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GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar.

A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

A DEMOCRACIA PARTICIPATIVA COMO INSTRUMENTO DE


ALCANCE DO PRINCÍPIO DA SUSTENTABILIDADE

LA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA COMO INSTRUMENTO DE ALCANCE DEL


PRINCÍPIO DE LA SOSTENIBILIDAD

Heloise Siqueira Garcia1

Natammy Luana de Aguiar Bonissoni2

SUMÁRIO: Introdução; 1. Ponderações introdutórias sobre a democracia; 2.


Análise observativa do princípio da sustentabilidade; 3. A democracia
participativa como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade;
Considerações finais; Referências das fontes citadas .

RESUMO: O presente artigo científico possui como tema principal a busca de


uma análise doutrinária entre a democracia participativa e o princípio da
sustentabilidade de modo a poder demonstrar que a democracia participativa
serve como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Seu objetivo
geral é verificar se democracia participativa pode servir como um instrumento de
alcance do princípio da sustentabilidade. Os objetivos específicos são conceituar
a democracia a partir de uma evolução histórica e doutrinária de entendimentos
acerca do tema; elencar as características principais do Princípio da
Sustentabilidade, demonstrando seu conceito e suas dimensões a partir do
entendimento de diversos doutrinadores; e analisar as conceituações básicas da
democracia participativa estabelecendo uma ligação entre a mesma e a
Sustentabilidade com vistas à relação com o objetivo geral proposto. Na
metodologia foi utilizado o método indutivo na fase de investigação; na fase de

1
Mestranda do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica – PPCJ – UNIVALI.
Mestranda do Máster en Derecho Ambiental y de la Sostenibilidad da Universidad de Alicante –
Espanha. Bolsista no Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares
– PROSUP – CAPES. Graduada em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. Advogada.
Email: helo_sg@hotmail.com
2
Mestranda do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica – PPCJ – UNIVALI.
Bolsista no Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares – PROSUP
– CAPES. Graduada em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. Advogada. Email:
natammy@hotmail.com

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GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

tratamento de dados o método cartesiano e no relatório da pesquisa foi


empregada a base indutiva. Foram também acionadas as técnicas do referente,
da categoria, dos conceitos operacionais, da pesquisa bibliográfica e do
fichamento.

Palavras-chave: Democracia; Democracia Participativa; Princípio da


Sustentabilidade.

RESUMEN: El presente artículo tiene como tema principal la búsqueda de un


análisis doctrinaria entre la democracia participativa y el principio de la
sostenibilidad de modo a poder demonstrar que la democracia participativa sirve
como instrumento de alcance del principio de la sostenibilidad. Su objetivo
general es verificar se democracia participativa puede servir como un
instrumento de alcance del principio de la sostenibilidad. Sus objetivos
específicos son conceptuar la democracia a partir de una evolución histórica y
doctrinaria de entendimientos sobre el tema; listar las características principales
del Principio de la Sostenibilidad, demostrando su concepto y sus dimensiones a
partir del entendimiento de diversos doctrinadores; y analizar las
conceptuaciones básicas de la democracia participativa estableciendo una
ligación entre la misma y la Sostenibilidad, con vistas a la relación con el objetivo
general propuesto. En la metodología fue utilizado el método inductivo en la
fase de investigación; en la fase de tratamiento de datos el método cartesiano
y en el informe de la pesquisa fue empleada la base inductiva. Fueran también
accionadas las técnicas del referente, de la categoría, de los conceptos
operacionales, de la pesquisa bibliográfica y del fichamento.

Palabras-clave: Democracia; Democracia Participativa; Principio de la


Sostenibilidad.

INTRODUÇÃO

A sustentabilidade ambiental está estreitamente relacionada com a democracia e


sua realização irá exigir a construção de uma cultura política que promova
justamente tais valores, sob uma base ecológica.

A partir deste viés ideológico é que se estabeleceu o tema central do presente


artigo, que se apresenta como sendo a busca de uma análise doutrinária entre a
democracia participativa e o princípio da sustentabilidade de modo a poder
demonstrar que a democracia participativa serve como instrumento de alcance
do princípio da sustentabilidade.

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como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
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especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

A escolha do tema se deu a partir das discussões fomentadas no Curso de


Mestrado em Ciência Jurídica da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI,
através de aulas e seminários com professores estrangeiros assistidos no período
de agosto de 2013 a agosto de 2014, além da possibilidade proporcionada por
esta última instituição em realizar estudos vinculados ao Direito Ambiental junto
à Universidade de Alicante – Espanha, no mês de maio de 2014, onde ambas as
autoras tiveram a oportunidade de realizar estudos junto a esta última
universidade.

O desenvolvimento do artigo se dará primordialmente no âmbito do Direito


Ambiental e da Teoria Política, onde se buscará analisar doutrinas de pensadores
clássicos e contemporâneos que discutem a ideia da criação e evolução do
conceito de democracia até o alcance do pensamento teórico atual, além de
renomados doutrinadores engajados nas discussões de cunho ambiental e da
sustentabilidade, foco principal do cenário mundial atual.

Por tudo isto, este artigo terá como objetivo geral VERIFICAR se democracia
participativa pode servir como um instrumento de alcance do princípio da
sustentabilidade. E objetivos específicos CONCEITUAR a democracia a partir de
uma evolução histórica e doutrinária de entendimentos acerca do tema;
ELENCAR as características principais do Princípio da Sustentabilidade,
demonstrando seu conceito e suas dimensões a partir do entendimento de
diversos doutrinadores; e ANALISAR as conceituações básicas da democracia
participativa estabelecendo uma ligação entre a mesma e a Sustentabilidade com
vistas à relação com o objetivo geral proposto.

Portanto como problemas centrais serão enfocados os seguintes


questionamentos: O que é democracia e quais suas principais características?
Como pode ser conceituado Princípio da Sustentabilidade e quais suas dimensões
segundo as principais doutrinas atuais? No que consiste a democracia
participativa e qual sua ligação com a Sustentabilidade? Pode a Democracia
Participativa ser considerada como um instrumento de alcance do Princípio da
Sustentabilidade?

As hipóteses da pesquisa se desenvolvem na seguinte temática:

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a) O Princípio da Sustentabilidade é um princípio de ordem


fundamental e transnacional, de necessário enfoque e
estudo para a possível preservação das presentes e futuras
gerações.

b) A Democracia Participativa é o modelo mais abrangente


de participação popular e, consequentemente, mais
democrático de intervenção direta dos cidadãos nas tomas
de decisões e exercício do poder do Estado.

c) A Democracia Participativa pode ser considerada como


um instrumento de alcance e efetivação da sustentabilidade,
pois aperfeiçoa o atual conceito de democracia direta e sua
adequação às temáticas atuais, possibilitando a construção
de uma cultura política fundamentada em princípios
sustentáveis.

Para tanto o artigo foi dividido em três partes: a primeira denominada


“Ponderações introdutórias sobre a democracia”, onde se buscou explanar sobre
a conceituação e evolução da ideia de democracia por filósofos e pensadores do
direito; a segunda, denominada “Análise observativa do Princípio da
Sustentabilidade”, buscou analisar as principais características do referido
Princípio da Sustentabilidade, elencando-se conceitos e ponderações de diversos
doutrinadores acerca de suas dimensões; por fim, a última parte, denominada “A
democracia participativa como instrumento de alcance do Princípio da
Sustentabilidade”, entra no cerne principal do presente artigo científico,
destacando a conceptual atual da doutrina sobre o que seria a democracia
participativa e qual sua relação com a Sustentabilidade, de modo a apresentar
uma visão construtiva da aplicação da democracia participativa como um dos
instrumentos para a efetivação do Princípio da Sustentabilidade.

Na metodologia foi utilizado o método indutivo na fase de investigação; na fase


de tratamento de dados o método cartesiano e no relatório da pesquisa foi
empregada a base indutiva. Foram também acionadas as técnicas do referente,
da categoria, dos conceitos operacionais, da pesquisa bibliográfica e do
fichamento.

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como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
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especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

1. PONDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE A DEMOCRACIA3

Norberto Bobbio, em seu livro “O futuro da democracia”4, explicita que antes de


qualquer estudo a ser realizado acerca da democracia necessário é se
estabelecer um conceito mínimo da mesma, que o autor estabelece como sendo
“[...] primariamente um conjunto de regras de procedimento para a formação de
decisões coletivas, em que está prevista e facilitada a participação mais ampla
possível dos interessados.”

Já em outra obra o mesmo autor estabelece um conceito mais direto, didático e


tradicionalista dos clássicos do que seria a democracia tendo por base o uso
descritivo da mesma, e assim destaca:

[...] a democracia é uma das três possíveis formas de


governo na tipologia em que as várias formas de governo
são classificadas com base no diverso número dos
governantes. Em particular, é a forma de governo na qual o
poder é exercido por todo o povo, ou pelo maior número, ou
por muitos, e enquanto tal se distingue da monarquia e da
aristocracia, nas quais o poder é exercido, respectivamente,
por um ou por poucos.5

Hans Kelsen6 já critica essa ideia de classificação tradicional das formas de


governo, pois afirma que a tricotomia tradicional se mostra insuficiente, e aponta
como critério de classificação o modo como a ordem jurídica é criada, baseando-
se na ideia de liberdade política, a partir disso afirma que “Democracia significa

3
Item adaptado do capítulo publicado no livro “Direitos fundamentais e democracia III”. (GARCIA,
Heloise Siqueira; GARCIA, Denise Schmitt Siqueira. DEMOCRACIA E SOLIDARIEDADE: A
SOLIDARIEDADE COMO INSTRUMENTO DE BUSCA DE UMA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA. In:
MACHADO, Edinilson Donisete; BERTASO, João Martins; CUNHA, Leandro Reinaldo da. (coord.)
Direitos fundamentais e democracia III. Florianópolis: CONPEDI, 2014. Disponível em:
<http://publicadireito.com.br/publicacao/ufsc/ficha/211.pdf>. Acesso em: 30 de setembro de
2014. p. 162/178)
4
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. 9. ed. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. São
Paulo: Editora Paz e Terra, 2004, p. 22.
5
BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade. Para uma teoria geral da política. 10. ed.
Tradução de Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2003, p. 137.
6
KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do Estado. 4. ed. Tradução de Luís Carlos Borges.
São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 406.

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que a ‘vontade’ representada na ordem jurídica do Estado é idêntica às vontades


dos sujeitos. O seu oposto é a escravidão da aristocracia.”7

Contudo, visando uma completa consideração do que seriam os aspectos


principais da democracia, acredita-se ser importante o destaque dos principais
pensamentos dos filósofos a respeito da democracia, que gerou a sua construção
conceitual atual.

Norberto Bobbio8 destaca que foi o pensamento político grego que transmitiu a
célebre tipologia das formas de governo, destacando a democracia como “[...] o
governo dos muitos, dos mais, da maioria, ou dos pobres [...]”, sendo, em suma,
conforme a própria etimologia da palavra, o governo do povo.

Nesse sentido, de maneira cronológica, procurar-se-á explanar a principal ideia


de alguns dos principais filósofos que propuseram discussões sobre a
democracia, de modo a se poder conceber o ponto atual da conceituação da
democracia.

Platão, em seu livro “A República”9, foi um dos primeiros filósofos a introduzir a


ideia de distinguir as formas de governo com base no número de governantes, o
que posteriormente é retomado por diversos outros filósofos, assim, o referido
autor defende que seria a democracia a forma de constituição, ou forma de
governo, em que o poder emana da multidão, sendo que ao decorrer do Livro
VIII da obra propõe algumas discussões sobre esta forma de governo de maneira
a ressaltar-lhe suas principais qualidades e defeitos.

Já de maneira enfática dispõe o filósofo que a democracia surgiria após a vitória


dos pobres, “[...] estes matam uns, expulsam outros, e partilham igualmente
com os que restam o governo e as magistraturas, e esses cargos são, na maior
parte, tirados à sorte.”10. E continua mais a frente defendendo tal forma de

7
KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do Estado, p. 406.
8
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. 3. ed. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. São
Paulo: Brasiliense, 1990, p. 31.
9
PLATÃO. A república. Texto integral. Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret,
2003.
10
PLATÃO. A república, p. 253.

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como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
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especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

governo ao ressaltar que esta seria muito capaz de ser a mais bela das formas
de governo.

Ressaltando ainda, que suas principais vantagens caracterizam-se pelo fato de


ser uma forma de governo aprazível, anárquica, variegada, isonômica, repartindo
sua igualdade do mesmo modo pelo que é igual e pelo que é desigual.11

Seguindo seus passos em dividir as formas de governo a partir da quantidade de


pessoas que o comandam, vem Aristóteles, em sua obra “Política”12, que além de
estipular a divisão pelo número de governantes, apresentando três formas de
governo corretas, ainda comenta sobre os três desvios dessas formas de
governo, estando a democracia entre este últimos.

Nesse diapasão Aristóteles apresenta como sendo as formas corretas de


governo, ou constituição, as que uma única pessoa, poucas pessoas ou muitas
pessoas governam visando um interesse comum. Enquanto que os desvios
dessas formas corretas são aqueles em que uma, poucas ou muitas pessoas
governam segundo o interesse privado, sendo que são caracterizadas como
desvios, pois os membros da Cidade, na qualidade de cidadãos, devem participar
da vantagem comum.13

Assim, das formas de governo em que só um governa, a sua forma correta seria
a monarquia, e o seu desvio a tirania; das formas em que uns poucos, os
melhores homens, governam, a sua forma correta seria a aristocracia, e o seu
desvio a oligarquia; e das formas em que grande parte dos cidadãos governam,
a forma correta seria chamada pelo nome genérico de “constituição”, e seu
desvio democracia.14

11
PLATÃO. A república, p. 255.
12
ARISTÓTELES. Política. 5. ed. Texto integral. Tradução de Pedro Constantin Tolens. São Paulo:
Martin Claret, 2001, p. 124-125.
13
ARISTÓTELES. Política, p. 124.
14
ARISTÓTELES. Política, p. 124.

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E finaliza o filósofo comentando que “[...] a democracia é o governo no qual se


tem em mira apenas o interesse da massa [...]”15, não possuindo, então,
interesse de toda a sociedade.

Quase dois mil anos após a criação da ideia dos filósofos antigos John Locke
publica a obra “Segundo tratado sobre o governo”16, em que propõe diversas
discussões sobre o governo e a política, esclarecendo, inclusive, sua principal
ideia sobre conceitos políticos importantes, como por exemplo o faz no primeiro
capítulo da obra quando expõe o que entende por “poder político”.

Nesse contexto, no capítulo X, o autor apresenta o que seriam, para ele, as


“formas de uma comunidade”, onde não separa as formas de governo apenas
pela quantidade de pessoas que as governam, como os antigos filósofos, mas
conforme suas principais características quanto ao poder de legislar, e sobre a
democracia comenta que

[...] desde que os homens começaram a se reunir em


sociedades, a maioria de sufrágios teve naturalmente todo o
poder, e pode utilizá-lo para fazer, periodicamente, leis
destinadas à comunidade, leis estas executadas por
funcionários por ela nomeados. Nesse caso, a forma de
governo é uma perfeita democracia.17

Ainda salienta o referido filósofo que apesar de existirem as três formas básicas
de governo, ou de uma comunidade, sendo elas a democracia, a oligarquia e a
monarquia, é possível ainda que os cidadãos de uma determinada sociedade
ainda estabeleçam formas de governo compostas ou mistas.18

Na mesma época de John Locke, Montesquieu publica seu livro “Do espírito das
leis”19, onde elabora conceitos sobre formas de governo e exercícios da
autoridade política que se tornaram pontos doutrinários básicos da ciência

15
ARISTÓTELES. Política, p. 125.
16
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. Texto integral. Tradução de Alex Marins.
São Paulo: Martin Claret, 2002.
17
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo, p. 88.
18
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo, p. 88.
19
MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Texto integral. Tradução de Jean Melville. São Paulo:
Martin Claret, 2002.

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política. Comentando, também, no livro segundo, onde trata das leis que
derivam diretamente da natureza do governo, da natureza de três diferentes
governos: republicano, monárquico e despótico, relacionando a democracia ao
primeiro.20

Comenta o filósofo que a democracia acontecerá dentro de uma república


quando o povo, ao formar um só corpo, tem o poder soberano, sendo que caso
esse poder estivesse nas mãos de apenas uma parte do povo tratar-se-ia de uma
aristocracia. E complementa afirmando que “O povo, na democracia, é, em
certos aspectos, o monarca, e, em outros aspectos, o súdito.”21

Finalizando os filósofos antigos e modernos elencados para serem apresentados


no presente artigo científico elenca-se Jean-Jacques Rousseau, que talvez tenha
sido o filósofo que mais criticou a democracia. Jean-Jacques Rousseau viveu na
mesma época iluminista de John Locke e Montesquieu, destacando-se como
grande obra sua “Do contrato social”22, nesta obra o autor trata do que seria o
contrato social para ele e quais seus principais aspectos, diferenciando sua ideia
das de John Locke e Montesquieu, sendo que ele traz a ideia de que o homem é
naturalmente bom, sendo a sociedade, instituição regida pela política, a culpada
por sua "degeneração".

Rousseu23 afirma que não haveria governo mais sujeito às guerras civis do que o
democrático ou o popular, pois não haveria nenhum outro que tenha tanta
tendência a frequente e continuamente mudar de forma, nem que demande mais
vigilância e coragem para se manter. Foi na referida obra, também, que o autor
escreve uma de suas mais famosas frases, que quase todos os autores que o
seguiram, ao tratarem da democracia a citam, “Se houvesse um povo de deuses,

20
MONTESQUIEU. Do espírito das leis, p. 23.
21
MONTESQUIEU. Do espírito das leis, p. 23.
22
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. – Dados eletrônicos. Florianópolis: UFSC –
Centro de filosofia e ciências humanas. Edição eletrônica: Ridendo Castigat Mores. Disponível em:
<http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/contrato.pdf> Acesso em 25 de novembro de 2013.
23
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social, p. 95.

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ele se governaria democraticamente. Tão perfeito governo não convém aos


homens.”24

Salienta-se novamente a importância de ter sido elencado esses principais


pensamentos dos filósofos clássicos, pois torna-se mais fácil a verificação da
construção do que se entende hoje por democracia. Justamente como traz
Norberto Bobbio25, ao dispor que a ideia do regime democrático, por sua
essência, é o estar em transformação, “[...] a democracia é dinâmica, o
despotismo é estático e sempre igual a si mesmo.”

Paulo Bonavides26 comenta que nos dias atuais a democracia domina a


linguagem política, o que vem ocorrendo desde o século XX, sendo que é raro o
governo, a sociedade ou o Estado que não se proclame democrático. Entretanto
ressalta o autor que, na realidade, a democracia não é nada mais que um nome
debaixo de todos os abusos que a infamaram, mas que mesmo assim não deixou
de ser a potente força condutora dos destinos da sociedade contemporânea,
deixando de ser importante a significação que se lhe empregue.

Neste ponto, como modo que união de ideias, importante é o destaque de Paulo
Cruz27, que afirma que o conceito de democracia foi se impondo
progressivamente desde o século XIX de maneira a referir-se às relações entre
Estado e Sociedade, deixando antever um regime de governo em que o poder
político do Estado pertenceria à toda a população, ou seja, ao povo. Destacando
que sua finalidade última seria o “[...] controle, intervenção e a definição, pelos
cidadãos, de objetivos do poder político, cuja titularidade lhes corresponderia em

24
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social, p. 96.
25
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia, p. 19.
26
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 287.
27
CRUZ, Paulo Márcio. Democracia e cidadania. Revista Eletrônica Novos Estudos Jurídicos,
ISSN Eletrônico 2175-0491, Itajaí, v. 5, n. 10, 2000. Disponível em: <
http://siaiweb06.univali.br/seer/index.php/nej/article/view/1539>, p. 109.

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parcelas iguais, de acordo com o princípio de que o Governo deve refletir a


vontade do povo, sempre com base num padrão ético determinado.”28

Sendo nesse sentido que destaca Norberto Bobbio29, ao afirmar que deve-se
pensar no desenvolvimento das instituições democráticas no sentido da
democratização do Estado à democratização da sociedade, estabelecendo-se as
relações entre Estado e Sociedade, como comentado por Paulo Cruz.

Por fim, interessante é o destaque de Arnaldo Miglino30 ao afirmar que o que


caracteriza as democracias modernas é o relacionamento entre os cidadãos e as
autoridades públicas, independentemente de sua esfera.

Com este breve colacionado de doutrinas pode-se então verificar algumas das
características principais da democracia, ou seja, numa classificação tripartida
clássica ela se enquadraria como a forma de governo em que o povo, a
coletividade, os cidadãos, é que tem a titularidade do poder, caracterizando, nos
tempos contemporâneos, apesar da possibilidade de percepção de diversas
variações suas, pela necessária estreita relação entre Estado e Sociedade,
através de vários mecanismos democráticos que não são base do presente artigo
científico.

2. ANÁLISE OBSERVATIVA DO PRINCÍPIO DA SUSTENTABILIDADE

Antes de se adentrar diretamente no tema central do presente artigo há que se


traçar algumas considerações sobre o Princípio da Sustentabilidade e a
construção teórica do mesmo até a sua concepção mais atual.

O Direito Ambiental admite seu estudo a partir de vários enfoques, sendo que
considerando o progresso cronológico e impulso político utilizar-se-á no presente

28
CRUZ, Paulo Márcio. Democracia e cidadania. Revista Eletrônica Novos Estudos Jurídicos,
ISSN Eletrônico 2175-0491, Itajaí, v. 5, n. 10, 2000. Disponível em: <
http://siaiweb06.univali.br/seer/index.php/nej/article/view/1539>, p. 109.
29
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia, p. 70.
30
MIGLINO, Arnaldo. A cor da democracia. Florianópolis: Conceito editorial, 2010, p. 110.

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trabalho as considerações estudadas pelo Professor Dr. Gabriel Real Ferrer31, o


qual separa o progresso cronológico em “ondas” em relação às grandes
Conferências Mundiais sobre o Meio Ambiente.

La visualización de la fulgurante evolución del Derecho


Ambiental, admite, lógicamente, varios enfoques. Para su
comprensión entiendo que deben explorarse mínimamente al
menos tres, de los que dos de ellos: su progreso
cronológico, al que llamaremos “olas” y su progresión
técnico-jurídica, que visualizaremos como estratos, tienen
que ver con su manifestación más externa o superficial y, el
tercero, con su evolución conceptual y su incardinación en el
sistema social actual, aspectos mucho más profundos y
enjundiosos.32

Sabe-se que todas as discussões concernentes ao direito ambiental a nível


mundial tiveram início nos anos 60, o que ensejou o que o referido professor
optou por chamar de “primeira onda”, com seu ápice na primeira conferência
mundial sobre meio ambiente ocorrida em 1972 em Estocolmo, a qual permitiu a
proliferação da legislação ambiental e a sua constitucionalização em diversos
países.

A segunda onda se desenvolveu com a segunda conferência mundial sobre meio


ambiente ocorrida em 1992, sediada na cidade do Rio de Janeiro, onde começou
a haver articulações de movimentos com surgimento de organizações não
governamentais (ONG’s) e o aumento do número de novos agentes sociais
implicados com a proteção ambiental, ademais, todos os países participantes
passaram a se dotar de abundante e moderna legislação ambiental, dando lugar
a uma onda de normas e possibilitando o surgimento do que o Professor Gabriel

31
Sobre o tema ver: REAL FERRER, Gabriel. La construcción del derecho ambiental. Revista
Eletrônica Direito e Política, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da
UNIVALI, Itajaí, v.6, n.2, 2º quadrimestre de 2011. Disponível em:
<www.univali.br/direitoepolitica> - ISSN 1980-7791; REAL FERRER, Gabriel. Calidad de vida,
medio ambiente, sostenibilidad y ciudadanía ¿Construimos juntos el futuro? Revista Eletrônica
Novos Estudos Jurídicos, ISSN Eletrônico 2175-0491, Itajaí, v. 17, n. 3, 3º quadrimestre de
2012. Disponível em: <http://siaiweb06.univali.br/seer/index.php/nej/article/view/4202>.
32
REAL FERRER, Gabriel. La construcción del derecho ambiental. Revista Eletrônica Direito e
Política, p. 477.

498
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

Real Ferrer chamou da “geração da fotocópia”33. O grande destaque que se pode


dar foram as discussões surgidas acerca das dimensões da sustentabilidade.

A terceira onda surgiu com a conferência mundial sobre o meio ambiente de


2002, ocorrida em Johannesburg, também conhecida como Rio +10, essa sim
com um enfoque muito forte no desenvolvimento sustentável. Sendo que foi
nessa conferência que finalmente houve a integração das três dimensões da
sustentabilidade mais doutrinariamente consideradas: a ambiental, a social e a
econômica.

Entretanto, apesar de se reconhecer os avanços que propôs a Conferência, a


sensação foi de fracasso e indiferença, pois se acordaram diversas metas e
medidas, porém não se instauraram meios efetivos para controlar sua
implementação e eficácia, não se dando nenhum passo à institucionalização de
uma eficaz governança ambiental planetária, sentimento este que se estendeu
até a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente ocorrida no ano de 2012,
novamente na cidade do Rio de Janeiro, conhecida como Rio +20, tratada como
a quarta onda34.

A referida Conferência, última ocorrida, teve como objetivo reforçar o


compromisso político dos Estados em relação ao desenvolvimento sustentável,
identificando os progressos nos compromissos já firmados no âmbito da ONU,
assim como desafios emergentes ainda não trabalhados.35 Seu foco, conforme
explana Ricardo Stanziola Vieira36, ateve-se a dois temas centrais: “(...) a

33
O que aconteceu foi a grande reprodução das normas umas às outras, sem se considerar
qualquer realidade social, econômica, jurídica e ambiental sobre que se projetavam. Sobre o tema
ver: REAL FERRER, Gabriel. La construcción del Derecho Ambiental. Revista Aranzadi de
derecho ambiental, Pamplona – España, n. 1, 2002. p. 73-93.
34
REAL FERRER, Gabriel. Calidad de vida, medio ambiente, sostenibilidad y ciudadanía
¿Construimos juntos el futuro? Revista Eletrônica Novos Estudos Jurídicos. p. 318.
35
VIEIRA, Ricardo Stanziola. Rio+20 – conferência das nações unidas sobre meio ambiente e
desenvolvimento: contexto, principais temas e expectativas em relação ao novo “direito da
sustentabilidade”. Revista Eletrônica Novos Estudos Jurídicos, ISSN Eletrônico 2175-0491,
Itajaí, v. 17, n. 1, 1º quadrimestre de 2012. Disponível em:
<http://siaiweb06.univali.br/seer/index.php/nej/article/view/3638> p. 50.
36
VIEIRA, Ricardo Stanziola. Rio+20 – conferência das nações unidas sobre meio ambiente e
desenvolvimento: contexto, principais temas e expectativas em relação ao novo “direito da
sustentabilidade”. Revista Eletrônica Novos Estudos Jurídicos, p. 50.

499
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

transição para a economia verde e a governança global do desenvolvimento


sustentável.”

Destacando Paulo Cruz e Zenildo Bodnar37 que foram basicamente três as


propostas da conferência:

A primeira foi a de criar um novo organismo na ONU


específico para a área ambiental. A segunda foi de dar ao
PNUMA (Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente)
um novo status, igualando-o a organismos como a OMC
(Organização Mundial do Comércio). A terceira proposta foi a
de se promover a elevação do poder da Comissão de
Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Comenta Édis Milaré38 que o que aconteceu durante a Rio +20 foi que esta
enfrentou a frieza do cenário internacional, sendo que o principal elemento da
sua preparação foi o ceticismo da Cúpula dos Governos e, também, da Cúpula
dos Povos. O Brasil era mais uma vez o anfitrião da grande conferência mundial,
mas ainda possuía a condição de “emergente”, deixando visíveis as dificuldades
internas na preparação da Assembleia.

Desse modo, assim como a última Conferência, a sensação obtida após o término
desta foi de fracasso em termo de avanços visíveis.

De todo exposto salienta-se que já na segunda conferência mundial se iniciaram


as discussões sobre o princípio da sustentabilidade, tema primordial do presente
artigo científico, tendo em vista este ser o objetivo primordial de busca de
aplicabilidade. Portanto, importante é o destaque de considerações acerca de tal
princípio e suas dimensões.

Nos dizeres de Denise Schmitt Siqueira Garcia39, o termo sustentabilidade traz


diversas conotações e “[...] decorre do conceito de sustentação, o qual, por sua

37
CRUZ, Paulo Márcio; BODNAR, Zenildo; participação especial Gabriel Real Ferrer. Globalização,
transnacionalidade e sustentabilidade. - Dados eletrônicos. - Itajaí: UNIVALI, 2012. p. 169.
38
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 8. ed. São Paulo: RT, 2013. p. 1572.
39
GARCIA, Denise Schmitt Siqueira. A atividade portuária como garantidora do Princípio da
Sustentabilidade. Revista Direito Econômico Socioambiental, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 375-399,
jul./dez. 2012. p. 389.

500
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

vez, é aparentado à manutenção, conservação, permanência, continuidade e


assim por diante.”

Juarez Freitas40 conceitua o Princípio da Sustentabilidade como sendo um

[...] princípio constitucional que determina, com eficácia


direta e imediata, a responsabilidade do Estado e da
sociedade pela concretização direta e imediata, a
responsabilidade do Estado e da sociedade pela
concretização solidária do desenvolvimento material e
imaterial, socialmente inclusivo, durável e equânime,
ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito
de assegurar, preferencialmente de modo preventivo e
precavido, no presente e no futuro, o direito ao bem-estar.

Resumindo, o mesmo autor mais adiante em sua obra, trata que a


sustentabilidade suportaria, então, 10 elementos básicos: 1. É princípio
constitucional de aplicação direta e imediata; 2. Reclama por resultados justos e
não apenas efeitos jurídicos, ou seja, reclama por eficácia; 3. Em ligação à
eficácia demanda eficiência; 4. Tem como objetivo tornar o ambiente limpo; 5.
Pressupõe probidade nas relações públicas e privadas; 6. 7. 8. Implica
prevenção, precaução e solidariedade intergeracional; 9. Implica no
reconhecimento da responsabilidade solidária do Estado e da sociedade; e 10.
Todos os demais elementos devem convergir para ideia de garantir um bem-
estar duradouro e multidimensional.41

Correlaciona-se por este viés, também, os ditames de Ramón Martín Mateo42,


que tendo por base o Princípio da Sustentabilidade, considera que não se trata
de instaurar uma espécie de utopia, senão sobre bases pragmáticas, que fará
compatível o desenvolvimento econômico necessários para que nossos
congêneres e seus descendentes possam viver dignamente com o respeito de um
entorno biofísico adequado.

40
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012. p.
41.
41
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. p. 50.
42
MARTÍN MATEO, Ramón. Manual de derecho ambiental. 2. ed. Madrid: Editorial Trivium,
1998. p. 41.

501
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

Deve-se ainda ter em mente que, na realidade, a sustentabilidade é uma


dimensão ética, trata de uma questão existencial, pois é algo que busca garantir
a vida, não estando simplesmente relacionada à natureza, mas a toda uma
relação entre indivíduo e todo o ambiente a sua volta. “Há uma relação
complementar entre ambos. Aperfeiçoando o ambiente o homem aperfeiçoa a si
mesmo.”43

Sendo nesse sentido que também comenta Gabriel Real Ferrer44

Sin embargo, la Sostenibilidad es una noción positiva y


altamente proactiva que supone la introducción de los
cambios necesarios para que la sociedad planetaria,
constituida por la Humanidad, sea capaz de perpetuarse
indefinidamente en el tiempo.

Dito isto, deve-se considerar o caráter pluridimensional da Sustentabilidade,


conforme conceitua Juarez Freitas45, devendo aqui ser salientada a divergência
presente na doutrina quanto à quantidade de dimensões que suportam a
sustentabilidade, destacando-se, contudo, que majoritariamente considera-se a
existência de três dimensões, chamadas de tripé da Sustentabilidade, que
seriam: a dimensão ambiental, econômica e social.

Pela doutrina tradicional a sustentabilidade é tratada sob o viés destas três


dimensões, todas integralmente correlatas e dependentes para a construção real
da sustentabilidade. Porém, destaca-se a obra “Sustentabilidade: direito ao
futuro” de Juarez Freitas46, o qual vai além, trazendo a concepção de mais duas
dimensões, a compreender a ética e a jurídico-política, as quais, juntamente com

43
SOARES, Josemar; CRUZ, Paulo Márcio. Critério ético e sustentabilidade na sociedade pós-
moderna: impactos nas dimensões econômicas, transnacionais e jurídicas. Revista Eletrônica
Novos Estudos Jurídicos, ISSN Eletrônico 2175-0491, Itajaí, v. 17, n. 3, 3º quadrimestre de
2012. Disponível em: <http://siaiweb06.univali.br/seer/index.php/nej/article/view/4208> Acesso
em 11 de novembro de 2013. p. 412.
44
REAL FERRER, Gabriel. Sostenibilidad, Transnacionalidad y Trasformaciones del Derecho. In:
SOUZA, Maria Cláudia da Silva Antunes de; GARCIA, Denise Schmitt Siqueira (orgs.) Direito
ambiental, transnacionalidade e sustentabilidade. - Dados eletrônicos. - Itajaí: UNIVALI,
2013. Disponível em: <www.univali.br/ppcj/ebooks> p. 13.
45
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. p. 55.
46
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro.

502
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

as três dimensões tradicionais, se tornam altamente correlatas e possibilitam a


construção real da sustentabilidade.

Ademais, ainda salienta-se mais uma dimensão que aos poucos a doutrina está
passando a aceitar a existência, chamada pelos Professores Paulo Márcio Cruz,
Zenildo Bodnar e Gabriel Real Ferrer de dimensão tecnológica, a qual surge num
contexto de evolução do homem ante os avanços da globalização, conforme
destaca-se:

A sustentabilidade foi inicialmente construída a partir de


uma tríplice dimensão: ambiental, social e econômica. Na
atual sociedade do conhecimento é imprescindível que
também seja adicionada a dimensão tecnológica, pois é a
inteligência humana individual e coletiva acumulada e
multiplicada que poderá garantir um futuro sustentável. Na
perspectiva jurídica todas estas dimensões apresentam
identificação com a base de vários direitos humanos e
fundamentais (meio ambiente, desenvolvimento, direitos
prestacionais sociais, dentre outros), cada qual com as suas
peculiaridades e riscos.47

Tal dimensão, conforme comenta o Professor Gabriel Real Ferrer48 é a que


marcará as ações que possamos colocar em marchar para corrigir, se chegarmos
a tempo, o rumo atual marcado pela catástrofe. Sem contar que a técnica
também define e já definiu nossos modelos sociais, como a roda, as técnicas de
navegação, a máquina a vapor, a eletricidade, o automóvel e a televisão, e nesse
sentido, a internet, as nanotecnologias e o que se está por chegar também
definirá.

Feito este adendo, destaca-se algumas das características principais de cada


uma das dimensões, as tradicionalmente consideradas pela doutrina e as duas
mais trazidas por Juarez Freitas, para que, então, possa-se passar à análise do
foco principal do presente trabalho exposto no próximo item.

47
CRUZ, Paulo Márcio; BODNAR, Zenildo; participação especial Gabriel Real Ferrer. Globalização,
transnacionalidade e sustentabilidade. p. 112.
48
REAL FERRER, Gabriel. Calidad de vida, medio ambiente, sostenibilidad y ciudadanía
¿Construimos juntos el futuro? Revista Eletrônica Novos Estudos Jurídicos, p. 319.

503
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

A dimensão ambiental do Princípio da Sustentabilidade diz respeito à importância


da proteção do meio ambiente e do Direito Ambiental, tendo como finalidade
precípua garantir a sobrevivência do planeta através da preservação e melhora
dos elementos físicos e químicos que a fazem possível, considerando sempre o
alcance da melhor qualidade de vida do homem na terra.49

Ela prevê, basicamente, a consideração do direito das gerações atuais e futuras


ao ambiente limpo em todos os seus aspectos. Nesse aspecto essa dimensão
trata de abarcar, principalmente, as ideias de que não poderá haver qualidade de
vida e longevidade digna em um ambiente degradado ou no limite, não se
podendo ter, quiçá, a manutenção da vida humana, do que resulta o pensamento
de que ou se protege a qualidade ambiental ou não se terá futuro para a espécie
humana.

A dimensão econômica foca-se no desenvolvimento da economia com a


finalidade de gerar melhor qualidade de vida às pessoas. Ele passou a ser
considerada no contexto da sustentabilidade por dois motivos: 1. Não haveria a
possibilidade de retroceder nas conquistas econômicas de desenvolvimento
alcançadas pela sociedade mundial; e 2. O desenvolvimento econômico estaria
interligado com a dimensão social do Princípio da Sustentabilidade, pois ele é
necessário para a diminuição da pobreza alarmante.50

Ela evoca o sopesamento entre a eficiência e a equidade, o que leva ao


consequente sopesamento dos benefícios e custos diretos e indiretos
(externalidades) dos empreendimentos públicos e privados, estando tudo isso
intimamente ligado à ideia de medição das consequências a longo prazo. Desse
modo, a sustentabilidade geraria uma nova economia, visada à reformulação de
categorias e comportamentos que busquem o planejamento de longo prazo, a

49
GARCIA, Denise Schmitt Siqueira; GARCIA, Heloise Siqueira. Dimensão social do princípio da
sustentabilidade: uma análise do mínimo existencial ecológico. In: SOUZA, Maria Claudia da Silva
Antunes; GARCIA, Heloise Siqueira (org.) Lineamentos sobre sustentabilidade segundo
Gabriel Real Ferrer - Dados eletrônicos. - Itajaí : UNIVALI, 2014. Disponível em:
<www.univali.br/ppcj/ebooks>, p. 44.
50
GARCIA, Denise Schmitt Siqueira; GARCIA, Heloise Siqueira. Dimensão social do princípio da
sustentabilidade: uma análise do mínimo existencial ecológico. In: SOUZA, Maria Claudia da Silva
Antunes; GARCIA, Heloise Siqueira (org.) Lineamentos sobre sustentabilidade segundo
Gabriel Real Ferrer, p. 44.

504
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

ultrapassagem do culto excessivo dos bens posicionais e um sistema competente


de incentivos. 51

A dimensão social consiste no aspecto social relacionado às qualidades dos seres


humanos, sendo também conhecida como capital humano. Ela está baseada num
processo de melhoria na qualidade de vida da sociedade através da redução das
discrepâncias entre a opulência e a miséria com o nivelamento do padrão de
renda, o acesso à educação, à moradia, à alimentação. Estando, então,
intimamente ligada à garantia dos Direitos Sociais, previstos no artigo 6º da
Carta Política Nacional, e da Dignidade da Pessoa Humana, princípio basilar da
República Federativa do Brasil.52

Basicamente ela compreende o abrigo dos direitos fundamentais sociais,


trazendo a ideia de que não se admite um modelo de desenvolvimento
excludente e iníquo, lidando, deste modo, com a garantia da equidade intra e
intergeracional, com a criação de condições para a potencialização das
qualidades humanas através, principalmente, da garantia de educação de
qualidade; e com o desenvolvimento do garantismo à dignidade de todos os
seres presentes no planeta.

Considerando as dimensões trazidas por Juarez Freitas53 que ultrapassam as


tradicionalmente tratadas, acima explanadas, tem-se a dimensão ética, a qual
traz a ideia de que todos os seres possuem uma ligação intersubjetiva e natural,
da qual segue a concepção da solidariedade como dever universalizável. A
cooperação surgiria, então, como um dever evolutivo da espécie, favorável à
continuidade da vida no sistema ambiental, sua busca primordial seria o da
produção do bem-estar duradouro, com o reconhecimento da dignidade

51
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro, p. 65/67.
52
GARCIA, Denise Schmitt Siqueira; GARCIA, Heloise Siqueira. Dimensão social do princípio da
sustentabilidade: uma análise do mínimo existencial ecológico. In: SOUZA, Maria Claudia da Silva
Antunes; GARCIA, Heloise Siqueira (org.) Lineamentos sobre sustentabilidade segundo
Gabriel Real Ferrer, p. 44/45.
53
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro, p. 55/75.

505
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

intrínseca de todos os seres vivos, acima, assim, do antropocentrismo estrito,


criando uma ética universal concretizável.54

E por fim, a dimensão jurídico-política, a qual estabelece que a sustentabilidade


determina, independentemente de regulamentação, a tutela jurídica do direito ao
futuro, apresentando-se como dever constitucional. A sustentabilidade é vista
como princípio jurídico constitucional, imediata e diretamente vinculante, que
altera a visão global do Direito, para o qual todos os esforços devem convergir,
determinando a eficácia dos direitos fundamentais de todas as dimensões,
fazendo com que seja tido como desproporcional e antijurídica toda e qualquer
omissão causadora de injustos danos intra e intergeracionais.55

A partir da caracterização de cada uma dessas dimensões, deve-se sempre ter


em mente que todas elas estão intimamente entrelaçadas de modo a
proporcionar a visão da sustentabilidade como princípio-síntese que determina a
proteção da própria vida humana na Terra.

A corroborar com a ideia primordial apresentada por Juarez Freitas56 de que o


destino na espécie humana remanesce em suas próprias mãos, sendo, então, o
motivo principal para escolher a sustentabilidade antes de tudo como
oportunidade de assegurar para todas as gerações o direito fundamental ao
futuro.

3. A DEMOCRACIA PARTICIPATIVA COMO INSTRUMENTO DE ALCANCE


DO PRINCÍPIO DA SUSTENTABILIDADE

Após a breve apresentação acerca dos aspectos introdutórios relacionados à


democracia, compete caracterizar o modelo mais abrangente de participação
popular e, por consequência, um dos modelos mais democráticos de intervenção

54
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro, p. 60/64.
55
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro, p. 67/71.
56
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro.

506
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

direta dos cidadãos nas tomadas de decisões e exercício do poder do Estado: a


democracia participativa.

Para Norberto Bobbio57, a participação política pode se manifestar de diversas


formas, ao exemplo do ato do voto, a militância num determinado partido
político, a participação em manifestações, a discussão de acontecimentos
políticos e até mesmo a difusão de informação política, entre outros. Desta
forma, percebe-se que a participação ativa dos cidadãos está relacionada à
atuação proativa da sociedade, onde a coletividade tem acesso aos seus
representantes não somente durante o período de eleições, mas também tem a
possibilidade de ser ouvida antes mesmo da tomada de decisões.

De igual forma, Daniela de Lima58 apresenta-se como favorável ao entendimento


“que a verdadeira participação política deve ser entendida como uma atividade
permanente de atuação e debate das questões políticas, locais ou não, exercida
pelo cidadão [...]”, tratando de maneira relevante a atuação regular e periódica
do cidadão nas tomadas de decisões.

Com o advento da globalização e o crescimento acelerado pós Revolução


Industrial, Paulo Cruz59 afirma que as sociedades cada vez mais diversificadas
têm reduzido a relevância da democracia a um mero procedimento e,
consequentemente, o grande valor e importância inserido nesta possibilidade de
intervenção direta às tomadas de decisões estatais têm se perdido com o passar
dos tempos.

De modo geral, os Doutores Paulo Márcio Cruz e Zenildo Bodnar através da obra
“Globalização, Transnacionalidade e Sustentabilidade”60 apresentam a

57
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola. PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política.
Tradução por Carmen C. Varriale, Gaetano Lo Mônaco, et al. 13. ed. Brasília: Editora UnB, 2010.
p.888.
58
LIMA, Daniela de. Democracia e Estado no Século XXI: Debate sobre representação e
participação. Itajaí: UNIVALI, 2013. p. 83. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Ciência Jurídica da Univali, Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2013.
59
CRUZ, Paulo Márcio; BODNAR, Zenildo. Globalização, Transnacionalidade e
Sustentabilidade. p. 76.
60
LIMA, Daniela de. Democracia e Estado no Século XXI: Debate sobre representação e
participação. p. 83.

507
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

possibilidade de renovação desta concepção política no lugar de simplesmente


eliminá-la, bem como adaptá-la às necessidades atuais.

Em linhas gerais, o presente artigo tem como finalidade apresentar a democracia


participativa como instrumento de alcance e efetivação da sustentabilidade,
partindo do pressuposto do aperfeiçoamento do atual conceito de democracia
direta e sua adequação às temáticas atuais, possibilitando a construção de uma
cultura política fundamentada em princípios sustentáveis.

É sobremodo importante destacar que para Gabriel Real Ferrer e Paulo Cruz61 “A
Democracia Participativa pode representar um estágio mais avançado do
conceito de democracia. É a democracia como valor social e não apenas como
procedimento.”

Para desenvolver a caracterização da democracia participativa como pressuposto


à sustentabilidade, o caráter pluridimensional da Sustentabilidade será tratado
em conformidade à coexistência de suas dimensões principais e o englobamento
da dimensão ética trazida por Juarez Freitas, enfocando, deste modo, nesta
última, na dimensão social e na dimensão ambiental.

A conceituação apresentada por Juarez Freitas62 remonta à dimensão ética uma


conexão intrínseca com o princípio da Solidariedade trazendo como enfoque uma
preocupação caracterizada pelo “dever universalizável de deixar o legado positivo
na face da terra”.

Da mesma forma, o renomado jurista menciona que tal percepção ética habita
dentro de cada ser humano, “convindo que aqueles que possuem a maior
autoconsciência assumam a tarefa de, sem encolher os ombros, resguardar a

60
CRUZ, Paulo Márcio; BODNAR, Zenildo. Globalização, Transnacionalidade e
Sustentabilidade. p. 78.
61
REAL FERRER, Gabriel; CRUZ, Paulo Márcio. Os novos cenários transnacionais e a democracia
assimétrica. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito. P. 96-
111 Julho-Dezembro de 2010. Disponível em <http://www.rechtd.unisinos.br/pdf/94.pdf>
62
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. p. 60

508
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

integridade e nobreza de caráter, de sorte a não permitir dano injusto por ação
ou omissão”63.

Como claramente se vê, a tarefa a ser assumida por aqueles que têm a
possibilidade de agir por meio de suas inserções em processos de discussão com
o intuito o de efetivar sua participação democrática diretamente com a finalidade
de também agir em favor daqueles não apresentam as mesmas condições de
debate e participação.

Posto isso, a solidariedade é expressada como uma importante característica no


processo democrático. Na mesma linha de raciocínio, observa Paulo Freire64:

A Solidariedade Social de que precisamos para construir a


sociedade menos feia e menos arestosa, em que podemos
ser mais nós mesmos, tem na formação democrática uma
prática de real importância. A aprendizagem da assunção do
sujeito é incompatível com o treinamento pragmático ou
com o elitismo autoritário dos que se pensam donos da
verdade e do saber articulado.

Luiz Alberto Warat65 também é adepto a esta afirmação e ainda acrescenta:

É a solidariedade como forma de realização da cidadania,


transitando-se do ato de dar esmola, como resposta ao
individualismo possessivo (uma forma de altruísmo
hipócrita), aos atos de participação solidária; enfim de uma
modernidade de deveres absolutos ao início de um tempo de
sentimentos autogestionados, reciprocamente gestionados
no vínculo com o outro. É a cidadania como sentimento. É a
ética do sentimento e da sensibilidade que não se impõe,
não exige, e sim comove e motiva na comoção. É uma ética
que moraliza a partir da emoção e da sensibilidade.

Portanto, percebe-se que não há como dissociar solidariedade de cidadania,


consistindo a solidariedade num mecanismo para a configuração e efetivação da

63
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. p. 61
64
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 1996, p. 97
65
WARAT, Luis Alberto. O ofício do mediador. Vol. I. Florianópolis: Habitus, 2001, p. 197-198.

509
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

cidadania66, neste caso alcançada através da ativa cooperação para com o Estado
por meio da democracia participativa.

A dimensão social da Sustentabilidade está essencialmente ligada à dimensão


ética, tendo em vista aquela não cogitar a possibilidade de existência de uma
sociedade excludente ou que possa aceitar qualquer tipo de discriminação.
Portanto, considera-se de real importância a abrangência dos direitos
fundamentais sociais na dimensão da sustentabilidade67 os quais necessitam de
eficazes mecanismos que possam garantir sua eficiência e eficácia.

Atualmente, a questão da efetividade dos direitos humanos e fundamentais é


debatida copiosamente em razão de que são inúmeros os tratados, declarações e
até mesmo diversas constituições que apresentam direitos a serem resguardados
pelo próprio Estado. Todavia, a maneira de implementá-los nos ordenamentos
jurídicos internos de cada nação muitas vezes não é abordada pelos próprios
documentos.

Nasce, portanto, mais uma oportunidade da democracia participativa interferir na


consecução do alcance da Sustentabilidade. Dentro do ordenamento jurídico
brasileiro, a Constituição da República Federativa do Brasil traz o possibilidade de
apresentação de Iniciativa Popular como instrumento de democracia
participativa. O artigo 61, §2º da Constituição Republicana descreve a
possibilidade de apresentação de proposta de Lei por iniciativa popular, a qual
segue:

A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à


Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no
mínimo um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo
menos por cinco Estados, com não menos de três décimos
por cento dos eleitores de cada um deles.68

66
LIMA, Daniela de. Democracia e Estado no Século XXI: Debate sobre representação e
participação. p. 92.
67
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. p. 59

68
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro
de1988. Acesso em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Último
acesso em 01/10/2014.

510
GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

Por conseguinte, como delineado acima, a sociedade reunida com uma mesma
finalidade, atentando para os objetivos tanto de uma maioria como também de
uma determinada minoria, podem, por meio da iniciativa popular, instrumento de
democracia direta, alcançar a soberania popular.

Em suma, a sustentabilidade por meio de sua dimensão social pode incrementar


a equidade intra e intergeracional, potencializar as condições propícias de
florescimento das virtudes humanas, bem como pode apresentar uma sociedade
mais apta à sobrevivência humana com respeito à dignidade aos demais seres
vivos. 69

Da mesma forma, a inserção conceitual de justiça pode ser inserida com o


objetivo de que pode se considerar uma sociedade justa aquela que satisfaz as
necessidades humanas básicas. Logo, impera absoluta a conclusão de que a
justiça social pode ser compreendida como a satisfação de necessidades,
preocupação esta que está intrinsicamente conectada à conceituação de
70
sustentabilidade.

Nesse contexto percebe-se que a diminuição das igualdades econômicas e


sociais, um dos objetivos da dimensão social da sustentabilidade, está
relacionada à intensidade da participação política do cidadão.71

Nesse enquadramento de ideias das dimensões da sustentabilidade, compete


ressaltar a importância da dimensão ambiental ao presente estudo. Considerado
fruto de dimensões históricas e culturais, o meio ambiente, que nos moldes do
artigo 3º da Lei 6938/812972 é definido como o "conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga
e rege a vida em todas as suas formas".

69
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. p. 59
70
LENZI, Cristiano Luis. Democracia, justiça e cultura política da sustentabilidade.
Disponível em: <http://www.educacao.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-
etica/WEBARTIGOS/democracia,%20justica%20e%20cultura%20politica%20de%20sustentabilidad
e.pdf>. Último acesso em 01/10/2014.
71
LIMA, Daniela de. Democracia e Estado no Século XXI: Debate sobre representação e
participação. p. 83.
72
BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Brasília: Congresso Nacional, 1981. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>.

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GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

Nestes moldes, percebe-se que o Meio Ambiente consiste em ser tratado como
um direito humano fundamental, o qual caracteriza-se como direito de todos,
bem de uso comum do povo e indispensável à qualidade de vida saudável.73
Ademais, o voto do Relator Ministro Celso de Mello na ADIN 3.540/DF31 foi claro
no sentido de consagrar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
como direito fundamental, trazendo ao Estado e à coletividade a incumbência de
defendê-lo e preservá-lo em benefício das presentes e futuras gerações.74
Seguindo o raciocínio de Tiago Fensterseifer75, o Estado Socioambiental de
Direito ocasiona uma cidadania ambiental, a qual defende como característica o
protagonismo da sociedade civil na proteção do ambiente. Ademais,
correspondente ao exercício do Poder Público de amparo ecológico, com a
finalidade de que o direito fundamental em questão seja resguardado da melhor
maneira possível, é necessária a participação conjunta da sociedade civil.

Na mesma linha interpretativa o autor assevera:

Delimitado o papel central da democracia participativa no


estado Socioambiental de Direito, pontua-se que esta se
caracteriza por revitalizar e fortalecer o princípio
democrático, que, com acerto, destaca Bonavides integrar o
rol dos direitos fundamentais de quarta dimensão. Nas
questões ambientais, o processo democrático deve estar
sempre presente, tendo em vista a repercussão e a natureza
coletiva da degradação ambiental para todo o conjunto da
sociedade.76

Em vista disso, a democracia participativa deve ser respeitada como um


mecanismo de fortalecimento do princípio democrático o qual, em se tratar de

73
ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 19 –
20.
74
BONISSONI, Natammy L. de Aguiar; DANTAS, Marcelo B.; FERRER, Gabriel Real. O Processo de
internacionalização da proteção ambiental e dos direitos humanos. In: CRUZ, Paulo Márcio;
DANTAS, Marcelo Buzaglo Danta (Org.) Direito e transnacionalização. Itajaí: UNIVALI, 2013.
75
FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção ambiental – A dimensão
ecológica da dignidade humana no marco jurídico-constitucional do Estado Socioambiental de
Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2008. p. 12.
76
FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção ambiental – A dimensão
ecológica da dignidade humana no marco jurídico-constitucional do Estado Socioambiental de
Direito. p. 122.

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GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

Sustentabilidade deverá estar sempre presente tendo em vista as consequências


da deterioração do meio ambiente atingirem toda a coletividade.

Além desses fatos, compete salientar que o modelo de democracia participativa


não pressente tanto a participação direta no ato final de adoção de decisões
políticas, mas conjectura a participação mais efetiva nos processos de decisão
que posteriormente levam às decisões definitivas. Deste modo, a Democracia
Participativa supõe, de uma parte, uma limitação do poder das organizações com
incidência nas decisões políticas, e de outra parte, uma extensão dos direitos dos
membros dessas organizações ou, se for o caso, do conjunto dos cidadãos,
77
expressa em oportunidades de voz e garantias ao gozo de tais oportunidades.

Por tudo isso, a sustentabilidade deve ser vista como um conceito relacionado a
construção do futuro e a sua proteção em favor das futuras gerações. Tal fator
indica a urgência de reformulação dos valores políticos atuais em razão do
surgimento de novos ambientes transnacionais precisam ser supridos de maneira
adequada às atuais demandas por participação.78

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por base de estudos da Teoria Política e da Filosofia, pode-se considerar a


democracia, numa classificação tripartida clássica, como a forma de governo em
que o povo, a coletividade, os cidadãos, é que possuem a titularidade do poder,
caracterizando, nos tempos contemporâneos, apesar da possibilidade de
percepção de suas diversas variações, pela necessária estreita relação entre
Estado e Sociedade, através de vários mecanismos democráticos.

77
LIMA, Daniela de. Democracia e Estado no Século XXI: Debate sobre representação e
participação. p. 83.
77
CRUZ, Paulo Márcio; BODNAR, Zenildo. Globalização, Transnacionalidade e
Sustentabilidade. p. 92.
78
LIMA, Daniela de. Democracia e Estado no Século XXI: Debate sobre representação e
participação. p. 83.
78
CRUZ, Paulo Márcio; BODNAR, Zenildo. Globalização, Transnacionalidade e
Sustentabilidade. p. 75.

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GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

Transportando-se do avanço da concepção teórica política da democracia e


adentrando-se no Direito Ambiental, tem-se a consideração que este admite seu
estudo a partir de vários enfoques, sendo que considerando o progresso
cronológico e impulso político utilizou-se no presente trabalho as considerações
estudadas pelo Professor Dr. Gabriel Real Ferrer, que separa o progresso
cronológico em “ondas” em relação às grandes Conferências Mundiais sobre o
Meio Ambiente. As quais, seguindo esta linha doutrinária, apresentam-se em
quatro grandes momentos do cenário ambiental mundial: Primeira Conferência
Mundial sobre Meio Ambiente, ocorrida em 1972 em Estocolmo; Segunda
Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, ocorrida em 1992, sediada na cidade
do Rio de Janeiro; Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente de 2002, ocorrida
em Johannesburg, também conhecida como Rio +10; e Conferência Mundial
sobre o Meio Ambiente, ocorrida no ano de 2012, novamente na cidade do Rio de
Janeiro, conhecida como Rio +20.

As discussões nesse âmbito a respeito do Princípio da Sustentabilidade, tema


primordial do presente artigo científico, tendo em vista este ser o objetivo
principal de busca de aplicabilidade, iniciaram-se, então, na segunda conferência
mundial e vêm se desenrolando até o presente momento.

A Sustentabilidade numa visão geral, concatenando as ideias conceituais dos


principais doutrinadores da área trabalhados no presente artigo, possui, em
realidade, uma concepção acima de tudo ética, que trata de uma questão
existencial, pois é algo que busca garantir a vida, não estando simplesmente
relacionada à natureza, mas a toda uma relação entre indivíduo e todo o
ambiente a sua volta.

Tal Princípio, de abrangência indiscutível, deve ser sempre considerado de


caráter pluridimensional, ou seja, que comporta diversas dimensões diretamente
interligadas que a eles estão correlacionadas. Conforme apresentado, há
divergência doutrinária quanto à quantidade de dimensões que suportam a
sustentabilidade, destacando-se, contudo, que majoritariamente considera-se a
existência de três dimensões, chamadas de tripé da Sustentabilidade, que
seriam: a dimensão ambiental, econômica e social. Porém, destaca-se que o

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GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

doutrinador Juarez Freitas vai além, trazendo a concepção de mais duas


dimensões, a compreender a ética e a jurídico-política. Ademais, ainda salienta-
se mais uma dimensão que aos poucos a doutrina está passando a aceitar a
existência, chamada pelos Professores Paulo Márcio Cruz, Zenildo Bodnar e
Gabriel Real Ferrer de dimensão tecnológica, a qual surge num contexto de
evolução do homem ante os avanços da globalização.

A partir da caracterização de cada uma dessas dimensões, deve-se sempre ter


em mente que todas elas estão intimamente entrelaçadas de modo a
proporcionar a visão da sustentabilidade como princípio-síntese que determina a
proteção da própria vida humana na Terra.

Relacionando, então, os aspectos introdutórios referentes à democracia,


necessária foi a caracterização do modelo mais abrangente de participação
popular, e, consequentemente, mais democrático, de intervenção direta dos
cidadãos nas tomadas de decisões e exercício do poder do Estado, que é a
democracia participativa, também enfoque principal do presente estudo, que se
relacionará com o acima apresentado.

A participação ativa dos cidadãos está relacionada à atuação proativa da


sociedade, onde a coletividade tem acesso aos seus representantes não somente
durante o período de eleições, mas também tem a possibilidade de ser ouvida
antes mesmo da tomada de decisões. Paulo Cruz afirma que as sociedades cada
vez mais diversificadas têm reduzido a relevância da democracia a um mero
procedimento e, consequentemente, o grande valor e importância inserido nesta
possibilidade de intervenção direta às tomadas de decisões estatais têm se
perdido com o passar dos tempos.

Conforme este mesmo doutrinador em estudo conjunto com Gabriel Real Ferrer,
a democracia participativa estaria representando um estágio mais avançado do
conceito de democracia, colocando-a como valor social e não apenas como
procedimento.

O presente artigo teve como finalidade apresentar a democracia participativa


como instrumento de alcance e efetivação da sustentabilidade, partindo do

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GARCIA, Heloise Siqueira; BONISSONI, Natammy Luana de Aguiar. A democracia participativa
como instrumento de alcance do princípio da sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.10, n.1, edição
especial de 2015. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791.

pressuposto do aperfeiçoamento do atual conceito de democracia direta e sua


adequação às temáticas atuais, possibilitando a construção de uma cultura
política fundamentada em princípios sustentáveis.

Em vista disso, a democracia participativa deve ser respeitada como um


mecanismo de fortalecimento do princípio democrático o qual, em se tratar de
Sustentabilidade deverá estar sempre presente tendo em vista as consequências
da deterioração do meio ambiente atingir toda a coletividade. Por tudo isso, a
sustentabilidade deve ser vista como um conceito relacionado à construção do
futuro e à sua proteção em favor das futuras gerações. Tal fator indica a
urgência de reformulação dos valores políticos atuais em razão do surgimento de
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WARAT, Luis Alberto. O ofício do mediador. Vol. I. Florianópolis: Habitus,


2001.

Submetido em: Outubro/2014

Aprovado em: Outubro/2014

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