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INTRODUÇÃO

Este livro é uma compilação de 14 anos de visões proféticas, sonhos e


experiências que começaram em 1988 e se estenderam até 2002. Foi em
2002 que vi corno eles se encaixavam, constituindo uma parte importante da
mensagem que foi publicada pela primeira vez em Á batalha final e continuou em Á
chamada final, ambos publicados pela editora Danprewan. Este livro inclui
experiências que aconteceram antes e depois daquelas escritas nos dois volumes
anteriores.
Talvez você esteja curioso para saber por que o Senhor daria uma revelação
profética em uma linha do tempo tão confusa. Muitas vezes, me pergunto o mesmo.
No entanto, uma mensagem nestas visões me ajudou a entender a razão. Além
disso, se você passar a examinar as profecias bíblicas, logo aprenderá que os
eventos preditos em um único capítulo das Escrituras podem estar a milhares de
anos atrás e à frente. Em minha opinião, o Senhor faz isso para nos manter
dependentes de Seu Espírito Santo não só para obtermos a revelação, mas também
sua interpretação e aplicação
A compreensão da profecia está intencionalmente fora do alcance da ciência e
sabedoria humanas. Aqueles que procuram compreende-las através de suas próprias
habilidades podem facilmente se desanimar. Mas, para os que buscam a Deus em
espírito e verdade, os mistérios fazem parte do glorioso objetivo final - a grande
aventura que deve ser a busca por Deus.
A busca por conhecer Deus e Seus caminhos é cheia de mistérios. Há chaves
que servem para desvendar esses mistérios, como fé, devoção à verdade,
integridade e santificação. Entretanto, elas não são meios de se obter dons e
revelação de Deus, mas de separar aqueles que são verdadeiros adoradores de um
Deus santo dos que só estão em busca de conhecimento.
Ainda assim, somos totalmente dependentes da disposição do Senhor em
mostrar-nos algo antes de podermos entendê-lo do modo que se pretende.
Felizmente, uma das maiores promessas de Deus é que, se nós O buscarmos,
iremos achá-Lo. Espero que, ao ler esta compilação de experiências, você passe a
compreender os caminhos de Deus. E que seja levado a experimentar a Deus por si
mesmo, tendo como resultado final amá-Lo mais e estar mais próximo dEle.

O PACOTE PROFÉTICO

Sempre foi interessante para mim que pessoas me perguntassem como


recebo as coisas. Escrevo e depois me faço as mesmas perguntas. Isso não é
errado. É importante entender o pacote no qual vem a revelação. Isso porque muitas
vezes o pacote faz parte da mensagem. Por essa razão, inclui nesta introdução e,
algumas
vezes, no texto do livro, o modo como tudo me ocorreu.
Quase sempre, as pessoas também pedem que eu forneça mais
informações a meu respeito. Este também é um pedido justo, uma vez que somos
exortados a reconhecer os que se esforçam no trabalho entre nós (lTs 5.12). Penso
que existem algumas questões e eventos em minha vida pessoal que podem ajudar a
dar uma compreensão maior das experiências proféticas, por isso também as incluí
nesta introdução. No entanto, se você não estiver interessado nesse tipo de
informação, sugiro que passe ao capitulo 1, em que a visão começa.

UMA JORNADA PESSOAL

A maior parte dos sonhos, visões e experiências proféticas incluídos neste livro
eram mensagens pessoais para mim, por isso as escrevi na primeira pessoa, assim
como me ocorreram. Portanto, entender algumas partes de minha jornada no
momento em que as coisas aconteceram pode ajudar na compreensão da mensagem.
Contudo, não inclui nada que, ao meu ver, tivesse a finalidade de ser
simplesmente uma mensagem somente para mim. Como me foi falado várias vezes
nessas experiências, sou apenas um dos muitos que são chamados para as coisas
tratadas nelas. É dessa mesma forma que os eventos ao longo das Escrituras, que
marcaram a vida de indivíduos e se constituíram em mensagens pessoais para eles,
ou cartas pessoais para grupos específicos, também falam a todos os cristãos. Se
essas experiências aplicam-se a você ou à sua situação, fique à vontade para aceitá-
las de forma pessoal.
Para alicerçar as mensagens contidas neste livro, contarei rapidamente algumas
coisas relativas ao meu ministério. Em 1980 deixei o ministério de tempo integral
porque senti que meu relacionamento pessoal com o Senhor havia ficado superficial.
Sentia-me extremamente superficial em minha fé e experiência para estar lide-
rando outras pessoas. Fui plenamente convencido por Gaiatas 1.15,16:
Mas Deus me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça.
Quando Lhe agradou revelar o Seu Filho em mim para que eu O
anunciasse.

Eu estava começando a entender que, ainda que Deus tivesse me chamado


para o ministério que estava experimentando, eu havia confundido Seu chamado com
Seu comissiona mento. Por essa razão, comecei no ministério precocemente. O
Senhor havia sido revelado "a mim", mas não "em mim", o que, segundo Paulo,
viria a acontecer antes de ele sair para pregar.
Paulo também estava pregando sobre "Ele", Jesus. Meu ministério dedicava-
se, sobretudo, aos princípios e fórmulas do sucesso — sucesso espiritual e sucesso
do cristão, mas, não obstante, minhas mensagens eram mais sobre nós do que
sobre Ele. Eu me sentia como os homens de Atenas, adorando a um Deus
desconhecido (At 17.25). Grande parte de meu conhecimento de Deus era decorrente
de outras pessoas, em vez de ter sido revelado a mim pelo Espírito.
Tudo isso contribuiu para me tornar um ministro do Evangelho muito
superficial e ineficiente e forçou-me a renunciar ao ministério e procurar um
trabalho secular até sentir que o Senhor havia de fato se revelado "em mim".
Consegui um emprego como piloto de transporte de companhia aérea, uma
vez que tinha licença para voar. Esse trabalho normalmente requeria que eu voasse
algumas horas por dia e depois passasse horas a fio sentado em aeroportos e quartos
de hotel. Isso me proporcionou muito tempo para estudar a Bíblia e buscar o
Senhor. Por muitas vezes, passei cerca de 40 horas por semana em estudo e
oração.
A empresa para a qual eu trabalhava trocou de aeronave, e então perdi meu
emprego. Enquanto procurava outro, fui surpreendido por uma palavra do Senhor
que recebi que dizia que eu precisava retomar o ministério em tempo integral. Na
verdade, foi-me revelado que, mesmo eu sendo tão superficial e despreparado como
me via, minha reação havia sido exagerada, e o Senhor não queria que eu deixasse o
ministério. Esta palavra veio em
1982.
Entretanto, de forma alguma eu me sentia preparado para voltar ao
"ministério", mas, em vez disso, achava que Levaria muitos anos para estar
preparado. Quando compartilhei a palavra que havia recebido com minha esposa e
meu melhor amigo, eles também sentiram que esse não era o caminho que eu
deveria trilhar naquela época. Fui facilmente convencido a rejeitar o chamado por
causa de meus sentimentos de despreparo; por isso, quando surgiu uma oportunidade
de iniciar um negócio no ramo de fretagem de aviões, eu a agarrei.
Para mim, iniciar aquele negócio foi o maior erro de minha vida, mas aprendi
muita coisa com ele que me ajudou desde então. O plano do Senhor é a redenção,
e Ele usará até nossos erros para o nosso bem. No entanto, é sempre melhor não
cometê-los. Não estou, de forma alguma, insinuando que devemos cometer erros para
que o bem possa vir à tona. Contudo, podemos ser gratos pelo fato de que Deus usará
até os nossos erros para o nosso bem se realmente O amarmos e formos chamados
segundo o Seu propósito. Com isso veio o bem, mas teria sido melhor se eu tivesse
obedecido ao Seu chamado, em vez de ter passado por um desvio de sete anos.

VOANDO ALTO E DEPOIS CAINDO

A empresa de fretagem de aviões tornou-se um sucesso muito rapidamente.


Não demorou muito e o negócio passou a incluir uma escola de aviação, vendas de
aeronaves, manutenção, seguro e a supervisão do aeroporto mais movimentado do
Estado em que eu vivia na época. Tudo isso me deixou com pouco tempo para
estudar a Bíblia e buscar o Senhor. Embora tenha aprendido muita coisa sobre
negócios e administração, esses foram, sobretudo, anos perdidos em termos
espirituais.
Quanto mais sucesso eu tinha, mais vazio me sentia. Mesmo assim, estava
prestes a ter um patrimônio liquido que me permitiria aposentar-me de uma vez e
dedicar-me ao ministério novamente sem precisar de qualquer suporte externo. Era
assim que eu justificava minha tamanha motivação para continuar envolvido nos
negócios e ganhar mais dinheiro.
Durante uma viagem para caçar que fiz em 1986, eu estava sentado sozinho em um
campo. De repente, senti a presença do Senhor, e Ele começou a falar comigo,
pedindo-me que pusesse meus negócios "no altar". Percebi que Ele havia dito que
esse era meu negócio, e não dEle, como sempre afirmava.

Para minha surpresa, o Senhor também estava injuriado com minha visão de
que eu seria capaz de ganhar dinheiro suficiente para sustentar-me no
ministério, de modo que eu jamais teria de levantar qualquer recurso. Ele
foi ultrajado porque isso implicava que Ele não era capaz de cuidar daqueles
que estavam a Seu serviço. Mostrou-me que isso estava mais arraigado em
meu orgulho do que em uma nobre devoção. Entreguei ao Senhor o meu
negócio e pedi-Lhe que fizesse com ele aquilo que Lhe aprouvesse.

No mesmo instante, o negócio peto qual eu havia 'trabalhado com tanto afinco
para construir começou a desmoronar. Não demorou muito e lá estava eu em uma
corte de falência, perdendo uma fortuna. Tive de vender nossos bens, inclusive a casa
e a propriedade dos nossos sonhos, para pagar nossas dividas. Quando tudo acabou,
eu tinha um carro e alguns milhares de dólares. Sentia que havia sido um fracasso no
ministério e, agora, um fracasso nos negócios.
Algumas das pessoas mais próximas a mim não deixaram de lembrar-me que
eu era um fracasso. Mas eu não precisava de alguém para me dizer isso. Era o ponto
fraco de minha vida.
Eu sabia que havia sido chamado para um ministério e queria, um dia, devotar-lhe
tempo integral, mas não desejava entrar nele com fracasso, mas com sucesso. Eu me
envergonhava por sentir que não tinha nada para oferecer ao Senhor, mas isso
também era orgulho. Havia provado, em todos os sentidos, ser fraco e tolo. Sei que as
Escrituras dizem que normalmente esse é o tipo de pessoa a quem Ele chama, mas
há uma grande diferença em ser um fracasso nos negócios e ser um fracasso
espiritualmente, onde as pessoas podem sair machucadas.

Então, em uma semana, logo no início de 1987, duas pessoas de diferentes


partes do país, as quais eu sabia que não se conheciam, procuraram-me e
entregaram- me a mesma palavra do Senhor: se eu não voltasse para o ministério
naquele mesmo instante, Ele transferiria a minha comissão à outra pessoa. Eu não
sabia qual era minha comissão, mas a mensagem abalou-me o suficiente para permitir
que deixasse tudo de lado e voltasse para o ministério. Minha visível fraqueza e
insensatez iriam levar-me a confiar mais no Senhor, o que era, sem dúvida,
exatamente o que Ele queria.
Eu mesmo publiquei meu primeiro livro, There were two trees in the
garden (Havia duas árvores no jardim), em 1985, enquanto ainda estava envolvido
com o negócio de fretagem. O único meio de divulgação desse livro era através de
amigos, mas, por volta de 1987, a distribuição começou a crescer rapidamente. Isso
proporcionou alguns convites para ministrações em igrejas e em conferências. Depois
que veio a palavra que me intimava a voltar para o ministério, decidi aceitar alguns
desses convites. Queria, sobretudo, ter uma idéia do que estava acontecendo no
Corpo de Cristo naquele momento, já que havia estado fora de circulação durante
sete anos.
Depois de algumas viagens, cheguei em casa bastante desanimado com a falta
de propósito e direção aparentemente devastadora na igreja. Essa falta de
direção prejudicou o entendimento do meu próprio propósito e a direção
para o ministério. Enquanto eu estava orando sobre essa situação, tive uma
experiência profética que durou dois dias e meio, na qual me foi mostrado um
panorama dos eventos que haveriam de vir (os quais publiquei em meu livro A
Colheita - Danprewan Editora). Aquela visão me proporcionou uma grande esperança
para o futuro, e para a igreja, o que trouxe uma nova direção a meu ministério
desde então.

UM NOVO NÍVEL DOS ENCO NTROS PROFÉTICOS

Durante os dois dias e meio nos quais me foi dada essa visão abrangente da
colheita vindoura, senti que havia recebido mais revelação profética do que havia
recebido em qualquer outro período de minha vida. Naqueles dois dias e meio,
senti que o tempo que eu havia perdido durante os sete anos em que me desviei de
meu ministério havia sido compensado. De modo muito real, o Senhor tinha me
compensado pelos anos de colheitas que os gafanhotos destruíram (JI 2.25). Isso
também me levou a apreciar o valor das experiências proféticas como nunca havia
apreciado.
Depois de meses tendo essa visão, comecei a conhecer outras pessoas que
possuíam alguns dos dons proféticos mais extraordinários que eu já havia visto ou
ouvido falar fora das Escrituras. Muitas dessas pessoas passariam a ser meus amigos
por toda a vida. Uma delas era Bob Jones.
Quando o conheci, ele compartilhou alguns dos sonhos que havia tido
comigo que descreviam minha difícil situação e me davam algumas respostas
quanto à direção que eu havia tomado, todas com uma surpreendente clareza. Havia
até detalhes nesses sonhos sobre minha família, dos quais eu não estava ciente, mas
que, mais tarde, se confirmaram.
Nos meses seguintes, Bob telefonava e me transmitia palavras ou compartilhava
sonhos incrivelmente específicos e detalhados que, depois, vinham a se cumprir das
formas mais surpreendentes. Isso era mais maravilhoso do que se pode descrever,
dando-me uma sensação de estar na vontade do Senhor como nunca antes em minha
vida. Cada dia, tornava-se uma aventura surpreendente e maravilhosa, e eu me
convencia de que era assim que deveria ser a vida cristã.
Então Bob me entregou uma palavra que dizia que eu receberia uma
visitação do Senhor em outubro de 1988. Ele disse que, nessa visitação, eu receberia
uma comissão que me firmaria em meu curso. Naturalmente, esperei com muita
expectativa, mas não houve nenhuma visitação no mês de outubro. Imaginei que
Bob não tivesse compreendido bem a revelação e prossegui com minha agenda cada
vez mais cheia.

G RANDE REPREENSÃO

Em março, programei um encontro com Bob em Louisiana para visitarmos


algumas igrejas ali. Antes de me encontrar com ele, fui para o Texas a fim de fazer
alguns programas de televisão com James Robson. Depois de gravar os programas,
James e eu ficamos sentados em seu escritório, conversando. De repente, ele
começou a me repreender por eu estar tão ocupado. Tendo acabado de ouvir a
mesma repreensão, levei seu conselho ainda mais a sério.
Depois de deixar o escritório de James, pedi perdão ao Senhor. Ele falou,
lembrando-me de que eu estava cinco meses atrasado na conclusão de um projeto
que Ele me havia dado a realizar. Também me fez lembrar de que já haviam se
passado cinco meses desde a visitação prometida e que essa era a razão por que eu
ainda não tinha recebido a comissão. Disse-me o Senhor que, se eu me arrependesse
e fosse para casa, Ele me visitaria.
Telefonei para Bob e lhe deixei uma mensagem gravada, dizendo que não me
encontraria com ele em Louisiana. Telefonei para minha esposa e disse-lhe a mesma
coisa, uma vez que ela estava visitando seus pais lá e planejando ir com as crianças
para as reuniões. Então fui para minha casa em Charlotte, Carolina do Norte.

UMA VISITAÇÃO

Quando cheguei em nossa casa vazia, comecei a orar e a buscar o Senhor.


Queria mais clareza sobre quanto eu havia me distanciado em tão pouco tempo. Tudo
o que Ele disse era que eu fosse para a cama porque me visitaria naquela noite.
imaginei que seria em um sonho, mas eu estava tão emocionado que achei que não
conseguiria dormir. Mesmo assim, apaguei todas as luzes da casa e fui para a cama.
O Senhor certamente me fizera dormir, pois nem me lembro de quando me
deitara. No meio da noite, acordei de repente sentindo uma presença na
casa. Fiquei surpreso, uma vez que parecia que todas as luzes estavam acesas,
apesar de lembrar que as havia apagado. Eu me perguntava se um de meus vizinhos
teria entrado em minha casa, sem saber de minha presença ali. De repente, o Senhor
entrou em meu quarto. Não havia Luzes na casa. A luz vinha dEle.
Fiquei assustado. Eu estava agarrado ao meu travesseiro e queria levantar-
me, mas não podia. Ele veio em minha direção e pôs Suas mãos em meus ombros.

Senti o poder aumentando como se fosse uma corrente elétrica. Não era tão
doloroso quanto desconfortável, pois uma grande pressão aumentava dentro de mim.
Logo a pressão tornou-se tão forte que tive medo de explodir. Quando pensei que
não poderia agüentá-la mais, o Senhor tirou Suas mãos de mim, e o poder se foi. Ele
fez isso várias vezes e, a cada vez, tirava Suas mãos bem no momento em que eu
pensava que estava prestes a morrer.
Então, o Senhor Se levantou e começou a sair do quarto. Eu estava
preocupado porque Ele não havia me dito nada, e eu não sabia o que essa
experiência significava. Ele se virou pouco antes de passar pela porta e disse: "Bob
Jones explicará isso a você". Eu não conseguia fazer outra coisa senão me perguntar
por que Ele mesmo não o havia explicado. A próxima coisa que lembrei foi acordar
de manhã.
Fiquei deitado na cama por um tempo, lembrando-me de tudo que havia
acontecido. Comecei a me perguntar se o Senhor realmente estivera comigo ou se
tudo não passara de um sonho. Quando me sentei e peguei minhas roupas, senti um
surto de poder passar por mim como quando Ele colocou Suas mãos em meus
ombros. Eletricidade saia de minhas mãos e atingia a coluna da cama de metal. Então
me convenci de que a experiência havia sido real e não apenas um sonho.
Por alguns minutos, tive receio de tocar em alguma coisa por medo de que
pudesse ser eletrocutado. Sentia tanto poder dentro de mim que isso era assustador.
Quando o poder finalmente se foi, levantei-me e me vesti.
Durante a manhã, tive surtos de poder a cada hora ou algo assim. Eu não sabia
se queria que eles parassem ou continuassem, pois realmente não entendia o
que eram. Mal podia fazer outra coisa senão ficar sentado, com medo. Por fim, fui
à casa ao lado para visitar meus vizinhos, Harry e Louise Bizzell. Assim que passei
pela porta, Harry olhou para mim e disse: "Você teve uma visitação!".
Eu não sabia se parecia um tanto assustado ou se havia sido um
discernimento de Harry, mas ele sabia. Isso fez com que me sentisse livre o
suficiente para contar-lhe o acontecido. Disse-lhe que a única coisa que ''me
incomodava era que eu não conseguia me lembrar de quantas vezes o Senhor havia
me tocado com Suas mãos, e eu sabia que isso era importante. Harry sugeriu que eu
telefonasse para Bob Jones, uma vez que o Senhor dissera que ele me daria a
explicação de tudo.
Hesitei em telefonar para Bob, pois queria que o Senhor falasse com ele
e, assim, ele telefonasse para mim. No entanto, aceitando a sugestão de Harry, decidi
telefonar para ele somente para perguntar como andavam as coisas em
Louisiana, mas estava determinado a não lhe dar nenhuma pista sobre a visitação.
Eu queria ter certeza de que qualquer coisa que ele recebesse fosse da parte do
Senhor.
Quando conversei com Bob pelo telefone, ele disse que tudo estava bem. No
entanto, disse-me que, quando tentara orar naquela manhã, ficara impressionado com
o quanto as regiões celestiais estavam agitadas. Disse-me que a única vez que as
havia visto agitadas daquela forma foi quando Jesus passou para visitar alguém.
Eu ainda não havia contado nada a Bob, mas fiquei muito entusiasmado em razão do
modo como os Céus estavam agitados. Era simplesmente outra confirmação para mim
de que a visitação havia sido real e não apenas um sonho. Isso não deveria ter
importância, pois uma visitação do Senhor por meio de um sonho também é real,
mas, por alguma razão, achava tal fato importante para mim.
No dia seguinte, Bob me telefonou. Ele havia recebido uma visitação de um
anjo que lhe contou sobre a visitação que recebi do Senhor e minha comissão. Disse-
me por que o Senhor me havia tocado com Suas mãos por cinco vezes e compartilhou
outros detalhes, dando-me os versículos bíblicos que, mais tarde, explicaram o
ocorrido, além de algumas coisas sobre meu futuro.
Reconheci tudo e lhe agradeci. Fiquei surpreso quando ele me repreendeu
por ter tamanha falta de fé a tal ponto de precisar dele para confirmar as coisas
assim. Eu não sabia se Bob estava brincando ou não, mas, quando ri de sua
repreensão, percebi que falava sério.

MENSAGEM
O que o Senhor me revelou era uma comissão no sentido de ajudar a liberar os
cinco ministérios de capacitação listados em Efésios 4 para a Igreja, que são es-
senciais para que ela cumpra sua tarefa nos últimos dias. Isso é fundamental para
meu propósito e faz, portanto, parte de cada mensagem que ministro, de cada livro
que escrevo e de quase todos os pensamentos que tenho. Há poucas coisas mais
gratificantes para mim do que ver alguém começar a andar em um desses ministérios
e, de, fato, começar a tornar-se aquele que prepara os santos para fazer a obra do
ministério.
Outra parte da mensagem tinha a ver com o andar no poder de Deus e chamar e
comissionar aqueles que são denominados "os mensageiros de poder". Eles também
são aqueles sobre os quais Enoque profetizou e logo estarão liberados. Quando isso
acontecer, as obras do Senhor serão vistas de um modo como nunca aconteceu.
Tenho visto algumas obras extraordinárias de poder de vez em quando,
mas estou começando agora a andar no sentido desta comissão. Além disso, o
Senhor nunca me mostrou que eu seria um desses mensageiros de poder. Bem que
gostaria de sê-lo, mas me foi dada simplesmente a comissão para fazer um
despertamento e ajudar no preparo daqueles que seguiriam nessa direção. Também
me foi dito que sou apenas um dentre os muitos que são chamados para tal tarefa.
O que o Senhor me comissionara a fazer, cuja tarefa já estava cinco
meses atrasada, era a conclusão do livro A colheita. Esta foi a mensagem que Ele
me entregou um ano antes da experiência de dois dias e meio, a qual descrevi
anteriormente. Resolvi concluí-lo rapidamente.
Este livro continuou a superar o anterior - Havia duas árvores no jardim - em
termos de distribuição, mas, ao longo dos anos seguintes, o Senhor me mostrou como
ele teria alcançado mais pessoas se tivesse sido publicado no tempo certo. Ser pontual
com as mensagens foi uma ordem básica que o Senhor me transmitiu quando iniciei
a MorningStar Publications and Ministries, registrada em Mateus 24.45-47:

Quem é, pois, o servo fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos de sua
casa para lhes dar alimento no tempo devido? Feli z o servo que seu
senhor encontrar fazendo assim quando voltar. Garanto-lhes que ele o
encarregará de todos os seus bens.

O Senhor quer que os de Sua casa tenham seu alimento "no tempo devido", e o
agora era uma de minhas maiores fraquezas — acho que ainda é. Tenho a tendência
de ficar tão ocupado, na maior parte do tempo no ministério, que deixo passar
importantes diretrizes, mensagens, reuniões e deixo de receber o alimento no
devido tempo, o que Ele nos tem dado para Sua casa.
Eu deveria ter voltado para o ministério logo no primeiro chamado do Senhor,
em vez de haver começado o serviço de fretagem de aviões. Quase perdi minha
comissão para outra pessoa por causa de minha reticência e sentimentos de
despreparo. Então, reagi muito emocionalmente e fiquei tão ocupado por estar
fazendo muitas coisas. Há uma trincheira em ambos os lados dos caminhos da vida, e
eu quase caí nela em cada um deles.
A razão por que estou compartilhando algumas dessas coisas pessoais é que
elas são erros comuns para os cristãos, principalmente para aqueles que estão em
posição de liderança. Além disso, são coisas que precisam ser corrigidas; do contrário,
as conseqüências terão um preço mais alto à medida que nos aproximarmos do fim
desta era. Essas são as principais razões por que a maioria dos cristãos não está
seguindo seu chamado nem cumprindo seu destino e propósito. Eles estão perdidos
nos dois sentidos em que eu quase me perdi.
Muitos estão perdidos porque hesitam demais para começar. Outros
entram para o ministério e logo - ficam tão ocupados fazendo coisas para o Senhor
que não conseguem se aproximar dEle. Uma vida cristã bem-sucedida não estará tão
baseada na quantidade de trabalho que temos feito, mas, em vez disso, em quão
próximos estamos do Senhor e no quanto temos sido obedientes.
Não é possível andarmos, quando somos chamados, sem um encontro pessoal
com o Senhor todos os dias. Precisamos de um apego santo à Sua presença para que
Ele se torne mais importante para nós do que o ar que respiramos. Não acho que eu
mesmo tenha conseguido chegar a esse estágio, mas é o que mais busco.

A COMISSÃO

Quando falei com Jack Deere sobre a visitação que recebi no início de 1989, ele
observou que mal podia esperar para me ver orar pelos doentes. Sentia que o poder
que me havia sido concedido nessa visitação liberaria muitos milagres. Eu
também mal podia esperar por isso. No entanto, os resultados não eram muito
impressionantes. Na verdade, sentia que faltava tanta unção em minha oração
pelos enfermos que tinha medo de que, ao orar por um aleijado, além de aleijada, a
pessoa saísse também cega.
Então, imaginei que os dons proféticos que possuía seguiriam para outro
nível. Não foi o que aconteceu. Na verdade, eu não podia dizer que tinha mais
unção para fazer alguma coisa. Mesmo assim, foi nesse mesmo ano que vieram as
revelações que levariam nosso ministério a cumprir alguns de seus principais
objetivos. Sem perceber isso até recentemente, foi durante aquele ano que me foi
dado o entendimento fundamental da mensagem de minha vida.
Não muito tempo depois disso, Bob Jones disse- me que eu receberia outra
visitação do Senhor e outra comissão. Foi o que aconteceu no inicio da primavera,
quando eu estava em Londres. Muitas das coisas que você lerá neste livro
aconteceram durante aquela experiência.

UM CH AM ADO P AR A P REP AR AR O C AM I NHO

No final de 1989, pudemos arrendar uma proprie dade em Charlotte,


Carolina do Norte, como sede da MorningStar Publications and Ministries.
Nós nos mudamos para lá no início de 1990. Roger Hedgspeth e Steve e
Angie Thompson tornaram-se os primeiros membros de nossa equipe. Logo
depois, Leonard Jones uniu-se a nós como líder de adoração, embora não
tivéssemos ainda nenhuma reunião que precisasse de um líder, nem
qualquer plano para isso.
Típico do lugar onde o ministério estava na época, encontramos um
pequeno barracão na mata, o reformamos para Leonard e simplesmente
dissemos a ele que fizesse o que estava acostumado a fazer diante do Se-
nhor. Leonard era um obreiro fiel e trabalhador. Aparecia todos os dias e
ficava ali por horas. O que ele fazia era adorar. Enquanto adorava, também
criava algumas composições. Quando ele tocou pela primeira vez o que es -
tava compondo, fiquei espantado. Eu nunca havia ouvido uma música como
aquela. Também fiquei impressionado em ver que Leonard estava
encontrando outras pessoas que precisavam de uma oportunidade. Eu sabia
que, se as encontrássemos, coisas maiores do que as que já esperávamos
viriam delas.
Resolvi continuar a reduzir minha agenda de viagens para dedicar -me
à edificação do ministério na Carolina do Norte. Steve Thompson, Robin
McMillan, Leonard Jones e eu começamos o que denominamos de "escola do
Espírito" e que logo recebeu o nome de reuniões "SOS". Coisas maravilhosas
começaram a acontecer a partir da primeira reunião.
Essas reuniões estavam instigando dons em muitas pessoas, por isso Steve
Thompson perguntou se poderia realizar algumas reuniões de treinamento para
pessoas que se sentissem chamadas para o ministério profético. Concordei e fiquei
surpreso com a rapidez com que dons extraordinários estavam sendo liberados em
inúmeras pessoas, sendo que muitas delas nunca haviam sido usadas daquele modo.
Logo, todos os cristãos à nossa volta começaram a se convencer de que poderiam,
pessoalmente, conhecer a voz do Senhor e ser usados por Ele para realizar
proezas. A vida da Igreja começou a se parecer com a do Novo Testamento.

A Visão
Quando o Senhor me chamou para voltar para o ministério em 1982, Ele havia
me mostrado um centro de ensino e uma comunidade profética. Dissera que quando
os profetas e mestres aprendessem a adorá-Lo em conjunto como acontecia em
Antioquia, poderíamos novamente liberar a autoridade apostólica.
Nos anos que se seguiram, me foram mostradas muitas coisas sobre o
ministério vindouro da Igreja dos últimos dias, ou seja, que ela seria realmente uma
Igreja apostólica. Foi-me mostrado como o Senhor se revelaria por meio de Seu povo
antes de Sua volta para governar a Terra. Vi uma Igreja que realmente não tinha
mancha — era pura, santa e cheia de tamanha graça e poder que todas as nações
teriam respeito por ela. Sua mensagem acerca do Reino vindouro abalaria todos os
reinos.
Meu principal papel no sentido de ajudar a preparar a Igreja para seu chamado
girava em torno do centro de ensino e da comunidade profética. Seria um lugar de
onde palavras e ensinos proféticos seriam espalhados pelo mundo. Ver isso se
cumprir logo se tornou minha principal paixão. Mesmo assim, eu sabia que haveria um
tempo certo para isso e que as coisas mais importantes normalmente levam um bom
espaço de tempo para serem reveladas. Persuadi-me de que teria de continuar con-
centrado, bem como paciente.
Enquanto escrevo este livro, essa comunidade ainda está nos estágios de
formação. Penso que levará mais alguns anos para que o alicerce esteja concluído.
Na verdade, entendo que minha principal tarefa é lançar o alicerce para
algumas coisas que outros foram chamados a edificar. É importante que você
compreenda isso, se desejar entender a mensagem deste livro.
Cabe a mim convocar aqueles que viverão para cumprir a vontade de Deus.
Eles viverão de um modo que será um testemunho eterno de que a verdade é maior
do que qualquer mentira e de que o amor é mais forte do que a morte. Ao mesmo
tempo, a raça humana está aprendendo, sem dúvida, que qualquer coisa feita sem o
Senhor levará, por fim, ao mais terrível desastre. Eles também verão as
conseqüências mais maravilhosas de coisas que são feitas em obediência ao Senhor.
Recebi a promessa de que verei, pelo menos, o começo do mais extraordinário
mover de Deus desde que o próprio Deus andou na Terra. E esse mover será um
preparo para que Ele ande mais uma vez. Se você for cristão, o seu chamado e
destino é fazer parte disso.

UMA SEGUNDA VISITAÇÃO

A segunda visitação aconteceu em 1995, depois que Bob Jones visitou nossa
sede em Charlotte. Após uma de nossas reuniões SOS, enquanto estávamos
sentados em nossa cozinha na primeira noite, Bob olhava ao redor como se houvesse
algo específico que quisesse encontrar. Ele então me perguntou onde ficavam os
galpões do prédio e a placa que dizia: "Não há caixas vazias". Respondi-lhe que nosso
depósito tinha um galpão e que eu o mostraria no dia seguinte. Ele disse que o havia
visto em uma visão e que isso era importante.
Mais tarde, Bob perguntou-me se eu ainda fazia planos de viajar para Londres.
Eu havia, na verdade, aceitado um convite para ministrar em uma conferência lá.
Fiquei surpreso ao constatar que Bob sabia disso. Ele então me disse que eu
precisava estar lá no primeiro dia da primavera. Pensei em minha agenda e percebi
que de fato estaria em Londres no primeiro dia da primavera. Perguntei a Bob por que
precisava estar lá naquele dia, e ele me lembrou da palavra que havia me entregue
anos atrás e que eu havia esquecido. Um pouco perturbado com meu esquecimento,
ele começou a me fazer uma série de perguntas.
Primeiro, me perguntou sobre quanto tempo vivíamos naquela propriedade.
Respondi que fazia cinco anos. Então me indagou sobre quanto tempo fazia que ele
me havia entregado a palavra acerca de Londres. Fazia cinco anos. Perguntou-me
sobre quanto tempo vínhamos publicando o The Morning Star Journat. Há cinco anos,
respondi. Quis saber quantos filhos eu tinha. Nosso quinto filho tinha acabado de
nascer.

Então me perguntou a idade de Amber. (Ela era nossa terceira filha, e Bob
havia profetizado seu nascimento dois anos antes de ela nascer, sinalizando a data
em que ela nasceria). Amber tinha 5 anos. Todas essas datas estavam relacionadas
ao seu nascimento porque ela sena um sinal de um novo começo que haveria de vir
para a Igreja.
Ele então quis saber sobre desde quando vínhamos realizando as reuniões da
Escola do Espírito. Fazia cinco anos. Por fim, disse que eu iria a Londres a fim de
receber uma missão do Senhor, na qual eu receberia cinco coisas.
"NÃO HÁ CAIXAS VAZIAS"

No dia seguinte, levei Bob ao depósito, ao galpão e aos escritórios. Ele disse
que havia visto o Lugar em uma visão, mas que não era aquele. Continuou a procurar
por uma placa que dizia: "Não há caixas vazias", mas não tínhamos tal placa.
Estávamos procurando um lugar maior para nossas reuniões, por isso decidimos
levar Bob a um deles que estávamos quase alugando. Tão logo nos aproximamos, Bob
animou-se. Quando entramos no lugar, ele teve certeza de que era o local que
havia visto em sua visão. Ele queria ver o galpão.
Enquanto olhávamos ao redor, passamos por uma porta que, do outro lado,
tinha uma placa que dizia: "Não há caixas vazias". Não muito longe, estava o
galpão exatamente como Bob o havia visto na visão. Assinamos o contrato de
locação no mesmo instante, e aquele lugar tornou-se a sede da MorningStar
Fellowship Church, em Charlotte.
Lembrando-me da vez em que o Senhor havia imposto as mãos em mim por cinco
vezes, segui minha viagem para Londres com muita expectativa. Quando me
sentei em meu quarto de hotel em Londres no início da primavera, o dia estava
sombrio e chuvoso. Eu estava um pouco deprimido por causa de algumas coisas que
havia presenciado em um ministério que havia servido de sede para nossas reuniões.
Então, de repente, fui levado para uma outra esfera.
Foi nessa experiência que o Senhor me deu as cinco coisas que estão escritas
neste livro. Durante os oito anos seguintes, Ele me fez compreender cada uma delas.
Recentemente, em uma série de experiências proféticas, fui levado a revisitar os
mesmos lugares. A segunda visitação foi, em certos aspectos, ainda mais poderosa
do que a primeira. Quando o Senhor fala duas vezes assim, isso normalmente tem a
ver com o grau de importância da revelação. Foi então que também decidi que essas
experiências precisavam ser escritas. Essa mensagem não era somente para mim,
mas para muitas pessoas que estão prestes a ser despertadas para um
impressionante destino. Essas coisas logo começarão a ser reveladas.

RESUMO

Repito que escrevi essas visões na primeira pessoa porque foi assim que elas
aconteceram. Eu me vi envolvido nessas experiências. Alguns me disseram que a
mensagem seria mais agradável se eu tivesse escrito as visões na terceira pessoa ou
como uma alegoria. Pode ser verdade, mas não achei que isso seria honesto ou
correto. Tentei escrevê-las exatamente como as experimentei.
Também vi muitos que tinham dificuldade de crer que o Senhor ainda fala às
pessoas dessa maneira mudarem de idéia, sobretudo porque começaram a ter o
mesmo tipo de experiências. Podemos esperar muito mais disso à medida que
caminhamos para o fim desta era, o que está claramente anunciado em Atos
2.17,18:
Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os
povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões,
os velhos terão sonhos. Sobre os meus servos e as minhas servas
derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão.
Você simplesmente não pode crer que estamos chegando aos últimos dias
sem entender que haverá um aumento considerável de revelações e experiências
proféticas. Na verdade, toda vez que o Espírito Santo é derramado, isso vem
acompanhado por sonhos, visões e profecia.
O texto em Atos 2, que é extraído de Joel 2, enfatiza isso porque, nos
últimos dias, a liberação de revelações proféticas, sem dúvida, acontecerá em uma
escala muito mais abrangente. Tenho visto com muito interesse, e às vezes com
prazer, muitos que não criam que essas experiências eram para hoje começarem a
vivenciá-las. Gostem ou não, elas estão acontecendo.
Mesmo assim, uma das razões por que essa•'experiências irão tornar-se tão comuns
à medida que seguimos para o final desta era é que vamos precisar delas. Elas
não são para nosso deleite, ou simplesmente para que façamos melhor o nosso
serviço. São 4mportantes para nossa direção, e vamos precisar de uma direção
mais específica nos tempos que estão por vir. É esta convicção que me tem
instigado a ser muito mais franco quando escrevo sobre a natureza das experiências
que vivenciei.
Tenho dois objetivos pessoais que me instigam em quase tudo que faço. Um deles
é tornar-me tão obediente a Cristo a ponto de todos os meus pensamentos,
literalmente, serem cativos a Ele. O segundo é que quero estar mais em casa na
esfera celestial do que na terrena, assim como o apóstolo Paulo disse acerca de si
mesmo.
Vivo para o dia em que os cristãos poderão sentar- se na encosta de uma montanha
com um exército inteiro à sua procura e desfrutarem da perfeita paz, pois eles
estarão apercebidos de que aqueles que estão conosco
são em maior número do que os que estão com nossos inimigos. Creio que esta é a
herança do corpo de Cristo. É assim que deveria ser o Cristianismo.
Paulo escreveu em 2 Coríntios 3.7,8:
O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em
pedras; mas esse ministério veio com tal glória que os
israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés, por
causa do resplendor do seu rosto, ainda que
desvanecente. Não será o ministério do Espírito ainda muito
mais glorioso?"

Tais palavras atestam que a glória que deveríamos estar experimentando na Nova
Aliança é maior do que a que Moisés experimentou. Moisés encontrou-se com o
Senhor face a face e, ainda, teve de colocar um véu sobre seu próprio rosto por
causa da glória que refletia dEle. Deveríamos estar experimentando algo maior do
que isso.
Uma das perguntas fundamentais de nossos tempos deveria ser: "Onde está a
glória?". Uma coisa na qual podemos confiar antes do final desta era é que a glória do
Senhor será manifesta em Seu povo, assim como nos foi prometido em Isaías 60.1-3:
Levanta-te, resplandece! Porque chegou a sua luz, e a glória do Senhor
raia sobre você. Á escuridão cobre a Terra, densas trevas envolvem os
povos, mas sobre você raia o Senhor, e sobre você se vê a Sua glória. As
nações virão à Sua luz e os reis ao fulgor do Seu alvorecer.
Ao mesmo tempo em que a escuridão está cobrindo a Terra, e densas trevas
estão envolvendo os povos, a glória do Senhor está raiando sobre Seu povo e
sobre ele aparecendo. Estes são os tempos aos quais estamos chegando. É isso que
tenho visto em quase todas as visões, sonhos ou experiências proféticas sobre os
quais escrevi — escuridão e conflito, glória e esplendor. Eu preferiria ver apenas a
glória, mas eles estão vindo juntos, e devemos ver e entender a ambos.
Conseqüentemente, o Corpo de Cristo está prestes a passar por uma
metamorfose. É como uma Larva arrastando-se pela terra, mas que sem demora
irá se revelar como uma maravilhosa borboleta. A igreja que está pronta a se
levantar irá sentir-se mais em casa na esfera celestial do que na terrena.
Os tipos de experiências sobre os quais estou escrevendo não parecerão
estranhos para essa Igreja, e aqueles que farão parte dela logo ouvirão o
nítido chamado feito pela trombeta, que está revelado no livro de Apocalipse 4.1,2:
Depois dessas coisas olhei, e diante de mim estava uma porta aberta no
Céu. A voz que eu tinha ouvido no principio, falando comigo como
trombeta, disse: Suba para cá, e lhe mostrarei o que deve acontecer
depois dessas coisas. Imediatamente me vi tomado pelo Espírito, e diante
de mim estava um trono no Céu e nele estava assentado alguém.

Há uma porta que está aberta, e há um convite _para que passemos por
ela. Aqueles que responderem a este chamado serão tomados pelo Espírito e,
conseqüentemente, sempre estarão vendo Aquele que está assentado no trono. Este
é o principal objetivo de toda revelação verdadeira e profética: ver o glorioso Cristo
ressuscitado e a autoridade que Ele agora tem sobre todas as coisas.
Existe uma diferença entre crer com a nossa mente e crer com o nosso
coração. Podemos muito bem conhecer e crer na doutrina de que Jesus está agora
sobre todo governo e autoridade e domínio, mas, se realmente crêssemos nisso
com o nosso coração, nossa vida seria radicalmente diferente. Como diz Romanos
10.10:
"Pois com o coração se crê para justiça...".

Um dos principais resultados de qualquer experiência é transformar


conceitos em crenças no coração. Este será o resultado da revelação profética que
será derramada nos últimos dias. Isto produzirá uma transformação da Igreja que
será tão radical quanto à larva se tornando uma borboleta. Por essa razão, oro para
que você não se satisfaça tão-somente com a leitura sobre meus sonhos e visões,
mas que tenha os seus próprios sonhos e visões.

Essa visão não está completa; ainda está se revelando. Concluí este livro em
uma parte que parece o meio da história, porque é isso. Há muito mais por vir.
No entanto, o restante é tão abrangente que será necessário outro livro.
Mesmo assim, a mensagem contida neste é suficiente para que tratemos de
parte do tempo que há de vir.
Não se trata de uma fantasia. O verdadeiro Cristianismo é a maior aventura
que se pode ter. A verdadeira vida na Igreja, o modo como deveria ser, é uma
experiência sobrenatural. É a vida a partir de uma outra esfera que está além desta
em que vivemos que traz a verdadeira vida à Terra. Oro para que a mensagem deste
Livro levem aqueles que o lêem para uma vida com uma realidade maior — uma vida
que testifica que o Céu é real e que nosso Rei está assentado em um trono acima de
todos os outros.
Rick Joyner

CAPÍTULO 1 A TOCHA

Sentei-me em meu quarto de hotel em Londres. Eu estava impaciente e pensei


em ir a pé ao palácio de Buckingham, que ficava a alguns quarteirões de
distância. Mesmo sabendo que eu estava no lugar certo e no momento certo, esta foi
uma de minhas viagens ministeriais mais difíceis.
Comecei a pensar na profecia que antevia essa viagem. Recostei a cabeça no
encosto da cadeira para descansar por um instante. De repente, achava-me em outro
mundo.
Estava em pé em uma praia. A água batia suavemente em meus pés. Pensei
que deveria estar sonhando, mas eu sabia que não estava dormindo. Olhei para o céu,
que tinha uma cor refulgente. Não era como nenhum pôr-do-sol ou alvorada que eu já
havia visto.
Então percebi a atmosfera. Estava claro, e o ar, fresco. A cada respiração,
sentia-me rejuvenescendo. Minha mente tornava-se mais despertada, e meus pen-
samentos, cada vez mais aguçados e claros.

Olhei para as montanhas a distância e comecei a estudá-las. Pareciam estar a,


pelo menos, 80 quilômetros de distância, mas, quem sabe, muito mais longe. Á clari-
dade que fazia era algo indescritível. Adoro montanhas, e já vi algumas das mais
majestosas do mundo, mas essas eram mais maravilhosas do que qualquer outra
que conhecia. Pareciam como grandes muros de uma fortaleza que transmitiam
força e propósito, mas que também eram acolhedores e convidativos.
Então, olhei para a água entre mim e as montanhas e me perguntei se
havia um caminho em volta dela para que eu pudesse ir até lá. Tão longe como elas
estavam, eu era atraído a elas como por um ímã e queria ir até lá no mesmo
instante.
Senti-me forçado a olhar mais de perto para a água. Ela também era
cristalina, com um suave tom de azul e um maravilhoso contraste com o céu. Eu me
perguntava se era possível haver um lugar mais lindo. De um modo estranho, era
como se aquele lugar fosse meu lar, o lugar a que eu pertencia. Eu estava
revivendo de um modo que era mais do que maravilhoso. Era como despertar de um
sonho para a realidade, mas uma realidade muito mais maravilhosa.
Então, notei um vulto vindo em minha direção pela praia. Pude ver a
distância que Ele carregava uma tocha. Ela emitia uma luz igual à cor do céu. Eu
soube no mesmo instante que era o Senhor. Cheguei a essa conclusão pelo modo
como Ele andava, com um propósito, mas sem pressa. Ele nunca tem pressa porque
o tempo se submete a Ele. À medida que Ele se aproximava, pude ver que usava uma
veste branca com um cinto dourado amarrado na frente. A orla de Suas vestes tinha
um contorno de ouro, assim como a barra de suas mangas.
"É o pôr-do-sol e a alvorada" - Ele disse. "A alvorada em um lugar é o pôr-do-sol
em outro. Você vive no pôr-do-sol de uma era e no amanhecer de outra. Esta é a
razão por que está aqui, para aprender coisas sobre o final da era em que está e o
início da que está despontando."
Ao aproximar-se, Ele estendeu a tocha em minha direção, mostrando que eu
deveria segurá-la. "É sua", Ele disse. "Fui eu que acendi este fogo, mas você deve
mantê-lo aceso."
Quando peguei a tocha, fiquei surpreso com sua tamanha leveza, o que me fez
pensar que ela também deveria ser frágil. "Ela não é leve nem frágil" — o Senhor
disse, respondendo aos meus pensamentos. "Tem mais substância e mais peso do
que a própria Terra. Esta é a luz da minha presença. Se eu não estivesse ao seu
lado, você não poderia segurá-la. Se você sair da minha presença, ela ficará pesada.
Se vier a se afastar de mim, terá de abaixá-la. Então, outra pessoa irá pegá-la e
carregá-la. Ela é sua enquanto estiver perto de mim."
Enquanto eu continuava a examiná-la, o Senhor continuai: "Esta tocha exala o
ar do Céu. Nenhum poder na Terra poderá extingui-la se quem a levar andar comigo
nesta esfera. Seu brilho e poder dependem da vida de seu portador e do modo como
ele permanece em mim."
Eu ainda estava olhando para ela quando o Senhor começou a andar pela
praia. Ele estava a alguns passos de distância quando percebi que a tocha estava
ficando pesada. Rapidamente O alcancei. Então, outra voz atrás de mim começou a
soar: "Até a própria tocha pode tirar sua atenção do Senhor."
Virei-me e vi um homem de meia-idade que usava a veste simples de um monge.
Seu rosto estava serio, porém alegre. Ele continuou a falar enquanto todos
andávamos.
"No seu tempo, haverá mais pessoas para carregar esta tocha do que em
todos os tempos antes de você. Você conhecera aqueles que portarão a tocha
quando encontrar-se com eles. Vocês devem incentivar e ajudar uns aos outros. Uma
vez que nenhum de vocês poderá ficar sozinho, você devera unir-se a outros
portadores da tocha. Quando fizer isso, poderá vencer o poder das trevas que o
afrontara. Você poderá libertar pessoas, cidades e ate nações com a Luz dela."
Então, percebi que a tocha estava respirando
estava viva! Segurei-a com as duas mãos, e um surto de poder fluiu pelo meu ser
como se eu tivesse fechado algum tipo de circuito. Minha visão aumentou, minha
mente ficou ate mais aguçada e senti minha forca aumentar. Eu não podia
compreender como alguém era capaz de por de lado tamanho tesouro.
"Você ainda não sentiu a dor da tocha" - o Senhor interrompeu - "Sustento o
Universo com a minha Palavra. E a minha Palavra que lhe permite segurar esta
tocha. Esta tocha é a luz da minha presença e é também o que você chama de 'um
movimento'. Eu Sou a Verdade Viva, e a verdade que é viva esta sempre em
movimento. No inicio, o Espírito Santo Se moveu, e Ele não deixou de Se mover. A
vida se move."
O monge que estava andando conosco acrescentou:
"Nele vivemos e nos movemos. O Espírito Santo esta sempre Se movendo.
Quando Ele Se moveu no vazio sem forma, o caos produziu vida. Este é o Seu
desígnio: transformar o caos que o mal criou no mundo na vida de uma nova
criação. Quando você se mover com a vida do
Espírito, a criatividade será o ar que seu espírito respira." "Quem é você?" - perguntei.

"Sou aquele a quem você chama 'Thomas a Kempes' ."


"É uma honra" - eu disse. "Conheço bem seus escritos. Eles me sustentaram
durante alguns momentos difíceis. Na verdade, no geral, acho que são alguns dos es-
critos mais poderosos que conheço fora das Escrituras."
Thomas continuou como se nem tivesse ouvido minhas observações:
"Os tempos de grande escuridão logo virão sobre a Terra. Havia escuridão na
minha época, mas não como a que você esta prestes a ver. Lembre-se de que
você jamais estará na escuridão se ficar perto do Senhor. A tocha que carrega
tem sido a fonte de todo movimento verdadeiro do Espírito. Os lideres desses
movimentos são todos portadores dela. Os movimentos que deixaram de se mover
e, conseqüentemente, deixaram de viver, passaram por isso porque a tocha foi
deixada de lado. Se você quiser resistir ate o fim, devera permanecer perto da
Fonte desta luz e fogo. Ele esta se movendo, e você não deve deixar de se mover."
O Senhor fez um sinal para que Thomas fosse para Seu lado. Quando colocou
Sua Mao no ombro de Thomas, Sua afeição por ele foi visível.
"Os homens pensavam que Thomas era somente um trabalhador humilde, alguém que
cozinhava, lavava a louca e carpia as jardins, mas ele também carregou essa tocha.
De sua função como lavador de pratos, veio a ser mais poderoso do que reis ou
imperadores. Ele profetizou para milhões ao Longo de gerações. Ainda hoje, minha
mensagem sai de seus escritos para ajudar na preparação dos que estão vindo. Você
pode ser mais poderoso lavando pratos e ficando perto de mim do que liderando
exércitos ou nações, mas longe de mim."
Enquanto continuávamos a andar, Thomas começou a falar novamente.
"Esta tocha é oferecida a todos os mensageiros do Senhor. Somente alguns
a carregaram, e são poucos os que a têm carregado por um bom tempo. Não foram
muitos que aprenderam a permanecer em Sua presença. Se ficar perto dEle, levará
consigo o que vê e sente aqui e irá transmiti-lo a muitos outros. Com isso, muitos
serão levados ao Senhor. Se pegar esta tocha e depois deixá-la, também poderá ser
usado para fazer muito mal."
"Como alguém que já viu o Senhor, e tirou esta tocha de Sua presença,
seria usado para fazer o mal?" - protestei.
"Esta tocha dará ao seu portador muita influência. Aqueles que a
carregaram e a deixaram, muitas vezes fizeram isso porque começaram a admirar
mais a influência dela do que a presença do Senhor. À medida que eles se
afastavam dEle, a tocha ficou extremamente pesada, e, com isso, a puseram de lado e
começaram a substituir as Palavras do Senhor por suas próprias palavras. Foi assim
que as doutrinas e tradições humanas começaram a obscurecer a influência
de seu Espírito sobre os homens. Isso aconteceu a todos os movimentos até
agora. Você acha que pode se sair melhor do que todos os outros portadores da
tocha?"
Percebi a seriedade dessa advertência. Eu conhecia muito bem minhas
inclinações no sentido de deixar de buscar o Senhor e de permanecer perto dEle.
Também conhecia meu orgulho e presunção de pensar às vezes que meus
pensamentos eram os pensamentos do Senhor e minhas palavras, Suas palavras.

Mesmo sob a glória de Sua presença, enquanto andávamos, senti um calafrio.


Uma vez que me foi dada essa tocha, minhas falhas iriam agravar-se, e muitas outras
pessoas seriam afetadas. Pensei nos fracassos anteriores no ministério e depois em
meu fracasso nos negócios. Cada um deles havia causado uma destruição um pouco
maior. Agora, meu ministério estava crescendo novamente. Será que eu poderia
carregar o peso dessa responsabilidade? Em quase todos os aspectos que tinham
importância, tudo que eu havia iniciado no passado havia acabado em fracasso.
"Será que seria diferente desta vez?" - pensei.
O Senhor olhou para mim de um modo que expressou bondade e perdão, mas,
ao mesmo tempo, senti a gravidade da advertência que eu estava ali para receber.
"Meu Espírito irá com você e o convencerá de sua tendência de afastar-se de
mim. Mesmo assim, você deverá seguir o meu Espírito. Mesmo os portadores da tocha
não serão forçados a seguir-me. Cairão todos que não me amarem mais do que ao
pecado e à maldade. Sucumbirão todos que não amarem a verdade mais do que aos
elogios dos homens. Se você me amar e amar a minha verdade mais do que aos
ídolos que o mundo adora agora, não cairá. Esta será sua escolha diária: seguir-me
ou servir aos ídolos que podem facilmente obscurecer sua afeição por mim."
Segurei a tocha com muito mais força. Ao fazê-lo, senti tanta energia fluindo
por mim que era como se cada célula do meu corpo fosse despertada e estivesse
pronta a saltar para fora. Pensei em Romanos 8.11:
E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em
vocês, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida
a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vocês.
Estar perto dEle era algo que estava levando meu corpo a reviver como eu
nunca havia sentido antes.
Comecei a perceber que tudo naquele lugar estava vivo - as árvores e a grama -
, e, de um modo estranho, as próprias montanhas também pareciam estar vivas. Até
as nuvens estavam, de algum modo, tentando falar. De um modo profundo, isso
parecia natural. Estava certo. Comecei a ter um tipo de comunhão com tudo o que
eu podia ver. Enquanto absorvia tudo isso, o Senhor continuou:
"Agora é tempo de mostrar à Terra que o Céu existe. Aponte a tocha Mira
o mar."
Eu a apontei para a água até que ela a tocou. Então, a introduzi na água até
ficar totalmente submersa. Seu fogo continuou bem aceso e ainda mais lindo
debaixo da água. De repente, a água incendiou-se. Chamas se espalharam da
tocha e começaram a se arrastar em direção ao horizonte. Elas faziam isso lenta e
continuamente, o que me fez lembrar do modo como o Senhor andava. Eu me
perguntei se o mar tinha de fato algum tipo de combustível. Quando olhei mais de
perto, constatei que ele também estava vivo.
Fiquei observando enquanto o fogo queimava. Não havia fumaça nem vapores.
Havia certo calor, mas era suave, um tipo de calor penetrante que parecia liberar
uma energia ainda maior dentro de mim. Enquanto eu estava por perto, ele continuou
a aumentar. Logo senti gire poderia saltar sobre uma casa, ou talvez até levantá-la.
Era uma sensação extraordinária e maravilhosa. Enquanto me tornava vivo, eu estava
me ligando a uma energia vital que me dava a força do todo. Era como experimentar
uma massa crítica espiritual_
Thomas estava me observando de perto e sobriamente. Então acrescentou:
"Enquanto você permanece nEle e faz Sua vontade, começa a fluir com Sua
energia vital, que está em tudo o que vive. Desse modo, enquanto ajudamos os
outros a reviverem, a vida cresce em nós também. Não comece a adorar essa energia
vital; você só permanecerá no caminho da vida se buscar a Fonte de vida."
Eu sabia que esta era outra advertência importante. Era nessa armadilha
que muitas seitas e movimentos da Nova Era haviam caído. Mesmo assim, eu
queria me lembrar da sensação. Sabia que todos que já haviam experimentado essa
energia vital ficariam viciados nela para sempre, buscando-a eternamente como um
viciado que procura sua próxima droga. Thomas, que obviamente também estava
lendo meus pensamentos, continuou:
"Não há embriaguez como a própria vida, mas Lembre-se de que ainda assim
ela é embriagante. Muitos caem ao menor toque de Seu Espírito e podem embriagar-
se no Espírito com um pequeno gole. No entanto, os sacerdotes tinham de aprender a
ficar em pé e ministrar mesmo na presença de Sua glória. Se você entregar seu corpo
a esta vida, ficará bêbado. Se entregar o seu espírito, será vivificado, fortalecido e até
mesmo poderá conseguir enxergar com maior clareza. Você deverá preparar os que
estão vindo não para que busquem seu beneficio próprio e se tornem embriagados
por esse poder, mas, sim, a se manterem sóbrios, aptos a enxergar com maior
clareza e desempenharem suas tarefas. Você sempre se sentirá bem após haver
cumprido o seu objetivo."
O Senhor virou-se e olhou bem para mim.
"Você pode pôr fogo nas nações com esta tocha. Esse é o mesmo fogo que
Moisés viu na sarça. Esse é o fogo que enviei com ele para libertar o meu povo. É o
que estou prestes a enviar com os meus mensageiros para novamente libertarem o
meu povo."
Olhei para o fogo na água e vi que a água tinha multidões de seres - pessoas -
que estavam no fogo, mas não estavam sendo consumidos. Estavam revivendo. Esse
era um fogo que, um dia, cobriria o mundo. Consumiria a madeira, o feno e a palha,
mas purificaria o ouro, a prata e as pedras preciosas em toda vida. Pensei no que o
Senhor disse em Lucas 12.49:
"Vim trazer fogo à Terra, e como gostaria que já estivesse aceso."

Examinei Thomas. De sabia o que eu estava pensando: "Sim, chegou o tempo. O


fogo agora está aceso."
1. Thomas a Kempes (1380-1471) foi um monge e escritor alemão. É o maior
representante da literatura devocional moderna.

CAPÍTULO 2 O MENSAGEIRO

Permanecemos à beira do mar de fogo por um bom tempo. A vida, a energia e


a paz que sentíamos continuavam a aumentar. Era como um surto de alegria
que não passava, mas, ao contrário, aumentava até vir a se constituir em certa
plenitude de alegria. Eu sabia que não havia nada que pudesse se comparar a isso,
mas parecia algo vagamente familiar.
"Você esta experimentando a alegria e a força que o homem conheceu antes da
queda" - explicou o Senhor. - "Só está começando a experimentar o que, na verdade,
é uma vida normal para o homem, do modo como eu o criei para viver."
À medida que as chamas do mar tocavam suavemente o meu corpo, passei a
reconhecer a sensação. Foi o que comecei a chamar de "coração ardente no
caminho de Emaús". É o modo como o nosso coração queima quando andamos
próximos do Senhor e Ele, em pessoa, nos ensina. Comecei a pensar em Adão, que
havia andado com Deus no jardim do Éden, e em Enoque, que foi trasladado
diretamente para o Céu.
O Senhor novamente respondeu aos meus pensamentos.
"Quando andei com Adão, eu o ensinei sobre a criação e sua finalidade de
cultivá-la e mantê-la. Dei a ele também liberdade para ser criativo no seu cultivo. Ele
foi criado à minha imagem. Para levar a imagem do Criador, é preciso ser criativo. Nisso,
tivemos uma grande comunhão."
"A verdadeira criatividade só pode ser encontrada por aqueles que andam
ao meu lado. É um relacionamento comigo que alguns têm experimentado, mas é
disso que gosto sobremaneira. Alguns fazem isso e andam muito próximos de mim,
mesmo que não saibam o meu nome. Eles não sabem que eu me fiz carne e andei
na Terra. Chegou a hora de todos os que me buscam e aos meus caminhos saberem
o meu nome e conhecerem os meus caminhos, que foram revelados."
"Quando Adão andava comigo, ele estava em harmonia com minha criação e
sentia a energia e a força que você sente agora. Ele tinha tanta vida que viveu
quase mil anos depois que o pecado entrou nele, e a discórdia do pecado penetrou
em sua alma. Ha um grande poder na vida, mas toda vida perderá o seu poder se
não permanecer junto a mim."
"Enoque desejou aquilo que Adão perdeu. Ele andou comigo, e eu comecei a
ensiná-lo como fiz com Adão. Ele descobriu a fonte de vida andando comigo. A vida foi
tão grande nele que teria permanecido na Terra se eu não o tivesse levado para
habitar comigo. Ele tinha muita vida para acabar morrendo, por isso tive de levá-lo."
"Ainda estou aprendendo coisas sobre a vida" — disse outra voz atrás de
mim.
Virei-me e vi ao longe um homem de pé em uma bela campina verde. Sua voz
parecia muito mais próxima do que ele realmente estava. Ele começou a
caminhar em nossa direção de um modo parecido com o Senhor — determinado,
mas sem pressa. À medida que se aproximava, percebi que sua face tinha a
mesma cor do céu, da tocha e da face do Senhor. Usava também uma veste
parecida com a do Senhor. Ele se aproximou e tirou a tocha da minha mão.
"Tenho de abençoá-lo antes de você ir — tenho de abençoar os que carregam
a tocha. O objetivo de cada movimento é instigar os homens a fazerem o que fiz
— andar com Deus até que se sintam mais em casa na esfera celestial do que na
terrena. O homem foi criado para habitar na Terra com seu corpo, enquanto seu
espírito se eleva aos Céus."
"Você é Enoque?" — perguntei.
"Sou". ele disse ao estender a mão e tocar meu coração.
"O fogo queima" - prosseguiu -, "mas o que lhe falta é disciplina e
perseverança. Você anda apropriadamente por pequenos períodos. Agora precisa
aprender a andar com perseverança. Precisa ter a determinação de andar a cada dia
no domínio daquilo que o Senhor lhe tem dado para governar. Ele lhe tem dado
autoridade, mas você precisa andar com Ele em seu domínio. Só então dará
frutos e irá multiplicar-se como foi chamado a fazer. O seu domínio é o seu jardim.
O caminho da vida sempre leva à unidade e à harmonia — com Deus, primeiro, e
depois com tudo aquilo que é dEle. Para isso, é preciso força e perseverança, pois
toda a criação está agora em desarmonia, e ela se opõe à unidade."
Enoque então pegou a tocha e a tocou em meu coração. Ela trouxe à tona um grande
fluxo de energia e poder e, depois, uma alegria que mal podia ser contida. Quando ele
a tirou, o fogo continuou a queimar dentro de mim, e a energia continuou a correr como
ondas pelo meu corpo.
"O Senhor faz de Seus mensageiros chamas de fogo. Você não pode andar com
Deus, ou cumprir Seu propósito a menos que mantenha esse fogo aceso em seu
coração. A indiferença é seu inimigo mortal. Você não deve deixar o fogo se extinguir;
afastando-se de Sua presença. Esse fogo que agora queima no seu coração deve
ser alimentado a cada dia. Seu alimento é a atmosfera do Céu, que é o sopro de
Deus. Aquilo em que Ele sopra, vive, e aquilo em que Ele não sopra, morre. Busque
essa vida e persevere neta. Se fizer isso, deixará um rastro de vida no qual o Rio da
Vida romperá e fluirá. Se você andar como foi chamado, ajudará a restaurar a
verdadeira vida."
Enoque então segurou o meu rosto com as suas mãos e olhou bem nos
meus olhos. Ele era a própria definição de bondade. Parecia estar tão cheio de
alegria e amor que tive a impressão de que era a pessoa mais parecida com o Senhor
de todas que já conheci. Para mim, todos os que o vissem passariam a vida tentando
ser como ele. Então percebi que a principal razão por que ele estava olhando para
mim era para que eu olhasse para ele. Eu olhei. Então ele me soltou e seguiu na
direção de onde havia vindo.
"Enoque investiu especialmente em você" — o Senhor disse enquanto nós
dois o observávamos partir. "Ele profetizou a chegada dos poderosos que logo haveriam
de se levantar. A partir do instante em que teve permissão para vê-los, esperou por
esse momento. Você foi chamado para ajudar a despertar esses poderosos para o
destino que eles têm. Quando se despertarem, terão o coração de Enoque. Seu
poder e sua força vêm dessa tocha que Enoque foi o primeiro a levantar e que outros
fiéis mantiveram viva na Terra."
"Dentre aqueles que hão de vir, muitos se levantarão como Abraão, Moisés,
Rias, João Batista, Pedro, Paulo e João. Haverá cerca de mil homens como cada um
dos grandes mensageiros da era que agora está se findando."
"Depois que cada um dos carregadores da tocha deixou a Terra, eles deixaram
seus mantos de autoridade para serem usados por outros. Eles foram divididos como
foi o meu na cruz. Quando um homem tiver uma parte do manto que se junta à
de outro homem, a autoridade deles aumentará. Muitos desses mantos foram
escondidos e guardados para este tempo. Eles foram reservados para aqueles que
serão meus mensageiros nos últimos dias."
"É verdade que a autoridade espiritual aumenta a unidade. Um homem pode
pôr mil homens para fugir, mas dois podem perseguir 10 mil. A unidade que esses
mensageiros de poder dos últimos dias têm multiplicará a autoridade dos mantos que
eles carregam. O mundo inteiro jamais viu algo como o que estou para liberar por meio
desses mensageiros. Eles andarão no fogo de todos os que os precederam. Por isso,
agora você precisa ajudá-los a encontrar o caminho e os seus mantos."
"Senhor, aqui sinto que posso fazer alguma coisa. Será que continuarei a
sentir isso quando voltar para a esfera terrena?" — perguntei.
"Não. Quando você voltar, tudo isso lhe parecerá um sonho. O planeta está sob
um manto de medo e desconfiança que está se tornando cada vez mais grosso e
negro. Aqueles de sua época que vencerem o medo e a desconfiança para andar no
poder da vida aqui terão a maior fé, e a eles será confiada a maior autoridade."
"Você só conseguirá se lembrar vagamente do que vê e sente aqui. Mesmo
assim, o desejo pelo que você agora está experimentando lhe foi dado a conhecer, e
esse desejo não desaparecerá. Ele é verdadeiro e irá levá-lo à realidade."
"Você poderá voltar a ter tudo o que experimentar aqui, mas também
precisará desenvolvê-lo à medida que andar comigo na Terra. Somente dessa forma
poderá ser sábio e humilde o suficiente para ser revestido da autoridade e do poder
que sente aqui. A sabedoria e a humildade são mais importantes do que o poder. Sem
elas, o poder irá corrompê-lo, e você será usado para o mal. É por meio de sua
sabedoria e humildade que você poderá ajudar os meus mensageiros ao longo do
caminho que eles têm pela frente."
Voltei-me para ver Enoque novamente e me surpreendi ao verificar que ele
havia dado somente alguns passos. Ele estava me observando com muito interesse.
Tinha um olhar determinado que quase chegava a ser impiedoso, mas também
mesclado de certa afeição. Isso o fazia parecer a própria definição de uma
estabilidade sólida como a rocha. Imaginei o quanto seria maravilhoso ter tido um
mentor como ele. O Senhor mais uma vez respondeu aos meus pensamentos:
"Você foi chamado para ser como ele, como foram todos aqueles que estou
enviando para preparar o caminho dos meus mensageiros de poder. Urna vez que você
vê a minha glória em Enoque, será transformado por ela. É isso que você foi chamado
a ser para os outros que carregarem a tocha, e assim eles serão para você. Você
não está
sozinho, já que há muitos outros que foram chamados para fazer isso, exatamente
como você. No entanto, você não poderá ser como ele antes de ter andado
comigo como ele andou. Este é o seu único objetivo agora - andar mais perto de
mim a cada dia."
Então olhei para as nuvens lá no céu. Elas eram tão magnificentes quanto às
montanhas. Cada uma parecia estar no seu devido lugar, como as que um artista usaria
para adornar com perfeição um quadro. De forma alguma, impediam ou obstruíam a luz
solar nem o céu, mas se ajustavam de uma maneira a realçá-los. Havia uma que
estava bem acima de nós que formava um perfeito dossel. As nuvens tinham tanta
vida que gotejavam personalidade. Elas tinham um propósito. Eu sabia que se
dedicavam a realçar com a maior perfeição possível a glória de todas as coisas que
estivessem ao seu redor, e era o que elas estavam fazendo para nós. Eram tão
agradáveis que eu gostaria que houvesse um modo de mostrá-las a cada criança.
O Senhor deixou que eu desfrutasse disso e depois continuou:
"Eu criei o homem para carregar a tocha por toda a criação. Todos os
homens têm esse chamado, e foram criados para andar comigo e levar a luz da vida.
Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos. Você deve ir agora e encontrar
aqueles que perseveraram para ser os meus escolhidos. Eles manterão o fogo e
acenderão em todos os homens o fogo que o homem foi criado para ter."
"Você conhecerá esses escolhidos pelo fogo que já arde neles. Eles jamais se
contentarão com práticas religiosas, pois desejam a mim e a realidade desta esfera.
Porque me buscam, me acharão. Eu lhes concederei o desejo de seu coração - a
minha comunhão. Serei a sua herança."
"Também lhes darei uma autoridade maior do que a que já tenho confiado aos
homens. Eles a receberão porque terão a sabedoria e a humildade para usá-la.
Quando o Dia do Juízo chegar, testemunharão que andaram comigo
e que seu fogo não se apagou. Esses são os meus mensageiros que toda a criação
vinha esperando e pelos quais sentia as dores de parto. É hora de eles despertarem."
O Senhor então saiu andando sobre as águas, para
o meio das chamas. Vi quando Ele começou a andar em direção às montanhas. Eu
sabia que tinha de segui-Lo. Enquanto Ele caminhava sobre o mar em chamas, a tocha
ficava mais pesada. Se eu quisesse continuar a segurá-la, teria de segui-Lo, mas eu
estava indeciso quanto a tentar andar sobre as águas. Por fim, decidi sair andando
sem pensar nisso. Ao fazê-lo, pude andar sobre o mar como se ele fosse uma estrada
pavimentada.
O fogo no mar não me queimava. Ao contrário, como a t ocha, parecia
me dar energia. Enquanto andávamos, Ele se virou e disse:
"Você está aqui porque aprendeu a ver. Ver é avaliar
e procurar entender. É assim que a criança vê. Enquanto você continuar a ver,
poderei ensiná-lo e conduzi-lo."
"Aqueles que andam comigo crescem na força que está em mim. Dei a todos os
homens a capacidade para isso, para crescer na força natural e sobrenatural. Aque-
les que não andam comigo têm um vazio em sua alma no lugar dessa força
sobrenatural. Eles voltam-se para o maligno em busca de poder para preencher o vazio
de seu coração."
"Dou o meu poder aos que são sábios e maduros o suficiente para usá-lo. O
maligno dá o seu poder àqueles que são tolos e imaturos o suficiente para serem
usados por ele. Está chegando o tempo em que todos deverão optar por andar
comigo; do contrário, serão dominados pelo poder de um mal maior que ainda está
para se manifestar na Terra."
Enquanto andávamos, ondas de fogo se espalhavam de nós no mar como se
fôssemos um vento soprando. Quando o Senhor apontava para uma direção, as
chamas aumentavam na direção para a qual Ele estava apontando. Tentei apontar a
direção, e o mesmo aconteceu. Então o Senhor parou e se virou para olhar para mim.
"Tenho um fogo para lançar sobre a Terra que agora se acendeu. Ore para que
venha o meu fogo. Purificar eia. Ore para que este fogo consuma a palha e
purifique os meus escolhidos. Dou ao homem autoridade sobre a Terra e,
conseqüentemente, devo ser consultado antes de movê-la. Este é o principal objetivo
daqueles que andam nela: tomar conhecimento de mim e de minha vontade. Assim
poderão pedir que seja feita a minha vontade assim na Terra como no Céu, e ela
será feita. O que você verá aqui é para que conheça a minha vontade para a sua
geração."
De repente, me vi de pé em um vale.

CAPÍTULO 3 O CAVALO E A MENINA

Enquanto eu examinava o vale, a primeira coisa que chamou minha


atenção f oi uma bet a correnteza que fluía lá no meio. Era um cenário
natural, em bora, de algum modo, parecesse maravilhosamente feito à mão. Seu
aspecto era tão perfeito que eu não podia dizer se ainda estava na esfera do Céu ou
de volta à Terra.
Então ouvi um ruído acima de mim e nos dois lados. Parecia o ruído de milhares de
pisadas fortes. Era um som inquietante, principalmente em um cenário de tanta paz.
Vi, bem ali, que algo não estava correto. Urna grande multidão apareceu lá no topo
das montanhas ao redor. Era algum tipo de exercito. Enquanto eu os observava, eles
começaram a descer das montanhas, movendo- se lentamente, até mesmo de
maneira vacilante, mas de um modo implacável.
Comecei a sentir fortemente que se tratava de um exército cuja intenção era maligna.
Então, milhares de abutres apareceram, como uma nuvem, sobre eles, rodeando-os
como se estivessem esperando pela matança. Fiquei apavorado ao pensar no que
fariam a esse belo lugar, sem falar que temia por minha vida, uma vez que estava,
obviamente, cercado por essa horda do mal.
"O que você vai fazer?" — perguntou uma voz à minha retaguarda.
Vir-me-ei para ver quem estava falando e vi um grande cavalo branco. Ele
era lindo e tinha os músculos bem definidos, mesmo estando parado. Tinha uma in-
teligência nos olhos que eu jamais vira em animal algum, por isso me perguntei se era
ele quem havia falado.
"O que posso fazer?" — perguntei.

"Vejo que você é um dos que carregam a tocha. Esse cavalo é para você" —
continuou a voz. "Você deve aprender a montá-lo, se quiser deter a horda do mal que
está se aproximando."
"Resta tempo para aprender a montar um cavalo?" — perguntei, olhando ao
redor na tentativa de ver de quem era a voz, uma vez que agora estava claro de que
não era o cavalo que estava falando.
"Ainda há tempo."

Então uma garotinha que parecia ter entre 10 e 12 anos saiu de trás do cavalo.
Ela usava, ao que parecia, um uniforme escolar, guarnecido com uma armadura de
prata e de ouro que estava gasta e batida. Uma espada estava atada ao seu cinto. Ela
era magra e tinha um rosto lindo e olhos azuis brilhantes que estavam fixos em um
alvo feroz e sagaz. Destilava uma ousadia e confiança com a pureza de uma criança
que era impressionante em sua nobreza.
"Estou aqui para ensiná-lo a cavalgar" — disse a garota. "Temos tempo, mas
não podemos desperdiçá-lo". — ela repetiu como que tentando me acalmar.
Eu estava fascinado por essa garotinha, mas ainda inquieto em função da
enorme força das trevas que estava descendo o monte para vir ao nosso
encontro. Estava admirado com a calma que ela aparentava. Eu me perguntava
se ela era demasiadamente jovem para entender o que tal horda do inferno faria
a ela e a esse lugar. No entanto, quando olhei para ela, ficou óbvio que tinha
uma experiência e uma inteligência que iam além de sua idade.
"Entendo muito mais do que você imagina" — ela respondeu, como se eu
tivesse expressado os meus pensamentos em voz alta. "Estou aqui para pelejar ao
seu lado, mas, primeiro, você precisa aprender a montar este cavalo. Temos tempo,
mas não podemos desperdiçá-lo. Precisamos começar."
"Vamos começar então" — eu disse, sem querer perder um segundo. "Sei
montar um cavalo. Há alguma coisa especial que preciso saber para montar este
cavalo?" - perguntei.
"Não sei" — ela respondeu. "Nunca montei um cavalo."
"Mas pensei que você tivesse dito que estava aqui para me ensinar a
cavalgar. Como você vai me ensinar se nunca montou um cavalo?"
"Você aprenderá ao me ensinar. Não se sentirá totalmente seguro com este
cavalo antes que eu tenha o meu e possa montá-lo tão bem quanto você. Você também
precisa entender que este não é igual a nenhum cavalo em que já montou."
"Conte-me tudo o que sabe" — repliquei. "Podemos beber água deste
rio?" — perguntei, com sede e sentindo-me fraco.
"É claro. É por isso que ele está aqui."
Estendi a mão e segurei as rédeas do cavalo.

Então, o puxei levemente, e ele começou a me seguir sem nenhum sinal de


resistência. Quando chegamos à margem do no, estendi a mão e levei um gole de
água à boca. Imediatamente os meus olhos brilharam e a minha mente iluminou.
Enquanto bebia da água, me sentia mais forte. Empurrei levemente o cavalo
para frente, e ele se pôs de joelhos e bebeu da água. Nunca vi um cavalo fazer aquilo.
A garotinha fez o mesmo, ajoelhando-se para beber. Resolvi fazer o mesmo e
bebi até saciar minha sede.
"O medo enfraquece" — disse a garotinha quando terminou de beber.
"Você é uma garota muito inteligente" — respondi, pensando no quanto essa
criança era extraordinária. "Como você tem tanta sabedoria e como sabe sobre esta
tocha?"
Antes que ela pudesse responder, o barulho cada vez maior que vinha do
alto nos fez olhar para cima. Havia muita confusão nas fileiras do exército do
mal. Meus olhos estavam tão aguçados agora por causa da água que pude decifrar
algumas das bandeiras que estavam sobre as diferentes divisões.
As bandeiras que pude ver tinham nomes de diferentes filosofias, religiões e
ensinos místicos estranhos, a respeito dos quais eu já havia ouvido falar, mas
com os quais não estava muito familiarizado. Havia outras bandeiras, mas eram muito
pequenas ou estavam muito distantes para que eu conseguisse ler.
Uma vez que continuamos a observar, a confusão aumentou até que algumas
divisões começaram a pelejar entre si. Uma grande nuvem de pó se levantou, e
batalhas eram travadas em todas as direções. Logo toda a horda começou a
desaparecer, tornando a subir para o topo das montanhas. No entanto, não foram
muito longe, pois ainda podia ouvi-los e ver o pó que se levantava por conta de um
grande motim que, obviamente, acontecia entre eles. Mesmo assim, parecia que
estávamos seguros por um instante.
"É por isso que ainda temos tempo" — a garotinha explicou. "Os demônios
odeiam tanto uns aos outros como nos odeiam. Eles não conseguem marchar
juntos por muito tempo antes de começarem a pelejar entre si. A única coisa que
pode mantê-los unidos é uma batalha contra nós. O medo que eles têm de nós é
maior do que o ciúme que têm uns dos outros. É por essa razão que devemos estar
preparados para vencê-los na peleja. Quando pelejamos, devemos destrui-tos a
todos."
"Você fala como se fosse uma guerreira experiente" — eu disse, examinando
sua armadura. "Por favor, conte- me mais."
"Já vi pessoas bem-intencionadas, porém tolas, tentarem pelejar contra os
demônios antes de estarem fortes o suficiente para derrotá-los. Isso só serviu
para deixar o inimigo mais forte e mais unido. As batalhas que não são travadas até
que haja uma vitória completa sempre nos levam a perder mais terreno para o
inimigo."
"Muito embora tenha acontecido antes da minha época, eu soube que nós já
tivemos o controle de grande parte deste pais. Agora estamos cercados por este
pequeno vale. Da próxima vez que lutarmos, deveremos vencer, ou tudo estará
perdido."
Então ela olhou para mim com seus olhos azuis penetrantes. Eles eram como
o azul da parte mais quente do fogo.
"Bater em retirada não é uma opção! Não temos para onde ir!" - ela declarou
com a maior seriedade que já vi em urna criança tão pequena.
Isso me espantou, já que eu estava olhando ao redor para ver se havia uma
forma de escapar.
"Quantos anos você tem?" - perguntei. "Como sabe tanto?"
"Tenho 12 anos, mas venho pelejando desde os cinco anos de idade. Aprendi
muito nas batalhas, mas minha sabedoria vem deste rio. Este é o Rio da Vida. Ele
me dá a vida que transforma a experiência em sabedoria, a visão que é verdadeira."
"Esta é uma bela correnteza, mas não é exatamente um rio. Não pode ser o
Rio da Vida." — protestei.
"É. Ele é pequeno aqui, porque é sempre tão grande ou pequeno quanto a sua
demanda. Não são muitos mais os que chegam até aqui para beber, porque têm de
passar pelos demônios que se apoderaram dos lugares altos. A maioria preferiria
beber dos rios poluídos que não estão sob ataque a beber das verdadeiras águas
vivas que agora estão sempre sob ataque. Poucos têm sede o suficiente para lutar por
isso, mas não conheço nada que valha mais a peleja."
"Você teve de lutar para chegar até aqui?" — perguntei.
"Tive. Vim por aquela estrada" — ela disse, apontando para um lugar do
outro lado do vale à minha retaguarda.

"Como você conseguiu passar pelo exercito do mal?" - perguntei. "Ainda há


brechas pelas quais se pode passar?"

"Não. Estamos completamente cercados agora. Mas aqueles que tiverem


coragem de continuar a se mover mesmo quando atacados podem ganhar suas
posições. Escolhi a parte mais fraca de suas fileiras e fui até o meio deles."
"Qual era a parte mais fraca? E como você sabia que ela era fraca?"
"Havia uma grande divisão chamada 'Ridículo'. Optei por passar por ela
porque eu sabia que eles não podiam me ferir. Foi-me dito, quando viram a minha
determinação, que eles abririam caminho diante de mim, e foi o que fizeram.
Enfureceram-se e proferiram insultos e obscenidades, mas se dividiram e me
deixaram passar. Defendi-me de todos os seus dardos com o meu escudo e saí ilesa."
"Quem lhe disse que você poderia fazer isso?"
"Minha mãe."
"Ela também está aqui?" — perguntei.
"Não."
"Onde ela está?"
"Ela não conseguiu. Quando estávamos passando pelo ridículo, ela parou e
disse que voltaria para buscar mais pessoas e ajudá-las na travessia. Disse que se
juntaria a mim mais tarde. No entanto, não acredito que conseguirá."
"Por que não?"
"Ela me ensinou muito bem, mas não conseguiu fazer o que havia me ensinado. Eu a
vi hesitar diante dos insultos e do ridículo. Ela voltou para buscar mais pessoas porque
precisa da aprovação dessas pessoas. Ninguém que se importa muito com o que os
outros pensam a seu respeito consegue vencer."
"Ela conseguirá de alguma outra forma?"
"É possível, mas passar pelo ridículo é, sem dúvida, o caminho mais fácil. Na
verdade, ao hesitar e começar a recuar, eia logo foi vencida. Então começou a me
ridicularizar com o restante deles. Uma vez que você começa a recuar diante dos que
são maus, torna-se urna presa fácil para eles. Ela agora é uma de suas prisioneiras."
"Sinto muito. Imagino que você sinta falta dela. Ela foi, pelo menos, uma
grande professora. Fez um maravilhoso trabalho ao ensiná-la."
"Obrigada. Eu sinto sua falta. Aqui é muito solitário, mas ainda é melhor do
que estar lá, sob a influência da horda do mal."
Vi aquela garotinha ser levada para longe por seus pensamentos. Então logo
ela retomou a conversa.
"Eu sabia, quando começamos, que seria difícil para ela e que
provavelmente não conseguiria. Também sabia que não poderia deixar que isso me
detivesse. A única esperança para que ela consiga se libertar e beber deste no é
que eu não pare até que tenha cumprido o meu destino."
Após uma pausa, ela continuou:
"Não desisti dela, mas eu e outras pessoas como eu somos a única esperança
para pessoas iguais a ela. Estamos aqui para derrotar aquela horda do mal e libertar
seus prisioneiros. Creio que chegará o tempo em que ela beberá comigo deste rio —
ela e muitos outros — até que este volte a ser um grande rio. Então ele correrá para
o mar e trará vida para todos."
"Se houver muitos outros como você, então não terei dificuldade para crer que
conseguirá a vitória. Já conheceu outras pessoas como você que tenham
essa visão e estejam decididas a fazer isso?" — perguntei.

"Acho que encontrei algumas, mas continuamos a ficar separadas. Sei, por
meio de meus sonhos, que há muitas outras, e eu as encontrarei logo. Esta é a razão
por que você está aqui. Eu também o vi em meus sonhos."
"Diga-me, o que você viu a meu respeito?"
"Bem, não vi você especificamente, mas vi a chegada dos que
carregavam a tocha. A principio, havia somente alguns e, depois, um número cada vez
maior continuava a chegar. A mim também, um dia, será dada uma tocha para
carregar. Na realidade, muitos dos que a carregam são muito jovens."
Enquanto ela falava, uma grande divisão do exército do mal chegou ao topo
da montanha e começou a descer muito mais rapidamente e em uma ordem relati-
vamente boa. Observávamos, paralisados, enquanto ela avançava montanha abaixo,
quase um terço do caminho. Então, foi atacada pela retaguarda por outra divisão
do mat. Logo a impressão que dava era de que várias outras divisões haviam se
juntado para atacá-la.
O avanço foi interrompido naquele ponto, enquanto grande parte da fileira de
soldados se virava para pelejar. No entanto, uma grande parte deste grupo
permaneceu no lugar de seu grande avanço e começou a levantar defesas,
que logo começaram a parecer uma fortaleza.
Enquanto eu olhava para a garotinha, a vi nervosa pela primeira vez. Então
notei que o cavalo também estava agitado.
"O que fazemos agora?" — perguntei, surpreso por ver que estava pedindo
instruções a uma garotinha.
Sem responder, a garota ajoelhou-se à beira do no novamente e bebeu da água
com vontade. Logo ela recuperou sua compostura, mas sua atenção ainda estava na
fortaleza que rapidamente estava sendo construída. O cavalo estava tão agitado
que tive medo de que ele saísse correndo.
Fui até ele para segurar suas rédeas e fiquei surpreso com o modo como ele
me olhou bem nos olhos. Tentei continuar o mais calmo possível, pois percebi que, se
ele sentisse medo em mim, certamente dispararia. Ele me deixou segurar as rédeas e
levá-lo novamente ao rio. Não foi tão fácil fazê-lo beber da água, mas ele bebeu.
Então, se acalmou. Eu bebi da água, e a paz e a alegria novamente encheram o meu
ser, enquanto minha visão ficava mais forte.
"O que faremos agora?" — perguntei novamente. "Você viu alguma coisa em
seus sonhos sobre isso?"
"Não vi isso em nenhum sonho, mas já vi acontecer antes. Se não agirmos logo,
perderemos este vale."
Então ela olhou para mim para ter certeza de que eu ouviria o que estava para
dizer.
"Toda vez que me perguntam o que fazer, sempre me viro, primeiro, para o rio
e bebo de sua água. Então oro, como devemos fazer agora. Estive em outros dois lu-
gares por onde este no corria, e ambos foram dominados pelo inimigo. Não
devemos deixar que isso aconteça aqui. Devemos lutar desta vez" — ela disse
olhando para mim, meio incrédula. "Lutarei mesmo que tenha de lutar sozinha. Não
acredito que reste outro lugar por onde este rio corra."
"É muito nobre de sua parte querer lutar e até estar disposta a lutar sozinha" —
repliquei — "mas como nós dois poderemos oferecer resistência a tantos?"
Ela não respondeu, mas começou a orar. Eu a ouvi por alguns minutos. Seus
pedidos eram curtos e diretos. Não tentou explicar nada para Deus. Pediu,
sobretudo, pelo Espírito Santo, coragem, sabedoria e poder para vencer o
inimigo.
Então orou por sua mãe e outros entes queridos que eram cativos da horda
do mal. Foi a oração de uma guerreira experiente que havia visto muitas batalhas
e que não queria perder tempo nem desperdiçar palavras. Foi também como uma
conversa com seu amigo. Algo tão comovente que não pude acreditar que o Senhor
se recusaria a atender seus pedidos. Feita a oração, ela olhou para mim. Tudo o que
pude dizer foi "Amém".
"Você me perguntou como poderíamos derrotar um exército tão grande. Por
que não poderíamos? Temos o Senhor do nosso lado."
"Entendo, mas como perderam os outros pelos quais você lutou? O que
podemos fazer diferente desta vez? Você tem certeza de que não há outros rios como
este?"
"Todos eles perderam quando bateram em retirada. Não recuarei
novamente. Não ouvirei aqueles que falam de 'retiradas estratégicas' ou de
qualquer outro tipo. Permanecerei firme, ainda que tenha de fazê-lo sozinha.
Também acho que nós os perdemos porque havia muitos de nós."
"Como poderia haver muitos quando vocês estavam pelejando contra tantos
outros?" — perguntei sem duvidar dela e, ao mesmo tempo, sentindo que a
resposta para esta pergunta era importante.
"É melhor contar com poucos que estejam unidos do que com muitos que estejam
divididos e que não tenham uma visão única e focalizada. Muitos daqueles que estavam
conosco antes raramente bebiam do rio, e mal os ouvia orar. Percebi que eles não
perseverariam por muito tempo, e estava certa. Essas pessoas causam mais prejuízo
quando a batalha começa. Nossos líderes tinham de passar mais tempo tentando
encorajá-los do que lutando."
"Muitos dos fracos até dependiam de nós. Resolvi, antes da próxima batalha,
que não incentivaria demasiadamente a ninguém, persuadindo-o a permanecer e lutar.
Se quisessem partir, que fossem, pois seria melhor para nós. Há também outra coisa
muito importante que nunca tivemos e que devemos ter para vencer."
"O quê?"
"A tocha. Esta água é a verdade, e devemos tê-la e amá-la o suficiente para
nos dispormos a morrer por ela. Mas a tocha é como a presença do Senhor aqui
conosco. Quando estou perto de você e da tocha, eu O sinto.
"Não há incentivo maior do que sentir a Sua presença conosco. Se tivéssemos
levado a tocha antes, acho que nossos líderes não precisariam ter passado tanto tempo
encorajando as pessoas e que elas não teriam sido tão fracas."
"E sim, há outras correntezas como esta, mas só há um rio. Ele brota em
diferentes lugares como este. Disseram-me que eles costumavam ser muito comuns.
Agora não há muitos rios, porque foram poucos os que se dispuseram a lutar por eles.
Tampouco estou certa de que haja algum outro como este."
"Neste exato momento, precisamos de mais guerreiros fiéis, e não de mais
rios. Ouvi falar que, a cada momento, novos rios rompem, mas eles logo se perdem
porque são poucos os que se dispõem a lutar por eles. Esta é a razão por que
precisamos de pessoas que levem a tocha."
"Sei que o que você está dizendo é verdade, mas ainda não sei por que outras
pessoas não lutarão para defendê-los. Elas sempre são vencidas pelo número, como
nós desta vez?"
"Não acredito na palavra 'vencidas', mas acho que aqueles que buscam este rio
sempre excedem em número. Como eu disse, não acho que os números sejam impor-
tantes. Precisamos de mais guerreiros, mas que sejam fiéis."
"Ouvi alguns dizerem que cavar fontes secretas é melhor do que procurar este
rio, pois elas não são um alvo tão importante para o inimigo. Tantos que parecem amar
esta água também parecem ter uma atitude já frustrada."
"É difícil entender isso, pois, se eles bebessem da água, não fariam outra coisa
senão acreditar e ser fortes. Receio que a tenham provado somente de vez em quando
e que não beberam dela de verdade. Eles amam mais a idéia dela do que a
realidade. Para eles, é quase como se fosse algum tipo de fantasia romântica, e não
a realidade."
"Você sabe se há alguma das fontes aqui por perto?" — perguntei. "Nas fontes,
devemos encontrar alguns que realmente estejam bebendo e que talvez estejam
dispostos a juntarem-se a nós nesta luta pelo rio."
"Conheço algumas fontes não distantes deste vale. A água lá é boa, mas não
tanto como esta. As fontes, em sua maioria, acabaram por ficar muito rasas para
resistir por muito tempo. Elas também logo ficam lamacentas. As fontes ajudam
algumas pessoas, mas é somente quando a água flui como esta ao ar livre que
pode transformar um vale em um paraíso, como o que você vê aqui. E essa água
precisa fluir para continuar viva e pura por muito tempo."
Então ouvi passos atrás de mim. Virei me e vi um homem se aproximando.

CAPÍTULO 4 O PLANO

Enquanto eu via o homem se aproximar, parecia que ele usava roupas no


estilo dos tempos coloniais. Seus cabelos eram longos e grisalhos; pareciam uma
peruca da época colonial. Ele andava com determinação e tinha as pernas um pouco
tortas, como se tivesse passado grande parte de sua vida em um cavalo.
"Ela está certa. As fontes podem ajudar algumas pessoas, mas são, na maioria
das vezes, provisórias. Muitas vezes ficam poluídas ou secam. Você certamente tem
um tesouro aqui" — ele observou.
"Sim, nunca provei algo tão maravilhoso" — respondi. "Eu estava me referindo à
garota" — ele disse.

"Sim, ela de fato é fora do comum para alguém tão jovem. Nunca conheci
ninguém igual a ela" — respondi.
"Você está para conhecer muitos outros iguais a ela, tanto meninos como
meninas. Eles lutam melhor do que a maioria dos homens de sua época. Você deve
se preparar para encontrar-se com eles."
"Como devo me preparar?" — perguntei.
"Você precisa aprender a montar este cavalo." "Quem é você?" — indaguei.
"Sou John Wesley. Estou falando com você como um portador da tocha a
quem também foi dado um cavalo como este. Você está aqui para ajudar a preparar
os que estão por vir. Na minha época, havia poucos portadores da tocha, e
somente alguns montavam cavalos brancos. Na sua época, haverá milhares de
portadores da tocha, e centenas destes grandes cavalos."
"Você está aqui para descobrir seu objetivo. Foi chamado como um daqueles
que ajudarão a despertar uma grande multidão no futuro. Por isso, precisará ajudar
a treiná-los, preparando-os para a Ultima batalha."
"Não consigo me imaginar treinando alguém aqui. Estou aprendendo mais com
esta garotinha do que a ensinando" — respondi, com sinceridade."
"É por estar disposto a aprender com ela que você se tornará um mestre
confiável. Continue a beber da água e a ouvir. Irei ajudá-lo, como farão todos os
portadores da tocha que cruzarem o seu caminho. Posso ensiná-lo em algumas
horas o que levei a vida toda para aprender. O que não pudermos oferecer-lhe, as
crianças o farão. Elas são inteligentes, pois aprendem com facilidade."
"Se continuar receptivo ao ensino, você será extremamente inteligente para a
sua idade, independente da idade que venha a ter. Você poderá receber a sabedoria
dos séculos. Lembre-se de que seu principal objetivo é aprender, e não ensinar. A
primeira lição que você tem para passar aos que estão por vir é ensiná-los a aprender.
É isso que significa ser um discípulo — você é um aluno para sempre. Cada um dos
que você conhecer irá ensiná-lo mais sobre como aprender, e você lhes ensinará a
mesma coisa."

"Naturalmente, estamos em uma situação que escapa ao meu presente


conhecimento ou sabedoria no sentido de saber como lidar com ela" — respondi.
"Parece que este cavalo e aprender a montá-lo são as nossas chaves para defender
este rio. Se você está aqui para me ajudar, estou pronto."
"Uma coisa que você deve saber e não se esquecer" — Wesley disse,
austero —, "é que ela está certa quando disse que você não pode recuar. Você agora
está cercado, e não há para onde correr. Restaram algumas fontes nesta região, mas
elas estão secando rapidamente. Você precisa defender este rio e reunir o seu
exército aqui."
"Como vou reunir um exército se só existem algumas fontes nesta região? 1-lá
homens fiéis o suficiente para formar um exército?"
"Não, não há. Você poderá reunir alguns deles, mas o seu exército é o
mesmo que está descendo em sua direção. A sua vitória sobre essa horda do mal é
converter os soldados que estão nela. Depois, precisará ensiná-los a beber deste rio.
Você precisará somar outros ao seu exército, e todos deverão marchar para a
conquista. Também posso lhe garantir que, se lutar e não desistir, não perderá."
Então a garotinha falou:
"Eu sabia! Muitos de meus amigos e parentes estão naquele exército do mal.
Eu sabia que, um dia, eles seriam soldados do Rei."
"Você está certa" — continuou Wesley. "Você deve ir além de libertá-los da escravidão
em que se encontram. Deve treiná-los, prepará-los e soltá-los para que eles vão e
recuperem as fontes bloqueadas pelo inimigo e cuidem das correntezas do rio que
foram poluídas e soterradas."
Quando levantei os olhos e pensei na enorme horda que estava acima de nós,
lembrei-me do que um grande general uma vez disse, quando lhe informaram que ele
estava cercado: "Ótimo! Agora nós os temos onde queríamos e eles não poderão
escapar desta vez. Ataquem em todas as direções.".
Enquanto eu pensava nisso, percebi que Wesley estava olhando para mim.
"Você é capaz de tanta ousadia?" — perguntou-me.
"Não parece que temos outra escolha" — respondi. "É algo fora do comum. Eles
são muito numerosos e nos cercaram, e nós somos tão poucos, mas caíram em nossa
cilada. Naturalmente, só o Senhor poderia lograr esta vitória."
"E certamente será o Senhor quem receberá o crédito por ela" — Wesley e
a garota disseram ao mesmo tempo.
Olhei para a fortaleza que a horda do mal estava construindo no vale. Seria
difícil vencer tantos soldados. Ouvi o motim da horda que estava por toda parte no
topo do vale. Ela era formada por multidões e multidões. O que urna garota, um
cavalo, mesmo John Wesley e eu poderíamos fazer contra tamanha força?
"Não posso mais travar as batalhas que estão na Terra. Agora faço parte da
grande multidão de testemunhas. Por meio de minha vida, ainda posso falar e ensinar,
mas é você que deve pelejar. Posso encorajá-lo dizendo que, por várias vezes em
minha vida, estive cercado desta forma, tendo poucos ao meu lado. Todas as
vezes, vi a vitória do Senhor. Não se deixe desanimar pelas trevas que podem surgir,
ou pelos muitos que se levantam contra você. Se você não recuar, não perderá a
guerra."
Então a garotinha pôs-se a falar:
"Sei que minha mãe é uma cativa na divisão chamada 'Ridículo'. Ela está
lá porque precisa da aprovação dos outros. Também sei que ela nunca conheceu o
verdadeiro amor em sua vida. Sei que, se eu puder amá-la de verdade, ela será
liberta.
"Creio que todos os que estão naquela divisão são iguais a ela. Podemos
libertar os cativos com a verdade do amor de Deus_ Se pudermos fazer isso por eles,
então deve haver outras chaves que libertarão os cativos que estão nas outras
divisões."
Wesley não disse nada, mas simplesmente olhou para mim para ter certeza
de que eu havia entendido quanto isso era verdadeiro. Era óbvio que esta simples
verdade era a chave para a nossa vitória. A verdade de quem é Deus pode romper
quaisquer grilhões.
Então tive de perguntar:
"Por favor, diga-me por que a alguns é dada uma tocha em vez de um cavalo?
Como podemos usá-los em conjunto para sermos capazes de cobrir um terreno
maior?"
"Muitos têm a honra de levar uma manifestação da presença do Senhor,
mas poucos são chamados para iniciar um movimento. Todas as tochas são dadas
para se iniciar movimentos, mas não são muitos que as levam adiante de um modo
que se permita iniciar um avanço da verdade. O cavalo representa o movimento que
você foi chamado a iniciar."
"Os movimentos têm o objetivo de retomar o terreno do inimigo. Eles servem para
que se estabeleçam fortalezas da verdade, contra as quais o inimigo não pode
prevalecer. Essas fortalezas tornam-se refúgios para os cativos que ficam livres da
escravidão, a fim de que ali sejam curados, restaurados e munidos de armas para
voltarem para a batalha. Muitos irão aproximar-se daqueles que têm a tocha, mas só
seguirão para a batalha os que também têm o cavalo."
"Sua primeira missão é defender este lugar e, então, mobilizar aqueles que
realmente buscam a água da vida. Então, eles deverão ser treinados e preparados
para ir e retomar aquilo que a horda do mal contaminou e colocou debaixo de seus
pés."
"Cada cativo que for liberto daquela horda poderá curar e restaurar mais
pessoas do que antes destruiu. A vida é mais forte do que a morte. Lembre-se
de que você não foi chamado para retomar a Terra, mas para restaurar aqueles que
são chamados para reinar sobre ela."
"Como lhe disse aquela que carrega a sua armadura, quanto mais se beber deste rio,
maior será o seu crescimento. Desse modo, você poderá transformar esta pequena cor-
renteza em um rio que flua até chegar a muitos outros lugares. Quando ela começar a
aumentar aqui, quando romper em outros vales e desertos, será muito mais forte e
profunda."
"O que devo fazer para atrair outros para este lugar?" — perguntei. "É óbvio que
precisaremos de muita ajuda se quisermos converter este exército que nos cerca."
"Você atrairá outros quando você mesmo estiver bebendo do rio. Lembre-se
de que o rio aumenta quando você e os outros começam a beber das suas águas.
Os cegos seguirão a quem puder ver, e quanto melhor você puder ver, mais cegos
serão atraídos até você. Quando eles chegarem, muitos ainda serão cegos, e a
maioria estará ferida."
"Você deverá ensinar cada um deles a beber da água até que todos sejam
curados e possam ver. Independente da aparência deles a principio, muitos que
vierem até você serão os poderosos que Enoque profetizou que viriam em suas
gerações."
Então ele olhou para mim com um olhar penetrante, como se estivesse
procurando ver se eu conseguia entender algo muito importante.
"A tocha que você carrega também atrairá muitos a ela, mas a presença do
Senhor não é suficiente."
"Como a presença do Senhor não poderia ser suficiente?" — perguntei.
"Não há nada maior do que isso. Ela é muito mais maravilhosa e revigorante do
que esta água" — protestei.
"Você está certo neste sentido, mas muitos que amam a presença de Deus
ainda estão fracos e imaturos, pois só querem experimentar a alegria do Senhor. Eles
raramente se dispõem a enfrentar o conflito dos tempos. A presença de Deus
sempre será a melhor e a mais maravilhosa dádiva. Mesmo assim, na eternidade,
teremos isto. Neste exato momento, há uma batalha a ser travada."
Wesley aproximou-se da garotinha e colocou as mãos em seus ombros. Em
seguida, olhou para mim e continuou:
"Você precisa de adoradores que também sejam guerreiros. Todos os que não forem
treinados e equipados para a batalha serão derrotados. Ainda que amem a presença
de Deus, também devem ser ensinados a amar a verdade e a amá-la o suficiente para
resistir ao maligno. Essa é a força que desenvolvi para treinar e equipar as pessoas
para que defendam a verdade e lutem por ela. Essa é a razão por que há coisas que
você deve aprender comigo."
"Foram poucos os que conseguiram formar uma tropa para vencer. Fiz isso
transformando pequenos grupos de pessoas em fortalezas da verdade. Alguns deles se
levantaram para ganhar seus vizinhos para o evangelho. Outros se transformaram em
poderosas fortalezas que conquistaram povoados. Alguns tomaram cidades. Juntos,
traçamos o destino de nações — e até da sua nação."
Senti, quando ele disse as palavras "sua nação", que se tratava, de um modo
estranho, do vate em que estávamos. Quando pensei nisso e voltei a olhar para
ele, estava com aquele inconfundível olhar sagaz. Então, ele prosseguiu:
"A sua nação ainda honra Paul Revere2 por despertar as pessoas e chamá-las
para a batalha, mas, muito mais do que isso, o Céu honrará aqueles que despertarem
as pessoas e as chamarem para a batalha, que logo deverá ser travada."
"Assim como os grandes mensageiros da era da Igreja não passaram de
descendentes dos homens valentes que estão para ser soltos na Terra, o inimigo vem
plantando suas sementes também. Você terá de pelejar contra todo o mal que foi
solto e lutar contra ele em sua plena maturidade."
"Com este cavalo, você deverá cavalgar e advertir as pessoas sobre a invasão
que haverá na terra delas. Poderá mobilizá-las para que combatam o bom combate:
Você não poderá mais recuar. Não há para onde ir, mas, se você resistir ao inimigo,
ele, por fim, fugirá. Se não resistir, estará condenado."
A garotinha estava prestando atenção em mim. Estava aprumada, alerta e
preparada. Wesley e eu estávamos olhando para ela. Pensei que ela deveria ser como
uma Joana d'Arc. Se houvesse alguns mais parecidos com ela, eu saberia que esses
certamente seriam momentos maravilhosos. Wesley continuou:
"O Senhor chamou 12 homens. Ele os transformou, e depois eles transformaram
o mundo. Na sua época, Ele vai fazer o mesmo com as crianças. Também é o
tempo da leoa. Grandes são as multidões de mulheres que pregarão o Evangelho.
Haverá muitos homens de Deus importantes em sua época — mas o grande milagre, e
a grande honra, será para as mulheres e crianças que andarem nos caminhos do
Senhor."
"Lembre-se de que foi a mulher que foi enganada e que teria inimizade com a
serpente, mas seria a sua semente que esmagaria a cabeça da serpente. As mulheres
têm um lugar especial nesta batalha."
Wesley olhou nos olhos da garotinha e disse:
"É a sua vez como mulher. É a sua vez como criança, pois as crianças serão para
sinais e maravilhas. Elas darão um novo rumo à batalha final. Reúna as crianças e
ajude as mães. Grande é o Senhor em você para suprir tudo aquilo de que precisa."
Minha atenção então se concentrou em algo que tremeluzia e que eu via com o
canto do meu olho. A fortaleza que os demônios haviam construído estava sendo
usada para arremessar dardos inflamados em todas as direções. Era óbvio que eles
estavam tentando incendiar o belo vale em que estávamos.
Wesley virou-se, colocou as duas mãos em meus ombros assim como o Senhor
havia feito e disse:
"Você não poderá apagar cada fagulha. Você precisa destruir aquela fortaleza".
Então, de repente, me vi sozinho e sentado em meu quarto.
1. John Wesley (1703 – 1791) foi um clérigo anglicano e teólogo cristão britânico,
líder precursor do movimento metodista.

2.Paul Refere (1735-1818) é recordado como um dos patriotas da guerra da


independência dos Estados Unidos. Além de ter sido mensageiro de batalha, colaborou
na organização da rede de inteligência estabelecida cm Boston para controlar os
movimentos das torças britânicas.

CAPÍTULO 5 A ESPADA

Sentado no meu quarto de hotel, me perguntava se tudo aquilo fora um


sonho, urna visão, ou se real mente havia acontecido. Queria escrever logo
todo o episódio para não me esquecer dele, mas estava exausto. Decidi deitar-me na
cama para descansar por alguns minutos.
Imediatamente, fui suspenso em um céu azul resplandecente. Quando piloto,
costumava dizer que meu escritório era o céu e sempre apreciava muito os momentos
que passava ali, mas nunca vi um céu tão bonito como esse. Senti-me mais em casa
do que nunca.
Então, senti o chão debaixo dos meus pés. Eu estava novamente à beira de
uma praia. Sabia que estava, mais uma vez, na esfera espiritual por causa do ar que
estava respirando e da beleza de tirar o fôlego de tudo o que eu contemplava.
Enquanto eu olhava, senti que esse era o mundo do jeito como deveria ser. Aumentou o
desejo no meu intimo de levar, de algum modo, essa beleza e esse ar lá. Assim como
eu adorava ficar naquele lugar, sabia que teria de partir logo, que precisaria voltar.
Senti uma compulsão cada vez mais forte dentro de mim para consertá-lo mais uma
vez.
Depois senti a presença do Senhor atrás de mim, mas, quando me virei para vê-
Lo, Ele não estava ali. Fechei os olhos para me concentrar em aspirar o ar. Quando os
abri, estava em pé em outro lugar.
Achava-me no meio de uma rua, sozinho. Eu não a reconheci, mas sabia que
era uma rua de Londres. A paz que havia sentido no lugar celestial ainda estava
comigo, mas desaparecia rapidamente à medida que eu olhava para o que estava
ao meu redor.
A tocha estava na minha mão, mas, conforme a paz se ia, a tocha ficava
mais pesada. Eu sabia que tinha de concentrar-me no Senhor e sentir Sua presença
outra vez. Quando fiz isso, a paz, de certa forma, voltou, e a tocha ficou um
pouco mais leve. Comecei a pressentir um grande perigo. Decidi manter a calma e,
mesmo não sentindo medo, eu estava bastante alerta.
Achava-me determinado a manter minha maior atenção na tocha enquanto
olhava, de vez em quando, para as imediações. Não vi nenhuma ameaça, mas con-
tinuei a pressentir o perigo. Lá no meio da rua, havia uma faixa de grama de
aproximadamente 15 metros de comprimento. No meio dela, havia árvores cercadas
por pequenos alambrados de proteção.
Comecei a descer a rua. Então, notei um pequeno cercado sem a presença
de uma árvore dentro dele. Presumi que a árvore que ali estava tivesse morrido. Isso
não parecia ter muita importância a principio, mas comecei a sentir tal pesar pela falta
dela que comecei a tremer descontroladamente. Parei ao lado da cerca para refletir no
que estava sentindo. Ao fazê-lo, senti o Senhor em pé atrás de mim.
"Ponha a tocha aqui" — Ele disse.
Fui colocá-la no espaço vazio, fincando-a levemente no chão para que ficasse em
pé. Ela logo ficou firme, como se tivesse criado raízes profundas. Aproximei-me para
ver se eu conseguiria levantá-la e o fiz facilmente, ainda que já houvesse raízes
profundas presas a ela. Eu a coloquei no lugar novamente e a observei. Ela ficou
fortemente enraizada outra vez, e o fogo não se apagou.
"Você pôde levantá-la com facilidade porque tem autoridade" — disse uma voz
que veio de trás de mim.
Vir-me-ei para ver quem havia falado e vi um homem que parecia ser um
morador de rua, ou um sem- teto. Ele estava em pé junto à escadaria de uma casa.
"Perdão" — eu disse —, "mas o que você sabe sobre esta tocha?"
Ele não respondeu à minha pergunta, mas simplesmente continuou com a sua
afirmação:
"Cada uma dessas árvores já foi uma tocha antes e levada por alguém corno
você. Esta é uma cidade onde os movimentos passaram a ser monumentos."
Não gostei do tom daquela conversa. Minha tocha ainda estava viva, e eu não
queria que ela se tornasse uma árvore em uma rua escura. Queria arrancá-la e levá-
la comigo, mas, por outro lado, o Senhor me havia dito que a colocasse ali. Eu não
sabia o que fazer. É claro que, vendo meu dilema, o homem continuou a falar:
"Antes de chegar o fim, haverá movimentos que não deixarão de avançar. Talvez
você seja um daqueles que poderão levar adiante um desses movimentos. Mesmo
assim, por ora, deve fazer conforme o Senhor lhe disse e deixar a tocha onde ela está.
Vejo que ainda não está preparado para levá-la muito longe, muito menos levá-la até o
fim."
"Quem é você?" — perguntei.
"Sou um observador" — respondeu e, com isso, desapareceu.
Então olhei para a rua novamente a fim de tentar reconhecê-la. Queria saber o
nome dela e onde ela estava localizada na cidade. Sabia que estava em uma visão,
mas também sentia como se essa fosse uma rua de verdade em Londres. Queria
encontrá-la quando saísse da visão. Para mim, era uma avenida de monumentos,
embora não pudesse ver nenhum movimento de onde eu estava.
Vir-me-ei para tocar na tocha, para que seu fogo pudesse passar pelo meu
corpo. Precisava de mais clareza. Ao fazê-lo, de repente vi-me em outro lugar, em
pé diante do Senhor. Ele estava segurando uma grande espada. A lâmina era
reluzente, feita de um material que parecia prata, quase transparente. Ela
cintilava como um diamante. Ocorreu-me que a espada feita de prata não seria
muito forte, e, como fez muitas vezes, o Senhor respondeu aos meus pensamentos.
"Isto é prata, mas é mais forte do que qualquer outro metal. Esta espada
é uma arma divinamente poderosa. É o poder da minha redenção. Aquele que a
levar deverá estar de acordo com os meus propósitos de redenção. Você deverá se
dispor a redimir; do contrário, ela ficará demasiadamente pesada para você
carregar. Você deverá ser capaz de carregar isto também, se quiser ir muito longe
com a tocha."
Continuei a olhar para a espada. Seu modelo era muito simples, mas ela não só
refletia a luz como emitia também. A luz que vinha dela era multicor, como a luz
que passa por um prisma. A glória da luz emitida peta espada fazia dela a peça mais
linda que eu já vira, mesmo tendo um aspecto tão simples. Era tão fascinante quanto
a tocha.
O Senhor segurou a espada pela lâmina e estendeu o cabo em minha direção,
para que eu pudesse segurá-la. Eu imaginava que ela seria muito pesada por causa
do tamanho, mas, ao que parecia, não tinha mais do que 30 ou 60 gramas.
"Ela só ficará pesada se você tentar usá-la com sua própria força. Esta é a
minha espada da redenção. Não pode ser destruída, mas permanecerá para sempre.
Faz parte do meu arsenal. Esta é a arma que será carregada por meus profetas nos
últimos dias.
"Nenhum poder no mundo é mais forte do que a minha redenção. No entanto, se
você a usar indevidamente, ela poderá trazer grandes problemas. Com esta espada,
aqueles a quem você abençoar serão abençoados. Se você abençoar um demônio, ele
será abençoado e prosperará. Você deve tomar cuidado para não tentar redimir
aquilo que meu Pai não plantou."
Assim que olhei para o cabo da espada, notei cinco pedras preciosas reluzentes. A
primeira era azul; a segunda, verde; a terceira era clara como um diamante; a
quarta, vermelha; e a quinta, âmbar. O cabo propriamente dito era simples, mas a
beleza do ouro aparentemente transparente era impressionante. Era a espada
mais bonita que eu já havia visto, não por causa de seu modelo, mas do material do
qual era feita. Mesmo assim, é claro que não havia sido feita para ser exibida. Eu
sabia que até as pedras preciosas estavam ali porque tinham uma finalidade, mas não
sabia ao certo qual era.
Levantei a espada e a brandi no ar. Meu braço não se cansou; ao contrário, o
simples fato de balançá-la deu- me força. À medida que o meu braço adquiria força,
esta continuava a percorrer todo o meu corpo. Quando percebi que ela havia
atingido os meus olhos, tudo ficou mais reluzente, mais claro. Enquanto continuei a
balançar a espada, pude enxergar mais longe.
Então olhei para ela novamente. Ao olhá -la, meus olhos começaram a
aumentá-la como se estivesse utilizando uma poderosa lente de aumento. Pude ver
que a espada também estava viva. Até as pedras preciosas estavam vivas.
"O Espírito moveu-se no princípio" — o Senhor continuou. "O Espírito nunca
para de se mover. Esta é a espada do Espírito. Enquanto ela estiver se movendo, for-
ça é liberada para aquele que a leva. Ela despertará o seu corpo mortal."
"Lembre-se de que a minha Palavra nunca para, mas é viva, penetrante e
eficaz. Recorde-se de que a vida sempre se move. Esta é a razão por que minha obra
na Terra muitas vezes é chamada de 'movimento'. Assim como criei o Universo
para que se expandisse sempre, minha Palavra estará se movendo e se expandindo
para sempre. Aqueles que conhecem a vida que está em mim, também estarão se
expandindo para sempre em conhecimento, sabedoria e poder. Nunca deixarão de
crescer."
"Desde que permaneça em mim, você estará crescendo para sempre em
conhecimento e poder. Agora eu lhe ordeno que se mova e cresça. No devido tempo,
lhe darei ordem para multiplicar e conquistar, não ceifando vidas, mas salvando-as."
Sempre que o Senhor falava, eu queria memorizar cada palavra. Sentia que a
vida que vinha por meio de Suas palavras era como aquela que vinha quando eu
balançava a espada. Assim que pensei no que Ele havia dito, meu amor pela espada
aumentou.
Eu não podia acreditar que tal dádiva fosse possível. Queria segurar a espada
para sempre. O que ela me transmitia era diferente do que transmitia a tocha, mas
era simplesmente maravilhoso. Ela me fortalecia e me dava coragem. Eu sabia que
as duas, a espada e a tocha, transmitiriam a mim uma clareza de percepção maior do
que qualquer coisa que eu já houvesse experimentado. Mesmo quando pensava nisso,
podia dizer que não estava só ficando mais forte, mas também mais saudável. Sentia
as toxinas que haviam em mim sendo expurgadas.
Então, comecei a sentir uma profunda paixão em meu coração pela espada.
Queria que ela tocasse todos aqueles a quem eu amava. Eu sabia que, se ela tocasse
naqueles a quem eu não amava, me levaria a amá-los.
"O que você está sentindo é a paixão por minha Palavra. Você está segurando a
minha Palavra viva. É isso que o verdadeiro amor à minha Palavra faz. Os que têm o
verdadeiro amor pela minha verdade amam aqueles por quem eu a entreguei. O
Espírito vai soprar novamente nas Escrituras, e esse amor por minha Palavra virá
sobre os meus mensageiros em sua geração" — disse o Senhor de forma bastante
sóbria.
"Que tesouro", continuei a pensar. "Como alguém não poderia amar isso?",
perguntei-me. Mal via a hora de começar a usar a espada. Então, senti uma forte
compulsão para usá-la em mim mesmo — para cravá-la lá no fundo do meu coração.

"Faça isso" - disse o Senhor.


Apontei a lâmina para o meu coração e a enfiei no meu peito. Assim que fiz
isso, ela desapareceu como se tivesse sido absorvida por mim. Senti uma leve dor,
mas, quando olhei, não havia nenhum ferimento. Então, a sensação de força que eu
havia percebido que ela estava me dando foi muito mais rápida.
Em questão de minutos, senti como se pudesse voar, levantar prédios e até
atravessar paredes. Comecei a sentir que poderia fazer qualquer coisa, pois o
poder que estava em mim era tão grande que eu não precisava obedecer às leis
físicas. Também senti que não havia limite para o alcance dos meus olhos, ou até
onde eu poderia aumentar alguma coisa para a qual estivesse olhando a fim de vê-la
com mais detalhes.
Minha mente então começou a se despertar. Meu entendimento começou a
aumentar até que senti como se o Universo estivesse aberto diante de mim,
percebendo e entendendo seus segredos. Esse era outro tipo de sentimento
incrivelmente maravilhoso.
Eu estava vendo tudo pelo Espírito, não só com meus próprios olhos e
mente. Sentia-me em unidade com tudo o que eu avistava. Também sentia um
grande amor por tudo que eu contemplava. Não havia nenhum sentimento terreno que
pudesse se comparar a isso, e era algo que aumentava.
"Esse é o poder da minha Palavra para aqueles que a receberão no coração" —
o Senhor explicou. "Receber minha Palavra no seu coração é algo que precisa ser sua
busca diária. Então, você começará a ver e terá entendimento."
"Foi pela minha Palavra que o Universo foi criado, e é por Ela que ele se
sustém. Ela é a resposta para todo problema humano. Se você recebê-La no
coração, Eia crescerá no seu interior, e você jamais parará de crescer."
"Sua mente continuará a se abrir, e seu conhecimento aumentará para sempre.
Eu criei a mente do homem para se expandir sempre, a fim de que ele pudesse conhe-
cer-me, bem como aos meus caminhos e às minhas obras."
"Primeiro, você precisa receber minha Palavra no seu coração. Depois Ela
abrirá sua mente. Se você apenas recebê-La em sua mente, Ela não viverá. Minha
Palavra viva deve ser recebida primeiro no coração, e, depois, sua mente se abrirá."
Eu não conseguia parar de pensar na antiga controvérsia: "É preciso entender
para crer ou devemos crer para entender?". Eu sabia a resposta.
"Você está certo" — Ele disse. "Somente quando você crê é que pode
entender. Mesmo assim, é correto procurar entender. Quando o seu entendimento
deixa de crescer é porque você se desviou do caminho da vida. Uma vez que
continuar nesse caminho, você crescerá. O seu entendimento crescerá também."
Enquanto o Senhor falava, me virei para olhar para Ele. Comecei a ver a glória
que não compete a qualquer linguagem humana descrever. Fisicamente, sentia a
glória que estava vendo. Sabia que era ela porque Ele e a espada que eu havia cravado
no meu coração eram uma coisa só. Quando a Sua Palavra estava em meu coração,
pude ver a Sua glória como nunca antes.
À medida que eu olhava para Ele, minha visão começou a aumentar. À medida que
ela aumentava, eu via cada vez mais a Sua glória. Eu sabia que isso jamais poderia
ter fim e não queria que tivesse. Entendi como os querubins e as miríades angelicais
que adoravam diante dEle por séculos e séculos permaneciam em um estado
contínuo de tão grande temor e maravilha a ponto de jamais quererem fazer outra
coisa. Eu queria ficar ali para sempre e juntar-me a eles.
"O que você experimenta é só um pouquinho da alegria que existe na
verdadeira vida" — o Senhor continuou. "A verdadeira vida só é encontrada em mim.
Essa alegria é a sua força. Para aqueles que me seguem, essa alegria não só será
deles para sempre como aumentará para sempre."
"Agora você deve se Lembrar disso. A alegria da minha presença pode tão-
somente sustentá-lo para que você passe pelo que está vindo. Você conhecerá a
minha alegria, e ela crescerá em você, mas, para fazer a minha obra, você
também deve conhecer a minha dor."
Então, Ele se virou, e eu vi as Suas costas. Ele ainda estava ferido, e as feridas
eram terríveis. Enquanto eu olhava para elas, elas aumentaram. Comecei a ver a
escuridão, a doença, o desespero e a morte. Senti uma tristeza e um lamento piores
do que qualquer coisa que eu já havia sentido. A tristeza chegou a ser tão forte quanto
a alegria. Tive a sensação de estar olhando para o próprio inferno.
À medida que continuava a olhar, vi a raiva descer como uma cascata em
forma de fúria e matança até o sangue começar a correr como um rio. Vi a luxúria
se transformar em uma terrível e ardente doença que entrava em erupção como
um vulcão e destruía tudo o que estava em seu caminho.
Senti um pungente egoísmo por tudo, que era exatamente o oposto do que eu
havia sentido antes, e esse egoísmo liberava uma escuridão asfixiante que queimava
meus pulmões. Ele também aumentava e se expandia. Quando percebi que não
poderia viver por muito mais tempo com o pavor e o desespero que tomavam
conta de mim, clamei para que o Senhor me salvasse ou me matasse.
O Senhor virou-se. Eu já não tinha mais força. Caí no chão e ainda desejei
morrer. Deitado ali, pude ouvir o Senhor, mas Ele parecia estar muito distante. Eu
havia, aparentemente, perdido toda a compreensão da glória que havia visto
alguns instantes atrás. "Poderiam ser as trevas muito mais fortes do que a glória?" —
perguntei-me.
"Este é um pouquinho do poder que está diante de você em seu tempo. Se
você não tivesse experimentado primeiro a minha glória, não teria sobrevivido. Eu
venci todo o mal, e você virá a conhecer o poder da minha glória sobre todo o
mal, mas precisa conhecer o poder do mal que os homens estão prestes a enfrentar.
Você precisa aprender a andar na minha presença em meio ao mal e vencer. Se
não permanecer em mim, será vencido."
Ouvi tudo o que o Senhor disse, embora Ele ainda parecesse distante. Então
senti algo em minha mão. Era a espada. Ela estava se movendo de um lado para o
outro, sozinha. Em vez de eu a agarrar, era ela que se agarrava à minha mão. Logo
minhas forças começaram a voltar.
Levantei-me devagar. Não conseguia lembrar-me de outra ocasião quando me
senti tão imundo. Aos poucos, a sensação começou a desaparecer como se eu
estivesse sendo lavado pela leve brisa que a espada em movimento estava criando.
Logo consegui ficar em pé. Então, pude ver o Senhor e a Sua glória novamente.

"O que você viu é o peso que carrego" — disse o Senhor. "Você viu o que está
acontecendo agora. As trevas também estão aumentando. A própria Terra não poderá
suportar o mal do homem por muito mais tempo. Ela irá rebelar-se contra ele, e o
pavor aumentará à medida que começar a se enfurecer e sentir as dores de parto."
"O homem está prestes a conhecer um medo tal como nunca experimentou
desde o princípio. Aqueles que permanecerem em mim irão, de igual modo, levantar-
se com fé como nunca se viu antes. Por causa do medo que agora está sendo
liberado, reservei as maiores demonstrações de fé para esse momento."
"Senhor, como alguém poderá sobreviver?" — implorei, ainda um pouco abalado com
o que havia visto. "As trevas até pareceram superar a glória e a beleza que eu estava
contemplando."
"Está se aproximando o tempo em que ninguém poderá sobreviver ao que
liberou sobre si mesmo, e todos perecerão se eu não puser um fim a isso. Eu redimi a
Terra e irei redimi-la. Em meio às maiores trevas, liberarei uma luz ainda maior. A
maior luz é o meu amor pelo mundo e a minha redenção."
"Você precisa aprender a carregar a tocha e a espada em meio às trevas.
Necessita aprender a levar sempre o meu amor e a minha redenção. Quando você
aprender a amar os mais miseráveis e os mais desprezíveis, até aqueles que estão
nas garras das profundas trevas, então minha Palavra de redenção será de fato
estabelecida em seu coração. O poder da minha redenção então fluirá por meio de
você."
"Quando Moisés pediu para ver minha glória, mostrei-lhe minhas costas. Ele viu
os açoites que eu haveria de levar pelos pecados do mundo e contemplou o que você
viu, que é o que suportei na cruz, o pecado pelo qual já havia pagado. Essa é a minha
glória também."
"Não há problema algum em você querer ver minha face, conhecer a beleza
e a vida que há em mim. Não há problema algum em você querer levar isso ao
mundo, mas há outra glória que você precisa conhecer e levar. Essa foi a dor que
suportei por você."
"Os maiores heróis do mundo são aqueles que vencem os maiores inimigos. Os
maiores santos são aqueles que vencem as maiores trevas. Você está sendo enviado
para convocar aqueles que me servirão nos momentos mais difíceis. Portanto, deve
conhecer as profundezas da minha redenção."
"Você deve conhecer, no fundo do seu coração, o meu amor por aqueles que
estão nas garras do maior mal. Também deve saber que o poder da minha redenção é
grande o suficiente até para eles. A espada que está sendo dada aos meus mensageiros
nos últimos dias pode quebrar qualquer jugo e romper qualquer cadeia. Minha luz é
mais forte do que qualquer escuridão."
Suas palavras me lavavam, de modo que continuei a sentir uma profunda
limpeza de tudo o que eu havia visto das trevas. Enquanto eu ouvia, continuei a
brandir a espada até sentir que minha visão e minha força haviam retornado por
completo. Eu sabia que não poderia esquecer o poder da Palavra da redenção
para purificar-me a alma e restaurar minha visão e força.

Meu coração estava ardendo, e eu sabia que era a vida da espada que havia sido
cravada nele, bem como o seu poder em minha mão. Sabia que essa conexão entre a
Palavra em meu coração e em minha mão era a conexão entre a fé e as obras. As
duas eram necessárias para purificar-me e restaurar-me, bem como são necessárias
para todos. Este era o entendimento que eu jamais poderia esquecer. Depois de um
tempo, o Senhor continuou:
"Você precisa ter a espada e a tocha. Necessita viver em minha presença
manifesta e ter minha Palavra em seu coração e em sua mão. Você precisa ensinar
isso a meus mensageiros. Ninguém vencerá os tempos que hão de vir sem elas. Você
precisa crescer mais rápido na luz do que as trevas estão crescendo. Minha Luz é
mais forte, mas, para permanecer na luz, é preciso estar crescendo."
Enquanto eu ouvia, instintivamente continuei a balançar a espada, e, com isso,
a força continuou a aumentar. Novamente comecei a sentir que poderia voar — que
era capaz de vencer qualquer poder terreno. Enquanto eu olhava para o Senhor,
Sua glória aumentava e se expandia.
Então, segurei a espada com as duas mãos o mais firme possível. Eu sabia o
que estava por vir e o que teria de fazer. O Senhor virou-se novamente para que eu
pudesse ver Suas costas. Quando Ele fez isso, penetrei nas trevas.
CAPÍTULO 6 O PODER

Mais uma vez, eu estava na avenida onde tinha colocado a tocha. Então percebi
que havia penetra do nas trevas sem levá-la comigo, mas que tinha, de
algum modo, voltado à rua onde a havia deixado. Eu não podia ver a tocha de onde
estava, por isso comecei a andar, balançando a espada como havia feito. Eu sabia
que tinha de encontrar a tocha.
Enquanto andava, comecei a sentir as trevas e a opressão aumentarem. Era,
na verdade, uma avenida de monumentos. À medida que eu balançava a espada e a
minha visão aumentava, fiquei assustado ao ver que não parecia haver vida em lugar
algum. As árvores e a grama no meio da rua estavam verdes, mas eu não percebia
vida nelas. Pensei que fossem artificiais, mas, quando as olhei mais de perto,
tinham funções vitais, mas, de algum modo, estavam mortas.
Continuei a andar. Era um lugar frio, úmido e sombrio. Por fim, cheguei a um
monumento. Eram o verde e o marrom do bronze embaçado que pareciam
intensificar a monotonia desse lugar. A estátua estava sobre uma base de mármore,
mas tudo parecia frio e sem sentido. Mesmo assim, percebi que se tratava da imagem
de uma pessoa importante, embora não reconhecesse quem era.
Segui adiante, balançando levemente a espada, sem saber o que mais fazer.
Então, vi um brilho dourado. Ele parecia ter vida. À medida que me aproximei, vi que
era uma árvore. Ela ainda era pequena, mas era um pouco mais alta do que eu.
Fiquei surpreso com o que vi enquanto me aproximava dela.
A árvore era a tocha que eu havia deixado. Ela havia crescido e agora tinha
galhos. Estava cheia de vida. Destacava-se nesse lugar como um oásis em um
deserto. Estendi a mão para trazer um galho para perto de mim. No mesmo
instante, ele caiu na minha mão. Era uma tocha como a primeira, agora
transformada em árvore.
"Leve-a de volta ao monumento" — disse uma voz que vinha de trás de mim.
Vir-me-ei e vi uma águia branca. Ela estava mais branca do que eu me
lembrava, ao tê-la visto antes, mas pensei que deveria ser por causa da escuridão do
lugar onde estávamos. Também sabia que ela havia ficado ainda mais sábia. Suas
garras estavam mais afiadas e mais fortes, e seus olhos eram mais penetrantes.
"Você tinha razão ao plantar a tocha. Se tivesse se agarrado a ela, teria
ficado com uma boa tocha, mas agora você terá muitas."
"Como é possível?" — perguntei. "E onde estamos?"

"Você está no coração de uma grande cidade que morreu, mas que está
prestes a reviver."
"Você é daqui?" — perguntei, sabendo que ela não era, mas querendo
estender a conversa até pensar em algo melhor para dizer.

"Tenho amigos aqui e alguns discípulos. Eles o ajudarão a fazer aquilo que você
está para fazer."
"O quê?"
"Você tem a espada e a tocha e está aqui, por isso vai usá-las."
"Eu mal sei usá-las. Acabei de recebê-las." Percebendo que a águia estava
ficando um pouco impaciente, continuei: "Mas farei o possível. Diga-me o que você
sabe sobre o meu propósito aqui."
"Este é o meu trabalho e irei contar-lhe tudo o que puder. Também estou
feliz por ver que você não sabe muita coisa. Está mais seguro assim. Você saberá o
que fazer quando chegar a hora. Meus jovens amigos irão ajudá-lo."
"Onde você estará?"
"Estarei observando, assim como eu estava quando você tocou o mar com a
tocha há alguns anos."
"Alguns anos? Não faz mais de algumas horas que tudo aconteceu." —
protestei.
"Não, já faz mais de cinco anos. Lembre-se de que o tempo na esfera espiritual
não é igual ao da terrena. Vi quando você o fez. Desde o momento em que o Senhor
lhe deu a tocha até o momento em que você tocou a água com ela, se passaram três
anos; por isso Ele a deu a você há oito anos."
"Não me lembro de você lá. Onde estava?"
"Lembre-se de que eu não precisaria estar lá para ver. Também vi os outros
dons que você recebeu e os que logo lhe serão concedidos. É hora de usá-los, mas
ainda há muitas coisas para você aprender. Seu treinamento não acabou, mas o
tempo é curto. Você precisa aprender e cabe-lhe ensinar aos outros ainda mais
depressa."
Olhei para a espada e a tocha que estavam em minhas mãos. Reparei ao redor
e tive vontade de usá-las, mas não sabia o que fazer com elas. Por isso, só segurei a
tocha e balancei a espada.
"Estou aqui para ajudá-lo a começar" — disse a velha águia. "Os outros irão
ajudá-lo ao longo do caminho. Agora, volte ao monumento pelo qual você passou.
Toque-o com a tocha e observe."
A velha águia estendeu suas asas e voou alto em direção ao céu escuro com
um vento que eu não podia sentir. Embora tivesse desaparecido logo, ainda a sentia
e sabia que ela estava me observando. Então, comecei a perceber que muitos outros
também estavam me observando.
Comecei a andar, segurando a tocha na frente e balançando a espada
enquanto seguia. Senti minha força aumentar. Minha visão ampliou-se. Enquanto isso
acontecia, eu queria atacar a escuridão. "Nasci para isso", pensei.
"Sim, você nasceu" — respondeu uma voz desconhecida. "Você e muitos outros
também. Agora é a sua vez."
Quando me virei, vi outra águia, mais jovem do que a primeira. Mesmo
assim, essa águia parecia ainda mais majestosa do que a mais velha. Ela inflou um
pouco o peito, e suas asas estavam um pouco abertas como que prontas para voar a
qualquer momento. Era óbvio que possuía uma tremenda força, mas a continha com
muita graça. Como se tivesse ouvido cada pensamento, ela respondeu:
"Sou de outra geração. Não sou maior do que meu pai, mas a mim me foi dada
mais autoridade. Estou aqui para despertar e guiar os grandes campeões que agora
estão amadurecendo. Ajudarei você e os outros que estão preparados para o que há
de vir."
"Como eu os prepararei?"
"Primeiro, você aprenderá a usar a espada e a tocha para algo que vai além de
sua própria edificação. É importante saber isso, mas é apenas o começo. Quando tiver
usado o que está em sua mão, você começará a entender o restante do que lhe será
dado. Então, saberá o que deverá fazer com todos os seus dons."
Começamos a andar. Meus olhos voltaram-se para as árvores pelas quais
estávamos passando. Então notei o fruto. Era bonito, atraente, e, com isso, senti um
pouco de fome.
"Nunca olhe para ele" — a jovem águia disse como se tivesse de repetir isso
com freqüência.
"Por quê?" — perguntei. "O fruto parece ser muito bom, e estou com muita
fome." Então, percebi por que não poderia comer dele. "Todas essas são árvores do
conhecimento do bem e do mal, não são?"
"São. Como você sabe?"
"Elas parecem estar vivas, mas estão mortas, e os frutos parecem deliciosos.
Por que estão nesta avenida de monumentos? E por que a avenida está cheia delas?"
"Os monumentos são para as pessoas que estavam vivas, mas que agora estão
mortas. Esses monumentos são para as pessoas a quem foi dada a vida para
darem à Terra, mas, depois que começaram a andar no Espírito, tentaram consumar
a obra usando sua própria sabedoria e meios. Com isso, começaram a cultivar
essas árvores. É por isso que elas estão juntas nessa avenida."
"Essa é uma das principais avenidas às quais as pessoas desta cidade vêm. Elas não
amam esses monumentos, mas são tais monumentos que as fazem sentir seguras e
importantes, como se fossem os herdeiros da grandeza daqueles que são
representados por eles. Elas também adoram o fruto dessas árvores, mesmo
sendo ele venenoso, e ele as mata assim como matou o império dessas pessoas."
Enquanto andávamos, minha visão continuou a aumentar. Comecei a ver que a
rua era muito ampla, bem cuidada, e que seria muito bonita durante o dia. Ela ainda
parecia morta. A jovem águia voava sobre mim, e eu sabia que ela estava me
observando de perto e discernindo meus pensamentos.
"O que vou fazer aqui com a espada e a tocha?" — perguntei a ela.
"Primeiro, entenda esses monumentos. Até o menor toque de vida
de Deus tem o poder de se transformar naquilo que teria restaurado a Terra e
feito dela um jardim novamente. Esses monumentos são para pessoas que tinham
vida. Elas se tornaram em monumentos mortos porque começaram a pensar sobre
como construir um monumento à sua própria vida. Para nada serve construir um
monumento. Todos eles perecerão."
"O que você está para construir faz parte da cidade celestial. Você não
cumprirá seu objetivo caso se preocupe com o que os homens pensam de sua obra.
Só deve se preocupar com o que o Senhor pensa dela. Você não está aqui para
construir monumentos, mas um movimento que não há de findar. O Espírito jamais
para de se mover. Se você parar, terá se desviado do caminho do Espírito e do
caminho da vida."
Quando nos aproximamos do monumento pelo qual eu havia passado, a jovem
águia parou e disse:
"Você deve trazer esse monumento à vida novamente."
"Por que deveríamos fazer isso?" — protestei. "E como?"
"O Pai ama a redenção. O Rei ama a redenção. Ele também honra os
antepassados que andaram em Seus caminhos na Terra, ainda que só tenham andado
nesses caminhos por pouco tempo. Esses monumentos não eram da vontade de
Deus, mas Ele vai redimi-los e usá-los, por amor aos pais e por amor aos seus filhos
que agora vivem nesta cidade."
"Lembre-se de que Ismael também não era da vontade de Deus. Mesmo assim,
Deus abençoou Ismael e fez dele urna grande nação. Você se surpreenderá com o
modo como os filhos de Ismael glorificarão ao Senhor no final e se surpreenderá com
esses monumentos também."
"Se quiser permanecer no caminho da vida, terá de amar a redenção como
Ele a ama. Ela faz parte de seu objetivo para redimir os monumentos. É por isso que
você está aqui com a espada e a tocha."
"Mas pensei que eles haviam caído porque construíram esses monumentos em
honra a si mesmos" — protestei novamente. "Como vou ajudar a redimi-los? O que a
espada ou a tocha fará por esses monumentos sem vida?"
"Você continuará a andar na escuridão se sua compreensão da redenção não
aumentar. Precisa honrar esses pais e mães. Tem de tocar neles com a palavra e com
o fogo. Quando você fizer isso, a vida que estava neles, que é eterna, fluirá deles
novamente. Você não poderá chegar ao seu destino sem a vida que eles tinham."
"O Senhor vai vivificar esses monumentos, e água viva fluirá deles
novamente. Isso será por sinal de Seu poder de redenção e de Sua ressurreição.
Essas árvores parecem vivas, mas estão mortas, e seu fruto é a morte.
Esses monumentos parecem mortos, mas ainda há vida neles. A vida que eles
levaram é eterna. Ponha a tocha nesta estátua."
Levantei a tocha e a pus sob o rosto da estátua de um grande poeta inglês.
Logo, o bronze reavivou de modo que começou a reluzir. Não demorou muito e o rosto
todo estava brilhando.
"Basta" — disse a águia.
Afastei-me e observei. A estátua ainda era uma estátua, mas havia vida em seu
rosto, assim como havia vida na tocha e na espada que eu segurava. Então, peguei a
espada e a cravei no coração da estátua. Ela entrou facilmente até o cabo.
Quando a tirei, o peito da estátua começou a incandescer com o brilho das
cores do nascer e do pôr-do-sol e da tocha. Quando isso aconteceu, houve também
um leve brilho no horizonte. Mais uma vez, fiquei surpreso com as maravilhas
realizadas pela tocha e pela espada e o modo como, em vez de tirarem, davam vida.
"Elas também podem matar" — disse a águia que agora estava voando sobre
mim. "Elas trazem vida ao que tinha vida, mas o grande perigo é que também podem
dar vida ao que estava morto."
"O que você quer dizer?" — perguntei.
"Você tem nas mãos o poder de abençoar. O que abençoar será abençoado,
ainda que não seja o que o Senhor quer que seja abençoado. Se você abençoar a
obra do inimigo, ela prosperará. Você só deve abençoar segundo a ordem do Senhor."
O inimigo só recebe sua autoridade graças ao homem. Quanto maior for
a autoridade que foi confiada a você, maior será o mal que poderá causar ao usá-la
indevidamente, e maior será o poder do inimigo quando você concedê-la a ele."
"Você tem uma grande bênção ou uma grande destruição em suas mãos. Só
deve edificar o que o Senhor quiser edificar e somente destruir aquilo que o Ele quiser
que você destrua. Você recebeu ferramentas e armas. Quanto mais poderosas elas se
tornam em suas mãos, maior o cuidado que você deve tomar."
"Bem, acho que devo começar a matar aquelas árvores" — repliquei.
Sim, você fará isso no devido tempo, mas agora não é o momento.
Concentrar-nos-emos em dar vida. Essas árvores ainda são úteis para o Senhor."
"Como assim?"
"O Senhor pôs a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no centro do
Jardim do Éden por uma razão importante. É impossível o coração ser obediente, a
menos que tenha a liberdade para desobedecer. Essas árvores atraem pessoas a
esse lugar, e algumas delas que vierem por causa das árvores notarão que há vida
novamente em nosso amigo aqui."
"É quando alguém tocar nele que a vida crescerá. Á vida cresce com interação.
Não sabemos se a mensagem dele será completamente restaurada, mas é
possível. O ensino desse homem poderia começar a fluir novamente. Mas isso não está
em suas mãos. Você fez a sua parte. Por isso, agora devemos seguir em frente."
"Para onde vamos?"
"Há outros monumentos nesta cidade nos quais você deve tocar e ajudar a trazer à
vida. Se as pessoas responderem a eles, rios de água viva começarão a fluir por
toda esta cidade. Então, eles se unirão para formar um grande rio. Se os monumentos
despertados forem suficientes para aqueles que viveram em seu passado, haverá
vida no presente, e fluirão juntos para o grande rio, que os levará a um glorioso
futuro."
"Se você e uma águia aqui, deve conseguir ver o futuro desta cidade. Isso irá
acontecer aqui novamente?" - perguntei, sem querer perder tempo com monumentos,
caso isso não produzisse resultados.
"Não cabe a você preocupar-se com resultados. O Senhor dá uma chance a
todos, mesmo quando Ele sabe que a rejeitarão. No entanto, quando voo alto o
suficiente, posso ver o futuro, mas somente uma pequena parte dele. Sei que a vida
fluirá por esta cidade outra vez, e sei que tantas outras da minha espécie não estariam
aqui se o potencial desta cidade não fosse grande.
"Cabe a nós usar os dons que nos foram concedidos e deixar com o Senhor os
resultados. Você deve aprender bem as lições desta cidade. Depois será enviado para
muitas cidades e nações para fazê-lo novamente. Você foi chamado para dar vida às
cidades e nações, dando vida ao passado delas e aos seus monumentos. Há outros
que estão fazendo o mesmo, e há outros que estão se preparando para a colheita de
outras maneiras, mas esse cabe a você."
Enquanto eu andava e a águia continuava a voar sobre mim, senti um desejo de
acertar uma das árvores do conhecimento com minha espada, só para ver o que
aconteceria.
"Vá em frente" - encorajou-me a voz, agora fraca, que estava sobre mim.Acertei
a árvore um pouco acima da cerca em sua base. A espada passou por ela facilmente.
Olhei para ver se ela viria ao chão, mas não foi o que aconteceu. Então, os frutos
começaram a cair. Logo se levantou um odor terrível. Olhei para os frutos que ainda
estavam na árvore, e eles apodreciam diante dos meus olhos. Tomei distância
suficiente para que nenhum deles caísse sobre mim.
"Foi assim que o Senhor amaldiçoou a figueira" — ouvi a águia dizer lá de cima,
também admirada com o que via. "Essa espada é a Palavra de Deus. Ela pode dar
vida ou pode tirá-la."
Então, me aproximei o suficiente para pôr a tocha ao lado da árvore. O fogo
pegou na árvore como se ela fosse papel seco, consumindo-a rapidamente. Não
restou nada além de cinzas. Veio uma brisa que espalhou as cinzas. Logo não restou
nenhuma evidência de que havia uma árvore ali.
"Estas são armas divinamente poderosas." — observou a águia. "Aquela árvore
enganou muitas pessoas."
"Foi rápido" — respondi. "Não acredito que isso aconteceu dessa forma."
"Eu não chamaria 17 anos de rápido" — a velha águia retrucou, tendo
aparentemente surgido do nada. Ela estava visivelmente irritada.
"Vocês são dois idiotas. Lembrem-se de que o tempo não é igual aqui. É por
isso que a paciência deve acompanhar a sua fé; do contrário, vocês perderão o tempo
do Senhor. Temos de voltar para limpar essa bagunça" — disse, partindo com a
mesma rapidez com que havia aparecido. Parecia estar com uma terrível pressa.
Eu ainda não sabia por que a velha águia ficara tão irritada. Também notei que minha
jovem amiga águia estava igualmente confusa. Fiquei chateado por ela não ter
explicado o motivo para nós. Comecei a andar novamente e a tocar outros
monumentos. Não demorou muito e pude dizer que o dia estava amanhecendo.
Também não estava tão sombrio. Eu sabia que o sol logo romperia a névoa.
"Muitos acreditavam que esta cidade não teria futuro, que a sua noite havia
chegado para sempre, mas talvez esteja começando o seu grande dia" — eu disse à
jovem águia que ainda estava comigo.
Podia sentir uma grande esperança peia cidade surgindo dentro de mim. Então
percebi que a águia não parecia ouvir. Ela estava tentando olhar o futuro lá longe.
Eu também havia me perdido em meus pensamentos. Comecei a pensar no
vale, no cavalo e na garotinha. Estava curioso por saber se os rios da vida iriam
começar nesta cidade novamente. Perguntava-me se havia uma conexão para que
eles pudessem fluir para aquele vale também.
Fiquei bastante preocupado com aquela garota corajosa. Sua graça,
sabedoria e maturidade extremamente avançadas para sua idade fizeram dela um
dos maiores tesouros que já encontrei. Eu queria voltar, mas sabia que o que me seria
dado aqui e o que eu estava aprendendo faziam parte do plano para ela e para o vale
que ela estava tentando defender.
Olhei novamente para a águia. Ela havia, evidentemente, avistado algo, mas
eu não podia dizer se eia estava alegre ou assustada. Enquanto olhava para ela,
comecei a sentir o que ela sentia. Eu sabia que meu treinamento estava quase
chegando ao fim. O alarme estava prestes a soar. Uma grande batalha iria começar.
CAPÍTULO 7 A RAINHA

A jovem águia pousou do meu lado.


"Sei o que você vai me dizer" — declarei águia olhou para mim com as sobrancelhas
das e, então, continuou o que havia começado a dizer.
"As coisas estão acontecendo mais rápido do que imaginei. Pela primeira
vez, eu não quis voar mais alto para ver mais longe. Eu não estava preparada para
ver o que vi. Preciso reunir as outras águias e encontrar o nosso pai. O futuro é muito
sombrio. Continue em frente, e eu o verei logo."
Ela se foi antes que eu pudesse protestar. Lamentei por ter me apressado em
falar, dando a entender que já sabia o que tinha a dizer. Eu sabia que suas
noticias eram ruins, mas não conhecia os detalhes.
"Meu estúpido orgulho" — pensei. Decidi não tentar fazer isso novamente. Isso
sempre pareceu me custar conhecimento. Continuei a andar, brandindo a espada e
segurando a tocha o mais perto possível, curioso por saber o que a jovem águia havia
visto.
Então, cheguei à estátua de uma senhora. Ela era surpreendentemente linda, e
presumi que havia sido uma rainha inglesa. Quando a olhei de perto, meu coração
quase parou. Não só reconheci muito bem o seu rosto, mas também ela estava
viva e apontando seu cetro em minha direção.
Águias pousavam nela e estavam ao redor de sua base, como normalmente
fazem os pombos em volta de estátuas. Todos eles também estavam olhando para
mim. Quando ela falava, era com uma dignidade que eu conhecia muito bem, e ela
ostentava uma autoridade que me fazia tremer.
"Você é a garotinha que deixei no vale. Como chegou aqui e como pode ser um
monumento?"— gaguejei. Ela não respondeu, mas olhou curiosamente para mim.
Uma das águias então falou:
"Você se esqueceu de que o tempo aqui não é igual ao da esfera terrena.
Entretanto, essa não é a garota que você viu, mas uma descendente dessa senhora."
Vir-me-ei para a senhora e disse:
"Sinto muito. Fiquei surpreso quando a vi, já que vocês são muito parecidas."
A importante senhora parecia indiferente ao que eu disse e continuou a
apontar seu cetro em minha direção quando começou a falar.
"Você despertará as mães para a glória do chamado que elas têm? Você dará
às minhas filhas espadas e tochas? Elas são as únicas que mantêm as tochas vivas
e manejarão a espada com sabedoria. Minhas filhas deterão a morte e trarão de volta
a vida."
Fiquei sem fala, apavorado. Suas palavras surgiam com autoridade e nobreza
e eram tão belas quanto ela. Eu não queria que ela parasse de falar, porque suas
palavras eram tão estimulantes.
"Você é Elizabeth?" — perguntei.
"Não."
"É Maria, a mãe de Jesus?"

Fitando-me com um olhar amoroso, porém firme, o sorriso mais acanhado


pareceu passar por seus lábios enquanto respondia:
"Você me conhece. Elizabeth me conheceu. Abraão procurou por mim. Eu não
sou Maria, mas também sou como uma mãe para Jesus. Sou Jerusalém. Sou sua mãe
também, porque sou a mãe de todos os que adoram em Espírito e em verdade."
Enquanto eu olhava para ela, pensei no quanto parecia ser a própria
maternidade em toda a sua glória. Suas palavras não só expressavam verdade, mas
também vida, esperança, coragem e força. Era impossível imaginar que haveria uma
mulher mais atraente, e, não obstante, não havia nenhum sinal de sedução ou de
atração sexual.
Eu só queria estar o mais perto possível dela. Sua presença era tão amorosa
e convidativa que comecei a me aproximar. Não conseguia parar de me perguntar
como alguém, com tanta luz, poderia estar nessa avenida dos monumentos e não
despertar a cidade inteira.
"Por que você está aqui? Por que está nesta cidade?" — perguntei. "Como
alguém, com tanta graça e vida, poderia estar nesta avenida? Por que não há multi-
dões sentadas aos seus pés?"
"Os homens fizeram muitos monumentos para mim, mas eu nunca morri.
Muitos tentaram levar-me de volta à Terra, principalmente aqueles que se
sentavam aos meus pés, tentando usar-me. Eles tentam levar-me por meio de suas
próprias obras, e não pela fé, que tão- somente pode estabelecer-me."
"Você pode me ver como o faz agora por causa da visão que tem. Se sua visão
fosse maior, eu seria ainda mais para você. Na verdade, você só está vendo um pouco
mais de mim do que aqueles que só vêem uma estátua de bronze."
"Há alguns nesta cidade que começaram a me ver como algo mais que uma
estátua. É por isso que estou viva aqui. À medida que a visão deles aumentar, serei
revelada cada vez mais."

"Quando eles começarem a crer em sua visão com o coração, e não só com a
mente, eu me livrarei desta avenida de monumentos e me colocarei acima dos palá-
cios e castelos dos homens. Quando isso acontecer, o Rei virá a esta cidade."
Então, ela olhou para as minhas mãos, e outro sorriso acanhado enrugou seus
lábios.
"Você tem a espada e a tocha. É hora de usá-las aqui. Ninguém que não honra
o pai e a mãe pode me ver. Se você honrar os pais, dará espadas para os filhos e fi-
lhas."

Suas palavras eram como fogo e mel juntos. Elas queimavam, mas também
adoçavam e acalmavam. Eu não podia imaginar alguém que não quisesse ficar o mais
perto possível dela. É óbvio que ela também podia ouvir meus pensamentos e
responder a eles.
"Como eu disse, a maioria só me vê como um monumento, frio e embaçado.
Quando as pessoas começarem a me ver como sou, serão atraídas a mim como
uma criança de peito à sua mãe. Eu também fui criada para ser um desejo de todo
coração que busca. O Rei e eu somos um."
"Você deve se lembrar disso. É preciso a luz dos pais e das mães, dos filhos e
das filhas, para revelar-me como sou. Sou muito mais do que aquilo que você está
vendo agora e também sou como a criança que você conheceu no vate."
"Ninguém pode me ver como realmente sou se não vir a glória da maternidade,
bem como da paternidade, espiritual. É porque muitos honraram somente os pais,
mas não as mães também, que eles e seus frutos não permaneceram por muito tempo
na Terra. Você deve honrar os pais e as mães para gerar os filhos e as filhas."
"Ninguém que não vê a glória nas crianças pode me ver como sou. Tenho a
sabedoria dos séculos e a sabedoria do novo nascimento. É a sabedoria dos pais e das
mães, dos velhos e dos jovens, que o caminho da vida segue."
Enquanto eu ouvia, fui levado às árvores que estavam alinhadas na avenida.
Isso não escapou à sua atenção, e ela novamente respondeu aos meus pensamentos.
"Sim, a mulher foi enganada e comeu do fruto proibido primeiro. Entretanto, o
homem comeu dele mesmo sabendo o que estava fazendo. E não diz a profecia que a
semente da mulher esmagará a cabeça da serpente?"
"Sinto muito" — respondi. "É que fui tão ensinado sobre como as mulheres são
tão facilmente enganadas que eu estava, na verdade, me perguntando se alguém
poderia pensar assim em sua presença."
"Entendo por que muitos pensam assim, mas você deve entender isto agora:
aqueles que são remidos pertencem a uma nova criação. A mulher da nova criação é
superior à da primeira."
"Quando você se torna parte da nova criação, seus pontos fracos se
transformam em pontos fortes. Grande parte daqueles que têm os maravilhosos dons
do discernimento é formada por mulheres. Lembre-se de que, na nova criação,
todas as coisas se fazem novas. É por essa razão que aqueles que têm uma mente
renovada não julgam segundo a carne, mas segundo o Espírito."
"A mulher da nova criação está para ser revelada, e todos os que a virem irão
honrá-la. Nem os meus filhos nem as minhas filhas podem me ver como sou, a menos
que comecem a olhar para mim juntos, abrindo seu coração para o que cada um
deles vê. Os meus filhos e as minhas filhas devem profetizar. Você deve dar tochas e
espadas para as minhas filhas e os meus filhos; do contrário, acabará como mais uma
estátua nesta rua."
"Você está preocupado que as filhas se deixem enganar facilmente. Todos
podemos ser enganados, mas a sabedoria das mulheres poderia impedi-lo de praticar
muita tolice, como a insensatez de cortar aquela árvore."
Quando ela disse isso, tremi. Entendi no mesmo instante que algo muito mais
terrível do que eu imaginava havia acontecido.
"Eu só usei minha espada para cortar uma árvore que tinha um fruto do mal.
Como isso poderia ser ruim? Que tipo de problemas isso poderia ter criado?" — perguntei.
"Você não plantou uma árvore justa no lugar daquela. Agora ela brotou
novamente, e o poder do mal que há nela se multiplicou. Você não pode dissipar o
mal, mas deve sempre preencher o lugar dele com algo bom; do contrário, isso
acontecerá."
Mesmo não querendo sair da presença dessa grande rainha, vir-me-ei e
comecei a correr em direção ao lugar onde havia cortado a árvore. Enquanto
corria, olhei de relance para trás a fim de vislumbrar mais uma vez sua grande
beleza e a vi fazendo sinal para as águias me acompanharem. A grande preocupação
de todos era tão visível que cheguei a parar.
"Diga-me. O que há de mal nisso?" — gritei.
A grande senhora olhou para mim como se estivesse medindo as profundezas de
minha alma. Eu sabia que ela estava pensando se eu agüentaria ouvir a resposta.
Deve ter concluído que eu não conseguiria suportar, pois não disse nada. Então, uma
das águias falou:
"Você entenderá logo o que aconteceu. Não estávamos preparados, e não
acho que você esteja preparado para o que nos espera. Mesmo assim, devemos ir
agora. A batalha por esta cidade, e por muitas outras cidades, já começou."
Alguém bateu à porta, e eu despertei, assustado. O relógio ao lado da cama
marcava 5h55. Era difícil saber onde eu estava. Sentia-me entre dois mundos.
Continuei a olhar para o relógio e orei pedindo graça para vencer o que haveria de
vir. Sabia que havia, de fato, uma ponte entre as esferas do Céu e da Terra, e que o
que eu havia visto era muito real.
Também pensei em como o tempo entre elas não era como parecia. Às vezes
minutos, ou horas, na esfera celestial acabavam sendo anos na Terra. Mesmo
assim, eu sabia que era hora de acordar. A batalha final estava realmente para
começar. Então, percebi que não havia ninguém na porta do meu quarto.
Tive de me sentar por um instante. Pensei no quanto valia a pena buscar
a "Jerusalém do alto" como nenhum outro tesouro no mundo. É para isso que a Igreja
foi chamada. Não há sombra de dúvida de que, se ela for vista como realmente é, as
nações virão para a sua luz. Quem não viria para ela?
Como eu queria que cada igreja e cada cristão tivessem apenas um vislumbre
dela, ouvissem sua voz, sentissem a grandeza de sua presença e a dignidade de cada
movimento seu. Ela era uma mulher em toda a sua glória. Uma noiva digna do Rei.
Eu me consumia na tentativa de encontrar uma forma de compartilhar o que
havia visto. Desesperado, queria dizer a todos os cristãos que eles haviam sido
chamados para fazer parte disso, mas minhas palavras eram extremamente
insuficientes.
"Ela não faz parte da avenida de monumentos. Ela faz parte da colina
mais alta para que todos possam vê-la", pensei, mas minhas palavras pareciam tão
mirradas e mortas quanto os outros monumentos. Comecei a desejar as
palavras de vida.
Então, comecei a pensar na iminente batalha. Um temor apoderou-se de
mim como um cobertor negro. A minha força se foi. Eu estava tão cansado que fui
vencido pelo sono.
Então, eu a vi novamente. Ela não era mais uma estátua na avenida dos
monumentos — era uma guerreira que usava uma armadura brilhante. Estava mais
magnificente do que as palavras humanas podem descrever. Sua presença
exalava graça e força, o que me enchia de medo. Ela olhou bem nos meus olhos
enquanto o sorriso mais sincero e radiante passava por seus lábios.
"Não teme. Eu também fui trazida a este mundo para a batalha que está à
nossa frente. Devo ser conhecida como a própria maternidade, mas também devo ser
conhecida como uma guerreira. Não teme. A luz que está em nós é maior do que as
trevas. Chegou o tempo de a luz ser vista. É tempo de lutar."

CAPÍTULO 8 A ÁRVORE E SEU FRUTO


Eu estava correndo o mais rápido possível para o lugar onde havia cortado a árvore
com minha espada. Sabia que algo terrível havia acontecido, mas não
conseguia entender o que era.
Então, comecei a sentir um mau cheiro terrível, como o fruto podre, mas
muito mais intenso do que eu já havia sentido. Foi então que vi uma árvore que se
elevava sobre todas as outras. Ela era tão alta que cobria uma grande parte da
avenida dos monumentos. Seus galhos cobertos de folhas eram tão grossos que
ficava escuro debaixo dela.
Enquanto eu continuava a correr em sua direção, comecei a ouvir estrondos
cada vez mais altos à medida que me aproximava. Diminuí o passo, uma vez que
cada sentido dentro de mim estava me dizendo que se tratava de algo mais
nefasto do que qualquer coisa que eu já havia enfrentado.
Então, ouvi vozes. A princípio, eram apenas algumas, mas, à medida que me
aproximava, começou a parecer que eram muitas, talvez centenas. Depois, pareciam
milhares. O mau cheiro e a atmosfera criada por essa árvore forjaram uma depressão
que parecia uma neblina sufocante. Por fim, tive de parar porque não suportava
chegar mais perto. Então, uma das águias falou:
"Isso não é bom!"
"Qualquer um pode dizer que isso não é bom!" — repliquei. "Ajudaria um
pouco mais se eu soubesse o que é isso."
"Essa árvore não deveria estar assim" — disse a jovem águia com uma voz
nitidamente trêmula.
"Este é o resultado de sua própria impaciência, ignorância e imaturidade" —
interrompeu a velha águia, que havia acabado de pousar atrás de mim.
"O que aconteceu? Como isso é conseqüência do meu erro?" — reclamei.
"Você, imprudentemente, cortou uma das árvores e não plantou a tocha em
seu lugar. Você sabe muito bem que toda vez que você desloca o diabo, ou uma de
suas fortalezas, ele tentará voltar e, se conseguir, voltará mais poderoso."
"Não pensei nisso. Além disso, é difícil acreditar que um breve momento de
descuido de minha parte poderia ter causado tudo isso."
"As armas que nos foram confiadas são muito poderosas, mas você nunca deve
destruir uma obra do diabo, a menos que a substitua pelas obras de Deus. Se
você destruir uma plantação do diabo, deverá plantar aquilo que é de Deus em seu
lugar e preparar-se para defendê-lo" — a velha águia disse com um claro tom de
reprimenda.
"Mas a águia que estava comigo me mandou 'ir em frente' quando eu quis cortar
a árvore" — protestei. "Nós dois pensamos que era a coisa certa a ser feita."
"As águias jovens estão aqui para ajudá-lo, e elas podem fazer isso, mas
ainda são jovens. Não importa quem esteja com você, ou quem esteja de acordo
com você, isso não o isentará de responsabilidade por suas próprias ações."
"Muitos que receberam um grande conhecimento não têm uma grande
sabedoria. Você tem andado com a própria sabedoria, e Ele permanece em você. É
sensato consultar o Senhor antes de usar a autoridade e as armas que Ele lhe tem
confiado. A sabedoria ainda pode falar com você por meio de um de nós, mas Ele,
sobretudo, falará com você por meio do seu coração. Você deve obedecer a Ele, e
não às jovens águias, ou às velhas."
Percebi a frustração da velha águia, mas tive de pressioná-la para obter todo
o conhecimento possível. Eu estava arrasado com a idéia de ter causado tamanho
problema.
"Se tivesse plantado a tocha no lugar daquela árvore, eu não estaria com ela
para continuar a tocar nos monumentos" - protestei.
"Primeiro, você não deveria ter cortado a árvore sem a ordem do Senhor.
Depois, se Ele lhe desse essa ordem e você tivesse de plantar a tocha, deveria
fazê-lo ainda que, para isso, fosse preciso esperar um tempo. Toda vez que você
plantar essa tocha, ela se multiplicará. Tudo que se planta e que está de acordo com
a vontade do Pai dará mais frutos e se multiplicará."
"Talvez esperar por isso lhe pareça incompreensível, porque você é muito impaciente,
mas o reino de Deus cresce mais mediante a paciente colheita dos frutos do que
quando se ataca as obras do diabo. Há um momento para atacar as fortalezas do
diabo, mas nunca é nisso que consiste a principal obra do Reino."
"Lembre-se disto: Você não será julgado pelo número de monumentos
que despertar, ainda que isso faça parte de seu chamado. Nem será julgado pelo
número dessas árvores plantadas pelo diabo que você cortou. Você será julgado
pelo grau de sua obediência. Agora, essa lição acabou."
"Temos uma grande batalha em nossas mãos. Certamente será prudente de
nossa parte prosseguir agora sem demora. Essa árvore ainda está crescendo, e o
inimigo pretende tomar esta cidade. Isso não pode acontecer."
Comecei a andar novamente. Sabia que a velha águia estava me dizendo a
verdade. Eu havia, imprudentemente, usado o que me havia sido confiado e agora
tinha criado um grande conflito, desnecessário, para o qual não estávamos
preparados.
Todas as águias estavam ao meu lado, inclusive a mais velha.
"Vocês não poderiam ser um pouco mais úteis se voassem?" - perguntei.
"É difícil voar nesse tipo de atmosfera" — uma delas respondeu com a
concordância visível das demais.
"Difícil? Bem, para mim, é difícil caminhar, mas sei que preciso fazê-lo.
Vocês poderão lutar assim?"
"Não muito bem" confessou a velha águia. "Você tem razão. Devemos voar."
Com isso, ela subiu lentamente, e as outras começaram a segui-la. Elas não
foram longe nem muito alto,e fiquei contente por isso. Quanto mais andávamos, mais
sentíamos o mal. Eu não queria continuar. A depressão se transformou em um
opressivo medo.
Não demorou muito e minha vontade era abandonar toda a cidade e
recomeçar em algum outro lugar. Se as águias não me tivessem feito companhia
nem voado acima de mim, eu não teria como continuar. Mesmo assim, eu estava
ficando cada vez mais lento. Logo comecei a ofegar por causa do terrível mau cheiro.
Embora ainda estivesse a certa distância da árvore, pude ver o que estava
causando o estrondo. Eram os frutos que caíam dela. Eles eram tão pesados que
passavam pelo telhado dos prédios e das casas. Quando batiam na rua, espatifavam
com tanta força que pareciam bombas. Quando cada um deles atingia o chão, uma
névoa fétida se levantava do locai onde caía.
Depois vi de onde vinham as vozes. Grandes multidões vieram comer dos
frutos. Elas os devoravam como se fossem deliciosas iguarias. A cena era tão repulsiva
que tive de me afastar para não vomitar. Percebi a velha águia ao meu lado.
"É melhor que você veja isso" — ela exigiu. "Você precisa entender o que os
frutos estão fazendo às pessoas. Balance a espada. Segure firme a tocha."
Olhei para a espada e a tocha que eu tinha nas mãos. Quase havia me
esquecido delas. Simplesmente as carregava. Assim que comecei a brandir a espada,
uma brisa leve e refrescante começou a passar ao nosso redor. Era como respirar
oxigênio novamente.
Eu a balancei cada vez mais até poder ver que a brisa estava tocando nas
águias que pairavam no ar. Com o ar fresco, nossa visão melhorou rapidamente.
Aos poucos, a confiança começou a tomar o lugar dos nossos temores.
Então, levantei a tocha o mais alto possível. Ela estava ficando mais reluzente
por causa da brisa que a espada havia criado. Com a espada e a tocha, estávamos
criando a nossa própria atmosfera.
Enquanto olhava, podia dizer que todas as águias sentiam a emoção de voar.
Uma grande fé para a esperada batalha começou a surgir em todos nós. As armas
que nos haviam sido dadas eram maiores do que as que estávamos vendo. Comecei a
orar com fervor, pedindo sabedoria para usá-las bem naquele momento. Reiniciei a
caminhada, mas fui detido pela velha águia, que gritou:
"Pare! Não dê nem mais um passo." Fiquei parado onde estava.
"Qual é o problema?" — perguntei, um pouco atordoado com a força de sua
ordem.
"Você estava para ser morto. É bom ter coragem, mas você não é nem um
pouco inteligente?"
"Do que você está falando?" — reclamei. "Como estávamos para ser mortos?
O que temos é, sem dúvida, muito mais poderoso do que qualquer arma do inimigo."
"É verdade, mas os frutos que estão caindo dessa árvore poderiam ter
acabado com todos vocês de uma só vez. Como eu disse anteriormente, precisamos
ficar aqui e observar o que eles estão fazendo às pessoas. Devemos ter certeza de ir
somente onde os frutos não estão para cair."
Concluí naquele instante que a velha águia tinha razão. Senti-me tão tolo e
imaturo como uma criança. Pedi desculpas. Estava certo de que todas as águias se
sentiram repreendidas também.
Então, comecei a observar as pessoas mais próximas de nós e que estavam
comendo os frutos. Passei a balançar a espada novamente, o que havia deixado de
fazer logo depois da repreensão da velha águia. Fiquei surpreso ao ver quanto o ar
tornara-se fétido naqueles poucos instantes.
Quando levantei a tocha novamente, a luz voltou aos nossos olhos, de modo
que pudemos ver melhor. No entanto, logo ficou claro que as pessoas em meio à
névoa não podiam nos ver. Pareciam estar quase totalmente cegas, enxergando só a
alguns metros de distância. Isso as levava a procurar, como animais, os frutos que
pareciam comer com avidez.
À medida que comiam os frutos, elas ficavam pálidas e mais magras. Algumas
engoliam os frutos como se estivessem morrendo de fome e, quanto mais rápido co-
miam, mais perdiam peso por causa da diarréia. Grande parte do mau cheiro provinha
daí, mas elas nem pareciam percebê-lo ou se importar com ele.
Enquanto comiam, chagas começaram a aparecer nelas. A dor das chagas
era, sem dúvida, terrível, uma vez que as pessoas esbarravam umas nas outras;
isso gerava conflitos e agressões físicas. Como conseqüência, se afastavam cada vez
mais umas das outras.
Vimos até que aqueles a quem estávamos observando começaram a morrer.
Alguns começaram a matar os outros que estavam próximos a eles. A violência estava
aumentando, bem como a paranóia e a depressão. Eu não podia imaginar um cenário
do inferno pior que esse.
"O diabo não só gosta de matar. Ele adora atormentar" — observou a velha
águia. "Ele tenta, em tudo o que faz, reduzir os seres humanos ao mais vil estado.
Acha que se puder levar os homens que foram criados à imagem de Deus a tamanha
humilhação, está zombando do próprio Deus."
Era uma cena terrível e grotesca e se tornava cada vez pior. À medida que a
depravação aumentava, logo ficou difícil acreditar que aqueles eram seres humanos.
"Um bando de cachorros tem mais dignidade", pensei.
Então, percebi sangue no chão. Ele estava sendo absorvido pela terra como
que por um aspirador de pó lento, mas potente. Enquanto observava, podia
dizer que ele estava sendo levado para as raízes da árvore. O sangue era seu
alimento. No Local onde havia uma terrível batalha e muita morte, olhei e pude ver
que os galhos acima estavam crescendo mais rápido e produzindo mais frutos
mortíferos.
"Não podemos esperar mais; do contrário, toda a cidade se perderá" — uma
das águias gritou. "Precisamos fazer alguma coisa."
Eu sabia que ela estava com a razão, mas também achava que, se
fôssemos adiante sem conhecer o que havíamos acabado de presenciar, não
conseguiríamos cumprir nosso corajoso encargo em meio às trevas.
Também comecei a perceber que todos aqueles que trabalhavam pela paz
estavam fazendo a obra do Senhor. Qualquer tipo de derramamento de sangue
alimentava as raízes dessas árvores malignas, que produziam esses frutos do mal e
aumentavam o domínio do inimigo sobre a Terra.
"O que devemos fazer?" — perguntei à velha águia.
"É por isso que você está aqui" — ela respondeu. "Posso lhe dar conhecimento
e, às vezes, sabedoria, mas não cabe a mim comandar uma batalha como essa."
"Mas foi a minha insensatez que levou a isso, e depois, por minha causa, quase
perecemos." — protestei. "Está claro que não sou a pessoa indicada para comandar
uma batalha como esta."
"Talvez você esteja humilde agora e tenha aprendido o suficiente para fazer
exatamente isso" — replicou a velha águia, obviamente decidida que não seria ela
quem ficaria no comando, mas eu.
Eu sabia que não havia tempo para discussões, por isso fiz o que julguei
necessário até que um líder se manifestasse. Reuni todas as águias e as organizei em
dois grupos, nomeando um líder para cada um.
O primeiro grupo deveria voar e encontrar um caminho onde os frutos não
estavam para cair. Eles também deveriam atacar qualquer fruto que, obviamente,
pudesse cair prematuramente. Isso ajudaria a limpar mais o caminho e, se Deus
quisesse, os frutos prematuros não estariam muito maduros para as pessoas os
comerem no chão.
O segundo grupo deveria seguir o primeiro. Eles deveriam procurar os frutos
que se perderam, ou que estavam crescendo muito rápido a ponto de se tornarem
uma ameaça para nós. Pedi à velha águia que ficasse ao meu lado. Ela concordou.
Quando comecei a andar, todas as águias voaram para fazer suas tarefas.
Continuei a balançar a espada e a levantar a tocha. Enquanto fazia isso, sentia
minhas mãos revestindo-se de força, e até meus pés pareciam mais leves. Logo,
isso foi purificando o ar e iluminando uma boa distância do caminho.

Isso era crucial porque as águias não podiam voar além da Luz da tocha e do
vento da espada; do contrário, se sufocariam e começariam a adoecer.
Depois de andarmos devagar durante o que pareciam horas, começamos a
ouvir um terrível tumulto a certa distância. Havia milhares de vozes furiosas. Todos
sentimos um calafrio. Eu até podia dizer que a velha águia estava ficando tensa. Era
óbvio que estava acontecendo uma grande batalha à frente.
Teríamos coragem para continuar? Quem estava lutando? Onde estava o nosso
líder? Olhei para trás para ver se vinha alguém para nos ajudar. Não pude ver nem
ouvir ninguém, mas percebi que os frutos estavam caindo novamente no caminho, não
muito atrás de nós. Simplesmente não podia acreditar na rapidez com que estavam
crescendo.
Eu também sabia que não tínhamos saída. Não podíamos voltar nem ficar
onde estávamos. Não havia para onde ir senão seguir em frente, e eu não
precisava da velha águia para me dizer isso.

CAPÍTULO 9 OS GUERREIROS

Convoquei uma rápida reunião com os líderes de ambos os grupos de


águias. Eles também já tinham visto a nossa situação — estávamos agora
tão cercados na retaguarda quanto na dianteira, mas também preparados para seguir
em frente. Pedi a eles que voassem o mais alto possível e voltassem rapidamente para
relatar algo relevante que vissem.
Enquanto seguíamos em frente, cada vez mais nos aproximávamos dos
rumores de uma grande batalha. Não demorou muito e uma das águias voltou para
relatar o que elas estavam vendo.
Havia um grupo de aproximadamente 200 pessoas com pequenas espadas e
pequenas lâmpadas. Algumas das espadas eram menores que facas, mas as pessoas
eram valentes e tinham habilidade para manejá-las. Elas estavam lutando para deter o
que parecia ser uma multidão maior que um exercito, que consistia em alguns
milhares de pessoas.
O pequeno grupo de combatentes mal tinha luz para ver, e o ar que respirava
estava cheio de morte e desânimo. Eles haviam erigido trincheiras e, com cora-
gem, defendiam seu território enquanto a multidão lançava os frutos podres e
venenosos contra eles. Esses frutos eram tão tóxicos que matavam ou feriam
gravemente quem acertavam.
Seus integrantes se esquivavam com destreza, mas era óbvio que alguns deles
estavam cansados e não poderiam resistir por muito tempo. Eu não tinha idéia do que
o nosso pequeno grupo poderia fazer para ajudá-los contra uma horda, mas sabia que
tínhamos de fazer alguma coisa.
A velha águia e eu nos aproximamos do local da cena. Antes que nos vissem,
pudemos chegar bem perto da multidão, uma vez que a visão deles estava um tanto
comprometida. Quando nos viram, começaram a arremessar os frutos contra nós.
Eles estavam muito longe para nos acertar, por isso alguns começaram a correr
em nossa direção. As águias jovens lançaram-se na frente deles, e, com isso, pararam
onde estavam, visivelmente assustados com elas.
Então, dei alguns passos na direção deles, esperando que o ar fresco e a luz da
espada e da tocha os despertassem das trevas. Assim que a luz e o ar fresco tocaram
neles, começaram a voltar correndo para as trevas, em pânico.
Uma das águias desceu para nos dizer que não podia avistar a multidão e que
ela estava se reagrupando. Por alguma razão, eles estavam furiosos, e era óbvio que
não desistiriam de tentar destruir o pequeno grupo de combatentes.
Andei até me aproximar da trincheira. Um homem e uma mulher, que
obviamente eram os líderes, se aproximaram. Pareciam contentes em nos ver, mas
cautelosos ao mesmo tempo. Eu lhes disse o meu nome e quanto estávamos
impressionados com a grande coragem deles.
"Sabemos quem você é" — respondeu a mulher. "Os seus livros foram úteis
para nós."
"Se eles foram úteis para vocês, por que parecem tão cautelosos comigo?" —
perguntei.
"Não estamos tão cautelosos com você quanto estamos com aqueles pombos.
Estamos curiosos em saber o motivo por que eles estão com você" - explicou o
homem, tentando, evidentemente, esconder sua irritação, mas sem ter muito
êxito.
"Aqueles não são pombos, são águias." — respondi, tentando controlar minha
própria irritação.
Incrédulos, o homem e a mulher olharam para mim. Eu não podia dizer que
eles estavam forçando urna situação sem pretender me insultar, mas querendo muito
mostrar seu desdém pelas águias. A velha águia puxou-me para o lado antes que eu
pudesse dizer mais alguma coisa.
"Chamar-nos de pombos foi, na verdade, um pouco de bondade da parte deles.
Na verdade, queriam nos chamar de abutres. Para ser sincero com você, não posso
culpá-los. As águias jovens podem criar uma confusão maior do que os pombos, e
até águias velhas como eu são difíceis de aparecer por ai. Acho que alguns dos nossos
amigos mais jovens aqui já criaram problemas para essas pessoas antes. Seja
paciente e gentil."
"Entendo" — respondi. "O que eles pensarão quando descobrirem que podem
me culpar pela minha insensatez e imaturidade por causa dessa árvore?"
"Todos nós já confundimos as coisas mais do que a maioria de nós perceberá nessa vida"
— a águia respondeu. "Até os grandes santos nas Escrituras, como Abraão, Davi e o
apóstolo Paulo, criaram alguns problemas no mundo por causa de sua insensatez ou
imaturidade. Não somos melhores do que eles, somos?"
"Não. É claro que não" — respondi. Perceber quanto isso era verdadeiro deu-me
certo encorajamento.
"O apóstolo Paulo expressou uma atitude contra a igreja que ele teve de
enfrentar pelo resto de sua vida. É pela graça do Senhor que Ele também nos dá uma
chance para confrontar e destruir os males pelos quais somos responsáveis por
liberar" — continuou a velha águia. "Esta é a sua chance para com essa árvore.
Nossas jovens amigas águias estão tendo outra chance para com essas pessoas, pois,
gostem ou não, elas não sobreviverão sem a nossa ajuda."
"É verdade, mas, para que cheguemos ao lugar onde poderemos trabalhar
em conjunto, talvez seja preciso mais do que temos, principalmente quando vemos o
modo corno a violência está aumentando lá fora, e essa árvore ainda está crescendo"
— lamentei.
"Eles não precisam nos chamar de águias. Eu nem me importo se eles nos
chamam de pombos, mas devemos encontrar uma forma de trabalhar em
conjunto" — respondeu a velha águia.
Quando me virei para o casal, parecia um pouco mais à vontade. Eu podia
dizer que os movimentos de minha espada haviam limpado o ar de certa forma, e a
tocha havia iluminado toda a área. Quando olhei para o restante das pessoas, todas
estavam olhando para as águias voando ali por perto.
"Não sabíamos que eram águias de verdade" — o homem disse. "Receio
que fizemos muito mal a elas e as afugentamos porque pensamos que eram..." —
parou por um instante — "...estou muito envergonhado, mas, na verdade, pensamos
que se tratassem de abutres."
A velha águia começou a falar, quando uma das mais jovens, que havia
pousado, a interrompeu:
"Somos águias, mas sabemos da confusão que criamos quando estávamos com
vocês. Não os culpamos por terem pensado o que pensaram de nós, ou por terem nos
afugentado. Na realidade, vocês fizeram o que era certo. Somos nós que deveríamos
pedir desculpas. Todos lamentamos muito os problemas que lhes causamos e o que
fizemos à sua congregação."
Eu só continuava a balançar a espada, a segurar a tocha e a observar. "De fato,
é isso que significa limpar o ar", pensei. A situação era muito comovente, mas ainda
fiquei surpreso quando me virei para a velha águia e vi lágrimas rolando pela sua face.
Quando ela me viu, ficou um pouco envergonhada, mas era óbvio que estava muito
feliz para se importar com isso.
"Há muitos anos que espero para ver tal coisa. E há poucas mais belas do que
isso" — ela expressou.
"Entendo" — eu disse, tentando fazer com que nós dois nos sentíssemos um
pouco mais à vontade. "Creio que, se eu soubesse de toda a história que se passa
por aqui, estaria tão comovido quanto você."
"Se você soubesse de toda a história, saberia que estamos testemunhando
um grande milagre. Na verdade, é esse milagre que me dá confiança para essa
batalha na qual estamos engajados."
"O que você quer dizer com nós? Pensei que fosse eu que realmente havia
nos colocado nessa situação."
"Se quisermos vencer, precisamos permanecer unidos e cobrir os erros uns
dos outros" — a velha águia disse.
"Havia uma águia ao seu Lado quando você fez o que fez, por isso todos estamos
juntos nesta situação. Eu também sabia que isso poderia acontecer, mas não movi um
dedo para adverti-lo. Então, todos somos responsáveis."
A atmosfera em torno do pequeno bando e de suas trincheiras obviamente havia
mudado. Fiquei surpreso ao ver a rapidez com que a cautela que eu sentia a princípio
havia se transformado em confiança, simplesmente com algumas desculpas e um
pouco de humildade.
Era óbvio que não poderíamos enfrentar o que estava pela frente se
estivéssemos pelejando contra nós mesmos, e essa reconciliação tinha de acontecer.
Nunca sonhei que isso poderia acontecer tão rápido. Se as águias tivessem se ofendido
com aquilo de que foram chamadas a princípio, não haveria como sobrevivermos à
iminente batalha. Na verdade, poderíamos muito bem lutar em duas direções ao
mesmo tempo, o que certamente levaria a uma rápida derrota.
Por fim, todos nós nos voltamos para a escuridão. Os frutos agora estavam
caindo tão rapidamente que pareciam trovões distantes. Parecia que a escuridão além
de nossa pequena área estava ficando ainda mais densa, se é que isso era possível.
Olhei para a velha águia, e nós dois soubemos que tínhamos de fazer alguma coisa
logo.
Vir-me-ei para o casal e disse:
"Por mais maravilhoso que tenha sido conhecer vocês, e vocês terem se
reconciliado com meus amigos aqui, não temos muito tempo. Precisamos tentar
destruir a raiz dessa árvore logo; do contrário, a cidade estará perdida."
"Por favor, não nos deixe." — gritou a mulher, cujo clamor foi rapidamente
seguido por muitos outros. "Você nos trouxe essa esperança de novo e a visão.
Precisamos de você e das águias."
Olhei para a velha águia e percebi que estávamos pensando a mesma coisa. Se
deixássemos essas pessoas, a horda que estava atém da luz viria, arrastando todas
elas. Elas estavam quase subjugadas quando aparecemos e não resistiriam por muito
tempo após nossa partida.
"O que podemos fazer por elas?" — perguntei à águia.
"Se não chegarmos à raiz dessa árvore para cortá-la logo, essas e todas as
outras pessoas desta cidade que estão lutando serão destruídas. Temos de
seguir em frente, mas podemos ajudá-las. Reúna todos os seus líderes, rápido!" — a
águia ordenou ao casal.
Enquanto os líderes do grupo se reuniam, o homem e a mulher, a quem me
dirigi primeiro, chamaram-me à parte e começaram a me advertir.
"Você não conseguirá chegar à raiz da árvore. Há alguns anos, podíamos andar
livremente por esta cidade. Até aqueles que nos odiavam tratavam-nos com um pouco
de respeito. Mas, agora, todos eles estão tentando obrigar-nos a comer do fruto da
árvore ou matar-nos."
"Havia muitas outras congregações nesta cidade como a nossa, algumas com
milhares de pessoas. Havia movimentos sediados aqui com congregações por todas as
partes do mundo. Agora, somos os únicos.
"Se você ficar conosco, poderemos resistir, poderemos até recuperar parte
do território e continuar a ser uma luz para esta cidade até que o Senhor volte.
Se partir, você perecerá e nós também, e não haverá nenhuma testemunha nesta
cidade."
"Vocês têm certeza de que são a única congregação que restou na cidade?"
— perguntei.
"Absoluta. Éramos, na verdade, uma das maiores e mais fortes igrejas na
cidade. Fomos reduzidos a isso. Por essa razão, não acho que tenham restado outras.
Se restassem outras, teríamos, pelo menos, ouvido falar de sua batalha. Não
ouvimos nada já faz um bom tempo e não contamos com mais ninguém de qualquer
um dos outros grupos há muito tempo."
"Devemos ser todos os que restaram nesta cidade".
— disse a mulher. "As outras igrejas costumavam nos irritar, mas agora
daríamos qualquer coisa para saber que existiam outras, acredite. Não achamos que
elas existam agora."
"Vamos ver o que a velha águia tem em mente"
— respondi. "Conheço muito bem as águias agora, e elas não se darão bem se
permanecerem em um lugar como este, lutando atrás de uma trincheira. Elas se
tornariam pombos ou pior do que isso se tivessem de fazer algo dessa natureza. Se não
puderem voar, não serão nem um pouco úteis para vocês e talvez não passem de outro
problema, o que, com certeza, vocês não precisam neste momento."
"Então, deixe que elas vão e ataquem a raiz da árvore, e você fica conosco" - a
mulher disse.
Pensei no caso. Enquanto olhava para a escuridão, não era muito atraente a
idéia de ir lá para o meio dela novamente. Também sabia que as águias não poderiam
ir muito longe sem a luz e a espada que estavam em minhas mãos. Não parecia haver
solução.
"Não posso deixar as águias irem sozinhas" comecei a explicar. "Elas não
teriam êxito. Descobri, há muito tempo, que não posso ir muito longe sem elas e, a
despeito dos problemas que às vezes elas são, não quero mais estar em algum lugar
onde elas não estejam por perto.
Presumo que as águias e eu formamos uma bela parceria."
"Você tem razão" — o homem disse. "Depende das águias."
"Sinto muito por tentar separar-te delas" — a mulher também disse de um modo
muito sincero.
Vir-me-ei para a velha águia, curioso por saber se ela teria alguma solução
para nosso dilema. Quando o casal virou-se para ela, obviamente querendo saber o
que achava, ela começou a falar.
"Só há uma solução" — disse. "Todos devemos lutar juntos até chegarmos à raiz
da árvore e a destruirmos."
No mesmo instante, percebi que isso era prudente, mas não esperava que um
pequeno grupo se saísse bem. Como era de esperar, alguns imediatamente
começaram a protestar.
"Lutamos por este território já faz muitos anos" — um homem falou sem
pensar. "Não espera que deixemos tudo para trás para seguir você e as águias,
espera?"
Houve silêncio por alguns instantes, uma vez que todos pareciam pensar nisso.
Então, uma das jovens águias interveio.
"Quando vimos a luta em que vocês estavam envolvidos, nunca vi tamanha
coragem. Posso entender como se sentem. Vocês têm lutado por muito tempo e a
duras penas. Obviamente, perderam muitos para defendê-la. Eu não os culpo por
não quererem partir."

"No entanto, diante do que podemos ver, vocês não sobreviveriam a outro ataque
da horda do mal que os está cercando neste momento, sem falar nessa árvore que
não para de crescer. Tampouco restaram muitas de suas trincheiras. Não acho que
algum de nós tenha outra escolha senão seguir em frente. A nossa única esperança é
cravar um machado na raiz dessa árvore."
A velha águia então continuou:
"É verdade. Vocês não mais teriam resistido se não tivéssemos aparecido, e
não poderíamos ir muito longe sem certa ajuda. Parece que o Senhor nos uniu neste
momento. Precisamos uns dos outros, e, ao que parece, só há uma opção possível
quanto ao que devemos fazer."
"Sem dúvida, você está certa" — o Líder finalmente disse. "Deixar este lugar
para trás vai ser a coisa mais difícil que já fizemos. Pagamos um preço muito alto
por ele, mas é óbvio que devemos lutar agora por algo maior do que o nosso pequeno
espaço. Devemos lutar pela cidade inteira e atacar a raiz dessa árvore; do
contrário, não teremos chance de sobreviver. Deixaremos o nosso pequeno espaço
para seguir você e as águias."

CAPÍTULO 10 ESTRATÉGIA

Todos então se voltaram para mim. Por fim, a velha á g u i a f a l o u : " Q u a l


é o s e u p l a n o ? " "Por favor, dê-me alguns minutos" — eu disse, retirando-me
para orar e buscar sabedoria.
Não conseguia parar de pensar na ironia dessa situação. Eu havia sido a
principal causa dessa desgraça, contudo era eu quem deveria ter o plano para vencê-
la.
Também não conseguia parar de pensar em todas as congregações que haviam
sido destruídas nesta cidade, e nas pessoas perdidas, por causa de minha imaturidade
e insensatez no uso das armas que me foram dadas. Fiquei furioso comigo mesmo,
mas também queria bater na velha águia. Queria perguntar-lhe por que ela não
aparecera com um plano, já que era velha, sábia e experiente.
Por fim, tive paz. Percebi que esse não era o momento para brigas e que uma
afirmação como essa só semearia dúvida em todos, e eles não precisavam mais disso.
Sussurrei uma rápida oração pedindo ajuda e depois comecei a falar.
"Preciso conhecer seus líderes e todas as capacidades que eles têm" — eu
disse ao homem e à mulher que lideravam o pequeno bando.
"Quero que eles formem grupos de acordo com suas armas e habilidades e
apontarei, pelo menos, uma águia para cada um, que servirá como olheiro. Marcha-
remos e lutaremos juntos, mas precisamos nos organizar. Nossa unidade e
organização ajudarão a rechaçar essa multidão desordenada."
Então, voltei-me para a velha águia:
"Coloque os seus melhores batedores lá no alto imediatamente e faça com
que encontrem a parte mais fraca da multidão à qual, segundo eles, poderemos
avançar, e depois o caminho mais curto daquele ponto até a raiz da árvore."
"Certo" — ela respondeu e, logo em seguida, começou a despachar os
batedores.
"Por favor, tragam-me as informações de que preciso assim que as tiverem" —
eu disse à velha águia ao homem e à mulher.
"Gostaríamos que essa águia madura viesse conosco para nos ajudar a definir
nossas armas e pontos fortes" — pediu a mulher, olhando, de certa forma, para mim
e, em parte, para a águia.
"É uma idéia muito boa" — respondi, e a velha águia concordou,
acompanhando-os.
Então, fui me sentar para pensar e orar. Quando me sentei, o peso daquilo
que eu havia causado caiu sobre mim. Não pude conter a tristeza por todas as
grandes igrejas que haviam sido destruídas nesta cidade que, outrora, era
conhecida por sua cultura e império e que, agora, era mais conhecida pelo mau
cheiro dessa árvore podre e de seus frutos.
As multidões pensavam que os frutos eram bons e vinham de todas as partes do
mundo para comer aquilo que, na verdade, as estava matando. Então, ocorreu-
me que, se conseguíssemos cortar a árvore na raiz, essas pessoas pensariam que as
havíamos privado de sua fonte de alimentação.
"Você precisa dar-lhes o que comer" — disse uma voz que veio de trás de
mim. Quando me virei para ver quem era, fiquei surpreso.
"O que você está fazendo aqui?" — perguntei à garotinha do vale.
"Eu vinha pelejando com essas pessoas."
"Como você conseguiu chegar aqui?" — perguntei, ainda surpreso em vê-la.
"Não acho que você me conheça" — ela respondeu. "Entendo que há muitos que
se parecem comigo em outros lugares. Você deve estar me confundindo com um
deles."
"A sua semelhança é fora do comum, se você não for a mesma pessoa em
quem estou pensando. Olhando para você mais de perto, posso dizer que há uma
pequena diferença, mas vocês devem ser irmãs, se não forem gêmeas. E como
sabia o que eu estava pensando?"
"Algumas pessoas pensam mais alto do que outras. Às vezes consigo ouvir os
seus pensamentos. Tenho esse dom para poder ajudá-las."
"Entendo, mas você não só ouviu meus pensamentos, mas também me disse o
que fazer. Onde conseguiu isso? Como eu poderia dar de comer a essas pessoas?"
"Meu dom é conhecer as pessoas segundo o Espírito, e não segundo as aparências.
Esse dom surgiu em mim quando comecei a prestar atenção nas águias_ Essa é uma
das coisas que elas melhor sabem fazer — despertar os dons que estão nos outros."
"Como você conseguiu fazer isso, uma vez que todos aqui se sentem tão
ofendidos por elas?"
"Tive de fazê-lo às escondidas, mas foi preciso. A maioria dos mais jovens
aqui também aprendeu com as águias. Elas nos ensinaram a ouvir a voz do
Senhor. Foi o Senhor quem me ordenou a lhe dizer o que acabei de expressar."
"Você parece muito segura disso para alguém tão jovem" - respondi. "Pode me
contar mais coisas?"
"Eu realmente não entendo o que disse a você, ou como você poderia alimentar
aquelas pessoas, mas sei que foi o Senhor quem me mandou dizê-lo. Uma das
primeiras coisas que as águias ensinam é que você não precisa entender para
obedecer, mas que, depois de obedecer, começará a entender" — respondeu a
garotinha com uma atitude desarmada de confiança e humildade.
"Enquanto olho para você, vejo que você é um mestre e um pastor" — ela
continuou. "Cabe a você dar às ovelhas o alimento no tempo certo. O Senhor
ordenou- me- a dizer o que disse a você porque aquelas pessoas devem ser ovelhas
dEle também. Elas ainda não sabem disso. Acho que seria útil para nós se
olhássemos para todos dessa forma. Não será ferindo aquelas pessoas que
venceremos essa peleja, mas ajudando-as."
"Você é incrível. O que mais pode me dizer para me ajudar?" - perguntei,
sentindo que ela naturalmente era alguém que falava pelo Senhor.
"Posso lhe dizer que a maioria daqueles que têm muitos dons, e são eficientes
tanto para pelejar quanto para esquivar-se do mal, é muito jovem. Se os nossos lí-
deres tivessem reconhecido isso, não estaríamos em um número tão pequeno, mas
teríamos muitos milhares."
"Se as congregações que desapareceram tivessem entendido isso, não teriam
perecido. Creio que estou aqui para lhe dizer que, se escolher os seus líderes de
acordo com a unção e os dons que eles têm, e não por causa da idade ou da
aparência, você terá êxito."
Eu soube naquele instante que essa era a Palavra do Senhor.
"Por favor, vá, encontre e traga até mim o homem e a mulher que são seus
líderes, bem como a velha águia" — pedi.
Assim que eles apareceram, pude dizer que não estava sendo muito fácil
identificar as armas e os pontos fortes das pessoas que restaram.
"Então, vocês estão tendo dificuldade para entrar em um acordo" — eu disse,
expressando o óbvio.
"Sim" — respondeu o homem. "Aprecio a sabedoria e o dom de uma águia tão
madura, mas ela não conhece essas pessoas como eu. Estou com elas há muitos
anos. Sei que algumas das coisas que ela diz a respeito delas são o oposto do modo
como realmente são. Estamos tendo dificuldade para chegar a um acordo com relação
a quase todos."
"O que você diz?" - perguntei à velha águia.
"É verdade. Não acho que tenhamos concordado com relação a alguém."
"Senhor" — eu disse ao homem — "a principal razão por que sua congregação ficou tão
pequena não é a batalha na qual vocês estão engajados, mas porque você não
discerniu os dons e os chamados das pessoas."
Isso não só atordoou o homem, mas, evidentemente, o deixou ofendido.
Esperei um minuto antes de continuar.
"Houve uma época em que você conseguiu reunir grandes multidões. Você fez
isso de inúmeras formas que funcionaram, mas os tempos mudaram, mas você
não. Você é um grande líder e lutou bravamente pela verdade com uma notável
persistência, mas os únicos que conseguem sobreviver e prevalecer nessa batalha são
aqueles que investem o mesmo tempo que passam liderando, preparando outros
líderes. Este foi o seu ponto fraco e o dos outros: aqueles que você considera líderes
também são fracos."
Eu podia dizer que o homem agora se sentia mais ofendido e com vontade de
discutir, mas se conteve. Ele havia sido tão humilhado pelas contínuas derrotas, e
agora mostrava-se tão desesperado, que estava disposto a considerar que havia
errado em algumas coisas, talvez até errado muito em sua abordagem para a
batalha e a liderança de seu povo. Enquanto eu o observava acalmar- se, continuei:
"Senhor, por favor, não pense que estou dizendo que não fez nada certo. Sua
coragem e resistência serão os alicerces sobre os quais qualquer vitória futura será
edificada. No entanto, acho que precisa admitir que algo muito fundamental não está
funcionando. É óbvio que é preciso haver uma mudança no modo como as coisas são
feitas; do contrário, teremos os mesmos resultados. Há uma razão por que o senhor
precisa das águias. Devemos descobrir os verdadeiros líderes e levantá-los logo."
"Eu sei que você está certo" — o homem finalmente disse. "Fui um fracasso
nisso, e agora posso ver que foi por essa razão que perdemos tantas
batalhas e pessoas. Eu simplesmente não conseguia enxergar isso. Acho que
foi por causa disso que precisei das águias, para ver o que eu não poderia
fazer sozinho. Farei tudo o que você disser. Sei que é preciso haver uma
mudança, e ela, sem dúvida, está ocorrendo. Espero que não seja muito
tarde."

"Novamente acho que você está provando ser um bom líder" - eu disse. "As
águias podem ver, mas elas não são boas para liderar. Vocês realmente precisam uns
dos outros. O fato de você ter a humildade para reconhecer isso irá incentivar o seu
povo, e não desanimá-lo."
"E não acho que seja tarde; do contrário, não estaríamos aqui. Descobri que,
quando algo parece impossível, o Senhor está prestes a se mover. Definitiva-
mente demos a Ele uma boa oportunidade para isso agora. Precisamos da
estratégia certa; porém, mais do que isso, necessitamos dEle, de Sua graça e de Seu
favor. Ele dá graça aos humildes, e precisamos ter isso em mente. Provavelmente, você
seja, de fato, o mais humilde aqui. Agora deve continuar a liderar o seu povo, mas nós
o ajudaremos."
"Realmente posso ver o quanto perdi por não reconhecer os dons das pessoas
e por não deixar que elas crescessem ao usá-los" — respondeu o homem — "Também
não reconheci a liderança que foi dada aos outros. Confesso que eu os via como uma
ameaça.
"No passado, eram os que tinham dons que causavam os problemas e as
dissensões. Era difícil dar-lhes muita influência ao deixá-los assumir parte da
liderança. É óbvio, no entanto, que fracassei ainda mais por não deixá-los crescer."
"Senhor, se soubesse quão terrível foi o meu fracasso, e o tipo de problema
que minha falta de sabedoria e imaturidade causaram, acho que todos os
problemas que o senhor ou as jovens águias causaram seriam leves" — respondi. "É
óbvio que todos fracassamos em alguns aspectos primordiais, mas descobri que
muitas vezes o que nos desqualifica aos olhos das pessoas é o mesmo que nos qualifica
pela graça de Deus."
"Ao que parece, somos tudo o que Ele tem aqui, e Ele obviamente ainda gosta
de usar os tolos e os fracos para confundir os sábios e os fortes. A nossa fraqueza e
insensatez são o que, a meu ver, nos prendem aqui. Mas eu também sei que Ele não
quer que permaneçamos fracos e insensatos, mas humildes o suficiente para ver Sua
sabedoria e Sua força."
"Você disse bem, mas agora precisamos do plano" — a velha águia interveio.
"Você sabe como vamos romper e atacar a raiz da árvore? Não temos mais tempo
para olhar para o passado."
"Tenho um plano" — respondi. "Primeiro, precisamos encontrar os verdadeiros
lideres e as armas eficientes que temos entre nós. Devemos, então, observar um local
onde poderemos avançar e seguir até a raiz da árvore, sem distração. Agora vão e
encontrem os dons e os lideres que estão nesse grupo."
Olhando para o homem, eu disse:
"Confie nesta velha águia e nessa garotinha" — e fiz a atenção deles se
voltar para a garota. "Ela tem o dom de que vocês precisam."
O homem e a mulher levantaram as sobrancelhas quando mencionei o dom da
garotinha. É óbvio que começaram a protestar e, depois, simplesmente disseram:
"Tudo bem". Com isso, todos eles se foram.
Logo depois, as águias batedoras começaram a pousar e a trazer noticias. À
medida que faziam isso, comecei a pensar que havia sido uma péssima ideia tê-las
enviado sem a velha águia. Elas voltaram com notícias aparentemente divergentes.
Rapidamente resolvi atender uma a uma, em particular.
Não demorou muito e ficou claro que cada uma delas havia visto uma parte
da situação como um todo, mas, como ainda eram muito jovens, tinham a
tendência de pensar que a sua parte descrevia toda a situação. Percebi que todas as
suas informações provavelmente eram valiosas; só precisavam ser reunidas
adequadamente para que tivéssemos a descrição da realidade como um todo.
Para meu desânimo, depois de ouvir todas as notícias trazidas pelas
águias, ainda senti que tinha uma descrição bastante incompleta da situação. Devia
144 A ESPADA E A TOCHA

haver alguma coisa que não


"Você não sabe o que fazer, não é?" — a garotinhaestávamos vendo, uma vez que eu
não podia acreditar que nossa
situação estivesse completamente
perguntou ao mesmo tempo que afirmava. perdida. Não só estávamos
completamente cercados por
"Eu certamente poderia receber uma palavra
multidões, sem pontos
do Senhor agora. Você tem uma palavra para mim?"
aparentemente fracos em suas'
— perguntei.
linhas, mas outros milhares
estavam se juntando a elas de todas
"Acho que precisamos discernir os dons e os as direções. Sua confiança estava
chama-
dos que o Senhor nos tem dado, e seguir com a força que aumentando, e eles logo viriam
"Bem, talvez. Sei que não importa quem está lá fora, para liquidar o pequeno bando, e a
Ele nos tem dado, em vez de tentarmos identificar os pon-
tos fracos do inimigo." nós, que estávamos com ele.
mas o que importa é Quem está conosco." Então, comecei a
questionar algumas informações
"É verdade." — afirmei. "Você tem mais alguma
"Bom! Acho que já temos o quadro completo da situação" -divergentes que os batedores
coisa a dizer?"
respondi. haviam trazido. Um deles vira uma
parte da linha como o ponto mais
forte, enquanto outro a enxergara
"O que você quer dizer?" - perguntou minha amiguinha. corno o mais fraco. Enquanto
"Explicarei isso a você depois que estivermos des-pensava nisso, sentado, ouvi
cansando novamente a voz
na pilha de de que
lenha minha pequena
faremos amiga árvore"
daquela atrás de mim.
— respondi. Você não sabe o que fazer, não é?" — a garotinha perguntou ao
mesmo tempo que afirmava."Eu certamente poderia receber uma palavra
do Senhor agora. Você tem uma palavra para mim?" — perguntei.
"Bem, talvez. Sei que não importa quem está lá fora, mas o que importa é
Quem está conosco."
"É verdade." — afirmei. "Você tem mais alguma coisa a dizer?"
“acho que precisamos discernir os dons e os chamados que o Senhor nos tem dado, e
seguir com a força que Ele nos tem dado, em vez de tentarmos identificar os pontos
fracos do inimigo."
"Bom! Acho que já temos o quadro completo da situação" - respondi.
"O que você quer dizer?" - perguntou minha amiguinha."Explicarei isso a você
depois que estivermos descansando na pilha de lenha que faremos daquela árvore"
— respondi.

CAPÍTULO 11 A BATALHA

Como eu havia suspeitado, constatou-se que alguns dos dons mais


poderosos foram encontrados nos mais jovens. Alguns já haviam aprendido
a lutar muito bem, usando seus dons como armas. Faltava-lhes treinamento, o
que era compensado por sua extraordinária fé.
Os jovens não pareciam ter dúvida alguma quanto a vencer a batalha ou cortar a
árvore. Eu sabia que o restante de nós tinha uma fé muito pequena de que podería-
mos conseguir isso. Estávamos saindo para lutar porque não tínhamos mais outra opção.
Conseqüentemente, decidi colocar algumas das crianças e das águias em
cada grupo de adultos e lutar com eles lado a lado. Para mim, suas principais
qualidades de liderança nesse momento seriam ousadia e coragem, o que realmente
precisávamos.
As principais palavras que eu havia recebido para a batalha se resumiam em
tomar decisões com base nos nossos pontos fortes, e não nos do inimigo. Além
disso, não poderíamos nos distrair do nosso principal objetivo: cortar a árvore.
A espada e a tocha eram a nossa força, e era eu quem as carregava, por
isso, sabia que tinha de ir na frente. Eu não queria hesitar. Assim, uma vez
formados os regimentos, oramos, agradecendo ao Senhor todas as grandes coisas
que Ele já havia feito por nós, pedindo-Lhe que sempre nos conduzisse em Seu triunfo.
Então, com a determinação de continuarmos a expressar ações de graças e louvor em
nosso coração, começamos a marchar.

Eu balançava a espada como o rotor de um helicóptero acima de minha cabeça.


Também segurava a tocha o mais alto possível. Estava impressionado com o vento
que estava sendo criado e sabia que minha espada não poderia gerar tudo aquilo.

Olhei para os grupos em marcha que estavam logo atrás de mim, e todos
estavam com suas espadas desembainhadas e fazendo a mesma coisa que eu.
Muitas das espadas dos adultos estavam tascadas e danificadas, e algumas até
quebradas, mas tinham um brilho que emitia uma grande luz.
Era óbvio agora que essas espadas estavam vivas
e que pareciam tornar-se ainda mais vivas com os movimentos. Quanto mais seus
portadores as balançavam, mais brilhantes ficavam. A luz que vinha de todo o grupo
balançando suas espadas logo tornou-se espetacular. Enquanto fazíamos isso, eu
tinha certeza de que não haveria trevas em que ela não pudesse penetrar.
O vento que estava sendo criado afastava de nós
o mau cheiro dos frutos podres. O ar à nossa volta ficou limpo e fresco. Sair de trás
das trincheiras foi uma atitude que contribuiu para liberar uma poderosa força
espiritual,
e era nítido que todos a estavam sentindo. A cada passo, a luz e o vento pareciam
aumentar, bem como a nossa fé. Comecei a pensar que eu não teria mais confiança
se estivesse liderando um exército de centenas de milhares. Sabia que esse pequeno
grupo de pessoas tinha poder para fazer tudo aquilo que precisávamos.
As águias começaram a voar sobre nós assim que iniciamos a marcha. À
medida que o vento aumentava, elas subiam cada vez mais. Depois de termos
percorrido uma boa distância, fiquei surpreso ao ver que ainda não tínhamos nos
deparado com a multidão enfurecida que vinha cercando o pequeno grupo.

Também fiquei surpreso ao ver que nenhum fruto do mal havia caído sobre nós
dos galhos da árvore sob a qual estávamos marchando. Eu sabia que esses frutos eram
tão grandes e tóxicos que seriam fatais caso acertassem diretamente qualquer um de
nós. No entanto, não havia evidência de que algum desses frutos houvesse caído re-
centemente em algum ponto de nosso caminho. Havia somente alguns montões, aqui
e ali, de algo parecido com um tipo de pá, que o vento estava Levando. Fiz sinal para
uma das águias descer e trazer notícias do que ela estava vendo.
A águia disse que a horda do mal fugira apavorada no momento em que
havíamos começado a marchar. Posso imaginar o tipo de impacto que foi para eles
ver este grupo surgir das trincheiras com tamanha luz e poder. Mesmo assim, não
pude imaginá-los deixando de se reagruparem e nos atacarem com o que podiam. No
entanto, eles fugiram para tão longe que as águias não conseguiram mais vê-los.
Então, pedi várias vezes que algumas delas voassem o mais distante possível
à nossa frente, e para os lados, enquanto respiravam o ar fresco. Quando voltaram,
suas notícias foram ainda mais surpreendentes.
A atmosfera que estávamos criando estava matando os galhos da árvore e
secando seus frutos. Isso explicava por que nenhum deles havia caído sobre nós. O
mais incrível era até onde se espalhava essa atmosfera.Pudemos percorrer, sem
nenhum perigo, todo o caminho que levava à raiz da árvore.
Lá para os lados, a horda do mal havia se reunido fora do alcance do ar fresco,
mas parecia estar de pé, estonteada e simplesmente movendo-se em círculos. Nem
parecia que as pessoas estavam comendo mais dos frutos tóxicos, e todas pareciam
ter a mesma aparência de quem está confuso, fraco e faminto.
Reuni os líderes do pequeno grupo e expliquei o que estava acontecendo. Eu
sabia que tínhamos de marchar mais rápido para destruir a raiz dessa árvore. Eles
concordaram.
Todos começamos a correr, e pudemos fazê-lo como o vento, sem ficarmos
cansados. Não sei se já havia sentido tal alegria. Quando chegamos à raiz da
árvore, foi difícil para todos conter a alegria. Mesmo não tendo nós, de fato,
enfrentado o inimigo no combate, eu me perguntava se já havia um encargo mais
maravilhoso ou um exército mais nobre, enquanto olhava para o rosto dos
combatentes de nosso pequeno grupo.
O tronco da árvore era tão grande que todos tivemos de estender os braços um
ao lado do outro para cerca- to. Enquanto fazíamos isso, continuamos a balançar nossas
espadas. Em seguida, ao mesmo tempo, todos cravamos as espadas no tronco da
árvore, e ela logo morreu.
Suas folhas começaram a cair como neve. Os frutos nos galhos estavam
longe da direção de que havíamos vindo e secaram rapidamente. O pó desses frutos
criava uma grande nuvem enquanto era levado pelo vento.
Então, todos passamos a cortar o tronco da árvore até ela começar a vir ao
chão. Depois, alguns começaram a cortá-la. Outros foram atrás das raízes e dos
tocos. Não paramos até que só restassem serragem e lenha. No lugar onde estava o
enorme tronco ficou uma grande cratera, mas eles a fecharam, e logo o local ficou
parecendo um jardim recém-arado.
Eu sabia o que tinha de fazer. Plantei a tocha bem no lugar onde essa grande
árvore estava. Ela criou raízes no mesmo instante. Começou a florescer diante dos
nossos olhos. Em seguida, apareceram os frutos. Então, reuni todo o povo, e a velha
águia começou a falar conosco.
"Essa vitória merece uma grande comemoração. Mas não temos tempo para
isso agora. Todavia, uma história precisa ser contada para que compreendamos
plenamente o que aconteceu aqui."
Ela então olhou para mim, e eu soube o que tinha de fazer.
"Esta catástrofe aconteceu porque usei minha espada para cortar uma árvore
pequena e não plantei uma árvore de vida em seu lugar. O Rei mostrou misericórdia
para comigo ao permitir que eu visse o meu grande erro corrigido. Isso agora se
cumpriu, e os frutos da Árvore da Vida já estão crescendo no lugar onde prevalecia a
morte. Com isso, podemos lembrar-nos de que a vida é mais forte do que a morte."
"A atmosfera espiritual de boa parte desta cidade foi transformada agora. Nos
lugares distantes dela, estão multidões de famintos que agora se acham prontos para
comer dos frutos dessa árvore. Vocês devem levá-los para eles. Haverá muitas
igrejas maravilhosas aqui, sendo todas elas fortalezas da verdade e da vida. Vocês
devem lembrar-se de que todos são um."

A velha águia novamente interveio:


"Teremos a eternidade para celebrar nossas vitórias aqui. Haverá um grande
memorial no Céu para essa vitória. Vocês aprenderam o mesmo que muitos dos que
vieram antes de vocês: que um pode colocar mil para correr, e dois podem colocar 10
mil para fugir (ver Dt 32.30). Agora vocês aprenderão que um pode reunir mil, e dois
de vocês juntos podem reunir 10 mil."
"Vocês estão para fazer uma grande colheita aqui. Logo, multidões de
todas as partes do mundo também virão até vocês. Virão por causa da luz, do ar
fresco espiritual que existe aqui e dos frutos dessa árvore. Não estarão aqui por sua
ou por minha causa. Não fizemos nada hoje senão crer e obedecer, e, para muitos
de nós, só fizemos isso porque não havia outra opção. Não sejamos arrogantes, mas
tornemo-nos humildes por causa do que aconteceu aqui."
"Mesmo assim, cada um de vocês deverá conduzir muitos agora. Vocês devem
conduzi-los até aqui para que comam desse fruto. Devem dar-lhes espadas e ensinar-
lhes o poder delas. Vocês só os terão conduzido bem quando eles também se
tornarem lideres. Desse modo, a vitória continuará a se multiplicar. Sempre se
lembrem do que acontece quando vocês começam a Levantar trincheiras para se
esconderem por detrás delas. Agora vão e façam discípulos das grandes multidões
que estão vagando por esta cidade. Elas agora ouvirão o chamado."

CAPÍTULO 12 A CAPA

Novamente acordei em meu quarto de hotel. Por mais que


soubesse que havia tido uma visão, tudo par ecia m uit o real. Eu q uer ia
im ediat ament e r e gistrar tudo para não me esquecer. Ainda chovia e es-
tava sombrio lá fora, mas me sentia revigorado, como se ainda fosse capaz de
respirar parte da atmosfera do céu.
Então, de repente, me vi sentado em um enorme cavalo branco. Parecia
ser aquele que eu havia encontrado no vate com a garotinha. Mesmo assim,
ele parecia extremamente grande para mim. Eu estava muito acima do chão
para ser aquele um cavalo de tamanho normal. Então, notei que o Senhor estava
a meu lado.
"Agora você encontrou seu assento" — Ele observou.
Quando Ele disse isso, olhei para a sela. Era uma sela de estilo
ocidental. Parecia de couro, de uma forte cor púrpura que chegava a ser quase
preta. Tinha uma borda dourada e parecia ajustar-se perfeitamente a mim e era
tão confortável quanto uma cadeira antiga.
"Senhor, a sela é perfeita" — eu disse.

Eu estava curioso para saber como conseguiria subir e descer do cavalo, já


que ele era tão alto. Então, quando olhei para as patas do cavalo, vi que elas não es-
tavam tocando o chão, mas que estávamos flutuando no ar a vários metros de altura.
"Esse cavalo não é um cavalo comum" — o Senhor continuou. - "Ele pode
levantar você acima do chão. Quando estiver nesse cavalo, sua jornada não terá
de seguir o contorno da Terra, mas você poderá levantar-se acima de qualquer
condição terrena."
"Senhor, esse é o mesmo cavalo que vi com a garotinha no vale?"
"Sim, é o mesmo e faz parte de sua missão. É em um deles que montarei
quando voltar, um que me foi dado por meu Pai. Eles são dados àqueles que estão
preparando
caminho para a minha volta."
"Muitos já montaram nele no passado, e muitos ainda montarão nele no seu
tempo. Essa é a missão que lhe foi dada lá. Quando você aprender a montar,
então deverá ensinar outros a montar em seus cavalos."
Pensei na garotinha no vale e naquela que havia lutado conosco para matar a
árvore do mal. Elas já eram grandes guerreiras e muito inteligentes para a idade que
tinham. Se existissem muitos iguais a elas, logo seriam a maior força espiritual que o
mundo já conheceu.
Eu também sabia que esse cavalo era capaz de fazer maravilhas que eu
jamais poderia imaginar. Perguntava-me como seria um exército de crianças se
todas tivessem cavalos como esse.
"Você vive nos dias das grandes maravilhas" — o Senhor disse segurando as
rédeas do cavalo em Sua mão e começando a andar.
"O Céu é um lugar de constantes milagres e temor, e aqueles que estou para
enviar levarão muitas dessas maravilhas para a Terra. As crianças que você irá
conhecer são por sinais e maravilhas. Elas logo sairão para cumprir minha Ultima
missão antes de minha volta."
Quando havíamos percorrido alguns metros, entramos em um grande corredor.
Havia uma longa fila. Assim que chegamos no meio do corredor, paramos, e todas as
pessoas se juntaram na nossa frente.
"Estes são aqueles que ajudaram a prepará-lo para o seu objetivo. Você
aprendeu com seus ensinos ou com suas histórias. Eles são suas testemunhas. Você
os está representando, assim como aqueles que você ajuda a preparar irão
representá-lo também. Todos somos um no grande propósito do Pai: a restauração
do homem e da Terra ao Seu propósito."
Enquanto eu estava sentado no cavalo, cada uma dessas pessoas aproximava-
se do Senhor e se curvava. Em seguida, cada uma olhava nos meus olhos e me
entregava uma palavra, como "Seja forte", "Seja destemido", "Seja amável", "Ame o
seu próximo" e "Siga o Rei".
Isso continuou por um tempo que deve ter sido de várias horas, mas eu
gostaria que tivesse durado muito mais. Eu sentia uma ligação e uma revelação
especial enquanto olhava para elas, e elas falavam comigo. Algumas delas reconheci
claramente, mas, quanto às outras, não tinha idéia de quem eram. No entanto, ainda,
de algum modo, as conhecia.
Eu, sobretudo, as observava enquanto elas se aproximavam do Senhor. Era
óbvio que todas eram Seus amigos especiais e amigos entre si. Era uma experiência
gloriosa estar com elas e ser objeto de seus comentários.
Eu tinha um anseio no coração de ser uma delas. Havia uma nobreza e uma graça
muito além da mera elegância humana.
Quando veio a última pessoa da comitiva, o Senhor virou-se para mim e disse:
"Em breve, você se juntará a elas, mas, primeiro, tem um trabalho a fazer. Elas
não são completas sem você. Nem você é completo sem elas. Isso também se aplica
àqueles que deverão ser chamados por seu intermédio e aos mensageiros de sua
época. As palavras dessas pessoas irão ajudá-lo a continuar no caminho que foi
escolhido para você. Você também pode entregar essas palavras aos outros para
mantê-los no caminho. Todos aqueles que têm vida vieram de mim."
Então duas das pessoas se aproximaram com uma grande capa púrpura que
tinha o mesmo tipo de borda dourada que a sela. Elas a entregaram ao Senhor.
Ele a examinou e, então, a colocou sobre mim, apertando o fecho na frente. Ela
era tão grande que não só cobria o meu corpo, mas todo o cavalo.
Olhei para a multidão ao redor e, novamente, para a capa. Fiquei
surpreso ao ver que sua cor agora era vermelho-claro. Ao fechar e abrir meus olhos,
ela se transformou no azul mais maravilhoso que já vi. Fechei e abri os olhos
novamente, e ela havia se transformado em um branco puro. Todas essas cores tinham
a mesma borda dourada.
"Essa é a sua capa" — o Senhor disse. — "Ela cobrirá você e sua missão.
Somente aqui você a pode ver como a vê agora. No campo da Terra, ela parece ser
diferente. Lá, ela é muito simples. É isso que protege o seu coração e a sua missão.
Enquanto você a usar, andará na minha graça e autoridade. Lembre-se desse manto
como ele realmente é. Ele o protegerá da frieza dos maus tempos pelos quais você
passará."
Então o Senhor fez um sinal para que eu descesse do cavalo, o qual se
ajoelhou para que eu pudesse fazê-lo. Eu sabia que também deveria me ajoelhar, e
foi o que fiz. O Senhor passou-me as rédeas, enquanto eu estava ajoelhado ao lado
do cavalo. Então, Ele despejou óleo sobre a minha cabeça e começou a esfregá-lo
nos meus cabelos como se fosse um xampu.
"Este é o óleo da unidade" — Ele disse enquanto continuava a esfregá-lo.
Enquanto fazia isso, eu sentia o óleo penetrar em minha mente. Paz e clareza
assumiram o lugar de meus pensamentos tempestuosos e comuns, que, muitas vezes,
pareciam fugir do meu controle.
Então, senti uma sensação que havia sentido algumas vezes antes que me
fazia amar tudo o que eu via de maneira profunda. De todas as experiências gloriosas
que eu havia recebido na esfera celestial, esse amor foi realmente a coisa mais
maravilhosa. Eu não queria que o Senhor parasse até que esse amor penetrasse
cada célula do meu ser. Desesperado, queria continuar com essa sensação. Então, o
Senhor parou, bem antes de eu estar pronto.
"Este óleo da unidade é a unção" — o Senhor começou a dizer enquanto me
colocava em pé para olhar nos meus olhos.
"O que eu lhe dei, dou a todo o meu povo. Derramo minha unção sobre cada um para
purificar sua mente. No entanto, nos lugares pelos quais você andará na Terra, haverá
muito pá e sujeira, que serão lançados em você a cada dia. Você precisa aprender a
vir até mim para ser purificado novamente toda vez que sua mente tiver se
contaminado."
"À medida que fizer isso, você não conseguirá deixar a imundícia deste mundo em
sua mente, mas amará a pureza e a visão clara que só vêm por meio dessa unção do
Espírito Santo."
"A santidade é a natureza do Céu, e ela deve ser seu objeto de devoção. A
verdadeira santidade é o verdadeiro amor, e este não pode surgir sem aquela. A
verdadeira santidade sempre o leva a amar, e não a condenar. Você pode vir a mim
sempre que quiser ter esse óleo. À medida que usá-lo e tocar os outros, eles também
terão o desejo de ser Limpos."

CAPÍTULO 13 O CONSELHO É CONVOCADO

De repente, me vi no vale novamente. A linda garotinha ainda estava lá,


lutando. Ela est ava ma chucada, sangrando e muito suja. Mesmo assim,
quando olhou para mim, pude ver que seus olhos estavam tão cheios do espírito de
luta e de determinação como quando a deixei.
Olhei para o meu manto, agora um simples e humilde pano marrom. Sob ele,
vi o brilho de uma armadura. Eu tinha a espada e um frasco, que continha o óleo.
Despejei parte do óleo na bainha de meu manto e comecei a lavar o rosto da
garotinha. Ela olhou no fundo dos meus olhos com uma seriedade incomum a uma
criança.
"Eles estão vindo mais rápido agora." — ela começou — "Estão
avançando mais do que antes porque não estão brigando mais entre si. Não sei se
poderemos defender este vale por muito tempo sem ajuda."
"A ajuda está chegando, mas preciso ensiná-la, primeiro, a montar o cavalo" —
respondi.
Depois de olhar para mim, ela olhou para o cavalo, que estava logo atrás de
mim.
"Você aprendeu a montá-lo?" — ela perguntou.
"Não, eu só me sentei nele. Precisamos aprender juntos" — respondi.
Os gritos da horda do mal aumentavam terrivelmente. Com isso, despejei o
restante do meu óleo sobre a cabeça da menina. Olhei para o frasco que deveria
estar vazio, mas ele estava cheio novamente. Continuei a despejar o óleo sobre ela
até que pareceu estar limpa. Então, eu a coloquei sobre o cavalo e passei-lhe as
rédeas.
"Você terá de aprender a montar este cavalo no meio de uma batalha" — eu
disse.
"Então, eu me sentirei em casa" — ela respondeu. "Acho que nunca conheci
uma época em minha vida sem batalha."
Isso me tocou profundamente. Lamentei muito por essa menina que,
embora jovem, já havia passado por tanta coisa. Pensei que ela talvez jamais
tivesse conhecido a paz ou descansado de uma peleja em toda a sua vida. Senti um
forte desejo de levá-la para um lugar onde pudesse ser uma criança, estar em uma
família, brincar como uma menina.
"Nem pense nisso." — disse uma voz aguda e familiar atrás de mim.
Era a velha águia. Havia uma terrível ferocidade em seus olhos, que parecia
ainda maior do que quando „estava na batalha.
Também notei que a menina parecia conhecê-la, uma vez que ela não estava
surpresa com sua presença, ou com o fato de a águia estar falando.
"Há muitas crianças que são chamadas para uma vida de batalha neste
mundo. É o destino delas, e você não deve privá-las disso. Aquelas que lutam
aqui da maneira que ela está fazendo terão uma recompensa que poderão desfrutar
na Eternidade, mas aqui ela tem de lutar."
"Meus pensamentos foram tão impróprios?" — protestei. "Eu só estava
sentindo um pouco de dó por ver alguém tão jovem passando por tanta coisa. Acho
que eu não agüentaria isso se uma de minhas próprias filhas tivesse de passar pela
mesma experiência. O que há de errado em me sentir assim por ela?"
A nossa atenção voltou-se para os gritos da tropa do mal que agora estava
avançando. Então, a velha águia olhou para mim com uma implacável ferocidade em
seus olhos, da qual jamais me esquecerei, e continuou.
"O poder que está nela é tão grande quanto o poder que está em você. A
sabedoria e a fé para usar o poder que há nela têm sido, em alguns aspectos,
maiores do que as suas. Você não agüentará por muito tempo na batalha sem ela,
assim como ela também precisa de você.
"Eis o meu conselho: não sinta pena dela. A auto piedade é um dos maiores
inimigos dessa menina. Ela não poderá ser derrotada pelo inimigo se continuar a
Lutar, mas, se ela se entregar à auto piedade, será desarmada e facilmente
derrotada."
A garotinha estendeu a mão e tocou em meu braço para dizer:
"Ela está certa. Toda vez que começo a pensar em mim mesma dessa forma,
começo a perder minha fé e minha coragem. Por favor, não sinta pena de mim.
Sei que a mim foi dada a grande honra de lutar nas batalhas do Rei. Entreguei minha
vida a Ele e, agora, devo viver somente para Ele, e não para mim mesma."
"Eu sei que vocês duas estão certas" — admiti. "Certamente este não é o
momento nem o lugar para o tipo de compaixão que estou sentindo" — eu disse,
mesmo estando ainda um pouco irritado pela tempestade que estava sendo feita
pelo fato de eu estar sentindo um pouco de pena de urna garotinha cicatrizada por
batalhas. A águia não desistiu.
"A auto piedade é o inimigo mortal da geração dessa garota. Não abra a porta
para esse inimigo, mostrando piedade a essas crianças. Dê a elas esperança e
coragem. Ensine-as a perseverar. Dê a elas o treinamento e as armas de que
precisam, mas eu lhe aviso: nunca dê a elas piedade. Deve-se ter mais temor a essa
mentalidade do que à horda do mal que está lá fora."
"Sei que chegará uma época em que todas as crianças poderão brincar" —
acrescentou a menina. "Elas poderão brincar em paz e segurança com todas as
criaturas. Então, o amor, a alegria e a paz serão a habitação feliz de todos. Vi isso
nos meus sonhos, e o li nas Escrituras. Estou lutando para que esse dia chegue. Minha
recompensa será vê-lo chegar. Essa esperança é mais importante para mim do que
todas as brincadeiras infantis. Ao lutar, viverei uma vida mais cheia de aventuras e
glória do que qualquer criança que leva uma vida de brincadeiras e fantasia. Eu
deveria lamentar por elas, e é o que faço."
"Sem dúvida, você está certa" — confessei, sentindo-me agora adequadamente
punido. "Eu realmente terei de ser como essa criança para entrar no Reino" — pensei
comigo mesmo.
"Agora temos coisas importantes para resolver" — começou a águia. "O
grande conselho de apóstolos e anciãos está para se reunir aqui. Isso não acontece
desde o século I. Essa reunião marcará o começo da transição desta geração para
aquela que há de vir. Eles se reunirão aqui. Beberão desse no pelo qual vocês vêm
lutando."
Olhei ao redor, incrédulo. Não parecia muito provável que alguém pudesse
beber desse rio por muito tempo, visto que a horda do mal já estava ao alcance de um
tiro de arco dali e se aproximando cada vez mais. O olhar na face da águia me dizia
que ela havia discernido os meus pensamentos, porém ela continuou como se não o
tivesse feito.
"Quando esse conselho se reunir, não estaremos longe da última batalha na
qual aquelas coisas pelas quais esperamos se cumprirão. Cada um dos que estão
vindo representa rios que regarão a terra. Todos são guerreiros experientes que
lutaram por muito tempo e com grande coragem, mas poucos já viram uma vitória.
Muitos perderam seus próprios rios, e alguns chegarão aqui terrivelmente feridos."
"Não há um lugar melhor do que este para tal conselho?" — perguntei,
pensando que este não seria o lugar para se trazer guerreiros terrivelmente feridos,
ou aqueles que nunca haviam testemunhado uma vitória.
A velha águia olhou ao redor com cuidado antes de responder:
"Não. Este é o melhor lugar. Já os convidei para vir, e eles já estão a
caminho. Espero que comecem a aparecer logo."
"Senhor, eu não gostaria de falar tanto, uma vez que parece que deveríamos estar
lutando, mas como eles vão chegar aqui? Estamos cercados. E os que estão terrivel-
mente feridos? Eles não ficarão ainda mais feridos aqui ?" - perguntei, ainda
desacreditando que esse poderia ser o lugar certo para a realização de tal conselho.
"Esse lugar é tão bom e seguro quanto o lugar onde o primeiro conselho se
reuniu no século 1" - a águia disse. "Os feridos começarão a ser curados nesse
conselho. Todos eles são grandes guerreiros. Depois desse conselho, jamais
voltarão a recuar diante dos inimigos da cruz. A comunhão entre coração e
devoção que encontrarão aqui será alimento para eles, e as águas da vida que
fluem por esse rio serão sua bebida. Essa é a mesa que está posta para eles na
presença de seus inimigos."
Os gritos do exército do mal eram tão intensos que eu já não podia mais ouvir a
águia. Uma grande nuvem de poeira se levantou e, então, desceu sobre nós, de modo
que ficou difícil respirar ou enxergar. Por instinto, desembainhei minha espada e
comecei a balançá-la. A poeira se foi como se tivesse sido soprada por um enorme
ventilador. Logo pude ver o cavalo, a menina e a águia.
Estávamos todos atentos aos contínuos gritos e tumultos que vinham do
ocidente. Fiquei surpreso ao ver dois senhores idosos surgirem da nuvem de poeira,
passando pelo exército do mal como que em um passeio de domingo. A horda correu
em sua direção gritando, berrando e arremessando flechas, das quais os homens
veteranos facilmente se defendiam com seus grandes e reluzentes escudos. Eles
pareciam completamente tranqüilos diante dos ataques. Se eles tão-somente olhassem
na direção dos que eram maus, recuariam, bastante apavorados. Nunca vi esse tipo
de autoridade nos homens antes.
À medida que andavam, criavam uma grande trilha através da horda que
não parecia se fechar atrás deles. Quando chegaram ao rio, eles pararam. Um se
curvou para beber da água, enquanto o outro permaneceu alerta. Quando ambos
acabaram de beber da água, continuaram a andar em nossa direção.
Os dois anciãos provavelmente tinham seus setenta e poucos anos, mas eram
extraordinariamente saudáveis. Andavam um pouco devagar em virtude de suas
velhas feridas, e não por causa da idade. Mesmo assim, sua autoridade e presença
eram tão grandes que eu me senti como se um exército houvesse chegado para
aumentar nossa força.
A águia se curvou quando eles pararam na sua frente, e eles fizeram o mesmo.
Havia um visível respeito e afeição mútua entre eles. Eles então olharam para o
cavalo e a garota. Ela se jogou ao chão e também se curvou. Eles fizeram o mesmo, com
um respeito sincero por ela.
"Ouvimos muito a seu respeito" - um deles disse a ela. "Sem dúvida, você é
muito conhecida, não só na Terra, mas no Céu e no inferno também. É um grande
prazer conhecê-la."
Acho que foi a primeira vez que vi essa brilhante garotinha sorrir ao responder:
"Nunca imaginei que de fato conheceria vocês, mas tê-los aqui certamente
compensou todas as batalhas por este lugar".
"É sobretudo por sua causa que um grande conselho de guerreiros, profetas e
sábios está para se reunir aqui" - um dos anciãos respondeu. "Todos os que
ouviram falar de sua coragem e perseverança quiseram vir a este lugar para ajudá-
la. A batalha logo assolará todo o mundo. Você os inspirou a lutar com coragem e per-
severança, independentemente do que eles enfrentem. Sua amiga, a águia, a
tornou muito famosa. Agora sei, só ao olhar para você, que cada palavra que ela falou
a seu respeito é verdade."
Enquanto eu observava os dois senhores, senti quase como se estivesse na
presença do próprio Rei. Pensei que se houvesse somente alguns outros como eles,
e alguns outros como essa garota, não haveria uma batalha que não pudéssemos
vencer. É óbvio que, ao ouvir meus pensamentos, a velha águia virou-se para olhar
para mim enquanto respondia:
"Você pensou que estivesse sozinho, não é? Há muitos outros como esses
homens e milhares de outros como você. Há mais mal do que você imagina
também. Mas de urna coisa tenha certeza: o Rei será vitorioso, e alguns de nós aqui
ainda estarão lutando quando Ele vier para o Seu reino. As lutas que conhecemos até
agora, logo iremos considerá-las conflitos quando a grande batalha despontar.
Benditos são aqueles que foram escolhidos para a honra de pelejar esta grande
batalha. Agora as grandes maravilhas começarão."
"Quem é ele?" — disse um dos anciãos, olhando para mim ao perguntar à
águia.
Também esperei para ouvir a resposta dela.
O som da chuva batendo nas janelas me despertou. Fiquei deitado ali por
alguns minutos, ouvindo. Enquanto isso, pude ouvir na chuva o som de muitos pés em
marcha. Eu sabia que o véu entre a esfera terrena e a celestial estava ficando mais
tênue, e a ponte entre elas, mais forte.
"Para andar na verdade, é preciso viver em dois mundos" — disse uma voz.

Desesperado, eu queria voltar para o meu sonho. Queria ver a garotinha


novamente, e a águia, e os anciãos que eu havia acabado de conhecer. Então, um
forte sentimento de consciência veio sobre mim. O sonho era real. Eu já conhecia, ou
iria conhecer, todos que estavam em meu sonho. Eu pelejaria na grande batalha com
eles. Todos os que seguem o Rei neste momento logo conhecerão uma aventura maior
do que qualquer história, maior do que qualquer sonho.

CAPÍTULO 14 A BATALHA COMEÇA

Meses depois, sentei-me em uma cadeira para ouvir a chuva bater nas
janelas. Pude ouvir nela os gritos crescentes da horda do mal. Lá estava
eu novamente com meus companheiros, no meio dela, enquanto os que eram maus
nos pressionavam de todos os Lados. É óbvio que eles logo invadiriam o lugar onde
estávamos. Os dois anciãos analisaram a cena, e ambos continuaram com uma
incrível paz.
"Devemos deixar Lugar para os outros" — um dos anciãos disse enquanto o
outro balançava a cabeça em sinal de concordância.
"Pegue esses vasos e os encha de água" — um deles disse enquanto olhava para
a menina e para mim.
Fizemos o que ele disse, e então ele nos ordenou entregá-los àqueles da
horda do mal que estavam perto de nós. A situação era tão desesperadora que não
tivemos tempo para questionar suas estranhas ordens, simplesmente obedecemos,
pensando que realmente não havia muito a perder.

O fato de oferecermos água aos nossos inimigos os espantou, de modo que eles
ficaram parados, e um grande silencio se fez no lugar. Sem saber mais o que fazer,
eles beberam da água que lhes demos. Beberam com uma sede tão intensa que logo
estávamos correndo de um lado para o outro para buscar mais água. Os outros que
estavam à volta deles também pareceram perceber sua própria sede e começaram a
pedir água. Todos os que a experimentavam queriam mais. Não demorou muito e
ficamos tão emocionados que tudo o que podíamos fazer era levá-los ao rio e convidá-
los a beber.
Esperando que eles se atirassem no rio, fiquei surpreso com o grande
respeito com que eles o trataram, curvando-se e bebendo de sua água, mas
tomando cuidado para não sujar as margens dele.
Enquanto bebiam, eles se transformavam diante dos nossos olhos. Os
olhares severos, atormentados e demoníacos se abrandavam e se transformavam em
rostos humanos. Eles continuaram a se transformar até que voltavam a ser como
crianças puras. Uma vez transformados, pediram vasos para levar água aos outros que
estavam na horda do mal. Demos a eles todos os que tínhamos, mas eram apenas
alguns. Então, eles começaram a fazer recipientes com as próprias roupas. Depois,
alguns começaram a esvaziar suas aljavas e enche-las de água para levar aos outros.
Isso não acabou completamente com o ataque, uma vez que muitas das
divisões estavam resistindo à água, indignadas com o que estava acontecendo.
Mesmo assim, eu sabia que o vale havia sido salvo e que essa seria uma grande
vitória.
Fui até os dois anciãos e disse:
"Bem, parece que este vai ser um bom lugar para realizar o seu conselho. Para
quando vocês esperam os outros?"
"Eles estarão aqui logo" — respondeu o que mais falava. "Todos eles
responderam ao grito de guerra e, certamente, ouviram os gritos desta batalha. Receio
que, se não chegarem logo, lamentarão por não poderem, pelo menos, contribuir um
pouco para a vitória."
"Quem imaginaria que um simples copo de água para eles faria tanta coisa?" —
continuei, realmente surpreso com o que estava acontecendo.
"As armas da nossa milícia não são naturais, mas divinamente poderosas. A
sua força está na vida e na natureza de Deus. Ele veio para dar vida, e não para tirá-
la. Vencemos o mal com o bem. Vencemos quando damos a vida que nos foi dada.
Mesmo assim, esta batalha está longe de ter um fim, e o principal assunto desse
conselho será como continuar até que a vitória seja completa. Jamais devemos
voltar a interromper uma batalha antes do seu fim. Mas a mudança começou. O
inimigo está o mais distante possível, e agora começaremos a recuperar aquilo que, por
direito, pertence ao Rei."

Enquanto eu olhava, pude ver homens abrindo caminho pela horda do mal que ainda
estava pelejando. Eu sabia que eles eram os apóstolos, profetas e anciãos que
estavam sendo chamados para o conselho. Todos eles pareciam andar totalmente
indiferentes às ameaças e gritos da horda do mal que os cercava. Eles andavam em
meio ao mal de um modo tão majestoso que é impossível descrevê-lo. Levavam a
horda à loucura, mas eu podia dizer que aqueles que haviam provado das águas vivas
se maravilhavam com o que viam. O temor e respeito por eles eram evidentes no
rosto das pessoas recém-transformadas, que me diziam estar dispostas a seguir
esses líderes.
"Certamente, este era o começo de um grande exército que jamais recuaria
novamente", pensei.
"Certamente é" — disse uma voz ao meu lado. "Este é o começo daquilo
que todos vínhamos esperando" — a velha águia continuou. "Ver isso, o começo, fez
tudo valer a pena."
Nenhuma palavra parecia possível enquanto todos nós estávamos ali,
sabendo que de fato achávamos no limiar da maior aventura de todas, mas também
da maior batalha. Aqueles que tinham sonhos, e os que tinham visões, logo
veriam seus sonhos e visões cumpridos.
A última batalha começou. Os guerreiros que haviam se preparado para esse dia
logo seriam mobilizados. Eles responderam ao grito de guerra, e toda a Terra logo
ouviria o som dessa batalha.

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