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Em “O cuidado necessário”, Leonardo Boff discorre sobre a natureza, a importância, e

as implicações do cuidado, nos relacionamentos humanos (saúde, afetos, educação,


etc.), na espiritualidade, e na relação com a Terra como um todo (natureza, criação,
universo).
Para quem conhece a militância do autor, era de se esperar que uma das palavras
mais importantes nesta obra fosse sustentabilidade. Boff apresenta sustentabilidade
em relação com cuidado.
Se a sustentabilidade representa o lado objetivo, ambiental, econômico e social da
gestão dos bens naturais e de sua distribuição, o cuidado denota seu lado subjetivo,
as atitudes, os valores éticos e espirituais que acompanham todo esse processo, sem
os quais a própria sustentabilidade não se realiza adequadamente (p. 21).

Sustentabilidade “significa o uso racional dos recursos escassos da Terra, sem


prejuízo do capital natural, mantido em condições de sua reprodução e de sua
coevolução, considerando ainda as gerações futuras que também têm direito a um
planeta habitável” (p. 20). Por que dar importância ao cuidado e à sustentabilidade?
Simples: “ou fazemos uma aliança global para cuidar uns dos outros e da Terra, ou
corremos o risco de nossa autodestruição e da devastação da diversidade da vida”
(Unesco, 2003). Com efeito, “o cuidado se impõe para garantirmos a vida e sua
continuidade” (p. 38). Boff elenca razões científicas para justificar o cuidado:
Já soou o alarme ecológico. O consumo ultrapassou 30% a capacidade de reposição
dos bens e serviços da Terra. Em outras palavras, o planeta vivo, Terra, está
perdendo sustentabilidade. A biodiversidade diminui dia a dia. São mais de cinco mil
espécies de seres vivos que anualmente desaparecem definitivamente da face da
terra. A escassez de água potável (só 0,7% dela é acessível ao consumo humano)
constitui uma ameaça à vida de milhões e milhões de pessoas e a todos os seres
vivos que precisam dela para sobreviver (p. 259).

O autor começa a definir cuidado como “uma arte, um paradigma novo de


relacionamento para com a natureza, para com a Terra e para com os seres humanos”
(p. 21). Porém o sentido de cuidado será explanado ao longo de toda a obra. “Cuidado
é uma atitude de relação amorosa, suave, amigável, harmoniosa e protetora para com
a realidade pessoal, social e ambiental” (p. 35). Cuidado como
preocupação com aquilo ou com quem nos sentimos ligados afetivamente; o cuidado
como precaução e prevenção diante do futuro que pode nos trazer surpresas
desagradáveis e efeitos danosos; e, por fim, o cuidado como holding, aquele conjunto
de medidas e suportes que garantem segurança e paz (p. 127-128).

E ainda:
Cuidar consiste em uma forma de viver, de ser, de se expressar; é uma postura ética e
estética frente ao mundo; é um compromisso com o estar-no-mundo e contribuir com o
bem-estar geral, na preservação da natureza, na promoção das potencialidades, da
dignidade humana e da nossa espiritualidade; é contribuir na construção da história,
do conhecimento da vida (p. 227).
Boff cita o pediatra e pensador Winnicott, com sua teoria de base, o holding, que se
traduz pelo
conjunto de dispositivos de apoio, sustentação e proteção, sem os quais o ser humano
não vive. É da essência humana [...] a care (o cuidado), que se expressa nestes dois
movimentos indissociáveis: a vontade de cuidar e a necessidade de ser cuidado. Isso
é patente na relação mãe/bebê. Este precisa de cuidado sem o qual não vive e
subsiste. E a mãe sente vontade e tem a predisposição de cuidar” (p. 30).

O cuidado é necessário no nível individual (cuidar de si e do outro) e no nível social e


geral (cuidar da comunidade e da Terra), conforme a exposição do capítulo seis. As
atitudes do cuidado humano devem contemplar o corpo e a alma, compreendendo o
ser humano como uma realidade integral (homem-corpo e homem-espírito – p. 159; p.
187).

Preocupado com a vida e o futuro da Terra, Boff desafia e incentiva ações urgentes de
precaução e prevenção. Na precaução se revê o que se está fazendo e que ameaça a
terra, e na prevenção se estuda antecipadamente determinadas ações, afim de sequer
iniciar algo que possa prejudicar as condições de vida das próximas gerações.
A base da argumentação do autor em prol da Terra é construída através do conceito
de terra como Mãe Terra e Gaia, isto é, “um superorganismo vivo, que se autorregula
e auto-organiza, respeitando seus ciclos” (p. 33), e da qual fazemos parte
indissociavelmente. O homem é filho da Mãe Terra. O autor luta pelo reconhecimento
da dignidade intrínseca da Terra, pois assim, “poderá ser iniciado um novo tempo, o
da biocivilização, na qual a Terra e a humanidade reconhecem a recíproca, a origem e
o destino comuns” (p. 88). Portanto, toda a violência que praticamos contra a Terra,
praticamos contra nós mesmos. Para solidificar tal argumentação, Boff faz a seguinte
leitura científica da vida:
Como Terra existimos já há 4,44 bilhões de anos, uma floração feliz de um processo
evolucionário que começou há 13,7 bilhões de anos, quando surgiu o universo que
conhecemos. Há 3,8 bilhões de anos irrompeu, de algum pântano ou mar primevo, a
vida. Há 125 milhões de anos emergiram os mamíferos, a cujo gênero pertencemos, e
com eles nos veio o afeto, o carinho e o amor. Há uns 70 milhões de anos emergiu
nosso ancestral, que vivia na copa das árvores para escapar da voracidade dos
dinossauros. Há 17 milhões de anos já nos separávamos dos primatas e nos fizemos
antropoides, com traços que apontavam para a futura humanidade. Há 7 milhões de
anos já éramos humanos, portadores de consciência e inteligência. E há 100 mil anos
somos plenamente humanos, com um cérebro extremamente complexo, capaz de
suportar um espírito cujo voo não se limita a este mundo, mas alcança as estrelas e se
abre ao Infinito (p. 256).

Diante disso, sem se preocupar com a tradição da teologia bíblica, Leonardo


Boff mostra que o homem veio da Terra, do Universo, e portanto é parte dele –
responsável e cúmplice – é filho e hóspede, e não senhor e dono. Tendo evoluído dos
mamíferos, possui a razão cordial: o sentimento, o afeto e o carinho. No decorrer da
evolução adquiriu também a inteligência intelectual e racional. É portanto, o único ser
vivo, filho da Mãe Terra, capaz de cuidar da natureza, dos seres vivos e de si mesmo
(p. 79), através da razão cordial (coração) [pathos – anima] e da intelectual [logos –
animus] (p. 83-84). Suprimir uma em detrimento da outra é um erro. Exemplo disso é
que a humanidade iniciou a maior onda de violência contra o sistema-Terra quando
exaltou a Razão soberanamente sobre o coração. Nesta fase da história Boff diz que
imperou o paradigma da conquista, o qual precisa ser urgentemente substituído pelo
paradigma do cuidado, que por sua vez também oferece oportunidades de avanço e
crescimento – porém de uma forma nobre e responsável.

O livro parte para a conceituação do cuidado na filosofia. Em Heidegger,


segundo Boff,
a verdadeira tarefa da filosofia deve se orientar pelo cuidado de si. Para ele
(Heidegger), a realidade somente ganha seu sentido original quando interpretada
como cuidado e como preocupação inquieta de si mesmo. [...] Do estudo de Santo
Agostinho tira o conceito que vai aparecer em Ser e tempo acerca do “cuidado
autêntico”. É aquele que cuida de si e, na liberdade realiza as possibilidades de se
autoajudar (numa perspectiva de futuro). Também deriva dele o “cuidado inautêntico”,
que é cuidar de si de maneira obsessionada, ocupando-se de tudo e menos de si
mesmo, ou cuidando do outro de modo a torná-lo dependente e até submisso (p. 49).

Através do estudo das cartas de São Paulo, Heidegger dá vida à expressão “o


cuidado angustiante” e “a preocupação angustiada”. Jesus disse: não vos preocupei
[cuideis] dizendo: “o que haveremos de comer e vestir? Não vos preocupeis [cuideis]
com o dia de amanhã” (Mt 6:34-35). Com isso, Heidegger não está dizendo que é
totalmente ilícito preocupar-se. Ele está pontuando que o ser humano por si mesmo
(com suas próprias forças) não consegue livrar-se da inquietação e preocupação
diante do futuro. Sua única chance é fazer do Reino de Deus sua preocupação
primeira, então as demais preocupações e cuidados quanto às incertezas do futuro (a
ansiedade e o cuidado angustiante) serão superadas. A fé do cristão lhe relembra que
sua vida está na palma da mão de Deus. Por que se angustiar?
Estudando Aristóteles, Heidegger vai adiante e diz que o cuidado é a condição
primeira do ser humano em relação ao mundo. O cuidado
é a fonte prévia de todos os comportamentos possíveis, sejam práticos, teóricos,
conscientes ou inconscientes. Pelo fato de o ser humano ser portador de cuidado
essencial, cria-se a condição para ele sentir-se conscientemente como um ser-no-
mundo. [...] É, portanto, mais que uma mera inquietação; é a estrutura originária do
Dasein, da existência humana, no tempo e no mundo. Ser homem/mulher é ser
constituído de cuidado (p. 53).

Boff cita as palavras do próprio Heidegger: “o cuidado significa um fenômeno


ontológico existencial básico”.
Saindo da filosofia e partindo para uma área mais prática, com base no que já
expôs, Boff pergunta: O que é preciso fazer para cuidar da Mãe Terra? Sua resposta
baseada na Carta da Terra é: respeitar, reduzir, reutilizar e reciclar tudo o que é
consumido. Rejeitar propagandas que incentivem o consumo insano e reflorestar o
máximo possível os muitos estragos já feitos (p. 98). Além disso, trabalhar na
produção de produtos orgânicos – excluindo transgenia e agrotóxicos. Outra iniciativa
é o extrativismo, isto é, extrair solidariamente sem derrubar a floresta, aproveitando e
preservando seus frutos, substâncias, óleos e outros ingredientes para cosméticos.
São medidas práticas com vistas ao bem-viver, um ética de visão holística do ser
humano na grande comunidade terrenal, sustentada sobre a decência e a suficiência
para toda a comunidade, e não apenas e egoisticamente para o indivíduo ou minorias
privilegiadas. O bem-viver busca um caminho de equilíbrio e “uma profunda comunhão
com a Pacha Mama (Terra), com as energias do universo e com Deus” (p. 105) –
conceito extraído da sabedoria dos andinos.

O cuidado na ética social é abordado também em termos e conceitos jurídicos


e filosóficos. Leis que não contemplam certos desfavorecidos e marginalizados da
sociedade, beneficiam a violência moral e prejudicam a prática do cuidado. Quando
isso acontece, enquanto não se resolve o problema jurídico, Boff diz, baseado em
Tomás de Aquino, que “acima da justiça está o amor à humanidade e a todos os
seres. O amor ao próximo é a regra de ouro, a suprema norma da conduta
verdadeiramente humana” (p. 125). E qual a importância da justiça? No nível pessoal,
justiça significa o conjunto de virtudes que possibilita relações harmoniosas com toda
a realidade que nos cerca. No nível social, refere-se à promoção do bem comum por
parte das instituições. Sem justiça não se pode construir uma sociedade realmente
humana (p. 133). Novamente o animus e a anima estão presentes. As leis foram
criadas em um mundo (ocidental) já dominado pelo animus, mais presente no
masculino. Tais leis possuem também seu lado bom e verdadeiramente humano, mas
por não dialogarem, especialmente com a perspectiva da anima, deixaram lacunas. O
conceito mais profundo de justiça deve ser procurado também no que tem a dizer a
anima, mais presente no feminino. E elas (neste ponto o autor cita várias filósofas e/ou
feministas), ao contrário do que alguém poderia imaginar, vão dizer que “o tema do
cuidado e respectivamente da justiça não são temas de gênero, mas da totalidade do
humano” (p. 127). E o que, mais especificamente elas tem a dizer?
A dimensão da anima, da qual a mulher é especial portadora, capta primeiramente o
mundo como valor do que como fato. Ela vê no fato mensagens e no visível capta o
invisível. Ela possui um acesso ao real mais com o coração do que com a razão [...]. A
tese que sustentamos em nossas reflexões é que o cuidado constitui uma dimensão
essencial do humano, mas que ganha densidade e visibilidade maior na mulher. A
condição dela é singular, sentindo o mundo a partir do significado que este carrega.
Esta percepção é enriquecedora da ética porque leva em consideração o lado não
apenas conceitual e institucional da realidade, mas também a sua densidade cotidiana
e valorativa (p. 127).

Ainda falando sobre a organização da vida em sociedade, segundo o


paradigma do cuidado, as observações do capítulo onze são necessárias. Boff fala da
importância da educação. Apressadamente, discerne quatro momentos no processo
educativo do mundo ocidental: a educação na idade da razão – crítica; na idade
técnica – criatividade; na idade das opressões – libertação; na idade da Terra –
cuidado. O processo pedagógico nos legou a necessária coragem e capacidade de
criticar, a arte de criar, a humildade de transpor a barreira professor/aluno,
maior/menor, superior/inferior, libertando assim os oprimidos e fazendo-os
participantes da construção do saber; mas, finalmente, resta a pergunta: onde ficou o
cuidado? Na era em que estamos vivendo, a necessidade maior é a de inserir, ou
melhor, discernir a presença e a importância do cuidado na educação. É preciso
aprender e ensinar a cuidar (p. 254). É momento de quebrar as paredes das salas de
aulas e ensinar ao ar livre, deixando que os alunos contemplem a natureza,
estreitando seus laços com ela no campo das ideias (resgatando a razão sensível e
cordial – p. 262). E o próprio campo das ideias, por sua vez, revelará que já existe
uma ligação íntima entre humanidade a Mãe Terra. A sociedade que surgirá disso será
diferente. Será cuidadora. Promoverá e respeitará a dignidade integral de cada
elemento do Todo, e do Todo de cada elemento.

Cultivar e compreender a espiritualidade do homem é de suma importância


para o cuidado, pois é através dela, a espiritualidade, que o homem conhece sua
conexão com o Todo. “O extraordinário do homem-espírito é poder entrar em
comunhão com Deus” (p. 190), desenvolver a capacidade de amar e perdoar (p.193),
e de compadecer-se (p. 194) do outro e da Casa comum – a Mãe terra. Espiritualidade
é abrir-se ao mistério do mundo e ao mistério maior, que é a Última Realidade, ou
Deus (p. 199).

Discorrendo sobre o cuidado na medicina e na enfermagem, Boff desenvolve


um conceito de saúde que vai além da concepção biológica. Tal conceito ele chama
de equilíbrio de corpo-mente-espírito-natureza (p. 205). Em suma, a saúde do homem
só pode ser plena se ele estiver de bem com a Terra e se ela estiver bem. Se a Terra
está doente, o homem está doente, e vice-versa. O cuidado na medicina e na
enfermagem é indispensável porque o ser humano, “o doente”, é um corpo-espírito e
espírito-corpo. Tem dignidade. Precisa ser tratado, ou melhor, cuidado como tal. É o
que o autor chama de “visão de totalidade” – homem-corpo-espírito-Terra. Na visão da
totalidade, a doença é vista como “uma fratura dessa totalidade e a cura como uma
reintegração nela” (p. 218). Além disso, o ser humano é, por natureza, frágil. Prova
incontestável de sua fragilidade intrínseca é a impossibilidade humana de livrar-se do
luto. Cedo ou tarde, ele acontece (e no luto também é necessário um cuidado especial
– p. 212-215). Neste sentido, ser saudável não consiste em estar livre de toda e
qualquer fraqueza e sofrimento, “mas em poder conviver com eles com autonomia,
crescer com eles, e se tornar mais plenamente humano” (p. 211).

Boff conclui a obra defendendo-se preventivamente das críticas, dizendo: “Não


são poucos os que, ao término da leitura deste livro, dirão: há nele coisas belas e até
profundas, mas se trata de uma utopia”. Porém, diz o autor:
Seguramente há nele muito de utopia, mas de uma utopia necessária. Desta vez, ou a
utopia se transforma em topia, concretizando-se de verdade, ou então nosso futuro
comum, da vida e da civilização, estará em grave risco. Temos que tentar tudo para
não chegarmos tarde demais ao verdadeiro caminho que nos poderá salvar. E esse
caminho passa pelo cuidado e pela sustentabilidade (p. 269).
A última frase do livro é uma mensagem de esperança e alerta: “Não abandone
jamais a esperança, o sonho e a utopia. O futuro passa por aí” (

Hoje as discussões em torno do desenvolvimento sustentável, um dos temas centrais


da Rio+20, sequestraram a categoria de sustentabilidade. Ela não se reduz ao
desenvolvimento realmente existente que possui uma lógica contrária à
sustentabilidade. Enquanto aquele se rege pela linearidade, pelo crescimento ilimitado
que implica exploração da natureza e criação de profundas desigualdades, a
sustentabilidade é circular, envolve a todos os seres com relações de
interdependência e de inclusão de sorte que todos podem e devem conviver e
coevoluir.

Sustentável é uma realidade que consegue se manter, se reproduzir, conservar-se à


altura dos desafios do ambiente e estar sempre bem. E isso resulta do conjunto das
relações de interdependência que entretém com todos os demais seres e com seus
respectivos habitats. A sustentabilidade funda um paradigma que deve se realizar em
todos os âmbitos do real.

Para que a sustentabilidade realmente ocorra, especialmente quando entra o fator


humano, capaz de intervir nos processos naturais, não basta o funcionamento
mecânico dos processos de interdependência e inclusão. Faz-se mister uma outra
realidade a se compor com a sustentabilidade: o cuidado. Ele também funda um novo
paradigma.

Antes de mais nada, o cuidado constiui uma constante cosmológica. Se as energiais


originárias e os elementos primeiros não fossem regidos por um sutilíssimo cuidado
para que tudo mantivesse a sua devida proporção, o universo não teria surgido e nós
não estaríamos aqui escrevendo sobre o cuidado. Nós mesmos, somos filhos e filhas
do cuidado. Se nossas mães não nos tivessem acolhido com infinito cuidado, não
teríamos como descer do berço e ir buscar o nosso alimento. O cuidado é aquela
condição prévia que permite um ser vir à existência. É o orientador antecipado de
nossas ações para que sejam construitivas e não destrutivas.

Em tudo o que fazemos, entra o cuidado. Cuidamos do que amamos. Amamos do que
cuidamos. Hoje pelos conhecimentos que possuimos acerca dos riscos que pesam
sobre a Terra e a vida, se não cuidarmos, surge a ameaça de nosso desaparecimento
como espécie, enquanto a Terra, empobrecido, seguirá, pelos séculos afora, seu curso
pelo cosmos. Até, quem sabe, que surja um outro ser dotado de alta complexidade e
cuidado, capaz de suportar o espírito e a consciência.

Resumimos os vários significados de cuidado construídos a partir de muitas fontes que


não cabe aqui referir mas que vem da mais alta antiguiadade, dos gregos, dos
romanos, passando por Santo Agostinho e culminando em Martin Heidegger que vêem
no cuidado a essência mesma do ser humano, no mundo, junto com os outros e
voltado ao futuro. Identificamos quatro grandes sentidos, todos mutuamente
implicados.

Primeiro: Cuidado é uma atitude de relação amorosa, suave, amigável, harmoniosa e


protetora para com a realidade, pessoal, social e ambiental.

Metaforicamente podemos dizer que o cuidado é a mão aberta que se estende para a
carícia essencial, para o aperto das mãos, com os dedos que se entrelaçam com
outros dedos para formar uma aliança de cooperação e a união de forças. Ele se opõe
à mão fechada e ao punho cerrado para submeter e dominar o outro.

Segundo: Cuidado é todo tipo de preocupação, inquietação, desassossego, incômodo,


estresse, temor e até medo face a pessoas e a realidades com as quais estamos
afetivamente envolvidos e por isso nos são preciosas.

Esse tipo de cuidado, acompanha-nos em cada momento e em cada fase de nossa


vida. É o envolvimento com pessoas que nos são queridas ou com situações que nos
são caras. Elas nos trazem cuidados e nos fazem viver o cuidado existencial.

Terceiro: Cuidado é a vivência da relação entre a necessidade de sercuidado e a


vontade e a predisposição de cuidar, criando um conjunto de apoios e proteções
(holding) que torna posível esta relação indissociável, em nivel pessoal, social e com
todos os seres viventes.

O cuidado-amoroso, o cuidado-preocupação e o cuidado-proteção-apoio são


existenciais, vale dizer, dados objetivos da estrutura de nosso ser no tempo, no
espaço e na história, como no-lo tem mostrado Winnicott. São prévios a qualquer outro
ato e subjazem a tudo o que empreendermos. Por isso pertence à essência do
humano.

Quarto: Cuidado-precaução e cuidado-prevenção constituem aquelas atitudes e


comportamentos que devem ser evitados por causa das consequências danosas
previsíveis (prevenção) e aquelas imprevisíveis pelo insegurança dos dados científicos
e pela imprevisibilidade dos efeitos prejudicais ao sistema-vida e a sistema-
Terra(precaução).

O cuidado-prevenção e precaução nascem de nossa missão de cuidadores de todo o


ser. Somos seres éticos e responsáveis, quer dizer, nos damos conta das
consequências benéficas ou maléficas de nossos atos, atitudes e comportamentos.
Como se deduz, o cuidado está ligado a questões vitais que podem significar a
destruição de nosso futuro ou a manutenção de nossa vida sobre esse pequeno e belo
planeta. Só vivendo radicalmente o cuidado garantiremos a sustentabilidade
necessária à nossa Casa Comum e à nossa vida.

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