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Over the past decade, ties between Brazil and India have strengthened
considerably, largely thanks to President Lula, who called relations to India “a
priority" early on. Yet the two continent-sized democracies, who share, albeit indirectly,
a long history, still know very little of each other, and there is significant upward
potential. Both countries must use the transition of power in Brazil to renew their
commitment and strengthen ties further. Specifically, there are four areas where Brazil
and India can engage meaningfully: trade, the defence of democratic institutions and
human rights in the developing world, the quest for economic development and the
reform of global governance. Close ties would be mutually beneficial and help Brazil
and India address these challenges.
Em 2050, a Índia será a terceira maior economia do mundo, com o Brasil logo atrás em
quarto lugar[1]. Como consequência do crescente domínio econômico de ambos os
países, é inevitável que os laços entre o Brasil e a Índia atinjam uma intensidade e um
alcance inimagináveis até agora, e possivelmente bem antes de 2050. Conscientes dessa
tendência, os governos da Índia e do Brasil têm tomado medidas significativas para
fortalecer os laços entre os dois países. As relações indo-brasileiras chegaram ao apogeu
histórico em abril de 2010 durante uma reunião bilateral em Brasília, quando o
presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o primeiro-ministro da Índia,
Manmohan Singh, renovaram o compromisso de seus governos com a ‘aliança
estratégica’ entre os dois países, e expressaram sua satisfação ao ver intensificadas as
relações bilaterais. Mas o rapprochement indo-brasileiro é intimamente ligado aos
chefes de Estado de ambos os países, Dr. Singh e Lula. Pode-se dizer que o Brasil tem
desempenhado um papel mais ativo no forjamento de vínculos mais estreitos, e o
presidente brasileiro tem promovido laços mais fortes, incessantemente, ao longo da
última década. Na medida em que sua saída se aproxima com o fim de 2010, as relações
indo-brasileiras estão em uma encruzilhada. Uma tecnocrata sem graça está por suceder
ao carismático, energético e cativante presidente Lula, e tanto o Brasil quanto a Índia
devem assegurar-se de que os vínculos que os unem continuem a fortalecer o
relacionamento que, há pouco mais de duas décadas, era em grande parte insignificante.
Em termos mais específicos, a colaboração tem de ser concentrada em quatro áreas
chave: comércio, defesa da democracia no mundo em desenvolvimento,
compartilhamento do conhecimento em larga escala sobre questões de desenvolvimento
econômico, de saúde pública e de educação, e a democratização da governança global.
Concentrar-se nessas áreas com determinação e perseverança é ainda mais importante
porque a justificativa de um vínculo mais estreito entre o Brasil e a Índia não é tão
óbvia. Mesmo na era da globalização, os 14.000 quilômetros que separam Brasília de
Nova Deli ainda constituem um formidável obstáculo à criação de algo que vá além da
‘amizade para os momentos bons’. Uma das consequências da distância é que a
interação entre as duas sociedades ainda é mínima. Não há voos diretos nem rotas
diretas de transporte de carga entre os dois países; o interesse mútuo é pequeno e as
ideias que um faz do outro são marcadas por estereótipos. Mas apesar da distância e da
falta de percepção, os laços entre o Brasil e a Índia têm o potencial de serem altamente
benéficos para ambas as partes nas áreas indicadas acima.
As relações indo-brasileiras são muito pouco analisadas tanto nos círculos acadêmicos
quanto nos políticos[2], principalmente porque foram insignificantes até agora. No
Brasil, a decisão do governo Lula de consolidar os laços com a Índia tem suscitado
muitas críticas. A maioria afirma que os fracos vínculos comerciais entre os dois não
justificam a aliança política, já que a política externa brasileira é ditada,
tradicionalmente, por vínculos comerciais. Lula, por sua vez, visualizou a aliança
política como o ponto de partida que fomentaria os vínculos comerciais de maneira
sistemática[3]. Ambos os governos utilizaram sabiamente os últimos oito anos, mas é
preciso continuar o esforço para aproveitar as oportunidades, para evitar as ciladas e a
insatisfação potencial, e para construir uma aliança que não dependa de amizades
pessoais no mais alto escalão, como foi o caso entre Lula e o Dr. Singh, o improvável
duo formado por um economista treinado em Oxford e o ex-líder sindical que fala
pouco inglês. Se o Brasil e a Índia forem capazes de colaborar de maneira efetiva e de
construir uma parceria duradoura, desempenharão um papel principal ao dar forma,
conjuntamente, ao século vinte e um.
Esquece-se, com frequência, que o Brasil e a Índia compartilham uma longa história
comum, embora de maneira indireta. O explorador português Pedro Alvares Cabral
chegou à costa brasileira em 1500 a caminho da Índia; o escrivão da frota descreveu o
achado para o rei de Portugal como valioso, sobretudo porque funcionaria como escala
para as frotas a caminho de Goa, a colônia portuguesa no subcontinente indiano[4].
Inicialmente, o rei português considerou o Brasil útil e conveniente para a navegação,
mas a experiência mostrou que o melhor procedimento para navios que partiam de
Portugal em direção à Índia era parar na África Oriental. Por conseguinte, o Brasil foi
usado apenas por navios que eram desviados de sua rota, ou que enfrentavam problemas
técnicos ou logísticos (tais como um leme quebrado ou a falta de água potável)[5].
Apesar disso, os navios portugueses possibilitaram, logo de início, o intercâmbio de
plantas entre a Índia e o Brasil. O coco e a manga, ambos de origem indiana, foram
introduzidos no Brasil, e começou-se a plantar a mandioca e o caju brasileiros na
Índia[6]. Embora introduzido muito tempo depois, a maior parte do gado no Brasil de
hoje tem origem indiana.
Os laços entre o Brasil e a Índia permaneceram em grande parte insignificantes durante
a maior parte da Guerra Fria. Após ganhar a independência em 1947, ao alocar espaços
para as embaixadas de aliados importantes na Shantipath, a mais luxuosa rua do bairro
diplomático de Nova Deli, o governo indiano ignorou completamente as nações latino-
americanas. A região, inclusive o Brasil, simplesmente não estava no radar diplomático
ou econômico da Índia[7]. Durante as primeiras duas décadas após a Segunda Guerra
Mundial, não existiu sequer um acordo comercial entre os dois países. Até 1960, emitia-
se apenas vinte vistos indianos para brasileiros por ano, a maioria para diplomatas[8].
O que influenciou as duas décadas seguintes, de fato, foram as tensões diplomáticas
causadas pelo processo de descolonização dos enclaves portugueses na Índia,
principalmente em Goa. Quando Portugal e a Índia romperam relações diplomáticas, o
Brasil foi representar os interesses portugueses em Nova Deli. Não obstante a pressão
crescente indiana para que Portugal se retirasse do subcontinente, o governo brasileiro
apoiou firmemente a reivindicação portuguesa sobre Goa. O Brasil só mudou de postura
em 1961, quando ficava cada vez mais claro que a Índia obteria êxito em tomar à força
o controle sobre Goa de um Portugal crescentemente fraco, e que enfrentava demais
problemas internos para representar uma ameaça militar potencial para a Índia. Mesmo
assim, quando os exércitos de Nehru esmagaram a resistência portuguesa e ocuparam
Goa, o governo brasileiro criticou veementemente a Índia por violar o direito
internacional, e a imprensa brasileira criticou Nehru por sua “guerra de agressão” que
“mutilou Portugal”[9]. Enquanto o governo brasileiro tentava explicar à Índia que era
preciso entender sua posição no contexto da longa tradição de amizade entre Brasil e
Portugal, o governo indiano ficou profundamente decepcionado que o Brasil, uma
democracia e uma ex-colônia, apoiasse um Portugal não democrático, contra uma Índia
democrática e recém-independente. O episódio contribuiu muito para complicar os
laços, especialmente porque a campanha de integração de Goa ao território indiano era
imensamente popular entre os indianos.
Em 1964, os laços melhoraram um pouco com a criação da UNCTAD, a Conferência
das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, assim como a do G77,
instituições nas quais o Brasil e a Índia puderam, frequente e regularmente, articular
posições comuns. Por exemplo, tanto o Brasil quanto a Índia foram muito críticos,
desde cedo, de armas nucleares, e ambos condenaram a criação do Tratado de Não
Proliferação (TNP) em 1967, classificando-o como uma tentativa de ‘congelar’ a
estrutura internacional de poder de modo a conter potências emergentes como o
Brasil[10]. Tanto o Brasil quanto a Índia apoiavam a ideia de que países ricos deveriam
usar o dinheiro não gasto em armas para ajudar países em desenvolvimento a combater
a pobreza. Os “três D’s” (desarmamento, desenvolvimento e descolonização)
representavam uma característica importante de suas políticas externas[11]. Em 1968,
Indira Gandhi fez uma visita ao Brasil, demonstrando que a Índia estava disposta a
deixar para trás o firme apoio de Brasil a Portugal em seus esforços para manter o
controle de Goa[12]. O Brasil e a Índia alinhavam-se com frequência, também, durante
as negociações comerciais do GATT.
Apesar da aliança aparente, as posições geopolíticas do Brasil e da Índia eram
vastamente diferentes. Como ressalta o ex-Ministro das Relações Exteriores do Brasil,
Luiz Felipe Lampreia, o alinhamento era, muitas vezes, espontâneo e fruto de
coincidência, não algo planejado[13]. Enquanto o Brasil estava ligado geograficamente
aos Estados Unidos, a Índia demonstrava estar muito mais alinhada com a União
Soviética do que com o Ocidente[14]. Em 1976, passou-se uma emenda constitucional
para tornar a Índia uma república socialista[15]. Dez anos mais tarde, a Índia convidou
o Brasil, extraoficialmente, a se tornar membro pleno do Movimento Não Alinhado
(MNA), de maneira a criar um equilíbrio com os países esquerdistas radicais, porém, o
Brasil recusou a proposta antes que esta se tornasse pública, e preferiu manter-se como
observador[16]. Através das décadas, os laços bilaterais permaneceram mínimos, e
menos de cem brasileiros viviam na Índia em 1990[17].
Enxergando a verdade
Expectativas gerenciadas
Tudo isso não significa que os laços indo-brasileiros sejam livres de problemas. O
Brasil e a Índia são duas nações excepcionalmente grandes, diversificadas e complexas,
portanto é natural que discordem em muitos pontos. A Índia é uma potência nuclear que
nunca assinou o TNP; o Brasil, por sua vez, como signatário do tratado, se ressente e
secretamente tem inveja da maneira como a Índia entrou pela porta dos fundos no clube
nuclear. A Índia fica em uma das regiões mais perigosas do mundo, e nenhum dos seus
sete vizinhos (oito, se contarmos o Sri Lanka) é uma democracia estável. O Brasil, ao
contrário, faz parte de uma região livre de ameaças militares, o que altera,
fundamentalmente, a maneira como o país vê o mundo[24]. Isso reduz o escopo de
colaboração na área de segurança[25]. Ainda que a empresa brasileira Embraer seja um
dos fabricantes mais competitivos de pequenos jatos, e que os governos brasileiro e
indiano estão considerando a possibilidade de se engajarem conjuntamente no
desenvolvimento de aviões militares, as relações na área de segurança entre o Brasil e a
Índia devem, a médio prazo, permanecer menos significativas do que os laços entre a
Índia e a Rússia, já que uma fornece à outra a maioria dos seus suprimentos militares.
De modo semelhante, é importante assegurar-se de que uma das partes não vá
sobrestimar o compromisso da outra. Em seu primeiro discurso presidencial em 2003,
Lula mencionou a Índia como “uma prioridade”, o que indica a possibilidade de que o
Brasil leve suas relações com a Índia mais a sério do que a própria Índia. Os recentes
progressos nas relações indo-brasileiras não podem disfarçar o fato que, para a Índia,
que enfrenta uma pletora de ameaças geopolíticas, os laços com o Brasil têm menos
importância, claramente, do que suas relações com a Rússia, com a China ou com os
Estados Unidos, sendo improvável que isso mude ao longo das próximas décadas.
Portanto, é preciso gerenciar as expectativas com cuidado e entendê-las no contexto
certo para evitar decepções.
O caminho a trilhar
O Brasil e a Índia são duas importantes potências emergentes, cujos cidadãos gozam um
sistema democrático liberal, com respeito pelos direitos humanos. Ambos os países têm
conseguido manter tais instituições e direitos a despeito de possuírem populações muito
heterogêneas, da falta de inclusão social e de taxas elevadas de pobreza. Em um mundo
onde um número crescente de líderes nacionais olha para a China como um modelo
econômico e político a ser emulado, a Índia e o Brasil são contraexemplos poderosos
que comprovam que a liberdade política não é obstáculo para o crescimento econômico.
Os dois países deveriam empregar sua legitimidade com maior frequência, por exemplo,
ao encorajar conjuntamente o ditador do Zimbabwe, Robert Mugabe, a respeitar o
governo de unidade com Morgan Tsvangirai. Da mesma maneira, o Brasil e a Índia
poderiam fazer mais para persuadir os inumeráveis governantes que têm dificuldade em
largar do poder a preservarem as instituições democráticas de seus países.
Por que deveria ser responsabilidade do Brasil e da Índia condenar ditadores brutais
como Mugabe? O Brasil e a Índia, com seu passado de países menos desenvolvidos,
têm maior legitimidade aos olhos de países em desenvolvimento do que têm as nações
industrializadas da Europa e os Estados Unidos. A liderança da Índia e do Brasil durante
as negociações comerciais em Cancun mostrou que esses dois países exercem influência
significativa sobre muitos outros países menos desenvolvidos. Os dois são líderes
tradicionais do G77, e o Brasil e a Índia costumam ver o mundo através dos prismas de
norte versus sul, de ocidente versus não ocidente, e de colonizador versus colonizado.
Ambos apoiaram conceituações da ordem mundial que desafiavam aquelas da ordem do
mundo ocidental liberal, tais como o terceiro-mundismo revisionista da Índia pós-1948
e do Brasil da década de 1970 e de 1980. A Índia colocou-se em oposição aos Estados
Unidos na Assembleia Geral da ONU com maior frequência do que o fez Cuba. Sem
dúvida, está crescendo a diferença entre o Brasil e a Índia de um lado, e pequenos países
em desenvolvimento de outro; a aliança de ambos esses países com o G77 será cada vez
mais difícil de sustentar. Mesmo assim, o Brasil e a Índia têm o dever de aproveitar sua
condição ambígua para defender os valores que tanto prezam no plano doméstico. Isso
não quer dizer que deveriam seguir a estratégia liberalista agressiva empregada pela
administração Bush. Ao contrário, o Brasil e a Índia deveriam demonstrar que o respeito
à soberania e à regra da não intervenção, princípios consagrados em ambos os países,
não pode servir de desculpa para fechar os olhos para os ditadores brutais que usam a
ameaça do imperialismo ocidental como pretexto para esmagar movimentos de oposição
e grupos de direitos humanos que lutam pelos mesmos direitos já usufruídos por
cidadãos brasileiros e indianos. Tanto o Brasil quanto a Índia costuma arguir que tem
relutância em se intrometer nos assuntos internos de outros países. Por exemplo, o
Brasil nunca criticou Hugo Chávez, da Venezuela, por lentamente desmantelar a
democracia em seu país, e a Índia é igualmente reticente de promover um governo
democrático na ditadura de Myanmar. Mas ao observar mais atentamente, nota-se que
ambos os países estão dispostos a se engajar, caso necessário. O Brasil interveio
ativamente na reviravolta política no Haiti, e a Índia está intensamente envolvida na
reconstrução do Afeganistão. O Brasil e a Índia vão ambos ter de usar sua legitimidade
para assumir a liderança internacional com maior frequência.
Embora seja difícil avaliar o futuro potencial do IBAS, a aliança distingue-se, sem
dúvida, de outras do tipo entre países em desenvolvimento, já que incorpora um
compromisso explícito com a defesa de valores e instituições democráticos. Isso pode
ajudar o Fórum a tornar-se um veículo crucial para o êxito da promoção da reforma do
Conselho de Segurança da ONU[31]; porém, com ou sem o IBAS, o Brasil e a Índia
devem continuar a forjar uma parceria forte em sua busca pela reforma da governança
global e para assegurar que as instituições internacionais de hoje reflitam
adequadamente as recentes mudanças na distribuição de poder. Embora o progresso
junto ao Banco Mundial e ao FMI tenha sido lento, o Brasil e a Índia têm-se beneficiado
imensamente por ter coordenado seus esforços. Qualquer tentativa renovada de entrar
para o Conselho de Segurança da ONU como membros permanentes deve acontecer de
modo uníssono e após cuidadosa deliberação conjunta.
Mas por que é tão persuasivo o argumento em prol da colaboração de Brasil e Índia na
busca da governança global mais democrática? Apesar de terem os dois países
diferentes contextos regionais, as suas interpretações geopolíticas do mundo são
surpreendentemente semelhantes. Embora a Índia esteja mais convencida de seu próprio
poder de que o Brasil, ambos se veem como importantes atores internacionais que ainda
não receberam o status ou o reconhecimento que merecem. Há uma convicção
abrangente entre todos os partidos políticos de que a Índia é destinada a se tornar
novamente uma potência mundial[32]. Nehru ressaltava que a Índia deveria ser a quarta
maior potência do mundo depois dos Estados Unidos, da União Soviética e da China. E
como declarou um ministro das Relações Exteriores, em 1976: “Nosso tamanho, nossa
força potencial, nossas tradições e nossa herança não nos permitem ser um estado
cliente”[33]. Essa aspiração de se tornar uma potência mundial explica o significado da
autoconfiança exibida por todos os governos indianos após 1947, mesmo quando suas
políticas não lograram alcançar resultados positivos[34] . Ainda que menos evidente,
observa-se uma retórica similar no Brasil. Muitos dos diplomatas entrevistados para este
estudo qualificam o Brasil como uma ‘potência média’, porém, a maioria afirma que o
Brasil “tem o potencial para se tornar uma grande potência”, e sustenta que o Brasil será
uma grande potência até a metade do século 21[35].
Por conseguinte, os dois países estão unidos em seus esforços para mudar a distribuição
do poder em instituições internacionais, mas são conscientes do fato que há uma
necessidade crescente de assumirem a responsabilidade e um papel mais ativo ao
abordar desafios globais. Os dois governos ressaltam frequentemente a necessidade de
fortalecer a participação de países em desenvolvimento nas instituições financeiras
multilaterais tais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, bem como
nas instituições políticas como as Nações Unidas. Durante a Cúpula do G20 em
Pittsburgh, por exemplo, chefes de governo concordaram em alterar o poder de voto
dentro do Banco Mundial, aumentando o peso dos países em desenvolvimento em 3%.
Os governos do Brasil e da Índia consideram isso insuficiente, porém, um primeiro
passo aceitável no processo de reforma de longo prazo. Antes da cúpula, o Brasil e a
Índia haviam solicitado um aumento maior[36]. Seus esforços conjuntos para reformar a
governança global e para buscar acesso aos importantes fóruns de decisão servem de
plataforma para colaboração futura. No caso do Banco Mundial e do FMI, seus esforços
provavelmente renderão mais fruto do que se houvessem seguido caminhos separados.
Alguns analistas brasileiros sugeriram que o alinhamento com a Índia na busca pela
reforma do Conselho de Segurança da ONU afetou negativamente as chances de o
Brasil se tornar um membro permanente em razão da forte oposição de Paquistão contra
a Índia[37] , mas é improvável que o Brasil tenha maior êxito se tentar conseguir um
assento no CSONU isoladamente. O Brasil e a Índia podem trazer muitas coisas para a
mesa, e sua cooperação é importante na medida em que potências emergentes são
confrontadas com a tarefa delicada de articular sua visão do mundo, assumindo cada vez
mais responsabilidade. Se forem capazes de coordenar suas posições por meio de
cooperação intensa, sem dúvida, ganharão a longo prazo.
Manter o rumo
Os esforços do Brasil para fortalecer sua relação com a Índia fazem parte de um
objetivo mais amplo de fortalecer os laços com outras nações em desenvolvimento –
uma estratégia chamada ‘diplomacia sul-sul’. A diplomacia sul-sul foi um marco
distintivo da administração Lula (2003-2010). Seria demais simplista reduzir os laços
indo-brasileiros ao atual presidente do Brasil, mas é verdade que foi sob o mandato do
presidente Lula que os esforços do governo brasileiro de engajar a Índia chegaram a seu
ponto mais alto na história. Enquanto Lula prepara sua saída, é responsabilidade do
Brasil e da Índia preservar o legado do presidente brasileiro e fazer com que a parceria
dure. Mesmo que leve tempo para implementar as estratégias estipuladas acima, os
potenciais benefícios mútuos do fortalecimento dos laços entre o Brasil e a Índia são
importantes demais para ignorar.