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Existe uma motivação pragmática para a introdução da súmula vinculante no nosso sistema
jurídico, evitar a banalização dos recursos constitucionais. A súmula vinculante agregou ao
instrumento da súmula o traço da impositividade, que a jurisprudência, normalmente, não tem
no Direito Brasileiro. O efeito disso é que a ação nova versando sobre aquela matéria já
sumulada é resolvida de imediato, não passa por todas as instâncias processuais, ou seja, tem
o efeito prático de reduzir o número de ações.
Temos alguns casos pontuais no nosso Direito em que existe uma previsão de imperatividade
de entendimento jurisprudencial. Ordinariamente, a jurisprudência não é fonte formal do
nosso direito, mas há manifestações jurisprudenciais determinadas, de acordo com a
Constituição, com caráter impositivo. Dentre elas, destacamos a súmula vinculante.
No Brasil, defende-se que a emenda constitucional nº 45 teria criado uma fonte jurisprudencial
de direito, de natureza formal.
A vinculação é formal, cria uma impositividade, mas o que se constata, na prática do Direito, é
que existe uma espécie de vinculação de fato. Uma vez que os tribunais superiores fixarem um
entendimento de maneira sólida sobre uma questão jurídica, a tendência é de os diferentes
tribunais siguirem aquela diretriz prefixada, isso se chama vinculação de fato.
Concluindo, embora os juízes tenham liberdade decisória em súmulas sem caráter vinculante,
normalmente, eles se curvam à corrente majoritária, já que, existindo decisões contraditórias,
o Poder Judiciário pode ser visto com descrédito pela sociedade. Os juízes, então, preocupam-
se em manter uma homogeniedade nas decisões, mantendo a continuidade jurisprudencial,
que dá segurança jurídica.
O STF é o único que edita súmulas de caráter vinculante, ao contrário das demais súmulas, que
podem ser editadas por outros tribunais.
Contudo, a partir da Constituição Cidadã, o nosso sistema jurídico ficou muito permeável à
subida desses recursos aos Tribunais Superiores. Houve uma distorção da função ordinária
deles. Recorre-se a uma terceira instância, muitas vezes, apenas para retardar o cumprimento
da decisão (recursos protelatórios). Era necessária uma reforma que racionalizasse o sistema
de recursos, surgiu, então, a súmula vinculante.
Portanto, pode-se notar que existe uma motivação pragmática para a introdução da súmula
vinculante no nosso sistema jurídico, evitar a banalização dos recursos constitucionais e o
excesso de recursos idênticos. O novo traço da impositividade fez com que a ação nova
versando sobre uma matéria já sumulada seja resolvida de imediato, não precise passar por
todas as instâncias processuais, logo tem o efeito prático de reduzir o número de ações.
Existe uma outra motivação, cujo caráter é filosófico. Considerando que o STF é o tribunal
guardião pela Constituição, a criação da súmula vinculante conferiu uma autoridade a
interpretação constitucional feita pelo Supremo. É compreensível que, sendo o STF o guardião
da Constituição, a interpretação dada por ele prevaleça. Evita também uma insegurança com
relação à interpretação do documento matricial do Direito brasileiro.
Temos que ter em mente que o nosso sistema de direito é ordinariamente legislativo, logo a
função do juiz (ou até do ministro de Tribunal Superior) é de interpretar e aplicar as lei, ele
não as cria. Essa é a atuação regular, a que ocorre em 99% dos casos.
Isso é importante porque, na realidade, ao atribuir caráter vinculante a uma súmula do STF, o
que vincula, na realidade, é a interpretação que o STF da Constituição, ele não cria a norma,
apenas a interpreta e essa interpretação adotada que passará a ser obrigatória.
Deste modo, não existe invasão do poder legislativo nisso, pois o STF está aplicando a
constituição a um caso concreto, só que o critério de interpretação que ele utilizar será
reproduzido em outros casos semelhantes que ocorrerem.
É importante entender que súmula vinculante se difere de precedente. Este último não tem
uma base normativa prévia, surge de equidade pura, de um juízo de valor que reincide, já a
súmula é uma interpretação, seja da Constituição, seja do Código Civil. Só que, no caso do STF,
a súmula vinculante tem um valor agregado, além de ser uma interpretação, é uma
interpretação obrigatória a todos. Exatamente por isso defende-se que ela é uma fonte
interpretativa de direito no Brasil. Lembrando que as características apresentadas por uma
fonte de direito é oficialidade, aplicar-se de maneira genérica e impositividade.
Efeito vinculante, que surgiu com a constituição de 1988. A inovação que a súmula vinculante
traz é que a partir do advento da súmula vinculante, o STF decide no caso concreto, sob a
constitucionalidade de lei, sob a interpretação que vai ser atribuída a uma lei qualquer, e essa
decisão também tem caráter impositivo em todo o território nacional. Logo, atribuiu-se então
as decisões do STF em sede de recurso, em ações concretas, um efeito análogo ao das decisões
em sede da jurisdição constitucional.
Por conta disso, considera-se a súmula vinculante como fonte atípica jurisprudencial de Direito
brasileiro, ou seja, ordinariamente, a jurisprudência não é fonte formal do nosso Direito,
porém, no caso da súmula vinculante, esse instrumento preenche os requisitos da teoria das
fontes.