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10/07/2017 lugar de fala e policiamento do discurso – Orgullos críticos do sul

Publicado el 10 julio, 2017 por oocc

João Manuel de Oliveira

Um espetro parece assolar o mundo do ativismo. É o espetro do lugar de fala. O


lugar de fala, conceito que algumxs apontam a Michel Foucault, outrxs a Gayatri
Chakravorty Spivak, outrxs a Linda Alcoff, tem o mérito de enunciar as condições
de produção do discurso e a sua contextualização. Ao fazê-lo torna mais claro
questões de intencionalidade, experiência e limites da representação. Contudo
os ativismos contemporaneos, nomeadamente aqueles que se reivindicam
críticos, usam o conceito de lugar de fala num sentido de referirem as condições
de enunciação dos discursos como centrais na questão de quem pode falar por
quem, ou seja, na questão de constituição das prioridades de acesso e
legitimação do discurso sobre determinados objetos/sujeitos. Assim, pessoas
negras seriam indicadas para falar sobre racismo, mulheres sobre sexismo,
trans* sobre transfobia, etc. Idem para a explicação sobre a sua experiência.

As propostas do lugar de fala implicam uma constituição liberal do mundo,


fundada numa experiência de democracia comunitarista e que foi importada
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10/07/2017 lugar de fala e policiamento do discurso – Orgullos críticos do sul

depois para outras lógicas de sistema de representação. Assente claramente na


ideia de democracia representativa, em que alguém pode representar um grupo
ou uma constituency ( eleitores), na ótica das políticas identitaristas, que
recorrem à projeção do elemento comum e identitário dessa pertença,
aparentemente natural, apesar de sócio-histórica. Esse elemente de ligação
sobrepõe-se às outras identidades e às outras posições e torna-se político, no
meu entender e no de Preciado, uma ficção política. O lugar de fala implica
rastrear o discurso a essa identidade. Esqueçam que tanto Foucault, como
Spivak, posicionam-se em lógicas pós-identitárias, esqueçam que Spivak retirou
o conceito de essencialismo estratégico. Esqueçam a interseccionalidade que
implica uma localização relativa e não absoluta de posições sociais.

O lugar de fala entrou no discurso ativista como forma de dizer quem pode falar,
quem não pode sobre que temas e muito rapidamente deixou de constituir uma
forma de denotar uma determinação posição no discurso para passar a ser uma
forma de controlar quem diz o quê. Veja-se que questões como o racismo, o
classismo, o sexismo, a transfobia afectam todas as pessoas, tratando-se de
questões sociais mais amplas e que apesar das principais vítimas serem alvos
perfeitamente identificados e definidos, isto não implica que não haja danos
colaterais nem que toda a sociedade como um todo seja prejudicada por isto. Na
visão do ativismo que parece agora ganhar foros de hegemonia, essa dimensão
social e logo política, fica soterrada por debaixo da vitimação como privilégio
epistémico e de discurso. Ou seja, nas olímpiadas da discriminação, melhor
pode falar e representar quem mais vitima for.

O lugar de fala parece implicar a correspondência entre quem enuncia e a sua


identidade, assim o discurso pode e deve ser escutado ou não. Assim, uma
mulher cis que fale sobre pessoas trans terá um discurso menos relevante que
uma mulher trans sobre pessoas trans. O mesmo se aplica sempre que quem
enuncia um discurso não é pensável como o sujeito da luta, como por exemplo,
um homem que fale de feminismo. Esta visão maniqueista aparentemente está
cheia de boas razões, de falta de protagonismo histórico , de discursos
excludentes das pessoas que dizem descrever e de opressões diretas de
determinados sujeitos históricos. Contudo, ter um discurso sobre não quer dizer
querer representar ou efetivamente representar essa população. Significa
contribuir para a proliferação de discursos e aí cabe aos grupos ativistas discutir,
debater e lutar contra certas formas de representação no seio da pluralidade de
discursos. Não cabe, parece-me, uma ótica de impedir a circulação de discursos,
a pluralidade e a própria diversidade de posições e de representações de parte a
parte. Parece-me super importante que brancos discutam racismo, que homens
discutam feminismo, que pessoas cis discutam assuntos trans. Isso significa
democracia e existência de debate, possibilidade de produzir o político. A
democracia implica espaços conflituais, de representação antagónica e até de
diversidade de visões sobre políticas de representar.

Numa sociedade de psicologização e neo-liberal, não deve existir melhor forma


de despolitizar do que essa. Sei que pareço cruel ao dizê-lo, mas não me parece
que o ativismo e as lutas por direitos possam reduzir-se a lugares de troca de

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