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ÉTICA

COSMOVISÃO CRISTÃ
Objetivos da disciplina:
Fundamentar o aluno no conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas
Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua conduta nesse mundo, diante de
Deus, do próximo e de si mesmo.
Pontos básicos:
Ética cristã, conceitos, desafios, moral, lei, diferenças, princípios.

ição 1
“O destino do homem, quando fiel a sua situação, quer dizer, fiel
a seu destino concreto, é impor ao real seu projeto pessoal, dar
sentido ao que não tem; extrair o logos do inerte, brutal e ilógico,
converter isso que ‘há aí ao seu redor’ em verdadeiro mundo, em
vida humana pessoal.” Julián Marías

Nossas dúvidas quanto à decisão a tomar não manifestam apenas o nosso senso moral,
mas também, põem à nossa consciência moral, pois exigem:
a) Que decidamos o que fazer.
b) Que justifiquemos para nós mesmos e para os outros as razões de nossas decisões e,
c) Que assumamos todas as consequências delas, porque somos responsáveis por nossas
opções.

1. Ética Cristã
Conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo
qual o homem deve regular sua conduta nesse mundo, diante de Deus, do próximo e de si
mesmo. Não é um conjunto de regras pelas quais o homem poderá chegar a Deus – mas é
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a norma de conduta pela qual poderá agradar a Deus que já o redimiu. Por ser baseada na
revelação divina, acredita em valores morais absolutos, que são a vontade de Deus para todos
os homens, de todas as culturas e em todas as épocas.
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Conceitos
O ser humano é essencialmente incompleto: 1

a) O humano no homem é um patamar de existência a ser conquistado.


b) Sempre se aspira ou deseja algo a mais.
c) A humanização se dá pelo suprimento de necessidades que sentimos, quando fazemos
algo com nosso atual estado.
d) Agimos de forma a suprir carências, necessidades sentidas, no nível biológico, social e
transcendental, os três componentes primários geradores de toda a atividade humana.

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Seres racionais são capazes também de pensar, isso é, são capazes de transformar
necessidades sentidas em problemas e de gerar soluções para os problemas.
Somos capazes de escolher, pelo ato voluntário-racional do arbítrio, qual dentre as
soluções geradas lhe parecem a melhor resposta a ser aplicada à necessidade geradora inicial.

Desafio da vida de cada indivíduo humano


a) Conhecer as necessidades de que é portador, ou seja, ser capaz de responder à
pergunta: “De que preciso?”.
b) Conhecer as potencialidades, isto é, aquilo que pode ser utilizado para suprir as
necessidades. Deve ser capaz de responder à pergunta: “De que disponho?”.
c) Estabelecer, entã o, relações adequadas entre as necessidades e as potencialidades:

Ajuste adequado
entre as Satisfação
necessidades e individual.
potencialidades.

O conjunto
significativo.

Estado de
felicidade.

O conjunto
Sensação de
significativo de
realização;
satisfações.

Frustração Infelicidade.

Moral
Cultura humana = conjunto escolhido e organizado de problemas, soluções e respostas.
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Possibilidades:
a) Aquelas julgadas melhores, mais eficazes.
b) Aquelas julgada piores, menos eficazes.
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2 Para a realização ou bem do homem


O julgamento e a consequente indicação ou escolha das ações se faz pela noção de justiça.
É o conjunto de hábitos e costumes, efetivamente vivenciados por um grupo humano.
Nas culturas dos grupos humanos estão presentes hábitos e costumes considerados
válidos, porque bons; bons, porque justos; pois contribuem para a realização dos indivíduos.
Atos gerados conforme esses hábitos serão julgados morais ou moralmente bons.
Do contrário são imorais.

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Lei
Leis são acordos de caráter obrigatório, estabelecidos entre pessoas de um grupo, para
garantir justiça mínima, ou direitos mínimos de ser.
Quanto maior o volume de indivíduos envolvidos nos acordos, maior a complexidade do
conjunto legal que produzem.
Por isso, o sistema judiciário de um país é complexo: suas leis envolvem interesses tão
variados quanto são variadas as necessidades dos cidadãos.
Lei não é a justiça; apenas um instrumento para fazer justiça.

Semelhanças
Lei e moral são ambos os instrumentos de justiça;

a) Lei e moral são humanas, pois se originam das necessidades humanas;


b) Lei e moral são históricas, pois são estabelecidas a partir de necessidades historicamente
despertadas;
c) Lei e moral são sociais, pois se apresentam como forma de organização de convivência
humana;
d) Lei e moral são questionáveis, pois valem somente enquanto capazes de promover o
bem do homem;
e) Lei e moral dependem de instituições sociais que cuidem da sua preservação.
Diferenças
A moral é um instrumento informal da justiça; a lei é um instrumento formal, escrito e
promulgado.
A moral apresenta-se com possibilidades de variações no âmbito de um mesmo grupo, a
lei apresenta-se como sistema jurídico único para o grupo, passível apenas de interpretações
variáveis.
A moral, ao ser rejeitado por um indivíduo, provoca apenas a equivalente rejeição do
grupo e o eventual mal-estar típico ao transgressor; a lei, ao ser rejeitado e transgredido,
impõe penalidades concretas ao transgressor.
A moral é indicada como conteúdo bom ou mau a ser escolhido pelos indivíduos do grupo;
a lei é imposta para o cumprimento obrigatório de todos os indivíduos do grupo.
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Ética
É o estudo daquilo que é certo e daquilo que é errado.
A epistemologia ocupa-se com aquilo que é verdadeiro;
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A ontologia ocupa-se com aquilo que é real; 3


A ética ocupa-se com aquilo que é bom;
Ethos (grego) = costumes
Ética é a ciência do comportamento moral.
Procura os princípios fundamentais e fornece recursos para a solução dos dilemas.
Estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana referente ao ponto de
vista do bem e do mal.

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Como se insere a Ética no quadro geral da atividade humana:
Hábitos/costumes e acordos, isto é, a moral e a lei de um grupo, desenvolvem-se em
função da interpretação do que é considerado verdadeiro e válido para esse grupo.
O agir de um grupo segue seu modo de cone (ser).
A reflexão ética depende do conhecimento disponível.
O que pode ser conhecido?
Certas diretrizes contidas na moral e na lei poderão se tornar desnecessárias; outras
continuarão válidas; e outras ainda faltarão.
Novas exigências existenciais sempre se apresentarão: o grupo terá que refazer,
periodicamente, o conjunto de diretrizes, para que a moral e a lei não se tornem inúteis ou
insuficientes, desgastadas pelo tempo.
O que é válido hoje não pode ser amanhã
É a reflexão sobre a ação humana, para extrair dela o conjunto excelente de ações.
É uma ciência (reflexão), que tem por objeto a moral e a lei (referencial da ação humana),
e pretende aprimorar as “atividades realizadoras de si” desenvolvidas pelos indivíduos, pela
busca do excelente.
A excelência de uma ação é julgada em função do conteúdo de justiça a que pode dar
oportunidade. Por isso, ética não impõe moral e lei, mas propõe rumos possíveis para o
aperfeiçoamento de ambas.
A função fundamental da ética é explicar, esclarecer ou investigar uma determinada
realidade, elaborando os conceitos correspondentes.

Sujeito ético ou moral


O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa só pode existir se preencher as seguintes
condições:

a) Ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a


existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele;
b) Ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos,
tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência).
c) Ser capaz de deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis;
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d) Ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e


consequências dela sobre si e sobre outros, assumi-la bem como as suas consequências,
respondendo por elas;
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e) Ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos,
4 atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o
constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa.
f) A liberdade não é tanto o poder para escolher entre vários possíveis, mas o poder para
autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.
Por que a ética é importante?
Buscar solucionar conflitos humanos a respeito de dilemas sobre o que é bom ou mal.
Aspectos filosóficos

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2. Filosofia antiga
Três grandes princípios da vida moral
a) Por natureza, os seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser
alcançados pela conduta virtuosa;
b) A virtude é uma força interior do caráter, que consiste na consciência do bem e na
conduta definida pela vontade guiada pela razão (que controla instintos e impulsos);
c) A conduta ética é aquela que na qual o agente sabe o que está e o que não está em seu
poder realizar (o que é possível e desejável para um ser humano) – não se deixa arrastar
pelas circunstâncias, nem pelos instintos, nem por uma vontade alheia, mas afirmar sua
independência e capacidade de autodeterminação.
Três aspectos principais
Racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a razão, que conhece o bem,
deseja e guia nossa vontade até ele;
Naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a Natureza (o cosmos) e com
a nossa natureza (nosso ethos), que é uma parte do todo natural;
Inseparabilidade: entre a ética e a política: isto é, entre a conduta do indivíduo e os
valores da sociedade, pois somente na existência compartilhada com os outros encontramos
liberdade, justiça e felicidade.
A ética era concebida como educação do caráter do sujeito moral para dominar
racionalmente impulsos, apetites e desejos, para orientar a vontade rumo ao bem e à felicidade,
e para formá-lo como membro da coletividade sociopolítica.

3. Filosofia medieval
O cristianismo introduz duas diferenças primordiais na antiga concepção ética:
a) A ideia que a virtude se define por nossa relação com Deus e não com a cidade (a polis)
nem com os outros.
b) Nossa relação com os outros depende da qualidade de nossa relação com Deus, único
mediador entre cada indivíduo e os demais.
Por esse motivo, as duas virtudes cristãs primeiras e condições de todas as outras são
fé (qualidade da relação de nossa alma com Deus) e a caridade (o amor aos outros e a
responsabilidade pela salvação dos outros, conforme exige a fé).
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As duas virtudes privadas, isto é, são relações do individuo com Deus e com os outros, a
partir da intimidade e da interioridade de cada um;
A afirmação de que somos dotados de vontade livre – ou livre arbítrio e que o primeiro
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impulso de nossa liberdade dirige-se para o mal e para o pecado, isto é, para a transgressão
das leis divinas. 5

Somos seres fracos, pecadores, divididos entre o bem (obediência a Deus) e o mal
(submissão à tentação demoníaca).
Para o cristianismo, a própria vontade está pervertida pelo pecado e precisamos de auxílio
divino param nos tornar morais.

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Qual o auxílio divino sem o qual a vida ética seria impossível?
a) A lei divina revelada, que devemos obedecer obrigatoriamente e sem exceção.
b) A ideia do dever – o ser humano é, em si mesmo e por si mesmo, incapaz de realizar o
bem e as virtudes.
c) Deus tornou a sua vontade e a sua lei manifestas aos seres humanos, definindo eternamente
o bem e o mal, a virtude e o vício, a felicidade e a infelicidade, a salvação e o castigo.
d) Aos humanos, cabe reconhecer a vontade e a lei de Deus, cumprindo-as obrigatoriamente,
isto é, por atos de dever. Estes tornam morais um sentimento, uma intenção, uma
conduta ou uma ação.

4. Ética de Agostinho
Filosofia greco-romana: ética pagã
Afirma que as ações (atos humanos) são determinadas pela razão. Neste sentido o sujeito
(indivíduo) se identifica com o cidadão da pólis, isto é, como homem político e social que possui
a autonomia de sua vida moral.

Filosofia greco-romano-cristã (patrística): ética cristã


Afirma que as ações (atos humanos) são determinadas pela vontade. Neste sentido o
sujeito (indivíduo) se identifica com Deus, isto é, com a necessidade de salvação ou graça
divina.
Ética pagã: ação determinada pela razão. Conceito negado por Agostinho.
Ética cristã: ação determinada pela vontade. Conceito proposto por Agostinho. Nela há
dois tipos de ações passíveis da vontade:
a) Vontade de Deus, que apresenta: o bem, a submissão, o espírito e a liberdade. Caminho
da salvação, mas só para alguns escolhidos por Deus;
b) Vontade do homem, que representa: o mal, a autonomia, o corpo e a escravidão.
Caminho do pecado.
c) A escolha de qual vontade seguir depende do livre arbítrio.
Filosofia moderna
A partir do Renascimento, a filosofia moral distancia-se dos princípios teológicos e da
fundamentação religiosa da ética.
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Três tipos fundamentais de conduta:


A conduta moral ou ética, que se realiza de acordo com as normas e as regras impostas
pelo dever;
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A conduta imoral ou antiética, que se realiza contrariando as normas e as regras fixadas


6 pelo dever;
A conduta indiferente à moral, quando agimos em situações que não são definidas pelo
bem e pelo mal, e nas quais se impõem as normas e regras do dever.

a) O dever não é um catálogo de virtudes nem uma lista de “faça isto” e “não faça aquilo”.
c) O dever é uma forma que deve valer para toda e qualquer ação moral.
d) Juntamente com a ideia do dever, a moral cristã introduziu uma outra, também decisiva
na constituição da moralidade ocidental:

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A ideia da intenção
a) Assim, o dever não se refere apenas as ações visíveis, que passam a ser julgadas
eticamente.
b) Exemplo: confessar pecados cometidos por atos, palavras e intenções.
c) Sua alma, invisível, tem o testemunho do olhar de Deus, que a julga.
d) Para Kant (XVIII) o dever é um imperativo categórico. Ordena incondicionalmente. Não
é uma motivação psicológica, mas a lei moral interior.
e) O imperativo categórico exprime-se numa fórmula geral:
Age em conformidade apenas com a máxima que possas querer que se torne uma lei
universal. O ato moral é aquele que se realiza como acordo entre a vontade e as leis
universais que ela dá a si mesmo.

5. Três grandes máximas morais segundo Kant


a) Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal
da Natureza.
b) Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na pessoa como na pessoa de
outrem, sempre como um fim e nunca como um meio.
c) Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres
racionais.
Razão, desejo e vontade
A vontade difere do desejo por possuir três características que este não possui:
O ato voluntário implica um esforço para vencer obstáculos.
Estes podem ser materiais (uma montanha surge no meio do caminho), físicos (fadiga, dor)
ou psíquicos (desgosto, fracasso, frustração).
A perseverança, a resistência e a continuação do esforço são marcas da vontade e por isso
falamos em força de vontade;
O ato voluntário exige discernimento e reflexão antes de agir, isto é, exige deliberação,
avaliação e tomada de decisão. A vontade pesa, compara, avalia, discute, julga antes da ação;
A vontade refere-se ao possível, isto é, ao que pode ser ou deixar de ser e que se torna real
ou acontece graças ao ato voluntário, que atua em vista de fins e da previsão das consequências.
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Por isso, a vontade é inseparável da responsabilidade.


Consciência, desejo e vontade formam o campo da vida ética:
Consciência e desejo referem-se às nossas intenções e motivações; dizem respeito à
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qualidade da atitude interior ou dos sentimentos internos ao sujeito moral;


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À vontade referem-se às nossas ações e finalidades; dizem respeito à qualidade da atitude
externa, das condutas e dos comportamentos do sujeito moral.

6. Liberdade
Para Aristóteles que é livre aquele que tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir,
isto é, aquele que é a causa interna de sua ação ou da decisão de não agir.
Pensamento confirmado por Espinoza, Kant e Marx.

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O que é liberdade humana?
A liberdade é um ato de decisão e escolha entre vários possíveis.
Não se trata da liberdade de querer alguma coisa e sim de fazer alguma coisa;
Não somos livres para escolher tudo, mas o somos para fazer tudo quanto esteja de
acordo com nosso ser e com nossa capacidade de agir, graças ao conhecimento que possuímos
das circunstâncias em que vamos agir.
Somos livres para escolher alguma coisa quando temos o poder para fazê-la.
Outra concepção de liberdade introduz a noção de possibilidade objetiva.
O possível não é apenas alguma coisa sentida ou percebida subjetivamente por nós, mas é
também e, sobretudo alguma coisa inscrita no coração da necessidade, indicando que o curso
de uma situação pode ser mudado por nós, em certas direções e sob certas condições.
A liberdade é a capacidade para perceber tais possibilidades e o poder para realizar aquelas
ações que mudam o curso das coisas, dando-lhes outra direção ou outro sentido.

Liberdade e possibilidade objetiva


O possível não é o provável
O previsível é algo que podemos calcular e antever, porque é uma probabilidade nos fatos
e nos dados que analisamos.
O possível é aquilo criado pela nossa própria ação.
a) É o que vem a existência graças ao nosso agir.
b) Não surge como “árvore milagrosa” e sim como aquilo que as circunstâncias abriram
para nossa ação.
A liberdade é a capacidade para darmos um sentido novo ao que parecia fatalidade,
transformando a situação de fato numa realidade nova, criada por nossa ação.
Essa força transformadora, que torna real o que era somente possível e que se achava
apenas latente como possibilidade.
É o que faz surgir uma obra de arte, uma obra de pensamento, uma ação heroica, um
movimento antirracista, uma luta contra a discriminação sexual ou de classe social, uma
resistência à tirania e a vitória contra ela.

7. Alternativas e abordagens éticas


COSMOVISÃO CRISTÃ

“Toda pessoas espera ser tratada como pessoa. A prova de que


realmente acredita que há certos valores incondicionais é que
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espera que sua liberdade e dignidade sejam respeitadas. Nas


suas ações, talvez nem sempre respeite aos outros, mas nas suas
8 reações comprova que sempre espera que outros respeitem a
sua liberdade e a sua dignidade.” Norman L. Geisler

Casos para análise ética


1. Uma jovem descobre que está grávida. Sente que seu corpo e seu espírito ainda não estão
preparados para gravidez. Sabe que seu parceiro, mesmo que deseje apoiá-la, é tão jovem
e despreparado quanto ela e que ambos não terão como se responsabilizar plenamente
pela gestação, pelo parto e pela criação de um filho. Ambos estão desorientados. Não

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sabem se poderá contar com o auxílio de suas famílias (se as tiverem). Se ela for apenas
estudante, terá que deixar a escola para trabalhar, a fim de pagar o parto e arcar com
as despesas da criança. Sua vida e seu futuro mudarão para sempre. Trabalha-se, sabe
que perderá o emprego, porque vivem numa sociedade onde os patrões discriminam as
mulheres grávidas, sobretudo as solteiras. Receia não contar com os amigos. Ao mesmo
tempo, porém, deseja a criança, sonha com ela, mas teme dar-lhe uma vida de miséria e
ser injusta com quem não pediu para nascer. Pode fazer um aborto? Deve fazê-lo?
2. Um pai de família desempregado, com vários filhos pequenos e esposa doente, recebe
uma oferta de emprego, mas que exige ser desonesto e cometa irregularidades que
beneficiem seu patrão. Sabe que o trabalho lhe permitirá sustentar os filhos e pagar
o tratamento da esposa. Pode aceitar o emprego, mesmo sabendo o que será exigido
dele? Ou deve recusá-lo e ver os filhos com fome e a mulher morrendo?
3. Um rapaz namora, há tempos, uma moça de quem gosta muito e é por ela correspondido.
Conhece outra. Apaixona-se perdidamente e é correspondido. Amam as duas mulheres
e ambas o amam. Pode ter dois amores simultâneos, ou estará traindo a ambos e a si
mesmo? Deve magoar uma delas e a si mesmo, rompendo com uma para ficar com a
outra? O amor exige uma única pessoa amada ou pode ser múltiplo? Que sentirão as
duas mulheres, se ele lhe contar o que se passa? Ou deverá mentir para ambas? Que
fazer? Se, enquanto está atormentado pela decisão, um conhecido vê ora com uma das
mulheres, ora com a outra e, conhecendo uma delas, deve contar a ela o que viu? Em
nome da amizade, deve falar ou calar?
4. Uma mulher vê um roubo. Vê uma criança maltrapilha e esfomeada roubar frutas e pães
numa mercearia. Sabe que o dono da mercearia está passando por muitas dificuldades
e que o roubo fará diferença para ele. Mas também vê a miséria e a fome da criança.
Deve denunciá-la, julgando que com isso a criança não se tornará um adulto ladrão e
o proprietário da mercearia não terá prejuízo? Ou deverá silenciar, pois a criança corre
o risco de receber punição excessiva, ser levada pela polícia, ser jogada novamente às
ruas e, agora, revoltada passar do furto ao homicídio? O que fazer?
As alternativas básicas na ética normatica
As posições básicas que podem ser adotadas quanto à questão das normas éticas podem
ser ilustradas por um caso recente que envolveu o Comandante Lloyd Bucher, do navio-espião
Pueblo, que, com sua tripulação de 23 homens, foi capturado pelos norte-coreanos. Quando
os interrogadores ameaçaram matar a tripulação, Bucher assinou confissões, confessando
falsamente a culpa de fazer espionagem nas águas territoriais da Coréia do Norte. Estas
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falsas confissões vieram a ser o fundamento para poupar as vidas da tripulação e levar à
sua libertação. A pergunta, portanto, é esta: a mentira de Bucher para salvar estas vidas foi
moralmente justificada? Ou, de modo mais geral, mentir para salvar uma vida é moralmente
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certo em qualquer situação?


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A. mentir não é nem certo nem errado: não há normas
Uma das alternativas a esta pergunta é negar a existência de quaisquer normas éticas
relevantes. Esta posição é chamada antinomismo (literalmente, “contra a lei”). Afirma que
não há nenhum princípio moral (tal como “não se deve mentir”) que possa, validamente, ser
aplicada ao caso de Bucher, e mediante o qual se pudesse pronunciar sua ação como certa ou
errada. E se não houver padrões morais, não pode haver julgamentos morais. Logo, Bucher não
estava nem certo nem errado segundo a ética. O que ele fez pode ter sido pessoal, militar ou
nacionalmente satisfatório, mas não pode ser declarado moralmente bom ou mau.

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Há várias maneiras segundo as quais um ato de mentir pode ser “justificado”, mas não
há nenhuma maneira pela qual possa ser objetivamente julgado. Isto porque, segundo o ponto
de vista antinomista não existe nenhuma norma objetiva mediante a qual o julgamento possa
ser feito. A mentira de Bucher, por exemplo, pode ser “justificada” por meio de apelar para
seus resultados sobre sua tripulação ou seu país. Ou pode ser “justificada” subjetivamente
como uma decisão autêntica que escolheu fazer. Mas em caso algum estas consequências
pragmáticas ou escolhas pessoais seriam critérios morais objetivamente válidos para concluir
que sua escolha foi correta. De fato, as considerações subjetivas que eram “boas” para a
tripulação de Bucher e para seu país, eram concomitantemente “más” para o país inimigo, ou
seja, à medida que se sabia que a confissão era falsa. Quando não há padrões morais objetivos
que transcendem a subjetividade de indivíduos e nações, então não há maneira objetiva de
declarar um ato moralmente bom ou mau, num sentido objetivo.
Noutras palavras, faltando quaisquer normas morais objetivas, as ações de Bucher
poderiam ser consideradas boas ou más, dependendo da perspectiva da pessoa. E de um
ponto de vista global, sua mentira não foi nem boa nem má. Realmente não há ponto de vista
global ou objetivo. Se existisse semelhante perspectiva global, então seria possível fazer um
pronunciamento objetivo sobre a ação, quanto a ser ela realmente certa ou errada. Mas visto
que não há padrões objetivos, não se pode dizer que a mentira de Bucher foi certa ou errada.

B. Mentir é geralmente errado: não há normas universais


A maioria das posições éticas evita a posição antinomista contra todas as normas
objetivas. Uma maneira de fazer isto sem condenar a mentira de Bucher é sustentar que mentir
é, geralmente, mas não sempre, errado. Este ponto de vista será chamado generalismo. Ou
seja: mentir é errado como regra geral, mas há ocasiões em que a regra deve ser quebrada,
viz. , quando um bem maior é realizado, e salvar uma vida é certamente um bem maior. Que
a pessoa não deve contar uma mentira é objetivamente significante, mas não é universal.
Nalgumas circunstâncias, a pessoa deve mentir. Logo, este princípio moral (e outros também) é
geralmente, mas não universalmente, válido. Ou seja: dentro do alcance dos princípios éticos,
são objetivamente válidos. Mas as normas éticas não são universais, há exceções.
Existem muitas razões possíveis para sustentar o generalismo, i.e., que as normas éticas
não são universais, mas, sim, admitem algumas exceções. Uma razão básica é que, havendo
duas ou mais normas gerais que entram em conflito (tais como contar a verdade e salvar vidas)
as duas não podem aparentemente ser universais. Pareceria que deve haver pelo menos uma
exceção o pelo menos uma delas, visto não ser possível seguir as duas. E se houver exceções a
todas elas (ou mesmo todas menos uma), então não há muitas normas universais. Na melhor
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das hipóteses, todas (ou pelo menos uma) as normas éticas objetivas devem ser gerais, mas
não podem ser todas elas, princípios universais.
Se falar a verdade for somente uma norma geral, então quando é correto mentir? O
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generalista pode responder a isto de diferentes maneiras. Uma resposta comum é sugerir que
10 é correto mentir quando o mentir realizará um bem maior do que não mentir. Esta abordagem
é utilitária. O mentir é utilizado para levar a efeito um maior bem para um número maior de
pessoas. Outra razão porque alguém pode considerar contar a verdade apenas uma normal
geral, mas não universal, é que há um princípio sobrepujante para se observar, devido ao qual
às vezes é necessário contar uma mentira. Se, no entanto, houver pelo menos uma norma
universalmente objetiva, então já não há um generalismo completo. Pelo contrário, é um
universalismo de uma só norma, o que nos leva à posição seguinte.

C. O mentir às vezes é certo: há uma norma universal

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O ponto de vista de que há uma só norma universal diante da qual às vezes é correto mentir,
é realmente, um absolutismo, mas por razões circunstanciais será chamado de situacionismo. É
chamado de situacionismo não somente para distingui-lo doutras formas de absolutismo (que
sustentam que há muitas normas universais, em contraste com somente uma), mas também
porque os defensores do ponto de vista lhe dão esse nome. O nome “situacionismo” é algo
descritivo. Lembra-nos que, visto que as circunstâncias são tão radicalmente diferentes, pode
haver somente uma norma universal capaz de adaptar-se a todas elas. Argumenta, pois, que
só uma coisa pode ser verdadeiramente universal a todas as situações. Se houvesse mais de
uma norma universal, haveria um conflito, e uma exceção teria de ser feita para resolver o
conflito. E se uma exceção pode ser feita a todas as normas menos uma então somente uma
norma pode ser verdadeiramente universal.
Quanto à mentira de Bucher para salvar vidas, o situacionista afirma que é certa, porque o
Comandante Bucher estava agindo de acordo com a norma mais alta e a única verdadeiramente
universal. Frequentemente se diz, embora não necessariamente, que é uma norma absoluta
do amor. Segundo esta maneira de declarar a norma, Bucher estava justificado por mentir por
amor. Mentir era a coisa amorosa para se fizer a fim de salvar aquelas vidas. Sua mentira é
julgada certa porque está de acordo com a única norma ética absoluta que existe, viz. O amor.
Uma mentira poderia ser errada se fosse contada sem amor, i.e., egoisticamente (e.g., para
encobrir o mal da própria pessoa). Mas se a mentira for contada com altruísmo, por amor aos
outros, então é moralmente correta, conforme a norma do amor.
Segundo este ponto de vista, o fim realmente justifica os meios, se os “meios” forem à
norma do amor. Na realidade, somente o fim justifica os meios. Nada, pois, senão a norma
absoluta do amor torna um ato moralmente correto. E nada senão a falta do amor torna um
ato moralmente errado.

D. mentir sempre é errado: há muitas normas não-conflitantes


Sustentar uma única norma universal não é a única posição possível com respeito a
princípios absolutos. Existe o ponto de vista de que há muitas normas universais válidas que
nunca conflitam realmente entre si. Esta posição será chamada de absolutismo não conflitante.
Pode haver um conflito aparente entre duas normas éticas, mas nunca um conflito entre
deveres. Há sempre uma terceira alternativa ou um modo de cumprir uma das normas sem
desobedecer à outra. O domínio de cada norma ética tem sido ideal ou providencialmente
alocado a ela de modo que nunca realmente coincida parcialmente com o de outra norma
universal. Isto significa, por exemplo, que o mentir e o matar nunca entram realmente em
conflito. Sempre se pode contar a verdade sem realmente tirar a vida doutra pessoa inocente.
Tanto o mentir quanto o matar são sempre errados.
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Se for assim, o que o Comandante Bucher deveria ter feito? Se não deveria mentir em
circunstância alguma, então, qual curso de ação deveria ter seguido. Há várias coisas que
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Bucher poderia ter feito de modo consistente com esta posição, mas em circunstância alguma
deveria ter contado uma mentira para salvar as vidas da sua tripulação. Poderia ter mantido
11
silêncio. Ou soja: poderia ter-se recusado a fazer qualquer confissão falsa. Ou, poderia ter
falado a verdade (viz, que estava fazendo espionagem), mas não ter falado a mentira de que
sua embarcação estava nas águas territoriais coreanas quando não estava realmente ali. Se
esta confissão não fosse aceitável aos interrogadores, então Bucher e seus homens teriam
de sofrer as consequências de contar a verdade e rogar misericórdia. Ou, poderia ter orado
pedindo a intervenção divina para eliminar o dilema.
Mas as consequências de contar a verdade não são um mal maior, viz. A matança de
pessoas inocentes? Uma resposta direta a este dilema, que é perfeitamente consistente com

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esta posição (de que há muitas normas universais não conflitantes), é que matar é errado, mas
contar a verdade que leva outra pessoa a matar não é errado. Quer dizer, Bucher não tinha
dilema moral algum. Sua escolha não era: “Contarei uma mentira ou matarei?” Pelo contrário,
sua escolha era: “Contarei uma mentira ou permitirei a possibilidade de que outra pessoa
seja morta?” E visto que Bucher não poderia ter certeza absoluta de que os norte-coreanos
matariam sua tripulação, e visto que ele pessoalmente não estaria matando, ele seria absolvido
da responsabilidade moral. Segundo este ponto de vista, Bucher não poderia ser considerado
moralmente culpado pelo mal que outros homens fariam porque ele contara a verdade. Na
realidade, os proponentes deste ponto de vista podem apelar a algum tipo de teleologia ou
providência que diz que um mal maior nunca virá (ou pelo menos em última análise, não
imediatamente) por causa de guardar uma norma universal. Em termos teístas, Deus sempre
providenciará um modo de escape de modo que a pessoa ou não terá de mentir ou um mal
maior não virá do contar a verdade.

E. mentir nunca é certo: há muitas normas conflitantes


Outra saída do dilema aparente, de sustentar que há muitas normas universais que às
vezes conflitem entre si, é declarar que uma violação de qualquer delas é errada. Ou seja: é
sempre errado mentir e também é sempre errado tirar uma vida inocente (ou é até errado não
procurar evitar que outra pessoa faça um ou outro destes atos), e se alguém for preso num
verdadeiro dilema entre os dois, deve praticar o menor dos dois males. O menor dentre dois
males pode ser julgado por aquilo que resultaria no número menor de consequências más, i.e.,
de maneira utilitária. Mesmo assim, os dois atos (mentir e matar) são intrinsicamente maus;
nenhum dos dois está certo, de acordo com as normas universais. E mesmo se houvesse
alguma maneira de julgar qual ato é intrinsecamente (e não meramente instrumentalmente)
melhor, os dois ainda seriam errados, não obstante. Um deles, no entanto, provavelmente seria
um mal menor do que o outro.
Segundo este ponto de vista, Bucher teria sido errado não importa qual das duas únicas
alternativas possíveis adotasse. Apesar disto, ainda que o mal fosse inevitável para ele,
também era desculpável, especialmente porque escolheu dos dois males o menor. O teísta
cristão talvez dissesse que para Bucher, o pecado era inevitável, porém perdoável. Ele devia
cometer o pecado menor (seja este julgado intrinsecamente, seja extrinsecamente) e depois
colocar-se de joelhos e confessá-lo.
Idealmente, se ninguém quebrasse qualquer das normas universais, não haveria qualquer
conflito entre elas. Muitos dilemas morais se estabelecem porque alguém está, pecaminosamente,
forçando outra pessoa para uma posição em que esta outra terá de escolher entre duas normas
universais. Visto, porém, que o mundo está caído, e que há um conflito, somente a expiação
ou o perdão de Deus pode resolver o problema.
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É difícil dar a este ponto de vista um nome descritivo. Será chamado o absolutismo
ideal, porque acredita em muitos absolutos que idealmente não entram em conflito, mas que
realmente (por causa dos pecados dos outros ou dos próprios pecados da pessoa envolvida)
ÉTICA

às vezes entram em conflito. Mas por causa da sua conexão com o pecado e por causa da sua
12 resolução final no perdão, este ponto de vista também poderia ser chamado o absolutismo
hematológico (que diz respeito à doutrina do pecado) ou o absolutismo soteriológico (que diz
respeito à doutrina da salvação).

F. mentir às vezes é certo: há normas mais altas


Outro modo de responder a este problema ético escolhido como amostra pode ser chamada
de hierarquismo. Pode ser argumentado, e.g., que há muitas normas éticas universais, mas que
não são iguais na sua importância intrínseca, de modo que quando duas entram em conflito, a
pessoa é obrigada a obedecer ao mais alto dos dois mandamentos. Desta maneira, portanto,

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na escolha entre matar e mentir, sendo que as duas ações são universalmente erradas na
ausência de qualquer conflito entre elas, deve-se escolher poupar a vida, por ser ela um valor
intrinsecamente mais alto. Contar a verdade é bom, mas não ao custo de sacrificar uma vida.
Segundo este ponto de vista, a mentira de Bucher foi certa, embora o mentir em si mesmo seja
universalmente errado, porque há uma norma ética mais alta do que falar a verdade: “salvar vidas”.

8. O que é certo?
A ética é o estudo daquilo que é certo e daquilo que é errado. A epistemologia ocupa-se
com aquilo que é verdadeiro, e a ontologia com aquilo que é real, mas a ética com aquilo que
é bom. Neste primeiro capítulo nossa ocupação primária é definir exatamente o que se quer
dizer com o correto ou bom.
Um breve levantamento da maneira segundo a qual vários filósofos conceberam do certo
preparará o palco para discussão do significado do certo e do errado.

O poder detém a razão


Diz-se que o antigo filósofo grego, Trasímaco, sustentava que “a justiça existe no
interesse da parte mais parte,” o que se declara de modo mais simples: “o direito é do
mais forte.” Ou seja, o certo é definido em termos de poder. Presumidamente isto significa
o poder político (cf. Maquiavel), embora pudesse significar poder físico, psicológico, ou
qualquer outro tipo de poder.
Felizmente, este não é um conceito ético sustentado de modo geral, embora pareça ser
por demais frequentemente, uma prática humana. Primeiramente, a maioria dos homens vê
uma diferença entre o poder e a bondade. É possível ser bom sem poder, e poderoso sem
bondade. Um tirano maligno é a refutação prática suficiente de “teoria” do certo sustentada
por Trasímaco. Em segundo lugar, alguns têm insistido que quase o oposto é a verdade, e
argumentam que todo o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Há
muita evidência na experiência para rejeitar-se o conceito do que o direito é do mais forte.

A moralidade é costume
Alguns sustentam que certo é determinado pelo grupo ao qual a pessoa pertence. A ética é
identificada com a étnica; mandamentos morais são considerados exigências comunitárias. Esta
ideia, naturalmente, implica em uma relatividade cultural da moralidade. Qualquer coincidência
de princípios éticos entre culturas e sociedades que pareceria dar a aparência de universalidade
é acidental. O máximo que se pode ser em prol das normas éticas aparentemente universais é
COSMOVISÃO CRISTÃ

que “acontece” que todos os grupos têm códigos semelhantes (provavelmente por causa de
aspirações ou situações comum).
Este ponto de vista tem vários problemas. Primeiramente, está baseado naquilo que Hume
ÉTICA

chamava da falácia de “é-deve”. Simplesmente, porque alguma coisa é praxe não significa
que deve ser assim. Em segundo lugar, se toda comunidade está com a razão, então não há 13
maneira de solucionar conflitos entre comunidades e nações. Seja o que for que cada uma
acredita ser certo – ainda que isto importe no aniquilamento da outra - é certo.

O Homem é a medida
O filósofo grego Protágoras disse: “O homem é a medida de toda as coisas.” Se isto for
entendido individual, então o certo é medido pela vontade do indivíduo. O certo é aquilo que é
certo para mim. O que está certo para um pode estar errado para o outro, e vice-versa.

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A crítica mais comum deste conceito é que levaria ao caos. Se toda pessoa literalmente
“fizesse sua própria vontade”, então, não haveria comunidade, ou seja: não haveria união
na sociedade. Além disso, qual aspecto específico do homem deve ser tomado como sendo
a “medida”? Não se pode responder, os “aspectos bons”. Pois neste caso pressupõe que
o “bem” à parte do homem é realmente a medida do homem, e não o homem a medida
do bem.

A raça tem razão


Uma maneira de evitar o individualismo e solipsismo dois conceitos anteriores é insistir que
nem os indivíduos nem as comunidades individuais são os árbitros finais daquilo que é certo,
mas, pelo contrário, a raça humana inteira é o tribunal superior de recursos.
A primeira objeção a este ponto de vista é que, assim como os grupos frequentemente
estão enganados, assim também a raça inteira poderia enganada. As comunidades têm se
suicidado em massa. O que aconteceria se a raça decidisse quo suicídio era certo, e todos
os que não concordassem fossem forçados a fazer o mesmo? Em segundo lugar, a raça está
num estado de fluxo. Se a raça fosse à norma derradeira, então como se poderiam fazer
julgamentos tais como: “A humanidade não é perfeita”, ou: “O mundo precisa de melhoria”?
Estas declarações não fazem sentido a não ser que haja algum padrão fora da raça, por meio
do qual poderia ser medido seu grau de bondade.

O certo é a moderação
Conforme o antigo ponto de vista grego, especialmente exemplificado em Aristóteles,
o significado do certo acha-se no caminho da moderação. O “compromisso ideal”, ou curso
moderado entre os extremos, era considerado o curso certo de ação. Por exemplo, a temperança
é o meio termo entre tolerância e insensibilidade. O orgulho é o meio termo entre a vaidade e
a humildade. E a coragem é o meio termo entre o medo e a agressão.
Há naturalmente, muita sabedoria em seguir o caminho da moderação. A pergunta é,
no entanto, se o caminho do meio deva ser visto como uma definição daquilo que é certo.
Em primeiro lugar, o certo às vezes parece exigir ação extrema, como nas emergências, na
defesa própria, na guerra, e assim por diante. Até mesmo algumas virtudes, tais como o amor,
parecem melhor expressas não moderadamente, mas sim, liberalmente. Em segundo lugar, o
“meio da estrada” nem sempre é o lugar mais sábio (ou seguro) para ficar. Tudo depende de
quão extrema é a situação. Um extremo às vezes exige outro. Por exemplo, a doença extrema
(o câncer) frequentemente exige uma operação extrema (a remoção dos tecidos doentios).
Finalmente, a moderação parece ser, na melhor das hipóteses, apenas um guia geral para a
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prática, e não uma definição universal do certo.

Não existe o certo


ÉTICA

Alguns filósofos simplesmente negam qualquer coisa seja certa ou errada. São chamados
“antinomistas” (contra-lei). Poucos realmente declaram-se completamente antinomistas, mas
14
muitos pontos de vista podem ser reduzidos a isto. A.J. Ayer insistia que todas as frases com
“devo”, realmente têm o significado de frases com “sinto”. Daí, “Você não deve ser cruel”
significa “Eu não gosto de crueldade.” A ética não preceitua; é simplesmente emotiva. Não há
mandamentos; apenas há expressões dos sentimentos pessoais de ninguém.
A primeira objeção a este conceito é seu solíssimo radical. O certo é reduzido àquilo de que
“eu gosto”, que reduz a verdade à mera questão de gosto. O conteúdo ético de “Hitler mata:
judeus” não é considerado diferente na sua qualidade do que “Eu não gosto de chocolate.” Em

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segundo lugar, o conceito não escuta o significado das declarações com deve; pelo contrário,
legista quanto àquilo que devem querer dizer. Noutras palavras, em que base é que “devo”
é reduzido para “sinto”? Há coisas que devo fazer (tais como ser amoroso e justo) quer sinta
vontade, quer não.

O certo é o que traz prazer


Os epicureus (século Ivo a. C.) foram creditados com a filosofia original do hedonismo. O
hedonismo, definido de forma simples, alega que aquilo que traz prazer é certo, e aquilo que
traz dor é errado. Na realidade, a fórmula para o certo é um pouco mais complicada. É esta:
Aquilo que provoca o máximo de prazer e o mínimo de dor é a coisa certa a fazer.
Há dificuldades óbvias com esta teoria. Primeiro: nem todos os prazeres são bons, e nem
toda a dor é má. O prazer sadista obtido de torturar pessoas é mau. A dor do estudo ou do
trabalho pesado pode ser boa. Em segundo lugar, pode-se perguntar: prazer para quem o
por quanto tempo? Prazer para o indivíduo e para o momento? E o que se diz sobre todos os
homens, por todo o tempo?

O certo é o maior bem para a raça


Os utilitários respondem ao último problema do ponto de vista hedonista ao alegarem que
o certo é aquilo que traz o “maior número de pessoas (afinal de contas).” Jeremy Benta (1748-
1832) sugeriu que o bem deve ser entendido num sentido quantitativo. Ou seja: dependia do
quanto prazer era obtido por quanto tempo para quantas pessoas. John Stuart Mill aceitava o
utilitarismo, mas insistia que o bem fosse entendido num sentido qualitativo também. Alguns
bens são mais elevados do que os bens físicos (e outros). Um homem infeliz é melhor do que
um porco feliz, disse Mill.
Claramente, o conceito de Mill é uma melhoria tanto do hedonismo quanto do
utilitarismo quantitativo de Bentham. Há, porém, outras dificuldades. Em primeiro lugar,
como um ser humano – que apenas raras vezes consegue predizer consequências de curto
prazo – pode determinar aquilo que resultará das suas ações no final das contas? Muitas
ações más (a mentira e o logro, por exemplo) parecem “funcionar” para pessoas por longos
períodos de tempo. Isto as torna corretas? Em segundo lugar, por quanto tempo dura a
longo prazo? Significa-se o futuro remoto ou o fim do mundo, então está demasiadamente
fora do alcance para ser de qualquer ajuda em tomar decisões hoje. Mas se significa o
futuro próximo, então justificaria as coisas obviamente más que funcionam bem por um
curto prazo (governos corruptos, a crueldade, e o engano). Finalmente, mesmo quando
os resultados são óbvios, como a pessoa sabe que são “bons” resultados a não ser que
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possua algum padrão do bem além dos resultados? Se, porém, há uma norma para o certo
e o errado além dos resultados, logo, os resultados como tais não determinam aquilo que
é certo.
ÉTICA

O bem é aquilo que é desejado por amor a ele mesmo


15
A dificuldade que emergiu da crítica supra é esta: por mais que se defina o certo ou o
bem em termos dalguma outra coisa, ainda se pode perguntar: “Mas aquilo é certo?” Se o
bem for definido como sendo o prazer, alguém poderá perguntar: “Mas o prazer é bom ou
mal?” Se o certo for definido em termos de resultados, então, alguém ainda pode perguntar:
“Os resultados são bons ou maus?” Talvez o bem seja aquilo que é desejado por amor a ele
mesmo, a saber: aquilo que tem valor intrínseco em si e por si. Noutras palavras, o bem nunca
deve ser desejado como um meio, mas, sim, somente como um fim.

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Os críticos deste ponto de vista indicaram vários problemas. Primeiramente, os homens
parecer desejar: alguns fins maus por amor a eles mesmos. Como o desejo de aniquilar uma raça
poderia ser chamado um desejo bom? Aristóteles responderia que cada má ação é realizada
com uma finalidade boa. Até mesmo a vítima do suicídio age em prol do alegado “bem” que
trará a si mesmo por meio de eliminar todos os seus problemas. Esta resposta, no entanto, leva
a outra crítica, de que alguns “bens” são apenas bens aparentes e não reais. Definiram-se o
bem simplesmente em termos do fim, então aquilo que chamamos de “bom” frequentemente
não é realmente bom de modo algum: é mau.
Finalmente, há o problema de fornecer o conteúdo para o significado do bem. Se o bem
fosse simplesmente objeto do que é desejado, então, logicamente, a pessoa deveria saber
examinar o(s) objeto(s) dos seus desejos e descobrir o conteúdo do significado do bem. Mas isto
não serve, visto que, conforme já foi notado, aquilo que desejamos nem sempre é genuinamente
bom; ás vezes é apenas aparentemente bom, mas realmente mau. Logo, estamos confrontados
com o dilema de que o bom não pode ser definido em termos de qualquer outra coisa, e,
mesmo assim, parece não ter conteúdo algum quando é entendido em termos de si mesmo.
Há alguma saída?

O bem é indefinível
G. E. Moore (1873-1958) insistia que o bem é um conceito que não pode ser nem analisado
nem definido. Toda tentativa para definir o bem em termos dalguma outra coisa comete o que
ele chamava da “falácia naturalista.” Esta falácia resulta da suposição de que, porque, por
exemplo, o prazer pode ser atribuído ao bem, então é da natureza do Bem, ou seja, idêntico
a ele. Tudo quanto podemos dizer é que “o Bem é bom,” e nada mais. O Bem é conhecido,
portanto, somente por intuição.
Há bases para aquilo que Moore diz, mas também há perigos. O primeiro problema é
que aparentemente nem todas as pessoas têm intuição do mesmo conteúdo do bom ou do
reto. Além disto, muitos argumentam que intuições são vagas. Falta-lhes clareza, que é uma
das coisas que um filósofo procura. Além disto, há o problema de como evitar a acusação de
tautologia quando tudo quanto alguém pode dizer é: “O Bem é bom.”.
Há, no entanto, alguma verdade na posição de Moore, especialmente porque reconhecia
que a qualidade ulterior do “bem” o torna resistente à definição em termos dalguma outra
coisa. Pois afinal das contas, toda disciplina e ponto de vista deve reconhecer algo como sendo
sua base ou fonte, em termos da qual tudo o mais é entendido. Para cristão, que pensa em
Deus em termos do Bem supremo, isto tem muito apelo.
COSMOVISÃO CRISTÃ

REFERÊNCIAS
GEISLER, Norman L.; FEINBERG, Paul, D. Introdução à Filosofia: uma perspectiva cristã. São Paulo: Vida
ÉTICA

Nova, 2007.
16 GEISLER, Norman L. Ética Cristã: alternativas e questões contemporâneas. São Paulo: Vida Nova,
1984.p.11-23.
SANTOS, Antônio Raimundo dos. Ética: Caminhos da realização humana. São Paulo: Ave Maria, 1997.
NICOLA, Ubaldo. Antologia Ilustrada de Filosofia. São Paulo: Ática, 2001.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2001.
LAW, Stephen. Guia Ilustrado Zahar: filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

Filme
Medo da verdade. Miramax. 114 min. 2008.

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