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PANORAMA DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM: DA ANTIGUIDADE À


LINGUÍSTICA CONTEMPORÂNEA∗

Fábio Pessoa∗∗

Os estudos da linguagem evoluíram ao longo do tempo para acompanhar e atender o


desenvolvimento social e cultural da humanidade, haja vista a comunicação ser o condicionante
das relações humanas e a língua(gem) o meio pelo qual essas relações se efetivam. Nesse
sentido, apresento neste texto uma cronologia dividida em três momentos consecutivos para
demonstrar como os estudos linguísticos se iniciaram e o que foi sendo realizado no transcorrer
da história até os dias atuais.

1. Da Antiguidade ao século XVIII: as bases da Linguística ocidental

Na Antiguidade, as motivações práticas levaram os seres humanos a refletir sobre e a


conhecer a estrutura das línguas e o seu uso. A necessidade de expressar a linguagem fez o
homem criar formas de escrita, primeiramente, ideográficas, depois, alfabéticas, a fim de que
pudesse registrar os conhecimentos e as impressões do mundo. Desse modo, entende-se que os
avanços na compreensão da estrutura das línguas foram decisivos para evolução das formas de
escrita ao longo do tempo (FISCHER, 2009).
No mundo antigo, o avanço dos sistemas de escrita contribuiu para que se começasse a
ter uma tomada de consciência, mesmo que empírica, especulativa e não propriamente
científica, do funcionamento das línguas. As dificuldades de leitura dos textos antigos, em geral,
textos sagrados, as situações de bilinguismo e as necessidades de tradução também
influenciaram essa tomada de consciência (CARBONI, 2008).
Em termos de registros de descrição gramatical na Antiguidade, a Gramática Hindu
escrita por Panini (séc. IV a. C.) é a primeira de que se tem notícia na história da humanidade
a analisar o que a Linguística denominaria bem mais tarde de níveis de descrição da língua –
unidades significativas e traços fônicos. Nela o autor apresenta uma descrição gramatical do
Sânscrito, língua clássica da Índia Antiga, considerada perfeita, sobre a qual ele explicita e


Texto produzido para fins estritamente didáticos na disciplina Teoria da Linguística I.
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Doutor em Linguística. Professor do Departamento de Letras do Centro de Ciências Aplicadas e Educação da
Universidade Federal da Paraíba – DL/CCAE/UFPB. E-mail: professorfabiopessoa@hotmail.com
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discute, pioneiramente, a relação entre a palavra e o seu significado; natural e necessária para
uns, convencional e acidental para outros.
Os gregos antigos foram os responsáveis por transformar o alfabeto silábico
consonântico em alfabeto capaz de representar todos os sons da língua, com consoantes e
vogais. Com isso, fizeram avançar consideravelmente o conhecimento do que se convencionou
chamar a posteriori de segunda articulação da língua, ou análise fonológica. Foram os gregos
também, segundo Ducrot e Todorov (1982), os precursores da Linguística ocidental, sobretudo,
em função dos seus postulados filosóficos acerca do funcionamento da língua/linguagem.
Apesar de um posicionando essencialmente especulativo sobre os fenômenos da linguagem,
tratando-a como mero instrumento de raciocínio e de persuasão, os filósofos gregos, Platão e
Aristóteles, contribuíram significativamente para os estudos da língua(gem) ao refletirem,
conforme já havia feito Panini em sua gramática hindu, sobre a problemática de que se a língua
era uma expressão natural e direta do mundo, fonte de conhecimento e espelho da realidade, ou
simples meio de comunicação, com o sentido das palavras dado pelo convencional, arbitrário.
Entre os pensadores gregos, aqueles que defendiam a primeira tese eram chamados de
anomalistas; os que defendiam a segunda, analogistas. O Crátilo, de Platão, é um texto
justamente dedicado a discutir se a relação entre as palavras e seus referentes seria natural ou
convencional (CARBONI, 2008). Além disso, foram os gregos quem, inicialmente, elaborou
uma classificação gramatical, a qual vigora basicamente até hoje (CÂMARA JR., 1975).
As diversas gramáticas elaboradas pelos Alexandrinos, a partir dos esboços de Platão e
de Aristóteles acerca dos casos, da estrutura das frases e das partes dos discursos eram de
orientação analogista e ressaltavam as regularidades do sistema morfológico, dividindo a
diversidade dos elementos da linguagem em oito partes, conforme o primeiro tratado gramatical
de Dionísio de Trácia: artigo, nome, verbo, princípio, pronome, advérbio e conjunção. Do outro
lado, os estoicos contestavam os analogistas e, defendendo o caráter natural da língua, por isso
anomalistas, propuseram uma classificação das palavras em classes - nome, verbo, conjunção,
artigo, verbos passivos, transitivos e intransitivos. Como se vê, essas nomenclaturas da
classificação gramatical ainda hoje utilizadas remontam aos antigos gregos.
No século II d. C., os gramáticos romanos retomaram e prosseguiram os trabalhos dos
gregos. Dentre eles, Varrão se destaca como autor de uma volumosa descrição da língua latina.
No século V, Donato e Prisciano codificaram a gramatica latina para a posteridade,
determinando em grande parte os conteúdos dos manuais para o ensino de língua.
A partir do século X, os gramáticos medievais preocuparam-se unicamente em
descrever o funcionamento do latim, língua oficial da igreja, para facilitar o seu ensino e a
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leitura dos textos bíblicos/sagrados da época. Até o século XV, a língua latina foi privilegiada
como objeto de análise. Todavia, nesse período, a fim de estabelecer uma teoria da linguagem,
os chamados modistas foram os mais conhecidos adeptos de uma gramática universal. Tratava-
se de uma interpretação lógico-formalista baseada na visão de que todas as línguas obedecem
a princípios gerais e lógicos, como queriam os anomalistas gregos. Tal concepção serviu de
base para a elaboração da gramática geral e raciocinada de Port-Royal (1660), na França, por
Antonie Arnould e Claude Lancelot, com o intuito de enunciar certos princípios a que todas as
línguas obedecem (DUCROT; TODOROV, 1982).
A importância da Gramática de Port-Royal consistiu em pôr fim ao privilegio da
gramática latina como modelo de análise, já que outras línguas passaram a ser observadas, na
tentativa de explicar usos particulares mediante regras gerais deduzidas. Isso, segundo Carboni
(2008), contribuiu para o avanço dos estudos linguísticos, ao pensar a linguagem em sua
generalidade.
É importante notar que subjaz à concepção de gramática universal/geral a noção de
língua como expressão do pensamento, vinculado ao que os gregos anomalistas já defendiam
na Antiguidade, isto é, a palavra é imitação do pensamento e permite aos homens significarem-
se, darem a conhecer uns aos outros os seus pensamentos.
Portanto, pelo menos do século XIII ao século XVIII, prevaleceu a visão lógico-
universalista aristotélica e racionalista da gramática de Port-Royal, embora já houvesse
manifestações de estudos descritivos das línguas faladas, sobretudo, por parte dos missionários
e viajantes (CARBONI, 2008).

2. Da Linguística Comparatista ao “Corte” Saussuriano (Séc. XIX-XX).

No fim do século XVIII, ao lado dos estudos lógico-universalistas acerca da gramática


das línguas, ganhou cada vez mais espaço, sobretudo na primeira metade do século XIX, a
Linguística comparatista ou Gramática comparativa, que tinha como foco não a universalidade
e a lógica da linguagem verbal, mas a transformação das línguas e suas afinidades. Afirma-se
que a Linguística comparatista foi a primeira Linguística científica, com método de indagação
e objeto próprios, quando se passou a não mais fazer apenas especulações, mas, de fato, a buscar
observar a língua enquanto objeto de investigação. O jovem Saussure, no início de sua vida
profissional, com apenas 22 anos, publicou um estudo sobre o sistema primitivo das vogais nas
línguas indo-europeias e, depois, um trabalho sobre o genitivo absoluto em sânscrito, todos
dentro da perspectiva comparativa.
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O marco inicial da Linguística comparatista foi na Alemanha, através dos estudos,


sobretudo, de Franz Bopp que, apoiado na tese inicial de Willian Jones acerca das inúmeras
semelhanças entre o sânscrito, o latim e o grego, desenvolveu estudos para corroborar esse
efetivo parentesco entre tais línguas. Bopp, ao comparar a língua clássica dos hindus com as
demais línguas, tinha o objetivo de chegar a uma espécie de protolíngua, que ficaria conhecida
como o indo-europeu.
Estava criado, assim, o método comparativo, um procedimento central nos estudos de
Linguística histórica. Por meio dele, é possível estabelecer o parentesco entre as línguas
naturais, observando que existem correspondências sistemáticas possíveis de serem
estabelecidas por meio de uma comparação cuidadosa e rigorosa (FARACO, 2004). É
justamente nesse período da pesquisa comparatista que surgem os estudos dedicados aos
subgrupos das línguas indo-europeias, dentre eles, o desenvolvimento da Filologia Românica,
nome que é dado ao estudo histórico-comparativo das línguas oriundas do latim, como é o caso
da Língua Portuguesa.
O método comparativo foi aplicado à fonética, à estrutura gramatical e ao léxico,
principalmente de línguas indo-europeias. Como dito, o verdadeiro objetivo do comparativismo
em linguística era o estabelecimento do parentesco entre línguas e não a história de sua
evolução. Nesse ponto, ele se diferencia da Linguística Histórica, que surgiu um pouco mais
tarde, na segunda metade do século XIX.
A Linguística Histórica veio ampliar os postulados instituídos pelo método comparativo
e se fez através dos chamados Neogramáticos, um movimento comandado por linguistas
descontentes com o reducionismo da gramática comparativa, os quais foram decisivos para a
consolidação da Linguística enquanto Ciência, pouco tempo depois. O ponto de vista defendido
pelos Neogramáticos era o de que a Linguística deve ser explicativa, ou seja, além de verificar
e descrever transformações (como faziam os comparatistas, a exemplo de Bopp), era necessário
encontrar as suas causas. A explicação devia ser do tipo positivo (sujeito falante transforma a
língua ao utilizá-la); por isso, era fundamental o estudo das transformações ocorridas em um
dado período para que fosse possível fazer o levantamento das causas.
Nesse prisma, os Neogramáticos propuseram as chamadas Leis fonéticas, entendendo
que as mudanças sonoras se davam em um processo de regularidades absolutas; e as exceções,
caso houvessem, seriam fruto dos empréstimos vocabulares de outras línguas ou de analogias,
isto é, uma espécie de força psíquica dos falantes.
Mediante esse princípio da regularidade absoluta das Leis fonéticas, o qual operaria
independentemente nas diferentes ramas da família indo-europeia, os Neogramáticos
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reconstruíram formas linguísticas antigas hipoteticamente comuns às línguas dessa família. Os


principais representantes dos Neogramáticos foram Herman Osthoff e Karl Brugmann. Mas foi
o linguista Herman Paul quem publicou o pensamento neogramático em um grande manual que
serviu de referência para a formação de muitos linguistas nas primeiras décadas do século XX.
Assim, preparado o terreno para o “corte” saussuriano, que foi a instituição de uma
ciência sincrônica da linguagem (FARACO, 2004), pode-se dizer que o século XIX nos deixou
o delineamento claro da língua como uma realidade com história, reorganizou nossa percepção
da diversidade e deu forma ao senso de sistema, aspectos fundamentais na consolidação da
Linguística moderna, a partir do Estruturalismo Linguístico do começo do século XX.

3. De Ferdinando de Saussure à Linguística contemporânea

Certamente, é consensual entre os pesquisadores da língua(gem) que os estudos pré-


saussurianos foram o que possibilitou a instituição da Linguística como ciência. Muitas das
teses/ideias atribuídas a Saussure no começo do século XX já haviam sido pensadas desde a
Antiguidade, a exemplo da noção de arbitrariedade defendida pelos analogistas, e também o
rigor metodológico inaugurado ainda no século XIX pelos Neogramáticos. Sem falar que a
perspectiva de descrição sincrônica da língua já estava presente na Gramática de Port-Royal no
século XVII.
Entretanto, é inegável que Ferdinand de Saussure tem o grande mérito de ter compilado
e recuperado as contribuições teórico-metodológicas de seus antecessores com o intuito de
fundamentar a noção de sistema por ele atribuído à língua, base do Estruturalismo Linguístico,
e de terminar o objeto de estudo da ciência da linguagem, a langue.
Com isso, o pontapé para a virada epistemológica no campo dos estudos da linguagem
no começo do século XX foi a publicação póstuma do “Curso de Linguística Geral” (CLG), em
1916, obra que reúne escritos de ex-alunos do então professor de Linguística da Universidade
de Genebra, Ferdinand de Saussure. São textos que transcrevem os ensinamentos recebidos
durante três cursos de Linguística Geral ministrados entre os anos de 1907 e 1911. Após a
publicação do CLG e a repercussão das ideias saussurianas, nascia a Linguística Estruturalista,
corrente de estudos da linguagem que dominou o cenário acadêmico durante quase todo o
século XX.
Nesse ínterim, outros personagens foram aparecendo e fomentando as teses centrais do
Estruturalismo, a exemplo de Bloomfield, de Chomsky e dos pesquisadores do Círculo
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Linguístico de Praga, com destaque para Jakobson e Martinet. Tais teses, todas elas decorrentes
do CLG, podem ser assim sumarizadas:
− A Linguística Estruturalista se caracteriza pela sua abstratização e pela sua
generalização, opondo-se à busca do concreto e do particular;
− O signo linguístico é arbitrário e a relação entre as suas partes – significante e
significado – é puramente convencional;
− A língua é um arranjo sistemático de partes, e está composta de elementos formais
articulados entre si em combinações variáveis, conforme determinados princípios de
estrutura;
− A língua deve ser estudada em si e por si mesma, segundo o princípio da imanência
linguística, ou seja, os fatos na estrutura da língua são condicionados só e apenas
por fatos e/ou elementos dessa mesma estrutura;
− A língua deve ser tratada exclusivamente como uma forma, livre das suas
substâncias e, sobretudo, deve-se buscar descrever como essa forma se constitui, isto
é, por um jogo sistêmico de relações de oposição.
Assim, com apogeu das ideias do CLG, especialmente na Europa e na América do Norte,
surgiram outros personagens que igualmente figuraram no Estruturalismo pós-Saussure, todos,
certamente, unidos pelo entendimento da língua enquanto sistema, enquanto estrutura abstrata.
Destaco, neste caso, Noam Chomsky, por ele ter investido em uma proposta de análise que se
transformou em uma corrente de investigação no interior da Linguística Estruturalista da
segunda metade do século XX, a Gramática Gerativa (WEEDWOOD, 2002).
Todavia, antes de apresentar os postulados centrais do Gerativismo, de origem norte-
americana, é importante ressaltar que, na Europa, uma das principais ramificações do
estruturalismo pós-saussuriano foi o Círculo Linguístico de Praga, formado por pesquisadores
como Roman Jakobson e André Martinet que, embora discordassem de algumas das ideias
contidas no CLG, beberam nessa fonte e propuseram reformulações e/ou ampliações, a exemplo
da noção de sistema funcional, para descrever e explicar os fatos da língua. Também vale
destacar a figura de Leonard Bloomfield, do Estruturalismo norte-americano pré-Chomsky, o
qual defendeu a Linguística Distribucionalista, proposta de investigação que antecedeu o
Gerativismo e nasceu da necessidade de descrever e descobrir a estrutura de línguas nativas
americanas até então desconhecidas.
Voltando a Chomsky, a fim de sanar as fragilidades da Linguística Distribucionalista
quanto à impossibilidade de resolver algumas ambiguidades semânticas, esse linguista recorreu
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à noção de transformação e, limitando-se ao estudo da sintaxe, propôs a Gramática Gerativa e


Transformacional. Chomsky procurou elaborar um modelo teórico capaz de explicar as regras
pelas quais um locutor nativo de uma língua produz frases bem formadas (gramaticais) e nunca
frases mal formadas (agramaticais), bem como as regras que permitem que esse mesmo locutor
aceite certas frases como corretas e rejeite outras como incorretas.
O preceito teórico da Gramática Gerativa é defender a tese da faculdade da linguagem,
da capacidade inata ao homem de falar e entender a sua língua. A proposta formal sugerida por
Chomsky advoga que a gramática da língua é constituída de um conjunto de regras sintáticas e
léxico-semânticas por meio das quais é possível ao falante produzir mecanicamente qualquer
frase. Assim, a ideia da gramática universal, com seus princípios e parâmetros, defendida a
priori no Século XVII na Gramática de Port-Royal, é resgatada por esse autor. Além disso, o
Gerativismo trabalha com as noções psicolinguísticas de competência e de desempenho
associadas à concepção inatista de gramática.
Ainda resta dizer que há uma diferença metodológica essencial entre Chomsky e
Saussure, ao menos, o Saussure dos manuscritos, a saber: o ponto de partida da análise. Ou
seja, para Saussure, deve-se partir sempre da descrição de línguas particulares; no Gerativismo
de Chomsky, parte-se da intuição linguística do locutor-ouvinte-ideal pertencente a uma
comunidade linguística igualmente ideal e homogênea (CARBONI, 2008).
Não obstante, mesmo o século XX estando dominado pelos estruturalismos, é nesse
período que começa a ganhar força um segunda virada epistemológica nos estudos da
linguagem, com o advento da “Linguística da prática e do discurso”, na qual o componente
social (parole – fala) passa, de fato, a ser protagonista, sem descartar, claro, a noção de sistema
constitutivo das línguas naturais. Com isso, a dicotomia língua/fala tão assegurada pelos
estruturalistas passa a ser questionada, e algumas correntes dos estudos linguísticos vão
aparecendo e se consolidando na segunda metade do século XX, trazendo como objeto de
investigação justamente a língua em uso pelos falantes e não mais um sistema abstrato,
autônomo e idealizado.
Começo destacando a contribuição dos soviéticos, os quais, cronologicamente, foram
os primeiros a se contrapor ao modelo de língua do Estruturalismo, apresentando uma proposta
de análise baseada na língua enquanto enunciação, entendendo-a pertencente a um contexto
sócio-histórico que define sobremaneira as suas significações. Através do chamado “Círculo de
Bakhtin”, Volochinov (1929) apresenta em sua obra, “Marxismo e Filosofia da Linguagem”,
um conjunto de ideias as quais se tornaram decisivas para a consolidação dos estudos
discursivos/enunciativos. Os trabalhos desse “Círculo” dos soviéticos deixaram para a
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posteridade as considerações mais acabadas sobre o que chamamos hoje de Enunciação, o que
inclui noções como a de Dialogismo e de Gêneros do Discurso (BAKHTIN, 2003).
O linguista francês Émile Benveniste também se destacou nessa “virada
epistemológica” ao tratar do tema da subjetividade na linguagem. De formação estruturalista,
como a maioria dos linguistas do século XX, Benveniste introduziu pioneiramente a noção de
sujeito no discurso, este entendido como manifestação viva da língua. Segundo tal autor, o
sujeito se constitui na e pela linguagem e se expressa na relação Eu-Tu. Benveniste foi o criador
da chamada Linguística da Enunciação, uma área dos estudos linguísticos que trata dos modos
de significação da linguagem olhando para o sujeito que dela se utiliza em diferentes
enunciações.
A Pragmática também constitui uma corrente linguística relevante para os estudos da
linguagem no século XX. Seu foco é estudar o uso dos signos e os efeitos que esse uso produz
nos falantes/ouvintes que os utilizam. Os filósofos Austin e Searle são os principais expoentes
da Pragmática, pois sistematizaram estudos em torno do que fazem os falantes quando falam.
Na perspectiva da Pragmática, a linguagem verbal é muito mais do que uma mera representação
da realidade. Trata-se de uma instituição que comporta atos de linguagem socialmente fixados
que correspondem a papéis convencionais e que existem apenas nessa e através dessa
instituição: ordenar, prometer, insultar, criticar etc. Esses atos de linguagem são submetidos a
certas regras, distintas em cada sociedade.
A Análise do Discurso é outra corrente de estudos que emergiu na segunda metade do
século passado. Surgiu na França, em fins de 1960, e desenvolveu-se a partir da aplicação das
teses althusserianas (de Louis Althusser) à análise da linguagem e do sentido, especialmente
por Michel Pêcheux, para quem a Linguística Estruturalista, ao excluir sistematicamente
qualquer teorização sobre o texto e sobre a produção de sentidos, deixou espaço para que as
ideologias (re)invadissem o campo do sentido, do discurso.
A escola francesa de Análise do Discurso apoia-se em três grandes áreas do
conhecimento: a Linguística, a Psicanálise lacaniana e o Materialismo histórico, sobretudo, na
visão de Althusser. Um pressuposto básico da AD é o de que a linguagem não é transparente,
logo, a relação língua/pensamento/mundo real não é unívoca, pois o ser humano pertence
sempre a uma formação social e ideológica e a reflete, vivendo e fazendo sua história, mesmo
que não tenha plena consciência disso. O objeto da AD não é o sentido ou o discurso em si, mas
o processo de sua produção. Diferente da Linguística da Enunciação, a AD não separa forma e
conteúdo. Para ela, a língua não é mais vista como estrutura, mas como acontecimento, como
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condição de possibilidade do discurso, em que os processos semânticos são determinados social


e historicamente.
Junto com o a AD, surge também a Linguística Textual, uma corrente de estudos que
apresenta um objeto bastante definido, o texto. O foco são as relações textuais em seus variados
matizes e intersecções. A Linguística textual interessou-se inicialmente pelas análises
transfrásticas, tentando explicar fenômenos não contemplados pelas teorias sintáticas e/ou
semânticas. Depois, passou a descrever a competência textual do falante e a postular a
construção de um gramática textual. Por fim, o texto passa a ser estudado dentro de seu contexto
de produção e a ser compreendido não como um produto acabado, mas como um processo,
resultado de operações comunicativas e processos linguísticos em situações sociointeracionais.
Com isso, tem-se atualmente uma teoria do texto que visa explicar como as operações de
textualidade se realizam no interior dos processos sociocomunicativos (BENTES, 2011).
Nesse ensejo de valorização do social na linguagem, emerge um ramo dos estudos
linguísticos denominado pelos estudiosos de Linguística da Fala, ou seja, a Sociolinguística. É
mais uma corrente nascida nos anos de 1960 que veio se contrapor aos postulados do
Estruturalismo, os quais desconsideravam nas análises a face social da língua/linguagem.
Willian Labov é um dos maiores críticos da Teoria Gerativa chomskiana e destaca-se como o
principal nome da Sociolinguística Variacionista, de origem norte-americana.
Os estudos de variação linguística são, talvez, o maior exemplo de uma abordagem
linguística antiestruturalista, pois, além de seu caráter eminentemente sociológico, o objeto de
investigação é a fala, a língua em uso, justamente o ponto desconsiderado pelos estruturalistas.
Outra diferença essencial é a compreensão da variação e da mudança linguística. Para os
sociolinguistas, estas nascem do comportamento social; para os estruturalistas, elas são internas
ao sistema.
O Funcionalismo Linguístico é igualmente uma corrente de estudos que focaliza a
língua em uso pelos falantes. Embora tenha seu início com os estudos do Círculo Linguístico
de Praga, na primeira metade do século XX, foi só a partir de 1970 que o Funcionalismo
começou a ganhar notoriedade, desdobrando-se em vertentes europeia e norte-americana.
Todas essas reivindicam, para a análise dos fenômenos linguísticos, o papel desempenhado pelo
falante na construção do discurso e, consequentemente, da gramática, sendo ele figura decisiva
nos processos de mudança por que passam as línguas naturais. No enfoque funcionalista, a
pragmática representa o componente mais abrangente, no interior do qual se deve estudar a
semântica e a sintaxe, ou seja, são os usos comunicativos que definem e modelam as formas
linguísticas e a significação (Princípio da gramática emergente).
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Nos estudos linguísticos contemporâneos, identifica-se igualmente vertentes que


analisam a língua/linguagem na perspectiva formalista/estruturalista ligada a questões da
cognição e do processamento das estruturas gramaticais (Neurolinguística e Psicolinguística);
vertentes que misturam, em certa medida, influências dos estudos formais e funcionais
(Aquisição da Linguagem, Semiótica); e todas as vertentes já citadas que tratam da linguagem
como interação e fenômeno sociocomunicativo, incluindo também a Análise da Conversação e
a Linguística Aplicada, esta última uma área de investigação inter/multidisciplinar que agrega,
sobretudo, abordagens teóricas sociodiscursivas para estudar e discutir os processos de ensino-
aprendizagem de línguas e as relações interativas humanas mediadas pela língua/linguagem
(Dialogismo, Teoria dos Gêneros textuais/discursivos, Estudos do(s) Letramento(s), Didática,
Interacionismo sociodiscursivo).

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes,
2003.

BENTES, Anna C. Linguística Textual. In: MUSSALIM, Fernanda e BENTES, Anna Christina
(Orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. História da linguística. Petrópolis-RJ: Vozes, 1975.

CARBONI, Florence. 2008. Introdução à Linguística. Belo Horizonte: Autêntica.

DUCROT, O.; TODOROV, T. Dicionário das ciências da linguagem. Lisboa: Publicações


Dom Quixote, 1982.

FARACO, Carlos Alberto. Estudos Pré-saussureanos. In: MUSSALIM, Fernanda e BENTES,


Anna Christina. Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez,
2004.

FISCHER, Steven R. História da escrita. Trad. Mirna Pinsky. São Paulo: Editora da UNESP,
2009.

WEEDWOOD, Barbara. História concisa da Linguística. São Paulo: Parábola, 2002.

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