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FUNDAGAO PARA O DESENVOLVIMENTO DA UNESP Praidete de Co ‘Arthur Roquete de Macedo Carader Dirtor-Breidente ‘Amilton Ferccina Dintera de Fomeuto 3 Prguisa Hermione Elly Melara de Campos Bicudo Dinter de Pabiases José Catili Marques Neto EDITORA UNESP Dindor Jos Castitho Marques Neto Conta Batra Academica Aguinaldo José Goncalves ‘Anna Matia Martinge Coté ‘Aatonio Catlos Massari Antonio Clo Wagner Zanin Antonio Manoel dos Santos Silva (Cacos Erivany Fantinat Fausto Fore Jost Ribeiro Jénior Roberto Kraenet Balto Aint José Aluysia Reis de Andrade Matin ApposecidaF.M. Busolotti Talio ¥. Kawata GILLES-GASTON GRANGER A CIENCIA E AS CIENCIAS ROBERTO LEAL FERREIRA Meas Copyright © 1993 by Preses Universitaires de Ponce ‘Titulo original em francs: La ieee le wens Copyright © 1994 da traducio brasileia: Editors UNESP ds Fundagao pars 0 Desenvolvimento sls Universidade Estadual Paulista (FUNDUNESP) ‘Av. Rio Branco, 1210 (01206-904 - Sdo Paulo~sP ‘TeldFax: (011) 223-9560 Dados Internacionais de Catalogagao na Pablicagio(C1P) (Cara Beasilcta do Livo, SP, Brasil) Granger, Gilles Gusto, 1920- ‘Acincia a8 cgacias /Gille- Gaston Granger; trad Roberta Leal Fercera ~ Sho Paulo Editors da Universidade Fytadual Paulista, 1994. — (Arado), DBibliogras ISBN 85-7139-064-9, 1, Ciéngia 2 Cigncia— losin 1 Titulo, I. Sétie. 94.2565 cpp301 Indices para catéogo sstemstico: 1, Citi Filosofia 501 [ononoe Si | Neha Biles iA Bie SS cM-o0067 ‘SUMARIO Preficio a edigdo brasileiea 7 Preimbulo 9 1, Os problemas de uma “Idade da ci€neia” 11 1. Odesenvolvimento explosive da citncia 11 I, Acitnciaea vida quotidian 16 TL, A vulgatizagio de uma ida da citacia 17 IV. Os novos problemas étices 19 2. Deve-se confundir conhecimento cientifico esaberes técnicos? 23 1, Uma idéia antiga sobre as relages entre as ciéncias os saberes técnicos: Aristételes 23, H, Das técnicas empiric is téenicas cientices 25 II, Ciencia, técnica e produgio de massa 36 3. Diversidade dos métodos ¢ unidade de visio 41 I. Pluralidace dos métodos e anarquisuo metodolégico 42 IL Tris teagos caracterfsticos da visio cientifica, 45 IIL Astinguagens da cigncis 51 4, Citas formaise citncias da empiria 59 1 Os abjetos matemdticos 59 1, Demonstragioe vedade nas matemiticas 66 TIL, Os objetos das ciéncias da empiria 70 IV. Asteorias 76 LV. A validagio dos enunciados das cigncias empiicas 78 5. Cigncias da natureza e cigncias do homem — 85 1, Ocasollimite da histéria 86 II, Conceitualizagio eobservasio 87 UL, O emprego das mateméticas 92 IV. A validagio dos enuncisdos 97 6. A evolugio das verdades cientificas 101 1, Continuidade e descontinuidade da histéria ds cidacias 101 IL As descontinuidades internas da historia das citncias 105 IK, A idéia de progeesso cientifico 108 Conclusio 113 Léxico de alguns termos cientificos 125 Bibliogtafia 123 PREFACIO A EDIGAO BRASILEIRA Este pequeno livro, apés quarenta anos de intervalo, serve, pot assim dizer, de pendant ao manual que, joven professor da Universidade de So Paulo, publique! com 0 titulo de Légica ¢ filosofia das cifuias e, na. colegio Que sais-je?, como La raison, pouco depois traduzido pata 0 portugues. Pottanto, € para mim, cujos lagos com 0 Brasil sio tio antigos ¢ tio fortes, uma satisfagio imensa ver também, traduzido em portugues A cifecia eas céncas, Nele se encontrario, numa forma resumida ¢, creio, acessivel até ao leitor no fildsofo, as rellexdes sobre a rnaturcza, 0 valor eo alcance do saber cientifico que uma caminhada jd longa me inspirou. Alegro-me, pois, em pen sar que 0s leitores brasileiros poderio Ié-lo em sua lingua € Ihes sou antecipadamente geato pela atengIo que terio a gentileza de Ihe prestar. Cassiopée, 20 de maio de 1994. PREAMBULO 1. Hoje, no teatro desmedidamente extenso das repre sentagies de nosso mundo oferecidas a todos pelos textos © plas imagens, a cineia certamente aparece como uma petsonagem essencial. Misteriosa, porque o pormenor de sua figura nao esté a0 alcance dos préprios cientistas; tutelar, porque dela dependem as maravithosas miquinas que po- ‘yoam os lugares em que vivemos; inquietante, porque esta- mos conscientes dos poderes antinaturaise aparentemente ilimitados que um tal saber foie serécapaz de desencadear Informar-se sobrea natureza ca extensio doque muitas vezes se chamou de “conquistas” da cifncia parece realmente set, na proporcio das aptidées c da cultura de cada um, 0 interesse de todos, Este pequeno livro seri consagrado a esbogar uma tl reflexi9, dcixando, porém, deliberadamente de lado, na medida do possivel, as consideracBes mais t&- nicas a que, em outzas obras, seu autor se dedicou, 2. No Capitulo primero, recensearemos os problemas de-uma Idade da ciéncia que, justamente, se colocam na me- ddida em que a citncia hoje faz parte, a titulos diversos, da vida quotidiana dos individuos ¢ das sociedades. Observe-se aque a8 coisas no eram assim algum tempo atris, Sem daivida, é preciso datar este fenémeno do inicio do pés- Segunda Guerta Mundial. Ele aparentemente oi provoca~ do, primeizo, pela penettagio brutal das aplicagbes da. cia nas técnicas militares, com o golpe de teatro da bomba atdmica; depois, pela invasio generalizada das méquinas audiovisuais; mais recentemente ainda, pelas tentativas de ‘manipulagio da intimidade mesma da vida. (© Capitulo segundo tentaré elucidac a otigem de um ‘erro hoje bastante caracteristico desta Idade da cigncia, que consiste em confundir 0 saber f&enico com 0 conhecimento ientifico, Resulta daf uma cegucira que, em alguns, leva a ‘uma espécie de idolatria do que acreditam ser a cigncia e, ‘em outros, inversamente, a um desprezo por um conheci- mento tido por eles como terra a terra ¢ dotado de um, aleance apenas material © Capitulo terceiro examinaré o problema colocado pela pluralidade dos métodos adaptados aos diversos objetos da cincia, A questio principal sera a da sigoificagio de uma snide do pensamento centifico, apesar de sua flexibilidade. © Capitulo quarto, o mais longo, descreverd dois gran- des tipos de conhecimento cientifico, suas diferengas de ebjetos, de métodos eas relagdes que tém entre si: as ciéncias ‘matemiticas eas cigncias da empiria © Capitulo quinto colocars, no prolongamento do pre- cedente, 0s problemas especfficos de um conhecimento ientifico dos fatos humanos, No Capitulo sexto, finalmente, interpretaremos a evo- lusto das verdes cientificas enquanto ela é realmente um progtesso, apesar do paradoxo que provoca, Pois © que era admitido pela ciéncia de ontem pocle muito bem ser, em certo sentido, recusado pela cigncia de hoje ou de amanhi. Besse “certo sentido” que teremos de explicar, ustificando, assim, a solidez fundamental desse conhecimento evolutivo Concluiremos tentando responder a uma intetrogagio: tem limites a ciéncia? Existem drcas reservadas que cla no seria capaz de abordar? Que relagio deve ela manter com outras formas de saber? As palavras assinaladas por um asterisco so definidas e explicadas no “Léxico de alguns termos cient OS PROBLEMAS DE UMA “IDADE DA CIENCIA” 1. 0 desenvolvimento explosivo da ciéncia Podemos certamente qualificaresta segunda metade do século XX como a Idade da ciéncia.' Isto, por certo, significa menosprezar o papel e a impottincia do conheci ‘mento cientifico no século XIX, que assistiu ao nascimento, entre outros, da termodinamica e da teoria dos fendmenos étticos, com suas promessas de conseqiiéncias extraordi- niirias para a explicagio dos fendmenos da natuteza ¢ suas primeiras aplicagées& indistria, Mas 0 perfodo que vivemos no 56 6 0 herdeiro dessas conquistas fundamentais, mas também oferece o espeticulo de renovagies ¢ de desenvolvi- ‘mentos sem precedentes na histéria da ciéncia, pelo ntimero ce pela diversidade. Além disso, acontece que um tio prodi- -ioso desabrochar de novos saberes tem repercuss6es nunca antes atestadas na vida individual e social dos homens, ‘As recentes conquistas das ci€ncias ora constituem © desenvolvimento, a exploragio € a maturaglo de idcias essenciais jd aventadas no inicio deste século ou no fim do T Este €e titulo dado a uma efémera revista filosfia,fundads em 1968 por Jules Vuillemin ¢ por mim (Ed, Dune ttularetomado por ngs em 1988 (Ed. Odile Jacob século passado, como, por exemplo, as duas teorias da telatividade, ora sio inovagées aparentemente mais radicais, como nas éreas da bioquimica e da estrutura do genoma. Evidentemente, uma descoberta cientifiea nunca aparece a ppattic de um nada de conhecimento, ¢ pata cada uma das mais espetaculares inovagées de nossa época poderfamos encontrar nio propriamente precuriors, mas idéias mais ou ‘menos precisas que prepararam 0 scu advento em épocas anteriores. E esta segunda metade do século talvez nio seja particularmente fértil em novidades fandamentais, cient camente revolucionirias. Sem divida, ela € grandemente ributgtia dos avangos corridos no inicio do século ou n0 final do século passado. Mas ela 6excepcionalmente rica em desenvolvimento ¢ em aplicagées, e € esta riqueza que Ihe pode valer, com todo 0 direito, o epiteto de “dade da cién- cia”, Ressaltemos em meio a desordem,e sem pretendermos, ‘de modo algum, a exaustio, alguns fatos de primeira gran deza, muito significativos nesta histria recente da citncia, 1. Comecemos com um fato ainda faturo, mas cuja realizasio jd estitem ampla medida iniciada, com um éxito sem divida longinguo mas garantido:a producto de energia utilizével por fusio nuclear, que seria uma fonte pratica mente inesgotivel, jf que a sua matétia é o hidrogénio, cembora, € verdade, sob formas natuealmente ratas, 2. Um acontecimento ocorrido em 1969, a alunissa- ‘gem dos americanos, seguida em 1970 do envio da sonda sovigtica Luna 3 Lua, Assim comecava uma era de exploracio espacial tica em descobertas acerca da estrutura do universo ¢, também, em subprodutos técnicos mais terta a terra 3. A descoberta, fortuita, em 1965, do “ruido de fun- do” universal e estivel, correspondente a uma radiagio de ondas centimétricas de um espectro idéntico ao que seria emitido pelo “corpo negro”* a 2,75 °K. Uma das interpre- tugdes possiveis desta descoberta confirmaria com certa plausibilidade a teoria formulada por Gamow (1948-1954) de uma expansio do universo a partir de um ponto singular, de altissima densidade e elevadissima temperatura, “ori- ‘gem’ de sua hist6ria, caracterizada por leis da fisica desco- anhecidas, provavelmente diferentes das que aplicamos com sucesso ao universo atual. Descoberta € conjectura que abrem no s6 todo um campo de hipsteses matemiticas, ‘mas também, para a vulgarizagio, um universo de especu- lagdes que dé vida nova aos vethos Sonos sobre a origem do universo. 4, Em 1948, a invencio do transistor, derivado de uma teoria dos semicondutores,* cujas conseqiiéncias priticas io extraordinétias, jf que, aperfeicoado sem cessar em suas, caracteristicas © em sua produgio industrial, o transistor permitiu, por exemplo, a criagio das diversas téenicas mé- dlicas por imagens, revolucionou as técnicas de radiotelevi- slo ¢ desenvolveu de mancira formidivel a técnica dos, computadores ¢ dos robas de toda espécie. 5. A descoberta dos antibiéticos, j feita para a pe lina de Fleming em 1928, & confirmada ¢ amplamente desenvolvida a partir da descoberta da cloromicctina, em. 1947. 6. Adescoberta da estrutura em dupla hélice do DNA, cm 1953, ea “explicagio” de seus mecanismos, em 1961, seguidas de continuos progressos na “decifragio” do cédigo genético, 7. ff impossfvel apontar acontecimentos mateméticos rmaiores no periodo atual, pois a expressio de tais aconteci- mentos exige, na maior parte dos casos, que se aprofunde ‘muito exposicio das teorias, sem o que os proprios termos dda exposigio ficam sem sentido. De resto, a especializagio na abstracio € hoje tal, que € muito dificil, mesmo para 08, ‘poucos matematicos mais universais © mais cruditos de hoje, descobrie os caminhos de passagem 0s fios condutores. Eu tentarei, porém, escolher, bascado em meu proprio gosto, tras fatos significativos ocorridos desde 1950, 8) Uma ctiagZo conceitual, as distribuigBes, que genera- lizam em certo sentido e unificam as noges de funcio e de medida (alécada de 1960) . b) Uma demonsteagio a respeito da estrutura légica _geral das matemiticas: a da independéncia da “hipétese do contfauo" edo.axioma deesclha relativamente aos axiomas 7. Vemnos nesses trés exemplos que as relagdes entre a técnica ea ciénciararamente se apresentam como projetos deliberados de aplicagio de um conhecimento. E bem ver- dade que 3 medida que nos vamos aproximando de nosso 5, Sobre esta bela histéria, deve-se le o estudio de Jean Cazenobe, “De Maxwell A Marconi, 198 tempo 0 acoplamento da invengio técnica & cigacia vai ficando cada vez mais apertado, ¢ hoje mal podemos conce- ber um progresso técnico notivel que nio sc bascie nos dados da cifncia, No entanto, a histéria das técnicas aio deixa de ser, em ampla medida, aut6noma. De fato, ela depende da realizacio progressiva de projtes priprios, cuja, execuglo €simplesmente tornada possfvel, num determina. do momento, pelos avangos da ciéncia. Essa histéria é portanto, neste sentido, uma hist6ria finalizada: uma neces- sidade social, ou um sono individual, se manifesta (lem- bremo-nos do mito do vo humano, da conservagio das “palavras geladas” em Rabelais, da transmissio das ima- ens...) As diversas condigdes, pelo menos parciais, de sua realizagio aparecem ento, geralmente numa ordem disper sa, em razio do. progresso da ciéncia, O inventor ~ or inventores ~ reconhece essas condigaes, delas se apodera, adaptando-as. reunindo-as, etodoum capitulo de evolugio técnica se constitu, orientado. unificado por esse designio. Alls, € cada vez mais claramente, os progressos técnicos dependem de contextos globais que 0s condicionem: a radioeletricidade, por exemplo, ou a televisio se desenvol- veram nio unicamente pelo aperfeicoamento de um objeto técnicoisolado, aparetho de rédio ou de televisio, sim pelo cstabelecimento, em grande escala, de redes complexas de cemissores e pela organizacio de grandes conjuntos de peo- dugio de sons e de imagens. Donde se vé que o progresso técnico nio depende apenas do progresso dos conhecimen- tos, mas também de circunstancias econdmicas¢ sociais de otra ordem. Enfim, corpos especificos de conhecimentos técnicos se constituiram atualmente, de modo paralelo aos corpos de conhecimentos cientificos e de maneira parcialmente inde- pendente, sobretudoa partir do momentoem que se formou uma classe de engenbeiros. Péde-se falar, por metifora, dos standes “engenheiros” do Renascimento, a scrvigo dos pria- Cipes italianos, que concebiam e dirigiam a exccucio de standes trabalhos de interesse pablico, construindo fortifi- cagdes ¢ apetfeigoando miquinas de guerra’ Mas foi na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, que apare- ceu realmente como uma classe novao grupo dos engenbei- ros, estabilizado ¢ fortalecido na Franga pela criago de um ensinamento nas Grandes Escolas. ff somente nessa época aque se desenvolve por si mesmo e se perpetua um saber técnico, fundamentado, evidentemente, nos conhecimentos propriamente cientificos assimilados por uma época, mas ditetamente implicado nas condicies concretas de aplicagio da ciéncia, A tal ponto que alguns membros do corpo de engenheiros se afastam de sua fungio primitiva para se tornazem cheles de empresa ou administradores. Ill. Ciencia, técnica e produgio de massa 1, Quando 0s saberes téenicos ainda nao estio impreg- nados de conhecimento cientifico,o trabalho artesanal que ‘os descnvolve leva’ produgio de obras muito individuadss. Isso porque esses saberes comportam nio 36 esquemas co- uns de producto, tGcnicas basicas indispensive’s d reali- zacio de um determinado efeito, a criagio de um determi- nado tipo de objeto, mas também receitas e manhas cuja posse nio é estritamente necessiria, mas dio ao artesio a possibilidade de singularizar seu produto, nele exprimindo, porassim dizer, alguma coisa de si mesmo. b esta utilizagio ddos aspectos © dos clementos & primeira vista supérfluos, com vista a tornat significative o produto de um trabalho, que chamo de efio desstilo* Ora, 0 progresso das técnicas, nna maioria das vezes, leva, pelo contririo, a uma normali- zagio cada vee mais rigorosa das ages ¢ dos produtos, condigao indispensivel da baixa dos custos ¢ da producio de massa, O ator técnico js aio 6, entdo, 0 artesio, sim, pot uum lado, 0 engenheiro €, por outro, 0 exccutante, operirio ou “téenico". 4 Para uma anslise mais minuciosn deste conceito eral de “estilo”, vide G, Granger, Eas fame pbilmphied se, 1988. 2, Nao ha divida de que essa normalizagio seja a0 mesmo tempo a conseqiiéncia € o sinal de uma penetragio das técnicas pelo conhecimento cientifico. Pois é a ciéncia que, primeiro, exige uma tedugio de seus objetos a esque~ mas abstratos, em teoria perfeitamente substituiveis,¢, por exemplo, na quimica, introduz a nogio de corpo puro. Para ‘poder aplicar conhecimentos estabelecidos pela cigncia, os ‘écnicos devem selecionar cada vee mais os materiais de acordo com normas estrtas, codificar os procedimentos, ‘ordenar os ciclos de execugio, Sem divide, também aqui um motor poderoso dessa tendéncia € de natureza econdmica, cextefnseca, por conseguinte, is consideragées tanto técnicas ‘quanto cientificas: ganhar tempo, produit cada vee mais Mas a necessidade de normalizagio no deixa de set, em primeito lugar, uma condigio da aplicagio das ci Hd de se observar que uma das primeiras consequéncias essa situagio foi taylorismo, doutrina de racionalizagio das prodigies mediante uma fragmentagio ¢ uma especia- lizagio extremas das tarefas, uma cronometragem rigorosa de seu encadeamento, sendo tudo concebido e planificado de antemio, com vistas a obter as melhores condigies possiveis de rendimento, (Frederick W. Taylor, Principios de organizagéocientffica, 191, trad, francesa, 1927). Trata-se, portanto, de suprimir toda opcragio, todo gesto nko estri- tamente necessirio, e de negar toda iniciativa aos executan- tes: "Vocés niio esto aqui para pensar", costumava dizer- thes Taylor, Essa formulagio extremista da normalizagio representa, evidentemente, 0 exato oposto das ténicas artesanais, ¢ se pretendia a realizagio mais perfeita do assédio da técnica pela cigneia, 3. A evolugio posterior das téenicas, porém, demons- trou, especialmente em nosso periccio bem contemporsinco,, {que uma tal concepsio era, pelo menos parcialmente, ina- daptada a uma Idade da ciéncia, Além dos grandes incon- venientes que cla comporta no planohumano,a taylorizagio jf n3o corresponde corretamente as condigéeg de func mento timo das méguinas, Sea caracteristica mais evidente a técnica impregnada de ciéncia € universal extensio do emprego de méquinas cada vez mais poderosas, complexas, e refinadas, € Gbvio que o progresso técnico recente consis tiu, em primeiro lugar, numa verdadeira mutagio de sua espécie, Podemos dizer, simplificando muito, quea méqui- na foi primeiramente um instramento de transformagio dos, ‘movimentos: aalavanca, a roldana, méquinas “simples” por excelncia, ¢ até a maquina de tecer, Depois cla se tornou. meio de produgio, ou seja, também de transformagio, de cnergia: a méquina a vapor, o motor elétrico ou a explosio. Mais recentemente, enfim, apareceram as maquinas de pro- cessar informagao, cujo antepassado € a méquina de calcular de Pascal, ¢ 0 primeito exemplar maderno, 0 computador monstruoso Eniac, da Filadélfia, que em 1946 ainda ocupa- vva toda uma sala, com suas 18 mil vilvulas e sua magea meméria ativa de 200 bits... Hoje, fantasticamente aperfei~ soadas © miniaturizadas, essas miquinas estio associadas cada vez mais intimamente is outras méquinas “energéti- cas", de que garantem a regulagio ¢o funcionamento diver~ sificado, Cada vez mais, maquina ganha espaco nas fungies cenas tarefas do executante, Gragas is aplicagies da ciéncia em diferentes freas, ela se torna, num sentido sem dtivida muito modesto, “inteligente”, ou seja, capaz de discernie posigGes ¢ formas no espaco, de manipular ¢ deslocar ade- quadamente objetos, palpar ¢ reconhecer certas propricda- des fisicas, descobrir anomalias, De modo que oaspecto mais repetitive das tarefas, hi pouco justamente codificado pelo taylorismo, &em grande parte transferido pars a miquina, 0 papel do executante consiste cada vez mais no exercicio de uma lencidade de segundo gran: wm saber de supervisio, dde manutengio do bom andamento, de reconhecimento das falhas ¢ dos incidentes de funcionamento, de conserto das maquinas. No limite, ocorre até uma comunicagzo catre 0 homem ea maquina que ele utiliza. A parte informacional desta Gltima € dotada de uma fung3 de simbolizagio que The permite fornecer a0 operador informagdes sobre seu ipedpeio fancionamento, Bo caso do pilatn de ayito moderna: com seu corkpit, do usurio de um computador diante do seu equipamento, O exccutante técnico deve, assim, ser capaz de interpretaressas mensagens ¢ responder a clas, tomando decisbes. Decorte desta nova tecnicidade uma tensio, presente na sociedade atual, entre uma exigéncia de espcializapo teni~ a, resultante do cada vez maior refinamento das méquinas, uma exigéncia aparentemente oposta de polivaléncia, de competéncia generalizada, ou antes de capuacidade de adapta~ do dos executantes técnicos, conseqtiéncia da rapidez evo- lutiva das técnicas existentes eda criagio de técnicas novas.. ‘Assinalaremos aqui, apenas para registro, o problema assim proposto aos politicos pela formacio dos jovens. Limitar- nos-emos a observar que a relagio do técnico com as miqui- nas, cada vez mais aperfeigoadas, embora stja conseqiiéncia de ura cigncia, culta, no entanto, o conhecimento cienti= fico, dispensando, de certa mancira, que se recorraa ele, Por cetto, isso no ocorte no nivel mais alto da hierarquia técnica, onde, pelo contritio, tendem a se unir ocientistae 0 engenheiro. Mas nos niveis de execugio, mesmo muito altos na hierarquia téenica, o espirito cientifico corre o risco de se apagac ante um espitito estritamente téenico, que daria preferéncia a0 suceso em detrimento da explicagio “Assim, pars contrabslangar esse efeito negative, convém, sem dvida, responder ao problema de formagio que acaba ‘mos de mencionat, aceitando dar um lugar importante n0 ensino a uma cultura cientiica geral, aparentemente desin- teressada e ito diretamente cficiente, eaté, sem vida, a ‘uma cultura humanista,& cultura em sentido estrito 3 DIVERSIDADE DOS METoDos E UNIDADE DE Visio ‘Acabamos de por em evidéncia as estreitas relagies de apoio métuo ¢ de complementaridade que existem atual- mente entre a ciéncia ¢ as técnicas, ao mesmo tempo que ressaltamos que as das formas de conhecimento pertencem a duas diferentes orientacdes do pensamento, Tentaremos,, agora, caracterizar 0 espitito ¢ as disciplinas cientificas. O primeirofato que impressiona o observador menos informa do éa grande diversidade de ramos do saber reconhecidos hoje em diacomo citnciase, por outro lado, a facilidade com ‘que em toda parte se vé a palavra ciéncia sendo usidla no singular. Haverd, entio, uma wnidade real da ciéncia? Este tema foi desenvolvido algum tempo atrés pelos neopositi- vistas da década de 1920 ¢ 1930, a tal ponto que uma das realizagées do Circulo de Viena ~com Caenap, Schlick e von Neumann =, associado ao grupo de Beelim (Reichenbach), tem 0 nome de Encilopidia Internacional da Unidade da Giéncia, Essa unidade era na época compreendida, pelo menos por alguns membros do Circulo, como 0 joven Carnap, num sentido muito forte. Com efeito, ela diz respeito, ao mesmo tempo, a uma uniforme estruturacio 6gico-matemitica do conhecimento cientificoe & possibi- lidade de exprimir numa linguagem dnica seus contetidos, cempiricos, em qualquce érea, Nés entenderemos a unidade da cigncia num sentido mais fraco, que fan justiga de

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