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(acerca dos militantes que vivem em Cuba) - por Keilla Mara de Freitas [*]
Volto a perguntar: Quem somos? Comunistas? Acho que seria demasiada arrogância
se qualquer um de nós dissesse "sou". Quando muito, bem de longe, aspirantes a
comunistas. Somos modestos aprendizes românticos criados no sistema capitalista
e que, ainda que não queiramos, trazem dentro de si todas as contradições desta
sociedade. Elas manifestam-se nas menores atitudes. Vivemos num país onde se
tenta construir uma sociedade com outros valores mas que hoje está igualmente
cheia de contradições, em outro nível e contexto, mas contradições ao fim.
Muitas vezes estes aspectos ficam no segundo plano. Ou, o que é pior, ficam
limitados às atas de assembleias e congressos. Isto se explica pela conjuntura
nacional, em que muitas vezes não há tempo devido às tarefas, prioridades,
metas, eleições, etc. Isto é compreensível, mas não o melhor.
Os poucos que estamos vivendo fora desta realidade, em outro país, desgarrados,
temos a possibilidade de algumas coisas que não são impossíveis de se fazer no
Brasil — mas de fora fica um pouco mais fácil:
Analisar todos estes pontos correspondentes à realidade partidária e de nossos
militantes friamente.
Priorizar a preparação teórica que muitas vezes, em território nacional, a
correria da militância não permite.
Olhar o nosso reflexo num espelho e poder analisar melhor todos os podres de
nossa sociedade contra os quais dizemos lutar mas que impregnam as nossas
atitudes: sectarismo, corporativismo, individualismo, importância pessoal, etc.
Estar dentro da realidade de um país que muitas vezes tem sido, pelo seu
exemplo, a estrada pela qual dizemos que queremos transitar para chegar ao nosso
objetivo de construir uma sociedade melhor. Não a estamos estudando por um
livro, estamos dentro dela e isto por si se pode canalizar para uma espécie de
formação.
Como estamos aproveitando esta gama de possibilidades?
O que vamos fazer quando chegarmos ao Brasil anos depois de viver no país que é
a esperança, o sonho da esquerda da América Latina, com um diploma na mão e uma
cabeça cheia de lembranças profundas de uma realidade que não sabemos explicar,
com histórias engraçadas sobre transportes, filas, atendimento comercial e a
cubanice mas sem nenhuma mensagem?
O que vamos dizer a estes militantes que batalhavam dia a dia para sobreviver,
trabalhando, estudando e militando — enquanto nós estávamos estudando no Caribe
(longe de casa, passando um pouco de trabalho sim, mas estudando ao fim) —
quando nos pedirem para sermos os seus olhos em Cuba, quando nos perguntarem
sobre nossas experiências e começarem a pedir explicações? Que lhes
responderemos? Que Cuba é legal, que a universidade é bacana mas não podemos
dizer muito porque é um curso muito puxado? Acho esta resposta muito pouco digna
de um aspirante a comunista.
Pergunta complexa. Diria que este conceito não pode estar fechado somente a algo
totalmente teórico, é necessária a presença de um desenvolvimento humanista.
Digo isto para que sejamos capazes, de agora em diante, de auto questionar
nossas atitudes e posições.
https://resistir.info/brasil/ser_comunista.html