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SUMÁRIO

Introdução.

Capítulo I
A Gloria

Capítulo II
Duas Testemunhas

Capítulo III
A Vereda da Vida

Capítulo IV
A Verdade e a Vida

Capítulo V
A Porta

Capítulo VI
A prisão

Capítulo VII
O Jovem Apóstolo

Capítulo VIII
A Luz

Capítulo IX
Liberdade

Capítulo X
O exército

Capítulo XI
A cidade

Capítulo XII
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Palavras de vida

Capítulo XIII
O maná

Capítulo XIV
O chamado

Capítulo XV
Adoração em espírito

Capítulo XVI
O pecado

INTRODUÇÃO

Este é o segundo livro da série A Batalha Final. Embora este livro comece onde o primeiro
terminou, pode ser compreendido mesmo sem que o leitor tenha lido o anterior. Entretanto, se você
não leu A Batalha Final, uma parte do conteúdo poderá lhe parecer sem continuidade. Como esta é
uma saga espiritual, há algumas bases que foram postas no primeiro livro, sobre as quais se
constrói no segundo.
Como expliquei na Introdução de A Batalha Final, estes livros são o resultado de uma série de
experiências proféticas. Muitas vezes aconselharam-me dizendo que eles seriam melhor recebidos
e lidos por muito mais pessoas se tivessem sido escritos como ficção. Pode ser que isso seja
verdade, mas o meu objetivo é simplesmente permanecer fiel às mensagens que me foram
confiadas, apresentando-as tão fielmente quanto possa. Para mim, declarar que tudo isso decorreu
da minha própria criatividade seria tanto um procedimento desonesto de minha parte como
também uma afronta ao Espírito da Verdade.
Entretanto, pelo fato de que A Batalha Final tem sido amplamente recebida por todos os matizes de
denominações e movimentos evangélicos, e tem sido plena aceitação entre os evangélicos
conservadores, desejo explicar com mais detalhes o que eu quero dizer com "experiências
proféticas", e em particular como as recebi, e quero ainda esclarecer um pouco sobre a base bíblica
para essas experiências nos dias de hoje.
As experiências proféticas na Bíblia são de diversas naturezas, como aconteceu com as que eu
recebi nesta série. Algumas vieram através de sonhos, outras pro visões, e outras ainda por meio do
que a Bíblia chama de “revelações”. Sonhos, visões e revelações tem todos eles precedentes
bíblicos e são meios conhecidos pelos quais o Senhor fala com o seu povo. Devido ao número
crescente de cristãos que estão tendo experiências semelhantes hoje em dia, esta situação é vista
por alguns como sendo o cumprimento da profecia de Pedro, feita no dia de Pentecostes, a qual foi
uma citação do profeta Joel:

E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne;
vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; ate
sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e
profetizarão. #At 2:17,18.

Como esta escritura declara, revelações proféticas por meio de visões, sonhos e profecias serão
abundantes nos últimos dias. E por haver um grande aumento das revelações dadas aos cristãos no
presente, é bastante compreensível que nossos dias estejam sendo considerados de fato como "os
últimos dias".
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DISCERNINDO O VERDADEIRO DO FALSO

Jesus também nos advertiu de que nos últimos dias surgiriam muitos “falsos profetas" #Mt 24:24.
Isso é de se esperar, porque, como o Senhor também ensinou, sempre que ele semeia trigo num
campo, o inimigo vem e semeia joio no mesmo campo #Mt 13:24-30. O joio tem a mesma
aparência do trigo, e pode até ter igual sabor, mas o joio e nocivo. Satanás imediatamente
procurará fazer uma contrafação de tudo o que Deus esteja Fazendo, para criar confusão e, se
possível, enganar até mesmo os eleitos. Entretanto Satanás não poderia fazer isso caso Deus não
lhe tivesse dado permissão. É óbvio que o Senhor quer que aprendamos a distinguir o que é
verdadeiro, e por isso permite que ele seja testado pelo falso, de forma que saibamos discerni-lo.
Que os falsos profetas estão tornando-se mais freqüentes, isso não deveria surpreender-nos, mas
sim encorajar-nos a procurar os verdadeiros com uma determinação bem maior. Se não desejamos
ser enganados pelos falsos, a solução não é rejeitar toda profecia, mas sim reconhecer a que é
verdadeira. Nos dias que virão, aqueles que não souberem discernir a verdadeira profecia cada vez
mais estarão arriscando-se a se sujeitarem às falsas. Se Deus está plantando alguma coisa, é porque
trata-se de algo que vamos precisai. Se não plantar-mos nada num campo, mas o deixarmos de
lado, a única colheita que se poderá fazer será de ervas daninhas. Os que não receberem o que
Deus está fazendo hoje acabarão tendo que colher apenas plantas silvestres.

Desde o princípio, o Senhor comprometeu-se a permitir que os homens escolhessem entre o


verdadeiro e o falso, entre o bem e o mal. Foi por isso que ele pos a árvore do Conhecimento do
Bem e do Mal no jardim, como também pôs a Árvore da Vida. Ele não pôs a árvore do
Conhecimento lá com o objetivo de que falhássemos, mas foi com o propósito de que pudéssemos
provar a nossa obediência e o nosso amor para com ele. Não pode haver uma verdadeira
obediência do coração a menos que haja liberdade para se desobedecer.
De igual modo, os mestres verdadeiros e o ensino genuíno sempre estarão sendo seguidos de perto
por falsos mestres e falsos ensinos; verdadeiros profetas e a verdadeira profecia sempre estarão
sendo seguidos por falsos profetas e falsa profecia. O Senhor permite que o inimigo semeie joio no
meio do trigo para provar o nosso coração. Os que amam a verdade discernirão o que é verdadeiro,
e os que são puros de coração discernirão o que é puro.
Pelo fato de que o Senhor nos advertiu que nos últimos dias surgiriam falsos profetas, isso por si só
implica em que haverá também verdadeiros profetas, pois se não fosse assim ele teria dito que
todos os profetas no fim dos tempos seriam falsos. Mas isso estaria em conflito direto com a
profecia de Joel de que nos últimos dias Deus derramaria o seu Espírito e que haveria visões,
sonhos e profecias #Joel 2:28-29.
Há um perigo em abrir-se paia revelações proféticas tais como sonhos, visões e profecias.
Entretanto, há um perigo bem maior se não estivermos abertos para elas. Revelações não nos são
dadas para o nosso entretenimento, mas porque delas necessitamos no tempo em que vivemos. É
como Jesus também declarou:

“Em verdade, em verdade vos digo: o que não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe
por outra parte, esse e ladrão e salteador. Aquele, porem, que entra pela porta, esse é o pastor das
ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas
próprias ovelhas e as conduz para fora. Depois de fazer sair todas as que lhe pertencem, vai adiante
delas, e elas o seguem, porque lhe reconhecem a voz; mas de modo nenhum seguirão o estranho;
antes, fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos." #Jo 10:1-5.

As ovelhas do Senhor conhecem a sua voz. Elas não são enganadas por estranhos porque
conhecem a voz dele tão bem que a podem distinguir das vozes de outros. Uma das maneiras pela
qual o Senhor tem falado ao seu povo desde os primeiros dias tem sido através da profecia. Como
sabemos que Deus é imutável, e como as Escrituras dizem com muita clareza que haverá visões,
sonhos e profecias a serem dadas por Deus ao seu povo, é imperativo que saibamos discernir entre
aquilo que é revelação de Deus e o que vem por parte do inimigo, e assim interpretaremos a
mensagem de Deus de forma correta. E uma vez que elas tenham sido corretamente interpretadas,
temos de ter a sabedoria de aplicá-las a nossa vida corretamente.
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O PROPÓSITO DA PROFECIA

Uma profecia é dada para que haja encorajamento, mas também é dada para edificação. Edificar
significa "construir". Muito da minha vida e do meu ministério tem sido construído sobre palavras
proféticas que se cumpriram.
Quase todo aspecto de maior importância de nosso ministério, inclusive os lugares para onde vou
ministrar ou falar, é previamente dito numa profecia. Não me disponho a fazer alguma coisa ou a ir
a algum lugar para ministrar a menos que antes o Senhor me tenha falado a respeito. Jesus agiu
dessa mesma forma. Ele não ia atrás das necessidades humanas; ele somente fazia o que ele via o
Pai fazendo. Não temos tempo para ir a lugares ou para começar a fazer o que Deus não esteja nos
dirigindo a fazer. Creio que a nossa disposição para ouvir Deus antes de fazermos qualquer coisa
capacita-nos a produzirmos frutos com os recursos e com o tempo que nos foi confiado.
Sei de servos de Deus que com sucesso construíram um ministério ou uma igreja tendo como base
palavras proféticas. Sei também de alguns que naufragaram, e de outros que passaram por sérios
desvios por não saberem julgar uma profecia. Muitos desses problemas aconteceram porque eles
receberam uma, genuína revelação do Senhor, mas erraram em sua interpretação, ou então não a
aplicaram de forma correta. Para alguns, isso pode parecer complicado, mas este é o processo que
de forma bem clara as Escrituras estabelecem, e pagaremos caro se nos desviarmos da firme
sabedoria bíblica com respeito à revelação profética.
Como Jesus disse em #Mt 22:29: “Errais, não conhecendo as Escriturais nem o poder de Deus”.
Muitos no dia de hoje cometem erros por conhecerem as Escrituras mas por não conhecerem o
poder de Deus. Os que conhecem o poder de Deus muitas vezes cometem erros por não
conhecerem as Escrituras tanto quanto deveriam conhecer.
Para que não venhamos a cometer erros, temos de conhecer tanto as Escrituras como o poder de
Deus. A profecia nunca teve a pretensão de substituir a Bíblia.
Tenho passado horas e mais horas com líderes evangélicos conservadores de grandes ministérios a
quem Deus tem começado a falar através de sonhos, visões e profecias. Em muitos casos, ele
passou a agir assim, mesmo violando a teologia deles. Isso tem sido tão freqüente que cheguei a
considerar se haverá ainda líderes evangélicos conservadores com quem Deus não esteja falando
desse modo.
Em nosso ministério Morning Star há um fluxo quase que constante de contatos feitos por pessoas
que estão em busca de ajuda no sentido de entenderem o que está acontecendo com eles. O que
eles talvez não estejam percebendo a esta altura é que aç pessoas familiarizadas com a profecia,
tanto quanto os evangélicos conservadores, necessitam da ajuda dos que têm alguma experiência
com os dons proféticos. Para que a igreja atinja a maturidade a que é chamada, tem de haver uma
união entre os que conhecem as Escrituras e os que conhecem o poder de Deus, e isto agora está
acontecendo num passo acelerado.
Pesquisei na Bíblia para conferir que os ensinamentos com base nas minhas experiências são
bíblicos, e tenho plena confiança de que são. Tenho que admitir que alguns deles me fizeram
enxergar certas passagens de um modo que nunca tinha visto anteriormente. Mesmo assim, creio
que isso é consistente com o propósito de revelações proféticas deste tipo. Uma profecia não é para
ser usada para se estabelecer uma doutrina. Para isso a Bíblia nos foi dada, e creio que a doutrina
da Bíblia é completa e que nada lhe terá que ser acrescentado. Contudo a própria Bíblia tem muitos
exemplos de experiências proféticas que foram dadas a pessoas com o propósito de iluminar as
Escrituras.
Um exemplo do Novo Testamento para isso é a visão que Pedro teve, resultando em sua ida à casa
de Cornélio, o que abriu a porta da fé para os gentios. Essa experiência e o fruto que ela
proporcionou tornou bem claro para a igreja que o Senhor pretendia fosse o evangelho pregado aos
gentios. Isso não estabeleceu uma nova doutrina, mas iluminou o que as Escrituras diziam e o que
o próprio Senhor tinha ensinado quando estava com eles, mas que aparentemente eles tinham
esquecido.

Muitas das experiências incluídas nestes dois livros agiram deste mesmo modo comigo. Elas
constantemente me fizeram lembrar de meus próprios ensinamentos e do que eu tinha aprendido de
outras pessoas, mas que na melhor das hipóteses eu tinha aplicado apenas superficialmente em
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minha vida. Nesse sentido, essas experiências proféticas foram um constante desafio para mim,
fazendo com que eu tomasse Importantes medidas corretivas, e até mesmo que viesse a julgar
certas coisas da minha vida e dos meus ensinamentos. Como fui eu que tive essas experiências, eu
as considerei como aplicáveis a mim pessoalmente, e não presumi que as mesmas correções são
necessárias para todos. Entretanto, creio que muitas delas, se não a maior parte, têm uma aplicação
bem ampla na igreja de nossos dias.
Muitos temas desta dissertação repetem-se por vezes. Não apenas há afirmações que se repetem,
mas alguns dos temas são tratados mais de uma vez, sob diferentes perspectivas, ou expressos de
maneira diferente em situações não iguais. Entendo que isso aconteceu por causa da minha própria
dificuldade de compreender as coisas, tal como parece ter sido o caso quando o Senhor teve que
repetir o que dizia várias vezes a Pedro. Sei que repetições não constituem um bom estilo literário,
mas também este não é o meu objetivo. Quando uma idéia é reformada a probabilidade de que seja
retido na memória aumenta. Assim, procurei da mesma forma, repetir tudo o que para mim foi
repetido.

EXPERTINCIAS PROFÉTICAS

Compreendo também que a natureza de algumas das revelações possa causar problemas teológicos
para alguns.
Um desses problemas certamente será o modo pelo qual encontrei-me e falei com muitas das
personagens do Antigo e do Novo Testamentos, assim como com pessoas que tiveram destaque na
história da igreja, e que agora estão mortas. Há precedentes bíblicos para isso, tal como quando o
Senhor conversou com Moisés e Elias. Embora Elias tivesse sido arrebatado sem passar pela
morte, Moisés morreu. Temos ainda o exemplo de quando o apóstolo João prostrou-se para adorar
o anjo em #Ap 22:9. O anjo repreendeu-o, declarando que ele, também, era um conservo de seus
irmãos. Muitos têm entendido que isso indica que ele era um dos santos que tinham ido para estar
com o Senhor.
Mesmo assim, posso compreender que alguns ainda terão alguma dificuldade nesse sentido, e há
ainda uma outro explicação. Há uma diferença entre experiências proféticas e uma ação feita na
realidade. Por exemplo, quando Ezequiel foi tomado pelo Espírito e levado para Jerusalém, é óbvio
que ele não foi levado para a verdadeira Jerusalém, muito embora tudo lhe parecesse muito real.
Muitas das coisas pelas quais ele passou naquela experiência não existiam de fato, mus tinham o
propósito de levar uma mensagem para os que estavam no exílio.
De igual forma, muito embora algumas destas experiências por que passei, e as pessoas com quem
me encontrei pareciam muito reais para mim, eu realmente questiono se de fato eu estava falando
com pessoas no céu. Creio que foram experiências proféticas que tinham o propósito de trazer uma
mensagem. Não sei se os lugares que eu vi no céu são lugares reais, ou se eles me apareceram do
modo como apareceram com o objetivo de me trazer aquela mensagem. Entretanto, estou aberto ao
pensamento de que eu tenha visto lugares reais e me encontrado com pessoas reais. Não vejo
conflito algum com as Escrituras, que proibissem esta possibilidade, embora eu compreenda que
alguns a objetarão. Mesmo assim, tal como Abel ainda fala, embora esteja morto, certamente as
vidas das personagens bíblicas são mensagens, e estas experiências contribuíram para me trazer luz
mais do que nunca.
Uma razão pela qual eu me inclino a acreditar que foram experiências proféticas e que eu não
estava falando com pessoas reais é devido ao tempo em que elas duraram. Por exemplo, muitas
pessoas já tiveram sonhos que foram tão reais que, quando acordaram, por algum tempo chegaram
a pensai" que os sonhos eram a realidade. Entretanto, até mesmo estes sonhos, em apenas algumas
horas começam a desvanecer, e logo são esquecidos. Experiências da vida real não são assim. Já
tive encontros reais com o Senhor e com anjos que são quase tão genuínos para mim como eram
anos atrás, quando passei por eles. Tive também muitos sonhos e visões em que vi o Senhor e vi
anjos, mas estes passaram bem depressa. Exceto algumas bem poucas das experiências incluídas
nestes livros, esses episódios proféticos desvaneceram-se mais como revelações e não
permaneceram como se fossem encontros reais.
Foi por esta razão que procurei escrever as minhas experiências o mais rapidamente possível, logo
após por elas passar. Em alguns casos, não deu para fazer desse modo. Ao ter condições de chegar
num lugar em que as podia escrever, minha memória a respeito das experiências que eu havia tido
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já estava desvanecendo. Lembro-me de que muitas vezes o Espírito Santo me ajudou a trazer de
volta muitas coisas à memória, mas quanto mais tempo havia se passado entre o momento da
experiência e o momento em que tinha condições de escrevê-la, maior era a minha preocupação
quanto à possibilidade de não a ter expressado exatamente da maneira como eu a tinha
experimentado.
Nesses casos eu estava ciente de que as minhas doutrinas e os meus preconceitos particulares
poderiam facilmente entrar no que eu estava escrevendo, e embora com sinceridade eu tenha
procurado evitar que isso acontecesse, reconheço que existe a possibilidade de que isso tenha
ocorrido em alguns pontos. Por esta razão, a minha contínua oração em relação a este livro foi no
sentido de que o Espírito Santo me dirigisse na escrita, e que também venha a dirigir a quem quer
que o leia. Ele nos foi dado para nos conduzir à Jesus.
Oro para que você possa discernir o que é verdadeiro, o que é de Jesus, apegando-se a toda a
verdade e descartando tudo o mais.

A INFALIBILIDADE DAS ESCRITURAS

Embora em muitos lugares eu tenha procurado escrever as palavras exatas do Senhor quando ele
falou comigo, o que escrevi não são Escrituras, e creio que nenhuma experiência profética tenha
que ter o peso das Escrituras. Mesmo assim, a profecia é muito importante para a igreja, pois se
não fosse não seríamos exortados pela Escritura, ao dizer: "Segui o amor e procurai, com zelo, os
dons espirituais, mas principalmente que profetizeis''' (1 Coríntios 14:1). Somos informados de
que: "o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando. O que fala em outra
língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja" (1 Coríntios 14:3-4).
Nunca recebemos qualquer palavra no sentido de que a profecia tenha o propósito de ensinar uma
doutrina - para isso temos as Escrituras. Nunca nos foi dito que a profecia é infalível, e é por isso
que ela nos diz que temos que julgar toda profecia. Entretanto, a profecia de fato edifica. Por ser a
profecia um dom do Espírito Santo, temos que tratar tudo o que vem dele como algo santo, mas
por vir através de seres humanos, ela não pode ser considerada infalível.
As Escrituras, tal como foram originalmente escritas, são infalíveis. Elas são a rocha da verdade e
da pura revelação de Deus e constituem o modo de Deus pelo qual podemos construir a nossa vida
com a certeza de que as Escrituras permanecerão eternamente. Vejo a profecia como o maná que o
Senhor deu no deserto. Ele provém do Senhor e contribuirá para sustentar-nos em nossos afazeres
do dia-a-dia, mas se tentarmos conservá-lo por mais tempo do que ele foi designado a durar, ele se
estragará.
As Escrituras são permanentes e nos foram dadas para que construíssemos a nossa vida sobre a
verdade, ao passo que a profecia é dada para edificação e encorajamento, estrategicamente
mantendo-nos na vontade do Senhor para cada dia.
O caráter de qualquer relacionamento será determinado pela qualidade da comunicação entre as
partes, e todo relacionamento que não tem uma comunicação permanente está morrendo. A
profecia de fato nos ajuda a mantermos o nosso relacionamento com o Senhor, a cada dia, de
forma renovada. É por isso que creio que as Escrituras nos encorajam a buscar '''principalmente"
este dom.
Por muitos anos busquei o dom da profecia. Assim procedi em obediência ao texto que nos exorta
a fazer isso, e porque aprecio demais os dons proféticos. Aprecio as experiências proféticas,
embora todas elas, exceto algumas, tenham trazido grandes repreensões para mim. Mesmo assim
eu tenho orado muito mais pedindo sabedoria e o dom da palavra de sabedoria do que em relação a
quaisquer outros dons. Creio que foi por isso que na maioria das vezes o Senhor me apareceu em
minhas experiências personificado como Sabedoria. Penso ainda que uma pessoa verdadeiramente
sábia aprecia demais receber admoestações, porque "as repreensões da disciplina são o caminho da
vida" (Provérbios 6:23). Em todas essas experiências por que passei, recebi uma profunda correção
em minha vida, que aliás era extremamente necessária.
Neste livro há ainda algumas correções que são básicas para a igreja em geral. Exceto para com as
igrejas pelas quais tenho uma responsabilidade pessoal, procuro não ver os problemas que estejam
incidindo no corpo de Cristo. A igreja é a noiva do Senhor, e tenho muita cautela quanto ao modo
pelo qual eu pretenda trazer-lhe qualquer correção. Assim como Paulo explicou para os coríntios,
temos esferas de autoridade dentro das quais temos de permanecer.
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Não está certo eu ir corrigir os filhos de alguém, mas, como amigo, eu posso falar com os pais e
esperar que também se sintam com a liberdade de falar comigo se eles virem algo que necessite ser
corrigido em meus filhos. Entretanto, nas experiências que foram incluídas neste livro, o Senhor
mostrou-me que a igreja hoje estará sendo levada a algumas terríveis catástrofes se não fizermos
sérias correções de rumo. Considero que eu mesmo tenho problemas assim, e se então você me
perguntar o que temos que fazer a respeito, tudo o que lhe posso dizer é que eu também estou
procurando trabalhar nessas coisas. Estou procurando teimais revelação, ter maior compreensão na
interpretação, e ter a sabedoria de aplicar tudo corretamente em minha vida.
Encorajo-o de novo a ter em mente que, embora as experiências proféticas pelas quais eu passei,
quando recebi estas mensagens, tenham sido muito reais no momento em que elas aconteceram,
com freqüência elas me pareceram não reais apenas algumas horas depois. Isso foi um problema
quando as estava escrevendo. Fiz o que pude para escrevê-las com toda a fidelidade, mas de forma
alguma posso afirmar que estas foram as exatas palavras que me foram ditas, ou que tudo o que foi
escrito com respeito a estas experiências foi escrito exatamente como elas ocorreram. Entretanto,
embora eu possa ter-me esquecido de alguns detalhes, e apesar de nem sempre registrar as palavras
exatas, a mensagem é verdadeira, é do Senhor, e o tempo está próximo.
Rick Joyner Novembro de 1998

A GLÓRIA

Fiquei em frente à porta pela qual eu tinha que passar, olhando para ela. Era uma porta simples,
não convidativa. Voltei-me para ver mais uma vez o Grande Hall do Julgamento, e então fui
tomado por sua glória e por ver quão extenso ele era. Eu não queria sair daqui, muito embora o mal
do meu coração continuamente estivesse sendo exposto. Embora esse processo fosse doloroso, ele
era tão libertador que eu não queria que ele acabasse. Na verdade eu ansiava por ser convencido de
outras falhas em minha vida.
- E isso ainda vai acontecer com você - disse Sabedoria, conhecendo e interrompendo os meus
pensamentos. - O que você encontrou aqui irá com você. Entretanto, você não tem que vir aqui
para ser mudado. O poder da cruz é suficiente para mudá-lo. As experiências que você teve aqui
você as pode ter a cada dia. O Espírito Santo foi enviado para convencê-lo do pecado, para levá-lo
à verdade, e para dar testemunho de mim. Ele está com você permanentemente. Você tem de
conhecer melhor o Espírito Santo.
Sabedoria continuou:
- Muitos são os que crêem no Espírito Santo, mas são poucos os que lhe dão lugar em sua vida.
Com a aproximação do fim desta era, isso vai mudar. O Espírito Santo está para mover-se sobre a
terra tal como ele se moveu no princípio. Ele tomará o caos e a confusão que se espalham por toda
a terra, e produzirá a gloriosa nova criação, bem no meio de tudo isso. Você está prestes a entrar
no tempo em que ele fará maravilhas continuamente, e todo o mundo terá temor diante de suas
obras. Tudo isso ele fará por meio do meu povo. Quando o Espírito Santo se mover, os filhos de
Deus profetizarão. Do idoso ao jovem, todos terão sonhos e verão visões. As obras que eu fiz, e
outras ainda maiores, eles farão em meu nome, para que eu seja glorificado na terra. Toda a
criação geme e tem dores de parto pelo que o Espírito Santo está prestes a fazer.
Disse-me ele ainda:
- O que você vai encontrar ao passar por essa porta é algo que vai ajudá-lo a preparar-se para o que
está por vir. Eu sou o Salvador, mas também sou o Juiz. Estou prestes a revelar-me ao mundo
como o Reto Juiz. Primeiro tenho de revelar o meu juízo sobre a minha própria casa. O meu povo
em breve conhecerá um relacionamento íntimo com o Espírito Santo. Então eles conhecerão o seu
poder para convencer quanto ao pecado. Também saberão que ele sempre os conduzirá à verdade
que os libertará. Esta é a verdade que testifica a meu respeito. Quando o meu povo chegar a me
conhecer tal como Eu Sou, então eu vou usá-los para darem testemunho de mim. Eu sou o Juiz,
mas é melhor que você julgue a si mesmo, de modo que eu não tenha que julgá-lo. Mesmo assim,
os meus julgamentos estão para ser restabelecidos para o meu povo. Vou julgar a minha casa em
primeiro lugar. Depois julgarei toda a terra.
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A glória de Sabedoria sobrepunha-se a tudo o mais ao meu redor. Eu nunca tinha visto um
esplendor assim antes, mesmo aqui. O brilho aumentava enquanto ele falava sobre os seus
julgamentos. Por isso eu fiquei sabendo que há uma glória a ser vista por conhecê-lo como o Juiz,
glória esta maior do que a que até agora conheci. Comecei a sentir-me tão pequeno e insignificante
em sua presença que estava sendo difícil concentrar-me no que ele dizia. No momento em que
pensei que eu ia ser tomado por sua glória, ele estendeu o braço e tocou-me na testa, suavemente,
mas com firmeza. Ao fazer isso, minha mente entrou em foco e ficou tudo muito claro.
- Você começou a olhar para si mesmo. Isso sempre trará confusão, dificultando-o a ouvir-me.
Toda vez que você tiver o meu toque, a sua mente ficará bem mais clara. Toda vez que você sentir
a minha presença, saiba que eu vim para tocá-lo de forma que você possa ver-me e ouvir-me. Você
tem de aprender a viver em minha presença sem tornar-se consciente de si mesmo e absorvido por
si mesmo. Isso apenas o tira da verdade que está em mim, levando-o para o engano que há na sua
natureza decaída. Muitos são os que caem quando são tocados pelo meu Espírito. O tempo dessas
quedas terminou. Você tem que aprender a permanecer de pé quando o meu Espírito estiver se
movendo. Se você não permanecer de pé com o mover do meu Espírito, ele não poderá usá-lo. Os
não-crentes cairão diante de mim, mas eu preciso que os que são meus fiquem de pé de forma que
eu possa usá-los.

O ORGULHO DA FALSA HUMILDADE

Senti uma irritação na voz do Senhor quando ele disse isso. Pareceu-me como a irritação que ele
demonstrou ter com os seus discípulos nos evangelhos. Imediatamente compreendi que a sua
irritação normalmente vinha quando eles ficavam olhando para as deficiências e para os fracassos
que eles tinham.
- Senhor, perdoa-me, - roguei-lhe - mas a tua presença é tão imponente. Como não me sentir assim
tão pequeno quando estou perto do Senhor, como agora?
- Você é pequeno, mas você tem de aprender a viver em minha presença sem ficar olhando para si
mesmo. Você não terá condições de ouvir-me ou de falar por mim, se você estiver voltado para si
mesmo. Você sempre se sentirá deficiente. Você sempre será indigno do que eu lhe chamar para
fazer, mas não será nunca a sua capacidade nem a sua dignidade que fará com que eu o use. Você
não tem que olhar para as suas deficiências, mas olhe para a minha capacidade. Pare de olhar para
a sua indignidade, e olhe para a minha retidão. Quando você é usado, é por ser eu quem sou, e não
pelo que você é.
Ele esclareceu ainda:
- De fato você sentiu a minha ira quando você começou a olhar para si mesmo. Esta é a ira que
senti em relação a Moisés quando ele ficou se queixando, dizendo quão incapaz ele era. Isso
apenas revela que você está olhando para si mesmo muito mais do que para mim, e esta é a razão
principal por que são poucos do meu povo que eu posso usar para fazer o que desejo. Essa falsa
humildade é na verdade uma forma de orgulho que causou a queda do homem. Adão e Eva
sentiram-se deficientes, acharam que teriam que ser mais do que eu os tinha criado para ser.
Tomaram para si o que lhes propiciaria ser o que eles queriam ser. Você nunca poderá tornar-se o
que você deve ser, mas tem de confiar em mim que eu é que vou torná-lo conforme você deve ser.
Embora eu nunca tivesse relacionado a falsa humildade com a queda do homem no Jardim, eu
sabia que essa era uma grande barreira que impedia muitos de serem úteis ao Senhor, e eu tinha
ensinado isso muitas vezes. Agora, na presença do Senhor, a minha falsa humildade se revelava
em mim e dava a impressão de ser até mesmo pior do que todas as que já vi em outras pessoas.
Esta forma de orgulho era repugnante, e pude compreender por que despertava toda a ira no
Senhor.
Em sua presença, tudo o que somos logo é revelado e, mesmo depois de todos os julgamentos
pelos quais eu tinha acabado de passar, eu ainda tinha algumas das deficiências mais básicas que
me impediam de conhecê-lo e de servi-lo da forma como eu tinha sido chamado para fazer. Por
sentir-me tão abalado, não quis mais continuar firmando-me em mim mesmo, e então voltei a olhar
para ele, com o desejo de poder ver tanto da sua glória quanto pudesse suportar, enquanto ele
estivesse comigo neste caminho. Imediatamente a minha tristeza transformou-se num êxtase. Meus
joelhos queriam dobrar-se, mas eu estava determinado a permanecer em pé o quanto pudesse.
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Logo depois despertei. Nos dias que se seguiram eu senti um poder, que fazia tudo parecer
glorioso. Como eu apreciava tudo o que via! Uma maçaneta parecia algo maravilhoso, além da
compreensão. Velhas casas e carros eram tão belos para mim que eu lamentei não ser um artista
para poder captar sua beleza e nobreza. Arvores e animais, todos pareciam ser como amigos
pessoais muito especiais. Cada pessoa que eu via era como uma biblioteca de revelação e de
significado, e eu me sentia muito grato pela eternidade, de maneira que eu poderia conhecê-los
todos. Eu não podia olhar para nada sem que visse magnificência, não conseguindo acreditar que já
tinha avançado muito em minha vida, deixando de usufruir tantas coisas.
Contudo, com relação a toda essa maravilhosa emoção e revelação que sentia fluir em mim, eu não
sabia o que fazer com ela. Eu sabia que se eu não aprendesse a usá-la de forma permanente ela
desvaneceria, o que aconteceu em alguns dias. Era como se o significado da vida estivesse
escapando de mim, e eu sabia que tinha que recuperá-lo. Era o resultado de ver a glória de Deus, e
eu tinha que ver mais. Almejei então aprender a como viver na presença de Deus, permitindo que a
sua vida fluísse em mim para que eu pudesse atingir a outros. Eu tinha que viver no Espírito Santo
e permitir que ele me usasse. Este era o meu chamado.

II

DUAS TESTEMUNHAS

Por alguns dias fiquei com uma profunda depressão. Tudo me parecia tão desanimador. Até
mesmo o barulho das pessoas irritava-me, e toda interrupção ao que eu queria fazer me fazia ficar
com raiva. Fiquei pensando o pior à respeito de cada pessoa, e tive que lutar para conter os maus
pensamentos que surgiram em mim para com elas. Sentia-me como se tivesse decaído até o
inferno, e dia a dia parecia que ia nele descendo a uma profundidade cada vez maior. Finalmente
clamei ao Senhor e quase que naquele mesmo instante achei-me à frente da porta, com Sabedoria
ao meu lado.
- Senhor, sinto muito. Parece que decaí da tua presença indo até o inferno.
- O mundo todo ainda jaz sob o poder do maligno -respondeu ele - e você anda à beira do inferno
a cada dia. Mas há uma vereda da vida. Há profundos fossos em ambos os lados da vereda da vida,
de modo que não é para você se desviar desse caminho estreito.
- Bem, eu caí num desses fossos, e não conseguia sair de lá.
- Ninguém consegue, por si mesmo, sair desses fossos. É por fazer as coisas a seu modo que você
cai neles, e você mesmo não tem como conseguir sair deles. Eu sou o único modo pelo qual dá
para sair. Quando você cair, não perca o seu tempo procurando compreender toda a situação, pois
assim você só se afundará ainda mais no atoleiro. Tão somente peça socorro. Eu sou o seu Pastor, e
sempre vou socorrê-lo, quando você me invocar.
- Senhor, não quero perder tempo procurando compreender tudo, mas eu gostaria realmente de
saber como foi que eu caí tão fundo, e tão depressa. O que me fez desviar da vereda da vida de
modo a cair num fosso como aquele? Tu és Sabedoria, e eu sei que é sábio perguntar.
- É urna atitude sábia saber quando pedir algum esclarecimento e quando apenas pedir socorro.
Aqui é sábio você perguntar. Apenas quando você está em minha presença é que você pode
compreender. A sua compreensão sempre será deturpada quando você estiver em depressão, e você
nunca verá de maneira adequada a verdade naquele lugar. A depressão é o engano que vem por ver
o mundo a partir da perspectiva do próprio mundo. A verdade vem por ver o mundo através dos
meus olhos, de onde me sento, à mão direita do Pai. Tal como os querubins de Isaías 6, os que
vivem em minha presença dirão: "Toda a terra está cheia da sua glória".
Lembrei-me de que, quando era um novo convertido, eu tinha lido esse texto, pensando que esses
querubins tinham se enganado. Eu não podia compreender como eles podiam dizer: "Toda a terra
está cheia da sua glória'", uma vez que toda a terra parecia estar cheia de guerras, de doenças, de
abusos infantis, de fraudes e males por toda a parte. Então o Senhor falou comigo um dia e disse:
"A razão por que esses querubins dizem que a toda a terra está cheia da minha glória é porque eles
vivem na minha presença. Quando você vive na minha presença, você não verá nada mais, a não
ser a glória."
- Senhor, lembro-me de que tu me ensinaste isso, mas não vivi essa verdade muito bem. Passei
muito tempo em minha vida vendo as coisas pelo seu lado mau. Acho que devo ter gasto muito
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tempo em minha vida sentado num desses fossos ao lado da vereda da vida, em vez de caminhar
por ela.
- É verdade - o Senhor respondeu. - De quando em quando você se levantava e dava alguns passos,
mas logo escorregava para dentro do fosso do outro lado. Mesmo assim, você chegou a fazer
algum progresso, mas chegou a hora de você permanecer andando na vereda. Não venha a perder
mais tempo algum caindo nesses fossos.
A brandura e a paciência do Senhor parecia que estavam tomando conta de mim, quando ele
continuou:
- O que fez com que você caísse no fosso desta última vez? - começou ele de novo.
Depois de pensar a respeito, pude perceber que eu tinha me preocupado com a sensação por que
passava e não com a sua causa.
- Eu desviei os meus olhos de ti - confessei.
- Sei que parece ser muito simples, mas foi isso que você fez, e para desviar-se da vereda da vida
basta isso, tirar os olhos de mim. Quando você vive em mim, tudo o que você vê é glória. Isso não
quer dizer que você não vai ver conflitos, confusão, escuridão e engano, que se acham no mundo,
mas quando você os vir, sempre verá a minha resposta para essas coisas. Enquanto viver em mim,
você sempre verá a verdade prevalecendo sobre o engano, e verá a maneira pela qual o meu reino
virá.
- Senhor, quando eu estou aqui, tudo isso é muito mais real para mim do que qualquer coisa pela
qual eu tenha passado na terra, mas quando estou lá, tudo daqui parece-me como um sonho. Eu sei
que as coisas daqui são a verdadeira realidade, e que a terra é temporária. Sei também que se este
lugar fosse mais real para mim na terra, eu teria condições de andar mais na tua sabedoria, e
permanecer na vereda da vida. Tu disseste que pedir alguma coisa sempre é um ato de sabedoria.
Eu te peço que o reino celestial seja mais real para mim quando eu estiver na terra. Então terei
como andar com maior perfeição em teus caminhos. Peço-te ainda que me ajudes a levar esta
realidade a outros. As trevas estão crescendo muito na terra, e poucos são os que têm visão. Peço-
te que nos dês mais do teu poder, que vejamos mais da tua glória, e que conheçamos o verdadeiro
julgamento que vem da tua presença.
- Quando você passar a viver pelo que vê com os olhos do seu coração, você andará comigo, e
você verá a minha glória. Os olhos do seu coração são o meio pelo qual você pode ver a dimensão
do Espírito. Através dos olhos do seu coração você pode vir ao meu trono da Graça, a qualquer
momento. Se você vier até mim, eu ficarei mais real para você. E também lhe confiarei mais do
meu poder.
Enquanto ele falava, fui compelido a voltar-me e olhar para as multidões de reis, príncipes, amigos
e servos do Senhor que permaneciam no Hall do Julgamento. A maravilha e a glória de tudo o que
acontecia ali eram tão grandes que eu me satisfaria vivendo ali por todo o sempre. Mais uma vez
fiquei pasmado ao pensar que este lugar era apenas o começo do céu. Mas mesmo com todas as
suas maravilhas, a verdadeira maravilha do céu era a presença do Senhor. Aqui no começo do céu
ele era Sabedoria e era o Juiz, o que dá no mesmo.
- Senhor, - perguntei-lhe - aqui tu és Sabedoria e Juiz, mas como tu és conhecido nas outras esferas
do céu?
- Eu Sou Sabedoria e Eu Sou o Juiz em todas as esferas, mas Eu Sou ainda muito mais. Já que você
me perguntou, vou mostrar-lhe quem Eu Sou. Mesmo assim, você apenas começou a conhecer-me
como Sabedoria e como Juiz. No devido tempo você saberá mais a meu respeito, mas há outras
coisas sobre o meu julgamento que você terá que aprender primeiro.

A PRIMEIRA TESTEMUNHA

- Os julgamentos de Deus são o primeiro passo para o domínio dos céus - disse uma voz que eu
não tinha ouvido antes. - Quando o dia do Julgamento chegar, o Rei será conhecido por todos, e os
seus juízos serão compreendidos. Então a terra será posta em liberdade. Você pediu que o
julgamento do Senhor viesse à sua vida; agora comece a pedir que ele venha também ao inundo.
Voltei-me para ver quem estava falando. Era alguém de grande estatura e de muito brilho, mas um
pouco menos do que os outros que eu tinha encontrado no Hall do Julgamento. Presumi que fosse
um anjo, mas então ele disse:
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- Eu sou Ló. Você foi escolhido para viver em tempos difíceis, tal como eu. Da mesma forma
como Abraão viveu e intercedeu por Sodoma, faça o mesmo. Nos tempos em que uma grande
perversão é liberada sobre a terra, homens e mulheres de muita fé também surgirão. Assim como
Abraão, você tem de usar a sua fé para interceder pelos ímpios, e tem também de testemunhar o
julgamento de Deus que está vindo sobre a terra. O Senhor não poderá suportar a crescente
malignidade da raça humana por muito mais tempo. Eu me silenciei e muitos pereceram. Não seja
como eu fui - não fique sem falar.
- Diga-me mais uma coisa: como é que devo adverti-los?-perguntei.
- Eu pensava que os estava advertindo simplesmente por ser diferente. Mas ser diferente não basta!
O poder do Espírito Santo para convencer do pecado é liberado através da palavra falada. O que o
Senhor fez com Sodoma foi feito como um exemplo, para que outros não tivessem que ser
destruídos desse modo. Você pode advertir os que estão caminhando para a destruição contando-
lhes a minha história. Há agora muitas cidades cuja iniqüidade o Senhor não vai tolerar por muito
tempo. Se os que conhecem o Senhor não surgirem, acontecerá em breve com muitas outras
cidades o que aconteceu com Sodoma.
- O dia do Julgamento está próximo - continuou ele. -Toda a criação então conhecerá a sabedoria
do julgamento do Senhor, mas você não precisa esperar por esse dia. Você deve buscar os
julgamentos dele a cada dia, e torne-os conhecidos na terra. Se o povo de Deus andar nos
julgamentos do Senhor, muitos na terra tomarão conhecimento antes do grande dia do Juízo. Desse
modo muitos mais serão salvos. É desejo do Senhor que ninguém se perca, e que ninguém do seu
povo sofra perdas naquele dia. As pessoas na terra estão cegas. Elas não verão nada, se você
apenas procurar ser uma testemunha. A mensagem do julgamento tem de sair com palavras. O
Espírito Santo unge as palavras, mas as palavras têm que ser ditas para que ele as possa ungir. A
retidão e a justiça são o fundamento do trono do Senhor. O seu povo chegou a conhecer alguma
coisa a respeito da retidão do Senhor, mas poucos conhecem a sua justiça. O seu trono
permanecerá na casa do Senhor, e portanto o julgamento terá que começar pela sua própria casa.
- Viva segundo a verdade que você aprendeu aqui -continuou - e ensine-a. O Julgamento do
Senhor está próximo. Se o povo de Deus andar conforme os juízos do Senhor antes do Dia do
Julgamento, então esse dia lhe será um dia glorioso. Mas se o seu povo não viver segundo os
juízos dele, passará também pela dor que o mundo está prestes a passar. Seus juízos não seriam
verdadeiros se não fossem iguais para todos. Por seu intermédio, e por outros, ele vai pedir que as
pessoas julguem-se a si mesmas, para que não venham a ser julgadas. E assim vocês deverão agir
perante o mundo.
Eó me fez olhar para a porta que estava à minha frente. Ela ainda parecia estar escura e não
convidativa, tal como as doutrinas do julgamento de Deus, foi o que pensei. A glória do Senhor
que nos cercava tornava-a ainda mais desanimadora. Mesmo assim, agora eu sabia quão glorioso o
julgamento do Senhor realmente é. Vim também a compreender que quase toda porta, pela qual o
Senhor nos leva, a princípio não parece ser convidativa, mas depois torna-se gloriosa. A impressão
que dá é que quanto menos atraente a porta parece ser, mais glorioso vai ser do outro lado. Apenas
que para passar pelas portas do Senhor é necessário ter fé, mas elas sempre nos levam a uma glória
maior.
Ló pegou o fio da meada do meu pensamento. Como eu já sabia, aqui neste lugar os pensamentos
são transmitidos para todos.
- Através desta porta, você experimentará mais da glória do Senhor. Sua glória não é apenas o
brilho que você vê ao redor dele, ou que você vê neste lugar, nem é apenas os sentimentos que
você tem enquanto vive nele. Sua glória é também revelada através dos julgamentos dele. Este não
é o único modo pelo qual ela é revelada, mas foi deste modo que aqui lhe foi dado compreendê-la.
Através desta porta você aprenderá um outro modo de ver a glória do Senhor. É vendo a sua glória
que o povo de Deus se modificará, e o Senhor está prestes a mostrar ao seu povo a sua glória.
Quando eles a virem, eles se rejubilarão em todos os caminhos do Senhor, até mesmo em seus
julgamentos.

A SEGUNDA TESTEMUNHA

Em seguida uma segunda voz falou:


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- Eu também confirmo esta verdade. O julgamento de Deus está por se revelar à terra. Mesmo
assim, "a misericórdia triunfa sobre o julgamento". O Senhor sempre estende sua misericórdia
antes do julgamento. Se você advertir as pessoas que os juízos do Senhor estão próximos, a
misericórdia dele salvará a muitos.
Não reconheci quem falava comigo, mas era alguém igualmente de grande estatura e de nobreza,
com um brilho que indicava estar num posto elevado.
- Sou Jonas - disse ele. - Quando você compreender os julgamentos do Senhor, você compreenderá
os modos de ele agir. Entretanto, mesmo os compreendendo, isso não significa que você concorde
com eles. A compreensão é necessária, mas não é o suficiente. O Senhor quer que você concorde
também com ele. Por diversas vezes você pediu que a presença do Senhor estivesse com você. Isso
é ter sabedoria. Eu fui um profeta, e eu o conhecia, contudo tentei fugir da presença de Deus. Isso
foi uma grande loucura, mas não quanto você possa pensar. Eu vim a compreender o grande ardor
que vem com a presença do Senhor. Eu vim a compreender a responsabilidade que decorre de se
estar perto dele. Na presença do Senhor toda madeira, feno e palha se consomem. Quando você se
chega para perto dele com pecado escondido em seu coração, isso vai levá-lo à insanidade, como
foi o caso de muitos em todas as épocas. Eu não estava querendo fugir da vontade do Senhor, mas
sim queria fugir da sua presença. Quando você pede para ter a realidade da presença do Senhor,
você está pedindo que esteja com você a realidade que você viu aqui. O céu é o seu verdadeiro lar,
e é certo que você anseie por isso. Entretanto, o Senhor é um Deus santo e, se você andar bem
perto dele, também você tem de ser santo. Quanto mais perto dele você chegar, mais fatal o pecado
escondido pode se tornar.
- Compreendo - repliquei. - É por isso que pedi os julgamentos do Senhor na minha vida.
- Agora tenho que lhe fazer uma pergunta, - continuou Jonas - que é a seguinte: "Você vai buscar o
Senhor? Você quer ir até ele?"
- Com certeza! - respondi. - Desejo a presença dele mais do que tudo. Não há nada mais grandioso
do que estar na presença do Senhor. Sei que muitos dos meus motivos para estar com ele são
egoístas, mas estar com ele me ajuda a libertar-me daquele meu egoísmo. Eu quero de fato estar
com ele. Quero ir até ele.
- Será verdade? - prosseguiu Jonas. - Até agora você tem sido mais tolo do que eu fui. Você pode
vir com ousadia até o trono da graça do Senhor a qualquer tempo e por qualquer necessidade, mas
raramente você vem. Ansiar pela presença dele não é suficiente. Você tem de ir até ele. Se você
chegar-se a ele, ele se chegará a você. Por que você não vai então até ele? Você sempre está tão
perto dele quanto você quer estar. Muitos chegam a conhecer e a seguir os caminhos do Senhor,
mas não vão até ele. Nos tempos em que vocês em breve entrarão, eles deixarão os caminhos do
Senhor porque não vieram até ele. Você riu da minha loucura, que foi grande, mas a sua é ainda
maior do que a minha. Entretanto, eu não rio da sua loucura, eu choro por você. O seu Salvador
chora por você; ele intercede por você continuamente. Quando ele chora, todo o céu chora. Eu
choro porque sei o quão néscio o povo de Deus é. Por você ser tal como eu, eu o conheço muito
bem. Também do mesmo modo que eu, a igreja tem fugido para Társis, desejando negociar com o
mundo até mesmo muito mais do que postar-se diante do glorioso trono do Senhor. Ao mesmo
tempo, a espada dos juízos de Deus está posta sobre a terra. Eu choro pela igreja porque eu
conheço vocês muito bem.
- Reconheço a minha culpa!, - confessei. - O que podemos fazer?
- Grandes tempestades estão para cair sobre a terra -continuou Jonas. - Eu dormia quando a
tempestade veio sobre o navio em que eu estava, ao fugir do Senhor. A igreja também está
dormindo. Eu era profeta de Deus, mas os pagãos é que tiveram que me despertar. Do mesmo
modo acontece com a igreja. Os pagãos têm mais discernimento do que a igreja nesta hora. Eles
sabem quando a igreja está no caminho errado, e estão sacudindo a igreja, tentando acordar os
cristãos para que vocês invoquem o seu Deus. Em breve os líderes do mundo os lançarão ao mar,
da mesma forma como fizeram comigo naquele navio. Eles não permitirão que vocês prossigam do
modo como estão indo. Essa é a graça de Deus para com vocês. O Senhor então vai discipliná-los
com a grande besta que emergirá do mar. Ela os engolirá por algum tempo, mas depois vocês serão
vomitados. Então vocês pregarão a mensagem do Senhor.
- Não tem outro jeito? - perguntei.
- Sim, há um outro jeito, - respondeu Jonas - embora isso tenha acontecido e está acontecendo.
Alguns já estão na barriga da besta. Outros estão prestes a serem lançados ao mar, e outros ainda
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estão dormindo, mas quase todos já tomaram o navio que ia para a direção errada, querendo
negociar com o mundo. Entretanto, vocês podem julgar-se a si mesmos, e o Senhor não terá que
julgá-los. Se vocês despertarem, se arrependerem e forem pelo caminho pelo qual o Senhor os
enviou, vocês não terão que ser engolidos pela besta.
- A besta a que você está se referindo é a de Apocalipse 13?-perguntei.
- É ela. Como você pode ler nesse capítulo, foi dado a essa besta que pelejasse contra os santos e
os vencesse. Isso acontecerá com todos os que não se arrependerem. Mas saiba que os que forem
vencidos por essa primeira besta serão vomitados por ela antes que a besta seguinte apresente-se,
aquela que emergirá da terra. Mesmo assim, será muito mais fácil vocês se arrependerem. E bem
melhor não ser engolido pela besta.
Jonas explicou, ainda:
- Assim como a história de Ló é uma advertência àqueles que se entregam à perversão, a minha
história é uma advertência à igreja, como profeta do Senhor. A igreja está fugindo da presença do
Senhor. Ela está fugindo, indo atrás de toda atividade, em vez de estar buscando a presença do
Senhor. Você até mesmo pode chamar a atividade que você exerce de "ministério", mas na verdade
é uma fuga da presença do Senhor. Como eu disse, a igreja está fugindo para Társis, de forma a
poder negociar com o mundo, indo em busca dos tesouros do mar, ao passo que os tesouros muito
maiores - os tesouros do céu - são poucos os que os buscam. O pecado de querer negociar com o
mundo tem enredado a igreja, do mesmo modo como eu fiquei todo enredado na barriga da besta
com ervas daninhas que envolviam a minha cabeça. As ervas daninhas, os cuidados deste mundo,
têm se envolvido em torno da mente da igreja. Levou três dias para que eu me voltasse para o
Senhor, porque eu estava muito enredado. Para os cristãos, está sendo necessário um tempo bem
maior. A mente deles está tão enredada com as coisas do mundo, e até chegaram a profundezas
tais, que muitos deles não têm esperança alguma de se libertarem. Vocês têm de se voltar para o
Senhor, em vez de se afastarem dele. Ele pode desfazer qualquer confusão, e ele pode fazê-los
voltar, tirando-os das maiores profundezas. Não mais fujam da presença do Senhor! Corram para
ele!
Então foi Ló quem acrescentou:
- Lembre-se da misericórdia que o Senhor teve para com Nínive. Ele teve misericórdia porque
Jonas pregou. Jonas não foi viver no meio deles, procurando ser uma testemunha: ele pregou a
Palavra de Deus. Há poder na Palavra. Não há trevas tão escuras que barrem a penetração da
Palavra. Muitos se arrependerão e serão salvos se vocês forem àqueles a quem o Senhor os enviar,
advertindo-os.
Jonas então prosseguiu, dizendo-me:
- Quando você decair da graça de Deus e for enredado pelo pecado, é difícil para você ir até o
Senhor. Você tem de aprender a sempre correr para o Senhor em tais momentos, e não fugir dele.
Quando você passar por essa porta, você entrará no tempo em que o poder e a glória do Senhor
estarão sendo liberados sobre a terra duma maneira como nunca aconteceu desde o princípio do
tempo. Todo o céu tem estado à espera de tudo o que você está prestes a ver. Será também o tempo
das trevas mais intensas. Você não poderá suportar nem a glória nem as trevas sem a graça de
Deus. Você não andará nos caminhos do Senhor sem ir a ele a cada dia. Não apenas busque a sua
presença, viva na presença dele permanentemente. Aqueles que procuraram seguir o Senhor
buscando-o apenas uma vez por semana, no culto da igreja, mas indo atrás das coisas do mundo
nos demais dias da semana, em breve serão derrubados. Aqueles que invocam o nome do Senhor,
pensando que ele é seu servo, também em breve cairão. Ele é que é o Senhor de todos, e todos em
breve vão ficar sabendo disso! Primeiro, o seu próprio povo tem de reconhecer isso, de forma que
o julgamento de Deus vai começar com a sua própria casa.
Continuou ele ainda:
- E uma presunção invocar o Senhor somente quando você quer alguma coisa. Você deveria
invocá-lo para pedir-lhe o que ele quer, e não o que você quer. Muitos dos que têm alguma fé
também têm muita presunção; a linha entre essas duas situações é muito fina. Quando os
julgamentos de Deus vierem sobre a sua casa, o seu povo saberá qual é a diferença entre fé e
presunção. Aqueles que tentarem fazer a obra do Senhor sem ele, não conseguirão. Muitos têm fé
no Senhor, mas somente o conhecem à distância. Esses são os que fazem grandes obras em nome
de Jesus, mas o Senhor não os conhece. Os que o conhecem de longe em breve se lamentarão de
sua loucura. Deus não existe por causa da sua casa; a sua casa é que existe para ele. Com toda a
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sua paciência, o Senhor tem esperado do lado de fora de sua própria casa, batendo à porta,
chamando, mas bem poucos têm aberto a porta para ele entrar. Os que, ouvindo a voz do Senhor,
abrirem a porta, sentar-se-ão com ele à sua mesa. Também se sentarão com ele no seu trono, e
verão o mundo da forma como ele o vê. A presunção não poderá sentar-se com ele à mesa, nem no
seu trono. A presunção é o orgulho que causou a primeira queda, e todas as trevas e todo o mal que
está para ser colhido de sobre a terra veio por causa dela. Quando Satanás viu a glória de Deus, ele
entrou pelo beco da presunção. Satanás vivia na presença de Deus e mesmo assim desviou-se dele.
Este é o maior perigo para aqueles que vêem a glória de Deus e que conhecem a sua presença. Não
se torne presunçoso pelo que você viu. Nunca se torne orgulhoso por causa de suas visões: se você
assim agir, isso fatalmente o levará a cair.

JULGAMENTO MISERICORDIOSO

Enquanto Jonas falava, cada palavra era como um golpe de martelo. Eu estava horrorizado diante
do meu pecado. Não apenas me envergonhava do modo pelo qual eu tinha pensado em Deus, mas
envergonhava-me ainda mais por ter zombado de Jonas pelas mesmas coisas que eu havia pra-
ticado. Muito embora desesperadamente eu me esforçasse para permanecer em pé, meus joelhos
não conseguiam sustentar-me mais, e caí. As palavras que ele falava eram como açoites que me
atingiam, mas, ao mesmo tempo, a dor era bem-vinda. Eu sabia que precisava ouvir tudo o que eles
me diziam, e eu não queria que Jonas parasse de me ensinar até que todos os meus maus caminhos
ficassem expostos. O poder das palavras para me expor era muito grande. Havia um poder nelas
que tornava qualquer desculpa insuportável. Elas ultrapassavam qualquer barreira e iam
diretamente para o meu coração. Quando caí no chão, senti-me como se estivesse para passar por
uma cirurgia.
Então Ló interveio, dizendo:
- Muitos crentes tornaram o cair na presença do Senhor algo frívolo e sem significado, mas a igreja
está prestes a cair sob o mesmo poder que acaba de derrubá-lo: a convicção. Se você cair quando
não puder levantar-se, então a sua queda resultará em que você se levantará pela verdade.
Eu ainda não queria mover-me. Não queria fazer nada até que assimilasse totalmente o que Jonas
tinha dito. Não queria ter a convicção de prosseguir até que toda a obra necessária fosse feita. Eles
demonstraram entender o que se passava comigo, uma vez que houve silêncio por algum tempo,
mas depois Ló continuou:
- Jonas teve a unção para a pregação, como ninguém mais. Mesmo não fazendo milagres ou sinais,
quando ele pregou uma das cidades mais ímpias de toda a história arrependeu-se. Se Jonas tivesse
pregado em Sodoma, aquela cidade teria permanecido até o dia de hoje. O poder da pregação de
Jonas é um sinal. Quando ele despertou-se e foi vomitado da besta, ele ficou com esse poder. É o
poder da pregação que será dado à igreja nos últimos dias. É o poder do convencimento do pecado
que o Senhor está para dar à sua igreja. Quando ela for vomitada da besta que a tragou, até mesmo
o mais ímpio dará ouvidos à palavra dela. Esse é o sinal de Jonas que será dado à igreja. As
palavras daqueles que passarem por esse julgamento terão poder.
Eu estava ainda impressionado. Mesmo assim, tinha decidido correr ao Senhor e não fugir dele, de
modo que dirigi o meu olhar diretamente para Sabedoria.
- Senhor, eu, também, poderei cair no que está por vir! Sou culpado de todas essas coisas. Tenho
visto tanto da tua glória, mas ainda caio nas armadilhas e nos desvios que me impedem de me
aproximar de ti. Ajuda-me nesse sentido. Desesperadamente preciso da tua sabedoria, mas careço
também da tua misericórdia. Dá-nos da tua misericórdia, e ajuda-nos, antes que o juízo que
merecemos venha sobre nós. Peço-te pela misericórdia da cruz.
- Você terá misericórdia, - Sabedoria respondeu - porque você pediu por ela. Vou lhe dar mais
tempo. A minha misericórdia para com você é o tempo que lhe dou. Faça uso desse tempo com
sabedoria, pois o tempo é curto. Aproxima-se a hora em que não poderei mais retardar. Cada dia
que o meu juízo é retardado é por causa da minha misericórdia. Tenha essa visão, e use o tempo
sabiamente. Sempre a minha preferência é pela misericórdia e não pelo juízo, mas o fim está
próximo. As trevas estão crescendo e o tempo da grande tribulação em breve estará sobre vocês.
Se vocês não fizerem uso do tempo que lhes dou, as tribulações que virão os acometerão. Se vocês
usarem esse tempo que lhes dou com sabedoria, vocês vencerão e prevalecerão. Há uma
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característica que tem marcado todos os vencedores, em todas as épocas: eles não desperdiçam o
seu tempo!
Sabedoria disse-me ainda:
- Pela minha misericórdia, estou dando-lhe esta advertência. Advirta o meu povo de que, pela
minha misericórdia, não mais os deixarei ficarem contando com a minha misericórdia. Pela minha
misericórdia, a minha disciplina estará sobre eles. Admoeste-os no sentido de que não endureçam
o coração, mas que se arrependam e se voltem para mim. É verdade que vocês, também, poderão
decair. Então o amor de vocês esfriará e vocês até mesmo me negarão, se não se negarem a si
mesmos, tomando a sua cruz a cada dia. Aqueles que quiserem salvar a sua vida a perderão, mas
aqueles que a perderem por minha causa encontrarão a vida verdadeira. O que vou dar para o meu
povo será uma vida de até mesmo maior abundância do que eles possam ter pedido, mesmo com
toda a sua presunção. Depois de ter julgado a minha própria casa, enviarei o meu juízo sobre toda a
terra. No meu justo juízo, farei distinção entre o meu povo e aqueles que não me conhecem. Agora
o mundo todo jaz no poder do maligno. Agora ele retribui à impiedade e resiste aos que são retos.
Quando o Dia do Julgamento chegar, o mundo todo saberá que eu retribuo a retidão e que resisto
aos orgulhosos. A retidão e a justiça são os fundamentos do meu trono. É por causa da minha
justiça que eu disciplino com maior severidade aqueles que conhecem a verdade, mas que não
vivem segundo ela. Eu o trouxe aqui para ver os meus julgamentos. Você obteve entendimento
aqui, mas haverá para você um juízo ainda maior se você não andar naquilo que você viu. A quem
muito é dado, muito será requerido. Aqui você ficou conhecendo a misericórdia dos meus
julgamentos. Se você continuar deixando que o pecado o enrede, você experimentará a severidade
do meu juízo. Muitos dos que são parte do meu povo ainda têm prazer no pecado. Os que têm
prazer no pecado e no seu próprio conforto e prosperidade mais do que em mim em breve
conhecerão a minha severidade. Esses não permanecerão em pé, nos tempos que virão.
Disse ainda o Senhor:
- Vou ser severo diante dos orgulhosos e usarei de misericórdia para com os humildes. O que mais
tem feito desviar o meu povo tem sido não as dificuldades, mas a prosperidade. Se o meu povo me
buscasse nos tempos de prosperidade, eu poderia confiar-lhes ainda mais da riqueza do meu reino.
O meu desejo é que vocês tenham abundância de todo tipo de boas obras. Quero que a
generosidade de vocês seja superabundante. O meu povo prosperará em riquezas terrenas nos
tempos que estão à frente, até mesmo nos tempos de crise, mas as riquezas virão de mim e não do
príncipe desta presente era maligna. Se eu não puder confiar a vocês a riqueza terrena, como
poderei confiar-lhes os poderes da era vindoura? Vocês têm de aprender a me buscar tanto na
prosperidade como na pobreza. Tudo o que eu confio a vocês ainda é meu. Apenas confiarei mais
coisas àqueles que forem mais obedientes. Saibam que o príncipe das trevas também dá
prosperidade. Ele continua fazendo ao meu povo a mesma oferta que fez para mim. Ele dará os
reinos deste mundo àqueles que se prostrarem e o adorarem e o servirem através de uma vida
segundo os caminhos dele. Há uma prosperidade do mundo e há a prosperidade do meu reino. Os
juízos que estão por vir contribuirão para que o meu povo saiba distinguir a diferença. A riqueza
daqueles que prosperaram por servir ao príncipe desta era maligna será como uma pedra de
moinho presa em seu pescoço quando as torrentes inundarem. Todos em breve serão julgados pela
verdade. Os que por mim progredirem não comprometerão a verdade a fim de prosperarem. Os
meus juízos começarão com a minha própria casa, para ensinar a vocês a disciplina, para que vocês
andem em obediência. O salário do pecado é a morte, e o salário da retidão é a paz, a alegria, a
glória e a honra. Todos estão por receber suas dignas recompensas. Esse é o juízo, e é justiça que
começa com a minha própria casa.
Em seguida Ló e Jonas falaram ao mesmo tempo:
- Eis aí agora a bondade e a severidade de Deus. Se é que você vai conhecê-lo melhor, você vai
conhecer mais da sua bondade e da sua severidade.
A convicção que eu sentia vinha sobre mim como uma cascata de água viva. Ela era purificadora e
refrescante, mas não era fácil. Eu sabia ainda que a correção que Deus me dava iria preservar-me
ao enfrentar o que eu estava para encontrar depois de passar por essa porta. Desesperadamente eu
queria toda a correção que poderia obter antes de passar por ela. Eu sabia que necessitaria da
correção do Senhor, e nisso eu estava certo.

III
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A VEREDA DA VIDA

Eu estava meditando sobre tudo o que Ló e Jonas tinham dito, quando o Senhor começou a falar.
- Você pediu para ter condições de conhecer a realidade deste lugar mesmo quando estiver na
esfera terrena. E a realidade que você pediu para conhecer é esta: ver como eu vejo. Não é este
lugar que é a realidade. A realidade é onde quer que eu esteja. A minha presença confere a
qualquer lugar uma verdadeira realidade, e por ela tudo o que você viu fica muito vivo, porque eu
sou a Vida. Meu Pai me fez a Vida de toda a criação, tanto no céu como na terra. Toda a criação
existe através de mim e para mim e, a não ser em mim, não há vida e não há verdade. Eu sou a
Vida que há na criação. Sou até mesmo a Vida nos meus inimigos. EU SOU. Tudo o que existe,
existe através de mim. Eu Sou o Alfa e o Ômega, Eu Sou o Princípio e Eu Sou o Fim de todas as
coisas. Não há verdade ou realidade fora de mim. Não é apenas a realidade deste lugar que você
está em busca, mas é a realidade da minha presença. Você está em busca do verdadeiro
conhecimento a meu respeito, e esse conhecimento confere Vida. Essa realidade é disponível para
você na terra da mesma forma como é aqui, mas você tem que aprender a não apenas buscar-me,
mas também a olhar para mim.
- Eu sou o poder de Deus - continuou o Senhor. - Eu sou a revelação da sua glória. Eu sou vida e
sou amor. Sou também uma pessoa. Amo o meu povo e quero estar com ele. O Pai me ama, e
também o ama. Ele o ama tanto que eu fui dado para a sua salvação. Queremos estar perto de
vocês. Amamos a humanidade e a nossa habitação eterna será com vocês. Ter sabedoria é
conhecer-me, é conhecer o Pai, e conhecer o nosso amor. A luz, a glória e o poder que estou por
revelar na terra vão ser liberados por meio daqueles que vieram a conhecer o meu amor. Meu Pai
me conferiu todo o poder. Posso dar ordens no céu e todos me obedecem, mas não posso dar
ordens para que haja amor. Um amor que fosse o cumprimento de uma ordem não seria amor,
absolutamente. Haverá um tempo em que vou exigir que haja obediência, por parte das nações,
mas então já terá passado o tempo da prova do seu amor. Enquanto eu ainda não estiver exigindo
obediência, os que vêm a mim me obedecem porque me amam e porque amam a verdade. Esses
serão os que serão dignos de reinar comigo no meu reino, os que me amam e me servem apesar da
perseguição e da rejeição. Vocês têm de querer vir a mim. Os que se tornarem o nosso lugar de
habitação não virão por causa de uma ordem que eu tenha dado, nem por simplesmente
conhecerem o meu poder, mas virão por me amarem e por amarem o Pai.
- Os que vêm à verdade, - continuou - virão porque nos amam e por desejarem estar conosco. É por
causa das trevas que esta é a era do verdadeiro amor. O verdadeiro amor brilha da forma mais forte
diante das maiores trevas. Vocês me amam mais quando me vêem com o seu coração e me
obedecem, embora os seus olhos não possam me ver como aqui eu sou visto. O amor e a adoração
serão grandiosos como nunca no grande período de trevas que está por vir à terra. Então toda a
criação saberá que o seu amor por mim é verdadeiro e por que desejamos habitar entre os homens.
Os que vêm a mim agora, passando pela luta contra todas as forças do mundo que se rebelam
contra mim, esses vêm porque têm o verdadeiro amor de Deus. Querem tanto estar comigo que
mesmo quando tudo parece não ser real, mesmo quando eu lhes pareço ser um vago sonho, eles se
arriscarão a tudo pela esperança de que o sonho seja real. Isso é amor. Isso é o amor da verdade.
Essa é a fé que agrada a meu Pai. Todos dobrarão os joelhos ao virem o meu poder e a minha
glória, mas os que dobram os joelhos agora, quando podem apenas me ver obscuramente, através
dos olhos da fé, são os que são obedientes e que me amam em Espírito e em verdade. A esses em
breve conferirei o poder e a glória da era futura, o que é mais forte do que todo tipo de trevas. Com
os dias tornando-se cada vez mais tenebrosos, vou mostrar mais da minha glória. Vocês vão
precisar disso para enfrentar o que está por vir. Mesmo assim, lembrem-se de que os que me
servem, mesmo quando não estão vendo a minha glória, são os fiéis e obedientes servos meus a
quem vou conferir o meu poder. A obediência no temor do Senhor é o princípio da sabedoria, mas
a sabedoria completa é obedecer por causa do seu amor a Deus. Então vocês verão o poder e a
glória.
Voltando-se para mim, disse o Senhor:
- Você não está aqui por causa da sua fidelidade. Até mesmo a humildade que fez com que você
orasse pedindo os meus julgamentos foi uma dádiva que você recebeu. Você está aqui porque você
é um mensageiro. Porque eu o chamei com este propósito, dei-lhe a sabedoria de pedir os meus
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julgamentos agora. Você será sábio se for fiel ao que você está vendo aqui, mas a maior sabedoria
é você chegar a verme todos os dias. Quanto mais você se achegar a mim, mais real eu me tornarei
para você. Posso ser tão real para você na terra como sou aqui agora, e enquanto você estiver co-
nhecendo a realidade da minha presença, você estará andando na verdade.
' EU SOU
- Agora você está me vendo como o Senhor do Julgamento. Você tem também de me ver como o
Senhor do Sábado. Eu Sou essas duas coisas. Você tem de me conhecer como o Senhor dos
Exércitos e tem de contemplar os meus exércitos, e você tem de me ver como o Príncipe da Paz.
Eu Sou o Leão de Judá, e Eu Sou também o Cordeiro. Ter a minha sabedoria é também conhecer
os meus tempos. Você não estará andando na sabedoria se estiver proclamando que eu sou o Leão,
quando eu estiver querendo vir como o Cordeiro. Você tem de saber como me seguir como Senhor
dos Exércitos, indo à batalha, e tem que saber sentar-se comigo como o Senhor do Sábado. Para
tanto você tem de conhecer os meus tempos, e você somente conhecerá os meus tempos se
permanecer junto de mim. O juízo que está por vir para aqueles que invocam o meu nome, mas
que não me buscam, será que cada vez mais eles não estarão em sincronia comigo. Eles estarão nos
lugares errados, fazendo coisas erradas, e até mesmo pregando a mensagem errada. Tentarão
colher, quando o tempo será de semear; e tentarão semear, quando for o tempo de colher. Por
causa disso eles não produzirão fruto algum. Meu nome não é Eu Era, nem Eu Serei, mas é EU
SOU. Para verdadeiramente me conhecer, vocês têm de me conhecer no presente. Vocês não
podem me conhecer como EU SOU, a menos que vocês venham a mim todos os dias. Vocês não
poderão me conhecer como EU SOU a menos que vocês habitem em mim.
- Aqui, - disse-me ele - você pôde provar um pouco dos meus julgamentos. Você está prestes a
ver-me de outros modos. Você não terá condições de me conhecer completamente como EU SOU,
até viver na eternidade. Aqui os diferentes aspectos da minha Natureza se ajustam todos de
maneira perfeita, mas eles são difíceis de serem vistos quando você está na dimensão do tempo.
Este Grande Hall reflete uma parte de mim que o mundo está prestes a ver. Esta será uma parte
importante da sua mensagem, mas não será toda a mensagem. A uma cidade enviarei o meu juízo,
mas à seguinte poderei enviar misericórdia. Enviarei a fome a uma nação, e abundância a outra.
Sei o que estou fazendo; você não deve julgar pelas aparências, mas a partir da realidade da minha
presença. Nos tempos que agora estão sobrevindo à terra, se o seu amor por mim não se tornar
cada vez mais forte, ele esfriará. Eu Sou a vida. Se você não permanecer perto de mim, você
perderá a vida que está em você. Eu Sou a Luz. Se você não permanecer perto de mim, o seu
coração se escurecerá. Todas essas coisas você tem em sua mente, e você já ensinou a respeito
delas. Agora você as deverá conhecer em seu coração, e terá de viver segundo elas. As fontes da
vida provêm do coração, não da mente. A minha sabedoria não fica apenas na sua mente, nem
apenas no seu coração. A minha sabedoria é a perfeita união da mente com o coração. Por ter sido
o homem feito à minha imagem, a sua mente e o seu coração não podem entrar em concordância
sem mim. Quando a sua mente e o seu coração entrarem em concordância, eu terei condições de
confiar-lhe a minha autoridade. Então você pedirá o que quiser e isso eu farei, porque você estará
em união comigo.
- Por causa da dificuldade dos tempos em que você foi chamado para andar- continuou - eu lhe dei
a experiência de poder contemplar o meu Trono de Julgamento antes do devido tempo do seu
julgamento. Agora a sua oração foi respondida. O que você não entendia é que durante o tempo em
que você estava esperando que a resposta a essa oração eu a estava respondendo a cada dia, por
meio de tudo o que permiti que acontecesse em sua vida. É melhor aprender acerca dos meus
caminhos e dos meus julgamentos através das experiências da vida do que aprendê-los deste modo.
Concedi-lhe esta experiência porque você é um mensageiro e por ser o tempo curto. Você já sabia
o que veio a aprender aqui, mas você não vivia segundo esse conhecimento que você já tinha.
Permiti que você passasse por esta experiência como um ato de misericórdia, mas é você quem tem
que tomar a decisão de viver de conformidade com ela. Estarei usando muitos mensageiros para
ensinar o meu povo a viver num reto julgamento, de forma que ele não venha a perecer quando os
meus juízos vierem sobre a terra. Ouça os meus mensageiros e obedeça às suas palavras, que
provêm de mim, sem demora, pois o tempo é curto. Ouvi-los sem obedecer apenas fará com que
venha um julgamento mais severo sobre você. Isto é um reto julgamento: a quem muito é dado,
muito será requerido.
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- Estes são os tempos em que o conhecimento aumentará - prosseguiu o Senhor. - O conhecimento
dos meus caminhos também está crescendo, em meio a meu povo. A sua geração foi dado mais
entendimento do que a qualquer outra geração, mas são poucos os que estão vivendo segundo o
seu entendimento. Chegou o dia em que não mais vou tolerar os que dizem que crêem em mim,
mas que não me obedecem. Os que são mornos estão prestes a serem removidos de meu povo. Os
que não me obedecem, na realidade não crêem em mim. Com sua vida eles ensinam ao meu povo
que a desobediência é algo aceitável. Como Salomão escreveu: "Porquanto não se executa logo o
juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para
fazer o mal." Isso tem acontecido a muitos dos que fazem parte do meu povo, e o seu amor tem
esfriado. Meus juízos virão de forma mais rápida como uma graça para impedir que o coração do
meu povo se dê completamente ao mal. Os que pertencem ao meu povo em breve saberão que o
salário do pecado é a morte. Eles não podem continuar a invocar-me para libertá-los de suas di-
ficuldades quando ainda estejam amando o pecado. Vou conceder-lhes ainda um pouco de tempo
para que julguem a si mesmos, de modo que eu não tenha que julgá-los, mas por pouco tempo.
- Pelo fato de ter estado aqui - disse-me o Senhor -ainda mais de você vai ser requerido. Vou ainda
conceder-lhe mais graça para que viva pela verdade que conhece, mas você tem de vir ao meu
Trono da Graça a cada dia para obtê-la. Digo-lhe de novo, chegou o tempo na terra em que
ninguém terá condições de permanecer na verdade sem chegar até o meu Trono da Graça a cada
dia. O que estou para lhe dizer é algo pelo qual você e os seus irmãos não apenas viverão, mas pelo
qual também permanecerão em pé e prevalecerão. Por meu povo permanecer em pé, prevalecendo
no tempo de trevas que está por vir, a criação saberá que a luz é maior do que as trevas. A vida e a
morte foram plantadas na terra, e a vida e a morte estão prestes para serem colhidas. Eu vim para
dar-lhes vida. O maligno veio para dai- a morte. Nos tempos à frente, essas duas coisas serão vistas
em sua plenitude. Portanto darei àqueles que me obedecem uma abundância de vida tal como
nunca foi vista antes. Haverá uma diferença entre o meu povo e aqueles que servem ao maligno.
Escolham a vida para que vivam. Escolham a vida por me obedecerem. Se vocês estiverem
escolhendo a mim, a luz que há em vocês é a minha verdadeira luz, ela aumentará em seu brilho a
cada dia. Desse modo vocês saberão que estão andando em minha luz. A semente que é plantada
em bom solo sempre cresce e se multiplica: pelos seus frutos vocês serão conhecidos.

IV

A VERDADE E A VIDA

A medida em que o Senhor falava, sua glória parecia aumentar. Era tão grandiosa que por vezes eu
cheguei a pensar que ia ser consumido por ela. Sua glória como que queimava, mas não era como
fogo; queimava de dentro para fora. De algum modo eu sabia que seria consumido ou por sua
glória ou pelo mal que eu enfrentaria depois que passasse pela porta. As palavras do Senhor eram
penetrantes e tomavam toda a minha atenção, mas eu sabia que era ainda mais importante
contemplar a sua glória, e assim decidi fazer tão somente isso, tanto quanto eu pudesse.
Ele parecia ter um brilho mais forte do que o sol. Eu não conseguia ver todos os seus traços por
causa do brilho intensivo, mas, insistindo em olhar, meus olhos ajustaram-se um pouco ao seu
brilho. Os olhos do Senhor eram como de fogo, mas não eram vermelhos; eram azuis, como na
parte mais quente do fogo. Eram ardentes, contudo tinham o poder atrativo de uma maravilha sem
fim.
Seus cabelos eram pretos e faiscavam com o que eu pensei de início que fossem estrelas, mas
depois percebi que brilhavam com óleo. Eu sabia que aquele era o óleo da unidade, que eu tinha
visto numa visão anteriormente. Esse óleo brilha como pedras preciosas, mas é mais belo e de
maior valor do que qualquer tesouro da terra. Enquanto eu olhava para a face do Senhor, eu sentia
que o óleo ia me cobrindo, e com isso a dor do fogo da sua glória ia ficando mais tolerável. Ela
parecia transmitir paz e descanso, e somente vinha sobre mim quando eu olhava para a face do
Senhor. Quando eu desviava o meu olhar da sua face, nada eu recebia.
Senti vontade de olhar para os pés do Senhor. Eles eram também como chamas de fogo, mas eram
chamas mais da cor do bronze ou douradas. Eram belas, mas inspiravam temor; seus pés eram
como se fossem andar com passos largos, dos mais temíveis. Ao olhar para seus pés, senti como se
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um terremoto estivesse acontecendo em meu interior, e eu sabia que com o andar dele, tudo o que
pudesse tremer, tremeria. Deu para eu suportar isso apenas por um momento, e então caí no chão.
Quando olhei para cima, estava olhando para a porta. Agora ela estava ainda menos atraente do
que antes. Ao mesmo tempo senti um certo desespero de passar por ela antes que pudesse optar por
não passar. Era o meu chamado passar por essa porta, e não passar seria desobedecer. Na presença
do Senhor, até mesmo o pensamento de desobedecer parecia ser um egoísmo sujo mais repulsivo
do que o pensamento de retornar à batalha na esfera terrena.
Ao olhar para a porta, ouvi uma outra voz, que eu não reconheci. Voltei-me para ver quem estava
falando. Era uma pessoa das mais atraentes que eu tinha visto, com um porte nobre e forte.
- Eu sou Abel - disse ele. - A autoridade que o Senhor está para dar ao seu povo é a unção para
uma verdadeira unidade. Quando havia apenas dois irmãos sobre a terra, não pudemos viver em
paz um com o outro. Do meu tempo até o seu, a humanidade tem andado no caminho de trevas
cada vez maiores. O assassinato será liberado sobre a terra como nunca antes. Até mesmo as suas
Guerras Mundiais foram como que as primeiras dores antes de um parto, levando ao que está por
vir. Mas lembre-se disso: o amor é maior do que a morte. O amor que o Pai está para dar aos que o
servem vencerá a morte.
- Por favor, diga-me tudo o que lhe foi dado para você me dizer - respondi, sabendo que ele tinha
muito o que dizer.
- O meu sangue ainda clama. O sangue de cada um dos mártires ainda clama. A sua mensagem
sobreviverá se você confiar na vida que tem em Deus mais do que na vida que você tem na terra.
Não tema a morte, e você a vencerá. Os que não temem a morte terão a maior mensagem nos tem-
pos em que você está entrando, estando a morte liberada na terra.
Lembrei-me de todas as guerras, fomes e pragas que tinham vindo sobre a terra nos últimos cem
anos. Então perguntei:
- Quanto mais da morte ainda pode ser liberado?
Abel continuou sem responder-me, o que compreendi ser esse o modo como me respondeu
- O sacrifício de sangue já foi feito para vocês. Confiem no poder da cruz, pois ele é maior do que
a vida. Quando vocês confiarem na cruz, vocês não poderão morrer. Os que estão sobre a terra têm
poder por um tempo para tirar a sua vida terrena, mas eles não podem tomar a sua vida se vocês
tiverem abraçado a cruz. Uma grande unidade virá para o povo do Senhor que vive na terra. Isso
acontecerá quando os seus juízos vierem sobre a terra. Os que estiverem em unidade não apenas
suportarão os seus juízos, mas prosperarão por causa deles. Mediante isso o Senhor vai usar o seu
povo para advertir a terra. Depois das advertências ele usará o seu povo como um sinal. Em razão
das discórdias e conflitos que surgirão nas trevas, a unidade do povo de Deus será um sinal que
toda a terra verá. Os discípulos do Senhor serão conhecidos pelo seu amor, e o amor afasta todo
medo. Somente o verdadeiro amor é que pode trazer a perfeita unidade. Os que amarem assim
nunca cairão. O verdadeiro amor não desvanece, mas sempre cresce.

O AMOR LIBERA A VIDA

Um outro homem que parecia muito com Abel aproximou-se de mim, e ficou ao meu lado.
- Eu sou Adão - disse ele. - Eu tinha recebido autoridade sobre a terra, mas eu a dei ao maligno
quando obedeci ao mal. Ele agora governa em meu lugar e em seu lugar. A terra fora dada ao
homem, mas o maligno a tomou. A autoridade que eu perdi foi recuperada pela cruz. Jesus Cristo é
"o último Adão", e em breve ele assumirá sua autoridade e reinará. Ele reinará através da
humanidade porque ele deu a terra à humanidade. Os que vivem no tempo em que você vive
prepararão a terra para que ele reine.
- Por favor, diga-me mais alguma coisa - pedi-lhe, um tanto surpreso por ver Adão, mas desejoso
de ouvir tudo o que ele tinha para dizer. - Como é que nós vamos nos preparar para o Senhor?
- Com o amor - disse ele. - Vocês têm que amar uns aos outros. Vocês têm que ter amor pela terra,
e têm de amar a vida. O meu pecado liberou a morte que agora flui como rios sobre a terra. O amor
de vocês liberará rios de vida. Quando o mal reina, a morte é mais forte do que a vida, e prevalece
sobre ela. Quando a justiça reina, a vida prevalece,

A VERDADE E A VIDA
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E é mais forte do que a morte. Logo a vida do Filho de Deus tragará a morte que foi liberada
através da minha desobediência. Vocês não têm que amar a condição em que estejam vivendo, mas
vocês têm de amar a vida. A morte é inimiga de vocês. Vocês são chamados para serem mensa-
geiros da vida. Quando o povo de Deus começar a amar, o Senhor o usará para liberar os seus
juízos. Seus juízos vão ser desejados. O mundo todo está gemendo e com dores de parto enquanto
espera pelos juízos do Senhor e, quando estes chegarem, o mundo aprenderá a justiça. O que o
Senhor está por fazer ele o fará através do seu povo, e este se postará como Elias, nos últimos dias.
Suas palavras fecharão os céus ou trarão chuva; o povo de Deus profetizará terremotos e fomes, e
essas coisas acontecerão; também fará com que fomes e terremotos venham a ser interrompidos.
- Quando os que fazem parte do povo de Deus liberarem os exércitos dos céus - continuou ele -
esses exércitos marcharão sobre a terra. Quando eles retiverem os exércitos, haverá paz. Eles
decidirão quando o Senhor terá misericórdia e quando ele mostrará a sua ira. Eles terão esta
autoridade porque eles terão amor, e os que tiverem amor serão um só com o Senhor. O que você
vai ver depois dessa porta destina-se a prepará-lo para o que ele está prestes a fazer através do seu
povo. Eu sei o que é autoridade. Sei também da responsabilidade que há na autoridade. Por causa
da grande autoridade que me tinha sido dada, sou responsável pelo que aconteceu na terra. Mesmo
assim, a graça de Deus veio cobrir-me, e a grande redenção de Deus em breve tragará o meu erro.
A paz será tomada da terra, mas vocês são chamados para contribuírem para a sua restauração. A
paz prevalece no céu, e vocês são chamados para levar o céu até a terra. Os que viverem na
presença do Senhor conhecerão a paz e a disseminarão. A terra vai sacudir e tremer. Tempos da
maior tribulação como nunca houve assolarão toda a terra como grandes ondas do mar. Mesmo
assim, aqueles que conhecem o Senhor não serão atingidos. Eles permanecerão fora do furor dos
mares e dirão: "Paz! Sosseguem!", e os mares se acalmarão. Até mesmo o menor dos pequeninos
do Senhor será como uma grande fortaleza de paz que permanecerá passando por tudo o que está
por vir. A glória do Senhor será revelada ao seu povo em primeiro lugar, e depois através dele. Até
mesmo a criação vai reconhecer o Senhor nos que fazem parte do povo de Deus, e os obedecerá da
mesma forma como obedece a ele.
- Essa é a autoridade que eu tinha - prosseguiu Adão - e ela será dada à raça humana de novo. Eu
fiz uso da minha autoridade para transformar o Paraíso num deserto. O Senhor usará a sua
autoridade para transformar o deserto no Paraíso de novo. Essa é a autoridade que ele está dando
ao seu povo. Eu fiz um mal uso da autoridade que recebi e então veio a morte. Quando a
autoridade do Senhor for usada com retidão, ela trará vida. Tenha cuidado de como você usa a
autoridade. Com a autoridade vem junto a responsabilidade. Você, também, poderá usá-la de
forma errada, mas isso não acontecerá se você amar. Como todos aqui no céu sabem, "o amor
nunca falha".
- O que você tem a dizer sobre os terremotos, fomes e até mesmo guerras que você disse que nós
iremos liberar na terra? Isso não será o mesmo que liberar a morte? -perguntei.
- Toda a morte que está para vir sobre o mundo está sendo permitida para preparar caminho para a
vida. Tudo o que é semeado tem de ser colhido, a menos que os que semearam o mal invoquem a
cruz em Espírito e em verdade. O exército da cruz está para ser liberado, e ele marchará no poder
da cruz, levando a proposta da misericórdia para todos. Os que rejeitarem a misericórdia de Deus
estarão rejeitando a vida.
- Essa é uma grande responsabilidade - eu disse. - Como é que saberemos quando as pessoas
rejeitaram a misericórdia do Senhor?
- A desobediência trouxe a morte, e a obediência trará a vida - respondeu ele. - Quando eu andava
com Deus, ele me ensinou os seus caminhos. Enquanto eu andava com ele, eu ia conhecendo o
Senhor. Vocês têm de andar com Deus e aprender os caminhos dele. A autoridade de vocês é a
autoridade dele, e vocês têm de ser um com o Senhor para poder usá-la. As armas do exército do
Senhor não são carnais, elas são espirituais e muito mais poderosas do que quaisquer armas
terrenas. As armas mais poderosas que vocês têm são a verdade e o amor. Até mesmo o juízo final
de destruição é o amor de Deus feito em misericórdia. Quando a verdade dita com amor é
rejeitada, a morte foi escolhida em lugar da vida. Você vai entender isso ao caminhar com o
Senhor. Você vai chegar a compreender o Espírito que ele lhes deu para trazer a vida e não a
morte. Há um tempo para ser dado aos homens colherem o que eles mesmos semearam, mas vocês
têm de fazer tudo em obediência. Jesus veio para trazer vida. Ele não quer que ninguém pereça, e
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esse deve ser o desejo de vocês também. Por essa razão vocês têm até mesmo que amar os seus
inimigos, para que sejam investidos da autoridade que o Senhor deseja outorgar ao seu povo.
- O tempo é muito curto até o cumprimento do que foi escrito - prosseguiu Adão. - O povo de Deus
tem orado, pedindo mais tempo, e o Senhor lhes concedeu. Entretanto, poucos são os que têm
usado o tempo com sabedoria. Vocês dispõem de um pouco mais de tempo, mas em breve o tempo
não poderá mais ser prolongado. Aproxima-se a hora em que o próprio tempo parecerá acelerar.
Como está escrito, quando ele vier, ele virá depressa. Entretanto, vocês não têm que ter receio
desses tempos. Se vocês temerem ao Senhor, não precisarão temer nada do que está para vir sobre
a terra. Tudo o que está prestes a acontecer virá para que a sabedoria do Senhor possa prevalecer
na terra, da mesma forma como prevalece no céu. Todo o mal que foi semeado na humanidade está
para ser colhido. A bondade é maior do que o mal. O amor é mais forte do que a morte. Ele veio à
terra para destruir as obras do diabo. O Senhor vai completar o seu trabalho.

PODER E AMOR

Enquanto Adão falava, eu ia sendo tomado por sua graça e dignidade. Considerei então a
possibilidade de ele ter vivido toda a sua vida depois da queda sem pecar de novo, porque ele
parecia ser tão puro. Conhecendo os meus pensamentos, ele mudou de assunto por um pouco para
respondê-los.
- Eu tive uma longa vida na terra porque o pecado não tinha uma raiz profunda em mim. Embora
eu tivesse pecado, eu fui criado para andar com Deus, e o meu desejo ainda era para ele. Eu não
conheci as profundezas do pecado que as gerações seguintes chegaram a conhecer. Com o cres-
cimento do pecado, a vida foi encurtada, mas em cada geração os que andaram com Deus
alcançaram a vida que está em Deus. Por ter Moisés andado tão próximo de Deus, ele teria tido
uma vida bem maior, se o Senhor não o tivesse tomado. Enoque andou com Deus de maneira tão
chegada a ele que o Senhor teve que tomá-lo também. E por isso que Jesus disse: "Eu sou a
ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim
não morrerá, eternamente." O que você está vendo em mim não é apenas a ausência de pecado,
mas sim a presença da vida que eu tinha na terra. O que fomos na terra permanecerá em parte no
que seremos por todo o sempre. Olhando para todos os outros que aqui estão, que fazem parte da
grande nuvem de testemunhas, posso saber muito acerca da vida que tiveram na terra.
- Quer dizer que você faz parte da grande nuvem de testemunhas? - perguntei.
- Sim - respondeu ele. - Minha história faz parte do evangelho eterno. Minha mulher e eu fomos
os primeiros a ter a experiência do pecado, e fomos os primeiros a ver nossos filhos colherem as
conseqüências da desobediência. Vimos a morte atingir cada geração, mas vimos também a cruz e
a vitória sobre o pecado. Satanás tem se ufanado desde a cruz que Jesus podia redimir os homens,
mas que ele não podia mudá-los. Durante o tempo das maiores trevas e males que estão por vir, o
povo de Deus permanecerá como uma testemunha por todo o tempo de que Ele não apenas redimiu
o seu povo do pecado como também destruiu o poder dele. Através dos que fazem parte do seu
povo o Senhor removerá o pecado de toda a terra. Ele mostrará a todo o mundo criado o poder da
sua nova criação. Ele não veio apenas para perdoar o pecado, mas para salvar a humanidade do
pecado, e ele está voltando para um povo que não está manchado pelo mundo. Isso é o que
acontecerá no tempo da maior tribulação.
Prosseguiu ele ainda, dizendo:
- Eu fui criado para amar o Senhor e para amar a terra, como todos os demais. Tenho detestado ver
os rios do mundo sendo poluídos. Muito mais ainda tenho detestado ver o que tem acontecido com
a mente dos homens. As filosofias humanistas que agora enchem as torrentes do pensamento
humano são tão detestáveis como toda a imundície que está enchendo os rios. Mas os rios do pen-
samento humano um dia se tornarão puros de novo, assim como acontecerá com os rios na terra.
Por isso, para todo o tempo que virá, ficará provado que o bem é maior do que o mal. O Senhor
não foi à cruz apenas para redimir, mas ele foi também para restaurar. Ele andou pela terra como
um homem para mostrar à humanidade como viver. Agora ele se revelará através, dos seus
escolhidos, para mostrar às pessoas do mundo para que elas foram criadas.
Essa demonstração não será feita apenas por meio do seu poder, mas através do amor. O Senhor
dará a vocês poder porque ele é todo-poderoso e para revelar-se também aos homens. Mesmo
assim, o Senhor faz uso do seu poder por causa do seu amor, e o mesmo vocês têm de fazer. Até os
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juízos do Senhor vêm por causa do seu amor. Quando vocês os enviarem, tem de ser por causa do
amor. Até o seu juízo final da terra será a sua última misericórdia.
Olhei para Adão, Abel, Ló e Jonas, estando eles ali, juntos. Eu sabia que seria necessária toda a
eternidade para compreender as profundezas da revelação do grande evangelho de Deus que cada
uma daquelas vidas representava. A desobediência de Adão abriu caminho para a obediência de
Abel, cujo sangue ainda clama como um arauto da salvação. Ló, que era reto, não pôde salvar uma
cidade, enquanto que um Jonas que não foi reto, pôde. Tal como nos quatro evangelhos, tudo o que
da vida deles se pode aprender parece não ter fim. Isso, também, foi o meu chamado.

V
A PORTA

Tentei desesperadamente absorver cada palavra que esses homens me tinham dito. Nunca
Sabedoria tinha dito tanto assim de uma vez, contudo senti que cada sentença era crucial, e eu não
queria esquecer-me de nada. Pensei como seria bom ter as palavras do Senhor gravadas numa
pedra, como aconteceu com Moisés, podendo assim levar essas palavras ao povo de Deus de modo
que elas estariam protegidas contra qualquer deturpação que eu pudesse fazer. Mais uma vez,
conhecendo os meus pensamentos, Sabedoria os respondeu.
- Eis aí uma diferença entre o Antigo e o Novo Testamento. Você vai escrever as minhas palavras
num livro e elas inspirarão o meu povo. Mesmo assim, o verdadeiro poder das minhas palavras
somente poderá ser visto quando elas forem escritas no coração do meu povo. Epístolas vivas são
muito mais poderosas do que cartas escritas num papel ou numa pedra. Pelo fato de que você não
está escrevendo as Escrituras, você estará nas palavras que escrever. Mesmo assim, os seus livros
serão segundo o meu desejo, porque eu o preparei para esta tarefa. Eles não vão ser perfeitos,
porque a perfeição não virá à terra antes da minha vinda. Para terem perfeição, os homens terão
que olhar para mim. Contudo o meu povo é o livro que eu estou escrevendo, e o sábio pode me ver
em meu povo, e na vida de cada um dos que dele fazem parte. Meu Pai enviou-me ao mundo por
amor. Eu estou enviando o meu povo ao mundo porque eu o amo. Eu poderia tê-lo julgado após a
minha ressurreição, mas foi permitido que o seu curso continuasse, de forma que os justos que são
meus pudessem ser provados, e o poder do que eu fiz na cruz fosse visto entre os homens. Fiz isso
por amor. Vocês são testemunhas do meu amor. Este é o meu mandamento para vocês: amem a
mim e amem o seu próximo. Somente assim é que o testemunho de vocês será verdadeiro. Mesmo
quando eu ordenar que vocês falem de meus juízos, há que ser em amor. Continuou o Senhor:
- A vida de cada pessoa está em meu livro, e a vida de todas elas será lida por toda a criação
durante toda a eternidade. A história do mundo é a biblioteca da Sabedoria de Deus. A minha
redenção é a demonstração do nosso amor, e a cruz é o maior amor que a criação conhecerá, em
todas as épocas. Até mesmo os anjos que estão diante do meu Pai amam de tal forma a história da
redenção que eles, também, anseiam habitar com os homens. Eles maravilharam-se quando
fizemos o homem à nossa imagem. Eles se impressionaram quando o homem escolheu o mal,
mesmo estando no Paraíso que havíamos feito para ele. Agora, por causa da redenção, a imagem
de Deus no homem, que se corrompeu, é restaurada e revela-se de forma ainda mais gloriosa. A
glória ainda está em vasos terrestres, o que a torna mais fácil de ser vista por aqueles que têm olhos
para ver.
- Esta é a nova criação que é maior do que a primeira - continuou. - Por meio dela estamos fazendo
um novo Paraíso que é maior do que o primeiro. Todo homem, mulher ou criança que recebe a
minha redenção é um livro que estou escrevendo e que será lido por todo o sempre. Através de
uma nova criação também restauraremos a antiga e ela será um paraíso de novo. Vou restaurar
todas as coisas, e o mal será vencido pelo bem. A minha igreja é o livro que eu estou escrevendo, e
todo o mundo em breve vai lê-lo. Até agora o desejo do mundo tem sido de ler aquilo que o
maligno tem escrito sobre a minha igreja, mas em breve eu vou liberar o meu livro.
- Estou para liberar os meus apóstolos dos últimos dias - prosseguiu ele. - Terei muitos, como
Paulo, João, Pedro e os outros. Para prepará-los, estou enviando muitos como João Batista, que
lhes ensinará a ter devoção por mim e que estabelecerá o fundamento de arrependimento na vida
deles. Esses apóstolos serão também semelhantes a João Batista. Assim como a maior alegria na
vida de João era ouvir a voz do Noivo, esses apóstolos terão também uma devoção: ver a minha
noiva preparar-se para mim. Por causa disso, vou usá-los para construírem auto-estradas nos
- 23 -
lugares ermos, e rios nos desertos. Eles farão com que caiam os poderosos e com que se exaltem os
humildes. Quando você atravessar essa porta, você vai encontrar-se com eles.
Continuou o Senhor a dizer ainda:
- Estou para liberar também os meus profetas dos últimos dias. Eles me amarão e andarão comigo,
tal como aconteceu com Enoque. Eles demonstrarão o meu poder e provarão ao mundo que eu sou
o único Deus verdadeiro. Cada um deles será um poço de águas puras do qual apenas águas vivas
fluirão. As vezes a água deles estará quente para limpar; "s vezes, estará fria para refrescar.
Também lhes darei relâmpagos numa mão, e trovões na outra. Eles subirão às alturas como águias
na terra, mas descerão sobre os meus discípulos como pombos, porque honrarão a minha família.
Eles virão sobre cidades como furacões e terremotos, mas darão luz aos mansos e humildes.
Quando você passar por essa porta, você também os encontrará.
- Também os meus evangelistas dos últimos dias estarei liberando em breve - continuou. - Dar-
lhes-ei uma taça de alegria que nunca se esgotará. Eles curarão os enfermos e expulsarão
demônios; eles me amarão e amarão também a retidão; levarão a sua cruz a cada dia, não vivendo
para si mesmos, mas para mim. Através deles o mundo saberá que eu estou vivo e que recebi toda
a autoridade e todo o poder. Esses são os destemidos que atacarão os portais do inimigo e que
tomarão de assalto os lugares tenebrosos da terra, levando muitos à minha salvação. Esses,
também, estão logo atrás dessa porta, e você se encontrará com eles.
- Estou prestes a liberar pastores que terão o meu coração pelas ovelhas - disse ele ainda. - Esses
pastores alimentarão as minhas ovelhas por me amarem. Eles cuidarão de cada uma das ovelhas,
minhas filhinhas, como se fossem deles, e sacrificarão a sua própria vida pelas minhas ovelhas.
Esse é o amor que tocará no coração dos homens, quando os meus sacrificarem a sua vida uns
pelos outros. Então o mundo me conhecerá. A esses eu dei um alimento especial para servir à
minha casa. Esses são os fiéis em quem depositarei a minha confiança para cuidarem da minha
casa. Esses, também, estão atrás dessa porta, e você vai encontrar-se com eles. Finalmente, o
Senhor completou: - Estou para liberar os meus mestres dos últimos dias sobre a terra. Eles me
conhecerão e ensinarão o meu povo a me conhecer. Eles amarão a verdade. Eles não retrocederão
diante das trevas, mas as denunciarão à luz e as expelirão. Eles abrirão os poços que seus pais
cavaram, e servirão as puras águas da vida. Eles também levarão os tesouros do Egito e os usarão
para construir o meu lugar de habitação. Você vai encontrar-se com esses também, logo depois de
passar por essa porta.
Enquanto o Senhor falava, olhei para a porta. Agora, pela primeira vez, senti vontade de passai"
por ela. Cada palavra que ele falou despertou uma expectativa crescente em meu coração, e como
eu queria agora encontrar-me com esses ministros dos últimos dias!
- Por muitos anos você já sabia que esses ministros estão por vir. Eu o trouxe aqui para mostrar-lhe
como reconhecê-los, e como ajudá-los no que têm a fazer.
Então eu passei pela porta.

VI
A PRISÃO

De repente estava num grande pátio de uma prisão. Havia enormes paredões, tal como eu nunca
tinha visto antes, que eram verdadeiras muralhas. Eles estendiam-se até onde não dava mais para
ver, e tinham vários metros de altura e eram muito espessos. Havia outras cercas de arame farpado
antes dos paredões. Por toda a extensão da muralha havia torres de guarda, separadas entre si a
cada cem metros, mais ou menos. Dava para ver guardas em cada torre, mas eles estavam muito
distantes para que eu pudesse vê-los com maiores detalhes.
O ambiente era cinzento, escuro e sombrio, o que parecia refletir perfeitamente a multidão de
pessoas que estava naquele pátio de prisão. Por todo o pátio, as pessoas sentavam-se em grupos de
seu próprio tipo. Velhos de cor negra estavam num grupo, jovens negros em outro. Idosos e jovens
de cor branca também estavam separados, e as mulheres também. Acontecia de igual modo com
todas as raças. Todos os que tinham qualquer característica que os diferenciavam estavam
separados dos demais, exceto as crianças menores.
Entre os grupos, muitos pareciam estar indo de um lugar para o outro. Observando-os, dava para
perceber que eles estavam procurando encontrar a sua própria identidade, descobrindo o grupo
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com o qual mais se assemelhassem. Entretanto, ressaltava à vista que os grupos não deixavam
qualquer um juntar-se a eles assim tão facilmente.
Olhando mais de perto essas pessoas, pude ver que tinham ferimentos profundos, e muitas
cicatrizes. Com exceção das crianças, todos eles pareciam estar quase cegos, e somente
conseguiam ver o necessário para ficarem em seu próprio grupo. Mesmo dentro de cada grupo, as
pessoas constantemente procuravam ver as diferenças que os outros tinham. Quando encontrava
uma pequena diferença, o grupo atacava a pessoa que era diferente. Todos eles pareciam estar com
fome, com sede e doentes.
Aproximei-me de um senhor idoso e perguntei-lhe por que todos eles estavam numa prisão. Ele
olhou para mim espantado, declarando que eles não estavam em prisão alguma, e me questionou
por que eu tinha feito uma pergunta assim tão estúpida. Apontei então para as cercas e para os
guardas, mas ele replicou: - Que cercas? Que guardas?
Ele olhou para mim como se eu o tivesse insultado terrivelmente, e então achei que se lhe
perguntasse algo mais ele me atacaria.
Fiz em seguida, a uma jovem, essa mesma pergunta e recebi a mesma resposta. Foi então que
percebi que eles estavam tão cegos que não podiam ver as cercas nem os guardas. Eles não sabiam
que estavam numa prisão.
O GUARDA

Decidi perguntar a um dos guardas por que aquela gente estava presa. Ao caminhar em direção às
cercas, pude ver furos nelas que facilitavam a saída. Quando cheguei diante do paredão, vi que ele
tinha sido construído de forma tão irregular que me seria muito fácil subir por ele. Qualquer um
poderia escapar facilmente, mas ninguém procurava fugir, porque não sabia que era cativo.
Então cheguei em cima da muralha, e dava para ver, bem distante, o sol brilhando. Ele não
brilhava na prisão por causa da altura dos paredões, e em razão de haver nuvens sobre o pátio. Vi
fogueiras em todo o pátio, em torno das quais as crianças se reuniam. A fumaça dessas fogueiras
formava uma espessa nuvem, fazendo com o que seria apenas uma sombra dos paredões passasse a
ser uma névoa sufocante e sombria. Fiquei curioso de saber o que é que estava queimando.
Andei na parte superior da muralha até chegar ao posto de um dos guardas. Surpreendi-me por ver
que o guarda estava vestido com um belo terno, com colarinho, indicando que ele seria algum tipo
de ministro ou sacerdote. Ele não se chocou ao ver-me, e creio que presumiu que eu fosse um
outro guarda.
- Senhor, - perguntei-lhe - por que essa gente está numa prisão?
Esta pergunta chocou-o, e vi que um temor e uma desconfiança tomou-o inteiramente.
- Prisão? Que prisão?, - respondeu ele. - Do que é que você está falando?
- Estou falando de toda essa gente que está no pátio desta prisão - disse, com uma estranha
coragem. - O senhor obviamente é um guarda desta prisão, pois está num posto de guarda, mas por
que o senhor está vestido desse jeito?
- Eu não sou guarda de prisão nenhuma! Eu sou um ministro do evangelho. Não sou guarda de
ninguém. Sou o líder espiritual. Este não é um posto de guardas. É a casa de Deus! Filho, se você
veio fazer gracinhas, saiba que eu não estou rindo!
Ele agarrou a sua arma e parecia estar pronto para atirar em mim.
- Queira desculpar-me por perturbar-lhe, - respondi, sentindo que sem dúvida ele usaria a sua
arma.
Afastando-me dele, esperei ouvir tiros a qualquer momento. Aquele homem estava tão inseguro
que eu sabia que ele atiraria antes de pensar, ao sentir-se ameaçado. Posso também dizer que ele
era sincero. Ele realmente não sabia que era um guarda.

A PROFESSORA DA ESCOLA

Fui andando ao longo da muralha até achar que estava a uma distancia segura, e então virei-me e
olhei para aquele ministro. Ele estava caminhando de um lado para o outro em seu posto de
guarda, muito perturbado. Eu não podia compreender por que as minhas perguntas o tinham
incomodado tanto. Foi óbvio que não lhe abriram a visão para ver nada de forma diferente, mas
que, ao contrário, fizeram com que ele ficasse mais inseguro e mais ameaçador.
- 25 -
Ao caminhar, senti-me ansioso por descobrir o que estava acontecendo, e fiquei pensando como
expressar-me melhor para não ofender o próximo guarda com quem viesse a falar. Ao aproximar-
me do posto de guarda seguinte, surpreendi-me de novo com a sua aparência. Não era um outro
ministro, mas uma jovem com seus vinte e cinco anos.
- Senhorita, posso fazer-lhe algumas perguntas? -perguntei-lhe.
- Pois não. Em que posso ajudá-lo? - disse ela com um ar um tanto condescendente. - O senhor é o
pai de uma das crianças?
- Não - respondi. - Sou um escritor.
De alguma forma achei que deveria responder assim. Como eu esperava, isso despertou a sua
atenção. Não querendo cometer o mesmo erro que eu tinha feito com o ministro, por chamar o
local em que se encontrava de um "posto de guarda", perguntei à jovem o que ela fazia "neste
lugar". Sua resposta foi imediata, e ela parecia estar surpresa por eu fazer tal pergunta.
- Sou uma professora, e portanto o senhor não acha muito natural que eu esteja em minha escola?
- Então esta é a sua escola! - repliquei, apontando para o posto de guarda.
- Sim. Agora já fazem três anos que estou aqui. Pode ser que eu fique aqui por toda a vida. Tenho
um enorme prazer no que faço!
Esta última observação saiu assim tão sem pensar que eu pude achar que descobriria alguma coisa
se a pressionasse.
- O que é que você ensina? Deve ser algo muito interessante, já que você considera a possibilidade
de passar toda a sua vida fazendo isso.
- Ensino ciências, história e geografia. A minha função é moldar a filosofia e a visão do mundo
nessas jovens mentes. O que eu lhes ensino vai guiá-los por toda a vida deles. O que o senhor
escreve? - perguntou ela.
- Livros, - respondi - escrevo livros sobre liderança, - já prevendo a sua próxima pergunta.
De alguma forma eu sabia que se eu tivesse dito: "livros cristãos sobre liderança", a nossa conversa
teria parado por aí. Mas ela demonstrou estar mais interessada ainda depois da resposta que lhe
dei.
- Trata-se de um importante assunto, liderança - afirmou ela, com um ar ainda um tanto
condescendente. - As coisas estão mudando tão rapidamente que precisamos ter as ferramentas de
uma liderança correta para guiar essas mudanças na direção certa.
- E qual é a direção certa? - perguntei.
- A que leva à prosperidade, que somente vem através da paz e da segurança - respondeu ela, como
que um tanto surpresa por eu ter feito essa pergunta.
- Não é minha intenção ofendê-la, - repliquei - mas estou interessado em seu ponto de vista sobre
esta questão. - A seu ver, qual é o melhor meio de se alcançar essa paz e segurança?
- Através da educação, é claro. Estamos juntos nesta aeronave chamada terra e precisamos nos
entender. Através da educação, contribuímos para libertar as massas da idade da pedra, de uma
mentalidade tribal, para que compreendam que somos todos iguais, e que se todos dermos a nossa
contribuição para a sociedade, todos juntos prosperaremos.
- Isso é interessante, - respondi - mas não somos todos iguais. Também é interessante que todas as
pessoas lá em baixo estão ficando cada vez mais divididas e separadas, como nunca antes. Você
não acha que agora poderia alterar um pouco a sua filosofia?
Ela olhou para mim um tanto espantada, mas ao mesmo tempo um tanto perturbada, mas
obviamente isso não era por considerar, nem por um momento que fosse, que o que eu disse era
verdade.
- O senhor está completamente cego? - finalmente respondeu ela.
- Não. Creio que vejo muito bem - respondi. - Acabo de andar no meio desse povo e nunca vi uma
divisão e uma animosidade assim entre os diferentes grupos de pessoas. Parece-me que o conflito
entre eles está pior do que nunca.
Posso dizer que as minhas afirmações foram como tapas no rosto daquela jovem. Era como se ela
não pudesse nem mesmo crer que alguém pudesse dizer tais coisas, e muito menos ela considerava
a possibilidade de haver alguma verdade nas minhas palavras. Observando-a, vi que ela estava tão
cega que mal podia ver-me. Ela encontrava-se numa torre tão alta que não tinha como poder ver as
pessoas em baixo. Na realidade ela não sabia o que estava acontecendo, mas com sinceridade
pensava que podia ver tudo.
- 26 -
- Nós estamos mudando o mundo - disse ela com um evidente desdém. - Nós estamos mudando as
pessoas. Se ainda há pessoas que estão agindo da forma como o senhor descreveu, vamos mudá-
los, também. Vamos prevalecer. A humanidade vai prevalecer.
- Esta é uma grande responsabilidade, para alguém assim tão jovem - observei.
• Ela ficou um pouco mais tensa com esta minha afirmação, mas antes de ela poder responder,
duas mulheres apareceram vindo em direção da porta do posto de guarda, caminhando pela
muralha. Uma delas era negra, aparentando estar nos seus cinquenta e poucos anos, e a outra era
uma mulher branca, bem vestida, que provavelmente estava na faixa dos trinta anos. Elas
conversavam entre si enquanto caminhavam, e ambas pareciam ser dignas e confiantes em si
mesmas. Eu diria que elas podiam ver, razão por que obviamente elas tinham chegado até a parte
superior da muralha.
Para minha surpresa, a jovem professora agarrou a arma e saiu para fora do seu posto para
encontrar-se com elas, obviamente não desejando que as duas se aproximassem. Ela as acolheu
com um riso muito superficial e com um evidente ar de superioridade para impressioná-las. Para
minha surpresa, as duas mulheres tornaram-se tímidas e muito respeitosas diante de alguém assim
tão mais jovem.
- Vimos para perguntar acerca de algo que está sendo ensinado a nossos filhos, que não
compreendemos - disse a mulher negra, com toda a coragem que pôde encontrar em si.
- Oh, tenho certeza de que muita coisa está sendo ensinada agora que vocês não compreendem -
respondeu a professora com condescendência.
As duas mulheres ficaram olhando para a arma que a professora fazia questão de mostrar. Eu
estava ali, pasmado diante de tudo o que via. A professora virou-se e olhou para mim muito
nervosa. Acho que ela estava com receio de que eu dissesse alguma coisa para as mulheres. Ela
mexeu com a arma e ordenou que eu me retirasse. As mulheres procuraram ver com quem ela
estava falando, percebi que elas não podiam me ver. O medo que tomara conta delas as tinha
cegado.
Eu gritei para as mulheres, suplicando-lhes que tivessem coragem e que acreditassem no que
estavam sentindo em seus corações. Elas olharam em minha direção como se apenas pudessem
ouvir um ruído. Elas estavam perdendo também a capacidade de ouvir. Diante disso, a jovem pro-
fessora sorriu. Ela então apontou a arma para mim e tocou o seu apito. Senti que ela me achava a
pessoa mais perigosa do mundo.
Eu sabia que eu não podia esperar por quem quer que ela tivesse chamado com o seu apito. Percebi
também que, se eu desse apenas alguns passos para trás, estaria seguro, porque a jovem professora
estava com bem pouca visão. Eu tinha razão. Eu fui me retirando enquanto ela gritava, tocava o
apito, e finalmente vi que ela estava com tanta raiva que passou a atirar na direção das duas
mulheres.
Enquanto eu permanecia na muralha, entre dois postos de guarda, pensando sobre a situação, senti
a presença de Sabedoria.
- Retorne para o pátio da prisão. Eu estarei com você. Saiba que eu lhe dei a visão para poder
escapar de qualquer armadilha ou de qualquer arma. Lembre-se tão somente que o medo pode
cegá-lo. Crendo que eu nunca o deixarei, você sempre verá o caminho por onde ir. Tenha também
cuidado de apenas revelar a sua visão àqueles a quem eu o conduzir para fazê-lo. A visão é o que
os guardas mais temem. Sei que você quer me fazer muitas perguntas, mas elas serão melhor
respondidas através das experiências pelas quais você vai passar.

VII
O JOVEM APÓSTOLO

Desci pelo muro e fui andando pelo pátio. Ao passar pelos prisioneiros, eles pareciam estar
completamente desinteressados em relação à minha pessoa, bem como diante de toda a agitação na
muralha. Lembrei-me então de que eles não conseguiam ver de longe. Um rapaz negro se interpôs
no meu caminho e olhou para mim com olhos brilhantes e curiosos.
- Quem é você? - foi o que nós dois dissemos ao mesmo tempo.
Como nós ficamos olhando um para o outro, finalmente ele disse:
- Meu nome é Stephen. Eu posso ver. O que mais você quer saber a meu respeito que você ainda
não sabe?
- 27 -
- Como é que eu poderia saber alguma coisa a seu respeito? - perguntei.
- Aquele que me fez ver disse que um dia outras pessoas viriam, não sendo prisioneiras. Elas
também teriam a capacidade de ver, e nos diriam quem somos e como poderíamos escapar desta
prisão.
- Eu ia protestar que eu não sabia quem ele era, quando me lembrei do que Sabedoria me tinha dito
acerca dos que eu encontraria quando passasse pela porta.
- Sim, eu o conheço, e sei algumas coisas a seu respeito - admiti - mas confesso que esta é a prisão
mais estranha que eu já vi.
- Mas esta é a única prisão que existe! - protestou ele.
- Como é que você sabe disso, se você tem estado aqui durante toda a sua vida? - perguntei.
- O que me fez ver disse-me que esta prisão era a única que existia. Ele disse que toda alma que
tenha sido posta em prisão está presa aqui. Ele sempre me falou a verdade, portanto eu creio que
isto é verdade.
- Quem foi que o fez ver? - perguntei, não apenas querendo saber quem lhe tinha dado a visão,
mas também interessado em saber como foi que esta prisão veio a manter as almas cativas.
- Ele nunca me disse o seu nome, apenas referiu-se como sendo "Sabedoria".
- Sabedoria! Qual era a aparência dele? - questionei.
- Ele era um jovem atleta, negro. Ele podia ver melhor do que ninguém, e parecia conhecer todos
por aqui. Há algo estranho. Encontrei-me com outros que disseram ter também se encontrado com
Sabedoria. Mas todos o descreveram de forma diferente. Uns disseram que ele é branco, e outros
disseram que era uma mulher. A menos que haja muitos que se chamam "Sabedoria", ele é um
mestre em se disfarçar.
- Dá para você me levar até ele? - perguntei-lhe.
- Bem que o levaria, mas não o tenho visto por um longo tempo. Receio que ele tenha saído daqui,
ou quem sabe tenha morrido. Tenho estado muito desencorajado, desde que ele partiu. A minha
visão até mesmo piorou um pouco, até que eu vi você. Quando eu o vi, constatei que tudo o que ele
me disse é verdade. Ele disse que você o conhecia também, então por que você está me fazendo
tantas perguntas a respeito dele?
- Sim, de fato eu o conheço! E anime-se, o seu amigo não morreu. Vou dizer-lhe o seu verdadeiro
nome, também, mas primeiro tenho de lhe fazer algumas perguntas.
- Sei que posso confiar em você. E sei que você, e outros, que virão, desejarão encontrar-se com
todos os que têm visão. Posso levá-lo para alguns deles. Sei também que você, e outros, virão para
fazer com que muitos desses prisioneiros venham a ver. Estou surpreso, contudo, com uma coisa.
- Com o quê?
- Você é branco. Nunca cheguei a pensar que os que viessem para nos ajudar a ver e para nos
libertar fossem brancos.
- Tenho certeza de que muitos outros que virão não serão brancos - respondi. - Posso dizer-lhe que
você já tem uma considerável visão, de forma que sei que você poderá compreender o que estou
para lhe dizer.

O VALOR DA VISÁO

Enquanto eu olhava para Stephen para ter certeza de que ele estava prestando atenção, tocou-me
no coração o fato de ser ele tão aberto e ensinável, num visível contraste em relação à professora
que tinha mais ou menos a sua mesma idade. "Este homem vai ser um bom professor", pensei, e
continuei a lhe dizer:
- Quando chegarmos ao lugar da visão final, não mais julgaremos as pessoas pela cor da pele, pelo
sexo ou pela idade. Não julgaremos as pessoas por sua aparência, mas segundo o espírito.
- Isso se parece com o que os nossos mestres costumavam nos ensinar - respondeu Stephen, um
tanto surpreso.
- Há, porém, uma diferença - prossegui. - Eles procuraram fazer-nos crer que todos somos iguais,
mas nós fomos criados como seres diferentes, por alguma razão. A verdadeira paz somente vem
quando respeitamos as diferenças que há entre nós. Quando realmente sabemos quem somos,
nunca seremos ameaçados por aqueles que são diferentes. Quando somos livres, somos livres para
demonstrar honra e respeito aos que são diferentes de nós, querendo sempre aprender uns com os
outros, assim como você agora está fazendo comigo.
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- Compreendo - replicou Stephen - espero não o ter ofendido quando disse que fiquei surpreso por
você ser branco.
- Não, não me ofendi. Eu compreendo. Fiquei animado inclusive porque você pôde reconhecer-me,
apesar da cor da minha pele. Mas lembre-se: toda vez que abrirmos o nosso coração para
aprendermos daqueles que são diferentes de nós, a nossa visão aumentará. Seus olhos já estão mais
brilhantes de quando nos encontramos.
- Eu estava precisamente pensando em como a minha visão está melhorando tão depressa -
Stephen observou.
- Sei agora por que estou aqui - acrescentei. - Tenha em mente que a sua visão é, dentre as coisas
que você possui, a mais importante. A cada dia você tem de fazer o que é necessário para que a sua
visão aumente. Fique longe das pessoas e das coisas que fazem com que você perca a sua visão.
- Sim, de coisas tais como ficar desanimado.
- Exatamente! O desânimo é geralmente o início da perda de visão - disse eu. - Para realizarmos o
que pretendemos, temos de resistir ao desânimo de qualquer forma que ele se apresente. O
desânimo cega a gente.
- Quando comecei a ver, passei a sentir que eu tenho um propósito, e pode ser que ele seja
importante - Stephen continuou. - Você pode me ajudar a saber qual é o propósito que eu tenho em
minha vida?
- Sim, acho que posso. Conhecer o seu propósito é um dos maiores meios pelos quais a sua visão
cresce. É também uma das nossas maiores defesas contra o desânimo, que destrói a visão. Penso
que o meu principal objetivo aqui é ajudar você e os outros, cuja visão está sendo restaurada, a
conhecer o propósito que têm. Mas primeiro temos de falar sobre algo ainda mais importante.

TESOURO ENTERRADO

Quando Stephen falava, dava para eu ouvir a voz de Sabedoria, de modo que eu sabia que este
jovem tinha sido instruído pelo Senhor. Sabia também que ele não conhecia o nome do Senhor, e
que teria dificuldade em crer que o nome de Sabedoria é Jesus. Sabia que eu teria de ser sábio até
mesmo para compartilhar o nome de Sabedoria. Pensei nos apóstolos, nos profetas, nos
evangelistas, nos pastores e nos mestres que Sabedoria disse que eu encontraria num lugar como
este. Olhando para toda aquela gente, senti a presença do Senhor. Ele estava comigo, e mesmo na
escuridão desta terrível prisão comecei a sentir-me um tanto excitado. "E para isto que eu fui
preparado" - pensei.
- Stephen, o que você vê quando olha para toda essa gente? -perguntei.
- Vejo confusão, desespero, amargura, ódio. Vejo as trevas.
- É verdade, - respondi - mas olhe de novo com os olhos do seu coração. Use a sua visão.
Ele olhou para aquela gente por um longo tempo e então disse, com certa hesitação:
- Vejo agora um grande campo, no qual um tesouro está enterrado. O tesouro está em toda a parte,
e em quase todas as formas.
- E isso mesmo - respondi. - Isto é também uma revelação do seu propósito. Você é alguém que vai
descobrir o tesouro. Algumas das maiores almas de todos os tempos caíram aqui numa armadilha,
e a sua contribuição vai ser encontrá-las e libertá-las.
- Mas como é que eu vou encontrá-las, e como vou libertá-las, se eu mesmo não estou liberto?
- Você já sabe como encontrá-las, - respondi-lhe - mas é verdade que você não as poderá libertar se
você mesmo não estiver livre. Esta é a sua próxima lição. Você tem ainda de lembrar-se de que
você sempre saberá qual é o seu propósito numa determinada situação, olhando com os olhos do
seu coração. O que você vir com o seu ser, que está na parte mais profunda do seu interior, sempre
revelará qual é o seu propósito.
- Foi assim que você soube que eu vou ser um descobridor de tesouros?
- Sim. Mas você tem de se libertar antes de poder tornar-se a pessoa que você foi criada para ser.
Por que você não escapou passando por esses buracos que há na cerca? -perguntei-lhe.
- Quando passei a ver, eu vi as cercas e o muro. Vi também os buracos nas cercas e passei através
deles. Quando cheguei junto ao muro, tentei diversas vezes subir por ele, mas o medo me vencia,
porque tenho medo de altura. Achei também que se eu subisse na muralha, eu seria baleado.
- Aqueles guardas não conseguem ver assim tão bem como você pensa - respondi. - Eles são quase
tão cegos quanto as pessoas que aqui estão.
- 29 -
Isso pareceu realmente surpreender Stephen, mas posso dizer que isso abriu ainda mais os olhos
dele.
- Você consegue ver a parte superior da muralha? -perguntei.
- Sim, dá para eu ver daqui de onde estou.
- Quero que você se lembre do seguinte - continuei - eu já estive em muitos lugares. Há um
princípio muito importante que descobri ser verdadeiro em todo lugar, e você não pode esquecê-lo
daqui para a frente em sua vida.
- Que princípio é esse?
- Você pode ir até o ponto que sua vista alcançar. Se dá para ver a parte de cima da muralha, você
poderá ir até lá. Quando chegar lá em cima, você terá condições de ver até uma distância como
nunca viu em sua vida. Você tem que ir prosseguindo até onde conseguir ver. Nunca pare,
enquanto você puder ver coisas ainda mais distantes.
- Compreendo - respondeu ele. - Mas ainda estou com medo de subir naquele muro. Ele é tão alto!
Ele é seguro?
- Não vou mentir dizendo-lhe ser ele seguro, mas sei que é muito mais perigoso não subir nele. Se
você não fizer uso da sua visão andando no que você vê, você a perderá. E daí você acabará
perecendo aqui.
- Como é que eu vou descobrir o tesouro que se acha aqui, se eu sair daqui?
- Esta é uma boa pergunta, - fui respondendo - mas é uma pergunta que impede muitos de
cumprirem o propósito que têm. Agora apenas posso dizer-lhe que você tem uma grande jornada
pela frente que primeiro você deverá realizar, até o fim. No fim da sua jornada você encontrará
uma porta que o levará de volta para esta prisão, tal como aconteceu comigo. Quando você
retornar para cá, a sua visão será tão poderosa que eles jamais conseguirão prendê-lo aqui de novo.
A sua visão será suficientemente grande para ver o tesouro que há aqui.

VIII
A LUZ

Stephen virou-se e olhou de novo para o muro.


- Ainda estou com muito medo - lamentou ele. - Acho que não vou conseguir.
- Você tem visão, mas falta-lhe fé. A visão e a fé têm que andar juntas - disse-lhe. - Há uma razão
por que a sua fé é fraca.
- Por favor, diga-me porquê! Há alguma coisa que fará com que a minha fé cresça com a melhoria
da minha visão?
- Sim. A fé vem por saber quem é Sabedoria na realidade. Você tem que conhecer o verdadeiro
nome dele. Apenas por saber o verdadeiro nome dele você terá fé suficiente para ultrapassar aquele
muro, para a liberdade. Quanto melhor você conhecer o nome dele, maiores serão os obstáculos e
as barreiras que você terá condições de vencer em sua jornada. Um dia você conhecerá o nome
dele tão bem que poderá mover qualquer montanha.
- Qual é o nome dele? - perguntou Stephen, quase que suplicando que eu respondesse.
- O nome dele é Jesus.
- Stephen olhou para baixo, e depois para cima para o ar, pela descrença que parecia ter vindo
sobre ele. Observei que uma luta se travava entre o seu coração e a sua mente.
Finalmente ele olhou para mim de novo e, para meu grande alívio, ele ainda tinha esperança em
seus olhos. Depreendi que ele tinha aceitado o que o seu coração dizia.
- Eu suspeitava disso - disse ele. - De fato, durante todo o tempo em que você estava falando, de
algum modo eu sabia que você iria dizer isso. Sei também que você está me dizendo a verdade.
Mas eu tenho algumas perguntas a fazer. Você poderá respondê-las?
-Pois não!
- Conheço muitas pessoas que usam o nome de Jesus, mas que não são livres. De fato, algumas
delas são as que mais estão cativas, dentre as que conheço por aqui. Porquê?
- Esta é uma boa pergunta, - fui respondendo - e o que lhe posso dizer é o que eu tenho aprendido
em minha própria jornada. Penso que cada caso é um caso, mas há muitos que conhecem o nome
dele, mas que não o conhecem. Em vez de se aproximarem dele e de se transformarem por vê-lo
como ele é, essas pessoas procuram fazer com que ele se enquadre na imagem que têm dele.
- 30 -
Conhecer o nome de Jesus é muito mais do que apenas saber como soletrar esse nome, ou como
pronunciá-lo. E saber quem realmente ele é. Disso é que vem a verdadeira fé.
Eu podia ver que havia dúvida nos olhos de Stephen, mas era uma dúvida do tipo que é bom:
quando a pessoa quer crer, e não do tipo que a pessoa não está querendo crer. Então continuei a
dizer-lhe:
- Há aqueles que realmente amam Jesus e que se dispõem a conhecê-lo com toda a sinceridade,
mas que também permanecem prisioneiros. São os que deixam os ferimentos e os erros que os
atingiram na jornada fazê-los voltar atrás. Eles experimentaram a liberdade, mas voltaram para a
prisão por causa de desapontamentos ou fracassos que tiveram. Você os pode reconhecer
facilmente porque eles sempre estão falando do passado em vez de falarem sobre o futuro. Se
estivessem ainda andando pela visão, não estariam sempre olhando para trás.
- Já me encontrei com muitos desses - Stephen observou.
- Você tem que compreender uma coisa, se é que você quer solucionar essa questão. Para que você
cumpra o seu chamado, você não pode se deixar ser muito encorajado ou desencorajado pelas
pessoas que usam o nome de Jesus. Não somos chamados a pôr a nossa fé no povo de Deus, mas
sim no Senhor. Até mesmo as almas mais grandiosas nos desapontarão por vezes, porque são ainda
humanas. Muitos que são como os que acabei de descrever podem tornar-se também almas
grandiosas. A visão e a fé podem ser restauradas, até mesmo nos que se tornaram os mais
desanimados e decepcionados. Sendo você um caçador de tesouros, esta é a sua função. Não
podemos descartar nenhum ser humano - todos eles são tesouros para o Senhor. Entretanto, para
realmente conhecê-lo e andar em verdadeira fé, não julgue o Senhor pelo povo dele, nem pelos
melhores, nem pelos piores - compartilhei.
- Eu sempre considerei Jesus como sendo o Deus dos brancos. Ele nunca me pareceu importar-se
muito com as pessoas da minha raça.
- Ele não é um Deus dos brancos. Mas ele também não é o Deus dos negros. Ele criou todos e ele é
o Senhor de todos. Quando você o vê como o Deus de apenas um grupo, não importa que grupo
seja esse, você reduziu muito a pessoa de quem ele é, e você também reduziu enorme-ente a sua
visão.

FÉ E OBEDIÊNCIA

Observei em silêncio Stephen lutando com muitas outras coisas em seu coração. Eu continuava
sentindo a presença de Sabedoria, e sabia que ele poderia explicar todas as coisas muito melhor do
que eu. Finalmente Stephen levantou os olhos para mim, e eles estavam brilhando como nunca.
- Sei que todas as questões, com as quais tenho lutado, realmente não têm nada a ver com quem
Jesus é - disse Stephen - mas com o que as pessoas disseram que ele é. Sei que você está dizendo a
verdade. Sei que Jesus é o Único que me deu visão, e que ele é Sabedoria; tenho de servi-lo. Sei
ainda que foi ele que o enviou aqui para me ajudar a pôr-me em marcha. O que devo fazer?
- Sabedoria está aqui agora - comecei a responder. -Você o ouviu quando eu falava, do mesmo
modo que eu o ouvi falando através de você. Você já conhece a voz dele. Ele é o seu Mestre. Ele
falará com você através de diferentes pessoas, às vezes até mesmo através de quem não o conheça.
Esteja pronto para ouvir e obedecer o que ele disser. Fé e obediência são a mesma coisa. Você não
tem uma verdadeira fé se você não obedecer, e se você tiver uma verdadeira fé você sempre vai
obedecer.
Continuei ainda dizendo-lhe:
- Você disse que o servirá. Isso significa que você não mais vai viver para si mesmo, mas para ele.
Quando Sabedoria está presente, você sabe diferenciar o que é certo e o que é errado. Quando você
chega a conhecer Sabedoria, você também fica compreendendo o que é o mal. Você tem que
renunciar ao mal que você fez no passado, bem como todo o que vier a tentá-lo no futuro. Você
não pode viver como vivem os outros. Você foi chamado para ser um soldado da cruz. Quando
você assumiu o nome dele, e a verdade de quem ele é; quando aquela grande luz entrou em seus
olhos; quando a paz e a satisfação passaram a fluir em sua alma há apenas alguns momentos, então
você nasceu de novo e começou uma nova vida. Sabedoria lhe tem falado por algum tempo,
guiando-o e ensinando-o, mas agora ele vive em você. Ele nunca o deixará. Mas ele não é seu
servo; você é servo dele.
- Sim, eu o sinto mesmo! - Stephen reconheceu. - Mas como eu gostaria de vê-lo de novo!
- 31 -
- Você pode vê-lo com os olhos do seu coração a qualquer momento. Este é também o seu
chamado: vê-lo com maior clareza e segui-lo bem mais de perto. É para isso que é a jornada. Em
sua jornada você aprenderá sobre o nome do Senhor, e o poder da cruz. Quando tiver recebido o
treinamento necessário, você vai retornar aqui naquele poder, e ajudará a fazer com que muitos
desses cativos sejam postos em liberdade.
- Você ainda estará por aqui? - perguntou ele.
- Não sei. Por vezes terei trabalho a fazer aqui, mas também terei de ajudar outros em sua jornada.
E possível que eu o encontre lá para onde você está indo. Eu também estou ainda na minha própria
jornada. Este nosso encontro faz parte dela. Na sua caminhada haverá muitas portas pelas quais
você terá de passar. Você nunca saberá para onde elas o levarão. Algumas delas poderão trazê-lo
de volta para cá. Algumas portas poderão levá-lo para o deserto, pelo qual todos terão que passar.
Outras o levarão a ter gloriosas experiências espirituais, e é uma tentação ficar sempre procurando
por essas portas em especial, mas nem sempre elas serão aquelas necessárias para que cumpramos
o nosso chamado. Não escolha uma porta pela sua aparência, mas peça sempre a Sabedoria que o
ajude a fazer a escolha certa.
Stephen voltou o seu olhar para o muro. Observei um sorriso no seu rosto.
- Posso subir por aquele muro agora!, - disse ele. - Até anseio enfrentar esse desafio. Tenho que
admitir que ainda sinto temor, mas não importa. Sei que tenho condições de subir até em cima, e
não agüento mais esperar para ver o que está atrás do muro. Sei que sou livre. Não mais sou um
prisioneiro!
Fui junto com Stephen até a primeira cerca. Ele ficou surpreso ao descobrir que não apenas havia
buracos nela, mas quando ele tocava numa cerca, ela caia, fazendo novos buracos.
- Do que essas cercas são feitas? - perguntou ele.
- De enganos - expliquei. - Toda vez que alguém escapa passando por elas, um buraco é feito para
que outros passem também. Você pode passar pelos buracos que já foram feitos, ou fazer um novo
buraco para você passar.
Stephen escolheu um lugar que era bem fechado com arame farpado, esticou os braços e foi em
frente, abrindo um enorme buraco ao passar. Eu sabia que um dia ele retornaria aqui e que levaria
muitos para fora, passando pelo buraco que ele estava fazendo. Observá-lo agora era pura alegria.
Senti a presença de Sabedoria de forma tão forte que eu sabia que o veria se olhasse ao meu redor.
Então olhei, e eu estava certo. A grande alegria que eu sentia podia ser vista de igual modo em sua
face.

IX
LIBERDADE

Quando, ao lado de Sabedoria, eu observava Stephen ir passando pelas cercas, ele gritou:
- Do que é que o muro é feito?
- De medo - respondi.
Vi que Stephen parou e olhou para o muro. O muro era enorme. Muitos nunca conseguiram ir além
das cercas, e eu sabia que Stephen estava enfrentando uma prova crucial. Sem olhar para trás, ele
gritou de novo:
- Dá para você me ajudar a subir?
- Não posso ajudá-lo - respondi. - Se eu tentasse ajudá-lo, isso apenas dobraria o tempo da subida,
e ficaria bem mais difícil. Para vencer os seus medos, você terá que enfrentá-los sozinho.
- Quanto mais olho para cima, parece que fica pior - foi o que ouvi Stephen dizer para si mesmo.
- Stephen, você cometeu o seu primeiro erro.
- O que foi que eu fiz? - gritou ele, um tanto deprimido, já tomado pelo medo.
- Você parou.
- E o que faço agora? Meus pés estão pesados demais, não consigo movê-los! - disse ele.
- Olhe para os buracos que você fez nas cercas - disse-lhe. - Olhe agora para cima, para onde você
quer chegar, e vá em frente. Aproxime-se do muro e vá subindo, sem parar para descansar. Não
haverá descanso algum se você permanecer parado ao lado do muro, portanto não pare de subir,
até chegar lá em cima.
- 32 -
Para meu alívio, ele foi em frente. Ia muito devagar, mas ia. Da base do muro ele foi subindo,
devagar, mas sem parar. Quando vi que ele ia conseguir, corri até o muro e rapidamente subi
também, de forma a poder encontrá-lo do outro lado.
Eu sabia que Stephen estaria com sede, e assim esperei por ele junto a um córrego. Quando ele
chegou lá se surpreendeu por me ver, mas ficou muito alegre. Eu também me surpreendi ao ver as
mudanças que tinham ocorrido nele. Não apenas os olhos dele estavam brilhando mais e vendo
com muito mais clareza, mas ele agora andava com uma confiança e com uma nobreza que era
impressionante. Eu o tinha visto como um soldado da cruz, mas eu não o tinha visto como o
grande príncipe que obviamente agora ele fora chamado para ser.
- Diga-me como foi - disse-lhe.
- Para mim foi muito difícil prosseguir, depois de ter parado, sem parar de novo. Eu sabia que se
viesse a parar, poderia ser difícil demais continuar a ir em frente. Pensei sobre aqueles a que você
se referiu, que conheciam o nome do Senhor, mas que nunca subiram o muro, caminhando pela fé
no Seu Santo nome. Eu sabia que poderia vir a ser um deles. Decidi então que mesmo que eu
caísse, mesmo que eu morresse, eu preferia morrer do que ficar naquela prisão. Preferia morrer do
que deixar de ver o que há do outro lado, não fazendo a jornada a que sou chamado a fazer. Foi
difícil, bem mais difícil do que eu pensava, mas valeu a pena.
- Aqui, beba da água deste córrego. Você vai encontrar toda a água e todo o alimento de que
necessitar nessa jornada. Suas necessidades sempre estarão sendo supridas, à medida em que você
realmente necessitar delas. Que a fome e a sede o mantenham indo à frente. Quando encontrar o
que beber, descanse todo o tempo em que você estiver sendo suprido, e depois continue indo em
frente.
Ele bebeu depressa e então se levantou, ansioso por prosseguir.
- Não o verei por algum tempo, de modo que há algumas coisas que tenho de dizer-lhe agora, que
vão ser úteis para você em sua jornada - disse-lhe eu.
Stephen olhou para mim com muita atenção e com um brilho que era maravilhoso. "Os que
conheceram a maior escravidão é que desfrutarão a liberdade com o maior prazer" - pensei. Então
disse a Stephen que olhasse para a montanha mais alta que podíamos ver de onde estávamos.
- Você terá agora que escalai - aquela montanha. Quando você chegar ao topo, olhe até onde a sua
vista alcançar. Marque bem o que você vir, e procure o caminho que o levará para onde você está
indo. Faça um mapa desse caminho em sua mente. E para lá que você foi chamado a ir.
- Compreendo - respondeu ele. - Mas o lugar para onde vou pode ser visto de uma dessas
montanhas mais baixas? Não estou mais com receio de subir, mas estou ansioso por avançai- em
minha jornada.
- Você poderá ver certos lugares a partir dessas montanhas mais baixas, e chegar aos mesmos bem
mais depressa.
Você tem esta opção. Vai levar mais tempo e será mais difícil escalar aquela montanha alta, mas
dela você terá condições de ver uma distância bem maior, e poderá ver algo muito mais grandioso.
A jornada a partir da montanha elevada também será mais difícil e levará mais tempo. Você tem
liberdade, pode escolher qualquer um dos caminhos.
- Você sempre opta pela montanha mais elevada, não é? - Stephen perguntou.
- Agora sei que sempre é a melhor escolha, mas não posso dizer que sempre escolhi a montanha
mais alta. Muitas vezes optei pelo caminho mais fácil, mais rápido, mas sempre me arrependi
nesses casos. Agora creio que é sábio optar pela montanha mais alta. Sei que os maiores tesouros
sempre se acham no fim da jornada mais longa e mais difícil. Acho que você de igual modo é do
tipo que quer ir atrás de tesouros. Você acaba de superar um grande medo. Agora é tempo de
caminhar com muita fé.
- Sei que você diz a verdade, - disse ele - e sei em meu coração que tenho agora de subir a
montanha mais alta, ou então eu sempre estarei optando por tudo o que é menos do que eu possa
obter. Estou é ansioso a me pôr em marcha e chegar ao meu destino.
- A fé e a paciência andam juntas - respondi-lhe. - A impaciência na verdade é uma falta de fé. A
impaciência nunca o levará aos mais altos propósitos de Deus. O bom pode tornar-se o maior
inimigo do melhor. Agora é hora de estabelecer um princípio em sua vida, o de sempre escolher o
mais alto e o melhor. E deste modo que a gente se mantém bem junto de Sabedoria.
- O que mais você tem a me dizer, antes de eu partir? -perguntou Stephen, sentando-se sobre uma
pedra, com sabedoria demonstrando ter paciência e disposto a receber tudo o que lhe fosse
- 33 -
necessário saber, antes de partir. Pensei que talvez eleja estivesse conhecendo Sabedoria mais do
que eu.

UMA ADVERTÊNCIA

- Há uma outra sabedoria que não é a sabedoria de Deus, e há um outro ser que se chama de
"Sabedoria" e que não é Sabedoria; é o nosso inimigo. Pode não ser fácil reconhecê-lo, porque ele
procura apresentar-se como Sabedoria, e é muito competente em sua imitação. Ele vem na forma
de um anjo de luz, e geralmente traz uma verdade. Ele tem uma forma de verdade, e de sabedoria,
mas para mim levou algum tempo para que eu pudesse distingui-las da Verdade e da Sabedoria de
Deus. Constatei que ainda posso ser enganado por ele se por um momento chegar a pensar que
estou imune a ser enganado. Sabedoria ensinou-me que nunca devemos desprezar o inimigo - a
nossa defesa é aprendermos primeiro a reconhecê-lo, e depois a resisti-lo.
Os olhos de Stephen ficaram totalmente abertos quando esse "conhecimento" veio sobre ele.
- Sei de quem você está falando! - exclamou ele. -Encontrei-me com muitos na prisão que o
tinham seguido. Eles estavam sempre falando de uma sabedoria mais elevada, de um
conhecimento maior. Eles sempre pareciam ser nobres, justos, mas eles não se sentiam bem.
Sempre que eu lhes dizia sobre Sabedoria, eles respondiam que também conheciam "Sabedoria",
que era um "guia em seu interior". Entretanto, quando dei ouvidos ao que eles falaram, não me vi
sendo levado à liberdade que eles disseram, mas ao contrário vi que estava sendo levado para uma
escravidão ainda maior naquela prisão. Somente vi trevas em torno deles, bem diferente da luz que
vi quando conversei com Sabedoria. Eu sabia que não se tratava da mesma pessoa.
- A verdadeira Sabedoria é Jesus. Você sabe disso agora. A verdadeira sabedoria é procurar Jesus.
Toda sabedoria que não o leve a Jesus é uma sabedoria falsa. Jesus sempre vai libertá-lo. A falsa
"Sabedoria" sempre vai aprisioná-lo. Entretanto, a verdadeira liberdade muitas vezes parece ser
uma escravidão a princípio, e a escravidão geralmente parece ser libertação, de início.
- Não vai ser nada fácil, não é? - Stephen lamentou.
- Sim, não vai ser nada fácil, e não deve ser mesmo. Suspeitar de alguma coisa não é o mesmo que
ter discernimento, mas se for para você suspeitar de algo, suspeite do que parece ser fácil. Até
agora nunca encontrei "um caminho fácil" ao passar por qualquer porta ou seguindo por um
caminho que tenha se mostrado ser certo. Tomar o caminho mais fácil pode ser o modo mais
seguro de se desencaminhar. Você foi chamado como um soldado, e você terá que lutar. No
momento presente o mundo inteiro está sob o poder da falsa "Sabedoria", e você terá que vencer o
mundo de forma a cumprir com o seu chamado.
- Já tive que fazer certas coisas que me foram mais difíceis do que quaisquer outras anteriores -
ponderou Stephen. - Mas você tem razão: é duro, mas vale a pena. Nunca tive uma alegria assim,
uma satisfação assim, uma esperança assim como tenho agora. A liberdade é difícil. É difícil ter
que escolher que montanha subir. Quando estava lá, à frente daquele muro, eu sabia que poderia
ter optado por não subir por aquele muro. Senti como se o medo de tomar aquela decisão fosse o
muro em meu interior. Mas quando me decidi, eu sabia que conseguiria chegar até em cima. Mas
será que sempre a situação fica mais fácil depois da decisão ter sido tomada?
- Acho que não, mas de alguma forma aquilo que é "difícil" passa a ficar sendo mais
recompensador. Não pode haver vitória se não houver uma batalha, e quanto maior a batalha, mais
grandiosa será a vitória. Quanto mais vitórias você obtiver, mais você ansiará pelas batalhas, e
você se erguerá para um nível mais elevado, de modo a enfrentar lutas maiores. O que nos facilita
é que o Senhor sempre nos leva à vitória. Se você permanecer junto dele, você nunca fracassará.
Depois de cada batalha, depois de cada prova, você ficará mais perto dele e o conhecerá muito
melhor.
- Será que sempre vou poder discernir aquela escuridão quando a falsa "Sabedoria" tentar enganar-
me? - perguntou Stephen.
- Não sei, não. O que sei é que trevas vêm quando ele nos engana, fazendo-nos buscar algo em nós
mesmos. Quando ele enganou o primeiro casal, fazendo com que comessem da árvore do
Conhecimento do Bem e do Mal, a primeira coisa que fizeram foi olhar para si mesmos. Se a falsa
"Sabedoria" conseguir tornar-nos centrados em nós mesmos, a nossa queda a uma escravidão será
inevitável. O enganador sempre procura fazer com que você olhe para si mesmo. O chamado não é
para atender a propósitos nossos, mas é para a causa do Senhor e para o bem do seu povo.
- 34 -
- Será que alguém já conseguiu chegar ao seu destino sem ter sido enganado?
- Creio que não. Até mesmo o grande apóstolo Paulo admitiu ter recebido um estorvo em sua vida
por parte de Satanás. Pedro foi enganado por ele algumas vezes, conforme foi registrado nas
Escrituras, e não sabemos quanto a possíveis outras vezes, que não foram registradas. Mas não se
preocupe exageradamente quanto a não ser enganado. Isso é na verdade um dos maiores
estratagemas do inimigo. Ele desvia muitos por ficarem temendo mais o poder que ele tem de
enganar, em vez de terem fé no poder do Espírito Santo de guiá-los na verdade. Os que caírem
nessa armadilha não apenas ficarão presos a um crescente medo, como também atacarão quem
quer que esteja andando na liberdade que vem com a fé. Tenho certeza de que antes de chegar até
o cimo daquela montanha eles virão em emboscada contra você.
- E eles conhecem o nome de Jesus? - perguntou Stephen, um tanto confuso. - Eles devem
conhecer o nome do Senhor para passarem por aquela muralha, conseguindo chegar até onde
chegaram. Eu quero dizer: será que eles chegaram mesmo a conhecer o nome do Senhor?
- Tenho certeza de que eles o conheciam. Mas levante-se e olhe para o vale em frente, em torno de
cada montanha. O que você vê?
- Parecem ser tal como prisões. Parece haver muitas prisões aqui, iguais àquela de onde eu saí!
- Foi por isso que me surpreendi ao ouvi-lo dizer que Sabedoria dissera ser aquela a única prisão,
mas depois de estar lá por algum tempo eu compreendi o que ele quis dizer. Olhe para os altos
muros. Olhe para as cercas. São iguais às de lá. Se você for capturado ao longo do caminho, eles
não o levarão de volta para aquela prisão. Eles sabem que você preferiria até mesmo a morte do
que ficar lá, mas eles o levarão para uma dessas outras prisões. Quando você chega perto delas, é
difícil perceber, do lado de fora, que são prisões; mas lá dentro é tudo a mesma coisa, com as
pessoas divididas e aprisionadas por seus medos.
- Alegro-me por ter você me mostrado essas prisões - Stephen comentou. - Eu nem mesmo as tinha
visto quando olhava nessa direção de cima da muralha, ou quando estava olhando para a montanha
que terei que escalar. E você acha que muitas vezes sofrerei emboscadas por aqueles que tentarão
capturar-me para me pôr numa delas? E essas pessoas estarão usando o nome de Jesus?
- O próprio Senhor nos adverte nas Escrituras de que nos últimos dias muitos virão em seu nome,
declarando que ele é de fato o Cristo, e contudo enganarão a muitos. Creia-me, há muitos assim, e
creio que a maioria deles não sabe que eles são enganadores. Posso dar-lhe uma característica
deles que eu tenho visto, que é comum em todos com os quais tenho me encontrado: eles desistem
quando estão em sua jornada, parando antes de chegar ao seu destino. É necessário ter fé para se
continuar indo, e eles optam por seguir o medo em vez de seguir a fé. Eles ficam pensando que o
medo é fé, e na verdade vêem os muros de medo em torno de suas prisões como fortalezas da
verdade. É isso o que o medo faz na visão das pessoas, que passam a ver fortalezas assim. Bem
poucas dentre elas são de fato desonestas. São pessoas sinceras, mas foram ludibriadas por um dos
enganos mais poderosos, o medo do engano.
- Devo lutar contra essas pessoas? - perguntou-me ele.
- Compreendo por que você me pergunta isso, e esta pergunta eu mesmo já a fiz diversas vezes.
Essas pessoas destroem a fé de muitos, e causam mais mal aos que estão na jornada do que todos
os rituais e seitas juntos. Haverá um tempo em que todas essas pedras de tropeço serão removidas,
mas por ora elas têm um propósito, tornando o caminho mais difícil.
- Sabedoria quer que o caminho seja mais difícil? Já não é o suficiente conseguirmos vencer os
nossos próprios temores? Por que ele quer torná-lo ainda mais difícil, permitindo que tenhamos
que lutar contra todas essas temíveis pessoas também?
- A jornada será tão fácil ou tão difícil exatamente na medida em que o Senhor queira que seja.
Esta vida terrena é temporária e objetiva preparar aqueles que vão reinar com Ele em toda a era
futura, como filhos e filhas do Altíssimo, eternamente. Cada prova tem o propósito de transformar-
nos à sua imagem. Uma das primeiras coisas que temos de aprender nesta jornada é não
desperdiçarmos uma prova sequer, mas tomarmos cada uma delas como uma oportunidade que é.
Se o seu caminho é mais difícil, é por causa do seu grande chamado.

A NECESSIDADE DE DISCIPLINA

- "Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos. Muitos virão para a celebração do casamento,
mas poucos constituirão a noiva".
- 35 -
Viramo-nos para ver Sabedoria atrás de nós. Ele apresentou-se como o jovem atleta que Stephen
veio a conhecer.
- Corram a corrida que lhes foi proposta, e o premio será bem maior do que vocês possam
compreender agora. Vocês sabem da disciplina que é requerida para se preparar para a corrida.
Disciplinem-se portanto na retidão. Chamei todos à corrida, mas são poucos os que correm para
vencer. Disciplinem-se para vencer.
Então ele desapareceu.
- Por que ele foi embora? - Stephen perguntou.
- Ele disse tudo o que era necessário dizer agora. Ele lhe falou de disciplina. Eu considero que esta
seja a palavra mais importante para você no momento.
- Disciplina! Como eu detestava essa palavra! - disse Stephen.
- Ele falou com você sobre corridas. Você foi um atleta de corridas?
- Sim, eu sou muito rápido. Sempre fui o mais rápido em minha escola, e até mesmo me
ofereceram uma bolsa para correr por uma importante universidade.
- Suponho que você não a aceitou - disse-lhe eu.
- Não, não a aceitei.
- Foi por causa da falta de disciplina que você não foi para a faculdade?
- Não! Foi porque... - Houve um longo silêncio, enquanto Stephen olhava para baixo, para os seus
pés. -... Sim, acho que provavelmente isso foi a causa.
- Não se preocupe com isso agora. Entretanto, você tem que compreender uma coisa. Muitos dos
que potencialmente são os melhores em qualquer campo ou ocupação nem mesmo alcançarão
grande destaque precisamente por isso: pela falta de disciplina. O que você está fazendo agora é
muito mais importante do que uma pista de corridas ou do que uma faculdade. Obviamente a
disciplina tem sido um ponto fraco na sua vida, e isso já lhe custou muito, mas em Cristo todas as
coisas se tornam novas. Nele até as coisas que foram as suas maiores fraquezas podem tornar-se os
seus pontos fortes. Agora você é discípulo do Senhor. E todo discípulo está sob disciplina.
- Sei que você está me dizendo a verdade, e sei que esta é uma corrida que eu não quero perder.
- Dá para você ver o caminho que vai subindo pela montanha? - perguntei-lhe, finalmente.
-Sim.
- O nome desse caminho é Disciplina. Permaneça nele, se você quiser chegar ao topo da
montanha!

X
O EXÉRCITO

Derepente eu estava numa montanha bem alta, olhando para uma grande planície. Diante de mim
havia um exército que marchava, tendo uma enorme frente de batalha. Eram doze unidades na
vanguarda, que se destacavam claramente da grande multidão de soldados que as seguiam. Essas
unidades eram ainda divididas no que eu presumi que fossem regimentos, batalhões, companhias e
pelotões. As divisões distinguiam-se por suas bandeiras, e os regimentos podiam ser reconhecidos
pelas diferentes cores do uniforme que vestiam.
Batalhões, companhias e pelotões distinguiam-se por terem diferentes faixas ou dragonas. Todos
vestiam uma armadura toda polida em prata; os escudos pareciam ser de ouro puro; e as armas
eram tanto de prata como de ouro. As bandeiras eram enormes, com 10 a 12 metros de compri-
mento. Com o movimento dos soldados marchando, suas armaduras e armas faiscavam ao sol
como relâmpagos, e o som produzido pelas bandeiras ao vento e pelo passo dos soldados era como
um rufar de trovões. Acho que a terra nunca presenciou nada igual a isso antes.
Então eu estava bem perto, de forma que dava para ver o rosto dos soldados - eram homens e
mulheres, velhos e jovens de todas as raças. Eles tinham um semblante carregado, contudo eles
não pareciam estar tensos. Havia indícios de que haveria guerra, mas nas tropas eu podia ver uma
profunda paz e compreendi que ninguém temia a batalha em direção à qual marchavam. A
atmosfera espiritual que eu senti quando estava perto deles era tão imponente quanto a sua
aparência.
Olhei então para os seus uniformes. As cores eram brilhantes. Cada soldado portava também
insígnias do seu posto e medalhas. Os generais e outros oficiais de posto elevado marchavam nas
fileiras com os demais. Embora fosse óbvio que aqueles com postos mais elevados estivessem no
- 36 -
comando, ninguém parecia estar demasiadamente suscetível ao posto que tinha. Do nível de posto
mais elevado até o de nível mais baixo, todos pareciam ser amigos íntimos. Era um exército que
parecia ter uma disciplina sem precedentes, contudo também parecia ser apenas uma grande
família.
Analisando-os melhor, eles davam a impressão de não estarem voltados para si mesmos, não por
falta de identidade, mas por estarem muito seguros de quem eles eram e do que estavam fazendo.
Eles não se preocupavam consigo mesmos, nem estavam atrás de reconhecimentos. Não pude
detectar nem ambição nem orgulho em toda a tropa. Era impressionante ver que toda aquela
multidão, que era sem igual, tinha contudo uma total harmonia e marchava num passo perfeito. Eu
tinha certeza de que jamais houve na terra um exército como esse.
Então fiquei atrás das unidades da linha de frente, olhando para um grupo muito maior que era
composto de centenas de divisões. Cada uma delas era de um tamanho diferente, com as menores
tendo cerca de dois mil soldados, e as maiores com centenas de milhares. Embora este grupo não
fosse tão bem delineado e colorido como o primeiro, era também um exército imponente,
simplesmente por causa do seu tamanho. Este grupo tinha também bandeiras, mas elas não eram
nem de perto tão grandes e impressionantes como as do primeiro grupo. Todos tinham uniformes e
o seu posto no exército, mas fiquei surpreso ao ver que muitos deles não tinham a armadura
completa, e muitos não carregavam armas. As armaduras e as armas que eles possuíam não eram
nem de perto polidas e brilhantes como as do primeiro grupo.
Olhando com mais atenção os que estavam neste grupo, pude ver que todos estavam determinados
e tinham um propósito, mas não tinham nem de perto a objetividade que caracterizava o primeiro
grupo. Estes aqui pareciam ter mais consciência do seu próprio posto e dos postos que estavam ao
seu redor. Senti que isso era uma perturbação que afetava o seu objetivo. Pude ver também
ambição e ciúmes na tropa, o que sem dúvida era mais um fator de perturbação. Mesmo assim,
senti que esta segunda divisão ainda tinha um alto nível de devoção e de propósito, mais do que
qualquer exército da terra. Esta era, também, uma força muito poderosa.
Atrás deste segundo exército havia um terceiro que marchava tão afastado dos dois primeiros que
eu não saberia ao certo se até mesmo ele podia divisar os dois grupos que estavam à sua frente.
Esse grupo era muitas vezes maior do que o primeiro e o segundo juntos, aparentemente sendo
composto de milhões e milhões de pessoas. Pelo que pude observai- à distância, esse exército
movia-se em diferentes direções como um bando de aves, arremetendo-se primeiro por um
caminho e depois por outro, nunca se movendo numa linha reta por muito tempo. Por causa desse
movimento incerto, ele se afastava mais e mais dos dois primeiros grupos.
Chegando mais perto desse grupo vi que os soldados vestiam uniformes esfarrapados, de cor cinza
escuro, amarrotados e sujos. Quase todos estavam ensangüentados e feridos. Alguns tentavam
marchar, mas a maioria simplesmente ia na direção geral em que todos eram dirigidos. Lutas entre
si constantemente irrompiam nas tropas, causando que muitos deles se ferissem. Alguns dos
soldados procuravam manter-se perto das bandeiras esfiapadas que se espalhavam pelas tropas.
Mesmo assim, nem mesmo os que estavam perto das bandeiras tinham uma clara identidade,
porque constantemente eles mudavam de uma bandeira para outra.
Nesse terceiro exército, notei com surpresa que havia apenas dois postos: generais e soldados
rasos. Apenas alguns tinham uma peça da armadura, e não vi arma alguma, exceto falsas armas
que eram levadas pelos generais. Os generais ostentavam essas falsas armas como se possuí-las
tornasse os oficiais especiais, mas até mesmo os que estavam nas tropas sabiam que as armas não
eram reais. Isso era muito triste, porque era óbvio que toda a tropa desesperadamente queria
encontrar alguém a quem realmente pudesse seguir.
Parece que não havia ambição alguma, exceto entre os generais. Não era por haver entre eles
desprendimento de si mesmos, como no caso do primeiro exército, mas era por não se
preocuparem com quase nada. Considerei que pelo menos a ambição presente no segundo grupo
seria bem melhor do que a confusão que prevalecia nesse terceiro grupo. Os generais pareciam
dedicar-se mais a falar sobre si mesmos e a lutar entre si, do mesmo modo os que ficavam em volta
das bandeiras também não paravam de fazer. Pude ver que as lutas dentro das tropas eram a causa
dos grandes arremessos numa e noutra direção, de forma imprevisível, que aconteciam nesse grupo
e que faziam com que ele mudasse de direção de quando em quando.
Ao olhar para os milhões que havia no último grupo, senti que apesar do grande número de
pessoas, eles na verdade não acrescentavam força alguma para o exército como um todo mas, pelo
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contrário, eles o enfraqueciam. Numa batalha real, eles seriam muito mais um peso morto do que
um trunfo. Apenas ter que sustentá-los com alimento e proteção custaria muito mais em recursos
do que resultaria em proveito para a atuação do exército em sua luta. Considerei que um soldado
raso do primeiro ou do segundo grupo teria um valor muito maior do que muitos generais do
terceiro. Eu não conseguia entender por que os dois primeiros grupos até mesmo permitiam que
este os seguisse em sua retaguarda. Era evidente que eles não eram verdadeiros soldados.

A SABEDORIA DE ZÍPORA

De repente achei-me numa montanha de onde dava para ver todo o exército. Observando dali,
notei que a planície era seca e empoeirada na frente do exército, mas por onde as primeiras doze
divisões marchavam, depois delas passarem a terra ficava verde escuro, com árvores dando sombra
e frutos, e córregos de água pura fluíam por toda a terra. Este exército estava restaurando a terra.
Considerei em minha mente como isso era diferente do que aconteceria se um exército da terra
passasse por uma planície. Eles iriam espoliar tudo e iriam em busca de alimentos, até que a terra
se tornasse totalmente despojada, por onde quer que marchassem.
Observei então quando as divisões do segundo exército passaram pelo mesmo campo que o
primeiro tinha passado.
Os do segundo grupo deixaram pontes e muitos edifícios, mas o solo não foi deixado em tão boa
forma como se encontrava antes de terem passado. A grama já não era tão verde, os córregos
estavam um tanto enlameados, e muitos dos frutos tinham sido tomados.
Então vi o que aconteceu quando o terceiro exército passou pelo mesmo lugar. A grama tinha se
ido, ou então tinha sido tão pisoteada que se inserira na terra e não podia mais ser vista. As poucas
árvores que permaneceram estavam totalmente espoliadas. Os córregos estavam poluídos. As
pontes, desmoronadas; e por elas não era mais possível passar. Os edifícios foram deixados em
ruínas. Parecia que esse grupo tinha desfeito todo o bem que os dois primeiros tinham feito. Ao
observá-los, uma raiva despertou-se em mim.
Senti que Sabedoria estava ao meu lado. Ele não disse nada por um bom tempo, mas pude sentir
que ele também estava irado.
- O egoísmo destrói - finalmente ele começou a falar. -Eu vim para dar vida, e para dar vida em
abundância. Mesmo quando o meu exército tiver amadurecido, haverá muitos que invocam o meu
nome e que seguem aqueles que me seguem, mas que não me conhecem nem andam nos meus
caminhos. Estes destroem o fruto daqueles que verdadeiramente me seguem. Por causa disso, o
mundo não sabe se deve considerar o meu povo como sendo uma bênção ou uma maldição.
Quando Sabedoria disse isso, senti um forte calor vindo dele, ficando cada vez mais forte e mais
doloroso, que me foi difícil prestar total atenção ao que ele estava dizendo. Mesmo assim, eu sabia
que estava sentindo o que ele também estava sentindo, e que se tratava de uma parte importante da
mensagem que ele estava transmitindo para mim. A dor era por causa de uma compaixão pela
terra, combinada com uma ira diante do egoísmo desse exército. Ambos os sentimentos eram tão
fortes que eu senti como se estivessem me marcando a fogo.
Como a ira do Senhor continuava a aumentar, senti que ele poderia destruir o exército todo. Então
lembrei-me de quando o Senhor havia se encontrado com Moisés, quando ele voltava para o Egito
em obediência ao Senhor. O Senhor procurou matá-lo até que sua esposa, Zípora, circuncidou o
filho deles. Somente agora é que eu fui entender essa passagem. Como a circuncisão fala da
remoção da natureza carnal, o incidente com Moisés prefigurou profeticamente o pecado de Eli, o
sacerdote, que trouxe uma maldição para si mesmo e derrota para Israel, por ter falhado em
disciplinar seus filhos.
- Senhor, levanta pessoas que tenham a sabedoria de Zípora!-gritei.
A queimação continuava e senti então uma forte vontade de ir até os líderes deste grande exército
para lhes contar a história de Zípora e dizer-lhes que todos os do exército do Senhor tinham que ser
circuncidados em seu coração. A natureza carnal teria que ser removida. Eu sabia que se eles
prosseguissem marchando sem que isso se fizesse, então todo o exército estaria em perigo de ser
destruído pelo Senhor, por ele mesmo, tal como ele quase matou Moisés quando retornava ao
Egito.
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Então eu estava diante do Hall de Julgamento, diante do Trono do Julgamento. O Senhor ainda
tinha a aparência de Sabedoria, mas eu nunca o tinha visto assim tão feroz, e nunca as suas
palavras estiveram tão pesadas.
- Você já viu este exército em seu coração muitas vezes. Os líderes que estou comissionando agora
vão dirigir este exército. Estou enviando-o a muitos desses líderes. O que você vai dizer a eles?
- Senhor, este é um grande exército, mas eu ainda estou afligido pela condição do terceiro grupo.
Não compreendo por que até mesmo lhes foi permitido participar do teu exército. Eu gostaria de
dizer que, antes de prosseguirem, o primeiro e o segundo exército deveriam dar meia volta e
dispersar esse terceiro grupo. Eles não passam de uma enorme turba.
- O que você viu hoje é ainda algo do futuro. Os ministros que estou para liberar reunirão este
exército e vão equipá-lo para serem tudo o que você viu. A esta altura, quase que todo o meu
exército está na condição do terceiro grupo. Como é que então vou dispersá-los?
- Senhor, eu sei que senti a tua ira para com este grupo. Se quase todo o teu exército se acha agora
nessa situação, sou muito grato por não teres destruído a nós todos. Quando eu olhava para esse
terceiro grupo, senti que o seu estado deplorável era devido a uma falta de treinamento, de equi-
pamentos e de visão, bem como devido a uma falha de tomar a cruz que circuncida o coração.
Creio que devo ir até eles com a mensagem de Zípora, mas eles ainda necessitarão de sargentos
que os exercitem e de oficiais que os treinem.
- Lembre-se do primeiro exército que você viu antes da montanha - Sabedoria continuou a falar.-
Eles, também, estavam despreparados para a batalha, e quando a batalha começou, os que não
estavam preparados fugiram. Entretanto, muitos retornaram com sua armadura e com os seus
enganos substituídos pela verdade. Os primeiros dois grupos deste exército foram também
mudados pelas batalhas que os despertaram à sua verdadeira condição. Então eles clamaram a mim
e eu lhes enviei pastores segundo o meu coração. Todos os meus pastores são como o rei Davi.
Não são mercenários, que estão em busca de um lugar ou de uma posição, mas darão a sua vida
pelo meu povo. São também destemidos na guerra contra os meus inimigos, e são puros em sua
adoração a mim. Estou prestes a enviar esses meus pastores. Retorne com a mensagem de Zípora.
O tempo em que eu não mais suportarei os que procuram ser contados como participantes do meu
povo, mas que não circuncidam o coração, está próximo. Advirta-os da minha ira.
Sabedoria continuou:
- Estou mandando-o de volta para que você ande com os profetas que estou enviando, tal como
enviei Samuel, para ungir com óleo os meus verdadeiros pastores. Muitos deles agora são
considerados os menores dentre seus irmãos, mas você os encontrará servindo como fiéis pastores
de seus pequenos rebanhos, fiéis trabalhadores em qualquer obra que eu lhes dê. Esses são os meus
fiéis obreiros, que são chamados para ser reis. A eles vou confiar a minha autoridade. Eles
prepararão o meu povo para a grande batalha final.
Então questionei em meu coração: "se agora estamos na condição do terceiro grupo, o que devia
ter sido feito em relação aos generais que não pareciam ser verdadeiros generais, absolutamente?"
- Você tem razão, eles não são verdadeiros generais - respondeu o Senhor. - Não fui eu que os
nomeei, mas foram eles mesmos que se auto-nomearam. Mesmo assim, alguns deles vão passar
por mudanças, e eu farei deles generais. Outros tornar-se-ão oficiais úteis. Entretanto, a maioria
fugirá ao primeiro sinal da batalha, e você não os verá mais. Lembre-se de que todos os que estão
nos dois primeiros grupos participaram do terceiro em algum tempo, anteriormente. Quando você
for com a mensagem de Zípora, declarando que eu não vou mais tolerar a carnalidade do meu
povo, aqueles a quem realmente eu chamei, e que se dispuseram a obedecer-me, não fugirão da
minha circuncisão, mas se posicionarão contra a carnalidade no campo de batalha, de forma que eu
não terei que trazer julgamento sobre eles. Os meus pastores são responsáveis pela condição das
minhas ovelhas. Os meus generais são responsáveis pela condição dos meus soldados. Aqueles a
quem chamei assumirão esta responsabilidade porque me amam, porque amam o meu povo, e
porque amam a justiça.

O CAPITÃO DA HOSTE

Então eu não estava mais diante do Trono do Julgamento, mas achei-me de novo na montanha de
onde eu podia divisar o exército. Sabedoria estava ao meu lado. Ele estava resoluto, mas não mais
senti a dor e a ira como tinha sentido antes.
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- Eu lhe permiti ver um pouco do futuro - começou a dizer Sabedoria. - Eu o estou enviando
àqueles que foram chamados para preparar o meu exército e para liderá-lo. Estes são os que vêm
lutando a batalha na montanha. Estes são os que se defrontaram com o exército do acusador e per-
maneceram fiéis. Estes são os que têm cuidado do meu povo e que os têm protegido arriscando até
mesmo a sua própria vida. Eles são chamados para ser líderes no meu exército, que lutarão na
grande batalha final e que permanecerão sem medo diante de todos os poderes das trevas. Como dá
para você ver, este exército está em marcha, mas haverá ocasiões em que eles acamparão.
Permanecerem acampados é tão importante quanto estarem em marcha. E o tempo de planejar, de
dar treinamento, de desenvolver habilidades e de preparar as armas. É também o tempo para que os
que pertencem ao primeiro grupo andem entre os que estão no segundo, e para que os líderes do
segundo grupo andem em meio aos que estão no terceiro, com o propósito de encontrar os que pos-
sam ser chamados para passarem para o nível seguinte. Faça isso enquanto puder, pois o tempo
está próximo, quando Apocalipse 11:1 -2 se cumprirá, e os que quiserem ser chamados pelo meu
nome, mas que não andarem nos meus caminhos, serão pisoteados. Antes da última grande
batalha, o meu exército será santo, assim como eu sou santo. Vou remover aqueles que não forem
circuncisos de coração, e também os líderes que não preservarem a minha retidão. Quando a última
batalha acontecer, não haverá o terceiro grupo, que você viu aqui.
Sabedoria prosseguiu dizendo, ainda:
- Até agora, quando o meu exército acampou, a maior parte do tempo foi desperdiçada. Assim
como eu somente levo o meu povo a prosseguir tendo um claro objetivo, da mesma forma, quando
chamo o meu exército para acampar, há um propósito. A força do exército que marcha resultará da
qualidade do que for feito nesse acampamento. Quando chegar a hora de parar e acampar por
algum tempo, será para ensinar os meus caminhos ao meu povo. Um exército é um exército, quer
esteja em batalha ou em paz. Será necessário que aprendam como acampar, como marchar e como
lutar. Nenhuma dessas coisas será bem feita a menos que todas elas sejam bem feitas. O meu
exército tem de estar preparado para fazer cada uma dessas coisas em tempo e fora de tempo. Pode
ser que vocês pensem que seja tempo de marchar, mas eu vou dirigi-los a acampar, porque eu vejo
coisas que vocês não podem ver, até mesmo se estiverem neste lugar de ampla visão. Se vocês me
seguirem, vocês sempre estarão fazendo a coisa certa no tempo certo, mesmo que para vocês não
pareça assim. Lembrem-se, eu sou o Capitão da Hoste.
Continuou ele ainda dizendo:
- Uma resolução para o exército será determinada pela nobreza de sua missão, por quão bem
preparados eles estejam para executá-la, e pela qualidade da direção sobre eles. Este exército
marchará com a mais nobre missão que já foi dada ao homem. Entretanto, poucos dentre o meu
povo é que estão sendo equipados para a sua missão, e os que atualmente estão liderando o meu
povo estão seguindo sua própria vontade. Agora vou levantar líderes que darão treinamento e que
vão equipar o meu povo. Esses sempre me seguirão porque eu sou o Capitão da Hoste. Muitos
exércitos passam tanto por vitórias como por derrotas. O meu exército está em marcha há muitos
séculos. Ele também tem passado por muitas vitórias e muitas derrotas. O meu exército já perdeu
muitas batalhas porque ele atacou o inimigo quando eu não lhe dei tal comando. De outras feitas
ele também perdeu por atacar o inimigo com pessoas que não foram treinadas. Muitos dos líderes,
nesses casos, agiram assim porque estavam em busca da sua própria glória. E como Paulo escreveu
acerca dos de seu tempo: "todos buscam os seus próprios interesses". O Senhor concluiu, então,
dizendo: - Outros líderes podem ter tido os meus interesses em seu coração, e com sinceridade
procuraram a vitória sobre o mal, para a glória do meu nome, mas eles não treinaram
suficientemente bem o povo; não andaram comigo para que eu atuasse sobre eles como Sabedoria.
Isso agora vai mudar. Eu vou ser o Capitão da Hoste. Não fiquem desencorajados pela aparência
que agora o meu povo tem, mas lembrem-se de como ele se transformará. Agora vou levantar
líderes que apenas marcharão quando eu der o comando. Quando o meu exército estiver me
seguindo, ele vencerá todas as batalhas. Quando acamparem, eles conhecerão a minha presença, e
se fortalecerão em meus caminhos. Vocês chegarão a um tempo no futuro em que verão o meu
exército exatamente como ele é agora. Naquele dia vocês sentirão a minha ira ardente. Saibam que
eu não mais vou tolerar os que permanecerem na condição do terceiro grupo. Então eu inter-
romperei a marcha de todo o exército, até que os que estejam nesse grupo tenham sido
disciplinados para se tornarem soldados, ou então sejam dispersos. Vou disciplinar os do segundo
grupo para eliminar suas más ambições de forma a viverem por mim e por minha Verdade. Então o
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meu exército prosseguirá marchando, não para destruir, mas para dar vida. Eu vou estar no meio
deles para que pisem nos meus inimigos, que estarão debaixo dos pés desse exército. Estarei indo
para ser o Capitão da Hoste!

XI
A CIDADE

Então eu estava numa outra montanha, observando toda uma cidade. A glória dessa cidade ia além
de tudo o que eu tinha visto ou imaginado antes. Cada edifício e cada casa não somente era sem
igual, e belo, mas ainda encaixava-se dentro de uma simetria total entre si e com os campos a seu
redor, com as montanhas e com as formações de água, que era impressionante! Era quase como se
a cidade tivesse crescido como uma planta, em vez de ter sido construída. O que senti foi que eu
estava contemplando algo que tinha sido construído por uma raça que não tinha caído e que havia
andado na retidão e na pureza que Adão e Eva tinham a princípio.
Uma característica que se destacou foi a grande quantidade de janelas de vidro em cada estrutura
ou habitação. Esse vidro era tão claro e limpo, e as janelas e as portas estavam situadas de tal
forma, que o sentimento que tive foi o de que eu não seria apenas bem-vindo em cada moradia,
mas que eu estaria sendo convidado. Era também como se nada estivesse escondido, e não havia
perigo algum de alguma coisa ser roubada.
Então olhei para os habitantes da cidade. Pareciam-me familiares, mas ao mesmo tempo eu sabia
que nunca tinha me encontrado com alguém como eles. Eles eram tal como eu imaginava Adão,
antes da queda. Os olhos de cada um deles brilhava com o que parecia ser quase que uma total
compreensão, uma profundidade intelectual muito além até mesmo da mais brilhante pessoa que
eu possa ter conhecido. Eu sabia que isso era o resultado de uma ordem e de uma paz que eram
totalmente livres de qualquer confusão ou dúvida ou, quem sabe, de qualquer confusão gerada pela
dúvida. Não havia ambição, porque cada um era por demais convicto e tinha tanta alegria quanto
ao que era e quanto ao que estava fazendo. Pelo fato de que todos aqui eram livres, eles eram
também completamente abertos. Pobreza e doença eram conceitos incompreensíveis.
Olhei para as ruas dessa cidade. Haviam muitas auto-estradas mais importantes no centro, todas
indo na mesma direção, e rodovias menores que se ligavam com elas. Enquanto eu olhava para
uma das auto-estradas mais largas, uma revelação me foi dada quanto à verdade da santidade.
Olhei para uma outra, e tive a percepção de uma verdade quanto a cura. Ao olhar ainda para uma
outra, passei a entender aspectos relativos ao juízo. Ao olhar para cada rua, compreendia uma
verdade diferente. Então entendi que cada auto-estrada era um caminho para uma determinada
verdade. As pessoas que caminhavam e que moravam em cada uma delas como que refletiam a
verdade daquela auto-estrada.
Minha atenção voltou-se então para as muitas ruas que ligavam as auto-estradas. Ao olhar para
cada uma dessas mas, tive a percepção de um fruto do Espírito, tal como amor, alegria, paz ou
paciência. Essas percepções eram sob a forma de sentimento, e não de conhecimento, como foi
quando olhei para as auto-estradas.
Observei que algumas das ruas estavam ligadas a todas as auto-estradas, enquanto que outras
tinham apenas uma ou duas ligadas a elas. Por exemplo, somente se poderia ir à auto-estrada da
Santidade caminhando-se pela rua do Amor. Somente dava para ir à auto-estrada do Julgamento
andando pelas ruas do Amor ou da Alegria. Entretanto, a auto-estrada da Graça estava ligada por
todas as ruas. Para se chegar a qualquer das auto-estradas da Verdade era necessário caminhar por
uma das ruas que tinham o nome de um dos frutos do Espírito.
Havia pessoas caminhando pelas auto-estradas e pelas ruas, e outras estavam sentadas nas calçadas
laterais. Havia pessoas nas casas, tanto das ruas como das auto-estradas; e havia quem estivesse
construindo novas casas nessas ruas e auto-estradas. Os que moravam nas casas constantemente
serviam alimentos e bebidas àqueles que caminhavam ou que estavam sentados. Então observei
que não havia restaurantes, hotéis nem hospitais na cidade. Rapidamente compreendi que nada
disso era necessário porque cada pessoa era um centro de hospitalidade e cura.
Quase todas as casas estavam abertas para os transeuntes. Aquelas que não se achavam abertas
eram usadas para propósitos especiais, como estudo ou cura a longo prazo. Fiquei cogitando como
haveria alguém com necessidade de cura aqui, mas depois me mostraram a razão. Mesmo assim,
eu não poderia imaginar um lugar mais maravilhoso para este grande ministério de hospitalidade,
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socorros ou cura, até mesmo os que estavam sendo construídos na auto-estrada do Julgamento, que
parecia ser o lugar de maior atividade. Por causa disso, até mesmo a auto-estrada do Julgamento
era convidativa. Era evidente que cada uma das ruas era não apenas segura, mas que era mais
desejável do que qualquer outra estrada ou auto-estrada que eu tenha visto, até mesmo em parques
de diversão. Esta cidade era muito mais gloriosa do que qualquer utopia que pudesse ser concebida
por qualquer filósofo.
A minha atenção voltou-se para a auto-estrada do Julgamento. Parecia ser a auto-estrada menos
trafegada, mas agora ela estava tornando-se bem mais ativa. Então eu vi que era porque as outras
ruas e auto-estradas todas davam para ela. Entretanto, muito embora a auto-estrada do Julgamento
estivesse se tornando o centro das atividades, as pessoas ainda pareciam demonstrar certa hesitação
antes de entrar nela.
Ao olhar para o fim dessa auto-estrada, pude ver que ela tinha um constante declínio, e que havia
uma montanha bem alta no final, que se envolvia numa sutil, porém profunda, glória. Eu sabia que
se as pessoas pudessem ver o fim dessa auto-estrada, certamente haveria muito mais pessoas que
por ela iriam passar. Então percebi que eu tinha sido atraído para essa auto-estrada porque a
sensação de ir para ela era igual à do Grande Hall do Julgamento. Eu sabia que essa era a estrada
que levava ao conhecimento do Senhor como Reto Juiz.

O VÍNCULO DA PAZ

Cogitei desta cidade ser o céu ou a Nova Jerusalém. Então observei que embora as pessoas ali
fossem de estatura muito além das que eu tinha visto na terra, elas não tinham a glória ou a estatura
daqueles que estavam no céu, até mesmo nas mais baixas posições do Hall do Julgamento.
Cogitava comigo mesmo sobre isso quando senti que Sabedoria estava ao meu lado de novo.
- Estas são as mesmas pessoas que você viu no meu exército - começou ele a falar. - A cidade e o
exército são a mesma coisa. Meus líderes que virão tiveram visões, tanto do meu exército como da
minha cidade. Estou construindo tanto um como a outra, e vou usar os líderes que agora estou
preparando para completar o que iniciei gerações atrás. Os meus generais se tornarão mestres-
construtores da minha cidade, e os meus mestres-construtores também se tornarão generais. Estes
são as mesmas pessoas. Um dia não se terá mais necessidade do exército, mas esta cidade durará
para sempre. O exército tem que ser preparado para as batalhas do presente, mas é necessário
construir tudo o que se constrói para o futuro.
Sabedoria continuou:
- Há um futuro para a terra. Depois de concluídos os meus julgamentos, haverá um futuro glorioso.
Estou prestes a mostrar ao meu povo o futuro, para que assim o futuro esteja no coração de cada
um dos meus. Como Salomão escreveu, "tudo quanto Deus faz durará eternamente". À medida em
que os meus forem se tornando como eu, eles passarão a construir o que permanecerá. Farão de
tudo pela paz nos tempos presentes, tendo uma visão quanto ao futuro. A cidade que estou
edificando para permanecer por todo o sempre é construída sobre a verdade no coração dos
homens. A minha verdade vai durar, e aqueles que andarem na verdade deixarão frutos que
permanecerão. Estou indo para a terra através de meu povo, como Sabedoria, para edificar a minha
cidade. O conhecimento da verdade encherá a minha cidade, mas a sabedoria é que a construirá. A
sabedoria que está vindo sobre os meus construtores fará com que o mundo se maravilhe da minha
cidade muito mais do que se maravilhou com a cidade que Salomão construiu. Os homens têm cul-
tuado a sua própria sabedoria desde que comeram, no princípio, da árvore do Conhecimento. A
sabedoria do mundo está para desvanecer diante da minha sabedoria, a qual revelarei através da
minha cidade. Então aqueles que cultuarem qualquer outra sabedoria se envergonharão. Tudo o
que foi feito por Salomão foi uma profecia do que eu estou prestes a fazer. Tudo o que você viu da
cidade que estou construindo é apenas um vislumbre superficial que lhe permiti ver. De quando em
quando lhe será mostrado mais, mas por ora você tem que ver uma coisa. O que mais lhe chamou a
atenção nesta cidade?
- O que mais se destacou, para mim, foi a harmonia. Tudo nesta cidade se encaixa perfeitamente
nas demais coisas, e toda a cidade se encaixa perfeitamente em seu meio ambiente -respondi.
- O perfeito vínculo da paz é o amor - continuou o Senhor. - Em minha cidade haverá unidade. Em
tudo o que eu criei houve harmonia. Todas as coisas se encaixam em mim. Tudo o que estou
fazendo na terra é para restaurar a harmonia que originalmente existiu entre o meu Pai e a sua
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criação, e entre todas as criaturas. Quando a raça humana viver em harmonia comigo, a terra estará
em harmonia com o Pai, e não haverá mais terremotos, enchentes ou tempestades. Eu vim para
trazer paz sobre a terra.
Enquanto ele falava, eu sabia que estava tendo uma visão do futuro, tal como me aconteceu
quando vi o exército. O que ele tinha dito quanto a construir com paz no presente e com uma visão
do futuro era também essencial para a harmonia que eu vi. O tempo era também uma parte da sua
criação a que tivemos que nos enquadrar.
Sabedoria olhou para mim de forma que eu olhei diretamente para os seus olhos, e então me disse:
- Eu amo a minha criação. Amo as feras do campo e os peixes do mar. Vou restaurar todas as
coisas da forma como elas tinham sido planejadas para ser, mas em primeiro lugar tenho que
restaurar a raça humana. Eu não vim apenas para redimir, mas também para restaurar. Para
participar do meu ministério de restauração, não veja os outros como eles são, mas como eles se
tornarão. Como Ezequiel, veja até mesmo nos ossos mais secos um exército extraordinariamente
grande. Profetize vida aos ossos até que eles se tornem o exército que eu os chamei para ser. Então
o meu exército marchará. Quando o meu exército marchar, vou restaurar, e não destruir. Ele
combaterá o mal, mas também construirá a cidade da retidão.
Prosseguiu ainda Sabedoria, dizendo:
- Todos os tesouros da terra não terão o peso numa balança que seja maior do que o valor de uma
só alma. Estou construindo a minha cidade no coração dos homens, com o coração dos homens. Os
que guardarem a grande sabedoria (o conhecimento dos tesouros eternos) serão usados para
construir a minha cidade. Você conhecerá os meus construtores tendo a seguinte sabedoria: eles
não põem a sua mente em coisas terrenas, mas sim nos tesouros do céu. Por causa disso, o mundo
trará a sua riqueza para a minha cidade, da mesma forma como fizeram no tempo de Salomão.
Estou prestes a enviar os meus mestres-construtores, que são sábios. Vocês deverão caminhar com
eles, e todos terão que andar em unidade. Cada uma das auto-estradas e ruas que você viu nesta
cidade terá início como uma fortaleza da verdade na terra. Cada fortaleza se levantará contra os
poderes das trevas, e esses poderes não prevalecerão contra elas. Cada uma delas será como uma
montanha, com rios fluindo dela para suprir de água a terra. Cada uma será uma cidade de refúgio
e um céu para todos os que me buscarem.
Nenhuma arma forjada contra eles prosperará, e nenhuma arma que eu lhes der falhará.

OS CONSTRUTORES DO SENHOR

Enquanto Sabedoria falava, meus olhos foram abertos para ver o vale mais belo que eu já tinha
visto. As montanhas que formavam o vale e o próprio vale eram mais verdes do que qualquer
verde que eu possa me lembrar de ter visto. As rochas eram como fortalezas feitas de prata; as
árvores eram perfeitas e frondosas. Havia um rio no meio do vale, alimentado por córregos que
vinham de todas as montanhas ao seu redor. A água brilhava num tom de azul mais azul que eu já
tinha visto, e de um modo esplendoroso combinava-se com o céu. Cada folha da relva era perfeita.
O vale continha muitas espécies de animais, que aparentavam ser os melhores de sua raça, sem
doenças e sem cicatrizes. Eles se harmonizavam perfeitamente com o vale, e entre si. Eu nunca
havia visto um lugar assim tão desejável sobre a terra.
Fiquei pensando se eu não estava vendo o Jardim do Éden, quando vi alguns soldados, revestidos
com toda a armadura, que estavam fazendo medições no vale. Outros soldados seguiam o curso de
cada córrego até o rio, e depois seguiam o rio até o lugar em que os primeiros soldados estavam
trabalhando. A princípio achei que esses soldados não pareciam apropriados a este local, mas por
alguma razão rapidamente me senti à vontade com eles, porque de alguma forma eu sabia que eles
deviam estar aí.
Olhei para os soldados. Eles tinham uma aparência rude e eram como que calejados pela batalha;
contudo eram amáveis e tratáveis. Eram impetuosos e resolutos; todavia pareciam estar em perfeita
paz. Eram sérios e sóbrios, porém cheios de alegria e riam à vontade. Pensei que, conquanto uma
guerra seja sempre algo terrível, se eu tivesse que ir a uma batalha, e pudesse escolher ao lado de
quem lutar, eu não escolheria nenhum outro grupo de soldados, a não ser este.
Observei as armaduras deles, que pareciam ter sido feitas sob medida para cada um, ajustando-se
no corpo deles de forma perfeita, de modo que eles se moviam com uma graça tal que dava a
impressão de não estarem com armadura nenhuma. Posso dizer que suas armaduras eram mais
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leves, e ao mesmo tempo mais fortes, do que todas as armaduras que eu tenha visto. Elas ainda
pareciam estar combinando com as cores das águas, das montanhas e com o céu azul. Logo percebi
que era por causa do reflexo dessas cores, com uma pureza de reflexão que eu nunca tinha visto
antes. A própria armadura em si era feita de uma prata "não terrestre", e era mais profunda e mais
pura do que qualquer prata da terra. Ao me pôr a cogitar quem seriam esses soldados, o Senhor
começou a falar.
- Na casa de meu Pai há muitas moradas - respondeu ele. - Estes são os meus construtores. Cada
uma das minhas casas será uma fortaleza de onde vou enviar os meus exércitos. Alguns avançarão
como cavaleiros para lutar em favor dos pobres e oprimidos, enquanto que outros avançarão como
pequenas companhias que vão atacar as fortalezas do inimigo e trazer despojos. Alguns enviarão
uma hoste para conquistar cidades sobre as quais a minha verdade e a minha justiça reinarão, e
outros se ajuntarão com exércitos de outras fortalezas para libertar nações inteiras com a minha
verdade, com o meu amor e com o meu poder. Essas fortalezas não são apenas para a proteção do
meu povo, mas são para mobilizar, treinar e enviar o meu exército por toda a terra.
Os tempos de maiores trevas em breve virão, mas o meu povo não estará escondido. Eles
avançarão para conquistar o mal com o bem. Eles vencerão por não amarem a sua própria vida até
à morte, e por amarem os outros mais do que sua própria vida. Esses serão os destemidos que eu
vou enviar antes da minha volta.
Continuou o Senhor:
- Até mesmo as profecias da vinda deles atingem com terror o coração dos meus inimigos. Meus
soldados não terão medo algum. Eles amarão. O amor é mais poderoso do que o medo, e o amor
deles quebrará o poder do medo que tem mantido a humanidade em escravidão desde o princípio.
Por terem decidido morrer a cada dia, o medo da morte não tem poder sobre eles. Isso dará a eles
poder sobre todo inimigo cujo poder seja o medo. Eu já fui morto, mas agora estou vivo para
sempre, e aqueles que me conhecem não podem ter medo da morte. Portanto, aqueles que me
conhecem me seguirão, por onde quer que eu vá. Cada uma das minhas moradias será num vale
como este. E um lugar que tem a vida que estava na terra antes da queda, porque aqui o poder da
minha redenção veio produzir de novo a verdadeira vida. As minhas moradias somente serão en-
contradas onde todos os meus córregos fluírem, juntando-se num só rio. Os meus construtores
virão de cada córrego, mas trabalharão como se fossem um só. Assim como casas grandiosas
necessitam ter diferentes artífices na sua construção, assim se dá com a minha casa. Somente
quando eles trabalharem juntos é que eles poderão construir a minha casa. Como você verá através
dos que estão aqui, os meus construtores terão a sabedoria de completar as medições antes de
construírem. Cada uma de minhas casas estará perfeitamente adequada ao terreno em que se
localizarão, não segundo medidas humanas, mas de acordo com as minhas medidas. A primeira
habilidade que os meus construtores desenvolvem é a habilidade do levantamento do terreno. Eles
têm que conhecer o terreno porque eu o designei para o meu povo. Quando uma construção é feita
com a minha sabedoria, o que é construído estará perfeitamente adequado com o terreno.
Achei-me então perto de um dos córregos naquele vale. Fui seguindo-o então até chegar ao topo de
uma montanha. Quando me aproximava do topo, ouvi sons terríveis, bem altos. Olhei para além do
vale e vi guerras e grandes terremotos rasgando a terra, e tempestades e incêndios que pareciam
cercar todo o vale. Era como se eu estivesse na fronteira do céu e do inferno, olhando diretamente
para o inferno. De alguma forma eu sabia que todo o inferno era impotente para invadir o vale,
mas a visão que eu tinha era tão terrível que me virei para retornar para o vale. Então senti que
Sabedoria estava ao meu lado.
- É aqui que você tem de viver, entre os que morrem e os que vivem. Não tenha medo, mas creia.
Você tem estado fraco, mas agora eu estou com você; assim seja corajoso e forte. O medo não
pode ter domínio sobre você: não faça nada por causa do medo. O que você fizer, faça por causa
do amor, e você sempre triunfará. O amor é a fonte da coragem. O amor prevalecerá no final.
Anime os meus construtores com estas palavras

XII
PALAVRAS DE VIDA

Então, eu estava de volta ao Grande Hall do Julgamento à frente daquela mesma porta. Eu estava
ainda um tanto pasmado pelo que tinha visto na beira daquele vale, mas as palavras de Sabedoria
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ainda estavam ressoando em mim. "Amor, amor", foi o que eu repeti, vez após vez. "Não devo
esquecer o poder do amor. Há uma verdadeira paz no amor. Há coragem no amor. Há poder no
amor."
Olhei para a porta. Eu sabia que esta era a porta para a igreja do Senhor. Eu sabia que as fortalezas
de que Sabedoria falou eram igrejas e movimentos. Pensei sobre algumas congregações e
movimentos que eu sabia que já estavam se preparando para o que eu tinha visto. Pensei também,
nos que fazem reaviva-mentos espirituais que eu conhecia, mas que a respeito deles eu nunca havia
pensado deste modo. Então, de novo, parecia que a maioria deles estava tão cansada da batalha que
apenas se esforçavam para sobreviver, chegando a lutar até mesmo uns contra os outros, em seu
desespero.
Pensei então na batalha que tinha sido travada na montanha. O inimigo tinha usado cristãos para
atacar outros cristãos que procuravam escalar a montanha. Embora aquela batalha por fim tenha
sido ganha, e a maioria dos cristãos tenha sido liberta do poder do acusador, eu sabia que levaria
um longo tempo para que os ferimentos daquelas batalhas se curassem. Muitos haviam estado sob
a influência do acusador por tanto tempo que ainda fazia parte de sua natureza acusar, e isso podia
se dar algum tempo antes de sua mente ser renovada. Eu sabia que a igreja estava ainda bem longe
de ser unida.
"Por onde começaremos?", perguntei em pensamento para mim mesmo. "O que poderei fazer, se
eu passar por esta porta?"
- Você não tem que partir do início; tudo já está terminado - Sabedoria respondeu. - Eu consumei a
unidade do meu povo na cruz. Embora pareça que o inimigo tenha prevalecido desde a cruz, na
verdade ele apenas tem agido segundo o plano que meu Pai e eu tivemos desde o princípio.
Quando você pregar a cruz e viver pelo poder da cruz, você estará fazendo a minha vontade. Os
que me servirem, e não servirem às suas próprias ambições, em breve reconhecerão uns aos outros,
e se unirão. Os que tiverem o verdadeiro temor de Deus não terão que temer nada na terra. Os que
me temerem não terão medo dos demais, mas se amarão, uns aos outros, e se sentarão juntos em
minha mesa. Eu o chamei para ver, e você verá como o meu reino virá. O diabo será lançado à
terra e irá com grande ira. Mas não tenham receio da ira dele, pois eu também estou prestes a
mostrar a minha ira contra toda iniquidade. O maligno e todos os que seguem o mal em breve
conhecerão a minha ira. Você tem de ver estas coisas, mas você não as deve temer, porque eu
habito no meio do meu povo e sou maior do que todos. Se você me contemplar, você não terá
medo. Se você tiver medo, então é porque você não estará olhando para mim.
Sabedoria continuou ainda dizendo:
- Quando o mal na humanidade estiver totalmente unido com o maligno, o tempo da grande
tribulação terá chegado sobre a terra. Então toda a humanidade e toda a criação compreenderá a
futilidade e a tragédia da rebelião. Ao mesmo tempo, o meu povo se tornará totalmente unido
comigo, e a minha grande luz prevalecerá contra as grandes trevas. Os que estiverem andando na
ilegalidade cairão nas profundas trevas. Os que estiverem andando na obediência brilharão como
as estrelas do céu. A humildade e a obediência sempre vão dar em mim. Enquanto estiverem vindo
para mim, vocês verão e manifestarão a minha glória. Os céus e a terra estão prestes a ver a
diferença entre a luz e as trevas. Vocês são chamados para viver entre as trevas e a luz, para
poderem chamar para a luz aqueles que vivem nas trevas. Ainda agora o meu desejo é que
ninguém venha a perecer.
Na glória que nos cercava era difícil lembrar das trevas e dos terríveis eventos que há pouco eu
tinha presenciado. Pensei então na diferença que há entre a glória de Deus e toda pompa e
esplendor dos homens, por maior que seja.
- Como somos insignificantes! E de dar dó! - foi o que tive o ímpeto de dizer. - Se toda a
humanidade pudesse apenas ter um vislumbre do teu Trono de Julgamento, todo o mundo
rapidamente se arrependeria. Senhor, por que tão somente não te mostras ao mundo, para que
assim ele não tenha que suportar todo esse mal? Ninguém escolheria o mal se pudessem ver-te
como tu és.
- Eu vou me revelar - respondeu o Senhor. - Quando o mal completar todo o seu curso, então eu
me mostrarei ao mundo. Assim como o maligno está sendo revelado através de homens caídos, eu
serei revelado através de homens restaurados. Então o mundo me verá; não apenas a glória que eu
tenho no céu, mas verá como a minha glória prevalece sobre as trevas. A minha glória é mais do
que você está vendo aqui; é a minha natureza. Depois de eu revelar a minha natureza no meu povo,
- 45 -
vou retornar na glória que eu tenho aqui. Até aquele dia estarei procurando aqueles que me
seguirão por me amarem e por amarem a verdade, não apenas porque amam esta glória e este
poder. Os que optarem por obedecer, quando o mundo todo está desobedecendo, são dignos de
serem herdeiros comigo. Esses serão dignos de governar comigo, de ver a minha glória, e de
desfrutar dela. Esses são aqueles que não vivem para si mesmos, mas vivem para mim. Alguns dos
maiores desses irmãos meus estão para se revelar. Eles se posicionarão pela verdade contra as
maiores trevas. Eles permanecerão firmes ao passarem pelas maiores provações. Eu o trouxe aqui,
e estou enviando-o de volta para que você possa encorajá-los a permanecerem em pé e não venham
a cair, pois o tempo da salvação deles está próximo. Prosseguiu ainda o Senhor:
- Estou enviando-o de volta para que você possa advertir esses poderosos. Satanás viu a glória do
meu Pai e contemplou as miríades de criaturas que servem a Ele, mas mesmo assim ele caiu. Caiu
porque confiou na glória e no poder que o Pai lhe havia compartilhado, em vez de confiar no Pai.
Aqueles que forem revestidos com o poder e a glória que eu compartilho nestes tempos eu ordeno
que não ponham a sua confiança no poder nem na glória, mas em mim. A verdadeira fé não é em si
mesmo, nem na sua sabedoria, nem no poder que eu lhe tenha dado. A verdadeira fé é em mim. À
medida em que você for crescendo na verdadeira fé que é em mim, você crescerá na dependência
de mim, e confiará menos em você mesmo. Aqueles que forem confiando em si mesmos não terão
condições de levar o peso do meu poder ou da minha glória; eles poderão cair, assim como o
maligno caiu. A minha força toma-se perfeita na fraqueza, mas nunca esqueça de que em si mesmo
você é fraco, e que agindo por sua própria conta é insensato. Aqueles que forem dignos de reinar
comigo na era futura darão prova disso por viverem em meio às trevas e nas fraquezas da carne
humana, e mesmo assim me servirem e confiarem em mim. Até mesmo os anjos das maiores
hierarquias com alegria se dobrarão diante dos que forem aprovados desse modo. Os anjos ficam
maravilhados quando homens sofredores, que tampouco puderam contemplar a glória celestial,
permanecem firmes por mim e pela minha verdade, em tempos de trevas. Esses são dignos de
serem chamados meus irmãos, e de serem chamados filhos do meu Pai.
Continuou ainda Sabedoria:
- Na terra, a verdade muitas vezes parece ser fraca, e que pode ser facilmente vencida. Os que
daqui olham, vêem que a minha verdade sempre prevalece. O dia em que eu me levantarei para
trazer meus juízos sobre a terra apenas foi retardado de modo que os meus irmãos possam dar
provas de seu amor para comigo, permanecendo firmes com a verdade, a todo custo. A minha
verdade e a minha bondade prevalecerão por toda a eternidade, e assim será com todos que vierem
a mim por amarem a verdade. Esses brilharão com as estrelas que foram feitas em sua honra.
Enquanto Sabedoria falava, era como se eu estivesse sendo lavado num chuveiro de águas vivas.
Às vezes eu me sentia envergonhado porque, mesmo na presença da glória do Senhor, aqui eu
tinha sido insensível, e com facilidade tinha ficado desatento, tal como acontecia comigo na terra.
Mas agora, enquanto o Senhor falava comigo, suas palavras me purificaram, de modo que uma
clareza veio à minha mente, muito mais do que um simples estímulo mental. Quanto mais eu ia
sendo purificado, mais as suas palavras pareciam explodir com um esplendor purificador. Eu não
apenas vi a sua glória, mas a senti dentro de mim. Na sua presença, eu não apenas ouvia a verdade,
eu absorvia a verdade.

SUA AMADA NOIVA

Esta sensação de ser purificado pelas palavras do Senhor era algo mais maravilhoso do que possa
ser descrito com palavras, mas me era familiar. Eu sabia que tinha sentido isso nas vezes em que
ouvi uma pregação com unção, feita por alguém que havia estado na presença do Senhor. Não era
algo que me tirasse a sobriedade, mas exatamente o contrário. Em vez de entorpecer os sentidos,
suas palavras os estimulavam. Na presença do Senhor eu senti que milhares de fragmentos de
informação que eu havia acumulado por todos esses anos agora se ligavam para dar um sentido
profundo e abrangente a tudo o que Ele dizia. Desse modo, cada conceito tornou-se como um forte
pilar de conhecimentos em minha mente. Então eles se tornaram uma paixão, quando senti um
profundo amor para com cada verdade.
Enquanto o Senhor falava, uma energia era liberada, que me fazia ver cada verdade com uma
profundidade tal como nunca antes. Suas palavras não apenas comunicavam uma informação, mas
comunicavam vida. Esta grande iluminação era semelhante ao que eu senti quando decidi não
- 46 -
julgar nem esconder nada, quando estava diante do Trono do Julgamento. Quanto mais eu abria o
meu coração às suas palavras, expondo toda escuridão em mim para que eu mudasse, mais poder
as palavras do Senhor pareciam ter sobre mim.
O Senhor não apenas me deu informações enquanto ele falava, mas de algum modo ele reordenou
a minha mente e o meu coração de forma que essas verdades se tornassem a base para a
compreensão, e a compreensão liberou um amor pela verdade. Por exemplo, eu tinha o que
pensava ser uma correta compreensão da igreja como a noiva de Cristo. Quando ele falou dos
ministérios que estavam sendo enviados para preparar a sua noiva, eu vi em meu coração o que me
parecia ser cada uma das igrejas que conheço. Imediatamente elas se tornaram muito mais do que
apenas um grupo de pessoas; elas tornaram-se ^.Sua Amada. Senti uma ardente paixão para ajudá-
los a se prepararem para o Senhor. A aversão pelo pecado e pela prostituição com o mundo por
pouco não fez com que os meus joelhos se dobrassem, ao ver o que isso causou ao povo de Deus.
Eu sabia que estava sentindo o que o Senhor sentia.
Sua verdade purificadora vertia sobre mim. A purificação que eu sentia era mais maravilhosa do
que jamais imaginara. Era quase como se eu tivesse vivido a minha vida toda num tanque de
esgoto e agora me tivessem dado um banho quente de chuveiro. O poder da verdade purificadora
apossou-se de mim de forma tão poderosa que eu queria desesperadamente levá-la para a terra para
compartilhá-la com o povo de Deus.
- Estou prestes a liberar com unção o poder da verdade para purificai" o meu povo - continuou
Sabedoria. - A minha noiva será purificada de todas as suas manchas. Estou enviando meus
mensageiros, que serão chamas de fogo, que terão um ardente zelo pela minha santidade e pela
santidade do meu povo.
Enquanto ele falava, senti a profundidade e o poder da mensagem da santidade. Então fiquei
sabendo, sem ter dúvida alguma, do poder que a verdade tem para realizar essa missão. Uma visão
da gloriosa noiva, tal como o Senhor a merece, abrasava-se em meu coração. Senti uma enorme
vontade de compartilhar tudo isso com o povo de Deus para que ele se concentre totalmente em se
preparar para o Senhor. Simplesmente eu não podia aceitar fazer mais nada sem ter esse propósito.
O Senhor começou a falar sobre a fortaleza da verdade e da retidão. Enquanto ele falava, eu vi as
congregações que me eram familiares, e vi como elas estavam lutando. Senti-me abrasado por elas
como nunca antes, para ser revestido com o poder da verdade do Senhor. Eu sabia que elas eram
fracas porque não estavam andando na verdade. A dor que eu senti por elas tornou-se quase
insuportável.
- Por que elas não andam na verdade? - tive o ímpeto de dizer.
- Você está começando a sentir o peso que Neemias sentiu quando ele ouviu que Jerusalém estava
em grande angústia porque os seus muros haviam sido derrubados -explicou Sabedoria. - Estou
dando aos meus mensageiros o fogo para que a minha noiva se purifique, e também estou lhes
dando o peso de Neemias para que os muros da salvação sejam restabelecidos. Então o meu povo
não mais estará em angústia. Você viu os que pertencem ao meu povo como o meu exército, como
a minha cidade e a como minha noiva. Agora você não apenas os vê assim, mas você os está sen-
tindo. Somente quando a minha verdade vem do coração é que ela tem o poder para mudar os
homens. As águas vivas têm que vir da parte mais profunda do ser, do coração. Assim como você
sentiu a minha verdade purificando-o, estou fazendo dos meus mensageiros chamas de fogo que
falarão a verdade, e que não apenas darão informações, mas que terão o poder de mudar o coração
dos homens. A verdade que estou enviando não só convencerá o meu povo do seu pecado, mas o
purificará.
Até mesmo enquanto ele falava, um grande zelo despertou-se em mim para fazer alguma coisa.
Estratégias divinas começaram a vir a mim, que eu sabia que poderiam ajudar o povo de Deus. Eu
não me agüentava e queria começar a agir. Agora eu acreditava que até mesmo os ossos mais secos
se tomariam um exército extremamente grandioso! Na presença de Sabedoria, nada parecia
impossível. Nada me impedia de pensar que a igreja do Senhor se tornaria uma noiva sem manchas
e sem rugas, ou que a sua igreja se tomaria uma grande cidade, permanecendo como uma fortaleza
da verdade para que todo o mundo pudesse vê-la. Eu não tinha dúvida alguma de que o povo de
Deus, mesmo tão fraco e vencido como agora parecia estar, se tornará em breve um exército de
verdade, diante do qual nenhum poder das trevas prevalecerá. Sentindo o poder da verdade como
nunca antes, eu sabia que o seu poder era muito maior do que o das trevas.
- 47 -
PALAVRAS DE VIDA

Na presença do Senhor, senti como se eu pudesse proferir a visão que eu tinha recebido da sua
noiva e que assim todo aquele que a ouvisse se transformasse. Parecia-me que eu poderia falar à
menor das congregações, à mais derrotada delas, com um tal poder que ela rapidamente se tornaria
uma grande fortaleza da verdade. Eu sabia também que na terra as minhas palavras não tinham este
poder.
- As suas palavras terão este poder quando vocês permanecerem em mim - Sabedoria interrompeu
os meus pensamentos. - Eu não os chamei para pregar a meu respeito; eu os chamei para serem
uma voz por meio da qual eu possa falar. Se vocês permanecerem em mim e as minhas palavras
permanecerem em vocês, vocês darão frutos que permanecerão. Por meio da minha palavra a
criação foi trazida à existência, e pela minha palavra a nova criação virá a você e a meu povo.
Minhas palavras são Espírito e Vida. Minhas palavras dão Vida. Vocês não são chamados para
apenas ensinarem sobre mim, mas para que eu ensine através de vocês. Habitando vocês em minha
presença, as suas palavras serão as minhas palavras, e terão poder.
Lembrei-me de algo que Margaret Browning certa vez disse: "Toda sarça está em chamas com o
fogo de Deus, mas apenas aqueles que vêem é que tiram as suas sandálias. Os demais tão somente
colhem alguma coisa."
- Senhor, eu quero vê-lo em todas as coisas - eu disse.
- Vou dar aos meus mensageiros a visão de verem o meu propósito em todas as coisas - respondeu
ele. - Farei de meus mensageiros chamas de fogo tais como quando eu apareci na sarça ardente. O
meu fogo descerá sobre eles, mas eles não serão consumidos por esse fogo. Então a humanidade se
maravilhará diante dessa grande visão e se disporá a vê-la. Eu falarei do meio dos meus
mensageiros, chamando o meu povo, levantando-os como libertadores, tal como eu os chamei para
ser.
Me senti atraído até a porta. Dei uns passos, aproximando-me dela, e pude ver algo escrito. Nunca
antes tinha visto nada igual. Era algo que estava escrito no mais puro ouro, e de algum modo
aquilo tinha vida. Comecei então a ler.
"Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam
tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para
ele.
Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.
Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em
todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que,
havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as
coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.
E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras
malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para
apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé,
alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi
pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro.
Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na
minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja; da qual me tornei ministro de acordo com a
dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à
palavra de Deus: o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se
manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste
mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos,
advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresente-
mos todo homem perfeito em Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais
possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim." (Colossenses 1:16-29)
Enquanto eu lia estas palavras, elas eram como que uma transfusão de vida. Uma simples palavra
de Deus tem maior valor do que todo o tesouro que há sobre a terra! Pensei então: "Como é que eu
pude deixar-me preocupar tanto com as coisas do mundo, se tenho as palavras do Senhor?" Con-
siderei ainda como valeria a pena atravessar a terra para ouvir apenas um sermão com unção, e
como às vezes eu tinha sido tão preguiçoso que não me dei ao trabalho de cruzar a cidade. Eu
estava horrorizado com o meu descuidado em relação à Palavra do Senhor.
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- Senhor, estou tão arrependido!... - disse com muita espontaneidade.
Ao dizer isso, a porta abriu-se. E, enquanto ela se abria, eu ponderei como ela tinha dado a
impressão de ser tão sombria e não convidativa a uma certa distância, mas que, bem perto dela,
esta porta era de causar perplexidade e era mais bela do que qualquer outra porta que eu tenha
visto. "E assim que as pessoas julgam a igreja", pensei, "e como muitas vezes eu mesmo a julguei".
Tenho amado a Deus há muito tempo, mas tenho deixado de amar o seu povo do modo como
deveria ter amado.
- Esse seu arrependimento vai abrir a porta para você ir adiante no propósito pelo qual eu o
chamei. Você não poderá cumprir o seu propósito à parte do meu povo. Eu chamei o meu povo
para a unidade, e agora isso vai acontecer. A parte do meu povo você não poderá viver o que você
viu em suas visões. Agora você tem de ir, deixando de apenas ver o caminho e conhecer a verdade
para a condição de ser um vaso para a minha vida. Isso você não poderá fazer sem a participação
do meu povo. O Pai lhe deu o amor dele por mim, de forma que o amor dele estivesse em você, do
modo como eu pedi. Agora eu lhe darei o meu amor para com o meu povo. Os meus mensageiros
têm de ver o meu povo da forma como eu o vejo, e têm de amá-lo como eu amo. Como você
verdadeiramente ama a minha palavra, a porta que o levará ao cumprimento de sua chamada se
abrirá para você.
Suas palavras não apenas tocaram na minha mente, mas atingiram o meu coração. Senti cada uma
delas. Apenas por ouvir o amor com o qual Ele falou do seu povo foi suficiente para transmitir
aquele amor a mim. Foi um amor muito grande, como nunca antes eu tinha sentido, mas que me
era familiar, e eu já o tinha sentido num certo grau ao ouvir uma pregação com unção. Pensei então
como na minha ignorância muitas vezes eu tinha dito que não haveria pregações no céu, mas agora
eu sentia que não poderia haver o céu sem pregações. Eu comecei então a ansiar pela pregação da
palavra de Deus.
- Sim, haverá pregação e ensino no céu. Por toda a eternidade a minha história será contada. É por
isso que o evangelho é chamado de um evangelho eterno. Eu sou a Palavra e sou a Verdade, e
palavras de verdade preencherão a minha criação para todo o sempre. Toda a criação se deleitará
em minhas palavras de verdade, tal como aconteceu com você agora. Até mesmo os anjos têm
enorme prazer em ouvir os testemunhos de vocês, e eles os ouvirão. Os meus remidos por todo o
sempre terão o maior prazer em contar e ouvir as histórias da minha redenção. Mas agora você tem
de contá-las aos que habitam nas trevas. A palavra do seu testemunho vai trazer libertação a
muitos. Os que me amam, amam também a minha palavra. Terão enorme prazer em lê-la e em
ensiná-la. Vocês receberam a verdade que libertará os homens, que é a minha palavra, no coração
de vocês. Prossigam com a minha palavra. Vão em frente e vocês verão o seu poder.

XIII
O MANÁ

Passei pela porta. Do outro lado, surpreendi-me de que toda a glória que me envolvia antes se tinha
ido. Estava escuro e com cheiro de bolor, tal como um velho porão. Era desconcertante, mas
mesmo assim eu senti o poder das palavras que o Senhor me tinha dito, e elas me sustentaram.
- O que você está sentindo é a unção do Espírito Santo - foi o que ouvi vindo da escuridão.
- Quem está falando? - perguntei.
- Você tem que perguntar?
Não parecia muito bem com a voz de Sabedoria, mas não me era de todo estranha. Entretanto, eu
sabia que era o Senhor. Gradualmente os meus olhos se ajustaram à escuridão e fiquei surpreso ao
ver que era o meu velho amigo, a águia branca.
- O Senhor vive em você, e você pode permanecer em tudo o que você acabou de experimentar
aqui, da mesma forma como você fez na presença dele lá. Sei que você se apegou à presença do
Senhor, e isso está certo, mas aqui você tem que aprender a reconhecê-lo sob diversas formas.
Primeiro você tem de reconhecer a voz dele em seu coração, e depois também quando ele fala
através de outras pessoas. Você já passou por isso antes, repetidas vezes, mas não da forma como
você vai ter que passar agora. O Senhor nunca estará longe de você, e poderá sempre ser fa-
cilmente encontrado. Ele sempre o guiará à verdade. Somente pelo Espírito Santo é que você pode
ver e conhecer quaisquer coisas ou pessoas tais como realmente são. Daqui para a frente
pereceremos se não seguirmos o Senhor de perto.
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- Sei que tudo isso é verdade, - respondi - porque ouço Sabedoria falando através de você. Você
está aqui para me mostrar o caminho que devo seguir? Eu mal consigo ver alguma coisa aqui.
- Virei até você de vez em quando para informar-lhe das placas de sinalização que lhe dirão se
você ainda está no caminho certo, mas o Espírito Santo é que tem de guiá-lo. Vou ajudá-lo a
compreender como o Espírito o guia em diferentes lugares, mas primeiro tenho de lhe falar sobre o
maná, para que você possa sobreviver.
- Maná!? Você se refere ao maná com que Israel se alimentou no deserto? É isso que comemos
aqui? - perguntei-lhe.
- É o que tem sustentado todos os que andam com Deus, desde o princípio - foi respondendo ele. -
O maná que Israel comeu no deserto foi uma profecia deste maná. O Senhor lhe dará um maná
fresco diariamente. Assim como ele cobriu a terra com maná todos os dias, quando Israel estava no
deserto, ele cobre a terra a cada dia com a verdade para o seu povo. Por onde quer que você passar,
você o verá. Até mesmo em meio às trevas e à escuridão a sua Palavra estará à sua volta, e você
poderá colhê-lo. Os que tenham sido lançados em prisões acordarão a cada dia e o encontrarão. Os
que estiverem vivendo em grandes palácios também o encontrarão dia a dia. Mas o Maná do
Senhor é tão suave e leve como o orvalho, e é facilmente pisoteado. Você terá que ser brando e
leve de coração para poder vê-lo.

EPÍSTOLAS VIVAS

- O Senhor fala a cada dia com cada um que faz parte do seu povo. - continuou a águia. - Os que
são dele não podem viver de pão tão somente, mas têm de ter as palavras que procedem da boca de
Deus. Não se trata das palavras que o Senhor falou no passado, mas são as palavras que ele lhes
fala a cada dia. Muitos são fracos porque não sabem como colher o maná que o Senhor lhes dá
diariamente. Eles se perdem por não conhecerem a voz do Senhor. Suas ovelhas conhecem a sua
voz, e elas o seguem, porque o reconhecem. O maná é o pão da vida que cada um que pertence ao
povo de Deus recebe dia após dia. Você tem de aprender a reconhecê-lo, para ajudar outros a
reconhecerem também esse maná. Quando eles o provarem, tal como você o está experimentando
agora, eles diligentemente o procurarão a cada dia. Não se preocupe em querer guardar o alimento
e a água, mas aprenda a ver e a partilhar do maná que ele dá a cada dia. Isso o preservará quando
tudo o mais falhar.
Prosseguiu ainda a águia:
- As Escrituras são a carne que o Senhor nos dá, mas o seu maná é encontrado em suas epístolas
vivas, o seu povo. Ele falará com você a cada dia através do seu povo. Abra o seu coração ao modo
com que ele é encontrado no povo que é dele, para que você possa partilhar do maná celestial. Da
mesma forma como o Senhor disse a Jerusalém, ele está dizendo para nós: "Já não me vereis, até
que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!" Isto refere-se ao Senhor quando ele
andou sobre a terra, e refere-se ao modo de como ele está andando na terra agora, através do seu
povo. Da mesma forma como crescer o nosso amor pelo maná, crescerá o nosso amor uns pelos
outros. Se você está crescendo no amor, o maná que ele lhe servir nunca ficará com gosto de velho
ou estragado, mas será sempre novo a cada manhã. O maná do Senhor poderá chegar até você
através das palavras de um amigo chegado, ou através de alguém do povo de Deus, que viveu
muito tempo antes de você, quando você meditar sobre os escritos dessa pessoa. O Senhor falará
também através daqueles que não o conhecem, mas você saberá que ele os enviou a você. Você
terá discernimento do maná quando você for mais adiante, procurando ouvir as palavras dele, e
procurando ouvir a própria Palavra. Não apenas ouvir as palavras dele, mas ouvir a voz dele, que o
conduzirá da maneira que é para você ir. Muitos repetem as palavras que eleja falou, mas o maná
do Senhor é a palavra que ele está falando agora.
A águia disse ainda:
- Temos necessidade do alimento sólido das Escrituras para nos sustentarmos e para que tenhamos
o recipiente para colhermos o maná do Senhor. Cresça bem forte com o alimento da Palavra escrita
de Deus, mas também desenvolva um gosto pelo seu maná. O alimento da Palavra escrita nos
edificará e nos preparará para enfrentarmos o que virá, mas o maná nos sustentará, permitindo que
passemos pelo que está à nossa frente. As palavras que lhe foram ditas através dos santos no Hall
do Julgamento eram manás da parte do Senhor. O povo de Deus é também o maná de Deus para o
mundo. O maná é o pão da vida, as palavras vivas que ele fala ao seu rebanho diariamente, e que
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são faladas através do seu povo. As Escrituras estão estabelecidas e não podem ser mudadas. Elas
são a âncora da nossa alma. Entretanto, o Livro da Vida ainda está sendo escrito. O Senhor escreve
um novo capítulo no Livro da Vida para cada alma que vem até ele.

VITÓRIA OU DERROTA

- As Escrituras, - disse ainda a águia - são as plantas do lugar de habitação do Senhor, que ele está
construindo entre os homens. Elas são o testemunho do modo pelo qual o Senhor tem trabalhado
através dos homens para propiciar a sua redenção. Os que fazem parte do seu povo são os vasos da
sua palavra viva e são testemunhas perante o mundo de que as palavras do Senhor não são apenas
história, mas que estão ainda vivas e ainda dão vida. Para que você conheça as palavras do Senhor,
você terá que conhecer tanto as Escrituras como o maná do Senhor. As Escrituras são os planos
eternos dele que não mudarão, e que temos de conhecer, para que andemos nos caminhos do
Senhor. O seu maná lhe dará a força para caminhar a cada dia. Assim é para que tenhamos
comunhão, uns com os outros. "Se andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão
uns com os outros".
Continuou a águia dizendo:
- Muitos dos mensageiros do Senhor nem mesmo sabem que estão sendo usados deste modo.
Muitas vezes não têm conhecimento de quando o Senhor está falando por meio deles. Aqueles a
quem o Senhor tem falado raramente reconhecem a sua voz. Isso tem que mudar. O povo de Deus
é chamado para estar em unidade com ele em tudo o que ele faz, mas poucos são os que conhecem
a sua voz. Desse modo eles raramente o seguem da maneira como o Senhor quer. Agora ele quer
que todo o seu povo saiba quando ele está falando por meio deles ou para eles. Assim como
seguras comunicações entre um general e seus soldados podem determinar o resultado da batalha,
a força da comunicação do Senhor com o seu povo determinará a vitória ou a derrota deles nos
dias futuros. Agora ele está preparando muitos mensageiros que irão com as suas mensagens. Eles
também ensinarão o povo de Deus a conhecer a voz do Senhor e a conhecer os caminhos dele.
Você deverá receber os mensageiros do Senhor como se estivesse recebendo o próprio Senhor.
Ajude-os no caminho que eles estão percorrendo. O sucesso do ministério deles determinará a
ascensão e a queda de muitos.
Por um momento eu pensei que, se o Senhor os estava enviando, certamente eles não teriam
necessidade da minha ajuda. Isso causou uma severa repreensão da águia, que podia discernir
também os meus pensamentos.
- Não pense desse modo! Muitos que fazem parte do povo de Deus caem por causa desse engano!
O Senhor poderia fazer tudo sem a nossa participação, mas ele decidiu atuar através de nós. Nós
somos a provisão do Senhor, uns para com os outros. Ele enviou o Consolador para viver em seu
povo; portanto, ele pretende que o seu povo receba ajuda, uns dos outros. Nunca se esqueça disso.
E por isso que ele nos dá o seu maná através dos outros. Ele projetou tudo de forma que temos de
amá-lo sobre todas as coisas, mas temos de amar também uns aos outros. Dele temos necessidade,
antes de mais nada, mas também necessitamos uns dos outros. Desse modo mantemo-nos
humildes, e assim ele poderá confiar-nos a sua graça e o seu poder.
- Peço-lhe perdão - respondi. - Sei tudo isso muito bem, mas chego a esquecer-me disso às vezes.
- As vezes em que você esqueceu isso foram mais custosas do que você pensa, e por ora não
precisa saber o quanto custaram; mas esquecer-se disso no futuro poderá ser-lhe muito mais caro
ainda, a ponto de você não poder suportar. Necessitamos do Senhor acima de tudo, mas também
necessitamos de todo o povo de Deus. E no seu povo que encontraremos o Consolador, aquele que
nos guiará a toda verdade e o Único que nos leva ao Filho. O Senhor está enviando agora os seus
mensageiros. Alguns serão idosos e sábios. Outros serão jovens e com pouca experiência, mas
conhecerão a voz do Senhor. O inimigo também estará enviando seus mensageiros para semear
confusão. Isso também faz parte do nosso treinamento. Alguns serão enganados pelos mensageiros
do inimigo por algum tempo, e outros sofrerão perdas por causa deles, mas os que amam o Senhor
e a sua verdade não serão enganados por eles por muito tempo. Os que amam o Senhor e a sua
verdade conhecerão a verdade. Aqueles que foram enganados uma vez aprenderão da experiência,
e serão usados para desmascarar os enganadores nos dias que virão.
A águia disse ainda:
- 51 -
- Alguns dos que foram mais enganados no passado estarão entre os mais fortes no futuro por
causa da sabedoria que alcançaram. Conhecer a voz do Senhor e segui-lo é ter sabedoria. Esses não
se deixarão desviar facilmente do Senhor de novo. Não julgue os outros por causa do seu passado,
mas por considerar quem eles são agora. Os que seguiram Sabedoria terão toda a sua fraqueza
transformada em força, em poder. Ninguém é mais forte ou mais confiável do que os que
conhecem a voz do Senhor e o seguem. Não paremos de encorajar o povo de Deus a ouvir a voz do
Senhor. Temos de direcionar os profetas do Senhor a confrontar e a desmascarar os falsos profetas.
Esta mensagem temos que levar até o fim. Estamos sendo enviados para ajudarmos a construir as
linhas de comunicação do Senhor com aqueles que serão seus soldados na grande batalha que
acontecerá. Todo o povo de Deus tem de conhecer a voz do Senhor. Em breve chegará o dia em
que todos os que não conhecerem a voz do Senhor serão enganados pelas trevas. Os que conhecem
a voz do Senhor, porque conhecem o Senhor, estes não serão enganados.
Enquanto a águia falava, suas palavras continuaram a lavar-me da mesma forma como aconteceu
quando elas vieram na presença de Sabedoria. Eu não podia vê-lo, mas sabia que Sabedoria estava
presente e que era ele que estava falando comigo. Apesar de não ver muito bem neste lugar, eu
tinha uma grande claridade mental que me capacitava a compreender. Eu sempre achei que tinha
uma memória muito fraca, mas embora Ele agora estivesse falando muito mais do que falara antes,
parecia que eu podia lembrar-me de cada palavra que Ele disse, mesmo quando vinda de uma outra
pessoa. Compreendi então que isso era o poder do Espírito Santo que traz todas as coisas à nossa
lembrança. NEle, olhar para trás ou para o futuro em nada era diferente de olhar para o presente.
Enquanto eu ponderava estas coisas, a águia continuou:
- Este lugar parece ser bolorento e antigo porque muito pouco ar fresco foi permitido que aqui
entrasse, já há um bom tempo. Você encontrou a porta e entrou. A mesma porta que lhe permitiu
vir a este lugar também poderá levá-lo de volta para o Hall do Julgamento. O que foi que você
recebeu no Hall do Julgamento?
- Recebi sabedoria e compreensão - respondi.
- Numa só palavra, o que você recebeu foi "graça" - contestou a águia. - O Trono do Julgamento é
também o Trono da Graça. Você pode ir até lá com ousadia, a qualquer hora.
Quando ele disse isso, voltei-me para ver a porta atrás de mim. Agora eu podia ver beleza nela,
uma beleza ainda maior de quando entrei no Hall do Julgamento. Eu a abri e passei por ela de
novo.

XIV
O CHAMADO

Olhei para Sabedoria, que então me fez dar meia volta de modo a que eu pudesse ver o Grande
Hall de novo. Fiquei surpreso de ver bem atrás de mim cada um com quem eu tinha me encontrado
naquele lugar antes. E mais surpreso ainda fiquei ao ver como eles estavam com uma aparência
muito mais gloriosa.
- Não foram eles que mudaram - Sabedoria me disse. - Foi você que mudou. Os seus olhos estão
abertos para que você possa ver mais do que antes. Quanto mais claramente você puder me ver,
mais você terá condições de me ver nos outros.
Olhei em direção do apóstolo Paulo. Ele tinha uma nobreza indescritível. Ele tinha uma autoridade
e dignidade demasiadamente grandes, mas ao mesmo tempo era tão agraciado com humildade que,
tenho certeza, até mesmo o homem mais simples ou pecador se sentiria bem à vontade ao
aproximar-se dele. O desejo de ser tal como ele me tomou por completo.
Então olhei para os outros e o sentimento que eu tive foi como se eles fossem meus parentes e
amigos mais chegados, mas foi de uma forma muito mais intensa, que eu não conhecia. E
impossível descrever o amor que eu sentia por todos eles, e como eu sabia que eles me amavam
também.
O modo como eu me sentia ligado com eles não tem paralelo na terra, mas o que de melhor possa
ocorrer na terra em termos de companheirismo e amizade é apenas uma pequena amostra do que
eu estava sentindo. Não havia fingimento, nem posturas, nem posicionamentos. Cada um conhecia
os outros completamente, e o amor era a fonte de cada pensamento. A eternidade com essa família
será muito melhor do que eu tinha imaginado. Eu queria desesperadamente levá-los todos comigo,
mas eu sabia que eles não poderiam deixar o domínio celestial.
- 52 -
Sabedoria mais uma vez respondeu a meus pensamentos:
- Eles estarão com você da mesma forma como eu estou. Lembre-se, eles são a grande nuvem de
testemunhas. Mesmo quando você não os vê, eles estão tão perto de você como eles estão agora.
Todos os que me serviram, desde o princípio, são um só corpo e também estarão com você no que
está para vir, mas eu estarei em você.
Questionei quanto a como alguma coisa que experimentamos na eternidade poderia ser melhor do
que se encontrar aqui no Hall do Julgamento. O julgamento veio de cada pensamento que ia sendo
manifestado. Não era um julgamento de punição, mas de libertação, como se não houvesse ne-
nhuma tentativa de se esconder alguma coisa. A liberdade vinha com tudo que era iluminado, de
modo que havia um desejo de que cada falha de coração viesse a ser exposta. O amor era tão
grande que eu sabia que tudo seria coberto, e que se acertaria.
- Tudo o que você sente em minha presença é verdadeiro - Sabedoria continuou. - Esse amor e essa
proximidade que você sente aqui com os seus irmãos são reais. Todos vocês são um em mim, e
você crescerá nesse amor à medida em que crescer em mim. Nesse processo, esse mesmo amor
contribuirá para que outros alcancem a liberdade que você experimentou aqui. Quando o meu
povo, que agora está na terra, abraçar o meu verdadeiro julgamento, eles andarão numa liberdade
que me permitirá tocar o mundo com o meu amor. O meu desejo é que ninguém pereça e que
ninguém venha a sofrer perdas quando aqui chegar. Desejo que todos se julguem a si mesmos, de
modo que eu não tenha que julgá-los. E por isso que os meus juízos estão para vir à terra. Eles
estarão vindo em ondas crescentes, para que o mundo creia e se arrependa. Cada toque de trombeta
será mais forte do que o anterior. Compete aos meus mensageiros fazer todo o possível para que o
mundo compreenda o som das trombetas.
Continuou ainda Sabedoria:
- Lembre-se de que aqueles com quem você terá que andar na terra são também membros do meu
corpo. Eles ainda não foram glorificados, mas veja-os segundo o que eles são chamados a ser, não
conforme a atual aparência deles. Ame-os e veja neles a autoridade e a graça que você está vendo
nestes que aqui estão. Lembre-se de que aqueles com quem você anda na terra agora o vêem da
maneira como você os vê. Você tem de aprender a não ver segundo a aparência que eles agora têm,
mas segundo o que eles virão a ser. Somente aqueles que vivem conforme os meus julgamentos e
vivem comigo como sua sabedoria é que podem ver a minha autoridade nos outros. Entretanto, não
se esforce para que os homens vejam a minha autoridade em você. Não se preocupe se os outros o
vêem como você é; preocupe-se tão somente em reconhecer os outros como eles são, e em me ver
neles.
Finalmente, concluiu o Senhor:
- Ao ficar se preocupando com o que os outros pensam de você, você perde a sua autoridade.
Quando a autoridade se torna um objetivo seu, você começa a perder a verdadeira autoridade.
Você sabe qual foi o ministério e a autoridade que eu lhe dei; não peça às pessoas que o chamem
pela sua posição, mas pelo seu nome. Então eu farei o seu nome maior do que a sua posição. No
meu reino, a autoridade vem de quem você é, e não do seu título. O seu ministério é a sua função,
não o seu nível ou posição. Aqui um posto é ganho pela humildade, pelo serviço e pelo amor. O
diácono que ama mais está num posto mais alto do que o apóstolo que ama menos. Na terra os
profetas podem ser usados para sacudir nações, mas aqui eles serão conhecidos pelo amor com que
amaram. Este é também o seu chamado: amar com o meu amor e servir com o meu coração. Então
seremos um.

XV
ADORAÇÃO EM ESPÍRITO

A medida que eu ia ouvindo o que Sabedoria dizia, era-me difícil compreender como alguém, até
mesmo esta grande nuvem de testemunhas, poderia desejar ter autoridade ou posição, na presença
do Senhor. Parecia-me que, em cada momento da minha estada aqui, cada vez mais ele se tornava
maior em glória e em autoridade, e eu sabia que a minha visão dele ainda era limitada. Assim
como o universo obviamente estava se expandindo a uma grande velocidade e toda a sua vastidão
já era algo incompreensível, a nossa revelação do Senhor de igual forma estaria se expandindo até
a eternidade.
- O que meros seres humanos podem representar para ti, Senhor? - foi o que perguntei então.
- 53 -
- Quando o meu Pai move o seu dedo mínimo, todo o universo treme. Sacudir as nações com as
palavras que vocês possam dizer não impressiona ninguém que habita aqui. Mas quando até
mesmo o menor dos meus irmãos na terra demonstra amor, isso traz alegria ao coração de meu Pai.
Quando até mesmo a igreja mais humilde canta ao meu Pai com um verdadeiro amor em seu
coração, ele faz com que todo o céu se silencie para ouvir aqueles crentes cantando. Ele sabe que
os aqui presentes não têm como parar de adorar, por estarem vendo a glória do Senhor, mas
quando aqueles que estão vivendo em meio a tantas trevas e dificuldades cantam para ele de todo o
coração, isso sensibiliza o Pai mais do que o louvor de todas as miríades do céu. Muitas vezes as
notas desafinadas que vieram da terra fizeram com que todo o céu chorasse de alegria ao ver o meu
Pai sendo tocado por elas. Uns poucos santos, lutando para expressar a sua adoração ao Pai, muitas
vezes o fizeram chorar. Cada vez que eu vejo os meus irmãos o sensibilizarem com uma
verdadeira adoração, a dor e o sofrimento que eu passei na cruz parecem ter sido um baixo preço
pago. Nada me proporciona mais alegria do que quando vocês adoram o meu Pai. Eu fui à cruz
para que vocês o pudessem adorar através de mim. É nesta adoração que vocês, o Pai, e eu, somos
todos um.
De todas as coisas pelas quais passei, a emoção que me veio do Senhor, enquanto ele falava estas
palavras, foi a maior de todas. Ele não estava chorando nem rindo. Sua voz era firme, mas o que
ele me falava sobre a adoração vinha de tal profundidade do coração dele que quase eu não podia
suportar. Eu sabia que estava ouvindo a voz mais profunda do Filho de Deus - vendo a alegria do
Pai. Somente a verdadeira adoração dos crentes, que estão em combate e luta na terra, é que podia
fazer isso.
Pela primeira vez foi forte a minha vontade de sair daquele lugar, apesar de toda a sua glória, para
apenas participar do que fosse até mesmo o mais monótono culto de adoração na terra, com poucas
pessoas. Eu fui atingido em cheio pelo fato de que podemos realmente tocar no coração do Pai.
Uma só pessoa, adorando-o na terra durante estes tempos tenebrosos, significa para o Pai muito
mais do que milhões e milhões que o adoram no céu. Da terra podemos tocar o coração do Senhor
de uma maneira como nunca mais será possível depois! De tal modo isso me tomou que eu nem
percebi que tinha caído, prostrado, diante dele. Caí então no que pode ter sido um profundo sono.
Vi então o Pai. Milhões e milhões o serviam. Sua glória era tão grande e o poder da sua presença
inspirava tanto temor que senti que toda a terra não passava de um grão de pó para ele. Quando
anteriormente eu tinha ouvido a sua voz de forma audível, senti-me como um átomo em relação ao
sol, mas quando agora o vi, eu sabia que o sol era como um átomo para ele. As galáxias eram
como cortinas ao redor dele. Seu manto compunha-se de milhões e milhões de estrelas vivas. Tudo
em sua presença tinha vida: seu trono, sua coroa, seu cetro. Eu sabia que poderia ficar diante dele
durante toda a eternidade e nunca terminar de me maravilhar; não há um propósito maior em todo
o universo do que adorá-lo.
Então o Pai resolveu fazer alguma coisa. Tive a impressão de que todo o céu tinha parado para
observar o que ele ia fazer. Ele estava olhando para a cruz. O amor do Filho por seu Pai, que ele
continuava a expressar através de toda a dor e de todas as trevas que então tinham vindo sobre ele,
tocou o Pai tão profundamente que ele começou a tremer. Quando ele tremeu, o céu e a terra
tremeram. Quando o Pai fechou os olhos, o céu e a terra escureceram. A emoção do Pai era tão
grande que pensei que eu não teria sobrevivido se tivesse contemplado esta cena por mais do que
um breve momento, como aconteceu.
Então me achei num lugar diferente, observando um culto numa pequena igreja. Como às vezes
acontece numa experiência profética, simplesmente parecia que eu sabia de tudo sobre todos os
que estavam naquele desgastado e pequeno salão. Todos estavam passando por difíceis provações
na vida, mas aqui não estavam nem mesmo pensando nelas. Não estavam orando pelas
necessidades que tinham. Estavam todos procurando compor cânticos de ações de graças ao
Senhor. Estavam felizes, e a alegria deles era sincera.
Eu vi o céu, e todo o céu estava chorando. Vi então o Pai de novo, e fiquei sabendo por que o céu
estava chorando. Era por causa das lágrimas nos olhos do Pai. Aquele pequeno grupo de crentes,
aparentemente muito atingido, mas lutador, tinha sensibilizado Deus de forma tão profunda que ele
chorou. Não eram lágrimas de dor, mas de alegria Quando vi o amor que ele sentiu por esses
poucos adoradores, não pude conter as minhas próprias lágrimas.
Nada do que eu tinha experimentado antes prendeu mais a minha atenção do que esta cena. Adorar
o Senhor na terra para mim agora era algo mais desejável do que habitar em toda a glória do céu.
- 54 -
Eu sabia que tinha recebido uma mensagem que poderá preparar os santos para as batalhas que
ainda se travarão na terra, mas agora isso não me parecia ter tanto importância quanto procurar
transmitir como podemos sensibilizar o Pai. A genuína adoração, expressa por até mesmo o mais
humilde dos crentes na terra, pode fazer com que todo o céu se rejubile mas, muito mais do que
isso, ela sensibiliza o coração do Pai. É por isso que os anjos recebem um encargo junto a um
único crente na terra, em vez de lhes ser dada autoridade sobre muitas galáxias de estrelas.
Vi Jesus em pé, ao lado do Pai. Vendo a alegria do Pai ao observar aquela pequena reunião de
oração, Jesus virou-se para mim e disse:
- Foi por isso que eu fui para a cruz. Mesmo que fosse apenas um momento de alegria dado ao Pai,
já valeria a pena tudo pelo que passei. O louvor de vocês pode dar-lhe alegrias a cada dia. O louvor
de vocês, quando estão em meio a dificuldades, toca no coração dele ainda muito mais do que toda
a adoração feita no céu. Aqui, em que se vê a glória do Pai, os anjos não têm como parar de adorar.
Quando vocês o adoram, não estando vendo a glória do Pai, mas enfrentando as provações por que
passam, isso é adorar em Espírito e em verdade. O Pai procura os que assim o adorem para serem
seus adoradores. Não desperdicem as suas provações. Louvem ao Pai, não pelo que vocês
receberão, mas para alegrá-lo. Vocês nunca estarão mais fortes do que quando vocês o alegrarem,
pois a alegria do Senhor é a força que vocês têm.

XVI
O PECADO

Mais uma vez me vi ao lado de Sabedoria. Ele não falou por um longo tempo, mas eu não
precisava de palavras. Precisava apenas deixar que tudo o que eu tinha acabado de ouvir saturasse
a minha alma. Esforçava-me apenas para compreender a grande função que nos foi dada de apenas
sermos adoradores do Pai. Para ele, o sol era como um átomo e as galáxias como grãos de pó.
Contudo ele ouve as nossas orações, alegrando-se conosco em todo o tempo em que nos
contempla, e, tenho certeza, muitas vezes afligindo-se por nossa causa. Ele é muito maior do que a
mente humana pode conceber, mas ele é o Ser mais emotivo no universo. Nós podemos
sensibilizar o coração de Deus! Todo ser humano recebeu o poder de fazer com que ele se alegre
ou sofra. Eu sabia isso teologicamente, mas agora eu sei de um modo que acaba com a aparente
importância de tudo o mais.
Não há palavras adequadas para exprimir o que quero dizer, mas sei que tenho que despender todo
o tempo, que me seja dado na terra, para adorá-lo. Isso me foi como uma nova revelação: eu tenho
como alegrar a Deus! Eu tenho como alegrar a Jesus! Eu compreendi o que o Senhor quis dizer
quando ele disse que foi por isso que ele foi até a cruz. Qualquer sacrifício valeria a pena para tão
somente tocar o coração do Pai num ínfimo instante. O que senti foi o desejo de não perder mais
qualquer momento, sabendo que esse tempo pode ser gasto louvando-o. Foi óbvio também que
quanto maior a situação de provação ou de escuridão de onde o louvor venha, mais este sensibiliza
o coração do Pai. Isso me fez até desejar vir a passar por provações para que no meio delas eu o
pudesse louvar.
Ao mesmo tempo, senti-me como Jó, quando ele disse que, embora anteriormente tivesse
conhecido a Deus apenas de ouvir falar, ao vê-lo ele arrependeu-se com pó e cinzas. Eu era como
Filipe, que havia estado com Jesus por tanto tempo, mas que não sabia que estava vendo o Pai atra-
vés de Jesus. Como os anjos devem ficar pasmados diante da nossa lerdeza em entender essas
coisas! Então Sabedoria falou de novo:
- Lembre-se que há, para até mesmo o menor dos meus pequenos servos, o potencial de tocar o
coração do Pai. Somente isso faz com que eles tenham um valor maior do que qualquer preço. Eu
teria ido de novo para a cruz apenas por um deles, se tivesse sido necessário. Eu também sinto a
sua dor. Sei das provações pelas quais você passa, porque delas participamos. Eu sinto a dor e a
alegria de cada alma. É por isso que eu ainda intercedo continuamente por todos vocês. Haverá um
dia em que todas as lágrimas serão limpas de todos os olhos. Haverá um dia em que novamente so-
mente a alegria será conhecida. Até então, a dor poderá ser usada. Não desperdicem as provações
pelas quais passarem. O louvor e a expressão de fé que mais nos agradarão virão de vocês quando
estiverem passando por provações.
O Senhor disse-me ainda:
- 55 -
- Veja-me em seu próprio coração, e veja-me nos outros. Veja-me nos grandes e nos pequenos.
Assim como eu apareci de maneiras diferentes a cada um dos dois que agora estão diante de você,
eu virei até você através de diferentes pessoas. Virei até você em diferentes circunstâncias. O que
mais você tem a fazer é reconhecer-me, é ouvir a minha voz e seguir-me.
Olhei para Sabedoria, mas ele não estava mais lá. Olhei ao meu redor. Dava para sentir a presença
dele em toda a parte, mas eu não o via. Olhei então para trás, para as testemunhas que ali estavam
junto comigo. O Senhor estava lá. Eu não podia vê-lo, mas de um modo mais profundo, que eu não
conhecia antes, ele estava em cada um deles. Quando o Reformador começou a falar, a voz era
dele, mas eu ouvia a voz de Sabedoria nele, tal como quando o Senhor falou comigo diretamente.
- Ele tem estado sempre em nós. Ele está em você. Ele está naqueles para quem você vai retornar.
Vez após vez ele aparecerá a você de novo, mas saiba que quando você não o vê quando ele
aparece, você o reconhecerá de uma maneira melhor onde ele habita, ou seja, no povo de Deus. Ele
é Sabedoria. Ele sabe como, quando, e através de quem falar com você. Aqueles através de quem
ele falar com você serão uma parte da mensagem. Lembre-se do que ele disse quando chorou sobre
Jerusalém: "E em verdade vos digo que não mais me vereis até que venhais a dizer: 'Bendito o que
vem em nome do Senhor!'" Você não o verá a menos que você possa vê-lo naqueles a quem ele o
enviar.
- E fácil para mim vê-lo e ouvi-lo em você, - respondi -mas não é assim tão fácil com os que estão
na terra, que ainda não foram glorificados.
- Não é que tenha que ser fácil - agora foi Ângelo que replicou. - Procurar pelo Senhor é o
chamado dos que reinarão com Ele. Os que o amam, e que amam a verdade, procurarão muito
mais ao Senhor do que se disporiam a ir atrás dos maiores tesouros ou conquistas.

CONQUISTADOS POR ELE

- O maior chamado que todos recebem é o de ser totalmente conquistado pelo Senhor; é isso que
eu deveria saber! - foi o que disse alguém que não reconheci, dando um passo à frente .
Em seguida ele deu o seu nome. Fiquei chocado por ver esse homem no meio da companhia dos
santos. Ele havia sido um grande conquistador, mas eu sempre tinha achado que ele havia causado
muito mais dano ao nome de Cristo do que ninguém mais.
- Eu, também, encontrei a graça da cruz antes de encerrar-se o meu tempo - disse ele. - Você não
vai voltar à terra apenas com o objetivo de conquistar para o Senhor, mas para ser conquistado por
Ele. Se você se render ao Senhor, Ele o usará para conquistar em Seu nome. A verdadeira
conquista é capturar os corações dos homens com a verdade que os liberta. Aqueles que seguirem
o Senhor mais de perto serão usados para conquistar a maior parte das pessoas e serão, dentre os
reis, os mais importantes. Na terra, eles dificilmente perceberão que conquistaram alguma coisa.
Eles somente verão o que na verdade realizaram depois de chegarem aqui. Os que acumularem
grandes tesouros na terra, até mesmo tesouros que sejam considerados espirituais, pouco terão
aqui.
- Na terra não se pode medir os tesouros eternos -acrescentou Paulo. - Quando eu morri, parecia
que todas as coisas pelas quais eu havia dado a minha vida, construindo na terra, tinham perecido.
As igrejas pelas quais eu tinha dado a minha vida para que fossem erguidas estavam então caindo
na apostasia, e até mesmo alguns de meus amigos mais chegados estavam se voltando contra mim.
Nos meus últimos dias, sentia-me fracassado.
- Sim, mas até mesmo eu tenho Paulo como um pai espiritual - o grande conquistador continuou -
como acontece com a maioria de nós que aqui está. A maioria dos que passarão pela grande
batalha final será vitoriosa porque ele foi fiel em ficar com a verdade. Não dá para você medir
corretamente o verdadeiro fruto espiritual enquanto você estiver na terra. Somente será possível
medir o seu verdadeiro sucesso vendo quão mais claramente você consegue ver o Senhor, vendo
quão melhor você conhece a voz dEle, e vendo quão maior é o seu amor pelos irmãos.
Então Paulo falou de novo:
- Por vários meses antes de eu ter sido executado, realmente eu me sentia fracassado. Entretanto,
no dia da minha execução lembrei-me de Estevão, a quem tinha visto morrer a meus pés havia
muitos anos. A lembrança da luz que estava sobre o rosto dele naquele dia me tinha feito passar
por várias provações. Eu sempre senti que de algum modo ele morrera por mim, para que eu
pudesse ver a verdadeira luz. Eu sabia que se eu morresse como Estevão, então mesmo que tudo o
- 56 -
mais que eu tivesse feito não desse em nada, isso me asseguraria que a minha vida não teria sido
em vão. Eu fui muito grato ao ver que ia morrer pelo evangelho, mesmo não parecendo naquela
hora que o meu ministério tivesse realizado muita coisa. Quando a revelação nesse sentido veio
sobre mim, também veio a graça, e o meu último dia na terra foi o mais maravilhoso de todos.
Então compreendi que por ter vivido procurando sinceramente morrer a cada dia para os meus
próprios desejos, com o fim de servir ao evangelho, a cada vez que neguei a mim mesmo,
sementes eternas foram plantadas, muito embora eu não as pudesse ver na esfera temporal.
Estando aqui, agora posso ver que isso é de fato uma verdade. Não julguem pelo fruto que vocês
vêem na terra, mas façam o que têm de fazer, porque esse é o procedimento correto.
«Paulo prosseguiu ainda dizendo:
cu -Mesmo assim, mais do que dar frutos, o seu chamado tem de ser o de conhecer o Senhor. Se
você o buscar, você sempre o encontrará. Ele está sempre perto daqueles que se aproximam dele.
Muitos querem a presença do Senhor, mas não se chegam até ele. Não se contente em apenas
querer o Senhor. Vá em busca dele. Isto faz parte do seu chamado. Não há um propósito mais
elevado do que este. A sua vitória será medida em função da sua busca. Você sempre estará tão
perto do Senhor quanto queira estar. A sua vitória na vida será de acordo com o seu desejo de estar
com ele.
Então Paulo levantou uma de suas mãos e a apontou para mim, dizendo:
- A você muito foi dado, e muito lhe será requerido. Mesmo que enterre muitos dos talentos que
lhe foram confiados, você poderá realizar muito mais do que muitos outros, mas desse modo você
terá falhado em sua missão. Nunca se compare com ou outros, mas continue esforçando-se por ir
adiante, buscando mais do Senhor. E ainda, com toda a glória que lhe venha a ser revelada, nunca
tire a capa da humildade!

SEMEANDO E COLHENDO

Olhei para mim, para a capa da humildade que ele apontava com sua mão. Em toda a glória que
agora eu estava vendo, ela parecia estar muito menos atraente. Fiquei horrorizado por ver que a
minha aparência era assim tão má, na presença deles. Levantei-a para ver a armadura que estava
sob ela, e vi que agora estava mais brilhante do que nunca. Tinha tanto brilho que quanto mais
ficava exposta, mas o grupo à minha frente se apagava, por causa do seu brilho. Entretanto, senti-
me muito menos mal quando o brilho da minha armadura pôde ser visto. Daí decidi retirar a capa
totalmente, enquanto eu estivesse ali, de modo que pelo menos eu não me sentiria assim tão
repulsivo na presença de tanta glória.
Houve silencio, e eu fiquei quieto por alguns momentos. Eu não conseguia ver nada por causa do
brilho da minha própria armadura. Também não compreendi por que não dava para ouvir nada
também. Então gritei chamando Sabedoria.
- Vista-se de novo com a sua capa - respondeu ele.
Fiz o que ele mandou e fracamente o Grande Hall começou a se delinear diante de mim de novo.
- Senhor, o que aconteceu com todo o mundo? Por que está tudo tão escuro de novo?
- Não dá para você ver nada aqui, se você não estiver vestido com essa capa.
- Mas eu já a vesti, e ainda não consigo ver muito bem -protestei, sentindo um terrível desespero.
- Cada vez que você retira a humildade você fica cego à verdadeira luz, e leva algum tempo para
que volte a ter condições de ver de novo.
Embora eu começasse a ver a glória novamente, não era nada como antes. A minha visão estava
voltando, mas muito, muito vagarosamente. Não tenho palavras para expressar como eu estava
entristecido.
- E Paulo, onde está? - perguntei. - Sei que ele tinha algo muito importante para me dizer ainda.
- Quando você tirou o manto da humildade, todos os que estavam aqui foram embora.
- Por quê? Por que iriam eles embora simplesmente por eu tirar a capa? Eu apenas me sentia
constrangido pela minha aparência. O que eu fiz os ofendeu?
- Não. Eles não se ofenderam. Eles sabiam que sem a capa você não poderia me ver nem me ouvir
através deles; então voltaram para os seus lugares.
Eu estava mais pesaroso do que nunca, diante dessa afirmação.
- Senhor, sei que o que eles estavam para me dizer era muito importante. Eles voltarão?
- 57 -
- E verdade que você deixou de receber uma revelação importante, por ter tirado a sua capa. Eu o
teria ajudado, mas se você aprendeu a lição de nunca mais tirar a capa, especialmente pela razão
pela qual agora há pouco você a tirou, você aprendeu uma outra lição que também é muito
importante.
- Senhor, creio ter aprendido esta lição. Não me lembro de jamais ter-me sentido assim tão mal.
Será que eles não podem voltar agora e compartilhar o que eles tinham para me dizer? - implorei-
lhe.
- Toda Verdade e toda Sabedoria vêm de mim. Eu falo através de outrem porque as pessoas
mediante as quais eu falo são uma parte da mensagem. Enquanto você permaneceu com a
humildade, vestindo a sua capa, eu pude falar com você em glória. Sempre que retirar essa capa,
você se tornará cego e surdo espiritualmente. Eu sempre falarei se você me invocar, mas tenho de
mudar o modo pelo qual eu falo com você.
Continuou ainda o Senhor:
- Não faço isso para puni-lo, mas para ajudá-lo a receber a sua visão de volta o mais rapidamente
possível. Vou dar-lhe a mensagem que eu estava para lhe dar através daquelas testemunhas, mas
ela agora terá que lhe ser dada através dos seus inimigos. Ela virá mediante provações, e você terá
que se dobrar muito, para poder recebê-la. Somente desse modo é que você obterá de volta a sua
visão com a rapidez necessária. Diante do que lhe está por acontecer, você precisa ter toda a sua
visão restaurada.

QUEBRANTAMENTO

O pesar que eu senti foi quase insuportável. Eu sabia que o que eu poderia ter recebido de uma
maneira tão gloriosa agora viria através de grandes provações, mas pior ainda do que isso era o
fato de que a grande glória, que eu havia contemplado apenas alguns minutos atrás, agora se
achava tão sombria.
- Senhor, peço-te perdão pelo que fiz. Agora reconheço que errei mesmo. A dor deste meu erro é
forte demais para ser suportada. Não há como eu possa ser perdoado e receber de volta a minha
visão? Não me parece justo que apenas um breve momento de orgulho seja assim tão devastador -
supliquei ao Senhor.
- Você está perdoado - respondeu ele. - Nada foi feito a você como punição. Eu paguei o preço por
esse pecado e por todos os outros. Você vive pela minha graça. Não é pela lei da justiça. É por
causa da minha graça que há conseqüências para o pecado. Você tem de colher o que você plantou,
ou então eu não poderia confiar-lhe a minha autoridade. Quando Satanás deu o seu primeiro passo
para se engrandecer, com orgulho, uma multidão de meus anjos que eu havia submetido à
autoridade dele o seguiram. Quando Adão caiu, houve uma correspondente responsabilidade. Não
pode haver uma verdadeira autoridade sem responsabilidade. A responsabilidade significa que
outros sofrerão se você se desviar. Erros trazem conseqüências. Quanto mais autoridade lhe for
dada, tanto mais você poderá ajudar os outros como poderá causar danos a eles, através de suas
ações. Remover as conseqüências das suas ações seria o mesmo que remover a verdadeira
autoridade. Você é parte da nova criação que é muito mais elevada do que a primeira criação.
Aqueles que são chamados para comigo governarem, a eles é dada a maior responsabilidade. São
chamados para uma posição mais elevada do que a que Satanás tinha. Ele era um grande anjo, mas
ele não era um filho. Vocês são chamados para serem co-herdeiros comigo. Tudo na vida de vocês,
tanto as provações como as revelações, tudo tem o propósito de ensiná-los quanto à res-
ponsabilidade da autoridade.
Prosseguiu ainda o Senhor:
- Para cada lição que você tem que aprender, há um modo fácil e um modo bem mais difícil. Você
pode humilhar-se, cair sobre a rocha e quebrantar-se, ou então a rocha é que cairá sobre você, e o
estraçalhará em mil pedaços. De qualquer modo, o resultado final será um estado de quebran-
tamento, que é a humildade. O orgulho foi o que causou a primeira queda da graça, e é ele que tem
causado a maioria das quedas desde então. O orgulho sempre acaba em tragédia, em escuridão e
em sofrimento. É para o seu próprio bem, e para o bem daqueles a quem você é chamado a servir
por ter autoridade, que eu não vou atenuar a disciplina que é necessária para que você aprenda,
colhendo o que plantou. Adonias ufanou-se de que o seu pai, o rei Davi, não o disciplinou.
Salomão queixou-se de que ele não conseguia fazer nada sem ser punido pela disciplina de seu pai.
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Embora Salomão pensasse que ele não estava sendo tratado com justiça, Davi não estava sendo
injusto. Ele sabia que Salomão tinha o chamado para ser rei. Os que recebem a maior disciplina
são aqueles que são chamados a andar com a maior autoridade. Você esteve cego porque você deu
um passo fora da humildade e começou a andar com orgulho. O humilde não pode se sentir
constrangido. Quando você começa a sentir-se constrangido, é porque você está começando a
andar em orgulho. Que o constrangimento lhe seja uma advertência de que você se desviou da
sabedoria. Jamais permita que o constrangimento controle as suas ações. Se isso acontecer, você
cairá ainda mais. Aprenda a aproveitar cada oportunidade para se humilhar, sabendo que então eu
terei condições de lhe confiar uma maior autoridade. Não se ufane de suas forças, mas de suas
fraquezas. Se você de coração aberto falar mais de seus erros, com o fim de ajudar os outros, eu
terei como tornar visível as suas vitórias, "pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se
humilha será exaltado".
*Eu sabia que tudo o que ele disse é verdade. Esta mesma mensagem eu já cheguei a pregar
diversas vezes. Lembrei-me de que Paulo admoestou Timóteo a prestar atenção ao que ensinasse, e
então percebi que eu mesmo necessitava de minhas mensagens mais do que aqueles a quem eu as
pregava. Agora eu me sentia mais envergonhado pela brilhante armadura que eu tinha do que pela
minha capa da humildade. Eu a prendi um pouco melhor. Quando fiz isso, meus olhos brilharam e
a minha visão ficou muito melhor, embora ainda bem distante da sua condição anterior.
Virei-me para ver a porta. Estava com receio de passar de volta por ela, pelo menos até que
recuperasse mais da minha visão.
- Você tem de ir agora - disse Sabedoria.
- O que há do outro lado? - perguntei-lhe.
- O seu chamado - respondeu ele.
Eu sabia que tinha de prosseguir. Ainda lamentava por não poder passar pela porta com a visão
que anteriormente tinha, porque eu sabia que do outro lado era bem escuro. "Vou ter até que estar
dependente de outros por algum tempo", pensei, mas me dispus a confiar no Senhor e não em
minha própria visão. Imediatamente os meus olhos ficaram ainda mais brilhantes. Pensei em olhar
uma vez mais para o Grande Hall, para ver se ele estava com tanto brilho como tinha estado, mas
decidi não fazer isso. Considerei que seria melhor agora não mais olhar para trás.
Então Sabedoria apareceu do meu lado, quase com o mesmo brilho de antes. Meus olhos tinham se
ajustado à luz de forma tão rápida que agora eu podia olhar para ele. Ele nada disse, mas
simplesmente por olhar para ele fiquei bastante encorajado. Entretanto, ainda me sentia culpado
por não ter ouvido toda a mensagem que estava para receber da nuvem de testemunhas.
- Se o arrependimento transformar-se num propósito, a provação será bem mais fácil. Então,
quando os seus inimigos aparecerem para se exaltarem, você crescerá ainda mais em autoridade,
para prevalecer sobre eles.
Quando olhei de volta para a porta, fiquei impressionado. Eu a via tão melhor agora, em relação a
como a tinha visto antes, que por um momento pensei que se tratava de uma outra porta. Ela
parecia ter se tornado mais bela e não havia igual entre todas as portas que eu tinha visto, mesmo
aqui no céu. Havia títulos de glória escritos com uma escrita das mais belas, tudo em ouro e prata.
Havia belas pedras preciosas que eu não saberia dizer que pedras seriam, mas que eram tão
atraentes que era difícil desviar o olhar delas. Eram todas vivas. Então percebi que toda a porta
tinha vida.
Enquanto contemplava aquela porta, Sabedoria pôs a mão em meu ombro.
- Esta é a porta para a minha casa - disse ele.
Quando ele disse isso, imediatamente compreendi que a atração que agora eu sentia por essa porta
era a mesma que eu sentira quando olhei para ele. Ela era o Senhor, de algum modo. "Como algo
tão belo assim pode ter tido uma aparência tão simples e nada convidativa antes", pensei. O Senhor
respondeu a essa pergunta, apesar de eu não a ter feito.
- Você não poderá ver a minha casa como ela é, até que você me veja nos que fazem parte do meu
povo. Quando você realmente começou a me ouvir através dos meus, logo antes de você ter tirado
a sua capa, os seus olhos tinham sido abertos para poderem ver a minha casa como ela é. Há muito
mais glória para ser vista nela do que agora você pode ver. Essa é a porta, mais há ainda muito
mais. Quando você voltar é isto que você terá que procurar. É a isto que você deverá encaminhar o
meu povo. É por isto que você deverá lutar, e é isto que deverá ajudar a construir: a minha casa.
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Com a mão de Sabedoria em mim, fui em direção da porta. Ela não se abriu, mas eu passei por ela.
Não há na linguagem humana um meio de poder descrever o que eu senti ao passar através dela. Vi
a glória de todas as eras num único momento. Vi a terra e os céus como um só. Vi miríades de
anjos, e vi miríades de pessoas com uma glória maior do que a de qualquer anjo que eu tenha visto.
Todos estavam servindo na casa do Senhor.
Agora eu sabia qual era o meu chamado. Embora eu tivesse já percorrido uma boa distância, eu
sabia que a minha busca apenas começava.

FIM

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