica ou presumida do devedor
- pressuposto formal: sentença

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A qualidade de empresário, porém, deve ser entendida em sentido amplo – trata-se do exercício de
atividade empresária, independentemente do registro, podendo-se incluir as sociedades não personificadas
e os empresários irregulares.

I. Agentes econômicos excluídos do regime falimentar


Art. 2º Esta Lei não se aplica a:
I – empresa pública e sociedade de economia mista;
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência
complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de
capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.
As seguradoras, as operadoras de plano saúde e as instituições financeiras estão normalmente
sujeitas à liquidação extrajudicial, conforme as leis especiais, mas o liquidante poderá requerer a falência
quando (i) o ativo não for suficiente para cobrir pelo menos metade do valor dos créditos quirografários ou
(ii) houver fundados indícios de crimes falimentares (art. 26, DL 73/66; art. 23, Lei 9.656/98; art. 21, b, Lei
6.024/74).
II. Pressuposto material objetivo: a insolvência do devedor
A doutrina costuma apontar que a insolvência do empresário, como pressuposto para a decretação da
falência, deve ser compreendida no seu sentido jurídico, definido pela própria legislação falimentar, e não no
seu sentido técnico/econômico (ativo < passivo).

5.3 Os sistemas de determinação da insolvência adotados pela Lei 11.101/05

O art. 94 da Lei, foram adotados dois sistemas: o da impontualidade e o da enumeração legal.

I. O sistema da impontualidade (inciso I):


A atual exigência do piso de 40 s. m. deixa teve por objetivo desestimular o uso da falência como meio de
cobrança. A lei permite que os credores se reúnam para somar seus créditos, a fim de que a soma ultrapasse
o piso legal art. 94, § 1º.
A única forma de demonstrar a impontualidade injustificada é o protesto do título. Se o título não comporta
o protesto cambial (título de crédito) – uma sentença ou um contrato, por exemplo – deve ser tirado o
protesto especial para fins de falência.
Tratando-se de cheque, o protesto é indispensável, mesmo que conste a declaração de devolução da
instituição financeira. Esta declaração substitui o protesto para fins cambiais, mas não substitui o protesto
para fins de falência.
Súmula 248 do STJ: Comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita, mas protestada, é título
hábil para instruir pedido de falência.
Súmula 361 do STJ: A notificação do protesto, para requerimento de falência da empresa devedora, exige
identificação da pessoa que a recebeu.

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II. O sistema da enumeração legal


Prática dos atos de falência, enumerados em rol taxativo constante dos incisos II e III do art. 94.

5.4 Procedimento pré-falimentar

A fase pré-falimentar vai do pedido de falência até a sua eventual decretação.

5.4.1 O pedido de falência

Se o pedido for lastreado na chamada execução frustrada, o art. 94 estipula que “o pedido de falência será
instruído com certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução”.
Se a base for a prática dos chamados atos de falência, o § 5º do art. 94 determina que “o pedido de falência
descreverá os fatos que a caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se as que serão
produzidas”.

5.4.2 O autor do pedido de falência

Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:


I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;
II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade;
IV – qualquer credor.
No que tange à autofalência (inciso I), a Lei impõe ao devedor a obrigação de a requerer, nos termos dos
arts. 105 a 107.
- Falência requerida por credor (inciso IV): ressalte-se que, se o credor também for empresário, deverá
instruir sua petição inicial com certidão da Junta Comercial que comprove a regularidade de suas atividades
(art. 97, § 1º):
- Credores com garantia real: No regime anterior, havia regra expressa limitando a legitimidade de tais
credores, uma vez que estes só poderiam requerer a falência se renunciassem à garantia real ou se
provassem que a mesma já não era mais suficiente. A atual legislação falimentar silenciou, razão pela qual se
entende que tal credor pode requerer a falência independentemente de qualquer circunstância.
- Legitimidade da Fazenda Pública: o STJ tem diversos precedentes (REsp 363206, 2010; REsp 287824, 2006)
no sentido de que a Fazenda não tem legitimidade para pedir a falência do devedor, uma vez que a mesma
possui meio próprio de cobrança (execução fiscal). Ademais, no caso de crédito tributário, este não se
sujeita ao regime de concurso universal (arts. 186 e 187 do CTN).

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5.4.3 O foro competente da ação falimentar

A competência é do local do principal estabelecimento do devedor (ou da filial, se a empresa tiver sede fora
do Brasil) – art. 3º da Lei.
Para o direito falimentar, a correta noção de principal estabelecimento está ligada ao aspecto econômico:
local onde o devedor concentra o maior volume de negócios. Neste sentido, STJ. Esta competência é
absoluta.

5.4.4 A resposta do devedor


O prazo previsto no diploma revogado (apenas 24 horas) foi aumentado pela nova lei para 10 dias (art. 98).
Pela literalidade da Lei não cabe elisão da falência nos casos dos atos de falência descritos no inciso III do
art. 94 da Lei (atos de falência em sentido estrito).

5.4.5 A sentença que denega a falência

A sentença denegatória da falência pode se basear em dois fundamentos: improcedência do pedido ou


realização do depósito elisivo.
Se o pedido for julgado improcedente e houver dolo do autor que requereu indevidamente a falência,
caberá indenização ao devedor (art. 101). A exigência de caução ao credor estrangeiro serve para garantir
essa eventual indenização.
No caso do depósito elisivo, a sentença denegatória, apesar de não decretar a falência, representará a vitória
do autor e a sucumbência do devedor.
Contra a sentença denegatória, cabe apelação (art. 100).

5.4.6 A sentença que decreta a falência

Tal sentença é o ato inicial do processo falimentar, uma vez que o procedimento que vai do pedido de
quebra até a sua efetiva decretação é denominado de pré-falimentar.
Desta decisão, cabe agravo (art. 100).
A sentença que decreta a falência tem natureza evidentemente constitutiva.

5.4.7 O termo legal da falência (art. 99, inciso II):

A fixação do termo legal delimita um lapso temporal (também denominado de período suspeito)
imediatamente anterior à decretação da falência, que será investigado pelos credores do devedor.
- Poder geral de cautela do juízo falimentar – na sentença de quebra, o juiz “determinará as diligências
necessárias para salvaguardar os interesses das partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do

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falido ou de seus administradores quando requerida com fundamento em provas da prática de crime
definido nesta Lei” (art. 99, VII).

5.5 O processo falimentar

5.5.1 A instauração do juízo universal da falência

O juízo universal, nas palavras de Fábio Ulhoa, é a aptidão atrativa do juízo falimentar, ao qual a lei conferiu
a competência para conhecer e julgar todas as medidas judiciais de conteúdo patrimonial referentes ao
falido ou à massa falida.
Exceções ao juízo universal (Fábio Ulhoa):
- ações não reguladas pela Lei de Falências de que seja autora ou litisconsorte ativa a massa falida;
- as que demandam quantia ilíquida (art. 6º, §1º), até que o valor devido seja devidamente apurado e
liquidado;
- as execuções fiscais. A execução fiscal contra a massa falida não se suspen
de (STJ);
- as ações trabalhistas. Cabe à própria Justiça do Trabalho processar e julgar a ação, até que seja definido e
liquidado o respectivo crédito. Somente então se deve submeter esse crédito ao juízo falimentar.
- O art. 109, I, CRFB, exclui expressamente a possibilidade de falência na Justiça Federal, ainda que haja
interesse da União, entidade autárquica ou empresa pública federal.

5.5.2 O tratamento dado às execuções com atos de constrição já realizados

A antiga legislação falimentar continha regra específica sobre o assunto. Em seu art. 24, § 1º, dispunha que
“as ações ou execuções individuais dos credores, sob direitos e interesses relativos à massa falida, inclusive
as dos credores particulares de sócio solidário da sociedade falida, ficam suspensas, desde que seja
declarada a falência até o seu encerramento. §1º - Achando-se os bens já em praça, com dia definitivo para
arrematação, fixado por editais, far-se-á esta, entrando o produto para a massa. Se, porém, os bens já
tiverem sido arrematados ao tempo da declaração da falência, somente entrará para a massa a sobra, depois
de pago o exeqüente.” O STJ seguia a disposição legal.
A atual legislação, todavia, não contém regra específica. O autor André Luiz Santa Cruz Ramos entende que
deve se manter a mesma orientação da legislação anterior. Corroborando o seu entendimento, cita acórdão
do STJ (CC 56347/PR, DJ 08.02.2006), proferido já na vigência da nova lei.

5.5.3 A atuação do Juiz

O juiz da falência possui funções de cunho jurisdicional e também funções de cunho administrativo.

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5.5.4 A participação do Ministério Público

A nova legislação falimentar reduziu sobremaneira a atuação do MP no processo falimentar. Não há mais
qualquer obrigatoriedade de participação do MP na fase pré-falimentar, o que vem sendo aceito pela
jurisprudência.
Nas fases falimentar e pós-falimentar, a lei determina expressamente a participação do parquet em algumas
hipóteses. A sentença que decretar a falência deverá ordenar a intimação do MP (art. 99, XIII). O MP
também atua nos casos em que há indícios de responsabilidade penal do devedor (art. 22, § 4º) ou em que
for determinada a alienação de bens do devedor (art. 142, § 7º).

5.5.5 O administrador judicial

Representante legal da massa falida, considerado funcionário público para fins penais.
O art. 21 da Lei prevê que será “profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador
de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada”. Suas atribuições são várias, enumeradas no art.
22. O administrador responde a título de dolo ou culpa por prejuízos causados.
A remuneração do administrador judicial e dos seus auxiliares é considerada crédito extraconcursal (art. 84,
I)

5.5.6 Assembleia Geral de Credores

A Assembleia Geral de Credores é órgão de existência obrigatória, cumprindo-lhe a representação máxima


dos credores, deliberando a respeito das matérias que possam afetar os interesses destes.
Não confundir com o Comitê de Credores, que é órgão facultativo que poderá ser instituído pela Assembleia,
vocacionado para a fiscalização e composto por representantes de cada classe.
Nos termos do art. 38, na Assembleia Geral, o voto do credor será proporcional ao valor de seu crédito
(exceto no que se refere especificamente aos credores trabalhistas nas deliberações sobre o plano de
recuperação judicial – nesse caso a aprovação é por maioria dos presentes, independentemente do valor).

5.6 Efeitos da falência

Efeitos quanto à pessoa do devedor


1º) Dissolução da sociedade. Haverá o encerramento da atividade empresarial e a consequente liquidação
do patrimônio social para o posterior pagamento dos credores.
2º) Os membros que compõem a sociedade empresária falida também serão atingidos. No caso de
sociedade em que a responsabilidade dos sócios é ilimitada, os efeitos são os mesmos daqueles em relação à
sociedade falida (art. 81). Em se tratado de sociedade em que os sócios respondem de forma limitada, eles

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em princípio não se submetem aos efeitos da falência. No entanto, caberá ao juízo da falência apurar
eventual responsabilidade.

5.6.1 Efeitos da falência quanto aos bens do devedor

Os bens atingidos pela instauração da execução concursal, em princípio, são os bens da sociedade, e não os
dos sócios que a integram. Mas ainda que se trate de sociedade limitada, os sócios podem excepcionalmente
ter seu patrimônio pessoal atingido (art. 82 da Lei).
É efeito específico da falência a arrecadação de todos os bens do devedor, com exceção dos absolutamente
impenhoráveis (art. 108, § 4º).
A arrecadação os bens será formalizada através da lavratura do auto de arrecadação (art. 110), o qual será
composto do inventário e do laudo de avaliação dos bens.

5.6.2 Efeitos da falência quanto às obrigações do falido

Art. 116. A decretação da falência suspende:


I – o exercício do direito de retençãosobre os bens sujeitos à arrecadação, os quais deverão ser entregues
ao administrador judicial;
II – o exercício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas quotas ou ações, por parte dos
sócios da sociedade falida.
Art. 77. A decretação da falência determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios
ilimitada e solidariamente responsáveis, com o abatimento proporcional dos juros, e converte todos os
créditos em moeda estrangeira para a moeda do País, pelo câmbio do dia da decisão judicial, para todos os
efeitos desta Lei.
Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência, previstos em
lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores subordinados.
Parágrafo único. Excetuam-se desta disposição os juros das debêntures e dos créditos com garantia real, mas
por eles responde, exclusivamente, o produto dos bens que constituem a garantia.

5.6.3 Efeitos da falência sobre os contratos do falido

Ao contrário do que se possa imaginar, os contratos do devedor falido não se extinguem de pleno direito
em razão da decretação da falência.
Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser cumpridos pelo administrador
judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à
manutenção e preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
Se o administrador judicial resolver não cumprir, resolver-se-á em perdas e danos.

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Art. 118. O administrador judicial, mediante autorização do Comitê, poderá dar cumprimento a contrato
unilateral se esse fato reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à
manutenção e preservação de seus ativos, realizando o pagamento da prestação pela qual está obrigada.
As regras dos arts. 117 e 118 são excepcionadas quando o contrato possuir a chamada cláusula de resolução
por falência.

5.6.4 Efeitos da falência quanto aos credores do falido

A reunião dos credores forma a denominada massa falida subjetiva (corpus creditorum).

5.6.5 Efeitos da falência quanto aos atos do falido

Uma das principais medidas adotadas pelo juízo falimentar, na decretação da falência, é definir o termo
legal da falência, a partir do qual se analisarão os atos tomados pelo devedor durante o período suspeito.
A sentença “fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa) dias contados
do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do 1º (primeiro) protesto por falta de
pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados” (art. 99, II).
- Ineficácia versus nulidade
Os atos referidos pela Lei de Falências como ineficazes diante da massa falida produzem, amplamente, todos
os efeitos em relação aos demais sujeitos de direito.
A consequência que a Lei atribui, tanto para os atos do art. 129 (atos objetivamente ineficazes) como para
os atos do art. 130 (atos subjetivamente ineficazes) é a ineficácia perante a massa, ou seja, trata-se de atos
válidos, mas que não produzem efeitos jurídicos perante a massa.
- Dos atos do falido OBJETIVAMENTE ineficazes perante a massa
O reconhecimento de sua ineficácia independe da demonstração de fraude do devedor ou de conluio com
o terceiro que com ele contratou.
Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de
crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal, por qualquer meio
extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;
II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por qualquer forma que
não seja a prevista pelo contrato;
III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo legal, tratando-se de
dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa
falida receberá a parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada;
IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência;

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VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de


todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o
seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem
devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos;
VII – os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por título oneroso ou
gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a decretação da falência, salvo se tiver havido
prenotação anterior.
Parágrafo único. A ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada
mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo.

Assim, observa-se que a ação revocatória está hoje adstrita às hipóteses de ineficácia subjetiva.
- Dos atos do falido SUBJETIVAMENTE ineficazes perante a massa (revogáveis)
Art. 130. São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar credores, provando-se o conluio
fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa
falida.
Não obstante a Lei repita o erro do diploma anterior, falando em atos revogáveis, a verdade é que a
expressão não é técnica. De fato, não se trata de revogação, mas apenas de reconhecimento da ineficácia
do ato perante a massa.
Aqui, será necessário o ajuizamento da ação revocatória.
Art. 132. A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá ser proposta pelo administrador
judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 (três) anos contado da decretação da
falência.
Art. 133. A ação revocatória pode ser promovida:
I – contra todos os que figuraram no ato ou que por efeito dele foram pagos, garantidos ou beneficiados;
II – contra os terceiros adquirentes, se tiveram conhecimento, ao se criar o direito, da intenção do devedor
de prejudicar os credores;
III – contra os herdeiros ou legatários das pessoas indicadas nos incisos I e II do caputdeste artigo.
A revocatória corre perante o juízo universal da falência e segue o rito ordinário.

5.7 Procedimento de verificação e habilitação dos créditos

A Lei 11.101/2005, ao contrário do diploma anterior, previu a “desjudicialização” da habilitação (não precisa
de petição nos autos nem de advogado), nos seguintes termos:
Art. 7o. A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e
documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores,
podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas.
Art. 8o. No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7o, § 2o, desta Lei, o
Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público podem apresentar ao juiz

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impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se


contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado.
Enquanto a habilitação se faz perante o administrador judicial, a impugnação se faz perante o juiz, por meio
de petição, a qual será autuada em separado (art. 8º, § único) e processada conforme os arts. 13 a 15.
A perda do prazo para a habilitação do crédito não significa que o credor perdeu o direito de receber seu
crédito no processo falimentar. O art. 10 determina que as habilitações nesse caso sejam recebidas como
retardatárias, sofrendo os credores algumas restrições de direitos (parágrafos do art. 10).
Após todos os incidentes acima descritos, caberá ao administrador judicial consolidar, definitivamente, o
quadro-geral de credores, que será então homologado pelo juiz (art. 18).
O referido quadro poderá ser alterado, até o encerramento do processo falimentar, por meio de ação
própria (art. 19).

5.8 Os pedidos de restituição

O procedimento de arrecadação abrange tanto os bens de propriedade do devedor falido quanto os bens
que apenas se encontram na sua posse. Sendo assim, pode ser que a arrecadação atinja bens de terceiros.
(Exceção: Súmula 307 do STJ - A restituição de adiantamento de contrato de câmbio, na falência, deve ser
atendida antes de qualquer crédito)
- Súmula 417, STF – Pode ser objeto de restituição, na falência, dinheiro em poder do falido, recebido em
nome de outrem, ou do qual, por lei ou contrato, não tivesse ele a disponibilidade.
- Restituição relativa aos valores descontados pelo devedor no salário dos empregados a título de
contribuição social para o INSS: nos processos de falência, o INSS reivindicará os valores descontados pela
empresa de seus empregados e ainda não recolhidos (art. 51, parágrafo único, da Lei 8.212/91).Por outro
lado, no que tange aos valores relativos à contribuição social, devidos pelo falido a título de contribuinte,
deverá o INSS proceder da forma ordinária (execução fiscal).
- Valores de correntistas de instituições financeiras que eventualmente tenham a sua falência decretada
Entende o STJ (AgRg no REsp 509467/MG e REsp 492956) que os valores existentes em contas correntes
administradas por instituição financeira que tenha a sua falência decretada não podem ser restituídos, uma
vez que, com o depósito destes valores, ocorre a transferência da sua titularidade à instituição bancária,
ficando o correntista apenas com o direito ao crédito correspondente. Assim, no caso de falência, deverão
tais correntistas requerer habilitação de seu crédito, na classe de credores quirografários.

5.9 A realização do ativo do devedor


Art. 139. Logo após a arrecadação dos bens, com a juntada do respectivo auto ao processo de falência, será
iniciada a realização do ativo.
Art. 140. (...)
§ 2o A realização do ativo terá início independentemente da formação do quadro-geral de credores.

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5.9.1 Os procedimentos de venda dos bens

O legislador estabeleceu uma interessante ordem de preferência, sempre em atenção ao princípio da


preservação da empresa.
Art. 140. A alienação dos bens será realizada de uma das seguintes formas, observada a seguinte ordem de
preferência:
I – alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco;
II – alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas isoladamente;
III – alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do devedor;
IV – alienação dos bens individualmente considerados.
I. Modalidades típicas de venda
Art. 142. O juiz, ouvido o administrador judicial e atendendo à orientação do Comitê, se houver, ordenará
que se proceda à alienação do ativo em uma das seguintes modalidades:
I – leilão, por lances orais;
II – propostas fechadas;
III – pregão.
II. Modalidades atípicas de venda
Art. 144. Havendo motivos justificados, o juiz poderá autorizar, mediante requerimento fundamentado do
administrador judicial ou do Comitê, modalidades de alienação judicial diversas das previstas no art. 142
desta Lei.

5.9.2 Pagamento dos credores

A ordem de preferência de cada crédito vem prevista no art. 83 da Lei 11.101/2005.


É importante registrar que o pagamento destes credores somente se fará após procedidas as devidas
restituições e de pagos os créditos extraconcursais.
Ademais, antes mesmo das restituições e do pagamento dos créditos extraconcursais deverão ser pagas as
importâncias descritas nos arts. 150 e 151 da Lei.
Art. 150. As despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à administração da falência, inclusive
na hipótese de continuação provisória das atividades previstas no inciso XI do caput do art. 99 desta Lei,
serão pagas pelo administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa.
Art. 151. Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores à
decretação da falência, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo
haja disponibilidade em caixa.

5.9.3 Os créditos extraconcursais

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Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados
no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:
I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação do
trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da
falência;
II – quantias fornecidas à massa pelos credores;
III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como
custas do processo de falência;
IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida;
V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial, nos termos do
art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a
decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.
Consoante se afere do caput do art. 84, os créditos extraconcursais também obedecem a uma ordem de
preferência.

5.10 A classificação dos créditos concursais (art. 83)

1º) Os créditos trabalhistas e equiparados


I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por
credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho
Art. 85, § 14, do CPC-2015: “Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com
os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em
caso de sucumbência parcial”.
Art. 83, § 4º, da Lei de Falências: “Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados
quirografários”.

2º) Créditos com garantia real


II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
Trata-se de créditos não sujeitos a rateio, ou seja, nesses casos, o produto da venda do bem dado em
garantia real à dívida será usado para o pagamento do credor garantido, ressalvada, obviamente, a situação
dos credores extraconcursais, das restituições em dinheiro e dos credores trabalhistas e acidentários do
art. 151.
Caso o produto da venda não seja suficiente para o pagamento da dívida, o restante dela será classificado
como crédito quirografário.

3º) Os Créditos Fiscais


III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas
tributárias;

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A disciplina legal está em consonância com a alteração procedida pela LC nº 118/2005 no art. 186 do CTN.

4º) Créditos com privilégio especial


IV – créditos com privilégio especial, a saber:
a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;
Os créditos com privilégio especial, tal como os créditos com garantia real, possuem uma particularidade:
são créditos que não se sujeitam a rateio, ou seja, seu pagamento deve ser feito, preferencialmente, com o
produto da venda do bem sobre o qual recai o privilégio. Ressalte-se que esta particularidade não afasta a
observância irrestrita à ordem de classificação dos créditos e somente se efetivará após a satisfação dos
créditos previstos nos incisos I, II e III do art. 83.

5º) Créditos com privilégio geral


V – créditos com privilégio geral, a saber:
a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;

6º)Os créditos quirografários


VI – créditos quirografários, a saber:
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I
do caput deste artigo;

7º) As multas e penas pecuniárias


VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as
multas tributárias;
As multas tributárias, na lei anterior, não podiam ser cobradas no processo falimentar, conforme
entendimento jurisprudencial. Neste ponto, a Nova Lei de Falências inovou.

8º) Os créditos subordinados


VIII – créditos subordinados, a saber:
a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.

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São credores que se enquadram nessa categoria os titulares de debêntures subordinadas. Os créditos
subordinados titularizados pelos sócios da sociedade falida não correspondem aos valores de suas ações ou
quotas. Trata-se, por exemplo, de crédito decorrente de um empréstimo contraído pela sociedade junto ao
sócio. Os valores correspondentes às quotas ou ações, segundo o § 2º do art. 83 da Lei Falimentar, não são
oponíveis à massa.

5.11 Encerramento do processo falimentar

Concluída a realização do ativo e distribuição do produto, caberá ao administrador judicial apresentar suas
contas ao juiz no prazo de 30 dias.
O juiz ordenará a publicação de aviso de que as contas foram entregues e que poderão ser impugnadas em
10 dias.
Após, intima-se o MP para se manifestar em 5 dias.
Se houver impugnação, o administrador judicial será ouvido.
Cumpridas as diligências o juiz julgará as contas por sentença. Caberá apelação.
Após o julgamento das contas o administrador judicial apresentará relatório final em 10 dias, após o que o
juiz encerrará a falência por sentença, que será publicada por edital, contra a qual cabe apelação.
Art. 157. O prazo prescricional relativo às obrigações do falido recomeça a correr a partir do dia em que
transitar em julgado a sentença do encerramento da falência.

5.12 A extinção das obrigações do devedor falido

O encerramento da falência não significa, por si só, a extinção das obrigações do devedor falido. A extinção
de suas obrigações somente se verifica nos termos do art. 158:
Art. 158. Extingue as obrigações do falido:
I – o pagamento de todos os créditos;
II – o pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% (cinqüenta por cento) dos créditos
quirografários, sendo facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem se
para tanto não bastou a integral liquidação do ativo;
III – o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido
condenado por prática de crime previsto nesta Lei;
IV – o decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado do encerramento da falência, se o falido tiver sido
condenado por prática de crime previsto nesta Lei.
Art. 159. Configurada qualquer das hipóteses do art. 158 desta Lei, o falido poderá requerer ao juízo da
falência que suas obrigações sejam declaradas extintas por sentença.

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Da recuperação judicial
A recuperação judicial visa à preservação da empresa, prestigiando, assim, a sua função social.

5.13 Dos requisitos para o processamento da recuperação judicial

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente
suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as
responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter,há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
II - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano
especial de que trata a Seção V deste Capítulo; (Redação dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014);
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por
qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
§ 1º A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor,
inventariante ou sócio remanescente.
O empresário individual irregular e a sociedade irregular – chamada pelo CC de sociedade em comum –
não têm direito à recuperação judicial.
Tratando-se de sociedade empresária, será óbice ao deferimento de seu pedido a existência de sócios de
responsabilidade ilimitada que já tenham tido a sua falência decretada anteriormente ou que tenham
participado de outra sociedade que teve sua falência decretada.

5.14 Do deferimento do pedido de processamento de recuperação judicial

O deferimento do pedido de processamento da recuperação judicial não significa o mesmo que conceder a
recuperação judicial, o que somente ocorrerá em momento posterior.
Na lei anterior, prevalecia o entendimento jurisprudencial de que “é irrecorrível o ato judicial que apenas
manda processar a concordata preventiva”(Súmula 264 do STJ). No entanto, atualmente tem prevalecido
nos tribunais o entendimento de que referido “despacho” contem conteúdo decisório e merece ser
combatido por Agravo de Instrumento.
Há possibilidade de o juiz nomear como administrador judicial uma pessoa jurídica especializada. Na
recuperação judicial, a função a ser exercida pelo administrador judicial é quase a mesma exercida no
processo falimentar. A diferença é que, na falência, ele passa a administrar a empresa, enquanto na
recuperação, ele apenas fiscaliza os atos de administração praticados pelo devedor (empresário individual)
ou pelo gerente (no caso de sociedade empresária).
A decisão que deferir o processamento:

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II – determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas
atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, observando o disposto no art. 69 desta Lei;
III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6o desta Lei,
permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1 o, 2o
e 7o do art. 6o desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3o e 4o do art. 49 desta Lei;
Segundo o art. 6º, § 4º da Lei de Falências, a suspensão das ações e execuções nunca poderá exceder o
prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias, contados do deferimento do processamento da
recuperação judicial. Terminado o aludido prazo, os credores poderão iniciar ou continuar suas ações e
execuções, independentemente de pronunciamento judicial.
Eventuais pedidos de falência, ainda não julgados, serão suspensos e ficarão no aguardo do julgamento do
pedido de recuperação.
- Desistência do pedido (art. 52, § 4º):
§ 4o O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após o deferimento de seu
processamento, salvo se obtiver aprovação da desistência na assembléia-geral de credores.

5.15 Apresentação do plano de recuperação


Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no prazo improrrogável de 60
(sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de
convolação em falência (...)

5.15.1 Meios de recuperação judicial: rol exemplificativo do art. 50.


Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos
créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do
pedido de recuperação judicial.
Parágrafo único. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o
limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos
nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial.

5.16 Credores submetidos ao processo de recuperação judicial do devedor

Regra geral: art. 49, caput:


Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não
vencidos.
Exceções: §§ 3º e 4º do art. 49
§ 3o Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de
arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos
contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da
recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais,

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observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere
o § 4o do art. 6o desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital
essenciais a sua atividade empresarial.
§ 4o Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que se refere o inciso II do art. 86
desta Lei. (adiantamento de contrato de câmbio para exportação)

5.17 Verificação e habilitação dos créditos

A verificação e habilitação dos créditos seguem o mesmo procedimento do processo falimentar, já analisado
neste resumo.
Todavia, é importante ressaltar que o procedimento de verificação e habilitação dos créditos não é feito com
a finalidade de colocar os credores em ordem para recebimento dos seus créditos, mas somente para os
legitimar a participar da assembleia geral de credores.

5.18 A análise do plano de recuperação pelos credores e pelo juiz


Art. 55. Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de recuperação judicial no prazo de
30 (trinta) dias contado da publicação da relação de credores de que trata o § 2o do art. 7o desta Lei.
Se for apresentada alguma objeção por parte de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, “o juiz
convocará a assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano de recuperação” (art. 56).
Rejeitado o plano de recuperação pela assembleia-geral de credores, o juiz decretará a falência do devedor
(art. 56, §4º).
Todavia, há possibilidade de o juizconceder recuperação judicial mesmo se os credores rejeitarem o plano,
nos termos do § 1º do art. 58:
§ 1o O juiz PODERÁ conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação na
forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembleia, tenha obtido, de forma CUMULATIVA:
I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes à
assembleia, independentemente de classes;
II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso haja somente 2
(duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) delas;
III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos credores,
computados na forma dos §§ 1o e 2o do art. 45 desta Lei.
§ 2o A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1o deste artigo se o plano não
implicar tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver rejeitado.

5.19 Da concessão da recuperação judicial com o consentimento dos credores

Art. 57. Após a juntada aos autos do plano aprovado pela assembléia-geral de credores ou decorrido o prazo
previsto no art. 55 desta Lei sem objeção de credores, o devedor apresentará certidões negativas de débitos

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tributários nos termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário
Nacional.
Muitos autores criticam essa exigência da lei falimentar, destacando que em diversas ocasiões o passivo
tributário do devedor é justamente uma das razões de sua crise. Ademais, tem-se entendido que essa regra
só poderá ser aplicada quando for editada a lei específica que trata do parcelamento de crédito tributário
para devedores em recuperação. Nesse sentido, o CJF:
Enunciado 55 da I Jornada de Direito Comercial: “O parcelamento do crédito tributário na recuperação
judicial é um direito do contribuinte, e não uma faculdade da Fazenda Pública, e, enquanto não for editada
lei específica, não é cabível a aplicação do disposto no art. 57 da Lei n. 11.101/2005 e no art.191-A do CTN”.

5.20 A decisão que concede a recuperação judicial e seus efeitos

Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o
devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1 o do art.
50 desta Lei.
§ 1oA decisão judicial que conceder a recuperação judicial constituirá título executivo judicial, nos termos
do art. 584, inciso III, do caput da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
§ 2o Contra a decisão que conceder a recuperação judicial caberá agravo, que poderá ser interposto por
qualquer credor e pelo Ministério Público.

5.21 Os órgãos do processo de recuperação judicial

5.21.1 O administrador judicial

A relevância da atuação do administrador judicial depende do fato de ter sido ou não determinado o
afastamento dos administradores da empresa em processo de recuperação. Neste caso, caberá ao
administrador gerir os negócios da empresa em recuperação enquanto não for eleito o gestor judicial pela
assembleia geral de credores. O rol de atribuições do administrador judicial está previsto no art. 22, incisos I
e II.
Se o Comitê de Credores não for instalado, caberá ao administrador judicial desempenhar as suas funções.

5.21.2 Assembleia-geral de credores

Art. 41. A assembleia-geral será composta pelas seguintes classes de credores:


I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho;
II – titulares de créditos com garantia real;
III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados.

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5.21.3 O Comitê de Credores

Art. 26. O Comitê de Credores será constituído por deliberação de qualquer das classes de credores na
assembleia-geral e terá a seguinte composição:
I – 1 (um) representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com 2 (dois) suplentes;
II – 1 (um) representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou privilégios
especiais, com 2 (dois) suplentes;
III – 1 (um) representante indicado pela classe de credores quirografários e com privilégios gerais, com 2
(dois) suplentes.
IV - 1 (um) representante indicado pela classe de credores representantes de microempresas e empresas de
pequeno porte, com 2 (dois) suplentes. (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
§ 1º A falta de indicação de representante por quaisquer das classes não prejudicará a constituição do
Comitê, que poderá funcionar com número inferior ao previsto no caput deste artigo.
§ 2º O juiz determinará, mediante requerimento subscrito por credores que representem a maioria dos
créditos de uma classe, independentemente da realização de assembleia:
I – a nomeação do representante e dos suplentes da respectiva classe ainda não representada no Comitê; ou
II – a substituição do representante ou dos suplentes da respectiva classe.
§ 3º Caberá aos próprios membros do Comitê indicar, entre eles, quem irá presidi-lo.
Art. 27. O Comitê de Credores terá as seguintes atribuições, além de outras previstas nesta Lei:
I – na recuperação judicial e na falência:
a) fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial;
b) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei;
c) comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo aos interesses dos credores;
d) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos interessados;
e) requerer ao juiz a convocação da assembleia-geral de credores;
f) manifestar-se nas hipóteses previstas nesta Lei;
II – na recuperação judicial:
a) fiscalizar a administração das atividades do devedor, apresentando, a cada 30 (trinta) dias, relatório de
sua situação;
b) fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial;
c) submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipóteses previstas nesta
Lei, a alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e outras garantias, bem como
atos de endividamento necessários à continuação da atividade empresarial durante o período que antecede
a aprovação do plano de recuperação judicial.
§ 1º As decisões do Comitê, tomadas por maioria, serão consignadas em livro de atas, rubricado pelo juízo,
que ficará à disposição do administrador judicial, dos credores e do devedor.

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§ 2º Caso não seja possível a obtenção de maioria em deliberação do Comitê, o impasse será resolvido pelo
administrador judicial ou, na incompatibilidade deste, pelo juiz.
Art. 28. Não havendo Comitê de Credores, caberá ao administrador judicial ou, na incompatibilidade deste,
ao juiz exercer suas atribuições.

5.22 O encerramento do processo de recuperação judicial


Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o devedor permanecerá em recuperação judicial até
que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da
concessão da recuperação judicial.
§ 1o Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento de qualquer obrigação
prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência, nos termos do art. 73 desta Lei.
§ 2o Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições
originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente
praticados no âmbito da recuperação judicial.

5.23 Da convolação da recuperação judicial em falência


A convolação da recuperação em falência só tem lugar quando o descumprimento se dá dentro do prazo de
dois anos após a concessão da recuperação.
Se o descumprimento de alguma obrigação do plano ocorrer após esse prazo, não será o caso de convolar a
recuperação em falência, mas de o credor interessado executar a dívidaou requerer a falência do devedor
com base no art. 94, inciso III, alínea g, da Lei.
Vale ressaltar que não é apenas o descumprimento de obrigação assumida no plano que enseja a convolação
do processo de recuperação em processo falimentar.

5.24 Do plano especial de recuperação judicial das microempresas e empresas de pequeno


porte

Pela leitura do art. 70, § 1º, a submissão ao plano de recuperação especial é uma faculdade colocada à
disposição dos microempresários e dos empresários de pequeno porte.
A LC 147/2014 modificou a Lei 11.101/05, de modo que o plano especial agora passa a abranger todos os
créditos (excetuados apenas os decorrentes de repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos nos §§
3º e 4º do art. 49), e não apenas os créditos quirografários, como era antes (essa limitação era muito
criticada pela doutrina, que apontava que isso praticamente inviabilizava o plano especial).

Art. 71. O plano especial de recuperação judicial será apresentado no prazo previsto no art. 53 desta Lei e
limitar-se á às seguintes condições:
I - abrangerá todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os
decorrentes de repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos nos §§ 3º e 4º do art. 49;

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II - preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais, iguais e sucessivas, acrescidas de juros
equivalentes à taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC, podendo conter ainda a proposta
de abatimento do valor das dívidas;
III – preverá o pagamento da 1ª (primeira) parcela no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, contado
da distribuição do pedido de recuperação judicial;
IV – estabelecerá a necessidade de autorização do juiz, após ouvido o administrador judicial e o Comitê de
Credores, para o devedor aumentar despesas ou contratar empregados.
Parágrafo único. O pedido de recuperação judicial com base em plano especial não acarreta a suspensão
do curso da prescrição nem das ações e execuções por créditos não abrangidos pelo plano.
Quem aprova ou não é o juiz, não havendo convocação de assembleia geral de credores para tanto (art.
72).
O juiz também julgará improcedente o pedido de recuperação judicial e decretará a falência do devedor se
houver objeções, de credores titulares de mais da metade de qualquer uma das classes de créditos (art. 72, §
único).

Da recuperação extrajudicial

Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar com credores
plano de recuperação extrajudicial.

5.25 Requisitos legais da recuperação extrajudicial:

- exercício regular de atividade empresarial há mais de 2 anos (art. 48, caput);


- não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as
responsabilidades daí decorrentes (inciso I do art. 48);
- não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial (inciso II do art. 48);
- não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial
(inciso III do art. 48);
- não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por
qualquer dos crimes previstos nesta Lei (inciso IV do art. 48);
- O devedor não poderá requerer a homologação de plano extrajudicial, se estiver pendente pedido de
recuperação judicial ou se houver obtido recuperação judicial ou homologação de outro plano de
recuperação extrajudicial há menos de 2 (dois) anos (§ 3º do art. 161).

5.26 O plano de recuperação extrajudicial

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Art. 161, § 2º: O plano não poderá contemplar o pagamento antecipado de dívidas nem tratamento
desfavorável aos credores que a ele não estejam sujeitos.
Este dispositivo homenageia o princípio da par condicio creditorum.

5.27 Credores submetidos ao plano de recuperação extrajudicial

Não se submetem ao plano de recuperação extrajudicial, além dos credores previstos no art. 49, §§ 3º e 4º
(os quais também não se submetem aos efeitos da recuperação judicial), os titulares de créditos fiscais,
trabalhistas e acidentários.
Art. 161, § 1o: Não se aplica o disposto neste Capítulo a titulares de créditos de natureza tributária, derivados
da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho, assim como àqueles previstos nos arts. 49,
§ 3o, e 86, inciso II do caput, desta Lei.
Assim sendo, os credores que podem estar abrangidos pelo plano de recuperação extrajudicial são: a) os
com garantia real; b) os com privilégio especial; c) os com privilégio geral; d) os quirografários; e) os
subordinados.
Art. 161, § 4oO pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicialnão acarretará suspensão de
direitos, ações ou execuções, nem a impossibilidade do pedido de decretação de falência pelos credores não
sujeitos ao plano de recuperação extrajudicial.

5.28 O pedido de homologação do art. 162


Art. 162. O devedor poderá requerer a homologação em juízo do plano de recuperação extrajudicial,
juntando sua justificativa e o documento que contenha seus termos e condições, com as assinaturas dos
credores que a ele aderiram.
O pedido de homologação, neste caso do art. 162, é uma mera faculdade que a legislação confere ao
devedor. Afinal, se ele conseguiu a concordância dos credores, sua homologação é mera formalidade.
Art. 161, § 6o. A sentença de homologação do plano de recuperação extrajudicial constituirá título executivo
judicial, nos termos do art. 584, inciso III do caput, da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de
Processo Civil.

5.29 O pedido de homologação do art. 163


Art. 163. O devedor poderá, também, requerer a homologação de plano de recuperação extrajudicial que
obriga a todos os credores por ele abrangidos, desde que assinado por credores que representem mais de
3/5 (três quintos) de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos.
Neste caso (art. 163), o devedor tem que fazer o pedido de homologação do plano, se quiser obrigar os
credores que a ele não aderiram, devendo para tanto obter assinatura de 3/5 de cada espécie.

5.30 Procedimento do pedido de homologação


Art. 164. Recebido o pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial previsto nos arts. 162 e
163 desta Lei, o juiz ordenará a publicação de edital no órgão oficial e em jornal de grande circulação

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nacional ou das localidades da sede e das filiais do devedor, convocando todos os credores do devedor para
apresentação de suas impugnações ao plano de recuperação extrajudicial, observado o § 3o deste artigo.
§ 1oNo prazo do edital, deverá o devedor comprovar o envio de carta a todos os credores sujeitos ao plano,
domiciliados ou sediados no país, informando a distribuição do pedido, as condições do plano e prazo para
impugnação.
§ 2o Os credores terão prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação do edital, para impugnarem o plano,
juntando a prova de seu crédito.
§ 3o Para opor-se, em sua manifestação, à homologação do plano, os credores somente poderão alegar:
I – não preenchimento do percentual mínimo previsto no caput do art. 163 desta Lei;
II – prática de qualquer dos atos previstos no inciso III do art. 94 ou do art. 130 desta Lei, ou
descumprimento de requisito previsto nesta Lei;
III – descumprimento de qualquer outra exigência legal.
Ou seja, o § 3º limita a matéria a ser alegada nas impugnações.
§ 4o Sendo apresentada impugnação, será aberto prazo de 5 (cinco) dias para que o devedor sobre ela se
manifeste.
§ 5o Decorrido o prazo do § 4o deste artigo, os autos serão conclusos imediatamente ao juiz para apreciação
de eventuais impugnações e decidirá, no prazo de 5 (cinco) dias, acerca do plano de recuperação
extrajudicial, homologando-o por sentença se entender que não implica prática de atos previstos no art. 130
desta Lei e que não há outras irregularidades que recomendem sua rejeição.
Indeferido o pedido de homologação do plano extrajudicial, a Lei de Falência não previu como
consequência a decretação da falência do devedor. O indeferimento do pedido abre duas alternativas ao
devedor: a) interpor recurso de apelação, sem efeito suspensivo (§7º do art.164); b) apresentar novo pedido
de homologação, desde que a causa do indeferimento tenha sido o descumprimento de formalidades (§ 8º
do art. 164).
§ 7o Da sentença cabe apelação sem efeito suspensivo.
§ 8o Na hipótese de não homologação do plano o devedor poderá, cumpridas as formalidades, apresentar
novo pedido de homologação de plano de recuperação extrajudicial.

5.31 Efeitos da homologação do plano de recuperação extrajudicial


Art. 165. O plano de recuperação extrajudicial produz efeitos após sua homologação judicial.
Assim sendo, o plano de recuperação extrajudicial não pode, uma vez homologado, produzir efeitos
pretéritos, retroativos. Contudo, o § 1º já apresenta uma exceção à irretroatividade.
§ 1o É lícito, contudo, que o plano estabeleça a produção de efeitos anteriores à homologação, desde que
exclusivamente em relação à modificação do valor ou da forma de pagamento dos credores signatários.
§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, caso o plano seja posteriormente rejeitado pelo juiz, devolve-se aos
credores signatários o direito de exigir seus créditos nas condições originais, deduzidos os valores
efetivamente pagos.

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UNIDADE VI – CONTRATOS MERCANTIS

Contratos mercantis

Os contratos mercantis ou empresariais são entendidos como aqueles firmados entre empresários, no
exercício de atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Os contratos entre empresários podem eventualmente se submeter às regras do Código de Defesa do
Consumidor-CDC (Lei 8.078/90), bastando para tanto que um dos contratantes assuma a posição de
consumidor. Nesse viés, o STJ tem admitido a aplicação do CDC a relações entre empresários quando fica
caracterizada a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica de uma das partes. Os contratos empresariais
que não se enquadram nessa situação são chamados, segundo André Luiz Santa Cruz Ramos, de
estritamente empresariais.
Por outro turno, parte da doutrina comercialista critica a submissão de contratos cíveis e contratos
empresariais a uma mesma “teoria geral” no campo obrigacional, a ponto de ter iniciado um movimento em
defesa de um novo Código Comercial (PL 1.572/2011). Com efeito, os contratos empresariais se caracterizam
pela simetria natural entre os contratantes, não podendo, de acordo com Santa Cruz Ramos, serem
aplicadas a eles certas regras do Código Civil que limitam ou relativizam a imprescindível liberdade para a
celebração de contratos.
Nesse sentido, confiram-se os seguintes enunciados da I Jornada de Direito Comercial do CJF:
De toda sorte, desde sua formação, passando pela execução e até a sua definitiva resolução, o contrato
empresarial se submete a uma série de princípios norteadores, atualmente disciplinados pelo Código Civil:

Confere liberdade de contratar e a liberdade contratual, mas é


relativizado pelo dirigismo contratual (o contrato deve atender a sua
Autonomia da
função social e não pode contrariar preceitos de ordem pública).
vontade
OBS: Enunciado 21 da I Jornada (acima citado) e Enunciado 26 da I
Jornada de D. Comercial do CJF: “ O contrato empresarial cumpre sua
função social quando não acarreta prejuízo a direitos ou interesses,
difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não participantes da
relação negocial”

Atipicidade Trata-se de outra perspectiva da autonomia da vontade, segundo a qual


é lícito as partes celebrar contratos atípicos. Há maior liberdade quando
prevalece a atipicidade contratual. Nos contratos típicos, tais como
PRINCÍPIOS representação comercial e franquia, a liberdade contratual dos
CONTRATUAIS empresários diminui significativamente.

O mero acordo de vontades é suficiente para a formação dos contratos. É


excepcionado nos contratos solenes e reais.
Consensualismo

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O contrato só vale entre as partes (aspecto subjetivo) e não se estende


além de seu objeto (aspecto objetivo) – é relativizado pela boa-fé
objetiva.
Uma questão interessante acerca do princípio da relatividade se dá em
função da aplicação da chamada teoria da aparência.Segundo a teoria da
aparência, determinada situação pode gerar obrigações para terceiros
Relatividade quando o contratante, de boa-fé, tinha razões efetivas para tomá-la por
real. Essa teoria é mais comumente aplicada nas hipóteses de excesso
de mandato, continuação de fato de mandato findo, inobservância de
diretrizes do representado pelo representante etc. Orlando Gomes
admite até mesmo a responsabilização do empresário por atos
praticados por falso representante, quando a aparência de direito
poderia enganar um contratante médio. A teoria da aparência é cada
vez mais adotada pelo STJ como corolário da boa-fé objetiva.

As partes devem agir com probidade e todo contrato gera deveres


implícitos, decorrentes da sua própria natureza. A boa-fé objetiva foi
expressamente prevista no CC.
A propósito, não se deve fazer prevalecer, sobre a real intenção das
partes, apenas o que está eventualmente escrito no acordo firmado.
Boa-fé Enunciados das Jornadas de Direito Civil do CJF: O Enunciado 168 dispõe
que “o princípio da boa- fé objetiva importa no reconhecimento de um
direito a cumprir em função do titular passivo da obrigação.” Já o
Enunciado 169 prevê: “ O princípio da boa-fé deve levar o credor a evitar
o agravamento do próprio prejuízo”. O Enunciado 170, por sua vez,
dispõe: “a boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de
negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal
exigência decorrer da natureza do contrato.”
Especificamente quanto aos contratos empresariais, foi aprovado o
Enunciado 27 da I Jornada de D.Comercial do CJF: “Não se presume
violação à boa-fé objetiva se o empresário, durante as negociações do
contrato empresarial, preservar segredo de empresa ou administrar a
prestação de informações reservadas, confidenciais ou estratégicas, com
o objetivo de não colocar em risco a competitividade de sua atividade.”

As partes podem exigir, uma da outra, que cumpram a prestação


prometida. Mas esta é excepcionada pela cláusula “rebus sic stantibus”,
representadas pela teoria da imprevisão nos contratos comutativos. No
âmbito dos contratos empresariais, é temerária a utilização da teoria da
imprevisão. O STJ já negou a aplicação da teoria da imprevisão, em
contratos empresariais, em casos de variação cambial, bem como em
outras situações normais às atividades dos empresários.
Enunciados da I Jornada D. Comercial do CJF:
Enunciado 23. “Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes
estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação dos requisitos de
revisão e/ou resolução do pacto contratual.”
Enunciado 25. “A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada

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no Código Civil deve levar em conta a natureza do objeto do contrato.


Nas relações empresariais, deve-se presumir a sofisticação dos
contratantes e observar a alocação de riscos por eles acordada.”
OBS: Os contratos bilaterais contêm, implícita, a cláusula da “exceptio
Força obrigatória non adimpleti contractus”, pela qual uma parte não pode exigir o
cumprimento do contrato pela outra, se estiver em mora em relação à
sua própria prestação. Essa teoria pode ser aplicada aos contratos
empresariais. Nesse sentido, cite-se o Enunciado 24 da I Jornada D.
Comercial do CJF:
24. Os contratos empresariais coligados, concretamente formados por
unidade de interesses econômicos, permitem a arguição da exceção de
contrato não cumprido, salvo quando a obrigação inadimplida for de
escassa importância.

Por último, cabe acrescentar que a propalada socialização do contrato, provocada pelo CC/02, por meio da
consagração dos princípios da função social dos contratos e a boa-fé objetiva, tem dado ensejo à aplicação
da teoria do adimplemento substancial, inclusive no âmbito dos contratos empresariais, o que é criticado
por parte da doutrina (Santa Cruz Ramos).
OBS: Alguns autores dizem não haver mais contratos mercantis solenes, pois a dinâmica empresarial é
incompatível com a submissão de contratos a determinadas formalidades específicas. Outros apontam que
alguns contratos ainda são solenes, tal como o contrato de seguro.

Compra e venda mercantil

Com a entrada em vigor do Código de 2002, uma compra e venda é considerada mercantil a depender tão
somente da qualidade de empresário das partes contratantes. Destarte, é mercantil o contrato de compra
e venda celebrado entre empresários, ou seja, em que comprador e vendedor são empresários (empresários
individuais ou sociedade empresárias), com a ressalva já apontada quanto aos casos em que o empresário
comprador se enquadra no conceito de consumidor, hipótese em que terão incidência as normas especiais
do CDC.
os principais regramentos atinentes ao contrato de compra e venda mercantil são aqueles mesmos
dispostos no Código Civil.

Contratos de colaboração

O contrato de colaboração define-se por uma obrigação particular, em que um dos contratantes
(colaborador), assume, em relação aos produtos e serviços do outro (fornecedor), a obrigação de criação ou
ampliação do mercado. Segundo André Luiz Santa Cruz Ramos, seguindo a terminologia de Fábio Ulhoa
Coelho, os contratos de colaboração são contrato específicos destinados, especialmente, a falicitar o
comércio, aproximando o produtor do consumidor.

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Também de acordo com Santa Cruz Ramos, em todos os contratos de colaboração, há uma marca de
subordinação empresarial entre o colaborador e o colaborado. Destaque-se que essa subordinação é
empresarial, e não pessoal, representando a obrigatoriedade de o colaborador manter uma organização de
sua atividade seguindo padrões fixados pelo colaborado.
São comumente presentes nos contratos de colaboração cláusulas de exclusividade.

Comissão

A Comissão é o contrato em que uma pessoa (comissário) adquire ou vende bens, em seu próprio nome e
responsabilidade, mas por ordem e por conta de outrem (comitente), em troca de certa remuneração,
obrigando-se para com terceiros com quem contrata (CC, art. 693).13 As partes podem ser pessoas natural ou
jurídica.
Comissão é a remuneração calculada por meio de um percentual aplicado sobre as vendas. Não estipulada a
remuneração devida ao comissário, será ela arbitrada segundo os usos correntes no lugar (CC, art. 701).
Comissário ou comissionado é a pessoa que, em um negócio, age por ordem de outrem e recebe comissão
em decorrência da prática do ato. Quanto a essas determinações e ordens a serem cumpridas, salvo
disposição em contrário, pode o comitente, a qualquer tempo, alterar as instruções dadas ao comissário,
entendendo-se por elas regidos também os negócios pendentes. Comitente é a pessoa que encarrega outra
(comissário) de fazer qualquer ato, mediante o pagamento de uma comissão.
O comissário obriga-se, portanto, perante terceiros em seu próprio nome, figurando no contrato como
parte. Neste, em geral não consta o nome do comitente, porque o comissário age em nome próprio14.
Embora o comissário desempenhe sua atividade em seu próprio nome, não tem liberdade absoluta. Está ele
obrigado a agir de conformidade com as ordens e instruções do comitente. Na hipótese de não dispor das
orientações e determinações do comitente, ainda assim, não poderá agir arbitrariamente, devendo nestes
casos, proceder segundo os usos em casos semelhantes.
Ainda quanto à conduta do comissário, além da evidente obrigação de não praticar atos ilícitos no exercício
de sua atividade, deverá, no desempenho das suas incumbências, agir com cuidado e diligência, não só para
evitar qualquer prejuízo ao comitente, mas ainda para lhe proporcionar o lucro que razoavelmente se podia
esperar do negócio. Assim, responderá o comissário, salvo motivo de força maior, por qualquer prejuízo que,
por ação ou omissão, ocasionar ao comitente.
Por outro lado, como regra, o comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem tratar,
exceto em caso de culpa ou se do contrato de comissão constar a cláusula del credere (responderá o
comissário solidariamente com as pessoas com que houver tratado em nome do comitente, caso em que,
salvo estipulação em contrário, o comissário tem direito a remuneração mais elevada, para compensar o
ônus assumido, na forma prevista no art. 698 do CC).
Sobre o tema, cabe citar o Enunciado 68 da II Jornada de Direito Comercial do CJF: ”No contrato de
comissão com cláusula del credere, responderá solidariamente com o terceiro contratante o comissário que
tiver cedido seus direitos ao comitente, nos termos da parte final do art. 694 do Código Civil.”

13
Diniz (2003:383)
14
Entretanto, segundo Venosa, pode haver interesse mercadológico na divulgação do comitente, como
fator de dinamização das vendas ou negócios em geral.

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Parte da doutrina entende que a comissão é um mandato sem representação, considerando que o
comissário negocia em seu próprio nome, embora à conta do comitente.
O contrato de comissão é bilateral, consensual, oneroso e não solene.
A remuneração poderá ser parcial obedecendo a critérios proporcionais. No caso de morte do comissário,
ou, quando, por motivo de força maior, não puder concluir o negócio, será devida pelo comitente uma
remuneração proporcional aos trabalhos realizados (CC, art.702). Havendo rescisão do contrato, ainda que
tenha dado motivo à dispensa, terá o comissário direito a ser remunerado pelos serviços úteis prestados ao
comitente, ressalvado a este o direito de exigir do comissário eventuais prejuízos provocados por ele.
Se houver a RESCISÃO DO CONTRATO (dispensa do comissário) sem justa causa, o comitente terá direito a
ser remunerado pelos trabalhos prestados, bem como a ser ressarcido pelas perdas e danos resultantes de
sua dispensa.
No que se refere à movimentação financeira entre os dois quanto à exigência de juros, assemelha-se ao
contrato de mútuo com finalidade econômica. Assim, segundo o artigo 706 do CC, o comitente e o
comissário são obrigados a pagar juros um ao outro; o primeiro pelo que o comissário houver adiantado
para cumprimento de suas ordens; e o segundo pela mora na entrega dos fundos que pertencerem ao
comitente. Destaque-se ainda que, para reembolso das despesas feitas, bem como para recebimento das
comissões devidas, tem o comissário direito de retenção sobre os bens e valores em seu poder em virtude
da comissão. Por fim, são aplicáveis à comissão, no que couber, as regras sobre mandato (CC, artigos 798 e
709).

Representação comercial

A representação comercial autônoma é modalidade especial de contrato de colaboração em que o


colaborador, chamado de representante, assume a incumbência de obter pedidos de compra e venda para
os produtos comercializados pelo representado. Trata-se de contrato que possui regulamentação legal
específica na forma da Lei nº 4.886/1965, que sofreu relevantes alterações provocadas pela Lei nº
8.420/1992.
André Luiz Santa Cruz Ramos considera a representação comercial e a agência (arts. 710 a 721 do CC) como
uma mesma figura contratual, mas parte da doutrina distingue esses contratos, entendendo que a agência
seria modalidade contratual de maior amplitude, que englobaria qualquer contrato firmado com pessoa que
exerça a intermediação com habitualidade, como, por exemplo, o caso de agentes de atletas ou artistas.
Para a doutrina que faz distinção:

Representação Agência Distribuição

O representante realiza a mediação O agente realiza a mediação de O distribuidor tem


de contratos mercantis certos negócios (não mercantis), não disponibilidade/ posse da coisa.
tendo, contudo, disponibilidade
sobre o que será negociado

Lei 4.886/65 Aplica-se o CC (arts. 710 e s) Aplica-se o CC (arts. 710 e s)

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Noutras palavras, a representação comercial é a intermediação de negócios mercantis, ou seja, a prestação


de serviços direcionada a angariar pedidos, em benefício da empresa que contatou este serviço. Não é a
venda nem a compra de mercadorias. Assim, o representante é especializado em vender, no atacado, os
produtos do representado.
Ao firmar o contrato de representação comercial, escrito ou verbal, o representante comercial assume a
obrigação de bem e fielmente atender as determinações do representado. Os contratos constituem lei entre
as partes, e são válidas todas as cláusulas que não infrinjam a lei.
A Lei nº 4.886/1965 traz em seu art. 1º o conceito de representante comercial autônomo, como sendo a
pessoa física ou jurídica, sem relação de emprego, que desempenha em caráter não eventual, por conta de
uma ou mais pessoas, a mediação para realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou
pedidos, para, transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos
negócios.
O contrato de representação comercial deve prever as condições e requisitos da representação, indicação
dos produtos ou artigos, prazo do contrato, praça de representação, a comissão, o modo e a periodicidade
do pagamento, obrigações e responsabilidades das partes e a indenização do representante pela rescisão
sem justa causa.
Note-se que a representação comercial não se confunde com o mandato, uma vez que o representante não
tem poderes para concluir os negócios em nome do representado. Cabe a este, em última análise, aprovar
ou não os pedidos de compra obtidos pelo representante.
Perceba-se também que não há nenhum tipo de relação empregatícia entre representante e representado,
ocorrendo apenas subordinação empresarial entre ambos. Caso haja subordinação pessoal, haverá um
contrato de trabalho ou de um contrato de prestação de serviços.
O STJ já decidiu não ser aplicável o CDC ao contrato de representação comercial.
Na representação comercial, a exclusividade pode ser:
● Exclusividade de zona geográfica: é presumida
● Exclusividade de representação (de outras marcas): não se presume
Em suma, a cláusula de exclusividade de zona geográfica, nos contratos de representação, é implícita. O STJ
já decidiu que essa cláusula deve ser observada até mesmo em contratos de representação comercial
verbais. No entanto, embora a cláusula de exclusividade de zona seja implícita (art. 31, caput, da Lei nº
4.886/1965), isso não ocorre com a cláusula de exclusividade de representação, o que significa que o
representante, salvo cláusula expressa em contrário, pode trabalhar para outro(s) representado (s) (art. (art.
31, parágrafo único, da Lei nº 4.886/1965).
OBS: Dispõe o art. 711 do CC/02 que, no contrato de agência, havendo omissão, haverá exclusividade da
zona geográfica e do agenciamento, cuidando-se de mais uma diferença entre a agência e a representação
para parte da doutrina.
O contrato de representação comercial pode ser rescindido pelo representado, afastando qualquer dever de
indenizar, por motivos justos: a desídia do representante no cumprimento das obrigações decorrentes do
contrato; a prática de atos que importem em descrédito comercial do representado; a falta de cumprimento
de quaisquer obrigações inerentes ao contrato de representação comercial; a condenação definitiva por
crime considerado infamante; força maior.
Outra preocupação específica da Lei foi estabelecer indenização devida em caso de resolução imotivada do
contrato de representação comercial. Assim, determina o art. 34 da Lei de regência: ”a denúncia, por

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qualquer das partes, sem causa justificada, do contrato de representação, ajustado por tempo
indeterminado e que haja vigorado por mais de seis meses, obriga o denunciante, salvo outra garantia
prevista no contrato, à concessão de pré-aviso, com antecedência mínima de trinta dias, ou ao pagamento
de importância igual a um terço (1/3) das comissões auferidas pelo representante, nos três meses
anteriores.” Interpretando a contrario sensu o dispositivo em questão, se o contrato era por tempo
indeterminado e vigorou por menos de seis meses, nenhuma indenização será devida em caso de resolução
motivada. No caso de contrato por tempo determinado, para obtenção do valor indenizatório, multiplica-se
a média mensal por metade dos meses que faltam para o fim do contrato.
O representante poderá ainda denunciar o contrato e reclamar a indenização quando o representado
praticar um dos atos enumerados no art. 36 da Lei (redução de esfera de atividade do representante em
desacordo com as cláusulas do contrato; a quebra, direta ou indireta, da exclusividade, se prevista no
contrato; a fixação abusiva de preços em relação à zona do representante, com o exclusivo escopo de
impossibilitar-lhe ação regular; o não-pagamento de sua retribuição na época devida; e força maior).
Registre-se que os créditos relativos às comissões do representante comercial autônomo são equiparados ao
crédito trabalhista no processo de falência. Por fim, destaque-se ser expressamente vedada a previsão da
cláusula del credere no contrato de representação comercial.

Concessão comercial

O contrato de concessão comercial é um contrato juridicamente inominado que, em traços gerais, se pode
descrever como aquele em que um comerciante independente (o concessionário) se obriga a comprar a
outro (o concedente) determinada quota de bens de marca, para revendê-los ao público em determinada
área territorial e, normalmente (mas nem sempre), com direito de exclusividade.
Em outras palavras, nesse contrato específico de colaboração, um empresário, o concessionário, assume a
obrigação de comercializar produtos fabricados por outro empresário, o concedente. Entre o concedente e o
concessionário estabelece-se uma relação jurídica duradoura, representando o dever de revenda o núcleo
central do contrato, agindo o concessionário em seu nome e por sua conta.
O contrato de concessão comercial, em regra, é atípico, não se enquadrando em nenhum dos contratos
legalmente previstos e não possuindo regulamentação legal própria, apesar da sua tipicidade social. Exceção
à atipicidade: concessão comercial relativa a veículos automotores terrestres disciplinada especialmente
pela Lei nº 6.729/79 (batizada de Lei Ferrari).
O contrato de concessão mercantil se caracteriza pelo fato de a subordinação empresarial ser um pouco
maior, havendo maior grau de ingerência na organização da atividade do concessionário. Com efeito, como,
por exemplo, é muito comum que o concessionário assuma a obrigação de prestar assistência técnica aos
consumidores do concedente, justifica-se um maior controle do concedente sobre a atuação do
concessionário.
Concedente e concessionário podem resolver o contrato de concessão comercial com base numa situação
de descumprimento das obrigações particularmente grave e reiterada, ou seja, numa atuação que, pela
natureza e persistência, seja suscetível de abalar a relação de confiança e cooperação que deve existir entre
contraentes, afetando, em suma, a subsistência do vínculo contratual (art. 30.º do DL n.º 178/86).
Logo, tem que haver como fundamento geral da resolução uma justa causa, um fato suscetível de impedir a
execução do fim de cooperação que o contrato se propõe e de alterar os resultados comerciais que uma das
partes podia legitimamente esperar da execução do negócio.

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As partes podem convencionar quaisquer fundamentos de resolução do contrato, para além dos legalmente
enumerados, desde que desses fundamentos resulte uma situação de ruptura do vínculo contratual.
A resolução sem fundamento do contrato de concessão comercial por parte do concedente faz incorrer este
na obrigação de indenizar o concessionário nos termos gerais, seja pelos benefícios que deixou de obter
com a cessação imotivada do negócio (lucros cessantes), seja pelos prejuízos que esta ocasionou (danos
emergentes).
OBS:
1) Para o STJ, por envolver pessoas jurídicas da parte negocial, a cláusula de eleição de foro deve prevalecer
em contratos de concessão de veículos automotores celebrado entre concessionária e montadora.
2) O STJ já decidiu, mais de uma vez, que concedente e concessionária são solidariamente responsáveis
perante o consumidor

Franquia / Franchising

Dispõe o art. 2º da Lei 8.955/94: “franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao
franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou
semiexclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, ao direito de uso da tecnologia implantação e
administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos pelo franqueado [...]”
O contrato de franquia envolve: a) licença de uso de marca ou patente; b) distribuição exclusiva ou
semiexclusiva de produtos ou serviços; e c) transferência de “know how” – conhecimento técnico.
Para parte da doutrina, os itens “b” e “c” podem ser resumidos em organização empresarial. A propósito, o
franqueador presta ao franqueado serviços de organização empresarial, que se desdobram basicamente em
três contratos específicos: i) engineering, por meio do qual o franqueador orienta o franqueado em todo o
processo de montagem e planejamento do seu estabelecimento; ii) management, mediante o qual o
franqueador orienta o franqueado no treinamento de sua equipe de funcionários e na gerência de sua
atividade; iii) marketing, por meio do qual o franqueador orienta o franqueado quanto aos procedimentos
de divulgação e promoção dos produtos comercializados.
No contrato em questão, há, portanto, duas figuras: o franqueador (titular da franquia) e o franqueado.
Tanto o franqueador como o franqueado serão um empresário individual uma sociedade empresária.
O art. 6º da Lei 8.955/94 estabelece que o contrato franquia deve ser celebrado por escrito e assinado na
presença de duas testemunhas. Terá validade independentemente de ser levado a registro perante
cartório ou órgão público, mas só produzirá efeitos perante terceiros se for registrado no INPI (art. 211 da
lei 9.279/96 – Lei de Propriedade Industrial).
Na franquia, existe um documento muito importante:
Circular de Oferta de Franquia- COF: é um documento semelhante a uma proposta. Nele estão contidas as
informações úteis e indispensáveis para que se conheça a franquia. Só depois de conhecer esse documento,
o franqueado deverá pagar algum tipo de taxa de filiação ou royalties. A COF deve ser realizada por escrito
e em linguagem acessível; as informações que nela constam estão previstas no art. 3º da lei.
O candidato a franqueado tem um prazo de reflexão sobre a assinatura d a franquia (10 dias), contados do
recebimento da circular de oferta de franquia – art. 4º. Aliás, a circular só pode ser assinada depois de 10
dias do recebimento desta circular, sob pena de anulabilidade, a qual, contudo, só pode ser invocada pelo

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franqueado. Além disso, a anulação provoca a devolução de todas as parcelas até então pagas, corrigidas
pelo índice da caderneta de poupança. Devem ser pagas também perdas e danos.
O contrato de franquia não provoca vínculo empregatício entre franqueador e franqueado e tampouco
entre franqueador e empregados do franqueado. O TST decidiu ser inaplicável sua Súmula 331, IV, para um
contrato de franquia Isso significa que o franqueador não tem responsabilidade solidária ou subsidiária
pela dívida trabalhista do franqueado.

Distribuição

O contrato de distribuição é aquele em que uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos
de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos
negócios, em zona determinada, DISPONDO NESTE CASO O PRÓPRIO AGENTE DA COISA A SER NEGOCIADA
(essa disposição da coisa diferencia esse contrato do contrato de agência).
O parágrafo único do artigo 710 estabelece que o proponente pode conferir poderes ao agente para que
este o represente na conclusão dos contratos. Nesse caso, fica caracterizado o contrato de representação
comercial que é regulado pela Lei 4.886/65.
O agente atua como promotor de negócios em favor de uma ou várias empresas em determinada praça. Não
se trata de corretor, pois não conclui o negócio. Não é mandatário, nem procurador. O proponente pode
conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão dos contratos.
Forma Verbal: O STJ admitiu a sua comprovação, mesmo diante da complexidade desta espécie contratual15.
Conflito de interesses entre agente e proponente: Salvo ajuste, o proponente não pode constituir, ao
mesmo tempo, mais de um agente, na mesma zona, com idêntica incumbência; nem pode o agente assumir
o encargo de nela tratar de negócios do mesmo gênero, à conta de outros proponentes.
O agente e o zelo no desempenho das funções: O agente, no desempenho que lhe foi cometido, deve agir
com toda diligência, atendo-se às instruções recebidas do proponente.
Gastos operacionais do agente ou distribuidor: Salvo estipulação diversa, todas as despesas com a agência
ou distribuição correm a cargo do agente ou distribuidor.
Garantia de remuneração do agente na sua zona: Salvo ajuste, o agente ou distribuidor terá direito à
remuneração correspondente aos negócios concluídos dentro de sua zona, AINDA QUE SEM A SUA
INTERFERÊNCIA. A remuneração será devida ao agente também quando o negócio deixar de ser realizado
por fato imputável ao proponente. Se o agente não puder continuar o trabalho por motivo de força maior,
terá direito à remuneração correspondente aos serviços realizados, cabendo esse direito aos herdeiros no
caso de morte.

15
(...) 2. Até o advento do CC/02, o contrato de distribuição era atípico, ou seja, sem regulamentação
específica em lei, de sorte que sua formalização seguia a regra geral, caracterizando-se, em princípio,
como um negócio não solene, podendo a sua existência ser provada por qualquer meio previsto em lei.
3. A complexidade da relação de distribuição torna, via de regra, impraticável a sua contratação verbal.
Todavia, sendo possível, a partir das provas carreadas aos autos, extrair todos os elementos necessários
à análise da relação comercial estabelecida entre as partes, nada impede que se reconheça a existência
do contrato verbal de distribuição. (...) (REsp 1255315/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 13/09/2011, DJe 27/09/2011)

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Indenizações: o agente ou distribuidor tem direito à indenização se o proponente, sem justa causa, cessar o
atendimento das propostas ou reduzi-lo tanto que se torna antieconômica a continuação do contrato.
Ainda que dispensado por justa causa, terá o agente direito a ser remunerado pelos serviços úteis prestados
ao proponente, sem embargo de haver este perdas e danos pelos prejuízos sofridos.
Se a dispensa se der sem culpa do agente, terá ele direito à remuneração até então devida, inclusive sobre
os negócios pendentes, além das indenizações previstas em lei especial.
Rescisão contratual: Se o contrato for por tempo indeterminado → qualquer das partes poderá resolvê-lo,
mediante aviso prévio de 90 (noventa) dias, desde que transcorrido prazo compatível com a natureza e o
vulto do investimento exigido do agente. No caso de divergência entre as partes, o juiz decidirá da
razoabilidade do prazo e do valor devido.
Regência supletiva: Não se aplicam analogicamente as leis 4.886/65 e 6.729/76, que disciplinam,
respectivamente, os contratos de representação comercial e as relações entre os produtores e distribuidores
de veículos aos contratos de concessão comercial; deve-se aplicar as normas de direito civil (REsp 513.048, j.
16.03.2010, 4ª T.) Aplicam-se ao contrato de agência e distribuição, no que couber, as regras concernentes
ao mandato (CC, artigos 653 a 692) e à comissão (CC, artigos 693 a 709) e as constantes de lei especial.

Contratos bancários impróprios

Adotando nomenclatura proposta por Fábio Ulhoa Coelho, são chamados de contratos bancários impróprios
algumas modalidades contratuais específicas sobre as quais divergem os doutrinadores acerca da sua real
natureza bancária típica. Em suma, esses contratos não seriam essencialmente bancários, ou seja, por seu
objeto não se inserir perfeitamente na noção de atividade bancária, eles não teriam que ter,
obrigatoriamente, uma instituição financeira em um dos polos da relação contratual. Trata-se dos seguintes
contratos: alienação fiduciária em garantia; faturização, arrendamento mercantil e cartão de crédito

Alienação fiduciária em garantia


De acordo com André Luiz Santa Cruz Ramos, o contrato de alienação fiduciária em garantia é o negócio
jurídico instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a propriedade resolúvel de um
determinado bem, ficando esta parte (instituição financeira em regra) obrigada a devolver àquela o bem que
lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de determinado fato. Diz-se que é instrumental porque, em
regra, é formalizado como um meio para a concretização de outro negócio principal. Assim, geralmente está
associado a um mútuo servindo-lhe de garantia16.
Segundo Flávio Tartuce, deve ficar claro, de início, que a alienação fiduciária em garantia não constitui um
contrato no sentido categórico e jurídico do termo, visto que o instituto se situa no Direito das Coisas, mas,
em geral, a alienação fiduciária é instituída por contrato no sentido de negócio ou instrumento negocial.
Constitui um direito real de garantia sobre coisa própria, pois se transfere a propriedade e o título de um
bem para o seu credor17. Isso significa que o credor passa a ser o proprietário até que a dívida seja paga.
Temos, aqui, um exemplo de propriedade resolúvel: quitada a dívida, extingue-se imediatamente a
propriedade.

16
,RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial. Salvador: Jus podivm, 2010. p. 559
17
Tartuce. Direito Civil. 2011, p. 967.

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A vantagem da alienação fiduciária é que, nela, a garantia é mais ampla, e a execução é mais rápida. Logo,
há um risco menor para o credor (o que reduz a taxa de juros, facilitando a obtenção de bens de consumo). É
a mais ampla de todas as garantias.
A disciplina legal dessa modalidade contratual, atualmente, não está concentrada em um único diploma
legislativo. Com efeito, tratando-se de alienação fiduciária de bens imóveis, aplica-se o disposto nos arts. 22
e 23 da Lei n. 9.514/97. Em se tratando, por outro lado, de alienação fiduciária em garantia no âmbito do
mercado financeiro de capitais, aplica-se o disposto no art. 66-B, da Lei n.4.728/65. Quanto à alienação
fiduciária em garanta de bens móveis, há ainda o Decreto-lei n. 911/69 (sofreu relevantes alterações trazidas
pela Lei Lei n.° 13.043/2014), que regula os aspectos processuais desse contrato e o CC, que em seus arts.
1361 a 1368, cuida da chamada propriedade fiduciária de bens móveis infungíveis.

Características da propriedade fiduciária

i. O credor fiduciário pode ser pessoa física ou jurídica


ii. Bipartição da posse ➔ Na alienação fiduciária, há um desdobramento/bipartição da posse. O credor
recebe a posse indireta, enquanto que o devedor se mantém com a posse direta. Destarte, todo contrato de
alienação fiduciária apresenta a cláusula constituti (constituto possessório): o credor fiduciário recebe
posse, embora não tenha contato físico com a coisa.
iii. Resolubilidade da propriedade fiduciária ➔ Cumprida a obrigação, extingue-se automaticamente a
propriedade fiduciária.
iv.Gera patrimônio de afetação (art. 53 da Lei 10.931/04) ➔ O bem fiduciário fica afetado ao cumprimento
da obrigação, estando imune à penhora tanto por parte de credores do devedor, quanto credores do credor.
A Lei de Falências reconhece expressamente a blindagem do patrimônio de afetação.
Contudo, nada impede que o capital destinado ao pagamento seja penhorado (o valor pago mensalmente).
OBS: Preconiza o art 1.365 do CC a nulidade absoluta textual da cláusula que autoriza o proprietário a ficar
com a coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no vencimento (vedação ao pacto comissório).
Entretanto, pode o devedor dar o seu direito em pagamento da dívida, após o seu vencimento. Flávio
Tartuce entende que essas normas se aplicam a qualquer modalidade de alienação fiduciária.

Objeto da alienação fiduciária

Pode se dar sobre bens móveis ou imóveis, inclusive bens já pertencentes ao devedor (súmula 28 do STJ).
Pressupõe sempre contrato escrito. Como o credor recebe a propriedade, o STJ entendia que esse direito
real não poderia recair sobre bens fungíveis. Isso não prevalece mais: o §3º do art. 66 da Lei 4.728/65,
modificado pela Lei n. 10.931/04, permite a alienação fiduciária sobre bens fungíveis.
A alienação fiduciária pressupõe registro no cartório de títulos e documentos, órgão de trânsito ou no
cartório de imóveis, a depender do seu objeto (Súmulas 92 do STJ e 489 do STF). Não havendo registro, a
consequência será a ineficácia em relação a terceiros. Na hipótese de veículo automotor, o STJ entende que
o registro no DETRAN supre a necessidade do registro no cartório de títulos e documentos, sendo que o
duplo registro afronta o princípio da razoabilidade.

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Pessoas físicas também podem ser credores fiduciários.

Aspectos processuais (busca e apreensão e reintegração de posse)

Havendo inadimplemento por parte do devedor, o credor tem a possibilidade de vender a terceiros o bem
objeto da propriedade fiduciária independente de leilão, hasta pública ou qualquer outra medida judicial ou
extrajudicial, devendo aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas de cobrança, e entregar o
saldo, se houver, ao devedor. Para o STJ, após a alienação extrajudicial do bem, fica afastada a
responsabilidade do fiador na hipótese em que ele não é cientificado desta venda, sendo do devedor
principal a obrigação de pagar o saldo restante.
Sob o ponto de vista processual, a alienação fiduciária confere ao credor fiduciário a ação de busca e
apreensão (quando se tratar de bem móvel) e reintegração de posse (quando se tratar de bem imóvel). Para
tanto, é necessária a constituição em mora do devedor fiduciário. Nesse caso, a mora é ex re (automática).
Todavia, a Súmula 72 do STJ dispõe que “a comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do
bem alienado fiduciariamente.” A necessidade de comprovar a mora não a torna ex persona, permanecendo
ela ex re.
No caso do DL 911/69, a notificação do devedor é feita por meio de carta registrada com aviso de
recebimento. Logo, não mais se exige que a carta registrada seja expedida pelo Cartório de Títulos e
Documentos. É dispensável que haja o protesto do título.
Essa foi uma das mudanças operadas pela Lei n.° 13.043/2014 no § 2º do art. 2º do DL 911/69. (Antes: O
credor deveria demonstrar a mora do devedor por duas formas, isto é, por carta registrada expedida por
intermédio de Cartório de Títulos e Documentos ou pelo protesto do título realizado pelo Tabelionato de
Protesto).
A Lei nº 13.043/2014 alterou o § 2º do art. 2º do DL 911/69, deixando expressamente previsto que não se
exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do próprio destinatário. Antes disso, a
jurisprudência do STJ já entendia que a notificação não precisava ser pessoal, bastando a entrega no
endereço do devedor.
Nos termos da Súmula 245 do STJ, a indicação do valor é dispensável na notificação que informa ao devedor
a sua mora (segundo a doutrina, essa súmula está em desacordo com a boa-fé objetiva).
Por fim, se o credor comprovar a mora, o juiz concederá uma liminar de busca e apreensão. Nesse aspecto, a
Lei nº 13.043/2014 alterou o caput do art. 3º do DL 911/69, deixando expressamente previsto que a
concessão liminar da busca e apreensão pode ocorrer no plantão judiciário.
Caso o bem seja localizado em comarca diferente da qual onde está tramitando a ação (ex: o processo
tramita em Belo Horizonte e o carro foi encontrado em Lavras), a parte interessada poderá requerer
diretamente ao juízo dessa comarca pedindo a apreensão do veículo, bastando que em tal requerimento
conste a cópia da petição inicial da ação e, quando for o caso, a cópia do despacho que concedeu a busca e
apreensão do veículo (§ 12 do art. 3º do DL 911/69, acrescentado pela Lei n.° 13.043/2014).
A apreensão do veículo será imediatamente comunicada ao juízo, que intimará a instituição financeira para
retirá-lo do local depositado no prazo máximo de 48 horas (§ 13 do art. 3º do DL 911/69, acrescentado pela
Lei n.°13.043/2014).
O devedor, por ocasião do cumprimento do mandado de busca e apreensão, deverá entregar o bem e seus
respectivos documentos (§ 14 do art. 3º do DL 911/69, acrescentado pela Lei n.° 13.043/2014).

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Muitas vezes, o bem dado em garantia é essencial à atividade empresarial (ex. caldeira de uma indústria,
carro em empresa de aluguel de carros). Nestes casos, o STJ tem entendido – Resp 318182/SP – pela
permanência da posse da devedora enquanto tramita a ação de busca e apreensão. A finalidade disso é o
princípio da preservação da empresa.
Com a entrada em vigor da Lei 10.931/2004, quando se tratar de busca e apreensão, cinco dias após
executada a liminar concedida ao credor, serão consolidadas a propriedade e a posse plena e exclusiva do
bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, quando for o caso, expedir
novo certificado de registro de propriedade em nome do credor. No prazo de cinco dias, o devedor
fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor
fiduciário na petição inicial da ação de busca e apreensão, hipótese na qual, o bem lhe será restituído livre
de ônus. O devedor apresentará resposta no prazo de 15 dias da execução da liminar.
A norma não menciona mais a possibilidade de purgação da mora (a redação antiga possibilitava e a Súmula
284 do STJ restringia a sua possibilidade às hipóteses em que eram pagos pelo menos 40 % do valor
financiado). Nessa esteira, segundo a jurisprudência do STJ, só é permitida a purgação da mora nos
contratos anteriores à vigência da Lei 10.931/2004, sendo a Súmula 284 do STJ válida apenas para esses
contratos.Todavia, Flávio Tartuce entende que a purgação está mantida, pois o art. 54, §2º do CDC admite
que os contratos de adesão tenham cláusula resolutiva, desde que a escolha caiba ao consumidor.
Registre-se também que a resposta do devedor fiduciante pode ser apresentada ainda que ele tenha quitado
a dívida apresentada pelo credor na petição inicial, desde que entenda ter havido pagamento a maior e
desejar a devida restituição.
Da sentença caberá apelação apenas no efeito devolutivo. Na sentença que decretar a improcedência do
pedido de busca e apreensão, o juiz condenará o credor fiduciário ao pagamento de multa, em favor do
devedor fiduciante, equivalente a cinquenta por cento do valor originalmente financiado, devidamente
atualizado caso o bem já tenha sido alienado. Se a referida multa for exagerada, cabe redução equitativa
prevista pelo art. 413 do CC.
A Lei n.° 13.043/2014 alterou o caput do art. 2º do DL 911/69, deixando expresso que o credor, após fazer a
alienação do bem, tem o dever de prestar contas ao devedor a fim de que este tenha ciência do valor que foi
apurado com a venda e possa fiscalizar para saber se sobrou algum saldo, já que tais recursos lhe
pertencem.
Se o bem alienado fiduciariamente não for encontrado ou não se achar na posse do devedor, o credor
poderá requerer, nos mesmos autos, a conversão do pedido de busca e apreensão em AÇÃO EXECUTIVA
(execução para a entrega de coisa) (art. 4º do DL 911/69, com redação dada pela Lei n.°13.043/2014).
Caso o credor tenha optado por recorrer à ação executiva, serão penhorados, a critério do autor da ação,
tantos bens do devedor quantos bastem para assegurar a execução (art. 5º do DL 911/69, com redação dada
pela Lei n.°13.043/2014).

Faturização (Factoring ou fomento mercantil)

Trata-se de um contrato por meio do qual o empresário transfere ao faturizador (que não precisa ser,
necessariamente, uma instituição financeira) as atribuições atinentes à administração do seu crédito. Em
síntese, orientando o empresário acerca da concessão do crédito a seus clientes, o faturizador antecipa o
valor dos créditos que o empresário possui (por um valor inferior ao que eles valem, aplicando o deságio)

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e assume o risco da inadimplência desses créditos. Segundo Santa Cruz Ramos, o contrato de factoring
serve ao empresário justamente para lhe permitir uma melhor organização do seu negócio.
A LC 123/06, no seu art. 17, traz o conceito do contrato de factoring: aquele que explora a atividade de
prestação cumulativa e contínua de serviços, assessoria creditícia, gestão de crédito, assunção de riscos,
administração de contas a pagar e receber, gerenciamento de ativos, compras de direitos creditórios
resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços. Apenas o conceito tem previsão legal,
não havendo, porém, legislação específica regendo a matéria, motivo pelo qual se aplicam ao contrato de
faturização as regras de cessão de crédito, previstas no art. 286 e seguintes do CC.
No contrato de faturização, encontram-se presentes : i) Faturizador, que é a empresa de factoring, pessoa
jurídica que não é uma instituição financeira e não precisa de autorização do BACEN para funcionamento;
ii) Faturizado, que é a empresa que vende seu faturamento para o faturizador. Dispõe o art. 296 do CC-02,
relativo à cessão de crédito, que o cedente não responde pela solvência do devedor. Por conta deste risco
maior (possível insolvência do devedor), a factoring não compra qualquer título, selecionando aqueles que
vai adquirir (seleção e riscos).
Diferença entre factoring e contrato bancário:

Factoring Desconto bancário

A empresa de factoring não é instituição financeira. É realizado por instituição financeira.

Quem transfere o título não responde pela sua Quem transfere o título responde pelo pagamento,
solvência. O risco é transferido ao faturizador, muito pois a transferência é feita por endosso.
embora, na prática, as faturizadoras exijam dos
faturizados o endosso dos títulos cedidos.

Modalidades

I. Factoring tradicional ou “conventional factoring”: o pagamento é antecipado. Há antecipação dos valores


referentes ao crédito do faturizado, motivo pelo qual a remuneração da faturizadora costuma ser mais
elevada.
II. Factoring de vencimento ou “maturity factoring”: não há antecipação de pagamento, o pagamento
ocorrerá no vencimento. Nessa hipótese, há apenas a prestação de serviços de administração do crédito.

Juros

Conforme orientação jurisprudencial do STJ, aplica-se aos contratos de factoring a limitação de juros de 12%
ao ano, prevista na Lei de Usura. É que o STJ entende que o factoring não possui, de acordo com a Lei
4.595/64, natureza de contrato bancário típico, razão pela qual, inclusive, as faturizadas não precisam de
autorização do BACEN para funcionamento nem lhes é aplicável a regra do dever de sigilo.

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Leasing ou arrendamento mercantil

Pode-se definir o contrato de arrendamento mercantil como um contrato especial de locação que assegura
ao locatário a prerrogativa de adquirir o bem alugado ao final da avença, pagando, nesse caso, uma
diferença chamada valor residual. Em síntese, trata-se de um contrato de locação com opção de compra no
momento final do contrato.
Não há lei específica que trate do arrendamento mercantil. Em realidade, ele é regulado pela Resolução
2309/96 do BACEN. A Lei nº 6.099/1974 regula apenas o seu aspecto tributário.
No contrato de leasing, encontram-se presentes: a) Arrendador, que é a empresa de leasing, a qual
necessariamente será uma sociedade anônima; b) Arrendatário, que pode ser qualquer um, seja pessoa
física ou jurídica (exceto no leasing de retorno).
O leasing pode ter por objeto tanto bens MÓVEIS quanto bens IMÓVEIS e esses bens podem ser de
fabricação nacional ou estrangeira, estes desde que autorizados pelo Conselho Monetário Nacional, nos
termos do art. 10 da Lei 6.099/74.

Opções do arrendatário

Ao final do contrato de leasing, o arrendatário possui 3 opções: i) Devolução do bem; ii) Renovação do
contrato de leasing; iii) Opção de compra, nesse caso, se o arrendatário fizer a opção de compra, é obrigado
a pagar VRG (valor residual garantido).
- COBRANÇA ANTECIPADA DO VRG
De início, o STJ entendia que a opção de compra deve ser feita ao final do contrato e, assim, momento em
que o VRG deveria ser cobrado. Se ele fosse cobrado desde o início do contrato, na verdade, não haveria
leasing, mas sim compra e venda em prestações. Esse foi o primeiro posicionamento do STJ (Súmula 263: “A
cobrança do valor residual (VRG) descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil, transformando-o em
compra e venda a prestação”).
Contudo, o STJ alterou seu posicionamento e cancelou a Súmula 263, substituindo-a pela Súmula 293:“A
cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento
mercantil”.Com esse enunciado, o STJ adotou os princípios da liberdade de escolha e da livre convenção
entre as partes.
Todavia, o STJ também entendeu que, caso não haja opção de compra ao final do contrato, a parte terá de
devolver o valor residual garantido pago antecipadamente. Segundo o tribunal, o prazo prescricional para
se pleitear essa devolução é o prazo geral de 10 anos, pois não se trata de pedido fundado na vedação do
enriquecimento sem causa, mas de restituição de quantia em razão do desfazimento de arrendamento
mercantil. (REsp 1.174.760. Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 1.12.2011, 3ª T)

Modalidades de leasing

I. Leasing financeiro

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Nesta modalidade, o arrendatário indica o bem ao arrendador, que o adquire perante o fornecedor e depois
realiza o contrato de arrendamento mercantil com o arrendatário. O leasing financeiro é a modalidade típica
de arrendamento mercantil. Traz as figuras de 3 atores intervenientes: a) arrendador(a); b) arrendatário; e c)
fornecedor.
De acordo com a Resolução sobre o leasing financeiro, neste contrato o valor total das parcelas deve ser
igual ao valor do bem + lucro para o arrendador.
II. Leasing operacional
Caracteriza-se pelo fato de o bem arrendado já ser da arrendadora (que, em regra, o fabrica), a qual apenas
aluga ao arrendatário, sem ter o custo inicial de aquisição do bem, comprometendo-se a prestar assistência
técnica. Há apenas 2 intervenientes: a) arrendador(a); e b) arrendatário.
No leasing operacional, o valor total das prestações, segundo a Resolução do BACEN, não pode ser superior
a 90% do valor do bem.
A vantagem dessa espécie de leasing reside na assistência técnica que, no leasing operacional, só pode ser
prestada pelo arrendador. É por meio da assistência técnica que ele consegue obter lucros.
III. Lease back ou leasing de retorno
Cuida-se de modalidade específica de leasing, em que o bem arrendado era de propriedade do arrendatário,
que o vende à arrendadora para depois arrendá-lo, podendo, obviamente, readquirir o bem ao final do
contrato, caso se utilize da opção de compra, pagando o valor residual.
Nessa modalidade de arrendamento mercantil, o arrendatário somente pode serpessoa jurídica. A sua
grande finalidade é a obtenção de capital de giro. O lease back é cabível em duas operações: a) compra e
venda; e b) dação em pagamento.
Nesta modalidade, ao final do contrato, o arrendatário tem as mesmas 3 opções já vistas.

Lease back ou Leasing de retorno Alienação fiduciária em garantia

Cuida-se, grosso modo, de uma locação com


É um contrato de aquisição de um bem; ele
opção de compra. Nem sempre o
instrumentaliza uma venda.
arrendatário quer adquirir o bem.

Havendo inadimplemento, utiliza-se de ação


Faz-se uso da busca e apreensão.
de reintegração de posse.

Cartão de crédito

Trata-se de contrato por intermédio do qual uma instituição financeira, a operadora do cartão, permite a
seus clientes a compra de bens e serviços em estabelecimentos comerciais cadastrados, que receberão os
valores da compra diretamente da operadora. Esta, por sua vez, cobra dos clientes mensalmente, o valor de
todas as suas compras realizadas em um determinado período. Chama-se, portanto, cartão de crédito o

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documento por meio do qual o cliente realiza a sua compra, apresentando-o ao estabelecimento comercial
cadastrado.
Nesses contratos, há necessáriamente três partes envolvidas:
a)Títular (ou usuário): é aquele que faz uso do cartão ao afetuar uma compra ou receber um serviço. O
titular recebe mensalmente do emissor uma relação das compras realizadas em que foi utilizado o cartão,
para que, em data preestabelecida, efetue o pagamento. Em caso de atraso, o emissor pode cobrar juros na
fatura do mês seguinte. É também possível que o titular pague apenas uma parte do valor, hipótese em que
a diferença será cobrada no vencimento do mês seguinte, evidentemente acrescida de juros.
b) Sociedade emissora (ou emissor): é uma instituição financeira, que se compromete a cobrar do titular do
cartão o crédito outorgado e a pagar o valor ao fornecedor do bem ou serviço. A maior parte do lucro do
emissor resulta de uma taxa percentual que ele cobra do fornecedor para cada pagamento feito, em razão
de lhe estar angariando cientela, garantindo o pagamento e assumindo o risco de não receber
posteriormente do titular. O emissor também cobra uma taxa de adesão do titular e, em regral, uma taxa a
título de anuidade.
c) Fornecedor: é o empresário que realiza contrato de filiação com a empresa emissora do cartão no sentido
de aceitar o uso deste sem acréscimo no preço dos produtos. O fornecedor receberá do emissor o montante
referente ao total de vendas realizadas com o cartão, sendo, evidentemente, descontada a comissão deste.
O fornecedor não pode recusar a venda aos portadores do cartão, salve se ele já estiver vencido ou se o
preço ultrapassar o limite. Também não poderá aumentar o preço em razão do uso do cartão.
Somente há relação de consumo na relação jurídica da operadora com seu cliente e na relação do cliente
com o estabelecimento comercial. Não há relação consumerista entre a operadora e o estabelecimento
comercial, conforme já decidiu o STJ.
A remessa de cartão de crédito a quem não o tenha solicitado constitui prática abusiva descrita
expressamente no art. 39, III, da Lei n. 8.078/90. Nesse sentido, preconiza a novel Súmula 532 do
STJ: “Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia e expressa solicitação do
consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa administrativa”.

ATENÇÃO!!!
O STJ analisou a validade do chamado sistema “credit scoring”, fixando as seguintes teses:
a) “Credit scoring”, também chamado de “credscore”, é um método desenvolvido para avaliação do risco
de concessão de crédito, a partir de modelos estatísticos, considerando diversas variáveis, com atribuição
de uma pontuação ao consumidor avaliado (nota do risco de crédito);
b) O “credit scoring” é considerado como prática comercial LÍCITA, estando autorizada pelo art. 5º, IV, e
pelo art. 7º, I, da Lei 12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo);
c) Vale ressaltar, no entanto, que para o “credit scoring” ser lícito, é necessário que respeite os limites
estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da máxima
transparência nas relações negociais, conforme previsão do CDC e da Lei 12.414/2011;
d) Apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado, devem ser a ele fornecidos
esclarecimentos, caso solicitados, acerca das fontes dos dados considerados (histórico de crédito), bem
como as informações pessoais valoradas;

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e) O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema “credit scoring” configura abuso no exercício
desse direito, podendo ensejar a responsabilidade objetiva e solidária do fornecedor do serviço, do
responsável pelo banco de dados, da fonte e do consulente pela ocorrência de danos morais nas hipóteses
de utilização de informações excessivas ou sensíveis, bem como nos casos de comprovada recusa indevida
de crédito pelo uso de dados incorretos ou desatualizados.

Contratos bancários

Contratos bancários são aqueles em que não apenas uma das partes é, necessariamente, um banco, mas
tambémque somente podem ser praticados com um banco, ou seja, são aqueles que configurariam
infração à lei caso fossem praticados com pessoa física ou jurídica não autorizada a funcionar como
instituição financeira. (Ulhoa, p. 452/453)
Operações típicas: as relacionadas com o crédito.
Operações atípicas: as prestações de serviços acessórios aos clientes, como a locação de cofres ou a
custódia de valores. Podem ser realizadas por outras sociedades empresárias que não necessariamente
bancos.
As operações típicas se subdividem em ativas e passivas.
a) Operações típicas ativas: o banco assume a posição de credor da obrigação principal.
b) Operações típicas passivas: o banco assume a posição de devedor da obrigação principal.
A diferença de receita nas operações ativas e as despesas nas passivas é o spread.
As operações creditícias oferecidas pelos bancos estão sujeitas à disciplina do CDC (arts. 3°, § 2° e 52)
(Súmula 297 do STJ). O STF também manifestou-se nesse sentido ao julgar a ADI 2591, em 7.06.2006, na
qual entendeu não haver conflito entre o regramento do sistema financeiro e a disciplina do consumo e da
defesa do consumidor, haja vista que, nos termos do disposto no art. 192 da CF, a exigência de lei
complementar refere-se apenas à regulamentação da estrutura do sistema financeiro, não abrangendo os
encargos e obrigações impostos pelo CDC às instituições financeiras, relativos à exploração das atividades
dos agentes econômicos que a integram — operações bancárias e serviços bancários —, que podem ser
definidos por lei ordinária. Nessa linha concluiu pela constitucionalidade do art. 3º do CDC que inclui no
conceito de serviço aquele abrangido pelas relações de consumo, as atividades de natureza bancária,
financeira, de crédito e securitária.
OBS: Para o STJ, o arrependimento do consumidor pode gerar o cancelamento de financiamento bancário,
desde que este ocorra fora do estabelecimento comercial (REsp 930.351, Rel Nancy Andrighi, j. 27/10/09).
Súmulas do STJ sobre contratos bancários (todas aplicáveis):
Súmula 541 - A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é
suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada.
Súmula 539 - É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos
celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-
17/2000, reeditada como MP n. 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.
Súmula 530 - Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente
contratada - por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa

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média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa
cobrada for mais vantajosa para o devedor.
Súmula 479 – As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno
relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.
Súmula 477 - A decadência do artigo 26 do CDC não é aplicável à prestação de contas para obter
esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários.
Súmula 381 - Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das
cláusulas.
Súmula 379 - Nos contratos bancários não regidos por legislação específica, os juros moratórios poderão ser
convencionados até o limite de 1% ao mês.
Súmula 288 - A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) pode ser utilizada como indexador de correção
monetária nos contratos bancários.
Súmula 287 - A Taxa Básica Financeira (TBF) não pode ser utilizada como indexador de correção monetária
nos contratos bancários.
Súmula 286 - A renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de
discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores.
Súmula 285 - Nos contratos bancários posteriores ao Código de Defesa do Consumidor incide a multa
moratória nele prevista.
Súmula 259 - A ação de prestação de contas pode ser proposta pelo titular de conta-corrente bancária.
ANÁLISE DAS NOVAS SÚMULAS 539 E 541 DO STJ:
Súmula 541-STJ: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal
é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada. STJ. 2ª Seção. Aprovada em
10/06/2015, Dje 15/06/2015.

JUROS CAPITALIZADOS: A capitalização de juros, também chamada de anatocismo, ocorre quando os juros
são calculados sobre os próprios juros devidos. Outras denominações para “capitalização de juros”: “juros
sobre juros”, “juros compostos” ou “juros frugíferos”.
Veja outra definição um pouco mais difícil, porém necessária à plena compreensão da matéria: Juros
capitalizados são os “juros devidos e já vencidos que, periodicamente (v.g., mensal, semestral ou
anualmente), se incorporam ao valor principal.
a) Capitalização ANUAL de juros: é permitida, podendo ser cobrada mesmo por quem não for instituição
financeira (art. 591 do CC).
b) Capitalização com periodicidade inferior a um ano (ex: capitalização MENSAL de juros):
Regra: é proibida pelo art. 4º do Decreto 22.626/33 (Lei de Usura).
Exceção: as instituições financeiras podem exigir a capitalização de juros com periodicidade inferior a 1 ano
(ex: capitalização mensal de juros). Isso foi autorizado pela MP n.º 1.963-17/2000.
Assim, uma factoring (que não é uma instituição financeira), não pode cobrar juros com capitalização inferior
a um ano. Um banco, por sua vez, tem autorização legal para tanto, desde que o contrato assinado preveja
expressamente.

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O STJ editou um enunciado espelhando esse entendimento:


Súmula 539-STJ: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos
celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP 1.963-
17/00, reeditada como MP 2.170-36/01), DESDE QUE EXPRESSAMENTE PACTUADA.
A capitalização dos juros em periodicidade inferior (ex: capitalização mensal) à anual deve vir pactuada de
forma expressa e clara. Ocorre que o fato de o contrato bancário prever taxa de juros anual superior ao
duodécuplo (12x) da mensal já é suficiente para que se considere que a capitalização está expressamente
pactuada. Em outras palavras, basta que o contrato preveja que a taxa de juros anual será superior a 12
vezes a taxa mensal para que o contratante possa deduzir que os juros são capitalizados.

Contratos bancários próprios


Operações passivas

A instituição financeira assume o pólo passivo, isto é, ela se torna devedora. São os contratos que têm a
função econômica de captação dos recursos de que necessita o banco para o desenvolvimento de sua
atividade. Os principais contratos dessa natureza são o depósito bancário, a conta corrente e a aplicação
financeira.

Depósito bancário

Por ele uma pessoa (depositante) entrega valores monetários a um banco, que se obriga a restituí-los
quando solicitados.
É um contrato autônomo. A instituição financeira, a partir do contrato de depósito bancário, passa a
titularizar a propriedade dos valores depositados e não a simples custódia. A relação entre o cliente e o
banco, nesse contrato, é de verdadeira fidúcia.
É um contrato real. Somente se aperfeiçoa com a entrega do dinheiro para o banco. Extingue-se por resilição
unilateral de qualquer das partes; pela compensação (podendo o banco debitar os créditos líquidos de que
seja titular); e pela falta de movimentação pelo prazo de 30 anos (Lei n° 370/1937 - encerra-se a conta,
recolhendo ao Tesouro Nacional os recursos existentes).
Há 3 modalidades de depósito: 1) à vista, o banco restitui os recursos de imediato; 2) pré-aviso, o banco
restitui em determinado prazo; 3) a prazo fixo, o pedido de restituição deve ocorrer após uma determinada
data, geralmente são remunerados. Ex. caderneta de poupança, CDBs, RDBs.
- Depósito bancário x depósito irregular: O depósito irregular tem por objeto coisa fungível, e o depositário
se obriga a restituir um bem do mesmo gênero, quantidade e qualidade do custodiado. Estes elementos
podem ser identificados na relação entre o depositante de recursos monetários e o banco. Já no depósito
bancário, a instituição financeira titulariza a propriedade dos valores depositados e não a simples custódia,
como ocorre em relação ao depositário irregular. A relação entre o cliente e o banco, no depósito bancário,
é de verdadeira fidúcia.
- Depósito bancário x mútuo: Por outro lado, há no depósito bancários elementos do contrato de mútuo,
que é o empréstimo de coisa fungível. O depositante encontra-se perante o banco em situação similar ao do

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mutuante em face do mutuário. Mas trata-se apenas de similitude, posto que não é da essência do depósito
bancário a remuneração pela permanência dos recursos em mãos do banco e, outrossim, o depositante
pode unilateralmente resgatar o bem objeto do contrato. Tais características afastam o depósito bancário do
mútuo.

Conta corrente

Por meio deste contrato, o banco se obriga a receber valores monetários entregues pelo correntista ou por
terceiros e proceder a pagamentos por ordem do mesmo correntista, utilizando-se desses recursos. O
banco presta um verdadeiro serviço de administração de caixa para o correntista.
É um contrato consensual. Pode-se celebrá-lo sem que o correntista entregue, de início, qualquer dinheiro
ao banco, ficando a conta de ser dotada por recursos pagos por terceiros devedores daquele.
A penhora de valores depositados em conta bancária conjunta solidária somente poderá atingir a parte do
numerário depositado que pertença ao correntista que seja sujeito passivo do processo executivo,
presumindo-se, ante a inexistência de prova em contrário, que os valores constantes da conta pertencem
em partes iguais aos correntistas. STJ. 4a Turma. REsp 1.184.584-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 22/4/2014.

Investimentos e aplicação financeira

É o contrato pelo qual o depositante autoriza o banco a empregar em determinados mercados de capitais
(ações, títulos da dívida pública e outros) o dinheiro mantido em conta de depósito.
As aplicações financeiras organizam-se por meio de fundos, estruturado de acordos com as diversas
alternativas de investimento e atendendo a regramento próprio, aprovado pela Comissão de Valores
Mobiliários.
O investidor é remunerado conforme os resultados obtidos na aplicação dos recursos do respectivo fundo.
Em regra, o banco não oferece garantia de manutenção da integralidade do capital investido, tratando-se de
operação que envolve determinado grau de RISCO. A garantia só existe quando prevista expressamente no
regimento do fundo e no contrato de aplicação financeira.
Assim, o banco não responde por eventuais perdas derivadas de oscilações no valor dos títulos que
compõem o fundo, mas apenas pela má administração, ilegalidade ou descumprimento do regimento ou do
contrato.

Operações ativas

O banco assume, quanto à obrigação principal, a posição de credor. Os bancos concedem crédito aos seus
clientes com os recursos coletados junto a outros clientes, através de contratos da categoria das operações
passivas.
Os principais são: mútuo bancário, desconto, abertura de crédito e crédito documentário.

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Mútuo bancário

O contrato pelo qual o banco empresta certa quantia de dinheiro ao cliente, que se obriga a pagá-la, com os
acréscimos remuneratórios, no prazo contratado.
É um contrato real, somente se aperfeiçoa com a entrega do dinheiro. Antes disso, inexiste contrato e,
consequentemente, nenhuma obrigação contratual se pode imputar ao banco, se ele não proceder à
entrega do dinheiro, mesmo depois de concluídas as tratativas com o cliente.
O banco mutuante não assume nenhuma obrigação perante o mutuário, de modo que se pode afirmar a
natureza unilateral desse contrato.
- Juros no mútuo bancário:
Segundo Fábio Ulhoa18, “A diferença entre o mútuo civil e o bancário diz respeito aos juros. No civil, as
partes não podem contratá-los superiores à taxa selic para negociação dos títulos da dívida pública federal,
ao passo que no mútuo bancário não existem limites legais”.
Não vigora para o mútuo bancário a limitação nas taxas de juros prescrita no Código Civil (arts. 406 e 591) e
na Lei de Usura (Decreto 22.626/1933), porque a Lei n° 4.595/1964, no artigo 4°, IX, delegou ao Conselho
Monetário Nacional a atribuição de fixar as taxas de juros.
Súmula 596 do STF: As disposições do Dec. n° 22.626/33 não se aplicam às taxas de juros e aos outros
encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas que integram o Sistema
Financeiro Nacional.
O art. 192, §3°, da Constituição que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano foi revogado pela Emenda
Constitucional n° 40 de 2003.
O STJ tem precedentes autorizando a cobrança de juros superiores a 1% ao mês nos mútuos bancários,
sustentando não ser possível afirmar a abusividade da taxa de juros só com base na estabilidade econômica
do país, desconsiderando todos os demais aspectos que fazem parte do sistema financeiro e os diversos
componentes do custo final do dinheiro emprestado, tais como o custo de captação, a taxa de risco, os
custos administrativos (pessoal, estabelecimento, material de consumo, etc.) e tributários e, finalmente, o
lucro do banco. Com efeito, a limitação da taxa de juros em face da suposta abusividade somente teria razão
diante de uma demonstração cabal da excessividade do lucro da intermediação financeira (RESP 537113/RS).
Quanto a abusividade dos juros cobrados, o STJ editou a seguinte súmula:
Súmula 530 - Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente
contratada - por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa
média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa
cobrada for mais vantajosa para o devedor.
É nula a cláusula do contrato de mútuo que preveja a cobrança de juros moratórios, mas sem que seja
estipulada a taxa aplicável! Se o contrato envolver um consumidor, podemos dizer que ela é nula por ser
abusiva, na forma do art. 51, X, do CDC. Por outro lado, mesmo que o contrato não seja de consumo (como
no caso em questão), ela também será nula por ser potestativa, ficando o cliente sujeito ao puro arbítrio do
banco, que poderia, em tese, cobrar a taxa que quisesse (art. 122 do CC/2002).

18
Curso de ... vol. 3, 8ª edição.

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Mesmo a cláusula sendo nula, o banco poderá cobrar a dívida com juros. Isso porque, mesmo quando não
prevista no contrato, a incidência dos juros é presumida no caso de empréstimos destinados a fins
econômicos. Art. 591 do CC/02: Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os
quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização
anual.
O STJ possui o entendimento de que os juros remuneratórios cobrados pelos bancos não estão sujeitos aos
limites impostos pela Lei de Usura (Decreto n.° 22.626/33), pelo Código Civil ou por qualquer outra lei. Em
outras palavras, não existe lei limitando os juros que são cobrados pelos bancos (STJ. 2ª Seção. REsp
1061530/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2008).
Existe também uma súmula antiga do STF que afirma isso: Súmula 596-STF: As disposições do Decreto
22.626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas
por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional.
Diante da ausência de lei que imponha limites aos juros cobrados pelas instituições financeiras, o STJ
construiu a seguinte regra: os juros cobrados pelos bancos devem utilizar como índice a taxa média de
mercado, que é calculada e divulgada pelo Banco Central (BACEN) em sua página na internet.
Desse modo, o correto é que o contrato bancário traga uma cláusula dizendo expressamente a taxa de juros
que será aplicada. No entanto, caso o contrato bancário não preveja, o STJ determina que deverá, em regra,
ser aplicada a taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie,
salvo se a taxa cobrada pelo Banco for menor, o que beneficia o devedor.
- Restituição antecipada dos valores objeto do mútuo: Questão controvertida, neste aspecto, sempre foi
quanto a possibilidade do mutuário antecipar a restituição do dinheiro emprestado e exonerar-se dos juros a
vencerem. Muitos doutrinadores opõem-se a tal entendimento, alegando que a legítima expectativa do
mutuante ao contratar o mútuo consiste nos juros que receberá e que seria frustrada com a antecipação da
devolução do capital mutuado. Neste sentido, Fabio Ulhoa Coelho ao referir-se especialmente ao mútuo
bancário19. Todavia, tratando-se o mutuário de consumidor, ou sendo o mutuante instituição financeira, será
assegurado ao mutuário antecipar o prazo de restituição do mútuo reduzindo-se proporcionalmente os juros
e encargos, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, art.52, parágrafo 2º, e Resolução BACEN n.
2878, de 26/07/2001- Código de Defesa do Cliente Bancário- artigo 7º.
- Contrato de financiamento: Ulhoa define como aquele mútuo em que o mutuário assume a obrigação de
conferir ao dinheiro emprestado uma determinada finalidade, ex. adquirir a casa própria, investir na
produção.
- Entendimentos sumulados sobre mútuo bancário:

Súmula 473 - O mutuário do SFH não pode ser compelido a contratar o seguro habitacional obrigatório com
a instituição financeira mutuante ou com a seguradora por ela indicada.
Súmula 472. A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos
encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros
remuneratórios, moratórios e da multa contratual. (Rel. Min. Luis Felipe Salomão, em 13/6/2012)
Súmula 380. A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do
autor.

19
Curso de Direito Comercial. Vol.3, 3ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2002. p.125.

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Súmula 322. Para a repetição do indébito nos contratos de abertura de crédito em conta corrente não se
exige prova do erro.
Súmula 300. O instrumento de confissão de dívida, ainda que originário de contrato de abertura de crédito,
constitui título executivo extrajudicial.
Súmula 296. Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no
período de inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao
percentual contratado.
Súmula 295. A Taxa Referencial (TR) é indexador válido para contratos posteriores à Lei n. 8.177/91, desde
que pactuada.
Súmula 294. Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a comissão de permanência, calculada pela
taxa média de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa do contrato.
Súmula 288. A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) pode ser utilizada como indexador de correção
monetária nos contratos bancários.
Súmula 287. A Taxa Básica Financeira (TBF) não pode ser utilizada como indexador de correção monetária
nos contratos bancários.
Súmula 286. A renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de
discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores.
Súmula 285. Nos contratos bancários posteriores ao Código de Defesa do Consumidor incide a multa
moratória nele prevista.
Súmula 258. A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em
razão da iliquidez do título que a originou.
Súmula 247. O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do demonstrativo de
débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória.
Súmula 233. O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-corrente, não
é título executivo.
Súmula 176. É nula a clausula contratual que sujeita o devedor a taxa de juros divulgada pela ANBID/CETIP.
Súmula 93. A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de capitalização
de juros.
Súmula 30. A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis.
OBS: o STJ entende que a comissão de concessão de crédito, cobrada pela instituição financeira para
fornecer crédito ao mutuário, incide apenas uma vez no início do contrato. Qualquer outra cobrança do
referido encargo é ilícita, pois viola preceitos de boa-fé objetiva.

Desconto bancário

O banco (descontador) antecipa ao cliente (descontário) o valor de crédito deste contra terceiro, mesmo
não vencido, recebendo tal crédito por endoso. Normalmente, os bancos descontam apenas os chamados
títulos bancáveis, ou seja, os títulos de crédito em geral, em virtude da autonomia das obrigações cartulares,
que dá mais segurança ao banco.

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O descontário transfere ao banco o seu crédito e recebe deste uma importância correspondente ao seu valor
deduzido de despesas, juros, comissões e outras parcelas.
Trata-se de contrato real, que se aperfeiçoa com a transferência do crédito ao descontador.
Nesse contrato, ao contrário do que se verifica no contrato de faturização, o cliente garante ao banco o
pagamento do crédito transferido e não apenas a existência da dívida. Se o devedor com quem o
descontário entabulou a relação jurídica originária do crédito não honra a obrigação no vencimento, o banco
pode cobrá-lo de seu cliente, em regresso (que não existe na faturização).
REDESCONTO: O redesconto é a operação pela qual o banco, não desejando aguardar o vencimento do
título sobre o qual operou o desconto, para encaixar o seu montante, por sua vez, desconta-o junto a
outro banco, recuperando o próprio capital. Em síntese, vem a ser a operação pela qual o banco pode
descontar o título que pagou em outro banco. (ABRÃO, Nelson apud RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 2ª ed.).
Compete privativamente ao Banco Central do Brasil realizar operações bancárias de redesconto (Lei n.
4.595/64, art. 10, V):

Abertura de crédito
O banco põe uma certa quantia de dinheiro à disposição do cliente, que pode ou não se utilizar desses
recursos (cheque especial). Em geral, estipula-se que o cliente somente irá pagar juros e encargos se e
quando lançar mão do crédito aberto.
É um contrato consensual e bilateral.
Modalidades: (a) abertura simples, em que o cliente, uma vez utilizado o crédito, não tem a faculdade de
reduzir o montante devido antes de determinado prazo; e (b) abertura em conta-corrente, muito usual, em
que o cliente pode, mediante entradas, reduzir seu débito perante a instituição financeira.
Segundo o STJ, o contrato de abertura de crédito não é título executivo extrajudicial, ainda que
acompanhado do demonstrativo do débito, porquanto carece da liquidez característica dos títulos de crédito
(Súmula 233 do STJ). Mas, quando acompanhando do demonstrativo de débito, o contrato de abertura de
crédito em conta-corrente constitui documento hábil para a ação monitória, a teor do que dispõe a Súmula
247 do STJ. Por outro lado, a Corte Superior de Justiça afirma a possibilidade de execução do Instrumento
Particular de Confissão de Dívida, mesmo que o débito reconhecido pelo devedor seja oriundo de contrato
de abertura de crédito. (AgRg no REsp 725679 / MS, DJ 20.11.2006).

O contrato de abertura de crédito rotativo é título executivo?


NÃO. O contrato de abertura de crédito rotativo não possui liquidez e certeza, considerando que o ajuste
menciona apenas que o correntista poderá sacar, como empréstimo, determinado valor até um certo limite
(ex: 1 mil reais). Isso não significa, necessariamente, que a pessoa tenha decidido usar este valor e que
efetivamente tenha sacado todo o limite, podendo ter se utilizado de apenas parte da quantia.
O contrato de abertura de crédito fixo é título de crédito?
SIM. O contrato de abertura de crédito rotativo é diferente do contrato de abertura de crédito fixo. No caso
de crédito fixo, o cliente celebra um contrato com o banco, por meio do qual a instituição financeira
empresta um valor certo ao cliente, sendo esta quantia creditada na conta do correntista após a assinatura
do termo. Trata-se de um mútuo feneratício (empréstimo de valor).

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Resumindo:
O contrato de abertura de crédito fixo é título executivo.
O contrato de abertura de crédito rotativo NÃO é título executivo (aplica-se a súmula 233-STJ).
A súmula 233 do STJ refere-se APENAS ao contrato de abertura de crédito rotativo:
Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-
corrente, não é título executivo.

Cédula de crédito bancário: A Lei n. 10.931/2004 estabelece que a Cédula de Crédito Bancário é título
executivo extrajudicial, representativo de operações de crédito de qualquer natureza, circunstância que
autoriza sua emissão para documentar a abertura de crédito em conta corrente, nas modalidades de
crédito rotativo ou cheque especial. Para tanto, o título de crédito deve vir acompanhado de claro
demonstrativo acerca dos valores utilizados pelo cliente, trazendo o diploma legal a relação de exigências
que o credor deverá cumprir, de modo a conferir liquidez e exequibilidade à Cédula (art. 28, § 2º, incisos I e
II, da Lei n. 10.931/2004). (REsp 1283621/MS, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, segunda seção, julgado em
23/05/2012, DJe 18/06/2012). Nessa mesma linha, posiciona-se o TRF-1 (AC - Apelação Civel –
200738000210508, Relator(a) Juiz Federal Rodrigo Navarro de Oliveira (CONV.), Órgão julgador Sexta turma,
Data:30/08/2010.)
OBS: O STJ entende ser abusivo o banco valer-se do salário do correntista, que lhe é confiado em depósito,
pelo empregador, para cobrir saldo devedor de conta corrente (STJ, REsp 831774/RS, Min. Humberto
Gomes, D.J. 29/10/2007). Para o STJ não é abusiva a cláusula de renovação automática do contrato de
abertura de crédito.
Enunciado 41 da Jornada de Direito Empresarial: A cédula de crédito bancário é título de crédito dotado de
força executiva, mesmo quando representativa de dívida oriunda de contrato de abertura de crédito
bancário em conta-corrente, não sendo a ela aplicável a orientação da Súmula 233 do STJ.

Crédito documentário

De larga utilização no comércio internacional, define-se pela obrigação assumida por um banco (emissor),
perante o seu cliente (ordenante), no sentido de proceder a pagamentos em favor de terceiro
(beneficiário), contra a apresentação de documentos relacionados a negócio realizado por estes dois
últimos.
Exemplo: o importador pode contratar uma instituição financeira para que ela realize pagamento, de acordo
com as suas instruções, em favor do exportador, quando este lhe exibir determinados documentos
representativos das mercadorias transacionadas. A garantia intermediada pelo banco se opera no sentido de
que o importador, ao abrir a conta de crédito no valor equivalente da compra, deposita o valor sob custódia
do banco, que por sua vez só libera o crédito respectivo ao exportador quando este comprovar
documentalmente a exportação, ou seja, o exportador tem a garantia de que receberá o pagamento, uma
vez provada a exportação ao banco, e o importador tem a garantia de que receberá a mercadoria, pois o
pagamento ao exportador somente será liberado após a comprovada a exportação, conforme previsto no
contrato. O encargo de abertura da carta de crédito (crédito documentário) é do importador.
É um contrato autônomo.

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UNIDADE VII – PROPRIEDADE INDUSTRIAL

7.1 Propriedade intelectual (Industrial e Autoral)

O conjunto dos direitos resultantes das concepções da inteligência e do trabalho intelectual, vistos
principalmente sob a perspectiva do proveito que deles pode resultar costuma-se denominar genericamente
como “propriedade intelectual”. 20
Previsão constitucional: Art 5°, XXIX, CF/88: “a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos
nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e econômico do País”.
A propriedade intelectual é gênero. São suas espécies: a) a propriedade industrial; e b) a propriedade
autoral.

Direito autoral Propriedade industrial

Estudada pelo direito empresarial.


OBS.: dispõe o art. 1º da Convenção de Paris que “a
Relaciona-se com a propriedade literária, científica ou propriedade industrial entende-se na mais ampla
artística e de programas de computador, sendo acepção e aplica-se não só à indústria e ao comércio
matéria de direito civil. propriamente ditos, mas também às indústrias
agrícolas e extrativas e a todos os produtos
manufaturados ou naturais”.

Garante a exploração, com exclusividade, do objeto


O autor da obra tem o direito de explorar
protegido àquele que requerer em primeiro lugar
exclusivamente, mesmo que não tenha efetuado
referido privilégio, pouco importando quem seja o
qualquer registro, bastando comprovar ser o autor.
autor da invenção.

O direito decorre da criação, sendo o eventual registro Decorre de ato administrativo de natureza
meramente declaratório. constitutiva.

Só protege a forma externa da idéia, não ela própria. Protege tanto o aspecto externo da invenção ou do
Assim, qualquer pessoa pode escrever um livro sobre modelo de utilidade, como a ideia que possibilitou
Direito Comercial, mas não se pode copiar trechos sua criação. Assim, se alguém já patenteou uma
inteiros da obra de outro autor, principalmente sem máquina de transformar água em gasolina que tem

20
CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da propriedade intelectual, 1982, p. 49.

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os devidos créditos. determinada conformação física, uma outra pessoa


não poderá requerer a patente de uma máquina
fisicamente diferente, mas que funcione de acordo
com a mesma idéia subjacente à primeira.

Finalidade da lei de propriedade industrial

A Lei 9.279/96 tem por finalidade maior a de garantir a exclusividade de uso de uso dos bens móveis. Sua
função social consiste no incentivo à pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
Os caminhos para essa proteção, utilizados pelo que detém exclusividade de uso sobre determinado bem,
são:
- Utilização própria ou;
- Licença de uso para terceiro interessado ➔ A remuneração decorrente da licença de uso de bens da
propriedade industrial se chama royalties

Proteção

São bens integrantes da propriedade industrial: Invenção, Modelo de utilidade, Desenho industrial e Marca
(IMDM).
OBS: A Lei de Propriedade Industrial também cuida de dois outros assuntos (art. 2º):
- Repressão à falsa indicação geográfica;
- Repressão à concorrência desleal
Os direitos industriais são concedidos pelo Estado, através de uma autarquia federal, o Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI). Nasce o direito à exploração exclusiva do objeto da patente ou do registro a
partir do ato concessivo correspondente (patente ou registro).

É o ato pelo qual alguém


INVENÇÃO cria um determinado
PROTEGE: objeto até então
PATENTE desconhecido
MODELO DE É o aperfeiçoamento
BENS DA UTILIDADE técnico de uma invenção
PROPRIEDA PROTEGE:
DE PATENTE
INDUSTRIAL DESENHO É o desing, a forma, os
INDUSTRIAL traços e cores dos objetos
PROTEGE: (art. 95 da LPI))
REGISTRO
INDUSTRIAL
É o sinal distintivo que

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MARCA identifica produtos e


PROTEGE: serviços, padrões de
REGISTRO qualidade ou certificações
INDUSTRIAL

Patente

Patente é um título de monopólio temporário sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo
Estado aos inventores/autores (pessoas físicas ou jurídicas) detentores de direitos sobre a criação para
exploração econômica.
O inventor se obriga a revelar detalhadamente todo o conteúdo técnico da matéria protegida pela patente.
Quando encerrado o período de proteção, cai em domínio público e todos podem ter acesso àquele
conteúdo técnico.
OBS: A patente não se confunde com o segredo industrial. Segredo industrial é a invenção não levada à
patente, que por não ter seus dados revelados publicamente terá proteção à informação por tempo
indeterminado (até quando descobrirem). Ex: fórmula da coca-cola; fórmula do guaraná antártica; nescafé;
etc.
OBS: PATENTE “PIPELINE”:
O registro sob o sistema “pipeline” não se submete à regra do art. 8º, ou seja, não se exige dele novidade,
atividade inventiva e aplicação industrial.
Os requisitos para a concessão da patente “pipeline” estão disciplinados nos 230 e 231 da Lei de
Propriedade Industrial e, uma vez concedida a patente “pipeline” por outra jurisdição, ela não poderá ser
anulada invocando-se a ausência de um dos requisitos de mérito previstos no art. 8º da LPI para a concessão
das patentes ordinárias (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial).
Em palavras muito simples, porque o tema é bem complexo, a patente “pipeline”, também chamada de
“patente de importação” ou “patente de revalidação”, é aquela em que em fica demonstrado que já houve
expedição de patente no exterior, razão pela qual o INPI registra no Brasil essa patente exigindo menores
formalidades.

Invenção

É o produto da inteligência humana de efeito técnico ou industrial, ou seja, que objetiva criar bens até então
desconhecidos, para aplicação técnica ou industrial.
Dos quatro bens, a invenção é a única não definida pela lei, pois há uma dificuldade de se conceituar o
instituto. Assim, o legislador preferiu usar um critério de exclusão, apresentando uma lista de manifestações
do intelecto humano que não se consideram abrangidas no conceito. Neste sentido, não são invenções:
Art. 10. Não se considera invenção nem modelo de utilidade:
I - descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos;
II - concepções puramente abstratas;
III - esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários,
de sorteio e de fiscalização;

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IV - as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética;


V - programas de computador em si (protegido pelo direito autoral);
VI - apresentação de informações;
VII - regras de jogo;
VIII - técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico,
para aplicação no corpo humano ou animal; e
IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que
dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos
naturais.

Modelo de utilidade

O modelo de utilidade é uma espécie de aperfeiçoamento ou melhoria de uma invenção preexistente. A lei
define o modelo de utilidade no art. 9º da LPI:
Art. 9º. É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de
aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em
melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação.
Recentemente o STJ entendeu que churrasqueira sem fumaça é modelo de utilidade, pois aqui há uma
melhoria para a churrasqueira (invenção que já existia).

Requisitos (art. 8º)

Segundo Ulhoa, a patenteabilidade de invenções e modelos de utilidade está sujeita aos seguintes
requisitos:
A. NOVIDADE: Novo é “aquilo que não está compreendido no estado da técnica quando do pedido da
patente (LPI, art. 11)”. O estado da técnica abrange todos os conhecimentos a que pode ter acesso qualquer
pessoa, especialmente os estudiosos de um assunto, no Brasil ou no exterior.
NOTE: A legislação exige que a novidade seja ABSOLUTA, tanto no exterior quanto no Brasil. Para aferição
unicamente da novidade, o conteúdo completo de pedido de patente (ou de registro) depositado no Brasil, e
ainda não publicado, será considerado como incluído no estado da técnica a partir da data de depósito, ou
da prioridade reivindicada, desde que venha a ser publicado, mesmo que subsequentemente (§2º).
Não se compreende no estado da técnica a divulgação da invenção ou do modelo de utilidade, seja pelo
inventor, pelo INPI ou por terceiros mediante informações obtidas do inventor, se isso ocorrer nos 12 meses
que antecederem a data do depósito – trata-se do chamado período de graça.
B.ATIVIDADE INVENTIVA (art. 13): A atividade é inventiva sempre que, para um especialista no assunto, não
decorra, de maneira óbvia ou evidente, do estado da técnica.
C. APLICAÇÃO INDUSTRIAL: somente a invenção ou modelo suscetível de aproveitamento industrial pode
ser patenteado (LPI, art. 14 e 15).

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D. DESIMPEDIMENTO (ART. 18): a lei proíbe, por razões de ordem técnica ou de atendimento ao interesse
público, a patenteabilidade de determinadas invenções ou modelos quando (LPI, art. 18):
- forem contrários à moral, bons costumes, segurança, ordem e saúde pública (requisitos da validade de
qualquer fato jurídico);
- forem resultado de transformação do núcleo atômico (o exercício de atividades nucleares está sujeito a
monopólio da União e somente é admissível para fins pacíficos – art. 21, XXII, CF/88);
- forem seres vivos, no todo ou em parte, exceto os micro-organismos transgênicos, desde que presentes
osrequisitos da patenteabilidade e que não sejam mera descoberta.

Titularidade
O Brasil adotou o Sistema Declarativo: há uma presunção de que o titular é aquele que depositou primeiro.
Não é quem inventou primeiro ou quem teve a ideia primeiro.

Licença compulsória

A licença voluntária é aquela por meio do qual o titular da patente a concede a algum interessado. Já a
licença compulsória está prevista nos arts. 69 e 71 da Lei de Propriedade Industrial e cuida do que
popularmente se chama de “quebra de patente”. O art. 68 estabelece que o titular ficará sujeito a ter a
patente licenciada compulsoriamente se exercer os direitos dela decorrentes de forma abusiva ou por meio
dela exercer abuso de poder econômico, por decisão administrativa ou judicial.
Também enseja a licença compulsória os casos de interesse público ou emergência nacional, quando o
titular da patente não atende à necessidade existente. São requisitos dessa licença:
- Deve ser declarado por ato do Poder Executivo Federal. (Recentemente editou-se o Decreto Federal n.
6.108/2007, declarando interesse público aos coquetéis de AIDS).
- Essa licença não possui exclusividade: qualquer interessado pode produzir;
- Ela é temporária – cessada a emergência nacional ou o interesse público, cessará também a licença (no
caso do Decreto 6.108/07, 5 anos).
OBS: Não pode haver prejuízos para o titular da patente (irá receber royalties por cada produto produzido).

Prazos

Art. 40. A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e a de modelo de utilidade pelo prazo
15 (quinze) anos contados da data de depósito.
Parágrafo único. O prazo de vigência não será inferior a 10 (dez) anos para a patente de invenção e a 7 (sete)
anos para a patente de modelo de utilidade, a contar da data de concessão, ressalvada a hipótese de o INPI
estar impedido de proceder ao exame de mérito do pedido, por pendência judicial comprovada ou por
motivo de força maior.
Atendidas estas regras, não haverá prorrogação, em nenhuma hipótese, do prazo de duração da patente.

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Registro

Os registros concedidos pelo INPI referem-se a dois diferentes bens industriais: o Desenho Industrial (design)
e as Marcas.
Art. 2º A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seu interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-se mediante:
II - concessão de registro de desenho industrial;
III - concessão de registro de marca; (...)

Desenho Industrial

O desenho industrial (design) é a alteração da forma dos objetos. Está definido na lei:
Art. 95. Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto
ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e
original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial.
A sua característica de fundo é a futilidade, por isso, a doutrina apelidou o desenho industrial de desenho
fútil. Ou seja, a alteração que o desenho industrial introduz nos objetos não amplia a sua utilidade, apenas o
reveste de um aspecto diferente. Ex: a cadeira “Três pés” projetada por Joaquim Tenreiro (marco do
Modernismo, no design brasileiro) que não tem mais utilidade que qualquer outra cadeira.
Art. 96. O desenho industrial é considerado novo quando não compreendido no estado da técnica.
§ 1º O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de
depósito do pedido, no Brasil ou no exterior, por uso ou qualquer outro meio, ressalvado o disposto no § 3º
deste artigo e no art. 99.
§ 2º Para aferição unicamente da novidade, o conteúdo completo de pedido de patente ou de registro
depositado no Brasil, e ainda não publicado, será considerado como incluído no estado da técnica a partir da
data de depósito, ou da prioridade reivindicada, desde que venha a ser publicado, mesmo que
subsequentemente.
§ 3º Não será considerado como incluído no estado da técnica o desenho industrial cuja divulgação tenha
ocorrido durante os 180 (cento e oitenta) dias que precederem a data do depósito ou a da prioridade
reivindicada, se promovida nas situações previstas nos incisos I a III do art. 12.
Art. 98. Não se considera desenho industrial qualquer obra de caráter puramente artístico.
Para diferenciar modelo de utilidade e desenho industrial precisa-se saber se houve alguma melhoria.

Requisitos do registro do desenho industrial

a) NOVIDADE: ou seja, tudo aquilo que não se encontra no estado atual da técnica;
b) ORIGINALIDADE: o desenho levado a registro deve ter uma apresentação visual que o distinga
essencialmente dos demais já registrados;

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c) DESIMPEDIMENTO: que são as hipóteses taxativamente previstas na lei em que será negado o registro;
assim, não se pode registrar:
- qualquer obra de caráter puramente artístico (obra de arte que, como visto, não guarda a necessária
articulação entre forma e função);
- aqueles ofensivos à moral e aos bons costumes ou à honra ou imagem de pessoas, ou à liberdade de
consciência, crença, culto religioso ou idéia e sentimentos dignos de respeito e veneração;
- que ostente apenas a forma necessária comum ou vulgar do objeto ou, ainda, aquela determinada
essencialmente por considerações técnicas ou funcionais (ou seja, lhe falta originalidade).
A concessão do registro de desenho industrial independe da prévia verificação, pelo INPI, da sua novidade
e originalidade. Apenas a inexistência dos impedimentos é checada pela autarquia, antes da expedição do
certificado. Se, em momento posterior, restar demonstrado o desatendimento dos requisitos do registro, o
INPI instaura de ofício, ou mediante provocação, o processo de nulidade do registro concedido.
OBS.: o período de graça do desenho industrial é de 180 dias (art. 96, §3º)

Prazo

Art. 108. O registro vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos contados da data do depósito, prorrogável por 3
(três) períodos sucessivos de 5 (cinco) anos cada.
§ 1º O pedido de prorrogação deverá ser formulado durante o último ano de vigência do registro, instruído
com o comprovante do pagamento da respectiva retribuição.
§ 2º Se o pedido de prorrogação não tiver sido formulado até o termo final da vigência do registro, o titular
poderá fazê-lo nos 180 (cento e oitenta) dias subsequentes, mediante o pagamento de retribuição adicional.

Marca

A marca é um bem móvel incorpóreo designativo que identifica produtos e serviços, o qual abrange não só
expressões lingüísticas, mas também desenhos, logotipos, etc., desde que individualizadores do produto ou
do serviço, e não da pessoa ou do estabelecimento. Não se confunde com outros designativos presentes na
empresa, tais como o nome empresarial e o título de estabelecimento.
A marca é um sinal distinguível visualmente, por meio do qual os produtos ou serviços são identificados e
assim podem ser discernidos dos demais.
STJ: O Brasil adotou o Sistema Atributivo: somente com o registro da marca no INPI é que se garante o
direito de propriedade e de uso exclusivo ao seu titular, salvo marca notoriamente conhecida.
A marca identifica um bem singular. Não existe marca sonora. Vale destacar, mais uma vez, que “marca”,
segundo a legislação brasileira, é obrigatoriamente um sinal identificável pela visão, ou seja, não existe
“marca sonora” ou “marca olfativa”.
O conceito de marca está no art. 122, da lei de propriedade industrial:
Art. 122. São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente perceptíveis, não
compreendidos nas proibições legais.

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Art. 123. Para os efeitos desta Lei, considera-se:


I - marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico,
semelhante ou afim, de origem diversa;
II - marca de certificação: aquela usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço com
determinadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material
utilizado e metodologia empregada; e
III - marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou serviços provindos de membros de uma
determinada entidade.
Suscetível de transmissão a terceiros – seja por licenciamento, seja por cessão (inter vivos ou por via
hereditária) –, a marca é um elemento integrante do estabelecimento empresarial. No Brasil, é objeto de
registro no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), razão por que é protegida em todo o país.
Princípio da especialidade ou especificidade: Depois do registro no INPI, apenas o titular desta marca
poderá utilizá-la em todo o território nacional. Contudo, em regra, no Brasil, a proteção da marca impede
que outras pessoas utilizem-na apenas em produtos ou serviços similares, podendo a mesma marca ser
usada por terceiros em produtos ou serviços distintos. Assim, a proteção da marca se submete, portanto, ao
princípio da especialidade, ou seja, a marca registrada somente é protegida no ramo de atividade que o seu
titular atua. (REsp 1079344/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 21/06/2012)

Requisitos do registro da marca

a) NOVIDADE RELATIVA: é exigida para que a marca cumpra a sua finalidade, que é identificar produtos e
serviços, destacando-os dos seus concorrentes. Se a marca não for nova, não atenderá a essa finalidade. Não
é exigida a novidade absoluta para a concessão do registro. Não é necessário que o requerente tenha
criado o sinal, em sua expressão linguística, mas que lhe dê, ou ao signo não-linguístico escolhido, uma nova
utilização.
A novidade relativa está relacionada à classificação de produtos listados no INPI. É de acordo com essa
classificação que temos que analisar a “novidade”.
b) NÃO COLIDÊNCIA COM MARCA NOTÓRIA: Marca notória é aquela ostensivamente pública e conhecida,
de popularidade internacional e que independe de registro no INPI para ter proteção legal. Ex.: Sony. Isso
porque o Brasil é signatário da Convenção da União de Paris, pela qual os países consignatários devem
proteger a marca notória. A marca notória, assim como as demais marcas, só é protegida dentro do seu
setor mercadológico. A ideia aqui é proteger o consumidor, evitando que seja induzido a erro, objetivando
ainda evitar a pirataria.
Marca notória só vai ter essa proteção dentro do seu ramo de atividade.
Não se pode confundir marca notória com marca de alto renome.
Marca de alto renome: É uma situação especial, em que se encontram certas marcas, amplamente
conhecidas pelos consumidores (ex.: Coca-Cola, Natura, Fiat, Pirelli). O titular da marca, registrada em uma
ou mais classes, pode requerer ao INPI que lhe atribua a qualidade de “alto renome”. Deve fazê-lo,
necessariamente, como meio de defesa. Se a autarquia considerar que a marca dele é mesmo amplamente
conhecida, a sua proteção deixará de ser restrita ao segmento de produtos ou serviços passíveis de
confusão, e se estenderá para todas as atividades econômicas.

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Marca notória (art. 126) Alto renome (art. 125)

Não precisa de registro para ser protegida Precisa ser registrado

Só tem proteção no ramo de atividade Tem proteção em todos os ramos de atividade

Precisa ter reconhecimento internacional Reconhecimento no país

Tem proteção em todos os países que assinaram o Só tem proteção no território nacional.
acordo da convenção da União de Paris.

Exceção ao Princípio da Territorialidade (STJ) Exceção ao Princípio da Especificidade (STJ)

C) NÃO IMPEDIMENTO LEGAL: Uma marca não pode ter impedimento legal. Este obsta o registro do signo
como marca, mas não a sua utilização na identificação de produtos ou serviços. Ex.: o empresário pode
adotar a bandeira nacional estilizada, para identificar mercadorias ou atividades, mas não poderá exercer
direito de exclusividade sobre ela.
Todos os casos de impedimento legal estão expressamente previstos no art. 124 da lei de propriedade
industrial. Exemplo: brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento oficiais, públicos,
nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem como a respectiva designação, figura ou imitação.

MARCA EVOCATIVA: É aquela que se utiliza, em sua composição, de uma palavra de uso comum que remete
ao produto ou serviço. Evocativa vem de “evocar”, verbo que significa “trazer à lembrança”.
Assim, marca evocativa é aquela que traz à lembrança (que evoca) o próprio nome do produto ou serviço. A
marca evocativa possui reduzido grau de distintividade, por estar associada ao produto ou serviço que
pretende assinalar. Em outras palavras, ela não se distingue tanto de outras marcas porque utiliza, no todo
ou em parte, o próprio nome do produto ou serviço. Não possui, portanto, “características distintivas”.
Exemplos de marcas evocativas: Chokito®, chocobon® (são marcas que remetem ao chocolate). Caso alguém
registre uma marca parecida envolvendo, no todo ou em parte, a palavra “chocolate”, não se poderá dizer, a
princípio, que houve uma violação a essas marcas anteriormente registradas.
Marcas evocativas possuem proteção limitada. Por não ter características distintivas, as marcas evocativas
são consideradas “marcas fracas”. Possuem um âmbito de proteção limitado, de modo que a exclusividade a
elas conferida admite mitigação. Assim, a ideia de que somente quem registrou a marca evocativa poderá
utilizar aquele nome ou nomes parecidos é flexibilizada. Segundo aponta, com razão, a Min. Nancy Andrigui,
conferir monopólio para que apenas um comerciante utilize um nome ou sinal genérico seria aceitar uma
exclusividade inadmissível. Isso porque os demais comerciantes ficariam impedidos de divulgarem a
fabricação de produtos semelhantes através de expressões de conhecimento comum, obrigando-os à busca
de nomes alternativos estranhos ao domínio público.
MARCA GENÉRICA ≠ MARCA EVOCATIVA: O conceito das duas é muito parecido. Além disso, pode
acontecer de uma marca ser registrada e, com o tempo, passar a ser utilizada de forma genérica no
mercado, flexibilizando o direito do titular à exclusividade. Foi o que aconteceu no caso dos autos.

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A empresa “Z” detém o registro da marca “paleteira” junto ao INPI desde 1972. Segundo a Min. Relatora, é
provável que, há mais de 40 anos, o vocábulo “paleteira” (que nada mais é do que o nome dado ao veículo
próprio para o transporte de paletas) ainda não fosse tão difundido no mercado, o que levou o INPI a ignorar
as restrições da lei para registro. Atualmente, no entanto, o termo “paleteira” constitui expressão de uso
comum, cujo uso exclusivo, enquanto marca, há de ser visto com temperamento.
(Resp 1.325.621-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/06/2013
STJ: A “importação paralela” (“mercado cinza”) consiste na importação de determinado produto, por uma
pessoa física ou jurídica, sem que isso ocorra por meio do importador ou distribuidor exclusivo daquela
marca. A “importação paralela”, mesmo que de produtos originais (não piratas), é, em regra, proibida, se
não houver consentimento do titular da marca (art. 132, III, da Lei n. 9.279/96).
Obs1: situações excepcionais em que a “importação paralela” é permitida, como no caso de ser necessário
fornecer determinados produtos à população, estimular a concorrência para evitar a formação de
monopólios ou cartéis ou, então, para atender determinadas áreas do consumo. Como exemplo de situação
excepcional, podemos mencionar a importação de medicamentos.
Obs2: Princípio da exaustão
Vale ressaltar que este art. 132, III, da LPI também consagra o “Princípio da exaustão” (“exaustão dos
direitos sobre a marca”).
Segundo este princípio, após a primeira venda do produto no mercado, o direito sobre a marca se esgota, de
modo que o titular da marca não poderá mais invocar o direito de exclusividade para impedir as vendas
subsequentes. Esse princípio é também chamado de “doutrina da primeira venda” (first sale doctrine)
(BASSO, 2009, p. 204).
Assim, a partir da primeira venda do produto no mercado, com consentimento do titular da marca, ocorre a
“exaustão” ou “esgotamento” do uso da marca, de forma que o referido titular não pode mais impedir que
outras pessoas vendam/revendam o produto.
O princípio da exaustão foi adotado no Brasil, contudo, apenas quanto ao mercado interno (e não no
mercado internacional). Dessa feita, a legislação brasileira, ao adotar o princípio da exaustão quanto ao
mercado interno, permitiu a comercialização paralela interna (ou nacional), hipótese em que, após a
primeira venda do produto no mercado interno, o direito sobre a marca se esgota, de modo que o titular da
marca não poderá mais invocar o direito de exclusividade para impedir as vendas subsequentes.
A Lei de Propriedade Industrial não adotou, contudo, o princípio da exaustão quanto ao mercado
internacional. Se o Brasil tivesse adotado o princípio da exaustão internacional, tendo sido introduzido o
produto, no mercado interno ou externo (em qualquer lugar poderia comercializá-lo sem autorização do
titular da marca).

Prazo

Art. 133. O registro da marca vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos, contados da data da concessão do
registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos.
§ 1º O pedido de prorrogação deverá ser formulado durante o último ano de vigência do registro, instruído
com o comprovante do pagamento da respectiva retribuição.

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§ 2º Se o pedido de prorrogação não tiver sido efetuado até o termo final da vigência do registro, o titular
poderá fazê-lo nos 6 (seis) meses subseqüentes, mediante o pagamento de retribuição adicional.
§ 3º A prorrogação não será concedida se não atendido o disposto no art. 128.

Extinção do direito industrial

Extingue-se o direito industrial pelas seguintes razões:


- Expiração do prazo de vigência;
- Renúncia do titular: a lei põe a salvo os direitos de terceiros, ao condicionar sua aceitação, pelo INPI, à
inexistência de prejuízos para eles;
- Falta de pagamento da retribuição anual;
- Caducidade ➔ Atenção: ocorre caducidade da marca se alguém deixa de usá-la por mais de 5 anos. Já a
invenção/modelo de utilidade caducam em 3 anos do desuso ou uso abusivo.
- Inobservância do art. 217 da Lei 9.279: o titular de um registro ou patente que tem domicílio no exterior
deve ter representante no país, com poderes para representá-lo no âmbito administrativo, judicial e para
receber citações. Se o titular não tiver representante no país, haverá a extinção do registro/patente.

Invenção Modelo de utilidade Desenho industrial Marca

Patente Patente Registro Registro


(INPI) (INPI) (INPI) (INPI)

Prazo: 20 anos, contados Prazo: 15 anos, contados Prazo: 10 anos, contados Prazo: 10 anos, contados
da data do depósito. da data do depósito. da data do depósito. da data da concessão.

Prorrogável em até 3
Não possui limite de
vezes, cada prorrogação
Improrrogável Improrrogável prorrogação (tendo, cada
c/ prazo máximo de 5
uma, 10 anos).
anos.

Pedido de prorrogação:
Pedido de prorrogação:
no último ano de vigência
no último ano de vigência
do registro. Se feito
do registro. Se feito
- - depois deste prazo, até 6
depois deste prazo, até
meses após o fim do
180 dias após o fim do
registro sob pagamento
registro sob pagamento.
de retribuição adicional.

Consequências da extinção: extinto, por qualquer motivo, o direito industrial, o respectivo objeto cai em
domínio público. Qualquer pessoa poderá utilizar e explorar economicamente, de modo livre.

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Exame de Ordem
Direito Empresarial
Prof. Guilherme Martins

Processo administrativo no INPI

O objetivo do processo administrativo do INPI, deflagrado pela apresentação de um pedido de patente ou de


registro, é o de verificar se este atende às condições de patenteabilidade ou de registrabilidade, conforme se
trate de invenção/modelo de utilidade ou marca/desenho industrial.
As principais fases são: o pedido, o depósito, a publicação, o exame e a decisão.
1. Pedido: O processo inicia-se com a formulação do pedido pelo interessado, que poderá ser pessoa física
ou jurídica, pública ou privada (art. 19, 101 e 128, da lei n.º 9.279/96), instruído com os elementos
indispensáveis para os casos de patente e de registro.
2. Depósito: junto com o pedido, deve-se dar o depósito do objeto do requerimento, acompanhado com o
pagamento da “retribuição” (taxa), pois é ele – o depósito - que irá fixar a prioridade do pedido de patente
ou registro, para efeitos de proteção (arts. 16 e 127, da lei n.º 9.279/96).
3. Publicação: ato de noticiar aos interessados da existência do pedido de concessão, para permitir que
terceiros se oponham (arts. 30, 31 e 158), exceto no caso de desenho industrial, hipótese em que a lei não
exige a publicação do pedido.
4. Exame e decisão: por último, segue-se a fase de exame, que se processa de acordo com cada tipo de
pedido formulado (patente ou registro).
OBS1.: o pedido de registro de desenho industrial é o único, no direito brasileiro, submetido ao sistema de
livre concessão, que dispensa o exame da novidade e originalidade previamente à outorga do direito de
exclusividade. Este somente será realizado se requerido por alguém titular de desenho industrial, a fim de
garantir o seu certificado e anular o certificado alheio que reproduza um desenho seu registrado
anteriormente (art. 111)
OBS2: Se o processo administrativo de patente é arquivado por inércia do requerente, em não atender às
exigências do INPI, a invenção/modelo de utilidade não pode mais ser patenteada, por ausência de
novidade.

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Prof. Guilherme Martins

BOA SORTE GALERA!!!


DEEM UM FATALITY NA FGV!!
E QUE VENHA A SEGUNDA FASE!!
ABRAÇOS E CONTEM COMIGO!

PROF. GUILHERME MARTINS

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