Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Marcelo Carvalho
In: PAIVA, R. (Org.). Filosofemas: ética, arte, existência. Ed. UNIFESP, São Paulo,
2010.
1
“Parece que não se pode dizer mais do que: Viva feliz”.Wittgenstein, Notebooks 1914-1916, p.
78.
2
“No Princípio era a ação”, Goethe, Faust, I (Werke, Bd. 3, S. 44), citado por Wittgenstein em
Über Gewissheit [Sobre a Certeza], 402.
1
elementos centrais de sua filosofia3. Nele encontramos, por exemplo, em um
trabalho ainda situado no universo de referência do Tractatus, uma descrição do
procedimento utilizado para caracterizar o conceito de bem que já apresenta todos os
elementos do que será chamado, nas Investigações, de “semelhança de família”4. De
modo mais central, o texto retoma temas do Tractatus, a forma geral da proposição
e os limites da linguagem, transitando com muita habilidade entre dizer e mostrar a
ética e sua singularidade, jogando-se contra as grades da linguagem e tornando
palpável seu limite. O caráter inefável e transcendental da ética (e, com ela, da
estética), apresentado de maneira breve e oracular no Tractatus, é retomado e
elaborado no contexto de uma exposição para um público amplo (característico dos
Heretics, que recebera nessa mesma época figuras distintas como B. Russell e V.
Woolf5) cujo objetivo expresso é se afastar tanto de uma leitura científica que
exigiria “um curso de conferências e não uma comunicação de uma hora”, quanto de
uma “popularização da ciência, isto é, uma conferência que pretendesse fazer vocês
acreditarem que entendem algo que realmente não entendem”. A escolha da ética
como tema, por seu “interesse geral”, se associa, então, ao objetivo de que a Lecture
“ajude a esclarecer suas próprias idéias a respeito [do tema] (mesmo que vocês
estejam em total desacordo com o que vou dizer)”. Ao final, a Lecture se apresenta
3
Wittgenstein, “A Lecture on Ethics”, in: Philosophical Occasions, p. 36 e segs.; “Conferência sobre
Ética”, tradução de D. Dall’Agnol, in: Ética e Linguagem, p. 215 e segs. Wittgenstein debateu
posteriormente esse trabalho com os membros do Círculo de Viena, no início de 1930; cf. Ludwig
Wittgenstein and the Viena Circle, p. 92-93 e 115-116.
4
A apresentação do que seria a ética, na Lecture, é precedida pela seguinte explicação, próxima do
procedimento das Investigações, ainda que marcada pela tentativa de identificar o que há de comum
à enumeração (sobre isto, cf. D. Stern, Wittgenstein on Mind and Language, p. 110 e segs.): “para
que vejam da forma mais clara possível o que considero o objeto da ética, vou apresentar antes
várias expressões mais ou menos sinônimas, cada uma das quais poderia substituir a definição
anterior e ao enumerá-las pretendo obter o mesmo tipo de efeito que Galton obteve quando
colocou na mesma placa várias fotografias de diferentes rostos com o fim de obter a imagem dos
traços típicos que todos eles compartilhavam. Mostrando essa fotografia coletiva, poderei fazer
ver qual é o típico – digamos – rosto chinês. Deste modo, se vocês olharem através da série de
sinônimos que vou apresentar, serão capazes de, espero, ver os trações característicos que todos
têm em comum e que são característicos da Ética.” Cf. Wittgenstein, Philosophische Untersuchungen
[Investigações Filosóficas], 64 e segs.
5
R. Monk, Wittgenstein, p. 253.
2
talvez mais próxima de um exercício de ascese do que de um trabalho teórico sobre
o bem ou sobre a ética (o qual, aliás, mostraria ser impossível).
6
Esse não será o caso, entretanto, das observações reunidas nas Vermischte Bemerkungen [Cultura e
Valor], por exemplo, como consideraremos adiante.
7
Cf. Ludwig Wittgenstein and the Viena Circle, p. 116 (dez/1930): “se me dissessem qualquer coisa
que fosse uma teoria [sobre o que é “valoroso”], eu diria: não, não! Isto não me interessa. Ainda
3
ética no sentido estabelecido pela definição de Moore. Essa abordagem do debate
sobre a ética, para além da novidade de sua condução por meio de uma investigação
da essência e dos limites da linguagem, retoma um procedimento comum da
tradição empirista que remete ao não-cognitivismo que caracteriza a ética humeana
e, para além dele, em última instância, à distinção entre conhecimento sobre
questões éticas e conhecimento empírico estabelecida no Ensaio sobre o Entendimento
Humano de J. Locke.
Ao invés de dizer que “A Ética é a investigação sobre o que é bom”, poderia ter
dito que a ética é a investigação sobre o valioso, ou sobre o que realmente
importa, ou ainda, poderia ter dito que a Ética é a investigação sobre o
significado da vida, ou daquilo que faz com que a vida mereça ser vivida, ou
sobre a maneira correta de viver. Creio que se observarem todas essas frases,
então terão uma idéia aproximada do que se ocupa a Ética.
que a teoria fosse verdadeira, não me interessaria – isto não poderia ser a exata coisa que eu estava
procurando”.
4
parece apontar para a investigação de uma prática, de uma forma de vida, e não de
um conteúdo cognitivo. Novamente o texto aponta para uma concepção não
cognitivista (ou extra-linguística) da ética, referindo-a ao contexto da ação e da
prática. O esclarecimento dessa enumeração parece fazer-se de forma mais
adequada quando aproximada de observações como a feita nos Notebooks e no
Tractatus a respeito do “problema da vida”8.
O percurso proposto pela Lecture tem uma estrutura que carece de explicação. Se
desconsiderarmos o parágrafo inicial do texto, que se apresenta como preâmbulo e
apresentação, em pouco mais de duas páginas Wittgenstein apresenta os argumentos
e a conclusão que caracterizariam sua investigação:
Devo dizer agora que, se considerasse o que a ética deveria ser realmente se
existisse uma tal ciência, este resultado parece-me bastante óbvio. Parece
evidente que nada do que somos capazes de pensar ou de dizer poderia ser tal
coisa.
8
Wittgenstein, Tractatus, 6.521: “Percebe-se que a solução do problema da vida no
desaparecimento desse problema. (Não é por essa razão que as pessoas para as quais, após longas
dúvidas, o sentido da vida se fez claro não se tornaram capazes de dizer em que consiste esse
sentido?)”.
5
se proporá um outro tipo de exercício, definido a partir do cenário inicialmente
estabelecido pela análise – e que será esboçado adiante.
Um juízo ético absoluto, por outro lado, ou um juízo ético propriamente dito,
diferentemente dos juízos relativos, não pode ser colocado na forma de uma
9
Segundo o Tractatus, a forma geral da proposição seria “as coisas estão assim” (4.5) ou “algo está
assim e assim” (5.552); sobre a diferença entre a forma lógica aparente e a forma lógica real,
Wittgenstein comenta: “o mérito de Russell é ter mostrado que a forma lógica aparente da
proposição pode não ser sua forma lógica real” (Tractatus, 4.0031).
6
descrição de fato, na medida em que apresentaria algo de importante ou sublime, e
não algo contingente. A Lecture nos remete às concepções do Tractatus ao afirmar
que
Todas as proposições têm igual valor. O sentido do mundo deve estar fora dele.
No mundo, tudo é como é e tudo acontece como acontece; não há nele nenhum
valor – e se houvesse, não teria nenhum valor.
E concluía:
É por isso que tampouco pode haver proposições na ética. Proposições não
podem exprimir nada de mais alto.10
O que agora desejo sustentar é que, apesar de que se possa mostrar que todos os
juízos de valor relativos são meros enunciados de fatos, nenhum enunciado de
fato pode ser nem implicar um juízo de valor absoluto.11
10
Wittgenstein, Tractatus, 6.4, 6.41 e 6.42.
11
Wittgenstein, Lecture; cf. Hume, Tratado da Natureza Humana (THN), p. 469, trecho em que se
estabelece a cisão entre afirmações sobre fatos e valores (cf. também “parte 4”, abaixo).
7
completa ao domínio dos fatos, é um pressuposto à afirmação da inefabilidade da
ética, elemento principal da concepção de Wittgenstein sobre o tema.
12
Wittgenstein, Tractatus, 6.421.
13
A referência imediata a que Wittgenstein remeteria seriam Russell e Moore; no caso de Moore,
o Principia Ethica apresentaria uma concepção que segundo algumas leituras (não necessariamente
corretas) sustenta a distinção humeana entre fatos e valores (em sua “recusa da falácia naturalista”),
ainda que não se possa caracterizá-lo de não-cognitivista; há, ainda, certamente, uma proximidade
grande entre a distinção apresentada por Wittgenstein (em particular sua referência à vontade) e a
distinção de Schopenhauer entre vontade e representação.
14
D. Pears, Hume’s System, p. vii; Pears se refere, no contexto em que se situa esta citação, ao
naturalismo de Hume, que seria precursor das concepções de Wittgenstein.
8
Ainda que a caracterização da ética apresentada pelo Wittgenstein da Lecture,
ecoando o Tractatus, de que não se pode dela falar com sentido, seja surpreendente e
intrigante, e radicalmente inovadora na forma de sua abordagem do tema a partir da
investigação da forma geral da proposição, ela se revela, em certa medida, situada
em uma longa tradição de distinção entre moral e ciência empírica. Esse debate
remonta às alternativas de abordagem do tema construídas pelo Ensaio de J. Locke,
e que possibilitam a ele, nesse texto, como a Wittgenstein (no Tractatus e na Lecture)
falar da ética sem nunca falar de ética, sem nunca entrar no debate sobre o bem,
etc15. Remonta ainda à estruturação de uma concepção não-cognitivista de ética por
Hume, a qual sustenta sua contraposição radical entre fatos e valores.
Locke conta que o projeto de escrever seu Ensaio sobre o Entendimento Humano se
originou de uma conversa com amigos a respeito dos “princípios da moralidade e da
religião revelada” sobre a possibilidade de uma ciência moral, de um sistema moral
“necessário, eternamente verdadeiro”, comparável à matemática16. Não é difícil
compreender o desafio colocado pela moral (e também pela matemática) a um
empirista que, como Locke, afirma que todo o material de que a mente dispõe, e,
portanto, todo o conhecimento, vem “em uma palavra, da experiência”, seja da
experiência externa, dos objetos sensíveis, seja do que chama de experiência
interna, das operações da mente.
15
“Locke foi o primeiro filósofo a, de modo consistente, dar atenção à epistemologia da moral
(...). Nenhum filósofo antes de Locke contrasta ou compara nossa habilidade para descobrir fatos
sobre o mundo natural com nossa habilidade para descobrir as verdades da moral, considerando
ambos de uma perspectiva epistemológica. Como explicou a seu crítico James Lowde, Locke não
estava interessado em ‘estabelecer regras morais’ no Ensaio, mas antes em ‘mostrar a origem e
natureza das idéias morais, e enumerar as regras de que os homens fazem uso em relações morais,
se essas regras são verdadeiras ou falsas...’ (E II. xxviii.11: 354 note)”; C. Wilson, "The Moral
Epistemology of Locke’s Essay", in The Cambridge Companion to Locke’s Essay, p. 381-382.
16
R. I. Aaron, John Locke, p. 256.
9
Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente
o próprio conhecimento. Empregada tanto nos objetos sensíveis externos como
nas operações internas de nossas mentes, que são por nós mesmos percebidas e
refletidas, nossa observação supre nosso entendimento com todos os materiais
do pensamento.17
O próprio Ensaio observa que a opinião comum dos homens sobre a moral e sobre
Deus resulta, em geral, da limitação do contexto em que ocorre. Ao recusar o
caráter inato da idéia de Deus, Locke se refere aos povos “completamente sem
idéias sobre Deus e princípios de moralidade”. Sua ignorância resultaria de não
17
Locke, Ensaio, II, i, 2.
18
Kant, Die Metaphysik der Sitten [Metafísica da Moral], “Vorrede” (Kant-W Bd. 8, S. 322).
10
usarem de modo adequado suas faculdades e de se contentarem com as "opiniões,
maneiras e coisas de seu país como as encontraram, sem procurar nada além”19.
19
Locke, Ensaio, I, iii, 12.
11
como diz Wittgenstein, como um conjunto de proposições tão contingentes quanto
a descrição de fatos da experiência?
12
experiência, que, em última instância, apesar de construídos a partir de material
oferecido pela experiência, não trata dela,
Desde que eles [os discursos sobre moral] são acerca de idéias na mente, que
não é nenhuma delas falsa ou desproporcionada, não tendo eles quaisquer seres
externos para os arquétipos aos quais se referem e lhes podem corresponder.22
É muito mais fácil para os homens construir em suas mentes uma idéia que deve
ser o padrão daquilo a que darão o nome justiça, e dar essa denominação a todas
as ações que concordarem com o padrão assim estabelecido, do que, depois de
ter visto Aristides, construir uma idéia que deve em tudo ser exatamente como
ele, que é como ele é, independente da idéia que os homens tenham dele. Para
um, não é necessário senão saber a combinação de idéias que são colocadas
juntas em suas próprias mentes; para os outros, eles devem investigar em toda a
natureza características abstrusas e ocultas, e diversas qualidades, da coisa
existente fora deles.23
22
Locke, Ensaio, III, xi, 17.
23
Locke, Ensaio, III, xi, 17.
13
É a mente sozinha que as coleciona e lhes dá a união de uma idéia.24
Assim, em certo sentido, a moral, como a matemática, não existem no mundo, não
representam nada realmente existente nele. Por isso a explicitação do significado
desses conceitos (da moral e da matemática) se dará pela “enumeração” das idéias
simples que foram unidas pela mente, às quais se refere o termo, em que os sentidos
são irrelevantes (diferente do que ocorre no caso dos nomes de idéias sensíveis ou
de substâncias)25.
Locke não é claro quanto ao que compreende ser esse processo de “construção na
mente” dos conceitos morais, nem quanto a porque conceitos assim construídos
poderiam ser relevantes no contexto de nossa experiência. Mas é claro que é por
serem uma construção que não carece de adequação a nada de exterior, que se
apresente como objeto da experiência, e, portanto, à possibilidade de serem
plenamente conhecidos em sua essência, e de suas relações serem desveladas, que se
deve a afirmação de que a moral, como a matemática, seria passível de
demonstração e de conhecimento certo.
24
Locke, Ensaio, II, xi, 18.
25
Locke, Ensaio, II, xi, 18.
26
Locke, Ensaio, III, xi, 16; o texto continua: “nor let any one object, that the names of substances
are often to be made use of in morality, as well as those of modes, from which will arise
obscurity. For, as to substances, when concerned in moral discourses, their diverse natures are
not so much inquired into as supposed: v.g. when we say that man is subject to law, we mean
nothing by man but a corporeal rational creature: what the real essence or other qualities of that
creature are in this case is no way considered”.
14
desse direito”), que são por nós estabelecidas e às quais “anexamos” os nomes aqui
citados – como seria o caso da geometria euclidiana (e, portanto, "posso saber com
tanta certeza que esta proposição é verdadeira como que um triângulo tem três ângulos iguais
a dois retos”). Ou, ainda, do conceito de governo (“o estabelecimento da sociedade
com base em certas regras ou leis que exigem conformidade a elas”) e do conceito
de “liberdade absoluta” (“cada um fazer o que for de seu agrado”) deriva a verdade
necessária de que "nenhum governo permite liberdade absoluta."
Sou tão capaz de estar seguro acerca da verdade desta proposição como de
qualquer uma nas matemáticas.27
27
Locke, Ensaio, IV, iii, 18.
28
“Estou confidante que, se os homens com o mesmo método, e com a mesma indiferença,
investigassem a verdade moral como o fazem com a da matemática, descobririam que eles têm
entre si uma conexão mais forte, e uma conseqüência mais necessária de nossas idéias claras e
distintas, e que se aproximam bastante da demonstração perfeita do que habitualmente se tem
imaginado.”; Locke, Ensaio, IV, iii, 20.
29
Cf. Locke, Ensaio, II, xi, 17.
15
A concepção de Locke parece estranha, seja quando enunciada no contexto
contemporâneo, seja quando considerada da perspectiva das convulsões da
Inglaterra do século XVII, em meio às quais foi concebido. Entretanto, para além
das dificuldades em sua aceitação e de uma longa história de críticas, já desde os
leitores seus contemporâneos30, o projeto de uma demarcação dos estatutos e
métodos característicos da ciência moral (bem como da matemática), diferenciando-
a do conhecimento empírico, o qual se desdobraria, para ele, na possibilidade de
conhecimento exato na matemática e na moral, diferente da irreparável incerteza
quanto ao conhecimento das causas ou das essências, se revela duradouro e bastante
influente, não só na tradição empirista. De modo mais específico, a delimitação de
um terreno particular para a moral, a partir da qual se estabelece sua tentativa de
resposta à pergunta por uma ciência dos valores, a exclusão da matemática e da ética
do domínio da experiência e a conseqüente particularidade do estatuto do
conhecimento sobre esses temas, é em geral, mantida, mesmo por seus críticos.
No início do Livro III do Tratado da Natureza Humana31 Hume apresenta objeões que
podem ser dirigidas em particular à concepção de Locke sobre a moral. Ele se refere
aos filósofos que concebem a ética como ciência demonstrativa, segundo os quais
a virtude não passa de uma conformidade com a razão; que existe uma eterna
adequação e inadequação das coisas, e esta é a mesma para todos os seres
racionais que as consideram; que os critérios imutáveis do que é certo e do que
é errado impõe uma obrigação, não apenas às criaturas humanas, mas também à
própria Divindade – todos esses sistemas concordam que a moralidade, como a
verdade, é discernida meramente por meio das idéias, de sua justaposição e
comparação. 32
30
Cf. e.g. J. B. Schneewind, “Locke's moral philosophy”, in: The Cambridge Companion to Locke.
31
Hume, THN, III, I, i.
32
Hume, THN, III, I, i, 4.
16
A desproporção entre esse racionalismo extremado33 e a concepção empirista não
parecia aceitável, e não se ajustava ao naturalimo de Hume, levando-o a elaborar
uma outra alternativa a respeito da singularidade da moral e de sua relação com o
conhecimento em geral. Frente à impossibilidade de que a “razão sozinha” estabeleça
a distinção entre “entre o bem e o mal morais”, trata-se de identificar outros
princípios que concorrem e nos possibilitam “fazer essa distinção”34.
Sua recusa de que a razão sozinha possa fundar a distinção entre “o bem e o mal
morais” se apresenta como um resultado da investigação sobre o entendimento no
Livro I do Tratado e na Investigação acerca do Entendimento Humano. Resulta ainda,
nesse contexto, da distinção entre os vários “objetos” da mente, a qual, por sua vez,
se desdobra na caracterização de diferentes formas de conhecimento ou em
diferentes relações com as percepções da mente. Hume apresenta uma divisão de
todas as percepções da mente
Nossa relação com as impressões é passiva e imediata. Não cabe nesse caso falar de
conhecimento, na medida em que o conhecimento é uma relação, o que não ocorre
no caso das impressões.
33
“Certos filósofos propagaram persistentemente a opinião de que a moralidade é passível de
demonstração. E embora jamais ninguém tenha sido capaz de dar um único passo nessas
demonstrações, dá-se por suposto que essa ciência pode alcançar uma certeza igual à da geometria
ou da álgebra”; Hume, THN, III, I, i, 18.
34
Hume, THN, III, I, i, 4.
35
Hume, EHU, II.
36
Hume, EHU, II.
17
A razão é a descoberta da verdade ou da falsidade. A verdade e a falsidade
consistem no acordo e no desacordo seja quanto à relação real de idéias [real
relations of ideas], seja quanto à existência e aos fatos reais [real existence and matter
of fact]. Portanto, aquilo que não for suscetível desse acordo ou desacordo será
incapaz de ser verdadeiro ou falso, e nunca poderá ser objeto de nossa razão.37
O domínio das questões de fato, por outro lado, aquele em que se encontra o
conhecimento empírico, tem uma natureza bastante distinta. Não se pode nesses
casos falar de contradição e demonstração. Seu contrário é sempre possível e pode
37
Hume, THN, III, I, i, 9.
38
Hume, EHU, IV, I.
18
ser concebido pelo intelecto “com a mesma facilidade e clareza, como perfeitamente
conforme à realidade”. 39
A moral não é situada por Hume em nenhum dos terrenos demarcados pela
investigação dos objetos da razão: não seria nem relação de idéias como a
matemática, como suporia Locke, nem questão de fatos ou objeto de uma ciência
empírica (o que, como vimos, a aproximaria da antropologia empírica). Para
compreendê-la é necessário explicitar que para além da dicotomia comumente
identificada aqui, entre o conhecimento dessas diferentes operações, que se
desdobra no caráter certo e demonstrativo da matemática, e na impossibilidade de
demonstração no caso de todo conhecimento sobre questões de fato, há um terceiro
termo a ser considerado. Da distinção anterior, entre impressões e idéias, e da
limitação das operações da razão às idéias, Hume deriva (ou explicita) uma cisão
radical entre a razão e a prática, entre pensamento e paixão. "Um princípio ativo
nunca pode ser fundado em um princípio inativo” 40. A razão, sendo “inativa”, não
teria nenhuma influência sobre nossas paixões ou ações. Assim, na medida em que
os preceitos morais “têm uma influência sobre as ações e os afetos”,
segue-se que não pode ser derivada da razão, porque a razão sozinha, como já
provamos, nunca poderia ter tal influência. A moral desperta paixões, e produz
ou impede ações. A razão, por si só, é inteiramente impotente quanto a esse
aspecto. As regras da moral, portanto, não são conclusões de nossa razão.41
39
“Que o sol não nascerá amanhã não é uma proposição menos inteligível e não implica mais
contradição do que a assertiva contrária, de que o sol nascerá. Seria vão, por isso, tentar
demonstrar a sua falsidade. Se isso fosse demonstrativamente falso, implicaria uma contradição e
jamais poderia ser claramente concebido pelo intelecto”; Hume, EHU, IV, I.
40
Hume, THN, III, I, i, 7.
41
Hume, THN, III, I, i, 6.
19
distinguem em impressões e idéias, toda sua investigação da moral parte da resposta
à questão sobre se é
Ora, é evidente que nossas paixões, volições e ações são incapazes de tal acordo
ou desacordo, já que são fatos e realidades originais, completos em si mesmos,
e não implicam nenhuma referência a outras paixões, volições e ações. É
impossível portanto, declará-las verdadeiras ou falsas, contrárias ou conformes à
razão.44
42
Hume, THN, III, I, i, 3.
43
O argumento se construirá por redução ao absurdo; cf. Hume, THN, III, I, i, 18: “Se o
pensamento e o entendimento sozinhos fossem capazes de fixar os limites do certo e do errado, a
qualidade de virtuoso ou vicioso teria de estar em algumas relações de objetos, ou então ser uma
questão de fato, descoberta por nosso raciocínio”.
44
Hume, THN, III, I, i, 9; o texto segue (§10): “Esse argumento é duplamente vantajoso para
nosso propósito presente. Pois prova diretamente que as ações não extraem seu mérito de uma
conformidade com a razão, nem seu caráter censurável de uma contrariedade em relação a ela; e
prova a mesma verdade mais indiretamente, ao nos mostrar que, como a razão nunca pode impedir
ou produzir imediatamente uma ação, contradizendo-a ou aprovando-a, tampouco pode ser a
fonte da distinção entre o bem e o mal morais, os quais constatamos que têm tal influência”.
20
As distinções morais, portanto, não são frutos da razão. A razão é totalmente
inativa, e nunca poderia ser a fonte de um princípio ativo como a consciência ou
sentido moral. 45
Mas haverá alguma dificuldade em se provar que o vício e a virtude não são
questões de fato, cuja existência possamos inferir pela razão? Tomemos
qualquer ação reconhecidamente viciosa: o homicídio voluntário, por exemplo.
Examinemos sob todos os pontos de vista e vejamos se podemos encontrar o
fato ou a existência real que chamamos de vício. Como quer que a tomemos,
encontraremos somente certas paixões, motivos, volições e pensamentos.Não
há nenhuma outra questão de fato neste caso. O vício escapa-nos por completo,
enquanto consideramos o objeto. Não encontraremos até dirigirmos nossa
reflexão para nosso próprio íntimo e darmos com um sentimento de
desaprovação, que se forma em nós contra essa ação. Aqui há um fato, mas ele é
objeto de sentimento [feeling], não de razão. Está em nós, não no objeto.47
O vício e a virtude, portanto, podem ser comparados a sons, cores, calor e frio,
os quais, segundo a filosofia moderna, não são qualidades nos objetos, mas
percepções na mente.48
45
Hume, THN, III, I, i, 10.
46
Hume, THN, III, II.
47
Hume, THN, III, I, i, 26.
48
Hume, THN, III, I, i, 26.
49
Hume, seção II do Livro III do Tratado, intitulada “As distinções morais são derivadas de um
sentido moral”, §1: “Assim, o curso de nossa argumentação leva-nos a concluir que, uma vez que
21
representação. À moral é atribuído um terreno próprio, contraposto ao domínio das
representações e da ciência empírica, mas não mais compartilhado pela matemática.
Não posso deixar de acrescentar a esses raciocínios uma observação que talvez
se mostre de alguma importância. Em todo sistema de moral que até hoje
encontrei, sempre notei que o autor segue durante algum tempo o modo
comum de raciocinar, estabelecendo a existência de Deus, ou fazendo
observações a respeito dos assuntos humanos, quando, de repente, surpreendo-
me ao ver que, em vez das cópulas proposicionais usuais, como é e não é, não
encontro uma só proposição que não esteja conectada a outra por um deve ou
não deve. Essa mudança é imperceptível, porém da maior importância, posi
como esse deve ou não deve expressa uma nova relação ou afirmação, essa
precisaria ser notada e explicada; ao mesmo tempo, seria preciso que se desse
uma razão para algo que parecesse inteiramente inconcebível, ou seja, como
essa nova relação pode ser deduzida de outras inteiramente diferentes. Mas já
que os autores não costumam usar essa precaução, tomarei a liberdade de
recomendá-la aos leitores. Estou persuadido de que essa pequena atenção seria
suficiente para subverter todos os sistemas correntes de moralidade, e nos faria
ver que a distinção entre o vício e a virtude não está fundada meramente nas
relações dos objetos, nem é percebida pela razão.50
o vício e a virtude não pode ser descoberto unicamente pela razão ou comparação de idéias, deve
ser por meio de alguma impressão ou sentimento por eles ocasionados que somos capazes de
estabelecer a diferença entre os dois. Nossas decisões a respeito da retidão e da depravação morais
são evidentemente percepções; e, como todas as percepções são ou impressões ou idéias, a
exclusão de umas é argumento convincente em favor das outras. A moralidade, portanto, é mais
propriamente sentida que julgada, embora essa sensação ou sentimento seja em geral tão brando e
suave que tendemos a confundi-lo com uma idéia, de acordo com nosso costume corrente de
considerar tudo que é muito semelhante como se fosse uma só coisa”.
50
Hume, THN, III, I, i, 27.
22
Não parece se tratar aqui especificamente sobre a forma lógica das proposições ou
sobre os pressupostos de uma dedução de juízos de valor, mas de indicar que a
própria distinção entre impressões e idéias é colocada em questão nessa tentativa de
derivação: idéias implicariam impressões (sentimentos e vontades), invertendo a
ordem entre elas situada na base da filosofia humeana.
A singularidade da moral é tal que ela se distingue radicalmente de tudo o que pode
ser conhecimento. A Lecture de Wittgenstein não se situa muito distante dessa
topologia que situa a ética em uma perspectiva radicalmente não-cognitivista.
Hume abre o Livro III do Tratado reafirmando a base de sua epistemologia, que todas
as percepções da mente são impressões ou idéias, e, a partir dela, estabelece o
percurso de sua investigação sobre a moral
23
O Tratado se apresenta antes de tudo como uma investigação sobre a moral51. Sua
estrutura, entretanto, explicita uma abordagem em que a investigação
epistemológica precede a abordagem dos temas morais52. O esclarecimento das
operações do entendimento (sobre as idéias) e das impressões da mente (sensações e
paixões53) precede a caracterização da moral na medida em que esta é apresentada a
partir de sua relação com essas “percepções da mente”: recusa-se que se situe entre
os objetos da razão e as operações do entendimento, concebendo-a como um
“sentido moral” que excita paixões e produz ou previne ações54.
Esse percurso, que apresenta a moral não apenas como uma investigação mais
complexa, situada após as demais ciências, mas que demarca terrenos distintos nos
quais se situariam a ciência empírica, a matemática e a moral, e que, portanto,
apresenta uma “epistemologia da moral” como algo que deve preceder a
investigação sobre temas específicos da moral, deriva diretamente do Ensaio de
Locke. É na análise da matemática e da ciência moral elaborada no Ensaio que
encontramos a filosofia apresentada como um “indicador de lugar” de cada ciência,
em particular da moral – uma concepção da filosofia que encontraria em Kant sua
expressão mais explícita55, e que se reconstrói, em novos termos e por novos meios,
no Tractatus e na Lecture.
Ainda que a concepção de moral como “ciência tão exata quanto a matemática”
tenha sido fortemente criticada, e que o tenha sido inclusive por Hume, o projeto
de explicitar a diferença de natureza entre ciência empírica, matemática, ética, etc.,
sustentado em uma análise do entendimento humano, se reconstrói em
diferenciações equivalentes, mas que substituem a análise do entendimento pela
51
Já desde seu título: Tratado da Natureza Humana – Uma tentativa de introduzir o método experimental
de raciocínio nos assuntos morais.
52
Assim, o Livro I é dedicado à análise do Entendimento, o Livro II às Paixões e apenas no Livro III
se apresenta como tema a Moral.
53
Hume, THN, II, I, i, 1-2.
54
Hume, THN, III, I, i, 5-6.
55
J. Habermas, “A filosofia como indicador de lugar e como intérprete”, in Consciência Moral e Agir
Comunicativo, p. 18-20.
24
análise da natureza humana, da razão ou dos juízos. No caso do Tractatus e da Lecture
de Wittgenstein a investigação sobre o entendimento dá lugar à “crítica da
linguagem”, à análise lógica da linguagem56.
O Tractatus apresenta a proposição como figuração de um fato. Este, por sua vez, se
apresenta como uma relação entre objetos, os quais, na proposição, são significados
por nomes. A proposição seria, assim, a figuração de uma relação entre objetos.
Aquilo que não é uma relação entre objetos, um objeto simples, por exemplo, não
pode ser figurado por uma proposição e, portanto, não pode ser dito, situando-se
para além dos limites da linguagem. De maneira aparentemente equivalente a
Hume, que caracteriza o conhecimento como uma relação (e, portanto,
necessariamente entre idéias), Wittgenstein apresenta a proposição como complexa
e articulada, figuração de uma relação entre objetos. Como para Hume aquilo que não
é uma relação se exclui à possibilidade de ser conhecido, para Wittgenstein o que é
simples, ou que não é relação entre objetos, se exclui à possibilidade de ser dito. A
simetria parece plausível, assim como a proximidade entre seu desdobramento aqui
considerado: um fosso intransponível que separa fatos e valores.
56
Wittgenstein, Tractatus, 4.0031; ainda no Tractatus, lemos: “A filosofia não é uma das ciências
naturais. (A palavra “filosofia” deve significar algo que esteja acima ou abaixo, mas não ao lado, das
ciências naturais). / A filosofia limita o território disputável da ciência natural”. (4.111 e 4.113)
57
Hume, THN, III, I, i, 10.
58
“Como seja o mundo é completamente indiferente para o Altíssimo. Deus não se revela no
mundo. / Os fatos fazem todos parte apenas do problema, não da solução”; Wittgenstein,
Tractatus, 6.432 e 6.4321.
25
Se estou certo, então não é suficiente para o julgamento ético que um mundo
seja dado. / Então o mundo em si próprio não é nem bom nem mau.
Na medida em que o Tractatus apresenta a ética como uma forma de ver o mundo, é
recusado a ela qualquer conteúdo cognitivo.
Essa concepção da ética como forma de ver, como característica do próprio mundo
da experiência, e não de algo que se dá nele ou que dele faz parte, um tema que se
tornará central em seu trabalho posterior, ajuda a compreender as caracterizações
59
Wittgenstein, Notebooks 1914-1916, p. 79.
60
Wittgenstein, Notebooks 1914-1916, p. 78-79.
61
Wittgenstein, Tractatus, 6.43; sobre esse tema, encontramos nos Notebooks 1914-1916, p. 78:
“O mundo do feliz é um mundo feliz. / Mas isso é realmente em certo sentido profundamente
misterioso! É claro que a ética não pode ser expressa!”.
26
da ética que Wittgenstein apresenta na sequência de descrições propostas na Lecture,
e que culminam em sua identificação a “the right way of living”. A ética se
caracteriza não como um discurso ou conjunto de afirmações, mas como uma
perspectiva e uma prática, uma forma de ver o mundo e viver.62
A ética se exclui ao domínio dos fatos, do espaço e do tempo, do que pode ser dito,
do que é verdadeiro ou falso, na medida em que é valor, ação, aquilo que não se põe
em palavras mas se faz manifesto, explicitando o fosso identificado por Wittgenstein
entre esses dois terrenos, dos fatos e dos valores, ou do discurso e da ação.
62
“A solução do enigma da vida no espaço e do tempo está fora do espaço e do tempo. (Não são
problemas da ciência natural o que se trata de solucionar.)”; Wittgenstein, Tractatus, 6.4312.
63
Wittgenstein, Tractatus, 6.521 e 6.522.
64
De passagem, cumpre indicar que a compreensão da importância da cisão entre fatos e ação aqui
identificada na base da Lecture se encontra, para além dessa posição específica e sob outras formas,
nos textos posteriores de Wittgenstein. Este parece ser o caso do debate sobre seguir uma regra,
nas Investigações, e da concepção de uma prática que deve “cuidar de si”, apresentada em Über
Gewissheit [Sobre a Certeza].
27
7
Como vimos, Hume concebe um sentido moral e, nesses termos, apresenta a ética
como algo que se encontra no sujeito, como uma paixão, um sentimento, e, assim,
entre as impressões. O sujeito aqui, entretanto, é concebido em termos
inevitavelmente psicológicos, comparado-se o senso moral, inclusive, às “qualidades
secundárias”. Exemplo disso é a análise proposta por Hume do vício que estaria
presente em um homicídio voluntário. Como vimos, seu texto pretende estabelecer
que o vício encontra-se não no fato, mas na forma de percebê-lo, no sentimento da
pessoa que o avalia.
28
pensamentos. Não há nenhuma outra questão de fato neste caso. O vício
escapa-nos por completo, enquanto consideramos o objeto. Não encontraremos
até dirigirmos nossa reflexão para nosso próprio íntimo e darmos com um
sentimento de desaprovação, que se forma em nós contra essa ação. Aqui há um
fato, mas ele é objeto de sentimento [feeling], não de razão. Está em nós, não no
objeto.66
A Lecture retoma o mesmo exemplo usado pro Hume, o assassínio, mas apresenta
uma análise bastante distinta, recusando que a ética seja confundida com os
sentimentos ou processos psicológicos do sujeito empírico, eles próprios situados
entre os fatos do mundo.
66
Hume, THN, III, I, i, 26.
67
Wittggenstein, “A Lecture on Ethics”, in: Philosophical Occasions, p. 39-40.
29
qualquer seja dotado de valor moral, ele se distancia da herança humeana ao recusar
que esse valor seja identificado com o sentimento subjetivo suscitado por qualquer
fato. A ética para Wittgenstein é “transcendental”, “mística”, é inefável, impossível
de ser descrita por não ser o sentimento ou a visão de mundo de um sujeito
psicológico, mas a própria “forma perceber” esse mundo, no pleno sentido kantiano
que o termo “transcendental” pode ter.
68
“O livro não lhe será estranho, dado que sua temática é ética. Eu pretendia incluir algumas
palavras a respeito no prefácio que não foram incluídas, mas que transcrevo em seguida porque
talvez possam lhe fornecer uma chave. Eu pretendia escrever o seguinte: minha obra consiste em
duas partes: a que está aqui e tudo aquilo que eu não escrevi. E a parte mais importante é
precisamente a segunda. Meu livro delimita a ética, por assim dizer, de dentro, e estou
30
Um pouco como Kant dizia: “tive que limitar o conhecimento para dar lugar à
fé”. Wittgenstein diria: “tive de delimitar o campo do dizível para dar lugar à
ética, à arte e à religião, isto é, à vida”.69
A única vida que é feliz é a vida que pode renunciar às amenidades do mundo.70
convencido de que esta é a única forma rigorosa de traçar esses limites. Em resumo, penso que
tudo aquilo sobre o que muitos hoje estão discorrendo a esmo eu defini em meu livro simplesmente
calando-me a respeito. Portanto, a menos que muito me engane, o livro terá muitas coisas a dizer
que você próprio gostaria de dizer, embora possa não se dar conta que estão ditas nele. Por ora,
recomendaria que você lesse o prefácio e a conclusão, pois expressam seu intento de forma mais
imediata.”; carta de Wittgenstein a L. von Ficker de 1919, apud R. Monk, Wittgenstein, p. 170-
171 (tradução revista).
69
Bento Prado Jr., “Wittgenstein: Cultura e Valor”, in Erro, Ilusão, Loucura, p. 127.
70
Wittgenstein, Notebooks 1914-1916, p. 81.
71
“A verdadeira realização de um Copérnico ou de um Darwin não foi a descoberta de uma
verdadeira teoria, mas de um fértil novo ponto de vista.” Wittgenstein, Vermischte Bemerkungen
[Cultura e Valor], p. 18.
31
mundo que lhe é contemporâneo e com a concepção da ciência como uma
perspectiva privilegiada para sua interpretação72.
72
Bento Prado Jr., em “Wittgenstein: Cultura e Valor” (in: Erro, Ilusão, Loucura), apresenta uma
proposta de leitura das Vermischte Bemerkungen que explicita essa perspectiva do texto de
Wittgenstein.
73
Wittgenstein, Vermischte Bemerkungen [Cultura e Valor], p. 7.
32
BIBLIOGRAFIA
AARON, R. I. John Locke. 2nd ed. Oxford: Oxford University Press, 1963.
CARNAP, R. The Logical Syntax of Language. New York, Harcourt Brace, 1937.
CHAPPELL, V. The Cambridge Companion to Locke. Cambridge: Cambridge
University Press, 2007.
DESCARTES, R. Discurso do Método. Econe Editora, 2006.
DESCARTES, R. Oeuvres completes. Ed Adam e Tannery, Paris: Vrin, 1996.
DESCARTES, R. Oeuvres et Lettres. Gallimard, Bibliothèque de la Pléiade, 1953.
FAUSTINO, S. Experiência indizível. São Paulo: Editora UNESP, 2006.
HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Edições Tempo
Brasileiro, 1989.
HUME, D. A Treatise of Human Nature. Oxford: Clarendon Press, 1985.
HUME, D. An Inquiry concerning Human Understanding. Oxford: Clarendon Press,
1986.
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Editora Abril, 1977.
HUME, D. Tratado da natureza humana. 2ª edição. São Paulo: Editora Unesp, 2009.
KANT, I. Kritik der reinen Vernunft. Hamburg: F Meiner, 1998.
KANT, I. Logik; Gesammelte Schriften, Bd. 9. Berlin: W. de Gruyter, 1962.
KANT, I. Die Metaphysik der Sitten [Metafísica da Moral], Kant-W Bd. 8.
KANT, I. Immanuel Kant: Werke in zwölf Bänden. Herausgegeben von Wilhelm
Weischedel. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1977.
LOCKE, J. An Essay concerning Human Understanding. Oxford: Clarendon
Press,1985.
MONK, Ray. Ludwig Wittgenstein: The Duty of Genius. New York: Macmillan, 1990.
MOORE, G. E. Philosophical Papers. London: George, Allen and Unwin, 1959.
MOORE, G. E. Principia Ethica. Revised edition . Cambridge: Cambridge
University Press, Cambridge: 1993.
NEWMAN, L. The Cambridge Companion to Locke’s “Essay concerning human
understanding”. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.
PEARS, D. Hume’s System. Oxford: Oxford University Press, 1990.
PRADO JÚNIOR, Bento. Erro, ilusão, loucura. São Paulo: Editora 34, 2004.
33
STERN, D. Wittgenstein on Mind and Language. New York, Oxford University Press,
1995.
STERN, David. Wittgenstein on Mind and Language. New York, Oxford University
Press, 1995.
STROUD, B. Hume. London: Routledge, 1977.
WAISMANN, F. (ed.).Ludwig Wittgenstein and the Vienna Circle. Wiley-Blackwell,
2005.
WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas. São Paulo: Ed. Abril, 1978.
WITTGENSTEIN, L. Notebooks 1914-1916, G.H. von Wrightand G.E.M.
Anscombe, eds. 2nd ed. Oxford: Basil Blackwell, 1979.
WITTGENSTEIN, L. Philosophical Occasions: 1912-1951. USA: Hackett, 1999.
WITTGENSTEIN, L. Philosophische Untersuchungen, Philosophical Investigations. 2nd
ed., Oxford: Blackwell, 1997.
WITTGENSTEIN, L. Tractatus logico-philosophicus. trad. Luiz H. L dos Santos. São
Paulo: Edusp, 1995.
WITTGENSTEIN, L. Über Gewissheit, On Certainty. G.E.M. Anscombe and G.H.
von Wright, eds. Oxford: Basil Blackwell, 1969.
WITTGENSTEIN, L. Vermischte Bemerkungen, Culture and Value. G.H. von Wright,
ed. Oxford: Basil Blackwell, 1980.
WITTGENSTEIN, L. Werkausgabe. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1989; 8 vols.
WITTGENSTEIN, L. Wittgenstein’s Nachlass: The Bergen Electronic Edition, ed.
Wittgenstein Archives at the University of Bergen (Oxford: OUP, 2000).
34