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27/02/2018 Carta aberta do Movimento Nacional de Artistas Trans para todos os artistas cisgênero

Carta aberta do Movimento Nacional de Artistas


Trans para todos os artistas cisgênero
MONART (Movimento Nacional de Artistas Trans)
26 de Fevereiro de 2018

Renata Carvalho em cena de 'O

181

Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu' (Divulgação/Arte Revista CULT)

Vamos conversar? Precisamos que vocês nos escutem. Então parem, se acomodem e abram seus corações e
mentes. Precisamos falar sobre empregabilidade, transfobia e representatividade. E sobre essa tal liberdade
artística. Vamos começar pelo cinema?

Desde a sua estreia, Pantera negra vem levantando algumas questões. Começando por ser o primeiro filme
da Marvel dedicado a um super-herói negro (além do elenco, também são negras as pessoas da direção e da
produção). Depois, pelos números alcançados: em sete dias de exibição, por exemplo, arrecadou cerca de
US$ 292 milhões em bilheteria – superando Os vingadores e se tornando o filme da Marvel com maior
arrecadação na primeira semana.

Com tanto sucesso nos números, por que, mesmo assim, não vemos tantos filmes protagonizados por
pessoas negras? Segundo pesquisa da USC Annenberg School for Communication and Jounalism, entre
os 4.583 personagens com falas presentes nos 100 títulos de maior bilheteria em 2016, 70,8% eram
brancos, restando para os artistas negros apenas 13,6 % dessa fatia. Isso sem colocar em pauta a forma
como o negro está sendo retratado na obra.

Quando pensamos em filmes, heróis, escritores, médicos, políticos, intelectuais, empresário, advogados e
em pessoas bem sucedidas, nossa referência universal é a do homem, branco e cisgênero (inclusive no
universo LGB). Até a gramática os prioriza. Mesmo em uma sala com 99 mulheres e um homem, o
pronome dominante será o “o”.

Pergunte ao movimento negro o que é ir ao cinema assistir a Pantera negra; melhor, pergunte ao movimento
negro o que é levar seus filhos para assistirem a um filme com heróis negros. O que é ter uma boneca preta
em uma loja de brinquedos. O que é ter maquiagem para peles negras. Sabem o significado da
representatividade deste filme para o movimento negro? Sabem que é sentir-se representado?

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27/02/2018 Carta aberta do Movimento Nacional de Artistas Trans para todos os artistas cisgênero

Com quantos filmes, novelas, livros, espetáculos, revistas e afins você teve contato nos últimos meses? Se
em alguns deles você se enxergou, se viu, é porque está sendo representado. Isso é representatividade. Mas
se você não for branco, magro, cisgênero e preferencialmente homem, dificilmente se sentirá assim.

Para se ter referência é necessário haver representatividade. E representatividade é o ato de estarmos


presentes. Não existe meia representatividade. Ou se tem ou não se tem. Foi exatamente esta palavra que
nos faz escrever esta carta a vocês.

No último dia 19 de fevereiro, nesta mesma Revista CULT, na coluna da Marcia Tiburi, foi publicado um
artigo de opinião (precisamos saber diferenciar opinião de discurso incrustado na transfobia) da produtora
Valência Losada, intitulado: “A insurgência trans e seu alvo impreciso”

Bom, não para nossa surpresa, a produtora faz parte da Quintal Produções. Nos faz lembrar imediatamente
de Simone de Beauvoir: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios
oprimidos”.

A Quintal Produções é a produtora do coletivo “As Travestidas”, fundado pelo ator e diretor Silvero Pereira
(ator brasileiro que mais pratica o “transfake” na atualidade), que tem em sua cartela “de diversidade trans”
os espetáculos Uma flor de dama (transfake), BR trans (transfake) e Trans-Ohno (transfake). Fora o
espetáculo Quem tem medo de travesti? (com presença trans, mas com transfakes), que além de ter uma
dramaturgia bem duvidosa, nos retrata de forma equivocada.

Este mesmo ator, que tem sua carreira pautada na pesquisa das identidades e vivências trans, fundou um
coletivo alicerçado em nossos corpos com apenas três corpos trans presentes. Ainda assim, os projetos,
sinopses, releases e títulos dos principais espetáculos são trabalhados em cima do corpo e da palavra
“trans”. Publicidade é igual a lucro. É como se artistas trans não fossem suficientemente talentosas para
ocupar o palco com ele. Até mesmo quando propõe estar em cena com outros artistas para falar sobre a
temática trans, Silvero convida artistas cisgênero do coletivo “As Travestidas”. E as trans?

É claro que Valência defenderia o transfake do ator Luis Lobianco. Pena que o encontro em BH não te
afetou, Luis, uma pena mesmo, e por conseguinte a sua colega de profissão. Você lucra com o transfake (e
tudo bem lucrar, mas vamos dividir?). É insurgente sim, mas o alvo não é e nunca foi impreciso. Impreciso
e confuso é o seu texto. O problema é que o alvo acha que não é alvo. O alvo está se fazendo de louca,
fingindo que não é com ele, apontando para o lado, para o outro, para o próximo, e colocando uma cortina
de fumaça em nosso movimento. O alvo é Valência, é Luís, é Silvero, é a Quintal, são todos vocês que
fingem não ter entendido a nossa luta, e que tentam deslegitimá-la ou diminuí-la sem nenhum argumento
plausível. Mas capitão do mato defende capitão do mato.

Vocês todos juntos de mãos dadas fortalecem, contribuem, deslegitimam, reforçam o apagamento das
nossas presenças e identidades., marginalizando-as, tornando-as ficção, sátira e caricatura.

Nós não fazemos parte da história. Não fazemos parte do conceito de humanidade, não somos humanos.
Somos falsos, de brincadeira. Os livros que nos mencionam falam sobre nossa marginalização histórica.
Vocês, senhores feudais, produtores, artistas, capitães do mato, diretores e açoitadores nos apagam, nos
excluem, nos deixam sem rosto, sem voz, e o pior, tentam nos calar e nos tornar risíveis (mais uma vez).

Mudam-se as histórias, nunca os protagonistas: os homens brancos e cisgênero.

Sabemos que o teatro não pode dar conta de tudo, mas sabemos também que o teatro pode sim mudar
paradigmas, trazer reflexões, abrir corações e mentes, levantar discussões e temas; e que, sim, enquanto
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27/02/2018 Carta aberta do Movimento Nacional de Artistas Trans para todos os artistas cisgênero

artistas, precisamos questionar o nosso tempo. Plínio Marcos diria que devemos ser “repórteres de um
tempo mau”.

Vamos, então, entrar num acordo? Num grande acordo nacional, com as instituições, com tudo?

O acordo é:

1 – Que vocês parem agora de nos representar (estanquem essa sangria) por no mínimo 30 anos. Vocês
(homens) brincam com o feminino desde que o teatro é teatro; 30 anos não é nada

2- Que substituam atores cisgênero representando papéis trans por artistas trans (e nos incluam dentro dos
processos artísticos)

3- Que nos incluam efetivamente em seus coletivos, grupos, filmes e peças

4 – Que parem de nos retratar e representar de forma chula; de motivar o riso frouxo com piadinhas que nos
inferiorizam

5 – Que pesquisem de fato nossas vivências. Vocês nos retratam de qualquer maneira, sem respeito nenhum

6- Cansamos de servir apenas (aliás, queremos parar de servi-los) como experimentos cênicos e
acadêmicos. Queremos ser corpos sujeitos

E sabem o que vai acontecer ao final de 30 anos? Nós vamos parar de morrer. Vão parar de nos matar.
Simples assim. Ao final deste acordo, temos a certeza de que este país deixará de ser campeão em
assassinatos de pessoas trans. Não teremos como segunda causa de morte o suicídio e nossa vida média não
será mais de 35 anos. E sabem por quê?

Porque nossas identidades, corpos e presenças serão naturalizadas e humanizadas nos espaços de poder.
Será uma identidade legítima, verdadeira, real e palpável; e só a partir daí nascerá o afeto, o conhecimento,
o entendimento e a empatia.

Com todas essas informações, vocês vão novamente nos virar as costas e nos tratar como artistas imbecis,
medíocres ou de menor categoria? Vão continuar fingindo que não existimos, não nos respondendo e nos
bloqueando nas redes sociais? Vão sair escoltados pela polícia novamente? Vão nos resumir a pessoas
“violentas e bélicas”?

Falando em violência, ficamos nos perguntando se esses artistas já viram um grupo de pessoas trans
espancando uma pessoa cisgênero pelo fato de ser cisgênero. Ou se já viram pessoas trans expulsando
pessoas cis de algum ambiente por ela ser cis. Ou se já viram pessoas trans rindo, debochando ou xingando
uma pessoa cis. Somos o país responsável por 40% dos assassinatos de pessoas trans no mundo nos últimos
dez anos, sendo que 85% dessas mortes são com violência hiperbolizada, ou seja, esquartejamentos, tiros e
facadas. Tem certeza de que a violência está aqui ao nosso lado?

Nós é que estamos morrendo, então nós é que ditamos as regras (transpofagizamos do filme 120 batimentos
por minuto, fica a dica)

Nós, do MONART, questionaremos também as instituições que corroboram com o discurso dos seus
espetáculos e artistas envolvidos, contratando-os: as unidades dos SESCs, o Itaú Cultural, os Centros
Culturais da Caixa e do Banco do Brasil, os editais, as leis de incentivo e, principalmente, os que têm

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especificidades LGBTs. Eles não existem, inclusive, para inclusão? Como podem contribuir com obras que
excluem os corpos retratados?

Estamos falando de “transfake” e também de “black face” (em todos os níveis). Vocês, brancos, cisgênero,
adoram dar um truque e inventar nossas formas de representar as vivências negras sem um corpo negro
presente.

Fora (Temer) intuições como o SATED (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do
Estado de SP), que se coloca como representante dos artistas. Que artistas? Nosso nome social e de gênero
não são respeitados no DRT, por exemplo. O sindicato também não se posicionou a respeito do transfake. E
sobre o black face, já se posicionou?

Para terminar transpofagizando Angela Davis: “Quando uma pessoa trans se movimenta, toda a estrutura da
sociedade se movimenta com ela”. Segurem-se, mas soltem os privilégios. É preciso partilhar. Você
conhece o nosso movimento? Entre na nossa página no Facebook “Representatividades trans” e leia o nosso
manifesto. Chega de transfake. Diga sim ao talento trans.

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