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lar" (16 ) . Roland Corbisier assinala que ação as condições que determinam as es
"vários fatores, e não apenas os de truturas coloniais ou subdesenvolvidas.
ordem ideal, contribuem para provocar Se, como diz R. Corbisier, "na colônia
o advento da consciência crítica" : 1 ) as tudo é colonial", as ideologi as presentes
guerras ; 2) as crises resultantes de per na estrutura colonial não podem ser se
turbações internas ou de repercussões não colonialistas ou colonizadoras ; ou
das crises internacionais na vida do país ; ainda, a colônia nunca poderá ter pro
3 ) a desagregação das instituições lo jeto próprio devendo se conformar com
cais; 4) as novas relações econômicas e seu estado de subserviência ( 2 0) e de de
culturais (17) . pendência ( 2 1 ) .
Na base destas formulações está a Porém, instaladas alterações nas estru
aceitação de que no subdesenvolvimento turas materiais do p aís e rompido o com
- ocorrendo aquilo que Nurske deno plexo colonial, pode-se então forjar uma
minou de "círculo vicioso da pobreza" ideologia que sustente e incentive o de
( ou ainda, no truísmo cunhado por senvolvimento incipiente. Ainda nas pa
lavras de R. Corbisier : "resultando de
Myrdall : "um país é pobre porque é
um projeto ou da integração de inúme
pobre" ) - a consciência não pode ser
ros projetos conscientes e racionais, o
senão "inerte, passiva e conforma
desenvolvimento nacional requer, para
da" (1 8) . Não há, como assinalou C. Men que se possa realizar ordenada e não
des, um real comportamento ideológico caoticamente, com o máximo aproveita
( superador, transformador) por parte da mento dos recursos disponíveis, um pla
colônia (19), mas, sim, a presença de nejamento global cuj a elaboração impli
ideologias imobilistas. ca a formulação prévia de uma ideolo
As ideologias imobilistas, presentes gia". Mais adiante, associando V. Lenin
na estrutura colonial ou na situação de e V. Pinto, sintetizaria um dos slogans
subdesenvolvimento em estagnação, re isebianos do desenvolvimento ; "não ha
produzem no nível do pensamento e da verá desenvolvimento sem a formulação
prévia de uma ideologia do desenvolvi
( 1 6 ) Ramos, G. - op. cit., p. 65. O mesmo mento nacional" ( 22 ) .
G. Ramos, dirá, num outro trabalho, Segundo o pensamento dos isebianos,
que houve manifestações isoladas de as transformações ocorridas no interior
consciência crítica no Brasil antes de da estrutura semicolonial ( ou subdesen
1930 ( Mauá, S. Romeiro, Alberto Tor
volvida) - e que permitem a emergên
res, Pandiá Calógeras ) ; mas terão
sido sempre momentos esporádicos. cia da consciência crítica - não a con-
Afirma : " ( . . . ) A consciência crítica
duma nação é também produto his
tórico. Só surge quando é historica ( 2 0 ) Os conceitos de alienação, destino,
mente necessária. Quando a nação j á inautenticidade, heteronomia etc., fre
possui a s condições q u e l h e permitem quentemente utilizados pelos isebianos
apoderar-se do seu destino". Ramos, para expressar esta situação colonial,
G - A Problemática da Realidade são objetos de análise em outra
Brasileira, p. 31. In : Introdução aos parte d e nosso livro.
prob lemas do Brasil. Rio, ISEB, 1956. (21 ) O conceito de dependéncia, ampla
(17) Corbisier, R. - Formação e Pro b lema mente empregado pelos isebianos
da Cultura Brasileira. Rio, ISEB, 1960. para caracterizar as relações "colô
p. 41-43. nia x metrópole", parece provir do
(i8) Vieira Pinto - CRN, I, p. 90. estudo de Balandier, G. - Sociologie
( 19 ) Não se constitui para a colônia a de la depéndence ; citado frequente
tríade opção, projeto, processo. V. mente por G. Ramos e R. Corbisier.
Mendes, C. - Nacionalismo di Desen (22) Corbisier, R . - FPCB, p. 87. ( grifos
volvimento. Rio, Ibeaa, 1963, p. 124-154. nossos ) .
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lações ideológicas das classes ou, como civilização) , a fase se constitui na etapa
diz H. J aguaribe, suas "crenças adje do processo histórico de uma comunida- ·
tivas" também o sej am. Ocorre que nem de. Diz H. Jaguaribe : "a etapa em que
sempre as aspirações sociais de uma clas se encontra a comunidade brasileira
se correspondem aos seus interesses reais ( . . . ) embora concomitantemente em
objetivos. Nestes casos, as classes passam relação à época, à etapa em que se en
a ser "vítimas da própria ideologia, per contra a comunidade norte-americana,
dendo a oportunidade de organizar em apresenta uma diferenciação faseológi
função dela a sociedade a que perten ca". Mais adian te aduz : "a fase é a eta
cem" (25 ) . Portanto, a representatividade pa da evolução do desenvolvimento
não está de imediato garantida, embora duma comunidade em função dos seus
o autor nunca se preocupe em indicar próprios eixos e se caracteriza por uma
quais seriam os fatores que determinam determinada estrutura-tipo" (28) .
a falsa representatividade das ideologias ; Ora, na estrutura-tipo ( que H. J<1gu a
nem discute, por exemplo, se as aspi ribe nunca chega a determinar rigorosa
rações sociais equivocadas de uma classe mente qual sej a ) da nação brasi: e;ra,
seriam explicadas a partir da dominação vive-se em toda sua extensão a c j2se da
de certas ideologias sobre outras - me transformação, caracterizada pela enér
diante o processo da luta ideológica - gica e acentuada propensão ao desenvol
no interior da formação social. De outro vimentoto"(29). E o que confere ao Bra-
lado, diz H. J aguaribe, são autênticas as
ideologias que, "sej am quais forem os ( 2 8 ) Estruturar-tipo é, para H. Jaguaribe,
interesses situacionais que representem, o resultado do intercondicionamento
formulem para a comunidade como um de quatro planos estruturais : o das
todo, critérios e diretrizes que a encami relações econômicas, o das relações
sociais, o das relações políticas e o
nham no sentido de seu processo faseo das culturais. Parece não haver domi
lógico, ou sej a que permitam o melhor nância de uma es trutura sobre a
aproveitamento das condições naturais outra, mas, sim correlações recíprocas.
da comunidade, em função dos valores Exemplos de estruturas-tipos : estru
tura-tipo colonial ; semi-colonial ; capi
predominantes na civilização a que per
talista. v. Jaguaribe, H. - Condições
tence" (2 6) . InstUucionais do D esenvolvimento.
Como entende H. J aguaribe este pro Rio, ISEB, 1958, p. 13.
cesso faseológico ou fase (27 ) 1 Para ele, (29) Mas que fique claro - apesar dos
diversamente da época ( etapa do proces textos citado s não terem esclarecido
o sentido rigoroso dessa fase de trans
so histórico-social de uma cultura ou
formação : o processo faseológico bra
sileiro - sendo definido em última
(25) Jaguaribe, H. - o Nacionalismo na instância pelos valores predominantes
atualidade b1'asileira, Rio de Janeiro , na Civilização ( ocidental ) a que per
ISEB, p. 49. tencemos - só pode ser o da Revo
(26) Idem - ibidem. Loc. cito ( grifos lução Burguesa. V. Jaguaribe, H.
nossos ) . Os adeptos da geopolítica CID . p. 16.
nativa têm em H. Jaguaribe um dos Este " destino nacional" de solidarie
seus mais refinados ideólogos. dade e subordinação aos "valores
(27) Tanto a noção de fase ( ou processo predominantes na Civilização " levará
faseológico ) como a de época provêm H. Jaguaribe a propugnar, sem meias
de F. Carl Muller-Lyer, sociólogo -palavras, medidas autoritárias a fim
alemão que teria tido decisiva influ de se conter e reprimir todas aquelas
ência no pensamento de K. Mannheim forças e movimentos que ameaçassem
� conforme faz notar Guerreiro Ra por e m questão nossa "vocação oci
mos em A Redução Sociológica, p. dental e democrática" v. O Naciona
107. liSmo na A tualidade Brasileira p. 2 0tl .
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Reconhecerá Vieira Pinto que as re que pretenda conceder ou impor às mas
presentações da consciência trabalha sas uma "consciência" ou um "ideá
dora não surgem coerentes, unificadas rio" (42 ) , os pensadores dos países peri
e sistematizadas através dum aparato ló féricos deverão apropriar-se das repre
gico-conceitual. As massas forneceriam sentações da consciência popular. Nas
como que a "matéria prima" aos pen p alavras de Vieira Pinto : "o que com
sadores ( filósofos ou sociólogos incor pete aos sociólogos [em outros momen
porados ao ponto de vista coletivo) (40) tos acrescenta : filósofos e pensadores
aos quais, caberia ordená-la e explicitá em geral] na ordem teórica e aos polí
la, dando-lhe um corpo lógico. Assinala ticos n a ordem prática, é fazerem-se
Vieira Pinto que esta tarefa da intelec arautos dessa verdade [a verdade sobre
tualidade participante se justificaria a situação n acional presente na consciên
ainda mais pela circunstância de que cia das massas] , recolhê-la nas suas legí
- nos primeiros momentos do desen timas origens e interpretá-la com o auxí
volvimento - as representações verídi lio do instrumento lógico-categorial que
cas das massas correm o risco de "con devem possuir, sem distorcê-la, sem vio
taminação" pois afloram num "espaço lentá-la, sem mistificá-la" (43 ) .
ideológico constituído" (onde persistem Aqui estí configurada a tarefa isebi
ideologias comprometidas com a antiga ana, segundo a visão de Vieira Pinto :
ordem ) . Daí, muitas vezes, as massas explicitar, a partir das categorias "indu
nesse contexto se comportarem de forma zidas do processo histórico nacional",
equívoca e incoerente. Torna-se, então, o que jã está implícito no interior da
tarefa do pensador, não comprometido consciência das massas. E não se deve
com as "ideologias arcáicas", "aguçar a
confundir a difusão ou divulgação dessa
sensibilidade p ara discernir e captar
quanto haj a de autêntico nesses prenún
cios ideológicos difusos no pensamento ( 42 ) idem - ibidem, I, 138. Admite Vieira
como em qualquer outra forma de com Pinto que seria ingenuidade histórica
portamento popular" (41 ) . pensar a imposição de ideologia, por
força de decretos ou de " propaganda" :
Dentro destes limites fica, pois, jus " não haverá astúcia capaz de implan
tificada a atividade dos teóricos e pen tar socialmente uma ideologia, como
sadores dos países subdesenvolvidos. não haverá violência que a extinga"
Como já tivemos a ocasião de mostrar, ( I, 50 ) . Uma vez mais, ficaria negada
a insinuação da arbitrariedade do
estes são convocados à urgente tarefa
projeto ideOlógico a ser constituído.
de forj ar a teoria e a ideologia do de
( 'l3 ) idem - IDN, p. 39. Logo abaixo
senvolvimento nacional. M as que . se te assinala que : " ( . . . ) a condição para
nha bem presente : ao contrário dum pro que surja a ideologia do progresso
jeto de cunho totalitário ou fascistizante nacional é mais do que a simples j us
taposição das classes dirigentes e do
povo, mesmo harmoniosa, pacífica e
( 40) idem, ibidem, I, 147. consentida ; é a existência de quadros
( 4 1 ) idem, ibidem, I, 145. vi tb. I, 144 : intelectuais capazes de pensar o pro
"antes que o pensador seja capaz de jeto de desenvolvimento sem fazê-lo
dar corpo lógico às novas representa à distância, mas consubstancialmente
ções conceituais implicadas nos acon com as massas ". IDN, p. 39. Dirá em
tecimentos, o povo mesmo as vai esbo GRN I, 144 que deve haver uma "liga
çando, num balbucio ideológico onde ção existencial" dos intelectuais com
tem suas primeiras tentativas, de "as condições de vida das camadas
expressão de idéias que, depois, os populares e total descompromisso com
sociólogos e filósofos procurarão enun os interesses das classes explorado
ciar em forma límpida e doutrinária". ras" .
CA I O NAVARRO D E T O LEDO 135