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Aluízio se aproximou quase tão devagar quanto no dia do ocorrido, sentou-se perto
dele e puxou com cuidado o curativo, que sozinho tampava os três ferimentos. Os
olhos de Aluízio encheram-se de lágrimas, e por dentro ele sentia como se não fizesse
parte do próprio corpo, uma cicatriz completamente fechada, com fios de cabelo
Amor
- João, eu num sei que eu falo. - disse Aluízio com voz trêmula.
sala, e João, sem dizer nada, podia sentir o coração acelerar, os pêlos da nuca se
arrepiando, e num lapso, levantou-se e saiu pela porta da frente como um animal, ao
Na rua, Carmen estava no portão, quando viu João surgir, e abrir a porta da frente da
loja.
- Me falaro que aqui tava chei de sangue quando cês me acharo. Cadê? - João disse,
- Uai João, nós já limpô, cê não queria que a gente largasse aqui tudo sujo né?
Carmen, deixando mostrar as lágrimas minando em seus olhos, agora com um tom
avermelhado.
- Oh João, não fica pensando nisso não. - Com as mãos em seus cabelos, Carmen se
deu conta de que João estava sem os curativos - Uai João, cadê seus curativo?
De novo, ele se levantou e saiu, sem dizer uma palavra, Carmen até tentou
acompanhá-lo, mas embora João nunca sequer tivesse gritado com ela, era
sair, confusa.
Em casa, João sentou-se no quintal de cabeça baixa, pensando. Mas nada fazia
sentido, pensou nas bandagens em seu peito, pensou no que ocorreu naquele dia,
pensou no que Deus podia esperar dele. Pensou em sua infância, em todas as vezes
que voltava pra casa machucado, arranhado, e quão normal ele sempre foi. E quão
mediano, ele sempre foi. Ouviu Carmen chegar, e viu sua silhueta pela janela dos
Na cozinha, ela parou e o olhou por um instante, e o seu inconfundível olhar, encheu
Carmen sempre estivera ali, ao seu lado, casaram-se jovens, João tinha 19 e Carmen
16, ainda quando aquela região quase não havia casas. João se viu pensando então,
no quanto aquela mulher representava em sua vida, no instante daquele olhar, ele viu
a mulher que aprendeu a amar, a mulher que o alimentou e cuidou, que lhe deu
sempre o melhor de si, que o abençoou com dois filhos e sustentou aquela casa
curvas que tanto o incendiavam, agora desapareceram com o tempo. Mas aquele
olhar emanava a essência daquela maravilhosa mulher que Carmen se tornou ao seu
lado.
Sentiu-se aceso, como um adolescente, o corpo quente, o coração acelerado. João foi
em sua direção, como um garanhão, e Carmen sorriu. (eu quando li essa parte :D)
tentava dizer:
enquanto João suspirava. Quando subitamente ela parou, em êxtase. (meio adulto -
Pig, Peppa)
João puxou seu frágil corpo para próximo de si, e a apertou, com amor e paixão,
Carmen não se movia, e não respirava, Carmen estava morta. (O.o Waaaaat?! OMG!
João tomado de terror, continuou a observa-la incrédulo, mas não havia sinal, além do
calor remanescente em seu corpo que fizesse acreditar que Carmen estivesse viva.
Sentou-se, ainda despido no seu lado da cama e chorou, quando tomado subitamente
vizinho.
Tomou o telefone, avisou a polícia e pediu a seu filho que viesse, sem alarmá-lo da
real seriedade. No quintal, sentou-se onde a poucos dias estivera a contemplar o céu,
mas dessa vez de cabeça baixa olhava para o chão de terreno batido pelos passos de
todos que um dia passaram por ali, todas as visitas que receberam, e onde as
crianças brincavam. Tudo tornou-se vívido por um instante, de tal forma que João só
João o olhou, e pôs-se de pé pesadamente com a força que a muito tempo não tinha.
O filho, quase tão grande quanto o pai, pareceu pequeno aos olhos de João, que viu
nele a criança que por tantas vezes viera a ele machucado pelos tropeços e vacilos
comuns na juventude. Mas desta vez não havia curativo para tamanha ferida, e nem
conselhos, de modo que João não conseguiu dizer palavra, com os olhos marejados o
Homem de valores conservadores, João temia pelo legado de Carmen, como 'a
mulher que morreu durante uma transa com o marido’. Em sua mente borbulhavam mil
histórias e situações que pudessem preservá-la, mas ele sabia, ou pensava saber o
quão traumático seria a seus filhos e futuras gerações a história verdadeira. Quando
Conduzido à delegacia, João recusou-se a falar, repetia apenas que havia matado
que João estaria em estado de choque, mantendo-o preso numa cela individual até
Aluizio sentiu uma pontada no peito, pois lhe parecia impossível que João houvesse
feito tamanha monstruosidade com a mulher que era apaixonado desde os tempos de
sua mocidade. Com alguma dificuldade seguiu caminhando pela casa. O corpo de
conhecidos no local, acabaram cedendo que ele pudesse ver o amigo, advertido de
seu estado.
utilizada apenas para demandas muito precisas e temporárias, de tal forma que João
era o único mantido no local. Aluizio fora conduzido a um estreito e longo corredor pelo
aproximar-se ouvia o ranger de metal com metal, que tornava-se cada vez mais forte,
quando diante de Aluizio, João com o lençol sob o pescoço, estava amarrado ao
portão da cela.
Em vão, tentava erguer o corpo de João, que para seu espanto, chorava em silêncio.
Os policiais chegaram e com a ajuda de mais dois homens conseguiram livrar João
Aluizio foi tirado de lá, enquanto os policiais prestavam os primeiros socorros, sentou-
se numa poltrona, buscando absorver tudo que havia acontecido nos últimos dias e
como de alguma forma conduziram até ali. Em vão, os policiais procuraram convencê-
lo a deixar o local, mas ele não foi e não seria capaz de encarar os ‘sobrinhos
enrustidos’ sem antes ter falado com João, sentia o dever moral, digno dos melhores
João fora levado para o hospital, sob a companhia do amigo, surpreso por tamanha
- Por que eu num consigo Aluizio? O que que eu sou? Será que eu num vo morrer
nunca?
- Eu só queria morrer Aluizio, eu tentei, mas eu num consigo, será que foi Deus?
Purquê que Deus num salvô a Carmen no meu lugar? Eu num mereço nada disso.
- Como que cê matou a Carmen?! Cê num percebeu João, que as coisas num giram
João não respondeu, e chorou mais, os paramédicos pediram a Aluizio que ficasse em
silêncio.
- Que que cê tá falando João? Ta ficando doido? Que que aconteceu ca Carmen João,
- Eu lembro de quando a Carmen foi pro hospital pra ganhá a Raquel, - João disse,
emocionado - eu tava com muito medo dela morrê. E conversei cum moço, e ele me
falô que tinha umas injeção perigosa, e também tinha uma história de injetá ar na veia
- João, cê num pode prosseuir cu isso, me fala pur favô que que aconteceu! Cê num
- Eu nunca tinha te pedi nada tão sério quanto isso, te considero meu irmão. Oia
Aluizio, se ocê fizer isso, eu ti conto tudo, mas cê tem que jurar que vai levar isso pro
seu túmulo.
- Num vô fazê isso cocê João! Ta ficano doido? - quando Aluizio tomou consciência da
oportunidade, e mudou de fala. Pois bem, então eu faço, mas eu vou te dar só a
- Eu e a Carmen tava fazeno amô, Aluizio, quando ela morreu, eu num sei explicar o
- Como assim João? Purquê cê ta fazendo isso tudo por causa disso?
- Pensa em tudo di bão que a Carmen fez pra nós, na mulher boa que ela era, Aluizio.
- respondeu João chorando. Ela não miricia uma morte indigna, eu num quero que
- Mas ocê prefere seus fio com raiva docê e pensando que cê é um assassino João?
Para a surpresa de Aluizio, João nada disse, quando ele se deu conta que João havia
dado cabo no seu intento, os marcadores ligados a ele começaram a fazer barulhos e
sinais aparentemente anormais. Aluizio se levantou e caminhou até a porta, mas antes
que pudesse pedir por ajuda, pôde ouvir os sinais se normalizando, seguido de um
súbito suspiro de João, ao voltar-se para trás, João ergueu o corpo rapidamente,
Antes que Aluizio conseguisse chegar até a janela, pôde ouvir o barulho seco do corpo
de João atingindo o solo. Parou por um instante, até tomar coragem, e ergueu o corpo
pela janela, esquivando-se dos pedaços de vidro, onde para sua surpresa, João
seus pés.
cambaleante por entre eles, rumo ao elevador, mas no meio do caminho o seguram.
Mah gente, cês tão pensano que eu ia guentar jogá um home daquele tamanho
Bem, até nós sabê o que aconteceu, num podemo deixar o sinhô ir. Me
desculpa, mas o sinhô vai ter que esperá. - disse uma das enfermeiras,
enquanto pensava. Mas não muito tempo depois, sentiu uma leve pontada no peito,
que caminhou pelos seus braços e pernas. Os pêlos de seu corpo subiram, enquanto