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APRESENTAÇÃO
AS CONSTITUIÇÕES DO BRASIL
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
1. Forma do Estado
Noções Iniciais:
Quanto à forma, o Estado pode ser unitário ou constituído por unidades federadas.
O Estado unitário é aquele centralizado cujas partes que os integram estão a ele vinculadas,
não tendo, assim, qualquer autonomia. Já a federação é a forma de Estado pela qual se
objetiva distribuir o poder, preservando a autonomia dos entes políticos que a compõem. É
então o Estado Federado um estado politicamente descentralizado.
No Brasil, a forma de Estado unitário foi prevista somente pela Constituição
Imperial de 1824. O Brasil é uma federação formada pelas seguintes entidades estatais
autônomas: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Brasília é a capital
federal. Em razão de sua autonomia político-administrativa, as entidades da federação exibem
auto-organização, autogoverno e auto legislação nas esferas de suas respectivas competências.
A União, além da autonomia no plano interno, exerce soberania quando
representa o Estado Federal (o Brasil) perante a comunidade internacional.
Origens da Federação:
A primeira federação conhecida, a americana, surgiu quando se tratou de resolver
na época o problema resultante da convivência entre si das treze colônias inglesas tornadas
Estados independentes e desejosos de adotarem uma forma de poder político forte e unificado
e de outra parte, sem perder a independência, a individualidade, a liberdade e a soberania que
tinham acabado de conquistar. Com tais pressupostos surgiu a federação como uma
associação de Estados pactuada por meio de uma Constituição.
Características da Federação
É uma descentralização político-administrativa constitucionalmente prevista.
Apresenta uma constituição rígida que não permite a alteração da repartição de
competências por intermédio de legislação ordinária (se assim fosse possível, estaríamos num
Estado unitário, politicamente descentralizado).
Existência de um órgão que dite a vontade dos membros da Federação; no caso
brasileiro temos o Senado, no qual reúnem-se os representantes dos Estados-Membros.
Os entes federados possuem autonomia financeira, constitucionalmente prevista,
para que os entes federados fiquem na dependência do Poder Central.
Existência de um órgão constitucional encarregado do controle da
constitucionalidade das leis, para que não haja invasão de competências.
A divisão funcional do poder representa princípio básico que visa impedir, ou pelo
menos limitar, a prepotência do Estado. Cada Poder (Legislativo, Executivo e Judiciário) deve
limitar as expansões indevidas do outro. Forma-se, então, um sistema integrado de freios e
contrapesos, cujo objetivo é controlar o poder do Estado.
Origens:
A separação de poderes sob critério funcional: legislativa, administrativa
(executiva) e jurisdicional já era conhecida desde a antiguidade, sendo delineada por
Aristóteles, porém foi com base à doutrina de Montesquieu, a “separação de poderes”, que se
estruturou o poder nas democracias de tipo ocidental num sistema de independência e
fiscalização mútua entre eles.
3. Formas de Governo
Monarquia e República:
A forma de governo pode ser monárquica ou republicana. A monarquia é o
governo de um só (monos arkhein: comando de um), no qual um monarca governa de maneira
absoluta e irresponsável, além da transferência do poder ser por força de laços hereditários. A
República surgiu para se constituir em um regime alternativo à monarquia, criando uma
oposição a esta, uma vez que retirava o poder das mãos do rei passando-o à nação (“res
pública”: coisa pública).
O Brasil é uma República, cujas características são:
➢ Os agentes políticos são eleitos pelo povo;
➢ Os agentes políticos ocupam o poder, exercendo mandatos por tempo
limitado
4. Sistemas de Governo
O Presidencialismo:
O sistema presidencialista adotado no Brasil é a criação racional e consciente, de
uma assembleia constituinte (convenção de Filadélfia) ao contrário do parlamentarismo que é
fruto de longa evolução histórica, desenvolvido na Inglaterra. O presidencialismo instituído
pela primeira vez nos Estados Unidos é uma versão republicana da monarquia limitada ou
constitucional.
Características do Presidencialismo:
Juridicamente o presidencialismo se caracteriza por ser um regime de separação de
poderes, e conferir a chefia do Estado e a do Governo a um órgão unipessoal, a Presidência da
República, e a independência do Executivo e do Legislativo é rigorosamente assegurada. Sob
as características políticas, a principal delas no presidencialismo é a predominância do
Presidente.
Apesar dos riscos que traz para países onde não existe sólida tradição democrática,
o presidencialismo é o único praticável em face da multiplicidade partidária excessiva.
O Parlamentarismo:
O parlamento é um órgão político colegiado composto por uma ou várias
assembleias, que representa a coletividade nacional e ao qual é confiado o exercício da função
legislativa, bem como, em escala variável segundo os sistemas constitucionais, o poder de
dirigir e controlar a atividade do órgão executivo. O regime parlamentar é um sistema de
organização dos poderes públicos no qual coexistem e colaboram dois órgãos iguais em
prestígio e em influência (o governo ou gabinete, e o parlamento), que exercem um sobre o
outro uma ação destinada a limitá-los reciprocamente. Num regime presidencial, ao contrário,
o presidente exerce a função governamental durante toda a extensão de seu mandato, sem que
a sua responsabilidade política possa ser posta em questão pelo parlamento.
5. Regime Político:
O Brasil consagrou como regime político-jurídico o Estado Democrático de
Direito, de acordo com os ditames da Constituição do Brasil, onde o titular do poder é o povo
que o exerce através de seus representantes eleitos ou diretamente nas formas previstas na
constituição (referendo, plebiscito, ação popular, iniciativa popular).
Para melhor entendermos o significado desta expressão, vamos analisá-la em duas
etapas:
➢ Estado democrático : refere-se ao regime político que permite ao povo
(governados) uma efetiva participação no processo de formação da vontade pública
(governo).
➢ Estado de Direito - é o regime jurídico que autolimita o poder do governo ao
cumprimento das leis que a todos subordinam.
A. Soberania (poder máximo de que está dotado o Estado para fazer valer suas decisões
e sua autoridade dentro de seu território, bem como independência política, em relação
aos demais países) ;
A. Independência nacional;
B. Respeito pelos direitos humanos ( O Brasil é um dos signatários da Declaração
Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela ONU em 1948);
C. Autodeterminação dos povos (cada nação deve conduzir seu próprio destino);
D. Não intervenção (nenhum Estado tem o direito de interferir nos assuntos
internos do outro);
E. Igualdade entre os Estados (todo Estado tem direito à igualdade jurídica
perante outros Estados, isto é, igualdade de tratamento perante as normas
internacionais);
F. Defesa da paz;
G. Solução pacífica dos conflitos;
H. Repúdio ao terrorismo e ao racismo;
I. Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade.
J. Concessão de asilo político (recolhimento de cidadãos que fogem de
perseguições políticas.
Antes de estudarmos o artigo 5º e seus 78 (setenta e oito) incisos, que tratam dos
direitos individuais e coletivos, iremos inicialmente conceituá-los, para uma compreensão
mais fácil do assunto.
Exemplo: "É garantido o direito de herança" (artigo 5o, inciso XXX da CF).
Deveres - São limites impostos pela norma aos direitos, com a finalidade de
proteger os benefícios jurídicos concedidos. Analisando o artigo 5o, podemos verificar que
não há um só direito, por mais importante que seja, que se caracterize por ser absoluto, pois
todo direito tem um dever correspondente.
Dever: A pessoa que manifestar seu pensamento deve se identificar, porque "é
vedado o anonimato".
ARTIGO 5o
Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes;
Intimidade é o direito de estar só; vida privada significa vida particular, é a vida
social. A honra e a imagem das pessoas são asseguradas neste inciso, pois ambas refletem o
respeito adquirido perante a sociedade, garantindo assim, sua segurança e confiança. É
assegurado o direito à indenização por dano material ou moral decorrente de sua violação.
XXXIII - Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
Lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado; Regulamentado pela Lei nº 12.527, de 18/11/2011.
O inciso é muito claro, não necessitando de detalhamento. Contudo, cabe ressaltar
que, caso o cidadão seja cerceado em seu direito de informação, poderá impetrar o habeas
data (instrumento jurídico que assegura o conhecimento de informações relativas à sua
pessoa, que estejam em arquivo público. O habeas data é personalíssimo, só pode ser
impetrado pela pessoa detentora dos dados questionados).
Exceção à regra são as informações cujo sigilo seja imprescindível para a
segurança do Estado e da sociedade.
XXXIX - Não há crime sem Lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;
Cominação: é a pena estabelecida pela Lei para determinado crime.
O inciso XXXIX é denominado de princípio da anterioridade da lei penal.
Um ato só pode ser considerado como crime quando existe uma lei elaborada, e já
em vigor descrevendo-o, antes que esse crime tenha sido cometido.
Ex: furtar é crime, porque existe uma lei em vigor descrevendo-o.
Com efeito, o artigo 155 do C.P. descreve o crime de furto "subtrair para si ou
para outrem, coisa alheia móvel". Assim, a lei que prevê o crime, deve ser anterior ao fato,
isto é, não será caracterizado como crime um fato ocorrido hoje, se a lei que prevê o fato
entrar em vigor amanhã.
Além disso; não haverá pena, sem que esta tenha sido estabelecida anteriormente
para determinada infração. Ex: No crime de extorsão mediante sequestro, descrito no artigo
159 do C.P. "sequestrar pessoa, com o fim de obter para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição do preço do resgate" :Pena: reclusão de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
(note, que já há pena estabelecida antes desse tipo de crime ser cometido por alguém).
Por outro lado, todos os crimes possuem correspondentes penas elencadas junto a
própria definição do crime.
Anistia - Ato pelo qual o Poder Público declara o fim da punibilidade, por motivo
de utilidade social, para todos aqueles, que até certo dia praticaram determinados delitos, em
geral políticos, seja fazendo cessar as diligências persecutórias, seja tornando nulas e de
nenhum efeito as condenações e o perdão geral.
A palavra "hediondo" origina-se do latim hoedos, cuja tradução é bode, que, em
sentido figurado, tem a conotação de algo fétido, mal cheiroso.
Hediondo significa sórdido, repulsivo, mal cheiroso.
Os crimes hediondos são gravíssimos, pois atentam contra a segurança individual
e a coletiva, ferindo de forma profunda a dignidade humana.
LIX - Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal;
Sabemos que ao Estado compete o monopólio da justiça. O direito de ação do
Estado nos crimes de caráter público é exercido através do Ministério Público que promove a
ação penal, acionando o Poder Judiciário. O Estado não admite a autotutela, como já vimos, a
não ser em alguns casos excepcionais (inciso XXXV). Portanto, o cidadão não pode
processar pessoalmente um criminoso, mesmo tendo sido sua vítima, salvo nos crimes de
ação privada, que são definidos em Lei.
Caso haja omissão do Ministério Público, não apresentando a denúncia dentro do
prazo legal (15 dias), o particular poderá contratar um advogado e efetuar a denúncia.
LXI - Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em Lei;
O indivíduo só poderá ser preso em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente (mandado de prisão). A Constituição
limita, portanto, a prisão a estas duas situações, não admitindo mais as prisões para
averiguações e as administrativas. Fora destas situações, a prisão é ilegal e deve ser relaxada
imediatamente ou seja invalidada.
Os crimes e as transgressões cometidas por militares, são regidos por Leis
específicas próprias de suas atividades que compõem os códigos disciplinares. O militar pode
ser preso até mesmo por ordem verbal de um superior hierárquico ou de igual patente.
LXIV - O preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão
ou por seu interrogatório policial;
O direito à identificação dos responsáveis pela prisão visa a proteção do preso
contra eventuais violações de seus direitos individuais no momento do interrogatório ou da
prisão.
LXVI - Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a Lei admitir
a liberdade provisória, com ou sem fiança;
No Brasil, a prisão é a forma mais grave e comum de punição para os culpados,
apenas excepcionalmente deve ser ela aplicada aos presumivelmente inocentes.
Antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, a prisão tem medida
cautelar, visando preservar a integridade das testemunhas, da ordem pública, da ordem
econômica, e evitar que o réu se evada.
Há delitos de menor gravidade, que não justificam o aprisionamento do acusado,
que poderá pagar uma fiança arbitrada pela autoridade policial ou pelo juiz, e aguardar em
liberdade a conclusão do processo.
Caso o acusado tenha direito à liberdade provisória, não será mantido na prisão, e
se o crime for afiançável, informar a quem tenha interesse em providenciar a fiança.
LXVII - Não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
infiel;
Pelo exposto no inciso, fica claro que não existe prisão por dívida, excetuando-se
dois casos: aquele que não paga a pensão alimentícia por vontade própria e a do depositário
que quebrar a sua obrigação de zelar e de devolver o bem demandado judicialmente.
Depositário: (auxiliar de justiça, designado pelo Juiz para guarda, vigilância e
administração dos bens retidos judicialmente) que será denominado de depositário infiel,
caso empreste, troque, venda ou danifique o bem pelo qual é responsável.
LXXIII - Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe,
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência;
conceito: é o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão para
obter a invalidação de atos ou contratos administrativos ilegais e lesivos ao patrimônio
federal, estadual ou municipal, ou ao patrimônio de autarquias, entidades paraestatais e
pessoas jurídicas subvencionadas com dinheiro público.
Observação: Excluem-se do polo ativo os
estrangeiros, os apátridas, as pessoas jurídicas
(súmula 365 do STF) e mesmo os brasileiros que
estiverem com os seus direitos políticos suspensos
ou perdidos (art. 15 da CF/88).
Popular - deriva da natureza impessoal do interesse defendido, da coisa do povo.
requisitos:
a) só poder ser proposta por cidadão brasileiro;
b) ilegalidade na formação ou no objeto do ato;
c) lesividade ao patrimônio público (erário, moralidade, meio ambiente, etc)
fins da ação: preventivo, repressivo e supletivo.
objeto da ação: é o ato ilegal e lesivo ao patrimônio público.
sujeito passivo: litisconsórcio entre entidade lesada, os autores e responsáveis
pelo ato e os beneficiários do mesmo.
MP é parte sempre - é parte autônoma, só não pode defender o ato.
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do
que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º
e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X,
sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
aplica-se o que for fixado em lei específica do respectivo ente estatal. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
Acerca do art. 142, CF/88, o mesmo dispõe o seguinte, que deverá ser aplicado no
caso, aos militares dos estados. A Lei nº 3.808/81, a Lei Complementar nº 68/2006 e Lei nº
3.936/84, regulam as matérias delegadas aos Estados pelo dispositivo constitucional citado no
art. 42 da CF/88.
CRÉDITOS:
Lenza, Pedro Direito constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – 16. ed. rev., atual. e
ampl. – São Paulo : Saraiva, 2012.