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AlmaGesto
CONTOS ANÍMICOS

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Adriana Kortlandt

AlmaGesto
CONTOS ANÍMICOS

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© by Adriana Kortlandt - 2009

ALMAGESTO

Contos Anímicos
Adriana Kortlandt

Capa & Projeto Gráfico


Andreaha San

Arte-final
Victor Tagore

Proibida a reprodução total ou parcial


deste livro, sem aviso prévio da
Editora.

Edição:
Thesaurus Editora de Brasília.

K85a Kortlandt, Adriana


Almagesto: contos anímicos / Adriana Kortlandt. – Brasília : The-
saurus, 2009.
90 p. ; il.

CDU 82-3(81)
CDD 869.3B

ISBN: 978-85-7062-900-5

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Agradeço,
A minha Família, pela árvore
A Angelita Silva, pelo renascimento
A Sigrid Klöter, pela fidelidade
A Francesco Stacchi, pela fertilização das idéias,
e pela Casa do Labirinto
A Mariléa Xavier, pelo Rolfing
A Ricardo Tarifa, companheiro-cometa, pelo estímulo confiante:
escreva sempre, você é uma escritora!
A Helena Silveira, pelo lúmen
A César Souto, pela depuração da alma
A Madalena Santiago, pelo mergulho
A Daniela Tostes, pela voz
A Sachiko Alfaro e Angelika Schlüter, pela presença à distancia
Ao Coronel Fontana, pela história na churrascaria
A Fauzi Mansur, pelas leituras, elogios e pelo tira e põe de vírgulas..
A Luiz Gonzaga, pelas tertúlias
A Adélcio Guimarães, pelos mantras e bençãos
A Guilherme Vaz, pela música
A Luciana Mesquita, pela mitologia
A Patrícia D’Alcântara, pela irmandade centenária
A Eduard Kortlandt, pelo porto seguro
A Mariza Silvera, pelo olhar atento, correções e sugestões
A Luiz Bohrer, pela amizade de três mosqueteiros,
e presença-pilar durante o dilúvio
A Erhard Ufermann, pelo amor, cachoeiras e calmarias

Às Musas, por existirem...

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Sumário

AlmaGesto ..................................................................................13
A Menina da Lua ...................................................................... 15
Os Olhos da Aurora......................................................................18
A Estrela e o Tempo ...................................................................23
O Colar .....................................................................................27
O Vaso . ......................................................................................31
O Mundo de Ana e Nana . .......................................................... 38
A História de Dona Maria, a Louca do Cemitério da Saudade ... 47
O Conto do Abracadabra .............................................................55
A Mulher da Fresta ...................................................................58
A Caravana ................................................................................61
A Dama da Noite ....................................................................... 66
A Noz ....................................................................................... 74
Meu Umbigo...............................................................................77
Poema para as Lívias .................................................................84
A Árvore das Borboletas .............................................................. 86
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AlmaGesto
Há uma mulher ao meu lado, soprando histórias em meus ouvidos,
soprando-se desde minha infância, é feita de vento.
Às vezes quando se recusavam a abrir suas portas – minhas mãos,
duas sentinelas – ela simplesmente continuava batendo, quase me furava os
tímpanos. Se estava dormindo ou acordada, só ou acompanhada, ela me visitava
e ninguém percebia. Se inventava histórias parecidas com mentiras, era seu ar
saindo de minha boca.
Quando menina tinha medo de ficar sozinha, por que ela batia e seu
ímpeto me assombrava. Algodão no ouvido, por cima esparadrapo, e ainda
assim a intrusa se infiltrava. Inspirada pela visão da Apolo XI na pequena
televisão preto e branco, lancei mão da tecnologia de ponta da época – em meu
imaginário de criança dos anos sessenta tudo que era moderno era prateado
– e colei papel alumínio, ou melhor, invólucro de chiclete para vedar minhas
orelhas. O resultado foi uma noite passada na emergência do hospital, e a
desconhecida entrou do mesmo jeito.
Tive vergonha do primeiro beijo, da primeira transa, sentia sua ronda,
vivia sob sua sombra. Só mais tarde, bem mais velha, compreendi a vontade,
diria a necessidade da mulher de vento: Ela queria pedir asilo.
Devo ter sido sua terra prometida, e o espaço sem corpo onde ela vivia,
um deserto. Para mim, aventura maior do que abrigar a refugiada foi a de dar
alma ao meu corpo, por que até sua chegada minha vida era uma torneira
aberta, por onde escorria apenas um filete sem quentura.
Deixei que ela entrasse. Desde então a intrépida estrangeira habita
minhas entranhas.
Você conhece o uivar do vento percorrendo descampados? Esta era sua voz
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dentro de mim. Passado o susto, comecei a compreender suas histórias por detrás
dos uivos. São selvagens. Ela tem algo de canibal. Como bom alimento, me deixei
comer, e isto me soa místico. Paradoxalmente ela me preencheu em todas, e nas
mais bizarras dimensões, como ninguém jamais conseguiu fazê-lo.
Casamos e nos banqueteamos.
Sou sua casa, templo, taberna e alcova, caravela, porto ou caravana. Por
que não crer que ela seja a polpa volátil, a carne vaporosa da fruta, cujo caroço
sou eu? Ou talvez, quem sabe, não seja tudo ao contrário? Ela e eu, dançando
sem começo ou fim, como a serpente Uróboro, mordendo a própria cauda.
De quando em vez vivemos momentos de sublime calmaria, em que nos
deitamos ao relento, contemplando o firmamento. Nestas horas deslizantes
ela me conta uma ou outra história, de quando andava errante: há muito tempo
atrás, no séc. II de nossa era, um astrônomo, Ptolomeu de Alexandria publicou um
tratado de astronomia, que mais tarde ficou conhecido como Almagesto, “O Maior”
em árabe, título conferido em homenagem ao grande conhecedor do cosmos. Nele o
girar dos planetas e estrelas ao redor da terra eram descritos com sofisticada minúcia.
Não me lembro do resto, mas agora que já perdi a conta de minhas épocas, o que
mais me agrada, é a visão geocêntrica dele, por que esta me faz imaginar um outro
centro com movimento de diâmetro desconhecido, porém essencial. A terra pode até ser
redonda – Ptolomeu se enganou – mas ... e o universo? É um plano inefável, com o
ser humano no meio, criando sentido para tudo, até para seus sentimentos, até para a
necessidade de inventar sentido, se não ele nem consegue existir. Este é o verdadeiro
gênesis! Vou te contar algumas histórias de peregrinas errantes, como fui um dia. São
expressões daquilo que guardaram no esconderijo da alma, tentando naquela retorta
diáfana gerar sentido. São memórias de morrer, nascer, amar... enfim, trocar de pele.
Ela começou a contar, e eu virei sua escriba. Ouço e escrevo.

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A Menina da Lua
A história da menina da lua é bem simples de narrar.
Queria conhecer o mundo, no entanto vagou sem rumo por muitas
calendas, num caracol. E porque nem ela sabia que estava em um – a entrada dos
caracóis é larga, a gente pensa que nem há – ela foi passeando, se batizando com
todos os nomes que gostava: Nômade, Bandeirante, Curiosa, Conquistadora
do Planeta... até que se sentiu apertar, e apertar, e percebeu enfim, que quanto
mais avançava menor tudo ficava, até nem poder se mexer.
O conto poderia acabar por aí, com a menina deitada na parte helicoidal
central do molusco, como se fosse a lesma-aborígene e hibernante daquele
habitat, ou um cadáver em posição fetal já na casinha.
Porém, ela se deixa narrar um pouco mais.
Pequenas rachaduras na carapaça do caracol permitiram que por lá se
infiltrassem microprotuberâncias espetantes e persistentes. A menina sentiu-
se incomodar cada vez mais.
Seu nome virou Agonia.
Encolheu o tronco um pouco mais para lá, as pernas se dobraram para cá,
a cabeça afundou o que pôde no pescoço, que nem tartaruga – impressionante
como a gente consegue se diminuir, há muito espaço dentro de uma pessoa!
Ficou-se pequena até não conseguir mais, e as protuberâncias espetantes
se espalhando, generosas.
Os pulmões reclamaram: não consigo respirar!!! E aí algo fantástico
entrou em cena: o instinto. Não o de sobreviver, este se ajeita com qualquer
esmola, mas o de ser, bem mais sofisticado.
A menina, que naquela época se chamava Angústia Por Viver, decidiu sair
do caracol. Tateou os espetos, e percebeu que nem eram tão duros assim. Aliás,
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nem eram espetos, mas sim terminações de raízes de uma gigantesca árvore
que crescia lá fora, e podiam ser usados como alavanca para abrir a concha
calcárea. Mexeu de um lado para o outro, chutou, empurrou, até conseguir
abrir um dos lados da casca como se força uma pesada porta de masmorra
medieval emperrada. Até barulho de dobradiça velha ela fez.
Agarrada em alguns filamentos de raízes, começou a içar-se enquanto o
interior do caracol era inundado por uma avalanche de terra.
A menina rumou para a superfície, ainda incrédula. Como pôde viver tanto
tempo debaixo da terra sem nem saber disso, sem saber que estava no escuro, e
que aquele bocadinho de lume a lhe clarear e acalorar de quando em vez era o
pulsar de sua alma, também acanhada, vivendo vida de vaga-lume??!!
As raízes eram profundas. Levou um tempo para sair. Mas saiu, que nem
fuinha.
E foi então que, parada no meio do caminho – metade do corpo ainda
enterrado, metade livre – viu, por entre os galhos da árvore, a lua no céu.
Era noite clara de silêncio e brisa fresca.
Em vez de dizer lua, a menina disse mãe!, e naquele instante ela se chamou
Contentamento. Poderia ter ficado assim para o resto de seu tempo, contem-
plando a lua, abrigada das intempéries pela árvore, mas a grande mãe-mutante
convidou-a a mudar com ela. A menina foi junto, chamando-se de Filha.
Terminou de se tirar do buraco, fechou-o para ninguém cair nele, e pôs-
se a caminhar.
A cabeça desenterrou-se do pescoço, o pulmão brincou de fole, o coração,
de coragem, pernas e braços se esticaram até não poder mais. A menina cresceu
a uma altura que nunca havia sonhado antes. A alma cresceu mais além...
Caminhou e caminhou pelo mundo. Banhou-se de sol por todos os lados,
e quando veio a chuva, cantou: “... há muito tempo que eu não tomo chuva, há muito
tempo que eu não sei o que é me deixar molhar...”.
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A história poderia acabar por aqui, contando o que aconteceu com a
menina, mas não dá!
Outro dia ela partiu com uma caravana de saltimbancos lunares. Deixou
um recado na minha caixa de mensagens, dizendo que não sabia aonde ia, nem
quando voltava.
Disse também que seu nome agora é Pertencimento.

(“...há muito tempo que eu não tomo chuva, há muito tempo que eu não
sei o que é me deixar molhar...” – Obrigada, Gil!).

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