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ANGELA PRYSTHON
Edição de texto: Schneider Carpeggiani _ Edição de arte: Jaíne Cintra
www.cesarea.com.br
Recife, 2014
ANGELA PRYSTHON
UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
ENSAIOS SOBRE CULTURA POP E CINEMA
1a edição
recife
2014
SUMÁRIO
NOTA DO ORGANIZADOR - 4
NOSTALGIA
MÚSICA
FRIVOLIDADE
SIMULACRO
CINEMA
Angela,
Ao receber esse seu Utopias da Frivolidade fiquei contente de ler textos
seus que não conhecia ou não lembrava e reler outros que conhecia. Ven-
do-os reunidos pela sensibilidade de André Antônio me fez pensar que há
tempos que deveria ter feito uma reunião de seus trabalhos. Mas enfim tudo
tem seu tempo...
Começo a ler e fico com vontade ouvir The Cure. Há muito não ouço e os
fios se desdobram para além dos textos. Fios que me levam ao congresso da
Brazilian Studies Society Association (BRAZA), em Recife, em 2000, do qual
não me lembro de muita coisa, mas me lembro de nosso encontro. Então,
nós dois, havíamos começado a dar aulas na universidade há pouco tem-
po, você, na Universidade Federal de Pernambuco, e eu, na Universidade de
Brasília. Encontro anunciado, menos pela formação comum em literatura e
por trabalhar em escolas de comunicação, como vários colegas então, mas
sobretudo pela aproximação com os estudos culturais que para você (como
para mim) foi menos uma cartilha do que um espaço de liberdade para po-
der pensar e transitar pelos desafios do contemporâneo.
Nos quase quinze anos (me surpreendo!) que se seguiram, mantivemos
uma amizade, com os intervalos comuns dos que não moram na mesma ci-
dade. Amizade nutrida não necessariamente pelos objetos que estudávamos
e mais por um certo olhar. As referências iniciais vindas de um formação em
literatura e em estudos culturais resultaram em seu livro Cosmopolitismos
Periféricos (2002) e te levaram a um trânsito fecundo entre linguagens, pro-
dutos culturais e obras artísticas em que a quebra de hierarquias entre cul-
tura erudita, cultura popular e cultura massiva, defendida por Canclini, se
traduziu concretamente como pode ser visto neste seu livro. Sem populis-
mo paternalista nem perder um olhar estético, a cultura midiática foi ponto
de partida para uma política do pequeno, do frívolo.
Não há uma tese, o que não quer dizer que não haja diálogos entre os
textos de natureza dispersa aqui reunidos, desde os mais acadêmicos até
notas, fragmentos, intervenções, sobretudo ensaios que se pretendem me-
nos avaliar e mais ressaltar e acompanhar o que te fascina. São cartografias
mais do que análises, são sugestões e convites à leitura mais do que críticas
detalhadas.
Ao contrário dos diagnósticos que viam no cenário, uma vez chamado pós-
-moderno, um uso conservador do afeto, como os de Jameson e Grossberg,
sua aposta foi de outra ordem, mais acolhedora mas não menos crítica para
as possibilidades pelas quais a cultura midiática se transformou em coti-
10 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
Denilson
Rio de Janeiro, 25 de agosto de 2014.
NOSTALGIA
14 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
“Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo ‘como ele de fato foi’. Signifi-
ca apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”.
Walter Benjamin, Teses sobre a história.
Com suas raízes gregas – nostos, significando “retorno ao lar” e algos, significando “dor” – essa
palavra nos soa tão familiar que podemos esquecer que ela é relativamente nova. Foi cunhada
em 1688 por um estudante suíço de 19 anos em sua dissertação médica como uma sofisticada
(ou talvez pedante) forma de falar sobre um tipo literalmente mortal de saudade grave (de mer-
cenários suíços distantes de suas habitações montanhosas) (HUTCHEON, 1998).
Utopia é aquilo que não é, aquilo que não está em lugar nenhum, ou, melhor dizendo, aquilo
que pertence exclusivamente à ordem da narrativa; utopia é a narração da utopia, um gênero
que se debate em forma permanente contra e a favor de suas próprias impossibilidades
(CORDIVIOLA, 2001, p. 5).
Podemos traçar o início das biografias nos anos 70, com o filme sobre Buddy
Holly, The Buddy Holly Story (Steve Rash, 1978). Nele, não apenas os anos
50 são evocados com precisão, como também é sublinhada a noção de que
o rock’n’roll funcionava nos seus primórdios como uma ameaça à socieda-
de tradicional. E se nesse filme, ao contrário da maioria das cinebiografias
sobre mortes precoces de músicos, o protagonista parece de certa maneira
discreto e centrado, ainda assim são reforçadas as imagens de subversão,
20 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
Todo mundo torceu o nariz. Bem, eu o fiz, e deveria ter me dado conta antes. Certamente Sid
and Nancy melhorou com o tempo, ou talvez seja apenas agora que podemos tirar fora os pro-
blemas do gênero cinebiografia para destilar a essência do que está sendo oferecido aqui: um
encapsulamento do caos jubiloso que o Punk britânico revelou; uma investigação sobre como
humor negro se transforma em negra autodestruição; uma história de amor no mais velho dos
sentidos – tão arquetípica e desgraçada como Romeu e Julieta (SAVAGE).
Pode-se ver, portanto, em Sid and Nancy, uma espécie de calvário inverti-
do, uma versão pós-moderna de santidade, tendo o niilismo como dogma, a
sarjeta como cenário e nenhum tipo de redenção.
O grande sucesso rock-biográfico viria acontecer em 1991 com o filme de
Oliver Stone sobre Jim Morrison e sua banda, The Doors. O filme foi relativa-
mente bem recebido pela crítica e teve boa bilheteria, sendo uma das con-
sequências mais importantes do seu sucesso o impulso nas vendas tanto da
trilha sonora, como do trabalho original do grupo The Doors. Portanto, um
dos motivos da relevância das biografias no mundo do rock talvez seja pre-
cisamente a capacidade de motivar revivals e reanimar as vendas de grupos
e músicos um tanto esquecidos. Mas o caso de The Doors também chama a
atenção para as proporções religiosas que o revival do mito Jim Morrison al-
ANGELA PRYSTHON 21
… precisamos voltar ao Lesser Free Trade Hall no verão de 1976 e àperformance do Electric
Circus em 9 de dezembro, na qual Curtis conheceu Hook e Sumner. Curtis era obcecado com Bo-
wie, Lou Reed e Iggy Pop, mas sentia que os Sex Pistols representavam o comum se tornando
incomum, e que ele tinha todo o direito, dada a oportunidade, de figurar ao lado dos seus heróis
pessoais (INGLIS, 2006, p. 104).
ANGELA PRYSTHON 23
No show, que é encenado nos dois filmes, além da atração principal, estavam
presentes na plateia vários personagens da música britânica, dos Buzzcocks
a Mick Hucknall (Simply Red), de Morrissey (The Smiths) aos membros do
Joy Division. Em 24 HPP, o protagonista vai comentar diretamente sobre a
cena ressaltando o seu caráter histórico, operando como um coro (enfatica-
mente anárquico) que vaticina sobre os destinos dos demais personagens
em cena:
Wilson fica sério (mesmo que nós não) quando compara a minúscula audiência no concerto
dos Sex Pistols aos trezes à mesa na Última Ceia, e proclama que o compositor punk Ian Curtis é
o maior poeta desde Yeats, acrescentando que Yeats era o maior poeta desde Dante. O filme evi-
ta qualquer tipo de moralismo embora ele pareça acreditar na boa fé. Embora evite o sentimen-
talismo, ele pode ser sutilmente afetivo (FRENCH, 2002).
Não um Cultural Studies For Beginners, o roteiro costura semiótica com pós-modernismo, situa-
cionismo com neoliberalismo, para expor uma explosão (pós) industrial de ideias e insights (…)
De maneira mais significativa, o filme é baseado e fundado nos trabalhos
da memória popular (2005, p. 139).
cla a estética gótica dos vídeos da década de 80 (que pode ser exemplificada
no vídeo que Corbjin realizou em 1988 para “Atmosphere”) com o tom dos
kitchen sink drama e angry young men do cinema inglês dos anos 50 e 60.
Entre a nostalgia irônica de um e a nostalgia melancólica de outro, entre o
projeto crítico (coletivo e anárquico) de 24 HPP e a trajetória suicida (indivi-
dual e lírica) de Control há evidentemente muitas diferenças, porém ambos
compartilham o afeto e admiração por sons, sujeitos, espaços e imagens da
cultura popular britânica recente. Curtis (e os demais personagens que se
repetem nos dois filmes), Manchester, seus subúrbios e sua música são os
fios de dois tecidos históricos distintos. Em ambos, contudo, são dispostos e
articulados os sinais e os vestígios de um relevante episódio da hagiografia
pós-moderna não apenas como peças de um relicário esvaziado de senti-
do, mas como centelhas que dão uma dimensão de profundidade à própria
ideia de memória.
28 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
DERIVAS DO OLHAR
Por mais que se mexa, corra, agite, a situação em que está extravasa, de todos os lados, suas ca-
pacidades motoras, e lhe faz ver e ouvir o que não é mais passível, em princípio, de uma respos-
ta ou ação. Ele registra, mais que reage. Está entregue a uma visão, perseguido por ela ou perse-
guindo-a, mais que engajado em uma ação (DELEUZE, 1990, p. 11).
Por isso, resulta ainda mais elucidativo ver En la ciudad de Sylvia acompa-
nhado de Algunas fotos em la ciudad de Sylvia, coleção de stills mudos que
podemos considerar como uma espécie de esboço para o filme, na qual fica
bastante evidente essa entrega à imagem do protagonista.
O filme nos impele, assim, a olhar para o mundo (e para as mulheres,
pois nesse universo o corpo masculino é quase irrelevante) languidamente,
como que empreendendo uma cruzada contra a rapidez nervosa do presen-
te, como que se opondo enfaticamente a grande parte do cinema mainstream
contemporâneo, esta parte que não nos deixa tempo para a contemplação
30 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
com sua montagem frenética, seu frenesi narrativo, sua urgência discursi-
va. Apenas essa languidez poderia dar conta do seu incurável e contagioso
romantismo, somente a delicadeza contemplativa desse olhar é capaz de
revelar os preciosos, raros, frágeis e breves instantes de beleza do banal, do
ordinário.
Sylvia e outros filmes de Guerín reafirmam a vocação viajante do cinema
e a ideia de trânsito sugerida pelo próprio ato de filmar, manifestam o dese-
jo benjaminiano de flanêrie (Cf. BENJAMIN, 1989). “Ele” faz botânica no as-
falto registrando, como os viajantes naturalistas do século XVII guardavam
cuidadosamente flores e folhas nos seus herbários, os rostos e gestos das
moças dos cafés e das paradas de bonde no seu caderno de desenhos. Os
flâneurs de Guerín perambulam pela cidade com os olhos atentos ao deta-
lhe, especialmente aos detalhes dos corpos humanos. A cidade (como uma
espécie de entidade universal, já que Guerín parece afirmar desde sempre
uma abolição de qualquer localismo), então, se abre como um baú, uma po-
tência itinerante de memorabilia, de souvenirs, de ruínas e vestígios para os
colecionadores de aparições, de arrebatamentos, de amores à última vista.
Não é somente na ficção – embora a distinção não nos pareça de grande
relevância na sua obra – que Guerín apresenta suas coleções de aparições e
arrebatamentos que se encontram no cinema, nas memórias e nas cidades.
Os documentários, naturalmente, estabelecem de modo mais sistemático os
elos com a materialidade urbana. En construcción (2001) (que junto com Los
motivos de Berta (1983) foram os únicos de seus longas realizados na Espa-
nha) mostra exatamente as transformações pelas quais passou a região do
Raval, bairro no centro de Barcelona, conhecido popularmente como Barri
Xino. Seu subtítulo, “Cosas vistas y oídas durante la construcción de un nue-
vo inmueble en ‘el Chino’, un barrio popular de Barcelona que “nace y mue-
re con el siglo”, já fornece indicações de possivelmente seja seu filme mais
“sociológico”, mas o seu modo de composição tem pouco de programático
ou convencionalmente político: embora seja também um comentário críti-
co sobre a gentrificação de Barcelona, sua principal preocupação continua
sendo o cinema, dizendo melhor, a materialidade imagética que o cinema
confere ao mundo, assim que seu modo de empreender essa crítica vai ser
permeado por suas referências cinematográficas de sempre: Lumière, Hi-
tchcock, Hawks (Land of the Pharaohs aparecendo como uma citação direta
na tela da TV de um dos moradores dos velhos sobrados do bairro), entre
vários outros são novamente convocados para ajudar a compor os quadros
que dão forma à história de resistência que conta En construcción, como são
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As cidades mundiais são sítios nos quais encontramos a justaposição de ricos e pobres, a nova
classe média de profissionais liberais e os sem-teto, e uma variedade de outras identificações ét-
nicas, de classe e tradicionais, como também pessoas do centro e da periferia que são colocadas
dentro de uma mesma localização especial. (FEATHERSTONE, 1995, 118).
Belligerent ghouls
Run Manchester schools
Spineless swines
Cemented minds 2
NOTAS
1 - “Lesley-Anne, com seu bonito colar de bolinhas brancas/ Oh, John, você
nunca será um homem/ E você nunca verá sua casa novamente/ Oh, Man-
chester, tanto para dar conta”.
De acordo com aqueles que estiveram lá, Seattle era um lugar bem isolado culturalmente. As
grandes bandas sequer incluíam Seattle nas turnês americanas da Costa Oeste, e a cena local
estava repleta bandas derivativas que faziam o máximo para soar como outras. Não era um am-
biente que anunciasse uma explosão de vitalidade musical original. Ainda assim, o ambiente pa-
rece ser um conceito-chave para explicar a década de 1985-1995 (HOWITT).
O outro grupo mais proeminente do mangue beat, o mundo livre s/a, embo-
ra ritmicamente mais convencional que o Nação Zumbi, reunindo algumas
características do samba e do rock, procura explicitar a posição da periferia
em relação ao mundo globalizado. Recife continua sendo referência impor-
tante como perspectiva periférica:
CONVERGÊNCIAS PERIFÉRICAS
Uma mulher limpa o que parece ser o balcão de um bar. Dois marinheiros ca-
minham na rua em frente. Um terceiro marinheiro acaba de selecionar uma
canção no jukebox. “I may not always love you”... A sequência, que aparece
mais ou menos na metade de Nénette et Boni (1996), mostra os personagens
da mulher do padeiro (Valeria Bruni-Tedeschi) e seu marido (Vincent Gallo)
num flashback ou numa fantasia (o filme não deixa claro) de Boni (Grégoire
Colin), um dos protagonistas. A cena não tem propriamente uma função nar-
rativa (até porque esta é quase sempre elusiva, não só neste filme, mas em
todos os outros da diretora), mas se trata de um momento emblemático na
constituição do estilo de Claire Denis, sua obstinada e sedutora tapeçaria de
sons e imagens. Em Nénette et Boni, a canção dos Beach Boys (God only kno-
ws), as alusões a Pagnol e Jacques Demy (Lola, sobretudo), as maneiras em
como tais detalhes são postos em cena e as sobreposições de tais elementos
demonstram exemplarmente esse entrelaçamento entre som e imagem.
Nénette et Boni também marca o início da colaboração entre Denis e a
banda inglesa Tindersticks (que iria se repetir em Trouble Every Day (2001),
Vendredi Soir (2002), L’intrus (2004), 35 Rhums (2008) e White Material
(2010). Denis sempre realçou a criação de paisagens sonoras muito fortes
que, mais que complementar as imagens, servem como base de um traço
quase paradoxal da sua obra: o uso de artifícios sonoros, especialmente mú-
sica, não para metamorfosear ou fugir do real, mas, ao contrário, para acen-
tuá-lo, para torná-lo mais pleno de afeto. Como numa outra cena do filme,
na qual vemos a transição entre as fantasias e o encontro real de Boni com
a mulher do padeiro. A canção dos Tindersticks pontua um dos momentos
chave onde percebemos claramente como Boni se dá conta da melancolia
do seu desejo, instante em que irrompe a sensação de irrealização, da in-
completude, da vulnerabilidade frente ao cotidiano, diante do real.
As relações entre música, imagens e afetos vão ser igualmente centrais
em Vendredi Soir, desde as canções incidentais no rádio do carro de Laure
(Valérie Lemercier) ou com os Tindersticks novamente fornecendo climas e
ambiências sonoras que sublinham o trabalho de câmera de Agnes Godard,
outra colaboradora importante de Denis, que pontuam as sensações urba-
nas do trânsito engarrafado de Paris em greve de transportes públicos e ao
mesmo tempo imprimindo uma furtiva sensação de leveza, de movimento,
48 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
Oscilando entre esses dois modos e suas mais diversas nuances, vemos
as musas contemporâneas desfilarem pelas passarelas, pelo cinema, pela
televisão, pelas revistas semanais ilustradas com seus corpos modificados.
Em algumas prevalece a imagem anoréxica, outras optam pela opulência
travesti. Várias combinam a magreza semi-esquelética com lábios carnu-
dos, amplos decotes, escovas japonesas e mínimas saias. Todas efetuando
escolhas muito deliberadas na procura da beleza e da juventude.
Enquanto isso, as feministas seguem empenhadas em denunciar os espar-
tilhos imaginários da indústria cultural. Os moralistas continuam a sua cru-
zada contra a nudez midiática. Os nacionalistas reclamam da importação de
padrões exógenos de beleza, da ditadura da Barbie; acusam a mídia e as di-
vas midiáticas de terem esquecido da morenice brasileira, das fartas ancas
mestiças em prol de bustos “turbinados” por silicone, dos negros e crespos
cabelos em troca de lisas madeixas em cadeia nacional. Poucos se dando con-
ta que ao manejar os novos (e também os velhos) instrumentos da sedução,
as reais e fictícias Gisele Bündchen, Luma de Oliveira, Juliana Paes, Danielle
Winits, as jovens atrizes de Malhação, as VJs da MTV, personagens de nove-
la interpretados por Deborah Secco ou Taís Araújo ou a mulata Globeleza
entre muitas outras, não estão propriamente negando os ideais libertários
dos anos 60 (de formas muito diversas das tradicionais elas até os reafir-
mam), ou recuando léguas no que diz respeito às conquistas mais básicas
das mulheres nos últimos séculos. Mesmo mantendo alguns preconceitos e
mitos a respeito do sexo feminino, as mulheres midiáticas do século XXI são
a prova viva de que é cada vez mais fácil manipular, moldar seus corpos –
de acordo, sim, com os padrões ditados pela moda, mas também de acordo
com suas próprias vontades.
NOTAS
4 - “Sou uma garota Barbie, num mundo Barbie/ Vida em plástico, é fantásti-
ca/Você pode escovar meu cabelo, me despir em qualquer lugar/ Imaginação,
é a sua criação”.
custos de produção do entretenimento são altos, e assim como as outras indústrias criativas e
culturais, ele almeja a maximização da audiência e a redução dos custos unitários. A “ideologia”
de tal regime é que esses imperativos meramente suprem as demandas do consumidor: a forma
de entretenimento reflete o que se quer. Enquanto ardorosos esforços são indubitavelmente fei-
tos para manter os produtos do entretenimento simultaneamente novos e atraentes, é também
o caso de reconhecer que tais produtos são organizados em torno a um modo industrial de pro-
dução, tipicamente comunicação de “massa” de um conteúdo padronizado para um consumi-
dor que tem pouca influência nela. Consequentemente, o entretenimento não é tanto uma eva-
são das preocupações cotidianas do capitalismo, mas uma expressão altamente avançada delas
(HARTLEY, 2002, p. 83).
Falarei principalmente da música disco, mas há dois pontos preliminares que gostaria de lan-
çar. O primeiro é que disco é mais do que uma forma musical, embora certamente a música es-
teja no seu cerne. Disco também se refere a tipos de dança, clubes, moda, filmes – numa palavra,
uma certa sensibilidade, manifesta na música, nos clubes, e assim por diante, histórica e cultu-
ralmente específica, econômica, tecnológica, ideológica e esteticamente determinada – e que
precisa ser pensada (2002, p. 151).
Mas o que exatamente Richard Dyer quer dizer com o termo “entreteni-
mento”? O que pode definir uma área tão difusa, tão ampla e tão transitória?
Será que é sua proposta delinear o entretenimento como “área de conheci-
mento” ou pelo menos como o cerne da cultura midiática contemporânea?
A minha hipótese é que Dyer, ao longo das últimas três décadas, tenta exa-
tamente aprofundar essas questões de modo exploratório, sem tantas pre-
tensões conclusivas ou metodológicas num sentido estrito, mas buscando
apresentar simultaneamente um mapeamento panorâmico e especifico do
campo do entretenimento. Panorâmico porque seu escopo é historicamente
extenso (compreende desde os primórdios do entretenimento no início do
século XX até o interesse na investigação sobre o pastiche do início do sécu-
lo XXI), seus objetos são extremamente variados – como já frisamos acima,
seus interesses compreendem estrelas do mainstream cinematográfico e
pornografia gay, a evolução de determinados gêneros e subgêneros do cine-
ma popular, e a confluência entre formas culturais e sociedade, e seus apor-
tes também se alimentam de tradições distintas (teoria literária, semiologia
e marxismo, entre outros). E específico porque realçando e aprofundando-
-se explícita e principalmente nas questões relativas ao cinema de alcance
popular. No presente ensaio, todavia, vou me concentrar em quatro livros
– todos reeditados e atualizados primorosamente pela Routledge, além de
fartamente ilustrados, o que é bem importante para as pesquisas de audio-
ANGELA PRYSTHON 59
Que significados Monroe tem e pode carregar hoje em dia teriam que ser abordados através
dos discursos que tem sido construídos nesses vinte anos transcorridos desde sua morte. Por
que ela é capaz de articulá-los é por sua vez uma questão interessante. Talvez seja porque ela
pode representar um talismã para aquilo que rejeitamos, para o preço que as pessoas tiveram
que pagar por viver no regime dos discursos sexuais doa anos 50. Ela exalta a nossa impressão
de sermos tão avançados. Mas talvez também não estejamos assim tão longe dos anos 50 como
gostaríamos de pensar – noções de sexualidade natural, de repressão, da inefabilidade da sexu-
alidade feminina, da sexualidade como chave da verdade e da felicidade humanas, essas não são
noções que abandonamos. Enquanto a sexualidade continue sendo privilegiado do modo que
tem sido, Monroe será uma afirmação daquele princípio ao mesmo tempo que testemunha do
preço que temos que pagar por isto (2004, p. 62-63).
Pela escravidão e imperialismo, os negros são o grupo social mais claramente identificado e ex-
plorado pelo seu trabalho corporal. Os negros desse modo se tornaram as reminiscências mais
marcantes de que o corpo humano é trabalho numa sociedade ocupadíssima em negá-lo. As re-
64 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
presentações dos negros então funcionam como o lugar de lembrar e negar a inescapabilidade
do corpo na economia. (2004, p. 135).
Olhar para, escutar Garland pode nos remeter a como os gays masculinos viveram sua expe-
riência e situação, como eles as perceberam. Temos uma vaga noção a partir do intangível e do
inefável – o calor da voz, a estranheza do humor, o vigor mordaz da postura – mas eles signifi-
cam muito porque tornaram expressivo o que foi ser gay nessa metade de século. (2004, p. 191).
NOTAS
6- http://www.kcl.ac.uk/schools/humanities/depts/film/staff/dyer.html
7- Há algumas análises pontuais de Marlene Dietrich, Marilyn Monroe, Mar-
lon Brando, Barbra Streisand, Robert Redford, John Wayne, entre outros.
Contudo, o livro foi publicado pela primeira vez em 1980 e assim é Jane Fonda
que ocupa um lugar central no estudo, tendo capítulo completo devotado ao
seu significado histórico, ideológico e estético, desde o seu passado bombshell,
passando por comparações com os outros atores da família Fonda até chegar
ao seu ativismo político a partir do final dos anos 60.
8 - Cross-over pode significar também passagem, interseção, encruzilhada.
9 - Tongue-in-cheek é um expressão idiomática que significa “com ironia”, “de
brincadeira”.
68 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
ele Cinderela em Paris, embora possamos ver em vários dos musicais mais
emblemáticos da história essa articulação: A roda da fortuna, Cantando na
Chuva, Sete noivas para sete irmãos, etc); e, finalmente, aqueles que dissol-
vem as fronteiras entre narrativa e números, “indicando, pois, que o mundo
da narrativa já é também utópico” (DYER, 2002, p. 28).
O fim de Duas Garotas Românticas. Estúpido, devastado, emoção definitiva. Uma emoção tão
forte que tudo que eu sempre pensei – e escrevi – sobre Demy continua verdadeiro. Um cine-
asta difícil, não completamente sentimental, mórbido e alegre. Só uma “idéia”. Melancolia não
é nostalgia. O mundo de Demy (o meu também, suponho) é melancolia instantânea. Não há
mundo perdido, nenhum ideal que se foi, nenhum estado prévio pelo qual nos lamentamos.
Pela simples razão (perversion oblige) que não queremos saber nada desse mundo “do qual vie-
mos” (mais aliança do que parentesco, etc). Melancolia é instantânea como uma sombra. Coi-
sas se tornam melancólicas imediatamente, graças à música e à música do diálogo. (DANEY,
1989/2009).
Produção de filmes: desde Lola, a trama é auto-referencial e é dada como algo que se re-produz.
Logo não será mais que um jogo (Os Guarda-chuvas do amor, Duas garotas românticas) instau-
rar um circuito fechado de referências no qual qualquer desvio está concebido como uma va-
riante onde o Mesmo não cessa de se apresentar. (DANEY, 2003, p. 135).
Mas esse material simples não é trabalhado de forma simplista: embora Demy ofereça figuras
melodramáticas do bem (a namorada inocente) e do mal (o marido de Sanda, o dono cruel de
74 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
uma loja de artigos eletrônicos, interpretado com fúria operística por Michel Piccoli), o centro
emocional do filme é uma figura aparentemente marginal, a dona da casa, magnificamente en-
carnada por Danielle Darrieux, que testemunha o conflito, dividida entre sua afeição por Berry e
seu amor por sua filha, entre a satisfação romântica que promete Berry e a segurança financeira
representada por Piccoli. Todas as tensões expressivas do cinema de Demy estão focadas nela:
a aceitação sóbria da realidade minada por um anseio pelo absoluto, um romantismo epifânico
em trágica colisão com os fatos incontroversos. (ROSENBAUM, 1992).
A EXPERIÊNCIA DA MEDIAÇÃO
Uma ideia nos persegue no contemporâneo: nosso contato com o real, com
a experiência do real é cada vez mais limitado, cada vez mais mediado. Os
media parecem ser a principal via de acesso a essa experiência. Adauto No-
vaes, na introdução de Rede Imaginária, uma coletânea de artigos sobre te-
levisão e democracia, afirma que: “a representação triunfa sobre o que é
representado; as imagens perdem a força e o sentido originais e são produ-
zidas apenas para o prazer dos olhos” (NOVAES, 1991, p. 9).
A ideia do empobrecimento da experiência a partir da proliferação das ins-
tâncias de mediação na cultura é o cerne da sociedade de informação. Como
se o real se visse lacerado pelos infinitos simulacros midiáticos. Gilles De-
leuze, em “Platão e o simulacro” (1969), já caracterizava a modernidade
como a substituição do platonismo pela exacerbação do simulacro.
O argumento pode ser estendido até a própria dissolução da realidade a
partir dessa interferência midiática: se o simulacro é aparentemente supe-
rior (ou pelo menos mais atraente, mais cintilante, mais luminoso) ao real,
ao original, a conseqüência lógica é a supressão desse real. Jean Baudrillard,
em seu livro A ilusão vital, fala de um assassinato do Real, onde o referente,
o sujeito e o objeto desaparecem num mundo virtual:
Em termos mais gerais, todas as funções tradicionais – a crítica, a política, a sexual, as funções
sociais – tornam-se inúteis num mundo virtual. Ou elas sobrevivem apenas numa simulação,
como na musculação ou numa cultura desencarnada, como funções falsas ou álibis (2001, p. 71).
Dentre os media, os mais “culpados” pelo “crime perfeito”, por esse desapa-
recimento – ou pelo menos, os mais eficazes –, são, indubitavelmente, a In-
ternet (por sua estrutura) e a televisão (pelo seu alcance). A televisão tem,
então, mais impacto pelo seu incrível alcance: em 1990, a média de consu-
mo do imaginário televisivo por habitante no Brasil era de cerca de quatro
horas diárias (NOVAES, 1991, p. 9-10). Além desse índice ter provavelmen-
te aumentado (considerando a explosão consumista da década de 90), as
operações mentais envolvidas nesse consumo são cada vez mais generali-
zadas e compartilhadas pelas massas. A televisão teria, portanto, um papel
preponderante nessa implosão da realidade.
Se a televisão é o palco por excelência do “assassinato do Real”, perpetrado
cotidianamente, o reality show é, então, o gênero, o formato mais adequa-
do para essa encenação. Justamente porque ele traz à tona as contradições
82 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
O que quero dizer é que o engodo desse “voyeurismo” está no fato de que os indivíduos aca-
bam descobrindo o que já sabem, ou seja, que os outros são exatamente iguais a eles no modo
de pensar, agir, sentir, desejar, querer, ter prazer etc. Em última instância, esse voyeurismo social
equivale, como disse Wittgenstein, a testar a fidedignidade da informação de um jornal, consul-
tando vários exemplares do mesmo jornal. Das duas uma: ou esse tipo de espetáculo vai apelar
cada vez mais para o escabroso – que é a saída da pornografia – ou vai perder todo o interes-
se e se tornar tão atraente e excitante quanto – com perdão da gíria – “um rodízio de chuchu”
(2002).
Por enquanto, os reality shows não parecem estar caminhando rumo à por-
nografia stricto sensu, mas sem dúvida os aspectos mais degradantes pare-
cem ser a chama ainda acesa do gênero e seus subgêneros (basta pensar na
ANGELA PRYSTHON 83
Para o cinema é menos importante o ator representar diante do público um outro personagem,
que ele representar a si mesmo diante do aparelho. (...) Desde muito, os observadores especia-
lizados reconheceram que “os maiores efeitos são alcançados quando os atores representam o
menos possível” (BENJAMIN, 1985, p. 179-181).
TRANSFORMAÇÕES DA CRÍTICA
DIANTE DA CIBERCINEFILIA
“O cinema é sempre perfeito na medida do possível.” Gilles Deleuze
“I would argue that whereas classical cinephilia was no doubt a reason for being, contem-
porary cinephilia has become a mode of existence.” Nicole Brenez
BASES DE DADOS
As primeiras aproximações entre o cinema e a internet se dão de modo as-
sistemático a partir de fanpages (de atores, atrizes ou filmes) hospedadas
em portais como Geocities e Yahoo. A conexão entre cinema e internet co-
meça a se organizar (ainda que embrionariamente) no campo do armaze-
namento e disponibilização de dados. Um dos marcos iniciais dessa organi-
zação é o surgimento do IMDb, ou Internet Movie Database (Base de dados
de filmes da Internet). O IMDb (http://www.imdb.com/) surgiu como um
hobby de Col Needham, um engenheiro da empresa de informática Hewlett-
-Packard, na Inglaterra, em 1990 (SIKLOS, 2006). Primeiro como uma base
de dados armazenada nos computadores da Universidade de Cardiff, no país
de Gales, o IMDb reunia informações coletadas e reunidas primeiro por Ne-
edham e seus amigos, depois com um sistema de colaborações por e-mail.
ANGELA PRYSTHON 87
A partir de 1996, o site se tornou uma companhia comercial que tinha sua
receita gerada a partir de publicidade. Em 1998, tornou-se uma subsidiária
da Amazon (uma das maiores multinacionais de comércio eletrônico) e em
2002 acrescentou um serviço de assinatura (o IMDbPro), destinado a pro-
fissionais do entretenimento. O IMDb reúne informações de produção deta-
lhadas sobre os filmes do mundo inteiro, além de curiosidades sobre o mun-
do das celebridades e links para outros sites de entretenimento. Para além
de suas características eminentemente comerciais e seu enorme potencial
publicitário, o IMDb representou o acesso permanente, atualizado e muito
abrangente (obviamente as referências às produções norte-americanas são
mais completas) a informações sobre o audiovisual no mundo.
Outro item importante da consolidação da internet como repositório de in-
formações sobre o audiovisual é o website Rotten Tomatoes (http://www.
rottentomatoes.com/), espécie de portal – ou como eles se autodenomina-
ram, review aggregator (agregador de resenhas) – que reúne links para crí-
ticas de jornais, revistas e periódicos especializados. Além de oferecer esses
links (organizados a partir dos filmes), o site calcula o percentual de rese-
nhas favoráveis e desfavoráveis, funcionando como um “termômetro” para
o público médio. Assim como o IMDb, o Rotten Tomatoes também foi criado
como um projeto pessoal de um fã, Sehn Duong, que tinha o hábito de co-
lecionar resenhas sobre filmes de Jackie Chan e em 1999 decidiu “criar um
website onde as pessoas pudessem acessar resenhas sobre filmes de uma
variedade grande de críticos americanos” (RYAN, 2008). Desde 2011, o Rot-
ten Tomatoes passou a fazer parte do grupo Time Warner. Com um forma-
to extremamente similar ao do Rotten Tomatoes, em 2001 foi fundado o
website Metacritic (www.metacritic.com). Os modos de pontuar os filmes
a partir das resenhas é um pouco distinto e a abrangência de periódicos é
um pouco maior que a do Rotten Tomatoes (que em contrapartida abrange
mais blogs pessoais e críticos amadores), mas o princípio é basicamente o
mesmo: agregar resenhas de críticos norte-americanos (ambos os sites por
vezes dão acessos a veículos britânicos e de outros países de língua inglesa.
No Rotten Tomatoes há alguns críticos de língua espanhola e portuguesa lis-
tados, mas é pouco usual). O Metacritic é parte de outra grande corporação
de mídia, a CBS. Um ponto importante tanto do Rotten Tomatoes, como do
Metacritic é o espaço crescente reservado às resenhas sobre games, tirando
a especificidade cinematográfica e sublinhando sua natureza vinculada ao
entretenimento (WINGFIELD, 2007). Ainda na esfera da base de dados, a
Wikipédia (http://www.wikipedia.org/), enciclopédia desenvolvida a par-
88 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
JORNALISMO CULTURAL
Além dos sites “agregadores de resenhas” já mencionados acima, é impor-
tante frisar a importância das versões eletrônicas dos veículos de comuni-
cação mais gerais, especialmente os jornais diários (quase todos os jornais
diários do mundo têm no mínimo uma seção semanal dedicada ao cinema,
ainda que esse espaço tenha se reduzido consideravelmente nas últimas
décadas e que o próprio exercício da crítica nesses periódicos tenha sido ir-
remediavelmente contaminado por releases publicitários – novamente ve-
mos uma enorme influência da indústria do entretenimento). Uma curio-
sidade é o maior número de publicações de língua inglesa com arquivos
online (e não apenas as edições diárias abertas). Alguns desses jornais têm
um extenso arquivo referente à crítica de cinema, como é o caso de um dos
principais deles, o do New York Times (http://www.nytimes.com/ref/mo-
vies/reviews/index.html). Dentre uma lista enorme de arquivos de críticas
de jornal na web, o site do NY Times merece destaque porque disponibiliza
todas as críticas de filmes a partir 1960 e uma seleção bastante extensa de
críticas a partir de 1913. Outras versões eletrônicas de jornais com arqui-
vos abertos (e com críticos de cinema bem reconhecidos) incluem os ameri-
canos Chicago Reader (http://www.chicagoreader.com), Los Angeles Rea-
der (http://www.latimes.com) Chicago Sun- Times (http://www.suntimes.
com/), cujo principal crítico de cinema é Roger Ebert – seu textos, inclusive,
são destacados em uma seção separada do jornal (http://rogerebert.sun-
times.com/), um dos mais populares nos Estados Unidos, até por causa de
sua atuação na televisão, o britânico The Guardian (http://www.guardian.
co.uk/film), o argentino Página 12 (http://www.pagina12.com.ar/), o fran-
cês Le Monde (http://www.lemonde.fr/cinema/), os brasileiros Folha de
São Paulo (www.uol.com.br/fsp/), O Globo (http://oglobo.globo.com/cultu-
ra/), Correio Braziliense (http://www.correiobraziliense.com.br/diversao-
-e-arte/capa_diversao_arte/), Jornal do Commercio (http://jconline.ne10.
uol.com.br/canal/cultura/cinema), O Estado de São Paulo (http://topicos.
estadao.com.br/filme) – estes dois últimos dos poucos a organizarem uma
seção especial para abrigar as críticas e notícias sobre cinema, enquanto
a maioria inclui o cinema dentro de rubricas mais amplas como “cultura”,
90 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
CRÍTICA DE CINEMA
As principais publicações impressas especializadas em cinema também têm
ANGELA PRYSTHON 91
tica de cinema exercida tende a ser muito mais sofisticada e densa que a da
mídia mainstream. Muitas vezes tais publicações privilegiam um olhar mais
acadêmico sobre os filmes, sendo vários de seus colaboradores professores
e pesquisadores de Universidades.
Uma das pioneiras nessa escrita mais elaborada e na constituição de um
banco de dados permanente sobre os grandes diretores é a australiana Sen-
ses of Cinema (http://sensesofcinema.com/). Fundada em 1999 pelo cine-
asta independente Bill Mousoulis, a Senses of Cinema conta com colabora-
dores célebres, desde cineastas conhecidos como Dusan Makavejev , críticos
estabelecidos como Jonathan Rosenbaum ou acadêmicos como Edgar Mo-
rin ou Thomas Elsaesser. A Austrália, aliás, conta com outros dois periódi-
cos eletrônicos de grande qualidade, Rouge (http://www.rouge.com.au/),
fundado em 2003, e Lola (http://lolajournal.com/) , co-editado por Adrian
Martin (que já havia sido editor de Rouge) e Girish Shambu, iniciado em
2011. Ambas as revistas têm um perfil parecido: um alto padrão de escrita,
uma afirmação do pensamento crítico e a publicação (mesmo de textos já
publicados anteriormente e traduzidos para o inglês) dos mais reconhecidos
críticos e cineastas de vanguarda do mundo – nomes como Nicole Brenez,
Pedro Costa, Serge Daney, Raymond Durgnat, Victor Erice, Chris Fujiwara,
José Luis Guerin, Hou Hsiao-Hsien, Kent Jones, Dave Kehr, Jonas Mekas, Luc
Moullet, Mark Rappaport, Jonathan Rosenbaum, e Apichatpong Weerase-
thakul. Na Itália, em 2011, foi fundada por Toni D’Angela a revista La Furia
Umana (http://www.lafuriaumana.it/), de perfil próximo às das australia-
nas, e com uma forte ênfase numa cinefilia radical, reúne textos exclusivos,
traduções de textos clássicos, republicações de resenhas de distintos meios
e em diversos idiomas. O conselho consultivo conta com cineastas e críticos
como Jacques Aumont, Raymond Bellour, Julio Bressane, Joe Dante, Chris
Fujiwara, Monte Hellman, Adrian Martin, F.J. Ossang e Paul Vecchiali , o que
define marcadamente sua linha editorial de vaguarda.
Com vínculos acadêmicos fortes, os periódicos americanos The Moving Arts
(http://www.themovingarts.com/) e Bright Lights Film Journal (http://
www.brightlightsfilm.com/) (sendo este último de 1974 a 1995 ma publi-
cação impressa) tem uma forte ênfase sociológica em grande parte de suas
análises. Alguns periódicos de formato acadêmico mais estrito, indexados
em base de dados mais oficiais, como o canadense CiNéMAS (http://revue-
-cinemas.info/index.php?page=index), disponibilizam seu conteúdo através
de pagamento por artigo consultado ou através de portais universitários e/
ou de bibliotecas.
ANGELA PRYSTHON 93
O quadro descrito nos itens acima não significa uma completa reformula-
ção no universo da crítica cinematográfica, antes aponta para distintos fo-
cos de transformação e, sobretudo, de intensificação da cinefilia. É ainda
cedo para conclusões enfáticas sobre as consequências dessa cibercinefilia,
tanto no terreno da crítica, como no da produção fílmica, mas parece haver
96 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
NOTA
Hoje à noite, porém, depois de termos visto três filmes estrangeiros seguidos –
A grande ilusão, Ladrões de bicicleta e O mundo de Apu –, Katya fez alguns comentários argutos
e incisivos, esboçando uma teoria da criação cinematográfica que
me impressionou pela originalidade e perspicácia.
Objetos inanimados, disse ela.
O que têm eles? Perguntei.
Objetos inanimados como formas de expressar emoções humanas.
Essa é a linguagem do cinema. Só bons diretores entendem como fazer isso, mas Renoir, De Sica
e Ray são três dos melhores diretores, não são? (AUSTER, 2008, p. 20).
A descrição que Auster faz das cenas me faria não apenas rever os filmes
citados que eu já conhecia (além dos de Renoir e De Sica, outro grande filme
que aparece é Conto de Tóquio de Ozu), mas a teoria dos objetos inanimados
de Katya me fez correr de volta para A canção da estrada que por sua vez
me fez querer ver o segundo filme da trilogia, O invencível (Aparajito, 1956)
100 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE
e finalmente, O mundo de Apu (Apu Sansar, 1959), que desde então passou
a ocupar um lugar especial nas minhas listas perpetuamente em mutação
de filmes favoritos.
E cada filme da trilogia é uma obra-prima em si: Pather Panchali com seu
mergulho no cotidiano rural bengalês e a sutil combinação da estética in-
diana rasa com o neorrealismo cinematográfico, Aparajito e a descoberta
das contradições urbanas em Benares e Calcutá a partir de sofisticadas téc-
nicas de luz e sombras, Apu Sansar e sua imensa humanidade (e dizer mais
do que isso talvez diminuísse o impacto e a permanência que o filme tem no
meu repertório e, mais ainda, na minha vida). A trilogia de Apu foi por sua
vez me levando a outros filmes de Ray, que também foram subsequentemen-
te formando parte dos meus panteões movediços, circulares e infinitos, dos
meus baús de riquezas incalculáveis, das minhas coleções desordenadas de
imagens: o rigor trágico de A Sala de Música (Jalsaghar, 1958), a delicade-
za de Charulata, a esposa solitária (1964), toda a crueldade e frustração de
Kapurush (1965), a modernidade periférica da trilogia de Calcutá (Prati-
dwandi (1970), Seemabaddha (1971) e Jana Aranya (1975)), o exótico es-
tranhamento de Dias e noites na floresta (Aranyer Din Ratri, 1970) – que tem
uma das mais belas sequencias do cinema na cena do jogo de memória –, a
política de A casa e o mundo (Ghare Baire, 1984). A partir do meu precário
orientalismo, sem conhecer toda a sua filmografia, menos ainda sua contri-
buição como escritor, dramaturgo e compositor, ainda que grande parte das
referências culturais indianas me escape, posso apenas sublinhar o quanto
Satyajit Ray (como Ernst Lubitsch, Yasujiro Ozu, Powell e Pressburger, Stan-
ley Donen, Jacques Demy, Werner Herzog ou Claire Denis, só para citar uma
ínfima lista de cineastas que me movem) reafirmou em mim uma vontade
de cinema, simultaneamente na e além da imanência, retorcendo um pouco
do que fala Ismail Xavier (2007) sobre a cinefilia. Uma vontade de cinema
na qual a técnica (impecável, rigorosa, exata no caso de Satyajit Ray), a ma-
terialidade fílmica (suas imagens e seus sons, suas palavras, seus atores) e a
mise en scène estão subjugadas ao mundo, forçam-nos a entrar em contato,
a nos maravilhar, assustar e, sobretudo, a gostar mais de estar no mundo.
Naquele momento, que talvez tenha sido o mais sombrio, o mais extre-
mamente triste da minha vida, Auster e sua teoria de cinema (ou antes, a
de Katya) – que me pareceu sensível, bonita, ainda que limitada e um tanto
ingênua como teoria propriamente dita, talvez até porque não seja mesmo
uma teoria propriamente dita – me fizeram retomar certos clássicos, rever
filmes do cânone mundial, me levaram a olhar mais atentamente os objetos
ANGELA PRYSTHON 101
A situação inteira foi transformada, e eu acho que é justo para mim dizer que depois, com The
Servant e Accident e até Modesty Blaise, que ele nega, e certamente King and Country, a carrei-
ra de Dirk estava transformada. Certamente a minha carreira, e até mesmo a existência de uma
carreira, foi possível porque Dirk aceitou, porque sem isso eu poderia estar simplesmente morte
– acabado (LOSEY apud CLIMENT, 1985, p. 136).
O turista americano interpretado por Macdonald Carey junto com a garota
inglesa personificada por Shirley Anne Field em The Damned (1963) tam-
bém se constituem como intrusos tanto no refúgio da excêntrica escultora
vivida por Viveca Lindfors, como na base militar que esconde as crianças
radioativas. Único filme de ficção científica dirigido por Losey, The Damned
ANGELA PRYSTHON 105
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posfácio
ANGELA PRYSTHON 125
de co-criação e de compartilhamento.
É a partir daí que podemos acessar toda a potência do artifício e da frivo-
lidade. Num ensaio que pode ser considerado central para o mapeamento
que vai sendo traçado ao longo desses diferentes escritos, os filmes de Jac-
ques Demy aparecem como manifestações exemplares de uma postura afir-
mativa diante da arte e da cultura. De fato, uma das belezas do tipo de abor-
dagem aqui privilegiada é que ela nos permite vislumbrar não apenas uma
relação entre aquela que escreve e os objetos de seu apreço, mas também
nos convida, com o mesmo gesto, a perguntar pela paixão que orienta o im-
pulso criador capaz de fazer nascer essas mesmas obras. Afinal, o que po-
deria ter levado um realizador como Demy a voltar-se com insistência para
os musicais, em meio ao horror da guerra e da violência e sem subtraí-las
ao olhar e à memória do público, mas, pelo contrário, colocando-as numa
relação conflitiva com esse universo tantas vezes tomado como o paroxis-
mo da visão escapista promovida pela indústria do entretenimento? O que
mais poderia movê-lo, senão uma sólida confiança nas forças afirmativas da
fabulação, da imaginação e do encanto?
Por tudo isso, o olhar e a sensibilidade que movem o trabalho de Prysthon
se situam numa posição diametralmente oposta à atitude policialesca que
orienta as inesgotáveis denúncias às ameaças da ilusão e do engano. Tais
ameaças, é evidente, não fazem outra coisa senão colocar em movimento
um circuito de retroalimentação que muitas vezes acerta no seu diagnósti-
co, mas apenas ao custo de obrigar a instância crítica a repor infinitamente
o seu estoque de suspeitas.
Eve K. Sedgwick3 nos chamou a atenção para a generalização da suspeita
como um modus operandi privilegiado da crítica, diante do qual qualquer
tentativa de evadir uma leitura paranoica dos fenômenos da política e da
cultura – ou, dito de outra forma, qualquer esforço para abordar a cultu-
ra de outra maneira que não pelo intuito de decifrar os seus mecanismos
falseadores e sentidos ocultos – seria vista como ingênua ou complacente.
Dentre os efeitos colaterais desencadeados pela assunção irrestrita dessa
perspectiva, podemos destacar o fato de que as leituras paranoicas tendem
a replicar na sua própria lógica de funcionamento a centralidade da opera-
ção que buscam denunciar, amplificando desse modo o seu peso. Além dis-
so, sobressai o fato de que essa operação é, via de regra, inesgotável: nunca
se é paranoico o bastante; nunca se chega a denunciar o engano o bastante.
É uma constatação semelhante que parece impulsionar algumas das con-
siderações de Jacques Rancière4 acerca das operações acionadas por certa
ANGELA PRYSTHON 129
NOTAs
1 LINK, Daniel. “Orbis Tertius: La obra de arte en la época de su reproductibi-
lidad digital”. Buenos Aires: Ramona, 26, octubre de 2002.
2 MAcCABE, Colin. The eloquence of the vulgar: language, cinema and the
politics of culture. London: BFI Publishing, 1999.
ANGELA PRYSTHON
É professora Associada do Bacharelado em Cinema e do Programa de Pós-
-graduação em Comunicação da UFPE. Fez estágio sênior pós-doutoral no
departamento de Film Studies da University of Southampton, Inglaterra.
Tem doutorado em Teoria Crítica pela University of Nottingham, Inglater-
ra, e mestrado em Teoria Literária pela UFPE. É autora de Cosmopolitismos
periféricos (Bagaço, 2002) e organizadora de Ecos urbanos: a cidade e suas
articulações midiáticas (Sulina, 2008), entre outros títulos. Seus escritos so-
bre cinema, mídia e literatura apareceram em inúmeros livros e periódicos,
incluindo Cinema, Globalização e Interculturalidade (Argos, 2010), Culture
of the Cities (University of Pittsburgh Press, 2010), Visualidades hoje (EDU-
FBA, 2013), Galaxia, La Furia Umana e Contracampo.
ANDRÉ ANTÔNIO
É doutorando em Comunicação e Cultura na UFRJ, onde pesquisa as inter-
faces entre a noção de frivolidade e o cinema contemporâneo. Escreveu,
pelo mestrado em Comunicação da UFPE, dissertação sobre as relações en-
tre melancolia e nostalgia no cinema. Faz filmes com o coletivo Surto & Des-
lumbramento (deslumbramento.com).
CHICO LACERDA
É doutorando em Comunicação na UFPE, onde discute questões em torno
do chamado cinema gay brasileiro. Fez filmes com o coletivo Sunab Filmes
(sunabfilmes.wordpress.com) e agora faz com o coletivo Surto & Deslum-
bramento (deslumbramento.com). Tira fotos o tempo todo (flickr.com/pho-
tos/chicolacerda).
ANGELA PRYSTHON 133
DENILSON LOPES
É professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesqui-
sador do CNPq. É autor de No Coração do Mundo: Paisagens Transculturais
(2012); A Delicadeza: Estética, Experiência e Paisagens (2007); O Homem
que Amava Rapazes e Outros Ensaios (2002); Nós os Mortos: Melancolia e
Neo-Barroco (1999); organizador de O Cinema dos Anos 90 (2005); co-orga-
nizador de Imagem e Diversidade Sexual (2004) e de Cinema, Globalização e
Interculturalidade (2010).
FABIO RAMALHO
É professor, pesquisador e ensaísta. Doutor em Comunicação pela Univer-
sidade Federal de Pernambuco, investigou em sua tese a apropriação e o
deslocamento de repertórios audiovisuais como um modo de engajamento
afetivo. Concluiu o mestrado na mesma instituição com uma pesquisa sobre
cinema latino-americano contemporâneo.
www.cesarea.com.br
Recife, 2014