Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
O Ramalhete era a residência da família Maia, em Lisboa. Ficava situada na rua de São Francisco, às
Janelas Verdes.
A vivência “intramuros” era fatal à família, na opinião do procurador Vilaça (cf. morte de Pedro da Maia,
morte de Afonso da Maia). Foi também um espaço negativo para Carlos da Maia, que só aí residiu dois
anos (de 1875 a 1877).
Simbolicamente, está ligado à decadência nacional do último quarto do século XIX. Aliás, se analisarmos
objetivamente o exterior do edifício, conotamo-lo imediatamente com o ramo de girassóis que ornamenta
a casa, substituindo o escudo heráldico da família e, metonimicamente, ligamos o seu nome à simbologia
da planta (simbolicamente, o girassol representa a atitude do amante ou da amante, que se vira
continuamente para olhar o ser amado, isto é, representa a perfeição platónica na presença contemplativa
e unificante; girando sempre, numa atitude de submissão e fidelidade para com o ser amado, o girassol
associa-se à incapacidade de ultrapassar a paixão e a falta de recetividade do ser amado) que,
metaforicamente, aparece ligada às terceira e quarta gerações d’ Os Maias.
JACINTO, Conceição, e LANÇA, Gabriela, 1999.
Os Maias – Eça de Queirós. Porto: Porto Editora (pp. 49-50)
Capítulo II
Pedro da Maia [...] herdou da mãe o seu temperamento nervoso, as suas crises de melancolia, os seus
sentimentos exagerados. Educado sob influência de um “romantismo torpe” deixou-se encandear por um
amor à primeira vista que o conduziu a um casamento, de estilo romântico, com Maria Monforte. Este
enlace precipitado levá-lo-ia mais tarde ao suicídio – após a fuga da mulher – por carecer de sólidos
princípios morais (a religião que a mãe lhe transmitiu era feita de sentimentalismos vagos) e de força de
vontade que o deveriam levar à aceitação da realidade e à superação daquele contratempo.
COSTA, José Ribeiro da, 2008.
Os Maias em análise. Porto: Porto Editora (p. 31)
Os Maias 13
Capítulo III
Capítulo IV
A existência de Carlos no universo romanesco d’ Os Maias preenche três fases bem distintas: a primeira
diz respeito à sua educação em Santa Olávia, segundo o sistema inglês, e aos estudos em Coimbra; a
segunda – a principal – refere-se à sua estadia em Lisboa, onde assistimos ao seu fracasso profissional,
às suas aventuras amorosas, ao seu convívio com os amigos, à sua paixão fatal; a terceira situa-se no
capítulo final do romance e também vai ter por palco a cidade de Lisboa, mas dez anos após o desenlace
trágico que o separou, para sempre, de Maria Eduarda. Nesta fase, que é extremamente rápida
relativamente à segunda, Carlos faz um balanço da sua vida passada e reflete sobre a estagnação do país:
nada mudara durante os dez anos da sua ausência!
COSTA, José Ribeiro da, 2008.
Os Maias em análise. Porto: Porto Editora (p. 71)
Capítulo V
Ega funciona como o Sancho Pança de Carlos, ou seja, é aquele amigo que o traz de volta à realidade,
que o faz pôr os pés no mundo. É também aquele que nos momentos mais difíceis e mais dolorosos o
ampara e ajuda, não só em termos psicológicos, mas também na resolução dos problemas práticos [...].
Ega é, de igual modo, o símbolo da pura irreverência, do sarcasmo, da ironia e da crítica pela crítica, do
prazer de chocar e de questionar [...].
No passeio final, tal como Carlos, Ega extravasa o seu desencanto, a sua desilusão, a sua frustração,
OEXP11CAE © Porto Editora
não só em relação ao Portugal que o envolve, mas também em relação ao falhanço dos seus projetos.
BRAGA, Zaida, e RAMOS, Auxília, 2009.
Os Maias – Eça de Queirós. Porto: Ideias de Ler (pp. 53-54)
O capítulo onde está inserido o jantar no Hotel Central permite-nos perspetivar o Portugal contemporâneo
de Os Maias. O jantar em honra do banqueiro de prestígio, o Cohen, é particularmente rico pelo retrato
crítico que Eça faz ao contexto político e cultural do seu tempo. [...]
Contrariamente à consciência que Eça revela dos problemas do seu tempo, as personagens da sua
ficção terminam, de forma inconsequente, o jantar e as discussões, totalmente alheadas, revelando
inconsciência relativamente aos problemas e soluções para o país.
VALÉRIO, Elisa, 2007. Para uma Leitura de “Os Maias” de Eça de Queirós.
4.ª ed. Lisboa: Presença (pp. 28 e 35) (1.ª ed.: 1997)
Capítulo VII
Com Dâmaso estamos quase com uma alegoria dos vícios mais perniciosos que infestam a Lisboa da
Regeneração [...].
A insistência com que impunha a sua companhia a Carlos, o exibicionismo que o leva às corridas de véu
azul e sobrecasaca branca, a indiscrição nos contactos com Maria Eduarda, o recurso fácil à calúnia, no
episódio da “Corneta do Diabo”, o comportamento titubeante e a cobardia manifestada quando
publicamente tem que se desdizer, tudo se conjuga para confirmar o já minucioso retrato que o narrador
dele facultara (capítulo VII). E os vícios e a degradação moral revelada por Dâmaso de tal modo se tornam
nítidos no universo social d’ Os Maias que chega a desvanecer-se nele uma característica própria de quase
todos os outros figurantes: a vinculação a uma certa profissão ou a um esquema cultural definido. Mais
do que isso, o que Dâmaso sobretudo representa é a própria imoralidade em estado bruto.
REIS, Carlos, 1998. Introdução à leitura d’ Os Maias. 6.ª ed.
Coimbra: Almedina (p. 63) (1.ª ed.: 1978) (adaptado)
Capítulo VIII
Os Maias 15
Capítulo IX
Deslocação de Carlos a casa dos Castro Gomes, para uma consulta a Rosa.
Baile de máscaras em casa dos Cohen e revelação do envolvimento de Raquel Cohen e Ega,
que abandona Lisboa.
Aproximação de Carlos aos Gouvarinho e início da relação amorosa com a condessa.
Capítulo X
Com este texto, que constitui um episódio magnífico da comédia de costumes, pretende o autor criticar
o gosto que têm os portugueses de supervalorizar tudo o que é estrangeiro e de o introduzir nos nossos
costumes, descuidando as necessárias adaptações.
As corridas, que colhem sucesso no estrangeiro, aqui estão condenadas ao malogro, porque tudo se
improvisa e não se criam as condições que garantam o êxito. E, deste modo, vemos corridas tão aparatosas
terminarem apenas com dois cavalos em prova. [...]
Critica-se ainda o baixo nível da sociedade elegante portuguesa que se deixa entusiasmar por uma
corrida onde os cavalos de raça são ridiculamente substituídos por meros “cavalicoques”.
COSTA, José Ribeiro da, 2008. Os Maias em análise. Porto: Porto Editora (p. 127)
Capítulo XI
Visita de Carlos a casa de Maria Eduarda para consultar Miss Sara, a governanta.
Aproximação progressiva de Carlos e Maria Eduarda, na sequência da doença de Miss Sara.
Encontros casuais de Carlos, Dâmaso e os Gouvarinho na estação de Santa Apolónia, quando o
primeiro viaja para Penafiel e os segundos para o Porto, impedindo a concretização dos planos de
encontro amoroso de Carlos e da condessa em Santarém.
Visita de Dâmaso a Maria Eduarda, quando Carlos se encontra presente e posterior visita de Dâmaso
ao Ramalhete, solicitando justificações a Carlos.
Capítulo XII
Igualmente representativo é um outro episódio, de participação humana mais reduzida, mas ainda assim
importante: o jantar em casa do conde de Gouvarinho. Aí, novamente na presença da alta burguesia, da
aristocracia e, de modo geral, da camada dirigente do país, deparam-se-nos os temas mais prementes da
>>>
>>>
Capítulo XIII
Diálogo entre Carlos e Ega em que este informa o amigo da difamação de que tem sido alvo por parte
de Dâmaso.
Encontro de Dâmaso e Carlos, que ameaça o primeiro de “lhe arrancar as orelhas”.
Primeira visita de Maria Eduarda à Toca.
Celebração do aniversário de Afonso, visita inesperada da Gouvarinho e fim da relação amorosa entre a
condessa e Carlos.
A descrição do ninho de amor de Carlos e Maria Eduarda aponta para a expressão de um gosto exótico
e sensual, apropriado à vivência de uma paixão marginal.
Toca é o covil de um animal, é onde este se esconde das ameaças do exterior. [...]
Também Carlos e Maria Eduarda, num primeiro momento, vivem um amor “marginal”, um amor que
necessita de ser preservado da curiosidade da sociedade. Mas o facto de uma toca ser o habitat de um
animal poderá também ser relacionado com o carácter incestuoso da relação amorosa, que subverte o
tabu social. Ao longo da descrição da “Toca”, multiplicam-se os elementos simbólicos, em especial no
quarto, que indiciam o carácter interdito e o fim trágico do amor [...].
BRAGA, Zaida, e RAMOS, Auxília, 2009. Os Maias – Eça de Queirós. Porto: Ideias de Ler (p. 38)
Capítulo XIV
Capítulo XV
>>>
Os Maias 17
>>>
Episódios dos jornais A Corneta do Diabo e A Tarde – Critica-se, nestes episódios, a decadência do
jornalismo português, pois os jornalistas deixam-se corromper, motivados por interesses económicos (é
o caso de Palma Cavalão, do jornal A Corneta do Diabo) ou evidenciam uma parcialidade comprometedora,
originada por motivos políticos (é o caso de Neves, diretor do jornal A Tarde).
JACINTO, Conceição, e LANÇA, Gabriela, 1999. Os Maias – Eça de Queirós. Porto: Porto Editora (p. 62)
Capítulo XVI
O sarau da Trindade – A própria definição de sarau sugere um público frequentador culto. Em princípio,
os espectadores seriam os genuínos apreciadores e cultivadores da música, da poesia, da oratória (arte
de bem falar) [...].
Porém, a verdadeira motivação era outra. Tal como na corrida de cavalos, os espectadores frequentam
estes lugares, não pela qualidade do espetáculo, mas pela importância do convívio social. [...]
De novo, a funcionalidade das personagens resulta na crítica à pobreza cultural e futilidade da época.
VALÉRIO, Elisa, 2007. Para uma Leitura de “Os Maias” de Eça de Queirós.
4.ª ed. Lisboa: Presença (pp. 61 e 63) (1.ª ed.: 1997)
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
No passeio final por Lisboa, Carlos e Ega definem a sua “teoria da existência”, “o fatalismo muçulmano”,
baseada na ausência de desejos e de paixões, para, assim, se poder alcançar o pouco de felicidade a que
temos direito nesta vida [...]. Em Lisboa, as pessoas traduziam a decadência do país, caracterizando-se,
OEXP11CAE © Porto Editora
fundamentalmente, pela inação, pela ociosidade crónica que as levava a vagabundear, sem destino certo,
numa moleza doentia ou a “pasmar” para quem passava.
JACINTO, Conceição, e LANÇA, Gabriela, 1999. Os Maias – Eça de Queirós. Porto: Porto Editora (pp. 83-84)
OEXP11CAE-02