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A filosofia do controle concentrado de

constitucionalidade das leis na ordem


jurídica brasileira pós-88

Paulo Roberto Barbosa Ramos

Sumário
1. A função do constitucionalismo. 2. A fun-
ção do controle de constitucionalidade das leis.
3. A democracia, o Poder Judiciário e o contro-
le de constitucionalidade das leis. 4. A filosofia
de controle concentrado de constitucionalida-
de das leis. 5. A filosofia do controle concentra-
do de constitucionalidade das leis na ordem
jurídica brasileira pós-88.

1. A função do constitucionalismo
Em Considerações sobre o Governo da Polô-
nia, afirmou Rousseau que é contra a natu-
reza dos corpos sociais se impor leis que
não possam revogar; mas não é nem contra
a natureza nem contra a razão que não pos-
sam revogar as leis por meio de solenidades
estabelecidas por eles próprios1.
Sem grande esforço, a partir dessa geni-
al colocação de Rousseau, percebe-se que a
idéia de uma superlegalidade constitucio-
nal nasceu da síntese do enfrentamento di-
alético entre os supostos conceitos do racio-
nalismo de constituição e o fato da mutabi-
lidade da vida histórica. Se não é possível
subtrair à constituição a mutabilidade his-
tórica, esta só penetrará na constituição por
meio dos mecanismos nela própria previs-
Paulo Roberto Barbosa Ramos é Promotor tos, quer dizer, por meio dos métodos espe-
de Justiça Titular da Promotoria de Justiça Espe-
ciais de reforma. É o abandono da tese da
cializada dos Direitos dos Cidadãos Portadores
de Deficiência e Idosos de São Luís/MA, Profes-
imutabilidade do conteúdo para assegurar
sor Assistente do Departamento de Direito da a sua permanência como forma2.
UFMA, Mestre em Direito pela UFSC, Douto- Isso não significa, entretanto, que o cons-
rando em Direito Constitucional pela PUC/SP. titucionalismo seja algo destituído de qual-
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quer sentido, de qualquer finalidade, legiti- al, porquanto os direitos fundamentais, pre-
mador de todo e qualquer poder; significa cisamente porque garantidos a todos e sub-
tão-somente que as relações de poder, vi- traídos à disponibilidade do mercado e da
venciadas em cada momento histórico, im- política, formam a esfera do indecidível que e
põem aos homens novas formas de organi- do indecidível que não e operam como fatores
zação, de articulação do poder, daí a não só de legitimação, mas também, e sobre-
necessidade de previsão de mecanismos tudo, de deslegitimação das decisões ou das
capazes de absorver essas alterações, com não-decisões5.
a intenção de manter os princípios informa- Não faz sentido, então, a observação de
dores do próprio constitucionalismo, os Sartori6, segundo a qual as constituições são
quais podem ser sintetizados no respeito aos apenas formas que estruturam e disciplinam
direitos dos indivíduos mediante a previsão de os processos decisórios do Estado, estabele-
mecanismos de limitação do poder. Essa é a sua cendo apenas como as normas devem ser
natureza e, como disse Agostinho Ramalho, criadas, não decidindo o que será estabele-
lembrando Aristóteles, a natureza de cada coi- cido pelas normas, porquanto o abandono
sa é o seu fim3. da imutabilidade do conteúdo para assegu-
Se a finalidade do constitucionalismo é rar a permanência como forma, destacado
garantir a existência dos direitos fundamen- por Garcia-Pelayo7, serve apenas para de-
tais por meio da limitação do poder, sem, no monstrar que o constitucionalismo moder-
entanto, representar um entrave às transfor- no precisou dessa relativização de conteú-
mações sociais, que constituem um fato, que do para encontrar a sua própria identida-
nada pode impedir, nem mesmo o constitu- de, e sua identidade se encontra numa alte-
cionalismo, tem este, para lograr cumprir ração de conteúdo voltado para, por meio
sua natureza, a função de indicar os meca- da forma, garantir os direitos fundamentais,
nismos por meio dos quais a ordem será al- já que a forma escrita da constituição é ca-
terada, para se adaptar ao novo momento racterística de um constitucionalismo com-
histórico e o novo momento histórico a ela, prometido com os direitos fundamentais do
sem que sejam feridas aquelas conquistas homem.
que representam um grande avanço no pro-
cesso civilizatório, quais sejam: o reconheci- 2. A função do controle de
mento do homem enquanto ser de direitos; o re- constitucionalidade das leis
conhecimento de que cada povo tem o direito de
O controle de constitucionalidade das
dar a si mesmo uma constituição que julga boa;
leis só tem sentido se analisado a partir de
que os que obedecem à lei devem, também, reuni-
uma legítima idéia de constitucionalismo, e
dos legislar4, a partir das quais o próprio cons-
titucionalismo é identificado. a legítima idéia de constitucionalismo está
Então, a manutenção dessas conquistas comprometida visceralmente com a digni-
é a função do constitucionalismo, que en- dade do homem, pelo motivo de almejar o re-
controu no controle de constitucionalidade conhecimento do homem enquanto ser de di-
das leis o mecanismo para a fiscalização dos reitos a partir da idéia de limitação do poder.
limites das transformações sociais, tendo Se as experiências do constitucionalis-
em vista, em última análise, o resguardo mo não conseguiram realizar tal intento, tra-
dos direitos humanos fundamentais. Assim ta-se de uma outra questão, mas o fato é que
sendo, parece correta a observação de Fer- o legítimo constitucionalismo almejou o bem
rajoli de que nenhuma maioria, nem sequer comum, na medida em que teve origem
a unanimidade, pode legitimamente deci- numa disposição moral da sociedade, pro-
dir a violação de um direito de liberdade ou vocada pela consciência do estado de sofri-
não decidir a satisfação de um direito soci- mento, miséria, penúria e infelicidade em

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que vivia o homem dentro de uma socieda- ar as funções das instituições do modelo de
de que o ignorava enquanto ser de direitos8. sociedade que propiciou a emergência do
Em outros termos, o controle de consti- constitucionalismo.
tucionalidade das leis só faz sentido dentro É por essa razão que o controle de cons-
da idéia original do constitucionalismo, isso titucionalidade só faz sentido quando se
porque a constituição, o instrumento me- volta para garantir um modelo de socieda-
diante o qual o constitucionalismo se mos- de resultado de um consenso histórico, o
tra, nada mais é do que uma carta que torna qual procura dar dignidade a todos os ho-
de todos conhecido que as relações de po- mens, uma vez que todos são portadores de
der devem ter como referência os direitos direitos inalienáveis e imprescritíveis.
fundamentais e a impossibilidade de con- Em sendo assim, revela-se completa-
centração do poder, com a finalidade de as- mente descabido falar em controle de cons-
segurar a subsistência dos direitos incorpo- titucionalidade das leis em regimes autori-
rados a algo que pode ser chamado de avan- tários ou totalitários, até mesmo porque,
ço no processo civilizatório. nesses ambientes, não estão resguardados os
Portanto, se a principal função do con- direitos humanos e o poder está concentra-
trole de constitucionalidade das leis é não do, o que faz com que esses espaços estejam
permitir um retrocesso histórico a partir da destituídos da idéia de constitucionalismo da
capacidade de desconsideração de decisões/ qual se está falando e em que o controle de
leis que afrontem os direitos caracterizadores constitucionalidade das leis é possível10.
do legítimo constitucionalismo, o controle de
constitucionalidade das leis revela-se uma 3. A democracia, o Poder Judiciário e o
tarefa de extraordinária importância, não sen- controle de constitucionalidade das leis
do responsabilidade apenas de um homem
Não é impertinente dizer mais uma vez
ou de alguns, mas de toda coletividade.
que o controle de constitucionalidade das leis
Sendo assim, o controle de constitucio-
só faz sentido em ambientes democráticos,
nalidade das leis aparece como algo intrin- porquanto é justamente dentro desses onde
secamente ligado à democracia, porquanto existem as melhores condições para a conso-
voltado para garantir efetivamente o respei- lidação dos direitos fundamentais, justamente
to a uma ordem que reconhece aos homens os direitos que a técnica do controle de cons-
certos direitos inalienáveis e imprescrití- titucionalidade das leis procura resguardar.
veis, sem contudo desconhecer que a marca Segundo Ackerman e Rosenkrantz11, a
da democracia é a criação social de novos existência do controle judicial de constitu-
direitos, longe de ser mera conservação dos cionalidade das leis depende da opção da
já conquistados9. democracia de cada país. Isso não quer di-
Com base nesse raciocínio, o controle de zer que aqueles países que optem por um
constitucionalidade das leis não é o contro- tipo de democracia que não comporte um
le de leis/atos/decisões que façam referên- controle judicial de constitucionalidade das
cia a toda e qualquer constituição, mas so- leis não tenham um parâmetro para a limi-
mente àquelas que realmente traduzam um tação do poder e, conseqüentemente, para o
movimento de reconhecimento de direitos resguardo dos direitos fundamentais. A In-
fundamentais e de limitação do poder. glaterra desmente aqueles que querem pen-
Dessa forma, nota-se que o controle de sar doutra forma.
constitucionalidade das leis deve ter uma Os mencionados autores desenvolveram
base ética, deve estar voltado para a realiza- essas idéias, tendo em vista três grandes
ção do bem comum a partir de determinado experiências de sociedades democráticas: a
projeto de sociedade, projeto esse que jamais inglesa, caracterizada pela democracia cons-
deve ser esquecido, sob pena de se desvirtu- titucional monista; a americana, pela demo-

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cracia constitucional dualista, e a alemã, pela Assim, para os fundamentalistas, a ra-
democracia constitucional fundamentalista12. zão de ser dos direitos é que eles servem
O primeiro tipo de democracia constitu- como sustentáculo para a persecução de
cional se distingue dos demais pela inad- objetivos coletivos por parte das instituições
missibilidade do controle judicial de cons- democráticas e que, por isso, caso fossem
titucionalidade das leis, porque é resultado ceder frente às decisões da coletividade, não
de consenso entre os cidadãos o fato de que lograriam satisfazer a função a que estão
o Parlamento é a única instância legítima chamados a desempenhar15. Trata-se, na
existente, pois apenas seus integrantes são verdade, do resgate da idéia de democracia
eleitos diretamente pelo povo. Por conta dis- liberal, caracterizada pela presença de cer-
so, é de aceitação geral que essa instituição tos direitos que representam limites à atua-
tenha autoridade suficiente para estabele- ção da maioria16. Aliás, Dworkin analisa
cer todas as leis necessárias para o bem-es- muito bem essa questão, dizendo que “uno
tar do povo, sem que sejam censurados por derecho contra del gobierno debe ser un de-
qualquer outra instância de poder. recho a hacer algo aun cuando la mayoría
A anuência da possibilidade de um con- piense que hacerlo estaría mal, e incluso
trole sobre as ações do Parlamento seria a cuando la mayoría pudiera estar peor por-
própria recusa do princípio da vontade da que esse algo se haga”17.
maioria e, conseqüentemente, da legitimida- Diante da abordagem desses três mode-
de do poder. los de democracia, vê-se que o controle de
O segundo tipo de democracia constitu- constitucionalidade das leis só é possível
cional, representado pelos Estados Unidos nesses espaços, na medida em que só den-
da América do Norte, denomina-se dualis- tro deles os direitos fundamentais estão res-
ta. É dualista porque distingue as decisões guardados.
em duas espécies: as do povo e as dos repre- Se na concepção monista não se confere
sentantes do povo. ao Poder Judiciário a incumbência de efe-
As decisões do povo são tomadas em tuar o controle de constitucionalidade das
momentos delicados da vida política do leis é porque, dentro das sociedades em que
país, ou seja, em momentos extraordinári- esse modelo de democracia se desenvol-
os, por exigirem grandes mobilizações em veu, o povo já se constitui no maior
torno de determinados objetivos. As deci- controlador de constitucionalidade das
sões dos representantes do povo são toma- leis, porquanto possui plena consciência de
das quotidianamente. Diante dessa situação, que seus direitos fundamentais devem ser
o controle judicial de constitucionalidade das respeitados. Em virtude dessa situação, o
leis torna-se aceitável porque sua função é a controle de constitucionalidade, mesmo sem
de estabelecer limites para as decisões destes constituição, dá-se naturalmente, porque a
últimos em relação às decisões daquele13. sociedade conseguiu inserir no seu quotidi-
Os fundamentalistas, por outro lado, ar- ano o respeito àquilo que os países que ado-
gumentam que nem o povo pode derrogar tam constituições escritas tentam garantir
determinados direitos inseridos na consti- aos seus cidadãos mediante um controle
tuição, pelo motivo de fazerem parte da he- institucional e nem sempre conseguem.
rança cultural, herança essa que reflete um No Brasil, ainda está bem distante a via-
avanço no processo civilizatório. Em virtu- bilização de um espaço democrático no qual
de disso, a atividade de controle de consti- o controle de constitucionalidade das leis
tucionalidade das leis consiste na conser- possa emergir com eficácia real. Percebe-se,
vação dos direitos fundamentais, caracteri- todavia, por meio das garantias inseridas
zadores daquilo que se vem chamando de na Constituição de 1988, um desejo de cons-
avanço do processo civilizatório14. truir no país uma democracia do tipo fun-

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damentalista, por via da outorga a diversos cer papel ativo, inovador da ordem jurídica
órgãos estatais e da sociedade civil da ca- e social, com decisões de natureza e efeitos
pacidade de reivindicar ao Poder Judiciário marcadamente políticos20, fazendo com que,
o cumprimento dos dispositivos constituci- apesar de não eleito pelo povo, seja caracte-
onais. Ademais, o próprio Poder Judiciário rizado como um Poder funcional para o sis-
foi significativamente fortalecido por essa tema democrático21, agindo no sentido da
Constituição. Assim, parece muito pertinen- materialização, extensiva a todos os ho-
te a observação de Dobrowolski, segundo a mens, dos direitos fundamentais e de impe-
qual se o constituinte não desejasse uma dir a concentração de poder.
justiça ágil, ter-se-ia omitido em lhe conce-
der os meios necessários para que tivesse 4. A filosofia do controle concentrado de
esse perfil de agilidade, perfil esse que pode constitucionalidade das leis
ser caracterizado pelas ações que permitem a
A existência do controle de constitucio-
imediata correção das violações a direitos18.
nalidade das leis requer a presença de uma
Ainda, para caracterizar essa aspiração
intenção de regular a atividade legislativa,
fundamentalista da Constituição brasileira
dirigida a obter que dita atividade se desen-
de 1988, deve-se citar a inserção do § 4º do
volva nos limites que estabelecem alguns
art. 60, cuja redação determina que não
preceitos, revestidos de determinadas parti-
será objeto de deliberação a proposta de
cularidades, preceitos esses que recebem o
emenda tendente a abolir: a forma federati-
nome de constitucionais22. Os referidos limi-
va de Estado; o voto direto, secreto, univer-
tes, preceitos, marcos, referem-se aos direitos
sal e periódico; a separação de poderes; os
fundamentais da pessoa humana, caracteri-
direitos e garantias individuais.
zadores do avanço do processo civilizatório.
Lamentavelmente, a Constituição de
Portanto, a verdadeira razão da existên-
1988 coincidiu com um processo mundial
cia do controle de constitucionalidade das
de desvalorização dos direitos e, ao mesmo
leis é justamente a de proteger esses princí-
tempo, não conseguiu despertar, naqueles pios, bem como as instituições criadas para
encarregados de sua defesa, a adesão ao viabilizar a sua materialização.
seu espírito, voltado para construir uma socie- Cada sociedade, de acordo com o mode-
dade livre, justa e solidária; garantir o desen- lo de democracia que acolhe, privilegia o
volvimento nacional; erradicar a pobreza e a mar- controle mais viável para efetivação dos di-
ginalização e reduzir as desigualdades sociais e reitos fundamentais23.
regionais; promover o bem de todos, sem precon- E foi justamente tendo em vista desen-
ceitos de origem, raça, cor, idade e quaisquer ou- volver um ambiente concretamente demo-
tras formas de discriminação. crático que emergiu na Europa, entre o final
Essa falta de sensibilidade, especialmen- da primeira década e início da segunda, a
te por parte do Poder Judiciário, demonstra idéia do controle concentrado de constitu-
que a maioria de seus integrantes não tem a cionalidade das leis.
consciência de que o processo democrático A referida idéia surgiu para rejeitar a
não é uma atividade inorgânica e espontâ- possibilidade de todo e qualquer juiz poder
nea, mas uma atividade regrada. As regras efetuar dito controle, pois se buscava pre-
que devem reger o processo democrático não servação tanto das idéias de separação dos
são arbitrárias senão que respondem à fina- poderes quanto de segurança jurídica, tão
lidade de maximizar seu valor epistêmico19. caras aos europeus, os quais sentiram em
Assim, para que essa situação seja in- muitos momentos a força do poder ilimita-
vertida, faz-se necessário que o Judiciário do e o terror da insegurança jurídica.
deixe de desempenhar uma função apenas Em virtude da necessidade de se impe-
jurídica, técnica, secundária e passe a exer- dir uma sociedade de poder concentrado e

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suscetível a insegurança jurídica, entende- da valorização do sistema de separação dos
ram que tão relevante tarefa não poderia ser poderes e da idéia de segurança jurídica, o
acometida aos juízes, classe de burocratas constituinte de 1988, tendo em vista o atra-
investida de maneira não-democrática nas so da sociedade brasileira na realização des-
suas funções, assim como apenas prepara- se projeto, só poderia valorizar esse contro-
dos dentro de uma cultura extremamente le como forma de construir, no menor espa-
legalista24. ço de tempo possível, uma sociedade mais
Procuravam os arquitetos da nova soci- justa.
edade européia instituir um órgão que efe- Assim, verifica-se que o controle concen-
tuasse o controle de constitucionalidade das trado de constitucionalidade das leis ado-
leis visualizando a constituição como um tado no Brasil tendeu para esse caminho, o
projeto de sociedade a ser efetivamente ma- de construir, no menor espaço de tempo pos-
terializado, o qual se ancorava, antes de sível, uma sociedade mais justa, só pecan-
mais nada, na necessidade de garantir os do quando manteve a atribuição de guarda
direitos fundamentais, só possível dentro de da Constituição a um tribunal ordinário,
um espaço democrático, só viabilizado em muito embora órgão de cúpula do Poder Ju-
contextos caracterizados pela inexistência diciário, o Supremo Tribunal Federal, acos-
da concentração do poder. Projetaram, en- tumado a tomar decisões preocupado mui-
tão, os Tribunais Constitucionais, cuja com- to mais com filigranas formais que com a
posição é efetuada de forma distinta da vontade de ver as normas inscritas na Cons-
dos demais tribunais, isso como maneira de tituição efetivamente materializadas.
assegurar sua maior legitimidade, bem como Daí ter alertado o constitucionalista Re-
sua consonância com um período histórico petto que o trabalho do órgão controlador
comprometido com a materialização de di- de constitucionalidade das leis não deve-se
reitos caracterizadores do avanço do pro- reduzir a comparar os preceitos constitucio-
cesso civilizatório. nais com a lei cuja constitucionalidade se dis-
Assim, o controle concentrado de cons- cute, isso porque nem a lei nem a constituição
titucionalidade das leis surge para garantir têm um conteúdo fixo e determinado que o
segurança jurídica à sociedade25, tendo por órgão controlador se limita a constatar27.
base a rapidez do julgamento de uma lei ou Apesar do alerta de REPETTO, o seu en-
ato normativo cuja constitucionalidade é tendimento ainda não ecoou no Brasil,
questionada, tudo dentro de um processo porquanto as normas jurídicas são vistas
objetivo, sem partes, sempre com a intenção pela grande maioria dos juízes como razões
de, a partir dessa decisão, que uniformiza operativas para justificar suas ações ou de-
tratamentos e atuações, agilizar a construção cisões, quando a boa orientação indica que
de uma sociedade rumo ao bem-estar social, não são, a menos que se as conceba como
só possível num ambiente democrático, por- derivadas de princípios morais28.
que reconhecedor da separação dos poderes Apesar dessa tradicional postura dos
como condição sine qua non para a garantia magistrados brasileiros, a preocupação
dos direitos humanos fundamentais26. maior do constituinte 1988 esteve voltada
para criação de mecanismo para a garantia
5. A filosofia do controle concentrado de dos direitos fundamentais do homem, medi-
constitucionalidade das leis na ordem ante mecanismos limitadores do poder e vol-
jurídica brasileira pós-88 tados para propiciar a segurança jurídica.
Se a filosofia do controle concentrado de Em virtude dessa preocupação, deram
constitucionalidade das leis se assenta na grande destaque ao controle concentrado de
necessidade de garantir os direitos huma- constitucionalidade das leis, aquele efetua-
nos fundamentais, por meio do mecanismo do por um único tribunal e da maneira mais
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breve possível, provocador de conseqüên- por Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Cam-
cias imediatas, com eficácia erga omnes. pus, 1992. p. 51-54.
5
FERRAJOLI, Luigi. O direito como sistema de
Diante disso, parece correto o ensina- garantias. In: OLIVEIRA JÚNIOR, José Alcebíades
mento de Repetto segundo o qual a exten- (org). O novo em direito e política. Porto Alegre: Li-
são das garantias constitucionais reconhe- vraria do Advogado, 1997. p. 98-99.
cidas aos particulares, a maior ou menor
6
SARTORI, Giovanni. Engenharia constitucional
- como mudam as constituições. Tradução por Sér-
amplitude de competência que se reconhe- gio Bath. Brasília: UnB, 1996. p. 214-215.
ça aos diversos órgãos constitucionais, o 7
GARCIA-PELAYO. Op. cit., p. 131.
caráter exclusivo ou concorrente, mínimo 8
BOBBIO, Noberto. Op. cit., p. 54.
ou máximo da competência; a possibili-
9
CHAUÍ, Marilena. Apresentação. In: LEFORT,
Claude. A invenção democrática: os limites do totali-
dade para os particulares ou bem só para tarismo. Tradução por Isabel Marva Loureiro. 2.
determinados órgãos constitucionais de so- ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 11.
licitar a declaração de inconstitucionalida- 10
Defende-se essa idéia porque a existência de
de, a oportunidade para solicitar esta e os constituição escrita não implica, em absoluto, ipso
facto uma garantia de distribuição e, portanto, limi-
efeitos de tal declaração nos indicam em tação do poder, já que, cada vez com mais freqüên-
benefício de quem se estabeleceu o controle cia, a técnica da constituição escrita é usada cons-
de constitucionalidade29. cientemente para camuflar regimes autoritários e
Isso, por si só, indica a vontade do legis- totalitários. Em muitos casos, a constituição escri-
ta não é mais que um cômodo disfarce para a ins-
lador constituinte de ver o projeto de socie- talação de uma concentração do poder em mãos de
dade voltado para a materialização dos di- um único detentor, o que faz com que a constitui-
reitos humanos fundamentais rapidamen- ção esteja privada de seu intrínseco fim: a instituci-
te consolidado. onalização e distribuição do poder político.
LOEWENSTEIN, Karl. Op. cit., p. 214.
Dessa forma, o controle concentrado de 11
ACKERMAN, Bruce. Fundamentos y alcan-
constitucionalidade das leis na ordem jurí- ces del control judicial de constitucionalidad. In:
dica brasileira pós-88 assenta-se na filoso- ACKERMAN, Bruce et al. Fundamentos y Alcan-
fia de consolidar a democracia por meio da ces del control judicial de constitucionalidad - in-
vestigación colectiva del centro de estudios institu-
materialização imediata dos direitos huma- cionales de Buenos Aires. Cadernos y Debates. Ma-
nos fundamentais, daí a prioridade a um drid: Centro de estudios constitucionales, n. 29, 1991.
controle célere e em tese de constitucionali- p. 13-31.
dade das leis, possível de ser efetuado por
12
ACKERMAN, Bruce, ROSENKRANTZ, Car-
los F. Tres concepciones de la democracia constitu-
vários segmentos da sociedade civil brasi- cional. In: BRUCE, Ackerman et al. Fundamentos y
leira. Alcances del control judicial de constitucionalidad - in-
vestigación colectiva del centro de estudios institucio-
nales de Buenos Aires. p. 13-31.
13
Id. Ibid., p. 16.
Notas 14
Id. Ibid., p. 22.
15
Id. Ibid., p. 23.
16
NINO, Carlos S. Los fundamentos del control
1
ROUSSEAU, Jean Jacques. Considérations sur
judicial de constitucionalidad. In: ACKERMAN,
le Gouvernement de Pologne apud GARCIA-
Bruce et al. Op. cit., p. 122.
PELAYO. Manuel. Derecho constitucional comparado. 17
DWORKIN, Ronald. Los derechos en serio. Tra-
3. ed. Madrid: Manuales de la Revista de Occidente,
1953. p. 130. ducción por Marta Guastavino. Barcelona: Editori-
2
Ibidem, p. 131. al Ariel, 1995. p. 289.
3
MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. O
18
DODROWOLSKI, Sílvio. O pluralismo e o con-
Poder Judiciário na perspectiva da sociedade demo- trole de poderes do Estado. Florianópolis: UFSC, 1993.
crática: o juiz-cidadão. In: Revista do Tribunal de p. 206. (Tese de Doutorado).
Justiça do Estado do Maranhão. n. 4, 1995. p. 63.
19
NINO, Carlos S. Op. cit., p. 125.
LOEWENSTEIN, Karl. Teoria de la Constitución.
20
DOBROWOLSKI, Sílvio. Op. cit., p. 99.
Traducción espanhola por Alfredo Gallego
21
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Poder Judiciá-
Anmabitarte. 2. ed. e 4. reimpresión. Barcelona: Ariel, rio: crise, acertos e desacertos. Tradução por
1986. p. 215. Juarez Tavares. São Paulo: Revista dos Tribu-
4
BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. Tradução nais, 1995. p. 43.
Brasília a. 36 n. 143 jul./set. 1999 319
22
REPETTO, Raul Bertelsen. Control de constitu- de constitucionalidade das leis, por inspiração de
cionalidad de la ley. Santiago: Editorial Juridica de Kelsen, existir a possibilidade de haver tratamento
Chile, 1969. p. 5. desigual diante de uma declaração de inconstituci-
23
Note-se que aqui não se está falando de soci- onalidade de lei, isso em razão do efeito que pro-
edades democráticas apenas formalmente, mas sim duz, que é ex nunc, a fim de que seja garantido o
de sociedades efetivamente, materialmente demo- princípio da segurança jurídica, que acaba ferindo
cráticas e daquelas que tenham uma sincera dispo-
o da igualdade, mais importante ainda. Vide CA-
sição de tornarem-se democráticas.
PPELLETTI, Mauro. Op. cit., p. 104-114.
24
CAPPELLETTI, Mauro. O controle judicial de
constitucionalidade das leis no direito comparado. Tra-
26
CAPPELLETTI, Mauro. Op. cit., p. 84.
dução por Aroldo Plínio Gonçalves. Porto Alegre:
27
Id. Ibid. p. 31.
Sergio Antonio Fabris Editor, 1994. p. 88-89. ZA-
28
NINO, Carlos. Op. cit., p. 108 & BACHOF,
FFARONI, Eugenio Raúl. Poder Judiciário: crise, acer- Otto. Jueces y Constitución. Traducción por Rodrigo
tos e desacertos. [s.l.:s.n.], [s.d.]. p. 67. Bercovitz Rodríguez-Cano. Madrid: Editorial Civi-
25
Não deve passar desapercebido o fato de na tas, 1987. p. 42-43.
Áustria, país onde nasceu o controle concentrado 29
REPETTO, Raul Bertelsen. Op. cit., p. 6.

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