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Abstract: This work aims to investigate the levels of indeterminacy and the degrees of opening
in Claudio Santoro’s composition Mutationen III for piano and tape. Peculiarities present in the
score part create various levels of indeterminacy delegating to the pianist a wide margin of
decisions and interpretative possibilities. The research indicates that a detailed interpretation of
the elements of the score allows the performer an unusual autonomy placing the pianist in the
position of coauthor of the work and clears out the illusion that fidelity to the text always leads to
predictable results.
Keywords: Cláudio Santoro; Musical Notation; Aleatory Music; Piano; Mixed Electroacoustic
Music.
1 Introdução
Realização:
V Simpósio Internacional de Música Ibero-Americana
Manaus – 21 a 25 de maio de 2018
Em sua introdução para a segunda edição do livro Obra Aberta, Umberto Eco
(2015, p.25) sugere que nenhuma obra artística deve ser reconhecida como fechada em
suas possibilidades interpretativas: “acreditamos ter afirmado suficientemente que a
abertura, entendida como ambiguidade fundamental da mensagem artística, é uma
constante de qualquer obra em qualquer tempo”.
Com relação à música instrumental de nosso tempo, Eco ressalta que, é possível
identificar uma característica recorrente:
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acabada, não pode ser acabada, ela não pode ter um princípio e um fim” (SANTORO
apud SOUZA, 2003, p.308). Mutationen III, faz parte de um conjunto de 12 peças para
instrumentos diversos e fita magnética, incluindo uma peça para oboé e fita magnética,
além de outras para formações instrumentais diversas. Escrita em 1970 por encomenda
da Abendakademie de Mannheim, foi dedicada ao pianista e amigo Alex Blin e à sua
esposa, Gisele. A peça é um exemplo de música mista (instrumentista ao vivo interagindo
com eletrônica) e leva o intérprete a profundas reflexões sobre como se posicionar diante
do texto e ainda manter uma postura de fidelidade com relação à partitura, convidando o
pianista a se posicionar como coautor da obra.
Alexandre Zamith Almeida (2007, p.2) ressalta o fato de que a criação musical de
raiz europeia obedecia ao sistema de composição tonal, que contemplaria, do ponto de
vista da interpretação, possibilidades fruitivas “relativamente restritas quando comparada
àquela que seria vislumbrada pela música de nosso tempo, em sua diversidade de
métodos, procedimentos e resultados composicionais”. No entanto, o autor observa como
a música, em meio as outras expressões artísticas, se demonstrou predisposta às aberturas
de interpretação. O autor confere a esta característica o fato de a música ser “uma
expressão essencialmente não-verbal e não-visual, despojada de objetividade semântica”.
O autor também aponta o elevado grau de mediação conferido ao intérprete, que,
contando na maioria das vezes somente com a partitura como fonte de orientação, não
poderia ter a utopia de estar transmitindo a totalidade das intenções do compositor. Estas
limitações da notação seriam as mesmas já apontadas por Stravinsky anteriormente neste
trabalho. Deste modo, o autor justifica a importância de se investigar como os graus de
abertura se desenvolvem na música de concerto.
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fornecido, que tem ido cada vez mais em direção ao resgate das dimensões das aberturas
interpretativas e da reinserção do intérprete em seu papel criativo.
Nesta entrevista o compositor informa que as obras escritas após 1960 delimitam
o início de sua terceira fase. Neste momento Santoro retorna ao estilo orientado para a
atonalidade, depois de ter se voltado, por conta de seu idealismo e comprometimento
político, para o nacionalismo musical na década de 1950. Em busca do que o compositor
considera "forma e linguagem universais", a terceira fase compreende também o início
do seu envolvimento com a música eletroacústica. Este momento é marcado pela
preocupação com a maior liberdade na organização dos sons, introduzindo práticas e
procedimentos aleatórios e improvisatórios com diferentes graus de abertura. É bastante
interessante observar como Santoro retoma de forma livre a linguagem dodecafônica,
após ter contato com o serialismo integral, demonstrando uma evolução em sua própria
linguagem.
Alguns compositores, como Santoro, passaram a considerar o caráter de
permanência da fita magnética como um obstáculo que age contra uma possível abertura
na interpretação da obra. Uma vez realizada na fita magnética, não é de se esperar que ela
seja modificada, deste modo ela também permanece limitada às condições técnicas do
local e da época. De modo análogo, isto também ocorre com a notação, que pode então
assumir diferentes graus de determinismo. No caso da música (eletroacústica) mista, uma
possibilidade de abordar esta questão seria deixar para o interprete a tarefa de produzir a
fita magnética (ou qualquer outro suporte eletrônico). Consideramos ser essa uma
interessante alternativa para fertilizar a peça com a multiplicidade de interpretações daí
decorrentes. Santoro demonstrou amplamente a tendência de incorporar à sua poética
procedimentos experimentais em música, e deste modo acreditamos que na estratégia de
endereçar ao intérprete a criação da fita o compositor externa sua compreensão de que a
improvisação e o aleatório são inerentes ao fazer musical (VENTURA, 2008, p.63).
3 O Aleatório Controlado
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4 Improvisação
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Mutationen III possui algumas passagens improvisatórias, onde se encontra o
emprego do que Santoro compreende por aleatório controlado. Nessas ocasiões o
compositor delimita, através dos signos utilizados e das indicações verbais, o âmbito, a
natureza e a conformidade da improvisação. Defendendo que o seu emprego do aleatório
definitivamente não se trata de algo caótico, e se distanciando da compreensão Cageana.
Santoro (SOUZA, 2003, p.310) observa: “Tem camaradas que escrevem: aqui fazer o que
quiser, ou tocar o que está na sua cabeça. Não sei se é válido ou não, é uma experiência
que o Cage em geral fez”.
Segundo as dimensões notacionais descritas por Zampronha (2000, p.154),
observamos que Mutationen III possui uma forte relação com o que o autor chama de
“Notação como distância entre a ideia composicional e sua realização”. Para o autor, “a
grafia transcende sua dimensão de significante e invade o hiato que há entre ela e as ideias
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Figura 1 – Recorte da partitura de Mutationen III p.4. O pianista improvisa clusters com a dinâmica
indicada ao longo do trecho, respeitando as alturas sugeridas. As instruções em alemão dizem: “Cluster
com os três dedos centrais sobre as teclas brancas e pretas nas alturas grafadas”.
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5 O Piano Expandido
Figura 2 – Recorte da partitura de Mutationen III p.2. Recorte de Mutatioen III, p.2. .1
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As instruções em alemão dizem: “Ataque com os dedos (rapidamente) sobre as cordas” e “Glissando com
moeda nas cordas indicadas, com pedal, crescendo”.
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Neste caso a indeterminação é usada para simplificar a escrita; através dos pontilhismos da grafia é
evocada sugestão necessária ao intérprete para sua execução. As instruções em alemão dizem: “16. Como
acima, mas gravado várias vezes e mixado”.
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As claves no extremo têm a indicação ‘Tasten’ – nas teclas; a clave central deve ser tocada puxando as
cordas determinadas, utilizando as unhas – ‘Mit Fingernagel’.
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5 Considerações finais
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Os harmônicos de altura determinada ocorrem na fita, temporalmente sincronizados. As instruções em
alemão dizem: “Gravar na fita: com o pedal liberado, colocar os dedos levemente nas cordas indicadas
próximo aos abafadores, de modo que quando as teclas forem pressionadas se ouça somente os harmônicos
(efeito flageolet). Esses harmônicos são notados na clave de sol com única finalidade de controlar a altura”.
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Referências bibliográficas
SOUZA, Iracele A. Vera Lívero de. Santoro: uma história em miniaturas. Estudo
analítico-interpretativo dos prelúdios para piano de Cláudio Santoro. 643 fls.
Dissertação (Mestrado em Música). Instituto de Artes da UNICAMP, Campinas, 2003.
STRAVINSKY, Igor. Poética Musical em Seis Lições. Tradução de Luiz Paulo Horta.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
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