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9 788591 018505

Silvio de Jesus Teles

Maceió, 2010
© 2010 Silvio Teles

Teles, Silvio de Jesus, 1981

Briosa. A história da Polícia Militar de Alagoas no olhar de um jornalista.


Maceió, Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2010.

247 p. il.

1. História – Alagoas 2. Polícia Militar de Alagoas – 1831. Teles, Silvio de


Jesus.

ISBN 978-85-910185-0-5

CDD – 355.35

Capa
Silvio de Jesus Teles
Fernando Lopes

Diagramação
Carlos Fabiano Costa Barros

Impressão e Acabamento
Imprensa Oficial Graciliano Ramos
D edico este livro-reportagem
à posteridade... e, também,
à memória daqueles que,
com seu próprio sangue e suor, co-
ragem e inteligência, construíram a
Briosa história da Polícia Militar de
Alagoas.

7
Agradecimentos

E
ssa história, Briosa, não seria contada sem que a nós
chegassem determinantes apoios. Aos tais, passo a
agradecer:
Ao maior deles – a permissão Divina – que nos possibilitou
juntar as peças desse quebra-cabeça;
Aos sustentáculos do meu existir, meus pais, Severino
Teles e Neuza Júlia de Jesus Teles, e meus irmãos, Rildo, Simone
e Samuel Teles;
À sábia orientação do professor e jornalista José Edson
Falcão Maia;
À Polícia Militar do Estado de Alagoas que, sem temer o
porvir, estrelou esta tão Briosa história!

9
Prefácio

B
riosa não é apenas resultado de um trabalho jornalístico
profícuo, em que o autor, Silvio de Jesus Teles,
cumpriu com esmero todas as etapas dessa atividade
comunicativa: busca, captação, seleção e redação do material
coletado, corroboradas com a pesquisa histórica, resultando
num texto narrativo denso, quase um épico, que conta os 180
anos de história da Polícia Militar de Alagoas.
Briosa é tudo isso e mais a persistência de um jovem militar,
consciente de seus dois papéis na sociedade – ser militar e
comunicador –, que desde o início dos seus estudos acadêmicos
uniu a disciplina da caserna ao aprendizado das técnicas da
redação jornalística, resultando neste excelente livro reportagem,
surpreendente pelo estilo leve e gostoso de se ler, como se
espera de um bom texto literário. Uma característica difícil de
sustentar até o final de um texto documental, sobretudo quando
se trata de uma reportagem do gênero (geralmente amarrada
às informações oficiais sepultadas nos arquivos públicos e
privados), mas que Silvio Teles soube tecê-la com a maestria
de um jornalista-escritor veterano (e nem por isso anacrônico),
juntando, com rara habilidade, os dados coletados na pesquisa

11
e nas entrevistas que realizou para chegar ao resultado final de
sua obra.
A modéstia de Silvio Teles permite-lhe afirmar em sua
Apresentação que “há páginas que, por sua vivacidade própria,
escrevem-se sozinhas, necessitando apenas que alguém as
organize”. Asseguro, porém, que não foi o caso de Briosa, cujas
páginas construídas com mãos de verdadeiro artesão do texto
jornalístico estão bem calcadas nas características inerentes à
grande reportagem: predominância da forma narrativa, natureza
impressionista do texto, humanização dos relatos e objetividade
nos fatos narrados, sem as quais Briosa jamais teria alcançado o
objetivo ao qual se propôs o autor.
Briosa: a História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de
um Jornalista é, a meu ver, a maior contribuição que um dos seus
membros ativos poderia dar para a preservação da memória
de sua Corporação, preenchendo, paralelamente, e a partir de
agora, uma lacuna existente nas bibliotecas públicas alagoanas,
ao subsidiar aqueles que quiserem conhecer e compreender a
trajetória nos 180 anos de luta da PM de Alagoas pela segurança
do nosso Estado.

Edson Falcão
Jornalista e professor da
Universidade Federal de Alagoas

12
Apresentação

A
história de uma Corporação com quase 180 anos não pode
ser contada em menos de 180 volumes. Há tanto o que se
falar que nos falta tinta e papel para o devido registro.
Entretanto, há páginas que por sua vivacidade própria
escrevem-se sozinhas, necessitando apenas que alguém as
organize. Elas precisam, somente, de uma vontade que as torne
acessíveis aos que ainda virão.
Por tais páginas, os que se interessarem descobrirão quão
intrigantes e reveladores são os caminhos já trilhados por esta
épica força policial militar.
Longe de intencionar assemelhar-se ao rigor do relato
de um historiador, mas, humildemente, tomando emprestados
métodos da pesquisa histórica e do jornalismo, Briosa é
um retrato, no olhar de um aprendiz, do nascedouro e do
desenvolvimento da Polícia Militar de Alagoas.
E se não pretende ser a única verdade sobre a evolução
desta instituição pública, este livro-reportagem intenta,
ao menos, reconstruir a história de uma Corporação que
se encontrava perdida nos arquivos, públicos e pessoais,
e nas mentes prodigiosas de muitas personalidades que,

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com orgulho, protagonizaram importantes episódios aqui
relatados.
Fruto de pesquisa jornalística, baseado em documentos
históricos, relatos da imprensa e entrevistas, Briosa tenta
remontar, de forma linear e cronológica, a história de uma
Corporação que, por exemplo, não pode afirmar com certeza
a data de sua criação, mas que foi responsável por grandes
mudanças no palco político do Estado de Alagoas e ajudou ao
Brasil a vencer grandes desafios.
E por que Briosa? Qual o sentido deste título? Sem que
paire sombra de dúvida, este adjetivo – Briosa – é o mais
difundido cognome da instituição Polícia Militar do Estado de
Alagoas. Remete à idéia de orgulho e de brio, de intrepidez e
coragem, de amor à pátria, ao solo alagoano e à própria gente
desta terra.
Mas, é preciso reconhecer, nem só de brio se compôs esse
caminhar da PMAL. Nalgumas páginas dessa longa história tudo
houve, menos brio.
Contudo, a coragem de olhar tais máculas e de as reconhecer
como próprias de seu passado, ou como cicatrizes de sua história,
é um ato de extremo valor. É brioso mirar atrás, aceitar seus erros,
visando acertar no porvir.
Quando faz isso, Briosa não somente se refere à
Corporação e passa a aconchegar, em seu seio, a própria gente
dessa instituição. É esta história que, de agora em diante, para
tantos quantos queiram, passa a ser revelada.

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Sumário

01 | Antecedentes Históricos para o Nascimento da


Polícia Militar de Alagoas | 019

02 | O Surgimento da Polícia Militar do Estado de Alagoas | 029


03 | As Primeiras Reformas na Estrutura da Pmal | 037

04 | A Atuação da PMAL no Brasil 2º Reinado | 045


05 | A Guerra do Paraguai | 051

06 | As Consequências da Guerra | 059


07 | A PMAL Depois da Proclamação da República | 063

08 | Extinção e Reorganização da PMAL | 069


09 |A PMAL em Conflitos Armados na Década de 1920 | 075

15

10 | As Revoluções de 1930 e 1932 | 081


11 | A Caçada ao Bando de Virgulino Ferreira | 089


12 | A 2ª Guerra Mundial e a Redemocratização do Brasil | 0 97

13 | A Era dos Militares | 113


14 | A PMAL na Década de 1980 | 127


15 | A Intervenção Federal de 1990 | 139


16 | A Intervenção Federal de 1993 | 149


17 | Missões de Paz: A PMAL nos Conflitos pelo Mundo | 157

18 | O 17 de Julho de 1997 | 163


19 | A Reorganização de Alagoas | 175


20 | A Crise de 2001 | 183


21 | O Pós-Crise de 2001 | 191


22 | A Polícia Mais Cidadã do Brasil | 195


23 | As Reformas Salarial e no Sistema de Ensino | 199

24 | A Polêmica das Promoções | 203


25 | A Crise de 2007 | 209

16

26 | Um Retrato em 2008 | 221


27 | A Era dos Tenentes-coronéis | 235

17
Capítulo 1
Antecedentes Históricos
para o nascimento da PMAL
A Revolução de 1817
Como o movimento de Pernambuco influenciou no
surgimento da PMAL

R
ecife, março de 1817. Os ideais nacionalistas afloram
relevantemente na Capitania de Pernambuco, inspirados
pela fracassada campanha libertária deflagrada, anos
antes, em Minas Gerais. Dizia-se com publicidade que a chegada
da família real, em 1808, fugida da Europa por temor a Napoleão
Bonaparte e seu império devastador, se, por um lado, havia
aumentado a importância da colônia portuguesa ocidental, por
outro, teria diminuído consideravelmente as chances de um
Brasil livre e independente.
Isso se confirma quando, em 1815, o Brasil perde o título de
“colônia” e passa a compor o Reino Unido à Portugal e Algarves.
D. João VI firmava seu intento de continuar o domínio da Coroa

19
Silvio Teles

Portuguesa sobre sua colônia, agora elevada à sede imperial.


Os pernambucanos, insatisfeitos e exaltados, afugentam o
governador nomeado pela coroa, Caetano Pinto de Miranda
Montenegro, e assumem o controle provisório da Capitania. Por
essa época, Alagoas, que havia sido elevada à comarca em 1706,
ocupava a parte sul da Capitania de Pernambuco. Maceió havia
sido erigida à categoria de vila em 1816.
O advogado José Ignácio de Abreu Lima, vulgo “Padre
Roma” em razão da pretérita vida clerical, foi nomeado porta-
voz pelos líderes do movimento revolucionário e enviado à
Bahia para tratar dos aspectos da revolução com o vice-rei
do Brasil, D. Manuel de Noronha e Brito, Conde dos Arcos.
Ao passar por Alagoas, o Padre Roma dá ao pernambucano
Victoriano Borges da Fonseca, comandante das Armas
(como eram chamadas as Forças Armadas) da comarca, a
responsabilidade de conclamar os sulistas da Capitania – os
alagoanos – a participarem da revolução.
Na Bahia, o Padre Roma não alcançou êxito e, logo após
o seu desembarque, foi preso, julgado e morto. O movimento,
entretanto, não esmoreceu. Mas, em Alagoas, a revolução
encontrou resistência no povoado de Atalaia, graças à figura do
ouvidor Ferreira Batalha, homem da confiança real. Temendo
o fracasso da revolução pernambucana, Borges da Fonseca –
que, sendo o comandante das armas, tinha por obrigação ser
fiel ao Rei – decidiu procurar o Vice-rei do Brasil, D. Manuel
de Noronha.
Informado sobre o que ocorrera ao Padre Roma,
Borges, para não ser morto, é intimado pelas forças imperiais
a lutar ao lado dos portugueses, contra os revolucionários de
Alagoas. Recusando fidelidade, Borges da Fonseca consegue
fugir para Recife.

20
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Para salvar Alagoas da fúria do Conde dos Arcos, que viria


impiedosa sobre os revoltosos de Pernambuco, Ferreira Batalha,
habilidosamente, articula um plano para desmembrar a comarca
de Alagoas da capitania de Pernambuco. Em seu plano, Alagoas
seria anexada, temporariamente, à Bahia. Para convencer os
civis alagoanos, o articulado Ferreira Batalha alegou que a
independência da Capitania estava próxima.
Quando as tropas portuguesas chegaram a Alagoas,
encontraram um clima de paz e tranquilidade. O plano tinha
dado certo. Ferreira Batalha foi promovido a desembargador e,
em reconhecimento ao “desenvolvimento social e econômico” da
comarca, Dom João VI cria, definitivamente, em 16 de setembro
de 1817, a jurisdição política de Alagoas, com capital na Vila de
Alagoas (antes Alagoas do Sul, hoje, Marechal Deodoro) que já
era a sede da comarca.
Com o apoio de Ferreira Batalha, o governo da Capitania foi
entregue ao português Sebastião Francisco de Mello e Póvoas,
coronel do Exército e sobrinho de Sebastião de Carvalho e Melo,
o Marquês de Pombal. O governador chegou a Alagoas somente
em dezembro de 1818, sendo empossado em 22 de janeiro
de 1819. A partir de então, como Capitania independente,
Alagoas passou a organizar seu corpo próprio de funcionários e
servidores, entre estes, as forças militares.

Primeiras tropas militares de Alagoas


Os fortes do Exército e o Quartel Militar

Alagoas, 1819. Depois de organizar a parte fiscal e


administrativa da Capitania, Mello e Póvoas, visando à defesa do
território e manutenção da ordem, organiza em Maceió, onde
havia fixado residência, três pequenas companhias de soldados.

21
Silvio Teles

Primeiras forças de defesa do Brasil Eram infantes (soldados que

D esde sua descoberta pelas potências marítimas combatem em qualquer


européias, o Brasil foi alvo de constantes invasões
estrangeiras. Os aventureiros e piratas buscavam nas
terreno, sob quaisquer
“Índias Ocidentais” especiarias como a madeira de lei e a
pele e plumagem de animais exóticos. Em 1548, Portugal, não
condições climáticas, com
podendo dar conta da defesa territorial de sua nova – e valiosa variadas armas e meios de
– descoberta, cria o primeiro contingente militar armado, no
Brasil, com um efetivo de 600 homens, denominado de Serviço transportes) e artilheiros
de Ordenanças. Apesar do militarismo improvisado, foram as
Companhias de Ordenanças que garantiram a preservação da (atiradores), num total
unidade territorial do Brasil Colônia. Elas são consideradas as
primeiras forças militares do País, germe do Exército Brasileiro de 341 militares. Eles
e do sistema de Defesa Nacional, que somente viria ser criado,
de fato e direito, em 1808, com a vinda da família real para o
compunham um corpo de
Brasil e a instalação da sede do governo português neste País.
Outras organizações paramilitares também são
Tropa de Linha (nome dado
importantes na história brasileira. Por exemplo, no Brasil às forças terrestres), criado
Colônia, o serviço de polícia era complementar ao de
judicatura, por força das Ordenações Filipinas, sistema de leis em Alagoas através de um
de Portugal vigentes a partir de 1603. Naquela época, surgiram
os primeiros funcionários da polícia, conhecidos como “alcaides Decreto Real de julho de
pequenos”. Este serviço de polícia é considerado como o
precedente à polícia urbana. Nele, moradores nomeados (os 1818. Ao governador coube
Meirinhos e Inspetores de Quarteirão), escalados em turnos
e por quarteirões (daí a expressão francesa “quartiers” e o
só a organização dessas
correspondente português, quartel), cuidavam da manutenção
da ordem pública.
tropas.
No início do século XIX, D. João criou, em Portugal, o Em homenagem a Dom
primeiro Corpo de Polícia – a Guarda Real de Polícia de Lisboa
– com fins específicos de promoção de segurança aos cidadãos João VI e ao príncipe Dom
(até então, todas as forças de defesa visavam à proteção do
Estado). A idéia de segurança ao cidadão é fruto direto das Pedro I, Mello e Póvoas manda
conquistas advindas da Revolução Francesa. Com a vinda da
família real para o Brasil, é criada, em 1809, a Divisão Militar construir dois pequenos
de Guarda Real de Polícia do Rio de Janeiro. Estima-se que, em
outras províncias, tenham sido criados Guardas Municipais,
fortes: o de São José, situado
com funções policiais.
Em 10 de outubro de 1831, uma Lei Imperial criou o
onde hoje se encontra a
Corpo de Guarda Municipal do Rio de Janeiro, sendo extintas Vigésima Circunscrição do
as milícias e as ordenanças ainda existentes. Estas duas últimas
foram substituídas pela Guarda Nacional, instituição elitista de Serviço Militar, no centro de
segurança, subordinada ao Ministério da Justiça. A Lei Imperial
de 10 de outubro autorizou as províncias a criarem seus Corpos Maceió, e o de São Pedro,
de Guarda Municipais.
Desde a abdicação de Dom Pedro I, a regência trina em Jaraguá, onde fica a atual
havia concedido às províncias maior autonomia, inserindo
em sua estrutura corpos legislativos, os Conselhos Gerais.
Administração do Porto
Estas assembleias de parlamentares fixavam, através de leis
provinciais, a estrutura e efetivo de seus Corpos de Guarda
de Alagoas. Nesse mesmo
Municipais Voluntários. período, o governador lança
Com o advento da República, em 1889, a Guarda Nacional
é sublevada pelo Exército, mentor do movimento republicano, os alicerces para o primeiro
sendo extinta em meados de 1920.
Quartel Militar, para abrigar o

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Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Corpo de Tropa de Linha, construído, exatamente, onde fica o atual


Quartel do Comando Geral da PMAL, na Praça da Independência.
O Quartel era de taipa e coberto com telhas.

Revolução Liberal do Porto


A revolta portuguesa que provocou o fortalecimento
das milícias alagoanas

Lisboa, Portugal, agosto de 1820. Depois da invasão


napoleônica, Inglaterra e Portugal estreitaram os laços econômicos
e de defesa bélica. Essa aproximação permitiu que a Coroa Inglesa
tivesse forte ingerência sobre os destinos de Portugal. Não
bastasse isso, os lusitanos sofriam com as péssimas condições de
vida e trabalho ofertadas pelo Estado português.
Esse contexto permitiu o surgimento de um movimento
revolucionário e libertador, intitulado “Revolta Liberal do Porto”.
Entre as exigências dos portugueses de Lisboa, decididas em
assembleias chamadas de “Cortes Constituintes”, estavam a
constitucionalização de Portugal, a expulsão dos militares ingleses,
o retorno de Dom João VI ao país e a recolonização do Brasil.
A exemplo de Alagoas, a maioria das capitanias
brasileiras eram governadas por portugueses indicados pela
Coroa. Portanto, tais governadores exigiram dos cidadãos, do
funcionalismo público e da aristocracia rural brasileira que
fossem cumpridas as decisões das Cortes Constituintes. Em todo
o País, começaram a eclodir focos de revolta. A elite brasileira
não aceitou perder as “regalias” que havia conquistado. O
retorno do Brasil à condição de colônia representaria o fim dos
privilégios da aristocracia nacional.
Cumprindo a imposição do movimento revolucionário
português, Dom João VI retorna a Portugal. Seu filho, Dom

23
Silvio Teles

Pedro I, foi nomeado regente do Brasil. A partir desse momento,


a intenção dos portugueses passou a ser diminuir o poder
do príncipe, obrigando-o também a regressar à Europa.
Eles tencionavam, com seu retorno, destituí-lo do poder e,
definitivamente, recolonizarem o Brasil. Os lusitanos desejavam,
ainda, unificar o Exército Português e o Brasileiro, este último,
embrionariamente, criado em 1808.
Durante o governo do português Mello e Póvoas e no
governo da Junta Governativa que o sucedeu, as câmaras e o
funcionalismo de Alagoas foram obrigados a renovar os votos
de fidelidade à Portugal. Em 1822, a presidência da Junta
Governativa – e, consequentemente, o governo da capitania – foi
entregue ao também português José Antônio Ferreira Braklamy,
então ouvidor de Alagoas, igualmente, favorável às decisões das
Cortes pelo enfraquecimento de Dom Pedro I.
Algumas capitanias como Pará, Maranhão, Piauí e
Bahia, sob administração de portugueses, revoltaram-se
contra a autoridade do príncipe regente. Em Alagoas, o
movimento governista foi idêntico, mas alguns latifundiários
e nobres aristocratas, como Antônio de Holanda Cavalcante
(em Porto Calvo) e Nicolau Paes Sarmento (em Porto de
Pedras), receando perderem seus domínios agrícolas e
econômicos, organizaram milícias próprias e, sob o pretexto
de aclamarem Dom Pedro I, Defensor Perpétuo do Brasil
– titulo concedido pelo Senado Nacional quando do não
retorno de sua majestade à Lisboa, em 9 de janeiro de 1822,
“o Dia do Fico” –, marcharam contra a Junta Governativa.
Sem autorização oficial qualquer, nem mesmo de Dom Pedro
I, as milícias depuseram Ferreira Braklamy e demitiram das
forças militares de Alagoas todos os europeus. Caetano
Maria Lopes Gama assumiu a presidência da Junta.

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Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Sobre este episódio, um trecho de uma carta enviada a José


Bonifácio, escrita em 3 de setembro de 1822, pela Junta Eleitoral
de Alagoas, sediada em Porto Calvo e presidida por Lourenço
Wanderley Acioly Canavarro, relata:

“... vimos Antônio de Olanda Cavalcante nomear-se a si


mesmo coronel deste Regimento, e tenente coronel o seu irmão
Chirstóvão de Olanda Cavalcante, maus paisanos e sem terem
feito um só sacrifício no altar da Pátria; e Nicolau Paes Sarmento
também nomear-se a si próprio coronel de um novo Regimento
Miliciano criado na Vila de Porto de Pedras, e tenente-coronel
a seu filho José Paulino Paes Sarmento, e reservarem-se os
demais postos (dando-se baixa até nas Patentes confirmadas)
para seus parentes apaziguados ou para os que bandearem ao
seu partido”.

Portanto, as primeiras forças estaduais de segurança,


em Alagoas, tiveram origem na “estadualização” de milícias
particulares de latifundiários que, tomando o governo da
capitania, passaram a exercê-lo em nome de Dom Pedro I –
mesmo sem sua autorização, repito.
Entre as forças militares criadas pela nova e despótica
Junta Governativa, estão o Novo Regimento de Infantaria de
Milícias da Vila de Porto Calvo, o Regimento Velho da Vila
de Porto de Pedras (chamado também de Regimento da 2ª
Restauração, referindo-se à reestruturação de Pernambuco
após a revolta de 1817) e o Regimento de Infantaria de Milícia
dos Homens Pardos da Vila de Penedo. Na Vila de Alagoas, sede
da capitania, foi criada a Companhia de Infantaria Miliciana
dos Pretos Forros Henrique Dias, logo ampliada para outras
vilas. Apesar de forças paramilitares, essas são as primeiras

25
Silvio Teles

instituições genuinamente alagoanas e que, ao nosso entender,


podem ser consideradas a ancestralidade da Polícia Militar de
Alagoas (PMAL).
Embora se tratassem de organizações particulares, a serviço
da aristocracia e de seus interesses, as milícias necessitaram do
crivo real para serem reconhecidas como forças auxiliadoras da
monarquia. O historiador Abelardo Duarte, no livro As Alagoas na
Guerra da Independência (1974), diz que a Junta Governativa enviou
ao príncipe regente, em 10 de julho de 1822, uma lista contendo
os nomes de indivíduos para ocupação de postos da Tropa de
Linha. Segundo o historiador, a Junta estava transformando civis
em oficiais de carreira, inclusive, com direito a salário. Eles foram
promovidos, sem qualquer critério técnico, pela própria Junta. O
documento justificava que tais postos militares precisavam ser
ocupados, sobretudo depois da evasão dos portugueses (que, na
verdade, tinham sido demitidos pela Junta).
Com a independência do Brasil, em 1822, as capitanias
passaram a ser chamadas de províncias e governadas por
presidentes. Entretanto, em Alagoas, de 28 de junho de 1822 até
30 de junho de 1824, o governo foi exercido pela já existente Junta
Governativa, em três gestões, nas quais as milícias foram mantidas
como forças oficiais. No final de 1824, a província teve seu primeiro
presidente, Caetano Maria Lopes Gama, o mesmo que havia sido
ajudado pelas milícias de Antonio Holanda e Nicolau Paes Sarmento.

Confederação do Equador
As milícias alagoanas no movimento separatista do Nordeste

Em 1824, Dom Pedro I dissolveu a Assembleia Constituinte


(comissão formada por representantes do povo para propor o
texto constitucional do Brasil) e nomeou uma comissão para

26
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

elaborar a Carta Magna Brasileira, que foi outorgada em 25 de


março daquele ano.
Este ato autoritário de Dom Pedro I provoca uma nova
série de revoltas nas províncias. Na vizinha Pernambuco, Paes
de Andrada, eleito governador por meios democráticos da época
(eleição indireta), rebela-se contra uma sucessão indicativa para
o governo de Pernambuco, feita pelo Imperador. As províncias
do Norte, inclusive Alagoas, mergulham numa nova onda de
protestos, de fins revolucionários, que ficou conhecida como a
“Confederação do Equador.”
Próximas à imaginária Linha do Equador (daí o nome do mo-
vimento), essas províncias, lideradas por Pernambuco, organizam
suas tropas contra os “desmandos” do imperador. Os pernam-
bucanos acreditavam que a primeira constituição do Brasil seria
democrática e federativa, dando às províncias autonomia para
resolverem questões adminis-
trativas e financeiras.
Em Alagoas, existiram
combates em Palmeira dos
Índios, Anadia e em São Mi-
guel dos Campos. As tropas
revolucionárias, que eram
as milícias organizadas pelos
aristocratas, então as únicas
forças provinciais, enfrenta-
ram os militares do Exército:
aquelas pela autonomia das
províncias, estes pela unida-
de territorial. As tropas impe-
riais venceram e a revolução
fracassou.

27
Capítulo 2

O Surgimento da
Polícia Militar do Estado de
Alagoas
A Lei Imperial de 10 de outubro de 1831
A ordem expressa para a organização das polícias
militares provinciais do Brasil

B
rasil, outubro de 1831. Institucionalmente, as polícias
militares das províncias, inclusive a de Alagoas,
passaram a ter possibilidade de nascimento com a
edição da Lei Imperial de 10 de outubro, que autorizava
cada província a criar seus Corpos de Guardas Municipais
Voluntários. A exceção se fazia à Bahia e Pernambuco que,
desde 1825, já tinham seus Corpos de Polícia criados, por ato
real. Tal lei apenas ratificou a criação do corpo de polícia da
província do Rio de Janeiro, existente desde 1809, sob a forma
de Divisão de Guarda Real.

29
Silvio Teles

Com a abdicação de Dom Pedro I e a menoridade de seu


filho, Dom Pedro II, o Brasil era governado por uma regência
trina permanente. Contudo, a instabilidade política gerava
inúmeras revoltas no Rio de Janeiro e colocava a capacidade
governativa da regência em dúvida. Nas províncias havia
semelhante sensação.
O corpo regente era composto pelo Brigadeiro Francisco
de Lima e Silva e pelos deputados José da Costa Carvalho e João
Bráulio Muniz. Em nome do imperador Dom Pedro II, à época
uma criança, a regência editava as leis para a organização do País.
A lei de 10 de outubro 1831 é o primeiro ato legal que
disciplina a criação de instituições responsáveis pela ordem
pública nas províncias, com serviços tipicamente policiais. Às
guardas, segundo a lei imperial, caberia manter a tranquilidade
pública, auxiliando a justiça. A intenção do Governo era formar
um corpo policial profissional e permanente – em substituição às
temporárias guardas civis existentes, criadas em junho de 1831 –
para reprimir os revoltosos e proteger os cidadãos.
Originalmente, a lei autorizava a província do Rio de Janeiro
a criar seu Corpo de Guardas. Ele deveria atuar a pé e a cavalo
e ter um efetivo máximo de 640 integrantes, embora a primeira
formação não tenha atingido nem 400 homens.
A autorização às demais províncias é expressa no artigo
segundo da lei. Detalhe: o texto do artigo trazia a condicional
“quando assim julgarem necessário”, aos presidentes das
províncias, e ordenava que o efetivo fosse proporcional à
necessidade de cada região.
Convém lembrar que em Alagoas, desde abril de 1831,
após a divulgação da abdicação de Dom Pedro I, a população
comemorava. O Conselho Geral (órgão parlamentar, antiga
Assembleia Legislativa) tinha exigido do então presidente da

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Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

província, Caetano Pinto de Miranda Montenegro (aquele deposto


na Insurreição Pernambucana de 1817) que medidas enérgicas
fossem tomadas para a consolidação da abdicação. Entre as
medidas, a demissão dos portugueses de todos os cargos da
província – e não somente dos militares, como ocorrera em 1822
– e a expulsão dos portugueses que não fossem comerciantes.
O presidente não aceitou cumprir as medidas propostas
e inúmeras revoltas e motins estouraram em todo território
provincial. O cenário de anarquia e desordem imperava.
Constrangido pelas câmaras das cidades de Alagoas, Atalaia,
Anadia e Penedo, Caetano Montenegro resolve atender aos
pedidos do Conselho Geral e começa a demitir os portugueses e
expulsar aqueles que não tinham comércio estabelecido.
Alagoas iniciou uma fase de conturbadas relações sociais,
políticas e econômicas. As pessoas honradas se trancafiavam em
suas casas. O comércio, composto em sua maioria pela iniciativa
portuguesa, praticamente, parou. Sem ter como sustentar a
ordem na província, quinze dias depois de ter autorizado as
medidas, Caetano Montenegro deixou a presidência, sendo
sucedido por Manoel Lobo.
A desordem vigente na província obrigaria Alagoas a,
através do Conselho Geral, criar seu Corpo de Guardas Municipais
Voluntários (CGMV ou, apenas, CGM), dois meses após a edição da
lei de outubro de 1831, fato ocorrido em 19 de dezembro daquele
ano. O CGMV é, portanto, do ponto de vista legal, a primeira
formação da atual Polícia Militar de Alagoas, criado por decisão
do parlamento da província, com respaldo em Lei Imperial. Há
fundamentos suficientes, desta feita, para concordar com José
Amâncio Filho, quando ele argumenta, no livro Fatos para uma
história da PMAL (1977), que a criação da PMAL se deu em 19 de
dezembro de 1831 e não em 3 de fevereiro de 1832.

31
Silvio Teles

O cargo de comandante geral foi ocupado, por indicação,


pelo reverendo Cypriano Lopes de Arroxelas Galvão. A lista dos
comandantes inferiores foi elaborada, apreciada e aprovada
no dia seguinte, 20 de dezembro, também em sessão do
Conselho Geral.

A ocupação do cargo de comandante da força policial


por um eclesiástico, à época, não causava nenhuma estranhe-
za. A igreja católica gozava de prestígio considerável. Para se
ter uma idéia, a prosperidade de uma província, entre outros
indicadores, era medida pelo número de freguesias religiosas
(paróquias) que possuía. Os eclesiásticos, desde a contrarrefor-

32
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

ma, eram tidos como homens


de “linha dura”. No Brasil, os
exemplos da catequese indí-
gena e dos negros constituí-
am referências para a indica-
ção de religiosos para cargos
das mais diversas naturezas.

Guerra dos Cabanos


Uma guerrilha penosa e difícil

Pernambuco, 1832. Um movimento de apoio ao ex-


imperador – o Partido Coluna – começa a recrutar voluntários
para marcharem contra a abdicação de Dom Pedro I. Devido à
precariedade das instalações dos revoltosos e às técnicas de
guerrilha – herdadas da expulsão holandesa, em 1624 – a revolta
foi intitulada de “Guerra dos Cabanos” ou “Cabanada”.
O movimento, em Alagoas, instalou-se em Porto Calvo e
em Porto de Pedras. Muitos portugueses, que estavam sendo
perseguidos pelos alagoanos, aderiram à revolta. O presidente
Manoel Lobo, estando em Porto Calvo e temendo que o
Partido Coluna chegasse ao interior da província, determinou o
recrutamento voluntário de moradores e dos índios da vila de
Jacuípe, para o combate contra os manifestantes.
Entretanto, o chamamento dos indígenas – que não havia
sido comunicado à autoridade indígena – desagradou ao “capitão-
mor” dos índios, cacique Hipólito Nunes Barcelar, que exigiu
explicações ao presidente de Alagoas. Porém, antes mesmo de
falar com Manoel Lobo, o cacique Hipólito foi morto. Revoltados,
os índios aderiram ao movimento cabano e, de ajudar as tropas
de Alagoas, passam a lutar contra elas.

33
Silvio Teles

Os moradores e lavradores da região norte da província,


oprimidos pelos grandes latifundiários, ajuntam-se à luta ao
lado dos cabanos. Da mesma forma, escravos negros fugidos
dos engenhos encontram abrigo no movimento e declaram-se
contra as tropas governistas.
Justamente nesse contexto de desordem, o presidente
da província de Alagoas, em 2 de janeiro de 1832, remeteu o
plano do Corpo de Guarda Municipais da província de Alagoas ao
ministro da Justiça, o padre Diogo Antônio Feijó, para aprovação.
O aceno positivo somente se deu em 3 de fevereiro de 1832,
oficializado pela Decisão Imperial nº 52. (Nota: Somente no
ano de 1978, essa data ficou oficialmente reconhecida como a
da criação da PMAL, através do Decreto nº 3.471, editado pelo
então governador Divaldo Suruagy).
Como já dissemos, 3 de fevereiro de 1832 foi, apenas, a
data da Decisão Imperial que aprovou o plano do CGM. O Corpo
de Guardas já havia sido criado e atuava desde dezembro do ano
anterior, por decisão do Conselho Geral, baseado na autorização
da Lei Imperial de 10 de outubro de 1831. O plano era apenas
uma formalidade de apresentação e adequação do CGM de
Alagoas aos formatos do Ministério da Justiça da época.
A decisão, remetida pelo próprio Feijó ao presidente da
província, concordava que o Corpo de Guardas fosse formado
por duas companhias, uma sediada na comarca das Alagoas
(Marechal Deodoro), capital da província, e outra, em Maceió.
Estima-se que o CGM tenha sido criado com um efetivo de 150
militares, entre primeiros comandantes, segundos comandantes,
oficiais, cabos e soldados (inclusive corneteiros). A decisão de
Feijó não concordou com a existência de um Estado Maior que,
de acordo com o parecer, era desnecessário e dispendioso, já
que as companhias eram separadas.

34
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Os militares recrutados para o Corpo de Guardas que já


tivessem algum rendimento pago pelo Governo Imperial deveriam
fazer opção por um dos salários. Deste salário deveriam, inclusive,
adquirir seus uniformes.
Consta no Arquivo
Público de Alagoas (APA),
um ofício de 2 de janeiro
de 1832, remetido pelo
presidente da província de
Alagoas ao comandante das
Armas interino da província,
Manoel Mendes da Fonseca,
demonstrando que houve
certa confusão para o
recrutamento dos integrantes
do CGM: indivíduos que já faziam parte de outras forças, como o
Exército e a Guarda Nacional, desejavam fazer parte da Guarda
Permanente estadual. O parecer do Estado foi negativo sob
a alegação de que os alistados a outras forças não poderiam
pertencer a dois corpos, nem serem sujeitos a dois serviços, nem
a duas pessoas.
Enfatizamos que, pela leitura dos documentos oficiais,
depreende-se que o Corpo de Guardas da província já estava
formado desde dezembro de 1831. E, em 3 de fevereiro de
1832, apenas foi ratificado pelo império com a aprovação
de seu plano, ganhando o nome de Corpo de Guardas
Municipais Permanentes (CGMP), suprimindo-se a expressão
“Voluntários”.
Para o cargo de comandante geral do CGMP, o presidente
Manoel Lobo manteve o reverendo Cypriano Lopes, comandante
do então Corpo de Guardas Municipais Voluntários.

35
Silvio Teles

A missão inicial do CGMP foi dupla: manter a ordem interna


na província, prezando pelo cumprimento das leis imperiais, e
combater os adeptos da Guerra dos Cabanos.
Encontra-se, no APA, um aviso do Ministério da Justiça, de
5 de dezembro de 1832, remetido ao presidente da província de
Alagoas, conclamando a Guarda Nacional e a Municipal a lutar
visando à extinção das rebeliões existentes na província.
Esta última missão – o combate a uma das revoltas
populares mais longas da história do Brasil – foi exercida, em
Alagoas, com apoio dos militares governistas de Pernambuco.
Isso porque, logo em seu nascimento, o CGMP passou por
dificuldades administrativas e orçamentárias.
Um ofício de 1º de novembro de 1832, da lavra do
presidente da província de Pernambuco, Manuel Zeferino dos
Santos, e remetido ao ministro do Império, Nicolau Pereira de
Campos Vergueiro, relata que, frente aos insucessos das tropas
alagoanas no combate aos cabanos, estava sob responsabilidade
daquela província – a de Pernambuco – extinguir o movimento
nos dois territórios.

36
Capítulo 3

As Primeiras Reformas
na Estrutura da Pmal
O fim da Guerra dos Cabanos
O retorno da paz permite as primeiras modificações
estruturais na PMAL

B
rasil, setembro de 1834. Com a morte de Dom Pedro I, a
causa principal da Cabanada deixa de existir e o movimento
torna-se sem sentido. Entretanto, os lavradores, índios e
negros, que a essa época já somavam mais de 15 mil pessoas,
decidiram continuar a luta, rejeitando a promessa de perdão de
seus crimes. Os revolucionários buscavam, agora, liberdade e
posse de terras ocupadas pelos cabanos.
Em 1835, como a revolta ainda se estendia e as tropas
militares governistas não conseguiam exterminá-la, autoridades
eclesiásticas, entre elas, o Bispo de Olinda, Dom João da
Purificação Marques Perdigão, e o vigário de Alagoas, padre

37
Silvio Teles

Domingos José da Silva, convenceram os cabanos a desistirem da


luta. Eles alegaram o sofrimento da população e lhes oferecem
a conversão à cristandade, anistia e o perdão imperial de seus
delitos.
Com a edição da Lei nº 11, de 10 abril de 1835, editada pela
Assembleia Provincial (órgão que substituiu o Conselho Geral,
depois de 1834) e sancionada pelo então presidente da província,
José Joaquim Machado de Oliveira, o CGMP de Alagoas foi reduzido
a uma só companhia. A lei permitiu ao presidente da província –
e não mais ao imperador – o poder de recrutar os componentes
da Guarda, inclusive os oficiais. Ela estabelecia, todavia, que os
integrantes do CGMP deveriam ser homens de boa conduta e da
confiança do presidente. A lei determinou ao presidente da província
que ele elaborasse o regulamento disciplinar da instituição.
Essa lei definiu, oficialmente, o primeiro quadro de organização
(QO) do CGMP de Alagoas. Pelo QO, o CGMP era composto por um
1º comandante, dois 2º comandantes, dois 1º sargentos, três 2º
sargentos, oito cabos, um furriel (encarregado das finanças), 150
soldados e dois corneteiros. Com exceção dos comandantes, os
demais integrantes seriam empregados por um período de um ano.
Em 1836, ou seja, um ano mais tarde, o Corpo de Guardas
Permanente sofre outra alteração na estrutura. A Lei nº 13, de
24 de fevereiro daquele ano, reorganizou o QO da instituição,
definindo que, para o ano financeiro de 1836 a 1837, a Força
Policial (nomenclatura introduzida) seria formada de quatro
seções (pelotões).
Cada seção teria um comandante, um 1º sargento, um
2º sargento, um furriel, dois cabos, quarenta soldados e um
corneteiro. Nesse período, cada uma das quatro comarcas da
província (Penedo, Porto Calvo, Maceió e Alagoas) tinha um
chefe de polícia, a quem competia nomear os comandantes

38
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

de seção. A lei dava preferência, inclusive, aos oficiais militares


“avulsos”, ou seja, aqueles que já faziam parte de alguma força
militar provincial e que estivessem devidamente licenciados pelo
Governo. As praças seriam as já existentes e os vencimentos,
bem como o sistema disciplinar, continuariam os mesmos.
Estava extinta a denominação “Corpo de Guarda Municipal
Permanente”, prevalecendo o nome “Força Policial”.
Em 1837, o primeiro regulamento disciplinar da Corporação
entrou em vigor, através da Lei de 21 de junho. Mais que matéria
disciplinar, o regulamento trazia normas relativas a uniformes,
insígnias, distintivos e ordem hierárquica.
O primeiro regulamento disciplinar da Força Policial era
extremamente severo. Por exemplo, a prática de desobediência a
superior era punida com seis meses de prisão, caso não houvesse
prejuízo ao serviço. Se o prejuízo fosse configurado, a pena seria
de um ano. Também, o militar encarregado da guarda de um
preso que o deixasse fugir, teria a pena que estava imposta ao
preso. Se a fuga tivesse sido facilitada, além da pena do preso,
o militar cumpriria mais uma terça parte, não ultrapassando o
limite de oito anos.
Nos primeiros anos de sua existência, a Força Policial sofreu
com a estagnação salarial de seus integrantes, comprometida,
ainda mais, com a alta inflação e constante desvalorização
da moeda brasileira. Corroborando com a situação negativa,
Alagoas estava em crise administrativa, principalmente, depois
do enfraquecimento do comércio e da revolta dos cabanos.
Em 1838, Agostinho da Silva Neves assumiu a presidência
da província. Segundo Jayme de Altavila, no livro História da
Civilização das Alagoas (8ª Ed., 1988), Alagoas possuía cinco
comarcas, vinte paróquias, quinze termos (territórios prontos
para povoação), quinze municípios, quatorze vilas e uma

39
Silvio Teles

cidade. A renda provincial era controlada pela Tesouraria Geral


do Império, já que Alagoas não tinha condições sequer de
manter os funcionários da Tesouraria da província, criada em
fevereiro daquele ano. Aliás, nesse período, o único ramo do
funcionalismo que tinha seu salário integral pago pelo Governo
era a polícia. Talvez, por dois motivos: primeiro, os salários
pagos eram baixíssimos (o salário do um inspetor geral da
Tesouraria era de setecentos mil-réis, enquanto que o de um 1º
comandante da Força Policial era de cinquenta mil-réis, ou seja,
catorze vezes menor); o segundo motivo era a desordem pública
existente, que exigia um corpo de polícia pronto e disciplinado.
Os demais funcionários públicos provinciais recebiam apenas
um terço dos vencimentos.
Como o tempo de permanência dos integrantes da Força
Policial, por força de lei, era de apenas um ano, em 1838 uma
nova lei – a nº 17, de fevereiro – fixou novo efetivo da instituição.
O recente diploma trouxe novidades ao definir as patentes da
carreira de oficiais para 1º, 2º e 3º comandantes. Segundo a lei,
a Força seria composta por um 1º comandante com a patente
de capitão, um 2º comandante, no posto de tenente, e um 3º,
no posto de alferes (aspirante). A lei definiu, ainda, que haveria
um 1º sargento, cinco 2º sargentos, um furriel, oito cabos, dois
cornetas e 150 soldados.
Em relação à lei anterior, que previa uma estrutura com
quatro seções de cinquenta soldados, cada, o número do efetivo
foi diminuído. O soldo permaneceu o mesmo, exceto para os
comandantes. O tempo de permanência foi aumentado para três
anos e os recrutados deveriam, além de gozar de boa conduta
civil e moral, ter entre 18 e 40 anos. A força estaria à disposição do
presidente da província que poderia distribuí-la pelas comarcas
quando e como julgasse necessário.

40
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

A transferência da capital alagoana


O episódio em que o Exército prendeu o presidente no
Palácio Provincial

No ano seguinte, a Força Policial participou de um incidente


marcante na história de Alagoas: a transferência da capital da
província da cidade de Alagoas (Marechal Deodoro) para a de
Maceió, através da Lei nº 11, de 9 de dezembro de 1839.
A ordem foi dada pelo Governo Imperial, provocado pela
Tesouraria da província, que alegou que a transferência facilitaria
o sistema de arrecadação de impostos. Desde Mello e Póvoas, a
residência do presidente e muitas das sedes administrativas já
ficavam em Maceió.
Os moradores da cidade das Alagoas, insuflados pelo
alagoense José Tavares Bastos (magistrado que, apesar de
nomeado, foi impedido pelo presidente da província, Agostinho
de Silva Neves, de assumir o cargo de juiz de Vila Nova, hoje
Neópolis, em Sergipe), marcharam contra a sede da Força Policial,
querendo obter armas para a luta de resistência à transição.
Apesar da ingerência imperial, o processo de transferência
da capital foi uma articulação no âmbito da província. Os
maceioenses não haviam aceitado a impugnação feita pela
câmara das Alagoas, em 1820, ao decreto de criação da comarca
do norte, que seria capitaneada por Maceió. Aliado a isso, a
estrutura portuária, comerciária e a instalação de importantes
sedes administrativas da província, em Maceió, contribuíram
para incitar e realizar a transferência.
Liderados pelo major de Tropa de Linha e alagoense
Manoel Mendes da Fonseca (pai de Deodoro da Fonseca), tropas
do Exército prenderam Agostinho da Silva Neves no palácio
provincial, na cidade das Alagoas, para evitar que o mesmo

41
Silvio Teles

executasse a ordem de transferência. A câmara das Alagoas


sugeriu ao presidente que deixasse a administração provincial,
sob pena de haver grande revolução e confronto sangrento.
Por proposta da câmara da cidade das Alagoas, Tavares
Bastos foi convidado a assumir a presidência da província mas,
ciente da ilegalidade do ato, sugeriu que o vice-presidente,
João Lins Vieira Cansanção do Sinimbu, que tinha sido escolhido
por Decreto Imperial, fosse convidado primeiro. No dia 30 de
outubro daquele ano, Sinimbu, ao tomar conhecimento do
que se passara na cidade das Alagoas, incluindo a prisão do
presidente, assumiu, por ato próprio, o Governo Provincial,
declarando Maceió capital de Alagoas.
O vice-presidente arregimentou a Força Policial da província
e homens da Guarda Nacional das demais vilas e povoados (com
exceção de Palmeira dos Índios, cujo comandante era irmão
do major Manoel Mendes da Fonseca) para combaterem os
revoltosos, contrários à transferência.
Na cidade das Alagoas, Tavares Bastos ordenou a expulsão
do presidente Agostinho Neves e o embarcou no navio “Dois
Amigos” para que fosse levado para fora da província. Porém,
pouco tempo antes, o comandante da embarcação havia
recebido uma carta, com a instrução de ser aberta somente
com o presidente provincial à bordo. Nesta carta, Sinimbu
informava que Agostinho da Silva Neves ainda era presidente
da província e que o comandante do navio deveria deixá-lo
onde ele assim o quisesse.
Agostinho decidiu atracar no Porto de Jaraguá, onde
foi recebido com festa pela população e pelas tropas que o
apoiavam. Sinimbu devolveu-lhe a presidência da província e
a transferência da capital foi realizada no dia 8 de dezembro,
através da Lei nº 11.

42
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Pouco tempo depois, em 1840, a Força Policial teve de


agir, novamente, pela consolidação da transferência da capital
da província e manutenção das instituições governativas. Os
deputados da Assembleia Provincial, cuja maioria era alagoense,
tinham a esperança do retorno da capital para aquela cidade.
Como a Assembleia não dispunha, ainda, de sede física em
Maceió, as sessões do parlamento aconteciam no corredor lateral,
do primeiro andar, da Igreja do Rosário, no centro de Maceió.
No dia 2 de maio, os deputados, insatisfeitos, retiraram-
se para suas residências, explicando que não podiam dar início
aos trabalhos naquele local. Os maceioenses, compreendendo a
real intenção dos políticos, conclamaram-se, através da força e
das armas, a dissolver a Assembleia Legislativa. A Força Policial
precisou ter muita habilidade para conter os ânimos dos cidadãos
até que a revolta fosse acalmada. Nesse período, o efetivo da
Força previsto em lei era de 150 praças.

43
Capítulo 4

A Atuação da Pmal no Brasil


2º Reinado
A maioridade de Dom Pedro II
As consequências em Alagoas do
golpe político imperial

R
io de Janeiro, julho de 1840. Dom Pedro II, um jovem de apenas
14 anos, assume o Império do Brasil. Tratava-se de um golpe da
classe dominante e dos senhores de terra para fazerem, através
do imperador, as reformas que lhes fossem convenientes e lucrativas.
A pouca idade do monarca e as questões de mando, poder e política
deflagraram nova série de revoltas em todo o País. Polarizavam a luta,
dois partidos ideológicos: os liberais e os conservadores.
Um dos primeiros atos do novo Imperador foi a atualização
do Código Criminal de 1830, dispositivo legal que fortaleceu o poder
das polícias ao lhes atribuir a responsabilidade pela investigação de
delitos, que antes era dos juízes de paz.

45
Silvio Teles

A primeira crise do segundo reinado, em Alagoas, só se


manifesta em 1844, no governo do liberal Bernardo de Souza
Franco. Em consonância com a divergência política nacional,
esta rebelião se dá entre integrantes de partidos opostos:
os Lisos (conservadores), liderados por Tavares Bastos, e
Cabeludos (liberais), chefiados por Sinimbu. Os Lisos ocuparam
a cidade de Maceió e, apesar de estarem armados, respeitaram
o patrimônio público e privado, não causando depredação,
nem invasões.
Mesmo usando a Força Policial de Alagoas, cujo efetivo
legal era ainda o de 150 integrantes, o governador não consegue
conter a rebelião e é obrigado, mais uma vez, a recorrer à vizinha
província pernambucana. Com este reforço, a rebelião é contida
e os revoltosos fogem para o interior da Bahia e de Pernambuco.

O combate aos irmãos Morais


Sangue e morte, num dos cercos policiais mais
violentos da história de Alagoas

Desde sua criação, a Força Policial teve efetivo reduzido.


Leve ampliação se deu em junho de 1844 com o aumento de
apenas 23 praças, através da Lei nº 16, de 12 de junho. O efetivo
passou a ser de 173 homens. A mesma lei concedeu reajuste nos
salários dos integrantes da Força.
Mesmo contando com poucos homens, a Força Policial, em
1845, lutou contra um bando de malfeitores, chefiados pelos Irmãos
Morais. Isabel Loureiro de Albuquerque, em seu livro História
de Alagoas (2000), nos fala sobre tais irmãos. Segundo a autora,
querendo vingar a morte de seu pai, morto quando era conduzido,
preso, da cidade de Palmeira dos Índios a Maceió, durante a
Guerra dos Lisos e Cabeludos, os Morais, que apoiavam os Lisos,

46
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

formaram um grupo de facínoras que passou a praticar desordens e


assassinatos, não poupando nem mulheres, nem crianças.
Nessa época, governava Alagoas o Brigadeiro Henrique
de Oliveira Lisboa, liberal, vencedor nas eleições do “cacete”
(processo eleitoral corrupto e violento utilizado pelos liberais,
em todo o País, para garantir a vitórias de seus candidatos).
O maior episódio da luta contra os Morais se deu em Poço
das Trincheiras, cidade do sertão de Alagoas que recebeu esse
nome pelas trincheiras cavadas pelos moradores para tentar
parar a fúria do bando de malfeitores. Os Morais descobriram
a armadilha e, ao saber que os moradores daquela cidade,
em sua maioria, apoiavam os Cabeludos, promoveram uma
grande matança.
Depois desse episódio, a Força Policial lançou grande
campanha para capturar os Morais. Poucos dias depois, nas
proximidades da cidade, uma volante e alguns cidadãos
montaram uma emboscada e conseguiram prender os
malfeitores. Resistindo a prisão, houve embate físico e os Irmãos
Morais e seu bando foram exterminados.

Consolidação do 2º Reinado
Uma fase de novas modificações na
Polícia Militar de Alagoas

De 1845 a 1864, o Brasil passou do período das rebeliões


provinciais e políticas a uma fase de sólido e visível crescimento
econômico, social e artístico, sob a administração do jovem Dom
Pedro II. Mas, para Alagoas, isso não significou estabilidade
política. Em dezenove anos, a província teve 36 mandatos
governamentais, com destaque para Roberto Calheiros de
Melo, que, alternadamente, foi governador oito vezes (seu

47
Silvio Teles

mandato mais longo durou um ano, de 1861 a 1862). Nesse


período, ainda, José Bento da Cunha Figueiredo e Manuel
Sobral Pinto, alternando-se, subiram ao poder três vezes cada
um, de 1849 a 1853.
Nesse intervalo de tempo, a Força Policial de Alagoas
sofreu poucas modificações, inclusive, em seu efetivo. Em 1844,
o total de integrantes era de 173 homens. Em 1845, houve
redução para 100 homens e, até 1850, as Leis nº 44 (1846), 64
(1847), 75 (1848), 108 (1849) e 140 (1850) fixaram a quantidade
de integrantes, usando a curiosa expressão “a mesma do ano
antecedente”, ou seja, 100 praças. Somente em 1851, com a
Lei nº 145, houve a liberação para que a Força pudesse ser
ampliada, em casos extraordinários, para 150 militares. Essa
última lei marca o nascimento da Banda de Música na Polícia
Militar de Alagoas.
Apesar das sucessões governamentais efêmeras, Alagoas
viu grandes obras de seu plantel arquitetônico surgirem nesse
período. É o caso do Palacete da Assembleia Legislativa e a
Casa de Inspeção do Algodão. A Santa Casa de Misericórdia –
inicialmente chamada de Hospital da Caridade – e a Catedral de
Maceió também tiveram suas construções iniciadas nessa fase
de crescimento.
Graças ao progresso e à tranquilidade da capital, em
1853, mais da metade do efetivo da Força trabalhava no
interior do Estado: aproximadamente 50 praças atuavam em
Penedo, sob o comando do alferes Manoel Correia de Araújo,
e em Camaragibe, comandados pelo também alferes, José
Acácio Pereira.
Como o presidente da província tinha poderes legais para
organizar a força como bem lhe conviesse, os destacamentos no
interior eram efêmeros e esporádicos.

48
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Em 1855, um tímido progresso foi notado para a Força


Policial: em cumprimento à Lei nº 247, do ano anterior, a Força
Policial foi dividida em duas companhias com 65 praças, cada,
(efetivo de 130, portanto). O comandante geral, que até então
era um capitão, foi elevado ao posto de major. Também, essa
lei autorizou a reformulação do Regulamento Disciplinar de
1837, fato materializado com a aprovação do novo regulamento
através da Lei nº 280, de abril daquele ano.
Antônio Coelho de Sá, presidente de Alagoas em 1857,
apresentando relatório à Assembleia Legislativa, em 3 de janeiro,
testemunhou um fato curioso: o então comandante geral,
Vicente de Paulo Carvalho, pediu demissão e, por economia de
verba e “por não haver necessidade”, segundo Coelho de Sá, a
Força Policial ficou sem comandante.
Em 1859, ocorreu nova ampliação no efetivo da Força, que
passou a ser composta de 250 integrantes. Este ano, segundo a
historiadora Elisabeth de Oliveira Mendonça, no livro Sesquicentenário
da Polícia Militar de Alagoas (1983), marca a vinda de Dom Pedro II ao
Estado de Alagoas. O imperador veio conhecer a Cachoeira de Paulo
Afonso e foi recebido com festa por uma comitiva, guarda de honra e
Banda de Música da Força Policial de Alagoas.
Dificuldades administrativas e a má situação das finanças
provinciais levaram o presidente Roberto Calheiros de Melo a
editar a Lei nº 389, de 12 de agosto de 1861, reduzindo a força
para 200 homens. Efetivamente, existiam 150 praças.
Pelo mesmo motivo, em 1864, a Banda de Música foi
extinta. Nesse período, a sede da Força Policial era o quartel
da Praça da Independência, pertencente ao Exército. Segundo
Amâncio Filho, no livro Fatos para uma História da PMAL (1977),
a Força Policial somente ocupa, definitivamente, o atual Quartel
do Comando Geral, em 1902.

49
IHGAL

Quartel do Comando Geral, 1902

50
Capítulo 5

A Guerra do Paraguai
O Brasil entra na guerra
Navio brasileiro é apreendido em solo estrangeiro e o
Brasil sofre invasão paraguaia

A
ssunção, Paraguai, novembro de 1864. O ditador paraguaio
Francisco Solano Lopez aprisiona o navio de bandeira
brasileira, Marquês de Olinda, estando à bordo o presidente
da província de Mato Grosso, coronel Frederico Carneiro de Campos.
Embora ainda não tivesse declarado guerra ao Brasil, Solano Lopez,
despótico e ambicioso, desconsidera as boas relações que seus pai
e avô tiveram com o Brasil (muitos técnicos e instrutores brasileiros
ajudaram a construir o império paraguaio).
Ele estava decidido que, para tornar o Paraguai uma
grande potência, era necessário aumentar seu território. A
pretensão do ditador era anexar todo o Uruguai, as províncias
argentinas Corrientes e Entre Rios, a Ilha Martim Garcia e o Rio
Grande, no Brasil.

51
Silvio Teles

Em dezembro daquele ano, os paraguaios – que somavam


uma força militar de oitenta mil soldados, sem contar os
adeptos do Partido Blanco do Uruguai, seus simpatizantes
– invadiram o Mato Grosso. O contingente militar brasileiro
não ultrapassava dezessete mil homens. Em Corrientes, na
Argentina, os soldados de Solano Lopez tinham dominado
portos e aprisionado inúmeros navios.
Em resposta à ofensiva paraguaia, Brasil, Argentina e
Uruguai assinam um tratado de cooperação e defesa militar,
batizado de a “Tríplice Aliança”.

O Corpo de Voluntários da Pátria


As forças do Brasil se unem para combater a afronta
do Paraguai

Dom Pedro II, em 7 de janeiro de 1865, editou o Decreto


nº 3.371, criando o Corpo de Voluntários da Pátria. O objetivo
do Imperador era formar um contingente militar para auxiliar o
Exército na guerra contra o Paraguai. Toda a Guarda Nacional foi
convocada, de todas as províncias. As Forças Policiais e Corpos
de Polícias foram transformados em Batalhões de Voluntários.
Em todo o País, a onda do nacionalismo ganhava força e o povo
se ajuntava nos palácios provinciais para se alistar e lutar contra
os inimigos do Brasil.
O bacharel Mariano Joaquim da Silva, inspetor da
Tesouraria Provincial de Alagoas, recebeu, em 19 de janeiro
daquele ano, um aviso circular do Ministério da Guerra,
informando que, em sendo oferecidos, o Governo Imperial
aceitaria quaisquer serviços prestados por Alagoas na luta
contra o Paraguai. Doze dias depois, o mesmo inspetor remeteu
ao comandante da Força Policial, o capitão aposentado do

52
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Exército Brasileiro Carlos Cirilo de Castro, o aviso circular do


Ministério da Guerra. A resposta do comandante foi positiva no
sentido de disponibilizar toda a Força Policial para o ingresso
nos aludidos Batalhões Voluntários da Pátria.
Portanto, a Força Policial de Alagoas recebeu a designação
de 20º Batalhão de Voluntários da Pátria. A tropa foi comandada
pelo capitão Carlos Cirilo, que era gaúcho e fervoroso
patriota, e que, para a guerra, foi comissionado (promovido
temporariamente) ao posto de tenente-coronel.
Félix Lima Júnior, no livro Pequena História da Polícia
Militar de Alagoas (1990), diz que, transformada em Batalhão
de Voluntários, para a guerra, algumas mudanças foram feitas na
Força Policial.
Por exemplo, os
sargentos Felipe Santiago
Abreu, Zeferino Vieira Soares
e Francisco José dos Santos
foram comissionados alferes.
O corneta João Batista de
Góis foi nomeado corneta-
mor, recusando a iminente
aposentadoria. O padre do
Poxim, Domingos Fulgino da
Silva Lessa, após oferecer-se
para os serviços de capelania
de qualquer força do império,
foi nomeado capelão do 20º
Batalhão de Voluntários. O
Governo Provincial, através
da resolução nº 445, de 17
de junho de 1865, concedeu

53
Silvio Teles

regalias, benefícios e vantagens aos oficiais e praças de Alagoas,


incluindo-se a de, terminada a guerra, reassumirem os postos
que ocupavam quando partiram.
De acordo com um relatório de Mariano Joaquim da Silva,
remetido ao então vice-presidente da província de Alagoas,
Roberto Calheiros de Melo, em abril de 1865, o trabalho de
treinamento das praças e dos alistados para a guerra não foi fácil.
Todos os destacamentos do interior foram desfeitos e o efetivo
reunido na capital.
Diariamente, o próprio comandante da Força Policial
executava duros exercícios militares, dispensando e substituindo
as praças não aptas ao serviço, na intenção de aumentar o efetivo
pronto para a guerra.
Para suprir a ausência dos policiais militares no interior
do Estado, o presidente da província, João Baptista Gonçalves
Campos, ordenou aos comandantes da Guarda Nacional que
substituíssem, por igual número de praças daquela guarda, os
postos vagos pelo recrutamento dos policiais militares para a
Guerra do Paraguai.

A PMAL embarca para a guerra


O recrutamento forçado e o período em que Alagoas,
praticamente, ficou sem Força Policial

No dia 13 de março, o 20º Batalhão de Voluntários da


Pátria deixou o Quartel Militar, na Praça da Independência, com
destino ao Porto de Jaraguá. Do porto, embarcou para o Rio de
Janeiro e, de lá, para o Paraguai.
Depois dos alistamentos e treinamentos, o batalhão tinha
400 homens (200 policiais e 200 voluntários, aproximadamente).
Alagoas preparou uma grande festa, incluindo missa campal rezada

54
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

na Praça dos Martírios, para desejar sorte aos Voluntários da Pátria.


A guerra foi excessivamente longa e sangrenta. Alagoas
chegou a enviar mais de 3.500 homens para o campo de batalha.
Como o recrutamento voluntário não mais surtia efeito para
compor as tropas para a campanha contra o Paraguai, iniciou-
se um recrutamento forçado. Lavradores e camponeses, sem a
menor noção sobre patriotismo ou ofensa ao Estado brasileiro
(para eles, o mundo se resumia às suas pequenas lavouras),
foram obrigados a pegar em armas e marchar contra o Paraguai.
Tal imposição causou grande descontentamento entre a
população. Os homens se escondiam quando alguma comitiva
provincial se aproximava, temendo serem recrutados. Muitos
mutilavam os dedos ou arrancavam os dentes incisivos, necessários
para o manuseio das armas e para abertura dos cartuchos.
Segundo diz Isabel Loureiro de Albuquerque, em História
de Alagoas (2000), militares do Exército, aproveitando o
recrutamento forçado, começaram a executar vinganças
pessoais, mandando para a guerra antigos adversários pessoais.
Do mesmo modo, os políticos influentes submetiam à população
grande subserviência, sob pena de recrutamento.
De acordo com Moacir Medeiros de Sant’Ana, no livro de
Jayme de Altavilla, História da Civilização das Alagoas (8ª Ed.,
1988), nas administrações de João Baptista Gonçalves Campos
(1864/1865), Esperidião Elói de Barros Pimentel (1865/1866), José
Martins Pereira de Alencastre (1866/1867), Antônio Moreira de
Barros (1867/1868), Silvério Fernandes de Araújo (1868) e José
Bento da Cunha Figueiredo (1868/1870) Alagoas enviou para a
Guerra do Paraguai, exatamente, 3.657 homens, entre policiais,
voluntários, guardas nacionais, militares do Exército e recrutados.
Da Força Policial, foi todo o efetivo, ficando no Quartel,
segundo estimativas, apenas seis homens de cavalaria. Aliás, é

55
Silvio Teles

a Lei nº 402, de 23 de novembro de 1863, o primeiro registro de


tropa montada institucional na Força Policial de Alagoas.
O 20º Batalhão de Voluntários da Pátria integrou a 11ª
Brigada da 4ª Divisão de Guerra. Essa Divisão participou, em
24 de maio de 1866, da Batalha do Tuiuti, até hoje considerada
a mais sangrenta da história da América do Sul. Os brasileiros
saíram vitoriosos.
Entre os alagoanos que perderam a vida, durante a Guerra
do Paraguai, destacam-se o capitão Carlos Cirilo de Castro,
comandante da Força Policial, e os irmãos Hipólito Mendes,
Aureliano e Afonso da Fonseca, oficiais superiores do Exército e
irmãos do futuro marechal Deodoro da Fonseca.
Um relatório de 1867, escrito por Galdino Augusto da
Natividade e Silva, então vice-presidente de Alagoas, informa que,
ainda durante a Guerra, os serviços da Força Policial, inclusive de
comando, foram retomados normalmente embora com alguns
prejuízos. Naquele ano, o efetivo da Força era de 149 praças,
das quais, 100 estavam no Paraguai. O comando da Corporação,
em Alagoas, foi entregue ao capitão honorário do Exército José
Gomes Ribeiro, cidadão do povo. Supõe-se que todos os oficiais
de carreira estivessem envolvidos na guerra. Segundo o mesmo
relatório, a administração da Força encontrava-se prejudicada,
havendo falta de escrituração e o inventário do patrimônio da
Corporação estava desatualizado.

A última batalha
A morte do ditador paraguaio marca o fim da guerra
mais sangrenta das Américas

A guerra teve duração de seis anos. As tropas brasileiras


enfrentaram severas dificuldades de alimentação, falta de

56
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

comunicação e sofreram com moléstias e epidemias. Frente a esse


quadro desolador, Dom Pedro II nomeou Luis Alves Lima e Silva,
o Duque de Caxias, para liderar o exército brasileiro no Paraguai.
Com diligente habilidade em comandar, Duque de Caxias
conseguiu reorganizar as tropas brasileiras, passando a conquistar
diversas vitórias. Em 1869, os militares brasileiros chegaram à
Assunção, sede do governo inimigo. Mesmo sendo exímio líder
militar e obtendo vitórias importantes, Caxias retornou ao Brasil
e a última batalha da guerra fora travada sob a liderança do
genro de Dom Pedro II, Dom Luiz Felipe de Orleans, Conde D’Eu,
esposo da Princesa Isabel. Em 1870, Francisco Solano Lopes é
preso e morto, em Cerro Corá, e a guerra chega ao fim.
Os alagoanos retornam a Maceió, desembarcando em 19
de julho de 1870, sob o comando do major Francisco de Barros
Aciolli, ostentando a Bandeira 20º Batalhão de Voluntários da
Pátria, manchada de sangue, flâmula que ainda hoje se encontra
no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.

57
Capítulo 6

As Consequências da Guerra
O policiamento de Alagoas
Grande tarefa, pequeno efetivo

B
rasil, década de 1870. A Guerra do Paraguai deixa o País,
parcialmente, em ruínas econômicas. A administração
pública tinha sentido gravemente os efeitos de seis anos
de combates ininterruptos.
Havia uma urgência em se reconstruir o País e tal
renascimento somente foi possível com a reorganização do
Estado, através da criação de novos órgãos e leis, e com o
desenvolvimento de uma nova política econômica: a industrial.
É nesse período que são reformadas as câmaras municipais
e os institutos de crédito nacionais. São uniformizados os pesos e
as medidas e atualizados o Código Civil, o Código Penal e o Código
Comercial. Também há reformas na política e na Guarda Nacional.
A explosão industrial cria, em todo o País, uma nova
consciência cultural, movida por interesses comerciais, que se

59
Silvio Teles

mostra contrária à cultura escravagista. Até então, era a mão-


de-obra do negro a mola propulsora da economia brasileira.
Nacionalmente, campanhas pró-abolição estouram.
Em Alagoas, a monocultura da cana garantia à Província
bom saldo comercial, entretanto, concentrado nas mãos
de poucos latifundiários. A população escrava, propriedade
desses donos de terras, apesar de inexpressiva, possuía grande
representatividade, sobretudo depois do exemplo de Zumbi e do
Quilombo dos Palmares.
Assim, de 1870 a 1888, a missão principal da Força Policial foi
a de garantir a ordem, com serviços típicos de polícia urbana, além
de auxiliar no cumprimento de leis importantes para a campanha
da abolição: a Lei do Sexagenário (1885) e a Lei Áurea (1887).
Registre-se que, através do Decreto nº 2.945, de 1876, foi
criada na Força Policial uma Companhia de Comando e Serviços,
com o objetivo de apoiar, administrativa e em atividades de pessoal,
os departamentos da Corporação instalados no Quartel Geral.
Conta Elisabeth de Oliveira Mendonça, em Sesquicentenário
da Polícia Militar (1983), que nos anos de 1875 e 1876 a Banda
de Música da PMAL fazia retretas, nos dias de quinta-feira à
tarde, no Jardim Jaraguá; aos sábados à noite, na rua Barão de
Anadia, no Centro de Maceió, em frente ao Palácio do Governo;
e, nas tardes de domingo, no Jardim do Palacete (atual sede da
Assembleia Legislativa).
Apesar da aparente fase de calmaria (principalmente se
comparada às antecedentes), a missão da Força era desenvolvida
com dificuldades. Esta situação é corroborada quando analisamos
um relatório datado de 1879, arquivado no APA, escrito por José
Torquato de Araújo, presidente da província de Alagoas, que
diz que o Corpo de Polícia estava sob o comando de um “oficial
inteligente e brioso”, referindo-se ao tenente-coronel Eustáquio

60
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Rebelo Brasil, mas que “o serviço policial na província não era


ainda completo e perfeito”. Entretanto, reconhecendo a ausência
de responsabilidade da Força Policial, o relatório justificava que o
efetivo era diminuto e espalhado em pequenos destacamentos
no território da província.
Além dos serviços de polícia ostensiva, a Força era
responsável pela execução de diligências para a prisão de
malfeitores. Tanto é que o mesmo relatório aponta que, em 1879,
um oficial e onze praças estavam engajados numa diligência, pelo
interior do Estado. Na capital, havia trinta oficiais e 54 praças. No
interior, quatro oficiais e 186 praças.
Em 1882, o efetivo (fixado pela Lei nº 844, de 15 de junho
de 1880) tinha a seguinte composição: um major, dois capitães,
dois tenentes, quatro alferes, 26 inferiores, um sargento mestre
de música e 247 praças. O comandante era o major João Francisco
de Carvalho.
Esse contingente, não podendo fazer frente à prática de
delitos, era alvo das reclamações públicas. A distribuição do
efetivo também era contestada: em Maceió, em 1882, estavam
concentrados 24% da Força.
Além disso, a má formação e a precoce distribuição de
efetivo prejudicavam, sobremaneira, a disciplina da Corporação.
Muitos solados recém incluídos, por força da necessidade do
serviço, eram locados nos povoados do interior, sem a menor
noção de militarismo, hierarquia, disciplina ou execução de
policiamento.

61
Capítulo 7

A PMAL Depois da
Proclamação da República
O fim da monarquia e a federalização
A União esquece a polícia militar, os Estados a
conservam

B
rasil, 1889. Apesar da boa popularidade de Dom Pedro II,
o espírito republicano era, a cada dia, insuflado entre os
brasileiros. Internamente, as crises com a Igreja Católica
e a abolição da escravatura abalaram o apoio político que os
Conservadores dispensavam ao Imperador. Os liberais, por sua
vez, alegavam que as ações do império eram muito lentas e
que a sociedade necessitava de novas diretrizes políticas, sendo
incabível um suposto 3º reinado (insinuação de que, com a morte
de Dom Pedro II, o trono não haveria de ser entregue a família
real). Externamente, todos os países americanos do sul, logo
ao se tornarem independentes, assumiam a forma republicana

63
Silvio Teles

de Governo e o Brasil insistia numa monarquia, considerada,


extemporânea.
Com a intenção de minimizar as críticas oposicionistas,
o ministro da Guerra, Afonso Celso de Assis Figueiredo (o
Visconde de Ouro Preto) criou um programa de reformas
visando assegurar a monarquia, cedendo a requisições dos que
almejavam à república. Entre as propostas, estavam a liberdade
de culto, autonomia para as províncias, mandatos não-vitalícios
no Senado, liberdade de ensino e a minoração das prerrogativas
do Conselho de Estado. O programa foi reprovado na Câmara
dos Deputados.
A república não era somente um estilo governativo. Ela era
uma resposta necessária à falta de estrutura econômica, militar
e social que a monarquia havia alcançado, sobretudo, na década
de 1880. Apesar disso, o movimento de instauração da República
não teve o apoio popular. Os brasileiros apenas assistiram ao
golpe de estado liderado pelo marechal Deodoro da Fonseca e
consumado no dia 15 de novembro de 1889.
A edição do Decreto nº 01, do mesmo dia do golpe,
além de proclamar a República, ainda que provisoriamente, e
converter em estados federados as até então províncias do Brasil,
atribuía aos governantes locais, implicitamente, o poder de
assegurarem a ordem e a segurança pública. O estado federado
que não dispusesse dos meios para realizar tal função, sofreria a
intervenção federal necessária.
Parecendo desconsiderar a pré-existência de qualquer
força policial, o Governo Provisório republicano, através do
comentado decreto, autorizava cada estado federado a organizar
uma guarda cívica, não militar, destinada ao policiamento de seu
território. A explicação para esse fato torna-se clara: o comando
do golpe estava sendo liderado por um oficial do Exército e as

64
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

polícias militares, organizadas como estavam, constituíam uma


ameaça para a autonomia e prevalência das Forças Armadas.
Entretanto, não tendo como abafar as Forças Policiais
existentes nos, agora, estados federados, o Governo decide
reestruturar todo o sistema policial do Brasil. As Forças Policiais
e os Corpos de Guarda Municipais Permanentes que ainda
existiam foram transformados em “Corpos Militares de Polícia”.
Não foi apenas uma troca de nomes. Formalmente, as Forças
Policiais que, até então, eram subordinadas aos juízes de paz
e ao Ministério da Justiça, ficaram sob a égide imediata dos
governadores dos Estados e, indiretamente, do Ministério da
Guerra. A área de atuação que era restrita à jurisdição dos
distritos dos juízes, passou a integrar a totalidade do Estado. Por
fim, a formação que era, ainda, considerada paramilitar, tornou-
se militar, tendo o Exército como referência, não compulsória.
Em Alagoas, a Força Policial passou a ser chamada de
Corpo de Segurança.
Em razão da autonomia dos Estados, gerada pelo
federalismo, as polícias foram usadas como forças tipicamente
militares, com a função de consolidar tal autonomia e a
integridade do território estadual.

Primeiras crises da República


Em Alagoas, Polícia Militar nas ruas para garantir o
funcionamento do Executivo Estadual

Desde o fim da Guerra do Paraguai, o agora Corpo de


Segurança era constituído por três companhias, num total de
trezentos homens. Havia o Estado Maior (comando), o Estado
Menor (assessorias, diretorias e frações de tropa) e doze
soldados de cavalaria.

65
Silvio Teles

Durante vinte anos, poucas foram as alterações na instituição.


Mas, em janeiro de 1890, o Estado de Alagoas, através do Decreto
nº 02, reduziu o Corpo de Segurança para uma única companhia,
com o mesmo efetivo de 1870, ou seja, 150 integrantes.
A primeira constituição republicana, a de 1891, ignorou as
polícias militares. O texto constitucional cita os serviços de polícia
como responsáveis pela manutenção da ordem pública, sem,
contudo, fazer detalhamento sobre função, estrutura, organização,
personalidade jurídica ou subordinação do órgão policial.
Em Alagoas, já no primeiro ano da República, com o
conturbado processo de sucessão governamental, o Corpo
de Segurança precisou atuar para manter a administração do
governador eleito. Após a promulgação da constituição estadual,
em 1891, procedeu-se à eleição da qual saíram vitoriosos
Pedro Paulino da Fonseca (irmão do marechal Deodoro, então
presidente do Brasil) e seu vice, Manoel Araújo Góes. A oposição
passou a fazer frente à administração de Paulino da Fonseca
que, renunciando, deixou o Governo de Alagoas nas mãos
de Araújo Góes. Este, reagindo às ofensas opositoras que não
cessavam, colocou o Corpo de Segurança nas ruas para dissuadir
as manifestações dos revoltosos.
No Rio de Janeiro, Deodoro também enfrentava séria
crise política. A situação adversa eclodiu quando, por ordem
do presidente, o Congresso foi dissolvido, em 3 de novembro
de 1891. Considerada inconstitucional e arbitrária, sua atitude
desagradou à opinião pública e, inclusive, às Forças Armadas.
Percebendo que seu governo era insustentável e alegando
evitar dores e mortes, Deodoro passou o comando do Brasil ao
marechal Floriano Peixoto, candidato da oposição que havia sido
eleito vice-presidente (naquela época, no processo eleitoral não
havia chapa, elegendo-se para o cargo, o candidato mais votado).

66
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Com o afastamento de Deodoro, Araújo Góes, em Alagoas,


sentiu-se enfraquecido, sendo obrigado a deixar o Governo, que
ficou a cargo de uma Junta Governativa provisória.
Com a lacuna deixada por Góes, em 20 de fevereiro de
1892, o major de Engenharia do Exército, Gabino Besouro, foi
eleito governador de Alagoas. Entre as ações de destaque de sua
administração destaca-se a organização do Corpo de Segurança,
que foi elevado para um contingente de quatrocentos homens.
O Corpo de Segurança de Alagoas somente vai sofrer
nova alteração na administração do coronel Francisco Manoel
dos Santos Pacheco, em 1899, quando passou a ser chamado
de Batalhão Policial (BP) e seu efetivo foi elevado para 550
homens graças ao Decreto nº 171, de 26 de outubro. A essa
época, eram sete as circunscrições policiais, sendo uma na
capital e seis no interior.
O Batalhão Policial, no embrião republicano que florescia
lentamente no Brasil, e em Alagoas, além da missão de polícia
ostensiva, teve a responsabilidade de, como força estadual,
garantir a governabilidade em Alagoas. Com frequência, face às
inquietações advindas ainda da transição política pela qual passava
o Brasil, os governadores usaram o BP para conseguir assegurar
suas administrações ante a ação de grupos revolucionários.
Além disso, a coexistência com o Exército e com a Guarda
Nacional colocou o BP, em Alagoas, em situação de iminente
confronto de forças de segurança, como alguns incidentes que
ocorreram na administração de Gabino Besouro, por ciúmes e
alegações de extrapolação de competências.
A questão de confronto de forças somente se revolve
em 1909 quando são reformuladas a Ordem de Batalha das
Forças Terrestres e a Ordem do Serviço Militar Obrigatório e
Pessoal (conjunto de normas sobre a Defesa Nacional e sobre o

67
Silvio Teles

alistamento militar). A Lei nº 1.860, de 4 de janeiro, cita as forças


policiais estaduais como auxiliares da Guarda Nacional. Esse
reconhecimento, embora tardio, é importante para dar respaldo
às futuras estruturações das polícias militares.

68
Capítulo 8

Extinção e Reorganização
da PMAL
Crise financeira em Alagoas extingue a Polícia Militar
Estado chega a ficar cinco meses sem Polícia Militar
sob pretexto de falta de recursos

A
lagoas, 1900. Do começo da década até o ano de
1910, o Estado é governado pela “Dinastia Malta”
(Euclides e Joaquim Paulo Vieira Malta). Havia severa
crise financeira, causada pelo fim da cobrança do imposto
interestadual (imposto cuja base era a cobrança de taxas para a
venda e a compra de mercadorias entre os estados federados).
Àquela época, o “interestadual” era a maior fonte de renda das
unidades federativas.
No cenário nacional, assumiu a presidência do Brasil o
marechal Hermes Ernesto da Fonseca que, entre outros objetivos,
conteve as revoltas armadas levantadas no Sudeste e Centro-

69
Silvio Teles

IHGAL

Tropa da PMAL em frente ao QCG, 1908

oeste brasileiros e acabou com o poder das oligarquias regionais,


inclusive em Alagoas, com o fim do “império” dos Malta.
O primeiro sucessor da “dinastia” foi Macário das
Chagas Rocha Lessa. Sua administração foi marcada pela
forte intervenção federal, no governo do marechal Hermes
Hernesto da Fonseca. Revoltas militares, como a da “chibata”,
e populares, como a do “contestado”, voltaram a tumultuar
o cenário político nacional. Alagoas enfrentava problemas
administrativos e financeiros, oriundos das administrações
oligárquicas antecedentes.
O fato mais marcante da administração de Macário Chagas
ocorreu em 1º de fevereiro de 1912, quatro meses antes do fim
de seu mandato. Alegando carência financeira, o governador
publica uma lei extinguindo a Polícia Militar do Estado de Alagoas
(nome criado oficialmente em 1905, pelo Decreto nº 382).

70
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Embora não tenham sido encontrados relatos precisos


sobre a real fundamentação do chefe do executivo, documentos
posteriores (como o decreto estadual nº 564, de 3 de junho de
1912) confirmam a extinção temporária do Corpo de Segurança
em Alagoas.

O renascimento da PMAL
Polícia Militar cresce e é encarada como
ameaça ao Exército Brasileiro

Em junho de 1912, o sobrinho do marechal Deodoro da


Fonseca, Clodoaldo da Fonseca, assumiu o governo do Estado.
Seu programa de governo era ambicioso, mas não foi posto em
prática devido à falta de recursos.
Mesmo impossibilitado de realizar suas pretensões
governativas, Clodoaldo da Fonseca, poucos dias depois de ter
tomado posse, através de decreto, reorganiza a Força Pública.
Entre as justificativas para seu ato, o governador dizia que a
Força Pública deveria ser o primeiro elemento de garantia à
ordem social e à tranquilidade do cidadão. Mas, reconhecendo
a má situação financeira do Estado, solicitava ao Poder Público
que desse provimento à Força Policial e aos demais serviços
considerados como inadiáveis.
O comando geral da Corporação foi entregue ao aspirante
do EB Arnaldo Bittencourt, comissionado capitão da PM, então
o último posto da Corporação. Foi o comandante Bittencourt o
responsável pela construção das primeiras linhas (estandes) de
tiro e biblioteca da PMAL.
O Decreto nº 564 não somente fez renascer a PMAL, mas
criou a Polícia Civil do Estado de Alagoas. Segundo o ato legal, a
Polícia Militar seria constituída por uma companhia de guerra,

71
Silvio Teles

tendo um comandante, com o posto de capitão, três oficiais e


163 praças. Isto é, a PMAL que, em 1910, antes da dissolução,
tinha 600 homens, fora reduzida a um efetivo de 167 integrantes.
Já a Polícia Civil nascia com um corpo formado por um inspetor,
um subinspetor e 270 guardas.
Na verdade, apesar de o Decreto fazer menção ao nome
“Polícia Civil”, o órgão criado em 1912 era a Guarda Civil,
organização composta de duas seções: uma de policiamento
e outra de tráfego público. Sua primeira sede foi um prédio
na esquina entre a Rua Conselheiro Lourenço de Albuquerque
com a praça dos Martírios, no Centro de Maceió. A Polícia
Civil do Estado de Alagoas, como a conhecemos hoje, tem seu
nascedouro no ano de 1975.
O Exército, constantemente em conflito de competência
e interesses com as polícias militares dos Estados e, temendo
que as forças estaduais fossem mais “leais” à República que as
autoridades federais, conseguiu apoio e influência suficientes para
a criação, em 1915, do Decreto-Lei nº 11.497, de 23 de fevereiro.
Esse decreto obrigava as forças militares não pertencentes
ao Exército Brasileiro, mas que existissem permanentemente
organizadas com quadros efetivos, a terem composição, instrução
e uniformes tais quais os do Exército. Em outras palavras, o EB
havia criado um mecanismo para fiscalizar as Polícias Militares, e
seus integrantes, fazendo-os subordinados às suas deliberações.
O temor do Exército era de se entender. Com o
esmorecimento das revoltas do início do período republicano, a
idéia de autonomia dos Estados foi intensificada. O país gozava
de considerável ascendência econômica, fruto do incipiente
“ciclo do café”. Os investimentos nas Polícias Militares eram,
portanto, uma forma de assegurar o desenvolvimento autônomo
de cada estado federado.

72
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

A evolução na Polícia
Militar de Alagoas, por
exemplo, se fez notar: em 1913,
a PMAL passou a se chamar
“Batalhão da Polícia Militar”.
Em 1914, foi dividida em duas
companhias, contando com 16
oficiais e 417 praças. Em 1915,
tinha um organograma que
previa três companhias, todas
comandadas por capitães, num
efetivo de 600 homens. Ou
seja, apenas três anos depois
de sua reorganização, a PMAL
teve seu efetivo praticamente
triplicado. O comandante geral
era o major João Saraiva de
Albuquerque.
Com a edição do decreto,
as forças estaduais deixaram,
formalmente, de subordinar-
se à Guarda Nacional e o
fizeram ao Exército, embora
tal vinculação já fosse sentida
desde o início da República.
A vinculação definitiva ocorre
em 1917, com a Lei nº 3.216,
daquele ano.

73
Capítulo 9

A PMAL em Conflitos
Armados na Década de 1920
O pós Primeira Guerra Mundial
O Batalhão de Caçadores e a PMAL do pós-guerra

B
rasil. Desde 1914, ocorria a 1ª Guerra Mundial, travada
entre Império Britânico, França, Rússia e Estados Unidos
(Entente) contra Alemanha, Império Austro-Húngaro e
Império Turco-Otomano (Aliança).
O País, que até 1917, mantinha uma postura neutra, aliou-
se à Entente depois que um navio seu – o Paraná – foi atacado
pelo exército alemão. Embora envolvido na guerra, a participação
brasileira resumiu-se ao envio de algumas expedições da Força
Aérea (aviação do Exército e da Marinha, a Aeronáutica ainda
não existia) e do Serviço Médico do Exército. A participação do
Brasil na 1º Guerra mundial foi sentida, também, nas missões
confiadas à Marinha do Brasil em patrulhar o Oceano Atlântico,

75
Silvio Teles

na faixa de águas sob o domínio brasileiro, para evitar a ação de


submarinos ou embarcações inimigas.
Mesmo sem participação efetiva, nem direta, na Primeira
Grande Guerra, em fevereiro de 1918, parte do Batalhão de
Polícia Militar em Alagoas foi transformado num batalhão de
infantaria (o Batalhão de Caçadores). Seu efetivo era de 17 oficiais
e 484 soldados. De acordo com a presidência da República, o País
deveria manter o maior número possível de tropas disponíveis a
marchar para a guerra, se necessário.
Com o fim da guerra, o Batalhão de Caçadores, por força
do Decreto nº 846, reassumiu sua estrutura policial militar, sendo
transformado em Intendência do Batalhão de Polícia do Estado.
Desmobilizado para a guerra, a Força Policial pôde receber novas
alterações de funcionamento e organização.
Em 1919, foi criado na PMAL um pelotão de cavalaria,
comandado por um 2º tenente, composto por seis cabos,
três aspençadas (posto intermediário entre cabo e soldado)
e dezoito soldados, cuja sede funcionou na Av. Gustavo Paiva,
Mangabeiras, em Maceió.
Nos anos seguintes, no governo de José Fernandes
de Barros Lima (o Fernandes Lima), Alagoas entrou numa
fase de progresso nas áreas de estrutura viária, com a
construção de pontes e rodovias. Na Saúde, houve a
instalação de vários postos de profilaxia no interior do
Estado. Na Educação, a construção de grupos escolares de
Capela, Camaragibe e São Luís do Quintunde. Na área de
Assistência Social, ocorreu a criação de instituições como o
Orfanato São Domingos, o Montepio dos Artistas de Maceió
e de Palmeira dos Índios.
A área de segurança Pública também foi contemplada
com as ações governamentais. A Polícia Militar de Alagoas, por

76
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

exemplo, teve seu efetivo aumentado para 570 homens, em


1920. No ano seguinte, um novo aumento de pessoal, na ordem
de 35%, elevou o contingente para 750 militares.

O banditismo em Água Branca


Coragem, sangue derramado,
mas dever cumprido

Em 1921, a corporação policial militar de Alagoas, em ação


cooperada com a força pernambucana, teve atuação destacável
na cidade de Água Branca, sertão alagoano, quando um bando
de cinquenta cangaceiros instalou-se na região.
Os bandidos, extremamente violentos, praticavam delitos
que variavam desde o cometimento de roubos até meras e
desmotivadas depredações a propriedades privadas. A sensação
de insegurança e de temor assolou a população de Água Branca,
levando as autoridades municipais a requererem do governo do
Estado a atuação do Corpo de Segurança.
Uma fração de tropa de Alagoas (um pelotão com 30
praças, apenas) chefiada pelo tenente Medeiros, auxiliado pelo
sargento Agapito Farias, partiu para o sertão. Após alguns dias
monitorando o grupo, a volante da PMAL traçou um plano para
esfacelar o bando, contando com ajuda de integrantes do Corpo
de Polícia de Pernambuco.
Apesar da estratégica posição onde estava alojado o
bando de malfeitores (um trecho rochoso e estreito, chamado
de Espírito Santo), as forças de Alagoas e Pernambuco,
após intensa troca de tiros, conseguiram exterminar os
cangaceiros. Computaram-se, pelo menos, dez mortes na
PMAL.

77
Silvio Teles

A revolta do batalhão de Aracaju


A PMAL contra os militares do Exército na capital
sergipana

Outro grupo de policiais militares de Alagoas, liderados pelo


capitão Santa Rosa, dessa vez em 1924, marchou para o Estado de
Sergipe. Lá, ao lado da força local, lutaram contra os integrantes do
28º Batalhão de Caçadores, do Exército Brasileiro, sediado em Aracaju.
Desde 5 de julho, seguindo o exemplo do que ocorria em São
Paulo e Mato Grosso – a Revolução Tenentista –, os integrantes
do 28º Batalhão de Caçadores instalaram o movimento revoltoso,
chefiados pelo 1º tenente do EB Augusto Maynard Gomes.
Requisitados pela presidência da República, aproximadamente,
600 policiais de Alagoas fixaram base em Penedo. Outra fração de
tropa, comandados pelo 2º tenente Joaquim Ferreira, cruzou o Rio
São Francisco, alcançando o norte sergipano.
No dia 27 de julho, as forças alagoanas chefiadas pelo tenente
Ferreira entraram em combate com os revolucionários, fazendo-os
regressar a Aracaju. Um novo contingente, desta vez de 150 praças,
liderados pelo capitão Santa Rosa, seguiu para a capital sergipana.
Vencida a revolta, no dia 24 de agosto, as tropas voltaram para
Alagoas, desfilando por Maceió. O presidente da República, Artur
Bernardes, fez uma menção elogiosa, louvando a ação da PMAL.
O comandante geral nesse período era o capitão do EB Pedro
Reginaldo Teixeira.

O combate à Coluna Prestes


A luta ao lado do Governo Federal

No ano de 1925, uma mobilização do Governo Federal,


sob as ordens do presidente da República, Artur Bernardes,

78
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

recrutou uma companhia da PMAL, liderada pelo capitão


Manoel Caldas Braga e composta por 150 integrantes. A tropa
alagoana, que partiu em 16 de dezembro com destino ao
Maranhão, incorporou-se às forças que estavam sob o domínio
do general João Gomes Ribeiro Filho, com objetivo de dissolver
a Coluna Prestes (movimento político-militar que fazia oposição
ao Governo Federal).

A reorganização de 1925
Os primeiros setores técnicos da PMAL

Mesmo em meio às constantes solicitações para emprego


operacional, tanto do Governo Federal, quanto do estadual, o ano
de 1925 é decisivo para a organização administrativa da PMAL.
A publicação do regulamento para a Corporação, regulamento
organizado pelo então comandante geral, capitão do EB Pedro
Reginaldo Teixeira (comissionado ao posto de coronel PM), e
publicado na administração do governador Pedro da Costa Rego,
deu nova estrutura à Polícia Militar, criando os primeiros setores
técnicos, fundando as bases para a estrutura, atualmente,
mantida pela Corporação.
Segundo o regulamento, a PMAL teria, por finalidade, manter
a ordem pública e fazer respeitar as leis do Estado de Alagoas e
da União. Era constituída de um Estado Maior (termo usado para
designar o Comando Geral e Assessorias), uma Assistência de
Pessoal, uma Assistência de Material, um Serviço de Saúde, um
Estado Menor (ajudância), seis companhias operacionais e um
pelotão de metralhadoras pesadas (unidade especializada).
O regulamento tinha 714 artigos que disciplinavam a
composição da PMAL, o ingresso, os uniformes e a administração
de pessoal e material.

79
Silvio Teles

A organização administrativa da PMAL facilitou, ainda


mais, seu emprego operacional. Tanto é que, além do Maranhão
em 1925, no ano seguinte, as forças federais – com participação
de policiais alagoanos – comandadas pelo general Ribeiro Filho,
marcharam sobre Pernambuco, Paraíba, Piauí e Bahia, ainda no
combate ao movimento de Carlos Prestes. Cumprida a missão,
retornaram a Maceió em 3 de maio daquele ano.
Segundo Félix Lima Júnior, no livro Pequena História da
Polícia Militar de Alagoas (1990), ainda em 1926, 380 homens
da PMAL, portando metralhadoras leves e pesadas, além de
fuzis-metralhadoras, deslocaram-se para o sertão, próximo à
Cachoeira de Paulo Afonso, área ameaçada pela Coluna Prestes.
Dos 380, um grupo de 170 militares cruzou a fronteira entre
Alagoas e Pernambuco para impedir a progressão dos rebeldes
colunistas, que rumavam para a Bahia.
As tropas de Alagoas estavam sob o comando do capitão
Lucena Maranhão e percorreram, naquele ano, os Estados
da Bahia, Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro, combatendo o
movimento rebelde.
No que concerne aos quartéis, enquanto sede física
da Polícia Militar de Alagoas, é nesse período, durante a
administração de Pedro Costa Rego (de 1924 a 1928), que o
Quartel do Comando Geral sofre uma ampla reforma.

80
Capítulo 10

As Revoluções de 1930 e 1932


A crise que gerou a revolução
Desemprego, recessão, crise política e um cenário
internacional conturbado

B
rasil, 1930. Nos últimos anos da década de 1920, todo o
País vivia às beiras de uma revolução motivada por duas
causas: uma sócio-econômica e outra política.
A inquietação sócio-econômica teve origem com a quebra
da bolsa de Nova York. Para se ter uma idéia, o café, que era
nosso principal produto de exportação desde 1900, teve
desvalorização de 90%. Só no Rio de Janeiro e em São Paulo,
mais de 500 fábricas fecharam as portas. No final de 1929, o
Brasil tinha, aproximadamente, dois milhões de desempregados.
Já a causa política gerou-se com o rompimento do acordo
da política do “Café com Leite”, rompimento capitaneado por
Washington Luís, então presidente do Brasil. Washington deveria
indicar, para seu sucessor, o mineiro Antônio Carlos de Andrade.

81
Silvio Teles

Contudo, contrariado a tradição política de alternância entre os


Estados, o presidente apoiou o nome do paulista Julio Prestes
para sua sucessão, organizando, inclusive, em março de 1930, as
eleições para garantir o sucesso de sua indicação.
O Estado de Minas Gerais, fazendo oposição ao Governo
Federal, uniu-se ao Rio Grande do Sul e à Paraíba, formando
o movimento que ficou conhecido como a “Aliança Liberal”.
O objetivo do grupo era atrair as elites agrárias, os militares
(sobretudo, os da revolução tenentista de 1922), setores da
classe média urbana e trabalhadores. A Aliança Liberal lançou
a candidatura do gaúcho Getúlio Vargas, com a vice-presidência
do paraibano João Pessoa.
Eles foram derrotados pelos
candidatos governistas, após
um processo eleitoral com
muitas fraudes.

A Revolução Getulista
Eleições fraudulentas e
assassinatos políticos
inflamam os brasileiros

O povo não tolerou


a fraude gritante, ocorrida
nas eleições, e a revolução
foi iniciada. Além disso, a
morte de João Pessoa, numa
confeitaria do Recife, em 26
de julho, provocou grande
comoção nacional. À primeira
vista, o crime tinha relação

82
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

apenas com a política paraibana, mas o povo uniu o assassinato


de João Pessoa às eleições fradulentas e aos desmandos de
Washington Luís. Os reclames populares foram tomando vulto.
Apesar disso, o presidente declarava não acreditar que
houvesse revolução, muito menos armada. Ele mantinha
constantes contatos telegráficos com os governadores, aliados à
base do Governo, inclusive, com Álvaro Paes, em Alagoas.
Políticos e autoridades oposicionistas, em todo o País,
fizeram levantes, dominaram quartéis e depuseram governadores
da base de Washington Luís. No Nordeste, o general Juarez
Távora obrigou o governador de Pernambuco, Estácio Coimbra,
a fugir. Poucos dias depois, um avião jogou centenas de boletins
no bairro da Levada, em Maceió, conclamando os alagoanos a
participarem da revolução.
Marchando com destino ao Rio de Janeiro, Juarez Távora
passou por Alagoas e conseguiu apoio entre os oficiais da PMAL.
O apoio foi deferido à Távora, também, pelos integrantes das
Polícias Militares de Sergipe e da Bahia.
Em Maceió, o quartel do 20º Batalhão de Caçadores do
Exército Brasileiro e o quartel da Polícia Militar permaneceram
em prontidão e os comandantes (o da PMAL ainda era o capitão
do EB Pedro Reginaldo Teixeira) estavam em contato direto com
Álvaro Paes, demonstrando fidelidade. A população do Estado e
inúmeras personalidades influentes da época pediram a renúncia
do governador.
Em 9 de outubro, com o agravamento da crise sócio-
política, o comandante do Exército, em Alagoas, e o comandante
da PMAL, alegando não mais poder manter a disciplina da tropa,
aconselharam ao governador a renunciar. Álvaro Paes, percebendo
a insustentabilidade de seu governo, renunicou. Já no dia 14, a
comitiva do general Juarez Távora foi recebida com festa em Alagoas.

83
Silvio Teles

Dias depois, em novembro, Getúlio Vargas assumiu


a presidência do Brasil, no chamado “Governo Provisório”.
Os Estados passaram a ser governados por interventores. O
Governo de Alagoas foi entregue, interinamente, a Hermilo
Freitas Melro.

1932: Revolução Constitucionalista


A PMAL contra as oligarquias e partidos paulistas

Brasil, 1932. Getúlio Vargas é o presidente do Brasil, como


resultado da insatisfação do povo e da elite intelectual brasileira.
As projeções para o futuro do país eram as melhores mas, em
pouco tempo, as coisas mudariam no Brasil.
Naquele mesmo ano, as oligarquias paulistas, o Par-
tido Republicano Paulista e o Partido Democrático de São
Paulo, que haviam apoiado a
Getúlio Vargas, demonstra-
ram insatisfação com o modo
que o Governo Federal trata-
va o Estado paulista. Segundo
eles, São Paulo estava domi-
nado por tenentes de outros
Estados, assemelhando-se a
uma terra conquistada. Além
disso, os paulistas afirmavam
que a ausência de uma Consti-
tuição (já que a de 1891 havia
sido revogada) era o indício
da ditadura e do despotismo
iminente, com Getúlio Vargas
às rédeas do País.

84
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Em 9 de julho, os paulistas iniciaram um movimento contra


Vargas que ficou conhecido como “Revolução Constitucionalista”.
O presidente, com habilidade política, convenceu o País que São
Paulo estava tramando um movimento separatista, colocando os
Estados contra a revolução.
Onze dias depois da eclosão do movimento em São
Paulo, o Interventor Federal em Alagoas, Hermilo Freitas
Melro, novamente atendendo à solicitação federal, reorganiza
provisoriamente a PMAL, dando-lhe estrutura semelhante à de
Batalhão de Caçadores. Seu efetivo era de guerra, composto
de três companhias de fuzileiros, uma companhia mista de
metralhadoras e um pelotão de extranumerários (soldados não
efetivos, uma espécie de reserva).

85
Silvio Teles

A justificativa para organização era clara: o Governo


Provisório da República poderia ter necessidade de usar as forças
militares estaduais para repressão do movimento revolucionário
– e criminoso, segundo os governistas – em São Paulo. O
Decreto nº 1.664 dizia que as vagas existentes, decorrentes da
reorganização da PMAL, seriam preenchidas por voluntários,
reservistas ou não, do Exército ou da Marinha Nacional. Já para
os postos de oficial, seriam comissionados os atuais oficiais,
graduados e praças da PMAL, ou civis habilitados, a critério e juízo
do Governo. Ainda, assegurava que os gastos seriam custeados
pelo Governo Federal, através de crédito aberto, exclusivamente,
para a manutenção da ordem.
Assim, em 18 de agosto de 1932, o 1º Batalhão Provisório
da PMAL partiu para o Sul do País, onde se incorporou às forças
nacionais na luta contra os rebeldes de São Paulo. Em 4 de
setembro, mais 350 integrantes da PMAL (que à época tinha um
efetivo de pouco mais de 600 homens) juntaram-se às tropas
alagoanas, em São Paulo.

O fim da revolução
A situação das Polícias Militares com a
Constituição de 1934

O término da Revolução Constitucionalista somente ocorre


em 2 de outubro, quando as forças rebeldes são, militarmente,
derrotadas pelas tropas governistas. A vitória de Vargas, de
inegável caráter militar, foi muito comemorada, apesar das
inúmeras mortes (somente dos paulistas, estima-se mais
de mil). Contudo, a vitória política atribuía-se aos paulistas,
que provocaram em todo o Brasil uma onda que ansiava pela
reconstitucionalização democrática do País.

86
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Temendo tal força po-


pular, Getúlio Vargas realiza
eleições nacionais para uma
Assembleia Constituinte, inclu-
sive, tendo a primeira participa-
ção das mulheres no exercício
do direito ao voto.
Era o início de uma nova
era: a Assembleia Constituinte
eleita finda seu trabalho e, em
1934, o Brasil tem uma nova
Constituição.
Apesar de aparente-
mente democrática, a Consti-
tuição apresentava tendência
à intervenção nos Estados,
em matéria de segurança,
delegando à União, privati-
vamente, o direito de legislar
sobre a organização, instru-
ção, justiça e garantias das
polícias estaduais, e sobre as
condições gerais de sua uti-
lização em caso de mobiliza-
ção ou de guerra. Mais uma
vez, o texto subordinava as
polícias militares ao Exército,
como tropas reservas.
Dois anos mais tarde,
uma lei federal (a nº 192, de
17 de janeiro) reorganizou as

87
Silvio Teles

polícias militares dos Estados,


sendo a estas entregue a res-
ponsabilidade de exercerem
as funções de vigilância e ga-
rantia da ordem pública, de
acordo com as leis vigentes da
época. Era missão das Polícias
Militares, ainda, fazer cumprir
a lei, promover a segurança das instituições e garantir o exer-
cício dos poderes constituídos. As polícias militares deveriam
organizar-se de acordo com o Exército, nas armas de infantaria
e cavalaria, podendo haver unidades especiais. O efetivo e o
armamento das polícias não poderiam ser maiores que os pre-
vistos para as mesmas armas do Exército, em tempo de paz. Os
comandos gerais das corporações foram entregues, em comis-
são, a oficiais superiores ou capitães do exército ou a oficiais
superiores das próprias polícias. A lei manteve a orientação de
que o oficial do exército que fosse nomeado comandante geral,
seria comissionado ao posto mais elevado da Corporação, caso
não o detivesse.

88
Capítulo 11

A Caçada ao Bando de
Virgulino Ferreira
Os desmandos de Lampião
A quadrilha que fez o Nordeste temer
um toque de corneta

N
ordeste do Brasil, 1936. De Sergipe ao Ceará, sete Estados
brasileiros sofriam com as ações criminosas praticadas
por um grupo de cangaceiros, chefiados por Virgulino
Ferreira da Silva.
O cangaço foi um movimento atrelado às questões
políticas e sociais, presente durante o final do século
XIX e meados do século XX, principalmente, nas regiões
nordestinas. As práticas violentas, inicialmente, destinavam-
se a desestabilizar os grandes latifundiários mas, pouco tempo
depois, perderam seu foco e passaram a ser direcionadas
contra pequenos comerciantes e pessoas do povo, com

89
Silvio Teles

saques de bens e mortes, muitas delas, desmotivadas ou por


razões torpes.
Especificamente, o bando de Lampião atacava fazendas e
pequenos vilarejos, assaltando moradores, roubando animais,
armas e objetos de valor. Extremamente destemidos, cometiam
seus desmandos em plena luz do dia. Planejavam seus ataques
e, pretensiosos, agiam com requintes de crueldade. Havia até
toque de corneta para anunciar que o bando estava chegando
ao lugar. A maioria das pessoas fugia, temendo por suas vidas,
abandonando seu patrimônio que era facilmente saqueado
pelos bandidos.
Jornal Gazeta de Alagoas

Bando de Lampião, década de 1930

Embora a sanha do cangaço tenha ganhado notoriedade


nacional em 1870, com Jesuíno Alves de Melo Calado, o Jesuíno
Brilhante, foi entre 1920 e 1940, o período mais crítico de
combate ao banditismo.

90
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Jornal Gazeta de Alagoas

Bando de Lampião posando para foto, década de 1930

O sertão de Alagoas foi, no Estado, a área mais afetada


com a ação criminosa dos cangaceiros. À época, a PMAL possuía
volantes no interior do Estado, inclusive, no sertão. Entretanto,
essas volantes tinham permanência temporária nas localidades.
Onde a volante estava, os cangaceiros, que conheciam bem a
caatinga, escondiam-se ou, então, passavam a assolar outra
região. Percebeu-se a urgência de criar um contingente policial
militar, com base fixa na região, para fazer frente ao cangaço.

A criação do 2º BPM: a resposta à Lampião


A Polícia Militar no encalço do “dono do sertão”

Em 23 de julho de 1936, pela Lei nº 1.288, editada na


administração do interventor Osman Loureiro, foi criado, em

91
Silvio Teles

Maceió, o 2º Batalhão de Polícia Militar, hoje, 3º BPM (o atual


2º BPM, com sede em União dos Palmares, viria a ser criado em
1977). Três meses depois de organizado, o 2º BPM teve sua sede
transferida para Santana do Ipanema, com a missão de reprimir
o banditismo no sertão.
Domínio Público

Volante do 2º BPM, 1938

Formalmente e em termos da atual estrutura organizacional


da PMAL, o 2º BPM foi o primeiro batalhão criado pela Corporação,
sendo, portanto, a mais antiga das unidades operacionais, hoje
existentes.
Isso porque o 1º BPM, que tinha sua sede em Maceió e, nos
primeiros anos, funcionou no próprio Quartel do Comando Geral,
foi criado somente em 30 de setembro de 1936, ou seja, dois meses
após a criação da unidade do sertão, por força da Lei nº 2.791.
É importante ressaltar que, antes da criação das
unidades operacionais, a PMAL, obviamente, já desenvolvia a

92
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

atividade de policiamento. As leis há pouco citadas marcam o


desmembramento do corpo policial do qual se originou a atual
composição orgânica da PMAL. O que existia, antes de 1936, era
um corpo de tropa que, esporadicamente, ao longo dos anos,
por conveniência política ou financeira, havia sido dividido em
companhias e, tantas outras vezes, unificado.
Em 1937, Getúlio Vargas assumiu a presidência do Brasil,
como ditador do Estado Novo. O presidente, apoiado nas
correntes totalitárias espalhadas pelo resto do mundo (dentre as
quais, a principal fora o nazismo alemão) passou a adotar uma
postura severa, reprimindo e eliminando quaisquer focos de
desordem sobre o território nacional.
As polícias militares continuavam sob a intervenção
indireta, apenas sendo organizadas e estruturadas com crivo
do Governo Federal. Para Vargas, o movimento do cangaço foi
considerado como extremista e a todos os seus integrantes, que
não se rendessem, foi decretada a pena de morte. Foram os
integrantes do 2º BPM os responsáveis pelo desmantelamento
do grupo chefiado por Lampião.

A ação militar na Fazenda Angico


A PMAL surpreende o Rei do Cangaço e seu bando

Em 28 de julho de 1938, uma volante do 2º BPM,


comandada pelo tenente João Bezerra da Silva (nome atual do 3º
BPM), tendo recebido informações de que o bando de Lampião
encontrava-se na Fazenda Angico, na cidade sergipana de Poço
Redondo, deslocou-se para a região e, durante a madrugada,
cercou a propriedade.
A ordem do tenente João Bezerra era tentar capturar o
bando, levando os cangaceiros presos. A volante decide não

93
Silvio Teles

atacar durante a noite, para evitar qualquer imprevisto, já que


poucos conheciam o local do ataque. Para aumentar as chances
de não serem descobertos, os militares usaram roupas idênticas
às dos cangaceiros.
Ao amanhecer, os policiais militares, disfarçados, invadiram
a fazenda e surpreenderam os cangaceiros. Ante a tentativa de
revide, todos os malfeitores foram mortos. Como prova do êxito
da missão, a volante decapita os corpos dos cangaceiros e, em
alforjes de tecido grosso, traz do local da ação as cabeças consigo.
Jornal Gazeta de Alagoas

Volante do 2º BPM, disfarçada de cangaceiros, sobre os corpos do Bando de Lampião, 1938

Entre os mortos, o próprio Lampião, sua companheira,


Maria Bonita, e os cangaceiros Luís Pedro, Mergulhão, Elétrico,
Quinta-Feira, Caixa de Fósforo, Adília, Cajarana e Diferente. As
cabeças foram etiquetadas e expostas, inicialmente, na escadaria
da Igreja Matriz de Santana do Ipanema, cidade sede do batalhão.
De lá, foram conduzidas à Maceió, ficando à disposição para
visitação pública no Quartel do Comando Geral.

94
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

O Cruzeiro

Cabeças do bando de Lampião, 1938


O Cruzeiro

Cabeças do bando de Lampião, 1938

O tenente Antônio Gonçalves de Melo que, à época da ação


contra Lampião, era integrante da ativa da PMAL, afirmou que as
cabeças foram expostas no corpo da guarda (recepção) do QCG,
ficando ali oito dias. De acordo com o militar, durante o tempo
em que ficaram em exposição, as cabeças foram muito visitadas,

95
Silvio Teles

principalmente, pelas pessoas


que vinham constatar se
era verdade o boato que
circundava em todo o Estado
sobre a morte de Lampião. “O
pessoal, curioso, vinha olhar as
cabeças para acreditar que era
mesmo do bando do Lampião”,
disse o tenente.
Depois da exposição
no QCG, as cabeças foram
enviadas a Salvador.
Em 1938, o então Se-
cretário do Interior, Educação
e Saúde, José Maria Correia
das Neves, doou ao Institu-
to Histórico e Geográfico de
Alagoas, em Maceió, inúme-
ros objetos que pertenceram
ao Bando de Lampião e que,
ainda hoje, estão à disposição
para visitação pública no mu-
seu daquela entidade.

96
Capítulo 12

A 2ª Guerra Mundial e a
Redemocratização do Brasil
Segunda Guerra Mundial
A PMAL em defesa do Brasil

M
ar Mediterrâneo, 22 de março de 1941. O navio
mercante brasileiro Taubaté é atacado por um
avião de bandeira alemã. Um dos funcionários
da embarcação, José Francisco Fraga, é morto. É o primeiro
brasileiro morto pela guerra, iniciada, na Europa, em 1939.
Outros treze tripulantes ficam feridos.
Em junho do mesmo ano, outro navio brasileiro – o
Siqueira Campos – foi parado pelos alemães, à base de tiros
de canhão. Tendo sido vistoriado, teve seus documentos
de bordo fotografados e, em seguida, liberado. Esse ato,
considerado atentatório à soberania brasileira, obrigou o
Governo do País a, poucos dias depois, ordenar as primeiras

97
Silvio Teles

operações de patrulhamento no litoral Brasileiro, executadas


pela Marinha do Brasil.
Em janeiro de 1942, o Brasil, que no início da 2ª Guerra
havia se declarado neutro, sediou a 3ª Reunião de Consulta
dos Chanceleres das Repúblicas Americanas. Embora o modelo
governista de Getúlio se assemelhasse, ideologicamente, ao
nazifacismo, as ofensivas a suas embarcações foram decisivas
para que, no dia 28 daquele mês, o Governo rompesse relações
com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), entrando na
Guerra ao lado dos Aliados.
O litoral nordestino foi usado como bases estratégicas das
Forças Aliadas (China, França, Grã-Bretanha, União Soviética e
Estados Unidos). Maceió, em março de 1943, foi estabelecida
como Base de Operação Naval.
De acordo com o médico Antônio de Pádua, filho do
Coronel da PMAL Serafim Dutra Cavalcante, falecido em 1969,
os policiais militares passavam semanas nas bases. “Meu pai
nos contava que o clima no litoral era tenso e como havia uma
constante sensação de que seríamos invadidos pelos alemães”,
disse o médico.
Nessa época, Alagoas estava sob a administração do
interventor Ismar de Góes Monteiro. O comando geral da PMAL
era exercido pelo capitão do EB Liberato de Carvalho e seu efetivo
era composto por 33 oficiais e 844 praças.
A PMAL recebeu a missão de patrulhar a costa alagoana,
auxiliando as Forças Armadas contra os possíveis ataques dos
países inimigos. Os policiais militares, segundo relata Félix Lima
Júnior, no livro Pequena História da Polícia Militar de Alagoas
(1990), patrulharam parte do litoral alagoano que, de agosto
de 1941 a março de 1945, passou a ser alvo, em potencial, dos
ataques das forças militares inimigas.

98
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Foram reforçadas as ci-


dades de Maragogi, Camara-
gibe, Porto de Pedras, São Luís
do Quitunde, Marechal Deo-
doro, São Miguel dos Campos,
Coruripe e Piaçabuçu.
O ataque mais próximo
à costa alagoana, entretan-
to, ocorreu em 14 de feverei-
ro de 1943, em Recife, quan-
do uma tripulação brasileira,
comandada por Walter New-
mayer, atacou uma aeronave
inimiga, danificando-a leve-
mente.
Terminada a guerra, em
1945, com a rendição japone-
sa, as tropas da Força Aérea
Brasileira (FAB) e da Força Ex-
pedicionária Brasileira (FEB)
regressaram ao Brasil, vence-

99
Silvio Teles

doras. A vitória dos Aliados representou a derrocada dos regimes


totalitaristas. A derrota de Adolf Hitler foi o início da queda dos
ditadores. No Brasil, estava chegando ao fim o domínio de Vargas
e seu Estado Novo.

A redemocratização
do Brasil
A Constituição de 1946 e
a crise política
vivida em Alagoas

Brasil, dezembro de
1945. O alagoano de São Luís
do Quitunde, Pedro Aurélio
de Góes Monteiro – o general
Góes Monteiro – havia sido um
dos elementos principais no
golpe que afastou Getúlio Var-
gas do poder. O país tem uma
nova Assembleia Constituinte.
Em 18 de setembro de
1946, a nova Constituição do
Brasil é promulgada e, final-
mente, contempla com es-
pecificidade as organizações
policiais militares dos estados
federados. Segundo o texto le-
gal, as polícias militares deve-
riam ser instituídas para a se-
gurança interna e manutenção
da ordem nos Estados, embo-

100
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

ra continuassem na condição de forças auxiliares e reservas do


Exército, podendo ser mobilizadas em tempo de guerra externa
ou civil. Meses antes, em 29 de abril daquele ano, o general Eu-
rico Gaspar Dutra, presidente do Brasil, havia oficializado o 21 de
abril como o dia nacional das polícias militares do Brasil.
Em Alagoas, no ano seguinte, Silvestre Péricles Góes
Monteiro, irmão do general Góes Monteiro, foi eleito governador.
Não obstante suas boas referências e intenções, transmitidas
à população, sobretudo, por seus discursos acalorados, o
governador era inábil e intempestivo. Sua administração foi
marcada pelo embate constante entre o Executivo e os demais
poderes, além dos conflitos do Governo Estadual com os órgãos
de imprensa. O efetivo da PMAL era quase o mesmo do fim da
Grande Guerra: 35 oficiais e 900 praças.
Arquivo Pessoal

Oficialato da PMAL completo; ao centro, o Governador Silvestre Péricles, pátio do Quartel do


Comando Geral, 1947

101
Silvio Teles

Poucos dias depois da posse de Silvestre Péricles, a PMAL


foi usada para sitiar a sede da Assembleia Legislativa (que
funcionava no prédio da Associação Comercial, no Jaraguá) a
fim de forçar a renúncia do deputado Baltazar de Mendonça,
presidente da casa parlamentar, adversário do governador.
Para desviar o verdadeiro foco da operação policial militar,
Silvestre Péricles induziu a população a pensar que a ação da
PMAL seria uma manobra contra os comunistas. Em todo o
País, eram desenvolvidas ações de fiscalização anticomunista,
intencionando dirimir, efetivamente, a ameaça latente que
parecia se materializar com o avanço do poderio soviético.
O ato do governador foi criticado pela imprensa local,
sobretudo pelo jornal “Diário do Povo”, de caráter oposicionista,
periódico dirigido pelo deputado Lourival de Mello Mota. A
crítica baseava-se num discurso do próprio parlamentar sobre
a falta de respeito do governador perante a soberania da
Assembleia Legislativa. O jornalista Donizeti Calheiros, autor
do artigo crítico, foi preso. A prisão do jornalista fez nascer
um grande impasse com a imprensa local. Segundo o artigo de
Donizeti Calheiros, os policiais haviam cercado a Assembleia,
com fins específicos e de interesse do chefe do Executivo.
O governador insistia que os militares apenas estavam nas
imediações do prédio e que ele não possuía qualquer interesse
em desarticular a casa parlamentar.
As consequências da disputa entre Executivo e
Legislativo foram enormes. Por exemplo, o funcionalismo
público teve sérios prejuízos durante a administração de
Silvestre Péricles, uma vez que a Assembleia Legislativa
decidiu não mais aprovar os projetos enviados pelo Executivo.
Da mesma forma, o governador vetava todas as propostas
vindas do Legislativo.

102
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Arquivo Pessoal

Comitiva do governo, acompanhando desfile militar; ao centro, o Governador Sivestre Péricles;


de paletó aberto, o Secretário do interior, Antônio de Góes Ribeiro, Praça Marechal Floriano
Peixoto, década de 1950
Arquivo Pessoal

Oficiais da PMAL em cumprimentos de final de ano ao Governador Silvestre Péricles, 1949

103
Silvio Teles

Não podendo contar com o apoio do parlamento, em


1947, o governador consegue criar, na PMAL, através de decreto,
uma formação de bombeiros, destinada à extinção de incêndios
e salvamento de vidas. O efetivo seria, enquanto não houvesse
pessoal específico, remanejado das subunidades da polícia
militar. Sua sede funcionou numa das salas do antigo Asilo
de Mendicidade (local onde, atualmente, é o Centro Médico
Hospitalar da PMAL).
A formação de bombeiros criada por Sivestre Péricles não
foi a primeira existente na estrutura da PMAL. Institucionalmente,
o nascimento do atual Corpo de Bombeiros Militares de Alagoas
ocorreu em 1931, quando o Decreto nº 1.564, de 10 de outubro,
criou uma seção de bombeiros, anexa à então Força Policial.
Entretanto, é somente em 1947 que esta seção passa a ter corpo
específico para atuação nas áreas de defesa civil.
Arquivo Pessoal

Inauguração da Formação de Bombeiros da PMAL, 1947

104
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Arquivo Pessoal

Inauguração da Formação de Bombeiros da PMAL, 1947

Arquivo Pessoal

Formação de Bombeiros, 1951

105
Silvio Teles

Arquivo Pessoal

Polícia Militar em desfile, QCG, final da década de 1940

Nesse tempo, o duro Regulamento Disciplinar da Corpora-


ção, além das penas de prisão, fazia a previsão, comum à época,
da Cerimônia de Exclusão, aplicada a policiais militares que incor-
ressem na prática de graves transgressões à disciplina e à hierar-
quia. A cerimônia
servia como exem-
plo aos demais inte-
grantes das fileiras.
O uniforme era reti-
rado, publicamente,
do excluído e devol-
vido à Corporação.
Ao final, toda a tro-
pa virava as costas
Cerimônia de exclusão de um PM, 1950 ao excluído.

106
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Governos de Arnon de Mello, Muniz Falcão e


Luís Cavalcante
O surgimento das companhias de Guarda, Escola e
Metropolitana

Depois da ampliação da estrutura dos bombeiros e até


1953, não são encontrados registros de alterações significativas
na organização da PMAL, nem em relação ao seu efetivo, nem
à criação de novas unidades. A Corporação contava com dois
batalhões de policiamento: o 1º BPM, na capital, e o 2º BPM,
em Santana do Ipanema. Seu efetivo não chegava a mil homens.
Existiam, ainda, subunidades destacadas: a 3ª companhia,
sediada em Penedo, e a 4ª, em Palmeira dos Índios. Na esfera
judiciária, é em 1953 que é organizada a Justiça Militar do Estado
de Alagoas.
Arquivo Pessoal

Parada Militar da PMAL, Praia da Avenida, década de 1950

Somente em 1954, no governo de Arnon de Mello, a


PMAL tem nova ampliação estrutural. Ao Batalhão de Comando
e Serviços (antiga Companhia de Comando e Serviços, criada

107
Silvio Teles

em 1876), foi incorporada a Companhia de Polícia de Guardas


(CPGd), criada com a finalidade de fazer a segurança dos
prédios públicos e de autoridades estaduais. Por essa época, os
avanços estruturais da PMAL, em relação a outras corporações
do Nordeste, atraíam visitas técnicas de oficiais integrantes de
policiais militares de outros Estados da Federação.
Arquivo Pessoal

Comissão formada por Oficiais de outras forças estaduais em visita à PMAL, década de 1950

A gestão que se seguiu, em Alagoas, foi a de Sebastião


Marinho Muniz Falcão (1956 a 1961), considerada bastante
tumultuada para as instituições de segurança pública. Os
constantes desentendimentos do governador com a Assembleia
Legislativa e os assassinatos do Vereador Benício Alves e
do deputado Marques da Silva, esse último em Arapiraca,
deflagraram uma crise política – e na segurança do Estado –
que culminou com a decretação, pelo presidente da República,

108
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Juscelino Kubitscheck, de intervenção federal na Secretaria


de Segurança Pública. O interventor foi o general Armando
Câmara. Muniz Falcão afastou-se do poder, assumindo seu lugar
o vice-governador, Sizenando Nabuco. Poucos meses depois, a
Assembleia tenta o impeachment de Falcão, não conseguindo. O
governador reassumiu seu posto e passou a governar o Estado,
tentando minorar os conflitos com os demais poderes.
O médico Antônio de Pádua, filho do Coronel Serafim,
relata importante acontecimento que data do governo de Muniz
Falcão. De acordo com Pádua, o governador havia indicado, a
contragosto do judiciário, o juiz José Marçal Cavalcante ao cargo
de desembargador do Tribunal de Justiça de Alagoas. Por esse
mesmo período, o então Capitão Serafim foi promovido, por

Arquivo Pessoal

Guarda de Honra da PMAL, no casamento do já governador Muniz Falcão, década de 1950

109
Silvio Teles

escolha do governador, ao posto de Major PM, ultrapassando


inúmeros outros capitães mais antigos que ele. Os oficiais
ofendidos com a promoção graciosa do agora Major Serafim
entraram com uma ação judicial contra o ato de Muniz Falcão.
“A ação foi ‘distribuída’ e coube ao Desembargador Marçal
Cavalcante julgar o caso... não preciso dizer qual foi a sentença,
não é?”, brincou o filho do militar. Este caso mostra que as
promoções casuísticas e, mais ainda, as contestações judiciais
datam de muito longe na história da PMAL.
É do fim do mandato de Muniz Falcão, entre 1959 e
1960, a construção de um quartel da Polícia Militar em Santana
do Ipanema e a transformação da Enfermaria da PMAL (que
funcionava, precariamente, no antigo Asilo de Mendicidade) em
Hospital, mudança autorizada através da Lei nº 2.231.
Arquivo Pessoal

Militares em frente ao QCG; ao fundo, a enfermaria; e a cadeia, à direita, década de 1950

110
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Seu sucessor, o governador Luiz de Souza Cavalcante, major


do Exército, já no início de sua administração criou, na PMAL,
uma Companhia Escola (Cia Escola), que foi a primeira unidade
para a formação de praças da Corporação. Essa companhia pode
ser considerada a semente dos atuais Centro de Formação e
Aperfeiçoamento de Praças (CFAP) e Academia de Polícia Militar
Senador Arnon de Mello (APMSAM).
Sesquicentenário da PMAL

Companhia Escola,
década de 1970

Arquivo Pessoal

Companhia Escola em
exercíco de Ordem
Unida, década de
1960

111
Silvio Teles

Pouco tempo depois, a Cia Escola foi transformada na


Companhia Metropolitana de Policiamento Ostensivo (CMPO). O
objetivo do idealizador da CMPO, o coronel Cícero Malaquias de
Oliveira, era apenas criar mais uma unidade operacional na PMAL,
e não extinguir a Cia Escola. Contudo o Estado alegou inviabilidade
financeira para tal ampliação. Por isso, para o nascimento da
CMPO, foi utilizado o efetivo da Cia Escola. A CMPO inaugurou,
em Alagoas, o policiamento a pé e em duplas, difundido em todo
o território nacional, à época conhecido como “Cosme e Damião”.
Sesquicentenário da PMAL

Policiamento
Figura 027 Cosme Damião,
década de 1960

Detalhe curioso: para esse tipo de policiamento, eram


escolhidos policiais militares que possuíssem semelhanças de
tonalidade de pele, estatura e porte físico. As principais ruas do
centro de Maceió foram guarnecidas, visando prevenir delitos e,
quando necessário, reprimi-los de forma mais rápida. O primeiro
comandante da CMPO foi o capitão Humberto Correia Pinto, que
preparou um programa exigente de treinamento, visando obter
excelência no novo modelo de se policiar. Em 1962, terminado o
período de instrução, o policiamento a pé, em duplas, foi lançado
como integrante do calendário de aniversário da gestão de Luiz
Cavalcante, recebendo a total aprovação da população.

112
Capítulo 13

A Era dos Militares


A renúncia de Jânio e a fuga de Jango
A condecoração militar que provocou o golpe de 1964

B
rasil, 1961. Juscelino Kubitscheck encerra seu mandato
deixando um verdadeiro legado: entre eles, a cidade de
Brasília, nova sede do Governo Federal. Nas urnas, Jânio
Quadros é eleito presidente da República, derrotando o general
Henrique Lott com mais de dois milhões de votos de vantagem.
Porém, o vice-presidente eleito foi João Goulart (Jango) do
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de oposição.
Logo no início de seu mandato, Jânio Quadros intercede
junto ao líder guerrilheiro argentino Ernesto Guevara de la Serna
– grande mentor da revolução cubana – para a liberação de vinte
sacerdotes cubanos, condenados à morte. Jânio atendia a um
pedido do Núncio Apostólico do Brasil, Dom Armando Lombardi
que, por sua vez, cumpria as orientações do Vaticano. Como
agradecimento ao pedido atendido, o presidente condecorou

113
Silvio Teles

Che Guevara com a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do


Sul, maior honraria nacional. A homenagem fora crivada pelo
conselho da ordem que, diga-se, possuía três ministros militares.
O Governo tinha acabado de entregar sua maior condecoração a
um ditador, com feições comunistas.
As Forças Armadas e as polícias militares reprovaram
o ato, e alguns militares ameaçaram devolver a medalha
que tinham recebido. Em todo o País, surgiram indícios
de amotinamento, inclusive, no Batalhão de Guarda da
Presidência, no Palácio do Planalto. A imprensa e o Congresso
Nacional repudiavam a homenagem. Somado a isso, a Política
Externa Independente (PEI) adotada por Jânio – reprovada
pelos Estados Unidos e por outros países que, antes,
exploravam o Brasil – deu combustível para a oposição lançar
uma forte campanha contra o presidente.
Em 25 de agosto de 1961, repentinamente, Jânio
Quadros anuncia sua renúncia que, prontamente, é aceita pelo
Congresso Nacional. Comenta-se que a idéia do presidente era
ter seu nome aclamado pelo povo ao anunciar seu afastamento
(Jânio havia sido eleito, há menos de um ano, com a maior
votação da história do País: 5,6 milhões de votos). A aclamação
não ocorreu.
Em seu lugar, por direito, deveria assumir a presidência
do Brasil o vice, João Goulart. Entretanto, estando numa
viagem diplomática à Republica Popular da China, Jango
– como era chamado o presidente – foi impedido de ser
nomeado presidente, sob alegação de que ele, também, tinha
tendências ao comunismo. Nesse período, o governador
do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola, cunhado
de Jango, conseguiu convencer os militantes e a classe
política a declararem um provisório regime parlamentarista

114
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

no Brasil, com Jango na


chefia de Estado, até que,
em plebiscito, a população
decidisse o destino político
do País.
Na consulta popular,
que ocorreu em 1963, o
povo decidiu pela retomada
do regime presidencialista,
e Jango foi reconduzido
ao poder, com todas as
prerrogativas e poderes de
mandatário do Brasil.
O modelo de governo
liberal, populista e de
esquerda adotado por João
Goulart desagradou às classes
conservadoras (entre elas,
a igreja, os empresários e
militares). Havia o temor
que a abertura demasiada às
instituições sociais pudesse
converter o Brasil numa pátria
socialista, sobretudo, em anos
de Guerra Fria.
Desse modo, com o
aumento da crise política e
das tensões sociais, em 31 de
março de 1964, os militares de
São Paulo e Minas Gerais tomaram as ruas. Jango, evitando uma
guerra civil, fugiu do Brasil.

115
Silvio Teles

Os militares no controle
Em Alagoas, reformas e ampliações na PMAL

Os militares, assumindo o poder em 9 de abril, editaram o Ato


Institucional 1, documento jurídico com poder constitucional. No
dia 15, conduziram o general Castello Branco à presidência do Brasil.
Jornal Gazeta de Alagoas

A tomada do poder pelos militares é estampada nos jornais, 1964


Folhetim A República

Jornais noticiam
a tomada, 1964

116
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Em Alagoas, Luiz Ca-


valcante declarou-se a favor
da revolução, oferecendo
tropas da Polícia Militar ao
Exército para conter qual-
quer tipo de confusão ou
tumulto. De acordo com Fe-
lix Lima Júnior, em Pequena
História da Polícia Militar
(1990), a PMAL tinha um
efetivo de 2.744 homens,
dos quais 113 eram oficiais.
O comandante geral era o
major do Exército Nilo Flo-
riano Peixoto, comissionado coronel PM. A PMAL, como quase
todas as polícias estaduais, foi considerada como força em defe-
sa dos interesses nacionais, ou seja, da própria ditadura. A polí-
tica de remuneração foi revista e novos aumentos salariais, como
incentivo, foram concedidos.

Solenidade para anúncio de aumento de vencimentos, com a presença do Governador Luiz


Cavalcante, pátio do Quartel do Comando Geral, 1964

117
Silvio Teles

Solenidade do Dia Soldado, QCG, 1964

Em 1965, com o Ato Institucional 2, foram previstas


eleições estaduais. Segundo as regras, venceria as eleições o
candidato cujo número de votos fosse superior a soma dos
votos dos outros candidatos mais um, ou seja, para vencer,
o candidato precisava ter a maioria absoluta de votos. Como
isso não ocorrera em Alagoas, a presidência da República viu-
se obrigada a decretar, em janeiro de 1966, intervenção no
Estado, entregando o governo da unidade federativa ao general
João Batista Tubino.
Há algum tempo, o Estado de Alagoas crescia a largos passos
e o novo interventor, general Tubino, mostrou-se sensível a tais
mudanças. Apesar de seu curto período como interventor – oito
meses – sua gestão foi elogiada, sobretudo, pelo incentivo ao
funcionalismo público. Seu sucessor foi o ex-deputado Antônio
Semeão Lamenha Filho, escolhido por eleição indireta.

118
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Nesse período de início da ditadura, grandes avanços


foram constatados na PMAL. Por exemplo, em 1966, a CMPO
foi transformada em Batalhão Metropolitano de Policiamento
Ostensivo (BMPO), com duas companhias de policiamento e um
núcleo de rádio patrulha.
Sesquicentenário da PMAL

Batalhão Metropolitano de Policiamento Ostensivo, 1966


Jornal Gazeta de Alagoas

Militar do BMPO, 1966

119
Silvio Teles

A Banda de Música da PMAL alcançou, nestes anos, destaque


nacional. De acordo com Elisabeth de Oliveira Mendonça, no livro
Sesquicentenário da Polícia Militar de Alagoas (1983), o jornal A
Notícia, do Rio de Janeiro, no ano de 1965, noticiou que “embora
não fosse das mais numerosas, a Banda da Polícia Militar de
Alagoas foi a mais aplaudida, de todas as que se apresentaram
na primeira prova, executando “La France”, de V. Dúbios, com 76
instrumentos, sob a regência do primeiro tenente Alfredo Silva”.
Na mesma linha, o Diário de Pernambuco: “As sete bandas que
participaram dessa prova (Polícia Militar da Guanabara, Academia
Militar das Agulhas Negras, Força Pública de São Paulo, Batalhão de
Guardas, Corpo de Fuzileiros Navais, Corpo de Bombeiros e Polícia
Militar de Alagoas), assistida por um reduzido mas selecionado
público executaram além do Hino Nacional, uma peça de livre
escolha, sendo muito aplaudidas as Bandas do Corpo de Fuzileiros
Navais e, principalmente, da Polícia Militar de Alagoas”.
Já em 1967, foi criada a Diretoria de Saúde da PMAL. Nesse
ano, a quinta constituição republicana do Brasil é outorgada.
Segundo ela, as polícias militares continuavam sendo instituídas
para a manutenção da ordem e da segurança interna dos estados
federados e permaneciam forças reservas do Exército. Em
1967, ainda, foi criada a Inspetoria Geral das Polícias Militares
(IGPM), órgão com a função de controlar as polícias militares
nos assuntos relativos ao Ministério do Exército. Na Corporação,
as solenidades de transferência de Oficiais para a Reserva
Remunerada ocorriam no pátio interno do Quartel do Comando
Geral, ao som da Banda de Música da PMAL.
Por força da Lei nº 3.116, de 20 de outubro de 1970, a
polícia militar foi reestruturada. Sua composição já era bem
semelhante à atual e compreendia órgãos de Direção (Comando
Geral e Estado Maior), de Apoio (serviço de saúde e logístico),

120
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Arquivo Pessoal

Solenidade de passagem à reserva remunerada da PMAL, 1967


de Execução (unidades e subunidades operacionais e especiais)
e auxiliares (como a recém criada Comissão de Promoções). Essa
lei criou, entre outros, a 5ª seção do Estado Maior Geral (PM/5),
com a missão de coordenar os assuntos civis e de relações
públicas da PMAL, o Serviço de Informação (PM/2) e o Serviço
de Manutenção, Transporte e Material Bélico da PMAL. Foi por
força desse mesmo diploma legal que houve a transformação da
Diretoria de Pessoal em 1ª Seção do EMG (PM/1), da Sessão de
Planejamento e Operações em 3ª Seção do EMG (PM/3) e da
Diretoria de Administração em 4ª Seção do EMG (PM/4).
Ainda em 1970, a Cia Escola, criada em 1960, foi
reorganizada, efetivamente, e transformada em Centro de
Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP).
Também, nesse mesmo ano, por idealização do capitão
Luiz José Soares Teixeira, começou a circular o O Miliciano, jornal
impresso editado pelo serviço de Relações Pública da Corporação,

121
Silvio Teles

Sesquicentenário da PMAL

Formatura de incorporação de novos alunos ao CFAP, Quartel do Comando Geral,


década de 1970

Sesquicentenário da PMAL

Ao final do curso, novos soldados da PMAL prestam o juramento, década de 1970

122
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

mas que contava com a participação de renomados jornalistas


do Estado, como Pedro Vicente, Rodrigues de Gouveia, Edson
Queiroz, Barros Neto, J. Dantas Mendes e Marcondes Braga. O
tenente José Claudstone e o capitão Antônio Santos compunham
a equipe da redação.
A mesma Lei nº 3.116, transformou o Núcleo de Rádio
Patrulha em Companhia de Rádio Patrulha (CPR), criou a
Companhia de Polícia de Trânsito (CPTran), embrião do atual
Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), e a Ajudância Geral.
No mesmo ato legal, a Companhia de Guardas tornou-se
independente e a Companhia de Bombeiros, que havia sido
criada em 1962, foi transformada em Corpo de Bombeiros. Em
novembro de 1970, o BMPO foi transferido para as instalações
no Trapiche da Barra. (Nota: no local onde funcionou o 1º BPM
até meados de 2003 e, atualmente, funciona a 3ª Cia do Batalhão
de Polícia de Guarda, conhecido como Presídio Militar).
Jornal Gazeta de Alagoas

Companhia de Rádio Patrulha, escoltando o cabo Henrique Omena, envolvido no confronto


sangrento entre as famílias “Calheiros” e “Omena”, década de 1970

123
Silvio Teles

O regime militar começa


a cair
A PMAL, na contramão,
continua crescendo

Desde 1974, o Brasil era


governado pelo quinto presi-
dente militar, o general Ernes-
to Geisel, que, em sua adminis-
tração, além das grandes obras
(hidrelétricas, usinas nuclea-
res, etc.), reduziu sensivelmen-
te os níveis de censura à im-
prensa e implantou, na legisla-
ção, critérios de alcance social,
beneficiando trabalhadores
rurais, inválidos e aposenta-
dos. O regime militar parecia
dar sinais de enfraquecimento.
Em Alagoas, desde 1975, ainda por eleição indireta,
tinha assumido o Governo do Estado o jovem Divaldo Suruagy.
Em sua gestão, a PMAL sofre mais uma reorganização,
mantendo, entretanto, a estrutura de Direção, Apoio e
Execução, prevista em 1970. São criados órgãos como o
Comando de Policiamento da Capital (CPC) e do Interior
(CPI), o Centro de Operações da Polícia Militar (COPOM) e o
Centro de Comunicações para o interior. Ainda nesse ano, a
construção do Quartel do Corpo de Bombeiros, no Trapiche
da Barra, atraiu os olhos da imprensa nacional para Alagoas,
que apontava o órgão, ainda pertencente à PMAL, como um
dos mais eficientes do Brasil.

124
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Embora, no Estado, o clima fosse de considerável


tranquilidade social, a necessidade da existência, na PMAL, de
uma tropa habilitada a lidar com situações de guerrilha urbana
e operações especiais, provocou, em 1976, a criação do Curso
Intensivo para o Pelotão de Operações Especiais (CIPOE). Dois
meses depois, foi formado o primeiro Pelotão de Polícia de
Choque em Alagoas, unidade especial, que deu origem ao atual
Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). Inicialmente, o
pelotão de choque foi vinculado ao CFAP.
No ano seguinte, o 1º BPM, na capital, foi dividido em
dois, dando origem ao 1º e ao 2º BPM (esse, sim, é o que
hoje está sediado em União dos Palmares). Por sua vez, o já
existente 2º BPM (aquele criado para a caça à Lampião, em
1936) foi transformado em 3º BPM. Na capital, o BMPO foi
anexado ao 1º BPM, e o complexo ganhou o nome de “Batalhão
Coronel Adauto”, sendo composto por quatro companhias de
polícia. Com a fusão das unidades operacionais da capital,
Maceió foi dividida em quatro zonas policiais, cada uma sob
responsabilidade de uma companhia da unidade recém formada.
O 2º BPM, apesar de funcionar na Guarnição Policial Militar do
Trapiche da Barra (GPMTB), tinha destacamentos espalhados
pelo interior do Estado. (Nota: Permaneceu em Maceió, na
GPMTB e, depois, numa área próximo a Universidade Federal
de Alagoas, no Tabuleiro do Martins, até 20 de novembro de
1994, quando foi transferido para União dos Palmares).
Em 1977, foram concluídas as obras de reforma do Quartel
do Comando Geral, iniciadas em 1973, ainda no governo de José
Afrânio Lages e comando do coronel José Maia Fernandes, obra
responsável pela atual estrutura do QCG. Na época da conclusão
da reforma, o comandante geral da PMAL era o coronel Paulo
Ney. O ex-governador, Afrânio Lages, participou da cerimônia de

125
Silvio Teles

reinauguração do prédio. Nesse mesmo ano, o jornal O Miliciano,


instrumento de comunicação social nacionalmente conhecido,
deixou de ser editado por falta de verbas.
Através do Decreto nº 3.741, de 2 de março de 1978, com
base nas pesquisas feitas por uma comissão da Corporação,
o governador Divaldo Suruagy reconheceu o 3 de fevereiro
como o dia de aniversário de criação da PMAL (até então,
as comemorações eram realizadas no dia 3 de julho, data da
reorganização de 1912). Acreditamos, porém, que a criação
efetiva do Corpo de Polícia que deu origem à PMAL ocorreu no
dia 19 de dezembro de 1831.
Em novembro de 1978, a Lei nº 3.982 criou a Medalha do
Mérito Policial Militar, maior honraria da Corporação.
Ainda em 1978, devido à complexa estrutura viária que se
formava em Alagoas (nos últimos três anos, 365 km de rodovias
haviam sido pavimentados), começou a funcionar, com três anos
de atraso e em caráter provisório, o Pelotão Rodoviário, criado
em 1975. Sua efetivação somente se deu, quatro anos mais
tarde, em 1982, quando, após ser regulamentado, o pelotão foi
transformado na Companhia de Policiamento Rodoviário (CPRv).
Em 1979, na administração de Guilherme Palmeira, o
efetivo previsto da PMAL foi aumentando em 35%. Eram 3.685
homens previstos, orçamentariamente. Destes, contados os
oficiais da saúde, da administração e especialistas, sete eram
coronéis, treze tenentes-coronéis, vinte e três majores, quarenta
e um capitães, trinta e oito 1º tenentes e quarenta 2º tenentes. O
Quadro de Oficiais da Saúde (QOS) era formado por um coronel,
um tenente-coronel, um major, um capitão e três 1º tenentes.
Nos Quadros de Oficiais da Administração (QOA) e Especialistas
(QOE), o posto mais alto era o de capitão.

126
Capítulo 14

A PMAL na Década de 1980


O retorno à democracia
Novas unidades aumentam o alcance policial em
Alagoas

B
rasil, 1980. Desde o início da década, o País sente
a depressão do regime militar de governo. O
pluripartidarismo tinha sido restabelecido e os
sindicatos e entidades de classes estavam mais fortes. A crise
na economia, gerada pela inflação e a recessão, acentua o
desagrado das elites pelo modo militar de administração. O
presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo, no poder
desde 1979, cedendo às pressões de classes influentes, que
se respaldavam no clamor da população, decreta eleições
diretas nos Estados.
As eleições estaduais só ocorreriam em 1983. Enquanto isso,
Guilherme Palmeira continuava gerindo o Estado, promovendo,
na PMAL, as mudanças que urgiam.

127
Silvio Teles

Em 1982, o crescimento
populacional e econômico al-
cançado por Arapiraca justifi-
cou a transferência do 3º BPM
para aquela cidade, atendendo
a região do agreste. A unidade
já tinha sido sediada em Santa-
na do Ipanema e, na época da
transferência, encontrava-se
com base na capital do Estado.
Passou a ser responsabilidade
do 3º BPM policiar uma área
de mais de quinze mil quilô-
metros quadrados e 700 mil
habitantes, abrangendo 45
municípios.
Na alçada federal, o De-
creto nº 2.010, de janeiro da-
quele ano, havia determinado
que o comando das polícias
militares deveria ser exercido,
inicial e preferencialmente,
por oficiais do último posto
das próprias corporações. Em
atenção à determinação legal,
em março, assumiu o comando
da PMAL o coronel PM Fernan-
do Theodomiro Santos Lima.
As eleições de 1983
foram vencidas, em Alagoas,
por Divaldo Suruagy, que já

128
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

havia governado o Estado entre 1975 e 1978. Embora essa


segunda administração de Suruagy não tenha sido marcada com
grandes obras, foi mérito do governador o aprimoramento do
sistema fiscal do Estado que passou a gerar dividendos positivos.

Na PMAL, 1984 foi um ano


com ampliações decisivas. Quatro
decretos, todos de 28 de dezembro,
fizeram sensíveis transformações na
estrutura da instituição.
O Decreto nº 6.144 criou o 4º
BPM, com sede na capital, formado
por quatro companhias operacionais,
cujo primeiro comandante foi o
tenente-coronel Valdemir do Carmo
Silva. O Decreto nº 6.145 desvinculou
a 5ª Companhia de Choque do 1º
BPM (companhia criada no ano

129
Silvio Teles

anterior) e transformou-a em Companhia de Polícia de Choque,


independente, formada por um Estado Maior, uma Seção de
Comando e Serviços e quatro pelotões.
O Decreto nº 6.146 transformou a Companhia de Trânsito
e a Companhia Rodoviária em um único Batalhão de Polícia de
Trânsito (BPTran), composto por três companhias de trânsito
urbano e uma rodoviária, sob o comando do tenente-coronel
José Ramalho da Silva. E, por fim, o Decreto nº 6.147 ampliou a
Companhia de Guarda, tornando-a Batalhão de Polícia de Guardas
(BPGd), embora não tenha ocorrido alteração em seu efetivo real.

O povo briga pelo direito de votar


Na PMAL, o ingresso das primeiras mulheres

Nacionalmente, em 1984, uma campanha popular tentava


reinstalar a democracia no Brasil. Entre as intenções desse
movimento, destacava-se o anseio da população por poder,
diretamente, escolher os ocupantes dos cargos eletivos. Por esse
motivo, o movimento recebeu nome de “Diretas Já”.
O alagoano e, à época, Senador da República, Teotônio
Vilela, foi o idealizador do movimento. Em 1983, Vilela declarou-
se favorável à criação de um movimento popular para o resgate
dos direitos do povo. A declaração foi veiculada no programa
Canal Livre, da rede de televisão Bandeirantes.
Como dito, o principal objetivo das “Diretas Já” era
restabelecer o voto direto para as eleições presidenciais. Projetos
de emendas à constituição foram apresentados. Entretanto, o
principal projeto nesse sentido, conhecida como emenda “Dante
de Oliveira”, foi derrubado pela câmara dos deputados e, mais
uma vez, a escolha para a presidência do Brasil foi realizada de
forma indireta.

130
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Em 1985, depois de mais de vinte anos de regime


militar, Tancredo Neves, civil, foi indicado presidente,
embora não tenha assumido o cargo (uma infecção levaria
Tancredo à morte em abril daquele ano, antes da posse). O
vice-presidente, José Sarney, também eleito indiretamente,
foi investido no cargo.
Em Alagoas, antes da conclusão de seu mandato,
que ocorreria em 1986, Divaldo Suruagy renuncia, visando
à candidatura ao Senado. José de Medeiros Tavares, vice-
governador, assume o Governo do Estado. É ele que, em 5 de
novembro daquele ano, através do Decreto nº 31.641, cria o 5º
BPM da PMAL, com atuação em Maceió e composto por quatro
companhias operacionais.
O ano de 1987 é o
marco divisor para a políti-
ca de recursos humanos da
Polícia Militar de Alagoas.
Até então, todo o efetivo
da Corporação era do sexo
masculino. Mas, os ideais
democráticos e a ânsia de
se afastar a imagem trucu-
lenta impregnada nas ins-
tituições militares fez des-
pontar a necessidade de
um contingente feminino
para lidar com as ações de
segurança publica envol-
vendo mulheres.
Assim, no começo
daquele ano, através do

131
Silvio Teles

Decreto 31.837, foi criada na Corporação a Companhia de Po-


lícia Militar Feminina (CPFem), subunidade operacional e inde-
pendente, comandada por uma capitã PM, cuja missão era re-
alizar o policiamento ostensivo, priorizando as ações de defesa
da mulher e do menor. Foi a primeira previsão legal para um
quadro feminino na Polícia Militar de Alagoas.
De acordo com a tenente-coronel Cláudia Maria da Silva,
que fez parte da primeira turma de oficiais femininos da PMAL,
o concurso foi realizado no final de 1987 e três mulheres foram
aprovadas, embora o edital previsse apenas duas vagas. “O
comando geral decidiu aproveitar o resultado do concurso e,
frente à necessidade, enviou as três aprovadas para o Curso de
Formação de Oficiais, que ocorreu em Pernambuco e em Minas
Gerais”, explicou a militar.
Arquivo Pessoal

Treinamento de cadetes femininos, Minas Gerais, 1987

132
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

No ano seguinte, 1988, foi realizado concurso para o primeiro


Curso de Formação de Sargentos (CFS) e de Soldados (CFSd)
femininos da PMAL, este último para 36 mulheres e com duração de
oito meses. No CFS, foram cinco vagas previstas em edital, mas doze
aprovadas ingressaram no curso, em 1990. “Para nós foi um grande
desafio, pois fomos pioneiras numa profissão tida, até então, como
exclusivamente de homens”, disse a 1º sargento Elineuva Correia
Lopes, concluinte do primeiro CFS feminino da PMAL.
Tanto o CFSd, quanto o CFS, foram realizados no Centro
de Ensino e Instrução da PM (a nomenclatura CFAP, por força do
Decreto nº 33.502, de junho de 1989, havia sido substituída).
Ainda em 1989, provisoriamente, foi instalada na cidade
de Pilar a 1ª Companhia de Polícia Militar Independente, com
a missão do policiamento da região circunvizinha à capital. A
unidade recebeu o nome de “Tenente Óseas Rocha”.

133
Silvio Teles

Arquivo PMAL

Inauguração da Companhia Independente Tenente Oséas Rocha, Pilar, 1989

Também em 1989, o Regulamento para Movimentação de


Oficiais e Praças da PMAL (REMOP) foi aprovado, por força do
Decreto nº 33.376. O REMOP trouxe normas a serem obedecidas
quando da transferência de lotação dos integrantes da PMAL, nas
diversas unidades da Corporação, além da concessão de alguns
direitos decorrentes dessas movimentações. Entre esses direitos
estavam o “trânsito” (tempo concedido ao policial militar para os
preparativos necessários à transferência para a nova localidade
de atuação) e a “instalação” (período para que o militar pudesse,
no novo município, fixar domicílio), hoje, ainda, em franco uso.

O nascimento da proteção ambiental


Crise no Estado não impede o surgimento da CPFlo

Em 1989, o Estado era governado por Fernando Afonso


Collor de Mello, que tinha saído vitorioso nas eleições estaduais

134
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

disputadas contra o senador Guilherme Palmeira e o deputado


Ronaldo Lessa. Alagoas estava mal organizada financeiramente,
com déficit nas contas públicas, decorrente das políticas
permissivas que concediam às famílias influentes de Alagoas
inúmeros privilégios.
Como forma de desvincular seu nome do estigma de
aristocrata, o novo governador encabeçou uma luta contra
funcionários do Estado que recebiam salários abusivos. Essa
campanha ficou conhecida, nacionalmente, como a luta contra
os “marajás”. Habilidoso e de oratória fácil e convincente,
Fernando Collor, cuja família era proprietária da maior empresa
de comunicação social do Estado, as Organizações Arnon de
Mello, não raro, tinha aparições públicas, nos meios de mídia,
defendendo, veementemente, sua estratégia de governo.
Arquivo PMAL

Governador Fernando Collor, condecorando PM,


década de 1990

135
Silvio Teles

Ainda assim, havia obras paradas e salários atrasados.


Mas, mesmo em meio a um conturbado período administrativo-
financeiro no Estado, a PMAL recebeu novas injeções, o que
demonstrava a proximidade entre o Governo e a instituição
policial militar.
Obedecendo à inovação proposta pelo texto constitucional
de 1988, onde União, Estados e Municípios eram igualmente
responsáveis na defesa do patrimônio ambiental brasileiro,
as polícias militares do Brasil criaram órgãos específicos de
policiamento ambiental.
Em Alagoas foi criada a 1ª Companhia Independente de
Polícia Florestal e Mananciais (1ª CPFlo I), com o objetivo de
preservar a fauna, os recursos florestais e mananciais, combater
a caça e a pesca ilegais, a derrubada indevida de árvores e a
poluição dos recursos hídricos. Seu primeiro comandante foi
o major PM João Raimundo de Souza Amorim e sua sede foi
instalada no Quartel do Comando Geral.
Arquivo PMAL

Companhia
Florestal - a missão
de preservar
o patrimônio
ambiental, década
de 1990

136
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Também no QCG, um mês antes, ou seja, em novembro, foi


inaugurado o Museu Tiradentes, com a função de manter viva a
memória da Corporação. (Nota: Em 2009, o museu encontrava-
se desativado. Algumas de suas peças estavam guardadas na
Academia de Polícia Militar).

137
Capítulo 15

A Intervenção Federal de 1990


O primeiro aquartelamento
Estado precário e comandante insensível provocam
primeira “greve” na PMAL

A
lagoas, maio de 1989. Assume o comando geral da PMAL
o coronel Fernando Valadão Ferreira. A situação do Estado
era preocupante. O funcionalismo público, novamente,
com salários atrasados. Na PMAL, a tropa não acreditava mais
nas promessas do Governo Estadual e esperava que, do Comando
Geral, surgisse uma intercessão junto ao Palácio Floriano Peixoto,
para regularizar a situação.
Mostrando-se totalmente insensível aos reclames de
seus comandados, o coronel Valadão, além de não direcionar
os clamores da tropa ao governador, intensificou a fiscalização
disciplinar entre os policiais, fiscalização considerada,
extremamente, inconveniente para a ocasião de abandono pela
qual passavam os militares.

139
Silvio Teles

Por exemplo, segundo afirmam alguns integrantes


da Corporação, o comandante passou a cobrar impecável
apresentação pessoal dos policiais militares que, no momento,
sofriam até com a falta de recursos para prover de alimentos
suas casas. Outra ação, considerada extemporânea e inoportuna,
e que chegou a ser publicada em Boletim Geral da Corporação,
foi a edição de normas regulamentando o uso de bigode por
soldados e cabos.
O subtenente Paulo Jorge Lino lembra um caso curioso
daquela época. Segundo ele, no final de 1989, os policiais
militares foram obrigados a pagar passagem nos ônibus coletivos
locais. Revoltados com mais essa imposição de custos, somada
a já precária situação existente, os policiais cobraram mais uma
vez do comandante que se posicionasse a favor da tropa, o que
não ocorreu. “Houve um episódio em que um sargento, tendo
sido impedido de entrar no ônibus, no Trapiche, atirou nos pneus
do coletivo e foi embora”, lembra o subtenente, que na época
era aluno do curso de sargento.
No começo de 1990, uma comissão composta por capitães
e tenentes – e alguns tenentes-coronéis – decidiu cobrar do
comandante ações efetivas junto ao Governo do Estado para
resolução do problema salarial dos militares. As decisões foram
tomadas numa assembleia ocorrida no pátio do 1º BPM, no
Trapiche da Barra.
Em marcha, a comissão deslocou-se para o Cine Floriano
Peixoto, com a intenção de ser recebida pelo coronel Valadão.
Segundo os integrantes da comissão, entre eles o tenente-coronel
Dalmo Sena, o comandante, além de se recusar a atender aos
oficiais, ameaçou prendê-los.
Em assembleia imediata, lá no Quartel do Comando Geral,
a comissão deliberou permanecer no cinema, determinando o

140
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

aquartelamento das tropas sob seu comando. Ainda de acordo


com o tenente-coronel Dalmo Sena, esse foi o primeiro registro
de paralisação da história da PMAL. “Precisávamos de uma
medida urgente para sanar o problema que perturbava toda a
polícia. Fomos lá e fizemos”, confirmou.
As informações de que a tropa havia se rebelado contra
o descaso do comandante geral, imediatamente, chegaram ao
Palácio Floriano Peixoto. O governador Moacir Andrade (Fernando
Collor havia renunciado para candidatar-se à presidência do
Brasil), temendo que a situação de Alagoas piorasse, pediu ajuda
ao Governo Federal.
O presidente José Sarney, reconhecendo necessária,
decretou intervenção no Estado, nomeando, em abril de 1990,
o então coronel EB Edson Sá Rocha para o cargo de comandante
geral da PMAL.
A primeira ação do coronel Sá Rocha foi a de reunir
oficiais e praças para ouvir seus reclames. O principal,
evidentemente, foi a questão salarial. Segundo o coronel
Joilson Gouveia, então capitão, o novo comandante geral se
comprometeu a resolver o problema da tropa. “Ele chegou a
dizer que se não conseguisse melhorias imediatas, devolveria
o cargo ao governador”, conta o coronel. Sá Rocha permaneceu
no comando até março de 1991.
Em meados desse ano, tendo se normalizado a situação do
Estado e se resolvido o problema da Corporação, o Alto Comando
da Polícia Militar (delegação composta por todos os coronéis)
começou a pressionar o Governo para que a PMAL voltasse a
ser comandada por um oficial da Corporação. Em atenção a esse
pleito, o novo governador, Geraldo Bulhões, nomeou o coronel
PM Nilton Rocha para o cargo de comandante geral, em 15 de
março de 1991.

141
Silvio Teles

As reformas pós intervenção


As novas unidades da PMAL

A campanha contra os marajás havia projetado,


nacionalmente, Fernando Collor de Mello. Consequentemente,
nas eleições de 1990, o povo o elegeu presidente do Brasil. Em
Alagoas, como dito, a eleição para governador foi vencida por
Geraldo Bulhões, em 2º Turno, depois de um processo eleitoral
cheio de denúncias e impugnações.
O Estado entrou em mais uma crise administrativa, com
verbas escassas, funcionalismo público desmotivado e setores
básicos, como o sistema de Educação e Saúde, defasados.
A população demonstrava profundo desagrado com a
administração de GB (como era chamado o governador).
Mesmo assim, para a PMAL, reformas importantes foram
realizadas. Por exemplo, em 1991, foi criado o Esquadrão de
Polícia Montada Dragões das Alagoas (EPMon), tropa montada,
especializada, que mais tarde originaria o atual Regimento
de Polícia Montada Dom Pedro I. Quando autorizado pelo
comandante geral, o EPMon poderia agir na dissuasão de
tumultos e distúrbios civis. Como não havia dotação de efetivo,
nem o Estado estava em condições de realizar concurso público,
seu quadro de pessoal foi, temporariamente, remanejado dos
1º, 4º e 5º BPM e da Diretoria de Ensino.
Também em 1991, uma portaria do comandante geral
criava o 9º BPM em Pilar, com o nome de “Batalhão tenente
Oséas Rocha”, substituindo a 1ª CPM I.
Naquele ano, ainda, o Decreto nº 35.269, de 8 de
janeiro, aprovava o atual Regulamento de Uniformes da PMAL
(RUPMAL). Antes desse decreto, o uniforme da PMAL era,
basicamente, azul. O novo trazia tonalidades de cinza escuro,

142
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

para os uniformes operacionais, e verde canavial com bege


terra, para os de passeio e túnicas. Eram previstos, também, no
novo uniforme, roupas especiais de policiamento e uniformes
solenes e de gala. Durante a fase de transição, era comum
ver-se policiais militares, num mesmo pelotão em forma, com
uniformes totalmente diferentes.
No mês de abril do segundo ano do mandato de GB, o
Decreto nº 35.347 atendeu a um antigo pleito da população do
litoral norte e zona da mata do Estado, criando o 6º Batalhão
de Polícia Militar, com sede em Porto Calvo e atuação em mais
quinze cidades, entre elas, Matriz de Camaragibe e São Luiz
do Quitunde. A sede do 6º BPM somente fora transferida para
Maragogi em 1995.
Arquivo da PMAL

Recém criado Batalhao de Choque, 1992

143
Silvio Teles

O mesmo Decreto de 1992 fez outras modificações. Por


exemplo, a Companhia de Polícia de Choque foi transformada em
batalhão, com duas companhias de polícia de choque e uma de
operações especiais. Também, a 7ª Companhia do 3º Batalhão,
sediada em Piranhas, foi desvinculada e transformada em 2ª
Companhia de Polícia Militar Independente. Por fim, o BPTran
foi transformado em 8º Batalhão de Polícia Militar, passando a
desenvolver um trabalho integrado, com policiamento ostensivo
e policiamento de trânsito.
Ainda, o mesmo dispositivo legal criou o 7º BPM, com o
nome de “Batalhão coronel Lucena Maranhão”, sendo instalado
na cidade de Santana do Ipanema, tendo como primeiro
comandante o tenente-coronel José Agamenon Oliveira da Silva,
nomeado apenas em 1994.
Também em 1992, o CEI, órgão de ensino e instrução da
Corporação, foi divido em duas unidades distintas: o Centro de
Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP) e a Academia de
Polícia Militar (APM).
Resgatando o antigo nome, o CFAP voltou a ser a unidade de
ensino onde as praças (soldados, cabos, sargentos e subtenentes)
eram formadas e capacitadas para o serviço policial militar.
A Academia de Polícia Militar (APM), que recebeu o nome
do senador Arnon de Mello, passou a ser a unidade destinada a
formar os oficiais da Corporação e promover os cursos regulares
e técnicos da carreira do oficialato da PMAL.
Em maio de 1992, o atual Estatuto dos Polícias Militares
entra em vigor, tendo sido aprovado pela Lei nº 5.346. Tal
estatuto, até dezembro de 2009, havia sofrido nove alterações,
todas por novos atos legislativos.
Quase um ano depois, em abril de 1993, a Lei nº 5.332
criou o Colégio da Polícia Militar (CPM), que recebeu o nome do

144
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Arquivo PMAL

Cadetes da APMSAM, 1992

Arquivo PMAL

Aspirantes 92, primeira turma de oficiais formada em Alagoas, dezembro de 1992

patrono das polícias militares do Brasil: Tiradentes. De início, os


filhos dos militares tinham prioridade para ocupar as vagas no
CPM. A boa referência da unidade ensino tornou-a, em pouco
tempo, uma das escolas públicas mais procuradas de Maceió e
houve a concessão para que o alunado em geral (não somente

145
Silvio Teles

os filhos de militares) pudessem cursar até a 4ª série do ensino


fundamental no Colégio Tiradentes. Reformas posteriores
ampliariam a instituição para o atendimento aos níveis infantil,
fundamental e médio de ensino.
Em maio de 1993, nascia o Batalhão de Polícia Escolar
(BPEsc), originário da 1ª Companhia do 1º BPM (que ainda era
conhecida como Companhia Escolar). Seu efetivo inicial foi de
400 militares, todos alunos do Curso de Formação de Cabos
Combatentes, e sua primeira sede foi no Centro Educacional
Antônio Gomes de Barros (CEAGB), atual CEPA. Obviamente,
sua missão maior era promover o policiamento ostensivo das
escolas e estabelecimentos educacionais de ensino, sobretudo
do complexo de escolas que, desde aquela época, é considerado
o maior da América Latina.
Também em maio, o Corpo de Bombeiros Militares de Alagoas
foi separado da estrutura da PMAL, tornando-se autônomo.
Nesse ano, o efetivo previsto em lei para a PMAL era de
15.841 policiais militares (exatos 359 a menos que o atual). A
Arquivo PMAL

Jogos no pátio do QCG, década de 1990

146
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

complexidade funcional da Corporação já era tamanha que,


somente para os oficiais, existiam seis quadros diferentes (oficiais
militares, de saúde, administração, especialistas, capelães e
oficiais militares feminino). Maior ainda era a diversidade para as
praças: citando só o quadro de especialistas, existiam as funções
de lanterneiro, auxiliar veterinário, carpinteiro, artífice alfaiate,
sapateiro. Eram dezenas de especialidades.
Nessa época, o pátio do Quartel do Comando Geral era
palco para diversas disputas desportivas, como torneios de
voleibol entre os batalhões e diversos órgãos da Corporação em
todo o Estado. O QCG sediou, também os recém criados Jogos
Internos da Polícia Militar de Alagoas (JIPM). (Nota: Em dezembro
de 2009, depois de mais de uma década, a PMAL realizou uma
nova edição dos JIPM).

147
Capítulo 16

A Intervenção Federal de 1993


Uma mácula na história da PMAL
Escândalos, desvio de dinheiro público e denúncias

A
lagoas, 1993. Inúmeras constatações de irregularidades
dentro da PMAL foram publicadas pela imprensa alagoana.
Entre as principais denúncias, constavam: a inclusão de
candidatos na Corporação sem aprovação em concurso, tanto no
quadro de praças, quanto no de oficiais; a reinclusão ao serviço ativo
de policiais com idade avançada, contrariando as normas legais; o
inchaço no efetivo da instituição (por exemplo, a Academia de Polícia
Militar, no ano de 1993, incluiu 180 cadetes para frequentarem o
CFO, o que representava um aumento de mais de 40% no efetivo do
oficialato, contrastando com os 49 inclusos em 1992); e a formação
de caixa 2, através de descontos indevidos nas folhas de pagamento
dos militares (uma espécie de desvio de dinheiro público camuflado).
Todas as denúncias feitas pela mídia recaíam sobre o então
comandante geral da PMAL, coronel Nilton Rocha e, segundo a

149
Silvio Teles

Jornal Gazeta de Alagoas

Anulação do concurso para oficiais da PMAL foi notícia, 1993

imprensa, as ações ilícitas tinham objetivo eleitoral: o coronel


Rocha havia anunciado sua campanha para deputado estadual
nas próximas eleições. Por parte do Governo Estadual, o coronel
Nilton Rocha não sofria qualquer intervenção contrária aos seus
desmandos: ele era ferrenho defensor do então governador,
Geraldo Bulhões, cujos índices de popularidade estavam em baixa,
e suas ações asseguravam votos para as pretensões de GB.
As denúncias foram formuladas por oficiais da própria
Corporação como, por exemplo, o então coronel Benedito Leite
e o major Joilson Gouveia.
A imprensa deu notoriedade ao caso da eleição municipal
de Água Branca, onde, conforme os meios de comunicação
da época, policiais militares votaram quantas vezes quiseram,
elegendo um candidato apadrinhado de GB.

150
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Outro caso, esse no Pilar, foi a realização de uma operação


“Aciso” (Ação Cívica e Social). Nesse tipo de ação, a PMAL levava
assistência social à população. Entretanto, naquela Aciso, a
imprensa afirmou que o intento do coronel Nilton Rocha teria
sido de promover, à custa do Estado, campanha para as eleições
de seu interesse.
Jornal Gazeta de Alagoas

Manchete anuncia escândalo envolvendo Geraldo Bulhões, 1993

Jornal Gazeta de Alagoas

OAB pede atenção da sociedade contra a violência, 1993

Jornal O Diário

Órgãos da sociedade insistem na intervenção federal, 1993

151
Silvio Teles

Além das irregularidades, órgãos como a Ordem dos


Advogados do Brasil em Alagoas, cujo presidente era o advogado
Marcelo Teixeira, e a Câmara de Vereadores de Maceió
apontavam, em audiências públicas, a falta de segurança vivida
pelo Estado, mesmo com o aumento do efetivo policial.
Uma comissão parlamentar de inquérito – a CPI da
Pistolagem –, composta pelos deputados federais Freire Júnior,
Edmundo Galdino, Laerte Barros e Roberto Torres, foi designada
para apurar denúncias de crime no Estado, envolvendo policiais
e integrantes da segurança pública. A CPI da Pistolagem atuou
em mais onze Estados da federação, apurando denúncias de
mesmo teor, constatando as irregularidades.

A intervenção do coronel Elito


Opinião pública pressiona e cúpula da
segurança é destituída

O clima de insatisfação e a pressão popular obrigaram o


governador a demitir tanto o comandante geral da PMAL, Nilton
Jornal Gazeta de Alagoas

Queda da cúpula da Segurança Pública é manchete nos jornais, 1993

152
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

O Diário

Queda da cúpula da Segurança Pública é manchete nos jornais, 1993

Rocha, quanto o Secretário de Segurança Pública, Delegado


Wilson Perpétuo. Assim, a imprensa escrita estampou, nas
capas dos jornais do dia 22 de junho de 1993, a queda da
cúpula da segurança pública de Alagoas. Todavia, o coronel
Nilton Rocha assumiu a chefia da Casa Militar do governador, o
que, na verdade, representava uma promoção. O comando da
Corporação foi entregue, interinamente, ao coronel Valdemir
do Carmo Silva.
Apesar da visível tentativa de manobra política aplicada
pelo governador do Estado, o Palácio do Planalto e o Congresso
Nacional, ao lado das entidades locais, defendiam a tese de que
só uma intervenção federal em Alagoas poderia acabar a situação
de corrupção, insegurança e impunidade vigente no Estado.
Assim, o comando do coronel Valdemir durou apenas 15
dias. Em 6 de julho, no Palácio Marechal Floriano Peixoto, GB
nomeou comandante geral da PMAL, por decisão federal, o então
coronel do EB José Elito Carvalho de Siqueira, sergipano. (Nota:

153
Silvio Teles

Jornal Gazeta de Alagoas

Assunção ao Comando da PMAL por Coronel Elito é notícia, 1993

Anos mais tarde, em 2006, o general Elito viria a comandar as


tropas brasileiras em Missão de Paz no Haiti).
Como interventor, o coronel Elito tomou medidas
enérgicas. Ele determinou que todos os convênios firmados
entre a PMAL e os diversos órgãos ou empresas tivessem seus
depósitos feitos na conta única do Estado. Requisitou aos
comandantes que apresentassem todos os policiais militares
à disposição de autoridades, colocando-os no serviço efetivo
da PM, deixando somente em assessorias militares aqueles
cuja lei autorizava. Ainda, modificou a política de diárias na
Corporação, restringindo a concessão aos casos, devidamente,
comprovados como de utilidade ao serviço e para o efetivo
custeio de despesas, ressaltando, o caráter indenizatório das

154
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

verbas. Distribuiu assessores militares do Exército em lugares


estratégicos da Corporação, para evitar irregularidades, a
exemplo da Diretoria de Apoio Logístico, onde a denúncia de
licitação viciada era gritante.
Quatro meses depois, a PMAL havia sido organizada e a
população reconhecia o trabalho do interventor militar. Dentro
da Corporação, oficiais e praças elogiavam o trabalho do coronel
Elito. No período em que foi comandante, ele fez questão de
visitar todo o Estado, conhecendo a realidade dos policiais
militares no interior.
Segundo o tenente-coronel Luciano Silva, à época, 1º
tenente, o comando do interventor foi uma verdadeira aula
de administração. “Seus exemplos e suas orientações serviram
como estímulo para a tropa que, há muito, estava desacreditada”,
confirmou o oficial.
O comandante Elito conseguiu criar nos integrantes da
PMAL a real consciência de sua atividade. “Ele se interessou
pelos problemas da tropa e conseguiu mostrar aos policiais
que era necessário atuar com seriedade e firmados na lei”,
concluiu o oficial.
A intervenção durou até novembro de 1993. Ao deixar
o comando da PMAL, o coronel Elito indicou para o cargo
mor o coronel PM José Torquato dos Santos Filho, que era
seu subcomandante geral e considerado seguidor de seus
preceitos morais.

155
Capítulo 17

Missões de Paz: a PMAL nos


conflitos pelo mundo
Moçambique, África (1993 a 1996)
A mediação entre forças políticas de um
país recém soberano

F
oi no comando do coronel Elito Carvalho, durante a
intervenção federal, que a PMAL teve sua primeira
participação na resolução de conflitos internacionais,
depois da Guerra do Paraguai. Seu primeiro desafio internacional
foi a missão de paz em Moçambique.
Desde 1977, Moçambique, na África, vivia em guerra civil,
gerada depois da independência do país do jugo português.
Naquele ano, Moçambique assumiu uma forma de regime
político de partido único e de tendência socialista. Em oposição,
surgiu uma frente política, a Renamo, com apoio da África do
Sul, Rodésia e, indiretamente, dos Estados Unidos. Estas foram

157
Silvio Teles

as principais forças da guerrilha que atuariam no país por mais


de vinte anos.
Até 1992, Moçambique tinha mais de um milhão de mortos e
quase três milhões de refugiados. A intervenção das Organizações
das Nações Unidas (ONU) foi indispensável. Havia necessidade de
ajuda estrangeira para contornar a situação do país.
Assim, após a assinatura do Acordo Geral de Paz, através
da Carta de Roma, em outubro de 1992, a ONU solicitou ao
Governo brasileiro o envio de tropas militares para a resolução
de conflitos internacionais, entre eles, o de Moçambique.
O Ministério das Relações Exteriores, o Comando de
Operações Terrestres e a Inspetoria Geral das Polícias Militares
organizam-se para recrutar e enviar tropas do Exército e das
polícias militares.
Em Alagoas, em 1993, o coronel Elito determinou a seleção
de três oficiais para integrarem as forças brasileiras na África.
Constituíram a primeira comissão da PMAL, à disposição da ONU, o
major João Raimundo Amorim, o capitão José Vitorino e o 1º tenente
Luciano Silva. Os oficias permaneceram um ano fora do Brasil.
Em 1994, uma nova comissão da PMAL foi enviada à
Moçambique, entre eles, os sargentos Mário Rodrigues e
Joselito Cota.
A ONU declarou encerrados os trabalhos no país africano
em 1996, com a consolidação da república e a repatriação de
milhões de refugiados.

Guatemala, América Central (1994 a 2000)


Um país em guerra civil, buscando a abertura política

Em novembro de 1994, a PMAL iniciou uma nova missão


internacional, dessa vez na Guatemala, América Central.

158
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Até 1821, a Guatemala era colônia espanhola. Depois


disso e durante os séculos XIX e começo do XX, o país foi
governado por diversos regimes, civis e militares. Em guerra
civil pela abertura política, desde 1936, o país lutava para o
cumprimento dos acordos de paz firmados com a mediação da
ONU, assinados em 1996.
Entre os militares da PMAL que participaram da missão, o
major Cláudio Nasiazeno, que esteve em missão de 1996 a 1999,
relatou os momentos de tensão que viveu no solo guatemalteco.
“Quando chegamos à Guatemala, a guerra civil ainda fervia.
Tivemos a missão de, mesmo no conflito, assegurar o cumprimento
dos acordos de paz entre o Governo e a Guerrilha”, explicou o major.
Para a PMAL, a missão na Guatemala durou até 2000.

Bósnia Herzegovina, Ásia (1994 a 1995)


O conflito dos países resultantes da divisão
da Iugoslávia

Também em 1994, Alagoas, através da PMAL, participou


da resolução do conflito na Bósnia e Herzegovina.
O conflito no país era motivado pelas diferenças religiosas
e pela demarcação das áreas territoriais das nações resultantes
da divisão da antiga Iugoslávia.
Único representante da PMAL, à época 1º tenente, o
tenente-coronel Ivon Berto que, segundo disse, chegou a ser
prisioneiro, explicou como conseguiu intermediar o conflito entre
croatas e sérvios. “Conseguimos, com os demais integrantes da
ONU, convencer aos sérvios que, no momento, a melhor opção
era a rendição, respeitando a integridade física das duas forças
em combate”, disse o oficial.
A missão na Bósnia, para a PMAL, foi até 1995.

159
Silvio Teles

Angola, África (1995 a 1999)


Duas forças disputam o comando de um país arrasado

Em 1995, o conflito em Angola, na África, também recebeu


o apoio da PMAL.
Após a proclama-
ção da independência, em
1975, o país foi dividido
em duas frentes políticas
adversárias: o MPLA (Mo-
vimento Para Libertação
de Angola), de caráter go-
vernista, e o revolucioná-
rio UNITA (União Nacional
pela Integração Total da
Angola), sob a liderança de
Jonas Savimbi.
O primeiro militar de
Alagoas a pisar em solo an-
golano, para a missão de
paz, foi o major Eliano Bezer-

160
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

ra, no ano de 1995. Durante a operação, alguns outros oficiais foram


enviados para áfrica.
O major Fernando Monteiro foi um deles. De acordo com
ele, integrante da missão em 1996, a guerra civil havia deixado
Luanda, capital da Angola, inteiramente destruída. Ele disse ainda
que, no sul do país, onde montou base, a tensão pela iminência
de um confronto era constante. “Eu dormia de coturno, com
arma de porte, e com um quite de primeiros socorros embaixo
do travesseiro, pronto para a guerra, caso ela viesse”, relembra
Monteiro.
Em Angola, a missão alagoana durou até 1999.

Timor leste, Oceania (1999 a 2000)


Uma luta pelo reconhecimento da independência

Em 1999, o conflito foi no Timor Leste, na Oceania. O


país, que há mais de 400 anos havia sido colônia de Portugal,
conseguiu, em 1975, a independência.
A Indonésia, que exercia o controle na maior parte das ilhas
vizinhas ao Timor Leste, incentivou grupos a rebelar-se contra a
liberdade timorense, anexando o país a seu território. Portugal,
antiga potência colonizadora, solicitou à ONU a intervenção.
De Alagoas,
quatro militares com-
puseram a missão. O
chefe foi o tenente-
coronel João Rai-
mundo Amorim, que
havia participado do
conflito em Moçam-
bique, na África. Se-

161
Silvio Teles

gundo ele, após o plebiscito que decidiu pela independência do


país – com aprovação de mais de 70% dos votos – os grupos de
resistência, influenciados pela Indonésia, passaram a perseguir
os agentes da ONU e os leste-timorenses. Houve um massacre
no país.

O coronel Raimundo Amorim lembra de um episódio,


ocorrido próximo ao final da missão alagoana na Oceania, em que
as forças da ONU e os refugiados foram isolados numa espécie
de campo de concentração. “Nós e os refugiados ficamos num
estacionamento, anexo à sede da ONU”, contou o oficial.
A intenção das forças da ONU era preservar a maior
quantidade possível de vidas. “Decidimos que somente sairíamos
de lá quando o último dos mais de cinco mil refugiados estivesse
em segurança”, disse o coronel. Auxiliados pelas Forças da ONU
da Austrália, os alagoanos conseguiram a transferência de todos
os leste-timorenses.
No ano de 2000, todos os policiais militares de Alagoas
deixaram o Timor Leste.

162
Capítulo 18

O 17 de Julho de 1997
Alagoas entregue às moscas e baratas
Corrupção e mau zelo fazem parar a Terra dos
Marechais

A
lagoas, 1994. No final do governo de Geraldo Bulhões,
a população estava, totalmente, desacreditada na
capacidade do Estado de prover a sustentação dos mais
básicos serviços públicos. O funcionalismo, mais uma vez, estava
com a folha de pagamento atrasada. Os sistemas de Educação e
de Saúde do Estado estavam abandonados e a intervenção no
setor de Segurança Pública, em 1993, havia resolvido a questão
de moralidade da pasta, mas os índices de criminalidade ainda
eram preocupantes.
As eleições de 1994 eram esperadas como a tábua de
salvação para o Estado. O povo vibrou com a confirmação de que
Divaldo Suruagy, então senador da República com reeleição certa,
havia lançado seu nome como candidato ao Governo de Alagoas.

163
Silvio Teles

Não deu outra: com um histórico de duas boas administrações


em Alagoas, Divaldo Suruagy foi eleito com, aproximadamente,
80% dos votos válidos. Foi a maior votação proporcional do País.
Suruagy assumiu o Estado prometendo deixar em dia o
pagamento dos funcionários públicos e recuperar a estrutura
básica dos serviços de Alagoas, o que foi feito. Entretanto, a
pesada folha salarial do Estado (a máquina administrativa tinha
sido usada como um grande cabide de empregos) era um fardo
pesado demais para a receita estadual e o risco de atraso na
folha era constante e iminente.
Em 1996, os aumentos salariais concedidos aos poderes
legislativo e judiciário tornaram inviável ao erário sustentar a
folha de pagamento do Estado.
Além disso, a balança de receitas e despesa de Alagoas,
há muito, estava desajustada. Um dos maiores motivos para tal
desequilíbrio foi o “Acordo dos Usineiros”, firmado em 1988 pelo
então governador Fernando Collor. Segundo o acordo, o setor
sucroalcooleiro deixaria de pagar o Imposto sobre a Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS) pela cana-de-açúcar própria.
Também, teria o ressarcimento do dinheiro arrecadado pelo
Estado, com o imposto, nos últimos dez anos. Consequência: a
contribuição tributária do setor que representava 56% do total
arrecada pelo Estado, caiu, em 1997, para 4%.
Curiosamente e, talvez, pela necessidade de o Estado
manter sua força policial forte o suficiente para o caso do
surgimento de manifestações ou revoltas populares, ocorreram,
na PMAL, em 1996, reformas e ampliações. Em março, o 9º
BPM, sediado em Pilar, foi renomeado, sendo designado
como 8º BPM. No dia 5 de novembro, entrou em vigor o atual
Regulamento Disciplinar da PMAL (RDPMAL), aprovado pelo
Decreto nº 37.042.

164
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

No dia 26 do mesmo mês, a Lei Complementar nº 15


criou a Assessoria Militar da Procuradoria Geral de Justiça.
No dia seguinte, pela Lei nº 5.882, foi criada a 3ª Companhia
de Polícia Militar Independente, atualmente, sediada em
Paripueira. No mesmo texto legal, o governador reestruturou
a Casa Militar do Palácio do Governo, hoje Gabinete Militar
do Governador, órgão destinado a assessorar diretamente
o chefe do Executivo nos assuntos pertinentes a segurança
do Estado, com atribuições relativas à segurança pessoal e
familiar do governador.
Deste mesmo dia 27, é a Lei Estadual nº 5.883 que
consolidou o esquema de ensino da PMAL, que havia sido
reformulado em 1992 por decreto. A lei, portanto, apenas
estruturava o sistema, criando, oficial e legalmente, a Diretoria
de Ensino, a Academia de Polícia Militar – que a essa época já
tinha formado quatro turmas de oficiais – e o Colégio da Polícia
Militar. Ainda, um convênio entre a Anistia Internacional e a
PMAL promoveu a realização dos primeiros Cursos de Direitos
Humanos da instituição, gerando os frutos para a criação, no
ano seguinte, da Comissão Central de Direitos Humanos (CCDH),
gérmen do atual Centro de Gerenciamento de Crises, Direitos
Humanos e Polícia Comunitária da PMAL.
Essas reformas, de interesse do Governo, em nada
contribuíam para amenizar a insatisfação dos policiais militares.
Segundo o relatório oficial da PMAL, do ano de 1996, o efetivo
previsto da Corporação era de 14.823 policiais mas, efetivamente,
só existiam 7.652 militares, grande parte sofrendo a crise
financeira do Estado. O mesmo relatório aponta que, em média,
no ano de 1996, a PMAL atendeu a 200 ocorrências por dia em
todo o Estado, número recorde, decorrência direta da ausência
de emprego e renda que assolava Alagoas.

165
Silvio Teles

PDV e precatórios: tiros pela culatra


Ações mal planejadas que insuflaram a população

No começo de 1997, a situação do Estado era caótica. Os


salários estavam atrasados há oito meses. Mal assessorado,
o governador lançou o Programa de Demissão Voluntária
(PDV), com indenização aos demissionários, visando diminuir a
quantidade de servidores e desonerar a folha de pagamento.
O programa foi um desastre: dos 75 mil servidores
estaduais, 25 mil aderiram ao PDV e, contando com uma verba
para indenizações de apenas R$ 100 milhões, tomados em
empréstimo à Caixa Econômica Federal, o Governo conseguiu
pagar as “rescisões” de, apenas, sete mil funcionários. Os demais
ficaram à espera de novas verbas, aumentando a revolta popular.
Com o PDV, Alagoas teve perdas irreparáveis. Para se ter
uma idéia, dados publicados pela revista Isto é, edição de 5 de
março de 1997, afirmavam que 80% do pessoal especializado
do Hospital de Pronto-Socorro, o maior e mais procurado do
Estado, havia pedido demissão. Na educação, 5.313 professores,
dos 12.050 existentes, aderiram ao programa. Esta redução foi
responsável por um quadro alarmante: no ensino fundamental
(educação infantil), em todo o Estado, apenas 156 professores
permaneceram na rede pública estadual para atenderem 456
escolas (quase três escolas por professor).
A tensão piorou ainda mais quando o nome do governador
foi envolvido no “escândalo dos precatórios”. De acordo com a
imprensa, o esquema consistia na emissão de títulos públicos
do Estado sob o pretexto de pagamento de dívidas judiciais. A
imprensa divulgou que Divaldo Suruagy havia emitido cerca de
R$ 301 milhões em títulos e que a maior parte do dinheiro havia
sido destinado a usufruto pessoal do governador e seus aliados.

166
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Outra parte teria sido usada para quitar débitos com algumas
construtoras contratadas do Estado, entre elas, a OAS, a Queiroz
Galvão, a Sérvia e a Companhia de Engenharia S.A. Foi instalada
uma Comissão Parlamentar de Inquérito – a CPI dos Precatórios
– visando apurar as denúncias.

A PMAL em desespero
O suicídio de policiais militares

Na PMAL, a situação era de calamidade. Dezenas de policiais


procuravam o comando geral da Corporação, pedindo ajuda para
comprar alimento para suas famílias. Outros alegavam não ter
condições de pagar as passagens dos transportes coletivos para
que seus filhos fossem à escola.
Somente em 1997, três militares haviam se suicidado. O
jornal Correio Brasiliense, de julho daquele ano, publicou uma
entrevista com a viúva de um PM suicida. “É desespero. Vergonha
de trabalhar e não ter o que levar para casa”, dizia a viúva, mãe
de nove filhos.
O aquartelamento era iminente, mas o comandante geral,
coronel João Evaristo dos Santos Filho, parecia não estar sensível
à penúria da tropa. Em contrapartida, as associações dos
militares, encabeçadas pela Associação dos Oficiais Militares de
Alagoas (Assomal), cujo presidente era o então major Jean Paiva,
mesmo sem o apoio do comando geral, começaram a difundir
a idéia de aquartelamento, conseguindo a simpatia de grande
parte dos policiais militares.
No dia 11 de julho de 1997, os policiais militares decidiram,
em assembleia, pelo aquartelamento efetivo. Muitos setores
como a Saúde e a Educação já haviam parado há meses.
Exclusivamente por fidelidade aos princípios legais e o dever

167
Silvio Teles

moral, segundo afirma o tenente-coronel Luciano Silva, os


policiais militares esperaram até o último momento. “A polícia
militar, e todos os outros setores do Estado, vinham sofrendo há
quase um ano. Somente quando a situação ficou insustentável,
a PMAL parou e, ao contrário do que se imaginava, foi às ruas
protestar”, afirmou o militar.
No dia seguinte, foi a vez de a Polícia Civil do Estado ingressar
no movimento contra Divaldo Suruagy. Cerca de mil policiais civis
somaram-se aos mais de sete mil militares com a intenção de fazer
pressão sobre a cúpula administrativa do Estado de Alagoas.
Jornal Gazeta de Alagoas

Servidores exigem a renuncia de Suruagy, 1997

Temendo que uma guerra civil se instalasse no Estado e


após o atentado à bomba, ocorrido no dia 14 de julho, contra
o prédio do Tribunal de Justiça de Alagoas, o governador pediu
auxílio ao Palácio do Planalto. O Governo Federal autorizou o

168
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

emprego de tropas do Exército para a proteção das sedes dos três


poderes e de seus representantes. Os militares federais foram às
ruas e montaram barricadas em frente aos prédios públicos, em
sentinela permanente.

O dia da guerra
Praças públicas viram campos de batalha

Na manhã do dia 17 de julho, milhares de policiais militares


e civis, funcionários públicos e familiares de servidores estaduais
marcharam, em passeata pública, para a Praça Dom Pedro
II, onde se situava a sede da Assembleia Legislativa Estadual.
Naquela manhã, o parlamento alagoano votaria o processo de
impeachment contra o governador Divaldo Suruagy.
Jornal Gazeta de Alagoas

Manifestantes ocupam centro de Maceio, no protesto contra


Suruagy, julho de 1997

169
Silvio Teles

Ao atingirem a praça, os manifestantes encontraram o local


tomado por militares do Exército, todos em posições estratégicas
e de armas em riste, prontas para o uso. Para o cabo Elias Barbosa,
à época soldado e participante do movimento grevista, a ação
de sitiar a praça, feita pelo Exército, foi entendida como uma
afronta ao direito de manifestação e de liberdade de expressão
dos alagoanos. “Chegamos à praça para acompanhar o processo
de votação do impeachment de forma pacífica e ordeira e fomos
recebidos como uma tropa inimiga, para um confronto mortal”,
assegurou o militar.
Jornal Gazeta de Alagoas

Jornal Gazeta de Alagoas

Manifestante tenta
pedir calma ao
Exército, 17 de julho
de 1997

Liderança do
movimento tenta
dialogar com as
forças federais, 17
de julho de 1997

170
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Em contrapartida à rispidez das tropas federais, alguns


militares estaduais ocuparam o prédio da Biblioteca Pública,
que ficava em frente à sede da Assembleia Legislativa, tomando
posições de defesa. Eles ficaram conhecidos como “os ninjas”.
Jornal Gazeta de Alagoas

Policiais militares e civis tomam o prédio da biblioteca pública, 17 de julho de 1997

Muitos dos deputados, face à iminente probabilidade de


confronto, tentaram deixar a Assembleia e não votar o processo
de afastamento do governador. Os manifestantes impediram
a saída dos parlamentares, ameaçando usar a força, se fosse
necessário. “Foi a forma de intimidar o Exército e impedir a saída
dos deputados”, confessou Elias.
Os manifestantes derrubaram as grades da praça e a
invadiram. Nesse momento foi ouvido um disparo. “Não sabemos
quem o efetuou, mas foi esse disparo o responsável pelo início
do grande tumulto”, ressalva Elias.

171
Silvio Teles

Jornal Gazeta de Alagoas Jornal Gazeta de Alagoas

Manifestante forçam as grades, tentando Disparos fazem população procurar abrigo,


passagem, 17 de julho de 1997 17 de julho de 1997

Jornal Gazeta de Alagoas

Manifestante derrubam as grades e invadem a


Praça Dom Pedro II, 17 de julho de 1997

Tanto os manifestantes, quanto os militares do Exército,


deitaram-se no chão e as tropas federais efetuaram disparos para
o alto. Alguns dos tiros foram dirigidos à multidão. A praça se
transformou num canteiro de guerra. No interior da Assembleia,
os deputados se desesperaram, temendo por sua integridade
física. Do confronto, dezenas de pessoas ficaram feridas, destas,
quatro à bala.

172
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Jornal Gazeta de Alagoas

Manifestante ferido à bala, 17 de julho de 1997

O conflito ganhou destaque na imprensa nacional e,


definitivamente, colocou Suruagy contra a parede. O governador,
então, decidiu pedir uma licença para afastamento de seis
meses, ação que não agradou à população que insistia no seu
afastamento total. Concluindo que não havia outra solução, o
governador comunicou sua decisão de renunciar.
O Governo Federal (o presidente do Brasil era Fernando
Henrique Cardoso) determinou uma espécie de intervenção
informal em Alagoas. O vice-governador, Manoel Gomes de
Barros, assumiu o Governo do Estado e o general José Siqueira
Silva foi nomeado secretário de Segurança Pública. Para o
comando da PMAL foi indicado o coronel EB Juaris Weiss
Gonçalves, que assumiu a cadeira em 23 de julho de 1997.
Até o dia 20 de julho, aproximadamente, 1.500 homens
do Exército ainda ocupavam as ruas de Maceió, uma vez que as

173
Silvio Teles

polícias militares e civil ainda não haviam retomado seus postos


de trabalho. Ficou acordado com o funcionalismo em greve que
os salários atrasados seriam pagos em dezesseis parcelas. A
primeira, já no dia 26 daquele mês e ano.
No dia 31 de julho, o aquartelamento terminou
definitivamente e as tropas federais deixaram o Estado. Três
meses depois, em 30 de outubro, o comando da Polícia Militar
de Alagoas voltou a ser exercido por um oficial da própria
Corporação, o coronel Ailton Pimentel dos Santos.

174
Capítulo 19

A Reorganização de Alagoas
O governo de Ronaldo Lessa
Pior do que estava, não dava para ficar

A
lagoas, 1999. O engenheiro civil Ronaldo Augusto Lessa
dos Santos, que havia vencido as eleições do ano anterior,
sucede Manoel Gomes de Barros no Governo do Estado.
A administração ainda estava comprometida, sobretudo, devido
à redução dos impostos fazendários e ao repasse mensal de 15%
da receita estadual à União para quitar dívidas da desastrosa
gestão passada.
Com uma política administativa e financeira bem
formulada, o governador conseguiu pôr ordem na máquina
pública e manteve o pagamento do funcionalismo em dia. Os
setores fundamentais (Saúde, Educação e Segurança) receberam
atenção especial. Na Educação, 250 escolas foram construídas,
reformadas ou amplidadas, aumentando em 50% o número de
vagas ofertadas. Na Saúde, o alarmante indíce de 78 crianças

175
Silvio Teles

mortas, em cada mil, antes de completar o primeiro ano de


vida, foi reduzido para 45. O lançamento do Programa de Saúde
da Família (PSF) foi outra ação de destaque. Em Alagoas, o
programa tinha a segunda melhor cobertura do país, perdendo
apenas para Minas Gerais. Na Segurança Pública, também houve
melhoras: a verba mensal de custeio subiu de R$ 60 mil para R$
400 mil mensais.
Como marca de campanha, a equipe de governo de Ronaldo
Lessa usava um colete – símbolo de que estavam em constante
trabalho. A promessa era de se retirar o colete, somente, quando
Alagoas estivesse reconstruída.

As reformas na PMAL
CPC e CPI ganham unidades operacionais

Para a PMAL, alguns aspectos positivos foram notados. Em


1998, o Governo do Estado deciciu incorporar, aproximadamente,
250 soldados, aprovados no concurso público realizado em 1994.
As últimas incorporações para o primeiro posto haviam ocorrido
em 1991 e 1992.
Em 19 de abril de 2001, por ocasião da edição da Lei de
Organização Básica (LOB), novas ampliações foram feitas na
PMAL.
Unidades operacionais como as Companhias de Polícia
Militar Independetes de Novo Lino (2ª CPM I), de Paripueira (3ª
CPM I) e a Fazendária (1ª CPM Faz) foram estruturadas. No sertão,
para reforçar as barreiras do Estado, foi criado o 9º Batalhão de
Polícia Militar, com sede na cidade de Delmiro Gouveia, e com
responsabilidade territorial de uma área de 3.919,2 Km2, fazendo
o policiamento das cidade de Pariconha, Olho D’água do Casado,
Água Branca, Mata Grande, Canapi e Inhapi.

176
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Em Maceió, a Comissão Central de Direitos Humanos


é transformada em Centro de Gerenciamento de Direitos
Humanos e Polícia Comunitária da PMAL (CGDHPC), atual
Centro de Gerenciamento de Crise, Direitos Humanos e Polícia
Comunitária (CGCDHPC). Ainda na capital, é criado o Batalhão
de Rádio Patrulha (BPRp) que, mais tarde, viria a se tornar uma
das mais importantes unidades operacionais de Maceió.
Por força do avanço da política de defesa ambiental, a
mesma lei transformou a Companhia Florestal em Batalhão
de Polícia Ambiental (BPA), subordinando-o ao Comando de
Policiamento do Inteiror (CPI).
O crescimento da microrregião de Palmeira dos Índios,
a segunda mais importante do agreste alagoano, obrigou a
LOB de 2001 a transformar a então 2ª Companhia Policial
Militar Independente, criada em 1993, em 10º BPM, com
atuação em 2.773,5 Km2 e responsável por policiar onze
cidades, entre elas, Palmeira dos Índios, Estrela de Alagoas e
Minador do Negrão.
Também, a consolidação do litoral sul de Alagoas e do
Baixo São Francisco como balneários turísticos do Estado, além
do desenvolvimento alcançado por cidades como Penedo e Porto
Real do Colégio, provocaram a criação do 11º BPM, com sede em
Penedo, com o título de “Guardião do Baixo São Francisco”.

A “gangue fardada”
Uma história de morte, roubo e extorsão sob o
comando de um oficial da PMAL

Em 1998, investigações envolvendo as Secretarias de


Segurança Pública de Alagoas, Sergipe e Pernambuco, além da
Polícia Federal e do Poder Judiciário, levaram o juiz Helder Costa

177
Silvio Teles

Loureiro a decretar a prisão de 32 envolvidos num esquema de


receptação de cargas, roubos de veículos, assaltos a bancos e
pistolagem de aluguel que atuava em Alagoas, com ramificações
em São Paulo e no Maranhão. Composto, em sua maioria, por
policiais militares e civis, o bando criminoso recebeu o nome de
“gangue fardada”.
A história do bando ficou conhecida com o assassinato
do delegado Ricardo Lessa, anos antes. O crime foi atribuído ao
bando criminoso. O delegado, morto em 9 de outubro de 1991,
na Rua Mendes de Sá, no bairro de Bebedouro, em Maceió,
vinha investigando as ações criminosas de integrantes das forças
de segurança de Alagoas.
Nesse período, foram indiciados pela morte de Ricardo
Lessa o então Major Manoel Francisco Cavalcante, na condição
de autor intelectual do crime, e os cabos Everaldo Pereira e
Cícero Felizardo, os sargentos Silva Filho e José Oliveira, além
dos soldados Edgar Romero, Aderildo Marins, Valdomiro Barros,
e o policial civil Valmir dos Santos como envolvidos na execução
da morte de Ricardo Lessa. Nesse processo, somente, Manoel
Cavalcante e Silva Filho foram condenados. Receberam pena de
18 anos de prisão, cada um.
O jornal Extra Alagoas, edição de 4 de novembro de
2008, publicou matéria relembrando o caso. De acordo com
a matéria, da condenação dos dois militares, sucedeu-se uma
série de homicídios, considerados como queima de arquivo.
De acordo com o periódico, foram mortos os policiais Valmir
dos Santos, José Carlos de Oliveira, Faustão, Regivaldo, cabo
Gonçalves, cabo Josemildo Nogueira, soldado Aderildo Marins,
além de Jailton Bezerra e Audálio Castro Lessa (primo de Ricardo
Lessa, que nada tinha a ver com o caso, mas saberia os nomes
dos matadores do delegado).

178
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

A investigação das ações da “gangue fardada”, realizada


em 1998 pela força tarefa liderada pelo secretário de Segurança
Pública, delegado João Mendes, pelo comandante da PMAL,
coronel Ailton Pimentel, e pelo superintendente da Polícia
Federal em Alagoas, delegado Bérgson Toledo, confirmou o
outro ramo de atuação do bando criminoso: o roubo de cargas e
a pistolagem de aluguel.
Desde 1995, em vários Estados do Nordeste e Sudeste, o
bando, comandado pelo ex-tenente-coronel Manoel Cavalcante,
praticava diversos crimes. Políticos e empresários de Alagoas
foram citados, pela imprensa, como envolvidos no esquema
criminoso recém descoberto.
Um dos casos de maior destaque da ação delituosa dessa
quadrilha foi a morte do tributarista Silvio Vianna, à época chefe
do setor de arrecadação da Secretaria da Fazenda de Alagoas,
responsável pela cobrança de impostos devidos ao Estado. O crime
foi atribuído ao grupo fardado, sob a liderança do então tenente-
coronel Manoel Francisco Cavalcante, e teria sido encomendado
por empresários com dívidas junto ao Estado. No dia do crime,
Vianna trazia consigo inúmeras ordens de cobrança, expedidas em
desfavor de grandes empresários.
O site de notícias Isto é on line publicou, em 23 de agosto
de 2006, matéria relatando a entrega de um dossiê à ministra
do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie. O calhamaço de
documentos havia sido reunido pelo ex-policial Garibalde
Amorim, integrante da “gangue fardada”, no qual ele e o
fazendeiro Fernando Fidélis (à época, reclusos no Presídio
Baldomero Cavalcante) apontavam o então deputado Federal
João Lyra como um dos mandantes da morte de Silvio Vianna.
Na mesma reportagem, João Lyra rebateu veementemente as
acusações, afirmando que se tratava de armação política. “A

179
Silvio Teles

cada período eleitoral, a calúnia ganha nova roupagem e novos


personagens”, disse o deputado, de acordo com a matéria.
No processo sobre a morte de Silvio Vianna, o ex-tenente-
coronel Manoel Cavalcante e o ex-soldado Garibalde Amorim
foram condenados a 18 anos de prisão, cada. Somente em junho de
2008, o ex-tenente Silva Filho foi levado a julgamento e condenado,
também, a 19 anos de prisão pela morte do tributarista.
À época das investigações, outra versão que foi cogitada
para o homicídio de Silvio Vianna apontava a participação de
dois fiscais de arrecadação, contra os quais Vianna teria aberto
sindicância para apurar denúncias de irregularidades e desvio de
dinheiro público. A versão foi logo descartada.
No dia 16 de janeiro de 1998, a força-tarefa, com um
efetivo aproximado de 120 homens, deslocou-se ao Edifício
Granada, no bairro de Ponta Verde, em Maceió, e prendeu o
ex-tenente coronel Cavalcante, que estava em liberdade, o ex-
major Adelmo Cavalcante e o ex-soldado Marcos Cavalcante.
Com os militares foram encontradas inúmeras armas
pertencentes à carga da PMAL. A “gangue fardada” acabava de
perder sua cúpula.
O jornal Extra Alagoas, edição de 4 de novembro de
2008, trouxe matéria afirmando que, além do cérebro da
organização, inúmeros outros integrantes haviam sido presos
pela força-tarefa. Entre eles, os militares José Ulisses da Silva,
Antônio Timóteo Ferreira Filho, Paulo Jorge Tenório Dantas,
Jasiel da Silva Brito, Silvio Marcos Silva Soares, Jovânio de Brito
Silva, Marcos Antônio Conceição Ferreira, José Mewrenberd,
Marcelo Luiz Barros Seixas, Osías Lins da Silva, Florisvaldo
Salvino de Oliveira, José Sérgio da Silva, José Cláudio da Silva
e José Paulino Almeida. A polícia prendeu ainda o delegado da
Polícia Civil, Carlos Camilo, e os assaltantes de banco José Carlos

180
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Pereira, Robson Domingos Vieira e Marcos Camilo (irmão do


delegado).
Apesar da quantidade de presos, muitos foram beneficiados
por habeas corpus, fugindo de Alagoas. Pelas ações do bando,
o único preso, em 2009, era o ex-tenente-coronel Manoel
Cavalcante. Suas penas, somadas, ultrapassavam os 80 anos
de prisão e, face sua presumida periculosidade, ele tinha sido
transferido de penitenciária inúmeras vezes.
A Secretaria de Segurança Pública de Alagoas chegou a
emitir relatório no qual afirmava que, pelo menos, oitenta carros
e caminhões haviam sido roubados e queimados. De acordo com
o relatório, os assaltantes de banco José Carlos Pereira e Robson
Domingos declararam à Polícia Federal que o ex-delegado Carlos
Camilo havia chegado a utilizar seu próprio veículo como apoio
aos assaltos. Eles confirmaram que o líder do bando era Manoel
Cavalcante.
Em agosto de 2008, o juiz Geraldo Cavalcante Amorim, da
9ª Vara Criminal de Maceió, decidiu arquivar a denúncia do Juiz
Marcelo Tadeu Lemos, que apontava o ex-deputado João Lyra e
o ex-prefeito de São Miguel dos Campos, Nivaldo Jatobá, como
mandantes no assassinato do tributarista Silvio Vianna.
(Nota: Em dezembro de 2009, Manoel Cavalcante, que
estava preso numa penitenciária do Rio de Janeiro, voltou à
Maceió, para o presídio Baldomero Cavalcante. O ex-tenente-
coronel estava contribuindo com a Justiça. Em depoimento
prestado no processo de homicídio do cabo Gonçalves, Cavalcante
afirmou que os deputados estaduais Antônio Albuquerque e
João Beltrão, e o deputado federal Francisco Tenório, eram os
mandantes do crime. Os parlamentares negaram as declarações
de Cavalcante).

181
Capítulo 20

A Crise de 2001
O confronto de forças políticas
Denúncias na imprensa e desarmonia entre poderes
geram nova crise no Estado

B
rasil, 2001. Fernando Collor de Mello, que teve seus direitos
políticos cassados por oito anos, após o impeachment,
volta a Alagoas. Ele havia perdido a eleição a prefeito de
São Paulo, no ano anterior.
Coincidentemente, ou não, por esse tempo, as Organizações
Arnon de Mello – da família de Collor – começaram a publicar
severas denúncias contra o governador do Estado, Ronaldo Lessa,
muitas, inclusive, sobre mortes encomendadas e consumadas,
como a do ex-policial José Cícero Carlota, morto em 1995.
Segundo a imprensa, Lessa teria mandado matar Carlota
porque estava sendo ameaçado por ele. O motivo: Carlota teria
sido contratado pelo então governador para matar o ex-tenente-
coronel Manoel Cavalcante, condenado pelo assassinato do

183
Silvio Teles

irmão de Ronaldo, Ricardo Lessa, em 1991. Carlota, que havia


decidido revelar o plano, teria então sido morto. As denúncias
não foram comprovadas.
Lessa rompeu o contrato de divulgação oficial do Estado com
as Organizações Arnon de Mello (em torno de R$ 200 mil mensais).
Estima-se que o objetivo de Collor era enfraquecer a figura de
Ronaldo Lessa que despontava como uma sólida liderança política
em Alagoas, visando à campanha ao Senado, em 2002.
Não bastando isso, na esfera da administração do Estado,
Lessa determinou o pagamento parcial do duodécimo do
Judiciário, alegando falta de recursos. O presidente do Tribunal
de Justiça de Alagoas, Desembargador Orlando Manso, em
janeiro de 2001, determinou o sequestro de aproximadamente
R$ 3,5 milhões das contas do Estado, sob a justificativa de suprir
os atrasos com o repasse das verbas daquele Poder.
As denúncias nos meios de comunicação e o embate com
o Judiciário desgastaram a imagem do governador, que teve
sua credibilidade posta em xeque. Além disso, categorias do
funcionalismo, reclamando salários defasados, começaram a
declarar greve, paralisando os serviços públicos do Estado.

Policiais militares aquartelados


A luta por reajuste salarial e a decretação da
ilegalidade do aquartelamento

As associações militares reinvidicavam que fosse


implantado um piso salarial para as praças no valor de R$ 1.200,
e um reajuste de 50% para os oficiais. O governo, através do
Secretário de Administração da época, Valter Oliveira, apresentou
uma proposta de reajuste médio para todos os integrantes da
Corporação, em torno de 5%.

184
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Em 17 de julho – curiosamente, no aniversário do


acontecimento de 1997 – os policiais militares, através de suas
associações, declararam o aquartelamento. O comandante
geral, coronel Ronaldo dos Santos, posicionou-se contrário ao
movimento, mas colocou-se à frente das negociações. Além dos
militares, os policiais civis também declararam greve.
Jornal Gazeta de Alagoas

Militares pelas ruas declaram aquartelamento, 17 de julho de 2001

O Jornal Gazeta de Alagoas, de 19 de julho de 2001, publicou


que, no dia anterior, Lessa, temendo que o Estado fosse tomado
por uma onda de violência, requisitou ao presidente Fernando
Henrique Cardoso o envio de tropas do Exército para Alagoas. O
governador chegou a enviar um ofício ao Planalto, assegurando
que a greve dos policiais civis e militares trazia “enorme perigo
à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio”. Os grevistas ameaçaram bloquear as rodovias
alagoanas para impedir a chegada do Exército.

185
Silvio Teles

Jornal Gazeta de Alagoas

Jornais noticiam pretensão dos policiais grevistas, 2001


Jornal Gazeta de Alagoas

Jornais noticiam pretensão dos policiais grevistas, 2001

O então Secretário de Justiça de Alagoas, Tutmés Airan,


afirmou, também ao Jornal Gazeta de Alagoas, que a greve da

186
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

segurança afetava, inclusive, o sistema penitenciário, uma vez


que a guarda externa dos presídios era de responsabilidade
da Polícia Militar. Mas a reportagem fazia justiça aos policiais
militares, ao publicar que os salários médios de R$ 400, para os
soldados, eram indignos e os menores de todo o Brasil.
No dia 20, o comando do aquartelamento rejeitou a
proposta ofertada pelo Governo de reajuste variando entre 8,4 a
19%, de acordo com o posto ou graduação dos militares.
Também no dia 20, a imprensa publicou que o Palácio do
Planalto havia negado o pedido de Lessa para o envio de tropas
do Exército para Alagoas. Em 21 de julho, o então ministro-chefe
do Gabinete Militar da Presidência, general Alberto Cardoso,
declarou que a paralisação da polícia no Estado de Alagoas não
era total. “Mais de 50% da polícia está trabalhando, o comércio
funciona normalmente, os bancos estão abertos e a população,
vivendo sua vida, com apreensão com a diminuição do efetivo na
rua, mas com segurança relativa”, disse o general.
Jornal Gazeta de Alagoas

General nega envio de tropas federais a Alagoas, 2001

187
Silvio Teles

Nesse mesmo dia, o juiz Ivan Vasconcelos de Brito, da vara


da Fazenda Pública Estadual, emitiu parecer, declarando ilegal a
greve da Polícia Militar. Para completar, boa parte dos oficiais
decidiu voltar ao trabalho, aceitando a proposta de reajuste
ofertada pelo Governo com o percentual médio de 8,48%.
Jornal Gazeta de Alagoas

Greve ilegal é manchete de jornal, 2001

Mesmo com a decretação de ilegalidade, o movimento,


em vez de recuar, permaneceu na luta e os militares
decidiram acampar em frente ao Palácio do Governo. Antes,
em passeata, os manifestantes, entre os quais os majores
Hermes Cordeiro e João Jonas, além do soldado Wagner
Simas, ocuparam o pátio interno do 1º Batalhão de Polícia
Militar, no Trapiche, numa tentativa de evitar que as viaturas
fossem para as ruas. O grupo também desejava persuadir os
militares que estavam em dúvida quanto à permanência do
aquartelamento. Houve embate com a guarda do quartel e
com o comandante da unidade.

188
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Tal ato foi interpretado como prática de desacato,


desobediência e incitação ao motim e levou, em 2004, os dois
majores e o soldado, além dos sargentos Ednor, José Alberto, e
do cabo Merival, à condenação pela Justiça Militar, fato noticiado
pelo jornal Gazeta de Alagoas, edição de 6 de março daquele
ano. Os militares recorreram da sentença.
No dia 21, com o movimento dividido e enfraquecido,
os líderes do aquartelamento, em assembleia, mesmo sem
aceitar a proposta do Governo, decidiram voltar ao trabalho. O
site Folha on line, em 21 de julho de 2001, publicou que, pela
manhã, policiais militares já faziam ronda e os carros de polícia
circulavam pelas cidades. A matéria dizia ainda que, segundo o
Governo, 80% da categoria já haviam deixado o aquartelamento.
Os percentuais de ajustes salarais foram escalonados variando de
6,85%, para os coronéis, até 20,9%, para os soldados iniciantes.

189
Capítulo 21

O Pós-Crise de 2001
Governo recupera credibilidade
Salários em dia e o programa “Governo no Interior”

A
lagoas, 2002. É realizado um novo concurso público para
o preenchimento de vagas na PMAL. São ofertadas mil
vagas para soldados combatentes, embora, no quadro de
organização da PMAL, houvesse mais de cinco mil claros (vagas
previstas e não preenchidas). Terminadas as etapas classificatórias
e eliminatórias, os recrutas apresentaram-se ao CFAP em julho. O
curso de formação de soldados funcionou até dezembro.
Nesse ano, novas eleições em Alagoas decidiriam o
rumo do Estado. Entre os candidatos, Fernando Collor de
Mello e o então governador, Ronaldo Lessa. Numa disputa
acirrada, o candidato governista vence Collor e continua na
administração do Estado.
A nova gestão de Lessa prometia investimentos pesados.
Superadas as dificuldades administrativas de 2001, o governador

191
Silvio Teles

deu continuidade a uma era de funcionalismo público com


salários em dia.
Em estilo eleitoral, Lessa e seu vice, Luís Abílio, realizam 44
edições do programa “Governo no Interior”. A base do evento
era a transferência temporária da sede do Executivo estadual
para a cidade que recebia o programa. Serviços como emissão de
documentos, consultas básicas de saúde, orientações educativas e
outros, tipicamente assistencialistas, eram ofertados à população.
Com larga divulgação nos meios da mídia, o Governo
no Interior era uma verdadeira festa que paralisava as cidades
contempladas, com a armação de tendas e palcos.
Em todas as edições, a PMAL participou maciçamente, tanto
na realização de paradas e desfiles militares, como na execução
do projeto “Tenda da Cidadania”, ação social desenvolvida pela
Corporação. Entre os serviços realizados pela Tenda da Cidadania,
Ascom PMAL

Programa Governo no Interior, 2002

192
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

havia serviço de barbearia, atendimentos psicológicos, através


do Centro de Assistência Social da PMAL, e diversas campanhas
educativas. As pessoas recebiam orientação educativa nas áreas
de violência escolar e uso de drogas, por meio do Programa
Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd); na
área de trânsito, com o BPTran; e de defesa ambiental, por meio
do BPA. Além disso, eram ofertados, emissões de documentos
obrigatórios e atendimentos médico e odontológico.
Em 2003, um novo diploma fixou o efetivo geral da Polícia
Militar. Segundo a Lei nº 6.400, de 15 de agosto, o efetivo da
Corporação estava orçado em 16.200 integrantes. Destes,
segundo o mapa de efetivo da Diretoria de Pessoal de outubro de
2003, dezesseis eram coronéis do Quadro Combatente, todavia,
existiam dezoito, sendo dois excedentes.
Embora a previsão fosse para 10.068 soldados
combatentes, a Corporação inteira só contava com 4.355. Em
termos proporcionais, a maior carência estava no posto de 2º
tenente: eram 350 vagas, existindo apenas 34 oficiais nesse
posto, ou seja, menos de 10%.
A PMAL teve sua organização básica novamente alterada
em 2003, com o advento da Lei nº 6.399, de 15 de agosto. Foi
criada a 4ª Companhia de Polícia Militar Independente (4ª CPM
I), sediada em Atalaia.

193
Capítulo 22

A Polícia Mais Cidadã do Brasil


PMAL ganha prêmio de Direitos Humanos
O Centro de Gerenciamento de Crises
é exemplo nacional

B
rasil, 2003. Luís Inácio Lula da Silva toma posse como
presidente da nação no começo do ano. Político de
reputação esquerdista, Lula era oriundo do proletariado
e afeto aos movimentos sociais. A cerimônia de sua posse ficou
na história quando o povo – mais de 150 mil pessoas – tomou
a Esplanada dos Ministérios e, quebrando o protocolo, muitos
mergulharam no espelho d’água dos jardins, jogando água,
inclusive, nos policiais.
A corrente de pensamento baseado no equilíbrio de contas
e no “economês” do Fundo Monetário Internacional, defendida
por Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula, parecia
estar deixando o palco principal das metas do Governo Federal.
Lula afirmou, em seu discurso de posse, que daria ênfase à ação

195
Silvio Teles

social durante seu mandato, alegando que era o povo – e seu


bem estar – a razão de se estar governando um país.
Desde 1999, os movimentos sociais estavam em permanente
embate com o Governo Federal, exigindo a prometida, há
anos, reforma agrária. As invasões de propriedades, urbanas e
rurais, eram constantes e as polícias militares dos Estados eram,
frequentemente, acionadas para executarem ordens judiciais de
reintegração de posse.
Em Alagoas, segundo o relatório do Centro de
Gerenciamento de Crises, somente no ano de 1999, foram
executadas 87 reintegrações de posse, todas em imóveis rurais e
sem emprego da força física. No ano de 2000, 108 propriedades
rurais foram devolvidas aos seus proprietários, utilizando-se
apenas a negociação.
Com a proximidade das eleições, no ano de 2001, a luta
dos movimentos rurais foi intensificada e, em Alagoas, ainda
de acordo com o relatório, 193 mandados de reintegração de
posse foram cumpridos, sendo 60 rurais e 133 urbanos, todos
sem emprego de força física. No ano seguinte, 2002, foram 146
reintegrações, (18 urbanas e 127 na zona rural). Apenas uma
com emprego de força policial.
Portanto, em quatro anos, das 534 ações do Centro de
Gerenciamento de Crises da PMAL, somente uma necessitou
o uso efetivo de equipes policiais armadas. Em números
percentuais, 100% das ações obtiveram êxito e, destas, 99,8%
foram resolvidas apenas com o uso de técnicas de negociação.
Em todos os cumprimentos dos mandados, o Centro
de Gerenciamento de Crises, além de conseguir a saída dos
ocupantes, estabeleceu um calendário de atendimento com
o Governo do Estado e os órgãos de política agrária, visando
negociar metas para o assentamento dos ocupantes.

196
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Gerenciamento de Crises em atuação, 2002

A ação destacada do Centro de Gerenciamento de Crises foi


notícia nos principais meios de comunicação do Estado e do Brasil
e rendeu à PMAL o prêmio “Direitos
Humanos” de 2003 – honraria do
Governo Federal, criada em 1995, e
outorgado pelo presidente da República.
A solenidade ocorreu no dia
10 de dezembro de 2003, no Palácio
do Planalto, com as presenças do
presidente do Brasil em exercício, José
Alencar, do ministro da Casa Civil, José
Dirceu, e do presidente do Supremo
Tribunal Federal, ministro Maurício
Corrêa. À época, dirigia o Centro de
Gerenciamento de Crises o tenente-
coronel Adilson Bispo dos Santos.

197
Capítulo 23

As Reformas Salarial e
no Sistema de Ensino
Novas leis, antigos problemas
O subsídio e os novos cursos para a carreira das praças

A
lagoas, 2004. O sistema de remuneração dos militares
de Alagoas é alterado. Os salários, que eram a soma de
componentes como o soldo, abono família, diárias de
operacionalidade, gratificação de tempo de serviço e gratificação
de habilitação, foram transformados em subsídio único, conforme
previa a Constituição Federal.
Pelo anexo da Lei nº 6.456, o salário bruto de um coronel
com 35 anos de serviço chegava aos R$ 6.771,82. Um 2º tenente,
posto inicial da carreira de oficiais, tinha um salário bruto de R$
1.750,44. Referente às praças, um subtenente com 20 anos de
serviço teria direito, mensalmente, a R$ 1.854,16, brutos. Já um
soldado recém formado fazia jus a R$ 809,96 mensais brutos.

199
Silvio Teles

A princípio, parecia ter havido ganho salarial. Na verdade,


os salários continuaram no mesmo patamar, já que, com o
subsídio único, o imposto de renda e a previdência social dos
militares, que antes incidiam sobre parte do salário, passaram a
ser calculados sobre o valor total.
No ano seguinte, foi a vez de o sistema de ensino da
Corporação sofrer modificações. A Lei nº 6.568, de 6 de janeiro,
trouxe algumas inovações.
Ao nível de oficiais, a novidade foi o reconhecimento do
Curso Superior de Polícia (CSP) e Curso de Aperfeiçoamento
de Oficiais (CAO) como pós-graduações. Consequentemente,
ficavam enquadrados no nível de graduação, como licenciatura
plena, o Curso de Formação de Oficiais (CFO) e o Estágio de
Adaptação de Oficiais (EAO). O Curso de Habilitação de Oficiais
(CHO) foi classificado como licenciatura curta.
A transformação maior ocorreu nos cursos ao nível de praças.
A Corporação passava a ter o Curso de Formação de Praças (CFP),
que possibilitava a seu concluinte a ascensão até a graduação de
2º sargento. Em outras palavras, estavam extintos os Cursos de
Formação de Soldados (CFSd), Cabos (CFC) e Sargentos (CFS). O
CFP, considerado profissionalizante, era suficiente.
Para a promoção às graduações de 1º sargento e
subtenente, foi criado o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos
(CAS). E, para os soldados já formados, cabos e 3º sargentos
existentes, a lei criou o Curso de Formação Complementar de
Praças (CFCP).
A primeira turma do CFP foi realizada em fevereiro de
2007 com um alunado de, aproximadamente, mil soldados,
aprovados no concurso público do ano anterior. A formação foi
descentralizada, havendo pólos no CFAP, no Batalhão de Rádio
Patrulha (BPRp), no Batalhão de Operações Policiais Especiais e

200
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Ascom PMAL

Conclusão do Curso de Formação Complementar de Praças, 2006

no Regimento de Polícia Montada, esses em Maceió. No interior,


o 3º BPM, em Arapiraca, foi também pólo de formação.
Ascom PMAL

Figura 066

O curso foi concluído em 25 de agosto de 2007 e a solenidade


de formatura fez parte da Semana do Soldado, realizada pela
PMAL em comemoração ao aniversário de nascimento do Duque
de Caxias.

Alunos do Curso de Formação de Praças, 2006

201
Capítulo 24

A Polêmica das Promoções


Lei confusa obstaculiza as promoções na PMAL
Promoções deixam de ser mérito pessoal e
viram briga judicial

A
lagoas, setembro de 2004. Ainda no governo de Ronaldo
Lessa, entra em vigor a conturbada Lei nº 6.514, dispondo
sobre os critérios e as condições de promoção dentro da
PMAL. Segundo o coronel José Rubens Goulart, à época, Chefe
do Estado Maior Geral da PM, as novas regras desagradaram
à maioria dos integrantes da Corporação, criando condições
de promoção subjetivas, desvalorizando a atividade fim da PM
(policiamento ostensivo) e provocando interpretações dúbias. “A
lei trouxe problemas sérios para a PMAL, sobretudo pelo número
de ações judiciais ajuizadas por militares”, informou o coronel.
Entre outras distorções, a lei criou o critério “escolha” para a
promoção de oficiais, a partir do posto de major, no absurdo índice
de um terço das vagas. Traduzindo, de cada três novos majores da

203
Silvio Teles

Corporação, um seria de livre escolha do governador do Estado,


desconsiderando o histórico e a contribuição efetiva do oficial para
a instituição. A situação piorava para o último posto de oficiais,
quando a relação era de dois coronéis “escolhidos”, em cada cinco,
superando, inclusive, o critério de antiguidade (que era de um, em
cada cinco). A “escolha”, como critério de promoção, foi considerada
uma forma graciosa para se “arrumar” promoções na PMAL.
No critério de merecimento, a lei priorizou os cursos
realizados pelos policiais militares e a execução da atividade
de instrução em unidades de ensino. Isto é, pela lei, o policial
militar que tivesse mais cursos e maior dedicação à atividade de
docência estaria mais apto à promoção.
Essa majoração da atividade de ensino, tanto na docência,
quanto na condição de discente, provocou, em muitos oficiais
e praças, uma corrida à procura de cursos de toda espécie e
natureza, dentro e fora do Estado. O objetivo era que tais cursos
fossem fontes de “pontos” para a promoção.
A Academia de Polícia Militar e o CFAP que, até 2003, tinham
dificuldades em recrutar instrutores militares para lecionar nos
cursos regulares da PMAL, depois da vigência da lei, tiveram que fazer
seleção entre os candidatos. É o que assegura o 1º tenente Manoel
Acácio que, em 2003, era cadete do 3º ano do Curso de Formação
de Oficiais. “Tivemos um período em que assistimos muitos a vídeos
educacionais, por falta de instrutores militares”, confirma o oficial.

A lei das duplas interpretações


Dúvidas contrapõem entendimentos da PGE e Judiciário

Os requisitos para pontuação e decorrente promoção


geraram insatisfação em grande parte da tropa ao se mostrarem
pouco abrangentes e discriminantes.

204
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Por exemplo, um policial militar lotado em Delmiro Gouveia


ou em Maragogi, na prática, estaria impedido de ser instrutor
nos cursos regulares da Corporação pela distância entre seu
batalhão e as unidades de ensino da PMAL (todas em Maceió).
Aumentando os reclames, a atividade de policiamento ostensivo
não recebia, pela nova Lei de Promoções, qualquer incentivo.
A lei, com suas diversas interpretações, permitiu que
os militares que haviam sido instrutores, mesmo antes de sua
vigência, achassem-se no direito de requerer a pontuação
conferida pelo diploma legal.
Esse foi um dos principais pontos de dubiedade da nova
lei. Alguns oficiais da Corporação, sentindo-se prejudicados
pela concessão dos pontos pelo exercício da docência anterior
à vigência da lei, propuseram ações judiciais e conseguiram
sentenças positivas nesse sentido, suspendendo a pontuação.
Para o coronel José Praxedes, promovido após sentença positiva
em ação judicial, a lei era falha. “A lei desprezou a isonomia ao
dar méritos sem condições de igualdade e, por isso, a justiça teve
que se pronunciar”, explica o coronel.
Outro foco de dúvida da nova lei dizia respeito aos oficiais
que, antes, haviam sido praças da Corporação. Estava em questão
se os pontos obtidos pelo militar, quando praça, eram válidos
para a promoção enquanto oficiais.
Além desses, o acúmulo dos pontos do Teste de Aptidão
Física (um dos requisitos para se estar apto às promoções) também
criou controvérsias, gerando entendimentos divergentes entre a
Procuradoria Geral do Estado, expresso em seus pareceres, e o
Poder Judiciário, através das liminares dos juízes.
A lei atribuía ponto ao militar que fosse apto no Teste
de Aptidão Física, mesmo que não fosse promovido, por falta
de vaga, por exemplo. Esses pontos, por mera aptidão física,

205
Silvio Teles

acabavam sendo acumulados e quanto mais vezes figurava o


nome do militar nas listas de promoção, mais “apto” à promoção
por merecimento estaria o policial militar. A criação de uma
“antiguidade” no “merecimento” era considerada incabível.
As constantes ações judiciais gerariam um quadro inédito
na PMAL: em fevereiro de 2008, três datas de promoções (as de
3 de fevereiro de 2007 e 2008, e a de 25 de agosto de 2007)
estavam atrasadas. Mesmo as promoções por “antiguidade”,
critério objetivo que se baseia na quantidade de tempo do militar
em seu posto, foram bloqueadas judicialmente.
Em agosto de 2007, as inquietações dentro da PMAL,
relativas às promoções, levaram o secretário de Defesa Social,
general Edson Sá Rocha, a determinar que, ao nível das
associações de classes, um novo projeto de lei de promoções
fosse proposto.
As comissões, formadas pelas associações e por oficiais
da Corporação, debateram o projeto e, no final de setembro,
uma nova minuta foi encaminhada à Secretaria. Em janeiro
de 2008, o novo projeto estava sob a análise do Conselho
de Segurança do Estado, que o enviaria à PGE. Depois o
projeto seguiria para o Gabinete Civil e, por fim, à Assembleia
Legislativa para a votação.
Segundo o capitão Marcos Vanderley, então vice-presidente
da Assomal, o mérito do novo projeto estava, principalmente, na
reformulação dos critérios de promoção. “Abolimos a escolha,
e equiparamos merecimento e antiguidade. No merecimento,
figuram apenas requisitos objetivos, mensuráveis tecnicamente,
que, de modo algum, gerarão dupla interpretação”, argumentou
o militar.
(Nota: No final de julho de 2009, o projeto foi discutido
no Conselho de Segurança do Estado. A promoção por Tempo

206
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

de Serviço, critério pelo qual o militar, estando próximo da


aposentadoria, era promovido e transferido para a reserva
remunerada, foi derrubada pelo órgão deliberativo. O voto do
conselheiro coronel Luciano Antonio da Silva foi o único, dos
onze, pela manutenção da promoção por Tempo de Serviço. O
comando geral da Corporação posicionou-se contra a decisão
do Conselho de Segurança. Do mesmo modo, as associações de
classe demonstraram, através da mídia, sua insatisfação).

207
Capítulo 25

A Crise de 2007
A briga dos salários
A equiparação salarial aos delegados de polícia

A
lagoas, novembro de 2005. Depois de um processo de
articulação ao nível das associações de classe militares, o
Governo do Estado (sob o comando de Luís Abílio, devido
ao afastamento de Ronaldo Lessa, candidato ao Senado) decide
conceder reajustes salariais aos militares na ordem de 14% para
soldados e cabos, 11% para sargentos e subtenentes e 9% para
oficiais até o posto de capitão.
De acordo com o capitão Marcos Vanderley, então vice-
presidente da Associação dos Oficiais, o acordo feito entre as
associações e a equipe de governo, liderada pelo Secretário de
Administração, Valter Oliveira, consistia em distribuir o recurso
disponível para o aumento entre os militares, apenas de soldado
até capitão. “Os oficiais superiores esperariam até 2006 para
receberem seu aumento”, informou o capitão Vanderley.

209
Silvio Teles

A proposta para os oficiais superiores seria a equiparação aos


delegados de polícia civil, considerada pouco provável de ocorrer.
Somente em 27 de março de 2006 é publicada a Lei nº 6.698
que concedia os reajustes, nos salários dos policiais militares,
da graduação de soldado ao posto de capitão, acertados em
novembro do ano anterior, com retroatividade a janeiro de 2006
e reindexados a partir de maio.
Poucos dias depois, em abril de 2006, para a surpresa de
toda a Corporação – inclusive de muitos oficiais superiores – foi
publicada a Lei nº 6.715, concedendo reajustes que variavam de
53,7% para coronéis e 88,5% para majores, numa comparação
direta com a Lei nº 6.698. A lei de abril de 2006 teria efeitos
práticos a partir do mês de julho daquele ano.
Em termos brutos reais, o salário de um major com
quinze anos de serviço pulou de R$ 4.092,65 para a cifra de
R$ 7.310,90. O tenente-coronel Carlos Alberto Mendonça foi
um dos surpreendidos. Segundo ele, há muito se trabalhava a
política salarial da Corporação sem haver ganho real. “O reajuste
pegou todo mundo de surpresa, porque ninguém esperava por
valores tão significativos”, confessou Mendonça.
Nos quartéis, a tropa se dizia insatisfeita, alegando
que o aumento para os oficiais superiores era absurdamente
desproporcional. A ponta da linha da PMAL (soldados, cabos,
sargentos e tenentes) ameaçou cruzar os braços, esperando que o
comando geral, à época exercido pelo coronel Acírio do Nascimento,
se posicionasse em favor do que eles chamavam de “isonomia
salarial” (proporcionalidade dos salários dentro da mesma classe).
As associações militares de praças, que, de início, não cre-
ram na equiparação salarial com os delegados, passaram a arre-
gimentar forças para requerer o direito à isonomia. Já na Associa-
ção dos Oficiais, mesmo com os esforços da diretoria para evitar

210
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

desligamentos, alguns tenentes


e capitães desassociaram-se,
alegando não se sentirem re-
presentados pela entidade. Foi
o caso do capitão Manoel Bar-
celos, que pediu seu desliga-
mento do órgão. “Deixei de fa-
zer parte da Assomal porque na
hora em que eu precisava ser
representado, ela, que existe
pra isso, não o fez”, desabafou
o capitão.

O Decreto nº 3.555/2007
A suspensão dos reajustes
salariais do servidores
públicos

Em janeiro de 2007, um
fato acirrou, decisivamente, os
ânimos entre a PMAL, diversos
setores do funcionalismo pú-
blico e o Governo do Estado.
Doze dias depois de empos-
sado, o governador Teotônio Vilela Filho – que, surpreendente-
mente, havia vencido as eleições de 2006, em 1º turno, derro-
tando o deputado Federal João Lyra – editou o Decreto nº 3.555,
suspendendo os efeitos dos atos normativos que, desde março
do ano anterior, haviam concedido reajustes aos funcionários
públicos de Alagoas. Sua alegação principal era o cumprimento
à Lei de Responsabilidade Fiscal, no tocante à folha de pessoal.

211
Silvio Teles

Segundo uma auditoria feita pela equipe de transição do


Governo Estadual, Alagoas havia herdado das gestões Lessa e
Abílio uma dívida da ordem de R$ 410 milhões.
Entre as categorias afetadas, estavam servidores da
Educação (diretores, professores e agentes administrativos), da
Saúde (médicos, enfermeiros e auxiliares) e da Segurança Pública
(policiais militares, civis e bombeiros).
O decreto vetava, também, no âmbito da administração
pública estadual, a prática de qualquer ato do qual decorresse
aumento de despesa com pessoal, como contratações, por exemplo.
Ficava, a partir de então, proibida a realização de qualquer concurso
público, de licitações e foram vedados os gastos com publicidade.
Na PMAL, o clima era misto. A tropa, que não havia engolido a
equiparação com delegados (restrita aos oficiais superiores) afirmava
que o decreto seria sentido apenas pelos coronéis, tenentes-
coronéis e majores. Nos bastidores, havia até certa comemoração.
No dia 16 de janeiro, o comandante geral da PMAL, coronel
Rubens Goulart, reuniu os oficiais da PMAL na sede da Associação
Ascom da PMAL

Em assembleia, Oficiais decidem o rumo das negociaçoes, 2007

212
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

dos Oficiais para declarar seu posicionamento. O comandante


afirmou que tentaria “abrir um canal de negociação” com o
Governo, no sentido de reverter aquela situação. Mas foi enfático
ao dizer que se, em breve, não houvesse resposta do Executivo,
decretaria o aquartelamento da tropa. Daquele dia até a solução
do problema, foi instalada uma assembleia permanente.
Os policiais civis entraram em greve em 17 de janeiro,
cinco dias depois da edição do decreto. A greve da PC provocou
a suspensão de todos os serviços das delegacias, inclusive as
prisões por flagrante delito. O Instituto de Identificação foi
fechado e as viaturas da instituição foram entregues à sede da
Secretaria de Defesa Social.
No dia 18, os servidores da Saúde – com exceção dos
médicos – decretaram paralisação geral, tornando caótica a
situação do atendimento médico no Estado. Em assembleia no
Clube Fênix Alagoana, os professores e quase todo o setor da
Educação aderiram à greve.
Nesse mesmo dia, o movimento unificado recebeu o reforço
de ativistas de movimentos sociais agrários e de representantes
de grupos indígenas. A multidão marchou pelo centro de Maceió
e acampou na frente do Palácio República dos Palmares, gritando
palavras de ordem e emitindo ensurdecedor “apitaço”.
A possibilidade de aquartelamento, na PMAL, não foi vista
com bons olhos pela tropa. Os policiais militares não acharam
justo que, pelo corte dos salários de uma pequena parte de
integrantes (dos oficiais superiores), toda a Corporação parasse.
A tropa dizia que o aquartelamento, como forma de
pressionar o Governo a conceder a isonomia total a todos
os policiais militares, havia sido, meses antes, descartada
pelo comando geral. E que, portanto, agora que a cúpula da
Corporação era a única parte afetada pelo problema gerado pela

213
Silvio Teles

suspensão do decreto, o comando geral não poderia usar da


arma que, pouco tempo antes, havia negado. É o que conta o
soldado Nicollas Albuquerque, então membro da Associação dos
Cabos e Soldados da PMAL.
Para amenizar a situação, um acordo verbal entre o
comando geral da PMAL e as entidades de classes dos militares
foi firmado. Pelo acordo, as associações apoiariam o comando
na decisão de aquartelamento, caso não houvesse mudanças
no decreto, e, em contrapartida, o comando geral encabeçaria a
luta pela isonomia dos policiais militares.
Motivada pelo Procurador Geral de Justiça, Coaracy
Fonseca, no dia 23 de janeiro foi realizada uma reunião entre
o governador Teotônio Vilela, o vice, José Wanderley, a equipe
de secretários do Estado e os sindicalistas do movimento
grevista. Após sete horas de discussão, o Governo se decidiu
pela alteração do decreto, continuando a pagar os salários sem
cortes. A exceção se fez ao setor de Educação, cujo aumento
ainda não havia, efetivamente, sido concedido (as parcelas de
reajuste estavam programadas para os anos de 2007 e 2008).
A promessa feita pelo Governo do Estado foi materializada
através da edição do Decreto nº 3.588, de 29 de janeiro, que
alterou o 3.555, e passou a tratar apenas das condições de
concessão do reajuste aos integrantes do quadro do Magistério
Público Estadual.
Os servidores da Educação não concordaram com as
alterações e mantiveram a greve. O sindicado dos policiais
civis (Sindpol) e os movimentos sociais foram solidários aos
professores e declararam apoio à manutenção da greve.
Três dias antes, ciente da intenção do Governo em
alterar o decreto, o coronel Rubens Goulart já havia declarado
praticamente nula a possibilidade de aquartelamento.

214
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

PM requer reajuste proporcional


Apesar da concessão judicial, Estado nega o aumento
aos policiais militares

A alteração do decreto satisfazia a uma pequena parte da


PMAL (os oficiais superiores). Agora, a outra parte (soldados,
cabos, sargentos, subtenentes, tenentes e capitães) desejava
ser beneficiada com o reajuste salarial no mesmo índice ao
concedido no ano anterior aos oficiais superiores.
Em fevereiro de 2007, as entidades de classes se reuniram
com comandante geral, coronel Rubens Goulart, informando-
lhe que estariam, a partir daquele momento, discutindo
com o Governo a concessão do reajuste salarial, solicitando a
intercessão do comando, que se mostrou favorável ao pleito.
A negociação se prolongou durante os meses de fevereiro e
março. A tropa estava insatisfeita com o impasse e não acreditava
que alguma solução benéfica aos militares fosse alcançada.
Os rumores de que estava faltando um posicionamento mais
decisivo do comando espalharam-se pelas unidades e um
princípio de revolta começou a se formar.
Ainda em março, a Associação dos Cabos e Soldados havia
ganhado o direito, numa ação judicial concedida pelo juiz Klever
Loureiro, da Fazenda Pública Estadual, de reposição salarial
com o índice de 88,54%. O Governo, através do secretário de
administração, Adriano Soares, alegou falta de recursos para
cumprir a ordem da justiça.
Na primeira quinzena de abril, os indicativos de um
aquartelamento por parte das praças eram perceptíveis. As
associações articulavam-se para o movimento de paralisação
geral. Muitos oficiais, convocados para reuniões no Quartel
do Comando Geral, foram forçadamente “desaconselhados” a

215
Silvio Teles

participarem de qualquer movimento de aquartelamento. Da


mesma forma, quase mil soldados e cabos, pré-alunos do Curso
de Formação Complementar de Praças (CFCP), foram chamados
ao CFAP e advertidos a não aderirem ao movimento.
Nesse episódio, os militares pensaram que iria ser anunciada
a data para o início do curso, uma vez que a inspeção de saúde,
último requisito para ingresso no CFCP, havia sido feita há mais de
um ano. As ameaças feitas foram repudiadas com vaias e com a
saída dos policiais, mesmo sem autorização, da formação militar.

O auge da crise
48 horas de aquartelamento geral

No dia 19 de abril, uma assembleia reuniu, segundo dados


da Associação dos Cabos e Soldados, cerca de mil e quinhentas
pessoas em frente ao Palácio República dos Palmares, protestando
contra o Governo.
Ascom PMAL

Passeata de policiais militares, 19 de abril de 2007

216
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Além dos policiais militares, familiares de servidores


e integrantes de movimentos sindicalistas participaram da
manifestação. Do palácio, os militares seguiram em passeata
pelo centro de Maceió até o Quartel do Comando Geral, onde
pararam e exigiram a presença do comandante geral.
O coronel Rubens Goulart, em discurso aos militares,
ratificou o apoio à reinvidicação, considerando-a justa, mas
condenou o aquartelamento. Os militares, inflamados, passaram
a vaiar o comandante e prosseguiram na marcha.
Horas depois, os líderes das associações das praças, em
assembleia, anunciaram um aquartelamento, com duração de
48 horas, em protesto ao não pagamento do reajuste salarial.
Segundo declaração feita ao site Folha on line, o coronel
Rubens negou o aquartelamento, afirmando que os policiais
trabalhavam normalmente. Entrevistado pelo mesmo site, o
soldado Wagner Simas, presidente da Associação dos Cabos e
Soldados, declarou que os policiais foram para os batalhões e
não saíram para as ruas. Continuou, afirmando que, depois de
ameaçados de serem presos, os militares deixaram os quartéis,
mas não atuaram em atividade de policiamento.
Nessa noite, um caso ganhou destaque na mídia nacional.
Cerca de quarenta policiais do 3º BPM, em Arapiraca, recusaram-
se a trabalhar, permanecendo no quartel. O comandante da
unidade, tenente-coronel Jairo Eloy, cumprindo determinação
do comando geral, mandou autuá-los em flagrante delito pelo
crime militar de recusa de ordem. Depois de acirrada negociação,
os policiais decidiram ir às ruas.
No dia seguinte, 20 de abril, tendo antecipado a
comemoração do Dia de Tiradentes, a PMAL manteve a solenidade
militar, embora algumas frações de tropa escaladas não tenham
comparecido ao evento. O comandante geral ordenou a imediata

217
Silvio Teles

apuração das faltas, solicitando abertura de processo disciplinar.


Do mesmo modo, foi determinado que os policiais que faltassem
ao serviço nas unidades deveriam responder administrativa e
penalmente por seus atos.
À noite, em Arapiraca, a fachada da casa do subcomandante
do 3º BPM, major Reginaldo Rolim, foi metralhada. A suspeita
recaía sobre as praças da unidade, que teriam agido em
represália às estritas determinações passadas pelo major, no
dia anterior, relativas às consequências do aquartelamento.
De acordo com o comando do aquartelamento, o
movimento se encerrou às 19h do dia 21, cumprindo as 48
horas propostas. Mas, segundo os boletins da imprensa local,
o comando geral da Corporação negou ter havido paralisação,
informando que tanto na sexta, 20, quanto no sábado, 21, o
policiamento esteve normal.

A resolução do impasse
Canal de negociação é reaberto e sindicalistas
entram na discussão

Depois da tensão com os militares, o canal de negociação


com o governo foi reaberto. A primeira reunião ocorreu no dia 26
de abril. Nessa segunda fase de reuniões, integrantes da Central
Única dos Trabalhadores (CUT), como o presidente estadual
da entidade, Isack Jackson, estiveram ao lado dos militares,
reforçando o pleito. As discussões ficaram tensas quando se
constatou que os números apresentados pelo Governo, através
do secretário da gestão pública, Adriano Soares, e os mostrados
pela PMAL eram muito divergentes.
O impasse somente foi resolvido em junho, quando os
militares conseguiram, inicialmente, o reajuste de 70%, divididos

218
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Ascom PMAL

Mesa de negociações entre militares, entidades e governo, 2007

em nove parcelas durante os anos de 2007 e 2008. O acordo,


matéria do Decreto nº 6.824, de 13 de julho de 2007, previa
ainda que, em abril de 2008, uma nova mesa de negociação seria
formada para discutir o valor de 7% devidos aos militares e não
contemplados naquele momento e, também, para a definição de
datas-base para reajuste. (Nota: Até dezembro de 2009, nem os
7% restantes, nem as datas-base haviam sido negociados entre a
PMAL e o Governo do Estado).

219
Capítulo 26

Um Retrato em 2008
A estrutura da PMAL
A Lei 6.399/2003

A
lagoas, janeiro de 2008. A estrutura básica da PMAL ainda
era a definida pela Lei 6.399, de 15 de agosto de 2003,
que em 191 artigos delimitava a estrutura, composição e
funcionamento da Corporação. A consolidada árvore organizacional,
baseada em órgãos de Direção, Apoio e Execução, era a vigente.
O Comando Geral (que incluía o Alto Comando e o
Subcomando Geral), o Estado Maior Geral, as Diretorias (pessoal,
finanças, apoio logístico, ensino e saúde), a Ajudância Geral e os
órgãos de assessoramento (Comissões de Licitação, de Promoção
de Oficiais e Praças, de Uniforme, a Corregedoria e o Centro de
Gerenciamento de Crises) formavam a estrutura de Direção.
A arquitetura de Apoio era formada por órgãos de pessoal
(Centro de Assistência Social); órgãos de ensino (Academia de
Polícia Militar, Colégio da Polícia Militar, Centro de Formação

221
Silvio Teles

e Aperfeiçoamento de Praças e o Departamento de Educação


Física); órgãos de apoio logístico (Centros de Suprimento e
Manutenção de Material de Intendência, Bélico, de Obras e de
Subsistência) e órgãos de saúde, entre eles, o Centro Médico
Hospitalar da PM.
Na Execução, estavam o Comando de Policiamento da
Capital (CPC) e suas unidades de área (1º BPM, com sede no
Vergel do Lago; 4º BPM, no Farol; 5º BPM, no Benedito Bentes;
8º BPM, em Rio Largo; e a 3ª Cia Independente, em Paripueira);
(Nota: em novembro de 2009, por força do Decreto Autônomo
nº 4.221, foi criada a 5ª Cia Independente, em Marechal
Deodoro, responsável tembém pela Barra de São Miguel), além
das unidades especializadas (Batalhão de Rádio Patrulha, de
Trânsito, Escolar, de Guardas, de Operações Policias Especiais, de
Eventos e o Regimento de Polícia Montada Dom Pedro I, todas
em Maceió).
No interior, a Execução estava estruturada no Comando
de Policiamento do Interior, divido em três Comandos de
Policiamento Área. O primeiro CPA, com sede em Santana do
Ipanema, possuía duas unidades operacionais (o 7º BPM, em
Santana do Ipanema, e o 9º, em Delmiro Gouveia).
Já o segundo CPA tinha, em sua estrutura, cinco unidades
de atividade-fim (o 3º, 10º e 11º BPM, respectivamente, em
Arapiraca, Palmeira dos Índios e Penedo, e as 1ª e 4ª Companhias
Independentes, na ordem, em São Miguel e Atalaia).
O 6º BPM, em Maragogi, o 2º BPM, em União dos Palmares,
e a 2ª Cia Independente, em Novo Lino, formavam o terceiro
CPA, que tinha sua sede na cidade São Luis do Quitunde.
Os Batalhões de Polícia Rodoviária e de Polícia Ambiental e
a 1ª Companhia Fazendária Independente, embora sediados em
Maceió, integravam a estrutura do CPI.

222
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Silvio Teles

Mapa de Alagoas por unidade operacionais, 2009

Efetivo, armamento, frota e quartéis

O efetivo da Corporação era de exatos 8.295 integrantes,


sendo 701 oficiais e 7.594 praças. O efetivo orçamentário era de
16.200 militares, ainda por força da Lei nº 6.400, de 15 de agosto
de 2003. A população do Estado ultrapassava, segundo os dados
do IBGE, os três milhões de habitantes. Tais números davam ao
Estado a marca de um policial militar para cada 366 pessoas.
Embora não efetivos, compunham o quadro de pessoal da
PMAL, exatos, 73 soldados voluntários temporários, incorporados
por concurso feito em 2005, cujo contrato já havia vencido, mas
que, por força judicial, continuavam na Corporação. O concurso
que os admitiu previa a inclusão de 500 voluntários, mas apenas
170 foram aprovados.

223
Silvio Teles

Quanto à frota, o último lote considerável incorporado à


PMAL datava de 2005. Foram cem veículos de porte pequeno e
motor de 1800 cilindradas. Nos anos de 2006 e 2007, a descarga
de viaturas inservíveis foi compensada com aquisições modestas.
De acordo com o capitão Dogival Viana, chefe do setor de
motomecanização da PMAL, em janeiro de 2008, a frota total era
de aproximadamente 550 viaturas. Destas, apenas 40% estavam
em condições de uso.
Não obstante, nas reservas de armamento das unidades,
ainda existissem os antigos fuzis Mosquefal, as carabinas Puma e
os revolveres calibre 38, as armas padrão da PMAL, desde 2003,
eram pistolas, carabinas e submetralhadoras calibre ponto 40.
Para as Operações Especiais, havia o emprego de munição de
baixa letalidade e equipamentos de proteção de distúrbio civil.
De acordo com o coronel José Praxedes, então diretor
de Apoio Logístico, em janeiro de 2008, todos os batalhões
da Corporação tinham esse tipo de armamento. Sobre coletes
balísticos, ele informou que, num sistema de rodízio, todos os
policiais conseguiam ir às ruas devidamente protegidos.
Acerca de quartéis, o coronel José Praxedes disse que ainda
era uma grande batalha a se resolver. Boa parte das unidades da
PMAL – batalhões, companhias ou grupamentos – era sediada
em prédios impróprios, geralmente alugados e improvisados
para abrigar os policiais. “O Estado precisa rever essa situação.
A atividade da PM requer imóveis específicos, que atendam
necessidades operacionais”, advertiu Praxedes.
As unidades não possuíam autonomia orçamentário-
financeira, ou seja, não dispunham de verbas próprias de
custeio para compra de material permanente, de expediente e
alimentação. Na prática, isso representava gastos desnecessários
para a administração pública. Por exemplo, a alimentação que

224
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

era disponibilizada para o 9º BPM, em Delmiro Gouveia, tinha


que ser apanhada em Maceió, semanalmente. Estimava-se
que se gastava mais com o combustível e com a manutenção
do caminhão para o transporte do que com a quantidade
de mantimentos transportados. Isso ocorria com móveis,
computadores, etc. “A única exceção se faz ao combustível
para as viaturas, que é fornecido, localmente, pelos postos
conveniados”, informou o diretor.

Ensino, vencimentos e promoções

Na área de ensino, estava em funcionamento apenas o


Curso de Formação de Oficiais (CFO), na Academia de Polícia
Militar senador Arnon de Mello, com 29 cadetes no terceiro ano
e 30, no segundo. O Governo do Estado não havia autorizado o
concurso para a formação de oficias em 2008.
No ano anterior, 2007, além do CFO, funcionaram o
Estágio de Adaptação de Oficiais, que formou 42 oficiais
médicos, fisioterapeutas, dentistas, psicólogos, assistentes
sociais e capelães, aprovados num concurso de 2006, e o Curso
de Metodologia para o Treinamento Físico Policial Militar,
capacitando 25 oficiais da Corporação na área do desporto e
educação física para atividades policiais militares.
No CFAP, depois da conclusão do Curso de Formação de
Praças, em agosto de 2007, havia uma expectativa que a reserva
técnica do último concurso público – do ano de 2006 – fosse
convocada. Iminente, também, era a realização do Curso de
Formação Complementar de Praça, cujas etapas de admissão
tinham se iniciado em 2006. (Nota: o CFCP ocorreu em 2009,
capacitando mais de dois mil cabos e soldados e, até dezembro
de 2009, a reserva técnica não havia sido chamada).

225
Silvio Teles

Desde 1998, a Corporação contava com equipes de policiais


militares, vinculados ao Colégio da Polícia Militar e ao BPEsc, agentes
do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência
(PROERD). Esses agentes eram responsáveis pela capacitação de
crianças da 4ª série das escolas das redes pública e privada no
combate aos entorpecentes e aos atos de violência. Em dez anos de
existência, o programa havia capacitado quase 40.000 crianças nas
cidades de Maceió, Arapiraca, Penedo e Santana do Ipanema.
Ascom PMAL

Formatura do Proerd, 2007

No tocante a vencimentos, a PMAL continuava regida pela


Lei do Subsídio – salário em componente único – e estava em
vigência a lei acordada em 2007 pela qual, ao final de 2008, o
salário bruto de um soldado chegaria a R$ 1.700. O teto da PM
estava orçado em R$ 11.500,00, brutos.

226
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Quanto às promoções, três datas estavam atrasadas, frutos


da vigência de uma lei cheia de duplas interpretações. Entre os
oficiais, a situação era desgastante. Os aspirantes, cujo tempo para
a promoção a 2º tenente é de seis meses, estavam há mais de um
ano esperando por uma promoção líquida e certa, inclusive, com a
existência de vagas. “Torcemos para que esta lei seja, o mais breve
possível, revogada”, desabafou o aspirante Moisés do Nascimento.

Uniformes e medalhas

Em 2006, os
uniformes da PMAL
sofreram uma leve
alteração. O Decre-
to nº 3.483 alterou
o Regulamento de
Uniformes, vigente
desde 1991, fazen-
do, entre outras, as
seguintes modifica-
ções: boina preta,
em lugar do gorro
cinza de pala; luvas
de ombro e platinas
pretas, substituindo,
respectivamente, as
luvas de ombro cinza
e as insígnias de gola,
para subtenentes,
aspirantes-a-oficial, cadetes e oficiais; e cinto de lona preta, em
lugar do cinza.

227
Silvio Teles

No ano de 2007,
havia sido publicada a Lei
nº 6.804 que criou e reno-
vou diversas honrarias na
PMAL. A lei criou, também,
o Conselho Permanente de
Medalhas para gestão de
concessão dessas conde-
corações. Entre as criadas,
destacavam-se as meda-
lhas do Mérito Operacional
“Marechal Floriano Peixo-
to”, do Mérito Intelectual
“Graciliano Ramos” e a da “Cruz de Combate”. Foi renovada a mais
alta condecoração da PMAL, a medalha do Mérito Policial Militar
“Tiradentes”. Esta última, a partir da vigência da lei, somente po-
deria ser concedida a policial militar de Alagoas, com mais de 20
anos de serviço e comprovados préstimos à instituição. Ao contrá-
rio do antigo diploma legal, a nova lei definia que as medalhas só
poderiam ser concedidas a membros da Corporação, com exceção
feita à Medalha do Mérito Institucional “Zumbi dos Palmares”, úni-
ca concedida pelo governador do Estado, destinada a homenagear
personalidades civis.
(Nota: até dezembro de 2009, o decreto que regulamentava
a lei não tinha sido publicado e, havia mais de dois anos, a PMAL
não concedia qualquer tipo de honraria oficial a seus integrantes).

Força Nacional e Missão de Paz

Cerca de 80 policiais militares de Alagoas, em 2008, estavam


fora do Estado, a serviço da Força Nacional de Segurança. Esse

228
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

projeto, criado em 2004 pelo Governo Federal, visou à formação


de uma força de segurança, composta por policiais militares dos
diversos estados federados, com a intenção de estarem aptos
ao pronto emprego em casos considerados extremos, sob a
coordenação federal.
Em quatro anos, a PMAL havia participado de 26 das 28
edições das Instruções de Nivelamento da Força Nacional,
formando 25 oficiais e 200 praças. O primeiro emprego da PM
de Alagoas, pela força, se deu no Maranhão, em 2006.
Domínio Público

Força Nacional de Segurança Pública, 2008

No mesmo ano, o Rio de Janeiro viveu momentos de


verdadeira guerrilha, com tomadas de quartéis e incêndio de
bases policiais. A Força Nacional foi requisitada e atuou na capital
fluminense. Em 2007, por ocasião dos Jogos Pan-americanos,
também no Rio, policiais militares de Alagoas, integrantes da
Força Nacional, foram deslocados para a cidade, permanecendo
até o começo do ano de 2008.
Também fora do Estado, em Missão de Paz pelas Nações
Unidas, em janeiro de 2008, estava o major Rhonady Oliveira. O
militar fazia parte das forças da ONU, em Kosovo, na Ásia. O país,

229
Silvio Teles

que vivia sob a administração da ONU desde o fim da guerra, em


1999, ainda não havia conseguido que os acordos de paz firmados
fossem cumpridos. As forças de paz, como a da PMAL, agiam para
consolidar o sistema de governo e a soberania de Kosovo.

Avançando a tropa
A resposta da PMAL à onda de violência contra os
integrantes da Corporação

Entre dezembro de 2007 e janeiro de 2008, quatro policiais


militares foram mortos, em Maceió. Esse fato colocou a polícia
militar nas principais manchetes dos veículos da imprensa
de Alagoas. Os meios de comunicação chegaram a publicar a
existência de uma tabela de preços, divulgada por traficantes
do bairro do Clima Bom, na capital alagoana, para execução de
integrantes da Corporação. A capa do jornal Gazeta de Alagoas,
edição de 19 de janeiro de 2008, estampava a matéria sobre
os preços para se matar soldados, cabos e oficiais da PMAL,
variando, segundo a reportagem, entre R$ 6 mil e R$ 9 mil. A
matéria dizia ainda que a informação da existência desta tabela
teria sido conseguida através do serviço de inteligência da PMAL.
Devido a este fato, o comandante geral, coronel José
Rubens Goulart, em menos de duas semanas, concedeu
dezenove entrevistas à imprensa, negando a real existência de
quaisquer tabelas de preço. “São apenas especulações sem
nenhuma sustentação. A população e os policiais militares
devem estar sempre atentos à segurança pessoal mais sem clima
de terrorismo”, assegurou o comandante geral.
As investigações sobre as mortes dos policiais mostraram
não haver conexão entre os homicídios, nem o envolvimento
da Polícia Militar com organizações criminosas, como a

230
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

imprensa chegou a cogitar. “No máximo, em um caso, há o


envolvimento do policial militar com más companhias, que
teria resultado em sua morte”, justificou o coronel Rubens,
referindo-se ao caso da sargento Iara Laura, morta a tiros, na
Levada, no dia 15 de janeiro.
Das quatro mortes de policiais militares, apenas a do tenente
Antônio Ângelo, no dia 30 dezembro de 2007, foi consequência
da atividade policial militar. No dia anterior, o oficial, que fazia
parte do 4º BPM, tinha participado de uma operação na área do
Clima Bom, desagradando a traficantes do bairro.
Já o assassinato do soldado Dayve Cavalcante, do 5º BPM,
ocorrido no dia 20 de dezembro, foi motivado pela atividade
extra que o PM desenvolvia como segurança de uma boate, no
bairro de Jaraguá. “Dayve foi vítima de uma série de coincidências
desagradáveis: a bala que o atingiu conseguiu perfurar uma
porta de madeira, atingir seu abdômen, tendo passado a dois
centímetros do colete balístico que ele usava, desviar-se dos ossos
da bacia e ferir a reservada veia ilíaca, provocando a hemorragia
que o levaria a morte, cinco horas após o disparo”, relatou o
tenente-coronel Erivan de Lima, comandante do ex-policial.
Face à sensação de insegurança causada pela difusão das
notícias das mortes dos policiais militares, operações foram
colocadas em execução, objetivando reduzir os índices de
criminalidade em Alagoas. Só em Maceió, além dos quinhentos
homens para o policiamento rotineiro utilizados, diariamente,
houve um reforço de duzentos policiais militares. Esse número
extra foi bem maior no interior. De acordo com o coronel Rubens,
existiam insatisfações, mas a Polícia Militar respondia sempre as
afrontas à sociedade alagoana com trabalho e esforço ilimitado.
“Nosso trabalho envolve, se preciso, doar vidas para salvá-las e
isso é feito diariamente”, conclui o comandante.

231
Silvio Teles

Ascom PMAL

Operação da PMAL, Subúrbio de Maceió, 2008

Ascom PMAL

Policiamento ciclistico, Orla de Maceió, 2008

232
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Ascom PMAL

VEM VER A BANDA TOCAR


Ascom PMAL
Batalhão de Operações Policiais Especiais, 2008

Programa Vem ver a banda tocar, 2007

O projeto Vem Ver a Banda tocar que, todo domingo,


era apresentado pela Polícia Militar de Alagoas, na
Orla de Ponta Verde, em Maceió, foi fruto da idéia do
então 1º tenente PM Maxwell Santos, à época, Diretor de Di-
fusão Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas
e data de 1988, no governo de Fernando Collor.
A forma inicial do projeto previa a apresentação das
bandas de músicas oficiais do Estado em pontos do Centro de
Maceió, dos bairros e da Orla Marítima. Foi extinto em 1990.
Em janeiro de 1999, o projeto foi retomado, no âmbito da
PMAL, sob a coordenação do, agora, capitão Maxwell Santos,
seguindo orientação do coronel Ronaldo dos Santos, que desde
janeiro daquele ano comandava a Corporação.
Naquele ano, o Vem Ver a Banda Tocar se apresentava,
às terças e quintas-feiras, nos bairros de Maceió, às sextas, no
centro da cidade e, aos domingos, na praia, como atualmente.
“O programa nasceu com o objetivo de aproximar polícia mili-
tar e comunidade... e conseguiu!”, afirma Maxwell.
Em 2009, o programa continuava a se apresentar, reli-
giosamente, aos domingos, sendo coordenado pela Assesso-
ria de Comunicação.

233
Capítulo 27

A Era dos Tenentes-coronéis


Os comandos interinos e a extinção dos “cardeais”
Crise na segurança pública determina renovação do
ciclo do oficialato superior na PMAL

A
lagoas, início de 2008. Os primeiros meses do ano regis-
tram índices alarmantes na Segurança Pública do Estado.
Somado a isso, o Mapa da Violência 2007 do Ministério
da Justiça trouxe dados que mostravam a capital alagoana numa
das piores situações do Brasil em termos de segurança pública.
De acordo com o estudo, Maceió era a campeã nacional de
homicídios, em termos proporcionais. A cidade alcançou a im-
pressionante marca de 104 assassinatos para cada 100 mil pes-
soas, média bem maior que as duas maiores metrópoles do País
– Rio de Janeiro (37,7) e São Paulo (23,7) – e mais alta que até
então líder, Recife, que ficou com o índice de 90,9.
Mesmo em números absolutos, apesar de não ser uma das
cidades mais populosas do Brasil, Maceió se encontrava na sexta

235
Silvio Teles

posição, com 899 assassinatos em apenas um ano. O mapa regis-


trava, ainda, um crescimento de 30% anual entre 2003 e 2006.
Essa situação obrigou o governador do Estado, Teotônio
Vilela Filho, a destituir o impopular – e de imagem desgastada
– General Edson Sá Rocha, secretário de Defesa Social, deixando
no cargo, interinamente, o coronel da reserva da PMAL Ronaldo
dos Santos. A promessa era que o governador traria uma equipe
completa de fora do Estado para gerir a segurança pública.

O novo dono da pasta de Segurança Pública


A “carta branca” para reduzir os números negativos

No dia 25 de março, numa cerimônia que contou com a


presença do então ministro da Justiça, Tarso Genro, o delegado
aposentado da Polícia Federal Paulo Rubim foi nomeado para o
cargo de secretário da Defesa Social de Alagoas. Em suas mãos, a
missão de reverter os indicadores negativos que o Estado, men-
salmente, insistia em aumentar.
A imprensa local noticiou que o novo secretário teria “car-
ta branca” para fazer as modificações, inclusive de pessoal, que
achasse necessárias para a reversão do quadro de violência.
Para a direção geral da Polícia Civil, o secretário designou o
delegado Marcílio Barenco, que ocupava a corregedoria geral da-
quela instituição. Já para os policiais militares, a indicação recaiu
sobre o tenente-coronel Dalmo Sena que, por impedimento de
hierarquia militar (não era coronel, último posto da corporação),
não pôde assumir, imediatamente, o cargo.
Se na Polícia Civil o clima de descontentamento entre os
delegados foi enorme (Barenco era um dos delegados mais jo-
vens e com menor tempo de serviço), na Polícia Militar a divul-
gação de que um tenente-coronel teria sido indicado ao posto

236
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

maior da Corporação foi recebida com certa arrogância, pelos


coronéis existentes, e com descrédito, pelo resto da tropa. Além
disso, Dalmo Sena era um oficial muito pouco conhecido na Cor-
poração. O segundo homem da PMAL, também indicado por
Paulo Rubim, foi o também tenente-coronel Dário Cesar Barros
Cavalcante.

A “guerra” das gemadas


A ruptura que provocou uma revolução interna

A essa época, comandava a PMAL o Coronel José Rubens


de Freitas Goulart, que detinha um bom conceito perante as pra-
ças e oficiais. Corria-se, à boca miúda nos quartéis, que a indica-
ção do nome de Rubens Goulart para o comando geral, no início
do governo de Teotônio Vilela, havia sido iniciativa do próprio
Dário Cesar, mas que, devido à divergência de pensamentos, a
suposta amizade e o bom relacionamento profissional entre os
dois oficiais havia se desfeito.
O fato principal da ruptura entre os dois foi a não concor-
dância de Dário Cesar com a indicação do coronel Nerecinor
Sarmento para o cargo de subcomandante geral, pretensão de
Rubens Goulart. O tenente-coronel era contrário, ainda, à ex-
pressa vontade dos coronéis da PMAL de não se aposentarem,
mesmo muitos beirando o tempo limite de permanência na ati-
va da Corporação. Dário passou a ser considerado “inimigo” do
Alto Comando.
Iniciou-se uma guerra interna na PMAL. De um lado, co-
ronéis como Adroaldo Goulart, Marcos Cardoso Brito, Joca Pi-
mentel e Nerecinor Sarmento, lutando para permanecerem na
ativa da PMAL, mesmo já se aproximando dos 35 anos de efetivo
serviço, e, do outro, o tenente-coronel Dário César, defensor de-

237
Silvio Teles

clarado da necessidade da aposentadoria dos então “cardeais”.


Nesse período, os oficiais do último posto gozavam de imagem
maculada ante a mídia e a sociedade, sendo indicados como os
causadores do caos dentro da PMAL.
Um dos incidentes desta batalha se deu quando os co-
ronéis Adroaldo Goulart e Marcos Brito, apoiados pelo então
Deputado Estadual Cícero Amélio, conseguiram que fosse lido,
no plenário da Assembleia Legislativa do Estado, um projeto de
lei que alterava o Estatuto dos Policiais Militares, cancelando
a averbação do tempo de serviço dos militares que haviam re-
querido e gozado tal privilégio. A “desaverbação” do tempo de
serviço era um artifício legal para que os cardeais continuassem
na ativa da PMAL.
Extremamente bem articulado, Dário Cesar contra-ata-
cou. Numa proeza política, o tenente-coronel reuniu o líder
do Governo, Deputado Alberto Sextafeira, e o líder da opo-
sição, Deputado Judson Cabral, além do Deputado Paulão do
PT. Nessa reunião, Dário Cesar demonstrou a inconstitucio-
nalidade do projeto de lei que alterava o Estatuto e foi capaz
de convencer os parlamentares da nocividade, para a Corpo-
ração e, assim, para o Estado de Alagoas, da proposta apre-
sentada pelo Deputado Cícero Amélio. Do encontro, surgiu o
compromisso dos parlamentares de não apoiarem a preten-
são legislativa.
Contudo, o ponto mais alto do embate se deu numa das
sessões do Conselho Estadual de Segurança Pública, órgão cole-
giado deliberativo formado por juízes, promotores, defensores
públicos, oficiais da polícia militar e delegados da polícia civil. Na
reunião, Dário Cesar e Adroaldo Goulart, cada um defendendo
seu ponto de vista quanto à renovação, ou não, da cúpula da
PMAL, expuseram os motivos para convencerem o órgão. Não

238
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

houve vencedor, mas a discussão fez ruir o temor aos oficiais do


último posto. Dário Cesar chegou a ser ameaçado de receber pu-
nição disciplinar.
Pouco tempo depois, o coronel Rubens Goulart foi cha-
mado pelo secretário de Defesa Social. A determinação do se-
cretário era que o comandante geral destravasse o processo
de promoções na Corporação, atrasado há quase dois anos. A
intenção de Paulo Rubim era agilizar a promoção dos tenen-
tes-coronéis Dalmo Sena e Dário Cesar para a assunção do co-
mando geral da PMAL. Não concordando com as imposições
postas pelo secretário, Rubens Goulart renunciou ao cargo de
comandante geral. Em seu lugar, assumiu o coronel José Cíce-
ro Tenório Padilha, investido interinamente e, segundo noti-
ciou a imprensa, com a única missão de fazer fluir o processo
de promoções na PMAL. Para o cargo de subcomandante geral
foi escolhido o recém promovido coronel Deraldo Barros de
Almeida, à época, um dos oficiais mais antigos e respeitados
da Corporação.
A solenidade de passagem de comando ocorreu no dia 4
de abril de 2008. Na ocasião, o Comando de Policiamento da Ca-
pital, órgão operacional mais importante da PMAL, ficou sob a
responsabilidade do tenente-coronel Dário Cesar, que ocupava,
desde a ruptura com Rubens Goulart, o cargo de assessor mi-
litar chefe da Procuradoria Geral do Estado. O novo comando
da PMAL cumpria uma “sugestão” do Secretário Paulo Rubim ao
colocar Dário Cesar liderando o CPC.
Na condição de comandante do CPC, o tenente-coronel
Dário Cesar fez modificações nos comandos das unidades que
estavam afetas à sua área de atuação, colocando majores e te-
nentes-coronéis modernos (com menor tempo de serviço) no co-
mando de importantes unidades operacionais da Polícia Militar.

239
Silvio Teles

Essa ação, tomada sem o crivo do comando geral, estremeceu as


bases de relacionamento entre Dário Cesar e os coronéis Cícero
Padilha e Deraldo Barros.
Apesar de dar início ao processo de promoções, as for-
tes ingerências do secretário de Defesa Social e do coman-
dante do CPC obrigaram o coronel Padilha a abandonar o
cargo, três meses após tê-lo assumido. O coronel alegou mo-
tivos pessoais. Mais uma vez em caráter interino, o comando
da Corporação foi entregue ao coronel Deraldo Barros, em
17 de julho.

A extinção do “cardinalato”
A PMAL tem seu Alto Comando renovado

O bombardeio da imprensa contra os coronéis que compu-


nham o “cardinalato” foi contínuo. A Procuradoria Geral do Esta-
do começou a emitir pareceres favoráveis à reserva dos oficiais
do último posto.
Em pouco mais de seis meses, dez, dos dezesseis coronéis,
foram aposentados. Consequentemente, inúmeros cargos estra-
tégicos da Corporação, que deveriam ser ocupados por coronéis,
foram preenchidos por oficiais do penúltimo posto. Na prática, a
PMAL estava sendo dirigida por tenentes-coronéis.
No começo de setembro de 2008, somente restava atrasa-
da uma data de promoção: a do último 25 de agosto. Isso por-
que, o Diário Oficial do Estado (DOE) do dia 1º daquele mês pu-
blicou decreto do governador, realizando as promoções relativas
a 3 de fevereiro daquele ano, elevando ao posto de coronel o
tenente-coronel Dalmo Sena Sampaio, com efeitos retroativos.
No dia seguinte, 2 de setembro, Teotônio Vilela o nomeou co-
mandante geral da PMAL.

240
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Ascom PMAL

Solenidade de Passagem de Comando, Assunção do Cel Dalmo Sena, QCG, 11 de setembro de 2008

Ascom PMAL

Novo Comandante da PMAL presta continência à Bandeira Nacional, Solenidade de Passagem de


Comando, QCG, 11 de setembro de 2008

241
Silvio Teles

Praticamente um mês depois, em 10 de outubro de 2008, o


DOE trouxe os decretos governamentais que, além de promover,
por escolha, o tenente-coronel Dário Cesar Barros Cavalcante ao
último posto da Corporação, ascendiam ao coronelato outros
quatro tenentes-coronéis. Entre esses, fez-se notar a promoção
do jovem Luciano Antônio da Silva que contava com menos de
20 anos de efetivo serviço na PMAL quando foi escolhido para o
posto de coronel.
Por sua vez, o DOE de 13 de outubro de 2008, concretizava
a vontade expressa pelo secretário Paulo Rubim quando havia
assumido a pasta da Segurança Pública: o coronel Dário Cesar foi
nomeado subcomandante geral da PMAL.

A dura missão do novo comando


O futuro da corporação entregue às novas mentes

Ficou sob a responsabilidade da nova – e renovada – cú-


pula da PMAL mudar o patamar da instituição que, ante outros
problemas, sofria com a falta de estímulo de seus integrantes,
além de ser alvo dos constantes reclames públicos em virtude
dos altos índices de criminalidade registrados em Alagoas, em
especial por sua capital.
Embora não tenha conseguido dar resposta imediata, de
maneira a fazer reduzir os números ruins da segurança pública
(em 2009, Maceió era apontada como a capital mais violenta do
Brasil), a nova cúpula foi responsável por iniciar uma mudança
decisiva para a história da PMAL.
Era necessário que a PMAL passasse por uma renovação
legislativa. Em menos de um ano, doze propostas de mudanças,
entre projetos de leis e decretos, foram apresentados ao Gover-
no do Estado.

242
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Entre eles, uma mudança radical na estrutura básica da Polícia


Militar, com a extinção do Estado Maior, a criação de novas unida-
des operacionais, o fortalecimento da corregedoria geral e o enxu-
gamento das funções administrativas da Corporação.
Também, foi proposto o primeiro Código de Ética da PMAL,
para substituir o vigente Regulamento Disciplinar. O Código de
Ética previa direitos e deveres dos policiais militares, trazendo,
inovadoramente, transgressões ligadas ao serviço policial militar
enquanto prestação pública, disciplinando os ritos próprios de
apuração das transgressões. O Código de Ética, ainda, extinguia
a prisão administrativa, vigente desde os primórdios da PMAL, e
criava a “suspensão disciplinar”, com prejuízos pecuniários e na
contagem de tempo de serviço.
Foram propostas, ainda, mudanças na Lei de Promoções,
no Estatuto dos Policiais Militares (com a limitação de
permanência de apenas cinco anos para os oficiais do último
posto, dando fluxo às promoções); a criação de um prêmio
produtividade para o serviço operacional; a utilização de
policiais militares aposentados para a guarda de prédios
públicos; um novo regulamento de uniformes e uma lei para
disciplinar a compra e venda de fardamentos das polícias
militar e civil, corpos de bombeiros e agentes penitenciários
no Estado de Alagoas.
No dia do fechamento deste livro-reportagem, os
projetos tramitavam, uns na esfera do Executivo, outros,
no Legislativo, com exceção da Lei da Venda de Uniformes,
aprovada sob o nº 7.108, de 08 de outubro de 2009.
No final de novembro de 2009, a lei que alterava o Estatuto
dos Policiais Militares, conhecida como a “Lei dos Cinco Anos”,
limitando em cinco anos o tempo máximo de permanência do
oficial do último posto da Corporação – desde que já tivesse

243
Silvio Teles

Marco Antônio

Militares acompanhando a votação da “Lei dos Cinco Anos”, Assembleia Legistavia, novembro
de 2009

trinta de efetivo serviço – foi aprovada pela Assembleia Legislati-


va Estadual. A discussão da matéria foi acirrada e durou mais de
duas semanas, com pedidos de vistas e adiamentos regimentais,
todos motivados pelo Deputado Antônio Albuquerque, amigo
dos antigos cardeais da PMAL.
Nesse período, ainda, os jornais noticiavam que parte do
antigo cardinalato da PMAL havia ingressado com recurso, no Tri-
bunal de Justiça de Alagoas, visando retornar à ativa. No portal
da internet do tribunal era possível constatar o pedido. Os plei-
teantes eram os coronéis Antônio Joca Pimentel, Cláudio Ome-
na, Rubens Goulart, Marco Antônio Brito, Nerecinor Sarmento e
Reinaldo Cavalcante.
No dia 9 de dezembro de 2009, a 1ª Câmara Cível do TJ,
composta pelos desembargadores James Magalhães e Tutmés

244
Briosa - A História da Polícia Militar de Alagoas no Olhar de um Jornalista

Airan, e pelo juiz Ivan Britto (que substituía o Desembargador


Washington Luiz, em gozo de licença médica), analisou o pro-
cesso dos coronéis. O desembargador James Magalhães e o juiz
Ivan Luiz, ligados aos antigos cardeais, votaram favoravelmen-
te ao intento dos oficiais pleiteantes. Entretanto, Tutmés Airan
pediu vistas ao processo, obtendo um prazo de quinze dias. Os
jornais e sites da imprensa noticiavam que, com o possível re-
torno dos aposentados, os coronéis Dalmo Sena, Dário César,
Luciano Silva, e outros promovidos em decorrência da abertu-
ra de vagas, seriam despromovidos, retornando ao posto de
tenentes-coronéis.
Entretanto, a informação repassada pela imprensa era
equivocada. O retorno dos antigos coronéis não implicava na
despromoção dos que, à época, estavam na ativa. Por outro lado,
fontes asseguraram que Tutmés Airan votaria contrário à preten-
são dos coronéis aposentados, obrigando o processo a subir para
o Superior Tribunal de Justiça, onde o tempo médio para julga-
mento exorbitava os três anos.
Esse lapso temporal, aliado à aprovação da “Lei dos Cinco
Anos”, criaria uma situação jurídica tal que, mesmo que o STJ de-
terminasse o retorno à ativa, os coronéis seriam alcançados pela
norma dos cinco anos no último posto da Corporação. Contudo,
é preciso ressaltar que, na data de fechamento deste livro-repor-
tagem, a situação ainda era totalmente indefinida.
Ainda, em dezembro de 2009, o Governo do Estado, sensi-
bilizado pelas associações militares, por alguns parlamentares e
pela cúpula da PMAL, decidiu iniciar a resolução da problemática
das promoções da PMAL (que estavam novamente atrasadas).
Para tanto, o secretário-chefe do Gabinete Civil, Álvaro Macha-
do, requisitou do comando geral que o projeto da nova lei de
promoções fosse alterado, mantendo-se a “promoção por tem-

245
Silvio Teles

po serviço” – derrubada, meses antes, pelo Conselho Estadual


de Segurança Pública.
A intenção do governador Teotônio Vilela era de enviar a
mensagem à Assembleia Legislativa no começo de 2010. A nova
Lei de Promoções acabava com o critério “escolha”, equiparava
os critérios de “merecimento” e “antiguidade” para todos os
postos e graduações, diminuía os pontos atribuídos aos milita-
res detentores de cursos ou de experiência com docência, além
de atribuir pontuação aos militares que estivessem em unida-
des operacionais. “São mudanças que vêm tornar mais justo o
processo de promoção”, declarou o coronel Luciano Silva, subco-
mandante geral da PMAL.
Portanto, podemos afirmar, com plena certeza, que o futu-
ro da PMAL, em dezembro de 2009, dependia das aprovações le-
gislativas pleiteadas pelo novo comando geral, da forma como o
Governo do Estado trataria as políticas de Segurança Pública, das
decisões operacionais da nova cúpula da Corporação e, também,
do possível retorno dos coronéis aposentados ao serviço ativo.
Sem dúvidas, estava prestes a ser escrito mais um capítulo intri-
gante da briosa história da Polícia Militar do Estado de Alagoas.

246
Bibliografia consultada:

ALBUQUERQUE, Isabel Loureiro de. História de Alagoas. Maceió:


Sergasa, 2000.
ALTAVILA, Jayme de. História da Civilização das Alagoas. 8ª Ed.
Maceió: Edufal, 1988.
AMÂNCIO FILHO, José. Fatos para uma História da PMAL. Ma-
ceió: Sergasa, 1977.
DUARTE, Abelardo. As Alagoas na Guerra da Independência.
Maceió, 1974.
LIMA JÚNIOR, Felix. Pequena História da PMAL. Maceió, 1990.
MENDONÇA, Elisabeth de Oliveira. Sesquicentenário da Polícia
Militar de Alagoas. Maceió: Edufal, 1983.

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