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o

UM


PAUL RICOEUR

Tradução:
Maria da Piedade Eça de Almeida

r-
LJ ' ' t 1.
·~ - . ..l / \.

O MAL
UM DESAFIO À. FILOSOFIA
E A TEOLOGIA

Prefácio de Pierre Gisel

0
3 1111li1111111111111111111111111 Ili
31199505
Título oriiinal em francês: Le mal - un défi à Ja phiJosoph·
tbéologie •e ct à la
© Labor et Fides, Geneve, 1986
Capa: Francis Rodrij!ues
Tradução: Maria da Piedade E("a de Almeida

Equipe de revisão: Fausto Alves Barreira Filho


Sandra Vieira Alves
fNDICE

Dados de Catalogação na. Publicação


. (CIP) Intcrnac·IODal
(Câmara BrasiJeira do Livro, SP, Brasil)

Ricocur, Paul, J913- .Prefácio à Edição Brasileira 7


Constança M arcondes Cesar ............ .
R399m o .mal : um desafio à filosofia e à teologia / 13
Paul .R1cocur ; tra~ução: Maria da Piedade Eça de Prefácio - Pierre Gisel ...... . ... . ... · ... ·· · . ·
Almeida. - Campi.nas, SP : Papirus, 1!288.
o mal : um desafio à filosofia e .à teologi~ 21
1 . Bem e mal I. Título. 1·
CDD-lJJ.84 I - A experiência do mal : entre a
88-0268 -216 repreensao e a lamentação ...... . 23
todices para catálogo sistemático: II - Os níveis de discurso na especulação
1. Bem e mal : Metafisica 111.84 sobre o mal ........ .. ... . .... ·.. 26
2 . Bem e mal : Religião natural 216
3 · Mal e bem : Metafísica 111.84 · 1. O nível do mito
4 . Mal e bem : Religião natural 216
2 . O estágio da sabedoria
j/) 3. O estágio da gnose e da gnose ·
DIREITOS RESERVADOS PARA A LtNGUA PORTUGUESA:
o
1n
1 antignóstica
© M. R. Cornaccbia &: Cia. Ltda. o-_
0- 4 . O estágio da teodicéia
-.-j

:• paptruf EDITORA
-.-j
ro . 5 . O estágio da dialética
"quebrada"
Av. Francisco Glicério 1314 2 o d
Fon ( • - · a.n ar
e : _ 0192)
Cam . 32-7268 - e p
x. ostal 736 _J III - Pensar, agir, sentir 47
13100 m
piruu - SP - Brasil
1. Pensar
proibida a rtprodu - 2. Agir
em fwrna idcnt·1 çao toa1 ou Parcial
C&. . r,..,,_
quaiquer outro ,,.,_ -~..1 .da ou modif'por qualque r me10
· de impressão
-.urna, lca.da' em línzua portuguesa ou'
3. Sentir
PREFACIO
À
EDIÇÃO BRASILEIRA

O problema do mal é um dos temas centrais da


filosofia de Paul Ricoeur. Meditando sobre a fini-
tude e a culpa, no A simbólica do mal (1960), o
pensador francês faz um enorme painel dos mitos
do mal entre os sumerianos, gregos e judeus-cris-
tãos, estudando-os comparativa e criticamente.
10 mesmo tema reaparece na obra de 1969 que
sintetiza os resultados de sua caminhada até então
e prefigura o ulterior desenvolvimento de seu pen-
sar: O conflito das interpretações, no capítulo in-
titulado "A Simbólica do Mal interpretada',..
O presente texto, O mal, é o de uma conferên-
cia feita por Ricoeur na Faculdade de Teologia da
Universidade de Lausanne em 1985. Consiste numa
retomada e aprofundamento de alguns aspectos do
tema que o vem inquietando há quase três déca-
das. A cada abordag.em, a questão é vista sob nova
luz. No primeiro estudo, A simbólica do mal, o
autor tratou de hierarquizar e decifrar o sentido
filosófico dos mitos do mal; a obra é~ pois, um
exercício, no campo limitado da simbólica relativa
ao mal, do método hermenêutico, de que Ricoeur é
um dos máximos representantes e mestres no mun-

7
fºicacodnteMmpo:dneo.O segundo trabalho "A
o al interpretada" emerge ' Sitnbó
di~cussão feita pelo filósoÍo das her":i~nt~xto ~ origem nas diversas mitologias. Uma indagação,
vais, do conflito das interpretações a uticas ri. contudo, nesses trabalhos, permanece sem resposta:
t " . . parentem de onde vem o mal?
an agonicas a respeito da finitude e de . ente
homem, apresentadas pela psicanálise f stino do Outra pergunta ainda se le'l!anta: a interroga-
logia da religião. Articulando reflexão' e e.norneno. .ção a .respeito do mal não mais cósmico, mas
- nosso autor enfoca o mal como mterpr
taçao, b e. individual. Os mitos explicam a origem do mal no
ético e querigmático e aborda o mito da ::~a.lema dmbito cósmico, mas não dizem nada sobre a con-
dição humana individual. Assim, as primeiras res-
Na conferência aqui traduzida o mal a postas filosófico-teológicas apóiam-se na idéia de
. , f .l f . , ' parece retribuição do mal cometido individualmente. Mas
como. desafto a t oso ia e a teologia; 0 maior dos
desafios, uma vez que envolve o questionamento d a discordância entre o mal-moral-cometido e o mal-
- d D
concepçoes .
e eus vigentes no mundo ocidentalas sofrimento-imerecido repropõe a questão como
enigma. A solução agostiniana, que nega su.bsta;:-
como onipotente e absolutame_nte bom. Ou seja.~ cialidade ao mal, assinalando-o como privaçao,
trata-se de superar a contradiçao entre a existência como procedente da finitude do ser criado e como
de Deus e a existência do mal (sofrimento, dor resultado possível da nossa liberdade, dá ao mal
morte). Nem sempre é possível estabelecer o mal uma dimensão moral. A pergunta desloca-se, assim,
sofrido como resultado direto do mal cometido pelo do plano ontológico para o plano ético: :odo mal é
homem, como uma punição da culpa. Assim, o mal mal moral, todo mal é mal cometido. Nao se trata
se apresenta como um enigma a ser decifrado, e mais de discutir de onde vem o mal?, mas de escla-
Ricoeur tenta, mais uma vez, fazê-lo, abordando o recer por que fazemos o mal?
problema numa perspectiva histórica. Seu método A resposta de Santo Agostinho, considerado
consistiu em delimitar a amplitude e profundidade um dos mestres do Ocidente, deixa, contudo, em
da questão, descrevendo-a fenomenologicamente, aberto a questão do sofrimento injusto. Donde o
distinguindo os níveis dos discursos sobre o m.al e problema ter sido reproposto na idade moderna por
percorrendo as diversas respostas ao tema, dadas Leibniz, Kant, Hegel.
ao longo da história da filosofia. A bondade de Deus e a existência do mat são
uma contradição. Daí Leibniz falar do mal metafí-
Ao nível do discurso mítico os estudos de Ru-
1 sico como resultante de uma falha irredutível da
dolf Otto, Mircea Eliade, George Dumézil apontam: criatura enquanto tal, embora estejamos no melhor
como razão do mal a ambivalência do sagrado; 0 dos mundos possíveis, ou seja, naquele mundo que,
alcance cósmico da crise desencadeada pelo enigma, existindo, comporta a menor dose possível de mal.
bem como a pluralidade das explicações de sua
9
8
A solução de Leibniz é fund
ca·. o con t.raste
entre 0 bem e
amentalm
,ente estéti~
0
para a harmonia do todo ass;m tnal e necessár .
d 'l A • , "C07'l'lo a 20 aquilo que Deus não quer; A. contradição aqu_i ~o
o ,si. encio e do so1n são necessários , h combinação
musica. ª arrnonia, na
se faz mais entre a oni]XJtencw. d~ D.eus e a ~xisten­
cia do mal, mas entre a miserzcordia e a colera de
Ma~~ solução estética não respond Deus. Tal contradição é abordada por uma lógica
m.e nto tn1usto individual nem a e ªºsofri, do paradoxo, de inspiração kierkegaardiana, rea-
· t '
exis ente no mundo. Kant grande
o excess d
,t . o e dor brindo o problema colocado pelos renascentistas e
tinho e Leibniz, afirma qu~. não h , cri ico .d~ Agos- par Schelling do lado demoníaco da deidade.
pura razao, - resposta possível para aa,or.
nos lzmztes d a Jnfelizmente, Ricoeur não enfoca mais detida-
nem para a tendência no homem ddige"! do mal, mente este aspecto, absolutamente fascinante, do
Pro blema permanece, para, , y agir mal O demônio como a outra face de Deus. O texto deixa
esse autor ·
d .d 'd
ser eci i o no plano prático· 0 mal , , como algo a essa meditação em aberto e o filósofo reitera que o
b ·t - · e, nesse âm- mal é um problema a ser abordado nos planos do
i ~, o que nao deve ser. E a pergunta torna-se pensamento, do sentimento e da ação.
assim: o que devemos fazer? '
No plano do pensamento, a questão do mal é
. . A não-solução para o problema do sofrimento um desafio, que mostra a exigência de uma lógica
in3usto leva Hegel a repropor a questão de outra mais complexa que a lógica clássic~ para tratá-lo;
forma: ?
sofrir:ien:o é inelutável, como negativi- ou seja: o enigma não pode ser solucionado com o
dad; ~Jo sentido e ser propulsara da evolução do nosso atual aparato de pensamento. No plano da
Espinto. No balanço final, o sofrimento, o dilace- ação, o mal é o que não devia ser, e o problema é:
ramen,t~, são superados num mundo panlógico, o que fazer contra ele? A resposta de Ricoeur é que,
pantrag!co, cujo objetivo não é a felicidade, mas a no plano da ação, o mal é sinônimo de violência;
expressao do Espírito.
diminuí-la no mundo, pela ação ética e política, é
. ~. impossibilidade, evidenciada ao longo da diminuir o mal. No plano do sentimento, o filósofo
h~st_ona da filosofia, de uma lógica da não-contra- francês propõe uma alteração qualitativa da queixa
dtçao resolver o enigma do mal, conduziu ao res- contra o sofrimento, mediante a superação da tese ·
surgimento do tema na obra contempo-rdnea de do mal como pun:ção (pois o mal resulta do acaso)
Karl Ba~th. O mal é, para este, o nada hostil a e da superação da revolta contra Deus (crer em
Deus·
b ' nao é apenas privaçao
· - d e ser, ausenC1a
.. · d e Deus apesar do mal), pois Deus também sofre (teo-
em, _como pensara Agostinho, mas é também car- logia da Cruz).
rupçao e destru · - d
é a "mã 0 zçao, e caráter inescrutável. O mal Permanecendo enigmático, o mal pode ser di-
esquerda" de Deus, o objeto de sua cólera, minuído, no plano da ação, pela não-violência, e
10
su~ado,, no plano do sentimento
ao inelutavel da condi,.ão h ' Pela reSigna -
~ umana. Çao
. C~~o que a resjX)sta do nosso f il , ,
0
tzsfatorza: Deixa em aberto 0 probl::a, 1° e insa-
especulatzvo, embora reitere sua l _ no Plano PREFACIO
moral. . . .- so uçao no Plano

tÉ um texto interessante.
, , dá a impressao
. _
d
o au or prosseguira na investigação do e que
que tange a' sua d'imensao . , no
- especulativ assunto
o~tro estudo magistral de Ricoeur out a. Prefz~ura
çao para 0 enigma. ' ra contrzbui- O texto que vamos ler é o de uma conferência
apresentada por Paul Ricoeur na Faculdade de
~s ?reves menções à lógica do. paradoxo , TeQlogia da Universidade de Lausanne em 1985. É
medztaçao dos renascentistas e de scheU ·
o lado demoníaco da d . 'ndad
'
zng, sobre
ª dedicado a uma questão que nunca deixou de acom-
panhar Paul Ricoeur ao longo de toda a sua refle-
., . - , zvz e parecem indicar xão e de seus trabalhos füosóficos: a realidade do
uma dzreçao posszvel. Demon est deus inversus.?
mal como causadora de um certo modo de pensar
A per~unta antiga faz estremecer. E reprop - (veja-se, por exemplo, a teodicéia e a onto-teolo-
como fascinante enigma num mundo conturb::t; gia), e, além disso, a obrigação de retomar com
como o nosso, o mal como problema para todo ser novas energias o tema da afirmação originária, a
humano. do eu em sua busca de existir - individual e cole-
A excelente tradução da Profa. Ma ria da Pie- tiva - e a de Deus por meio dos signos, os quais
dade Eça. de Almeida oferece ao leitor brasileiro
os homens, doravante testemunhas, inscrevem no
u~ texto importante; há que lê-lo com cuidado pois coração daquele que é criado.
nao é inócuo· pelo que ensina
R. . e pelo que ·sugere
' Paul Ricoeur tem raízes protestantes. Podemos
zcoeur, uma vez mais, faz pensar. ' sublinhá-las sem espírito de confiscação ou de apo-
logia. Primeiramente porque Paul Ricoeur nunca
Constança Marcondes Cesar escondeu esta origem nem a solidariedade que dela
advém; quis unicamente deixar marcado, e de mod-0
legítimo, que era e se queria filósofo, e não teólogo
e dogmatista. Também, indicar aqui as suas raízes
protestantes não é querer afirmar sua superiorida-
12
de mas situar uma determinada conjuntura, com
13
seus pontos fortes, é certo, mas sabendo u
ponto forte pode ter seus reversos espec't·q e tocto o 1 ~ ou à de Jean Nabert, O desejo de Deus 41• •
R. i icos 1 p
zcoeur parece-me tipicamente prote t · auz do mtªcontexto acentuamos ainda em Paul Ricoeur
Nes e ' . -
mente no seu modo de inscrever a Qu: ~n_te exata- lhar recorrente em direçao a Kant, tanto como
- s ao seu, o f dos limites do " mal rad zca. l " , como t am-
num lugar que para o homem será origin , .do Tnal filoso o ' .
. - ob nga
d eczsao . - aqui também de modo t ·ario · ·
Esta , de uma certa forma, o inaugurador de uma
. , bem, · · - ou da art e, f i·zosof i·a
te protestante - , desde o inicio a uma szpicamen- _ filosofia da cultura, da reltgzao
d t d · · · ' eparaçao deliberadamente prática, com uma tarefa a ser
~ ·~ a a perspectiva unificante que falaria muito executada sob o signo de uma esperança bem com-
rapi o - ser:i rtf ptura originária e num nível dire- preendida.
tamente racional - de cosmologia cristã (com
, .d. u~
Além destas referências, acredito que o itine-
posstveis envados: antropologia cristã, ética e p _
lítica cristãs, etc.)2. 0 rário de pensamento de Paul Ricoeur é típico. Indi-
caremos isto brevemente. Sua grande obra dos an~s
Que Paul Ricoeur sempre andou às voltas com cinqüenta e sessenta é a Philosophie de la volonté.
a questão do mal, os títulos de várias de suas Um registro fenomenológico herdado de Husserl.
obras o demonstram. Veja especialmente Finitude Mas a · escolha em se dedicar à análise da vontade
3
et culpabilité (em duas partes: L 'homme faillible. não é já provavelmente inocente (conduz, em_ todo
0 caso, a levar deliberadamente em conta as dimen-
e La symbolique du mal), o artigo sobre o "pecado
original" (1960), reproduzido em O conflito das sões do corpo) . Também não o é, por outro lado, a
insistência sobre o involuntário que sobrecarrega
interpretações• ou um outro estudo de "Religião e
- ·mas também em certa medida provoca - o vo-
fé" (ibid., p. 376 ss.), especialmente, "culpabilidade,
luntário 1 • O que deve sobretudo ser notado é a
ética e religião'? (p. 416 ss.). Veja-se também o pre-
passagem que se abre na Simbólica ~o mal. De .q~e
fácio à obra de Olivier Reboul, Kant e o problema
é que se trata? - de uma interrupçao da descriçao
1 · Sobre o protestantismo assim encarado, permito-me citar a minha pura, neutra; suspende-se - deve-se suspender -
obra Croyance incarnü, Geneve, Labor et Fides, J 986, notadamente
p. 111, 129 e seguintes. a abstração sob a falta efetiva. Ora, esta passagem
2. O "~inar protestante originário substitui uma cosmologia cristã (res· não é passagem. Nenhuma descrição saberia pas-
pectivamente: uma antropologia, uma política ou uma ética cristã) sar da inocência à falta 8 •
por um~ !_X>Sição teológica da questão do mundo (respectivamente:
u~a posrçao teológica da questão do homem do político de questóeS
éticas, etc.) . ' ' 5 Montreal. Presses de l'U niversité de Montreal, 197 l.
3 · Paris, Aubier, 1960, 2 vol. 6 . Paris, Aubier. 1966.
-4 . Paris, Scuil 1969 265 · 7 O volume l da Philosophie de la volonté tem como titulo: ú vo-
leira d a 1mago.)
' ' p. e scg. (N. da T. : Há uma tradução bras1· lontaire et /' involontaire, Paris. Aubier. 1950.
8 . Cf. L'homme /aillib/e, p. 9 e seguintes.
14
15
Desde ent-
p ost ura de fil ao, um outro tnét
.,.,~. . osofar _ , Odo _
•t.Çutica int sera e:ti . U7n.Q
tas que só têm a pretensão de si-
toló . , erpretação do . Uida: uma OU.ira
gicos) que afi s stgnos (r . herrne· com estast n:ext~ não haveria possibilidade de
são da /alta efet. rmam simuztanea.,.,., ~llgiosos, 'h. .- tuar o presen. ede forma
, mais sistema't·ica,. o que se
iva E; a ''e.ente ,,,,_
sagem em ato. Ê o si esperança de sua a contis- retomar aqui,ósito do pensar e do existir? Talvez,
Caminho i·nc t
on orná
mbolo que aí "d ,
' ' a que
Ultraprr .. Pensa
· ,a prop
mo introduçao, - sumaria
• · e com a d em·da
está ligado vel. Por quê?
'"">·
Pensar" . mas socoos prop R'
' rios textos de Paul icoeur.
ao enigma · - Porq · reserva a
quantitativo como . de um surgir quue o _maz Como urn incitamento à leitura.
que se POsicio as simples COisas do e 11.<io é
. na no espaco e mundo ,,,,.~ Primeiro ponto a considerar: o mal não é uma
- no tempo ··"1.4,)"

É este movi · oisa um elemento do mundo, uma substância ou


. mento que Paul R.
aqui quando se separa da "t ... zcoeur retorna
~ma 'natureza 11 • Todos os Padres da Igreja o afir-
teologia". Acontec eodiceia" e da "ont
ma.ram. Contra toda a gnose (todo o pensar em
la e o mesmo no seu o.. forma inicial de saber). Se o mal fosse "mundo"
p r sobre Santo Agostinho , ~tudo exem. (a mesma coisa para Deus), o mito seria um saber.
do original ,, (cf ' ª proposito do "pec E a filosofia por vezes uma muda de viveiro do saber
. . supra, n.º 4) É ue a-
Rzcoeur, o pensar - teológico ~ .q ,' _para Paul mítico, daí seu começo por uma crítica da ilusão
sempre continua . füosofico _ deve (a sua 12 ) , crítica dos ídolos (os seus), crítica de
r se conquistand
tações internas. Isto pode ~ c:ontra suas ten- suas formas de "teologia racional". O mal, pelo con-
as fontes ruío-111,..sóf . -se verificar observarn1-0 trário, diz respeito a uma problemática da liberda-
J~ icas que o precedem ac de. Fundamentalmente. É por isso que se pode par
:X~~ltrapassa;rz-: ~ expressões relf~ios:: ele ser responsável, tomá-lo para si, torná-lo a con-
. . , mas, além disso, as realidades que elas fissão e combatê-lo. É dizer que o mal não está nem
cristalizam - a do mal a da , . . ... . do lado da sensibilidade e do corpo (como tal, são
a de D , , . ... proprz.a existencw. e
, . eus. E quanto a existencia, o presente texto inocentes 13 ) , nem do lado da razão (o homem seria
e instrutivo, fu$tamente, por sublinhar mais do diabólico deliberadamente). O mal está escrito no
que talvez Ricoeur o tenha feito anterW:.ment coração do sujeito humano (sujeito de uma lei ou
realidades e, as sujeito moral): no coração desta realidade altamen-
dade da queixa, do '])Totesto, da individuali-
obstinada io_ Job, invocado mais adiante tor- 11 . Ct. especialmente ú conflit du inrPrprétatioru. p. 268 e seguintes.
na-se a figura exemplar. ' (N. da T .: Hã uma tradução brasileira. pela editora Imago. )
12. Cf.• em Kant, a critica da ilusão transê.cndental. primeiro golpe
mortal da teologia especulativa. que sozinha pode abrir os hori-
9 · Úl symboliqu~ d 11 mal, p. 324.
zoot« da razão prática e da interpretação dos textos e das obras
10. Cf. também. sobcc este do homem.
198V l . mesmo tema, 1-e récit intcrprctatif', R..S.R..
- • P· 18 e ~gu1ntcs.. 13 . -Prefácio· à obra de O. Reboul, p. X.

16
17
te complexa e deliberadamente hi t , .
sujeito humano. s orica que é 0
te aquilo a que minha liberdade efetiva é somada,
O mal d iz respeito a uma problem 't. chamada e provocada a existir.
berdade. Ou da moral. Sem enclausurament
0
ª
zca da li
- Paul Ricoeur inscreve-se na linha sucessória
ou a fatalidade cósmica portanto Sol - no ser de uma filosofia reflexiva, uma filosofia pela qual
ent - " l . ,, , . uçao desde
~º... pe agzana , fornecendo todo o peso à livre a afirmação originária se relaciona com a interio-
decisao do homem, capaz de inventar 0 b ridade, com a retomada de si próprio. Mas o fato
mal? Não. Apesar de seus equívocos Sant emA e o do mal molda esta filosofia. Separa-a da sua tenta-
. ho
t z.n . - , o gos-
e o conceito ~ "pecado original" estão teolo- ção de dizer o sujeito humano co11W "autoposição''.
g2~a'm;ente no car:iz'!ho certo. A vontade humana Descentraliza este sujeito, inscreve-o na ordem do
~o . e nunca de inicio neutra, sem história, sem fazer e convoca a um aprofundamento que, sem
hábitos, abandonar em nada a contingência - ao contrá-
. sem natureza adquirida • De fato e orz·..
14
.
gznar:iamente. ~or quê? É aí que tudo se liga ou tudo rio - , abre-se sobre uma meditação do absoluto.
se dzssolve: pois o homem só é sujeito quando , O divino não tem " substrato" próprio na ordem
cham;i-do (denominado); só é sujeito quando res~ do mundo; porque nada, no mundo, é ou pode ser
ponsavel. Perante uma lei, diz Kant, aquela que divino como tal (tanto o divino, rigorosamente,
n?s faz notadamente pensar que nos pensamos como o mal). Ele é transcendência; e continua
diferentes da natureza pura. Que somos marca e sendo assim no momento do nascimento do sujeito
fato de diferenya. De dissi~ncia. Singulares. Logo, humano, de seu acesso à existência, quando conve-
ser chamado e ser eleito. E voltar para Deus. E nientemente apoiado a uma ruptura ao mesmo
porque se trata aqui ao mesmo tempo de história tempo originária e intratemporal, este sujeito pode
concreta, particular, de uma certa forma contin- confessar seu passado como acontecido inesperada-
gente e, ao mesmo tempo, sem paradoxo, originário mente e não como simples destino, pode dizer seu
ou de lugar constitutivo, lugar de surgimento, so- presente como nascimento próprio, e pode-se abrir
~nte o mito e a re:igiã,o permitem afirmá-lo. Me- a acolher o que vier. No temos, é o fato da existência
ztar sobre o mal e, para Paul Ricoeur e toda a que está aqui em causa, e em causa como dom
tradiç~o que ele retoma, afirmar uma falha ao (para o homem, a existência se recebe; é por isso
coraçao de todo o enclausuramento do ser total e que o homem não se pertence) .
radicalmente, apoiar-se · nesta ruptura -para ser.' Paul Ricoeur é filósofo. No pleno sentido do
Neste sentido, 0 mal (tal como Deus) não é intra- termo. Não simples metodólogo de ciências inter-
temporal; acontece, de "uma vez por todas", peran- preta tivas,· ou sociólogo da história. As diferenças
'" Cf. ~ con/lit d~s intuprétatio11S. 1.5 . Cf. "Prefácio· à obra dt O. Rcboul. p . XII.
18
f9
e as rupturas internas da história e do mundo -
são para ele resolvidas pela simples colocaçã ndao
0
me'tod os apropria
· d os. S erza
· uma derivação t écn . e
ou funcional, que esconde os desafios e não aju~ª
o homem. As diferenças e as rupturas que p ª O MAL:
nieiam nossas existências estão, ao contrário, as:~
midas, para serem enviadas a uma ruptura essen- UM DESAFIO A FILOSOFIA E A TEOLOGIA
cial, constitutiva. Aquela onde tudo se encontra
Aquela que permite (que institui) as particulari~
dades, a8 densidades de cada presente, a singula-
ridade das pessoas. Chamá-la à transcendência 16 Que a filosofia e a teologia consideram o mal
tem desde logo uma primazia: irredutível ao simples como um desafio sem igual, os maiores pensadores,
futuro inscrito no tempo que passa, é ela que per- em uma ou outra disciplina, concordam em confes-
mite a memória - anamnese ou fazer memória _ sá-lo, por vezes com grande alarde. O importante
do passado, do real, da vida do homem nos corpos não é esta confissão, mas o modo pelo qual o desa-
e do que aí se faz ( poiético) ou se torna (teleologia). fio, e até mesmo o fracasso, é recebido : seria um
convite a pensar menos ou uma provocação a
pensar mais, ou até mesmo a pensar diferente-
Pierre Gisel mente?
A questão reside em um modo de pensar sub-
metido à exigência de coerência lógica, isto é, ao
mesmo tempo de não-contradição e de totalidade
sistemática. É este modo de pensar que prevalece
nos ensaios de teodicéia, na acepção técnica do ter-
mo, que, por mais diversas que sejam suas respos-
tas, concordam em definir o problema em termos
aproximadas, tais como estes (como se pode afir-
mar conjuntamente', sem contradição, as três pro-
posições seguintes): Deus é todo poderoso; Deus
é absolutamente bom; contudo, o mal existe. A teo-
16. ~'desde o início do Volontaire et de l'involontaire que o destino
das questões do mal (mais precisamente da falta, do pecado) . e, ~a
dicéia surge, então, como um combate a favor da
transcendência se ligam (p. 7, 31 e seguintes), e desde o 10~~·0 coerência, em resposta à objeção segundo a qual
também a transcendência se afirma "a origem radical da su JC- somente duas das proposições são compatíveis, mas
tividade" (p. 1 >.
21
20
nunca as três ao mesmo tempo. O que é pressu
pelo modo de colocar o problema não é p tPosto I - A experiencia do mal: entre a repreensão
- . t , , os o em
ques t ao, Is o e a propria forma proposicio e a lamentação
na1 na
qual os termos do problema são expressos e a
regra
d e coerencia a qual a soluçao admite dever sar
A • , _ '
O que fornece o caráter enigmático ao mal é a
fazer. Is- ·nossa posição de colocarmos, numa primeira apro-
ximação, sob um mesmo plano, pelo menos na tra-
Por outro lado, com efeito, não se leva dição judaico-cristã do Ocidente, fenômenos tão
con t a que es t as proposiçoes
. - em
exprimem um estad díspares como o pecado, o sofrimento e a morte.
" on t o- t e~l'~g1co
. "do pensamento que só foi atingidoo Pode-se mesmo dizer que é na medida em que o
sofrimento é constantemente tomado como ponto
num estag10 avançado da especulação e sob a con-
de referência que a questão do mal se distingue da
dição de uma fusão entre a linguagem confessional do pecado e da culpabilidade. Antes então de dizer
da religião e um discurso sobre a origem radical de o que, no fenômeno do mal cometido e no do mal
todas as coisas, na época da metafísica pré-kantia- sofrido, aponta na direção de uma enigmática pro-
na, como o demonstra até à perfeição a teodicéia fundidade comum, é preciso insistir na sua dispa-
de Leibniz. Não se leva em conta também que a ta- ridade de princípio.
refa de pensar - sim, de pensar Deus e de pensar No rigor do termo, o mal moral - o pecado em
o mal perante Deus - pode não estar esgotada linguagem religiosa - designa o que torna a ação
através de nossos raciocínios de acordo com a não- humana objeto de imputação, de acusação e de
contradição e a nossa inclinação para a totalização repreensão. A imputação consiste em consignar a
sistemática. um sujeito responsável uma ação suscetível de apre-
ciação moral. A acusação caracteriza a própria
A fim de mostrar o caráter limitado relativo ação como violação do código ético dominante na
da posição do problema no quaçlro argumentativo comunidade considerada. A repreensão designa o
da teodicéia, é preciso primeiro tomar a medida da juízo de condenação, em virtude do qual o autor da
amplitude e da complexidade do problema com os ação é declarado culpado e merece ser punido. É
recursos de uma fenomenologia da experiência do aqui que o mal moral interfere no sofrimento, na
n:al, depois distinguir os níveis do discurso percor- medida em que a punição é um sofrimento infli-
ridos pela especulação sobre a origem e a razãQ de g1.d o. iI
ser ~o mal, e enfim juntar o trabalho do pensar Tomado também no rigor de seu sentido, o
suscitado pelo enigma do mal às respostas da ação sofrimento distingue-se do pecado por traços con-
e do sentimento. trários. A imputação que centraliza o mal moral so-
22 23
bre um, agente res?onsável, o s?frime~to sublinha
seu carater essencialmente sofrido: nao a fazem contra sua réplica no mal sofrido por outro; é neste
chegar, ela nos afeta. Daí ~ surpreendente vari~~ ponto de intersecção -maior que o grito da lamen-
dade de suas causas: adversidade de natureza físi- tação é mais agudo, quando o homem se sente
ca, doenças e enfermidades do corpo e do espírit vítima da maldade do homem; isto testemunham
aflição produzida pela morte de entes querido~' tanto os Salmos de David como a análise de Marx
perspectiva assustadora de mortalidade própria' da alienação resultante da redução do homem ao
ct:
s:ziti,mento indignidade ~essoal, etc.; em oposi: estado de mercadoria.
çao a acusaçao que denuncia um desvio moral 0 Somos conduzidos a um grau mais alto, em
sofrimento caracteriza-se como puro contrário 'ao direção a um único mistério de iniqüidade, pelo
prazer, como não-prazer, isto é, comõ diminuição pressentimento de que pecado, sofrimento e morte
ãe- nossa integridade física, psíquica e espiritual exprimem de modo múltiplo a condição humana
. A repreensão, enfim e sobretudo,_o sofrimento opõ~ em sua unidade profunda. É certo que atingimos
"a lament~çã~, pois se a falta (o erro) faz o homem aqui o ponto onde a fenomenologia do mal é destro-
culpado, o sofrime~to o faz vítima: o que_reclama nada pela hermenêutica dos símbolos e dos mitos,
a la~e_p t~ção_: -- - estes oferecendo a primeira mediação lingüística
a uma experiência confusa e muda. Dois indícios
Sendo assim, o que é que em detrimento desta pertencentes à experiência do mal apontam em
irrecusável polaridade convida a filosofia e a teo- direção a esta unidade profunda. Do lado- moral, .
logia a pensar o mal como raiz comum do pecado primeiramente, a incriminação de um agente res-
e do sofrimento? :É, primeiramente, o extraordiná- ponsável isola no âmago tenebroso a zona mais
rio encadeamento destes dois fenômenos; por um clara da experiência da culpabilidade. Esta enco-
lado, a punição é um sofrimento físico e moral . bre em sua profundidade o sentimento de ter sido
acrescentado ao mal moral, quer se trate do castigo reduzida por forças superiores, que o mito não teria
corporal, de privação de liberdade, de vergonha, de dificuldade em exorcizar. Isto feito, o mito só fará
remorso; é por isso que se chama a culpabilidade exprimir o sentimento de pertencer a uma história
do mal, sempre já existente para cada um. O efeito
de pena, termo que ultrapassa a fratura entre o mal
mais visível desta estranha experiência de passi-
co~e~ido e o mal sofrido; por outro lado, uma causa vidade, no cerne mesmo do agir mal, é que o homem
principal de sofrimento é a violência exercida sobre se sente vítima ao mesmo tempo em que ele é culpa-
o homem · pelo homem: em verdade, fazer mal é do. ~ mesma confusão se processa na fronteira
sempre, de modo direto ou indireto, prejudicar entre culpado e vítima, observada partindo de outro
outrem, logo, é fazê-lo sofrer· na sua estruturara- pólo. Se a punição é um sofrimento reputado e
. '
c10nal - dialógica - o mal comet~do por um en- merecido, quem sabe se todo o sofrimento não é de
24 25
um modo ou de outro a ~unição de uma falta
~al ou cole~ra conh~~da o~ desconhecida? rendo como o mundo começout o mito diz como a
Esta interrogaçao que verifica até em nossas SO- condição humana foi gerada, sob sua forma global-
cieda.des seculares a experiência do luto., do qual n1ente miserável. As grandes religiões guardaram,
se talará no fim deste trxto, recebe um reforço da desta procu~_~e inteligibilidade glÓbal, a funçáp
exorcização paralela que faz do sofrimento e do pe- ideológica maio~ seguncfo- Clüford- Geer~ de fute-
cado a expressão das mesmas potênciais maléficas. ~ar o ethos__ e_o cos1no~ -~- uma Visão englobante.
Tal é o fundo tenebroso, nunca completan1ente des- É por isso que o problema do mal se tornará, nos
mistificado, que faz do mal um único enigma. estágios ulteriores, a maior crise da religião.
Mas a função de ordem do mito, ligada segun-
II - Os fil-çeis de discurso na es~ulação
do George.5-Dumézil a- rua contribuiç.ão cósmica,
tem _por corolário e por corretivo a p~ofusão de seus
sobre o mal ~as explicativos_ O domínio do mito, como o
atestarilãSliteraturas do Oriente Antigo, da índia
Nã.o podemos nos inclinar em direção às teodi- e do Extremo Oriente. revela-se um vasto canteiro
céias propriamente ditas, inquietas com a não- de experimentação, até mesmo de jogo, com as hipó-
contradição e a totalização sistemática, sem ter teses as mais variadas e as mais fantásticas. Neste
percorrido vários níveis de discurso de onde se u- imenso laboratório, não há solução definitivamen-
berta uma racionalidade cre.scen te. te concebida que não tenha sido tentada em rela-
ç.ão à ordem das coisas, e, conseqüentemente, na
1. O nivel do mi to solução do enigma do mal Para dominar esta infi-
nita variedade, a história comparada das ~eligiões
e a antropologia cultural supõem tipologias_que
Seguramente, o mito é a primeira maior tran-
distribuem as explicações míticas por entre .PJilO-
.sição. E sob diversos modos.
nisrno . o dualismo ou .soluções mistas, etc. O caráter
Em primeiro lugar, a ambivalência do ~orado, ;b;tr~to destas taxmoilliai. proveniente de um
enquanto tremenàum fascinosum , segundo Rudolf inevitável artüício metodológico, não deve masca-
Otto, confere ao mito o poder de assumir tanto o rar as ambigilidades e os paradoxos, freqüentemen-
lado tenebroso como o lado luminoso da condição te calculados de modo sábio, que a maior parte dos
humana. Em seguida, o mito incorpora a experidi- . mitos cultivam, precisamente no momento de ex-
cia fragmentária do mal nas grandes narrativas da PfiCã.r_a_origem do mal, tal como testemunha a nar-
origem da contribuição cósmica, onde a antropo- rativa bíblica do pecado original. aberta a outn:s
gênese se torna uma parte da cosmogênese, como explicações além daquela que pre\aleceu no Oci-
o mostra claramente a obra de Mircea Eliade. Di- dente cristão, principalmente _nos seguidores de

26 !7
Santo Agostinho. Estas classificações abstratas -
, nao
devem mascarar t ambem as grandes oscilações se 0 Senhor está em processo com seu povo, este
próprio também está em processo com Deus.
_ interior
. do domínio, mítico, entre repres'en-
no
taçoes, confinando a um nivelas narrativas lendá- Rapidamente o mito deve mudar seu registro:
rias e o folclore, e a outro os grandes tratados d0 torna-se necessário não só contar as origens, ·para
pensamento hindu. Todavia, é através de seu lad explicar como a condição humana em geral setor-
folclórico que o mito recolhe o lado demoníaco d~ nou o que ela é, mas argumentando, para explicar
experiência do mal, articulando-o numa língua. par que ela é assim, de modo diferente, para cada
gem. Inversame.nte, é. por se~ l~do esp:culativo que ser humano. É o estágio da sabedoria. A primeira e
prepara o caminho as teodice1as racionais, acen- a mais tenaz das explicaçõe_s oferecidas pela sabe-
J

tuando os problemas de origem. A questão está co- . doria é a da retribuição: todo o sofrimento é mere-
locada para as filosofias e as teologias : de onde . . . · cido porque é a punição de um pecado individual
vem o mal? 1 ou coletivo, conhecido ou desconhecido. Esta expli-
. cação tem pelo menos a vantagem de compreen~er
seriamente o sofrimento enquanto tal, como polo
2. O estágio da sabedoria distinto do mal moral. Mas esforça-se logo .em anu-
lar esta diferença, fazendo da ordem das coISas uma
Será que o mito poderia responder de modo ordem moral. Neste sentido, a teoria da retribuição
l11tegral à esperança dos seres humanos agentes e é a primeira das visões morais do ~u~do, para
sofridos? De modo parcial, na medida em que vem retomar uma expressão que Hegel aphcara a Kant.
ao encontro de uma interrogação contida na pró- Ora a sabedoria, porque argumenta, devia seguir
' ,., .
pria lame.ntação? "Até quando?"; "por quê?" Para ( 0 rastro de uma imensa contestaçao consigo mesma,
que o mito trouxesse somente a · consolação da : até mesmo num dramático debate de sábios no
ordem, substituindo a queixa do suplicante no \ interior de si próprios. A resposta da retribuição
quadro de um universo imenso. Mas o mito deixava não era satisfatória, a partir do momento em que
se_m respos~a uma parte importante da questão: uma certa ordem jurídica começava a existir, a
nao scm~.ente por quê?, mas por quê eu? Aqui a la- qual distinguia os bons dos maus e se aplicava a
mentaça-0 se torna queixa: pede as contas à divin- medir a pena do grau de culpabilidade ~e cada um.
dade. No domínio bíblico por exemp.lo é uma Em relação a um sentido embora rudimentar de
implicaçao ~
- i mportante da ' Aliança ' justiça, a repartição apresenta males e p~de p~recer
que ela acres-
centa à dimensão da partilha,
. -
e do processo•. Ora, arbitrária indiscriminada, desproporcional· por
• N. da T.; Procaeo "" movi
que este e'não aquele que morre de câncer? :or q~oe
~ndo; conunuid&dt ... _ mcnto frutuoso que sempre •e está ta· a morte de crianças? Por que tanto sofnmen '
- mov1mcnto.

28 29
como abuso da capacidade comum de enct
mento dos simples mortais? ureci- arrependimento da própria queixa? E não é em vir-
Se o livro de Job possui na literatura muna· tude deste arrependimento que Job ama a Deus
ugar
, . .
que se sab e, e porque primeiramente
ia1 sem razão (por nada) ?
0 1
- . con-
sidera a lamentaçao como queixa, e a queixa e Encontraremos estas questões na 3..ª parte deste
· ao n1ve
duz1da - Tomando como on-
' 1 d a con t est açao. texto, e nos limitaremos por um momento a seguir
história* a fraca condição dum justo sofredor ~a 0 fio da meada da especulação, aberta pela sabe-
um justo sem falhas submetido às mais d~r e doria.
, 1d ., as
provas, conduz ao n1ve e um dialogo poderosa-
mente ~rgumentado entre. Job e seus amigos, 0 3 . O estágio da gnose e da gnose antign6stica
debate mterno da sabedoria, espicaçada pela dis-
cordância entre o mal moral e o mal sofrimento O pensamento não teria passado da sabedoria
Mas o livro de Job comove-nos talvez ainda mai~ à teodicéia se a gnose não tivesse elevado a espe-
pelo caráter enigmático e talvez deliberadamente culação ao nível de uma gigantomaquia, onde as
ambíguo de sua conclusão. A teofania final, não forças do bem são engajadas num combate sem
fornecendo nenhuma resposta direta ao sofrimento tráguas com os exércitos do mal, tendo em vista a
pessoal de Job, deixa a especulação permanente- libertação de todas as parcelas de luz rendidas cati-
mente aberta em várias direções : a visão de um vas nas trevas da matéria. É a réplica agostiniana
criador com desejos insondáveis, de um arquiteto a esta visão trágica - onde todas as figuras do mal
c~j·as· medidas são incomensuráveis em relação às são envolvidas em um princípio do mal - que cons-
v1c1ss1tudes humanas, pode sugerir ou que a con- tituiu um dos pilares do pensamento ocidental. Não
sol~ção é ,diferente esc~tologicamente, ou que a tratando aqui tematicamente do pecado e da culpa-
queixa esta colocada fora de propósito, ao olhar de bilidade, nos limitaremos aos aspectos da doutrina
Deus, me~tre do bem e do mal (segundo a pala- agostiniana que dizem respeito ao lugar do sofri-
vra de !saias, 45, 7: "Eu formo a luz e crfo as trevas mento numa interpretação global do mal. É à gnose,
eu faç.o a felici~ade e crio a infelicidade."), ou qu~ com efeito, que o pensamento ocidental colocou o
a queixa em s1 mesma deve atravessar uma das problema do mal, como uma totalidade problemá-
~r~vas purificadoras que se evocará na 3.ª parte; as tica: Unde malum (de onde vem o mal?)?
ultimas palavras de Job não são: "Também retiro Se Agostinho pode opor à visão trágica da gnose
minhas palavras, eu me arrependo sobre a poeira e (que se classifica comumente por entre as soluções
sobre as cinzas?" · Que arrepend1men · - um
to, senao dualistas sem levar em conta o nível epistemológi-
co específico deste dualismo muito particular) é
• N. da T. : História de Job.
primeiramente porque ele pode emprestar da filo-
30
31
sofia, do neoplatonismo, ~ aparelho conceptual qualquer que seja, a do homem ou das criaturas
capaz de arruinar a aparenc1a conceptual do mito roais elevadas, tais como os anjos. Deste nada não
racionalizado. Dos filósofos, Agostinho sustenta se pode procurar qualquer causa além da má von-
que o mal não pode ser entendido como substância tade. O Contra Fortunatum extrai desta visão mo-
pois pensar o "ser~ é pensar "inteligivelmente": ral do mal a conclusão que aqui mais nos importa,
pensar "uno", pensar "bem " . En t-ao, o pensar filo- isto é, todo mal é, seja peccatum__(peça_do L. ~t~
sófico exclui todo o fantasma do mal substancial. poena (pena)i q.ma yis_ã o puramente_moral do mal,_
Por outro lado, nasce uma nova idéia de nada, e do e conduz: p9r se':! lado a _u~a vis~o~nal _da h~~Q:-_
ex nihilo, contida na idéia de uma criação total e · ria: não existe alma injustamente precipitada_ ~~ -
sem excesso. Ao mesmo tempo, um outro conceito ___ _
infelici~
..._____ ·
negativo, asiociado ao precedente, toma o lugar de o preço. a ·pagar pela coe~ência da doutrina é
uma distância ôntica entre o criador e a criatura enorme, e sua magnitude devia aparecer por oca-
- que permite falar de deficiência daquele que é criado sião da querela antipelagiana, separada da querela
enquanto tal; em virtude desta deficiência, toma- antimaniqueísta por várias dezenas d~ anos~_.P~I­
se compreensível que criaturas dotadas de livre es- dar crédito à idéia de que todo o sofrimento)._ tao
colha possam ''declinar-se" longe de Deus e "incli- fuJustam~nte repartido ou tão ~xcessivo, q~e sej~, é
nar-se" em direção ao que tem menos ser, em ·unia--retribl!i_ção ~o pecado, e. neces~o . d.ar--~
direção ao nada. - este-uma· dimerisão supr~-iI1divid~al, hi~~onca,_ ~té
mesmo genérica;_ é a resposta da doutr~~ do_ "pe-
Este primeiro traço da doutrina agostiniana
cado origfual'' ou "pecado de na~e~-· N~o se
merece ser reconhecido como tal, como a conjun- traçarão aqui as fases de sua const1tu1çao ~mter­
ção entre a ontologia e a teologia num discurso pretação literal do Gen. 3 relegada pela enf~
novo, o da onto-teo-logia. pauliniana do Rom. 5, 12-19, justüicaçao do batis-
O corolário mais importante desta negação da mo das crianças, etc.). Será notado somente o
substancialidade do mal é que a confissão do mal status epistemológico ou o nível de ~~so da p:~=
fundamenta sua visão exclusivamente moral. Se a posição dogmática sobre o pecado origmal. Ess
. - condensa. um, aspecto
cialmente, esta propos1çao e e-
questão unde malum? perde todo o sentido ontoló-
gico, a questão que a substitui, unde malum f acia- fundamental da experiência do mal.' isto e,ª .tár~.
mus? (de onde vem e por que fazemos o mal?), ríência ao mesmo- tempo in · d.ivi·du al e comum ª1
,. . de-
balança todo o problema do mal na esfera do ato, ª
da impotência do homem perante potencia al
"·, l' ,, antes de toda e qu -
da vontade, do livre arbítrio. O pecado introduziu moníaca de um mal ~a 3: ' 1que.
r intenção
~ nada de um gênero distinto, um nihil priva- q uer iniciativa má assmala vel a qua al
· t " eia do m
twum, de cuja queda é inteiramente responsável, deliberada. Mas esse" enigma da po en
33
32
"já _!á" é colocado na falsa clarida
caçao de aparência racional. de ~e uzna e
ceita de pecado de natureza d connullldo no ~li. . _ ue visam a unívocidade; é o caso d~
propos1çoes _q geralmente consideradas: De~s e
neas, a de uma transmissã~ bu1~osl !1~ões hetercogonê- três asserçoe~ bondade é infinita; o mal existe;
- . og1ca . -
g~:açao e a de _:ima imputação indiVictu Pür via de todo-p.ode;o~;;~entação ·é claramente apologé~i-
b1lldade, a noçao de pecado ori·g· al de CUJpa
f Iso . ma1 surg - . b) o fim a_ é responsável pelo mal; c) o~ mews
a conceito que se pode rela . e corno uni
co: Deusd na~evem satisfazer à lógica da nao-con-
gn . , .

c1onar col'h
ose ant ignost1ca. O con teúcto da gnose , ~ uzna
~s forma do discurso da gnose é r e n.eg~o.
;s
ernp~e~a da totalização sistemática. Ora, estas
trad1?:_0 s só foram preenchidas no quadro da on~­
isto e, a de um mito racionalizado. econst1tu1cta, cond1~oe . ntando aos termos emprestados do d1s-
teolog:ia, JU . D termos ex-
· por isso que Agostinho parece mais
É; so religioso, essencialmente eus, os . . .
q~e :elágio, porque percebeu que o nada :,ofu-:uto ~~:ídos da metafísica (por exemplo, platon_ica. ou
çao e ao mesmo tempo uma potência P.nva. .
cartesiana ) , tais como ser, nada, causa
. , . primeira,
Cada tad
von e m 1v1dual e a cada volição . gula a
· dº · supenor finalidade, infinito, finito, etc. A teod1~eia, no sen-
Por outro lado, Pelágio parece mais ver'd·In 5 r. tido restrito, é o florão da onto-teologia.
d . ad i zco, Por-
que. . erxa c a ser livre perante sua única respan- A este respeito, a Teodicéia de Leibniz perma-
sa.b11Idade, tal como Jeremias e Ezequiel já tinham nece o modelo dó gênero. Por um lado, todas as
0
feito antes, ao negarem que os filhos pagavam a formas de mal, e não somente o ma_l moral ~como
falta dos pais.
na tradição agostiniana), mas tambem o sofrimen-
De um modo mais sério, Agostinho e Pelágio, to e a morte, são consideradas e colo~das sob. a
oferecendo duas versões opostas de uma visão estri- denominação de mal met afísico, que e o defe1~
tamente moral do mal, deixam sem ·resposta o fatal de todo o ser criado, se é verdade que Deus so
protesto do sofrimento injusto, o primeiro conde- saberia criar um outro Deus. Por outro lado, pro-
nando-o ao silêncio em nome de uma inculpação duz na lógica clássica um enriquecimento. ao
em massa do gênero humano, o segundo ignoran- acrescentar ao princípio da não-contradição o prin-
do-o em nome de uma preocupação altamente cípio da razão suficiente, que se enuncia como
ética da responsabilidade. princípio do melhor, desde que se conceba a cria-
ção como proveniente de uma competição no enten-
dimento divino, entre uma multiplicidade de mode-
4 . O estágio da teodicéia
los de mundo, dos quais um único compõe o. má~­
mo de perfeições com o mínimo de defeitos. A noçao
Só se tem o direito de falar em teodicéia quan· de melhor dos mundos possíveis, tão divulgada por
do: a) o enunciado do problema do mal repousa sob Voltaire em Candido, depois do desastre do ter-
34
35
remoto de Lisboa, só é compreendida quand . l mais rude, embora não fatal, foi dado
apreendida através do nervo racional, isto .ºe - O g~ p~ntra a própria base do discurso on.t~­
par _K~n s~bre 0 qual a Teodicéia se tinha edifi-
0
cálculo de máximo e de mínimo, do qual nosso e,
delo de mundo é o resultado. É deste modo q:o-
princípio da razão suficiente realiza o abismo en~
teolog~co A ostinho a Leibniz. Conhece-se o impla-
~~~Í d:sm~ntelamento da teologia racional .ºp:ra-
0

o possível lógico, isto é, o não-impossível e 0 c re c Crítica da Razão Pura na sua parte int1tu-
tingente, isto é, o que poderia ser de outro mocton-
o.
1 ª
dodpe "Dialética Transcendental ''. p riva
· d a d e seu
1
.--
ºdesastre da Teodicéia, no próprio interior d ªª d" no item
suporte ontológico, a teodicéia_ integra-se
e~a~ de pensamento delimitado pela onto-teo1: d "Ilusão transcendental". Nao quer izer que o
.- gi~, e o resultado de um entendimento finito que. ;oblema do mal desapareça da cena filosófica .
. n~o po_dendo aceder aos dados deste c~lculo gran- ~em ao contrário. Desliga-se unicamente d': esfera
dioso, Junta apenas os signos dispersos do excesso prática, como o que não deve ser e que a ~çao deve
de perfeições em relação às imperfeições, na balan- combater. O pensamento encontra-se, assim, numa
_ça do bem e do mal. É necessário, então, um robus- ~situação comparável àquela onde Agostinho o tinha
to ot~mo hum~~º para afirmar que o balanço é conduzido : não se pode mais perguntar de onde
na totalldade positivo. E como sempre possuímos vem o mal, mas por que nós o praticamos. Como no
unicamente as migalhas do princípio do melhor, tempo de Agostinho, o proble1na do sofrimento é
devemos nos contentar com seu corolário estético, sacrificado pelo problema do mal moral. No entan-
em virtude do qual o contraste entre o negativo e to, com duas diferenças.
o positivo concorre para a harmonia do conjunto. De um lado, o sofrimento deixa de estar ligado
Esta pretensão de estabelecer um balanço positivo à esfera da moralidade, entendido como punição.
da balança dos bens e dos males sobre uma base Distingue-se do juízo teleológico da Crítica do
quase estética fracassa, desde o que se é confronta- Juízo, o qual, aliás, autoriza uma apreciação rela-
do a males, a dores, cujo excesso não parece poder tivamente otimista das disposições das quais o
ser ~ompensado por nenhuma perfeição conhecida. h~m:m é dotado por natureza, tal como a disposi-
~ ainda mais uma vez a lamentação, a queixa do çao a sociabilidade e à personalidade. disposições
Justo s~fredor que arruína a noção de uma com- que o homem deve cultivar. É em relação a esta
pensaçao do mal pelo bem como tinha antes arrui- tare~a moral que o sofrimento é obliquamente en-
nado a idéia de retribuiçã~. tendido no nível individual, mas sobretudo no plano
que Kant designa cosmopolita. A origem do mal-
* s~f~imen to perdeu assim toda a pertinência filo-
sotica.
* *
36
37
Por outro lado, a problemática d , . ra ão de sistemas na época do
sobre a qual se abre a Religi - o m~z radical a extraord~nan~ f.lo F'~hte Schelling, Hegel, para
· z - ao nos lim ·t ,
szmp es razao, rompe francamente i es da idealismo alemao. \gantes como Hamann, Jaco-
original, em detrimento de algumcom a do pecado - falar de outros g
nao
- , as semelhan
N ao so nenhum recurso a esquemas J·u 'ct· Ças. bi, Novalis. de Hegel é particularmente notáve~
I' · n icos e b10
·
og1cos confere ao mal radical uma in te li i . . - - O exe;p~~sta dos níveis de discurso, que é aqui
f alaciosa (Kant, neste sentido seria ma· g ~1hdade do ponto e 1 ue nele desempenha o pensa-
que agostiniano) , mas 0 prin~ípio do ~: pe _ag~ano
1 º J
nosso, .pe~o. pape
mento d1aletico, e, en
tro da dialética, a negativi-
. · A negativida-
modo nenhum uma origem no sentido tnao de ue lhe assegura o d1nam1sm0 .
do ter mo: e' somente a máxima' emporal
suprema qu ~:d: qem todos os níveis, o que constran~e. cada
de fun~amento subjetivo último a todas as e~~~~ f'gu~a do Espírito a se jogar em seu contrario e a
mas mas de nosso livre-arbítrio; esta máxima su- Ierar uma nova figura que ao mesmo temp~ supri-
prema f':ndamenta a propensão (Hang) ao mal em ~e e conserva a precedente, segui:d~ ? sentido d_u-
tod~ o genero humano (neste sentido Kant é con- 1 do Aufhebung hegeliano. A d1aletica faz assim
duzido para o lado de Agostinho) ao encon'tro da ~o~ncidir, em todas as coisas, o trágico e o lógico:
predisposição (Anlage) ao bem, constitutiva da é necessário que alguma coisa morra para .que .ª~­
vontade boa. Mas a razão de ser deste mal radical é guma coisa maior nasça. Neste sentido, a 1nfehcl·
"insondável" (unerforschbar) : "não existe para dade está em todo o lugar, mas em todo o lugar
nós razão compreensível para saber de onde o mal ultrapassada, na medida em que ~ recon~iliação a
moral pode primeiramente nos vir." Como Karl conduz sempre a uma dilaceraçao. Assim Hegel
Jaspers, admiro esta última declaração: como -pode retomar o problema da teodicéia do ponto
Agostinho, e talvez como o pensamento mítico, onde Leibniz o tinha deixado, por falta de recursos
compreende-se o fundo demoníaco da liberdade diferentes do princípio da razão suficiente.
humana, mas com a sobriedade de um pensamento Dois textos são, a este respeito, muito signifi-
sempre atento à não-transgressão dos limites do cativos. O primeiro, vamos lê-lo no Capitulo VI da
conhecimento e à preservação do distanciamento Fenomenologia do Espírito e diz respeito à disso-
entre pensar e conhecer através do objeto. lução da visão moral do mundo; é interessante notar
que se situa no fim de uma longa seção intitulada
Contudo, o pensamento especulativo não se "O espírito que está certo de si mesmo" (Der seiner
desarma perante o problema do mal. Kant não te~­ selbst gewisse Geist - ed. Hoffmeuter, p. 423
minou com a teologia racional: restringiu-a a uti- e 88. ) e antes do Capítulo VII, intitulado Reli-
lizar outros recursos diferentes deste pensamento gião. Este texto é intitulado "O mal e seu per-
- deste Denken - que o limite de conhecimento dão". Mostra o espirito dividido no interior de si
por objeto colocava na reserva. Testemunho disto é

38
m~smo entre a " .
anima os gr convieção,, ( U
nas suas Paixoes. 831des horne
(" ns de aeberzeu
- gun.g)
. esmo. ele é o Deus se mani-
na história"r) sem o que naaçao e se eh , que ui a certeza de si m ~e afirmarn como puro
. · e a "e a se f • carn
1 pOSS meio deles que )
f icada pela "b l onseiência J·u1
e a alma,, d
az de~- a
gante'' o«u1de
festan.~o ;:ad. J. Hyppolite, II, p. 200. , . -
que tem as mãos r , a quai se d. . , ~ernpu. saber. (
- '
-
entao sa
ber se esta dialet1ca nao
- d is-
'
consciência julgan1:P~, mas. que nã~~:ais_tarde A questao e,
. .
, ~ lo'gicos de que nao
recur:sos
mem de convie - enuncia a Viol" . lllaos. â reconstitui, e.oro 05 t' ismo proveniente da mesma
da contino-" . çao, que resulta da p e~c1a do ho. punha Leibniz, um 0 ~m d uma hybris racional
M ~ene1a e do arbítrio art1cuiandacte . . mas tambem e d m
audac1a, . . Q futuro está reserva o, co
as tamb:~ deve confessar de su~ inteligênci~ talvez maior a1_nda. t ude vítimas numa visão de
(ela, co11sc1encia) sua . sua propria finitud ·
efeito, ao
sofnmen o as
t u·smo é sempre recuperado no
hil'\rV'y.' ·
à
na sua pretensão ,,""';partic~larictacte dissimula/
'-Uuversalidade e t · ª mundo onde o pan raº1
~lSla de urna defesa do 'd ' malmente, a panlogismo?
fugia numa única pai l eal moral que se re- Nosso segundo texto responde 1:1ais diretamen~
avra. Nesta unil .. ~ .
nes ta dureza de cora - ... ~1.<:ralidade, te a esta questão, dissociando radicalmente a re
descobre um mal . çao, ª
consc1enc1a julgant~ conciliação da qual se tem falado de toda a cox;~ola­
Antecipando a ae:iguealal ~o da consciência agente. ção que se dirigiria ao homer:i enquanto v1t:m~·
H ogza da rrwral de Nietl.5Che Trata-se da seção bem conhecida d~ I~tro~u.çao a
d egel percebe o mal contido na própria acusaçã~ Filosofia da História, consagrada a astu~1a . da
e ~nde nasce a _visão moral do mal. Em que razão", que constitui talvez, em si própria, a últuna
consiste desde então o "perdão,,? Na desistência astúcia da teodicéia. Quando no quadro de uma
P.aralela de ,dois momentos do espírito, no reconhe- filosofia da história este tema aparece, adverte-nos
cunento mutuo de sua particularidade e na sua que o futuro dos indivíduos é inteiramente subor-
reconciliação. Essa reconciliação não é outra senão dinado ao destino do espírito de um povo (Volks-
o "espírito (enfin) certo de si mesmo". Tal como geist) e ao do espírito do mundo (Weltgeist). É
em São Paulo, a justificação nasce da destruição mais precisamente no Estado moderno, ainda como
do juízo de condenação. Mas, diferentemente de estado nascente, que o fim último (Endzweck) do
São Paulo, o espírito é indistintamente humano e espírito, a inteira atualização (Verwirklichung) da
divino, pelo menos neste estágio da dialética. As liberdade, se deixa captar. A astúcia da razão con-
últimas palavras do capítulo são: "O Si m da recoo: siste na utilização pelo espírito do mundo das
ciliação, no qual os dois eus desistem de seu ser-la paixões que animam os grandes homens e que
oposto, é o ser-lá do eu estendido à dualidade. Eu f~zem a história e desdobram uma segunda inten-
que permanece igu . . e que eDl ..
. al a SI-propno
. su.a çao . dissimulada na intenção primeira dos fins
egoistas que as suas paixões lhes fazem perseguir.
.
completa alienaçao -
e em seu comp1eto contrario,
41
. ue teria
São os efeitos não-pretendidos d _ . totelog1a, q -
que servem aos planos do Weltge .ªt açao ~ndividuai . , fico na on dicéia. O exern
t .b . - zs atraves da con. discurso fil?S~io projeto da teo ue nos parece
ri u1çao desta ação, aos fins mais r , . e do nciado ao prop de Karl Barth, q Tillich, em
guidos fora de cada "espírito do pov~"o:unos Perse- renu ue seguimos e ~ gel tal corno Paul á a réplica
no Estado correspondente. encarnados pio qf ·ta réplica a. e. te do nosso, ser
a per e1 tudo d1fe1en
-· A ironia da filosofia hegeliana da h " t, . urn outro
. es
.d is oria re a Schelling .
s1 e em supor ~ue fornece um sentido inteli , - ,,
aos grandes movimentos da história_ que t- giveI ' t . a " quebra da
- d " t· , . da diale ic .
nao iscu imos aqui. - e, exatamente na mect·ds ao que
5 O estagio , tica in-
- d f . . i a em
~ue a ques t ao a ehc1dade e da infelicidade é ab _ . t· o da Dogma ,.
. , . do famoso ar ig d das Nichtige,
hda. A história, diz-se, "não é o lugar da felicidad ~, No i~~~~s e o Nada" (Gott unF Ryser, Gene-
(Trad. Papaionnou, p. 116.) Se os grandes home~~ titulado 3 850 trad. franc. de . 1 81) Barth
da história possuem uma felicidade frustrada pela vol III, tomo ' ' 1963 vol 14, p. - ,,
história que fazem deles, que dizer das vítimas anô- e . Labor et Fides, ~ " ~ebrada,,' isto e, uma
nomas? Para nós que lemos Hegel depois de todas :tÍrma. que só un:a te~~~1~acÍo à totalização siste-
as catástrofes e todos os sofrimentos do século, a teologia que teria re . r na via temível de pensar
dissociação operada pela filosofia da história entre mática, pode ~e enga~a b Barth permaneceu
blema sena sa er se .
consolação e reconciliação tornou-se uma grande o mal. O pro declaração inicial.
fl. el até o fim a esta sua
fonte de perplexidade: quanto mais o sistema pros- , com efeito, a teolog1~ · q ue reco-
pera, mais as vítimas são marginalizadas. O êxito Quebrada e, .d de inconcillavel com a
do sistema faz o seu fracasso. O sofrimento, através al uma rea11 a . - A
nhece ao m bondade da cnaçao.
da voz da lamentação, é o que se exclui do sistema. bondade de Deus e com a o nome de das N ich-
É preciso então renunciar a pensar o m~l? ~
esta realida~e, Badr~ht.regs~~~l~ radicalmente do lado
tige com o flm de is in
teodicéia atingiu o primeiro degrau com o prmc1- negativo da expenenc1 . ,. .a humana' só levada em con- d
pio do melhor de Leibniz e um segundo com a ta por Leibniz e Hegel. É preciso pensar num .n.~ a
dialética de Hegel. Não existiria um outro uso hostil a Deus, um nada não somente de defl~1e_n­
da dialética a não ser a dialética totalizante? cia e privação, mas de corrupção e ~e .des~r~1çao.
Esta questão, vamos colocá-la à teol?gia cri~: Assim faremos justiça, não somente a intu1çao de
mais exatamente a uma teologia que teria romp Kant do caráter insondável do mal moral, enten-
com a confusão do humano e do divino sob o titulo dido como mal radical, mas também ao protesto do
ambíguo do espírito (Geist), que teria, por o~tro sofrimento humano que recusa se deixar incluir no
lado, rompido com a mistura do discurso religioso ciclo do mal moral, a título de retribuição, e mesmo

42 43
de se deixar enrolar na bandeira da Provi ~ b a "quebrada",
outro nome dado à bondade da criação dencta, t , dialética, em or
t'dO cs a , .
o ponto de partida, como pensar 7nais <Íueendo8 tal que sen !nome de dialet1ca. 1 r muito, alguns
dlcélas clãsslcas? Pensando diferentemente ;s teo. mereee o arth arrisca-seara.: longe quanto à
pensar diferentemente? Procurando na cristo~~~~ De fatotfdemais. Quer Ir ~:1não esteja conti-
o nexo doutrinal. Reconhece-se ai a lntranslgên~ta diráo_qu~ aDeus com o nada.' Deus encontrou e
{o
de Barth: o nada, é que o Cristo o venceu, se ant. relaçao ~fissão de que Cr~~m vem de Deus, mas
qullando a si mesmo na Cruz. Voltando do Cristo da na co ai? O nada tam e d proveniência da
a Deus, é preciso dizer que em Jesllll Cristo, Deus venceu o mentido, diferente a er no sentido de
encontrou e combateu o nada, e que desse modo em o;itro s Isto é para Deus, eleg or ser rejeitado,
"conhecemos" o nada. Uma nota de esperança é cri~ç~ :i~~ica, é r~jeitar algo i~:~ ~ado de rejeiç~o
aqui incluída: a controvérsia com o nada sendo ele1çao b o modo de nada. . da'' de Deus. ' O
assunto do próprio Deus, nossos combates contra existe so "a mão esquer . . ue
é de alguma forma ..: . er Ele só existe porq
mal tornam-nos co-beligerantes. Bem mais, se0 d é o que Deus na? qu e5) De outro modo, o
acreditamos que, em Cristo, Deus venceu o mal, de-
vemos acreditar também que o mal não pode mais
~u~ não o quer." (1~1d., ~~
1 só existe como ob]eto
cóiera de Deus. Assim,
- o condenável com
nos aniquilar: não é mais permitido falar dele como ma d ermaneça na - b O
reino sobre o na .a p d de sobre a criatura oa.
se ainda tivesse poder, como se a vitória fosse uni- o reino cheio de bon a não-coordenável com
camente futura.~ por isso que o mesmo pensamen-
reino sobre o nada perman~~:num de Deus, distinto
to que atestou a realídade do nada deveria se gra-
tificar atestando que ele já está vencido. Só faltaria primeiro constitui~ opus:elo de graça. Uma fras~
de seu opus proprium, e . t de pensamento.
então a plena manifestação de sua eliminação. t ho
resume este es ran é à omão esquer da, ele
mov1men
(Notemos de maneira breve que é unicamente pa~a "Por que Deus reina tamb ~ da " (Ibid. p. ·64.)
designar este afastamento entre a vitória já adqui- t do próprio na . . '
rida e a vitória manifestada que Barth afirma a é a causa e o mes Te . te da coor-
idéia de permissio da antiga dogmática: Deus Estranho pensamen t o, com efeito, es
.. díreíta -
e mao
"permite" que nós não vejamos ainda seu reino e denação sem conc1·1·iaça.. o entre mao
untar-nos se, pn- .
que sejamos ainda ameaçados pelo nada.) Em ,;er- esquerda de Deus. Podemos pert~ não quis respo~­
dade o 1nimirro já se tornou um servidor - - um meiro no último momento, Bar ·mento a teod1-
' 1
der ao dilema que co oco u em d Deus most..ra
movi
servidor
' bem bestranho e que assim permanecerá''
··
(Ibid., p. 81.) céia. se com efeito, a bondade · n~cio da criaçao,
que ·ele 'combate o mal desde 0 ~ original nanar-
Se interrompêssemos aqui a exposição da dou- 0
como o sugere a referência ~o~: Deus não está sa-
trina barthlana do mal, não teríamos mostrado em rativa do Gênese, a potência
45
44
• •

crificada a' sua b


Senhor "tamb,em, ondade?· 1nver
dade não é r . a sua mão sarnente nsar agir' sentir

s: r
jeição ist

.
!m1tada pela
o nao é
assemos se .
esquerda" 'se DeUs .
identifica~~ªc~ólera, Pe~:~a bon~
m um - ua re-
Ili - Pe '
·ndo queria sublinhar que o problema
Cone l-Ul é somente
do. mal nao
' um problema especulativo:
.
- ( no
convergência entre pensamento, açao
precisaríamos d'izerguir q esta linh a de · nao-querer'> ª ,·
exige.d moral e polltico) e uma t ransf ormaçao -
e · de, sua
.
lo'g1·
ca de
ue Barth n-
.. ao sa ·
mterpretaçã .
, .º' sent 1 o
cd ialetica "quebrada"conc1hação
t , · Em iulu da te<>d·iceia espiritual de sentimentos.
ompromisso p - , enamos so gar deu
s B · ropoe mente llla
r~cus_ou a lógica ~ad!l~ma que suscit:terpretaçã~~
e arth aceitou . -se uma outra . um frá i
1. pensar
çao sistemática nao-contradiçã a teodicéia No plano do pensamento, ao qual nos ativemos
teodicéia. É pr q~e comandou todasº e da totaliza~ desde que deixamos o estágio do mito, o problema do
. - ec1so ent- as solu -
pos1çoes segundo ', . ao, ler todas a çoes da mal merece ser chamado de desafio mas num sen-
doxo e eliminar t~~ogica kierkegaardia! suas pro- tido em que nunca deixou de se enriquecer. Um
suas formas en1gma
. , ticas. .~ do para-
a a sombra de conc1hação das desafio é, passo a passo, um fracasso para as sín-
teses sempre prematuras, e uma provocação para
cal.: Mas pode-mos colocar uma
B ~rth nao excede - mais rad·
. . questao
pensar sempre mais e de modo diferente. Da velha
teoria da retribuição até Hegel e Barth, o trabalho
se impos de um . u os hm1tes que e! , .1- do pensamento não deixou de se enriquecer, sob a
co? E - discurso rigorosa e propr10
~ via as especulações fos
· nao reabriu assi . , mente cristoló ·_ agulhada da questão "por quê?'' contida na lamen-
pensadores do Renasci: tação das vítimas; no entanto, vimos fracassar as
p~der ! - por Schellin en o, ret~madas - com ·que onto-teologias de todas as épocas; mas este fracasso
n1aco da divindade? p;~ a ~e~pe1to do lado demo- nunca convidou a uma capitulação pura e simples,
dar este passo que Barth la!1~ch não teve medo de mas a um refinamento da lógica espe~ulativa; a
e recusa. Mas ent- esmo tempo encoraJ·a dialética triunfante de Hegel e a dialética "quebra-
,
guarda contra os ao, como 0
pensamento se res- da" de Barth são a este respeito muito instrutivas:
denunciava acerca ~xc~ssos de exaltação que Kant o enigma é uma dificuldade inicial, próxima do
dizer ao mesmo tem o ermo.Schwiirmerei, que quer grito da lamentação; é uma dificuldade terminal,
A po entusiasmo e loucura mítica? produzida pelo próprio trabalho do pensamento;
sabedoria não sera, reconhecer o caráter apo-·
rético. do pensa este trabalho não é abolido, mas incluído na aporia.
conquistado pe:en~~ s~bre o mal, caráter aporético E contribuindo para esta aporia que a ação e a
de modo d'f p pno esforço de pensar mais e espiritualidade são chamadas a fornecer, não uma
1 erente? 47
. em demoníaca do mal
solução, mas uma resposta destinada a to ecular sobre a ong ética e politicamente
, a cont·inuar o trabalh
. t o e, rnar a ou de ~sP. oeus, atuemos
aporia produtiva, is propno
0
pensamento no registro do agir e do sentir. de ~~ntra o inal. ta~ prática não basta; pri-
, a respos ' orno
Dir-se-a .que infligido pelos homens e, c_ ,
2. Agir . o sofrunent~ . rtido de modo arb1tra-
rn~;i'mainos n? in1c10, r:~tmodo que, para mui~s,
Pela ação, o mal é antes de_ tudo o que não deve- ~io e indiscrun1nado~:recido; a idéia de qu7 exis-
ria ser, mas deve ser combatido. Neste sentido ele e, sentido .como tes permanece , como a ilustra
ação inverte a orientação do olhar. Sob a brisa 'd~
tem vítimas inocen
mecanismo
. do "bode expiatório" des-
. · te uma
mito, o pensamento especulativo volta atrás em crueJ.ment e , . d Por outro lado, exis
0
direção à sua origem: '~de onde v:m o mal?", per- ·to por Rene Girar · d aça-0 injusta dos
cri . to fora a ,
gunta. A resposta - nao a soluçao - da ação é : fonte de sofnmen ão aos outros, catastrofes
"que fazer contra o mal?" O olhar é assim voltado homens, ~ em rel:os a querela desencadea.da
ao futuro, através da idéia de uma tarefa a se rea- naturais (nao esqueÍJsboa) doenças e epidenuas
lizar, que é a réplica daquela de uma origem a pelo terremoto de tres de:Uográficos gerados pe~
descobrir. (pensemos nos desa_s h . pela lepra, para nao
·1 e ainda 01e,
. . to e morte. A ques-
Que não se acredite que, acentuando a luta I Peste, a co,. era ) . envelbecunel'l
prática contra o mal, se perde de vista uma vez falar do cancer , - mais "por que"?". ,
_, terna-se nao , .
mais o sofrimento. Muito pelo contrário. Todo o mal tão desde ent ao, t prática não e mais
m~ "por que eu?". A respos a
cometido por um ser humano, já vimos. é um mal
sofrido por outro. Fazer mal é fazer sofrer alguém. suficiente.
\A violência não pára de refazer a unidade entre
lmai moral e sofrimento. Desde então, t-Oda a ação, 3. Sentir •
ética ou política, que diminui a quantidade de . ue uero acrescenta:, a
violência exercida pelos homens uns contra os A resposta emocional q. q, transfonnaçoes
ou~ diminui a taxa de sofrimento no mundo. res11osta pra, t·ica diz· respeito as ,,.,"""en-
liillentarn a~
Que se retire o sofrimento infligido aos homens pelas quais os sentimentos que a sob os efeitos da
pelos homens e ver-se-á o Que ficará de sofrimento tação e a queixa · ~dern pas.saI · 't·i ca e
editaçáo filOSO
no mundo; para dizer a verdade, não o sabemos, de sabedoria enriquecida pela ~ destas transforrna-
tal modo a nolência impregna o sofrimento. teolóaica Tomarei como mode o ~eud o descreve
b. · to tal como r... lia".
ções o trabalho de lu .' d "Lut-0 e melanCO
Esta resposta prática não permanece sem . famoso intitula o
efeito no plano especulath·o: antes de acusar Deus num ensaio 49
. - da queixa,
·rituahzaça0
Z
ero de esp1
O luto é aí descrito como um desligamento , p asso • 0 graU
do, é a.d~ da etn si mesma. . . tualização da
a passo, de todas as amarras que nos fazem r nten i , . da esp1n .
sentir a perda de um objeto de amor como a per~­ e gundo estagio dir numa queixa
de nós mesmos. Este desligamento, que Freud cha~ urn ~e é deiXar-se expan bre a qual toda a
ma de trabalho de luto, torna-nos livres para novo8 iarnentri~~s. Esta via é aque~ausoA própria relação
investimentos afetivos. contra El' e Wiesel se enga)O . l é um processo
obra ~e i na medida em que e a convida ao
Queria considerar a sabedoria, com seus pro- da Aliança, homem provocam, .
longamentos filosóficos e teológicos, como uma mútuo que Deus e o . até articular uma "teologia
ajuda espiritual ao trabalho de luto, visando uma en ajamento nesta via, n K . Roth, em Encoun-
mudança qualitativa da lamentação e da queixa. o d gprotesto" (como a de Joh 1981) . Protesta con-
o il J hn Knox Press, rve de
itinerário que vou descrever não pretende de modo tering Ev , 0 . ~o" divina, QUe se .
nenhum ser um exemplo. Representa um dos cami- tr
a a idéia de "permissa d' , . s e QUe o próprio
t tas teo ice1a ,
nhos possíveis ao longo do qual o pensamento, a expediente em an ar quando distingue a
ação e o sentimento podem caminhar lado a lado. Barth se esforçou em repens l da plena manifes-
., · ·d sobre o ma , ·
vitória lª adquiri ª - contra Deus e aqui
A primeira maneira de tomar a aporia intelec- . t, ia A acusaçao .to
tual prcxiutiva é integrar a ignorância por ela tação des~ ~1 or · a . Tem origem no gn
a impacienc1a da esperanç nh '>"
gerada no trabalho de luto. A tendência dos sobre- "Até uando Se or ·
do salmista: q ' . - da la-
viventes a se sentirem culpados da morte de seu , . d espirituahzaçao ,
objeto de amor - pior ainda, a tendência das víti- Um terceiro ~stag10 a . da especulação, e
mas a se acusarem e a entrarem no jogo cruel da mentação, instru1da pela apon~· tar em Deus nada
vítima expiatória - tem necessidade de resposta : descobrir que as razões de acre. ~ade de explicar a
não, Deus não quis isso; quis ainda menos me pu- têro em comum com a nece~s1 to é somente um
. to o sofrunen f
nir. Aqui, o fracasso da teoria da retribuição, no origem do sofnmen · d Deus como a on-
plano especulativo, deve ser integrado ao trabalho ,, escândalo para quem compreen ~<:l"ª-0 incluindo a
, b m na cn.....,. ' ,1
de luto, como uma libertação da acusação, que te àe tudo o que e 0 m de suporta- o
indignaçao -
cont ra o mal' a corage , • t'V'l~ Jr•
_ às suas v1tµu-
coloca de algum modo o sofrimento a nu, enquanto , · t .a em relaçao "'e-
que imerecido. ( A este respeito, o pequeno livro do e o el.an de sunpa 1 do mal (con~i
então acreditamos ern Deus apesa~inação cri5tã da
rabino Harold S. Kushner - When bad things , d um.a denow t í
ç.o a confissão de f e e . se do um plano r -
happen to good peopl.e, Schocken Books, 1981 - é
qual cada urn dos artigos, ~r) Acreditar em
de grande valor pastoral) Dizer: não sei por qué; ~1avra apes ·
nário, começa pela y - s1
as coisas acontecem assim; existe o acaso no mun-
&
. da retribuição,
do ciclo . en-
\etall1ent e ainda cativa,
, sair cornP ão permanece ·n1·ustiça de seu
·oeus, apesar . .. é uma das maneiras de integrar a na.da. e 1arnentaÇ ciuei'xa da i
aporia especulativa no trabalho de luto. do ciual a a \Títitnª se
quanto que . no ocidente
Para lá deste limiar, alguns sábios avançam destll1º· rizonte da sabedoria, o da sabe-
solitariamente no caminho que conduz à renúncia
da própria queixa. Alguns chegam a discernir no
'fa\ve'L ~ste h~ncida d~ novo co~ó utn diálogo
sofrimento um valor educativo e purgativo. Mas é . deu-cris~ao, co algurn pont~ Cl':e e budismo
lu . budista era . deu-crist1an1srno
necessário afirmar sem h esitação que este sentido dorlª do entre )U
não pode ser ensinado : só pode ser encontrado ou o\onga . . . '
pr , ·i dent1flcar. . e"ncias sol1ta-
não encontrado; pode ser uma preocupação pasto- odera ·t ex-pen
ral legítima impedir que este sentido assumido pela P . separar es as i't1·ca contra o
~ quena 't' e noil
Nao . . da luta e ica r d boa vontade.
vítima não a reconduza à auto-acusação e à auto- abedona ens e
destruição. Outros, mais avançados ainda neste rias de s unir todos os horn . "ncias são, como
caminho de renúncia à queixa, encontram uma mal que ~ode ta luta, estas ex-pene ntecipações
Em relaça.o a es. tência não-violenta,.ª... humana
consolação sem igual na idéia de que o próprio
Deus sofre e que a Aliança, além de seus aspectos a~a;:~:~;e;~rábolas de u~~~~~.d~ª~nigma d~
conflituosos, culmina numa participação da dimi- ~nde, a violên~ia send~os~!redutíveL sofrimento, e
nuição das dores de Cristo. A teologia da Cruz - verdadeiro sofrunento,
isto é, a teologia segundo a qual o próprio Deus colocado às claras.
morreu em Cristo - não significa mais que uma
transmutação correspondente da lamentação. O
horizonte em direção ao qual se dirige esta sabe-
doria parece-me ser uma renúncia aos próprios de-
sejos dos quais a ferida gera a queixa: renúncia,
primeiro, ao desejo de ser recompensado por suas
virtudes, renúncia ao desejo de ser libertado pelo
sofrimento, renúncia ao componente infantil, do
desejo de imortalidade, que faria aceitar a própria
morte como um aspecto desta parte do negativo, da
qual K. Barth distinguià cuidadosamente o nada
agressivo, das Nichtige. Tal sabedoria é talvez esque-
matizada no fim do livro de Job, quando diz que
Job chegou a amar Deus por nada fazendo assim
perder a Satã sua aposta inicial: A~ar a Deus por •
52
O MAL
O mal, um desafio à teologia e à filoso-
fia . Como esse desafio (ou fracasso) é recebido?
Como um convite a pensar menos, ou uma provo-
cação a pensar mais ou mesmo a pensar diferen-
temente .
De um modo mais sério, as duas versões
opostas de uma visão estritamente moral do mal
deixam sem resposta o protesto do sofrimentot
inútil. Seja condenando-o ao silêncio em nome de
uma inculpação em massa do gênero humano. Seja
ignorando-o em nome de uma preocupação ética
da responsabi 1idade.
Paul Ricoeur conclui que o problema mi
não é somente especulativo: exige uma, conve
gência entre pensamento, ação e uma tranaforma
ção espiritual de sentimentos.

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