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A Ideologia da Burocracia: Rediscutindo o Argumento Tragtenberguiano


Autoria: Erik Persson, Luís Moretto Neto

Resumo

O objetivo deste ensaio é rediscutir o argumento de Maurício Tragtenberg, de que a


burocracia é ideologia, a partir de uma definição de ideologia que privilegia o fenômeno da
dominação e os modos pelos quais a ideologia burocrática pode operar para estabelecer e
manter relações de dominação nas organizações. Nesta versão, ideologia pode ser concebida
como crenças, ideias, sentidos ou significados, falsos ou verídicos, que, em contextos
específicos, ajudam a promover e legitimar interesses setoriais de um grupo social dominante
e/ou a estabelecer e sustentar relações assimétricas de poder. Apoiamo-nos numa
interpretação que enfatiza o aspecto subjetivo do conceito weberiano de burocracia, o qual
pode ser identificado como um “espírito da burocracia” ou uma “mentalidade burocrática”, no
que se aproxima da noção de ideologia. Nesse diapasão, argumentamos que, de modo típico, a
ideologia burocrática opera mediante as estratégias ideológicas da unificação, fragmentação,
dissimulação, legitimação, universalização e naturalização (reificação).

Palavras-chave: Ideologia. Burocracia. Poder. Dominação. Organizações.

1 Introdução

O leitmotiv do presente texto assenta numa das ideias centrais de Maurício


Tragtenberg (1929-1998) na obra Burocracia e Ideologia, originalmente publicada em 1974:
a burocracia e, por conseguinte, as teorias administrativas são ideológicas. Mas, antes de
evidenciarmos devidamente o objetivo deste ensaio, mister é discutir sinteticamente o
argumento seminal desse importante crítico da teoria organizacional.
É com Tragtenberg que, segundo Faria (2011), inaugura-se a teoria crítica nos
estudos organizacionais no Brasil, na medida em que o intento de Burocracia e Ideologia é
analisar a teoria administrativa como reflexo dos interesses das classes dominantes, condição
em que assume caráter ideológico. Ao fundar seus estudos na causação social das teorias
administrativas como ideologias, Tragtenberg concebe a ideologia como falsa consciência da
realidade, noção de inspiração marxista. Disse ele (2006, p. 108):
A Teoria Geral da Administração é ideológica, na medida em que traz em si uma
ambiguidade básica do processo ideológico, que consiste no seguinte: vincula-se ela às
determinações sociais reais, enquanto técnica (de trabalho industrial, administrativo,
comercial) por mediação do trabalho; e afasta-se dessas determinações sociais reais,
compondo-se num universo sistemático organizado, refletindo deformadamente o real,
enquanto ideologia.

Tragtenberg alega que a teoria da administração é a análise da legitimação da


burocracia do poder, seja no âmbito privado ou no público. A burocracia, portanto, está no
núcleo das teorias administrativas, até porque as organizações modernas são alçadas ao posto
de objetos de análise a partir da racionalização burocrática (FARIA; MENEGHETTI, 2011).
Ademais, como afirmou Tragtenberg (2006, p. 20), “qualquer análise da Teoria
Administrativa deve partir da burocracia enquanto poder, para atingir a burocracia na
estrutura da empresa”.
Para Tragtenberg, a burocracia é ideologia na medida em que assume feição de
dominação, porquanto não se limita a um fenômeno meramente técnico, a uma forma ou
modelo de organização; a burocracia é, acima de tudo, um sistema de dominação, “um
sistema de condutas significativas” (TRAGTENBERG, 2006, p. 234).
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A organização é, na verdade, a unidade de poder da burocracia (FARIA;


MENEGHETTI, 2011) e, nesse sentido, toda a organização é poder, e a administração, antes
de qualquer coisa, constitui o exercício de poder mediante um quadro administrativo que atua
como elemento de mediação entre aqueles que detêm poder de decisão e aqueles que não
(TRAGTENBERG, 2012).
No argumento tragtenberguiano, a burocracia pode ser entendida como uma
ideologia revestida de lógica. Essa lógica apresenta-se dissimuladamente como justificativa
do aparelho burocrático no plano técnico, enquanto instrumento tecnicamente funcional e
eficiente. No plano ideológico, entretanto, a burocracia desprende-se dessa mesma lógica
operacional para atuar como mecanismo de mediação de interesses, de dominação e alienação
dos indivíduos, de separação entre concepção e execução do trabalho, de propagação da
racionalidade formal-instrumental em diferentes enclaves da vida e relações sociais. Aqui se
revela a falsa consciência da ideologia da burocracia e das teorias da administração para
Tragtenberg: vinculam-se elas às determinações reais no plano técnico e afastam-se dessas
determinações na medida em que seu objetivo precípuo, mascarado, é a dominação.
Ora, se a burocracia é a essência das teorias administrativas, então estas também se
expressam de duas maneiras: ideologicamente, porque se manifestam como ideias
desistoricizadas que recorrem a disfarces mais ou menos conscientes para esconder a
verdadeira natureza da situação; e operacionalmente, porque constituem práticas, técnicas e
intervenções consistentes com tais ideias (PAES DE PAULA, 2002; TRAGTENBERG,
2006).
Assim sendo, a ideologia burocrática das teorias administrativas vai se sustentando e
sobrevivendo ao longo do desenvolvimento do campo, adquirindo novas características,
desfazendo-se de outras, transmutando-se em novos formatos, mas perpetuando sempre as
harmonias administrativas que reproduzem as condições de opressão do homem.
Nesse diapasão, a noção de ideologia aparece como elemento basilar nos argumentos
defendidos por Tragtenberg e, por essa razão, entendemos que o cerne da crítica
tragtenberguiana diz respeito antes à burocracia da mente do que ao burocratismo das
estruturas, mesmo porque, como sugeriu Richard Hilbert (1987), a burocracia é uma questão
de mentalidade, pois é a partir de um espírito da burocracia que são forjadas as estruturas
burocráticas.
Mas o que a teoria da ideologia, sobretudo uma definição mais atualizada do termo,
teria a nos dizer para melhor compreendermos o argumento tragtenberguiano de que a
burocracia é ideologia? Conforme salienta Thompson (1995), embora haja muito de enganoso
e errôneo em torno do termo ideologia, podemos ainda destilar dele um resíduo de problemas
que retêm sua relevância e urgência nos dias atuais. Dessarte, o conceito e a teoria da
ideologia representam um campo de análise fértil às ciências sociais contemporâneas e que
pode constituir-se numa arena de debate teórico crítico, contínuo e vigoroso nos estudos
organizacionais, com relevantes implicações analíticas. Por isso, uma discussão mais
acalorada do tema da ideologia no âmbito dos estudos organizacionais é primordial.
No nosso entender, a temática da ideologia, em sentido crítico, é demasiadamente
desprivilegiada nos estudos organizacionais. Inobstante, como sugere Faria (2007), para
compreendermos bem os fenômenos das organizações devemos buscar nos estudos
organizacionais desvelar as relações internas e externas de poder, manifestadas em formas
objetivas e subjetivas, o que implica a tarefa de enfrentar a problemática da ideologia nas
organizações, indo além das abordagens em torno das racionalidades. Apesar disso, não são
muitos os estudiosos das organizações que decidem se aventurar no terreno pantanoso da
ideologia, pelo menos não tão abertamente, pois, de uma forma ou de outra, qualquer
perspectiva com que investimos na análise dos fenômenos organizacionais pode ser tachada
de ideológica, dependendo do conceito de ideologia ao qual nos apegamos.
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Este ensaio representa um modesto esforço para revigorar os debates sobre ideologia
no campo da administração. Buscaremos fazê-lo rediscutindo o argumento
tragtenberguiano, de que a burocracia é ideologia, a partir de uma concepção crítica de
ideologia que privilegia o fenômeno da dominação e os modos pelos quais a ideologia
burocrática pode operar para estabelecer e manter relações de dominação nas
organizações. Essa é contribuição central que intentamos oferecer. Para subsidiar tal debate,
amparamo-nos nas leituras de dois estudiosos da ideologia de inclinação marxista, Terry
Eagleton e John B. Thompson, bem como nos argumentos de Tragtenberg e outros autores
partidários de suas críticas.

2 Ideologias hoje?

Nas palavras de Eagleton (1997, p. 11), “em algum lugar da margem esquerda,
proclama-se que o conceito de ideologia se encontra hoje obsoleto”, razão pela qual a noção
de ideologia aparece cada vez mais ausente dos escritos pós-modernistas e pós-estruturalistas.
Tal abandono, segundo o autor, corresponde a uma profunda hesitação política em setores da
antiga esquerda revolucionária, que, diante da temporária ofensiva do capitalismo, têm
empreendido uma firme e envergonhada retirada de cena de questões ditas “metafísicas”,
como luta de classes, modos de produção, revolução e natureza do Estado burguês. Para
Habermas (1968), é verdade que a sociedade capitalista modificou-se de tal modo que duas
das categorias basilares do pensamento marxista estão fadadas ao desuso: a luta de classes e a
ideologia.
Não obstante, é a ideologia que de vez em quando persuade homens e mulheres a
confundir-se mutuamente com deuses ou vermes. Diz Eagleton (1997, p. 12):

Pode-se entender perfeitamente bem como os seres humanos são capazes de lutar e matar
por razões materiais – razões relacionadas, por exemplo, com sua sobrevivência física. É
muito mais difícil compreender por que chegam a fazer isso em nome de algo
aparentemente tão abstrato como as ideias. No entanto, é em razão das ideias que homens e
mulheres vivem e, às vezes, morrem.

Pensar que vivemos num mundo no qual a razão não deixa espaços para ideologias,
que o sistema social atual é isento de ideologias ou que os poderes governantes não se valem
de quaisquer valores dissimuladores ou mistificadores, soa bastante implausível, afinal, “a
verdade é que em nossas sociedades tudo está ‘impregnado de ideologia’, quer a percebamos,
quer não” (MÉSZÁROS, 2014, p. 57). Não restam dúvidas que a difusão de valores e crenças
dominantes entre grupos oprimidos da sociedade desempenha algum papel na reprodução do
sistema como um todo, só que este fator foi tipicamente exagerado por uma longa tradição
marxista ocidental da década de 1970 que conferia às ideias um status demasiado elevado
(EAGLETON, 1997). A questão fundamental é que não podemos deixar de reconhecer que
crenças, significados, valores e ideias são, de fato, importantes para uma ordem social vigente
ou um poder político dominante.
Ademais, a crença de que as ideologias foram totalmente abolidas e substituídas,
definitivamente, pelos sistemas íntegros e límpidos da técnica e da ciência social estritamente
factual, revela disfarçadamente um tipo peculiar de falsa consciência ideológica, “que rotula
arbitrariamente seu adversário de ‘ideológico’, de modo a conseguir reivindicar para si, por
definição, total imunidade a toda ideologia” (MÉSZÁROS, 2008, p. 16).
Habermas (1968, p. 49) também alerta para o peculiar fenômeno de que, nas
sociedades capitalistas modernas, “a racionalidade da ciência e da técnica já é na sua
imanência uma racionalidade do dispor, uma racionalidade da dominação”, pois ao apelar por
uma natureza desinteressada, à ciência e à razão, em oposição à religião e à tradição, essa
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crítica “iluminada” das antigas ideologias simplesmente acabou por mascarar e encobrir os
interesses de poder a que essa noção supostamente científica servia. Dessarte, afirma Eagleton
(1997, p. 66), “poderíamos arriscar o paradoxo de que ideologia nasceu como uma crítica
totalmente ideológica da ideologia”, pois ao iluminar o obscurantismo da velha ordem,
continua o autor, “lançou sobre a sociedade uma luz ofuscante, que cegou os homens e
mulheres para as fontes sombrias dessa claridade”.

3 E o que vem a ser ideologia?

No presente texto não pretendemos discutir detalhadamente a história do termo


ideologia; há suficiente literatura sobre isso. Cabe ressaltar, contudo, que, originalmente,
ideologia significava o estudo científico das ideias dos homens. Logo, um ideólogo não era
somente alguém que expunha e defendia ideias, mas aquele que as analisava cientificamente.
No entanto, a noção de ideologia paulatinamente deixou de denotar um cético materialismo
científico para significar um campo de ideias abstratas e desconexas, uma concepção
amplamente conhecida pelo sentido napoleônico do termo, o sentido negativo ou pejorativo
que é adotado por Marx e Engels quando, na sua censura ao idealismo hegeliano,
considerarão o ideólogo aquele que inverte as relações entre o real e as ideias (EAGLETON,
1997; CHAUÍ, 2001).
Decerto, o conceito de ideologia tem um itinerário histórico longo e complicado,
razão pela qual é carregado de ambiguidades e de uma multiplicidade de significados
(THOMPSON, 1995) e, desse modo, não há uma única e mais adequada definição de
ideologia. Isso porque ela carrega toda uma série de significados convenientes, mas que nem
sempre são compatíveis entre si. O termo ideologia é, por assim dizer, um tecido constituído
por uma trama de diferentes fios conceituais, traçados por divergências históricas
(EAGLETON, 1997).
Grosso modo, uma vertente central – de Hegel e Marx a Lukács e alguns pensadores
marxistas posteriores – esteve interessada mais pelas ideias de falsa ou verdadeira cognição,
isto é, pela versão de ideologia como ilusão, distorção, mistificação, percepção inadequada da
realidade. Outra tradição de pensamento, mais sociológica que epistemológica, preocupou-se
mais com a função das ideias na vida social do que para seu caráter real ou irreal
(EAGLETON, 1997).
A questão da falsa consciência é, sem dúvida, central nessas discussões, e também
motivo de controvérsias. Certamente as ideologias, com muita frequência, apresentam
proposições importantes que podem ser consideradas absolutamente falsas, como quando
dizemos que “os judeus são seres inferiores”, que “mulheres são menos racionais que os
homens” ou que “os interesses organizacionais devem sempre subjugar os individuais”. Por
outro lado, podemos também argumentar que talvez a ideologia não se trate de uma falsa
consciência, pois muitas das afirmações admitidas como ideológicas são obviamente
verdadeiras. Entretanto, não devemos negligenciar o fato de que há elocuções que são
empiricamente verdadeiras, mas falsas em algum aspecto mais profundo do discurso
(EAGLETON, 1997). O anúncio do gerente de uma empresa de que “se a greve no transporte
coletivo continuar, a população será prejudicada” pode ser verdadeiro como fragmento de
linguagem, mas falso enquanto peça de discurso se por acaso um trabalhador grevista
considere a empresa desonesta e que a mensagem emitida na realidade intenta dizer “voltem
ao trabalho!”.
Em outras palavras, por um lado a declaração do gerente da empresa descreve uma
situação possível de forma bastante acurada, por outro, conforme alegaria Eagleton (1997),
como ação retórica dirigida a produzir certos efeitos, é falsa, e em dois sentidos: primeiro
porque envolve uma espécie de engano, na medida em que o gerente não está realmente
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dizendo o que quer dizer; segundo porque implica a ação de voltar ao trabalho como sendo a
atitude mais construtiva a tomar naquele contexto, o que talvez não seja bem o caso. Logo, é
um enunciado cujo sentido está, de alguma forma, a serviço do poder (THOMPSON,1995).
Falsa consciência, nesse sentido, não significa ficção, invenção arbitrária e gratuita,
algo irreal, uma fantasia desconectada da realidade. Em vez disso, trata-se apenas de
reconhecer que alguns enunciados ideológicos centrais são manifestamente falsos e que a
ilusão ideológica não se refere a algo irreal, mas à aparência social que coloca o ser social de
ponta-cabeça (CHAUÍ, 2001; EAGLETON, 1997).
Conforme escreve Chauí (2001, p. 113), “uma ideologia sempre possui uma base
real”, pois é sobre essa base que os indivíduos podem forjar uma identidade coerente. A
ideologia deve ser real o bastante para proporcionar motivações sólidas para ações efetivas e
deve empenhar-se em explicar suas próprias contradições e incoerências mais flagrantes.
Ideologia, portanto, deve ser mais do que ilusões disparatadas, deve comprometer-se com as
necessidades e desejos que as pessoas já possuem, captando suas esperanças e carências,
comunicando-lhes uma versão da realidade social que seja plausível, atraente e
suficientemente reconhecível para não ser peremptoriamente rejeitada (EAGLETON, 1997).
Nesse contexto, é bastante comum a confusão entre os termos falso, no sentido de
inverídico para o caso em questão, e falso enquanto irreal, sendo perfeitamente plausível
aduzir que a ideologia pode ser às vezes falsa na primeira acepção, mas não na segunda
(EAGLETON, 1997). Vale salientar, ainda, uma importante diferença entre estar equivocado
e estar iludido. Sloterdijk (1988 apud EAGLETON, 1997, p. 37) cunha a expressão “falsa
consciência esclarecida” para indicar a condição em que as pessoas vivem de valores falsos,
mas, ironicamente, são conscientes e convictos de fazê-lo. Nesse caso, a consciência dessas
pessoas não pode ser tomada como mistificada, no sentido tradicional do termo.
Sendo assim, não podemos descartar precipitadamente a tese da falsa consciência,
pois ela pode ser um importante fator para um poder político dominante. Como adverte
Eagleton (1997), a falsidade pode ser a verdade de uma dada ordem social.
Para além da questão da falsa consciência, estudar ideologia, propõe Thompson
(1984, p. 4), é “estudar as formas pelas quais os significados (ou significações) servem para
sustentar relações de dominação”. Essa conceituação situa-se na chamada concepção crítica
de ideologia, que carrega o sentido negativo da corrente marxiana, embora seja necessário ter
em conta que nem todos os postulados de valores e crenças comumente denominados
ideológicos estejam associados a um poder político dominante, como no caso da ideologia
socialista ou feminista, por exemplo (EAGLETON, 1997). Desse modo, é crucial saber
distinguir noções neutras ou amplas de ideologia, como, por exemplo, conjunto de crenças e
valores, visão de mundo, filosofia de vida, etc., da concepção crítica ou restrita de ideologia,
enquanto crenças, significados, ideias, signos que visam a estabelecer, justificar ou manter
relações de dominação.
Para Thompson (1995), o conceito de ideologia não pode ser facilmente despojado
da essência negativa marxista, sob a alegação de que ao tentarmos fazê-lo menosprezamos
uma série de problemas em relação aos quais o tema da ideologia, apesar de suas diferentes
versões, tentou chamar nossa atenção, como a alienação e a dominação. O cuidado que
devemos ter é não limitar a análise das formações ideológicas ao âmbito da luta de classes.
Como nossa crítica dirige-se à burocracia enquanto sistema ideológico de
dominação, o principal critério de negatividade que procuramos enfatizar na versão de
ideologia à qual vamos aderir é a dominação, ou seja, relações assimétricas de poder e
imposição da vontade. Ademais, ao mantermos o sentido negativo de ideologia, então
estamos supondo que os fenômenos caracterizados como ideológicos são suscetíveis de crítica
(THOMPSON, 1995) e combatíveis em função de sua oclusão às intenções emancipatórias
dos sujeitos.
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Uma tal noção de ideologia pressupõe reflexão sobre a centralidade das categorias do
poder ou dos interesses num determinado contexto histórico-social, haja vista que se não há
valores e crenças que não estejam estreitamente associados ao poder ou a um interesse
dominante, então a própria noção de ideologia corre o perigo de se expandir até desaparecer.
Assim, o conceito de ideologia só é eficaz e elucidativo se nos ajuda a distinguir entre aqueles
interesses e conflitos de poder que, em um dado momento histórico, são claramente centrais a
toda uma ordem social e aqueles que não o são. De acordo com Eagleton (1997, p. 21),

Uma discussão entre marido e mulher, à mesa do café, sobre quem exatamente deixou que a
torrada se transformasse naquela grotesca mancha negra não é necessariamente ideológica;
só o seria se, por exemplo, começasse a envolver questões como potência sexual, opiniões
sobre o papel de cada um dos sexos e assim por diante.

A partir dessas considerações, ideologia pode ser concebida como crenças, ideias,
sentidos ou significados, falsos ou verídicos, que, em contextos específicos, ajudam a
promover e legitimar interesses setoriais de um grupo social dominante, e/ou a
estabelecer e sustentar relações assimétricas de poder. Nesse sentido, a ideologia pode
implicar a conivência dos grupos subordinados em relação às atividades de um poder social
dominante, bem como ilusão, dissimulação, mistificação e distorção da realidade, sejam elas
provenientes de grupos dominantes ou do conjunto da sociedade como um todo
(THOMPSON, 1995; EAGLETON, 1997).
Acresce ressaltar que, segundo tal definição, o fundamental não é precisamente a
verdade ou falsidade das crenças e ideias, senão as maneiras como essas formas de
significados servem para sustentar relações de dominação (THOMPSON, 1995;
EAGLETON, 1997). Dito de outro modo, não interessa tanto o papel da falsidade epistêmica
dos significados, mas um outro tipo de falsidade da consciência, em virtude de suas
propriedades funcionais: uma forma de consciência é funcionalmente falsa na medida em que
suporta ou justifica instituições sociais condenáveis, práticas sociais injustas, relações de
exploração, dominação ou hegemonia (GEUSS, 1981). Aqui a falsa consciência ideológica
não significa que as ideias ou crenças sejam inverídicas – pelo contrário, podem até ser
verdadeiras –, mas que são repreensivamente funcionais para a manutenção de um poder
político dominante (EAGLETON, 1997).

4 Burocracia enquanto ideologia

Nessa seção, buscamos argumentar que uma interpretação que enfoca o caráter
subjetivo da teoria da dominação de Max Weber, isto é, que transcende ao hábito de
caracterizar a burocracia a partir da tipologia ideal (PAES DE PAULA, 2002), pode nos
ajudar a compreender o fenômeno da burocracia como ideologia, à medida que a burocracia
se apresenta como tipo de dominação consubstanciado na crença na legitimidade de certas
ideias e pressupostos organizacionais racionalmente estabelecidos.
Nesse sentido, Weiss (1983) defende que o importante para Weber é que um
conjunto de ideias legitimadas é o quesito crucial num sistema de dominação. O próprio
Weber (2012) é preciso ao afirmar que a dominação burocrática baseia-se na vigência de
certas ideias, intimamente entrelaçadas entre si, ideias que se referem aos princípios racionais
da administração burocrática por ele descrita. Por outras palavras, a administração burocrática
é legitimada pela crença nas regras racionalmente calculadas e instituídas. Isso nos leva a
considerar o fato de que se não houver a crença nesses pressupostos racionais que legitimam a
autoridade burocrática, então não se configura uma burocracia, isto é, uma dominação
racional-legal.

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De acordo com Richard Hilbert (1987), que analisa a burocracia como um conjunto
de crenças e ideias, parece admissível afirmar que é o espírito burocrático, isto é, a
mentalidade burocrática, que assegura a fonte de legitimidade para a ação dos atores sociais
dentro da forma de dominação racional-legal. Hilbert busca interpretar a burocracia não como
a descrição de uma organização macroestrutural, mas enfatizando o aspecto subjetivo do
conceito weberiano de burocracia, o qual ele identifica como um espírito da burocracia ou
uma mentalidade burocrática, no que se aproxima da noção de ideologia. Sua tese resume-se
no seguinte:

Nós estamos sugerindo que a burocracia de Weber pode ser concebida, ao menos
parcialmente, como uma descrição não de um funcionamento organizacional real, nem
mesmo com sua caracterização típico-ideal, mas, ao invés disso, como uma versão subjetiva
de tal funcionamento do ponto de vista do ator burocrático (HILBERT, 1987, p. 71).

Nessa linha, a mentalidade burocrática refere-se à crença de que as ideias e


pressupostos burocráticos são genuinamente legítimos como fundamentos de ação dos
indivíduos nas organizações burocráticas.

O que produz o comportamento empírico é a crença em regras formais como fatores


determinantes da ação rotineira, como se fossem uma questão de dever a ser “seguido”, [...]
tidas como legítimas em virtude de sua presumida impessoalidade racional, sua exatidão,
sua estabilidade, e assim por diante (HILBERT, 1987, p. 77).

Conforme tal abordagem, os princípios burocráticos são ideias mantidas e subscritas


como bases de legitimação genuína para as ações firmadas em contextos burocráticos, sendo a
mentalidade burocrática a convicção de que os indivíduos devem se subordinar ao sistema
formal-racional da burocracia. A base da dominação burocrática é, portanto, subjetiva: refere-
se à confiança ou à complacência em relação à autoridade e aos princípios típico-ideais da
administração burocrática.
No que concerne a esse argumento, Andrews (2010) explica, por exemplo, que a
existência da dominação carismática não se dá pela observação sistemática das qualificações
sobrenaturais do líder, ou seja, a descrição do tipo de dominação carismática apresentada por
Weber deve ser apreendida como uma descrição das justificativas dos atores sociais para a
legitimação dessa forma de dominação. É o caso também para a dominação tradicional, isto é,
não faz sentido buscarmos evidências do tipo de dominação tradicional examinando-se
minuciosamente a cadeia hereditária que levou o líder tradicional ao poder; o que faz sentido
é saber que a hereditariedade é, para os indivíduos, a justificativa legitimadora dessa
dominação. Assim, os atributos especiais do líder carismático ou a descrição dos tipos
primários de dominação tradicional mencionados por Weber são irrelevantes para uma análise
científica, importando mais como e porque a autoridade desses líderes é efetivamente seguida
(HILBERT, 1987).
Dessarte, não há razão para interpretarmos a dominação racional-legal sob uma
perspectiva completamente diversa daquela que Weber adotou para as outras formas de
dominação (ANDREWS, 2010). Logo, é insuficiente para os propósitos de uma análise
científica se os pressupostos burocráticos típico-ideais estão plenamente presentes no plano
empírico de uma organização. O relevante é desvelar como os membros subordinados são
orientados a crer em tais princípios racionais como fontes genuínas de legitimidade
(HILBERT, 1987).
Ademais, a burocracia pode ser compreendida como uma questão de crenças também
porque o próprio Weber previra que, como ordem legítima caracterizada por regulações
formais abstratas, a burocracia pode ser mantida por variadas razões. Segundo ele, os
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funcionários civis prussianos do século XIX desempenhavam suas tarefas eficientemente pela
crença em uma constelação de valores, de acordo com uma ética burocrática que lhes requeria
seriedade, precisão, eficiência, pontualidade, disciplina, estabilidade e confiabilidade. Nesse
caso extraordinário, explica Kalberg (1980), mesmo um tipo de racionalidade substantiva,
baseada em valores, poderia tornar-se um meio apropriado para o cumprimento de padrões de
ação racional formal.
Dessa feita, ao tratar-se de crenças que são funcionais aos poderes governantes, pois
justificam e atribuem legitimidade à dominação, o espírito ou mentalidade da burocracia pode
ser compreendido em termos de ideologia, visto que os indivíduos confiam, internalizam e
mantêm tais crenças, submetendo-se ao sistema racional da burocracia e atestando a
autoridade dos dirigentes.
Em suma, a burocracia reside fundamentalmente não na existência de regras
sistematizadas e calculadas, não nos pressupostos típico-ideais da organização burocrática per
si, mas, sobretudo, nas crenças, significados, ideias e discursos por meio dos quais essas
normas são endossadas, respeitadas e tidas como legítimas. Ao implicar a crença na vigência
de regras racionais que legitimam e sustentam relações de dominação, no caso, de um tipo
racional-legal, a dominação burocrática é, portanto, ideológica.
Acresce ressaltar, além disso, que o próprio Weber (2012, p. 190) frisara que “em
toda relação de dever autoritária, certo mínimo de interesse em obedecer, por parte do
submetido, continua sendo, na prática, a força motriz normal e indispensável da obediência”.
Isto posto, na sequência argumentamos que a ideologia burocrática potencializa a
burocratização da mente dos indivíduos por intermédio de variadas estratégias e recursos que
elevam a inclinação dos sujeitos à obediência aos ditames das normas burocráticas.

5 As estratégias ideológicas da burocracia

Segundo Eagleton (1997) e Thompson (1995), as ideologias, de modo típico,


apresentam alguns atributos pelos quais operam estrategicamente. Nessa perspectiva, as
ideologias frequentemente podem ser consideradas unificadoras, fragmentadoras,
dissimuladoras, legitimadoras, universalizadoras e naturalizadoras (reificadoras).
Convém esclarecer que essas estratégias não são inerentemente ideológicas e nem constituem
os únicos modos de operação das ideologias, pelo contrário, é provável que em qualquer
formação ideológica essas estratégias possam estabelecer relações e interações complexas,
reforçando-se e sobrepondo-se mutualmente (THOMPSON, 1995).
Em relação ao primeiro atributo, diz-se comumente que as ideologias são
unificadoras, o que talvez lhes permitam impor certa unidade ao conjunto da sociedade,
como um cimento social que confere coerência e coesão aos grupos e classes que a sustentam,
fundindo-os em uma unidade unitária e aprisionando os indivíduos à ordem social que os
oprime (THOMPSON, 1984). Inobstante, ainda que lutem para homogeneizar-se, as
ideologias raramente são homogêneas. Pelo contrário, ideologias são formações internamente
diferenciadas e complexas, repletas de conflitos entre seus vários elementos constituintes que
precisam continuamente ser debatidos, renegociados e resolvidos (EAGLETON, 1997).
“As ideologias não são tão ‘puras’ e unitárias quanto elas próprias gostariam de
acreditar”, assinala Eagleton (1997, p. 51). Uma ideologia dominante tem de negociar
incessantemente com as ideologias dos subordinados, e, em vista disso, há uma abertura
essencial que a impede de alcançar qualquer espécie de auto-identidade plena, mesmo porque
nenhuma hegemonia é absoluta. Assim, uma ideologia dominante deve integrar as ideologias
próprias daqueles que ela quer subjugar (PAGÈS et al., 1987). Isso tende a fazer a ideologia
algo internamente heterogêneo e inconsistente, e, paradoxalmente, poderíamos dizer que para
ser monológico, isto é, exercer autoridade sobre os sujeitos, um discurso ideológico deve
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simultaneamente ser dialógico, pois mesmo um discurso autoritário está na dependência da


resposta do outro (EAGLETON, 1997).
Nesse particular, Tragtenberg (2012) argumenta que a ideologia burocrática,
aparentemente pluralista, mas na verdade monocrática, vincula as formas de sentir, pensar e
agir das coalizões dominantes aos grupos subordinados, e esse caráter ideológico dual da
burocracia é apontado pelo autor na seguinte passagem:

A burocracia age antiteticamente: de um lado responde à sociedade de massas e convida a


participação de todos, de outro, com sua hierarquia, monocracia, formalismo e opressão
afirma a alienação de todos, torna-se jesuítica (secreta), defende-se pelo sigilo
administrativo, pela coação econômica, pela repressão política (TRAGTENBERG, 2012, p.
236).

O participacionismo da escola das relações humanas é um exemplo claro dessa


estratégia ideológica da burocracia, porque expressa um discurso que busca pela ampliação da
participação dos operários nos processos decisórios, mesmo que o papel destes se limite a
mero endosso, visto que as decisões já vêm tomadas de cima (TRAGTENBERG, 2006). E
isso que ocorre no âmbito da empresa, ocorre também entre os governantes e o populacho.
Conquanto a tese da ideologia como totalmente unificadora seja fraca em
fundamentar a afirmação de que indivíduos de diferentes extratos estão ligados à ordem social
da mesma maneira (THOMPSON, 1984), pois se assim o fosse cairíamos em mero
internalismo, em muitas situações, porém, a ideologia é capaz de construir formas simbólicas
que interligam os indivíduos numa identidade coletiva, independentemente das diferenças e
divisões que possam separá-los. Essa estratégia pode dar-se por meio dos recursos da
padronização e simbolização da unidade.
Nesse sentido, embora as organizações possam ser concebidas como formações
sociais caracterizadas por forças heterogêneas de poder e conhecimento (BÖHM, 2006), ou
como construções sociais dinâmicas e contraditórias (FARIA, 2004), elas buscam garantir que
as pessoas sobrevivam de conformidade com certos padrões aceitáveis de comportamento e
raciocínio estabelecidos pelos grupos dirigentes (PRESTES MOTTA, 1981, 1993). Os
indivíduos sempre procuram uma identidade social, e a organização burocrática, valendo-se
da crença no pertencimento (FARIA, 2004), oferece modelos que lhes permitem imaginar que
obtiveram tal identidade. Assim, as pessoas identificam-se com funções, com departamentos
e, em última instância, com a própria organização, buscando seu lugar dentro do organograma
(PRESTES MOTTA, 1981).
A ideologia burocrática é reproduzida como símbolo de unidade para consumo
popular através da inculcação, por mediação dos mais variados aparelhos ideológicos estatais
ou privados (TRAGTENBERG, 2012), pelos quais é transmitido o sistema de símbolos,
significados, ideias e projetos coletivos que interessam aos grupos dominantes e ao próprio
Estado, do qual as escolas são um bom exemplo (PRESTES MOTTA, 1981). Igualmente, é
difundido o discurso da competência, que nos “ensina” como devemos nos relacionar com o
mundo e com os outros, exigindo que interiorizemos certas regras e valores de interesse das
organizações produtivas capitalistas (CHAUÍ, 2001). Esse discurso incentiva-nos a buscar um
diploma universitário a qualquer custo, a lutar por uma posição na hierarquia, a atribuir à
capacidade de consumo a fonte da felicidade, a desenvolver determinadas maneiras de
comportamento social, vestimenta e fala, unificando-nos (quase) num modelo unidimensional
de homem. Essa estratégia tem relação com a adesão ideológica a um sistema de valores que,
para Pagès et al. (1987), é um elemento fundamental para o exercício de poder da empresa
capitalista.
Mas como nem sempre as relações de dominação podem ser mantidas unificando as
pessoas numa identidade coletiva, outro modo de operação da ideologia é a fragmentação,
9
 
 

que tem a ver com a segmentação daqueles indivíduos e grupos que possam ser capazes de se
converter num desafio real aos grupos dominantes, conduzindo as potenciais forças de
oposição em direção a um alvo que é projetado como mau, perigoso, ameaçador ou ilegítimo
(THOMPSON, 1995). Isso comumente ocorre mediante o processo de diferenciação, cuja
ênfase é dada às distinções, incompatibilidades e divisões entre pessoas e grupos, reforçando
as características que os desunem e os impedindo de constituir uma afronta efetiva às relações
dominantes existentes ou participar genuinamente no exercício do poder.
Com a burocracia, a fragmentação já opera no nível do próprio indivíduo, porquanto
é apartado do controle sobre o processo produtivo com a divisão entre pensadores e
executores (PRESTES MOTTA, 1981). Como escreve Tragtenberg (2012, p. 59), “o operário
é mutilado, convertido em operário parcial”. Essa diferenciação entre trabalho material e
mental aliena as pessoas, impedindo-as de perceberem que estão trabalhando sob a ilusão de
autonomia, e tal alienação “faz com que o produto surja como um poder separado do produtor
e como um poder que o domina e ameaça” (CHAUÍ, 2001, p. 63).
Nas burocracias, o indivíduo ainda passa por um processo de socialização, que se
refere ao seu ajustamento às necessidades da organização (PRESTES MOTTA, 1981).
Embora tal socialização nunca ocorra por completo, pois as organizações são espaços de
contradições e conflitos, o sujeito é, porém, atomizado, posto que são privilegiadas somente
as características, habilidades e competências do indivíduo que são úteis para a produção. A
palavra também é fragmentada, haja vista que só tem direito a se pronunciar sobre certa
temática ou problema aquele que possui saber técnico, competência específica (CHAUÍ,
2001).
A estratégia ideológica da fragmentação pode ainda ser compreendida como
obstrução a quaisquer tentativas de desposicionamento e reposicionamento da concepção
dominante de organização e do organizar. O discurso do desposicionamento no campo das
teorias administrativas implica o questionamento e a denúncia das noções restritas, acabadas e
naturalizadas de organização: formal, racional, técnica, burocrática; já o reposicionamento
concerne ao anúncio de formas organizativas que desafiam o modelo dominante e buscam sua
efetiva suplantação, a partir de outras possíveis formas de organização social, alternativas e
contra-hegemônicas (BÖHM, 2006). O projeto de reposicionamento da concepção
hegemônica de organização pressupõe inerentemente a tomada de posição e engajamento
políticos; trata-se, portanto, de um discurso político que necessita de articulação e
mobilização política.
Sem embargo, esse engajamento é atravancado pela estratégica ideológica da
fragmentação, na medida em que a burocracia, como modelo dominante de organização que
busca impregnar-se na consciência dos sujeitos isolando-os em determinados papeis, cargos e
funções, neutraliza as possibilidades das forças opositoras de gerarem ações políticas efetivas
de reposicionamento da ordem vigente nas organizações. Resumidamente, o discurso da
organização burocrática tende a tornar opacos os pontos comuns entre os grupos subordinados
e de resistência, dirimindo as arenas de conflito, pois não devemos esquecer que, não raro,
mesmo o conflito pressupõe certo grau de acordo mútuo (EAGLETON, 1997). Não existe
necessariamente conflito entre nós se eu afirmo que burocracia é um sistema de dominação
alienante e você sustenta que é a demora da repartição pública em atender sua demanda;
agora, poderia tornar-se um embate se você alegasse que a burocracia é um espaço genuíno de
emancipação política.
Outro modus operandi da ideologia é a dissimulação, que diz respeito ao
estabelecimento e à sustentação de relações de dominação pelo fato de elas serem ocultadas,
negadas ou obscurecidas, ou, ainda, serem representadas de maneiras que desviam nossa
atenção ou passam por cima das verdadeiras relações e processos existentes. Um recurso
comumente associado a essa estratégia é o deslocamento, que ocorre quando um termo
10
 
 

costumeiramente utilizado para se referir a um determinado objeto ou pessoa é usado para


reportar-se a outro, transferindo para este suas conotações positivas ou negativas
(THOMPSON, 1995).
Um exemplo de deslocamento é evidente quando as coalizões dominantes de uma
organização atribuem aos seus interesses o caráter de coletivos ou comuns, ainda que de longe
convirjam com os interesses de todos ou ao menos da maioria. Mesmo a alegação de Weber
(1982, p. 249), de que a razão para “o progresso da organização burocrática foi sempre a
superioridade puramente técnica sobre qualquer outra forma de organização”, foi deslocada,
especialmente pela corrente gerencialista da teoria organizacional, para referir-se à forma
organizativa do trabalho superior e mais eficiente sob quaisquer pontos de vista, servindo de
pretexto justificador do avanço generalizado da burocracia sobre diversas esferas da vida
social. Outro exemplo de deslocamento é a própria banalização do termo burocracia no meio
popular, e mesmo acadêmico, quando se utiliza a palavra vulgarmente para remeter-se à ideia
daquilo que é disfuncional, moroso, ineficiente ou desnecessário nas atividades cotidianas e
organizacionais, passando de longe pelo cerne da questão.
A ideologia burocrática também é dissimuladora porque as burocracias são instâncias
de relações entre desiguais. As desigualdades, todavia, são camufladas no discurso da
organização mediante a reprodução de representações simbólicas como “todos trabalhando
para o bem comum”, “no interesse da coletividade”, “a empresa somos nós”, “vestir a
camisa”, etc. (PRESTES MOTTA, 1981). Essas representações encobrem as contradições
reais, evidenciando a aparência e escondendo o ser das relações sociais. Nesses termos, esse
conjunto “oficial” de ideias, sentidos, valores e modos de pensar falsifica a realidade social,
pois, como salienta Prestes Motta (1981), a fantasia é a de que a organização burocrática é
capaz de satisfazer a todos.
Conduto, como observa Clegg (1990), a prisão de muitos no aparelho burocrático das
organizações é condição sine qua non para a liberdade de ação de poucos em favor de
constrangimentos organizacionais e racionais viabilizados por meio da instrumentalidade das
estruturas burocráticas. Por isso, a ideologia da burocracia geralmente reveste-se de um
conteúdo humanista que é sistematicamente difundido pelos altos escalões da hierarquia,
procurando tornar legítima a ação da organização e ocultando seus objetivos de dominação e
controle em nome de valores nobres partilhados pelos trabalhadores. Assim, o discurso
organizacional leva o indivíduo a experimentar situações de engrandecimento e liberdade, e,
simultaneamente, sentir-se prisioneiro e inseguro (PRESTES MOTTA, 1981; FARIA, 2004).
A eufemização é outro recurso que facilita a dissimulação, através de pequenas ou
mesmo imperceptíveis mudanças de sentido. Aqui, as ações, instituições e relações sociais são
descritas de maneira a despertar uma valoração positiva, como quando a supressão de um
protesto é tomada como “restauração da ordem” ou a prisão em um campo de extermínio é
descrita como “centro de reabilitação” (THOMPSON, 1995).
A eufemização, no nosso entender, está intimamente associada à falácia da
desburocratização ou flexibilização organizacional. O discurso da organização flexível, pós-
moderna ou pós-burocrática clama por trabalhadores qualificados, participativos,
multifuncionais e polivalentes sob a justificativa de que esse novo modelo fornece,
supostamente, imensas vantagens para o funcionário, como flexibilidade para trabalhar,
oportunidades para participar da tomada de decisão, melhoria da qualidade de vida no
trabalho, etc. (PRESTES MOTTA, 1981; PAES DE PAULA, 2002). O discurso da
flexibilidade, no entanto, é um discurso inflado, eufemizado, pois trata somente de um
processo de adaptação da organização burocrática ao contexto e necessidades do capitalismo
hodierno, posto que as teorias administrativas são dinâmicas, modificando-se com a transição
das formações socioeconômicas (TRAGTENBERG, 2006). O engodo da organização pós-
burocrática é um tipo de disfarce que oculta formas reinventadas de controle que continuam a
11
 
 

garantir a produtividade e a perpetuar a dominação (PRESTES MOTTA, 1993; PAES DE


PAULA, 2002), sem que tenha havido uma efetiva ruptura no âmbito da racionalidade
preponderante e da ideologia subjacente nas organizações capitalistas.
A ideologia também opera, tipicamente, por meio da estratégia da legitimação. Para
Eagleton (1997, p. 58), “a legitimação refere-se ao processo pelo qual um poder dirigente vem
a assegurar de seus sujeitos, pelo menos, uma anuência tácita à sua autoridade”. Dessarte, um
modo de dominação legitima-se quando as pessoas submetidas e ele passam a julgar suas
próprias ações a partir dos critérios de seus governantes. Conforme Weber (2012, p. 193)
escrevera, “toda administração precisa, de alguma forma, da dominação”, e, sendo assim, nas
burocracias as relações entre dominantes e dominados precisam ser constantemente
apresentadas como consolidadas, sendo continuamente reforçadas e justificadas de um modo
que procuram ser plenamente convincentes (PRESTES MOTTA, 1981).
As relações de dominação podem ser mantidas na medida em que se apresentam
como legítimas e, já argumentamos, é a crença na legitimidade das ordens que constitui o
fundamento de confiabilidade da dominação burocrática. Logo, toda dominação procura
despertar e cultivar a crença em sua legitimidade, pois sua subsistência depende, em elevado
grau, da autojustificação que alcança mediante o apelo aos princípios de sua legitimação
(WEBER, 2012).
Nesse contexto, a concepção de racionalização da modernidade assemelha-se à noção
de burocratização: a primeira diz respeito à substituição da crença na magia, nos sentimentos
e na tradição pela crença em regras racionais técnicas e científicas; a segunda refere-se à
difusão da crença na vigência de um conjunto de normas formais sistematicamente calculadas
(WEBER, 2012). Como vimos, ao fundar-se na crença em ideias que visam a sustentar
relações de dominação, a burocracia é ideologia já na sua gênese.
Outra das estratégias primordiais para qualquer ideologia alcançar legitimidade é a
universalização de si mesma. Trata-se de um processo de “eternização” da ideologia, no qual
valores e interesses, que são na verdade peculiares de um determinado lugar, momento
histórico ou grupo social, são projetados como valores e interesses de toda a humanidade
(EAGLETON, 1997; THOMPSON, 1995).
A universalização da ideologia, por sua vez, tem uma ligação patente com a
estratégia ideológica da naturalização, visto que aquilo que percebemos como universal pode
frequentemente ser tido como natural. As duas estratégias, todavia, não são sinônimas. A
naturalização, explica Eagleton (1997), diz respeito à capacidade que as ideologias bem-
sucedidas têm de naturalizar suas crenças tornando-as auto-evidentes, confundindo-as com o
senso comum de uma sociedade de modo que ninguém sequer imagine como poderia ser
diferente. Nesse processo, a ideologia busca criar um ajuste tão perfeito quanto possível entre
si e a realidade social, redefinindo tal realidade para tornar-se coextensiva a ela, tão
inseparáveis quanto carne e unha, e, sendo assim, obstruindo a verdade de que foi a realidade
que, de fato, a engendrou.
A partir dessa perspectiva, uma ideologia dominante não se dedica tanto a combater
ideias alternativas quanto empurrá-las para fora dos limites do imaginável. Ela cristaliza-se na
vida social de modo tal que todo traço sobre suas origens fica perdido e qualquer
questionamento sobre sua finalidade é inimaginável, adquirindo, então, uma rigidez que não
pode ser facilmente quebrada. A existência das ideologias, portanto, reside no fato de que há
coisas sobre as quais, custe o que custar, não devemos pensar, muito menos falar
(EAGLETON, 1997; THOMPSON, 1995). As ideologias tornam as coisas óbvias demais para
isso.
Para Eagleton (1997, p. 62), “como a universalização, a naturalização é parte
investida desistoricizante da ideologia, sua negação tácita de que as ideias e crenças sejam
específicas de uma determinada época, lugar e grupo social”. Com a naturalização, os
12
 
 

fenômenos sócio-históricos são então reificados. A ideologia como reificação implica a


eliminação ou a ofuscação do caráter social e histórico da própria história; esta é congelada
pelas ideologias em uma “segunda natureza”, apresentando-a como inevitável, espontânea e
inalterável.
A burocracia, embora seja produto das condições sócio-históricas nas quais está
embutida, tende a despir-se de sua historicidade; ela é a ideologia de uma sociedade a-
histórica:

O fantasma burocrático é a abolição do histórico na história, a restauração da lógica da


“sociedade sem história”, o desejo de igualar o instituinte e o instituído, negar o
imprevisível, o incognoscível, a perda contínua do passado sob a ficção de uma ação social
transparente para si mesma, capaz de controlar de antemão seus efeitos e de manter-se em
continuidade com sua origem (LEFORT, 1974, p. 44).

Na burocracia, como os processos sociais são retratados como coisas, ou como


acontecimentos de um tipo quase natural, isso permite que relações assimétricas de poder
sejam estabelecidas e sustentadas pela retração de uma situação transitória e histórica como se
fosse permanente, natural e atemporal (THOMPSON, 1995; EAGLETON, 1997). Nesse
contexto, a naturalização da forma burocrática de organização é a naturalização do poder
burocrático e das relações de dominação (PRESTES MOTTA, 1986).
A burocracia, para Tragtenberg (2012, p. 64), “atua como reprodução do capitalismo,
na medida em que a ação racional corporificada nas estruturas burocráticas permite a
universalização do cálculo racional”. Com a universalização da racionalidade formal-
instrumental, a burocracia torna-se então inevitável (é o que a ideologia quer), porque
aplicável a diversos tipos de organização – administração estatal, empresas, partidos políticos,
sindicatos – e, igualmente, podendo ser inserida nos mais variados regimes políticos:
parlamentares, monarquias, socialismo de Estado, etc.
No entender de Tragtenberg (2012), a burocracia, com seu quadro administrativo
fetichista, pelo qual exerce seu papel de mediação entre dominantes e dominados, procura
garantir sua autolegitimação, apresentando-se como necessidade natural ao bom
funcionamento das instituições. A aflição do autor diz respeito ao fato de que as organizações
burocráticas têm se tornado uma espécie de “Deus na terra”. Entretanto, “toda organização é
um meio para realizar fins. Na hora em que a organização se torna um fim em si mesmo,
tende a perder o sentido” (TRAGTENBERG, 2011, p. 78).
O impulso da burocracia em propagar-se numa variedade de sistemas organizativos,
bem como sua alta capacidade de mutação, leva-nos considerar que, longe de ser suplantada, a
burocracia está se rejuvenescendo e eternizando através de complexos processos de
hibridismo, por meio dos quais adquire novas configurações organizacionais, sem, contudo,
abalar o núcleo político e os princípios morais que lhe servem de sustentação
(COURPASSON; CLEGG, 2006).
Acresce salientar, ainda, que no contexto das teorias organizacionais a estratégica
ideológica da naturalização tem a ver com a perspectiva de posicionamento de Böhm (2006).
O posicionamento é um processo inerente à visão moderna de organização, que usualmente
concebe a organização como uma posição segura, formada, predeterminada e dada, restrita ao
reino das entidades e instituições formais. Esse posicionamento pressupõe a administração e a
manutenção das organizações em um mundo ordenado e técnico, caracterizado pela clara
divisão do trabalho, profissionalismo e corpos racionais passíveis de serem mensurados,
representados e alocados em determinadas posições.
Reconhecer a noção posicionada de organização não é, porém, contribuir para sua
universalização e naturalização, senão alertar que desbravar outros possíveis é uma tarefa
árdua. A dificuldade de desposicionar e reposicionar a concepção dominante de organização
13
 
 

passa pela aversão que muitos têm de reconhecer que o posicionamento da teoria
organizacional é uma questão ideológica, afinal, é incômodo para qualquer um sustentar
concepções ideológicas, no sentido crítico aqui empregado, quando está ciente de que são
ideológicas, afinal, como observa Eagleton (1997, p. 63), “se a ideologia se reconhecesse
como tal, deixaria imediatamente de ser o que é, assim como se um porco soubesse que é um
porco, não mais o seria”.

6 Considerações finais

Os argumentos aqui aludidos evidentemente carecem de aprofundamentos, mas por


tudo quanto foi visto neste ensaio teórico, pensamos oferecer algumas contribuições
relevantes acerca de um dos argumentos seminais da obra de Maurício Tragtenberg. Uma das
grandes riquezas desse pensador crítico da teoria organizacional, no nosso entender, é
justamente o desvelamento do caráter ideológico da burocracia e das teorias administrativas.
Esse talvez seja o primeiro passo para transcendermos às noções dominantes de organização e
de organizar, rompendo efetivamente com as harmonias administrativas.
Como buscamos discutir, a ideologia burocrática sobre a qual nos alerta Tragtenberg,
e também muitos estudiosos influenciados por seus escritos, está menos nas estruturas
burocráticas, na funcionalidade ou não dos burocratismos organizacionais, do que na mente
dos indivíduos, pois a burocracia enquanto ideologia é uma questão de significados, crenças,
ideias, discursos que, consciente ou inconscientemente, verídica ou falsamente, são
difundidos entre os indivíduos nas organizações em geral para a justificação e manutenção das
relações de dominação.
Mediante uma definição de ideologia que elege o fenômeno da dominação como
elemento nuclear, intentamos contribuir com uma abordagem teórico-conceitual dos modos
estratégicos de operação da ideologia burocrática. Embora essas estratégias não sejam
ideológicas em si, essas manobras são tipicamente importantes para a ideologia dominante das
organizações, podendo ainda existirem outras estratégias que não puderam ser aqui
mencionadas.
Entendemos, contudo, que a ideologia possui fissuras, ainda que tente escondê-las, e
nas organizações há brechas que oportunizam a crítica, a resistência e a reconstrução do
discurso organizacional. A ideologia da burocracia não é inconsútil, e seria insensato
pensarmos que todas as pessoas estão completamente iludidas na vida organizacional. “A
prova de que ninguém é, ideologicamente falando, um todo completo”, escreve Eagleton
(1997, p. 14), “é o fato de que as pessoas ditas inferiores devem realmente aprender a sê-lo”.
Não basta definir uma mulher, um homem do campo ou um operário de uma fábrica como
sendo formas de vida inferiores; é preciso lhes ensinar efetivamente a ser tal como essa
definição. O problema é que muitos deles revelam-se exímios bacharéis nesse processo, e a
ideologia da burocracia e das teorias administrativas é uma “formadora” hábil desses tipos de
sujeitos.

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